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bizu de direito do trabalho
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Apostila de Direito do Trabalho II 1
APOSTILA DE DIREITO DO
TRABALHO II - DURAÇÃO DO TRABALHO
A atual Constituição Federal (art. 7º, XIII) limita a jornada diária em 8 horas, sendo de 44
horas o limite semanal.
– Distinções relevantes – duração, jornada e horário
Duração é a noção mais ampla, abrangendo o lapso temporal ou a disponibilidade do empregado
perante seu empregador em virtude do contrato, considerando parâmetros distintos de mensuração: dia,
semana, mês ou até mesmo o ano. Jornada é o tempo básico em que o empregado tem de se colocar em
disponibilidade perante o empregador, em decorrência do contrato por um dia delimitado. Apesar da
contradição terminológica (já que jornada tem origem na expressão italiana giorno – giornata) a CLT
empregou a expressão jornada semanal (art. 59, §2º), portanto houve uma extensão semântica do termo.
Horário é o lapso temporal entre o início e o fim de certa jornada laborativa.
– Composição da jornada de trabalho
Critérios básicos de fixação da jornada
Tempo à disposição – a jornada de trabalho compreende o tempo à
disposição do empregado no centro de trabalho, independentemente de ocorrer ou não a efetiva prestação
do serviço (art. 4º, CLT).
Horas in itinere – art. 58, §2º da CLT; En. 90, 320, 324 e 325, TST.
Requisitos das horas itinerantes: (i) que o trabalhador seja transportado por
condução fornecida pelo empregador (E. 320, TST); (ii) que o local de trabalho seja de difícil acesso ou
não esteja servido por transporte regular público (E. 90).
- O controle de jornada
Jornadas controladas
É a regra geral, havendo presunção do controle de jornada do empregado.
Para os estabelecimentos com até 10 empregados, não há procedimento formal de
controle de jornada do empregado. Nos estabelecimento com mais de 10 empregados a jornada deve ser
efetivamente controlada (art. 74, §2º, CLT).
OBS.: o simples fato do trabalhado ser executado externamente não elimina (de forma
absoluta) a viabilidade de certo controle e fiscalização sobre a efetiva prestação laboral.
Jornadas não controladas
Não ensejas cálculos de horas extras.
Hipóteses:
(i) trabalhadores que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário
(art. 62, I, CLT), ex.: vendedores viajantes, motoristas, carreteiros, etc.
(ii) gerentes com poderes de mando, gestão e representação que tenha diferenciação
salarial de pelo menos 40%. Importante notar que essa presunção é iuris tantum, pois, evidenciado que o
gerente, não obstante detentor de poderes de gestão e favorecido pelo acréscimo de 40% do salário
efetivo, submete-se ao estrito controle diário de sua jornada, enquadra-se tal empregado nas fronteiras da
duração padrão de trabalho de sua categoria profissional.
As normas de duração de trabalho possuem caráter imperativo, sendo ineficazes as regras
jurídicas que estabeleçam módulo mensal de labor superior a 220 horas mensais. O que a CRFB autoriza
é o extrapolamento deste padrão mediante regime compesatório (que será adiante examinado).
Apostila de Direito do Trabalho II 2
– Turnos ininterruptos de revezamento (art. 7º, XIV, CRFB/88)
É o sistema de trabalho que coloca o empregado, alternativamente, em cada semana,
quinzena ou mês, em contato com as diversas fases do dia e da noite, cobrindo as 24 horas integrantes da
composição dia/noite. Segundo Amauri Mascaro “é o modo de organização da atividade em virtude da
qual grupos ou equipes de empregados se sucedem na mesma empresa, no mesmo local de trabalho,
cumprindo horários que permitam o funcionamento ininterrupto da empresa”.
A CRFB/88 pretendeu conceder uma jornada de trabalho menor (6 horas), em razão do trabalho
notoriamente mais desgastante quanto prestado em turnos ininterruptos de revezamento. Isto porque num
dia (ou numa semana) o empregado presta serviços pela manhã, noutro pela tarde e, em outro, à noite.
Assim, nesse ritmo de trabalho, o empregado sofre claro desgaste biofisiológico, além de restringir a
participação normal do obreiro nas atividades sociais promovidas por sua comunidade ou sua família.
A remuneração desse empregado é fixada normalmente, sendo paga como extraordinária o tempo
que exceder a sexta hora de labor.
– Jornada extraordinária
É a jornada cumprida em extrapolação à jornada padrão aplicável à relação empregatícia concreta
Tipos de prorrogação de jornadas
A) Acordo de prorrogação de jornada – art. 59, caput, CLT. É o ajuste de vontade feito
pelas partes para que a jornada possa ser elastecida além do limite legal, mediante o pagamento de
adicional de horas extras. O acordo deve ser necessariamente escrito e o limite da prorrogação é de 2
horas diárias.
B) Regime de compensação de jornada – é o chamado bando de horas. Art. 59, §2º, CLT.
C) Prorrogação em virtude de força maior – 61, caput e §2º, CLT. O fato ensejador dessa
prorrogação é excepcional. O art. 501 da CLT consagra o conceito de força maior.
D) Prorrogação em virtude de serviços inadiáveis – trata-se também de uma prorrogação
excepcional, possuindo um limite temporal de 12 horas diárias (art. 61, §2º, CLT).
E) Prorrogação para reposição de paralisações empresariais – art. 61, §3º, CLT. A
prorrogação deve ser para recuperar o tempo perdido em virtude da ocorrência de interrupção. O limite da
prorrogação é de 45 dias ao ano e de duas horas diárias.
Efeitos da hora extra
Toda jornada extraordinária (exceto a resultante de compensação) cumprida pelo
empregado será devida com sobreremuneração específica. As horas extras habituais integram o
salário para todos os fins, refletindo-se em natalinas, férias, aviso prévio.
O adicional mínimo será de 50%.
– Trabalho noturno
A prestação noturna de trabalho é mais desgastante para o trabalhador sob o ponto de vista
biológico, familiar e até mesmo social.
Por estas razões o direito do trabalho sempre tendeu a conferir tratamento diferenciado ao
trabalho noturno, se comparado ao trabalho realizado durante o dia.
Parâmetros da jornada noturna
URBANA
- das 22 hs às 5 h
- hora ficta noturna: 52:30
- adicional – 20 %
RURAL
- lavoura – 21 hs às 5 hs
- pecuária – 20 hs às 4 hs
- adicional – 25%
Apostila de Direito do Trabalho II 3
Obs.: não há hora ficta noturna
OBS.: vedação ao trabalho noturno – menor de 18 anos (art. 7º, XXXIII, CRFB/88; art.
402, CLT)
– Períodos de descanso – intervalos, repouso semanal e em feriados
Intervalos
A CLT informa diversos tipos de intervalos na jornada de trabalho
a) interjornada – aquele que se dá entre duas jornadas diárias, e que será de pelo menos
11 horas consecutivas (art. 66, CLT), não se confundindo com o repouso semanal.
b) Intrajornada – aquele que se dá na mesma jornada, e que tem a finalidade de
promover um intervalo para o descanso e refeição, relacionando-se com a duração do
trabalho diário.
c) Especiais – registrados pela lei em razão de uma função específica, tida como mais
desgastante (ex.: art. 72, CLT)
Repouso semanal remunerado e feriados
Descanso semanal é o lapso temporal de 24 consecutivas situadas entre os módulos
semanais de duração do trabalho do empregado, coincidindo preferencialmente com o Domingo, em que
o obreiro pode sustar a prestação de serviços e sua disponibilidade perante o empregador, com o objetivo
de recuperação e implementação de suas energias e aperfeiçoamento de sua inserção familiar, comunitária
e política. É período de interrupção da prestação dos serviços.
Feriado é o lapso temporal de um dia, situado ao longo do ano, eleitos pela legislação em
face de datas comemorativas cívicas ou religiosas específicas, em que o empregado pode sustar a
prestação dos serviços e sua disponibilidade perante o empregador.
O lapso temporal de 24 horas não pode ser fracionado. Note-se que o período de repouso
conta-se em horas não em dia.
A jurisprudência tem aceitado a folga compensatória, ou seja, o gozo do DSR em outro
dia ao longo da semana.
O DSR deve coincidir preferencialmente com o Domingo. Exceções: empresas
autorizadas a funcionar nos domingos; elencos teatrais (art. 67, parágrafo único, CLT); comércio (art. 6º
da L 10101/00).
REQUISITOS PARA A REMUNERAÇÃO DO REPOUSO SEMANAL – freqüência
integral na semana anterior + pontualidade. O descumprimento dos requisitos compromete a
remuneração, mas não elide o direito à fruição do próprio descanso.
OBS.: remuneração do dia de descanso efetivamente trabalhado – desrespeito à norma
assecuratória do DSR – falta administrativa (art. 13 e 14 da L. 605/49); remuneração em dobro, ou seja,
recebe o dia do DSR + o dia de trabalho vezes 21. (S. 146 e OJ 93, SDI-I, TST)
I – FÉRIAS
As férias visam proporcionar descanso ao trabalhador, tratando-se de direito
irrenunciável.
Assim, pode-se destacar como importantes objetivos e/ou fundamentos das férias, dentre
outros:
(i) recuperação das energias físicas e mentais do empregado;
(ii) instrumento de realização da plena cidadania do indivíduo;
(iii) mecanismo de política de desenvolvimento econômico e social, vez que proporciona
intenso fluxo de pessoas e riquezas (turismo).
1 penalidade
Apostila de Direito do Trabalho II 4
A própria Declaração Universal dos Direitos do Homem consagrou as férias: “toda
pessoa tem direito ao descanso e à remuneração, especialmente a uma limitação racional das
horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.”
A CRFB/88 trouxe uma importante novidade pois, além de prever o gozo de férias anuais
remuneradas, concedeu um terço a mais do que o salário normal (art. 7º, XVII). Vtb. Súmula
328, TST.
1 - CONCEITO
Lapso temporal remunerado, de freqüência anual, constituído de diversos dias
seqüenciais, em que o empregado pode sustar a prestação de serviços e sua disponibilidade
perante o empregador, com o objetivo de recuperação e implementação de suas energias e de sua
inserção familiar, comunitária e política.
2 - NATUREZA JURÍDICA DAS FÉRIAS
Algumas conclusões já estão sedimentadas acerca das férias:
(i) Não têm caráter de prêmio, mas, sim, de direito trabalhista, a que corresponde uma
obrigação empresarial. Não resultam as férias, pois, de conduta obreira mais (ou menos)
favorável ao empregador; são elas direito trabalhista, inerente ao contrato de trabalho.
(ii) O fundamento das férias é de política de saúde pública e bem estar coletivo.
(iii) Sua classificação no conjunto das parcelas integrantes do contrato não é uniforme,
variando em função do cumprimento (ou não) pleno de suas funções no contexto contratual.
Assim, pode-se dizer que a natureza jurídica das férias pode ser analisada sob dois
aspectos: do pondo de vista negativo, é o período em que o empregado não deve trabalhar e o
empregador não pode exigir serviços do obreiro. No aspecto positivo, é o período em que o
empregador deve conceder as férias e pagar a remuneração, o que mostra a existência de
obrigação de fazer e de dar ao mesmo tempo.
3 – AQUISIÇÃO DAS FÉRIAS E SUA DURAÇÃO
O fator que determina a aquisição das férias é a assiduidade obreira. Ou seja, há uma
relação direta entre a assiduidade e a aquisição das férias e, também, entre assiduidade e lapso
temporal de duração das férias (proporcionalidade das férias).
3.1 - Período aquisitivo
- Ciclo aquisitivo de 12 meses (art. 130, e 130-A da CLT);
- Cada fração do mês superior a 14 dias contar-se-á como um mês inteiro (art. 146,
§Ú).
- O início de fluência do período aquisitivo situa-se no termo inicial do contrato, com o
primeiro dia inclusive.
- O aviso prévio, mesmo indenizado, integra o período aquisitivo de férias (art. 487,
§1º, CLT).
3.2 - Fatores prejudiciais à aquisição das férias
São fatores que prejudicam a aquisição do direito às férias
Art. 130, 130-A, 133
Apostila de Direito do Trabalho II 5
3.3 - Situações especiais
São situações especiais em que são minorados os efeitos prejudiciais do afastamento do
obreiro do trabalho.
Art. 131 e 132, CLT.
Vtb. Súmula 46, 89 TST
4 – DURAÇÃO DAS FÉRIAS ADQUIRIDAS
A) REGRA GERAL
- art. 130, CLT
- 30 dias corridos
- faltas justificadas não interferem na tabela do cálculo das férias
FALTAS INJUSTIFICADAS FÉRIAS (DIAS CORRIDOS)
ATÉ 5 FALTAS 30 DIAS
DE 6 A 14 24
DE 15 A 23 18
DE 24 A 32 12
B) CONTRATOS DE TEMPO PARCIAL (art. 130-A, CLT)
- Ocorrendo mais de 7 faltas injustificadas – férias pela metade
OBS.: O abono pecuniário de férias não se aplica aos empregados sob regime de tempo
parcial (art. 143, §3º, CLT).
OBS.: Nos contratos com duração semanal superior a 25 horas – não se aplica o regime
de férias do art. 130-A, aplicando-se o a regra geral.
C) DURAÇÃO DAS FÉRIAS NOS CONTRATOS DOMÉSTICOS
Art. 3º da Lei n. 5859/72 foi modificado pela Lei 11.342/06, onde o empregado
doméstico passou a ter 30 dias corridos de férias (e não mais 20 dias úteis como dizia a antiga
lei).
