Aprimoramento Vocal Na Terceira

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  • 8/19/2019 Aprimoramento Vocal Na Terceira

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    LIGIA BRUM MOTTA

    APRIMORAMENTO VOCAL NA TERCEIRA IDADE

    Monografia apresentada ao CEFAC –Centro de Especialização emFonoaudiologia Clínica para aObtenção do Certificado de Conclusãodo Curso de Especialização em Voz.

    PORTO ALEGRE – RS1999

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    CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO.

    ÁREA DE CONCENTRAÇÃO – VOZ.

    COORDENADOR: Prof. Dra. Silvia Maria Rebelo Pinho. Mestre e Doutora pela

    UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, Especialista em Voz e Coordenadora dos

    Cursos de Especialização em Voz do CEFAC.

    ORIENTADOR CIENTÍFICA: Prof. Dra. Silvia Maria Rebelo Pinho

    ORIENTADOR METODOLÓGICO: Prof. Maria Helena U. Caetano. Mestre pela

    UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, Especialista em Audiologia e Doutoranda

    em Ciências na Área de Fisiopatologia Experimental da Faculdade de Medicina da

    USP.

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    “ era daquela casta de mu lheres que 

    o tempo, como escul tor vagaroso,

    não acaba lo go , e vai po lin do ao 

    passar dos anos” 

    (Personagem Sofia, de Quincas

    Borba, Machado de Assis).

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    Dedico este trabalho ao meu querido

    pai, por me ensinar que “a vida pode 

    ser um m ar de rosas”.

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    AGRADECIMENTOS

    À Dra. Irene Marchesan e Dr. Jaime Zorzi pela confiança e oportunidade

    de coordenar o CEFAC no Rio Grande do Sul.

    À Dra. Silvia Rebelo Pinho pela grande sabedoria e sensibilidade em

    ensinar, pelo seu carinho, dedicação e grande amizade.

    A todos os professores que passaram seus conhecimentos com tanto

    profissionalismo e disponibilidade.

    Às colegas de classe pela troca, apoio e amizade.

    Ao Dr. Nédio Stefen pela contribuição valiosa no meu conhecimento

    profissional.

    À ULBRATI pela oportunidade de desenvolver junto à ULBRA o trabalhode “Aprimoramento Vocal com um Grupo da Terceira Idade” .

    À Luciane Motta Soares pela competência, seriedade, disponibilidade e

    carinho.

    Em especial, aos meus queridos Ewerton, Jonathas e Gabriel pelo amor,

    carinho e compreensão.

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    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO................................................................................................07

    LITERATURA..................................................................................................11

    DISCUSSÃO...................................................................................................31

    CONCLUSÃO..................................................................................................48

    RESUMO.........................................................................................................50

    SUMMARY......................................................................................................51

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................52

    OBRAS CONSULTADAS................................................................................59

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    INTRODUÇÃO

    O envelhecimento é um fato universal, comum a todos os seres vivos sendo

    considerada uma etapa natural do desenvolvimento que ocorre com modificações

    gradativas de eventos fisiológicos, caracterizando uma degeneração psicofísica do

    ser humano.

     As principais teorias de envelhecimento situam-se na análise das proteínas -

    substâncias básicas na estrutura das células e conseqüentemente do organismo. As

    proteínas são constituídas de elementos denominados aminoácidos que carregam

    dentro de si as informações genéticas próprias de cada um, isto é, nosso patrimônio

    genético.

    O processo de envelhecimento é um processo ativo sendo, de certa maneira,

    imposto pelo próprio organismo segundo um programa localizado dentro de nosso

    patrimônio genético e que também recebe influência do meio externo.

     A passagem da infância para a idade adulta é considerada um processo de

    amadurecimento que pode ocorrer de diversas maneiras. Ao chegarmos à Terceira

    Idade carregamos todas as características mais importantes deste processo de

    amadurecimento que evidentemente varia para cada um de nós. O termo Terceira

    Idade é preferido por estudiosos, pois sugere a idéia de uma passagem natural, quesegue a Segunda Idade, diminuindo os aspectos negativos mal interpretados da

    palavra velho.

     Alguns autores relacionaram somente a aspectos cronológicos, considerando

    como idoso a partir dos 65 anos (MISHARA, RIEDEL, 1984 ), outros analisam a

    aspectos biológicos, apontando como um estágio de declínio de várias funções

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    (MEIRE, 1992), e há ainda os que consideraram o processo uma doença que

    requeira tratamento.

    Existe uma clara tendência indicando o aumento progressivo da população de

    idosos nas próximas décadas. Estima-se que até o ano 2025 ocorrerá um aumento

    de 30% na população de idosos do Primeiro Mundo o que representará cerca de

    25% da população de adultos.

    Há 50 anos a expectativa de vida de um brasileiro era de 43 anos. Hoje esta

    expectativa está em torno de 68 anos, sendo que para o século 21 deverá chegar a

    73 anos. Segundo pesquisas, o Brasil deverá ter a sexta população mais idosa do

    planeta na próxima década.

    O envelhecimento é uma preocupação constante do homem em todos os

    tempos. Em nossa sociedade, o homem ainda rejeita o envelhecimento, não se

    conformando com sua evidência. Imortalidade e a eterna juventude são sonhos

    místicos do homem. A procura da fonte da juventude é assunto nos mais antigos

    escritos. A mitologia está repleta de seres imortais e a Bíblia cita com freqüência

    seres de grande longevidade.

    Na sociedade moderna, a Terceira Idade deve estar associada à felicidade,

    experiência e sabedoria. O objetivo primeiro de uma comunidade atual é a qualidade

    de vida, o reconhecimento da importância da população de idosos é o índice de

    qualidade, o que justifica cada vez mais o direcionamento de estudos na área da

    Gereontologia.

     A efetividade da comunicação permite ao indivíduo partilhar com o meio social

    suas idéias, pensamentos, desejos, sentimentos e aspirações. Devemos reafirmar 

    que um dos principais fatores que assegura uma boa qualidade de vida ao idoso é o

    relacionamento social que depende de um adequado processo de comunicação o

    que está intimamente ligado à audição e a sua voz.

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     A voz humana sofre modificações durante todo o período de vida. Os pacientes

    idosos podem apresentar distúrbio da voz devido aos mesmos fatores etiológicos

    que afetam todos os grupos de idade, entretanto algumas modificações vocais

    fazem parte do processo normal do envelhecimento do ser humano e não devem ser 

    consideradas como transtornos.

    Os homens de idade avançada têm uma tendência a apresentar uma voz mais

    aguda e de tom mais alto que a que tinha quando mais jovem e nas mulheres a voz

    pode tornar-se mais grave com o avançar da idade. Torna-se difícil precisar até onde

    estas mudanças ocorrem para que se considerem normais. Ajustes musculares

    compensatórios a alterações estruturais pertinentes ao avanço da idade podem

    ocasionar sobrecarga ao aparato vocal gerando manifestações orgânicassecundárias.

    Outros exemplos de compensações poderiam ser citados em relação as outras

    características do envelhecimento da laringe como em relação ao arqueamento das

    pregas vocais, atrofia muscular, elasticidade dos tecidos , diminuição da capacidade

    vital que também podem levar esses indivíduos a realizarem compensações e

    conseqüentemente comprometimentos vocais.

    De forma análoga, podemos diferenciar desequilíbrios do sistema

    neuromuscular da laringe relacionados aos processos patológicos de carácter 

    neurológicos degenerativos, aos psicopatológicos, às enfermidades sistêmicas e

    enfermidades orgânicas, ao reflexo gastro-esofágico e às alterações iatrogênicas

    que mais objetivamente podem inferir em padrões vocais compensatórios

    determinando comportamentos vocais inadequados.

    Na avaliação dos problemas relacionados à senescência vocal, o

    otorrinolaringologista deve se preocupar não somente com aspectos relativos à

    função da laringe, como também a outros fatores como os relacionados à audição,

    ao grau de alerta mental, aos distúrbios de movimentos, às disfagias e às

    anormalidades músculos esqueléticas e posturais relacionadas com a voz, o que

    possibilita, junto à avaliação dos aspectos perceptivos e funcionais realizado pelo

    fonoaudiólogo, traçar de forma adequada e específica um plano de tratamento que

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    poderá estar centrado em reduzir o uso muscular inadequado, produzido pelo

    paciente, com a intenção de compensar as modificações que tenham ocorrido, como

    também desenvolver aspectos terapêuticos amplos e intensivos, baseado na

    condição da plasticidade neural que possibilita conseqüentemente uma condição de

    plasticidade vocal, concretizando a atuação do trabalho fonoaudiológico junto aos

    processos vocais patológicos.

    Na experiência do exercício da profissão da Fonoaudiologia, tanto nas

    atividades relacionadas à prática clínica, à realidade hospitalar e à vivência

    acadêmica na Universidade, podemos sentir de forma marcante o número crescente

    de pessoas e grupos organizados representando a população idosa que busca oprofissional especializado na área da voz, para tratarem os problemas que já se

    manifestam, tanto relativos à limitação da eficiência na sua comunicação, como

    também na preservação de problemas inerentes ao envelhecimento vocal, como os

    casos dos profissionais da voz.

    Esse estudo busca aprofundar a importância da Fonoaudiologia na

    compreensão da voz do idoso, maximizando a função vocal, através dos recursos de

    tratamento e aprimoramento vocal, contribuindo para a numerosa população de

    idosos do próximo milênio com uma melhor qualidade de vida e participação ativa e

    integrada na sociedade moderna.

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    LITERATURA

      Os estudos estatísticos apontam para o final do séc.XX um aumento

    significativo de uma população com mais de 60 anos no mundo. Observamos um

    grande interesse em todas as especialidades no estudo da Gereontologia.

     A Fonoaudiologia busca aprofundar seus conhecimentos nesta área,principalmente no que se relaciona com a compreensão da voz do idoso e com a

    chamada senilidade vocal.

    Identificamos senescência quando descrevemos o processo normal de

    envelhecimento no homem e a senilidade à condição patológica (GREENE, 1989).

