99
Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA INVENÇÃO À INOVAÇÃO DE EMPREENDEDORES TECNOLÓGICOS DE BASE UNIVERSITÁRIA NO SETOR DE BENS DE CAPITAL Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção. Orientadores: Prof. Antonio José Junqueira Botelho Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol Volume Único Rio de Janeiro Março de 2007

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA INVENÇÃO À INOVAÇÃO DE EMPREENDEDORES TECNOLÓGICOS DE BASE UNIVERSITÁRIA NO SETOR DE BENS DE CAPITAL

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção.

Orientadores: Prof. Antonio José Junqueira Botelho Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol

Volume Único

Rio de Janeiro Março de 2007

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 2: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA INVENÇÃO À INOVAÇÃO DE EMPREENDEDORES TECNOLÓGICOS DE BASE UNIVERSITÁRIA NO SETOR DE BENS DE CAPITAL

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Antonio José Junqueira Botelho

Orientador

Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol Orientador

Prof. Alzira Ramalho Pinheiro de Assumpção UERJ

Prof. Mariza Costa Almeida UERJ

Prof. José Eugenio Leal Coordenador Setorial do Centro Técnico Científico – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 23 de Março de 2007

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 4: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e dos orientadores.

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

Graduou-se em Engenharia de Produção com ênfase em Mecânica na Faculdade de Tecnologia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) em Resende, estado do Rio de Janeiro.

Ficha Catalográfica

CDD: 658.5

Gaio, Arnaldo Pinheiro Costa Percepções da passagem da invenção à inovação de empreendedores tecnológicos de base universitária no setor de bens de capital / Arnaldo Pinheiro Costa Gaio ; orientador: Paulo Roberto Tavares Dalcol ; co-orientador: Antônio José Junqueira Botelho. – 2007. 96 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Engenharia Industrial)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Inclui bibliografia 1. Engenharia industrial – Teses. 2. Empreendedor. 3. Inovação local. 4. Bens de capital. I. Dalcol, Paulo Roberto Tavares. II. Botelho, Antônio José Junqueira. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Industrial. IV. Título.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 5: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Dedico à memória de meu pai, à minha mãe, aos meus irmãos e, especialmente, à minha esposa, por compreender o caminho por mim escolhido.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 6: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Agradecimentos

À professora Alzira Ramalho Pinheiro de Assumpção pelo apoio, incentivo e

ensinamentos que me fizeram trilhar o caminho do ensino e da pesquisa.

Aos meus orientadores, Professores Antonio José Junqueira Botelho e Paulo

Roberto Tavares Dalcol, pelo estímulo e parceria para a realização deste trabalho.

Aos empreendedores entrevistados, André Souza e Luis Guedes; ambos foram

generosos e fundamentais para esta pesquisa.

À professora Maria Angela Campelo de Melo, pela recepção e apoio no início

desta jornada.

Ao professor Eugênio Kahn Epprechet, pelo trabalho desenvolvido em conjunto e

todo o aprendizado gerado.

Aos amigos que fiz na PUC-Rio.

A minha mãe, um exemplo de vida para todos que, realmente, a conhecem.

A minha esposa, a quem já dedico este trabalho e minha vida.

Aos meus irmãos, que carrego comigo em meus pensamentos e em meu coração.

A todos os professores e funcionários da PUC-Rio, pelos ensinamentos e pela

ajuda.

A todos os amigos e familiares que de uma forma ou de outra me estimularam ou

me ajudaram.

Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não

poderia ter sido realizado.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 7: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Resumo

Gaio, Arnaldo Pinheiro Costa; Dalcol, Paulo Roberto Tavares; Botelho, Antonio José Junqueira. Percepções da Passagem da Invenção à Inovação de

Empreendedores Tecnológicos de Base Universitária no Setor de Bens de Capital. Rio de Janeiro, 2007. 96p. Dissertação de Mestrado - Departamento Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Esta dissertação trata da passagem da invenção à inovação por

meio de um estudo exploratório das percepções de empreendedores

tecnológicos de empresas start-up de origem universitária. Tendo em vista

as diferenças existentes entre os setores da economia e por ser o setor

de bens de capital uma prioridade da política industrial brasileira e um

setor difusor de tecnologia, foram abordados empreendedores apenas de

empresas start-up desse setor. Os objetivos deste estudo são: coletar e

analisar as percepções do empreendedor em relação à passagem da

invenção à inovação e analisar o processo decisório de avaliação da

oportunidade pelo empreendedor. Através dos relatos dos

empreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a

perseguir a oportunidade identificada, que questões se destacam na

passagem da invenção à inovação e, por fim, o aprendizado do

empreendedor. Essa análise cruzada permitiu, entre outros pontos,

observar o papel dos role models no empreendedorismo tecnológico, a

importância das incubadoras, o papel do governo federal em relação ao

gap financeiro, o caráter local da inovação e a extensão da transição

entre a invenção e a inovação.

Palavras-chave Empreendedor, inovação local, bens de capital.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 8: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Abstract

Gaio, Arnaldo Pinheiro Costa; Dalcol, Paulo Roberto Tavares (Advisor); Botelho, Antonio José Junqueira (Advisor). Perceptions of the Transition from

Invention to Innovation of University-based Entrepreneurs in the Capital Goods Sector. January, 2007. 96p. MSc. Dissertation - Departamento Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This work deals with the transition from invention to innovation through an

exploratory study of university-based technological start-up entrepreneurs'

perceptions. In light of the differences among economic sectors, and of the

fact that the capital goods sector is an industrial policy priority for Brazil

and plays a role in technology diffusion, the start up entrepreneurs

covered in this study belong to this sector. This dissertation has two

objectives: collect and analyze entrepreneurs' perceptions on the passage

from invention to innovation and on the opportunity assessment decision-

making process that makes the entrepreneur to launch a start-up. Making

use of interviews with entrepreneurs, this work discusses the factors that

make the entrepreneur pursue an opportunity, what issues he considers

most relevant in the passage from invention to innovation and, finally, the

entrepreneurs' learning curve. This composite analysis, allowed to identify

the importance of role models for technological entrepreneurship, the

importance of business incubators, the role of federal government in

dealing with the financial gap, and the localized nature of innovation and

the long time it takes to cross from invention to innovation.