5 – CONCESSÃO E GOZO DAS FÉRIAS
5.1 - Período concessivo (concessão regular)
DURAÇÃO DO TRABALHO SEMANAL FÉRIAS
> 22hs – até 25hs por semana 18 dias
> 20hs – até 22hs 16 dias
> 15hs – até 20hs 14 dias
> 10hs – até 15hs 12 dias
> 5 hs – até 10 hs 10 dias
0h – até 5hs 8 dias
Apostila de Direito do Trabalho II 6
O período concessivo é o lapso de 12 meses ao termo final do período aquisitivo de férias
(art. 134, CLT).
A regra é que as férias sejam concedidas num só período (art. 134, CLT).
EXCEÇÃO – FRACIONAMENTO DAS FÉRIAS
(i) Férias individuais
(ii) Férias coletivas
5.2 - Época de concessão
O mês de concessão será aquele que melhor atender aos interesses do empregador (art.
136, CLT).
OBS.: Limitações legais à prerrogativa empresarial de definição da época do gozo das
férias:
5.3 - Concessão extemporânea das férias
As férias devem ser concedidas dentro do período concessivo, isto é, nos doze meses
subseqüentes a sua aquisição. A não concessão das férias dentro do período próprio (férias
extemporâneas) gera 4 efeitos:
(i) O empregador mantém a obrigação de conceder férias. Neste caso, porém, o
empregador perde a prerrogativa de determinar o mês de sua fruição, que passa a ser imediata.
(ii) Mantém-se o direito de o empregado gozar as férias não concedidas. O próprio
ordenamento jurídico (art. 137, CLT) assegura ação trabalhista com pleito de fixação, por
sentença, da época do gozo das férias.
(iii) A remuneração das férias extemporâneas será dobrada. O adicional de 1/3
incide sobre o valor da remuneração já dobrada. A natureza dessa dobra é de pena.
(iv) penalidade administrativa.
OBS.: Vtb. Súmula 81, TST.
6 – FÉRIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS
6.1 - Férias individuais: procedimentos concessivos
ATOS ADMINISTRATIVOS PRATICADOS PELO EMPREGADOR:
(i) Comunicação escrita ao empregado, mediante recibo, sobre a data das férias,
com antecedência mínima de 30 dias (135, CLT);
(ii) Anotação relativa às férias na CTPS (art. 135, §§ 1º e 2º, CLT).
(iii) Pagamento da remuneração das férias + 1/3 + abono pecuniário (se for o
caso) + ½ do 13º salário, se requerido2 . Esses pagamentos devem ser feitos até 2 dias antes do
início das férias (art. 145, CLT).
ATOS ADMINISTRATIVOS PRATICADOS PELO EMPREGADO:
(i) Requerimento de antecipação do 13º salário (art. 2º, §2º, Lei n. 4749/65);
(ii) Concessão do recibo de comunicação das férias;
2 A lei n. 4749/65, art. 2º, §2º, dispõe acerca da possibilidade de adiantamento do 13º salário juntamente com as
férias, se requerido no mês de janeiro do ao correspondente.
Apostila de Direito do Trabalho II 7
(iii) Requerimento de conversão de 1/3 das férias em abono pecuniário, até 15
dias antes do término do período aquisitivo (art. 143, §1º, CLT);
(iv) Entrega da CTPS para anotação (art. 135, §1º, CLT);
(v) Assinatura dos recibos (art. 145, §Ú, CLT).
6.2 – Férias coletivas: especificidade e procedimentos concessivos
As férias coletivas podem abranger toda a empresa ou apenas o estabelecimento, ou,
ainda somente alguns setores da empresa ou do estabelecimento (art. 139, CLT).
O título jurídico das férias é o ato unilateral do empregador (art. 139, CLT) ou
instrumento negocial coletivo – ACT (art. 143, §2º, CLT).
Especificidades das férias coletivas:
Procedimentos concessivos das férias coletivas:
(i) Comunicações: Deve ser comunicado ao órgão local do Ministério do
Trabalho, com antecedência de 15 dias, além dos setores ou estabelecimentos atingidos (art. 139,
§2º, CLT; Devem ser comunicados os sindicatos representativos (art. 139, §3º, CLT); Deve
haver afixação nos locais de trabalho de aviso correspondente às férias (art. 139, §3º, CLT);
(ii) Pagamentos devem ser feitos 2 dias antes da fruição;
(iii) Anotação da CTPS dos empregado podem ser feitas no momento da rescisão
contratual do empregado (art. 141, §3º, CLT).
7 – REMUNERAÇÃO DAS FÉRIAS
7.1 – Cálculo da remuneração
O valor da remuneração das férias será igual ao montante que o empregado receberia se
estivesse trabalhando. A esse valor acresce-se o percentual de 1/3 (art. 142, CLT c/c art. 7º XVII,
CRFB/88).
OBS.: SALÁRIO UTILIDADE – sua correspondente fração será calculada de acordo
com a respectiva anotação na CTPS (art. 142, §4º, CLT). Se não houver anotação, o cálculo será
feito segundo o valor estimado da utilidade (S. 258, TST). Esse cálculo deve levar em conta
somente as utilidades que o empregado deixe de receber à época de fruição das férias. As
utilidades que continuarem de posse do obreiro (habitação, veículo, etc) não se pagam em
dinheiro no montante das férias.
7.2 – Remuneração simples
É a remuneração padrão das férias – férias simples – é o valor do salário referencial,
sempre acrescida do 1/3 constitucional.
Havendo ruptura do contrato de trabalho antes do gozo das férias simples, elas
serão pagas na rescisão contratual. A remuneração respeitará a projeção do aviso prévio se for o
caso.
7.3 – Remuneração dobrada
É cabível apenas no caso de férias vencidas. A dobra incidirá também sobre a
remuneração dos dias de férias situados fora do correto período de gozo da parcela. V. S. 81,
TST. A dobra sobre férias vencidas é devida também em quaisquer casos de ruptura contratual,
mesmo na justa causa obreira;
Apostila de Direito do Trabalho II 8
A dobra incide sobre a remuneração das férias, isto é, salário + 1/3. É sobre o
resultado dessa soma que vai incidir a dobra.
7.4 – O terço constitucional de férias
Trata-se de parcela suplementar que se agrega necessariamente ao valor das férias
trabalhistas.
OBS.: O terço constitucional será devido sempre, independentemente do gozo ou
não das férias e da modalidade da rescisão (v. S. 328, TST).
7.5 – Conversão pecuniária das férias (abono pecuniário) – art. 143/144, CLT
É a possibilidade de o empregado requerer a conversão em dinheiro da fração de
1/3 de suas férias anuais (10 dias no caso do padrão de 30 dias).
Trata-se de parcela indenizatória.
É calculado sobre o valor global das férias, inclusive com 1/3
Af = (f. +1/3 de f) / 3 donde: Af: abono de férias; f: férias
8 – Férias e extinção do contrato de trabalho: efeitos
– Férias vencidas e extinção contratual
– Férias simples e extinção contratual
– Férias proporcionais e extinção do contrato
Vtb. Súmula 171 c/c 261 TST
ALGUMAS HIPÓTESES:
Ruptura contratual por justa causa obreira – não terá direito a férias proporcionais
(art. 146, §Ú, CLT);
Ruptura por culpa recíproca – o empregado tem direito a 50% das férias
proporcionais, aviso prévio e 13º (S. 14, TST).
Pedido de demissão – o empregado tem direito a férias proporcionais,
independentemente de Ter ou não mais de 12 meses de contrato de trabalho (E.
261, TST);
Ruptura por ato do empregador – empregado tem direito a férias proporcionais
com terço constitucional – art. 146, §Ú, CLT;
Ruptura por cumprimento do prazo do contrato a termo – férias proporcionais +
1/3, mesmo se o contrato tiver tempo inferior a 1 ano (art. 147, CLT)
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO
1 – CONCEITUAÇÃO
No direito do trabalho não há que se falar em prescrição aquisitiva, que é o meio de
aquisição de propriedade mobiliária ou imobiliária em decorrência de seu prolongado uso
pacífico.
Apostila de Direito do Trabalho II 9
PRESCRIÇÃO EXTINTIVA – perda da exigibilidade judicial de um direito em
conseqüência de não ter sido exigido pelo credor ao devedor durante certo lapso de tempo.
Trata-se de conceito construído sob a ótica do devedor (e não do credor) – de beneficiário
da prescrição.
OBS: FUNDAMENTOS DA PRESCRIÇÃO – segurança e paz pública. Há necessidade
de se ter certeza e estabilidade nas relações jurídicas, respeitando o direito adquirido, de acordo
com determinado espaço de tempo. O interesse público não se compadece com a incerteza das
relações jurídicas, criadoras de desarmonia e instabilidade, e é protegido quando se baixam
normas de prescrição, evitando que se eternizem, sem solução, as situações duvidosas ou
controvertidas.
A DECADÊNCIA (ou CADUCIDADE) – é a perda da possibilidade de obter uma
vantagem jurídica e garanti-la judicialmente, em face do não exercício oportuno da
correspondente faculdade de obtenção. CMSP – “é o perecimento do direito, em razão do seu
não-exercício em um prazo predeterminado”
OBS.: MOMENTO DO INÍCIO DO CURSO DA PRESCRIÇÃO (TERMO INICIAL
DA PRESCRIÇÃO) – se dá com o nascimento da ação (actio nata), determinando tal
nascimento, pela violação do direito. Na leitura de Savigny, acentuam-se dois requisitos para a
caracterização da actio nata: (i) existência de um direito atual, suscetível de ser reclamado em
juízo; e (ii) violação desse direito.
2 – A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO
– Regras gerais (art. 207/211, NCC)
A curso do prazo decadencial não é impedido, suspenso, nem interrompido, salvo
disposição legal em contrário3.
O juiz deve conhecer de ofício da decadência fixada em lei. Mas, se a decadência for
convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz
não pode suprir a alegação.
- Hipóteses de decadência
PROPOSITURA DE INQUÉRITO JUDICIAL PARA APURAÇÃO DE FALTA
GRAVE DE EMPREGADO ESTÁVEL
FIXAÇÃO POR REGULAMENTOS EMPRESARIAIS DE PRAZOS DE
DECADÊNCIA
3 – A PRESCRIÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO
3 Ex. art. 26, §2º do CDC, trata-se de hipótese especialíssima obstativa da decadência.
Apostila de Direito do Trabalho II 10
A prescrição é um instituto que se relaciona com a ação (modernamente com a
pretensão). Ela surgiu no Direito Romano, onde o pretor, ao criar uma ação, previa um prazo
dentro do qual ela deveria ser exercida, sob pena de prescrição.
3.1 – Causas impeditivas e suspensivas
Os fatores impeditivos ou suspensivos, tipificados pela legislação atuam de modo
direto sobre o efeito prescricional: ora inviabilizam, juridicamente, o início da contagem da
prescrição (causas impeditivas), ora sustam a contagem prescricional já iniciada (causas
suspensivas).
Verificada a causa impeditiva, o prazo prescricional sequer inicia seu curso;
verificada a causa suspensiva, cessa a contagem do prazo já transcorrido (que será, contudo,
reiniciado após o desaparecimento da causa de suspensão).
As causas impeditivas e suspensivas, em geral, consubstanciam fatos ocorridos
independentemente da explícita vontade da parte beneficiada pelo impedimento ou suspensão
prescricionais. São fatores, pois externos à vontade do titular do direito, mas que inviabilizam ou
restringem a defesa de seus interesses jurídicos.
3.2 – Causas interruptivas
Tratam-se de fatores – expressamente tipificados pela legislação – que traduzem
uma efetiva e eficaz defesa do direito pelo respectivo titular e que, por isso, têm o condão de
sustar o fluxo do prazo prescricional. Aqui não se trata de fatores que inibem ou restringem a
possibilidade de defesa do titular do direito (como as causas impeditivas e suspensivas); ao
contrário, são fatores que demonstram a aberta e franca defesa de seu direito pelo correspondente
titular. Na interrupção verifica-se a eliminação do prazo prescricional em curso, favorecendo
mais largamente o titular do direito. Ao passo que na suspensão o prazo transcorrido é
preservado (retomando-se a contagem sustada após o desaparecimento da causa suspensiva). As
causas interruptivas, portanto, consubstanciam atos ocorridos em decorrência da explícita ação
da parte beneficiada pela interrupção prescricional. São situações que derivam essencialmente da
vontade do titular, eis que demonstram a aberta e franca defesa de seu direito.
3.3 – Hipóteses
NCC
Obs.: PROPOSITURA DE AÇÃO JUDICIAL TRABALHISTA – art. 202, I, NCC. A
data da propositura fixa o termo exato da interrupção, por ser automática a citação do reclamado
no processo do trabalho (art. 841, CLT). Trata-se de hipótese mais relevante no âmbito
trabalhista acerta da interrupção do curso do prazo prescricional.
A jurisprudência trabalhista (S. 268, TST) firmou entendimento de que a reclamação
trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos
idênticos.
4 – NORMAS ESPECÍFICAS DA PRESCRIÇÃO TRABALHISTA
4.1 – Prazos prescricionais
Apostila de Direito do Trabalho II 11
A) PRESCRIÇÃO DOS CONTRATOS URBANOS E RURAIS – CRFB/88, art. 7º,
XXIX (NR EC n. 28/200) – prazo prescricional de 5 anos, até o limite de 2 anos após a extinção
do contrato.
