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Teologia Sistemtica: Cristologia Rev. Mrio Sergio Batista - 2009
Introduo
E o Verbo se fez carne e habitou entre ns,cheio de graa e de verdade, e vimos a suaglria, glria como do unignito do Pai (Jo1.14).
De certa forma, todos j ouviram falar alguma coisa a respeito da
pessoa e obra de Jesus Cristo, como por exemplo, o lugar do seu
nascimento ou algo sobre seu ministrio terreno. Entretanto, dada a
escassez de tempo no ser possvel tratar de todos os temas referentes
pessoa do nosso Redentor, nesse curso. Todavia, bom reconhecermos,
com alegria, aquilo que j temos armazenado em nossas mentes comoconhecimento adquirido e solidificado, e nos regozijarmos com a real
possibilidade de, pela graa de Deus, compartilharmos aquilo que
bondosamente temos aprendido a respeito da Pessoa do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo.
Uma compreenso errada ou uma viso distorcida tanto da Obra
quanto da Pessoa de Jesus Cristo nos levar a laborarmos em erros e,
conseqentemente, a nossa teologia se distanciar da verdade que est emJesus Cristo, o Filho de Deus. A teologia reformada busca fundamentar a
sua interpretao e compreenso a respeito do Cordeiro de Deus nas
Escrituras Sagradas sob a orientao e direo do Santo Esprito.
Com o objetivo de provocar uma reflexo a respeito da compreenso
deformada que algumas pessoas tm sobre as duas naturezas do nosso
Redentor, transcrevo parte do desabafo que certa vez ouvi de um amigo
sobre sua experincia numa dessas reunies conciliares para avaliar oconhecimento teolgico de candidatos ao Santo e Sagrado ministrio.
- Quantas naturezas tm Cristo Jesus? Perguntou o ministro com a
inteno de facilitar as coisas para o candidato.
- Muitas! Respondeu o rapaz, secamente.
- Muitas quantas? Retrucou o irmo.
O candidato disse: posso pensar.
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Deixando transparecer o seu inconformismo diante daquela situao,
o pastor respondeu:
- Sim. Claro. Pode.
O candidato, ento, olhando para o alto e antes de responder fez
gesto e ar de intelectual, colocando a mo direita entre o queixo e os lbios,
confiantemente afirmou:
- Umas seis.
Cremos que esse episdio evidencia a falta de conhecimento de
algumas pessoas a respeito das naturezas de Cristo Jesus. Por isso, no
temos dvidas que esse assunto requer dobrada ateno em nossos dias,pois desde o incio da histria da Igreja Crist houve confuso a respeito
das duas naturezas do nosso Redentor, a ponto de existir aqueles que ora
negavam ou a sua divindade ou a sua humanidade.
I Unio hiposttica
A Bblia afirma que em Jesus Cristo coexistiu a natureza divina e a
humana. De fato, Ele possua tanto uma natureza humana limitada comouma natureza divina ilimitada. O Filho de Deus nasceu de uma mulher,
cresceu em estatura e conhecimento (Lc 2.22), sentiu fome, sede, cansao
e sono, foi tocado, teve momentos de alegria e tristeza, chorou,
demonstrando assim a limitao da sua natureza humana. O apstolo Joo,
no incio do seu evangelho, pretende deixar claro para a sua comunidade
que Aquele que habitou entre eles era Deus, por isso declara: No princpio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (Jo 1.1). E
mais adiante registrou a seguinte afirmao de Jesus Cristo: Quem cr em
mim cr, no em mim, mas naquele que me enviou. E quem me v a mim
v aquele que me enviou (Jo 12.44-45). Ou seja, Cristo declara que
Deus.
A unio de ambas as naturezas chamada de unio hiposttica,
tambm conhecida como unio mstica. Do grego hipstasis, que significa
pessoa. Portanto, a unio uma unio pessoal. No se trata da mera
habitao da divindade em um corpo humano; mas, sim, uma unio na qual
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Jesus Cristo se torna uma s pessoa. Uma natureza no sufoca ou se
sobrepe a outra, ambas coexistem sem que se anulem. Diante disso,
podemos dizer: Jesus Cristo finito e infinito, homem e Deus, existe desde
a eternidade e nasceu no tempo (Gl 4.4).
Apolinrio de Laodicia (c. 310 c. 390) foi o primeiro a usar o termo
hiposttico, na tentativa de compreender a encarnao. Ele descreveu a
unio do divino e humano em Jesus Cristo como sendo de uma nica
natureza e tendo uma nica essncia ou substncia. Propunha que Jesus
Cristo tinha um corpo humano e uma mente divina. Esse conceito foi
rejeitado e considerado heresia no Primeiro Conclio de Constantinopla, em
381.
Teodoro de Mopsustia (c. 350 428) tambm conhecido como
Teodoro de Antioquia, por causa do lugar de seu nascimento e presbiterato
foi outra direo, argumentando que em Jesus Cristo havia duas
naturezas (humana e divina) e duas substncias, no sentido de "essncia"
ou "pessoa", que coexistiam ao mesmo tempo.
O Conclio de Calcednia, em 4511, concordou com Teodoro de
Mopsustia a respeito da encarnao, entretanto insistiu que a definiono seria da natureza, mas deveria ser na pessoa. Assim, o Conclio
declarou que em Cristo Jesus devem ser reconhecidas as duas naturezas,
sem confuso, imutvel, indivisvel; sendo que a distino das naturezas de
modo algum eliminada pela unio, antes a propriedade de cada uma
preservada e ambas concorrem numa nica pessoa, numa subsistncia no
partida ou dividida em duas pessoas. Aqueles que rejeitam o Credo do
Conclio de Calcednia so conhecidos como monofisista porque s aceitam
como definio uma nica natureza em Jesus Cristo: a divina. Os demais
so conhecidos como diofisistas (duas naturezas) porque aceitam a unio
hiposttica de Cristo.
II A natureza humana de Cristo2
1 Mais detalhes q.v Berkhof. Teologia Sistemtica, p. 295.
2 Adotamos alguns pontos oferecidos por Grudem em sua Teologia Sistemtica, p.435, por entendermos que Eles contemplam a proposta desse curso.