    Cada espécie de ser vivo tem seu próprio modo de envelhecer; as mudanças

    associadas à idade são altamente específicas, não só para cada um de nós, mas

    para cada um de nossos órgãos. O ser humano apresenta um processo de

    desenvolvimento até os vinte e cinco anos, através do qual atinge o ápice de suas

    funções. Esse processo dá lugar a uma série de alterações que têm início em torno

    dos 25-30 anos e vão ganhando mais velocidade a partir dos 40 - o processo do

    envelhecimento (RIBEIRO, 1999).

    Podemos identificar esse processo de envelhecimento como sendo

    progressivo e degenerativo, caracterizado por menor eficiência funcional, comenfraquecimento dos mecanismos de defesa frente às variações ambientais e perda

    das reservas funcionais, não sendo determinado por fatores ambientais, mas

    podendo ser influenciados por eles, distinguindo-se das doenças e patologias que

    são muitas vezes reversíveis e não observadas de forma homogênea em todas as

    pessoas.

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     A idade cronológica não está diretamente correlacionada à idade biológica, e

    para sabê-la seria necessário medir algo que mudasse em função do passar dos

    anos. Não existe uma forma de medição possível que determine a idade biológica

    dos seres humanos e da maior parte dos outros animais (HAYFLICK, 1996) .

     Apesar de haver, entretanto, vastas diferenças individuais na velocidade e na

    extensão do envelhecimento, algumas características serão manifestadas por todos

    que envelhecem. Estrutura corporal, textura da pele, andar e nível de agilidade

    estão entre os sinais que visualmente fazem reconhecer uma pessoa envelhecida

    (MEYERSON, 1976).

    No estudo clássico de WELFORD (1951) podemos referir que a característica

    da coordenação motora, identificada como redução na velocidade dos movimentos,

    é uma das características mais relevantes do envelhecimento. Estudos realizados

    mais adiante relacionaram essa redução aos aspectos do sistema nervoso e não

    simplesmente a uma redução do sistema muscular (BIRREN,1964; WELFORD,

    BIRREN,1965; ANDRES,1976).

     As alterações que são apontadas pelos pesquisadores como mais freqüentes

    do envelhecimento estão relacionadas aos parâmetros de acurácia, velocidade,

    resistência, estabilidade, força e coordenação motora. Também evidentes alterações

    na capacidade respiratória, no batimento cardíaco e na condução nervosa

    (BEHLAU,1999).

    Outras características pertinentes ao envelhecimento são referidas na

    literatura, como diminuição da força (STREHLER,1962) e da massa muscular (BIERMAN, HAZZARD, 1973);redução na acuidade sensória (BIERMAN,

    HAZZARD,1973); e aumento no tempo de reação motora

    (BOTWICK,THOMPSON,1974).

    Tem sido de grande interesse para a gereontologia social as atitudes para com

    as pessoas idosas. As investigações sociolingüísticas (LAMBERT,1967; SHUY,

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    FASOL,1973) demonstraram que os ouvintes podem com segurança e exatidão

    identificar características como etnias, região de origem, classe social , nível de

    escolaridade e traços de personalidade do falante através do seu estilo de fala.

    O avanço da idade produz mudanças fisiológicas que podem alterar a voz.

     Algumas dessas mudanças podem ser inevitáveis, outras podem ser evitadas ou

    reversíveis (SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW, SPIEGEL, 1997).

     A idade pode ser estimada com bastante precisão escutando a voz e a fala de

    um indivíduo. Os processos críticos de comunicação - respiração, fonação,

    articulação, linguagem e audição - são descritos em termos de mudanças biológicasantecipadas de tecidos com a idade e o efeito dessas mudanças no processo da

    fala (MEYERSON,1976). Existem muitos estudos que procuram apontar 

    características típicas que identifiquem a voz em processo de envelhecimento,

    sendo apontado como uma dificuldade a grande variabilidade (cronológica e

    fisiológica) entre a população em envelhecimento.

    PTACEK & SANDER (1966) realizaram um estudo em que 10 estudantes do

    curso de Fonoaudiologia testaram suas habilidade de diferenciar vozes de sujeitos

    adultos jovens (abaixo de 35 anos) e adultos mais velhos ( acima de 65 anos) . Os

    ouvintes diferenciaram as vozes mais jovens das mais velhas com muita precisão,

    relatando que seus julgamentos foram baseados na percepção da velocidade,

    hesitação, qualidade, quebra de voz, intensidade e vitalidade. Sujeitos idosos

    apresentaram uma média mais baixa da velocidade de leitura e maior disfluência,

    presença de rouquidão, menor variabilidade de picth predominando um pitch baixo,

    loudness diminuído caracterizando menor vitalidade em suas vozes.

    Mais tarde um estudo feito pôr SHIPP & HOLLIEN (1969) procurou determinar 

    o julgamento de idade em falantes masculinos, contribuindo com as impressões de

    estimativa correta de idade ouvindo a voz de um falante. Uma investigação posterior 

    relacionada à freqüência vocal, pelos mesmos autores (1972), indicou um aumento

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    do  pitch com o avanço da idade e propuseram esse achado relacionado à atrofia

    muscular e enrijecimento da mucosa das pregas vocais.

    Relacionando o envelhecimento com os aspectos psicológicos manifestados

    através da voz , os pesquisadores RYAN & CAPADANO (1978) realizaram um

    estudo experimental no qual objetivaram avaliar a habilidade do ouvinte de julgar a

    idade de um falante e de medir que extensão os valores de personalidade são

    afetados quando a idade é percebida. Obtiveram como resultados que falantes

    femininas percebidas como mais velhas foram vistas como mais reservadas,

    passivas e inflexíveis que as mais jovens, e que homens, que soavam como mais

    velhos, foram identificados como menos inflexíveis que aqueles que soavam mais jovens. Diferenciaram as vozes que soaram mais velhas quando apresentavam um

     pitch baixo, volume mais ameno e menos clara. A voz pareceu mais envelhecida

    quando a leitura foi mais vagarosa, com mais autoridade. Considerando os

    resultados, o estudo pretendeu fornecer uma abordagem promissora da avaliação

    de estereótipos de idade.

    Os efeitos da idade na laringe não têm sido tratados com a mesma

    profundidade como em outras áreas de nossa especialidade. Muitos trabalhos

    publicados na literatura da otorrinolaringologia e fonologia focam mudanças

    fonatórias ou histológicas. Doença sistemática, particularmente neurológica é

    comum no idoso e manifestações vocais e da laringe dessas desordens

    freqüentemente passam despercebidas (MORRISON, HINCKMAN, 1986).

    HONJO & ISSHIKI (1980) referiram ser limitado o conhecimento das

    características vocais do envelhecimento o que dificulta o julgamento dessas vozes

    como normais. Após um estudo realizado em 20 mulheres e 20 homens com uma

    idade média de 75 anos, realizada avaliação laringoscópia indireta e avaliação da

    qualidade vocal , encontraram mudanças quanto aos aspectos morfológicos, como

    edema de prega vocal em 74% das mulheres e 56% em homens; amarelamento ou

    descolaração (cinza escuro) das pregas vocais em 39% em homens e 47% em

    mulheres, sendo a coloração amarelada a mais freqüente. Atrofia de prega vocal de

    67% em homens e 26% em mulheres velhas, sendo observada fenda glótica em

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    67% dos homens, menos comum em mulheres, 58%. Sulco vocal foi notado em

    cerca de 10% em homens e mulheres.

    Quanto ao julgamento perceptivo foi observado menor rigidez e rouquidão na

    voz de mulheres. Em relação ao  pitch vocal, foi encontrado um  pitch mais alto em

    homens idosos que em homens jovens, sendo que nas mulheres velhas o  pitch

    vocal tende a baixar.

    Os autores concluíram que o amarelamento e descolaramento observados em

    cerca da metade dos sujeitos examinados sugere estar relacionados à degeneração

    da gordura ou queratose da membrana da mucosa da laringe. A atrofia da prega

    vocal e fenda glótica é pensado ser uma manifestação laríngea de mudanças nasenescência de todo o músculo ou membrana de mucosa. Edema de prega vocal

    em mulheres pode estar relacionado com mudanças endócrinas após menopausa.

    Referem ainda que a diminuição da massa das pregas vocais é uma das causas da

    mudança acentuada do pitch e da leve rigidez e rouquidão nas vozes das mulheres

    idosas.

    Estudos das cartilagens, da mucosa, do músculo e dos componentes do tecido

    conjuntivo da laringe têm permitido um consenso sobre as mudanças esperadas no

    envelhecimento normal. A ossificação das cartilagens inicia ao redor dos 25 anos e

    se completa ao redor dos 65 anos (PRESSMAN, KELEMAN, 1955). Pequenas ilhas

    de cartilagem permanecem na porção central da cartilagem da tiróide em homens, e

    em mulheres permanecem cartilagens na porção superior. O cricóide pode ossificar 

    quase completamente. As aritenóides passa por ossificação do corpo e do processo

    muscular permanecendo o apex cartilaginoso. Alguns estudos sugerem que o

    processo vocal ossifica, outros sugerem que pode permanecer cartilaginoso(KAHANE, 1983).

    KIRCNHNER (1988) observou existir uma variação considerável na velocidade,

    início e grau de ossificação, mas o processo parece ser parte do envelhecimento

    normal e não um componente patológico.

     

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    MORRISON e HINCKMAN (1986) determinou que o início do processo

    de ossificação das cartilagens é tardio e menos extensivo em mulheres, sendo o

    processo todo bastante variável entre indivíduos. Os mesmos autores relataram que

    mudanças do tecido conjuntivo são bastante uniformes, mas novamente há

    diferenças entre os sexos. Nos homens, as fibras elásticas são em menor número,

    fragmentadas e agrupadas. O número absoluto de fibras colágenas decresce após

    os 50 anos e as fibras afinam. Elas parecem também separar-se uma das outras e

    tornar-se mais onduladas. Em mulheres , a relação de densidade e linearidade é

    preservada. Os músculos da laringe mostram um afinamento e um decréscimo da

    densidade das fibras, bem como uma fragmentação do septo intramuscular. O

    decréscimo da densidade das fibras é também observado nos ligamentos da laringee no conus elástico. Essas mudanças são tanto ausentes como mínimas em laringes

    femininas similares envelhecidas.

