Áreas Conhecimento - 2 primeiros anos Ens. Fund. - MEC

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TA RE S

Presidncia da Repblica Ministrio da Educao Secretaria Executiva Secretaria de Educao Bsica

Ministrio da Educao Secretaria de Educao Bsica

AS REAS DO CONHECIMENTO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Braslia / 2009

SECRETARIA DE EDUCAO BSICA DIRETORIA DE POlTICAS DE FORMAO, MATERIAIS DIDTICOS E TECNOlOgIAS PARA A EDUCAO BSICA COORDENAO-gERAl DE MATERIAIS DIDTICOS EQUIPE TCNICA Andra Kluge Pereira Ceclia Correia Lima Elizngela Carvalho dos Santos Jane Cristina da Silva Jos Ricardo Alberns Lima Lucineide Bezerra Dantas Lunalva da Conceio Gomes Maria Marismene Gonzaga EQUIPE DE APOIO Andra Cristina de Souza Brando Leandro Pereira de Oliveira Paulo Roberto Gonalves da Cunha

Brasil. Secretaria de Educao Bsica. Acervos complementares: as reas do conhecimento nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental / Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica. Braslia: MEC/SEB 2009. 112p. : il. ISBN: 978-85-7783-027-5 1. Alfabetizao. 2. Letramento. 3. Ensino fundamental. 4. Cincias. 5. Matemtica. 6. Histria. 7. Geografia. 8. Lngua Portuguesa. 9. Arte. 10. Literatura infanto-juvenil. I. Ttulo. CDD 372.2

Tiragem 221.800 exemplares MINISTRIO DA EDUCAO SECRETARIA DE EDUCAO BSICA Esplanada dos Ministrios Bloco L, 5 andar, sala 500 Braslia/DF CEP: 70.047-900 Tel: (61) 2104 8613 / 2104 8636 http://www.mec.gov.br

Com a implantao, em 2010, do Ensino Fundamental de nove anos, em todo o Pas, prevista na Lei n 11.274, e o ingresso da criana de seis anos, o Ministrio da Educao estabeleceu algumas mudanas no Programa Nacional do Livro Didtico PNLD 2010, adequando-o s caractersticas da etapa de desenvolvimento das crianas, tanto as de seis como as de sete anos. Assim, a partir de 2010, as crianas matriculadas no 1 ano recebero um livro de Letramento e Alfabetizao Lingustica e outro de Alfabetizao Matemtica; as do 2 ano recebero, alm desses livros, obras didticas de Cincias, Histria e Geografia. Tendo em vista essas alteraes estabelecidas para o PNLD 2010, este Ministrio decidiu distribuir s salas de aula do 1 e do 2 ano do Ensino Fundamental acervos formados por obras pedaggicas complementares aos livros didticos. Sua funo a de oferecer a professores e alunos alternativas de trabalho e formas de acesso a contedos curriculares, nas diferentes reas de conhecimento (Cincias da Natureza e Matemtica, Cincias Humanas, Linguagens e Cdigos), de forma ldica e instigante. Cada acervo acompanhado por esta publicao, intitulada Acervos complementares: as reas do conhecimento nos dois primeiros anos do ensino fundamental, elaborada pelo Centro de Estudos em Educao e Linguagem CEEL, da Universidade Federal de Pernambuco, responsvel pela avaliao, seleo e composio dos acervos complementares. Esta publicao tem a finalidade de apoiar os professores na utilizao dos acervos em sala de aula, oferecendo informaes importantes sobre cada obra, bem como sugestes de uso, por rea, desse material. Este Ministrio espera que o contato direto, oportuno e constante dos alunos com os acervos lhes proporcionem um acesso privilegiado cultura da escrita, constituindo-se numa ferramenta poderosa no processo de letramento infantil. Ministrio da Educao

COORDENAO gERAl Telma Ferraz Leal Eliana Borges Correia de Albuquerque Ana Maria de Arajo Lima COORDENAES DE REA Artur Gomes de Morais Ceris Salete Ribas da Silva Eliseu Savrio Sposito Itamar Freitas Jasa Farias de Souza Freire Mansur Lutfi Maria Zlia Versiani Machado Vernica Gitirana Gomes Ferreira COMISSO TCNICA Antnio Carlos Pavo Egon de Oliveira Rangel Joo Bosco Pitombeira Margarida Maria Dias de Oliveira Marsia Margarida Santiago Buitoni PARECERISTAS Cincias Accio Arouche de Aquino Cssio Eduardo Ribeiro Leite Cristina Mantovani Bassi Eliane Claudete Fanton Dalalio Eugenio Maria de Frana Ramos Eulina Pacheco Lutfi Fbio Aviles Gouveia Maria Covadonga Lopes Apostlico Maria de Lourdes Von Krger Toledo Priscila Abel Arcuri Regina Clia Bega dos Santos Simone Rocha Salomo Solange Maria Pereira Martins

geografia Antonio Nivaldo Hespanhol Ktia Canil Ndia Nacib Pontushka Patrcia Velasco Regina Helena Penati Cardoso Ferreira Rosngela Aparecida de M. Hespanhol Arte Jasa Farias de Souza Freire lngua Portuguesa Alexsandro da Silva Ana Catarina dos Santos Pereira Cabral Ana Gabriela de Souza Seal Ana Nery Barbosa de Arajo ngela Valria Alves da Silva Daniela Freitas Brito Montuani Ester Calland de Sousa Rosa Ftima Soares da Silva Francisco Eduardo Vieira da Silva Giane Maria da Silva Glucia Renata P. do Nascimento Jlio Cesar Fernandes Vila Nova Leila Britto de Amorim Leila Nascimento da Silva Lcia Fernanda Pinheiro Barros Luciana Prazeres Silva Magna do Carmo Silva Cruz Maria Jaqueline Paes de Carvalho Maria Lcia Ferreira de F. Barbosa Normanda da Silva Beserra Raquel Beatriz Junqueira Guimares Rose Mary do Nascimento Fraga Sara Mouro Monteiro Severina rika Morais Silva Guerra Siane Gois Cavalcanti Rodrigues

Matemtica Ana Coelho Vieira Selva Cristiane Azevedo dos Santos Pessoa Gilda Lisboa Guimares Joo Bosco Pitombeira Marcelo Cmara dos Santos Paula Moreira Baltar Bellemain Rute Elizabete de Souza Rosa Borba Histria Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha Andreza Santos Cruz Maynard Dilton Cndido Santos Maynard Fbio Alves dos Santos Marta Margarida de Andrade Lima Vanessa dos Santos Oliveira APOIO PEDAggICO E ADMINISTRATIvO Gislia das Neves Batista Chaves Juliana Melo de Lima Miriam Xavier Barbosa Severina rika Morais Silva Guerra ESTATSTICO Marcos Rgerio da Costa Frana BOlSISTAS Flaviane Duarte do Monte Hlia Akemi Hiramine Hellen de Paula Caetano Pereira Igor Corra de Andrade Manoela Rodrigues de Oliveira Rielda Karyna de Albuquerque Thaynara Cristine de Moura Melo Lima

AUTORES PARTE 1 Egon de Oliveira Rangel PARTE 2 Introduo Telma Ferraz Leal Artur Gomes de Morais Eliana Borges Correia de Albuquerque rea 1 Cincias Mansur Lutfi Fbio Aviles Gouveia Antnio Carlos Pavo rea 2 Matemtica Vernica Gitirana Gomes Ferreira Joo Bosco Pitombeira Gilda Lisboa Guimares rea 3 Histria Itamar Freitas Margarida Maria Dias de Oliveira

rea 4 geografia Eliseu Savrio Sposito Marsia Margarida Santiago Buitoni rea 5 lngua Portuguesa Telma Ferraz Leal Artur Gomes de Morais Eliana Borges Correia de Albuquerque Ceris Salete Ribas da Silva Maria Zlia Versiane Machado rea 6 Arte Jasa Farias de Souza Freire PARTE 3 Telma Ferraz Leal Artur Gomes de Morais Eliana Borges Correia de Albuquerque Ana Maria de Arajo Lima Egon de Oliveira Rangel

RevisoRes Maria Teresa Lapa Maymone de Barros Maria Auxiliadora Alves Paes Neide Rodrigues de Souza Mendona Patrcia Vila Nova PRojeto GRfico Deiverson Ribeiro Lucdio Leo Susiane Santos ilustRadoRa Ana Vallestero

SumrioPARTE 1

O que fazer com tantos livros? 6PARTE 2

O acesso ao conhecimento escolar e seus muitos caminhos 12 rea 1 rea 2 rea 3 rea 4 rea 5 rea 6PARTE 3

Cincias 18 Matemtica 24 Histria 30 Geografia 36 Lngua Portuguesa 42 Arte 48

Obras complementares: conhecendo os acervos 54 acervo 1 62 acervo 2 72 acervo 3 82 acervo 4 92 acervo 5 102

PARTE 1

O que fazer com tantos livros?Grandes problemas advieram Educao neste pas, quando substituram o professor pelos mtodos prontos (da alfabetizao universidade). O ser professor exige dele cincia e arte: cincia para tratar cientificamente de tudo que ensina e arte para interagir com seus alunos e orient-los no processo de aprendizagem. (Cagliari, 2007)

1. E a veio o Ensino Fundamental de 9 anos...Voc j deve ter reparado, professor(a), que o Programa Nacional do Livro Didtico PNLD 2010 est chegando s escolas num momento em que o Ensino Fundamental de nove anos se encontra em fase final de implantao, em todo o Pas. Nossas redes pblicas encontram-se num perodo de reorganizao desse nvel de ensino, tanto para fazer frente a novos desafios como a chegada da criana de 6 anos quanto para repensar e adaptar as prticas didtico-pedaggicas j estabelecidas. Portanto, a esta altura, estados e municpios j articularam propostas curriculares e/ou orientaes didtico-pedaggicas prprias, procurando integrar aspectos da educao infantil organizao e ao funcionamento de todo o Ensino Fundamental, particularmente dos anos iniciais (1 ao 5). Em consequncia, algumas adaptaes e mudanas se impuseram no perfil e na oferta dos livros didticos do pnld, com o objetivo de oferecer s escolas instrumentos que colaborem na formulao de respostas eficazes para essa nova realidade. E a primeira dessas mudanas diz respeito alfabetizao, nos mais diferentes sentidos cobertos pelo termo. A esse momento-chave da escolarizao correspondia, at o pnld 2007, um volume nico, distribudo junto com o livro de primeira srie de Lngua Portuguesa. Cabia s6