A CRFB/88 não recepcionou o art. 11 da CLT, em virtude da nova redação conferida pela EC n.
28/2000, que alterou a redação do inc. XXIX do art. 7º da CRFB/88.
A EC n. 28/2000 unificou o prazo prescricional de trabalhadores urbanos e rurais.
B) PRESCRIÇÃO DOS CONTRATOS DOMÉSTICOS – há debate acerca do prazo
prescricional aplicável ao doméstico. A dúvida surge em face de a CLT estipular que suas
normas não se aplicam a tais trabalhadores (art. 7º, a, CLT). Além disso, a Constituição não teria
se referido à prescrição doméstica, uma vez que o parágrafo único de seu art. 7º (que trata das
parcelas constitucionais estendidas aos domésticos) não mencionou o inciso XXIX do mesmo
artigo (que trata da prescrição).
Como se resolve a questão?
C) PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO
A Lei n. 8.036/90 (art. 23, §5º) estabelece prazo prescricional trintenário com relação aos
depósitos de FGTS. Entretanto, a nova Constituição fixou um prazo geral insuplantável de 2
anos após a ruptura do contrato, com isso, deve-se compreender que, até mesmo o prazo
trintenário do FGTS não pode ultrapassar mais esses dois anos.
Neste sentido é a redação do S. n. 362 do TST.
Importante registrar que a prescrição trintenária dos recolhimentos fundiários alcança
somente quando o pleito de tais parcelas for objeto principal do pedido. Isso significa dizer que,
se o pedido dos recolhimentos do FGTS for feito de forma reflexa, a prescrição destes
recolhimentos seguirá a sorte do pedido principal – qüinqüenal.
P.ex.: pedido de horas extras habituais com reflexos nos depósitos de FGTS.
E) PRESCRIÇÃO EM AÇÕES MERAMENTE DECLARATÓRIAS – tem entendido a
doutrina e a jurisprudência que as ações meramente declaratórias são imprescritíveis, ao
argumento de que a prescrição abrangeria parcelas não patrimoniais, as quais não se fariam
presentes em pedidos de caráter estritamente declaratório.
Ex.: pedido de anotação de CTPS.
F) PRESCRIÇÃO DAS FÉRIAS
CONTAGEM EM FUNÇÃO DO TÉRMINO DO PERÍODO CONCESSIVO – a
prescrição das férias, durante a fluência do contrato de trabalho, conta-se do término do
respectivo período concessivo.
CONTAGEM DO TEMPO EM FUNÇÃO DO TÉRMINO DO CONTRATO DE
TRABALHO – ocorrendo a ruptura do contrato de trabalho, a prescrição contar-se-á do fim do
contrato.
5 – ARGÜIÇÃO DA PRESCRIÇÃO: LEGITIMIDADE E MOMENTO
Apostila de Direito do Trabalho II 12
LEGITIMIDADE PARA ARGÜIÇÃO Paira, no momento, controvérsia quanto a aplicabilidade do novo §5º do art. 219 do CPC, que permite ao juiz
conhecer de ofício a prescrição de direitos patrimoniais indisponíveis.
Há, duas correntes sobre o tema.
A primeira corrente entende que há omissão da CLT sobre o tema devendo ser aplicada, portanto, a normatização
subsidiária do processo comum (art 769, CLT). Para esta corrente, o juiz do trabalhado, verificando que há qualquer
tipo de prescrição a alcançar as pretensões trabalhistas, deverá declará-la mesmo que não haja provocação da parte
contrária.
Uma segunda corrente, entende que, mesmo havendo omissão do texto consolidado, há flagrante incompatibilidade
princiopiológica se aplicado o dispositivo do direito processual comum, o que afastaria a possibilidade de aplicação
desta norma.
Vejamos, decisão do tribunal regional do trabalho da 3ª região, adaptada
MOMENTO PRÓPRIO PARA ARGÜIÇÃO Art. 193, NCC
S. 282, STF
S. 153, TST
Prescrição intercorrente
Súmula 327 do STF: “O direito do trabalho admite a prescrição intercorrente”.
Enunciado 114 do TST: “É inaplicável na Justiça do Trabalho a prescrição
intercorrente”.
TERMINAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO
I – EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO
O contrato de trabalho, como os negócios jurídicos em geral, nasce em certo instante,
cumpre-se parcialmente ou de modo integral, e sofre, quase que inevitavelmente, alterações ao
longo do tempo; por fim, ele se extingue.
1 – Conceito
Cessação do contrato de trabalho é a terminação do vínculo de emprego, com a
extinção das obrigações para os contratantes.
2 – Princípios que comparecem na cessação do contrato de trabalho
2.1 – Princípio da continuidade das relação de emprego
Este princípio enuncia ser de interesse do Direito do Trabalho a permanência do
vínculo empregatício, com a integração do trabalhador na estrutura e dinâmica empresariais.
Apenas mediante tal permanência e integração é que a ordem justrabalhista poderia cumprir,
satisfatoriamente, o objetivo finalístico do Direito do Trabalho de assegurar melhores condições
ao trabalhador. Além disso, o desemprego não interessa a sociedade como um todo,
causado impactos em múltiplas dimensões – econômicas, sociais, psicológicas, etc.
2.2 – Princípio das presunções favoráveis ao trabalhador
Presume-se indeterminada no tempo a duração da relação de emprego, caso não
comprovar-se tratar-se de contrato a termo, que são excepcionais.
Apostila de Direito do Trabalho II 13
Neste sentido o TST, S. n. 212.
3 – Modalidades de extinção contratual
3.1 – Classificação segundo as causas de extinção (MGD)
3.2 – Outras classificações
A) Délio Maranhão propõe a seguinte classificação
- Resilição contratual
- Resolução contratual
- Rescisão contratual
- Ruptura inominada
4 – Cessação do contrato de trabalho por decisão do empregador
O empregador poderá fazer cessar o contrato do trabalho em certos casos. O art. 7º
estabelece a relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos
termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória. Enquanto não for editada a
lei complementar mencionada, o percentual da indenização do FGTS é de 40% (art. 10, I,
ADCT).
4.1 – Dispensa do empregado sem justa causa
O empregador pode dispensar o empregado sem justa causa, fazendo cessar o
contrato de trabalho. Aqui falta um motivo legalmente tipificado, trata-se, pois, da denúncia
vazia do contrato.
Trata-se de um direito meramente potestativo do empregador.
Para tanto, basta apenas que pague as reparações econômicas pertinentes,
tratando-se da modalidade de dispensa mais onerosa existente no ordenamento jurídico.
Terá direito a:
- aviso prévio, com projeção no contrato, de no mínimo 30 dias
- 13º proporcional
- férias vencidas e proporcionais, com 1/3
- saldo de salários
- saque do FGTS
- indenização de 40%
- seguro desemprego
Se o empregado tiver mais de um ano de empresa, deverá necessidade de
assistência do seu sindicato ou da DRT (art. 477, §1º, CLT).
4.2 – Dispensa do empregado com justa causa
Trata-se de modalidade de terminação do contrato em face de conduta culposa do
empregado.
– A taxatividade do art. 482 da CLT
Apostila de Direito do Trabalho II 14
A doutrina é praticamente unânime em afirmar que o art. 482 da CLT é taxativo e
não meramente exemplificativo em relação às hipóteses de faltas graves cometidas pelas partes.
Todavia, há outros fatos que podem ser reconhecidos como falta grave espalhados pelo corpo da
CLT. Isto porque a CLT é uma consolidação de lei e, não raro, carece de sistematização.
Assim, podemos concluir que o art. 482 é taxativo, sendo que somente as faltas
tipificadas no referido comando legal serão passíveis da aplicação de justa causa. A CLT e a
normatização específica podem vislumbrar outras condutas capazes de ensejar falta grave.
- Critérios de aplicação de penalidades
A) Requisitos objetivos - Os requisitos objetivos concernem à caracterização da
conduta obreira que se pretende censurar.
Assim, é requisito objetivo para o exercício do poder disciplinar no contrato a
TIPICIDADE DA CONDUTA OBREIRA, ou seja, a conduta deve estar legalmente tipificada
(nullum crimen nulla poena sine lege).
B) Requisitos subjetivos - Os requisitos subjetivos dizem respeito ao
envolvimento (ou não) do empregado na respectiva conduta.
Assim, são requisitos subjetivos a AUTORIA OBREIRA e o seu DOLO OU
CULPA com respeito ao fato ou omissão imputados.
C) Requisitos circunstanciais
Circunstanciais são os requisitos que dizem respeito à atuação.
(i) NEXO CAUSAL – entre a infração e a penalidade. Deve haver
vinculação direta entre a infração e a pena. Isso quer dizer que o
empregador não pode deixar acumular infrações para depois punir
tudo de uma vez só.
(ii) PROPORCIONAILIDADE ENTRE A FALTA E A
PENALIDADE, a ordem jurídica quer que haja correspondência
substantiva entre a conduta infratora e a punição aplicada. Ou seja,
deve haver conformidade entre a dimensão e extensão da falta
cometida e a dimensão e extensão da punição aplicada.
(iii) IMEDIATICIDADE DA PUNIÇÃO – o ordenamento exige que a
aplicação da pena se faça tão logo se tenha conhecimento da falta
cometida. Com isso evita-se situação de pressão permanente. A
quantificação desse prazo entre a falta e a punição não é
expressamente previsto na legislação. Mas a jurisprudência tentou
traçar algumas regras: (a) tal prazo conta-se não exatamente do fato
irregular ocorrido, mas do instante de seu conhecimento pelo
empregador; (b) esse prazo pode ampliar-se ou reduzir-se em
função da existência ou não de algum procedimento administrativo
prévio à efetiva consumação da punição; (c) há um parâmetro
máximo fornecido pela CLT e eventualmenta aplicável a algumas
situações concretas (art. 853, CLT, S. 403, STF, En. 62, TST) – 30
dias – prazo decadencial4.
4 É de ressaltar, todavia, que esse prazo de 30 dias pode servir de relativo parâmetro para outras situações
disciplinares, mesmo não envolvendo empregado estável, nem a propositura de inquérito. Observe-se, porém, que
tal lapso de 30 dias somente seria aplicável quando houvesse necessidade de alguma diligência averiguatória dos
fatos relevantes à infração. É que a jurisprudência tende a considerar muito longo semelhante prazo em situações
Apostila de Direito do Trabalho II 15
(iv) AUSÊNCIA DE PERDÃO TÁCITO – assim o silencio
empresarial prolongado, após conhecida uma falta obreira, gera a
presunção de que a infração foi implicitamente perdoada. Ou seja,
a falta de imediaticidade gera a presunção de incidência do perdão
tácito.
(v) SINGULARIDADE DA PUNIÇÃO – não pode haver bis in idem,
mesmo que se trate de um grupo de faltas, mas tendo uma unidade
em seu cometimento, a punição tem de ser unitária.
(vi) AUSÊNCIA DE DISCRIMINAÇÃO - a penalização não pode ser
efetuada com intuito discriminatórios.
(vii) CARÁTER PEDAGÓGICO DA PUNIÇÃO - a punição deve ter a
finalidade de ajustar o conduta obreira à sadia convivência
laborativa, visando, em última análise a ressocialização obreira no
universo empresarial.
– Infrações obreiras tipificadas (art. 482, CLT).
A) ATO DE IMPROBIDADE
B) INCONTINÊNCIA DE CONDUTA
C) MAU PROCEDIMENTO
D) NEGOCIAÇÃO HABITUAL
E) CONDENAÇÃO CRIMINAL
F) DESÍDIA
G) EMBRIAGUEZ HABITUAL OU EM SERVIÇO
H) VIOLAÇÃO DE SEGREDO DA EMPRESA
I) INDISCIPLINA
J) INSUBORDINAÇÃO
L) ABANDONO DE EMPREGO
OBS.: abandono de emprego abandono de serviço
M) ATO LESIVO À HONRA E BOA FAMA PRATICADOS NO
SERVIÇO CONTRA QUALQUER PESSOA, OU OFENSAS FÍSICAS, NAS MESMAS
CONDIÇÕES, SALVO EM CASO DE LEGÍTIMA DEFESA, PRÓPRIA OU DE OUTREM
N) ATO LESIVO DA HONRA E BOA FAMA OU OFENSAS FÍSICAS
PRATICADAS CONTRA O EMPREGADOR E SUPERIORES HIERÁRQUICOS, SALVO
EM CASO DE LEGÍTIMA DEFESA
mais singelas (e mais freqüentes), que digam a faltas inequivocamente cometidas e inequivocamente conhecidas do
empregador.
Apostila de Direito do Trabalho II 16
O) PRÁTICA CONSTANTE DE JOGOS DE AZAR
Q) OUTRAS HIPÓTESES
art. 508, CLT
art. 158, §Ú, CLT
art. 240, §Ú, CLT
– Cessação do contrato de trabalho por decisão do empregado
5.1 – Pedido de demissão
Consiste na declaração unilateral de vontade do empregado com poderes para colocar fim
ao contrato de trabalho que o vincula ao respectivo empregador.
O empregado deverá conceder aviso prévio de 30 dias ao empregado, salvo se for
liberado pelo empregador. Todavia, o próprio empregado pode Ter interesse em se desvincular o
mais rápido possível do emprego, por já possuir outro serviço, nesse caso, não precisará cumprir
o aviso prévio (S. 276, TST).
O empregado terá direito a:
- 13º proporcional
- férias proporcionais + 1/3
5.2 – Rescisão indireta
É a forma de cessação do contrato de trabalho por decisão do empregado em virtude da
justa causa praticada pelo empregador (Art. 483, CLT).