Keywords

Entrepreneur, local innovation, capital goods.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 9: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Lista de Siglas

ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica CENPES - Centro de Pesquisas da Petrobras CNAE/IBGE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Coppe-Ufrj - Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia - Universidade Federal do Rio de Janeiro ENPI - Escritório de Negócios em Propriedade Intelectual FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos Inmetro - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial INT- Instituto Nacional de Tecnologia MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MDICE - Ministério de Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development PEBT – Pequenas Empresas de Base Tecnológica P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PNI – Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ReINC – Rede de Incubadoras, Pólos e Parques Tecnológicos do Rio de Janeiro SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFF – Universidade Federal Fluminense UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro II PND - Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 10: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Sumário

1.0 Introdução 13

1.1 Caracterização do Problema 14

1.2 Relevância do Estudo 15

1.3 Delimitação do Problema e Objetivos do Estudo 16

1.4 Metodologia 18

1.4.1 Protocolo de Pesquisa 19

1.4.2 Critérios para Elaboração do Roteiro de Entrevista com o

Empreendedor 20

1.4.3 Empreendedores Selecionados 22

1.5 Estrutura da Dissertação 23

2.0 O Setor de Bens de Capital e o Segmento de PEBT 25

2.1 O Setor de Bens de Capital 25

2.2 A Capacidade Inovativa do Setor 30

2.3 PEBT de Origem Universitária do Setor de Bens de Capital 35

3.0 A Inovação e o Empreendedorismo Tecnológico 39

3.1 Os Tipos de Inovação 40

3.2 Natureza do Conhecimento 41

3.3 A Apropriabilidade da Inovação 42

3.4 Importância dos Ativos Complementares 43

3.5 O Referencial de Branscomb & Auerswald para a Passagem da

Invenção à Inovação 44

3.6 Empreender ou não empreender: a reflexão proposta por Bhide 46

3.6.1 O Primeiro Degrau de Bhide 47

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 11: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

3.6.2 O Segundo Degrau de Bhide 48

3.6.3 O Terceiro Degrau de Bhide 49

3.7 O Empreendedorismo Tecnológico 50

3.8 Questões para Avaliar o Empreendimento 53

4.0 Apresentação dos Resultados das Entrevistas 56

4.1 Gávea Sensors: sensores a fibra ótica 56

4.1.1Apresentação da Empresa 56

4.1.2 Apresentação das Evidências 57

4.2 Ativa: tecnologia e desenvolvimento 63

4.2.1Apresentação da Empresa 63

4.2.2 Apresentação das Evidências 64

5.0 Discussão dos Resultados 70

5.1 A Decisão de Empreender ou não. 70

5.2 A Passagem da Invenção à Inovação 74

5.3 O Aprendizado na Travessia do Vale da Morte 75

6.0. Conclusões 78

Bibliografia 85

Referências Bibliográficas 85

Bibliografia de Consulta 87

Sites Consultados ou Referências Eletrônicas 88

Apêndice 90

Apêndice 01 – Roteiro das Entrevistas Aplicadas 90

Apêndice 02 – Carta Convite ao Empreendedor 94

Apêndice 03 – Carta de Agradecimento ao Empreendedor 95

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 12: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Anexos 96

Classificação Nacional das Atividades Econômicas CNAE/IBGE 96

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 13: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Lista de Figuras

Figura 01 - Estrutura Metodológica Empregada 18

Figura 02 - Esquema Protocolo de Pesquisa 19

Figura 03 - Produtividade da Indústria de Bens de Capital 28

Figura 04 - Resultado Geral Inc. 500 30

Figura 05 - Resultados Inc. 500 – Bens de Capital 31

Figura 06 - Taxas de Inovação PINTEC 1998-2000 32

Figura 07 - Taxas de Inovação PINTEC 2001-2003 33

Figura 08 - Participação percentual do número de empresas

que implementaram inovações 34

Figura 09 - Regime de Apropriabilidade de Ativos de

conhecimento 43

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 14: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

1.0.

Introdução

A passagem da invenção à inovação é o tema central desta pesquisa. O

processo de inovação tecnológica, que consiste, de forma sintética, em

transformar uma invenção em um produto ou serviço entregue ao mercado,

movimenta a nova economia. Muitos estudos sobre aspectos econômicos e sociais

desse fenômeno têm sido desenvolvidos.

O Brasil, como país inserido no sistema global de comércio, passou a

reconhecer, nos últimos anos, esse fenômeno como gerador de crescimento

econômico, alinhando-se frente aos resultados de estudos desenvolvidos pela

Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) e de outras

instituições ou pesquisadores. A inovação tecnológica foi fortemente incorporada

na retórica governamental nos mais variados níveis. Essa orientação pode ser

observada, no Brasil, através de publicações de órgãos como a Financiadora de

Estudos e Projetos (FINEP), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) e o Ministério de Desenvolvimento da Indústria e do Comércio

Exterior MDICE. O papel central da inovação para o desenvolvimento econômico

pode ser observado na Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

(PITCE), que coloca a inovação como “elemento-chave para o desenvolvimento

da competitividade industrial e nacional” (MDICE, 2004:04).

Dentro desse processo de reconhecimento da importância da inovação pela

PITCE, o setor de bens de capital é tido como estratégico para o desenvolvimento

econômico do país. Entretanto, diferentemente do que aconteceu no Segundo

Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), existem outros setores

considerados também estratégicos, como os de semicondutores, de software e de

fármacos e medicamentos. Um estudo sobre a competitividade brasileira no setor

de bens de capital, desenvolvido pelo BNDES, justifica sua relevância da seguinte

forma: “Por ser um dos setores-chave na determinação da produtividade média da

economia e do perfil competitivo de praticamente todos os setores da atividade

produtiva, a indústria de bens de capital é de grande importância para o processo

de desenvolvimento econômico” (CAFÉ, Sônia L.; NASSIF, André; SOUZA,

Priscila Z.; SANTOS, Bruno G. dos, 2004:224). Em outro estudo desenvolvido no

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 15: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

14

BNDES, Alem & Pessoa (2005) atribuem ao setor o papel de difusor do progresso

tecnológico, posição ratificada pelo MDICE (2004), que ressalta também seu

papel no acúmulo de capital.

1.1.

Caracterização do Problema Dentro do tema de inovação e empreendedorismo tecnológico existem

várias abordagens possíveis e muitos recortes. O recorte aqui escolhido pretende,

fundamentalmente, abordar a passagem da invenção à inovação. O foco do estudo

está na percepção do empreendedor sobre essa passagem considerando-se também

a avaliação feita pelo mesmo em relação às suas chances de sucesso antes de

empreender.