redes e, no limite, aos professores, diante da situao particular dos ingressantes, decidir se adotavam ou no um livro de alfabetizao. Nos casos, raros, em que a maior parte dos aprendizes havia frequentado a pr-escola e chegava primeira srie j alfabetizado, o livro era dispensado. Caso contrrio, a escola selecionava, no Guia de Livros Didticos, o livro que julgava mais adequado; e os professores esforavam-se para alfabetizar o aluno no primeiro semestre da primeira srie. A partir da, procurava-se adentrar a programao especfica desse nvel de ensino, tal como figurava nos livros de primeira srie de cada uma das reas, que sempre pressupunha um aluno j alfabetizado. Como dificilmente o complexo processo de alfabetizao cumpria-se em um nico semestre, um dos resultados mais frequentes dessa situao era, de um lado, a extenso do trabalho com a apropriao do sistema alfabtico de escrita para, ao menos, todo o primeiro ano; de outro lado, o adiamento para a segunda srie da apresentao ao aluno dos primeiros conhecimentos disciplinares. Com frequncia, isso significava, tambm, adiar o ensino sistemtico de leitura e produo de textos, percebido como algo que s poderia se desenvolver a contento se o aluno j dominasse as bases da escrita. Com essa separao estanque entre apropriao do sistema de escrita, de um lado, e ensino-aprendizagem de leitura e escrita, de outro, o letramento da criana saa prejudicado, quando no seriamente comprometido. Do ponto de vista dos materiais didticos, a consequncia imediata era a de os livros didticos da primeira srie, em todas as reas, inclusive Lngua Portuguesa, permanecerem subutilizados, ou sequer virem a ser efetivamente mobilizados em sala de aula, mantendo-se, em muitos casos, nos depsitos da escola. No contexto do novo Ensino Fundamental, no entanto, o pnld 2010 oferece s escolas duas colees de alfabetizao, ambas destinadas aos dois primeiros anos de escolaridade, correspondentes aos seis e aos sete anos de idade, respectivamente. A primeira delas, de Letramento e alfabetizao lingustica, est voltada para o letramento inicial e a apropriao do sistema de escrita. Seu objetivo , portanto, o de propiciar a alunos e professores um apoio didtico conceitualmente correto e metodologicamente adequado para uma entrada qualificada do aluno no mundo da escrita e, consequentemente, para uma efetiva assimilao das caractersticas e do funcionamento do sistema alfabtico de escrita. A segunda coleo, de Alfabetizao matemtica, aborda as bases elementares do conhecimento dessa rea, com o objetivo de colaborar com os docentes e os aprendizes no processo de construo de um pensamento lgico-matemtico. Considerando-se o papel desse pensamento na perspectiva cientfica de investigao da realidade, essa alfabetizao afigura-se como to fundamental para a compreenso de conhecimentos sistematizados em diferentes disciplinas quanto o letramento e a alfabetizao lingustica mostram-se essenciais para o acesso ao mundo da escrita e cultura letrada.7

Assim, essas duas alfabetizaes no correspondem a duas disciplinas prvias s demais, ou a elas superpostas. Correspondem, antes, a um momento da escolarizao em que o foco do ensino-aprendizagem deve estar, sem prejuzo de um primeiro contato com conhecimentos especializados, em objetos gerais e comuns a todas as reas, cujo domnio possa propiciar o acesso progressivo aos demais conhecimentos especficos, inclusive os de Lngua Portuguesa e Matemtica. Assim, de um momento breve e sem lugar prprio ou sequer bem definido, na programao do Ensino Fundamental ainda que reconhecidamente necessrio para as etapas posteriores da escolarizao o letramento e a alfabetizao iniciais estenderam-se, no pnld, alfabetizao matemtica, organizando-se, nas duas reas, como um ciclo de dois anos. Uma nova perspectiva se abre, portanto, para um tratamento didtico mais consistente e sistemtico tanto dos objetos de ensinoaprendizagem prprios desse ciclo, quanto daqueles que esto associados s diferentes disciplinas curriculares. No que diz respeito aos livros didticos disponveis, a situao ser, ento, dupla. Para os alunos j inseridos, ou seja, os que estiverem cursando o segundo ano, a escola contar, para o prosseguimento dos estudos desses aprendizes, com as colees de Lngua Portuguesa, Matemtica, Cincias, Histria e Geografia. J para os ingressantes em 2010, no entanto, a escola contar com os livros que tiver selecionado para os prximos trs anos, num panorama como o que segue: noprimeiroano,aescoladispordeduascoleesdealfabetizao,umalingustica, outra matemtica; no segundo ano, a escola poder recorrer tambm s colees de Cincias, Histria e Geografia, podendo iniciar o ensino dessas disciplinas nesse ano; apartirdoterceiroano,entretanto,ascoleesdealfabetizaosaemdecena; e os alunos e professores tero sua disposio as colees de Cincias, Histria e Geografia disponveis j para o segundo ano, alm, agora, das de Lngua Portuguesa e Matemtica. Assim, no mbito do pnld, dois ciclos de estudos se delineiam claramente, para os alunos do novo Ensino Fundamental: o de letramento e alfabetizao iniciais, nos dois primeiros anos; e, nos trs ltimos anos, o de consolidao desse processo, articulada a uma introduo paulatina aos conhecimentos organizados em disciplinas. O segundo ano aparece, portanto, como um ano de transio: ao lado das duas colees introduzidas no primeiro ano, cada escola recorrer ou no s de outras8

disciplinas, trabalhando, simultaneamente, o letramento e a alfabetizao iniciais, de um lado, e os conhecimentos disciplinares, de outro.

2. Mas para qu tantos livros?Como voc pode notar, esse quadro de ofertas j envolve, por si s, diferentes alternativas para a organizao do trabalho docente nos anos inicias do novo Ensino Fundamental. E oferecem ao professor uma ampla e variada margem de escolha. Mas as possibilidades do pnld no param no livro didtico. Esta publicao pretende apresentar a voc os acervos de obras complementares que, junto com as colees didticas, todas as escolas pblicas do Pas receberam. Esses materiais no so chamados de complementares por acaso: sua funo a de oferecer a professores e alunos alternativas de trabalho e formas de acesso a contedos curriculares que as colees didticas no trazem. Tomando o letramento e as alfabetizaes como foco da escolarizao inicial, as escolas tero, no pnld 2010, materiais didticos tanto disciplinares ou seja, concebidos para usos especficos de uma determinada disciplina quanto no disciplinares, para abordar o trabalho didtico-pedaggico com os primeiros conhecimentos organizados em reas e/ou disciplinas. Assim, ser o seu planejamento docente, articulado ao dos demais professores de sua escola, que dar os parmetros necessrios tanto para o trabalho de sala de aula quanto para a escolha das colees e para o seu uso combinado com os materiais complementares. Tanto quanto as colees do Guia, os livros que constam dos acervos de materiais complementares so de interesse curricular, na medida em que abordam contedos apropriados ao nvel de ensino-aprendizagem em jogo. Mas, diferentemente daqueles, o compromisso destes , antes de mais nada, com a curiosidade natural da criana, com o seu desejo de saber e de ler por conta prpria mesmo que boa parte deles j pressuponha um leitor alfabetizado e, portanto, s possa ser lido, inicialmente, de forma compartilhada, seja com o professor, seja com colegas mais experientes. Ao contrrio das colees didticas, os livros dos acervos complementares no foram escritos para o professor, com o objetivo de concretizar um plano de curso e estabelecer os roteiros de suas respectivas aulas. Nenhum deles pretende, portanto, nem cobrir, por si s, todo um programa, nem propor a professor e alunos um apoio didtico permanente para o cotidiano da sala de aula. Na verdade, foram escritos diretamente para os jovens leitores, inclusive os iniciantes; e a essas crianas que eles pretendem seduzir, informar, divertir, convencer etc., abordando apenas certos temas ou contedos, e pressupondo que o seu uso se far9

num determinado momento. So livros que voc encontra facilmente nas sees infantis de livrarias comerciais, disputando a ateno e a preferncia dos meninos e meninas, que querem escolher alguma coisa legal para ler no fim de semana e/ou para aprofundar um tema que, na escola, despertou sua ateno e atiou sua curiosidade. Pensados para um convvio ntimo e cotidiano com as crianas em sua prpria sala de aula, os acervos so verdadeiras janelas, de onde o aluno da escola pblica poder, exatamente como a criana frequentadora de livrarias, ter uma viso representativa do que a cultura da escrita lhe reserva de interessante. O contato com esses livros, e ainda mais o uso frequente dos acervos em sala de aula, propiciar s crianas uma experincia cultural nica a de explorar, com a mediao do professor, mas tambm por conta prpria, o mundo dos livros, em sua diversidade temtica, de gnero, de linguagem, de apresentao grfica etc.; com seus autores de diferentes pocas, pases e regies; com a interveno fundamental dos tradutores, que aproximam pocas e culturas distantes; com os ilustradores, que nos ajudam a imaginar, a entender e, at mesmo, a descobrir o mundo que a letra nos desenha; com os editores, que tornam os livros produtos culturais bem acabados e atraentes, capazes de despertar o nosso desejo e o nosso reconhecimento. Diante desse mundo a desbravar e habitar, o aluno logo se perceber um convidado especial: um leitor disputado, e at paparicado, como um hspede muito bem vindo. Assim, quase impossvel que ele no encontre um autor, um texto, uma ilustrao, um projeto grfico que despertem a sua ateno e... o conquistem para o jogo da leitura. No tardar, portanto, que ele encontre, entre os livros, o seu lugar ao sol ou luz de um abajur, num cantinho aconchegante qualquer. Afinal, ningum se forma como leitor se no interagir, pelo convvio e pela leitura, com os agentes do livro. Entre outras coisas, isso quer dizer que o uso dos acervos sua manipulao direta, oportuna e constante pela criana proporcionam s escolas um acesso privilegiado cultura da escrita, constituindo-se numa ferramenta poderosa no processo de letramento infantil. No por acaso, muitas pesquisas tm demonstrado que, ao contrrio das crianas de camadas populares, as de classe mdia e alta chegam escola j familiarizadas com o mundo da escrita, exatamente porque, em seus ambientes domsticos, os livros e a cultura letrada esto cotidianamente presentes. E esse letramento inicial tem se mostrado determinante para o sucesso escolar. Pois bem: os acervos, devidamente animados pela sua ao como professor(a), podem fazer toda10

a diferena, colaborando, de forma decisiva, para diminuir a defasagem com que a criana das camadas populares entra na escola. Ser preciso lembrar, professor, o que isso pode significar, do ponto de vista da incluso e da justia social que tanto nos preocupam? Alm disso, em qualquer um dos cinco diferentes acervos disponveis, h sempre, entre os livros da rea de Linguagens e cdigos, alguns que podem prestar excelentes servios para a reflexo que o aluno deve fazer sobre a escrita, no processo de aquisio do sistema alfabtico. Na Parte 3 desta publicao, voc poder conferir as resenhas que descrevem o acervo, e identificar facilmente essas obras. So livros de palavras, por assim dizer, que trazem, em ordem alfabtica, listas de palavras seguidas de suas respectivas ilustraes e, algumas vezes, tambm de outras palavras da mesma famlia, permitindo comparaes sistemticas entre os aspectos sonoros, grficos e semnticos, responsveis pelas semelhanas e diferenas que se estabelecem entre elas. Com a sua decisiva atuao, e em uso articulado s colees didticas, esses livros podero ajudar o aluno a inferir as correspondncias entre fonemas e grafemas prprias do nosso sistema de escrita. Mas os acervos ainda proporcionam a alunos e professores outros recursos. Como j dissemos, todos esses livros tm interesse didticopedaggico, na medida em que abordam contedos curriculares. Mas o tratamento que do a esses contedos combina o rigor conceitual com a curiosidade infantil, o jogo e, muitas vezes, a fico, permitindo ao aluno um acesso ldico e interdisciplinar ao objeto de ensino-aprendizagem em questo. Qualquer dos temas abordados pode ser explorado em diferentes momentos do ensino-aprendizagem e do ponto de vista de mais de uma disciplina. Um livro que conta a histria do urso que queria ser pai pode se inserir, por exemplo, numa aula sobre como vivem certos mamferos; ou numa atividade sobre a organizao da famlia humana e as funes paternas; ou numa aula de leitura e discusso de histrias ficcionais e suas caractersticas; ou... E uma vez trilhados esses variados caminhos, at mesmo os contedos disciplinarmente organizados dos livros didticos podem se beneficiar das perspectivas que se abrem, permitindo ao aluno estabelecer relaes pessoais com o conhecimento que deem sentido a sua aprendizagem.

RefernciaLus Carlos Cagliari. O essencial para saber ler e escrever no processo inicial de alfabetizao. In: Boletim do Salto para o Futuro. Um mundo de letras: prticas de leitura e escrita. (3): 11-25. Braslia, Ministrio da Educao, 2007.11

PARTE 2

O acesso ao conhecimento escolar e seus muitos caminhos preciso ensinar Cincias nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental? E Geografia, Histria, Arte, Matemtica, Lngua Portuguesa? Para que ensinar tudo isso a uma criana que acaba de entrar para a escola?

IntroduoSe perguntarmos s crianas o que elas querem saber, ou mesmo se prestarmos ateno s perguntas que elas nos fazem, veremos o quanto elas so ousadas, curiosas, perspicazes. Elas querem saber sobre o universo, as estrelas, os cometas, o mar, os rios, a Terra, os diferentes pases, os animais, o comportamento humano, enfim, tudo objeto de investigao das crianas. Das perguntas mais simples s mais complexas... Alm de curiosas, as crianas tambm vivenciam experincias fora da escola, que as levam a realizar atividades diferenciadas no interior de suas famlias: ajudar a cuidar de outras crianas, fazer compras no bairro, plantar, ajudar no cuidado da casa, cuidar de animais. Alm disso, elas assistem televiso, convivem com a tecnologia, ou seja, participam ativamente de diferentes atividades que exigem da criana a construo de certos conceitos matemticos, desenvolvimento da linguagem, transformao da noo de tempo e espao e, ainda, a percepo de fenmenos de transformao da natureza. Esses saberes so fundamentais para a sua aprendizagem escolar, porque toda construo de conhecimento cientfico se apoia numa transposio das observaes da vida cotidiana. Ento, abarcar uma diversidade de temas na escola significa, antes de tudo, atender ao desejo de saber que as crianas tm e ampliar as noes que constroem em suas12

experincias de vida. As perguntas que elas fazem so perguntas vivas, que interrogam sobre a existncia, a vivncia do homem. Elas no sabem de onde as respostas vm e nem se interessam por saber se aquele um contedo de Histria, Geografia, Cincias ou qualquer outro componente curricular. Na verdade, so perguntas para as quais buscam respostas tambm os cientistas dos diferentes campos do saber. Desse modo, se estamos, por um lado, propondo que temticas diversas sejam tratadas, no estamos sugerindo que o tempo escolar seja dividido por rea de conhecimento. Queremos, sim, que as temticas possam ser apresentadas do modo mais integrado possvel, em uma abordagem interdisciplinar. Mas, podemos perguntar: o que fazer para que o ensino seja interdisciplinar e, ao mesmo tempo, possibilite reflexes relativas s vrias reas do conhecimento? preciso um esforo coletivo para aprender a organizar os tempos na escola de outras maneiras, estabelecendo prioridades que atendam s crianas e a suas necessidades. S garantimos a interdisciplinaridade quando partimos daquilo que importante para a vida da criana. Para sabermos o que importante, precisamos conhecer as experincias acumuladas em sua vivncia cotidiana, com base na qual compreenderemos os diversos processos de socializao que experimentam em suas vidas. Alguns aspectos dessa socializao precisam ser considerados pela escola, pois podem influenciar na formao de valores, modos de agir e pensar e se situar no mundo.

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Assim, preciso refletir sobre a histria da construo do conhecimento em cada rea para, a partir dessa reflexo, propor dilogos entre os diferentes saberes. Esse dilogo pautado pelo interesse em ajudar as crianas a formularem conceitos, a desenvolverem habilidades relevantes ao conhecimento e sua constituio como sujeitos de suas histrias. O conceito de letramento, que remete aos usos da escrita na sociedade, vem sendo desenvolvido, nas ltimas dcadas, como uma das possibilidades de entendermos esse sujeito que aprende e que convive socialmente. um conceito que est sendo mobilizado por tericos dos diversos campos do saber escolar, para compreender como o contato com os diferentes textos que circulam na sociedade favorece o desenvolvimento de habilidades diversas e a aprendizagem de conhecimentos tambm diversos. Em uma sociedade como a nossa, em que a escrita est presente de modo intenso em diferentes esferas de interlocuo, imprescindvel ver a escola como espao de ampliao das possibilidades de lidar com a escrita. Desse modo, cabe a ns, que recebemos as crianas nos primeiros anos de escolaridade, propiciar que elas participem das situaes discursivas mediadas pela escrita. Os conhecimentos acumulados por pesquisadores e educadores em geral podem ser mobilizados para se proporem aes integradas, que incluam os grandes temas mobilizadores da humanidade e fundamentais para a participao das crianas em outros espaos da sociedade, por meio da oralidade e da escrita durante o processo de escolarizao. Do mesmo modo que a escrita, a oralidade deve ser reconhecida como modalidade de diversos usos. Em uma sociedade em que a escrita to fortemente valorizada, corremos o risco de no percebermos o quanto necessrio ampliar nossas habilidades para falar em diferentes situaes formais e informais. Ao longo da histria, a oralidade sempre desempenhou papel importantssimo em todas as reas do conhecimento. Considerando, portanto, a importncia de ajudarmos as crianas a desenvolverem, desde a sua entrada na escola, algumas habilidades fundamentais para sua insero social, propomos que sejam promovidas muitas e variadas situaes orais e escritas em que os estudantes possam refletir sobre os conhecimentos e construir saberes. Tais domnios so necessrios para que as crianas possam ampliar as suas experincias culturais e desenvolver habilidades de refletir, avaliar, argumentar, formular e testar hipteses fundamentais para eles se constiturem como sujeitos autnomos. E que aprendam com segurana, mas ousando, sem medo de cometer erros. Portanto, aceitando desafios. Nessa mesma direo, recomendamos um ensino em que temticas importantes para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos eticamente comprometidos com uma sociedade melhor sejam contempladas.14

Com esse esprito, sabendo da importncia de garantirmos que os conhecimentos gerados por estudiosos das diferentes reas de conhecimento faam parte do acervo de saberes dos estudantes, propomos que o trabalho voltado para o desenvolvimento de habilidades e atitudes fundamentais que perpassam todas as reas seja priorizado, sempre de forma ldica e criativa nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Com essa finalidade, apresentaremos algumas contribuies de cada componente curricular para pensar esse ensino de forma mais engajada e participativa. Em cada tpico do texto apresentado a seguir, ser apontada a importncia de uma rea de conhecimento para o processo de escolarizao e para a insero social das crianas. Essa discusso inicial, em cada tpico, seguida de uma exposio de alguns princpios relativos ao currculo dos anos iniciais do Ensino Fundamental, referentes ao componente curricular enfocado e, por fim, ser tratada a importncia da diversificao dos recursos didticos para um ensino contextualizado, dinmico e significativo. Em cada tpico, sero apresentados, de modo abreviado, os temas contemplados nos acervos de obras complementares e suas contribuies para o trabalho docente. Como veremos adiante, os livros aprovados para compor os acervos so variados quanto s temticas, ao tamanho dos textos, ao nvel de complexidade com que as temticas so tratadas e aos gneros discursivos. A seleo dos livros se orientou por um critrio de relevncia para a aprendizagem de conceitos fundamentais que compem o currculo dos anos iniciais do Ensino Fundamental e, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento de atitudes e habilidades imprescindveis para a participao ativa das crianas na sociedade. Dentre essas habilidades, destacamos o desenvolvimento de estratgias de leitura, que garantem a formao de alunos leitores nas escolas. Diversificar os acervos de obras complementares foi uma das formas que encontramos para contemplar o desenvolvimento de variadas estratgias leitoras, adequadas aos tipos de material textual. Por exemplo, os textos instrucionais (que ensinam a realizar aes, como as receitas culinrias, as instrues para montagem de brinquedos, instrues para desenhar e construir objetos, instrues para realizar experimentos) podem ser usados em situaes reais, estimulando as crianas a voltar ao texto a cada etapa da execuo das atividades. Esses textos, via de regra, ajudam a criana a familiarizar-se com a linguagem prtica, com uso de verbos no imperativo ou infinitivo, organizados segundo uma ordem cronolgica de descrio de aes. Com base nos livros cujos textos se caracterizam como instrucionais, pode-se estimular as crianas a escrever outros textos do mesmo gnero, como livros de receita ou manuais de instrues de montagem de brinquedos. Tais atividades, com certeza, envolvem conhecimentos oriundos de Matemtica e de Cincias. Dependendo do modo como so conduzidas, podem auxiliar15

o trabalho na rea de Geografia ou Histria, se, por exemplo, propusermos a produo de um livro de brincadeiras presentes em diferentes pases ou momentos histricos. Os textos narrativos, em que so relatados acontecimentos em torno de determinadas temticas, podem ser muito importantes para a familiarizao com os recursos que garantem a cronologia dos fatos, na passagem do tempo, tpica da narrao. Os relatos, as biografias e os contos, que esto presentes nos acervos, podem ser usados em atividades nas quais se pede s crianas que produzam outras histrias, biografias e relatos com temticas similares. Na leitura, podem-se explorar as aes dos personagens, as relaes de causa e efeito, antecedncia e consequncia, a ordem em que os fatos acontecem. Nas biografias, podem ser promovidas muitas reflexes sobre as relaes entre a vida da pessoa biografada e o contexto em que a histria aconteceu, com comparaes com outras biografias de pessoas que viveram na mesma poca. As obras de arte tambm podem ser exploradas em atividades de leitura e escrita de biografias de artistas.16

Os textos de carter mais expositivo, mais didtico, tambm so importantssimos, pois os estudantes precisam aprender a lidar com o tipo de linguagem presente na esfera escolar/acadmica. O estranhamento em relao a essa espcie de texto que muitas crianas sentem, quando avanam na escolaridade, decorre, frequentemente, da falta de familiaridade com sequncias expositivas. A comparao entre as informaes trazidas na obra e essas mesmas informaes em outros suportes textuais (outros livros, internet, jornal, o prprio livro didtico) muito importante para que as crianas aprendam a estabelecer relaes entre textos, como reconhecer um contedo comum a textos de tipos ou gneros diferentes, a localizar informaes, a parafrasear (dizer algo de outro modo). Assim, o desenvolvimento de projetos didticos motivados por temticas tratadas nas obras complementares pode ajudar as crianas a ler e a desenvolver curiosidade cientfica, nas diferentes reas do saber. Por fim, todas as obras podem auxiliar as crianas a desenvolver habilidades de estabelecer relaes entre textos verbais e imagens, ou seja, usar as ilustraes e fotos, dentre outros recursos, para apreender os sentidos dos textos. H, ainda, entre as obras, contribuies para a leitura de textos no verbais, j que algumas narrativas so contadas apenas por imagens. Faremos, a seguir, um passeio pelos diferentes componentes curriculares, de modo que poderemos, ao final, perceber os pontos de encontro entre as temticas e habilidades priorizadas em todos os campos do saber, que vm contemplados nas obras complementares para os anos iniciais do Ensino Fundamental.

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r ea

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Cincias

Ensinar Cincias nos anos iniciais do Ensino FundamentalUma pergunta que deve ser continuamente formulada por professores, coordenadores, autores e demais agentes envolvidos com a formao inicial de estudantes refere-se importncia de ensinar e aprender Cincias.

H, para esse questionamento, uma resposta que, normalmente, mencionada: vivemos em uma sociedade cada vez mais tecnicista e impregnada de produtos da Cincia e da Tecnologia. Apesar da veracidade dessa afirmao, no devemos basear nossos programas didticos e nossa atuao pedaggica em uma perspectiva apenas de encantamento com as conquistas e inovaes propiciadas pela tecnologia. Nas ltimas dcadas, as concepes a respeito do ensino de Cincias passaram por profundas modificaes, e essas mudanas tm permitido aproximar a Cincia do dia a dia do aluno, ou seja, de seu mundo real, tornando-a cada vez mais presente e concreta. O Ensino de Cincia e Tecnologia (C&T) tende a considerar a relao da C&T com a Sociedade e leva em conta o impacto atual da Cincia na tecnologia, desta na indstria, na sade, na natureza e, de modo geral, na qualidade de vida.18

Envolve uma viso interdisciplinar, que representa uma superao do compartimento do conhecimento entre reas distintas. Mas, sobretudo, o ensino de Cincias deve buscar a formao de cidados aptos a responder aos questionamentos que o mundo atual nos coloca.

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Objetivos e habilidades prioritrios para o ensino de CinciasPodemos compreender que o ensino de Cincias, nos primeiros anos do Ensino Fundamental, deve servir formao de pessoas que possam participar e usufruir das oportunidades, das responsabilidades e dos desafios inerentes a uma sociedade na qual a influncia da C&T se faz, cada vez mais, presente. No Ensino Fundamental, deve-se construir uma base slida de noes, ideias, habilidades, conceitos e princpios cientficos, garantindo que o aluno se familiarize com o mundo natural, reconhea sua diversidade e sua unidade e possa identificar e analisar processos tecnolgicos implementados pela humanidade, nesse mundo natural. Tais fundamentos favorecem a tomada de decises, por parte dos alunos, que sejam subsidiadas em informaes e anlises bem fundamentadas, afetando favoravelmente suas vidas e organizando um conjunto de valores, mediado pela conscincia da importncia de seu prprio aperfeioamento e aperfeioamento das relaes sociais e socioambientais. A formao de cidados com esse perfil pressupe o desenvolvimento de algumas competncias, entre as quais: compreender e respeitar as dinmicas dos ambientes naturais; construir representaes simblicas sobre a natureza e seus fenmenos; estabelecer relaes e conexes argumentativas que sustentem decises baseadas em princpios e conceitos; utilizar os conhecimentos escolares para se posicionar e participar das transformaes socioculturais; expressar-se e comunicar-se utilizando diferentes linguagens para expor seus julgamentos de valor; conviver no ambiente escolar respeitando direitos, deveres e oportunidades inerentes a uma sociedade pluralista; reconhecer a sade como um bem individual e coletivo.

Composio e utilidade do acervo de CinciasPara o ensino-aprendizagem de Cincias de modo criativo e dinmico, podemos lanar mo de recursos que possam atrair as crianas e favorecer um processo reflexivo de aprendizagem, na perspectiva da problematizao e participao coletiva. Materiais de baixo custo para montar objetos e realizar experimentos so sempre muito teis na sala de aula. A organizao de atividades fora da escola para observar19

relaes entre plantas e animais, com atividades de registro, tambm so importantes. No entanto no se pode esquecer que os livros continuam sendo poderosos aliados no ensino de diferentes temticas. Por isso, foram montados os acervos de obras complementares, que ajudaro as crianas a entrar em contato com noes de modo ldico e significativo. Essa seleo de livros visa disponibilizar obras que possibilitem ampliar o universo de seus conhecimentos e gerar oportunidades para o processo de alfabetizao cientfica de alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Com base nessas consideraes e no intuito de garantir um acervo variado e potencialmente relevante, selecionamos um conjunto de obras que contemplam seis eixos temticos: 1. Ciclo de vida e sentidos De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais, o desenvolvimento das noes sobre meio ambiente, ciclo de vida e corpo humano possibilita maior compreenso da criana sobre o mundo que a cerca e sobre si mesma. Espera-se que essa aproximao se d a partir de procedimentos de observao, comparao, busca e registro de informaes e em um ambiente que possibilite o desenvolvimento de atitudes responsveis para consigo, com o outro e com o ambiente. 2. Animais mamferos terrestres No primeiro ciclo do Ensino Fundamental, espera-se que os alunos possam desenvolver uma noo a respeito da diversidade de seres vivos e sua importncia para os ambientes naturais. Da mesma forma, os alunos devem desenvolver critrios que possibilitem agrupar e distinguir grupos de seres vivos a partir da observao e da comparao das caractersticas desses seres vivos. O tema Mamferos particularmente importante por aproximar conceitualmente o aluno desse grupo, possibilitando que reconhea em si as caractersticas que o incluem nesse grupo. 3. Outros animais vertebrados Em relao a esse eixo temtico, espera-se que os alunos do primeiro ciclo do Ensino Fundamental possam perceber semelhanas e diferenas entre animais, valorizando-os e refletindo sobre as relaes entre eles. 4. Corpo humano Os primeiros anos de vida escolar so particularmente importantes em relao ao desenvolvimento de noes bsicas de sade e cuidados com o corpo. O professor tem em mos um excelente material para trabalhar a observao de partes do corpo; ensinar a identificar seus20

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pormenores e a importncia que tm para a sobrevivncia e expresso humana; mostrar a ao nomeadora dos homens e apreciar as imagens. No processo de alfabetizao cientfica importante a leitura de imagens, pois envolve percepo de cores, dimenses, formas; abstraes e generalizaes (discriminao, comparao); inferncia (deduo, concluso); auto-anlise e imaginao. Assim, o professor poder lidar com tonalidades, nuances, harmonias e contrastes; tambm com diferentes sentidos na leitura de imagens e leitura de palavras; e lembrar a relevncia da compreenso de ser possvel representar ideias, atravs de sistemas diferentes. As obras tambm podem auxiliar o desenvolvimento intelectual da criana para que entenda a escrita como um sistema que representa diferentes realidades e auxilia a memria, alm de expressar sentimentos e transmitir ideias. 5. Meio ambiente Espera-se que, ao longo dos anos iniciais do Ensino Fundamental, os alunos se apropriem de noes e ideias que permitam o desenvolvimento de uma postura de respeito em relao ao meio ambiente. Nesse sentido, imprescindvel que realizem a interpretao de informaes por intermdio do estabelecimento de relaes, semelhanas e diferenas e de sequncias de fatos e promovam a comparao de diferentes ambientes naturais e construdos; investiguem caractersticas comuns e diferentes, para verificar que todos os ambientes apresentam seres vivos, gua, luz, calor, solo e outros componentes e fatos que se apresentam de modo distinto em cada ambiente. Essas obras apresentam diferentes tpicos: sucesso ecolgica; desconstruo de conceitos equivocados produzidos pelo senso comum; formalizao conceitual; relaes ecolgicas estabelecidas entre os organismos vivos e entre estes e o ambiente; ciclo de vida como caracterstica integradora dos seres vivos; medidas profilticas relacionadas ao controle de parasitoses; diferenciao dos papis de agente causador e transmissor de parasitoses. Elas oferecem inmeras situaes de interveno pelo professor, que podem aprofundar, na medida do interesse das crianas, os contedos apresentados nas obras.21

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6. Relaes entre seres vivos A compreenso das dinmicas relaes entre os seres vivos na natureza, que compem um elemento importante na formao do estudante, tambm foi um tema priorizado. De acordo com os PCNs, a comparao dos modos com que diferentes seres vivos, no espao e no tempo, realizam as funes de alimentao, sustentao, locomoo e reproduo, em relao s condies do ambiente em que vivem. (...) E a interpretao das informaes por intermdio do estabelecimento de relaes, de semelhanas e diferenas e de sequncias de fatos (Brasil, 1997, p.50) tornam possvel compreender a natureza em suas dinmicas e complexidade, favorecendo noes de respeito dos estudantes em relao ao mundo natural e contribuindo para a conservao dos recursos naturais. A escolha desses temas e das obras tambm foi influenciada pela diversidade e qualidade das obras que foram inscritas no PNLD 2010 Obras Complementares.

Para a composio dos acervos, buscamos tambm considerar aspectos importantes para a alfabetizao cientfica. Desse modo, exclumos as obras que do um tratamento mstico ou fantasioso aos fenmenos naturais, as que atribuem aos animais caractersticas humanas nas imagens e nos comportamentos e as que abordam os fenmenos naturais baseadas em suposies do senso comum. Assim, os livros selecionados oferecem, de fato, contribuies para um trabalho pedaggico consistente e correto. So produes que, pela beleza e pela qualidade do texto, estimularo o uso autnomo desse recurso. Algumas dessas obras tratam os temas de modo mais direto, evidenciando densidade de informaes e questes para serem discutidas. Outras obras no tm a inteno direta de ensinar um contedo e sim a de estimular a busca de conhecimento. Essas obras podem ser recomendadas para o trabalho em sala de aula, pois oferecem possibilidades de atividades diferenciadas nas duas dimenses - potica e cientfica, podendo ser usadas na busca de informaes diversas. Pode tambm ser estimulada a construo de personagens com as suas caractersticas e hbitos. Em Cincias, as obras podem atuar como apoio e exemplo de classificao dos animais, seu habitat, hbitos e caractersticas. possvel trabalhar a interdisciplinaridade, cruzando informaes sobre as reas geogrficas onde vivem, e a intertextualidade, buscando textos literrios onde esses animais sejam protagonistas. H tambm a perspectiva de conservao e extino das espcies, visto que elas esto ameaadas, aes resultantes da conscientizao da populao, aqui representada22

pelo aluno. Em Portugus, pode-se trabalhar com nomes dos animais, expanso de vocabulrio (cruzadinhas, textos lacunados, caa palavras) e uso de rimas. Essas obras, diretamente nas mos das crianas, contribuiro para a sua alfabetizao cientfica, de uma maneira agradvel e responsvel.

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RefernciaBrasil. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros curriculares nacionais: introduo aos parmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educao Fundamental. Braslia: MEC/SEF, 1997. 126p.23

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Matemtica

A Matemtica nos primeiros anos de escolarizaoDesde os primeiros anos de vida, a criana tem acesso a conhecimentos matemticos em seu meio social. A contagem de brinquedos; desenhos (representao) do espao e de objetos que o cercam; localizao de objetos a partir da posio de outro (referente); comparao de massas em gangorras; classificao de seus brinquedos ao guard-los so algumas das habilidades matemticas comuns s prticas sociais que vo sendo, pouco a pouco, desenvolvidas. Num processo contnuo de desenvolvimento, escola cabe valorizar os conhecimentos prvios da criana e ir desenvolvendo-os. Nos anos iniciais de escolarizao, a escola assume o papel de introduzir a criana em outra instituio, diferente da famlia, e fazer o elo entre a sua cultura e a cultura escolar. Nesse contexto, os conhecimentos sociais e extraescolares assumem, portanto, papel importante. A abordagem da Matemtica, nessa fase de escolarizao, precisa valorizar, portanto, de forma articulada, a construo do conhecimento matemtico, as brincadeiras infantis, os jogos, as experimentaes, as histrias infantis, para permitir uma introduo da criana ao pensar matemtico, com motivao e sem rupturas. Valorizar a intuio, a percepo, a observao no aprendizado da Matemtica no significa deixar de lado o ensino e a aprendizagem com correo conceitual; pelo24

contrrio, significa prover os alunos com situaes que lhes permitam iniciar o desenvolvimento dos conhecimentos matemticos, sem formalizaes nem definies precoces. Portanto, a escolha de contextos, de exemplos, de procedimentos essencial na formao matemtica.

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Conhecimento matemtico nos anos iniciais do Ensino FundamentalOferecer um conjunto de conceitos, procedimentos, competncias e habilidades matemticas para serem desenvolvidas nos anos iniciais de Ensino Fundamental sempre uma tarefa difcil. Por isso, adverte-se que essa relao deve ser adaptada em funo de cada contexto socioeducacional. A Matemtica produz modelos de diversas situaes, incluindo as das prticas sociais e de outras reas dos conhecimentos. recomendvel que o aluno desenvolva as competncias de identificar as relaes e conceitos matemticos presentes nessas situaes; usar o raciocnio matemtico para a compreenso do mundo que o cerca; avaliar se os resultados obtidos na soluo de situaes-problema so adequados ou no. A Matemtica escolar tem sido dividida em campos, que devem ser articulados. Os nmeros so importantes na contagem, nas operaes, mas tambm para o estudo das medidas, por exemplo. No campo do tratamento da informao, importante que o aluno seja desafiado a organizar e classificar dados a partir de critrios. Nesse campo, so cada vez mais relevantes questes relativas a dados da realidade fsica ou social, que precisam ser coletados, selecionados, organizados, apresentados e interpretados. O tratamento inicial com as combinaes e possibilidades elemento inicial ao estudo da combinatria e da probabilidade. As grandezas e medidas esto presentes nas atividades humanas, desde as brincadeiras infantis at o trabalho com grandezas mais complexas, como a velocidade. O uso de unidades no convencionais para medir, como palitos para comprimento e almofadas para rea, importante para introduzir a criana nos conceitos de grandezas e medidas. A estimativa de medidas tambm uma competncia que pode ser iniciada nessa fase de escolaridade.25

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Convm lembrar a necessidade de prover os alunos com situaes que do significado aos nmeros e s operaes. Usar conhecimentos de nmeros em situaes do mundo atual requer capacidade de contar colees, comparar e quantificar grandezas e realizar codificaes. As situaes reais exigem tambm o uso de operaes bsicas, as quais, em seus contextos, assumem diferentes significados. importante que essas situaes sejam exploradas de forma a permitir que o aluno desenvolva estratgias de clculo prprias. O pensamento geomtrico surge da interao espacial com os objetos e movimentos no mundo fsico e desenvolve-se por meio das competncias de localizao, visualizao, representao e construo de figuras. A localizao no espao por meio da representao da criana no espao em que vive, de mapas e plantas e o trato com as posies e direes relativas se iniciam nessa fase de escolaridade. Os desenhos, as construes das crianas vo revelando a apropriao delas sobre as figuras, sobre a proporcionalidade e sobre a passagem entre representaes tridimensionais e bidimensionais.

Os recursos didticos para a aprendizagem da MatemticaO uso de recursos didticos oferece contextos em que conceitos e procedimentos matemticos podem ser explorados. Alguns dos recursos, como os materiais didticos de manipulao, oferecem concretizaes que permitem o aluno realizar, na realidade, os procedimentos matemticos. Por exemplo, o material dourado tem sido muito utilizado para auxiliar a criana a entender, no registro numrico, a ideia dos agrupamentos (base 10) e trocas. Outros recursos didticos so utilizados para promover situaes de aprendizagem para a Matemtica. Os jogos, brinquedos infantis e populares trazem, para o ensino da Matemtica, a possibilidade de explorar conhecimentos matemticos em contextos prprios do mundo infantil. Os acervos de obras complementares constituem-se de livros de histrias infantis, que atribuem significados a conceitos matemticos; coletneas de proposio de uso de materiais didticos, experimentos, brincadeiras, lendas e parlendas. O seu uso pode auxiliar a criar situaes em que a criana seja chamada a intervir, dar opinies, antecipar o que acha que vai acontecer, assim como utilizar sua criatividade, propondo novos finais para as histrias e recriando-as. Posterior explorao da leitura de uma histria infantil, a obra pode ser aproveitada para o aluno identificar conceitos e discutir sobre procedimentos matemticos. A seleo das obras complementares buscou contemplar diferentes campos da Matemtica escolar, principalmente, aqueles com contedos, significados ou abordagens26

pouco comuns nos livros didticos. Poucas obras complementares contemplam Tratamento da Informao, por ser um campo ainda recente na matemtica escolar. O tratamento dos dados para a tomada de decises foi contemplado em uma histria infantil. Aps ler a histria, voc, professor, ter inspiraes para selecionar situaes do cotidiano escolar em que escolha e deciso dependam da coleta, organizao e tratamento de dados. Com os livros de experimentos, voc ter a oportunidade de propor a organizao dos resultados dos experimentos em tabelas e grficos para uma melhor observao dos resultados. Os livros relacionados s grandezas e medidas valorizam uma abordagem intuitiva desse campo. As obras vo permitir que o aluno perceba a importncia do referencial. Saber que o grande pode ser pequeno, dependendo do referencial. Uma criana de sete anos se acha grande (alta) perante uma de quatro anos, no entanto se acha pequena (baixa) quando comparada com seus pais. Permitir, ainda, trazer tona o carter absoluto das grandezas; a altura de uma pessoa, por exemplo, no depende de comparaes, porm, quando se usam diferentes unidades de medida, o nmero obtido diferente. A comparao de grandezas sem precisar dos aspectos quantitativos, das medidas traz abordagens intuitivas de grandezas pouco exploradas, como feitos nos experimentos com temperatura (quantidade de calor de um corpo). As histrias tambm incentivam os alunos a procurar solues de medir diferentes grandezas com o uso de unidades de medida no convencionais. Voc, professor, poder propor situaes similares em que os alunos busquem solues prprias, adotando uma grandeza como unidade, tal como a rea de um caderno para medir e comparar rea do tampo de duas mesinhas. A leitura das histrias traz, para o professor e o aluno, contextos em que os nmeros aparecem em seus diferentes significados. Usam-se os nmeros para contar objetos, para medir rea, tempo, massa (peso), ordenar fatos e codificar. So empregados contextos naturais, como histrias infantis, cantigas, parlendas, experimentos e receitas. A ordenao crescente e decrescente tambm aparece com diferentes significados nas obras. O sistema de numerao decimal contemplado e esto includas obras com situaes em que as operaes adquirem sentido. O pensamento geomtrico surge da interao espacial com os objetos e os movimentos no mundo fsico e desenvolve-se por meio das competncias de localizao, visualizao, representao e construo de figuras. Dentre as obras selecionadas, voc, professor, ter a oportunidade de oferecer s crianas histrias em que elas podem observar figuras planas. Aps a leitura, voc poder promover situaes para a criana observar as figuras nas superfcies dos objetos do mundo fsico, alm de criar novas

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histrias e produes artsticas com as figuras. Deixar a criana cortar em papel as figuras planas auxilia voc a entender como a criana est percebendo cada figura. Algumas obras trazem construes de figuras geomtricas por mosaicos de figuras, dobraduras e construo de brinquedos. importante, alm de deixar a criana gerar suas estratgias de obteno das figuras, discutir algumas caractersticas das figuras. Alguns dos livros selecionados contm imagens que permitem uma discusso bastante rica do tema de localizao, enfocando as posies relativas; outros propiciam a discusso da representao plana de objetos, e de como eles so vistos em relao distncia em que esto do observador. Pode-se, tambm, buscar a variao dos tipos de textos. Na seleo feita no domnio da Matemtica, encontram-se histrias infantis; coletneas de experimentos, textos do folclore, receitas, dobraduras e construes de brinquedos; e livros de imagens. Vrios textos so histrias infantis, em que os contedos matemticos so acompanhados de ilustraes relevantes. As histrias possibilitam que a criana se envolva com a Matemtica, ao mesmo tempo em que l, ouve ou a acompanha. Uma atividade interessante com esse tipo de livro a criao de histrias motivadas pela histria contada. O zero na contagem

regressiva pode motivar o professor a incentivar os alunos a criarem histrias em que os fatos so organizados de forma a se chegar a um ponto inicial de um processo. As coletneas, diferentemente dos livros de histrias, so livros para voc, professor, ou mesmo para os seus alunos selecionarem uma imagem, uma receita, uma parlenda, uma cantiga, um experimento, um brinquedo, uma dobradura para serem trabalhados em sala. Nesse caso, uma boa explorao dos contedos matemticos depende fortemente de seu planejamento, da preparao antecipada do material necessrio. No se invalida, porm, que os alunos tambm folheiem esse tipo de livro e o leiam, e mesmo participem da preparao do material que vai ser utilizado. Mas, ateno! Voc deve ter cuidado com a segurana da criana na realizao de experimentos! As obras propiciam, tambm, o desenvolvimento de outros aspectos que vm sendo defendidos na abordagem da matemtica para os anos iniciais. Os conceitos relevantes para a formao matemtica devem ter abordagem intuitiva desde o incio da formao escolar. Tal ponto de vista apoia-se na concepo de que a construo de um conceito processa-se no decorrer de um longo perodo, de estgios mais intuitivos aos mais formais. No tratamento dos contedos, muito importante que voc, professor, respeite o processo de cada criana, com o objetivo que a mesma tenha um primeiro contato com tais noes sem desestimular a aprendizagem. O que no significa deixar de tratar os conceitos com preciso. necessrio, de fato, no exigir a preciso e o formalismo por parte da criana. Com o objetivo de favorecer a atribuio de significados aos contedos matemticos, mais dois princpios assumiram particular destaque na seleo das obras: o da contextualizao e o da interdisciplinaridade. nesse sentido que muitas das obras, tanto as selecionadas no campo da Matemtica, como as de outras reas, trazem situaes que articulam naturalmente os conceitos e procedimentos matemticos com o conhecimento de outras reas. As representaes do espao podem ser abordadas em obras que defendem a preservao da natureza e exploram a biodiversidade; as grandezas e suas medidas, principalmente fsicas, podem ser estudadas em articulao com os conceitos da rea de Cincias; a Geometria, em articulao com as grandezas geomtricas, surge naturalmente na construo de objetos artsticos e da cultura infantil; os nmeros e seus significados so bem articulados com cantigas e parlendas. Sem falarmos da articulao natural da Matemtica com a Arte e com a Lngua Portuguesa propiciada por esse tipo de material. Outro rumo de reflexo o que indaga sobre o papel do ensino da Matemtica na formao do cidado. As obras complementares trazem bons questionamentos, que estimulam o respeito variedade de pontos de vista e a considerao dos contextos em jogo, com suas muitas facetas.29

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Histria

Ensinar histria nos anos iniciais do Ensino FundamentalQuantas vezes pronunciamos histria em um dia? No nosso cotidiano, empregamos a palavra histria com vrios sentidos, mas dois se sobressaem. O primeiro vida. Evidentemente, no vida biolgica, pura e simples. Mas, vida no sentido social: pensar, agir e sentir. Temos conscincia de que estamos vivos quando constatamos que pensamos, tomamos decises e experimentamos sentimentos vrios, como a dor e o amor. Vida, nesse sentido, histria, e viver, consequentemente, construir histria. O segundo sentido que empregamos para a palavra histria conhecimento. Conhecimento sobre o qu? Sobre a prpria vida, ou melhor, conhecimento sobre uma parte da nossa vida, pois sabemos da impossibilidade de registrar e rememorar tudo o que pensamos, agimos ou sentimos durante toda a vida. Tente colocar agora tudo o que aconteceu na sua vida hoje numa folha de papel! Voc consegue? Se no podemos ou se no nos interessa todo o passado, observemos aquela parte que resistiu ao tempo. a parte acessada a partir de testemunhos, como uma carta, uma fotografia, uma fita de vdeo, produzidos e conservados por indivduos ou coletividades. esse o conhecimento de que tratamos aqui. Ele pode ganhar a forma de um relato, produzido e reproduzido por um corpo de profissionais e partilhado por30

todas as pessoas dentro e fora da escola. Nesse segundo sentido, portanto, a palavra histria pode ser entendida como um conhecimento sobre a nossa prpria vida, configurado em narrativa histrica, concebido dentro de regras da histria cincia ou da histria disciplina escolar. O conhecimento histrico importante para a formao das pessoas? claro, podemos responder. A prova dessa afirmao o fato de ns termos escrito este texto e de vocs estarem lendo-o agora. Mas isso, apenas, no justifica a existncia dele como disciplina escolar nos anos iniciais. Importante ter em mente que conhecer a experincia dos homens no tempo uma atitude fundamental para a formao de pessoas que se dispem a viver em sociedade, em regime democrtico, cultivando a solidariedade e a cidadania. Se importante para a formao do cidado, o que ensinar sobre a experincia humana no tempo? Ser que toda experincia histrica registrada pelos historiadores fundamental para a formao dos brasileiros? Como as crianas compreendem o passado? Houve um tempo em que se pensava a Histria estudada nas escolas primrias como a repetio abreviada dos livros de Histria do Brasil e de Histria Universal destinados aos adultos. Mas, com o avano da psicologia da aprendizagem e da didtica e a partir da institucionalizao da pesquisa sobre ensino de Histria, sabemos, hoje, que a Histria no um exerccio para fortalecer a memria das crianas e nem o estudo de Histria deve ser mediado exclusivamente por processos de memorizao. Sabemos tambm que, diferentemente dos adultos, as crianas compreendem o passado a partir de referncias do seu presente. Se, por exemplo, informarmos a uma criana que, nos tempos coloniais, as cartas demoravam trs meses para chegar a determinado local, no ser improvvel que o aluno conclua: os homens daquele tempo no eram espertos: era s ligar pelo celular e conseguiriam a informao na mesma hora. Se, do mesmo modo, quisermos informar que, no Brasil colonial, senhores brancos escravizavam pessoas negras, pode haver aluno que insista: por que os negros no chamavam a polcia? Assim, to importante quanto estudar conceitos, como colnia, escravismo e comunicao (e todos os valores e atitudes que eles suscitam liberdade e solidariedade) fundamental fazer com que a criana desenvolva, por exemplo, a noo de tempo cronolgico. Ela precisa vivenciar a durao e o ritmo de uma determinada ao at

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compreender a diferena entre trs sculos (os tempos coloniais) e trs meses (o tempo que o separa das prximas frias).

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Objetivos e habilidades prioritrias para a Histria nos anos iniciaisAnunciamos acima que a Histria fundamental para a formao de pessoas que se dispem a viver em sociedade, em regime democrtico, cultivando a solidariedade e a cidadania. Qual o fundamento dessa afirmao? Partimos da ideia de que o conhecimento histrico nos d a conhecer o nosso passado. Com ele, podemos construir nossas identidades sinto-me negro, considero-me descendente de japoneses, sou mulher e brasileira. Com ele, tambm confirmamos ou modificamos as nossas posies: sou contra o racismo porque sei o que significou a poltica de segregao na frica do Sul; penso que as mulheres devem continuar lutando pela manuteno do seu espao no mercado, pois, nos ltimos 20 anos, muitos homens receberam salrios mais altos para desempenharem as mesmas tarefas exercidas pelas trabalhadoras; as vagas nas universidades pblicas devem ser ampliadas para incluir parcela maior da sociedade brasileira porque, no sculo XIX, o ensino superior foi reservado s elites econmicas etc. Notaram que todas essas decises foram baseadas na experincia humana de outros espaos e tempos (do ocorrido no ano passado com a famlia do vizinho; no sculo passado, no Nordeste aucareiro; na semana passada, em Braslia, por exemplo)? Essas decises, sejam sobre as representaes que fazemos de ns e dos que nos cercam, sejam sobre os caminhos que queremos trilhar, individual e coletivamente, so mediadas por informaes fornecidas pelo conhecimento histrico, principalmente no interior da escola. Por isso a Histria relevante para o ensino das crianas. Ela interfere diretamente na formao das pessoas que enfrentaro questionamentos dessa natureza em algum momento das suas vidas. Mas, como transformar o conhecimento histrico em estratgia de formao e informao para os alunos dos anos iniciais? Que objetivos o ensino de Histria deve perseguir, finalmente, e que habilidades devem ser desenvolvidas? Os objetivos do ensino de Histria so delineados a partir dos princpios que baseiam a Constituio brasileira (igualdade, liberdade,

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solidariedade, tolerncia e valorizao da experincia escolar). Eles j ganham forma na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (dar a conhecer a realidade social e poltica, especialmente do Brasil, levando em conta as contribuies das diferentes culturas e etnias para a formao do povo brasileiro) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (desenvolver noes de responsabilidade, solidariedade, criticidade, criatividade, sensibilidade e de respeito ao bem comum, ordem democrtica e diversidade artstica e cultural). Mas , sobretudo, nos Parmetros Curriculares Nacionais que so delineados alguns dos principais objetivos gerais do ensino de Histria nos anos iniciais. Aqui acrescemos e sintetizamos tais objetivos no desenvolvimento de sete habilidades: Conhecer/construir conceitos de tempo, espao, passado, histria, fonte e interpretao, que viabilizam a compreenso dos atos, pensamentos e sentimentos dos homens atravs do tempo. Reconhecer/comparar/relacionar - semelhanas, diferenas, permanncias, transformaes, relaes sociais, culturais e econmicas e modos de vida; Fazer uso de instrumentos de busca, de fontes de informao e de ferramentas de veiculao da informao em diferentes gneros e suportes; Criticar (atribuir valor) aes individuais e coletivas de grande significado social.

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Recursos didticosSabemos at agora que o ensino de Histria nos anos iniciais deve contribuir para a formao das nossas identidades e para a tomada de decises. E isso se faz, durante os anos iniciais, promovendo o desenvolvimento de algumas habilidades que possibilitam a construo da realidade e o entendimento dos escritos dos historiadores. Mas como desenvolver tais habilidades? As respostas mais antigas atribuem ao professor, ou melhor, voz do professor a funo de desenvolver habilidades e de transmitir informaes. Com a profissionalizao do ofcio, entretanto, a ideia de dom ou de vocao inata perdeu prestgio e o mestre, hoje, sente-se livre para aprender a usar e abusar de todos os meios, atividades, tcnicas, linguagens, enfim, todos os recursos didticos que possibilitem o cumprimento dos objetivos do ensino de Histria. Essa variao de recursos justificada pela pesquisa acadmica e tambm pelos demais saberes docentes adquiridos no cotidiano. O professor no um sabe-tudo, que tem todo o tempo e dinheiro do mundo para acompanhar as atualizaes historiogrficas e as descobertas do campo da cognio. Para a formao contnua,33

h livros didticos e paradidticos, revistas, manuais, guias, dicionrios, romances, videodocumentrios e programas de televiso, por exemplo.

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Pensando no aluno, tambm a pesquisa acadmica e a experincia docente tm anunciado que a diversidade de estratgias, artefatos e ambientes salutar para a aprendizagem. A satisfao do aluno, o interesse, a autoexperimentao, o prazer da descoberta, o respeito aos conhecimentos prvios e s singularidades socioculturais dos alunos, por exemplo, so noes pedaggicas bastante conhecidas que estimulam e orientam o emprego de variados recursos didticos. Assim que a aprendizagem histrica deixa de ser, exclusivamente, a rotineira ao de ler, copiar, ouvir e responder para envolver as habilidades de conhecer, construir, reconhecer, comparar, relacionar, fazer uso e criticar. Isso nos leva ao emprego parcimonioso da preleo e a ampliao do estoque de estratgias que incluem a manipulao de fontes de gneros e suportes diferenciados (bilhetes, depoimento oral, certides de nascimento, carteiras de identidades, artigos de jornal e fotografias), o estmulo criatividade e criticidade (desenho, teatro, dana, narrativa histrica em quadrinhos), e o emprego de novas tecnologias da informao e da comunicao (a televiso, a internet, os jogos eletrnicos), por exemplo. Novas estratgias e recursos, contudo, no excluem o emprego dos livros escolares (didticos, literrios, biogrficos, de imagens, de palavras, atlas, dicionrios, dentre outros). A obra complementar, objeto dessa publicao, um impresso que visa aprofundar, enriquecer, atualizar conhecimentos relativos ao componente curricular Histria. Esse gnero didtico no tem a preocupao de transmitir contedos histricos de forma linear, um programa de estudos que valha para todo o ano, claro. Ele auxilia professores e alunos no desenvolvimento de determinada habilidade necessria compreenso histrica, sintetiza e difunde informao sobre novos temas historiogrficos e novas demandas da legislao escolar. O acervo de obras complementares est repleto de diversos tipos de livros que auxiliam o cumprimento dos ampliados objetivos do ensino de Histria para os anos iniciais. Com ele possvel desenvolver a noo de tempo a partir da experincia cotidiana das crianas fazendo uso das palavras antes, agora, depois, at chegar ideia de segundo, hora e calendrio. Os livros tambm possibilitam o exerccio de interpretao de imagens, e o estabelecimento de diferenas, abordando a histria da tcnica e da tecnologia, por meio da inveno, construo e uso da roda e do conhecimento sobre as diferentes formas de habitao e de trabalho atravs do tempo. Alm da noo de tempo, a ideia de narrativa tambm explorada nas obras complementares. Utilizando as biografias podemos apresentar aos alunos diferentes modos de vida e a variedade da msica brasileira de outros tempos. Essa estratgia

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permite a valorizao da criana como personagem histrico, estimula a produo das histrias de vida dos alunos e o emprego simplificado de operaes historiogrficas. Com o uso abundante de imagens, poderemos explorar dois conceitos fundamentais para a formao da criana: patrimnio e identidade cultural. Assim, ser possvel entender que a diversidade (de modos de vestir, falar, comer, brincar e festejar) uma caracterstica humana, devendo ser entendida, respeitada e valorizada. Formas de vida e monumentos, alm de traos indicadores da identidade cultural tambm so fontes para a histria das pessoas e, por isso, devem ser conhecidos e preservados como bens pblicos. O acervo, ainda, amplia o nosso conhecimento sobre temticas que foram inseridas nos currculos brasileiros recentemente. H informao sobre outros modos de criao do mundo que podem auxiliar na valorizao da diversidade cultural brasileira e no reforo autoestima de crianas negras e indgenas secularmente estigmatizadas pela educao escolar. , portanto, atravs do exame de fotografias, letras de msicas, contos, fbulas e mitos de criao, que podemos ampliar nosso conhecimento sobre prticas religiosas, dana, msica, hbitos familiares e formas de trabalho dos povos Kayap, Munduruk e Kamaiur, de comunidades negras do Mali, Senegal, Benin, Nigria, Congo e do Brasil. Esperamos, por fim, que as obras complementares de Histria sejam mais um recurso para a melhoria das prticas pedaggicas no sentido de ampliar a qualidade da aprendizagem histrica das crianas brasileiras.35

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Geografia

Ensinar Geografia nos anos iniciais do Ensino FundamentalCom que objetivo ensinamos Geografia para crianas? Qual a relevncia de inserirmos to cedo reflexes sobre noes dessa rea do conhecimento? realmente necessrio contemplar temticas relativas aos conhecimentos geogrficos?

Com certeza, quem est, no dia a dia, com as crianas em sala de aula, pergunta-se sobre o que deve ensinar, por que motivo deve ensinar e como deve ensinar cada um dos contedos curriculares com que se depara nas propostas curriculares, nos livros didticos, nos documentos de orientao docente. A Geografia, com certeza, tambm questionada como campo do saber a ser inserido no trabalho dirio dos que se dedicam s crianas que iniciam o processo de escolarizao. Podemos, a esse respeito, lembrar que o ensino de Geografia, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tem, como objetivo, fornecer subsdios para que a criana se situe em seu lugar de vivncia, por meio da apreenso da paisagem que ela pode observar. Objetiva, tambm, que a criana possa aprender a se relacionar socialmente com outras crianas e com outras pessoas de diferentes faixas etrias, procurando ampliar a noo de espao. Para isso, ela deve partir do conhecimento no nvel do36

senso comum para buscar a organizao de sua experincia e expectativa para com o territrio em que vive. A natureza deve ser levada em considerao como realidade sobre a qual a ao dos indivduos se faz notar nas formas de apropriao do espao, como a produo da cidade e do campo, a construo de vias, os movimentos de populao, a produo de resduos slidos, os deslocamentos das pessoas para o lazer etc. A Geografia tambm pode, por meio de atividades de leitura de textos que tratam de suas temticas, auxiliar na alfabetizao e no letramento, favorecendo a ampliao do conhecimento dos alunos. Em outros termos, como est escrito nos Parmetros Curriculares Nacionais, o estudo das manifestaes da natureza em suas mltiplas formas, presentes na paisagem local, ponto de partida para uma compreenso mais ampla das relaes entre sociedade e natureza (Brasil, 1997, p. 127). importante estudar Geografia no Ensino Fundamental porque todas as crianas tm noes no seu nvel de conhecimento sobre o lugar em que vivem, podendo fazer relaes com outros lugares. Mesmo que seu conhecimento ainda no se apresente de forma organizada, elas convivem com ambientes (familiar e escolar), que propiciam a curiosidade que pode levar ao questionamento, ao raciocnio e apresentao de suas prprias concepes sobre a natureza e a sociedade. Desse modo, diferentes habilidades e conhecimentos podem ser desenvolvidos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como descrevemos a seguir.

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O que crianas dos anos iniciais podem aprender quando ensinamos Geografia?Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por meio de diferentes recursos didticos, temos a inteno de ajudar as crianas a, sobretudo, observar, descrever, representar e construir explicaes, mesmo que ainda o faam com pouca autonomia, necessitando da presena e orientao do professor, considerando-se, principalmente, que os dois primeiros anos do Ensino Fundamental correspondam ao momento de ingresso da criana na escola (Brasil, 1997, p. 128). Podemos, ainda, estimular a criana a buscar compreender as diferentes manifestaes da natureza e a apropriao e transformao dela pela37

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ao de sua coletividade, de seu grupo social; a reconhecer semelhanas e diferenas nos modos de diferentes grupos sociais; a utilizar a observao e a descrio na leitura direta e indireta da paisagem, sobretudo por meio de ilustraes e da linguagem oral; e a reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localizao, orientao e distncia de modo a deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vivem e se relacionam (Brasil, 1997, p. 131). Os conceitos estruturantes que buscamos introduzir na vida desses estudantes so lugar, paisagem, natureza, espao, territrio e regio (no necessariamente nessa ordem), pois eles podem ser teis na formao intelectual e pedaggica deles. Diferenciar os conceitos estruturantes pode ser importante para que possamos organizar melhor nossa proposta pedaggica, porque cada um, de acordo com os contedos, regido por processos prprios. Vejamos como cada um deles pode ser exemplificado. O lugar deve ser compreendido na escala de vivncia do aluno e na sua formao do horizonte mais prximo de suas prticas cotidianas, isto , no seu percurso para a escola, por meio de suas brincadeiras, no territrio especfico de sua residncia. A paisagem o que se descortina aos olhos do observador, seja ele o aluno ou o professor, permitindo visualizar as diferenas nas relaes da sociedade com a natureza, diferenciando-se a cidade do campo, e o estabelecimento industrial da via de circulao, as pessoas dos objetos fixos, os diferentes componentes da vegetao, as ondulaes do relevo etc. O espao o ambiente global de relaes da sociedade e pode ser exemplificado pelo uso da telefonia, pela observao dos avies em movimento, pelas imagens de satlite na internet, pelas fotografias que abrangem grandes reas etc. Por sua vez, o territrio se traduz, especificamente, pelas relaes de apropriao do espao, como a propriedade (a casa) onde o aluno vive, as praas como espao pblico etc.

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Enfocando tais noes de maneira dinmica, podemos estimular as crianas a querer saber mais, a buscar conhecimentos para ampliar seus horizontes culturais. Como isso pode ser feito?

Os recursos didticos para o ensino de Geografia importante que o professor esteja atento para que o material didtico escolhido para uso em sala de aula possibilite o entendimento das relaes entre sociedade e natureza por meio do conhecimento de suas dinmicas e processos; que seja indutor da compreenso do cotidiano da criana mediante os fenmenos estudados, levando o aluno a desenvolver hbitos e atitudes que baseiem sua prtica cidad, compreendendo e aceitando a diversidade cultural e tnica. Dentre os vrios recursos didticos que devem estar presentes na sala de aula, podemos afirmar que os livros so fundamentais. Por esse motivo, as obras complementares devem ocupar lugar de destaque na organizao do espao e do tempo pedaggico. Alm dos livros, outros recursos didticos so importantes para a Geografia. Esses recursos podem ser: os mapas com representao de cidades e pases, as matrias extradas de jornais e revistas, as maquetes com material disponvel nas casas dos alunos. Tais recursos podem ser usados em diferentes situaes, ou seja, na sala de aula ou em ambientes abertos (por meio de msicas e desenhos), assim como na organizao de dilogos com os familiares dos alunos. A seleo das obras do acervo obedeceu a alguns dos princpios gerais aqui explicitados, tendo como norte fundamental o pressuposto de que as crianas precisam aprender a ler, isto , foi levado em conta o fato de que a leitura , antes de tudo, um objeto de ensino e precisa ter sentido do ponto de vista do aluno. Foi tambm levado em conta que necessrio variar o tamanho dos textos, priorizando os textos pequenos com muitas imagens, sabendo-se que preciso garantir condies para que as crianas apreendam os significados das palavras e das imagens, mesmo que saibamos que h uma polissemia dos signos e das palavras. Considerando tal riqueza, pode-se afirmar que as obras podem complementar, resumir, intensificar ou aprofundar uma temtica em estudo, seja na sala de aula, seja na casa do aluno. Nessa perspectiva, as obras podem ser usadas em diferentes situaes didticas, respeitando a capacidade de a criana fazer uso da leitura como prtica social. Para compor os acervos de obras complementares, foram escolhidas obras que conjugam os textos verbais e as imagens, pois a linguagem por imagens e por desenhos uma forma de comunicao que pode ser estimulada desde os anos iniciais de escolarizao. As imagens tanto podem ser lidas como textos completos, quanto podem

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completar o sentido do texto verbal ou mesmo ilustr-lo, estimulando o estudante a ativar o conhecimento prvio, mesmo que no nvel do senso comum.

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As obras de Geografia foram organizadas em grupos temticos. No grupo Circulao e transportes, procuramos valorizar obras que tm, como contedo, o cotidiano das crianas que vo escola e os diferentes meios de transporte utilizados por elas, destacando-se as paisagens tpicas das regies do Brasil; regras bsicas de trnsito com foco nos pedestres e nas crianas, considerando-se a necessidade das pessoas de circularem para atender s mais diversas necessidades cotidianas. A organizao da classe, em grupos, fazendo com que cada um conte seu trajeto de casa para a escola, salientando os meios de transporte por meio do desenho, pode ser uma atividade que estimule o aluno a se interessar pelo tema. Outra temtica priorizada na constituio dos acervos foi O mundo do trabalho. Nesse grupo, por meio de fotografias, podem-se observar as diferentes profisses em diferentes tempos e lugares, mostrando-se os locais de trabalho de cada profissional e como ele se comporta (seja bombeiro, mdico, serralheiro, professor, bia-fria, aougueiro etc.) em seus locais de trabalho, procurando mostrar o quanto so importantes e esto presentes no dia a dia das pessoas. A organizao de um rol com as profisses dos familiares dos alunos pode ser uma atividade interessante porque eles trocariam informaes e veriam a variedade de ocupaes das pessoas. O tema que versa sobre as relaes cidade-campo permite mostrar, por meio da vivncia das crianas, como se pode viver na cidade e fazer uma incurso pelo mundo rural para conviver com dinmicas sociais diferentes. Isso pode propiciar a compreenso da diversidade sociocultural e a valorizao da relao com o ambiente, por meio da comparao entre diferentes paisagens, modos de vida e de consumo e hbitos culturais, favorecendo-se o respeito Natureza. A cidade, por sua vez, foi um tema com grande destaque nas obras complementares. H diferentes assuntos a serem tratados em relao ao grande tema cidade. Dentre eles, podemos apontar alguns que foram contemplados em livros dos acervos: a) a constatao de que as habitaes de pessoas ricas e pobres, no passado e atualmente, podem servir para relacionar a sua construo ao leque de informaes sobre as condies do lugar (clima, solo, matria-prima, meios de subsistncia e condies financeiras); b) a moradia na cidade pode se limitar a apartamentos sem quintal ou a uma casa prxima praia, e que o conforto das pessoas pode implicar danos ao planeta;

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c) a utilizao de material reciclvel para a construo de maquete permite a apreenso da noo de escala e de uso de objetos naturais; d) fotos antigas e recentes de pessoas e locais mostram as mudanas que ocorreram ao longo do tempo; e) as formas de brincadeira para a interao e o retorno s aulas podem ser motivos para se comparar com o cenrio prximo escola. Sobre as noes de escala e a diversidade social, pode-se trabalhar com a imensido do universo e sua relativizao com os tamanhos das crianas ou de outros seres vivos que elas conhecem, como seus animais de estimao, ou as formigas, por exemplo, levandose convivncia e diversidade tnico-cultural e planetria por meio da comparao. Todos os temas expostos so abordados nas obras que compem o acervo complementar. Para utilizar o acervo, o professor poder recorrer a diferentes estratgias dentro e fora da sala de aula. Como as obras so teis para se debater a importncia de reflexes sobre as contradies entre sociedade e natureza, o professor poder utilizar seus contedos como motivadores de trabalhos em grupo (tanto na sala de aula quanto nas casas dos alunos), trabalhos de campo nas proximidades da escola, atividades que valorizem o dilogo e que estimulem outras atividades que podem se aproximar de outras reas do conhecimento, contando histrias, relatando experincias, lendo em voz alta textos apropriados fase de desenvolvimento intelectual das crianas, elaborando e resolvendo problemas que envolvam nmeros, organizando perguntas que envolvam os familiares ou outras turmas da escola etc. preciso lembrar, tambm, que as obras dessa rea podem conter contribuies teis para outras reas. Por isso, importante o dilogo constante da Geografia com as Linguagens, com as Artes, com as Cincias e a Matemtica, e com a Histria. Assim, o trabalho do professor, utilizando o acervo complementar, poder ser efetivo quando se leva em considerao o que foi proposto, tanto no que se refere s obras indicadas quanto s atividades sugeridas, auxiliando a criana a desenvolver seu conhecimento por meio do dilogo e da escrita.

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RefernciaBrasil. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros curriculares nacionais: introduo aos parmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educao Fundamental. Braslia: MEC/SEF, 1997. 126p.

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Lngua Portuguesa

Ensinar Lngua Portuguesa nos anos iniciais do Ensino FundamentalEnsinar a ler e escrever! Sem dvida, essa uma resposta muito frequente, quando perguntamos s crianas e aos adultos qual o papel da escola nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sabemos, obviamente, que no apenas esse objetivo que temos nessa instituio. Queremos muito mais: queremos que as crianas e os adultos fortaleam suas identidades sociais; desenvolvam atitudes e prticas socialmente honestas e solidrias; ampliem seus conhecimentos sobre a sociedade e a natureza; sintam-se motivados e seguros para interagir, defendendo seus direitos e cumprindo seus deveres, para construir uma sociedade mais justa e igualitria. Para isso, os estudantes precisam se apropriar de diferentes habilidades e conhecimentos. A leitura e a escrita so instrumentos fundamentais para a insero das crianas, dos jovens e dos adultos em diferentes prticas sociais. Capacidades relativas ao uso da oralidade tambm se mostram relevantes para a insero social das pessoas. Desse modo, podemos afirmar que, ao tratarmos da Lngua Portuguesa, trs eixos de ensino so necessrios desde a entrada das crianas na escola: escrita, leitura e oralidade.42

Objetivos e habilidades prioritrios para o ensino da Lngua Portuguesa nos anos iniciaisPara as crianas de 6 e 7 anos, que esto ingressando no Ensino Fundamental, podemos afirmar que os trs eixos citados precisam ser enfocados em uma perspectiva reflexiva, problematizadora. O desenvolvimento de uma atitude reflexiva, diante dos objetos de conhecimento, pode auxiliar os estudantes a aprender a aprender. No que se refere oralidade, nota-se que as crianas, aos 6 e 7 anos, j sabem se comunicar em situaes corriqueiras. Cabe escola, portanto, ampliar as capacidades que elas j tm e diversificar os usos da fala, levando-as a participar de contextos diversos de comunicao oral, como: contao de histrias, entrevistas, debates regrados, exposies orais, dentre outros. Sabemos que o uso da oralidade nos espaos pblicos requer maior investimento e, muitas vezes, um trabalho mais sistemtico, intencionalmente voltado para a aprendizagem de habilidades e conhecimentos sobre vocabulrio, uso da norma de prestgio, recursos lingusticos apropriados natureza da interao. Quanto ao aprendizado da leitura e da escrita, dois caminhos precisam ser percorridos: o favorecimento de um ensino sistemtico do sistema de escrita alfabtica (SEA); o favorecimento do ensino das estratgias de leitura e de produo de textos. Em relao aprendizagem do sistema de escrita alfabtica (SEA), muitos debates tm sido travados ao longo da histria da alfabetizao e vrias propostas de como alfabetizar foram criadas. Algumas delas propem um ensino desvinculado dos usos efetivos da leitura e da escrita e transformam a alfabetizao em um treinamento, com nfase na memorizao de correspondncias grafofnicas; outras defendem um trabalho assistemtico, sem atividades permanentes de reflexo sobre a lgica de funcionamento da escrita; e outras, ainda, defendem que necessrio, de modo sistemtico, estimular a criana a pensar sobre os princpios do sistema de escrita, simultaneamente s situaes dirias de uso da leitura e da escrita. Adotando essa ltima perspectiva, passamos a considerar importante que a criana esteja inserida, desde a Educao Infantil, em um ambiente alfabetizador que possibilite, por um lado, que ela reflita sobre o funcionamento do SEA, desenvolvendo a autonomia de ler e escrever, e, por outro, que vivencie atividades significativas de leitura e escrita de textos. Considerar a alfabetizao em uma perspectiva de letramento trouxe implicaes pedaggicas importantes. Por um lado, se, antes, os alunos eram vistos como tbulas rasas, e os conhecimentos eram aprendidos por meio de um processo transmissivo, hoje sabemos que crianas ou adultos que no dominam a escrita alfabtica pos-

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suem conhecimentos sobre a lngua escrita, construdos nas prticas de leitura e escrita em que se inserem, com a mediao de uma pessoa alfabetizada. Por outro lado, percebeu-se que o domnio do sistema alfabtico por si s no garante que sejamos capazes de ler e produzir textos. Dessa forma, torna-se imprescindvel que os alunos possam vivenciar, na escola, situaes significativas de leitura e produo de diferentes textos. No entanto, para que os alunos se apropriem do SEA e desenvolvam autonomia para ler e escrever, no basta que vivenciem situaes de leitura e produo de textos, pois a aprendizagem do sistema de escrita, geralmente, no espontnea e requer que a criana reflita sobre as caractersticas do SEA. Para que o aluno alcance a escrita alfabtica, preciso que ele seja capaz de, dentre outras habilidades, conhecer as letras do alfabeto; saber que as palavras podem ser segmentadas em partes menores e as slabas em unidades menores ainda; que preciso estabelecer correspondncias entre letras e fonemas e que h variaes na estrutura das slabas. Assim, defendemos que as crianas possam vivenciar atividades que as levem a analisar reflexivamente as caractersticas do SEA. Enfim, simultaneamente s atividades voltadas para a compreenso de como funciona o sistema de escrita, preciso ajudar os estudantes dos anos iniciais a compreender textos, utilizando diferentes estratgias de leitura: localizar informaes, elaborar inferncias, apreender sentidos gerais, estabelecer relaes entre textos, dentre outras. importante tambm produzir textos que possam circular em diferentes espaos sociais, atendendo a diferentes finalidades e destinatrios; e, para isso, necessrio que o aluno avalie a sua adequao e revise os prprios textos. Alm dessas capacidades gerais, espera-se, ainda, que a escola proporcione condies para que as crianas possam ampliar seus conhecimentos sobre os materiais escritos que circulam socialmente, familiarizando-se com diferentes gneros de textos e suportes textuais (jornais, livros, revistas, panfletos, dentre outros). Dessa forma, elas ampliam seus repertrios textuais e passam a conhecer obras de autores j consagrados na esfera literria ou novos autores que estejam surgindo na vida cultural do pas. Alm da formao literria, queremos, ainda, que as crianas se formem como leitores de textos de outras esferas sociais (miditicas, escolares, dentre outras). Mas, para planejarmos boas situaes de ensino que dem conta dessas metas, sem dvida, fundamental selecionar bons recursos didticos.

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Os recursos didticos para ensinar a ler e a escreverPara ensinar a ler e a escrever, os professores precisam de bons materiais. Alm dos livros de literatura infantil, que as escolas recebem por meio do PNBE Programa Nacional Biblioteca da Escola - e por outros meios de aquisio, outros materiais tm sido utilizados nas turmas de alfabetizao, como jornais, revistas, rtulos de embalagens, jogos pedaggicos e o livro didtico. Vrios documentos do MEC, como a publicao de orientao para a implantao do Ensino Fundamental de 9 anos e o guia do PNLD, defendem que os primeiros anos do Ensino Fu