Aristoteles Da Interpretacao

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  • 7/29/2019 Aristoteles Da Interpretacao

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    TRADUO DE "DE INTERPRETATIONE" DE ARISTTELES

    Traduo feita pelo Prof. Dr. Emmanuel Carneiro Leo

    1

    Primeiro, se deve estabelecer o que um nome e um verbo; depois, o que uma apfase e

    uma catfase, uma apfanse e um discurso.

    De um lado, os sons da voz so smbolos das disposies da alma, de outro, as marcas escritas

    o so dos sons da voz. E assim como as letras no so as mesmas para todos, do mesmo modo

    tambm os sons. So idnticas em todos as disposies da alma, das quais os sons so os

    primeiros signos, como j so tambm as mesmas coisas, das quais aquelas so semelhanas .

    Sobre estas disposies se falou nos livros da alma - i.e., numa outra investigao. Assim como

    na alma se d ora uma representao , que no desvela a verdade nem falseia nada, ora uma

    representao, em que uma destas alternativas deve forosamente estruturar-se , assim

    tambm na fala. Pois tanto o falso , como o verdadeiro pertencem ao mbito da conjuno e

    disjuno . Em si mesmos, os nomes e os verbos se assemelham representao que no temnem conjuno nem disjuno, tais que "homem" ou "branco" quando no se lhes acrescenta

    mais nada. Um exemplo o "bode-veado" , que, decerto, significa alguma coisa mas nem

    desvela a verdade nem falseia nada, se no se ajuntar que ou que no , seja simplesmente

    ou seja em algum tempo.

    2

    De um lado, um nome um som de voz significante segundo conveno sem tempo, do qual

    nenhuma parte significante tendo sido separada; por exemplo: em kallipps, o "-ipps" nada

    significa por si mesmo, como significa na expresso kals hipps (belo cavalo). Realmente no

    como nos nomes simples que existem nos nomes compostos: pois naqueles de modo algum

    a parte significante, porm nestes ela o , contudo no constitui (no sentido nico da palavra

    composta) um algo separado, como em epaktrokeles (navio-pirata) e keles (navio).

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    De outro lado, segundo conveno, pois nenhum dos nomes por natureza , e sim quando

    gerado um smbolo. Por isso, mesmo quando os sons iletrados como os de animais tambm

    realmente manifestam algo, nenhum destes no entanto um nome.

    E ainda, o "no homem" no um nome, nem se estabeleceu nenhum nome para cham-lo,

    pois no nem uma negao nem um discurso, mas seria um nome indeterminado. Tambm o"de Philon" ou "a Philon" e afins no so nomes mas casos do nome. O sentido deste (do caso)

    porm , em outras coisas, o mesmo (que o do nome), mas no fato de a ele juntar-se que ou

    era ou ser, no se desvela a verdade nem se falseia nada - ao nome ao contrrio sempre [que

    se ajunta h verdade ou falsidade] - assim, "de Philon " ou "no " de modo algum desvela a

    verdade ou falseia.

    3

    Um verbo porm o adsignificante de tempo, do qual uma parte separadamente nada

    significa; porm um signo daquilo que dito de um outro. Digo que ele adsignifica o tempo,

    como a "cura" de um lado nome e "cura-se" de outro lado verbo, pois significa ainda um

    estruturar-se no agora. E sempre um signo do que se estrutura, assim como daquilo que diz

    respeito ao subjacente . Porm o "no cura" assim como o "no adoece" no chamo de

    verbos, pois se, de um lado, adsignificam tempo e sempre sustentam algo a que dizem

    respeito, de outro lado, para essa diversidade no jaz um nome, mas seriam "verbos

    indeterminados", porque do mesmo modo estruturam o que diz respeito ao ente e ao no

    ente. Do mesmo modo o "curou" ou "curar" no so verbos, mas casos do verbo, e diferem

    do verbo porque este adsignifica o tempo presente e aqueles os arredores. Alm disso ditos

    por si mesmos e em si mesmos os verbos so nomes e significam algo - pois, em se falando,

    fixa-se o pensamento e o que ouvido repousa - mas ainda no significam se ou no, pois o

    "ser" ou "no ser" no so signos do real , nem tampouco o "ente", vistos sozinhos. Pois estes

    nada so, porm adsignificam, se esto em uma composio , a qual sem os componentes no

    so pensados.

  • 7/29/2019 Aristoteles Da Interpretacao

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    Da Interpretao Aristteles (Cap. I, II, III, IV, V, VI)

    Deixarei uma traduo em portugus de Da Interpretao de Aristteles, apesar de ser uma

    traduo de traduo, ou ainda, uma traduo em portugus de uma traduo em ingls

    (disponvel em http://archive.org/details/AristotleOrganon, acessado em 17/06/2012) do

    original grego. Em virtude disto, possvel haver um certo distanciamento do original, noentanto acredito ser de utilidade o texto do Filsofo.

    Esta traduo serve apenas para facilitar a leitura da obra de Aristteles em portugus, no

    havendo garantia de adequao dos termos traduzidos terminologia tcnica, no sendo,

    pois, nenhuma traduo oficial.

    Estamos julgando-a importante apresentar aqui por causa de tocar em assuntos da Lingustica,da Filosofia da Linguagem etc, como nome, verbo, significado...

    DA INTERPRETAO ARISTTELES

    CAPTULO 1

    Primeiro devemos definir os termos nome e verbo, em seguida os termos negao e

    afirmao, em seguida proposio e frase.

    As palavras faladas so os smbolos da experincia mental e as palavras escritas so os

    smbolos das palavras faladas. Assim como todos os homens no tm a mesma escrita,

    tambm todos os homens no tm os mesmos sons da fala, mas as experincias mentais, as

    quais estes simbolizam diretamente, so as mesmas para todos, assim como so aquelas

    coisas das quais as nossas experincias so as imagens. Este problema, no entanto, foidiscutido no meu tratado sobre a alma, porque pertence a uma investigao distinta da que se

    encontra diante de ns.

    Como h na mente pensamentos que no envolvem verdade ou falsidade, e tambm aqueles

    que devem ser ou verdadeiros ou falsos, assim ocorre na fala. Pois a verdade e a falsidade

    implicam combinao e separao. Nomes e verbos, uma vez que nada seja acrescentado, so

    como pensamentos sem combinao ou separao. Homem e branco, como termos

    isolados, ainda no so ou verdadeiros ou falsos. Em prova disso, considere a palavra

  • 7/29/2019 Aristoteles Da Interpretacao

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    hircocervo*. Ela tem significao, mas no h verdade ou falsidade sobre ela, a menos que

    ou no seja acrescentado, ou no tempo presente ou em outro tempo.

    CAPTULO 2

    Por um nome, queremos dizer um som significativo por conveno, que no faz referncia ao

    tempo, e do qual nenhuma parte seja significativa separada do resto. No nome corceljusto, a

    parte corcel no tem significao em e por si, como na frase corcel justo. Entretanto h

    uma diferena entre nomes simples e compostos, j que no primeiro a parte no de modo

    algum significativa; no segundo, ela contribui para o significado do todo, embora no tenha

    um significado independente. Por isso na palavra barco-pirata a palavra barco no tem

    significado, exceto como parte da palavra inteira.

    A limitao por conveno foi introduzida porque nada por natureza um nome somente

    assim quando se torna um smbolo. Os sons inarticulados, como aqueles que os brutos

    produzem, so significativos, entretanto nenhum deles constitui um nome.

    A expresso no homem no um nome. De fato, no h termo reconhecido pelo qual

    possamos denotar tal expresso, porque no uma frase ou uma negao. Que seja ento

    chamado um nome indefinido.

    As expresses de Filo, para Filo, e assim por diante, constituem no nomes, mas casos de

    um nome. A definio destes casos de um nome , sob outros aspectos, a mesma do nome

    prprio, mas quando associada com , era ou ser, elas no formam, como so, uma

    proposio ou verdadeira ou falsa, e isto o nome prprio sempre faz, sob estas condies.

    Tome as palavras de Filo ou de Filo no ; estas palavras, como esto, no formam ou

    uma proposio verdadeira ou uma falsa.

    CAPTULO 3

    Um verbo aquele que, alm do seu prprio significado, carrega consigo a noo de tempo.

    Nenhuma parte dele tem qualquer significado independente, e um sinal de algo dito sobre

    outra coisa.

  • 7/29/2019 Aristoteles Da Interpretacao

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    Explicarei o que exprimo dizendo que ele carrega consigo a noo de tempo. Sade um

    nome, mas saudvel um verbo, porque, alm de seu prprio significado, ele indica a

    existncia presente do estado em questo.

    Alm do mais, um verbo sempre um sinal de algo dito sobre outra coisa, ou seja, de algo ou

    previsvel ou presente em alguma outra coisa.

    Expresses como no saudvel, no doente, eu no descrevo como verbos, porque,

    embora eles carreguem a nota adicional de tempo e sempre formam um predicado, no h

    nome especificado para esta variedade. Mas que sejam chamados de verbos indefinidos, j

    que eles se aplicam igualmente bem quele que existe e quele que no existe.

    Semelhantemente, ele era saudvel, ele ser saudvel no so verbos, mas tempos de um

    verbo. A diferena est no fato de que o verbo indica o tempo presente, enquanto os tempos

    do verbo indicam aqueles tempos fora do presente.

    Os verbos em si e por si mesmos so substantivos e tm significao, porque aquele que usa

    tais expresses prende a mente do ouvinte e fixa a sua ateno, mas eles, como esto, no

    expressam nenhum juzo, ou positivo ou negativo, porque nem ser e no ser so o ser

    particpio significativo de qualquer fato, a menos que algo seja adicionado; porque eles

    mesmos no indicam nada, mas implicam uma copulao, da qual no podemos formar uma

    concepo separada das coisas copuladas.

    CAPTULO 4

    Uma frase uma poro significativa do discurso cujas algumas partes da qual tm um

    significado independente, quer dizer, como uma expresso, embora no como uma expresso

    de qualquer juzo positivo. Deixe-me explicar. A palavra humano tem significado, mas no

    constitui uma proposio, ou positiva ou negativa. somente quando outras palavras so

    adicionadas que o todo formar uma afirmao ou negao. Mas se separarmos uma slaba da

    outra da palavra humano, ela no tem significado; semelhantemente, na palavra

    camundongo, a parte amundongo no tem significado em si mesma, mas meramente

    um som. Em palavras compostas, na verdade, as partes contribuem para o significado do todo.

    Entretanto, como foi apontado, elas no tm um significado independente.

  • 7/29/2019 Aristoteles Da Interpretacao

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    Toda frase tem significado, no como sendo o meio natural pelo qual uma faculdade fsica

    realizada, mas, como dissemos, por conveno. Entretanto, cada frase no uma proposio;

    somente uma proposio na medida em que tem em si ou verdade ou falsidade. Assim, uma

    prece uma frase, mas no nem verdadeira nem falsa.

    Portanto, descartemos todos os outros tipos de frase, exceto a proposio, por causa de esta

    ltima concernir nossa presente investigao, enquanto que a investigao de outras

    pertence primeiro ao estudo da retrica ou da poesia.

    CAPTULO 5

    A primeira classe de proposies simples a afirmao simples; a prxima, a negao simples.

    Todas as outras so somente uma por conjuno.

    Toda proposio deve conter um verbo ou o tempo de um verbo. A frase que define a espcie

    homem, se nenhum verbo no tempo presente, passado ou futuro for adicionado, no uma

    proposio. Pode-se perguntar como a expresso um animal de ps com dois ps pode ser

    chamada singular, porque no a circunstncia que as palavras seguem em sucesso

    ininterrupta que efetua a unidade. Esta investigao, no entanto, tem seu lugar numa

    investigao externa quela perante ns.

    Chamamos de proposies singulares as que indicam um fato singular, ou a conjuno das

    partes de que resulta em unidade: aquelas proposies, por outro lado, so separadas e

    muitas em nmero, que indicam muitos fatos, ou cujas partes no tm conjuno.

    Alm do mais, que consintamos em chamar um nome ou um verbo de somente uma

    expresso, e no uma proposio, visto que no possvel a um homem falar desta forma

    quando ele est expressando algo, de tal modo a fazer uma declarao, se sua expresso

    uma resposta a uma questo ou um ato de sua prpria iniciao.

    Retornando: das proposies, um tipo a simples, ou seja, aquela que afirma ou nega algo de

    alguma coisa; a outra composta, ou seja, aquela que composta de proposies simples.

    Uma proposio simples uma declarao com significado quanto presena de algo num

    sujeito ou sua ausncia, no presente, no passado ou no futuro, de acordo com as divises do

    tempo.

  • 7/29/2019 Aristoteles Da Interpretacao

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    CAPTULO 6

    Uma afirmao uma assero positiva de algo sobre alguma coisa; uma negao, uma

    assero negativa.

    Agora possvel tanto afirmar quanto negar a presena de algo que est presente ou de algo

    que no est, e j que estas mesmas afirmaes e negaes so possveis com referncia

    queles tempos que esto fora do presente, seria possvel contradizer qualquer afirmao ou

    negao. Deste modo, honesto dizer que toda afirmao tem uma negao oposta, e

    semelhantemente toda negao, uma afirmao oposta.

    Chamaremos tal par de proposies um par de contraditrios. Chamam-se contraditrias

    aquelas proposies afirmativas e negativas que tm o mesmo sujeito e predicado. A

    identidade do sujeito e do predicado no deve ser equvoca. De fato, h qualificaes

    definitivas alm desta, que fazemos cumprir os casusmos dos sofistas.