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Como uma correta ordenao nos requerque creiamos nos mistrio da f cristantes de termos o atrevimento desubmet-las discusso pela razo, assimtambm me parece uma negligncialamentvel que, depois de ns estarmosconfirmados na f, no procurarmos
entender o que cremos. Por essa razo,desde que eu, assim, considere a mimmesmo firme na f de nossa redenopela graa proveniente de Deus, e aindaque no possa compreend-la pela razo,e que no haja nada que possa arrancar-me dela, eu peo que me aclares o que,como ns sabemos, muitos, alm de mimmesmo, perguntam: por qual necessidadee causa Deus, que onipotente, assumiua vil e dbil natureza humana pararestaur-la (Boso in: Anselmo de Canturia).
Essa indagao feita pelo discpulo Boso ao seu mestre Anselmo nosmostra como difcil para a mente humana entender que a presena de
Cristo Jesus na terra o resultado daquilo que o prprio Deus decretou na
eternidade (Ap 13.8). Na humilhao da sua encarnao Jesus Cristo
experimentou a pobreza da vida terrena, a indiferena das pessoas, a
crueldade e a malcia dos homens e finalmente o abandono do prprio Pai
na hora em que Ele mais precisou quando caminhava em direo ao
Calvrio.
Tratando, ainda, sobre a necessidade de Jesus Cristo ter se
encarnado, apresentamos a seguinte resposta:
Era necessrio que o Mediador fosse homem para poderlevantar a nossa natureza e obedecer lei, sofrer einterceder por ns em nossa natureza, e simpatizar com asnossas enfermidades; para que recebssemos a adoo defilhos, e tivssemos conforto e acesso com confiana aotrono da graa (Rm 5.19; 8.34; 2Pe 1.4; Mt. 5.17; Gl. 4.4-5; Hb. 2.4; 7.24-25, 4:15-163.
Sendo assim, bom desde j esclarecer que ao comearmos o estudo
a respeito da pessoa de Jesus Cristo, tratando primeiro da sua humanidade
no pretendemos dizer que um homem se fez Deus, pois sabemos que tal
afirmao uma tremenda heresia4. Entretanto, ressaltamos que a Bblia
apresenta uma Cristologia que teve seu incio na eternidade, e que a Igreja
3 Qual a necessidade de o Mediador ser homem? Pergunta 39, do Catecismo Maior da
Igreja Presbiteriana.4Trataremos desse assunto com mais vagar no ponto VII.
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Primitiva, de certa forma, omitiu, ou melhor, deu menos importncia
humanidade de Cristo, concentrando as suas expectativas na sua divindade.
O Novo Testamento quase unanimemente, apresenta-nos uma Cristologia
vinda de cima. Ele comea do aspecto de sua divindade, no de sua
humanidade (MACLEOD, 2007, p. 22).
Com isso no queremos dizer que os apstolos no tinham a plena
convico da humanidade do Filho de Deus, ao contrrio, pois Jesus Cristo
apresentado pelo apstolo Joo como o lo/gojque se fez carne (Jo 1.14). O
Filho de Deus teve uma vida genuinamente igual a nossa, Ele se encarnou e
habitou entre ns, teve forma e substncia humana, assim exatamente com
qualquer pessoa. Por isso, no podemos dizer coisa alguma a respeito da
pessoa de Cristo Jesus que no possa ser dita a respeito do homem
(MACLEOD, 2007, p. 22). A encarnao do Filho de Deus deve ser vista
como a materializao da vontade do Pai em salvar o pecador.
Owen (1989, p. 30), ao tratar da humanidade de Cristo, faz a
seguinte afirmao:
Quando Ele [Cristo] tomou sobre Si a forma de um servo emnossa natureza. Ele Se tornou aquilo que nunca havia sidoantes, mas no deixou de ser aquilo que sempre tinha sidoem Sua natureza divina. Ele, que Deus, no pode deixarde ser Deus. A glria da Sua natureza divina estava velada,de forma que aqueles que O viram no acreditaram que Eleera Deus.
Portanto, a glria da encarnao do Filho de Deus no destri, no
anula a sua natureza humana, mas confirma a obra salvadora do nosso
Redentor. Diante do exposto, entendemos que ao se pretender falar a
respeito de Jesus Cristo, no que se refere a sua natureza humana,
imperioso comearmos pelo seu nascimento.
2.1 O nascimento virginal
importante que se diga que h mistrios, mistrios esses quepertencem a Deus, os quais a nossa capacidade de entendimento no pode
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alcanar, devido a nossa prpria condio pecaminosa; entretanto, aquilo
que est revelado nas Sagradas Escrituras, isso podemos e devemos
estudar e conhecer (Dt 29.29).
As Escrituras afirmam, de modo inequvoco, que Jesus Cristo foiconcebido no ventre de sua me Maria, por obra miraculosa e poder do
Esprito Santo, todavia Cristo no teve um pai humano. Ora, o nascimento
de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua me, desposada com Jos,
sem que tivesse antes coabitado, achou-se grvida pelo Esprito Santo (Mt
1.18).
Doutrinariamente o nascimento virginal de Jesus Cristo pode ser
visto, pelo menos, de trs maneiras:
1. Mostra que a salvao da humanidade, em ltima anlise, deve vir
do Senhor Deus. A promessa feita aos nossos pais no den (Gn 3.15) se
cumpriu;
2. O nascimento virginal possibilitou a plena unio da divindade com
a humanidade em uma s pessoa. Esse foi o meio empregado por Deus
para enviar seu Filho Jesus Cristo para morrer em nosso lugar e nos salvar
de todas as nossas aflies e pecados. (Jo 3.16; Gl 4.4);
3. O nascimento virginal tornou possvel a verdadeira humanidade de
Jesus Cristo sem a herana do pecado. O fato de Jesus Cristo no ter um
pai humano significa que a linha de descendncia de Ado parcialmente
interrompida. Isso nos ajuda a entender porque a culpa legal e a corrupo
moral que pertencem a todos os seres humanos no pertencem a Ele.
2.2 Fraquezas e limitaes humanas de Jesus Cristo
O fato de Jesus Cristo possuir um corpo exatamente como o nosso
relatado em vrias passagens das Escrituras Sagradas. Ele nasceu assim
como nascem todos os seres humanos (Lc 2.7). Cresceu e se desenvolveu
como qualquer pessoa (Lc 2.40). Sentiu cansao (Jo 4.6). Sentiu sede (Jo
19.28). Teve sono (Mt 8.24). Ficou indignado (Mc 3.5; 10.14). Sentiu
necessidade de orar (Mt 14.23; Lc 6.12; Hb. 5.7). Sentiu alegria (Jo 15.11).