O empregador comete um ato que causa a cessação do contrato de trabalho.
Aqui também incidirão os requisitos objetivos, subjetivos e circunstanciais que
caracterizam a justa causa obreira.
– Tipificação (art. 483, CLT)
A) SERVIÇOS SUPERIORES ÀS FORÇAS OBREIRAS, DEFESOS POR LEI,
CONTRÁRIOS AOS BONS COSTUMES, OU ALHEIOS AO CONTRATO – (ex.: art. 198,
390, CLT)
B) TRATAMENTO PELO EMPREGADOR OU SUPERIORES
HIERÁRQUICOS COM RIGOR EXCESSIVO –
C) CORRER PERIGO MANIFESTO DE MAL CONSIDERÁVEL –
D) NÃO CUMPRIR COM AS OBRIGAÇÕES DO CONTRATO –
E) PRATICAR O EMPREGADOR, OU SEU PREPOSTOS, CONTRA O
EMPREGADO OU PESSOAS DE SUA FAMÍLIA, ATO LESIVO DA HONRA E BOA FAMA
F) OFENDER, O EMPREGADOR OU SEUS PREPOSTOS, FISICAMENTE,
salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem.
G) REDUZIR, O EMPREGADOR, O TRABALHO DO EMPREGADO, sendo
este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários – a presente
justa causa abrange empregados cujos contratos tenham previsão de salário variável.
5.3 – Aposentadoria
6 – Cessação do contrato de trabalho por culpa recíproca
A culpa recíproca na rescisão do contrato de trabalho pressupõe o fato de ambas as partes
dão causa à cessação do pacto laboral por justo motivo. A causa determinante para a rescisão do
contrato de trabalho é a ocorrência de duas faltas, uma do empregado, outra do empregador.
Apostila de Direito do Trabalho II 17
O empregado fará jus a 50% das verbas rescisórias (art. 484, CLT; S. 14, TST).
7 – Terminação por fato estranho à vontade das partes
7.1 – Força maior
O contrato de trabalho poderá terminar por força maior. Por força maior entende-se o
acontecimento inevitável e imprevisível, em relação à vontade do empregador, e para a
realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente (art. 501, CLT).
A falência do empregador não será considerada como força maior, pois está inserida nos
riscos do empreendimento.
7.2 – Factum principis
O que foi dito para a força maior cabe nas hipóteses de factum principis, ou seja, aquele
causado pela Administração Pública, provocando o encerramento da empresa e a dispensa dos
seus empregados.
O art. 486 da CLT dispõe que o pagamento da indenização ficará a cargo do governo
responsável.
Todavia, na prática, as verbas rescisórias ficam por conta da empresa.
8 – Cessação do contrato por desaparecimento de uma das partes
8.1 – Morte do empregado
8.2 – Morte do empregador pessoa física
O §2º do art. 483 da CLT
8.3 – Extinção da empresa
9 – Resilição bilateral – distrato trabalhista
Trata-se da resilição do contrato de trabalho por mútuo acordo das partes contratuais. Tal
figura, entretanto, não tem aplicabilidade prática significativa no âmbito trabalhista. É que a
ordem jurídica trabalhista, em harmonia com seus princípios basilares, não admite que o
empregado faça transação supressiva de parcelas juslaborativas, muito menos efetivar renúncia
no contexto da extinção do pacto empregatício.
Portanto, nesta modalidade de ruptura, mantém-se todas as verbas rescisórias próprias à
dispensa sem justa causa, cumprindo-se a resilição bilateral como se fosse, na realidade, mera
despedida injusta.
Na cessação do contrato de trabalho por culpa recíproca o empregado terá direito a 50%
do aviso prévio, do 13º e das férias proporcionais, ver art. 484, CLT e S. 14 do TST.
10 – Cessação por advento de termo do contrato
No término normal do contrato de trabalho com prazo determinado o empregado tem
direito a:
- levantamento do FGTS, sem 40%;
- 13º proporcional;
- férias proporcionais.
Se o empregador rescindir o contrato antes do termo, deverá indenizar o empregado com
metade da remuneração a que teria direito até o termo do contrato (art. 479 da CLT).
O empregado que se desligar antes do término do contrato por prazo determinado deverá
indenizar o empregador dos prejuízos que desse fato lhe resultarem (art. 480, CLT), sendo que a
indenização não poderá exceder àquela a que teria direito o empregado em idênticas condições
(Art. 480, §1º, CLT).
Se o contrato de prazo determinado tiver cláusula assecuratória do direito recíproco de
rescisão antecipada, aplicam-se, caso seja exercido tal direito por qualquer das partes, as regras
que regem a rescisão dos contratos por prazo indeterminado (art. 481, CLT).
11 – Resumo das parcelas rescisórias na rescisão do contrato por prazo indeterminado
Apostila de Direito do Trabalho II 18
A) Dispensa arbitrária (ou despedida sem justa causa ou despedida desmotivada) – maior
número de verbas rescisórias
- aviso prévio;
- 13º proporcional;
- férias proporcionais com 1/3;
- liberação do FGTS com 40%;
- baixa na carteira
- empregador deve emitir as guias de comunicação de dispensa e seguro
desemprego).
B) Pedido de demissão
- 13º proporcional;
- férias proporcionais com 1/3. (S. 261 e 328, TST)
A) Dispensa por justa causa obreira
- Suprime do trabalhador o direito ao recebimento de qualquer parcela
rescisória acima mencionada.
- Cabe a baixa na CTPS e a entrega do termo de rescisão do contrato.
D) Rescisão indireta – as verbas são equiparadas as da dispensa injusta
- aviso prévio;
- 13º proporcional;
- férias proporcionais com 1/3;
- liberação do FGTS com 40%;
- baixa na CTPS
- emissão do termo de rescisão contratual e das guias do seguro desemprego.
E) Ruptura por culpa recíproca
- 50% das verbas trabalhistas.
F) Extinção da empresa ou do estabelecimento – tem merecido do Direito do Trabalho
tratamento semelhante ao da dispensa injusta. Considera-se que a extinção da empresa no
país é decisão que se coloca dentro do âmbito do poder diretivo do empregado, sendo, em
conseqüência, inerente ao risco empresarial por ele assumido (v. arts. 497 e 498, CLT; S.
44, TST).
G) Morte do empregado – provoca, necessariamente, o fim do contrato de trabalho –
pessoalidade em relação ao empregado.
O empregador deverá ao espólio:
- 13º proporcional;
- férias proporcionais com 1/3;
- eventual saldo salarial;
- demais parcelas vencidas com o fim do contrato (férias simples);
- parcelas em mora (férias vencidas, em dobro).
- Os depósitos do FGTS serão liberados para os dependentes previdenciários do obreiro
e, em sua falta, os herdeiros existentes, indicados em alvará judicial (art. 20, IV da
Lei 8036/90).
Apostila de Direito do Trabalho II 19
OBS.: morte provocada culposamente pelo empregador (acidente do trabalho) – verbas
da justa causa empresarial.
H) Morte do empregador pessoa física ou empresa individual – note-se que esse fato nem
sempre provoca o fim do empreendimento que pode prosseguir com herdeiros, ocorrendo
a chamada sucessão trabalhista.
Se provocar a extinção do empreendimento e, automaticamente, a extinção do contrato de
trabalho, deve incidir o amplo número de verbas rescisórias:
- aviso prévio (S. 44, TST);
- 13º proporcional;
- férias proporcionais com 1/3;
- liberação do FGTS (Art. 20, IV da lei 8036/90)
II - AVISO PRÉVIO
Aviso prévio é a comunicação que uma parte do contrato de trabalho deve fazer à outra
de que pretende extinguir o referido pacto sem justa causa, de acordo com o prazo previsto em
lei, sob pena de pagar indenização substitutiva.
1 – Irrenunciabilidade
S. 276, TST
2 – Cabimento
Como regra, o aviso prévio é instituto inerente a contratos de duração indeterminada.
Desse modo, de maneira geral, ele não comparece nos contratos a termo, uma vez que
estes já têm sua extinção prefixada no tempo. Apenas nos contratos a termo que tenham em seu
interior cláusula assecuratória do direito recíproco de antecipação do término contratual, é que
pode ganhar relevância o aviso prévio, pois, caso acionada tal cláusula, a terminação contratual
passará a reger-se pelas regras próprias aos contratos por tempo indeterminado, com dação do
aviso prévio, inclusive (art. 481, CLT).
3 – Prazos do aviso prévio
O prazo mínimo do aviso prévio, desde a CRFB/88, é de 30 dias.
A Carta de 88 não recepcionou o curto lapso de tempo de 8 dias, estabelecido no art. 487,
I da CLT.
Regra jurídica autônoma (CCT ou ACT) ou simples cláusula contratual (inclusive
regulamento de empresa) podem instituir prazo superior ao pré-aviso no âmbito de sua
competência.
4 – Tipos de aviso prévio
Há dois tipos de aviso prévio: o trabalhado e o indenizado.
a) Aviso prévio trabalhado – com dispensa promovida pelo empregador por ser
realizado de duas formas: (i) ocorre a prestação laborativa pelo empregado na jornada
e horário habituais, ao longo de 30 dias, com redução diária de duas horas, sem
prejuízo da integralidade do salário (art. 488, caput, CLT). Atente-se que não é válida
a substituição, pelo empregador, das duas horas de redução diária pelo correspondente
pagamento de duas horas extras, pois frustra o principal objetivo do aviso prévio, qual
seja, possibilitar que o empregado procure novo emprego (S. 230, TST), se isto
ocorrer, o empregador deverá pagar o referente ao período frustrado, que terá natureza
indenizatória; (ii) ocorre a supressão de qualquer trabalho nos últimos 7 dias de pré-
Apostila de Direito do Trabalho II 20
aviso, laborando-se o período anterior sem a redução de duas horas mencionadas. O
entendimento jurisprudencial é de que essas formas de cumprimento do aviso prévio é
uma faculdade do empregado (§Ú, art. 488, CLT).
b) Aviso prévio indenizado – corresponde àquele que não é cumprido mediante labor
pelo obreiro, sendo pago em espécie pelo empregador. Em vez de valer-se do trabalho
do empregado pelas semanas contratuais restantes, o empregador prefere suprimir, de
imediato, a prestação laborativa, indenizando o respectivo período de 30 dias (art.
487, §1º, CLT). Trata-se do meio mais comum de aviso prévio, vez que evita os
desgastes de relacionamento que podem ocorrer após a comunicação empresarial
sobre a ruptura do contrato. É claro que o aviso prévio indenizado tem os mesmos
efeitos do aviso prévio trabalho, assim, integra o contrato para todos os fins, tanto que
a data da “baixa” na CTPS obreira é aquela correspondente ao final do prazo do pré-
aviso (OJ 82, SDI-I, TST)
OBS.: Aviso prévio cumprido em casa – a prática cotidiana tentou engendrar uma terceira
modalidade alternativa do instituto do aviso prévio, com o fim de dilatar o prazo para o
pagamento rescisório instituído no art. 477, §§ 6º e 8º da CLT. No aviso prévio cumprido em
casa o empregado não trabalhava, nem era indenizado, ficando em sua própria residência à
disposição empresarial. A prática consiste em nítido abuso do direito. Assim, o que pode ocorrer,
é a dispensa do cumprimento do aviso prévio, nesta hipótese, o valor correspondente deverá ser
quitado até o décimo dia da notificação da demissão (OJ 14, SDI-I, TST).
5 – Aviso prévio e estabilidade
O TST tem entendido que a estabilidade ou a garantia de emprego não são adquiridas no
curso do aviso prévio – OJ 35 e 40, SDI-I, TST.
6 – Observações
Se o empregado pede demissão, mas não concede ou cumpre o aviso prévio, poderá o
empregador reter o saldo de seu salário, no valor correspondente ao número de dias de aviso
prévio não concedido (art. 487, §2º, CLT).
Se a omissão for do empregador, terá de pagar o valor correspondente, isto é, o aviso
prévio indenizado (art. 487, §1º, CLT).
III - HOMOLOGAÇÃO RESCISÓRIA
A homologação do contrato de trabalho é um ato solene. Assim, necessariamente deve ser
levada a efeito por escrito e com as formalidades que a lei exige.
A homologação do pedido de demissão e do recibo de quitação é um ato confirmatório
levado a efeito por autoridades previamente indicadas em lei, quer de natureza administrativa,
que judicial.
Assim, contando o empregado com mais de um ano de serviço, a assistência é
imprescindível, na seguinte ordem sucessiva:
a) Sindicato de classe (ou qualquer entidade sindical quando não houver
sindicato representativo da categoria);
Apostila de Direito do Trabalho II 21
b) Representante do Ministério Público do Trabalho;
c) Promotor púbico;
d) Defensor público;
e) Juiz de paz.
A homologação não precedida de confirmação por tais autoridades implica em nulidade
do ato.
Ademais, o recibo de quitação do contrato de trabalho, qualquer que seja a sua causa ou
forma de dissolução, deve ser especificada a natureza de cada parcela paga ao empregado e
discriminado o seu valor, sendo válida a quitação, apenas, relativamente às mesmas parcelas.
O pagamento feito com assistência quita parcelas, mas não impede o empregado de
reclamar eventual lesão a direito, principalmente quando recebeu verbas inferiores às devidas ou
que não foram integrais, como em caso de falta de integração das horas extras nas verbas
rescisórias. Assim, verbas não pagas ou pagas em valores inferiores aos devido não estarão
quitadas, nem se pode dizer que houve quitação do contrato de trabalho.