Dentro deste recorte, o universo estudado restringe-se ao de empresas

start-up do setor de bens de capital de origem universitária. O recorte empregado

nesta pesquisa é ainda mais específico, pois os empreendedores são todos da

cidade do Rio de Janeiro, todos de empresas start-up de origem universitária, e

todos de empresas que foram incubadas. Para elucidar mais profundamente o

objeto de investigação desta pesquisa segue um exemplo metafórico.

Pense em um rali. O que pode ter um rali, como o Paris-Dakar, por

exemplo, em comum com a passagem da invenção à inovação, e mais ainda, com

a pesquisa a ser desenvolvida? Deve-se indagar: o que faz com que pessoas de

várias partes do mundo participem de um rali como este - além de sua motivação

intrínseca1? O prêmio reservado ao vencedor, principalmente, seria uma resposta

possível. Todos sabem as regras e os perigos que podem enfrentar ao aventurar-se

em um rali como este. Existem muitas formas de falhar, mas algo faz com que

equipes de várias partes do mundo, lideradas por um indivíduo (o empreendedor),

avaliem ser possível chegar a esse prêmio. O resultado positivo dessa avaliação as

faz participar da competição. Mas, como se sabe, muitos falham; existem

múltiplas formas de falhar, e as equipes, do mesmo país ou de países diferentes,

percebem esse risco de forma distinta. Cada equipe traçará uma estratégia para

chegar ao prêmio, cada uma desenvolverá soluções para cada questão importante

e, constantemente, reavaliará suas decisões. A percepção das equipes também

1 Essa discussão pode ser aprofundada em Amabile (1997).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 16: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

15

muda com o decorrer da prova, o que pode levar muitas delas a desistirem no

meio do caminho.

Descrever como essas mudanças ocorrem, como as questões são

solucionadas é importante para que outros competidores aumentem sua chance de

sucesso. Essa descrição serve, também, como fonte para que os grupos de onde

provêm se aperfeiçoem (dado que enfrentam um mesmo ambiente), mudem sua

forma de se organizar, dentre outras ações. Em nenhum momento, foi abordado o

porquê de um grupo ou indivíduo escolher o rali, dentre tantas opções disponíveis

de aventura e competição. O que interessa aqui é saber como, decidido pelo rali, o

competidor (empreendedor) chegou à conclusão de que poderia ganhar, de que

modo avaliou sua capacidade de explorar essa oportunidade e como a moldou,

além de identificar quais as maiores questões enfrentadas e como a equipe deu

conta delas.

A partir do acima exposto, esta pesquisa, esta visa a estudar o processo de

inovação tecnológica sob a perspectiva da transição da invenção à inovação,

assinalada por Branscomb & Auerswald (2001). Essa transição é descrita pela

alegoria do Vale da Morte e suas fendas, que serão apresentadas mais adiante. É

preciso lembrar, porém, que antes do empreendedor decidir atravessar o Vale da

Morte, ele deve avaliar algumas questões e assim perseguir, ou não, a

oportunidade identificada. Nesta pesquisa, essa avaliação será balizada pelos

trabalhos de Bhide (1999), principalmente, e pelo de Bygrave (1997).

1.2.

Relevância do Estudo

A relevância do estudo pode ser apresentada em três pontos. O primeiro

ponto trata da importância de se estudar o processo de passagem da invenção à

inovação. O segundo ponto trata da importância prática deste estudo. O terceiro

ponto trata da relevância de se estudar a passagem da invenção à inovação no

setor de bens de capital.

O referencial adotado para estudar a transposição do Vale da Morte,

assinalada por Branscomb & Auerswald (2001), propõe que existem fendas a

serem enfrentadas pelo empreendedor. Esse referencial foi desenvolvido pelos

pesquisadores, tendo como base os casos de empresas start-up americanas e a

percepção destas sobre as dificuldades encontradas no processo. Dadas as

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 17: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

16

diferenças entre os países e seus sistemas de inovação, justifica-se a investigação

das fendas que se apresentam aos empreendedores brasileiros, cotejando-as e

descrevendo-as em suas possíveis peculariedades. A passagem da invenção à

inovação existe em qualquer lugar, mas as questões a serem resolvidas pelos

empreendedores podem ter uma forma ou solução local.

A relevância prática do presente estudo emerge de sua importância como

fonte de reflexão para o desenho de políticas públicas e ou de outras iniciativas

que provoquem mudanças, a fim de tornar a inovação nesse setor mais freqüente e

frutífera. O fato de o setor de bens de capital ser um dos setores prioritários da

política industrial brasileira, por si só, já justificaria este estudo. Este trabalho

pode apontar caminhos para uma melhor promoção da inovação no setor, levando

em conta suas particularidades. Além disso, podem surgir novas questões a serem

investigadas que complementarão o trabalho aqui desenvolvido e que poderão,

também, fomentar os formuladores de políticas.

O setor de bens de capital funciona como fornecedor de “insumo” para as

indústrias de transformação. Quanto melhores, tecnologicamente, forem os

“insumos”, melhores os resultados dos processos produtivos, e melhor a

competitividade da indústria de transformação, em geral. Como assinalado por

Gür (2004), entre outros, e ratificado pelo MDICE (2004), o setor de bens de

capital é um setor difusor de tecnologia.

1.3.

Delimitação do Problema e Objetivos do Estudo

A fim de delimitar o problema a ser estudado, far-se-á um zoom sobre o

fenômeno de transição da invenção à inovação (Branscomb & Auerswald, 2001).

A invenção é a descoberta científica que pode vir a ser aplicada comercialmente

ou, simplesmente uma idéia da qual se pode tirar proveito econômico. Por

inovação entende-se um produto, processo ou serviço pronto para o mercado. Essa

é a definição de inovação que será utilizada aqui, dentre tantas outras com

finalidades específicas.

Entre a invenção e a inovação, ou entre uma descoberta científica

potencialmente aplicável comercialmente e um produto ou processo no mercado,

existe, segundo Branscomb & Auerswald (2001), o Vale da Morte. Esse vale

apresenta inúmeros riscos para aqueles que tentam vencê-lo - os empreendedores.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 18: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

17

Dentre as motivações do empreendedor em atravessar esse vale, a primordial está

ligada aos retornos financeiros percebidos; retornos estes originários da inovação.

Diferentemente do que se pode pensar em um primeiro instante, os riscos

associados a esse fenômeno não são meramente tecnológicos. No Vale da Morte,

existem várias fendas (questões) que o empreendedor deve superar, construindo

pontes que o possibilitem seguir em frente. Essas fendas são características

próprias desses vales, não importando sua localização geográfica. Porém, ao

contrário do que se espera, os meios de atravessar o vale podem não ser

transferíveis geograficamente, não sendo passíveis de replicação. Assim, as

soluções para vencer o Vale da Morte podem variar, surgindo, inclusive, novas

fendas com características diferentes daquelas já identificadas por Branscomb &

Auerswald (2001). As fendas identificadas pelos autores são: 1) a fenda

financeira, 2) a fenda de pesquisa e 3) a fenda de informação e confiança.