Foi tentado (Mt 4.1; Hb 2.18; 4.15). Demonstrou cuidado com os seus
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discpulos (Jo 14.1). Amou incondicionalmente (Mc 10.21; Jo 11.3; 13.23;
15.9,10,12). Entretanto, o auge da limitao humana de Jesus Cristo se d
quando Ele morre pendurado numa cruz diante dos olhos dos seus
discpulos e algozes. (Lc 23.46).
2.3 Jesus Cristo possua uma mente humana
O fato de Cristo Jesus ter crescido em sabedoria (Lc 2.52) significa
que Ele passou por um processo de aprendizagem, assim como acontece
com todas as crianas. Ele aprendeu a comer, falar, ler, escrever e ser
obediente aos seus pais (Hb 5.8). Esse processo normal de aprendizado
fazia parte da genuna humanidade Cristo Jesus.
2.4 Jesus Cristo possua alma e emoes humanas
Antes da sua crucificao, Ele disse: Agora, est angustiada a minha
alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este
propsito vim para esta hora (Jo 12.27), e mais adiante o apstolo Joo
escreveu: angustiou-se Jesus em esprito (Jo 13.21). Nessas duas
passagens a palavra angstia remete a idia de pessoas ansiosas ou que
so surpreendidas de repente por algum perigo.
Jesus Cristo experimentou uma sucesso de emoes humanas:
admirou-se da f de um centurio (Mt 8.10); chorou de tristeza pela
morte de Lzaro (Jo 11.35); foi tentado em todas as coisas (Hb 4.15). O
fato de Ele ter enfrentado tentaes significa que possua natureza
genuinamente humana. s vezes se levanta esta questo: Cristo poderia ter
pecado? Alguns defendem a impecabilidade de Cristo, entendendo por
impecabilidade no sujeito a pecar. Outros objetam que se Ele no fossecapaz de pecar, suas tentaes no teriam sido reais, pois como uma
tentao seria real, se a pessoa que estivesse sendo tentada no fosse
mesmo capaz de pecar?
As Escrituras afirmam categoricamente que Jesus Cristo jamais pecou
(Hb 4.15), no podemos ter nenhuma dvida em nossa mente em relao a
isso. As Escrituras tambm afirmam que as tentaes de Jesus Cristo foram
reais (Lc 4.2). Se crermos na Bblia, precisamos insistir com veemncia que
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Ele foi tentado em todas as coisas, nossa semelhana, mas sem pecado
(Hb 4.15).
A unio da natureza humana com a divina em uma s pessoa
impedia Jesus Cristo de pecar. O exemplo da tentao em transformarpedras em pes (Mt 4) til para a nossa afirmao. Por causa da sua
natureza divina Jesus Cristo tinha o poder e a capacidade de realizar aquele
milagre, entretanto Ele se recusou a recorrer sua natureza divina para
realizar o milagre e, obviamente, tambm para no obedecer a Satans.
III A natureza divina de Cristo
Fazemos melhor quando adoramos os
mistrios da divindade do que quando osinvestigamos (Melanchton).
A Bblia fala a respeito da natureza divina de Jesus Cristo. O termo
empregado para mostrar a realidade desse fato a encarnao.
Entendemos que a encarnao foi o ato pelo qual o Deus Filho assumiu a
natureza humana no princpio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o
verbo era Deus (Jo 1.1). Nesse versculo temos trs ensinamentos
fundamentais sobre o nosso Redentor: 1) a Sua eternidade, no princpioera o verbo; 2) a Sua personalidade, e o verbo estava com Deus; 3) a
Sua divindade, e o verbo era Deus.
Jesus Cristo o Filho de Deus que habitou entre ns. Ele
verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Na sua encarnao no
houve nenhum acrscimo sua natureza divina, mas adquiriu uma natureza
humana que no possua antes, e isso para resgatar o homem perdido.
3.1 A divindade de Jesus Cristo procede de Deus, o Pai
Antes de assumir a natureza humana, Cristo Jesus j existia. Ele j
era o Filho de Deus, o que significa dizer que a sua natureza divina precede
humana. Nos escritos do apstolo Joo encontramos a seguinte
afirmao: e ador-la-o todos os que habitam sobre a terra, aqueles
cujos nomes no foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto
antes da fundao do mundo (Ap 13.8). A paternidade de Jesus Cristoprocede de Deus, pois Ele chamado de Filho de Deus. Vindo, porm, a
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plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob
a lei (Gl 4.4).
3.2 A glria de Cristo em sua humilhao
Jesus Cristo no deixou de ser igual a Deus, mesmo quando se
tornou homem, pois subsistindo em forma de Deus, no julgou como
usurpao o ser igual a Deus (Fp 2.6). No h palavras para explicar o
amor de Deus para conosco manifestado na humilhao da encarnao do
seu Filho Jesus Cristo. um mistrio, porque Deus tremendo e seus
caminhos esto muito acima do nosso entendimento. Ele diz: [...] os meus
pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos so
os meus caminhos (Is 55.8).
O Senhor Jesus Cristo esvaziou-se e humilhou-se em nosso favor, e
nem por isso perdeu, absolutamente, nada do seu poder como Deus eterno
que . Ele nos salvou de todas as nossas angstias e aflies, convidando-
nos a Ele vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e
eu vos aliviarei (Mt 11.28). Jesus Cristo , ento, o nosso lugar de
descanso. O que significam as coisas deste mundo se comparadas com a
glria do nosso Redentor e o amor que Ele tem por ns? Nada.
O apstolo Paulo declara: Quem nos separar do amor de Cristo?
Ser tribulao, ou angstia, ou perseguio, ou fome, ou nudez, ou perigo,
ou espada (Rm 8.35). Isto , nada nos separar do eterno amor que Jesus
Cristo tem por ns. Absolutamente nada, nem ns mesmos.
3.3 Algumas passagens que atestam divindade de Cristo
Crer na divindade de Jesus Cristo condio sine qua non para a f
crist reformada; entretanto, alguns telogos liberais afirmam que Ele foi
apenas um grande homem, e no querem v-lo como Deus-homem.
Portanto, como um dos princpios de interpretao bblica a Bblia por ela
mesma, vejamos o que ela nos diz a respeito da divindade do nosso Senhor
e Salvador.
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O Antigo Testamento revela a conscincia de alguns escritores quanto
divindade de Cristo Jesus. Apresentamos apenas trs textos para
fundamentar a nossa argumentao:
1. Salmo 110.1 Disse o Senhor ao meu senhor: assenta-te minha direita, at que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus ps.
Este um Salmo messinico, reconhecido pelo evangelista Lucas (At 2.34-
35).