– Prazo para pagamento de verbas rescisórias
São os estabelecidos nos §§ 6º e 8º do art. 477 da CLT.
Alínea a do §6º do art. 477 – trata de hipótese em que o empregado cumpre
integralmente o aviso prévio até o último dia de contrato, tendo a empresa 30 dias para preparar
as contas do obreiro. No término do contrato de trabalho por prazo determinado ou na sua
rescisão antecipada o prazo é o dia seguinte da cessação do pacto laboral, pois não há aviso
prévio. Alínea b do §6º do art. 477 – dispõe que as verbas rescisórias devem ser pagas até
o décimo dia, contado da data da notificação da demissão, quanto da ausência do aviso prévio,
indenização do mesmo ou dispensa do seu cumprimento.
IV – ESTABILIDADE, GARANTIA PROVISÓRIA DE EMPREGO E FGTS
1 – Estabilidade
A primeira norma que tratou da estabilidade no setor privado do o Decreto n. 4682/23
(Lei Eloy Chaves), que previa a estabilidade aos ferroviários que tivessem mais de 10 anos de
serviço efetivo no mesmo empregador.
Em 1943 a estabilidade foi deferida a todo empregado que completasse dez anos na
empresa (art. 492 a 500). O empregado estável só poderia ser dispensado se cometesse falta
grave. Sendo certo que esse prazo de dez anos foi jurisprudencialmente reduzido para efetivos
nove anos de serviço (S. 26, TST – despedida obstativa).
Assim, adquirida a estabilidade, surge obstáculo jurídico intransponível contra o qual não
poderia prevalecer o simples ato desmotivado do empregador visando a ruptura do pacto
empregatício. Não havia, desse modo, na época, possibilidade jurídica para a denúncia vazia do
contrato.
Com o advento da L. n. 5107/66, que instituiu o FGTS, o sistema da estabilidade decenal
não mais se manteve exclusivo, passando a vigorar juntamente com o FGTS, até que este último
passou a ser obrigatório com a CRFB/88.
Apostila de Direito do Trabalho II 22
2 – Garantia provisória de emprego
Também conhecida como garantias de empregou ou estabilidades provisórias, trata-se de
uma vantagem jurídica deferida ao empregado, em virtude de uma circunstância contratual ou
pessoal de caráter especial, de modo a assegurar a manutenção do vínculo empregatício por um
lapso temporal definido, independente da vontade do empregador.
A garantia provisória de emprego volta-se, de modo essencial, contrariamente ao
exercício unilateral do poder empregatício pelo empregador, inviabilizando a ruptura contratual
por sua vontade meramente arbitrária, isto é, a dissolução do contrato sem motivo considerado
relevante para o Direito.
Entre outros, podemos citar como exemplos de garantia provisória de emprego:
Conforme visto, a despedida de empregado portador de garantia provisória de emprego só
poderá ocorrer quando ocasionada por falta grave, sendo necessário o ajuizamento de inquérito
para apuração de falta grave.
A garantia provisória de emprego pode ser de origem legal ou convencional.
3 – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
O FGTS foi instituído pela Lei n. 5107/66. Atualmente é regulado pela Lei n. 8036/90 e
pelo seu Decreto regulamentador n. 99684/90.
Quando de sua instituição, o FGTS passou a ser uma opção do empregado, que poderia
escolher entre o sistema de estabilidade vigente (após 10 anos de serviço), ou o novo sistema
indenizatório.
A partir da CRFB/88, o sistema do FGTS passou a ser obrigatório, e não mais uma opção.
O FGTS consubstancia uma verdadeira poupança, constituída mensalmente pelo
empregador, através de depósitos bancários, que poderá ser sacada pelo empregado nas hipóteses
previstas em lei. Na verdade o FGTS tem como finalidade precípua o financiamento para
aquisição de moradia pelo Sistema Financeiro de Habitação.
Nas lições de Maurício Godinho Delgado, o FGTS consiste “em recolhimentos
pecuniários mensais, em conta bancária vinculada em nome do trabalhador, conforme
parâmetro de cálculo estipulado legalmente, podendo ser sacado pelo obreiro em situações
tipificadas pela ordem jurídica, sem prejuízo de acréscimo percentual condicionado ao tipo de
rescisão de seu contrato laborativo, formando, porém, o conjunto global e indiferenciado de
depósitos um fundo social de destinação legalmente especificada.”
ADMINISTRAÇÃO –
NATUREZA JURÍDICA –
RECOLHIMENTO –
LEVANTAMENTO DO FGTS – o FGTS não será levantado quando o empregado pedir
demissão ou quando for dispensado por justa causa.
Na rescisão do contato de trabalho por parte do empregador, este deverá depositar na
conta vinculada do empregado os valores relativos ao depósito referente ao mês anterior que
ainda não houver sido recolhido, bem como os valores relativos ao mês da rescisão.
O FGTS poderá ser levantado pelo empregado nas seguintes hipótese, (art. 20, Lei n.
8036/90):
Apostila de Direito do Trabalho II 23
(i) Dispensa por justa causa por parte do empregador.
(ii) Rescisão indireta;
(iii) Rescisão por culpa recíproca;
(iv) Distrato por força maior;
(v) Pagamento de parte das prestações do Sistema Financeiro de Habitação;
(vi) Liquidação ou amortização de saldo devedor de financiamento imobiliário;
(vii) Aquisição de moradia própria;
(viii) Doenças graves;
(ix) Aplicação em quotas do Fundos Mútuos de Privatização, dentre outros.
Com a promulgação da CRFB/88 e enquanto não for instituída Lei Complementar que irá
prever a indenização compensatória por despedida arbitrária ou sem justa causa (art. 7º, I,
CRFB/88), esta indenização foi elevada para 40% nas dispensas imotivadas e para 20% nos
casos de culpa recíproca e força maior, sobre o montante de todos os depósitos realizados na
conta vinculada, durante a vigência do contrato de trabalho, acrescido de juros e correção
monetária.
A prescrição do FGTS é trintenária (art. 23, §5º, lei 8036/90)
DIREITO COLETIVO DO TRABALHO
1 - Definição
Complexo de institutos, princípios e regras jurídicas que regulam as relações laborais de
empregados, empregadores e outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada
sua ação coletiva, realizada autonomamente ou através das respectivas entidades sindicais.
2 – Histórico e conteúdo
Após a Revolução Industrial (sec. XVIII), nasceu o reconhecimento do direito de
associação dos trabalhadores, com o surgimento das associações e dos sindicatos, e, por via de
conseqüência, do estudo do Direito do Trabalho em coletividade.
Atualmente, entende-se o Direito Coletivo do Trabalho como uma das divisões do Direito
do Trabalho, que trata da organização sindical, dos conflitos coletivos do trabalho e da
representação dos trabalhadores, com finalidade precípua de melhorar as condições de trabalho
do empregado.
O direito coletivo do trabalho é denominado também como direito sindical, todavia essa
denominação enfoca apenas um dos sujeitos do direito coletivo do trabalho: o sindicato.
3 – Princípios de direito coletivo do trabalho
A) PRINCÍPIO DA LIBERDADE ASSOCIATIVA E SINDICAL
Confere ampla prerrogativa obreira à associação e, por conseqüência, sindicalização.
Assim, a ordem jurídico-institucional assegura qualquer iniciativa de agregação estável e
pacífica entre pessoas, independentemente de seu segmento social ou dos temas causadores da
aproximação.
OBS.: Cláusulas de sindicalização forçada. São exemplos a “closed shop” (quando a
empresa só contrata o empregado sindicalizado); “union shop” (quando o empregado depois de
Apostila de Direito do Trabalho II 24
admitido tem prazo para sindicalizar-se); “preferencial shop” (os empregados sindicalizados têm
preferência na contratação); “maintenance of membership” (o empregado deve manter-se filiado
durante a vigência do contrato de trabalho).
Tais cláusulas chocam-se com o princípio da liberdade sindical.
Podemos dizer que a liberdade sindical é conceituada como o direito dos
trabalhadores (e também dos empregadores) de se organizarem e constituírem livremente as
agremiações que desejarem, sem interferência do Estado, visando promover a defesa de seus
interesses.
Os trabalhadores em serviço público também terão direito de constituir seu sindicato.
O mesmo não se dá com os membros das Forças Armadas e da Polícia, e as servidores que têm
função de confiança.
Para que exista a autonomia e liberdade sindical é preciso que exista uma forma
independente de custeio da atividade das entidades sindicais, que deverão ocorrer através de
contribuições espontâneas (mensalidades, etc) dos filiados e não por intermédio de contribuições
compulsórias.
B) PRINCÍPIO DA INTERVENIÊNCIA SINDICAL OBREIRA NA
NORMATIZAÇÃO COLETIVA
A validade do processo negocial coletivo depende da necessária intervenção do
ser coletivo obreiro – sindicato. Este princípio visa assegurar a existência da efetiva equivalência
entre os sujeitos contrapostos da negociação. Assim, não constitui, para o direito brasileiro,
negociação coletiva trabalhista qualquer fórmula de tratamento direto entre o empregador e seus
empregados, ainda que se trate de fórmula formalmente democrática (plebiscito intra-
empresarial, por exemplo). Neste sentido, qualquer ajuste feito informalmente entre empregador
e empregado terá caráter de mera cláusula contratual, sem o condão de instituir norma jurídica
coletiva negociada.
C) PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA DOS CONTRATANTES COLETIVOS
Trata-se do reconhecimento de um estatuto sócio-jurídico semelhante a ambos os
contratantes coletivos. Ou seja, os sujeitos do direito coletivo do trabalho têm a mesma natureza
jurídica: são todos seres coletivos. Nesta linha, perde o sentido no direito coletivo do trabalho a
acentuada diretriz protecionista e intervencionista balizadora do direito individual do trabalho.
D) PRINCÍPIO DA LEALDADE (OU BOA-FÉ) E TRANSPARÊNCIA NA
NEGOCIAÇÃO COLETIVA
Visa assegurar condições efetivas de concretização prática de equivalência
teoricamente assumida entre os sujeitos do direito coletivo do trabalho. Trata-se da lisura na
conduta negocial entre os sujeitos do direito coletivo do trabalho, já que as partes são
teoricamente equivalentes, não havendo necessidade de se falar em princípio protetivo.
E) PRINCÍPIO DA CRIATIVIDADE JURÍDICA DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA
Os processos negociais coletivos e seus instrumentos têm real poder de criar
norma jurídica, em harmonia com a normatividade heterônoma estatal.
Isto é benéfico porque a criação desses tipos de normas jurídicas, oriundas de uma
dada comunidade econômico-profissional realiza o princípio democrático de descentralização
política e de avanço da autogestão social pelas comunidades localizadas.
Apostila de Direito do Trabalho II 25
F) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SETORIAL NEGOCIADA
Trata-se, na verdade, de um critério de harmonização entre as normas criadas pela
negociação coletiva e as normas jurídicas provenientes da legislação heterônoma estatal.
Em suma: em que medida as normas juscoletivas podem se contrapor às normas
jusindividuais imperativas estatais existentes.
Pelo princípio da adequação setorial negociada as normas autônomas juscoletivas
constituídas para incidirem sobre certa comunidade econômico-profissional podem prevalecer
sobre o padrão geral heterônomo justrabalhista quando: (i) as normas autônomas juscoletivas
implementarem um padrão setorial de direitos superior ao padrão oriundo da legislação
heterônoma aplicável; (ii) as normas autônomas juscoletivas transacionarem seterioalmente
parcelas justrabalhistas de indisponibilidade relativa (e não absoluta).
4 - Sindicatos
4.1 – Evolução histórica no Brasil
Antes de 1930 o ramo justrabalhista se encontrava em fase de manifestações
incipiente e esparsas. As primeiras associações de trabalhadores livres e assalariados ocorrem no
final do século XIX, início do século XX, com as ligas operárias, sociedade de socorro mútuo,
que foram influenciados basicamente pelos imigrantes europeus. Nesta época, inexistia um
modelo sindical estruturado, fruto de um movimento operário ainda sem profunda e constante
capacidade de organização e pressão.
Em 1930 Getúlio Vargas lança seu sistema sindical, com fundamento no
intervencionismo estatal e com repressão sobre quaisquer manifestações autonomistas do
movimento operário de um lado; e de outro lado, com minuciosa legislação instaurando um
abrangente novo modelo de organização do sistema justrabalhista, estreitamente controlado pelo
Estado.
De 1945 em diante o modelo Getulista manteve-se praticamente intocado nas
longas décadas posteriores.
Só com a CRFB/88 houve significativa mudança do modelo Getulista. Assim,
pode-se dizer a CRFB/88 é o ponto mais relevante de mudança no modelo trabalhista e sindical
brasileiro, embora seja também, ao mesmo tempo, um elemento assecuratório de sua
continuidade.
Vejamos.
Por um lado a CRFB/88 rompe com o controle político-administrativo estatal
sobre os sindicatos, promove ainda o reconhecimento jurídico ao processo negocial coletivo
autônomo.
Por outro lado, a Carta de 1988 preserva institutos e mecanismos autoritários e
corporativos, como, por exemplo, a antiga estrutura sindica corporativa (unicidade sindical e
sistema de enquadramento sindical), além da representação corporativa no Poder Judiciário
(Juízes Classistas)5 e a contribuição sindical obrigatória de origem legal.