O objetivo principal desta dissertação é identificar e analisar as percepções

sobre a passagem da invenção à inovação de empreendedores de empresas start-

up de origem universitária do setor de bens de capital.

Um objetivo secundário e complementar é analisar o processo decisório de

avaliação da oportunidade pelo empreendedor. Ou seja, pretende-se explorar os

componentes da avaliação feita pelo empreendedor para atravessar o Vale da

Morte, segundo o referencial de Bhide (1999).

A importância complementar do objetivo secundário reside no fato de que

as percepções e estratégias utilizadas pelo empreendedor nas atividades

subseqüentes à travessia do Vale da Morte são moldadas pelo aprendizado e pelas

lições que extraiu da decisão de perseguir a oportunidade. Não se pretende,

todavia, avaliar o reconhecimento de oportunidades, pois esse é um tópico que

não viria a contribuir para o objetivo principal2. Esse objetivo secundário, como

dito anteriormente, tem como referência o trabalho de Bhide (1999), que coloca

questões sobre as quais o empreendedor deve se debruçar, antes de lançar-se à

inovação. A avaliação da oportunidade de inovação depende da capacidade do

empreendedor em reconhecer continuamente seus desejos pessoais, suas

limitações e suas qualidades e de sua capacidade de pensar e repensar estratégias

2 Esse tópico é um dos grandes temas no campo do empreendedorismo. Um tratamento recente no Brasil está em Alves (2003).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 19: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

18

que possam ser executáveis e que satisfaçam tanto as suas metas pessoais, quanto

às da empresa.

As questões de pesquisa a serem respondidas são: (a) Quais os fatores

avaliados pelo empreendedor ao tomar a decisão de atuar sobre a oportunidade

identificada, ou seja, o que o impulsiona a lançar-se na arriscada jornada de

travessia do Vale da Morte?, (b) Como o empreendedor de empresa start-up do

setor de bens de capital enfrenta as fendas existentes no fenômeno da passagem da

invenção à inovação?, (c) Que aprendizado o empreendedor extraiu das

experiências anteriores que o prepare melhor para enfrentar os desafios

apresentados por fendas que ainda não atravessou?

1.4.

Metodologia Em função dos objetivos estabelecidos no tópico anterior do capítulo

introdutório desta dissertação, desenvolveu-se a estrutura metodológica

apresentada na Figura 01.

Figura 01 – Estrutura Metodológica Empregada.

Fonte: Elaboração Própria.

ESTRUTUTAM ETODOLÓGICA

VERTENTE TEÓRICA VERTENTE EMPÍRICA

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03

ESTUDO EXPLORATÓRIO

ENTREVISTAS

ANÁLISE

CAPÍTULO 04

CAPÍTULO 05

CAPÍTULO 06

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 20: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

19

1.4.1.

Protocolo de Pesquisa

Este protocolo de pesquisa visa elucidar os procedimentos de pesquisa

para o leitor e servir como guia para a execução deste estudo, garantindo uma

uniformidade de abordagem em cada unidade estudada. Segundo Martins (2006),

o protocolo de pesquisa é um forte elemento para mostrar a confiabilidade de um

estudo. “Isto é, garantir que os achados de uma investigação possam ser

assemelhados aos resultados da replicação do estudo de caso, ou mesmo de outro

caso em condições equivalentes ao primeiro, orientado pelo mesmo protocolo”

(Martins, 2006:74). O protocolo tem por objetivo uniformizar a aplicação da

metodologia de pesquisa empregada, conforme Figura 02. Nos apêndices 02 e 03

estão a carta-convite e a carta de agradecimento, ambas enviadas aos

empreendedores.

Seleção dePossíveis

Entrevistados

Verificação dadisponibilidade do(s)

empreendedoresIntrodução àEntrevista

Confirmada aParticipação

Marcar Entrevista (s)Realizar

Entrevista (s)

Apresentação dosresultados

Enviaragradecimentos

aos entrevistados

Entrevistaoutros atores

Conclusão

Discussão dosresultados

Avaliação pelosempreendedores

envolvidos

Resultadosatisfatório

Sim

Sim

Não

Não

Não

SimGravação

Carta deAgradecimento

Figura 02 – Esquema Protocolo de Pesquisa.

Fonte – Elaboração Própria.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 21: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

20

1.4.2.

Critérios para Elaboração do Roteiro de Entrevista com o Empreendedor

“A entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca

do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer,

fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das

coisas precedentes” (Selltiz et alli, 1967:273 apud Gil, 1999:117). Tendo em vista

a qualidade da pesquisa realizada, na formulação e aplicação do roteiro de

entrevista deve-se atentar para os requisitos apontados por Lodi (1974) apud Gil

(2002:97): validade, relevância, especificidade e clareza, cobertura de área,

profundidade e extensão.

O principal critério para elaboração do roteiro de entrevista junto ao

empreendedor foi o tempo a ela destinado. Procurou-se projetar um roteiro com

duração de aplicação de uma hora, período considerado exeqüível junto aos

empreendedores. A entrevista com o empreendedor foi dividida em módulos, de

forma a abordar as questões consideradas relevantes para atingir os propósitos

dessa pesquisa. O roteiro de entrevista aplicado foi previamente validado, através

de entrevistas com um empreendedor que não será identificado. Na construção

deste roteiro, que se encontra no Apêndice 01, destacam-se as proposições a

seguir, norteadoras das questões de pesquisa.

Para que as respostas às questões de pesquisa tenham um norte, uma

direção mais clara, colocar-se-ão as proposições que orientarão a pesquisa.

Abordar-se-ão as proposições relativas a cada uma das questões de pesquisa

separadamente.

A primeira questão de pesquisa é: Quais os fatores avaliados pelo

empreendedor ao tomar a decisão de atuar sobre a oportunidade identificada, ou

seja, o que o leva a lançar-se na arriscada jornada de travessia do Vale da Morte?