    Salientaram ainda que essas mudanças referidas acima tendem a ocorrer 

    paralelamente umas as outras e são acompanhadas de mudanças na mucosa. As

    glândulas mucosas tornam-se atrofiadas e reduzem em número, ficando a

    membrana mucosa afinada e atrofiada, podendo ocorrer metaplasia do epitélio. O

    tecido subjacente pode estar sujeito à infiltração de gordura e o número de canais

    linfáticos fica reduzido.

    Mudanças na fonação atribuída ao envelhecimento normal novamente diferem

    nos sexos. Pesquisas anteriores acreditavam que a voz masculina mostrava menos

    mudanças relacionadas à idade que a feminina, pela ausência do climatério

    masculino. Pesquisas subseqüentes revisaram essa opinião.

    LUCHSINGER & ARNOLD (1965) apontaram que a mobilidade das juntas em

    regularizar as atividades complexas da laringe aparece importante nos vários

    ajustamentos necessários para voz normal. A função endócrina também parece ter 

    relação com certos elementos da produção da voz. Como algumas respostas

    hormonais declinam com a idade, a involução da voz tem sido lembrada como um

    aspecto que antecede o processo do envelhecimento. Relacionam essa redução

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    endócrina e a atrofia do tecido glandular como a causa da diminuição gradual do

     pitch na voz feminina e aumento de níveis do pitch no idoso masculino.

    MYSAK (1959) estudou filhos de meia idade comparando-os com seus pais e

    descobriu um aumento na freqüência fundamental da fala com o avanço da idade,

    iniciando na meia idade. HOLLIEN & SHIPP (1972) estudaram homens de 20 a 80

    anos, confirmaram essa tendência e referiram que as pregas vocais mostravam-se

    mais grossas nas idades de 40 e 50 anos, sendo o aumento da freqüência

    fundamental secundário ao afinamento e enrijecimento das pregas vocais.

    McCLONE & HOLLIEN (1963) determinaram que a variação de  pitch  é muito

    preservada em mulheres idosas . Num estudo em que examinaram mulheres de até

    95 anos de idade, não encontraram redução de níveis de  pitch e nem evidencias devoz senil. PTACEK & SANDER (1966) observaram uma perda na produção do tom

    alto em ambos os sexos. KIRCHNER (1988) reconheceu diferenças individuais, mas

    disse que geralmente há um declínio da função vocal após os 70 anos e que a

    normalidade é reservada por mais tempo em homens do que em mulheres.

    Outro aspecto estudado no envelhecimento vocal é a intensidade da voz, o que

    se pensa, tradicionalmente, ser uma tendência a diminuir com a idade. PTACEK

    (1966) observando o processo de envelhecimento vocal referiu diminuição da

    intensidade e na duração das vogais. RYAN ( 1972), usando níveis de pressão de

    som medidos acusticamente, determinou que a intensidade vocal aumenta com a

    idade. FEIJÓ, ESTRELA & SCALCO (1998) encontraram na população de idosos de

    seu estudo uma média de intensidade vocal forte para ambos os sexos, tanto para

    fonação sustentada quanto para fala encadeada.

     As mudanças que ocorrem na voz com o passar dos anos estão tambémrelacionadas às mudanças estruturais no tecido vibratório da prega vocal.

    Em homens, com o avanço da idade, a membrana da prega vocal diminui, as

    fibras elásticas da camada intermediária da lâmina própria atrofiam e as fibras

    colágenas da camada profunda da lâmina própria aumentam tornando-se fibrosas. A

    camada intermediária torna-se mais fina, enquanto que a camada profunda

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    engrossa. Além disso, a espessura da cobertura diminui após os 70 anos. A

    cobertura é a camada mais flexível enquanto a camada profunda da mucosa a mais

    enrijecida ( HIRANO, KURITA,1985) .

    KAHANE (1983) relatou que mudanças estruturais nos ligamentos vocais, nas

    camadas intermediárias e profunda da lâmina própria, foram mais evidentes em

    homens após os 50 anos.

    Em estudos histológicos investigados em 74 laringes de japoneses entre 70 e

    104 anos , HIRANO, KURITA & SAKAGUCHI (1989) chegaram à conclusão de que

    a prega vocal diminui com a idade, especialmente após os 70 anos, sendo maismarcante em homens; a espessura de toda a mucosa da prega vocal tende a

    aumentar após os 70 anos nas mulheres. Já nos homens, essa tendência foi

    encontrada até os 70 anos, mostrando uma diminuição após essa idade , em muitos

    casos.

    Referiram os autores que o envelhecimento tende a causar edema na camada

    superficial da lâmina própria, sendo o grau de edema muito variado de indivíduo

    para indivíduo. Em homens a espessura da camada e a densidade das fibras

    elásticas tendem a diminuir com a idade, enquanto que em mulheres essa tendência

    não foi observada. As fibras elásticas tornaram-se atrofiadas e o contorno da

    camada intermediária, que têm normalmente formato de foice, tornou-se mais

    deteriorada em homens. Em relação à camada profunda da lâmina própria

    observaram que se torna mais grossa em homens, estando isso associado ao

    aumento da densidade das fibras colagenosas.

    Citaram ainda, os mesmos autores, que achados histológicos variam muito de

    indivíduo para indivíduo e que diferenças significantes não foram observadas entre

    fumantes e não fumantes. Em jovens adultos as fibras colagenosas correm paralelas

    à borda da prega vocal. Na maioria das pessoas idosas, as fibras correm em várias

    direções e, em casos extremos, formam o que é chamado de fibrose. Já nas

    mulheres as mudanças relacionadas à camada profunda não são marcantes.

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    BACH, LEDERER & DINOLT (1941) consideraram insuficientes as mudanças

    encontradas nos músculos da laringe para explicar as grandes alterações na laringe

    senil e as variações características da voz senil e realizaram um estudo que

    buscasse examinar melhor esses músculos, através de secções em série de

    músculos de laringes de cinco pacientes bem nutridos, entre 60 e 80 anos, sem

    queixas vocais. Os músculos foram divididos em três grupos: adutores, abdutores ou

    cricoaritieoideo posteriores e tensores ou cricotireoideo. Apesar de considerarem

    uma mostra muito pequena, tiveram como resultados das observações

    microscópicas o seguinte: degeneração de gordura, aumento do tecido conjuntivo e

    do núcleo do sarcolema, perfurações dos vasos sangüíneos, mudanças no tecido

    muscular, glândulas e células de tumor dentro dos músculos. Os autores justificaramalguns achados relacionando a quadros de doenças que esses pacientes

    apresentaram e que foram confirmados posteriormente, e concluíram que em todos

    os casos estudados o músculo abdutor da laringe foi mais afetado que os músculos

    adutores.

    Outro aspecto importante no estudo do envelhecimento vocal está voltado para

    o sistema respiratório. Tem sido relatado que o tórax endurece com o avanço da

    idade, rendendo-se menos facilmente às forças dos músculos respiratórios. Os

    músculos respiratórios enfraquecem (DHAR, SHASTRI , LENORA, 1976) e a perda

    da elasticidade das membranas pleurais tem sido observadas (PIERCE,

    EBERT,1965). Redução na capacidade respiratória vital foi relatada por alguns

    estudiosos (MORSOMME, JAMART, BOUCQUEY, REMACLE,1997).

    Mudanças na laringe e na respiração como essas podem alterar a capacidade

    funcional do mecanismo do idoso, bem como as características acústicas de suavoz. Observa-se na literatura muitos estudos que procuram avaliar essas mudanças.

    Comparações de tempo máximo de fonação entre mulheres jovens e idosas durante

    emissão da vogal sustentada mostraram que as durações foram de 19%- 32%

    menores em mulheres mais velhas que em mulheres mais jovens (PTACEK,

    SANDERS, MALONEY, JACKSON, 1966). MORSOMME, JAMART, BOUCQUEY &

    REMACLE (1997) em estudos realizados entre homens e mulheres idosas

    constataram redução no tempo de fonação mais acentuada nas mulheres e

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    quociente fonatório reduzido nos homens. MUELLER (1982) observou redução no

    tempo de fonação das consoantes “s” e “z”, porém a relação s/z dentro dos limites

    da normalidade. Na pesquisa de FEIJÓ, ESTRELA & SCALCO (1998) os valores

    dos tempos máximo de fonação da população idosa pesquisada apresentaram-se

    reduzidos quando comparados àqueles referidos por BEHLAU & PONTES (1995)

    como padrão normativo para adultos da cidade de São Paulo.

    Também podemos observar importantes estudos relacionando modificações na

    qualidade vocal e nos aspectos relacionados ao estudo acústico da voz do idoso.

     ALARCOS, BEHLAU & TOSI (1983) registraram haver deteriorização na qualidade

    vocal em maior grau nos homens envelhecidos. JACKSON-MENALDI (1996)mencionou haver uma deteriorização na qualidade vocal mais precoce na mulher, e

    mais acentuada na voz cantada que na falada. HUTCHINSON, ROBINSON &

    NERBONNE (1998) observaram um relativo aumento no grau de nasalidade na fala.

    MORSOMME, JAMART, BOUCQUEY & REMACLE (1997) acrescentaram que a

    qualidade vocal é menos comprometida nas mulheres idosas. MORRISON &

    RAMMAGE (1996) referiram encontrar instabilidade vocal, incluindo emissão trêmula

    no estudo do envelhecimento vocal.

    Relacionado aos estudos acústico da voz no envelhecimento os autores

     ALARCOS, BEHLAU & TOSI (1983) observaram uma menor uniformidade no

    traçado dos formantes; redução da freqüência média do primeiro formante para

    emissões em voz neutra e em voz sussurrada, indicando que características

    fonatórias e ressonantais interferem na percepção da idade através da voz

    (LINVILLE, FISHER,1989).

    MURRY & DOHERTY (1980) referiram que os eventos acústicos que podem

    ser encontrados na voz do idoso, podem estar relacionados ao aumento de  jitter  e

    shimmer , na redução da harmonia do ruído proporcional, na diminuição da amplitude

    sobre o tempo e no aumento do SD Fo.