4.2 – Conceito e natureza jurídica
Os sindicatos são entidades associativas permanentes, que representam,
respectivamente, trabalhadores e empregadores, visando a defesa de seus correspondentes
interesses coletivos.
5 Que só foi extinto em 1999 (EC 24)
Apostila de Direito do Trabalho II 26
No Brasil, a natureza do Sindicato é de uma associação civil de caráter privado,
autônoma e coletiva.
4.3 – Organização sindical
De acordo com nosso sistema sindical, não há possibilidade da criação de mais de
uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou
econômica, na mesma base territorial, que não poderá ser inferior à área de um município (art. 8,
II, CRFB/88).
A lei não poderá exigir autorização do Estado para fundação de sindicato,
ressalvado o registro no órgão competente (art. 8º, I, CRFB/88). O registro no Ministério do
Trabalho é recibo apenas para fins cadastrais e de verificação da unicidade sindical, sem
qualquer intervenção ou autorização do Estado em relação às atividades do sindicato, tendo por
finalidade o reconhecimento de sua personalidade enquanto entidade sindical.
– Sistemas quanto à limitação legal do número de sindicatos
A) Unicidade sindical – é a proibição, por lei da existência de mais de um
sindicato na mesma base de atuação. Pode ser numa determinada área, numa mesma empresa,
etc. Por esse sistema, na mesma base territorial não é permitida a existência de mais de um
sindicato na mesma categoria. Trata-se de uma união obrigatória de sindicatos.
B) Unidade sindical – sistema no qual os sindicatos se unem não por
imposição legal, mas em decorrência de própria opção. Trata-se de sistema que atende mais à
idéia de liberdade sindical.
C) Pluralidade sindical – sistema, segundo o qual, na mesma base
territorial pode haver mais de um sindicato representando pessoas ou atividades que tenham um
interesse coletivo comum.
OBS.: o sistema brasileiro é o da unicidade, ou seja, não pode haver mais
de um sindicato na mesma base territorial. O monopólio da representação é imposto por lei.
– Categoria
Os sindicatos brasileiros representam uma categoria em determinada base
territorial.
Categoria é o conjunto de pessoas que exercem a sua atividade ou o seu
trabalho num setor determinado.
Categoria profissional remete aos empregados.
Categoria econômica refere-se aos empregados.
Exemplo: bancários são empregados dos bancos, formando uma categoria
profissional. As empresas bancárias, por sua vez, correspondem à categoria econômica.
Categoria profissional diferenciada (art. 511, §3º, CLT) – as pessoas que
exercem a mesma profissão podem criar o seu sindicato. Nesse caso, decisiva, como critério de
agrupamento, será a profissão, independentemente da categoria onde é exercida. Por exemplo, os
engenheiros podem formar um sindicato por profissão, reunindo todos os engenheiros de uma
base territorial, não importando o setor de atividade econômica em que sua empresa se situe. A
isso se dá o nome de sindicato de categoria diferenciada.
OBS.: Profissão Categoria – profissão é o meio lícito que uma pessoa
escolhe e do qual provém sua subsistência. Já categoria é o setor no qual a pessoa exerce sua
profissão. Exemplo: advogado. Advogado é profissão. Todavia, se o advogado trabalha num
banco, sua categoria é bancário e sua profissão é advogado.
Apostila de Direito do Trabalho II 27
Os sindicatos no Brasil representam todo o pessoal de uma categoria,
independentemente de sua profissão. Assim, o sindicato dos bancários representará os gerentes
de bancos, os advogados, os economistas, secretários, porteiros, ascensoristas de todos os bancos
numa determinada base territorial.
Conclusão: no Brasil há sindicatos de categorias, que são os de
trabalhadores; há os sindicatos de categorias diferenciadas, que são os trabalhadores de uma
mesma profissão; há os sindicatos de categorias econômicas, que são os de empregadores. Há,
ainda, os sindicatos de trabalhadores autônomos e sindicatos de profissionais liberais.
4.4 – Órgãos do sindicato
O sindicato compõe-se de 3 órgãos: assembléia geral, diretoria e conselho fiscal
A Assembléia geral irá eleger os associados para representação da categoria,
tomar e aprovar as contas da diretoria, aplicar o patrimônio do sindicato, julgar os atos da
diretoria, quanto a penalidades impostas a associados, deliberar sobre as relações ou dissídios do
trabalho, eleger os diretores e membros do conselho fiscal.
Diretoria será composta de um mínimo de 3 membros e um máximo de 7
membros, entre os quais elegerá o presidente do sindicato. Trata-se do órgão executivo, que tem
por função administrar o sindicato.
O conselho fiscal será composto por 3 membros, que serão eleitos pela assembléia
geral, para mandato de 3 anos (art. 522, CLT). O conselho fiscal terá competência para fiscalizar
a gestão financeira do sindicato.
4.5 – Entidades sindicais de grau superior
As entidades de grau superior são as federações e confederações.
As Federações são entidades sindicais de grau superior organizadas nos Estados-
membros. Poderão ser constituídas desde que congreguem número não inferior a 5 sindicatos,
representando a maioria absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou
conexas (art. 534, CLT).
As Confederações são entidades sindicais de grau superior de âmbito nacional.
São constituídas de, no mínimo, 3 federações, tendo sede em Brasília (art. 535, CLT).As
confederações formam-se por ramo de atividade (indústria, comércio, transportes, etc).
OBS.: Centrais sindicais, são entidades de cúpula que se situam, na estrutura
sindical, acima das confederações, federações e sindicatos.
Na verdade são de intercategorias, abrangentes de diversas categorias,
representando sindicatos, federações e confederações de mais de uma categoria, atuando numa
base territorial ampla, quase sempre todo o país. É de se notar que a CRFB/88 não proibiu nem
autorizou as centrais sindicais.
Amauri Mascaro do Nascimento entende que as centrais sindicais não são
incompatíveis com a CRFB/88, pois o que o modelo brasileiro veda é a existência de entes de
cúpula de uma categoria, ao passo que as centrais sindicais são organizações de cúpula de mais
de uma categoria, não violando, via de conseqüência, a unicidade sindical.
Exemplos: CUT (central única dos trabalhadores); CGT (central geral dos
trabalhadores); FS (força sindical).
4.6 – Funções dos sindicatos
Apostila de Direito do Trabalho II 28
A) Função de representação – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais (dissídios coletivos) ou
administrativas (art. 8º, III, CRFB/88). O sindicato representa os associados e também a
categoria em juízo ou fora dele (art. 513, a, CLT).
B) Função negocial – o sindicato participa das negociações coletivas que irão
culminar com a concretização de normas coletivas (acordos ou convenções coletivas de
trabalho), a serem aplicadas à categoria. Além disso, a própria CRFB/88 (art. 8, VI) estabeleceu
ser obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas.
C) Função assistencial – os sindicatos prestam serviços aos seus associados e/ou
membros de sua categoria (educação, médica, jurídica, etc) – v. art. 514, CLT.
4.8 – Receitas do sindicato
Tem o sindicado como receitas não só a contribuição sindical (art. 8º, IV, da
CRFB/88 c/c arts. 578 a 610 da CLT), mas a contribuição confederativa (art. 8º, IV, CRFB/88), a
contribuição assistencial (art. 513, e, CLT) e a mensalidade dos sócios do sindicato (art. 548, b,
CLT).
O sindicato possui ainda outras receitas (art. 548, CLT), como os bens e valores
adquiridos e as rendas produzidas por aqueles, as doações e legados e mas multas e outras rendas
eventuais.
4.8.1 – Contribuição sindical
Corresponde a um dia de trabalho para os empregados (art. 582, I da CLT).
Calculada sobre o capital da empresa para os empregadores (inc. III)
Para os trabalhadores autônomos e profissionais liberais é calculada com
base num valor fixo (art. 580, II, CLT).
Trata-se de contribuição compulsória, independe da vontade da pessoa em
querer contribuir (art. 545, CLT). Tem, assim, natureza tributária a contribuição sindical.
A CRFB manteve a contribuição sindical obrigatória (art. 8º, IV, in fine):
“independentemente da contribuição prevista em lei”. Trata-se da contribuição mais
controvertida do ponto de vista ideológico e político, pois tem matiz parafiscal, atentando contra
os princípios da liberdade associativa e da autonomia dos sindicatos.
Os empregadores são obrigados a descontar, da folha de pagamento de
seus empregados relativa ao mês de março de cada ano, ou no primeiro mês após o ingresso, a
contribuição sindical devida aos sindicatos profissionais.
4.8.2 – Contribuição confederativa
Também está prevista no art. 8º, IV da CRFB/88 (ab initio), porém não se
confundindo com a contribuição sindical. A contribuição confederativa serve para custear o
sistema confederativo da representação sindical patronal ou profissional, fixada em assembléia
geral de sindicato. É uma obrigação consensual, pois depende da vontade da pessoa que irá
contribuir, inclusive participando da assembléia geral, que irá fixar o quantum da contribuição.
Essa contribuição é devida somente pelos empregados sindicalizados (PN
119, SDC). AMN diz que essa contribuição é mais democrática pois é fixada em assembléia
geral.
4.8.3 – Contribuição assistencial
É também denominada de taxa assistencial, taxa de reversão, contribuição
de solidariedade ou desconto assistencial.
Apostila de Direito do Trabalho II 29
Consiste num pagamento feito pela pessoa pertencente à categoria
profissional ou econômica ao sindicato da respectiva categoria, em virtude de este ter participado
das negociações coletivas, de ter incorrido em custos para esse fim, ou para pagar determinadas
assistenciais realizadas pela agremiação.
O TST já firmou o entendimento de que tais contribuições são inválidas
quando dirigidas a trabalhadores não sindicalizados (OJ, 17, SDC c/c PN 119, SDC).
4.8.4 – Mensalidade sindical
Trata-se de uma obrigação estatutária (art. 548, b, CLT), sendo devida
pelos sócios do sindicato, seguindo as regras deliberadas pelas assembléias dos sindicatos.
Visam proporcionar benefícios aos sindicalizados, como atendimento
médico, dentário, assistência judiciária, etc.
5 – Representação dos trabalhadores nas empresas
Nas empresas com mais de 200 empregados, é assegurada a eleição de um representante
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhe o entendimento direto com os empregadores
(art. 11 da CRFB/88). O representante dos trabalhadores não precisa ser necessariamente
sindicalizado.
Todavia, o que se tem verificado é que as entidades sindicais não têm demonstrado
interesse em praticar o dispositivo constitucional.
É de registro que, essa representação não se confunde com a representação sindical. Por
isso mesmo, o representante dos trabalhadores não goza de qualquer espécie de garantia de
emprego.
6 – Negociação coletiva - acordos e convenções coletivas de trabalho
Negociação coletiva compreende todas as negociações que tenham lugar entre um
empregador, um grupo de empregadores ou uma organização ou várias organizações de
empregadores, de um lado, e uma ou várias organizações de trabalhadores, de outro, visando:
a) fixar as condições de trabalho e emprego;
b) regular as relações entre empregadores e trabalhadores;
c) regular as relações entre empregadores ou suas organizações e uma ou várias
organizações de trabalhadores ou alcançar todos esses objetivos de uma só
vez.
Os sindicatos não poderão recursar-se à negociação coletiva (art. 616, CLT
CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO é o acordo de caráter normativo, entre um
ou mais sindicatos de empregados e de empregadores, de modo a definir as condições de
trabalho que serão observadas em relação a todos os trabalhadores dessas empresas. A CCT tem
aplicação à categoria, independentemente da pessoa ser ou não sócia do sindicato.
A CCT resulta de negociação entabulada por entidades sindicais.
A CCT, embora de origem privada, são criadoras de regras jurídicas, abstratas e
impessoais, dirigidas a normatizar situações ad futurum, correspondendo à noção de lei em
sentido material. Todavia, do ponto de vista formal, são acordos de vontades entre sujeitos
coletivos sindicais.
ACORDO COLETIVO DE TRABALHO, é o pacto entre uma ou mais empresas com o
sindicato da categoria profissional, em que são estabelecidas condições de trabalho aplicáveis, a
essa empresa (art. 611, §1º, CLT)
Apostila de Direito do Trabalho II 30
No ACT não é necessária a presença do sindicato no pólo empresarial. Já no pólo obreiro,
a presença do sindicato não só é necessária, como obrigatória (art. 8º, VI, CRFB/88). Isto porque
o empregador, por sua própria natureza, já é um ser coletivo, já estando, portanto, naturalmente
encouraçado pela proteção coletiva, ao passo que os trabalhadores apenas adquirem essa
qualidade mediante sua atuação coletiva através dos sindicatos.
6.1 – Pontos obrigatórios dos instrumentos coletivos
O conteúdo das CCT e ACT está disciplinado no art. 613 da CLT, que estabelece
a obrigatoriedade dos seguintes pontos:
a) designação dos sindicatos convenentes ou dos sindicatos e empresas
acordantes;
b) prazo de vigência
c) categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelas suas normas;
d) condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante a
sua vigência;
e) normas para conciliação das divergências surgidas entre os convenentes por
motivo de aplicação de seus dispositivos;
f) disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial
de seus preceitos;
g) direitos e deveres dos empregados e empresas;
h) penalidades para os sindicatos convenentes, os empregados e as empresas, em
caso de violação de suas prescrições.
6.2 – Prazo de vigência e efeitos
As cláusulas das normas coletivas, sejam obrigacionais ou normativas extinguem-
se com o término da vigência da norma coletiva, não aderindo permanentemente ao contrato de
trabalho. Após a vigência do CCT e do ACT, o direito trabalhista acordado só terá validade se a
cláusula for renovada em novo instrumento normativo coletivo (E. 277 do TST).