Como dito anteriormente, não se pretende avaliar a identificação e a seleção de

oportunidades. O presente trabalho busca entender a avaliação feita pelo

empreendedor sobre a oportunidade selecionada, levando-o a iniciar a travessia do

Vale da Morte. Em outras palavras, como ele avaliou que poderia ter sucesso com

sua empresa start-up. Deve-se ter em mente que muitos reconhecem

oportunidades, mas não as perseguem. O reconhecimento de oportunidades não

implica na abertura de uma empresa. Algumas pessoas desistem frente à falta de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 22: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

21

recursos financeiros, ou por chegarem a conclusão de que não possuem os ativos

complementares importantes para concorrer com as empresas estabelecidas, ou

por estarem em um momento de sua vida pessoal não propício à abertura de uma

nova empresa, tendo que abandonar um emprego “seguro”, por exemplo. No

entanto, este estudo está orientado a pessoas que lançaram novas empresas, que

avaliaram ou acreditaram na oportunidade identificada. Então, volta-se à

avaliação, como assinalado por Bhide (1999); antes de lançar uma empresa, os

empreendedores devem avaliar suas metas pessoais, a estratégia que pretendem

adotar e sua capacidade de executar o que foi planejado.

A segunda questão de pesquisa é: Como o empreendedor de empresa start-

up do setor de bens de capital enfrenta as fendas existentes no fenômeno da

passagem da invenção à inovação? O Vale da Morte de Branscomb & Auerswald

(2001) é caracterizado pela existência de fendas que os empreendedores devem

vencer para transformar uma invenção em uma inovação. Considera-se que o Vale

da Morte existe em qualquer país, é uma característica do processo de transição da

invenção para a inovação. Ele representa as dificuldades de tornar uma

oportunidade reconhecida em um negócio de sucesso. O sucesso é entendido aqui,

a priori, como o êxito de colocar um produto no mercado. O sucesso não será

medido a posteriori, ou seja, como função de uma liderança do mercado ou

crescimento elevado da receita da empresa. Além disso, a empresa de cada

empreendedor entrevistado pode ter atravessado um conjunto específico de

fendas, ou seja, elas podem estar em estágios diferentes de sua existência. Existe

ainda a possibilidade de não serem identificadas as mesmas fendas de Branscomb

& Auerswald (2001) no Vale da Morte brasileiro. As fendas podem ser diferentes

ou mesmo enfrentadas de formas diferentes por setores diversos. Essa proposição

é coerente com as diferenças nos processos inovativos entre os setores. Podem ser

citados, como exemplos, o setor de medicamentos e o setor de softwares. Cada um

tem suas especificidades, o que pode trazer novas fendas ou mudar a forma com

que uma mesma fenda é enfrentada. Por isso, este estudo concentrou-se apenas em

empresas do setor de bens de capital (mesmo nesse setor existem diferenças a

serem consideradas).

A terceira questão é: Que aprendizado o empreendedor extraiu das

experiências anteriores que julga ser importante, que o prepare melhor para

enfrentar os desafios apresentados por fendas que ainda não atravessou?

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 23: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

22

Novamente, é importante lembrar que cada empresa estudada encontrar-se-á em

um determinado momento de sua existência, ou seja, terá atravessando fendas

diferentes. Como o aprendizado do empreendedor tem uma natureza tácita,

iterativa, pretende-se com essa questão avaliar seu aprendizado, tanto quanto a

decisão de perseguir a oportunidade, quanto em relação à própria travessia do

Vale da Morte. Esse aprendizado certamente condicionará decisões futuras e a

postura no enfrentamento das fendas ainda não vencidas e de outras questões. Por

exemplo, se o empreendedor simplesmente decidiu perseguir uma oportunidade,

não tendo avaliado de fato sua motivação e disposição, sua estratégia e sua

capacidade de fazer o que foi planejado, ele pode se mostrar arrependido de ter

iniciado a travessia pelo Vale da Morte. O empreendedor pode chegar à conclusão

que, se tivesse adotado uma determinada estratégia, suas chances de sucesso

teriam aumentado ou pode reconhecer que não possuía a capacidade nem as

relações necessárias (rede de contatos) para o sucesso da nova empresa. Essa

avaliação é importante, pois explicita o aprendizado do empreendedor; porque

aumenta sua capacidade de reconhecer, avaliar e perseguir oportunidades.

1.4.3

Empreendedores Selecionados

Os empreendedores que fazem parte desta pesquisa foram selecionados a

partir das informações das incubadoras de empresas do Rio de Janeiro. No Rio de

Janeiro, de acordo com dados da ReINC3, existem 20 incubadoras de empresas

associadas, que possuem 133 empreendimentos incubados e mais 103 graduados

ou associados.

Segundo o site da ReINC, são integrantes da rede: a Incubadeira e Pólo

Tecnológico da Fundação Bio-Rio, as Incubadoras Tecnológica e de Cooperativas

Populares da COPPE/UFRJ, as Incubadoras Tecnológica e Cultural da PUC-Rio,

a Incubadora de Empresas do Instituto Politécnico da UERJ, a Incubadora de

Empresas de TeleInformática do CEFET/RJ, a Incubadora de Empresas de Base

Tecnológica em Agronegócios da UFRRJ, a Incubadora de Empresas da UFF, a

Incubadora de Empresas do INT, a Incubadora de Empresas do INMETRO, a

3 “A Rede de Incubadoras, Parques Tecnológicos e Pólos do Rio de Janeiro (ReINC) é a reunião

de incubadoras sediadas no Rio de Janeiro para estimular o aumento da sua capacidade de ação e realização.”

Disponível em: http://www.redetec.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=77

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 24: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

23

Incubadora de Empresas do SENAC Rio, a Incubadora do Núcleo Serrasoft, a

Incubadora de Cooperativas Populares da Prefeitura de Macaé, a Iniciativa Jovem,

a Incubadora de Empresas da UERJ/RJ, a Incubadora da Universidade de

Petrópolis e a Incubadora de Empresas da UVA. Foram identificadas e

classificadas como pertencentes ao setor de bens de capital, oito empresas de

quatro incubadoras diferentes da cidade do Rio de Janeiro.

Os empreendedores foram contatados para participar dessa pesquisa, mas

nem todos responderam, tinham disponibilidade ou desejavam colaborar com a

pesquisa. As empresas start-up de origem universitária contatadas direcionavam-

se para segmentos distintos do setor de bens de capital, como, por exemplo, o de

equipamentos médicos, o de fabricação de cerâmica, o de telefonia e o de petróleo

e gás.

Entre as empresas identificadas, apenas três confirmaram sua colaboração

na pesquisa. No grupo das que se negaram a participar, algumas alegaram falta de

tempo para marcar uma entrevista presencial ou por telefone; outras não se

mostraram interessadas. Contudo, uma das empresas que havia confirmado

participação não respondeu às solicitações feitas para o trabalho de campo. Sendo

assim, a pesquisa contou com empreendedores de somente duas empresas: a

Gávea Sensors e a Ativa, ambas da incubadora da PUC-Rio.