2. Isaas 9.6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos
deu; o governo est sobre os seus ombros; e o seu nome ser: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Prncipe da Paz.
3. Miquias 5.2 E tu, Belm Efrata, pequena demais para
figurar como grupo de milhares de Jud, de ti me sair o que h de reinar
em Israel, e cujas origens so desde os tempos antigos, desde os dias da
eternidade.
O atributo da eternidade dado ao Messias nos leva a pensar em sua
divindade, pois Ele j existia desde a eternidade. Cremos que a eternidade
atributo exclusivo da divindade.
O Novo Testamento tambm trata da divindade de Jesus Cristo. Eis
algumas passagens:
1. Mateus 1.23 Eis que a virgem conceber e dar luz um
filho, e Ele ser chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer Deus
conosco).
2. Mateus 14.33 E os que estavam no barco O adoraram,dizendo: Verdadeiramente s Filho de Deus.
3. Mateus 16.17 Bem-aventurado s, Simo Barjonas, porque
no foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que estas nos
cus.
4. Joo 1.1,18 No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus. [...] Ningum jamais viu a Deus; o Deus
unignito, que est no seio do Pai, quem o revelou.
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5. 1 Joo 5.20 Tambm sabemos que o Filho de Deus vindo e
nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos
no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este o verdadeiro Deus e a vida
eterna.
Podemos resumir da seguinte maneira o ensino bblico acerca da
pessoa do nosso Redentor: Jesus Cristo foi plenamente Deus e plenamente
homem em uma s pessoa e assim ser para sempre (GRUDEM, 1999, p.
435).
IV Os estados de Jesus Cristo (humilhao e exaltao)
A doutrina dos estados de Cristo desenvolveu-se no sculo 17,
embora houvesse traos dela nos Pais da Igreja e nos reformadores do
sculo 16. Esta doutrina estabelece que Cristo esteve sob dois estados:
humilhao e exaltao. Estes dois estados compreendem, como que fases
no desempenho da misso do nosso Redentor. Assim, o estado de
humilhao configura-se por meio de fases de sua misso bem como o de
exaltao. O estado de humilhao consiste em Jesus Cristo ter posto de
lado a majestade divina que era sua, e ter assumido a natureza humana na
forma de servo. Os dois estados so claramente indicados nos seguintestextos (2Co 8.9; Gl 4.4-5; Fp 2.6-11; Hb 2.9).
4.1 O estado de humilhao: Encarnao e Nascimento
Na encarnao Jesus Cristo toma uma natureza humana completa.
Ele se torna verdadeira e completamente homem. Isso se deve ao seu
nascimento, onde, por meio de Maria, num nascimento virginal, deriva dela
sua substncia humana (Jo 1.14; Rm 8.3; 1Tm 3.16; 1Jo 4.2). Foisomente pela sobrenatural concepo de Cristo que Ele pde nascer de uma
virgem. A doutrina do nascimento virginal baseia-se nas seguintes
passagens da Escritura: Is 7.14; Mt 1.18,20; Lc 1.34-35 (BERKHOF, 2001,
p.308).
4.1.2 Os sofrimentos do nosso Salvador
Ao contrrio do que se imaginam os sofrimentos de Cristo no se
referem somente aos acontecimentos da Paixo. Jesus Cristo sofreu durante
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toda a sua vida. No seu caminho de obedincia enfrentou tentaes,
decepes, perseguies, incredulidades, angstias (Mt 4.1-11; Hb 2.18; Is
53).
4.1.3 A morte de Cristo
Sua morte sob a forma mais cruel e maldita constitui outro estgio
em sua humilhao (Dt 21.23 ; Gl 3.13).
1. Seu sepultamento. Isto indica a volta do homem ao p, parte do
castigo pelo pecado Gn 3.19. Tambm configura que sua permanncia na
sepultura pode ser vista como humilhante (Sl 16.10, At 2.27,31).
2. A descida ao Hades. Muitas so as interpretaes dessaexpresso: 1) Catlico Romana entende que aps a morte Jesus Cristo foi
para o Limbus Patrun (Limbos dos pais) onde os santos do Antigo
Testamento estavam aguardando a revelao e aplicao da sua obra
redentora, pregou-lhes o Evangelho e os levou para o cu. 2) Luterana.
Consideram a descida de Jesus ao Hades como o primeiro estgio da sua
exaltao. Cristo foi ao mundo inferior para revelar e consumar a Sua
vitria sobre Satans e sobre os poderes das trevas, e para pronunciar a
sentena de condenao deles. 3) Igrejas Reformadas. Calvino interpreta a
frase metaforicamente, entendendo que se refere aos sofrimentos penais de
Cristo na cruz, onde Ele realmente sofreu as angstias do inferno (Sl 6:8-
10; Ef 4.9; 1Pe 3.18,19).
A Escritura, certamente, no ensina uma descida literal de Jesus
Cristo ao inferno. Alm disso h srias objees a esse conceito. Ele no
pode ter descido ao inferno quanto ao corpo, pois este se achava na
sepultura. Se Ele realmente desceu ao inferno, s pode ter sido quanto Sua alma, o que significaria que somente a metade da Sua natureza
humana teve participao nesse estgio da Sua humilhao ou exaltao.
Mas na hora da Sua morte Cristo Jesus entregou a Sua alma ao Pai (Lc
23.46), isto parece indicar que Jesus esteve passivo e no ativo na hora da
sua morte at quando saiu do sepulcro.
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Destacaremos apenas trs significados da ressurreio de Jesus
Cristo: o teolgio, o soteriolgico e o escatolgico para a nossa
compreenso nesse estudo.
4.2.3.1 O significado teolgico
A ressurreio de Jesus Cristo no que diz respeito as questes
teolgicas apontam para algumas verdades e podem ser assim divididas:
1. Apontam para o poder do Pai, o Senhor. A ressurreio do
Filho de Deus incontestavelmente a manifestao do poder de Deus para
o mundo pecador (2Co 13.4; Ef 1.19,20; Cl 2.12; Fp 3.10);
2. Apontam para a veracidade das Escrituras.Inquestionavelmente afirmamos que Deus o autor das Sagradas
Escrituras, e essa verdade nos garante que Ele cumprir todos os designios
e promessas eficazmente para o louvor da Sua glria (Sl 16.10; Is 26.19;
Lc 24.44-46; At 2. 23-33);
3. Apontam para a satisfao de Deus. A obra de Jesus Cristo
satisfez plenamente a Deus. O cumprimento cabal de seu ministrio terreno
(Lc 24.44-46; Hb 9 23.-28; 1Pe 3.18) significou a aprovao do Pai e
conseqentemente sua obra foi definitiva e redentiva.
4.2.3.2 O significado soteriolgico
A ressurreio de Jesus Cristo no que diz respeito as questes
soteriolgicas podem ser assim compreendida:
1. a base da nossa regenerao. Consiste na implantao do
princpio da nova vida espiritual em ns, proporcionando uma mundanaradical na disposio dominante da alma que sob a influncia do Esprito
Santo d nascimento a uma nova vida que se move em direo a Deus.
Essa mudana afeta o homem por completo: 1) o intelecto (1Co 2.14-15;
2Co 4.6; Ef 1.18; Cl 3.10); 2) a vontade (Sl 110.3; Fp 2.13; 2Ts 3.5; Hb
13.21); e 3) os sentimentos ou emoes (Sl 42.1,2; Mt 5.4; 1Pe 1.8).
2. para a nossa justificao. Com certeza a ressurreio de Jesus
Cristo assegura a nossa justificao (Rm 4.25; 8.33-34; 1Co 15.17). E se
estamos justificados diante de Deus pelo sacrifcio vicrio de Jesus Cristo na
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cruz, siginifica dizer que tambm estamos perdoados dos nossos pecados.
De onde se conclui que a morte e a ressurreio de Jesus Cristo se
completam num ato salvador para o homem pecador. A sua morte no teria
valor remidor se Ele no ressuscitasse. E se Ele no ressuscitasse a sua
morte indicaria apenas a sua condenao. Ento vem a pergunta: Como
poderia algum que foi condenado morte maldita na cruz justificar
algum?
4.2.3.3 O significado escatolgico
Nas palavras do apstolo Paulo a ressurreio de Cristo Jesus o
fundamento da esperana futura da nossa ressurreio (1Co 15.19). Isto
implica em dizer que se Jesus Cristo ressuscitou, certamente ns tambm
ressuscitaremos. Recorremos outra vez aos ensinamentos do apstolo Paulo
para afirmar que, infelizmente, houve pessoas na Igreja que no
entenderam o milagre da ressurreio e por mais paradoxal que possa
parecer alguns deles negavam a prpria ressurreio de Jesus Cristo (1Co
15.12-19).
4.3 A Asceno de Jesus Cristo
Logicamente que a asceno de Jesus Cristo se d aps a sua
ressurreio, embora no haja muitos relatos dela os que tm so
suficientes e relevantes para a f crist.
Nas palavras do telogo Berkhof (2001, p. 321-322), encontramos a
seguinte explicao em relao a ausncia de relatos sobre a asceno de
Jesus Cristo:
A asceno no aparece nas pginas da Escritura demaneira to patente como se d com a ressurreio. Deve-se isto provavelmente ao fato de que a ressurreio foi overdadeiro ponto decisivo da vida de Jesus, e no aasceno.
Sabemos, pelos relatos bblicos, que Jesus Cristo apareceu aos Seus
discpulos em ocasies diferentes no perodo de quarenta dias (At 1.3; 1Co
15.3-7). A veracidade dessa informao nos assegura a vitria sobre a
morte bem como a certeza de que Ele nos levar para junto Dele com o Pai,
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pois em vida Jesus Cristo afirmou: na casa de meu Pai h muitas moradas
[...] e eu vou preparar-vos lugar (Jo 14.2).
4.3.1 A natureza da Asceno
Pode-se descrever a asceno como a subida vsivel da pessoa do
Mediador da terra ao cu, segundo Sua natureza humana. Foi a transio
local de um lugar para o outro (BERKHOF, 2001, p, 322). O ingresso do
nosso Salvador ao cus relatado em termos de subida. Os discpulos veem
Jesus Cristo ascendendo at que uma nuvem O intercepta e O oculta da
viso deles (At 1.9-11). Somos convidados pelo apstolo Paulo a olharmos
e pensarmos nas coisas l do alto onde Cristo vive (Cl 3.1).
4.3.2 O significado da Asceno
Pode-se dizer que asceno tem trplice significao:
1) A asceno encarnou claramente a declarao de que o
sacrifcio de Cristo foi um sacrifcio oferecido a Deus e, como tal, tinha que
ser apresentado a Ele no santurio mais recndito; de que o Pai considerou
suficiente a obra mediatria de Cristo e, por conseguinte, admitiu-o naglria celestial; e de que o reino do Mediador no era um reino dos judeus,
mas um reino universal;
2) A asceno tambm foi exemplar, no sentido de que foi uma
profecia da asceno de todos os crentes que esto com Cristo nos lugares
celestiais (Ef 2.6), e esto destinados a permanecer com Ele para sempre
(Jo 17.24); e tambm no sentido de que revelou o restabelecimento da
realeza original do homem (Hb 2.7,9);
3) A asceno tambm serviu de instrumento para a necessidade
de ir Ele para o Pai, a fim de preparar lugar para os seus discpulos (Jo 14.
2,3).
4.3.3 A entronizao de Cristo mo direita de Deus
Quando Jesus Cristo estava diante do sumo sacerdote, predisse que
se assentaria direita de Deus (Mt 26.64). O apstolo Pedro fez meno
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disto em seus sermes (At 2.33-36; 5.31). Alm dessas passagens, h
vrias outras que falam de Jesus Cristo como o Rei a execer o seu governo
real (Rm 14.9; 1Co 15.24-28). Ver tambm Ap 3.21; 22.1.
Naturalmente, a expresso direita de Deus antropomrfica eno pode ser entendida literalmente. A expresso, como empregada neste
contexto, derivada do Salmo 110.1. Estar assentado destra do rei podia
ser apenas um sinal de honra (1Rs 2.19), mas tambm podia denotar
participao no governo e, consequentemente, na honra e na glria.
Para Joo Calvino a declarao de que Cristo Jesus assentou-se a
direita de Deus equivale a dizer:
Que Ele [Jesus] foi instalado no governo dos cus e terra, efoi formalmente admitido na posse da administrao a Eleconfiada, e no somente admitido por uma vez, mas paracontinuar at quando Ele descer para o juzo (Institutas, II,
XVI, 15).
Todavia, um erro pensar que o nosso Redentor ascendeu ao cu e
est em repouso. Ele continua trabalhando (Ap 2.1). Vejamos como a
Palavra de Deus apresenta essa verdade, em termos de ofcios de Jesus
Cristo:
1) Ele exerce as funes de Rei. Cristo Jesus governa e proteje a
Sua Igreja por Seu Santo Esprito, e tambm a governa por meio dos Seus
oficiais, por Ele designados. Cristo Jesus exerce autoridade sobre as foras
da natureza e sobre todos os poderes hostis ao reino de Deus, castigando
os que no conhecem a Deus nem obedecem ao Evangelho; e assim
continuar a reinar, at sujeitar o ltimo inimigo;
2) Jesus Cristo sacerdote para sempre segundo a ordem
Melquesedeque. Quando Ele bradou na cruz: est consumado, no quis
dizer que terminara a Sua obra sacerdotal, mas somente que tinha chegado
ao fim o Seu sofrimento ativo. A Bblia relaciona a obra sacerdotal com o
assentar de Jesus Cristo mo direita de Deus (Zc 6.13; Hb 4.14; 7.24-25;
8.1-6; 9.11-15,24-26; 10.19-22; 1Jo 2.2). Jesus Cristo apresenta
continuamente Seu sacrifcio consumado ao Pai como a base suficiente para
a concesso da graa perdoadora de Deus. Cristo Jesus aplica
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constantemente a Sua obra sacrificial, fazendo-a eficaz na justificao e
santificao dos pecados. A Epstola aos Hebreus mostra de forma
detalhada a superioridade do sacerdcio de Cristo em relao ao aranico
(Hb 10.19-21). Na verdade, os sacrifcios oferecidos no Antigo Testamento
prefiguravam o sacrifcio perfeito que haveria de ser oferecido por Jesus
Cristo e aceito pelo Pai. Jesus Cristo representou uma aliana superior (Hb
8.8; 9.11), cumprindo cabalmente o que Deus lhe havia proposto,
satisfazendo assim a justia divina ao oferecer-se a si mesmo em sacrifcio,
sem mcula a Deus, para fazer a reconciliao pelos pecados do seu povo e
fazendo contnua intercesso por ele6.
3) Cristo continua a exercer Sua obra proftica por meio do
Esprto Santo, revelando a vontade de Deus em todas as coisas
concernentes sua edificao e salvao7. Antes de se separar dos Seus
discpulos, Ele lhes prometeu o Esprito Santo, que iria ajudar suas
recordaes, ensinar-lhes novas verdades (Jo 14.26; 16.7-15). Cremos que
essa promessa foi cumprida no dia do Pentecostes. Cristo Jesus age como o
nosso profeta de diversas maneiras: na inspirao das Escrituras; na
pregao dos apstolos e dos ministros da Palavra; na direo da Igreja,
fazendo dela a coluna e baluarte da verdade; e dando eficcia a verdade
nos coraes e nas vidas dos crentes.
4.3.4 A volta fsica de Cristo
Estgio mais elevado da exaltao configura-se na volta de Jesus
Cristo como juiz, a qual marca a vitria completa do nosso Redentor (Mt
19.28; 25.31-34; Tg 5.9; Ap 1.7).
Diversos termos so empregados para designar a futura vinda de
Jesus Cristo. O termo parousia o mais comum deles. Em primeiro lugar
significa simplesmente presena, mas tambm serve para designar uma
vinda precedendo uma presena. Esse o sentido comum do termo quando
empregado em relao volta de Jesus Cristo (Mt 24.3; 1Co 15.23; 1Ts
2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2Ts 2.1; Tg 5.7,8; 2Pe 3.4).
6
Parte da resposta da Pergunta 44, do Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana, p. 757 Parte da resposta da Pergunta 43, do Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana, p. 75
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Outro termo usado apocalipsis que acentua o fato de que a volta de
Cristo Jesus ser um ato revelador dele. Indica desvendar algo que
anteriormente estava oculto, neste caso, o desvendar da oculta glria e
majestade de Jesus Cristo (2Ts 1.7; 1Pe 1.7, 13; 4.13). H, ainda, o termo
epiphaneia, o glorioso aparecimento do Senhor Sua gloriosa
manifestao. Est implcito que aquilo que posto a descoberta algo
glorioso (2Ts 2.8; 1Tm 6.14; 2Tm 4.1-8; Tt 2.13).
Somos instrudos a esperar ansiosamente pela vinda de Jesus Cristo
(1Co 1.7; 4.5; 11.26; Fp 3.20; Cl 3.4; 2Ts 1.7-10; Ap 1.7). O propsito da
segunda vinda de Cristo julgar o mundo e aperfeioar a salvao do Seu
povo. Anjos e homens, vivos e mortos, comparecero perante Jesus Cristo
para serem julgados segundo o registro que deles ter sido guardado (Mt
24.30-31; 25.31-32). Ser uma vinda com terrveis sentenas sobre os
mpios, mas tambm com bnos de eterna glria para os santos (Mt
25.33-46). Se por um lado Jesus Cristo sentenciar os mpios ao castigo
eterno por outro justificar publicamente os Seus e os conduzir ao perfeito
gozo do Seu reino eterno.
V - Algumas heresias
8
a respeito da pessoa de Cristo Jesus
A glria de duas naturezas de Cristo numanica pessoa to grande que o mundoincrdulo no pode ver a luz e a belezaque irradiam dela (John Owen).
Por no se entender que Cristo Jesus era plenamente homem e
plenamente Deus, nos primeiros sculos da Era Crist, muitas heresias
acabaram surgindo. Umas negam a sua divindade; distinguem o Cristo
'homem', do Cristo, 'Filho de Deus'. Jesus, para Eles, um mestre, um
profeta, mas no Deus encarnado. Outras negam a humanidade de Cristo;
afirmando que Ele Deus, mas no tinha a natureza humana. Veremos de
maneira compendiada algumas dessas heresias:
5.1 O Ebionismo
8
Heresia a defesa sistemtica de tese ou doutrina errnea em face da doutrinadogmtica da Igreja. A defesa, portanto, de doutrina contrria aos dogmas da Igreja,ou seja, verdades imutveis, eternas, de crena obrigatria para todos os fiis.
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Temos em Atos 21.20 o relato que havia na Terra de Israel dezenas
de milhares de judeus que criam em Jesus e eram zelosos observadores da
Lei. Houve um confronto entre Eles e o apstolo Paulo, pois tinham sido
informados que o apstolo pregava a desobedincia aos mandamentos de
Deus. Outro confronto aparece em Glatas 2.11-21. Os apstolos Pedro e
Tiago, entendiam que os gentios cristos deveriam receber o sinal da
circunciso, e como no poderia deixar de ser o apstolo Paulo no
compartilhava com essa idia.
Surgem ento os ebionitas, nome derivado da lngua hebraica cujo
significado primrio pobre. A respeito de Jesus Cristo ensinavam que era
apenas um homem simples e comum, justificado medida em que
progredia em seu carter, e nascido de um homem e de Maria (CESARIA,
2005, p. 101). Teria se tornado Filho de Deus quando de seu batismo,
todavia foi abandonado pelo Esprito Santo no Calvrio; sendo, porm
descendente de Davi, tornar-se-ia rei de Israel e seu ltimo grande profeta
e mestre.
Os ebionitas pregavam que Jesus Cristo no teria vindo abolir a Lei
mosaica, por isso acreditavam que era necessrio a todo custo rechaar as
Cartas do Apstolo Paulo, a quem chamavam apstata da lei, enquanto
usavam exclusivamente o chamado Evangelho dos hebreus (CESARIA,
2005, p. 101), todavia eram receptivos aos ensinos de Pedro e Tiago.
Judeus e gentios deveriam obedecer a Lei de Deus exatamente nos termos
que Moiss a escreveu, conseqentemente gentios cristos tinham que
fazer a circunciso.
Assim a primeira dificuldade doutrinria que a igreja primitiva
enfrentou estava relacionada, por mais estranho que possa parecer, a
natureza de Cristo Jesus e com as questes legais do Judasmo. A
indagao que se fazia era se o cristo deveria ou no seguir a Lei do
Antigo Testamento.
5.2 O Gnosticismo9
9
O gnosticismo era oposto doutrina crist tradicional da criao porque via nomundo material, no a obra do Deus eterno, mas o resultado de um erro cometidopor um ser inferior, mal ou ignorante (Cf. GONZALEZ, 2004, Vol. I, p. 127).
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Veio do Oriente, provavelmente da Prsia, e rapidamente se infiltrou
na Igreja, gerando uma terrvel heresia que foi severamente combatida
pelos Apstolos Paulo, Pedro e Joo em suas cartas. Este movimento
reivindicava a posse de conhecimentos secretos (gnw=sij) que os tornava
diferentes dos cristos alheios a este conhecimento. Combinava alguns
elementos da Astrologia e mistrios das religies gregas, com as doutrinas
do Cristianismo, tendo como caracterstica principal o sincretismo. Para eles
h dois deuses; um bom e outro mau.
O mundo teria sido criado pelo deus mau, que eles chamam de
demiurgo; este seria o Deus da Bblia, da todas as tragdias contadas nela.
Para esta crena, as almas dos homens j existiam em um universo de luz e
paz (Plenoma); mas houve uma tragdia algo como uma revolta e
assim essas almas foram castigadas, aprisionadas em corpos humanos pelo
deus demiurgo.
A salvao dessas almas aconteceria mediante a libertao da cadeia
que o corpo e isso seria possvel pelo conhecimento ou gnw=sij, da o
nome gnosticismo. Por isso no acreditam na salvao por meio da morte e
ressurreio de Jesus Cristo; no acreditam no pecado, nos anjos, nos
demnios, e nem no pecado original. Para eles tudo que material foi
criado pelo deus mal e deve ser desprezado, por exemplo, o casamento
tido como mau porque o homem se multiplica.
O apstolo Paulo combateu isto em 1Tm 4. 1-5. Segundo o
gnosticismo cristo, o Deus bom, Supremo, teria enviado ao mundo o seu
mensageiro, Jesus Cristo, como redentor (um eon), um Avatar (descido do
cu, designao genrica das encarnaes divinas) portador da gnw=sij, a
palavra revelada a alguns escolhidos e que leva salvao (libertao do
corpo). Jesus Cristo no teria tido um corpo de verdade, mas apenas um
corpo aparente (docetismo); doke/w em grego quer dizer aparente. Jesus
teria ento um corpo ilusrio que no teria sido crucificado. O apstolo Joo
refuta esse ensino em sua carta (1Jo 2.18-23). Em seu sentido mais
abrangente gnosticismo significa: a crena na salvao pelo conhecimento.
5.3 O Marcionismo
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Marcio (? c. 165) afirmava a existncia de dois deuses diferentes,
um do Antigo Testamento e outro do Novo Testamento. Ele foi um dos mais
perigosos rivais do ensino bblico primitivo, negava a ao de Deus na
histria de Israel, tentando com isso anular o Antigo Testamento com seu
negativismo e seu docetismo. Quanto a esse perigo para o Cristianismo,
Gonzalez (2004, 135) diz: Ele fundou uma igreja para rivalizar com aquela
que j existia, e rapidamente congregou tantos membros que por algum
tempo o resultado final do conflito permaneceu dbio.
A sua teologia dualista. Nesse mundo material, reinam a lei e a
justia. Em oposio a isto, a graa o centro do evangelho cristo, o
evangelho do Deus cujo amor perdoa at mesmo o pior dos pecadores.
Portanto, o Evangelho a palavra de um deus que pode ser mais bem
descrito como o outro ou o deus distante que radicalmente diferente
do deus que governa este mundo. Assim, o contraste que se estabelece no
tanto aquele que existe entre o bem e o mal, mas entre o amor e a
justia.
5.4 O Monarquianismo
Monarquismo como algumas vezes chamado, uma srie de
crenas que enfatizam a Unidade Absoluta de Deus. O Pai, Filho e Esprito
Santo so simplesmente trs aspectos ou manifestaes da existncia de
uma s pessoa: Deus. O nome derivado de duas palavras gregas: mo/nos
e a)rxh/, um princpio. O termo Monarquianismo foi inicialmente usado por
Tertuliano quando os defensores de Deus (o Monarca) foram contra a
unidade Trina (Pai, Filho e Espirito Santo).
Eles aclamavam: temos monarquia. A crena conflita com a doutrina
da Trindade, que v em Deus uma unidade composta pelo Pai, Filho e
Esprito Santo. Os modelos propostos pelo monarquianismo foram
rejeitados como herticos pela Igreja Catlica. O Monarquianismo por si
mesmo no uma doutrina completa, mas um gnero do qual decorrem
algumas espcies doutrinrias teolgicas. H basicamente dois modelos,
contraditrios:
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1) O Modalismo ou Sabelianismo considera que Deus seja uma pessoa,
manifestando-se e operando em diferentes "modos", como Pai, Filho
e Esprito Santo. O proponente desta viso foi Sablio. A crena foi
rotulada Patripassianismo por seus oponentes, por subentender que
Deus, o Pai, teria sofrido na cruz.
2) O Adocionismo entende que Deus um ser, superior a tudo e
completamente indivisvel defendendo a idia de que o Filho no foi
co-eterno com o Pai, mas que foi revestido de Deus (adotado) para
os seus planos. Diferentes verses do Adocionismo divergem quanto
hora da adoo por Deus, como a hora do seu batismo, ou de sua
ascenso. Um antigo expoente desta crena foi Teossio de Bizncio.
Outro defensor do Monarquianismo foi Paulo de Samosata, que
todavia no se fixou entre nenhum dos dois modelos. Ensinava que Jesus
era meramente humano e que foi elevado a uma posio supeior por
ocasio do batismo. A derivao mais conhecida do monarquianismo
dinmico foi o adocionismo10 onde Jesus teria sido adotado por Deus quando
o Esprito de Deus desceu sobre Ele em forma de uma pomba do cu, no
batismo de Joo. Nesse momento teria se tornado o Cristo e fora revestidode poder (du/namij) para exercer o seu ministrio, mas no era ainda
inteiramente Deus, passando a ser com a ressurreio. Era uma tentativa
de explicar as naturezas divina e humana de Jesus Cristo e sua relao
entre si.
5.5 O Arianismo
rio (c. 250-336) foi aluno de Luciano de Antioquia, um celebrado
professor do cristianismo e um mrtir da sua f. Apesar do carcter de rio
ter sido severamente assaltado pelos seus opositores, parece ter sido um
homem de um carcter asctico, de moral pura, e de convices. Em 318
houve uma discusso entre o Bispo Alexrande de Alexandria e rio, porque
este ltimo acusava Alexandre de Sabelianismo. Num Conclio que
Alexandre convocou em seguida, rio foi condenado. rio tinha no entanto
grande apoio e a disputa espalhou-se desde Alexandria por todo o Oriente.
10 Esse ensino teolgico foi condenado no Snodo de Antioquia em 268 (CESARIA,2005, p. 260).
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Ao mesmo tempo, rio encontrou refgio e o apoio de Eusbio de
Nicomdia.
Para restabelecer a unio entre os cristos, o Imperador Constantino
I convocou o Primeiro Conclio de Nicia em 325, onde a doutrina de rio foicondenada como hertica. rio foi expulso, tendo no entanto a sua banio
sido anulada pela influncia do Bispo Eusbio de Nicomdia em 328, o
mesmo ano em que Atansio tornou-se Bispo de Alexandria.
Em 335 rio seria supostamente reabilitado. Declarou-se de acordo
em subscrever a doutrina de Nicia, a qual ele tinha recusado
anteriormente, todavia antes de poder receber a comunho em
Constantinopla, morreu subitamente. Alguns povos seguiram a sua doutrinaat ao sculo 7, e a problemtica da Trindade permanece em aberto at
hoje. Em resumo o arianismo defendia a seguinte doutrina da Cristologia:
1) Que o Logos e o Pai no eram da mesma essncia; 2) Que o Filho era
uma criao do Pai; 3) Que houve um tempo em que o Filho ainda no
existia.
5.6 O Apolinarismo
Apolinrio de Laodicia (310-390) tentou criar um modo de explicar
as naturezas de Jesus Cristo, sua humanidade e divindade. Cristo no era
possuidor de um corpo humano. Era mais Deus que homem, no possua
alma; o Verbo consubstancial ao Pai. Ele ensinava que o homem era
composto de corpo, alma e esprito, e que, em Jesus Cristo, o esprito do
homem fora substitudo pelo lo/goj ou pela segunda pessoa da Trindade.
Pensando assim, Apolinrio negava a humanidade de Jesus Cristo, pois este
estaria num corpo, de certa forma, emprestado. Nessa viso, Cristo Jesus
no era totalmente humano, mas um esprito que se incorporava nos
homens. A idia de que Jesus era apenas uma parte do todo sempre esteve
presente na mente da Igreja.
Mesmo hoje, vemos com freqncia uma espiritualizao exagerada
da pessoa de Jesus Cristo, como se Ele no tivesse um corpo, ou como se
Ele, sendo Deus, fez e suportou tudo o que passou por ser Deus. Isso no
verdade. Jesus Cristo era um homem completo como ns somos, e como
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homem completo que era (ver carta Aos Hebreus) passou por tudo e fez
tudo conforme as Escrituras em obedincia ao Pai. Se Jesus foi diferente do
homem comum em alguma coisa, isso foi em sua relao com o Pai, a sua
inteira entrega e comunho com Deus.
5.7 O Nestorianismo11
Heresia defendida no sculo 5, por Nestor (380-451) feito patriarca
de Constantinopla em 428 (GONZALEZ, 1981, p. 93). A tese negava a
maternidade divina de Maria. Nestor distinguia em Cristo as duas naturezas,
a divina e a humana, sem admitir a deificao da humanidade (a unio
ocorria apenas na vontade). Dividia a pessoa do Cristo em: Cristo-homem e
Cristo-Deus. Ele combatia a expresso popular Maria de Qeoto/koj (me deDeus, ou seja, tambm do lo/goj divino), para ele a expresso correta seria
Xristoto/koj (me de Cristo Jesus, humano e mortal) ou Qeodo/xoj (que
recebe a Deus). Sustentava que cada uma das naturezas tinha a sua
prpria substncia e personalidade, ou seja, duas pessoas e duas
naturezas. A unio entre elas no era ontolgica, mas moral e afetiva. Seus
ensinos foram condenados e considerados hereges pelos Conclios de feso,
em 431 e Calcednia em 451.
5.8 O Eutiquianismo
Heresia nascida em Alexandria, no sculo 5, defendida pelo monge
utico (c. 378-454). Ele defendia que a encarnao de Jesus Cristo foi o
resultado da fuso do divino com o humano, todavia a natureza humana
seria tomada pela divina. Assim o seu pensamento era: uma pessoa e uma
natureza. utico acabou sendo o fundador do monofisismo, ou seja, admitia
em Cristo apenas uma nica natureza, a divina. Opunha-se doutrina do
Conclio de Calcednia (451) sobre as duas naturezas de Cristo. Sua
doutrina foi refutada pelo Segundo Concilio de Constantinopla 448 bem
como pelo Conclio de Calcednia em 451, porm encontrou apoio nas
igrejas da Sria, Armnia e Egito.
11 Mais detalhes em Justo L. Gonzalez Uma histria do pensamento Cristo, Vol. I, p.341-354.
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