A CCT e o ACT são atos formais, devendo ser necessariamente escritos, pena de
nulidade.
Seu prazo máximo de validade é de 2 anos (art. 614, §3º, CLT).
6.3 – Negociação coletiva – possibilidade e limites
Em que medida as normas juscoletivas podem se contrapor às normas
jusindividuais imperativas estatais existentes? Ou seja: como será feita a pesquisa e aferição
sobre os critério de validade jurídica e extensão de eficácia das normas oriundas de CCT e ACT
em face da legislação estatal imperativa que tanto demarca o ramo justrabalhista individual
especializado?
- Greve
Havia uma praça em Paris onde os operários faziam suas reuniões quando
se encontravam descontentes com as condições de trabalho ou hipótese da paralisação dos
serviços. Nessa praça acumulavam-se gravetos trazidos pelas enchentes do rio Sena, a praça
passou a se chamar “Place de la grève”.
Greve é a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal
de serviços a empregador (art. 2º da Lei n. 7783/89).
Apostila de Direito do Trabalho II 31
A greve deve ser feita perante o empregador, não podendo ser feita contra terceiros.
Atente-se também que a suspensão do trabalho deve ser temporária e não definitiva, visto que se
a greve for por prazo indeterminado poderá acarretar a cessação do contrato de trabalho.
A greve deve ser feita de maneira pacífica, sendo vedado o emprego de violência. Note-
se ainda que, a paralisação do trabalho poderá ser de maneira total ou parcial, possibilitando
abranger toda a empresa ou apenas alguns setores ou estabelecimentos destas.
Para fins da legislação brasileira, a greve é considerada como uma liberdade do
empregado, decorrente do exercício de uma determinação lícita, podendo ser considerada sua
natureza jurídica como um direito fundamental de caráter coletivo, tratando-se de manifestação
relevante da chamada autonomia privada coletiva.
7.1 – Classificação
a) Lícita ou ilícita – quando a greve atende (ou não) às determinações legais.
b) Globais, parciais ou de empresa – considerando-se a sua extensão, atingindo
várias empresas, certos setores ou apenas uma empresa.
c) Política – vem sendo vedada, pois nada será possível reivindicar do
empregador, mas sim do governo.
d) De solidariedade, em que os trabalhadores passam a apoiar outros
trabalhadores, podendo ocorrer, desde que as reivindicações digam respeito a
seus contratos de trabalho, podendo ser feitas em face do empregador.
7.2 – Finalidade
A greve, como vimos, é um direito, e como tal, possui limitações, impostas pela
própria CRFB (art. 5, III), sendo vedada a utilização de meios violentos, de tortura ou de
tratamento desumano ou degradante. A greve não deverá violar o direito à vida, à liberdade, à
segurança e à propriedade.
Quanto ao direito à propriedade, não poderá, em nome de uma greve, serem
danificados bens ou coisas do empregador ou de terceiros.
7.3 – Titularidade e legitimidade
A titularidade do direito de greve é dos trabalhadores, pois a eles competem
decidir sobre a oportunidade e os interesses a serem defendidos por meio da greve. No entanto, a
legitimidade para a instauração da greve pertence ao Sindicato dos trabalhadores, visto que se
trata de um direito coletivo.
Assim, aos trabalhadores compete decidir sobre a oportunidade do exercício do
direito de greve, declarando-se quando irá ser deflagrada (art. 1º da Lei 7783/89). Anote-se que a
greve não poderá ser declarada quando houver ACT ou CCT ou sentença normativa em vigor,
salvo se tenham sido modificadas as condições que vigiam (art. 14).
7.4 – Alguns procedimentos
A negociação coletiva é uma fase antecedente e necessária da greve, ou seja: é
uma condição para o exercício de direito de greve. Frustrada a negociação coletiva ou verificada
a impossibilidade de arbitragem, será facultada a cessação coletiva do trabalho (art. 3º).
A entidade sindical do empregados deverá convocar assembléia geral que irá
definir as reinvidicações da categoria, deliberando sobre a paralisação coletiva (art. 4º). A
assembléia geral será convocada nos termos dos estatutos do sindicato.
Apostila de Direito do Trabalho II 32
A deflagração do movimento paredista será precedida de um aviso prévio (aviso
prévio de greve), que será de no mínimo 48 horas (art. 3º). Nos serviços essenciais, esse aviso
prévio sobe para 72 horas (art. 13). O art. 10 diz quais os serviços tido como essenciais6 .
Desde que observadas as determinações da Lei de Greve, a participação em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais durante o período ser regidas
por ACT, CCT, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Se forem desrespeitadas as
disposições da Lei de Greve, não haverá suspensão do contrato de trabalho.
Durante a greve, o empregador não poderá rescindir o contrato de trabalho dos
empregados, nem admitir trabalhadores substitutos (art. 7º, parágrafo único), a não ser para
contratar os serviços necessários para a manutenção de máquinas e equipamentos durante a greve
(art. 9º, parágrafo único da Lei),m ou na hipótese da continuidade da paralisação após a
celebração de norma coletiva (art. 14). Os trabalhadores, todavia, que excederem-se em suas
manifestações configurando abuso de direito, poderão ser dispensados por justa causa. A simples
adesão à greve não constitui falta grave (S. 316, STF).
A responsabilidade pelos atos praticados durante a greve ou os atos ilícitos ou
crimes cometidos será apurada de acordo com a legislação trabalhista, civil e criminal (art. 15).
O direito de greve do servidor público será exercido nos termos e limites definidos
em lei específica (art. 37, VII, da CRFB/88). O militar não tem direito a greve (art. 37, VII,
CRFB/88).
O STF entendeu que os servidores públicos civis não podem exercer o direito de
greve antes da edição da lei de que trata o inciso VII do art. 37, CRFB (norma de eficácia
limitada).
8 – Lockout
É a paralisação realizada pelo empregador, com o objetivo de exercer pressões
sobre os trabalhadores, visando frustrar negociação coletiva ou dificultar o atendimento de
reivindicações.
O lockout é vedado pelo ordenamento jurídico pátrio (art. 17 da Lei 7783/89).
Se, ainda sim, for praticado o lockout este pode ensejar a rescisão indireta do
contrato de trabalho.
- NORMAS TUTELARES
1 – Trabalho da mulher
1.1 – Fundamentos da proteção especial
Em todos os sistemas jurídicos, a mulher merece tratamento particular,
assegurando condições mínimas de trabalho, diferentes e mais vantajosas daquelas estabelecidas
em relação aos homens.
Aliás, a regulamentação jurídica da empregada ocupa-se dos seguintes aspectos:
(i) proteção à maternidade, com paralisações forçadas, descansos
obrigatórios maiores e imposição de condições destinadas a atender à sua
situação de mãe;
6 É certo que a doutrina vem entendendo que esse rol de atividades são taxativas e não exemplificativas.
Apostila de Direito do Trabalho II 33
(ii) defesa do salário, objetivando-se evitar discriminações em detrimento da
mulher;
(iii) proibições, quer quanto à duração diária e semanal do trabalho, quer
quanto a determinados tipos de atividades prejudiciais.
De acordo com a lei brasileiro (art. 391, CLT) não constitui justo motivo para a
rescisão do contrato de trabalho o fato de haver contraído matrimônio ou de encontrar-se em
estado de gravidez, não sendo permitida cláusulas de CCT, ACT ou contratos individuais
restritivas desse direito.
Assim, segundo a doutrina, os fundamentos apontados a justificar a defesa da
mulher que trabalha profissionalmente são de ordem:
(i) fisiológica – a mulher não é dotada da mesma resistência física que o
homem, e sendo sua constituição mais frágil, exige-se do Direito uma
atitude diferentes e mais compatível com seu estado;
(ii) social – interessa a sociedade a defesa da família, razão pela qual a
maternidade e as circunstância dela decorrentes harmonizam-se com as
ocupações profissionais da mulher.
1.2 – Igualdade salarial
A mulher terá direito aos mesmos salários do homem, se o trabalho que exercer
for de igual valor.
Neste sentido o art. 7º da CRFB/88 e art. 461 da CLT (equiparação salarial).
1.3 – Eliminação das proibições
A CLT visando dispensar proteção, proibiu o trabalho noturno da mulher (art.
379), nos subterrâneos, na minerações em subsolo, em trabalhos insalubres e perigosos, dentre
outras.
Essas proibições desapareceram com as lei que revogaram os dispositivos da
CLT.
Em conseqüência, não há mais proibição para o trabalho da mulher nessas
atividades, tornando-se autorizados pela lei.
O adicional de horas extras é de, no mínimo, 50%.
É proibido o emprego de força muscular pela mulher superior a 20 quilos para
trabalhos contínuos, e 25 quilos para trabalhos ocasionais (art. 390, CLT).
1.4 – Proteção à maternidade
A gestante tem direito à estabilidade no emprego.
O art. 10, II, a do ADCT veda a dispensa arbitrária ou sem justa causa da
empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses.
Instrumento normativo ou cláusula contratual podem dilatar esse prazo.
Apostila de Direito do Trabalho II 34
OBS.: Havendo dispensa imotivada, o TST firmou o entendimento (E. 244)
segundo o qual “a garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der
durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais
direitos correspondentes ao período de estabilidade”.
Há ainda outras normas de proteção à maternidade, como, por exemplo, o direito
de mudar de função (art. 392, §4º, CLT), de rescindir o contrato, se prejudicial à gestação (art.
394, CLT), de dois intervalos especiais de meia hora cada um para amamentação do filho até que
se complete 6 meses (art. 396, CLT), de contar com creche no estabelecimento desde que nele
trabalhem mais de 30 empregadas com mais de 16 anos (art. 389, CLT) e, no caso de aborto não
criminoso, o direito de licença de duas semanas (art. 395).
OBS.: A Lei n. 9029/95, considera ato discriminatório do trabalho da mulher a
exigência, pelo empregador, de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou outro
qualquer meio destinado a esclarecer se está grávida ou esterelizada.
OBS.: A Lei n. 9799/99, estabeleceu regras para o acesso da mulher ao mercado
de trabalho, tipificando como discriminatórios diversos atos, como a publicação de anúncio de
emprego no qual haja referência ao sexo, salvo quando necessário, tendo em vista a natureza da
função, ampliando, por conseguinte, as medidas de proteção à maternidade e de combate à
discriminação da mulher.
1.5 – Licença à mãe
A empregada gestante tem direito à licença de 120 dias sem prejuízo do emprego
e do salário.
É a denominada licença-maternidade (art. 7º, XVIII, CRFB e 392 da CLT).
A licença pode iniciar-se a partir do 28º dia antes do parte e mediante
apresentação, pela empregada, de atestado médico. Entretanto, no caso de parto antecipado, a
licença é assegurada e com a mesma duração integral.
Os salários do período de licença são pagos pela empresa que pode deduzir o
respectivo valor das contribuições previdenciárias que tiver que recolher à Previdência Social.
Desse modo, esse ônus é suportado pelo INSS, e não pela empresa.
A licença tem dois objetivos: (i) possibilitar à mulher a recuperação física do
parto; (ii) e possibilitar a presença da mãe com a criança em tão importante período.
OBS.: GUARDA E ADOÇÃO – o art. 392-A da CLT, confere à empregada que
adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção, o direito à licença, que será de 120 dias no
caso de criança de até 1 ano de idade, de 60 dias se a criança tiver de 1 a 4 anos e de 30 dias para
crianças de 4 a 8 anos de idade.
1.6 – Revista íntima
Revista íntima consiste em qualquer tipo de despimento coercitivo, ato de
molestamento físico, situações vexatórias que exponha o corpo dos funcionários, bem como a
revista de bolsa, por caracterizar-se como uma prática afrontosa que remonta aos costumes da
escravidão, discriminatória e ineficaz do ponto de vista da fiscalização do patrimônio das
empresas, rompendo o contrato de confiança estabelecido entre o empregado e o empregador.
Neste sentido o art. 373, VI da CLT.
Apostila de Direito do Trabalho II 35
Assim, deve o empregador socorrer a todo e qualquer outro meio de controle de
suas mercadorias, como entrada e saída de estoque, filmagens, colocação de etiquetas
magnéticas, vigilância, etc, mas evitar a qualquer preço o aviltamento da pessoa humana, através
de revistas íntimas.
O Judiciário tem entendido que a revista íntima enseja meio ilícito para a obtenção
de prova, devendo ser considerada inadmissível (art. 5º, LVI, CRFB/88).
Situações como esta ensejam a condenação do empregador como responsável pelo
encerramento do contrato de trabalho, por justa causa patronal, cabendo inclusive a reparação
moral do empregado.
2 – Trabalho do menor
2.1 – Fundamentos da proteção especial
No início da sociedade industrial surgiram as primeiras preocupações com a
defesa do trabalho do menor. Um dos aspectos mais dramáticos da questão social foi a
exploração do trabalho do menor quando não existiam leis trabalhistas.
A proteção do menor é o ato inicial do direito do trabalho, onde a legislação
inglesa de 1802 trouxe o lema de “salvemos os menores”, reduzindo a duração diária do trabalho
do menor para 12 horas, seguindo-se de diversas leis disciplinando a idade mínima para a
permissão do trabalho do menor.
Há fundamentos para a proteção especial do trabalho do menor:
(i) fisiológica, para que se permita o seu desenvolvimento normal sem os
inconvenientes das atividades insalubres e penosas;
(ii) culturais, para que o menor possa Ter instrução adequada;
(iii) moral, para que seja afastado de ambientes prejudiciais à sua moralidade;
(iv) segurança, para que o menor não seja exposto aos riscos de acidentes do
trabalho.
2.2 – A proteção do menor no Brasil
2.2.1 - Idade
No Brasil, o trabalho do menor é vedado se anterior aos 16 anos, salvo na
condição de aprediz, a partir dos 14 anos (art. 7º, XXXIII, CRFB/88). Caso o menor venha a
trabalhar com menos de 16 anos, mediante subordinação e os demais requisitos do vínculo
empregatício, deverá receber remuneração pelo serviço prestado, sob pena de enriquecimento
ilícito do empregador em detrimento do empregado, além de ser reconhecido o contrato de
trabalho entre as partes. Não se observam as regras de proteção quando o menor esteja
laborando em empresas em que trabalhem exclusivamente pessoas de sua família, desde que
esteja sob a direção do pai, mãe ou tutor (art. 402, parágrafo único, CLT), exceto as proibições
do trabalho noturno, perigoso ou insalubre (art. 404 e 405, CLT).
2.2.2 – Trabalho noturno
Apostila de Direito do Trabalho II 36
É proibido ao menor de 18 anos o trabalho noturno (art. 7º, XXXIII,
CRFB/88 c/c art. 404, CLT). É sabido que o período noturno se destina ao repouso do organismo
do obreiro. Noturno é o trabalho realizado das 22 às 5 horas na atividade urbana; e das 20 às 4 na
pecuária e das 21 às 5 na lavoura, para o empregado rural.
2.2.3 – Trabalho insalubre, perigoso e penoso
A CRFB/88 também veda a prestação de qualquer trabalho insalubre ou
perigoso. Apesar da CRFB/88 não vedar expressamente o trabalho penoso ao menor, parece mais
do que lógico a vedação do trabalho penoso ao menor. O ECA (art. 67, II, L. 8069/90, supriu
essa deficiência proibindo o trabalho do menor em atividades penosas, que pode ser considerado,
por exemplo, como o praticado em minas ou em subsolos, pedreiras, obras de construção civil,
etc.
2.2.4 – Serviços prejudiciais
O trabalho do menor não poderá ser realizado em locais prejudiciais à sua
formação, ao seu desenvolvimento físico, moral social e em horários e locais que não permitam a
freqüência à escola (art. 403, parágrafo único, CLT). O art. 405, §3º da CLT, estabelece alguns
trabalhos considerados como prejudiciais à moralidade do menor. Da leitura desse dispositivo,
pode-se concluir que não será permitido o trabalho do menor em salões de bilhar, bochas, sinuca,
em cinemas que exibam filmes pornográficos, etc.
O juiz da Infância e Juventude poderá autorizar o trabalho do menor nas
hipótese previstas nas alíneas a e b do §3º do art. 405 da CLT, desde que a representação tenha
fim educativo, se certifique ser a ocupação do menor indispensável à própria subsistência ou à de
seus pai, avós, irmão e dela não advir nenhum prejuízo a sua formação moral.
O menor também não poderá fazer serviços que demandem o emprego de
força muscular superior a 20 quilos para o trabalho contínuo ou 25 quilos para o trabalho
ocasional, ressalvada a hipótese de força muscular por impulsão ou tração de vagonetes (art. 390,
parágrafo único c/c art. 405, §5º, ambos da CLT).
O trabalho prestado em ruas, praças e outros logradouros dependerá de
prévia autorização do Juiz da Infância e da Juventude (art. 405, §2º, CLT).
2.3 – Deveres e responsabilidade em relação ao menor
Os responsáveis legais dos menores, pais, mães ou tutores, deverão afastá-los de
empregos que diminuam consideravelmente seu tempo de estudo, repouso, educação moral e
lazer.
Quando a autoridade competente – Juiz da Infância e Juventude – verificar que o
trabalho executado pelo menor é prejudicial à sua saúde, desenvolvimento físico ou moral,
poderá obrigá-lo a abandonar o serviço, devendo a respectiva empresa, quando for o caso,
proporcionar todas as facilidade para mudar de funções (art. 407 c/c 426, CLT).
Os empregadores de menores de 18 anos são obrigados a velar pela observância,
em seus estabelecimentos ou empresas, dos bons costumes e da decência pública, higiene e
medicina do trabalho (art. 425, CLT).
Os empregadores devem proporcionar tempo suficiente para que o empregado
possa freqüentar as aulas (art. 427, CLT).
O menor de 18 anos poderá firmar, sozinho, recibos de pagamento de salários.
Quanto à rescisão do contrato de trabalho, o menor terá que ser assistido por seus responsáveis
legais, quando for dar quitação das verbas que estiver recebendo, sob pena de nulidade (art. 439,
CLT).
Apostila de Direito do Trabalho II 37
Contra o menor de 18 anos não corre nenhum prazo de prescrição (art. 440, CLT)
2.4 – Duração do trabalho do menor
Segue o padrão normal: 8 horas diárias e 44 semanais.
Ao menor é proibida a prestação de horas extras destinadas às exigências
rotineiras da empresa, permitindo-se apenas em casos excepcionais (força maior, por exemplo)
em que seja imprescindível para o funcionamento do estabelecimento; ou no caso de
compensação de horas (art. 413, CLT)
O adicional será de 50%.
Antes da jornada extraordinária o menor terá um repouso de 15 minutos (art 413,
parágrafo único, CLT).
OBS.: não é permitido o fracionamento das férias do menor (art. 134, §2º, CLT).
3 – Segurança e medicina do trabalho
A segurança e medicina do trabalho são o segmento do Direito do Trabalho incumbido de
oferecer condições de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, e de sua recuperação
quando não se encontrar em condições de prestar serviços ao empregador.
3.1 – Fundamentos
Até o início do século XVIII, não havia preocupação com a saúde do trabalhador.
Com o advento da Revolução Industrial e de novos processos industriais, com a modernização
das máquinas, começaram a surgir doenças e acidentes decorrentes do trabalho. A partir desse
momento, há necessidade de elaboração de normas para melhorar o ambiente de trabalho em
seus mais diversos aspectos, de modo que o trabalhador não possa ser prejudicado com agentes
nocivos a sua saúde. O direito passou, então, a determinar certas condições mínimas que
deveriam ser observadas pelo empregador, inclusive aplicando sanções para tanto exercendo
fiscalização sobre as regras determinadas.
3.2 – Regras gerais
Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e integrações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
As empresas têm por obrigação (art. 157, CLT): (a) cumprir e fazer cumprir as
normas de segurança e medicina do trabalho; (b) instruir os empregador, por meio de ordens de
serviço, quanto às precauções a tomar para evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;
(c) adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelos órgãos competentes; (d) facilitar a
fiscalização da autoridades competentes.
Os empregados deverão observar as normas de segurança e medicina do trabalho,
inclusive as instruções ou ordens de serviços quanto às precauções no local do trabalho, de modo
a evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais, devendo colaborar com a empresa na
aplicação das normas de medicina e segurança do trabalho.
Considera-se falta grave do empregado quando este não observa as instruções
expedidas pelo empregador, assim como não quando não usa os equipamentos de proteção
individual (EPI) que lhe são fornecidos pela empresa (art. 158, CLT).
3.3 – Medidas preventivas de medicina do trabalho
Apostila de Direito do Trabalho II 38
O exame médico é uma das medidas preventivas de medicina do trabalho. Será
obrigatório e sempre por conta do empregador, devendo ser feito na admissão, na dispensa e
periodicamente (art. 168, CLT).
Os resultados dos exames será comunicados ao trabalhador observados os
preceitos da ética médica.
3.4 – Equipamento de proteção individual (EPI)
As empresas devem fornecer obrigatoriamente aos empregados o Equipamento de
Proteção Individual, gratuitamente, de maneira a protegê-los contra os riscos de acidentes do
trabalho e danos a sua saúde.
Há necessidade de que o empregador e seus prepostos fiscalizem o efetivo uso dos
EPIs.
3.5 – Cipa
De acordo com o art. 163 da CLT, é obrigatória a constituição de Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), conforme as instruções do Ministério do Trabalho.
Tem a Cipa por objetivo observar e relatar as condições de risco nos ambientes de
trabalho e solicitar as medidas para reduzir até eliminar os riscos existentes e/ou neutralizá-los,
discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam, assim como orientando
os trabalhadores quanto a sua prevenção.
A Cipa será composta de representantes da empresa e dos empregadores. Os
representantes do empregador, titulares e suplentes, serão por ele designados, anualmente, entre
os quais o presidente da Cipa. Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, serão
eleitos em escrutínio secreto pelos interessados, independentemente de serem sindicalizados,
entre os quais estará o vice-presidente da Cipa. O mandato dos membros eleitos da Cipa é de um
ano, permitida uma reeleição. Os representantes do empregador não poderão ser reconduzidos
por mais de dois mandatos consecutivos.
O art. 165 da CLT determina que os titulares da representação dos empregados
nas Cipas não poderão sofrer despedida arbitrária, que é a que não se fundar em motivo
econômico, financeiro, técnico ou disciplinar. Ocorrendo a despedida, se o empregado reclamar
na Justiça do Trabalho, deverá o empregador comprovar os motivos retroindicados, sob pena de
Ter de reintegrar o trabalhador.
O art. 10, II, a do ADCT determinou que o empregado eleito para o cargo de
direção da Cipa tem garantia de emprego, desde o registro da sua candidatura até um ano após o
final de seu mandato.
A garantia de emprego é para o empregado eleito e não para o indicado pelo
empregador para ser o presidente da Cipa.
3.6 – Insalubridade
Esclarece o art. 189 da CLT que são consideradas atividades ou operações
insalubres as que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados
a antes nocivos à saúde (agentes insalutíferos), acima dos limites de tolerância fixados em razão
da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos.
O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres
e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância,
os meios de proteção e o tempo máximo de exposição.
Apostila de Direito do Trabalho II 39
O adicional de insalubridade é devido à razão de 40% para o grau máximo, 20%
para o grau médio e 10% para o grau mínimo.
Não poderá o adicional de insalubridade ser acumulado com o de periculosidade,
cabendo ao empregado a opção por um dos dois (art. 193, §2º, CLT), sendo certo que o
percentual do adicional em tela incide sobre o salário mínimo (S. 228, TST), salvo se houver
salário profissional estabelecido para a categoria (S. 17, TST).
A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá nos termos do art. 191
da CLT. Sendo certo que, o TST já fixou o entendimento de que o fornecimento de aparelhos
protetores aprovados pelo órgão competente exclui a percepção do adicional respectivo (S. 80).
Forçoso salientar que o que ocorre na hipótese do Enunciado 80 do TST é a
eliminação da insalubridade com o fornecimento do EPI. O Enunciado 289 do esclarece, todavia,
que o simples fornecimento do EPI não exime o pagamento do adicional de insalubridade,
cabendo ao empregador tomar medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da
nocividade, dentre as quais as relativas ao uso efetivo do EPI pelo empregado.
3.7 – Periculosidade
São consideradas atividades ou operações perigosas as que, por sua natureza ou
métodos de trabalho, impliquem contato permanente com inflamáveis ou explosivos em
condições de risco acentuado. O contato do empregado com energia elétrica também confere
direito ao adicional de periculosidade, na forma da lei n. 7369/85.
Enquanto na insalubridade temos que, se não for eliminada ou neutralizada, o
trabalhador a ela exposto tem continuamente um fatos prejudicial a sua saúde, já a periculosidade
não importa fator contínuo de exposição do trabalhador, mas apenas um risco, que não age
biologicamente contra seu organismo, mas que, na configuração do sinistro, pode ceifar a vida
do trabalhador ou mutilá-lo.
É de ressaltar que o contato permanente de que trata o art. 193 da CLT deve ser
entendido como o diário, mesmo que seja feito por poucas horas durante o dia.
O adicional de periculosidade será de 30% sobre o salário contratual do
empregado, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros
da empresa (v. S. 191, TST).
Empregados que operam bombas de gasolina também têm direito ao adicional de
periculosidade.
O empregado não pode cumular adicional de periculosidade e de insalubridade,
devendo optar por um deles (art. 193, §2º, CLT). normalmente, o empregado opta pelo adicional
de periculosidade, pois este é calculado sobre o salário e não sobre o salário mínimo, sendo,
portanto, mais vantajoso.
O direito ao adicional de periculosidade cessará com a eliminação do risco à saúde
de trabalhador.
A caracterização da periculosidade será feita por perícia, por meio de engenheiro
ou médico do trabalho.
Apenas em três casos é devido o adicional de periculosidade. Por contato com: (a)
inflamáveis (art. 193, CLT); (b) explosivos (art. 193, CLT); (c) energia elétrica (Lei n. 7369/85).
3.8 – Penosidade
São trabalhos executados em minas de carvão, transporte e entrega de carvão,
limpezas de chaminés, limpeza de caldeiras, limpeza e manutenção de tanques de petróleo,
Apostila de Direito do Trabalho II 40
recipientes de azeite, trabalhos com grafite e cola, trabalho em matadouros, preparação de
farinha de peixe, preparação de fertilizantes, etc.
O art. 7º, XXIII da CRFB/88 previu o adicional de remuneração para atividades
penosas. Logo, quem trabalhar em atividades penosas terá direito ao adicional, porém até o
momento não existe norma legal tratando do tema.