1.5.

Estrutura da Dissertação

Ao longo deste trabalho, focar-se-á, principalmente, o entendimento do

fenômeno de ativação da inovação, ou seja, a jornada pelo Vale da Morte. Esta

dissertação contém seis capítulos descritos abaixo.

Neste capítulo introdutório, foram apresentados o contexto da pesquisa, o

problema a ser estudado, os objetivos desta pesquisa e a metodologia empregada.

O setor de bens de capital e o segmento específico desse setor, parte deste

estudo, serão abordados no capítulo dois. Na primeira parte desse capítulo,

apresentam-se a importância do setor e sua caracterização e, de forma breve,

reconstitui-se sua trajetória, buscando ressaltar sua importância na economia. Em

seguida, pretende-se mostrar que o setor de bens de capital é um setor inovativo,

utilizando indicadores e resultados de pesquisas internacionais e nacionais. Por

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 25: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

24

fim, pretende-se caracterizar o tipo de empresa do setor de bens de capital coberto

por esta pesquisa.

No capítulo seguinte, apresenta-se uma revisão dos temas inovação e

empreendedorismo tecnológico. Caracterizam-se a invenção e a inovação através

da alegoria do Vale da Morte presente em Branscomb & Auerswald (2001). O

conceito de empreendedorismo tecnológico é revisado com base no referencial de

Bhide (1999) sobre a avaliação que o empreendedor deve fazer antes de abrir uma

empresa. Além disso, outros conceitos considerados relevantes ao entendimento

do empreendedorismo tecnológico são apresentados, como, por exemplo, a

natureza do conhecimento e a apropriabilidade da inovação.

No capítulo quatro, são apresentados os resultados das entrevistas com os

empreendedores. Neste capítulo, além das entrevistas, são colocadas também as

características das empresas em forma de uma breve apresentação de cada uma

delas.

No capítulo cinco, discutem-se os achados do trabalho. Este capítulo está

estruturado em função das questões de pesquisa. Tendo como base o referencial

teórico, para cada questão, cotejar-se-ão os relatos dos empreendedores

entrevistados, além de serem apresentadas e discutidas as peculiaridades da

jornada de cada empreendedor.

No capítulo derradeiro, serão arroladas as conclusões deste estudo.

Termina-se o estudo, colocando, após as conclusões, questões para investigações

futuras.

Seguem as referências bibliográficas, os apêndices e o anexo do trabalho.

Nos Apêndices, encontra-se o roteiro da entrevista com o empreendedor, o

modelo do convite e do agradecimento pela participação dos empreendedores

nesta pesquisa. No anexo, encontra-se a classificação CNAE/IBGE utilizada no

segundo capítulo na construção dos gráficos.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 26: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

2.0.

O Setor de Bens de Capital e o Segmento de PEBT

2.1.

O Setor de Bens de Capital

Segundo Gür (2004), o setor de bens de capital desempenha um papel

importante no processo de mudança tecnológica. O autor cita Fransman (1984)1

para justificar essa importância do setor para países em desenvolvimento, como o

Brasil, apoiando-se em três premissas: máquinas aumentam a produtividade do

trabalho; vantagem do setor em relação à possibilidade de se obter maiores ganhos

de produtividade, comparando-o a outros; através da difusão tecnológica, o setor

contribui, significativamente, para o aumento da produtividade total da economia.

“A inovação no setor de bens de capital é uma maneira importante de aumentar a

viabilidade e a flexibilidade das economias industriais porque uma grande parte de

seus setores demandam melhores e inovadores bens de capital para o aumento da

produtividade”2 (Lee, 2000:170 apud Gür, 2004:03).

O setor de bens de capital é amplo, complexo e de difícil delimitação.

Alem & Pessoa (2005), para caracterizar o setor, colocam que, sob o título de bens

de capital “estão reunidos bens extremamente distintos, como máquinas e

equipamentos propriamente ditos – associados à indústria mecânica – e ônibus e

caminhões – referentes à indústria de material de transporte”. Segundo os autores,

pode-se classificar como bem de capital todo bem que for utilizado (como meio)

em processos de produção de produtos ou serviços, sem que sofra transformação,

como os insumos. A classificação é feita pelo uso. Os autores citam ainda o

exemplo de uma geladeira que, quando utilizada em uma residência para

conservação de alimentos, caracteriza-se como bem de consumo durável; já

quando utilizada em um restaurante, caracteriza-se como bem de capital. Neste

trabalho, utilizar-se-á a classificação da CNAE/IBGE3 e a noção de bens de

capital aqui apresentada. Entre os competidores do setor destacam-se, de acordo

1FRANSMAN, M. “Technological Capability In The Third World: an overview”. In FRANSMAN, M.;KING, K. (Eds.) Technological Capability In The World. London, 1984. 2Tradução do autor. 3Classificação Nacional de Atividades Econômicas/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 27: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

26

com Alem e Pessoa (2005), entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos, o

Japão, a Alemanha e a Itália, e entre os em desenvolvimento, além do Brasil, a

Coréia do Sul, Taiwan, China e México.

O setor de bens de capital é composto de várias indústrias; sendo bastante

segmentado. No entanto, o fato de ser segmentado não desabilita o setor como

provável fonte de inovação, não reduz sua importância para a nova economia.

Autores como Gür (2004), Rosenberg (1963), Lall (1992), Weise (2000), entre

outros, colocam o setor de bens de capital como difusor da inovação tecnológica.

O governo brasileiro compartilha essa visão, colocando a inovação no setor de

bens de capital como estratégica em sua política industrial, como já assinalado

anteriormente. Em publicação do BNDES, Café et alii (2004:225), afirmam que

“a competitividade estrutural de toda a indústria depende da existência de um

setor de bens de capital, que atua como difusor de progresso técnico para toda a

indústria”. A importância do setor pode ser bem ilustrada por Fransman

(1984:601) apud Gür (2004), a seguir:

“The capital goods sector occupies a special role in the technical change process. The reason is that this sector lies at the heart of the process of technology generation and diffusion. All technical change, whether of the product or process variety, requires the development of modified or new machinery and equipment. Conversely, the diffusion of improved vintages of machinery facilitates the process of technical change in using firms. For this reason the capital goods sector requires especial attention in any discussion of technical change”

A indústria de bens de capital iniciou sua trajetória de desenvolvimento

durante o plano de Metas (1956/61), mas foi colocada como prioridade nacional

nos anos 70, dentro da estratégia definida pelo Segundo Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND). Severo Gomes (1974) apud Lessa (1998) justifica a

importância do setor do ponto de vista estratégico, objetivando-se nesse período,

com o seu desenvolvimento, reduzir a dependência externa em relação à compra

de equipamentos, mesmo sendo possível, naquele momento, a manutenção da

política de compra de equipamentos no exterior. O intento era fazer o país atingir

a fronteira do desenvolvimento pleno, com o fortalecimento do capital nacional e

com um setor de bens de produção competitivo. Contudo, esse setor estava

atrelado aos investimentos estatais, não sendo capaz de suprir as demandas das

indústrias de bens de consumo. Manifesta-se, concomitantemente, uma incipiente

preocupação com o desenvolvimento tecnológico do setor, ecoando de seus

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 28: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

27

órgãos representativos reivindicações ligadas, essencialmente, à escala de

produção. Em outras palavras, pode-se dizer que o desenvolvimento tecnológico

era visto como uma segunda fase de um plano de consolidação, fase essa que não

existiu como evolução natural do aumento de escala, devido a mudanças internas

e externas na economia.

Segundo Kupfer (2004), em relação à década de 80 no Brasil, houve uma

estagnação econômica, percebida em dois níveis: na lenta evolução dos níveis de

produção e no pequeno alcance do processo de modernização industrial. Como

resultado o hiato tecnológico, que havia sido reduzido pelo vigoroso catching-up

da década de 70, voltou a se ampliar. Até o final da década de 80, existia uma

forte complementaridade entre produção doméstica e importações, ou seja, o

aumento da produção nacional era acompanhado, proporcionalmente, por um

aumento das importações. As importações concentravam-se, basicamente, em

equipamentos para a indústria de bens de consumo os quais não tinham similares

nacionais.

Nos anos 90, a liberalização comercial, a desregulamentação e a

desestatização trouxeram novos desafios para o setor. O novo quadro impunha

ajustes como, por exemplo, a terceirização em busca de aumento de sua

produtividade e, por conseguinte, de sua competitividade interna e externa. “(...) a

maior parte dos investimentos em bens de capital foi direcionada para a melhoria

da qualidade, a redução dos custos e o aumento da produtividade através da

reposição de equipamentos e da introdução de inovações gerenciais, sem que

houvesse investimentos expressivos voltados para a ampliação da capacidade

produtiva ou mesmo em inovações tecnológicas em sentido estrito” (Café et alii,

2004:226). As importações de bens de capital, a partir da década de 90,

aparentemente perderam sua característica de complementaridade e de alavanca

da produção doméstica, mesmo ainda exercendo um papel fundamental nos

ganhos de produtividade da indústria nacional e nos estímulos ao aumento das

taxas de investimento (Alem & Pessoa, 2005).

No quadro atual, essa busca de melhoria de produtividade tem um papel

importante não apenas para o mercado interno, mas também para o comércio

global. A indústria de bens de capital, no pós-choque de abertura da economia,

apresenta áreas competitivas no mercado externo. Essa competitividade externa é

importante porque, com a abertura comercial, ela se torna um padrão interno

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 29: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

28

também, no sentido de que não existe mais proteção aos produtores nacionais.

Para mensurar o desempenho doméstico das atividades produtivas um indicador

importante é o comportamento da sua produtividade4. A Figura 03 permite cotejar

o desempenho do setor de bens de capital frente ao de outras atividades produtivas

no período utilizado por Café et alii (2004:232) no Brasil.

Figura 03 – Produtividade da indústria de bens de capital (1996-2001) Fonte: Café et alii. (2004:232)

Observa-se que em 2001, o setor de bens de capital superou em

produtividade não só o total absoluto da indústria, que inclui a indústria extrativa

mineral, como também a produtividade da indústria de transformação e seus

aumentos percentuais. Esse mesmo estudo publicado pelo BNDES, de Café et alii.

(2004), analisa coeficientes de importação e de exportação, a balança comercial e

indicadores do mercado interno, indicando, dentro do setor de bens de capital,

quais segmentos teriam maiores condições competitivas, tanto interna quanto

externamente. De suas conclusões, destacam-se alguns segmentos ou grupos com

maior potencial de desenvolvimento na indústria de bens de capital, segmentos

que já são competitivos e que podem ter sua competitividade reforçada pelo

processo de inovação tecnológica, como: “Outros Equipamentos de Transporte”,

em especial “Construção, Montagem e Reparação de Aeronaves”; “Veículos

Automotores, Reboques e Carrocerias”, em especial “Fabricação de Caminhões e

Ônibus”; “Equipamentos de Comunicação”; “Máquinas, Aparelhos e Materiais

4 A produtividade é dada pela divisão entre o valor da transformação industrial (VTI) e o pessoal ocupado.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 30: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

29

Elétricos”, em especial “Fabricação de Geradores, Transformadores e Motores

Elétricos” e “Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia

elétrica” e, por fim, “Máquinas e Equipamentos, em especial “Fabricação de

Máquinas e Equipamentos para as Indústrias Extrativa Mineral e de Construção”,

“Fabricação de Máquinas-Ferramenta”, “Fabricação de Motores, Bombas,

Compressores e Equipamentos de Transmissão” e “Fabricação de Tratores e

Máquinas e Equipamentos para a Agricultura”. Outros setores podem, também,

ser estimulados a inovar. Porém, eles encontram-se em situação menos favorável

do que os citados anteriormente. Assim, finaliza-se o histórico superficial do setor

no Brasil. Colocar-se-ão, nos parágrafos seguintes, algumas tipologias aplicáveis

ao setor.

Tecnicamente, o setor de bens de capital divide-se em dois tipos de

fabricantes: aqueles que produzem bens padronizados, obedecendo à lógica da

escala de produção e aqueles que produzem bens por encomenda, mais intensivos

em conhecimento, que necessitam de uma capacidade de projeto e de

flexibilidade. Como exemplos podem ser citados, respectivamente, máquinas

agrícolas e tratores; plataformas de petróleo e turbinas das usinas hidrelétricas.

Acrescentem-se ainda, como exemplo de bem de capital padronizado, bombas

utilizadas, com a mesma função, em instalações de indústrias diferentes.

Entretanto, uma bomba também pode ser encomendada para uma tarefa

específica, caso não exista nenhum produto padronizado que atenda às

necessidades de uma determinada empresa. Geralmente, esse pedido é único, não

compensando sua fabricação em massa. Nesse tipo de indústria, a de bens de

capital por encomenda, o conhecimento é fator-chave para execução de projetos,

principalmente naqueles com os maiores retornos financeiros, de maior

complexibilidade tecnológica. Em relação ao tamanho de firma dentro do setor,

pode-se dizer que é bastante heterogêneo, constituindo-se de pequenas, médias e

grandes empresas nacionais e multinacionais.

O IBGE desenvolveu uma tipologia para classificar as indústrias

brasileiras, de forma a auxiliar no desenvolvimento de seus estudos e, também,

para ajudar a administração pública, no tocante aos tributos e outras atividades. O

IBGE separou as atividades econômicas em vários níveis de agregação, do mais

agregado até o menos agregado. Neste estudo, são utilizadas as divisões da

indústria de transformação. O Anexo 04 mostra as divisões da Classificação

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 31: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

30

Nacional das Atividades (CNAE), elaborada pelo IBGE, que serão utilizadas neste

trabalho nos gráficos das Figuras 06 e 07.

2.2.

A Capacidade Inovativa do Setor

A capacidade inovativa do setor, ou seja, o quanto o setor de bens de

capital é propício a empreendimentos tecnológicos, será colocada de forma

esquemática neste tópico. A avaliação do setor em que o empreendedor pretende

aventurar-se, que Shane (2005) chama de “olhar as evidências”, consiste em

avaliar se o setor é favorável ou não à entrada de novos jogadores, as empresas

start-up.

Eckardt (2002) apud Shane (2005) comparou a proporção de empresas que

surgiram em vários segmentos industriais no período de 1982 até 2000, de

diversos setores, que entraram na lista das 500 da revista Inc.5. A divisão setorial

empregada não é a mesma utilizada no Brasil, não reproduz a do IBGE, mas é

possível utilizar essas informações para ilustrar a relevância do setor de bens de

capital. É possível observar na Figura 04, que o setor de bens de capital representa

uma fatia significativa das novas empresas na lista das 500 da revista Inc., com

um percentual maior do que o setor, por exemplo, de medicamentos, reconhecido

como inovador.

Percentual de Empresas em Algumas Indústrias que se Tornaram Inc. 500

62,7%

18,2% 4,2%3,3%

1,8%

9,8%

Outros Negócios

Fábricas de Pasta para Fazer Papel

Computadores e Equipamentos de Escritório

Mísseis Guiados, veículos espaciais, componentes

Medicamentos

Bens de Capital

Figura 04 –Resultado Geral Inc. 500

Fonte: Dados trabalhados pelo autor, extraídos de Shane (2005:25)

5 A lista de novas empresas privadas de mais rápido crescimento no período considerado de 1982 até 2000.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 32: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

31

A Figura 05 detalha os segmentos do setor de bens de capital presentes

nessa lista e seus percentuais. Observa-se que existe uma grande diversidade de

segmentos que podem ser considerados solo fértil para os empreendedores, no

lançamento de empresas start-up.

Empresas Dentro do Setor de Bens de Capital que se Tornaram Inc. 500

2,0%

1,9%

1,9%

1,8% 1,2%

1,0%

Dispositivos de Medição e Controle

Equipamento de Pesquisa e Navegação

Equipamentos de Comunicação

Instrumentos e Utensílios Médicos

Maquinaria Industrial em Geral

Aparelhos Elétricos Industriais

Figura 05 – Resultados Inc. 500 – Bens de Capital

Fonte: Dados trabalhados pelo autor, extraídos de Shane (2005:25)

Em relação à inovação no Brasil, existem algumas pesquisas que permitem

avaliar a posição do setor de bens de capital. O governo brasileiro, por meio de

uma ação conjunta do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), da

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e dos Ministérios da Ciência e

Tecnologia e do Planejamento, Orçamento e Gestão, vem realizando uma

pesquisa chamada “Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica” (PINTEC).

Essa será utilizada como referência neste trabalho, em seu resultado publicado

em 2005, que apresenta de forma comparativa os resultados da pesquisa anterior.

Pretende-se mostrar através de recortes da PINTEC 2003 a importância da

capacidade inovativa do setor de bens de capital. A pesquisa é apresentada e sua

relevância justifica-se da seguinte forma:

“Sendo o processo tecnológico um componente crucial para o desenvolvimento econômico, as informações que permitam entender seu processo de geração, difusão e incorporação pelo aparelho produtivo são de fundamental importância para o desenho, implementação e avaliação de políticas voltadas para a sua promoção e na definição das estratégias privadas. Neste sentido, as informações da PINTEC, ao possibilitarem a construção de indicadores abrangentes, e com comparabilidade internacional, contribuem para ampliar o entendimento do processo de inovação tecnológica na indústria brasileira.” (IBGE, 2005:10)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 33: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

32

Em primeiro lugar, utilizando a CNAE , do IBGE, pode-se comparar as

taxas de inovação6 da indústria de transformação, de forma a observar quais

divisões são mais inovadoras. A PINTEC 2003 apresenta as taxas de inovação

tanto para a indústria extrativa, quanto para a indústria de transformação, cobrindo

os resultados das duas pesquisas, a do período 1998-2000 e a do período 2001-

2003. As taxas de inovação da indústria de transformação nos períodos de 1998-

2000 e 2001-2003 foram de, respectivamente, 31,5 e 33,3 e servirão de

referência para cotejar essas indústrias. Esse indicador será utilizado como um

sinalizador da importância do setor para o país e da sua capacidade de inovar.

Uma taxa elevada de inovação, principalmente em comparação com segmentos

considerados mais inovadores, ajuda a destacar a importância do setor de bens de

capital. As Figuras 06 e 07 mostram as dez divisões que apresentam melhor

performance no indicador elaborado pelo IBGE.

Figura 06 – Taxas de Inovação PINTEC 1998-2000 Fonte – Tabela 2 -IBGE (2005:40-41)

6 A taxa de inovação é o número de empresas que realizaram inovações de produto ou processo, ou seja, que responderam sim pelo menos em uma das perguntas de número 10,11,16 e 17 (questionário PINTEC) sobre o total das empresas industriais com mais de 10 pessoas ocupadas.Ver mais detalhes em PINTEC (2005).

Dez Maiores Taxas de Inovação da Ind. de Transformação (1998-2000)

68,562,5

59,1

48,2 46,1 44,4 43,739,7 36,4 34,8

30 32 33 31 24 29 35 25 34 16Divisões CNAE/IBGE

Tax

as

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 34: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

33

Figura 07 – