aristoteles introducao geral

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    INTRODUO GERALINTRODUO GERAL

    ARISTTELESOBRAS COMPLETASOBRAS COMPLETAS

    ANTNIO PEDRO MESQUITA

    ARISTTELES

    ANTNIO PEDRO MESQUITA

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    Ttulo: Introduo Geral

    Autor: Antnio Pedro Mesquita

    Edio: Imprensa Nacional-Casa da Moeda

    Concepo grfica: Branca Vilallonga(Departamento Editorial da INCM)

    Reviso do texto: Levi CondinhoTiragem: 800 exemplares

    Data de impresso: .evereiro de 2005

    ISBN: 972-27-1371-X

    Depsito legal: 221 446/05

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    OBRAS COMPLETAS DE ARISTTELESOBRAS COMPLETAS DE ARISTTELESCOORDENAO DE ANTNIO PEDRO MESQUITACOORDENAO DE ANTNIO PEDRO MESQUITA

    VOLUME I

    TOMO I

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    Projecto promovido e coordenado pelo Centro de .ilosofia da Universi-dade de Lisboa em colaborao com o Centro de Estudos Clssicos daUniversidade de Lisboa, o Instituto David Lopes de Estudos rabes eIslmicos e os Centros de Linguagem, Interpretao e .ilosofia e de Estu-dos Clssicos e Humansticos da Universidade de CoimbraEste projecto foi subsidiado pela .undao para a Cincia e a Tecnologia

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    CENTRO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

    IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA

    LISBOA

    2003

    INTRODUO GERALINTRODUO GERAL

    ANTNIO PEDRO MESQUITAANTNIO PEDRO MESQUITA

    CENTRO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

    IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA

    LISBOA

    2005

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    A edio, que ora se inicia, das Obras Completas de Aristtelesarranca de uma constatao: o nmero extremamente insuficiente de tra-dues portuguesas dos escritos aristotlicos (apenas seis publicadas atao momento: Categorias, Sobre a Alma, Poltica, Constituio dosAtenienses, Retrica e Potica) e, em consequncia, o fraco nvel deinteresse da comunidade filosfica portuguesa pelo autor e o muito defi-citrio grau de conhecimento do pblico em geral em relao obra e ao

    pensamento deste grande filsofo.Em conformidade, o seu objectivo consiste em tornar acessvel ao

    leitor portugus, tanto do ponto de vista da lngua como do doesclarecimento do texto, a totalidade da coleco aristotlica, a includosno s os cerca de trinta tratados completos que subsistiram at aos nos-sos dias, como tambm todos os outros textos que, de modo mais ou me-nos fragmentrio e/ou fidedigno, foram transmitidos pela tradio sob onome de Aristteles.

    Esta coleco engloba, portanto, para alm dos escritos reunidos porImanuel Bekker, em 1831, na primeira edio moderna da obra aris-

    totlica (a qual inclui tanto tratados autnticos, como esprios e duvido-sos) e do texto posteriormente descoberto da Constituio dos Atenien-ses (literalmente desenterrado em finais do sculo XIX), a totalidade dos

    fragmentos (uma vez mais, autnticos, suspeitos e pseudepgrafos) e ain-da as sete obras apcrifas que circularam em poca tardia sob o nome de

    APRESENTAO

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    Aristteles, designadamente o Livro das Causas, o Segredo dos Se-gredos ou a Teologia.

    Ao propor-se levar a cabo a traduo colectiva deste conjunto, aspresentes Obras Completas sero, assim, a nvel internacional, as pri-meiras e, at ao momento, as nicas a englobar a integralidade do legado

    aristotlico, uma vez que nenhuma outra inclui estas ltimas.Naturalmente, todas as tradues nelas dadas estampa sero fei-tas directamente a partir do original.

    *

    Sendo este projecto movido pelo intento de garantir o acesso do leitorportugus ao pensamento e obra de Aristteles, assim contribuindo paraa generalizao do seu conhecimento entre ns, compreensvel que setenha decidido reduzir ao mnimo todas as exigncias tcnicas, restrin-

    gindo o aparato ao que simplesmente permita cumprir aqueles desideratosde modo compatvel com a qualidade e o rigor das tradues.

    Em consequncia, as publicaes includas nas Obras de Aristte-les obedecero a um modelo simples e regular: uma introduo com oenquadramento histrico e filosfico do texto traduzido; a traduo daobra; e aquelas notas de esclarecimento que permitam ao leitor seguir o

    pensamento de Aristteles onde ele se torna mais difcil de apreender, ouque o tradutor, em abono da transparncia da sua tarefa, entenda deverincluir para justificar as suas opes ou para alertar o leitor da existn-cia de leituras alternativas que, por esta ou aquela razo, foram preteri-das em favor da consagrada na traduo oferecida.

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    Neste sentido, no temos a pretenso de esgotar de uma vez portodas a investigao em torno das obras aqui traduzidas, ou de ter altima palavra sobre complicadas decises tcnicas, lingusticas ou filo-sficas, de interpretao.

    Pelo contrrio, o nosso intento o de, ao disponibilizar ao pblico

    tradues competentes e fidedignas da obra integral de Aristteles, feitaspor investigadores de indiscutvel autoridade cientfica nesta rea, favorecero interesse acerca do nosso autor, de modo que, em breve, floresam mui-tas outras, eventualmente melhores do que as que agora lhe so entregues.

    Por maioria de razo, com absoluta abertura e humildade que aguar-damos os reparos e as crticas. S assim se poder melhorar e progredir.

    Estamos, neste caso, em situao semelhante que se viveu com o j mencionado Imanuel Bekker, notvel fillogo alemo que, no incio dosculo XIX, tomou a iniciativa pioneira de editar a totalidade dos trata-dos aristotlicos para a Academia de Berlim.

    Hoje, nenhuma das suas edies considerada de referncia e, por-tanto, nenhuma utilizada a no ser por motivos arqueolgicos.

    Mas, se porventura ele no se tivesse lanado naquela iniciativapioneira, nenhuma das edies subsequentes teriam sido possveis e o panorama dos estudos aristotlicos no limiar do sculo XXI estaria doissculos atrasado.

    Assim, se alguma coisa os promotores deste projecto podem almejar

    que no tarde muito o momento em que todas as tradues que agorase comeam a publicar tenham sido substitudas por outras, mais clarase incisivas no contedo, mais felizes e saborosas no vernculo, mais ou-sadas nas interpretaes assumidas ou avanadas. Isso quereria dizer queo nosso objectivo tinha sido plenamente atingido.

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    *

    A iniciativa desta edio partiu do Centro de ilosofia da Universi-dade de Lisboa, que assegura igualmente a sua promoo e coordenao.

    Rapidamente, contudo, passou a contar com a colaborao institu-cional de outros institutos cientficos nacionais, nomeadamente o Centrode Estudos Clssicos da Universidade de Lisboa, o Instituto David Lopesde Estudos rabes e Islmicos e os Centros de Linguagem, Interpretaoe ilosofia e de Estudos Clssicos e Humansticos da Universidade deCoimbra.

    Por esta razo, pode dizer-se que ele mobiliza agora praticamentetodos os investigadores nacionais nas reas da filosofia antiga, dos estu-dos clssicos e dos estudos rabes e islmicos, que entusiasticamente seassociaram ao projecto e nele esto j a trabalhar, de forma que o perodode execuo previsto, de doze anos, possa ser efectivamente utilizado nasua concluso.

    Todavia, de elementar justia que se frise que ele tambm no teriasido possvel sem a elevada compreenso que os promotores encontraramna Imprensa Nacional-Casa da Moeda, a qual imediatamente entendeu aimportncia cultural deste projecto e no hesitou em apostar na con-cretizao do programa editorial que ele envolve.

    A todos devida uma grande e sentida palavra de reconheci-mento.

    Ao Centro de ilosofia da Universidade de Lisboa, na pessoa do seuDirector, Professor Doutor Carmo erreira, pela viso e pela coragem naassuno da iniciativa.

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    Imprensa Nacional-Casa da Moeda, e em especial ao seu Presi-dente, Dr. Braz Teixeira, pela conscincia que esta instituio continuaa demonstrar da sua alta responsabilidade cultural.

    A todos os colaboradores envolvidos, pelo esforo, pela entrega e peloempenhamento da sua adeso.

    Uma especial palavra de agradecimento devida ainda, contudo,aos Professores Doutores Jos Ribeiro erreira e Mrio Santiago de Car-valho, professores catedrticos da aculdade de Letras da Universidadede Coimbra, pela disponibilidade manifestada para proceder revisocientfica de partes deste volume, sem que este agradecimento os com-

    prometa de nenhum modo com qualquer erro ou lapso que porventuranele se continue a encontrar. Ainda tambm ao Dr. Pedro Braga alco,

    jovem investigador dos estudos clssicos, que assegurou a reviso do textoe a elaborao dos ndices, coadjuvado, numa segunda fase, pelo Dr. JosLus Perez, estudante de mestrado em ilosofia na aculdade de Letrasda Universidade de Lisboa, bem como a actualizao da bibliografia fun-damental, neste caso, com a colaborao da Dr. Mariana Matias, daUniversidade de Coimbra, a quem, naturalmente, se estende este preitoespecial.

    Lisboa, 31 de Maro de 2004

    O COORDENADOR

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    SOBRE A EDIO

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    CARACTERIZAO GERAL

    1. Estrutura da edio

    A edio encetada no presente volume est dividida em qua-tro partes, agrupando respectivamente os tratados conservados de

    Aristteles, as obras fragmentrias, os apcrifos e a bibliografia endicesAs quatro partes subdividem-se em catorze volumes, cada

    um dos quais com um nmero varivel de tomos, que totalizam,no conjunto, quarenta e trs, de acordo com o esquema constanteno prximo captulo

    Na primeira fase, que terminar em 2005, publicar-se-o, paraalm deste volume introdutrio, os seguintes textos:

    Vol I, tomo IV: Segundos Analticos;Vol I, tomo V: Tpicos;Vol II, tomo III: Sobre a Gerao e a Corrupo;Vol VII, tomo II: Os Econmicos;Vol VIII, tomo I: Retrica;Vol X, tomo I: ragmentos dos Dilogos e das Obras Exor-

    tativas

    As restantes edies sero publicadas num perodo temporalque se estender entre 2006 e 2014, sendo todas elas preparadasexpressamente para o projecto, tanto do ponto de vista da tradu-o como do do comentrio de esclarecimento, pelos seus colabo-radores cientficos

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    Excepo sero algumas tradues de grande qualidade re-centemente publicadas, bem como aquelas que, dando todas asgarantias de idoneidade cientfica, se encontram em fase de pre-parao ou de ultimao de modo independente deste projecto,

    que se procurar integrar no programa editorial mediante a auto-rizao dos autores e a celebrao de protocolos de articulaocom as entidades editoras e/ou tutelares

    2. Colaboradores da edio

    O eixo sobre o qual repousa o desenvolvimento do trabalho

    previsto neste projecto, dirigido por um coordenador, constitu-do pelos seus investigadores, coadjuvados, sempre que tal se jus-tifique, pelos consultores cientficos

    O coordenador do projecto representa para todos os efeitoso Centro de .ilosofia, enquanto sua entidade promotora, e com-pete-lhe programar e coordenar as actividades previstas, tendoem vista a sua adequada consecuo, dentro das normas oportu-namente estipuladas Junto do coordenador funciona uma comis-

    so de representantes dos demais institutos e centros que inte-gram o projecto, de forma a garantir a articulao institucionalentre eles

    Aos investigadores envolvidos compete traduzir, introduzire anotar as obras que lhes foram distribudas e que aceitaramtrabalhar, com plena autonomia cientfica, ressalvadas as neces-sidades de uniformizao decorrentes da unidade do projecto, ainterveno que possa ser solicitada aos consultores cientficose o trabalho de planeamento transversal que incumbe ao coor-denador

    Aos consultores cientficos cabe dar parecer, por solicitaodos investigadores e/ou do coordenador do projecto, em todos oscasos de dvida filosfica, histrica ou filolgica, quando surjamdiferentes verses, argumentos ou doutrinas em relao a ummesmo tpico e sempre que se verifiquem interpretaes antag-nicas que ponham em causa a unidade do projecto O referidoparecer ser levado em devida conta pelo investigador ou investi-

    gadores envolvidos, que decidiro na matria controvertida deharmonia com o coordenador

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    3. Caractersticas da edio

    Toda a investigao conducente elaborao dos textos dainteira responsabilidade dos colaboradores e pauta-se pela mais

    rigorosa autonomia cientficaEstes sero constitudos por introduo, traduo e notas,

    acompanhados de um glossrio com os termos principais do textotraduzido, no original e na(s) traduo(es) adoptada(s), um ndiceremissivo dos autores citados e uma bibliografia contendo todas asobras mencionadas, sem prejuzo da bibliografia fundamental quefinaliza o presente volume e da bibliografia geral, actualizada ecomentada, que constituir o objecto do penltimo tomo

    A introduo ser sempre curta, clara e informativa, orien-tando-se fundamentalmente, de acordo com os objectivos quenorteiam a edio, para o esclarecimento do texto traduzido e doscritrios seguidos na traduo

    Em conformidade, e de acordo com as caractersticas de cadatexto, a introduo constar tipicamente de: um breve enquadra-mento histrico da obra traduzida; uma explicitao dos critriosseguidos na traduo; um esquema da estrutura do texto, uma

    apresentao geral dos seus contedos; e uma breve introduofilosficaPor seu lado, as tradues sero feitas a partir das edies de

    referncia adiante indicadas, independentemente das demais edi-es e tradues compulsadas

    A diviso tradicional da obra em livros e captulos integral-mente respeitada, tendo o tradutor a liberdade de lhes atribuirttulos, entre parntesis rectos, desde que esta opo seja expres-samente mencionada e justificada na introduo

    Algumas sugestes de uniformizao geral dos critrios detraduo, no que toca aos conceitos centrais de Aristteles, soapresentadas, discutidas e justificadas no ltimo estudo includono presente volume

    .inalmente, ainda dentro do esprito que enforma o projecto,as notas de rodap sero exclusivamente reservadas para: esclare-cimento de nomes, citaes, episdios histricos, etc, menciona-dos por Aristteles; remisso para outras passagens da mesma

    obra ou para outra obra; identificao de expresses e conceitosintroduzidos; esclarecimento de termos, formas e locues; eluci-dao de passagens e argumentos pouco claros ou controvertidos;indicaes bibliogrficas complementares; curtas interpretaes decontedos; sugesto de pistas de desenvolvimento

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    Qualquer interpretao mais extensa ser remetida, em nota,para um apndice, a figurar no final do volume

    No que respeita s citaes, com excepo daquelas feitas apartir do castelhano, do francs, do italiano ou do ingls, cujo

    domnio pode ser suposto no leitor, todas as efectuadas nas notasou introdues viro acompanhadas, entre parntesis curvos, pelarespectiva traduo

    Por outro lado, quando, nas notas ou introdues, for neces-srio ou conveniente citar uma passagem em grego, esta ser apre-sentada no referido alfabeto, seguida de traduo entre parntesiscurvos, como indicado acima

    No caso da referncia de palavras isoladas, em que ambas

    as prticas tm sido adoptadas pela literatura, com bons funda-mentos de um lado e de outro, ficar ao critrio do tradutor orecurso ao original ou transliterao em caracteres latinos, deacordo com as normas internacionais ou portuguesas aplicveisEm qualquer das circunstncias, o termo assim introduzido serexplicitado circunstancialmente ou remeter para o glossriofinal, salvo quando ocorrer para indicar o original de umaexpresso traduzida no texto ou se tratar de um termo de conhe-

    cimento corrente

    4. Sobre o presente volume

    O presente volume constitudo por quatro secesA primeira, mais curta, trata da edio das Obras Completas

    Aps a caracterizao geral, em que nos encontramos, segue-se adiscriminao do programa editorial completo e quatro captulosmais tcnicos, abrangendo: o elenco das edies de referncia uti-lizadas para efeitos de traduo; a fixao das siglas adoptadasna referncia das obras de Aristteles e de Plato; a indicao domodo de citao das fontes; e a explicitao da notao especialutilizada nos vrios volumes

    A segunda parte corresponde a um breve conspecto da bio-grafia aristotlica, onde se procura reunir a melhor informaodisponvel sobre este tpico e identificar algumas das dvidas e

    enigmas que a este respeito ainda permanecemA terceira parte preenchida por quatro estudos, que tratam

    sucessivamente da histria, estrutura e natureza da coleco aris-totlica, da evoluo e linhas de fora do seu pensamento, de cer-tos problemas de datao das suas obras principais, e, finalmente,

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    das dificuldades provocadas pela traduo de alguns conceitoscentrais, seguidas, em cada caso, de uma sugesto de verso emlngua portuguesa

    Podem ser lidos quer pelo leitor descomprometido, apenas

    interessado nos tpicos neles focados e nas informaes neles reu-nidas, quer pelos estudiosos e investigadores do pensamento an-tigo No primeiro caso, recomenda-se que se ignorem as notas derodap

    O ltimo estudo, relativo ao vocabulrio aristotlico, subs-tancialmente mais complexo e presume, da parte do leitor, algu-ma formao especfica prvia Pode ser omitido sem perda porquem a no tenha

    De registar que as sugestes de traduo nele avanadas scomprometem o autor e devem ser entendidas como recomenda-es informadas e fundamentadas no sentido de uma uniformiza-o do lxico conceptual aristotlico, no como directivas a seremautomaticamente assumidas nas tradues Quem o entenda deoutro modo sentir-se- inutilmente defraudado por aquelas oupor estas

    Como se compreender, algumas das normas acima mencio-

    nadas no sero observadas neste conjunto de estudos e, portan-to, por razo de uniformidade, no conjunto do primeiro volumeTal deve-se ao carcter mais acadmico de que se revestem

    determinados desenvolvimentos dos Estudos, com os quais se pre-tendeu no apenas satisfazer a curiosidade do leitor interessadoem informar-se sobre a obra, o pensamento e o vocabulrio donosso autor, como tambm fornecer pistas e elementos para a in-vestigao dos estudantes da rea e at avanar algumas interpre-taes inditas em matria polmica

    O nico caso relevante de divergncia de natureza formale no colide com nenhuma das regras atrs apontadas

    Ao contrrio do que suceder nos volumes dedicados tra-duo das obras de Aristteles, em que se adoptar o sistema bi-

    bliogrfico autor-data (vulgo, sistema anglo-saxnico), o presen-te volume seguir, incluindo na bibliografia fundamental com quetermina, a regra continental

    Este desvio permite a citao extensiva dos ttulos dos textos

    referidos nas notas, evitando que o leitor tenha de recorrer bi- bliografia para obter toda a informao de que necessita Esta arazo por que foi adoptado

    No final do volume, e como quarta e ltima seco, encon-trar-se- uma bibliografia seleccionada, onde so reunidas as fon-

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    tes e as obras auxiliares ou instrumentais utilizadas na elaboraodas verses portuguesas, bem como a literatura secundria maisgeral ou mais relevante sobre as obras traduzidas e os temas ne-las abordados

    O conhecimento desta ser pressuposto nos prximos volu-mes, pelo que os ttulos a referidos no sero novamente citadosnas respectivas bibliografias, salvo se tiverem sido mencionadosna sua introduo e/ou nas suas notas

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    PLANO DA EDIO

    Parte I: TRATADOS CONSERVADOS

    Volume I: LGICA

    Tomo IIntroduo Geral

    Tomo IICategoriasDa Interpretao

    Tomo IIIPrimeiros Analticos

    Tomo IVSegundos Analticos

    Tomo V

    TpicosTomo VIRefutaes Sofsticas

    Volume II: SICA

    Tomo Isica

    Tomo II

    Sobre o CuTomo IIISobre a Gerao e a Corrupo

    Tomo IVMeteorolgicos

    Volume III: PSICOLOGIA

    Tomo ISobre a Alma

    Tomo IISobre a Sensao (= Parva naturalia, 1)Sobre a Memria (= Parva naturalia, 2)Sobre o Sono e a Viglia (= Parva natu-

    ralia, 3)Sobre os Sonhos (= Parva naturalia, 4)Sobre a Predio pelos Sonhos (= Parva

    naturalia, 5)Sobre a Longevidade e a Brevidade da

    Vida (= Parva naturalia, 6)Sobre a Juventude e a Velhice (= Parva

    naturalia, 7)Sobre a Respirao (= Parva naturalia, 8)

    Volume IV: BIOLOGIA

    Tomo IHistria dos Animais, I-VI

    Tomo IIHistria dos Animais, VII-X

    Tomo IIIPartes dos Animais

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    Tomo IVMovimento dos AnimaisProgresso dos Animais

    Tomo V

    Gerao dos Animais

    Volume V: METASICA

    Tomo IMetafsica, A-E

    Tomo IIMetafsica, Z-I

    Tomo IIIMetafsica, K-N

    Volume VI: TICA

    Tomo Itica a Nicmaco

    Tomo IIGrande Moral

    Tomo IIItica a Eudemo

    Volume VII: POLTICA

    Tomo IPoltica

    Tomo IIOs Econmicos

    Tomo IIIConstituio dos Atenienses

    Volume VIII: RETRICA E POTICA

    Tomo IRetrica

    Tomo IIPotica

    Volume IX: ESPRIOS

    Tomo ISobre o Universo

    Sobre o Alento (= Parva naturalia, 9)Tomo IISobre as CoresSobre aquilo que se OuveisiognomnicosSobre as PlantasSobre os Prodgios Escutados

    Tomo III[Problemas] Mecnicos

    Tomo IVProblemas [sicos]

    Tomo VSobre as Linhas IndivisveisSobre os Lugares e Nomes dos VentosSobre Melisso, Xenfanes e GrgiasVirtudes e VciosRetrica a Alexandre

    Parte II: OBRAS RAGMENTRIAS

    Volume X: AUTNTICOS

    Tomo IDilogos e Obras Exortativas.

    Tomo II

    Tratados, Monografias, Recolhas e Tex-tos Privados

    Volume XI: ESPRIOS E DUVIDOSOS

    Tomo IMedicina

    Apologia contra Eurimedonte a prop-sito da Acusao de Impiedade

    AgriculturaMgico

    Tomo IIEptome da Arte de TeodectesSobre a ilosofia de ArquitasProblemas sicos em 38 (68) (78) li-

    vros.Sobre as Cheias do Nilo

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    Volume XIV

    Tomo IBibliografia geral

    Tomo IIndices

    Parte III: APCRIOS

    Volume XII: LGICA, SICA E META-SICA

    Tomo IDivises [Pseudo-]Aristotlicas.Problemas Inditos [de Medicina].Sobre a Pedra

    Tomo IILivro da CausaLivro da Ma.

    Volume XIII: TEOLOGIA

    Tomo I

    Segredo dos SegredosTomo IITeologia

    Parte IV: BIBLIOGRAIA E NDICES

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    (Ps Arist) Problemata [Physica] C E Ruelle-H Knoellinger (Teubner)(Ps Arist) De lineis insecabilibus M Timpanaro Cardini (Istituto Editoriale

    Cisalpino)(Ps Arist) Ventorum situs et cognomina O Apelt (Teubner)

    (Ps Arist) De Melisso Xenophane Gorgia H Diels (Academia Regia Bo-russica)Metaphysica W D Ross (Oxford University Press)Ethica Nicomachea I Bywater (Oxford Classical Texts)

    Magna Moralia . Susemihl (Teubner)Ethica Eudemia R Walzer-J Mingay (Oxford Classical Texts)(Ps Arist) De virtutibus et vitiis . Susemihl (Teubner)Politica A Dreisehnter (Wilhelm .ink)Oeconomica B von Groningen-A Wartelle (Belles Lettres)

    Ars Rhetorica R Kassel (Walter de Gruyter)

    (Ps Arist) Rhetorica ad Alexandrum M .uhrmann (Teubner)Poetica R Kassel (Oxford Classical Texts)

    Atheniensium respublica M Chambers (Teubner)ragmenta (selecta) Ross (Oxford Classical Texts)ragmenta (omnia) Rose(Teubner)(Ps Arist) Divisiones Aristoteleae Mutschmann (Teubner)(Ps Arist) Problemata inedita Marenghi (Istituto Editoriale Italiano)(Ps Arist) De lapidibus Ruska (Carl Winter Universittsverlag)(Ps Arist) Liber de causis Pattin (TPh, 28, 1966)

    (Ps Arist) Liber de pomo Margoliouth (JRAS, 24, 1892)(Ps Arist) Secretum secretorum Manzaloui (Oxford University Press)(Ps Arist) Theologia Dietrich (J C Hinrichs)

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    MM Magna Moralia.Mu De mundo (pseudepgrafo)MXG De Melisso Xenophane Gorgia (pseudepgrafo)Oec Oeconomica.

    PA De partibus animalium.Ph Physica.Phgn Physiognomonica (pseudepgrafo)Pl De plantis (pseudepgrafo)Po Poetica.Pol Politica.Pr Problemata (pseudepgrafo)Resp De respiratione.Rh Rhetorica.

    RhAl Rhetorica ad Alexandrum (pseudepgrafo)SE Sophistici elenchi.Sens De sensu et sensibilibus.SomnVig De somno et vigilia.Spir De spiritu (pseudepgrafo)Top Topica.VV De virtutibus et vitiis (pseudepgrafo)Vent Ventorum situs et cognomina (pseudepgrafo)

    2. Juvenilia

    Alx Alexander sive De colonis.Amt Amatorius.Bn De bono.Cv Convivium.Dv De divitiis.Eud Eudemus sive De anima.

    Grl De rhetorica sive Gryllus.Id De ideis.Ins De institutione.Iust De iustitia.

    Mn De monarchia.Mx Menexenus.Nb De nobilitate.Nrt Nerinthus.Phil De philosophia.

    Plt Politicus.Prc De precatione.Prt Protrepticus.Pt De poetis.Sph Sophista.Vl De voluptate.

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    3. Apcrifos tardios

    PrIn Problemata inedita [de medicina]LC Liber de causis.

    LP Liber de pomo.SS Secretum secretorum.Lap De lapidibus.Th Theologia.

    II. PLATO

    Alc I Alcibiades I.Ap Apologia Socratis.Chrm Charmides.Cra Cratylus.Cri Crito.Crt Critias.Def Definitiones.Ep Epistulae.Euthd Euthydemus.Euthphr Euthyphro.Grg Gorgias.

    HpMa Hippias maior.HpMi Hippias minor.La Laches.Lg Leges.Ly Lysis.

    Men Meno.Mx Menexenus.Phd Phaedo.Phdr Phaedrus.

    Phlb Philebus.Plt Politicus.Prm Parmenides.Prt Protagoras.R Res publica.Smp Symposium.Sph Sophista.Tht Theaetetus.Ti Timaeus.

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    33

    BALLC Bulletin of the Association for Literary and Linguistic ComputingBDPh Bltter fr Deutsche Philosophie, BerlinC Classical oliaC&M Classica et Mediaevalia. Revue Danoise dHistoire et de Philologie publie

    par la Socit Danoise pour les tudes Anciennes et Mdivales, KbenhavnCPh Classical Philology, ChicagoCQ Classical Quarterly, OxfordCR Classical Review, OxfordEos Eos. Commentarii Societatis Philologae Polonorum, WroclawEranos Eranos. Acta Philologica Suecana, UppsalaGHArss Gteborg Hgskulas Arsskrift, GteborgGM Giornale di Metafisica, GenovaG&R Greece and Rome, Oxford

    Hermes Hermes. Zeitschrift fr Klassische Philologie, WiesbadenHistoria Historia. Revue dhistoire ancienne, WiesbadenHSPh Harvard Studies in Classical Philology, Cambridge (Mass)Inquiry Inquiry, Oslo

    JHS Journal of Hellenic Studies, LondonJPh Journal of Philosophy, New YorkJPhil Journal of Philology, LondonJRAS Journal of the Royal Asiatic Society, LondonKantStud Kant-Studien. Philosophische Zeitschrift, BerlinLEC Les tudes classiques. Revue trimestrielle de recherche et denseignement,

    NamurLThPh Laval Thologique et Philosophique, Qubec

    Meander Meander. Revue de civilisation du monde antique, VarsovieMH Museum Helveticum. Revue Suisse pour ltude de lAntiquit Classique,

    BleMind Mind. A Quarterly Review of Psychology and Philosophy, LondonMnemosyne Mnemosyne. Bibliotheca Classica Batava, LeidenMonist The Monist. An International Quarterly Journal of General Philosophical

    Inquiry, La Salle

    NRS Nuova Rivista Storica, RomaOSAPh Oxford Studies in Ancient Philosophy, OxfordPBA Proceedings of the British Academy, OxfordPCPhS Proceedings of the Cambridge Philological Society, CambridgePhilologus Philologus. Zeitschrift fr Klassische Philologie, BerlinPhilosophica Philosophica, LisboaPhilosQ The Philosophical Quarterly, University of St AndrewsPhR Philosophical Review, New YorkPhronesis Phronesis. A Journal for Ancient Philosophy, Assen

    PhS Philosophical Studies, DublinPlaton Pltwn Delton tj `Etaireaj `Ellnwn .ilolgwn /AqnaiRCCM Rivista di Cultura Classica e Medioevale, RomaRE Paulys Realencyclopdie der klassischen Altertumswissenschaft, StuttgartREG Revue des tudes Grecques, ParisRIC Rivista di ilologia e di Istruzione Classica, Torino

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    RhM Rheinisches Museum, .rankfurt am MainRM Review of Metaphysics, Washington (D C)RMM Revue de Mtaphysique et de Morale, ParisRNeosc Revue noscholastique de philosophie, Louvain

    RPhA Revue de Philosophie Ancienne, BruxellesRPhL Revue Philosophique de Louvain, LouvainRS Rivista critica di Storia della ilosofia, .irenzeRSPh Revue des Sciences Philosophiques et Thologiques, ParisRThPh Revue de Thologie et de Philosophie, LausanneSAWW Sitzungsberichte der sterreichischen Akademie der Wissenschaften in

    Wien, Philosophisch-historische Klasse, WienSHM Studies in History of Medicine, TuglagabadSO Symbolae Osloenses, auspiciis Societatis Graeco-Latinae, OsloSophia Sophia, Napoli-Padova

    WS Wiener Studien. Zeitschrift fr Klassische Philologie und Patristik, Wien

    3. Livros de referncia

    Bekker Aristotelis Opera.Bonitz Index Aristotelicus.Liddell-Scott Greek-English Lexicon Ninth Edition with a Revised Supplement.

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    APARATO CRTICO

    I. Citao dos tratados de Aristteles

    Sigla seguida do nmero correspondente ao livro (em numerao ro-mana) [quando exista] seguida do nmero correspondente ao captulo (emnumerao rabe), pgina Bekker, coluna Bekker, linha(s) Bekker

    Por exemplo:

    Cat 5, 3a8;Metaph I 1, 983b25-28

    II. Citao dos fragmentos de Aristteles

    Sigla correspondente ao ttulo, abreviatura do editor, nmero do frag-

    mento na respectiva edioAs abreviaturas dos editores so as seguintes:

    R2 = Rose, Aristotelis quiferebantur librorumfragmenta, 1870;R3 = Rose, Aristotelis quiferebantur librorumfragmenta, 1886;W = Walzer, Aristotelis dialogorumfragmenta, 1934;R = Ross, Aristotelis ragmenta Selecta, 1955;C = Chroust, Aristotles Protrepticus, 1964;D = Dring, Der Protreptikos desAristoteles, 1969

    III. Citao de textos filosficos pr-socrticos

    Nome do filsofo, DK A/B/C, nmero do fragmento em Diels-Kranz,linhas ou versos

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    NOTAO ESPECIAL

    1 Na silogstica e na teoria da demonstrao aristotlicas, adopta-se ohbito estabelecido de representar as proposies predicativas S P ouP pertence a S pela forma AB, em que A e B podem ser substitudos portermos gerais

    2 Numa proposio de forma AB, segue-se a ordem tradicional (S P) e no a aristotlica (P pertence a S), pelo que A o sujeito e B o pre-dicado

    3 De acordo com os quatro tipos de proposio silogstica, representa-dos em geral por AxB,

    i) a universal afirmativa representada por AaB (com o signifi-cado Todo o A B);

    ii) a universal negativa representada por AeB (com o signifi-cado Nenhum A B);

    iii) a particular afirmativa representada por AiB (com o signifi-

    cado Algum A B);iv) a particular negativa representada por AoB (com o signifi-

    cado Algum A no B)

    4 No quadro dos silogismos modais:

    i) nAaB significa necessrio que todo o A seja B (respectiva-mente para nAeB, nAiB e nAoB);

    ii) cAaB significa contingente que todo o A seja B (respecti-

    vamente para cAeB, cAiB e cAoB);iii) pAaB significa possvel que todo o A seja B (respectiva-mente para pAeB, pAiB e pAoB);

    iv) quando a modalidade for associada a um termo, empregar--se-, por analogia, nA para necessariamente A, cA paracontingentemente A, e pA para possivelmente A

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    5 No contexto da demonstrao,AaB tem sempre o valor de nAaB, peloque esta expresso , neste caso, livremente substituda por aquela

    6 As trs proposies e os trs termos constitutivos do silogismo sorespectivamente designados assim:

    PM (premissa maior) Pm (premissa menor) C (concluso)TM (termo maior) Tm (termo menor) M (termo mdio)

    7 Na representao do silogismo, logo representado por |=8 Para os operadores da lgica elementar, adopta-se a notao unni-

    me ou mais comummente utilizada, nomeadamente: para a negao; para a conjuno; para a disjuno inclusiva; para o condicional ma-terial; para o bicondicional; "x para o quantificador universal; $x parao quantificador existencial

    9 A estes acrescentam-se, como smbolos para os operadores modais, para a necessidade e para a possibilidade A notao cannica da teo-ria de conjuntos ser a adoptada

    10 Utiliza-se igualmente, de acordo com a notao genericamenteperfilhada, |- como sinal de derivabilidade A equivalncia lgica, isto , aderivabilidade recproca de duas proposies, ser introduzida pelo sinal

    11 No caso dos termos gregos, no se distingue a meno pela utili-zao de aspas

    12 Toda a notao introduzida de novo e no mencionada aqui ser

    explicitada ad loc

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    BREVE CONSPECTODA BIOGRA.IA ARISTOTLICA

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    smn gr pwj ka mej tloj

    Ph II 2, 194a35

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    1

    .ONTES

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    tlogo de Hesquio de Mileto (sculo VI) 3, reproduzidapela Suda (sem o catlogo) e editada modernamentepela primeira vez (com o catlogo) por Gilles Mnageem 1663, como apndice sua edio de Digenes

    Larcio (razo pela qual tambm habitualmente co-nhecida por Vita Menagiana);

    3) A Vita Marciana (nome derivado do nico manuscri-to em que se encontra, Marc. gr. 257) [VM], obra co-lectiva da escola alexandrina, cuja data poder remon-tar ao final do sculo V;

    4) A Vita Vulgata [VV], tambm de origem neoplatnica,mas provavelmente um pouco mais tardia (meados

    do sculo VI) 4;5) A Vita Lascaris (nome do autor que a acrescentou, emapndice, a um manuscrito da Vita Vulgata) [VLasc],que um mero conjunto de excertos da Vita Marciana 5;

    6) A Vita Latina [VL], correspondendo em grande medi-da a uma traduo, frequentemente verbatim, da Vita

    Marciana ou do seu original (feita provavelmente porvolta do sculo XII);

    7) Duas biografias siracas [VSI e VSII], de data indeter-minada, que repousam sobre o mesmo original dasneoplatnicas;

    8) Quatro biografias rabes, tambm derivadas da mes-ma fonte, a saber, a includa no Kitab al-ihrist de Ibnal-Nadim (sculo X) 6, a da Selecta da Sabedoria e BelosDitos de al-Mubassir (sculo XI), a da Crnica dos S-bios de Ibn al-Qifti (sculo XIII) e a do Livro de ontesde Informao sobre as Escolas Mdicas de Ibn AbiUsaibia (sculo XIII) 7

    3 Tese proposta pela primeira vez por Rose em De Aristotelis librorum ordineet auctoritate commentatio, pp 48-50

    4 Esta biografia por vezes designada Vita Ammoniana, por ser atribudaao crculo de Amnio Hermeu, fundador da escola neoplatnica de Alexandria

    5 Respectivamente: VLasc 1 = VM 10; VLasc 2 = VM 9 e 25; VLasc 3 = VM 46 O Kitab al-ihrist uma biodoxografia em que se renem os mais ricos

    materiais para o conhecimento da tradio rabe de reflexo, comentrio e tradu-o no perodo a que se refere Esta e as restantes biografias rabes sero indica-das, de aqui em diante, pelo nome do autor

    7 A estas necessrio acrescentar a verso indita atribuda pelo manuscri-to Istambul Aya Sofya 4833 a Ptolemeu al-Garib e que poder ser a verso integralda sua Vita

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    As duas primeiras parecem corresponder a verses inde-pendentes da biografia de Aristteles composta por Hermipode Esmirna, autor menor do peripatetismo antigo, algures no s-culo III a C 8

    Todas as restantes, a saber, os trs eptomes greco-latinos, asduas verses siracas e as quatro biografias rabes, provm daobra perdida de um certo Ptolemeu 9, autor neoplatnico do s-culo IV da nossa era, provavelmente oriundo da escola sria de

    Jmblico 10As notcias de Digenes e de Hesquio mostram-se notavel-

    mente isentas dos tiques e exageros hagiogrficos que caracteri-zam o tratamento alexandrino dos materiais biogrficos, o que

    refora a conjectura de que correspondero ao desenvolvimentoindependente de um antigo filo peripattico, designadamenteradicando na obra, hoje perdida, de Hermipo

    Todas as outras denunciam uma forte influncia neoplatnicaOs eptomes gregos primitivos, a includo o original grego

    da Vita Latina, podero ter sido redigidos ao longo do sculo V,inspirando-se directamente, se bem que de modo independente,na Vida perdida de Ptolemeu

    Est fora de dvida que todos serviram o ensino oral da es-cola alexandrina desde o fundador, Amnio Hermeu, at aos doisescritores cristos David e Elias, no sculo VI, passando por Sim-plcio, Joo .ilpono e Olimpiodoro, o que constitui um elementodecisivo em abono da data indicada como provvel para a suaredaco, entre o original de Ptolemeu, algures no sculo IV, e oincio da instruo regular de Amnio, no final do sculo V No descabido pensar-se que os trs eptomes tenham sido inclusivecompostos na escola de Alexandria e que pelo menos o maisantigo tenha sido pessoalmente redigido pelo prprio Amnio

    As duas curtas notcias siracas so provavelmente mais tar-dias, sendo possvel que remontem aos sculos VII ou VIII da nos-sa era, seja por via da escola de Qennesrin, na qual, em meadosdo sculo VII, pontificava o bispo Severo Sebokht, seja atravs daescola de Edessa, onde, um sculo mais tarde, se destacava Tiago

    8 Para uma tentativa de reconstituio, veja-se o apndice IV9 Trata-se do clebre Ptolemeu al-Garib dos rabes, cujo epteto significa,

    sugestivamente, o desconhecido Voltaremos com mais detalhe a esta figura nocap II do nosso primeiro estudo

    10 Um ensaio de reconstituio encontra-se infra, no apndice V

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    de Edessa, metropolita desta cidade Ambos so bons candidatos autoria do original siraco do eptome da Vita de Ptolemeu,embora as duas solues tambm possam ser cumulativas, umavez que as verses subsistentes denotam um percurso indepen-

    denteA apontar-se para uma data mais precoce, as nicas alterna-

    tivas possveis teriam de ser encontradas entre os autores siracosprimitivos, como Probo (sculo V) ou Srgio de Resaina (sculos V--VI), a quem a tradio atribui tradues e/ou comentrios dosprimeiros tratados do Organon, os quais, na ordem pedaggicaneoplatnica, confinavam com a exposio da vida e obra de Aris-tteles e da Isagoge de Porfrio, o que justificaria um interesse

    particular por parte deles na divulgao da biografia aristotlicaAo contrrio do que sucede com as tradies grega e siraca,a tradio biogrfica rabe corresponde a uma nica linhagem,cuja origem se desconhece com segurana, mas cujo primeiro tes-temunho subsistente o verbete do ihrist de al-Nadim

    Com efeito, a Vida de al-Qifti uma transcrio desta obra eas de Mubassir e de Usaibia correspondem a duas diferentes se-lectas dela retiradas

    Uma hiptese forte para a autoria do original rabe que eletenha sido composto por Hunayn Ibn Ishaq (sculo VIII), notvelerudito cristo siraco do tempo dos califas abssidas de Bagdade,que iniciou a traduo sistemtica para o siraco e para o rabede diversas obras de Aristteles, ou ento que ele tenha tido ori-gem na sua Escola, em que se distinguiu igualmente o filho, IshaqIbn Hunayn, tambm ele tradutor de diversos tratados do Orga-non, o que, pela razo atrs recordada, o torna um candidato na-tural para este efeito

    Curioso o facto de os eptomes rabes serem muito maisricos em detalhes do que os correspondentes gregos e siracos, oque faz suspeitar que os seus autores tero tido acesso a umaverso mais completa da biografia ptolemaica, ou experimentadouma maior preocupao com a fidelidade ao texto, ou ainda, coi-sa que no pode ser completamente descartada, a despeito dareconhecida competncia cientfica e probidade intelectual dosputativos autores do original, descoberto uma noo mais criativa

    do que seja o trabalho editorial 11

    11 Para uma smula das informaes contidas nas antigas Vidas de Aristte-les, veja-se o apndice VI

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    2OS PRIMEIROS TESTEMUNHOS

    Para alm dos importantes documentos indicados atrs, en-

    contram-se avulsamente, por um largo perodo de tempo, nume-rosos testemunhos antigos sobre episdios da vida e caractersti-cas da personalidade de Aristteles, em regra, mas no sempre,sob a forma de lendas, curiosidades e anedotas

    Os elementos certamente mais aliciantes primeira vista, mastambm mais decepcionantes segunda, so os escritos privadosdo prprio Aristteles, entre os quais se contam o testamento, deque adiante falaremos com mais detalhe, as cartas que podem ser

    reputadas como autnticas e os epigramas, hinos e poemas dedi-cados a determinadas personalidades da poca, designadamentea Plato e a Hermias de Atarneu

    De resto, entre os escritos contemporneos de Aristteles,quase nada h de relevante neste domnio

    As nicas referncias com algum valor biogrfico so os frag-mentos preservados do Elogio a Hermias de Calstenes de Olinto,sobrinho e colaborador de Aristteles, e, eventualmente, se a inter-

    pretarmos como visando o nosso filsofo, o que est longe de serseguro, a histria contada por Aristxeno de Tarento na sua Vidade Plato, de acordo com a qual certos discpulos teriam comeadoa ensinar na Academia (sem a sua autorizao e contra a sua orien-tao, subentende-se) durante a ausncia de Plato em Siracusa

    H, no entanto, uma importante excepoTrata-se da polmica movida contra Aristteles por um dis-

    cpulo de Iscrates, Cefisodoro de Atenas, enquanto aquele eraainda membro da Academia, de que se conhecem abundantes por-menores, conservados por autores mais recentes, os quais permi-tem reconstituir alguns dados preciosos a respeito da obra j pu-

    blicada pelo Estagirita, dos interesses que ento o animavam e dastendncias para que o seu pensamento se orientava, bem comoinferir diversas informaes colaterais, nomeadamente acerca dequal seria j, cerca de 360 a C, o estatuto intelectual e a notorie-dade pblica do Estagirita como mestre e escritor acadmico

    Por outro lado, imediatamente a seguir morte de Aristte-

    les, ou, ainda em vida, no lance em que ele se v forado a optarpela segunda e ltima vez pelo exlio, encontram-se importantesdocumentos, todos eles negativos, a respeito do filsofo

    Vemos ento erguerem-se duas grandes correntes hostis aoEstagirita, as quais recorrem a todos os meios, legtimos ou ileg-

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    timos, e lanam mo de todos os indcios e rumores, verdicos oufictcios, para denegrir a sua imagem e destruir a sua credibi-lidade

    De um lado, motivada por antagonismo poltico, a grande

    pliade de publicistas antimacednios, que polarizam todo o seudio e ressentimento em Aristteles, cuja ligao pessoal e afectiva corte de Pla era bem conhecida, ainda que, do ponto de vistapoltico, o no fosse mais do que a que vinculava as demais esco-las atenienses, nomeadamente a isocrtica e a platnica, ao pro-

    jecto imperial de .ilipe e Alexandre.oi o que sentiram alguns, assim que a notcia da morte de

    Alexandre chegou a Atenas e os cidados viram boa a ocasio

    para mostrar novamente o pundonor com que o eramNeste captulo, coube a um desconhecido, de nome Eurime-donte, abrir as hostilidades, levando Aristteles a tribunal porimpiedade, com fundamento no hino por ele escrito em honra deHermias Parece que foi este processo que levou Aristteles a es-colher os caminhos da emigrao, cansado, desiludido ou desgos-tado com o baixo nvel a que a coisa tinha chegado

    Mais tarde, beneficiando de uma nova erupo do esprito

    autonomista, com a substituio de um governo pr por um go-verno antimacednio, ocorrida na Primavera de 306 a C, umoutro desconhecido, de nome Demcares, dirige uma aco legalcontra os filsofos, a includos, com particular destaque, osperipatticos, todos mais ou menos comprometidos com o inimi-go, a comear por Demtrio de .alera, membro da Escola entoacabado de cair em desgraa depois de, por um largo perodo, tergovernado Atenas em nome da Macednia

    Aristteles, pai espiritual dos discpulos do Liceu e, como tal,responsvel por assim dizer gentico por todos os seus actos, eraum alvo fcil por ter sido amigo pessoal de muitos dos detes-tados intervenientes no processo, por ter privado com os reis egovernantes da Macednia, por ter sido professor de muitos dosseus colaboradores, por estar a ser vtima, ao mesmo tempo, deoutras acusaes e, no menos, por estar morto, o que facilita sem-pre extraordinariamente as coisas

    O libelo que a este respeito Demcares redigiu inclua as in-

    sinuaes suficientes para se tornar, de a em diante, numa dasfontes inesgotveis dos tropos e mexericos que enxamearam atradio difamatria

    Bem mais importantes do que qualquer dos anteriores, so,todavia, nem que seja pelos efeitos duradouros das suas interven-

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    es, dois cidados de Quo (no por acaso um Estado reduzidopelas tropas de .ilipe Magno), a quem se devem algumas das mais

    bem-sucedidas torpezas usadas contra a memria de Aristteles,em especial a que lhe assacava o engenho de ter feito carreira

    como favorito de Hermias de AtarneuSo eles Tecrito de Quo, escritor menor da poca de Aris-

    tteles, de que se sabe apenas ter sido um inimigo figadal daMacednia e haver escrito um epigrama infamante sobre as ale-gadas relaes do Estagirita com Hermias, e Teopompo de Quo,historiador grego da escola de Iscrates (o que no aqui despi-ciendo), em cujas obras se abre espao para as mesmas refern-cias caluniosas

    Expressando discordncias doutrinais, por vezes com umavivacidade que roava o insulto e, num caso, pelo menos, com orecurso sistemtico a baixas invectivas pessoais, Aristteles encon-tra, no entanto, nesta poca, um outro conjunto poderoso de ad-versrios tenazes

    esse o caso de Lcon, um filsofo pitagrico contempor-neo do Estagirita, de que nada mais se sabe, mas que ter contri-

    budo para alimentar as acusaes de impiedade que, como vimos,

    desde ento lhe foram feitas, com uma ligeireza no mnimo sus-peitaMas as escolas filosficas de onde, mais cedo e de modo mais

    consistente, partiram as crticas a Aristteles foram a megrica, emque se destacaram Eublides de Mileto, o famoso autor de para-doxos, e Alexino de lis, que parece ter sido um seu discpulomais ou menos insignificante, a quem, segundoDigenes Larcio,os contemporneos preferiam chamar legxnoj (quezilento, numevidente trocadilho com o seu nome), e sobretudo a epicurista,onde logo os primeiros mestres, Epicuro e Metrodoro, se revela-ram como os mais ferozes e violentos crticos do aristotelismo, nohesitando em utilizar nas suas diatribes as injrias postas j acircular pelo partido antimacednio e por alguns membros daescola isocrtica

    Um pouco mais tarde, um discpulo de Epicuro, de nomeColotes, acorreu a salv-lo desta mancha, preferindo a argumen-tao calnia na desmontagem mais penetrante e consistente at

    ento efectuada do sistema aristotlico, e tambm do platnico, emalguns aspectos centrais em que ambos divergem do epicuristaGraas a Plutarco, a sua anlise foi em grande parte preservada,o que nos permite ficar com uma ideia razoavelmente ntida dascrticas que dirige a Aristteles, bem como, o que no de some-

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    nos, da imagem que um observador idneo, mas inteligente, po-deria ter poca do significado e do valor do aristotelismo 12

    Numa segunda gerao, continua a verificar-se a tendnciapara um debate fortemente polarizado na, e envenenado pela, sim-

    patia ou antipatia suscitadas nos escritores coevos por Aristtelese o crculo peripattico

    De entre os autores hostis, destacam-se, em especial: Timeude Tauromnio, um historiador siciliano radicado em Atenas apsa deposio de seu pai do trono da sua cidade; Tmon de .liunte,famoso sequaz do cepticismo pirrnico que optou por filosofar emversos satricos contra as escolas dogmticas; e Hermarco, epi-curista da segunda gerao, que parece ter escrito um panfleto,

    Prj /Aristotlhn, hoje perdidoNo entanto, nesta poca, com os nimos um pouco maisserenados pela estabilizao poltica que a civilizao helensticasedimentar, finda a guerra dos Didocos, que surgem tambmas primeiras reaces contra as simplificaes, injustias e exage-ros que haviam caracterizado a primeira fase da recepo de Aris-tteles

    A primeira, no tempo e em importncia, protagonizada por

    .ilcoro de Atenas, que, apesar de ferozmente antimacednio,procedeu na sua Histria da tica (de que subsistem numerososfragmentos) a um estudo isento dos documentos, da resultando acompleta absolvio de Aristteles e do Perpato das acusaes detraio postas a circular contra eles, designadamente pelo libelode Demcares, bem como a denncia da falsidade de outrasinvectivas infundadas contra o Estagirita

    Neste contexto, .ilcoro pode bem ser honrado como o maisantigo representante da linha de resistncia e inflexo contra amaledicncia lanada contra Aristteles A ele ficamos a dever,para alm do mais, a cronologia da vida de Aristteles que Apo-lodoro fixou e hoje conhecemos atravs de Dionsio de Halicar-nasso e de Digenes Larcio 13

    Outros nomes a reter neste perodo como primeiras figurasda reaco peripattica, agora acentuadamente apologtica, soEumelo, cuja obra praticamente se perdeu, Dicearco, peripattico

    12 Este ponto importante para o estabelecimento do estado do corpus nomomento em que o epicurismo antigo formula a sua crtica, como teremos oca-sio de ver no nosso primeiro escrito

    13 Pode ver-se uma transcrio no apndice VII

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    da segunda gerao de quem se conservam alguns curtos frag-mentos, e principalmente Arston de Cs, escolarca do Liceu en-tre 225 e 190 a C, que foi o verdadeiro fundador da histria doPerpato e cujo trabalho, embora no possa hoje ser compulsado

    directamente, est decerto na base de muito do que a tradiosubsequente, de Hermipo a Digenes e Hesquio, nos veio a trans-mitir

    Entre os detractores contumazes do peripatetismo e os adep-tos incondicionais da Escola, as fontes idneas mais antigas aps.ilcoro encontram-se nos doxgrafos descomprometidos do pri-meiro helenismo

    Duas figuras avultam especialmente no perodo: Antgono de

    Caristo, autor das Vidas dos ilsofos, obra de que Ateneu preser-va diversos fragmentos; e o autor desconhecido do tratado Deelocutione, onde se renem alguns testemunhos relevantes sobre avida e a personalidade do Estagirita

    3A LITERATURA BIOGRICA HELENSTICA

    E NEO-HELENSTICA

    Porm, agora estamos j em plena poca florescente da lite-ratura biogrfica helenstica

    Nela, distinguem-se os escritores de entretenimento, interes-sados sobretudo em compor obras ligeiras, recheadas de histriasvariadas (poiklh stora) e polvilhadas de anedotas saborosas epormenores picantes, e os autores dos mga bibla, livros maissrios, de propsito erudito

    De entre os ltimos, sobreleva, como especialmente impor-tante para o caso de Aristteles, o estudioso Hermipo de Esmirna,

    bibliotecrio peripattico de Alexandria durante o sculo III a C,que comps a mais antiga biografia aristotlica conhecida, incluin-do o texto do testamento e o inventrio dos escritos, acervo pelomenos parcialmente conservado por Digenes Larcio e Hesquiode Mileto

    Outros nomes importantes no perodo so Apolodoro de Ate-

    nas (sculo II a C), gramtico radicado em Alexandria, a quem sedeve, com a de muitos outros, a fixao da cronologia da vida deAristteles, e .ilodemo de Gdaros (sculo I a C), autor deA Su-cesso dos ilsofos e do ndice dos ilosficos Acadmicos, obras queconservam informaes de qualidade transcritas a partir de fontes

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    mais antigas, designadamente no que respeita polmica de Cefi-sodoro com Aristteles, acerca da qual constitui uma das princi-pais autoridades

    De entre os coleccionadores de poiklh stora, o mais antigo

    e influente nesta poca Jernimo de Rodes, escritor peripatticodo tempo de Lcon e de Arston, que determinou, pelo contedoe pelo estilo, sucessivas geraes de literatos do perodo hele-nstico

    Dois sculos mais tarde, Dionsio de Halicarnasso vir a con-tribuir tambm, nas suas numerosas obras, para a preservao demuitos testemunhos antigos sobre a biografia aristotlica

    No sculo I a C abre-se, no entanto, uma nova fase na com-

    preenso da figura de Aristteles, bem como na recepo e trans-misso do seu pensamento, dos seus escritos e tambm dos ele-mentos que circulavam sobre a sua vida e a sua personalidade

    Trata-se do primeiro renascimento aristotlico, promovidopela redescoberta da coleco aristotlica, em que tomaram parteimportante Apeliconte de Teo, biblifilo grego que a ter resgata-do no incio do sculo, e Tirnio de Amiso, gramtico romano, emcuja biblioteca vir a entrar algumas dcadas mais tarde, e marca-

    do pela primeira edio sistemtica das obras de Aristteles, em-preendida em Roma por Andronico de RodesA este incansvel erudito se deve, para alm da referida edi-

    o, a recuperao e a divulgao dos tratados acromticos, quecom a morte de Aristteles haviam deixado de circular, e a fixa-o do cnone da obra aristotlica, dotando-a de uma estruturamuito aproximada da que conhecemos hoje

    O seu labor em prol do renascimento dos estudos aristotlicosfoi continuado por colegas e discpulos, entre os quais cumprereferir Bocio de Sdon, Arston de Alexandria, Eudoro, Xenarco,Atenodoro e, principalmente, Nicolau de Damasco Outro mem-

    bro da Escola em cujas obras se conservam testemunhos relevan-tes sobre a biografia aristotlica o famoso gegrafo Estrabo

    Num domnio aparentado, tambm por essa poca quertemon de Cassandreia procede edio da correspondncia deAristteles, publicando uma extensa coleco de cartas dirigidaspelo filsofo a diversas personalidades, elemento de especial inte-

    resse biogrficoPorm, preparatria do ambiente que havia de propiciar e

    acolher todo este intenso trabalho editorial a emergncia doeclectismo, introduzido na Academia por .lon de Larissa, chefeda Escola no incio do sculo I a C, em substituio do cptico

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    Carnades, de quem fora aluno, e continuado pelo seu discpuloe sucessor Antoco de Ascalo, verdadeiro responsvel pela con-solidao do iderio filosfico que ir marcar toda a IV Academia

    Ambos favorecero o interesse pelo pensamento aristotlico

    e determinaro indirectamente o favor exegtico que a partir danunca mais lhe ir faltar

    Uma outra figura coeva do eclectismo emergente, este deinfluncia predominantemente estica, foi Possidnio de Apameia(sculos II-I a C), em cujos textos se encontram, alis, alguns, pou-cos, testemunhos biogrficos relevantes

    Beneficiando do convvio com todos estes homens, cujas li-es escutou em Roma, Atenas e Rodes, o mais famoso epgono

    da viragem eclctica, e, com ela, do retorno a Aristteles, serCcero, em cujas obras se encontram numerosas referncias aoEstagirita, algumas com grande interesse histrico, em especialquando citam, descrevem ou comentam os escritos exotricos, cujocontedo s conhecemos hoje pelas notcias que ele, e outros comoele, nos legaram

    Esta veia harmonizadora dos pensamentos platnico earistotlico, por uma vez simptica frequncia dos escritos do

    nosso filsofo, ser continuada, e at aprofundada, nos dois s-culos seguintes, pelos autores do platonismo mdioE de facto a membros desta Escola, como Albino, Apuleio

    ou Mximo de Tiro, todos do sculo II d C, que, no perodo,podemos ir buscar elementos informativos de recorte mais erudi-to com implicao directa ou indirecta sobre Aristteles

    J os seus contemporneos e correligionrios Calvino Tauroe tico, sobretudo sensveis s diferenas doutrinrias entre Platoe Aristteles, procuraro antes contrariar a tendncia eclctica do-minante na Academia, o que os tornar particularmente atreitos,em especial no ltimo caso, a servir de veculo s reinvestidas daantiga tradio hostil

    Contudo, a grande figura deste perodo , indiscutivelmente,Plutarco de Queroneia (sculos I-II), prolixo historiador e ensastagrego, em cujas obras se encontra um autntico manancial dedetalhes sobre a vida e a obra do Estagirita, embora nem todosmerecedores de uniforme audincia

    Ainda na poca imperial, o filsofo neopitagrico Numniode Apameia (sculo II) regista alguns dados de relevo sobre a bio-grafia aristotlica, ao mesmo tempo que, com outro flego, omdico e filsofo cptico Sexto Emprico (sculo III) dedica, ora emcontraponto exposio do pirronismo, ora a propsito da refuta-

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    o das correntes dogmticas, algumas pginas extremamenteimportantes para o conhecimento das escolas filosficas preceden-tes, entre as quais a de Aristteles

    Todavia, no mesmo perodo, a literatura regressa tambm ao

    cultivo das poiklh stora (ou, agora, das varia historia), recrian-do uma espcie de neo-helenismo refinado e como que barroco

    nela que vamos encontrar boa parte da informao dispo-nibilizada na poca a respeito do ponto que nos ocupa

    certo que j antes, no primeiro sculo da nossa era, inves-tigadores como Plnio, oAntigo, haviam contribudo para reter al-gumas referncias importantes biografia de Aristteles

    Mas sobretudo no perodo da segunda sofstica que se des-

    cobrem os melhores exemplos deste gnero literrio e tambm asmais substanciais informaes conservadas pela tradioDe entre os escritores de entretenimento com importncia nes-

    te ponto, destacam-se: lio Aristides (sculo II), clebre orador gre-go em cujos discursos so preservados alguns testemunhos impor-tantes sobre o Estagirita; o escritor grego de origem sria Luciano,contemporneo do anterior; o filsofo cptico .avorino, tambm damesma poca, que, para alm dos outros contributos de carcter

    biogrfico que avanou, parece ser a fonte directa de DigenesLarcio no estabelecimento da cronologia de Aristteles; o escritorligeiro Aulo Glio, ainda do sculo II, em cujas Noites ticas so re-colhidas diversas anedotas relativas a Aristteles; um pouco maistarde, o gramtico e orador grego Ateneu de Nucratis, autor damonumental antologia dialogada que ficou conhecida pelos Dipnoso-

    fistas; e Cludio Eliano, escritor e professor de retrica romano, cujasVaria historia preservam diversos testemunhos sobre a vida, a per-sonalidade, os ditos e as obras de Aristteles

    4DO COMENTARISMO S RECOLHAS BIODOXOGRICASTARDIAS

    Eis, contudo, que intervm o momento grande do segundorenascimento aristotlico, ainda nos sculos II-III, marcado pelo

    incio do comentarismo e centrado nos trabalhos pioneiros deAlexandre de Afrodsias, dos seus mestres Adrasto, Hermino,Sosgenes e sobretudo Arstocles de Messina, de alguns dos seuscondiscpulos, como Galeno de Prgamo, figura mpar da medi-cina e da lgica ocidentais, e bem assim dos seus continuadores,

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    movimento filosfico pelo seu discpulo Porfrio, ter uma pala-vra decisiva a dizer na divulgao e na transmisso do pensamen-to pregresso, com especial destaque para Plato e Aristteles

    Para tal contribuiu no apenas a importncia que avulta no

    neoplatonismo histrico do projecto de compatibilizar originaria-mente os pensamentos destes dois autores, como o facto de sehaver institucionalizado em torno de uma escola que assegurouininterruptamente, ao longo de trs sculos, um modelo de ensinoem que os dois filsofos constituam parte essencial do currculo

    Ora, uma vez que possumos informaes directas e fidedig-nas a este respeito 15, sabemos que a apresentao do pensamentode Plato e de Aristteles era invariavelmente precedida por uma

    exposio das respectivas biografias, para a qual contavam comum eptome previamente elaboradoPtolemeu o desconhecido, autor, como veremos, de identi-

    ficao muito controversa 16, ser aqui o nome-chave, uma vez quelhe devemos a matriz de todas as Vitae Aristotelis subsistentes defeio neoplatnica, a saber, aquelas justamente com base nasquais era produzido o ensinamento dentro das escolas

    Sem ser desejvel, para j, proceder a uma discusso acerca

    deste autor, conveniente ficar a saber o pouco que, da Antigui-dade, nos transmitido sobre ele sobretudo na tradio rabe, em que os trabalhos de Ptole-

    meu tero uma enorme utilizao, que se encontram as parcasreferncias primrias ao bigrafo

    Assim, al-Nadim, no final da entrada sobre Aristteles doihrist, introduz uma lista intitulada .ilsofos da natureza cujadata e sucesso no conhecemos, onde surge esta observaoesclarecedora: Ptolemeu al-Garib foi um adepto de Aristteles eespalhou o conhecimento acerca dos seus mritos; o autor dolivro Acerca da Vida de Aristteles, a Sua Morte e a Classificao dosSeus Escritos 17

    J o verbete dedicado a Ptolemeu pela enciclopdia Tabaqatal-hukama de al-Qifti reza assim: Este investigador foi durante

    15 Utiliz-las-emos mais amplamente no captulo IV do nosso primeiroestudo

    16 Voltaremos questo na parte final do captulo II do nosso estudo sobreO Corpus Aristotlico

    17 Traduzimos sempre a partir de Dring, Aristotle in the Ancient Biographi-cal Tradition: aqui a pp 194-195

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    toda a sua vida um filsofo no pas dos Gregos e no o mesmoque o autor do Almageste 18 [] Muitos tipos de investigadoresso conhecidos pelo nome de Ptolemeu Eram distinguidos unsdos outros pelo acrescento de um nome especial, para que pudes-

    sem ser conhecidos por esse nome Com o intuito de mostrar asua solicitude para com Aristteles, este investigador escreveu umlivro Acerca da Vida de Aristteles, a Sua Morte e a Classificao dosSeus Escritos 19

    .inalmente, o artigo de Usaibia sobre Aristteles comea doseguinte modo: Assim fala Ptolemeu no seu livro dedicado aGalo sobre a vida e a histria de Aristteles, o seu testamento e alista dos seus livros famosos 20

    De resto, encontram-se apenas mais duas referncias, umaincompleta e outra equivocada, a Ptolemeu, ao longo de toda atradio grega: uma passagem da Vita Marciana 13, em que elesurge mencionado apenas pelo nome (ao invs do que al-Qifti seafadigava em explicar); e um trecho de David 21, que o confundecom o imperador Ptolemeu .iladelfo, o que mostra, como Dringcorrectamente refere, que a sua identidade j era desconhecidapor volta de 500 d C 22

    No h nenhum outro testemunho antigo sobre PtolemeuEsta situao rara e embaraosa no autoriza grandes conjec-turas, para alm daquelas que Dring sumaria nos seguintes ter-mos 23:

    Em suma: a minha prpria concluso provisria, atque mais elementos emirjam, que Ptolemeu era umneoplatnico alexandrino, influenciado pela, ou perten-cendo , escola de Jmblico (sculo IV d C), e que o so-

    brenome al-Garib foi-lhe dado pelo escritor annimodo sumrio rabe (= Ishaq?) para o distinguir do famo-so Ptolemeu, autor do Almageste

    18 O autor do Almageste o astrnomo peripattico Cludio Ptolemeu, con-

    temporneo mais velho de Alexandre de Afrodsias no Liceu19 Op cit, p 20920 Op cit, p 21221 Olim Elias, In Cat 10711 Busse22 Aristotle in the Ancient Biographical Tradition, p 21023 Op cit, pp 210-211

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    Acerca das tendncias e caractersticas da Vita de Ptolemeu,tal como elas resultam de um cotejo dos numerosos eptomes exis-tentes, damos, uma vez mais, a palavra a Dring 24:

    O carcter geral da biografia de Ptolemeu, comoaqui descrita, implica que nunca se deve confiar nele preciso suspeitar sempre de que as suas afirmaes soinfluenciadas por zelo apologtico Mas seria injusto ig-norar a questo de que, por vezes, transmite factos quecontm acrescentos valiosos tradio biogrfica

    Isto, no que diz especificamente respeito tradio biogrfica

    Mas as escolas neoplatnicas fizeram muito mais do que sim-plesmente recolher a biografia aristotlica: dedicaram-se sobretu-do ao comentrio aturado e exigente dos seus escritos

    E, nos textos desta natureza, h tambm bastas refernciascom impacto no ponto em apreo: no perodo anterior a Ptolemeu,atravs do ensinamento e dos trabalhos didcticos, exegticos efilosficos de Porfrio e de Jmblico; depois desse perodo, umavez que os comentrios de Proclo e Damscio ao pensamento de

    Aristteles se perderam, especialmente atravs dos produzidospela Escola de Alexandria, fundada por Amnio Hermeu no finaldo sculo V e continuada por Simplcio, .ilpono, Asclpio, Olim-piodoro, David, Elias e Estvo de Alexandria, todos eles, emborade modo desigual, autores no menos importantes do ponto devista historiogrfico do que do ponto de vista filosfico

    A nossa histria termina com as recolhas doxogrficas tardias,em que, nalguns casos, repousa boa parte da informao directade que dispomos sobre o pensamento antigo e, no caso vertente,sobre a vida do Estagirita

    Contam-se especialmente neste lote: as clogas e o lorilgiode Joo Estobeu (sculos V-VI), onde se renem milhares de frag-mentos de escritores antigos, alguns com referncias biogrficasimportantes a Aristteles; a Nomenclatura, ou dicionrio biogrfi-co, de Hesquio de Mileto (sculo VI), cronista de Constantinoplasob Justiniano, cujo trabalho sobrevive nos verbetes da Suda,designadamente no que respeita notcia sobre a vida e o catlo-

    go antigo das obras de Aristteles; a prpria Suda, monumental

    24 Op cit, p 472

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    enciclopdia do pensamento antigo composta algures no sculo Xpor um lexicgrafo bizantino desconhecido; e, na tradio rabe,a mais influente das suas doxografias, o Kitab al-ihrist de Ibn AbiIacub al-Nadim, contemporneo do autor da Suda, onde se inclui

    a primeira verso rabe da Vita Aristotelis de Ptolemeu, com trans-crio do testamento

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    acrescentar, ainda no sculo III a C, Bron de Quo, que, num ops-culo sobre o seu conterrneo Tecrito, preservou o epigrama destesobre as alegadas relaes entre Aristteles e Hermias, bem como,dois sculos volvidos, Ddimo, autor de um comentrio sobre De-

    mstenes onde so conservados alguns trechos com o mesmo efeito J os detractores movidos por antagonismo doutrinal pare-

    cem ter percorrido quase toda a gama de escolas disponvel napoca: isocrticos como Cefisodoro e Teopompo; pitagricos comoLcon; megricos como Eublides de Mileto e Alexino de lis;cpticos como Tmon de .liunte; especialmente epicuristas, comoo prprio Epicuro e os seus colaboradores e discpulos Metrodoro,Colotes e Hermarco; e at um platnico tardio como tico

    Com raras excepes, por exemplo Cefisodoro e Colotes, no de modo algum aconselhvel atender demasiadamente aos tes-temunhos transmitidos por semelhante via, uma vez que lhe faltaa imparcialidade mnima que a tornasse credora de confiana

    O mesmo sucede, embora em sentido contrrio, no caso dosrepresentantes da tradio favorvel

    .ilcoro de Atenas , como vimos, um autor fivel, at por-que no escreve em favor de Aristteles, mas sim no exerccio do

    seu mister de historiadorMas j no que se refere aos peripatticos de segunda e tercei-ra geraes, como Eumelo, Dicearco e Arston de Cs, ou aosapologetas tardios, como Arstocles de Messina, a prudncia , denovo, a atitude recomendvel

    Dos restantes escritores favorveis, os que poderiam garantirmaior iseno, como os eclcticos (.lon de Larissa, Antoco deAscalo, Possidnio de Apameia), os editores romanos (Andronicode Rodes, Bocio de Sdon, Nicolau de Damasco), um ou outroplatnico (Albino e Apuleio, por exemplo) e o conjunto de res-ponsveis pelo segundo renascimento aristotlico (Adrasto, Her-mino, Sosgenes e Alexandre de Afrodsias), nada ou quase nadaadiantaram sobre a biografia aristotlica (uma inteligente reser-va?) E os que o fizeram, como Plutarco ou Mximo de Tiro, so,a despeito da sobriedade das suas filiaes filosficas, sobretudohomens do helenismo, a quem a rejeio de qualquer notcia, ain-da que eventualmente falsa, se tornaria insuportvel

    Quanto aos neoplatnicos, sabemos j da tendncia radical-mente hagiogrfica que orientava a sua viso dos antigos Mestres,cegando-os para os aspectos mais humanos e impressionando-ossobretudo com tudo o que parecesse um sinal exterior de subli-midade ou um smbolo incarnado do divino manifestando-se

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    VIDA DE ARISTTELES

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    I

    OS PRIMEIROS TEMPOS

    1NASCIMENTO

    Aristteles nasceu em Estagira (hoje Stavro), cidade do Norteda Grcia continental, junto Trcia e Macednia 1, em 384 a C,

    primeira metade do primeiro ano da nonagsima nona olimpada2

    ,sob o arcontado de Ditrefes 3A cidade, situada na zona costeira leste da Calcdica, do lado

    oposto a Olinto, a metrpole mais poderosa da pennsula, era umaantiga colnia, resultante das primeiras vagas de emigrantes jnicosque a se haviam estabelecido em meados do primeiro milnio

    1 Para a exacta localizao geogrfica, consulte-se a figura 12 De acordo com a cronologia de Apolodoro, ainda adoptada no queconcerne a este e outros detalhes de datao (para os quais convir ir cotejandoos apndices VII, VIII e XIII)

    3 Para uma narrativa mais detalhada da vida de Aristteles, aconselhamosvivamente a leitura do livro de Pierre Louis, Vie dAristote (384-322 avantJsus--Christ), Paris, Hermann, 1990 O presente resumo deve-lhe, alis, bastante da suainspirao, em especial no que concerne organizao dos materiais Importa, noentanto, sublinhar que, embora relativamente fidedigno quanto aos aspectos

    biobibliogrficos, o seu relato altamente romanceado, optando por um tom

    dogmtico mesmo quando as informaes so polmicas e assentam em pressu-postos especulativos ou conjecturais Mais erudita, mas tambm mais rigorosa eactualizada, a notcia redigida por Bernardette Puech para o Dictionnaire desphilosophesantiques (pp 417-423), que reputamos como a melhor e mais fivel noseu gnero, pelo que nos foi igualmente muito til no balano de parte dos da-dos aqui apresentados

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    Ao invs do que foi muito cedo posto a correr, nomeadamen-te pelos detractores de Aristteles, Estagira era, data do seunascimento, uma cidade grega independente e no uma provnciada Macednia S mais tarde, aquando da campanha de .ilipe

    contra Olinto, a Calcdica passar para a dependncia deste reinoe Estagira, ao que parece destruda pelas tropas macednias, serassimilada ao seu territrio (349-348)

    Por uma curiosidade histrica, o famoso orador Demstenes,o mais influente dos prceres ticos do partido antimacednio e,nessa qualidade, natural opositor de Aristteles, nasceu em Ate-nas nesse mesmo ano e vir a morrer, em circunstncias trgicas,na mesma data que assistir agonia do filsofo

    2AMLIA

    O pai de Aristteles, Nicmaco de Estagira, era mdico e per-tencia a uma antiga famlia asclepada, linhagem tradicionalmen-te destinada ao cultivo da arte clnica As numerosas e profusas

    referncias aristotlicas medicina, nomeadamente como exemploemblemtico de conhecimento poitico 4, como modelo epistemo-lgico para o mtodo em tica 5, e como tipo de actividade quevisa o individual 6, o facto de os testemunhos antigos lhe atribu-rem seis tratados perdidos neste domnio 7 e no menos acentralidade com que o singular avulta na sua ontologia, na estei-ra do estmulo hipocrtico para a ateno ao indivduo, no dei-

    4 Cf Top V 7, 136b35-137a1; Metaph Z 7, 1032b2-14; e EE I 5, 1216b10-195 Tpico particularmente bem estudado por W Jaeger em Aristotles Use

    of Medicine as a Model of Method in his Ethics (JHS, 77, 1957, pp 54-61) e G ER Lloyd em The Role of Medical and Biological Analogies in Aristotles Ethics(Phronesis, 13, 1968, pp 68-83) Mas ver tambm: J Owens, Aristotelian Ethics,Medicine, and the Changing Nature of Man, Aristotle The Collected Papers ofJ Owens, pp 169-180; V P Vizgin, Hippocratic Medicine as a Historical Sour-ce for Aristotles Theory ofDynameis, SHM, 4, 1980, pp 1-12; . Wehrli, Ethikund Medizin: zur Vorgeschichte der aristotelischen Mesonlehre, MH, 8, 1951,

    pp 36-626 A medicina trata o indivduo: ver, por exemplo, Metaph A 1, 981a18-

    -21, e EN I 4, 1097a11-147 Alguns deles inegavelmente esprios, como os Problemas Inditos de Medi-

    cina Para esta questo, veja-se o conspecto geral da obra de Aristteles, em apn-dice ao nosso estudo O Corpus Aristotlico

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    xam dvidas acerca da profunda influncia que esta filiao tevesobre a sua orientao filosfica e do vestgio que ela gravou noseu pensamento

    Por seu lado, .stis, sua me, nascera em Clcis, na Eubeia 8,

    por coincidncia (ou talvez no), terra de origem dos colonos quehaviam de fundar a Calcdica na pennsula recortada a nordestedo Monte Olimpo

    Pouco se sabe de resto acerca da sua famlia de nascimentoOs testemunhos subsistentes e, em primeiro lugar, os indcios

    contidos no testamento de Aristteles, cuja autenticidade nor-malmente aceite, permitem-nos, no entanto, dar alguns dados por

    bem estabelecidos

    Em primeiro lugar, os aspectos mais seguros:

    1) Aristteles teve uma irm mais velha, chamada Arim-nesta, e um irmo, Arimnesto, que morreu sem des-cendncia;

    2) Arimnesta casou com um certo Prxeno de Atarneu,npcias de que nasceu Nicanor 9

    A par destes, h, no entanto, algumas hesitaes importantesa referir:

    3) Apesar do que surge com alguma frequncia na maisrecente literatura de divulgao 10, nenhum testemu-nho antigo e nenhuma reconstituio moderna assi-nalam a existncia de qualquer outra irm mais ve-lha de Aristteles para alm de Arimnesta;

    4) Pelo contrrio, a Arimnesta que so atribudos, paraalm do matrimnio com Prxeno, mais um ou mesmodois casamentos, respectivamente anterior e posterior;

    5) Assim, o malogrado historiador peripattico Calste-nes de Olinto, cujo parentesco com Aristteles est

    8 Ver a figura 29 Esta informao sugerida, embora no afirmada, pela ordem dos trs

    personagens, Nicanor, Prxeno e a me de Nicanor, no testamento de Aristte-les, tal como consta em DL V 15 Ver a este respeito C M Mulvany, Notes onthe Legend of Aristotle, CQ 20, 1926, pp 157-160, e A H Chroust, Aristotle A New Light on His Life and Some of His Lost Works, I, pp 77, 83, n 7, 189, 195,337, n 5 e passim

    10 o caso, por exemplo, do livro de P Louis j referido

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    bem atestado, no seria filho de outra irm de Aris-tteles e seu sobrinho directo, como se l por vezes,mas sim neto de Arimnesta, atravs de sua filha Hero,por sua vez nascida de um primeiro matrimnio da-

    quela com um indivduo desconhecido 11;6) Para alm deste, a tradio rabe estabelece ainda re-

    laes de parentesco entre Aristteles e TeofrastoSegundo os bigrafos rabes, Teofrasto seria sobrinhode Aristteles por uma irm ou uma cunhada, o queleva Chroust 12 a atribu-lo a um terceiro casamentode Arimnesta, a saber, com Melanto de Ereso, queDigenes Larcio menciona taxativamente como pai

    de Teofrasto 13

    Certamente que toda esta reconstituio genealgica 14 lar-gamente conjectural No entanto, como sublinha BernardettePuech, no gratuita e apoia-se em dados jurdicos excelente-mente explorados por Chroust 15

    3INNCIA

    A primeira infncia de Aristteles foi passada na corte realda Macednia, onde Nicmaco fora chamado a exercer as funesde mdico da famlia de Amintas III 16, decerto apenas depois da

    11 Esta tese, embora hoje geralmente aceite, em todo o caso moderna:cf W Kroll, Kallisthenes, RE X 1, 1919, col 1675; C M Mulvany e A HChroust, op e loc cit A tradio antiga afasta ainda mais os dois homens: segun-do a Suda, Calstenes seria filho de um primo ou de uma prima de Aristteles,que Plutarco (Alex. 55) identifica com Hero, prima de Aristteles e mulher de umcerto Demtimo ou Calstenes de Olinto

    12 Op cit, pp 77-7813 Cf DL V 36 Mas, para Dring, trata-se aqui de uma mera transferncia

    da relao Espeusipo/Platofeita pelo compilador rabe: cfAristotle in the AncientBiographical Tradition, p 197

    14 Para a qual, veja-se o apndice IX15 Dictionnaire desphilosophes antiques, p 42116 Amintas III, pai de .ilipe II e av de Alexandre Magno, noutras nume-

    raes tambm conhecido por Amintas II (ver, por exemplo, a Encyclopedia Bri-tannica, bem como, para uma explicao possvel, o quadro da dinastia macedniaconstante no apndice X)

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    segunda subida ao trono deste monarca, na sequncia das violen-tas perturbaes que agitaram o pas neste perodo

    provvel que a sua intimidade com o futuro rei .ilipe II, bem como com os seus dois irmos mais velhos, Alexandre e

    Perdicas, que antes dele ocuparam efemeramente o trono, remon-te a estes tempos, em que as relaes mais fortes se estabelecem eas grandes amizades se sedimentam

    tambm provvel que tenha iniciado ento a sua convivn-cia com Antpatro, que vir a ser ministro de .ilipe, regente daMacednia aquando da expedio oriental de Alexandre e chefedo governo imediatamente aps a morte do imperador

    No por acaso, sua proteco que implicitamente entre-

    gar a famlia em caso de morte, nomeando-o executor testamen-trio, como tambm com ele que, de acordo com os catlogosantigos, troca a correspondncia mais vultuosa e, a crer nos frag-mentos subsistentes, porventura a mais interessante

    Esta relao chegada com os prncipes da Macednia e comaltos dignatrios da corte, a par da vinculao asclepada e, maistarde, da convivncia com o ensinamento platnico, constitui umdos principais factores estruturantes da sua personalidade Neste

    caso, todavia, a influncia vai incidir sobretudo nas vicissitudes biogrficas e menos na formao do seu pensamento, em queaqueles dois factores foram mais decisivos

    Com efeito, os dois exlios de Atenas deram-se semprena sequncia de chegadas ao poder do partido antimacednio eforam, com forte verosimilhana, determinados ambos pela suaembaraosa e suspeita proximidade com a monarquia mace-dnia

    Entretanto, em data desconhecida, d-se uma reviravolta do-lorosa na vida de Aristteles

    Provavelmente ainda antes da adolescncia, v-se rfo depai e me, tendo de acolher-se junto da irm, Arimnesta, e docunhado, Prxeno, em Atarneu

    Entra ento em cena um outro personagem que exercer umduradouro ascendente sobre a sua vida, tanto por boas como porms razes: Hermias de Atarneu, o antigo servidor de Eubulo queo tirano far seu valido

    junto dele que Aristteles se acolher quando tiver, pelaprimeira vez, de fugir de Atenas

    Como tambm a ele que os autores hostis a Aristteles re-correro para imputar as calnias mais infamantes, acusando ofilsofo de manter com o eunuco Hermias algo mais do que

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    uma amizade (que de resto nada mais testemunha), graas a umepigrama verrinoso de Tecrito de Quo profusamente citado pelatradio

    Voltaremos, frente, a ouvir falar dele

    Desta sua primeira estada em Atarneu, nada mais sabemosseno que ter durado at ida para Atenas

    Podemos, no entanto, inferir com bastante segurana que asua relao com Arimnesta e Prxeno foi muito prxima e certa-mente muito calorosa

    Um indcio nesta direco a relao que Aristteles por suavez estabelecer com o filho de ambos, Nicanor 17, a quem desti-na a sua prpria filha em casamento 18 e que, a crer na tradio

    biogrfica neoplatnica, ter mesmo chegado a adoptar 19

    17 A identificao deste com o general homnimo de Alexandre foi desa-

    creditada por Dring (Aristotle in theAncient Biographical Tradition, p 271)18 Trata-se apenas de uma disposio testamentria, que no sabemos sechegou a ser cumprida, embora Sexto Emprico assevere que sim ( Adv. Math.I 258) Ver infra o captulo sobre o testamento

    19 Alm dos testemunhos de VM 3, VV 2 e VL 3, esta lenda baseia-se numainscrio de feso, provavelmente datada de 318 a C, em honra de Nicanor deEstagira, filho de Aristteles Ver a este respeito R Merkelbach, J Noll, H Engel-mann, B Iplikcioglu, D Knibbe (ed), Die Inschriften von Ephesos, VI (2001-2958),Bonn, Habelt, 1980, n 2011, e R Heberdey, NIKANWR !ARISTOTELOUSSTAGEIRITHS, estschriftfr Theodor Gomperz Dargebracht zum Siebzigsten

    Geburtstage am 29. Maerz 1902. Von Schuelern reunden Kollegen , Wien, 1902,pp 412-416 A lenda tem sido, no entanto, rejeitada por alguns autores, nomea-damente Mulvany (Notes on the Legend of Aristotle, CQ 20, 1926, p 159),Dring (AristotleintheAncientBiographicalTradition, pp 62-63) e Gottschalk (No-tes on the Wills of the Peripatetic Scholars, Hermes, 100, 1972, p 322) Para todosestes aspectos, veja-se ainda infra o captulo sobre o testamento

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    II

    DE ESTUDANTE A PRO.ESSOR

    1A ACADEMIA

    Chegado a Atenas, algures ao longo do ano de 367 a C,

    possvel que Aristteles tenha comeado por frequentar os cursosministrados na escola de Iscrates, clebre orador e professor deretrica ateniense, rodeado pelo enorme prestgio de uma longacarreira e pelos louros a que os seus mais de 60 anos de idade lhedavam direito

    Por essa poca, a Escola e o seu chefe eram, para alm domais, simpticos causa macednia, o que pode ter sido um ele-mento suplementar a favorecer esta primeira aproximao de Aris-tteles aos institutos que ento floresciam em Atenas

    No deixa, todavia, de ser curioso que, da longa srie dediatribes que, ao longo de toda a sua vida, lhe sero movidas, sera um membro da escola de Iscrates, com grande probabilidadeem nome dela, que caber a duvidosa honra de abrir as primeirashostilidades, logo em 360 a C, com uma polmica sobre a natu-reza da retrica

    O facto que, se Aristteles chegou a participar nos traba-lhos desta escola, foi durante muito pouco tempo e, qui, num

    regime prximo ao que hoje chamaramos um curso livre, de fre-quncia aberta

    Por outro lado, na pressuposio de que Aristteles vierapara Atenas com a inteno j tomada de ingressar na Academia,o desvio pelo ensino isocrtico, a ter existido, pode ter correspon-

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    sempre que d conta da ontologia platnica: a de que Aristte-les no teria sido nunca discpulo directo de Plato, conhecendoapenas o seu pensamento, tal como ns, atravs dos dilogos, aquiou acol interpretados, acrescentamos agora, luz da deriva

    pitagorizante que os escritos de Espeusipo e de Xencrates, con-temporneos, condiscpulos e depois adversrios de eleio deAristteles, impuseram ao destino do platonismo antigo

    Esta ideia, que no nova 3, peca sem dvida mais pela faltade indcios objectivos do que por inpcia ou dislate E, neste sen-tido, com todas as cautelas que devem rodear uma explicaoprivada de elementos historiogrficos atinentes, pode ser aceitecomo uma boa hiptese de trabalho, at que outra melhor, ou a

    emergncia de tais elementos, venham decidir em contrrio

    2O LEITOR

    Entretanto, a fazer f no que a tradio tardia ps a circular,parece que Plato teria em alto apreo as qualidades deste seu

    colaborador talentosoNas antigas Vidas neoplatnicas, atribuem-se ao Mestre

    ateniense duas alcunhas saborosas que este costumaria atribuir aodiscpulo

    A primeira, que de bom grado se compreende, seria a inte-ligncia ( Noj), ou tambm, mais interpretativamente, a inte-ligncia da aula ou da disputa ( noj tj diatribj) 4

    A segunda tem mais forte ressonncia cultural

    Ainda de acordo com os depoimentos de origem alexandrina,Plato chamaria a Aristteles o leitor (nagnsthj), repetindofrequentemente: Vamos a casa do leitor 5

    O interesse desta tirada, a ser verdadeira, no reside tanto noapontamento de uma idiossincrasia do Estagirita, de um trao da

    3 Permeia de cabo a cabo a exigente investigao de H Cherniss em

    Aristotles Criticism of Plato and the Academy4 Com uma notvel constncia nas verses, os testemunhos referem: Plato

    chamava-lhe tambm a Inteligncia, dizendo quando ele faltava lio: a Inte-ligncia est ausente, o auditrio est surdo (kwfn) (VM 7, VL 7, VSI 5;Mubashir 12; al-Qifti; Usaibia 29)

    5 VM 6, VV 5, VL 6 Cf Mubashir 38 e Usaibia 36

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    sua personalidade ou de um seu costume absorvente, mas naapreenso de uma profunda alterao nos hbitos de leitura queo filsofo introduziu na cultura grega

    Com efeito, at Aristteles, os livros no eram lidos, mas sim

    escutados 6O Grego coevo no lia seguindo ele prprio com os olhos as

    masculas do texto, ou soletrando em surdina as letras que ia de-senrolando no papiro, muito menos, como evidente, folheandoas pginas inexistentes dos volumosos cilindros

    Reclinava-se passivamente para saborear, como numa repre-sentao teatral, as frases que um servo educado recitava 7

    A novidade introduzida por Aristteles foi a de acumular

    numa s pessoa a dupla funo de recitador e de ouvinte, fazen-do assim evoluir a noo arcaica de leitor como aquele que lalto para outrem e fundando a partir dela a noo moderna deleitor como algum que l baixo, ou em pensamento, para simesmo

    Neste sentido, chamar a Aristteles o leitor, como faziaPlato, significava assinalar, e qui estranhar, esta mudana, se-no verberar ironicamente uma excentricidade de meteco

    Com efeito, no regime cultural em que cobra sentido onagnsthj, o leitor um escravo e ler uma ocupao servil 8No epteto de Plato, podia, pois, ir tambm insinuado um

    ferrete jocoso contra as preferncias caprichosas do aluno, sendocerto que nele no soava, como imediatamente para ns, a ideiade um leitor curioso e diligente, mas a assimilao degradante aum servio domstico e menor

    6 O Teeteto de Plato d-nos um magnfico exemplo disso, comprovando,ao mesmo tempo, como este estilo era ainda o que se aplicava na Academia; parauma outra ocorrncia platnica, cf Phd 97b Antes de Aristteles, Eurpides pa-rece ter sido uma excepo: cf fr 910 Nauck

    7 Este aspecto est bem documentado na Antiguidade Diversos estudosmodernos do-lhe alguma ateno Vejam-se, em especial: T Birt, Das antikeBuchwesen in seinem Verhltniss zur Litteratur, Berlin, Hertz, 1882; D Diringer, TheBook Before Printing: Ancient, Medieval, and Oriental, New York, Dover, 1982; D C

    Greetham, Textual Scholarship, New York-London, Garland, 19942; L D Reynoldse N G Wilson, Scribes and Scholars, Oxford, Clarendon Press, 19913; J E Sandys, A History of Classical Scholarship I: rom the Sixth Century B. C. to the End of the Middle Ages, Cambridge, Cambridge University Press, 19083; W Schubart, DasBuch bei den Griechen und Rmern, Berlin, G Reimer, 19623

    8 Mais uma vez, o Teeteto platnico uma ilustrao desta realidade

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    Pergunta por isso Dring, com razo, se devemos interp