    PINHO (1998), ressaltou as transformações no padrão vocal que ocorrem no

    idoso, indicando suas manifestações serem variáveis de uma pessoa para outra,

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    podendo ocorrer atrofia dos músculos intrínsecos da laringe, com perdas teciduais

    (causando arqueamento), deficiências hídricas, perda de elasticidade dos

    ligamentos e calcificação de cartilagens. Mais raramente, podem ocorrer flacidez das

    estruturas gerando quadro de hipotonia. Em mulheres, freqüentemente pode ser 

    encontrado edema das pregas vocais justificado pelas trocas hormonais devido à

    menopausa. Aliado a estes fatores devemos considerar a deterioração do SNC.

    Disfunções vocais na terceira idade podem estar relacionadas a fatores de

    laringe ou não. Fatores não relacionados à laringe devem ser considerados na

    avaliação da voz do idoso. São fatores mais proeminentes às doenças e disfunções

    neurológicas e às disfunções pulmonares, todas com significantes efeitos na voz(MURRY, DOHERTY, 1980). Em um estudo de LOGEMANN (1975) foi observado

    que 79% dos pacientes com Parkinson experimentaram disfunções na voz. WOO,

    CASPER, COLTON & BREWER (1992) verificaram que os indivíduos idosos que

    consultavam suas clínicas com queixas vocais, apresentavam essas alterações

    devido a processos patológicos, citando como principais as desordens centrais

    neurológicas afetando a função laríngea (acidente vascular cerebral , doença de

    Parkinson, tremor vocal e doença de Alzheimer) ; lesões benignas de pregas vocais

    (edema de Reinke e lesões epiteliais displásicas benignas); doenças inflamatórias

    (laringite sicca e conseqüências de medicamentos); neoplasias laríngeas e paralisias

    laríngeas.

    MORRISON & RAMMAGE (1996) afirmaram que enfermidades neurológicas

    tendem a produzir-se com maior freqüência nas pessoas de mais idade e que muitas

    vezes aparecem dificuldades vocais associadas a essas doenças. Citaram como

    exemplos a esclerose lateral amiotrófica e as paralisias pseudobulbar. Atribuiramque o tremor essencial que aparece nas mãos pode se manifestar também em forma

    de um tremor vocal que causa flutuações de freqüência ou intensidade a 4-12 Hz.

    Os mesmos autores referiram que uma voz sussurrante, monótona e débil, com

    perda da expressão e alteração do ritmo pode ser um sintoma de presença inicial de

    mal de Parkinson. A incoordenação da fala-respiração, da dinâmica dos músculos

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    laríngeos e articulatórios, como conseqüência da rigidez, explicam estas alterações

    da prosódia, da intensidade e da qualidade da voz.

    Doenças Neurológicas, mais comuns com o avançar da idade, muitas vezes

    têm a sua primeira manifestação através de uma discreta alteração vocal, como a

    voz fraca do parkinsonismo, a voz pastosa na esclerose lateral amiotrófica e a voz

    trêmula no tremor essencial. Tais manifestações, portanto, devem ser sempre

    adequadamente avaliadas (BEHLAU, 1999).

     A avaliação da voz do idoso deve incluir exames de percepção, acústico,

    endoscópico e fisiológico. Medidas objetivas da função fonatória podem ser amaneira mais eficaz para determinar o efeito do tratamento. Muito importante

    observar as mudanças fisiológicas que acompanham os parâmetros perceptivos e

    acústicos, como o escape de ar, tensão de laringe, tremor na voz, consoantes não

    precisas, velocidade da fala, freqüência fundamental, outros tremores e fadiga

    generalizada por decorrência do tempo. Na avaliação do paciente idoso com

    disfunção de voz, os fatores tais como ruído, variação de amplitude e intensidade,

    controle da freqüência e presença de voz de falsete devem ser observados

    (MURRY, WOODSON, 1996).

    O exame da laringe e das estruturas a ela relacionadas é geralmente feito por 

    endoscopia no consultório. O exame estroboscópico é usado para acompanhar o

    movimento da onda da mucosa, a simetria da vibração e as características

    vibratórias microscópicas. Também deve avaliar edema de laringe, fenda glótica,

    adequação da massa da prega vocal, curvatura, aproximação de bandas

    ventriculares (movimentos compensatórios) e onda da mucosa. Na voz envelhecidapode-se esperar que esses parâmetros mudem em relação a outras mudanças

    neuromusculares.

    O exame da laringe e das estruturas a ela relacionadas é importante para obter 

    informações para o diagnóstico e determinar a necessidade e tipo de tratamento.

    Igualmente importante é a necessidade de entender os problemas de comunicação

    do paciente ( MURRY, WOODSON, 1996).

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     A maioria das alterações da voz relacionadas com a idade devem-se a

    processos degenerativos fisiológicos naturais (MORRINSON, RAMMAGE,1996).

    SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997) afirmaram que é

    essencial que os profissionais que cuidam da voz estejam familiarizados com as

    mudanças esperadas no envelhecimento, e sejam alertados das condições de

    reversibilidade, que podem afetar a fonação, e podem ser confundidas como

    presbifonia.

    Parece ser difícil propor um tratamento quando, em tese, as alterações vocaisdo idoso são de natureza fisiológica, ou seja, inerentes à idade. Por outro lado

    muitas alterações constituem-se num verdadeiro problema para o indivíduo

    profissionalmente ativo, com desempenho social constante ou com uma família que

    valoriza sua participação. A definição da conduta baseia-se no bom senso e numa

    decisão que envolve, em primeiro lugar e principalmente, a queixa e o desejo da

    pessoa (BEHLAU, 1999).

     A conduta de um caso de presbifonia pode lançar mão de um ou vários

    recursos de tratamento: aconselhamento, reabilitação vocal, terapia medicamentosa

    ou fonocirurgia (BEHLAU,1999).

    Com freqüência o paciente idoso necessita somente que se lhe tranqüilize com

    respeito às modificações que observa em sua voz , e que as mesmas não

    correspondem a nenhuma enfermidade que ponha em perigo sua vida. Muitas

    vezes, ajudar a compreender porque se produzem as mudanças constituem o únicotratamento de que o paciente necessita (MORRISON & RAMMAGE,1996).

    Os mesmos autores referiram que o tratamento dos transtornos da voz no

    idoso se centra com freqüência em reduzir o uso muscular inadequado que

    acompanha o paciente na intenção de compensar modificações que tenham

    ocorrido. O programa de tratamento pode orientar a estimular um ajuste do tom no

    homem com um alongamento das pregas vocais, combinado com as modificações

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    que podem ser necessárias em relação ao apoio respiratório e à ressonância. Na

    mulher, pode consistir em recomendar a aceitação de um tom mais baixo e

    desenvolver o uso mais relaxado dos músculos da laringe.

    Mencionaram, para pacientes com comprometimentos neurológicos, que

    apresentam debilidade e incoordenação de fala, que o trabalho terapêutico deve ser 

    amplo e intensivo. Os objetivos dos exercícios de tratamento podem consistir em

    aumentar o apoio respiratório, a adução das pregas vocais, manter a estabilidade

    vocal, as sensações de ressonância e precisão articulatória. Relacionaram que,

    como ocorre com muitos problemas de incoordenação, o treinamento para reduzir a

    rapidez da fala pode ter um efeito positivo generalizado na produção vocal e nainteligibilidade da fala.

    WEATHERLEY, WORRAL & HICKSON (1997) indicaram que a terapia

    medicamentosa pode incluir desde uma série de complexos vitamínicos até

    medicações mais específicas para controlar desordens associadas, como no caso

    do refluxo gastroesofágico, que pode interferir na produção vocal do idoso.

    SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997) reforçaram a

    preocupação em diminuir o envelhecimento biológico enquanto a idade cronológica

    avança inevitavelmente, o que pode ser realizado através de medicação, como nas

    mulheres cantoras quando na menopausa, pela reposição hormonal.

     A natureza do tratamento médico medicamentoso da disfonia depende da

    causa e pode incluir a aplicação de medidas para o controle dos transtornos

    neurológicos. Também o tratamento medicamentoso é indicado nos casos derefluxo gastroduodenal crônico quando associado a uma disfonia (MORRINSON,

    RAMMAGE, 1996).

    BEHLAU (1999) referiu existirem poucos estudos cirúrgicos com pacientes

    idosos o que não permite que se tenha uma avaliação ampla sobre a efetividade dos

    procedimentos cirúrgicos na terceira idade.

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     A fonocirurgia na Terceira Idade geralmente está relacionada à remoção do

    edema de Reinke na mulher e vários procedimentos para reduzir fendas glóticas ou

    à freqüência fundamental nos homens, tais como: injeção de colágeno ou gordura, e

    Tireoplastia Tipo I, para medializar a prega vocal, ou Tipo IV, para encurtar as

    pregas vocais, favorecendo uma voz mais grave (HAGEN, LYONS, NUSS, 1996).

    MORRISON & RAMMAGE (1996) apontaram que o tratamento cirúrgico

    conservador deve ser a regra geral no tratamento com transtornos da voz , em

    especial quando se trata de pacientes com degeneração polipoidea.

    Observa-se na crença popular generalizada, o que é configurado pelos atores

    que interpretam vozes de idosos, que pessoas idosas apresentam vozes

    estereotipadas, entretanto isto não é observado nas pessoas que apresentam vozes

    bem produzidas naturalmente ou através de treinamento (GREENE,

    MATHIESON,1992).

    Com o avanço da idade ocorrem mudanças fisiológicas que podem alterar a

    voz do indivíduo. Muitas dessas alterações vocais são inevitáveis, outras podem ser 

    prevenidas ou tratadas (SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW, SPIEGEL, 1997).

    SABOL, LEE & STEMPLE(1995) investigaram os efeitos dos exercícios vocais,

    praticados regularmente durante quatro semanas, em parâmetros de produção da

    voz de um cantor saudável.Dividiram vinte cantores de idades similares, cada um

    contendo três homens e sete mulheres, sendo que cada grupo continuou sua prática

    de canto regular e o grupo experimental adicionou o programa de exercícios defunção vocal. A avaliação incluiu medidas acústicas e aerodinâmicas,

    videoestroboscopia e análises subjetivas. Os sujeitos do experimento demonstraram

    melhoras significativas em testes de medida aerodinâmica do fluxo, volume fonatório

    e tempos de fonação, sugerindo um aumento na eficiência vocal.

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    BROWN (1996) afirmou que a voz deve seguir as mesmas regras de

    desenvolvimento muscular que são aplicadas para outros músculos do corpo; cada

    voz têm sua própria capacidade de se desenvolver. O número de fibras musculares

    varia de indivíduo para indivíduo e isto deve ser considerado principalmente no

    período de maturação da voz. Uma voz naturalmente bonita precisa de treino

    baseado em leis físicas da produção vocal para tornar-se um mecanismo de canto

    saudável . Observou vários exemplos de cantores mostrando que, com o uso

    correto da voz pode ser produzida uma boa saúde vocal, preservando a qualidade

    vocal durante um tempo prolongado de vida. Cantores com grande carreira

    conservam suas vozes com exercícios e vocalizes regulares. Afirmou que exercícios

    diários são um dever, o que possibilita um bom condicionamento vocal.

    BOONE (1997) afirmou que, quando o profissional amadurece, sua voz

    mostra-se surpreendentemente estável. Os anos de treinamento vocal e

    desempenho deram ao artista, com estilo de vida e trabalho regrado, um grande

    controle respiratório e habilidade fonatória que de longe excedem o desempenho

    vocal do não artista. Vários estudos acharam que o profissional da voz mais velho

    mantém um padrão vocal surpreendentemente estável quando comparado à voz de

    um indivíduo não treinado.

    McKINNEY (1997) ressaltou a importância de um trabalho vocal consciente e

    bem direcionado ao jovem cantor adulto, o que permitirá o conhecimento do

    mecanismo vocal bem como estabelecerá padrões de uso vocal que garantirão a

    preservação da saúde da voz e a conseqüente manutenção de sua longevidade.

    SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997) pontuaram que oenvelhecimento da voz ocorre através de mudanças fisiológicas que envolvem todas

    as partes do trato vocal e que as mudanças na freqüência fundamental de falantes

    homens e mulheres podem ser menos proeminentes em profissionais treinados da

    voz, citando como exemplo os cantores. Fizeram referências a vários autores que

    afirmaram que muitas das funções vocais que ocorrem com o envelhecimento

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    podem ser mantidas com uma condição de melhor qualidade no canto e trabalho

    profissional de voz para que se possa ultrapassar a década dos 70 anos.

    Os mesmos autores chamaram atenção que as características vocais devido à

    idade não são exclusivas e, em muitas maneiras, são semelhantes às observadas

    em algumas doenças e nos repousos vocais prolongados. O desuso muscular causa

    perda de fibras musculares indistingüíveis das observadas na idade avançada.

    Um dos principais tratamentos da presbilaringe e da presbifonia é a reabilitação

    vocal (HAGEN, LYON, NUSS, 1996) com ênfase na diminuição das compensações

    hiperfuncionais supraglóticas, com estimulação simultânea do ataque vocal, além dese desenvolver melhor suporte respiratório para a fala.

    SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997) sugeriram alguns

    pontos terapêuticos para manutenção de uma melhor performance da voz como uma

    combinação de terapia vocal tradicional, treinamento do canto, técnicas de inflexão

    vocal, condicionamento aeróbico para efetivar a performance neuromuscular.

     Apontaram as atividades esportivas como um ganho para manter a função muscular 

    e a coordenação, o que também ajuda o sistema vascular, nervoso e respiratório.

    Nutrição apropriada e controle do peso também são importantes.

    FERREIRA, REALI, ESTRELA & HENDLER (1998) realizaram um trabalho de

    aprimoramento da voz em um grupo de terceira idade com o objetivo de aprimorar a

    eficiência vocal na velhice ativa. Foi realizada uma avaliação vocal pré e pós-

    concretização do trabalho, sendo o procedimento de um atendimento semanal,

    durante dois meses. Primeiramente, foi efetivado uma explanação sobre o tratovocal, seu funcionamento e noções de higiene vocal, sendo dado, em seguida, o

    início ao Programa de Aprimoramento Estético da Voz.

    Os autores observaram como resultados que o grupo mostrou-se mais

    consciente quanto às normas de higiene vocal e uso adequado da voz e todas as

    participantes obtiveram melhora nos tempos máximos de fonação, na capacidade

    vital e uma maior estabilidade vocal. Concluíram que a importância do trabalho com

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    indivíduos senescentes está relacionada com a preservação da eficiência vocal e

    comunicativa nesta fase de vida.

    BEHLAU (1999) mostrou que sendo possível reabilitar a função fonatória e

    vocal após situações de doenças e longos períodos de desuso, sendo essas

    observações semelhantes as da senescência, propôs investir na melhoria das

    condições de comunicação dos indivíduos idosos e chamou atenção para trabalhos

    com efeitos alentadores quanto aos resultados funcionais obtidos.

    BEHLAU, PONTES, GANANÇA & TOSI (1988) realizaram um estudo com dez

    indivíduos, cinco do sexo masculino e cinco do sexo feminino, brasileiros, na faixaetária de 65 a 85 anos. Todos apresentavam queixa de voz baixa, fina (fina nos

    homens) ou grossa (nas mulheres), dificuldade de comunicação e redução na

    inteligibilidade da fala.

    Os dez indivíduos foram submetidos a um treinamento fonoaudiológico,

    durante quatro meses, com uma sessão individual por semana, de uma hora. Do

    material de fala avaliado, foram analisados os seguintes parâmetros vocais:

    freqüência fundamental, jitter, shimmer  e pausas articulatórias.

    O treinamento fonoaudiológico realizado com cada participante foi direcionado

    a quatro áreas principais: qualidade vocal, dinâmica fonoarticulatória, fatores

    correlatos (controle da presbiacusia e a verificação da adaptação das próteses

    dentárias) e fatores ambientais (fatores externos que pudessem influenciar 

    negativamente na efetividade da comunicação).

    Os autores ressaltaram que todos os parâmetros escolhidos para controle dotreinamento apresentaram melhoras na avaliação final. Até mesmo a capacidade

    vital mostrou valores superiores aos iniciais, embora nenhum treinamento específico

    tenha sido realizado . Provavelmente, a motivação dos indivíduos fez com que eles

    se esforçassem e superassem as marcas iniciais. Também relataram quanto à

    freqüência fundamental e seus parâmetros de variação de altura e intensidade, uma

    redução na variabilidade da sustentação do tom, expressa pelos menores valores de

     jitter  e schimmer , após o treinamento.

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    Finalmente, ressaltaram os autores que a flexibilidade recuperada com o

    treinamento vocal também manifestou-se de modo expressivo, na tessitura vocal,

    cujo número de notas em média triplicou na avaliação posterior ao treinamento.

    FERREIRA (1998) acrescentou que a atuação fonoaudiológica no trabalho com

    o idoso caracterizou-se pela prevenção, buscando reduzir o processo de

    envelhecimento biológico e mencionou alguns aspectos considerados fundamentais

    no trabalho vocal com a terceira idade, a fim de promover melhor adequação e

    velocidade da fala, melhora da eficiência aérea, maior estabilidade da voz e

    extensão vocal, aumento da potência e projeção vocal.

    •  Treinamento auditivo para identificação e percepção da própria voz e

    diferentes parâmetros vocais de vozes normais e anormais.

    •  Melhor eficiência respiratória, através de exercícios respiratórios associados

    à emissão de sons e de sons facilitadores fricativos surdos, fricativos

    sonoros e vibrantes, podendo associar a movimentos cervicais e

    movimentos corporais.

    •  Adequação do sistema de ressonância, utilizando-se de sons nasais em

    tons ascendentes e descendentes, buscando melhor sinergia dos músculos

    bem como uma melhor projeção da voz.

    •  Treino da modulação e inflexão vocal através de leitura de prosas e versos,

    com entonação marcada, em voz salmodiada, associados à expressão

    corporal.

    Reiterou a mesma autora que todo o planejamento de atividades a ser realizado com a população da Terceira Idade dependerá da avaliação

    otorrinolaringológica prévia, como também da avaliação dos parâmetros vocais, que

    se diferenciam nessa faixa etária, e que as técnicas terapêuticas utilizadas no

    trabalho com o idoso serão adaptadas de acordo com as necessidades individuais e

    limitações específicas de cada indivíduo.

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     As observações realizadas em vozes treinadas, as carreiras longevas de

    cantores com treinamento clássico e os melhores resultados vocais em indivíduos

    fisicamente ativos permitem inferir que os exercícios contribuem para minimizar os

    efeitos da idade sobre a voz. Pesquisas futuras deverão indicar quais os principais

    efeitos da atividade física sobre a voz e quais os parâmetros que receberiam maior 

    benefício (BEHLAU, 1999).

     A autora citada mencionou ser necessário maiores estudos que permitam

    analisar as possibilidades reais de minimizar os resultados da presbifonia o que

    auxiliaria certamente a integração social do idoso, melhorando suas condições de

    comunicação.

    FERREIRA (1998) reforçou que no momento em que a voz se deteriora, toda a

    personalidade sofre com isso, gerando sentimentos de inadequação e insegurança.

    O indivíduo idoso necessita preservar a sua voz da melhor forma possível. Estimar a

    voz significa buscar o equilíbrio com a natureza humana, ao mesmo ponto em que a

    descoberta de um padrão vocal mais adequado reintegra o idoso à auto-estima.

    Concluiu, ressaltando que o trabalho vocal com indivíduos da terceira idade

    está relacionado à preservação e ao aprimoramento da eficiência vocal na velhice

    ativa, permitindo ao idoso uma qualidade de vida integrada e participativa na

    sociedade.

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    DISCUSSÃO

    O envelhecimento ocorre em todos os seres vivos em idades avançadas,

    sendo muitas vezes difícil precisar a idade dos indivíduos, pois não existem

    marcadores específicos, devido a grande variabilidade individual e variações que

    ocorrem dentro de um mesmo grupo, justificando a heterogeneidade encontrada

    entre a população idosa.

    GREENE (1989) identificou senescência descrevendo o processo normal de

    envelhecimento no homem e a senilidade à condição patológica. RIBEIRO (1999)

    descreveu um processo de desenvolvimento no ser humano como processo de

    alterações relativos ao envelhecimento em torno dos 25-30 anos, tendo maior 

    velocidade a partir dos 40 anos.

    MEYERSON (1976) pontuou algumas características que serão manifestadas

    por todos que envelhecem, como a estrutura corporal, textura da pele, andar e nível

    de agilidade, apesar de existirem diferenças individuais na velocidade e na

    extensão do envelhecimento. Em contrapartida, HAYFLICK (1996) referiu que a

    idade cronológica não está diretamente correlacionada à idade biológica e afirma

    que não existe uma forma possível que determine a idade biológica dos seres

    humanos.

    WELFORD (1951) citou a coordenação motora, identificada como redução navelocidade dos movimentos, como sendo mais relevante do envelhecimento, o que

    estudos posteriores relacionaram com redução dos aspectos do sistema nervoso e

    não somente com a do sistema muscular (BIRREN,1964; WELFORD, BIRREN, 1965

    e ANDRES, 1976) .

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    BEHLAU (1999) relatou as principais alterações do envelhecimento apontadas

    pelos pesquisadores, como as relacionadas aos parâmetros de acurácia, velocidade,

    resistência, estabilidade, força e coordenação motora, como também evidentes

    alterações na capacidade respiratória, no batimento cardíaco e na condução

    nervosa.

    Outros autores ainda chamaram atenção para as características pertinentes ao

    envelhecimento, como diminuição da força (STREHLER, 1962) e da massa muscular 

    (BIERMAN, HAZZARD, 1973); redução na acuidade sensória (BIERMAN,

    HAZZARD, 1973) e aumento no tempo de reação motora (BOTWICK, THOMPSON,

    1974).

    Considerando os estudos estatísticos que demonstraram que haverá um

    número importante de pessoas com mais de 60 anos no mundo no final do século

    XX, observamos uma preocupação na área da gereontologia social buscando

    pesquisar as atitudes para com as pessoas idosas.

    Investigações sociolingüisticas realizadas por LAMBERT (1967), SHUY &

    FASOL (1973), demonstraram que os ouvintes podem com segurança e exatidão

    identificar características como etnias, região de origem, classe social, nível de

    escolaridade e traços de personalidade do falante através do seu estilo de fala.

    Isto pode ser identificado nos estudos onde MEYERSON (1976) referiu que

    podemos observar modificações com a idade, nos processos de comunicação

    (respiração, fonação, articulação, linguagem e audição), a partir de mudanças

    biológicas antecipadas de tecidos e os efeitos dessas no processo da fala.

     Os estudos procuram apontar características típicas que identifiquem a voz em

    processo de envelhecimento, sendo apontado como dificuldade a grande

    variabilidade , cronológica e fisiológica, entre a população em envelhecimento.

    No estudo de PTACEK & SANDER (1966) os ouvintes diferenciaram as vozes

    mais jovens das mais velhas com muita precisão, sendo que seus julgamentos

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    basearam-se na percepção da velocidade, hesitação, qualidade, quebra de voz,

    intensidade e vitalidade. Sujeitos idosos apresentaram uma média baixa da

    velocidade de variabilidade de pitch (predomínio de pitch baixo), loudness diminuído,

    caracterizando menor vitalidade em suas vozes. SHIPP & HOLLIEN (1969)

    buscaram determinar o julgamento da idade em falantes masculinos, e mais tarde

    (1972), os mesmos autores em estudos relacionando a freqüência vocal,

    observaram um aumento do  pitch  com o avanço da idade, relacionando com a

    possível atrofia muscular e enrijecimento da mucosa das pregas vocais .

     RYAN & CAPADANO (1978) propuseram um estudo experimental

    relacionando o envelhecimento com os aspectos psicológicos manifestados atravésda voz, onde pretenderam fornecer uma abordagem promissora da avaliação de

    estereótipos de idade. Avaliaram a habilidade do ouvinte de julgar a idade de um

    falante e medir que extensão os valores de personalidade são afetados quando a

    idade é percebida. Observaram que falantes femininas percebidas como mais velhas

    foram vistas como mais reservadas, passivas e inflexíveis quando comparadas com

    as mais jovens, e homens mais velhos foram identificados como menos flexíveis que

    os mais jovens. Também identificaram uma voz com menor clareza, volume

    diminuído,  pitch  baixo , e a leitura feita de forma mais vagarosa, com mais

    autoridade.

    Na literatura pesquisada, observa-se que muitos trabalhos na área da

    otorrinolaringologia e fonologia focam mudanças fonatória ou histológica no que se

    relaciona com o envelhecimento da voz. MORRISON & HINCKMAN (1986) citaram

    como sendo comum no idoso doenças sistemáticas, particularmente as neurológicas

    referindo que as manifestações vocais e da laringe dessas desordensfreqüentemente passam despercebidas.

    HONJO & ISSHIKI (1980) afirmaram ser limitado o conhecimento das

    características vocais do envelhecimento dificultando o julgamento dessas vozes

    como normais. Realizaram um estudo onde encontraram como mudanças quanto

    aos aspectos morfológicos, como edema de prega vocal e amarelamento ou

    discoloração das pregas vocais sendo mais importante em mulheres, considerando

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    a coloração amarelada a mais freqüente. Atrofia de prega vocal e fenda glótica com

    maior índice nos homens. Sulco vocal observado em ambos os sexos de forma

    similar. Em relação ao julgamento perceptivo da voz, foi observado menor rigidez e

    rouquidão na voz de mulheres,  pitch mais alto em homens idosos que em jovens,

    nas mulheres tendência a baixar o pitch.

    Os autores concluíram que o amarelamento e descolaramento observado,

    poderiam estar relacionados à degeneração da gordura ou queratose da membrana

    da mucosa da laringe; a atrofia e fenda glótica estar relacionada a mudanças

    musculares ou da membrana de mucosa; o edema de prega vocal nas mulheres,

    relacionada com mudanças endócrinas após menopausa e a diminuição da massadas pregas vocais , uma das causas da mudança acentuada do  pitch e da leve

    rigidez e rouquidão nas vozes das mulheres idosas.

    Observa-se que os estudos relacionados às cartilagens, mucosa e dos tecidos

    conjuntivos da laringe têm permitido um consenso sobre as mudanças esperadas

    no envelhecimento normal. PRESSMAN & KELEMAN (1955) referiram que a

    ossificação das cartilagens inicia ao redor dos 25 anos e se completa

    aproximadamente por volta dos 65 anos, em contrapartida, KAHANE (1983) referiu

    estudos indicando que o processo vocal ossifica e outros que sugerem que pode

    permanecer cartilaginoso.

    KIRCHNER (1988) mostrou existir uma variação considerável na velocidade,

    início e grau de ossificação das cartilagens, mas o processo parece ser parte do

    envelhecimento normal e não um componente patológico, entretanto MORRISON &

    HINCKMAN (1986) identificaram que o início do processo de ossificação dascartilagens é tardio e menos extensivo em mulheres, sendo o processo todo

    bastante variado entre os indivíduos. Acrescentaram que nos homens as fibras

    elásticas são em menor número, fragmentadas e agrupadas, sendo que o número

    absoluto de fibras colágenas decresce após os 50 anos com uma tendência a

    afinarem e tornarem-se mais onduladas. Em mulheres , a relação de linearidade é

    preservada. Os músculos da laringe mostram um afinamento e um decréscimo da

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    densidade de fibras, que também é observado nos ligamentos da laringe e no conus

    elástico.

    Salientaram ainda que essas mudanças ocorrem paralelamente umas as

    outras, observando-se mudanças nas glândulas mucosas, que se tornam atrofiadas,

    reduzem em número, ficando a membrana mucosa afinada e atrofiada. Também

    observa-se metaplasia do epitélio, o tecido subjacente pode estar sujeito a infiltração

    de gordura e o número de canais linfáticos fica reduzido.

    Em estudos que analisam os resultados do exame de laringe, HONJO &

    ISSHIKI (1980) verificaram que 39% de laringes masculinas e 47% de laringes

    femininas examinadas, mostraram anormalidades significantes. Observaram que

    67% dos homens tinham fenda glótica, uma porção similar tinham atrofia e 56%

    apresentavam edema de prega vocal. Nas mulheres ocorria 74% de edemas

    significantes, 58% de fenda glótica e somente 26% de atrofia. Aproximadamente 1

    em cada 10, de cada sexo , mostrava sulcos nas pregas vocais.

     Algumas pesquisas acreditavam que a voz masculina mostrava menos

    mudanças relacionadas à idade que a voz feminina, pela ausência do climatério

    masculino. Pesquisas subseqüentes revisaram essa opinião.

    LUCHSINGER & ARNOLD (1965) apontaram a mobilidade das juntas em

    regularizar as atividades complexas da laringe e a função endócrina, como fatores

    importante nos vários ajustamentos necessários para voz normal. Relacionaram

    essa redução endócrina e a atrofia do tecido glandular como a causa da diminuição

    gradual do pitch na voz feminina e o contrário, aumento do pitch no idoso masculino.

    MISAK (1959) em seus estudos também encontrou um aumento na frequênciafundamental da fala com o avanço da idade em homens, iniciando na meia idade.

    Confirmaram esses estudos HOLLIEN & SHIPP (1972) acrescentando que esse

    aumento da freqüência fundamental, seria secundário ao afinamento e

    enrijecimento das pregas vocais. Entretanto, McCLONE & HOLLIEN (1963)

    determinaram que a variação de pitch é muito preservada em mulheres idosas e cita

    um estudo em que examinaram mulheres de até 95 anos de idade, onde não

    encontraram redução de níveis de pitch e nem evidências de voz senil. PTACEK &

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    SANDER (1969) observaram perda na produção do tom alto em ambos os sexos,

    mas KIRCHNER (1988 ) reconheceu diferenças individuais entre os sexos, referindo

    haver um declínio da função vocal após os 70 anos, sendo a normalidade

    preservada por um tempo maior em homens do que em mulheres.

    Outro parâmetro a ser considerado no envelhecimento vocal , vindo a afetar a

    qualidade da voz do falante é o que se relaciona à intensidade vocal. Algumas

    diferenças relacionadas à idade na intensidade vocal têm sido observadas. PTACEK

    (1966) em seus estudos referiu diminuição da intensidade e na duração das vogais,

    o que RYAN (1972) usando níveis de pressão de sons medidos acusticamente,

    discordou , determinando que a intensidade vocal aumenta com a idade. FEIJÓ,ESTRELA & SCALCO (1998) encontraram em seus estudos junto à população de

    idosos, uma média de intensidade vocal forte para ambos os sexos, tanto para

    fonação sustentada quanto para fala encadeada.

    Em relação às mudanças que ocorrem na voz com o passar dos anos, as

    relacionadas com as mudanças estruturais no tecido vibratório da prega vocal

    requerem estudos especiais.

      HIRANO & KURITA (1985) citaram que em homens, a membrana da prega

    vocal diminui, as fibras elásticas da camada intermediária da lâmina própria atrofiam

    e as fibras colágenas da camada profunda da lâmina própria aumentam tornando-se

    fibrosas. A camada intermediária torna-se mais fina, enquanto que a camada

    profunda engrossa. Além disso, a espessura da cobertura diminui após os 70 anos,

    sendo que a cobertura é a camada mais flexível, enquanto a camada profunda da

    mucosa a mais enrijecida.

    KAHANE (1983) acrescentou que as mudanças estruturais nos ligamentos

    vocais, nas camadas intermediárias e profunda da lâmina própria, tornam-se mais

    evidentes em homens após os 50 anos.

    Em um estudo posterior , HIRANO,KURITA &SAKAGUGHI (1989) identificaram

    que a prega vocal diminui com a idade especialmente após os 70 anos, sendo mais

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    marcante em homens; a espessura de toda a mucosa da prega vocal tende a

    aumentar após os 70 anos nas mulheres, o que nos homens essa tendência foi

    encontrada até a idade de 70 anos, mostrando uma diminuição após essa idade,

    em muitos casos.

    Também relataram a presença de edema na camada superficial da lâmina

    própria, com grau da variação de indivíduo para indivíduo. Nos homens, a espessura

    da camada e a densidade das fibras elásticas tendem a diminuir com a idade,

    enquanto que em mulheres, essa tendência não foi observada. As fibras elásticas

    tornaram-se atrofiadas e o contorno da camada intermediária, que têm normalmente

    formato de foice, tornam-se mais deterioradas em homens: a camada profunda da

    lâmina própria torna-se mais grossa em homens, estando isso associado ao

    aumento da densidade das fibras colagenosas. Destacaram que os achados

    histológicos variam muito entre essa população, e que não foram encontradas

    diferenças significantes entre fumantes e não fumantes. Fazem uma relação entre as

    fibras colagenosas de jovens e nas pessoas idosas. No primeiro caso, as mesmas

    correm paralelas à borda da prega vocal, e que na maioria das pessoas idosas, as

    fibras colagenosas correm em várias direções e, em casos extremos, formam o que

    se caracteriza de fibrose.

    MORRISON & HINCKMAN (1986) descreveram mudanças que ocorrem no

    idoso em relação ao tecido conjuntivo. As fibras elásticas são em menor número,

    fragmentadas e agrupadas. O número absoluto de fibras colagenosas decresce

    após os 50 anos . Tornam-se mais finas, separam-se umas das outras, parecendo

    mais onduladas. Nas mulheres a relação de densidade e linearidade é preservada.

    Os músculos da laringe mostram um afinamento e um decréscimo da densidade das

    fibras, bem como uma fragmentação do septo intramuscular. Esse decréscimo é

    também observado nos ligamentos da laringe e no conus elásticos. Essas mudanças

    são tanto ausentes como mínimas em laringes femininas similares envelhecidas.

    Também relacionaram os autores que essas mudanças ocorrem paralelamente

    umas as outras e são acompanhadas de mudanças de mucosa. A membrana

    mucosa é afinada e atrofiada. As glândulas mucosas tornam-se enfraquecidas e

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    reduzem em número. Ocorre metaplasia do epitélio e o tecido subjacente pode estar 

    sujeito à infiltração de gordura e o número de canais linfáticos fica reduzido.

    BACH, LEDERER & DINOLT (1941) realizaram um estudo buscando examinar 

    melhor os músculos da laringe, considerando insuficientes as mudanças

    encontradas neles que justifique as grandes alterações encontradas numa laringe

    senil e nas variações características da voz do idoso. Apesar de considerarem uma

    amostra muito pequena, observaram na avaliação microscópicas uma degeneração

    de gordura, aumento do tecido conjuntivo e do núcleo do sarcolema, perfurações

    dos vasos sangüíneos, mudanças nos tecidos musculares, glândulas e células de

    tumor dentro dos músculos. Relataram os autores que alguns desses achadosestavam relacionados a quadros de doenças que esses pacientes apresentaram e

    que foram confirmados posteriormente, e concluíram que em todos os casos

    estudados o músculo abdutor da laringe foi mais afetado que os músculos adutores.

    No estudo do envelhecimento vocal é também relevante as análises dirigidas

    ao sistema respiratório. Observa-se perda da elasticidade das membranas pleurais

    (PIERCE, EBERT,1965), o tórax endurece , rendendo-se menos facilmente às forças

    dos músculos respiratórios (DHAR, SHASTRI, LENORA, !976) e ocorre uma redução

    na capacidade respiratória vital (MORSOMME, JAMART, BOUCQUEY, REMACLE,

    1997).

    Essas mudanças associadas às que ocorrem na laringe podem alterar a

    capacidade funcional do mecanismo do idoso, como também as características

    acústicas de sua voz, o que leva os autores a aprofundarem os estudos que

    viabilizem melhor avaliar essas mudanças. Comparações do tempo máximo defonação entre mulheres jovens e idosas, mostraram que as durações das vogais

    foram de 19% - 32% menores em mulheres mais velhas quando comparadas com

    mais jovens (PTACEK, SANDERS, MALONEY, JACKSON, 1966). Também

    MORSOMME, JAMART, BOUCQUEY & REMACLE (1997) em seus estudos

    constataram redução no tempo de fonação predominante em mulheres e quociente

    fonatório reduzido nos homens. MUELLER (1993), FEIJÓ, ESTRELA & SCALCO

    (1999) observaram os valores dos tempos máximo de fonação reduzidos, porém a

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    relação s/z nos estudos de MUELLER (1982) foi identificada dentro dos limites da

    normalidade.

    Quanto as modificações na qualidade vocal e nos aspectos relacionados ao

    estudo acústico da voz do idoso, ALARCOS, BEHLAU & TOSI (1983), relataram

    haver deteriorização na qualidade vocal em maior grau nos homens envelhecidos,

    discordando do que JACKSON-MENALDI (1996) afirmou posteriormente,

    determinando essa deteriorização ser mais precoce em mulheres, e mais acentuada

    na voz cantada que na voz falada. MORSOMME, JAMART, BOUCQUEY &

    REMACLE (1997) acrescentaram que a qualidade vocal é menos comprometida nas

    mulheres idosas. HUTCHINSON, ROBINSON & NERBONNE (1998) citaram umaspecto importante relacionado ao aumento do grau de nasalidade na fala

    encadeada.

     ALARCOS, BEHLAU & TOSI (1983), nos estudos acústicos da voz do idoso,

    observaram uma menor uniformidade no traçado dos formantes o que foi indicado

    por LINVILLE & FISHER (1989) também estudando os aspectos acústicos da voz do

    idoso, relacionaram a redução da freqüência média do primeiro formante para

    emissões em voz neutra e em voz sussurrada, indicando que características

    fonatórias e ressonantais interferem na percepção da idade através da voz .

    MURRY & DOHERTY (1980) relacionaram mudanças, como aumento de  jitter 

    e schimmer , na redução da harmonia do ruído proporcional, na diminuição da

    amplitude sobre o tempo e no aumento do SD Fo.

    PINHO (1998) descreveu as transformações no padrão vocal do idoso,indicando serem as manifestações variáveis de uma pessoa para outra. Discorreu

    afirmando que podem ocorrer atrofia dos músculos intrínsecos da laringe, com

    perdas teciduais (causando arqueamento), deficiências hídricas, perda de

    elasticidade dos ligamentos e calcificação das cartilagens. Mais raramente, pode

    ocorrer flacidez das estruturas gerando quadro de hipotonia. Em mulheres, pode ser 

    encontrado edema de pregas vocais justificado pelas trocas hormonais devido à

    menopausa. E concluiu, ser importante aliar a todos esses fatores a deteriorização

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    do SNC. MORRISON & RAMMAGE (1996) acrescentaram encontrar instabilidade

    vocal incluindo emissão trêmula no estudo do envelhecimento vocal.

    Na avaliação da voz do idoso deve ser relevante considerar não somentefatores relacionados à laringe, e podemos citar como fatores mais proeminentes as

    doenças e disfunções neurológicas e pulmonares , todas com significantes efeitos

    na voz (MURRY, DOHERTY, 1980). LOGEMANN (1975) observou que 79% dos

    pacientes com Parkinson experimentaram disfunções na voz. WOO, CASPER,

    COLTON & BERWER (1992) verificaram que indivíduos idosos com queixas vocais,

    apresentavam essas alterações devido a processos patológicos, citando como

    principais as desordens centrais neurológicas ( acidentes vascular cerebral, doença

    de Parkinson, tremor vocal e doença de Alzheimer); lesões benignas de pregas

    vocais (edema de Reinke e lesões epiteliais displásicas benignas); doenças

    inflamatórias (laringite sicca e conseqüências de medicamentos); neoplasias

    laríngeas e paralisias laríngeas.

    MORRISON & RAMMAGE (1996) afirmaram que enfermidades neurológicas

    tendem a aparecer com maior frequência nas pessoas de mais idade e concordaram

    com os autores acima, referindo que muitas vezes aparecem dificuldades vocaisassociadas a essas doenças. Citaram como exemplos a esclerose lateral amiotrófica

    e as paralisisas pseudobulbar. Referiram que o tremor essencial que aparece nas

    mãos pode se manifestar também em forma de um tremor vocal que causa

    flutuações de frequência ou intensidade a 4-12 Hz.

    Também identificaram comprometimentos vocais na doença de Parkinson,

    como voz sussurrante, monótona e débil, com perda da expressão e alteração do

    ritmo e ainda citam que a incoordenação da fala-respiração, da dinâmica dosmúsculos laríngeos e articulatórios como conseqüência da rigidez, explicam as

    alterações da prosódia, da intensidade e da qualidade vocal encontradas nessas

    doenças.

    BEHLAU (1999) também chama a atenção para as doenças neurológicas no

    idoso, que podem manifestar-se através de uma discreta alteração vocal, como a

    voz fraca do parkinsonismo, a voz pastosa na esclerose lateral amiotrófica e a voz

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    trêmula no tremor essencial, reforçando a importância de tais manifestações serem

    sempre adequadamente avaliadas.

    Podemos ressaltar a importância da avaliação vocal no idoso, que não deverestringir-se apenas ao exame funcional da laringe mas a todos os aspectos

    relacionados ao envelhecimento do indivíduo.

      Quanto a avaliação propriamente dita da voz do idoso, esta deve incluir exames

    de percepção, acústico, endoscópico e fisiológico. As medidas objetivas da função

    fonatória podem ser a maneira mais eficaz para determinar o efeito do tratamento.

    Importante observar as mudanças fisiológicas que acompanham os parâmetros

    perceptivos e acústicos (escape de ar, tensão de laringe, tremor na voz, consoantesnão precisas, velocidade da fala, freqüência fundamental, outros tremores e fatiga

    generalizada por decorrência do tempo). Fatores como ruído, variação de amplitude

    e intensidade, controle da freqüência e presença de voz de falsete também devem

    ser observados (MURRY, WOODSON, 1996).

    Os autores acima citaram que o exame da laringe e das estruturas a ela

    relacionadas normalmente é feito por endoscopia no consultório, e o exame

    estroboscópico é usado para acompanhar o movimento da onda da mucosa, a

    simetria da vibração e as características microscópicas.

    MORRINSON & RAMMAGE (1996) consideraram que a maioria das alterações

    da voz relacionadas com a idade devem-se a processos degenerativos fisiológicos

    naturais, enquanto que SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997)

    afirmaram que é essencial que os profissionais que cuidam da voz estejam

    familiarizados com as mudanças esperadas no envelhecimento, e sejam alertados

    das condições de reversibilidade que podem afetar a fonação, e podem ser 

    confundidas como presbifonia. MURRY & WOODSON (1997) reforçaram como

    importante a necessidade de entender os problemas de comunicação do indivíduo

    idoso.

    BEHLAU (1999) constatou ser difícil a proposta de um tratamento quando, em

    tese, as alterações vocais do idoso são de natureza fisiológica, ou seja, inerentes à

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    idade. Considerando que muitas das alterações constituem-se num verdadeiro

    problema para o indivíduo profissionalmente ativo, a definição da conduta baseia-se

    no bom senso e numa decisão que envolve, em primeiro lugar e principalmente, a

    queixa e o desejo do indivíduo. Acrescenta assim alguns recursos de tratamento

    como aconselhamento, reabilitação vocal, terapia medicamentosa ou fonocirurgia.

    MORRINSON & RAMMAGE (1996) concordaram no que se refere ao

    aconselhamento. Muitas vezes o paciente idoso necessita somente que se lhe

    tranquilize com respeito às modificações que observa em sua voz, o que pode

    constituir no único tratamento de que o paciente necessita.

    Em relação ao tratamento dos transtornos da voz no idoso, os mesmos autores

    mencionaram que este deve ser centrado em reduzir o uso muscular inadequado

    que acompanha o paciente na intenção de compensar modificações que tenham

    ocorrido, como também ajustar uma melhor adequação do tom habitual adequando

    ao padrão da voz feminina e masculina. Nos pacientes neurológicos propõem um

    trabalho terapêutico amplo e intensivo, com objetivos de aumentar apoio respiratório,

    a adução das pregas vocais, manter a estabilidade vocal, as sensações de

    ressonância e precisão articulatória.

    WEATHERLEY, WORRAL & HICKSON (1997) fizeram referência à terapia

    medicamentosa que pode incluir desde uma série de complexos vitamínicos até

    medicações mais específicas para controlar desordens associadas, como no caso

    do refluxo gastroesofágico. SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997)

    também incluíram a terapia medicamentosa , com o intuito de diminuir o

    envelhecimento biológico enquanto a idade cronológica avança inevitavelmente,como nas mulheres cantoras, quando na menopausa, pela reposição hormonal.

    MORRISON & RAMMAGE (1996) acrescentaram que a natureza do tratamento

    médico medicamentoso da disfonia depende da causa e pode incluir a aplicação de

    medidas para o controle dos transtornos neurológicos, abrangendo também a

    indicação nos casos de refluxo gastroduodenal crônico quando associado a uma

    disfonia.

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    Em relação aos estudos cirúrgicos com pacientes idosos, BEHLAU (1999)

    citou não ser possível uma avaliação ampla sobre a efetividade dos procedimentos

    cirúrgicos na Terceira Idade, devido ao reduzido número de estudos nessa área.

    HAGEN, LYONS & NUSS (1996) relacionaram a fonocirurgia na terceira idade

    com a remoção do edema de Reinke na mulher e vários procedimentos para reduzir 

    fendas glóticas ou a freqüência fundamental nos homens, como injeção de

    colágeno, ou gordura, Tireoplastia Tipo I, para medializar a prega vocal, ou Tipo IV,

    para encurtar as pregas vocais, favorecendo uma voz mais grave. Mas, segundo

    MORRINSON & RAMMAGE (1996), o tratamento cirúrgico conservador deve ser a

    regra geral no tratamento do idoso com transtornos da voz, em especial quando se

    trata de pacientes com degeneração polipoidea.

    GREENE & MATHIESON (1992) mencionaram que os profissionais do teatro

    ao interpretarem vozes de idosos apresentam vozes estereotipadas, o que,

    entretanto, não é observado nas pessoas que apresentam vozes bem produzidas

    naturalmente, ou através de treinamento. SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW &

    SPIEGEL (1997) ressaltaram que muitas mudanças que ocorrem na voz do indivíduo

    com a idade são inevitáveis, mas outras podem ser prevenidas ou tratadas.

      Isto é confirmado pelo estudo de SABOL, LEE & STEMPLE (1995), que

    investigaram os efeitos dos exercícios vocais em parâmetros de produção vocal de

    um cantor saudável. Essa avaliação incluia medidas acústicas e aerodinâmicas,

    videoestroboscopia e análises subjetivas , sendo observado nos resultados um

    aumento na eficiência vocal de todos os indivíduos do estudo.

    BROWN (1996) reforçou o mesmo pensamento, salientando que uma voz

    naturalmente bonita precisa de treino baseado em leis físicas da produção vocal ,

    relacionando ao mecanismo do canto saudável, e dirige suas observações aos

    vários exemplos de cantores que mostram que com o uso correto da voz produz-se

    uma boa saúde vocal, preservando a qualidade da voz durante um tempo

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    prolongado de vida. Enfatiza que exercícios diários são um dever, o que possibilita

    um bom condicionamento vocal.

    Também BOONE (1997) acrescentou que anos de treinamento vocal

    promovem ao artista, com estilo de vida e trabalho regrado, um grande controle

    respiratório e habilidade fonatória o que de longe excedem o desempenho do não

    artista. Chamou atenção para os estudos que apontam que o profissional da voz

    mais velho mantém um padrão surpreendentemente estável quando comparado à

    voz de um indivíduo não treinado.

    McKINNEY (1997) ressaltou que a manutenção da longevidade da voz,dependerá de um trabalho vocal consciente e bem direcionado ao jovem cantor 

    adulto, o que foi abordado também pelos autores, SATALOFF, ROSEN,

    HAWKSHAW (1997) que observaram que muitas das funções vocais que ocorrem

    com o envelhecimento podem ser mantidas com uma condição de melhor qualidade

    no canto e trabalho profissional da voz, para que se possa ultrapassar a década dos

    70 anos. Justificaram acrescentando que as características vocais devido à idade

    não são exclusivas e, em muitas maneiras, são semelhantes às observadas em

    algumas doenças e nos repousos vocais prolongados. O desuso muscular causa

    perda de fibras musculares indistingüíveis das observada na idade avançada.

    Considerando a referência de vários autores consultados, acreditamos que o

    treinamento vocal no paciente idoso apontaria como significativo recurso na melhor 

    adequação e estabilidade da voz em processo de envelhecimento.

    Um dos principais tratamento da presbilaringe e da presbifonia é a reabilitação

    vocal (HAGEN, LYON, NUSS, 1996). Vários autores sugerem procedimentosdiferenciados para reabilitação da voz em envelhecimento.

    Os autores acima citados, acreditam que a ênfase no tratamento deva ser dada

    na diminuição das compensações hiperfuncionais supraglóticas, com estimulação

    simultânea do ataque vocal, além de desenvolver melhor suporte respiratório para a

    fala. Entretanto, SATALOFF, ROSEN, HAWKSHAW & SPIEGEL (1997) sugeriram

    uma combinação de terapia vocal tradicional, treinamento do canto, técnicas de

  • 8/19/2019 Aprimoramento Vocal Na Terceira

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    inflexão vocal, e condicionamento aeróbico para efetivar a performance

    neuromuscular. Apontaram as atividades esportivas como um ganho de manter a

    função muscular e a coordenação, o que também ajuda o sistema vascular, nervoso

    e respiratório, acrescentando também nutrição apropriada e controle do peso como

    fatores importantes.

    Com uma proposta de trabalho objetivando melhorar a eficiência vocal na

    velhice ativa, FERREIRA, REALI, ESTRELA & HENDLER (1998) realizaram um

    trabalho de aprimoramento vocal na terceira idade, no qual inicialmente foi realizado

    uma explanação sobre o trato vocal, seu funcionamento e noções de higiene vocal,

    e após a efetivação do Programa de Aprimoramento Estético da Voz. Observaram,que o grupo de dez mulheres idosas, mostrou-se mais consciente quanto às normas

    de higiene vocal e uso adequado da voz e resultados melhores foram conquistados,

    em relação aos tempos máximo de fonação, capac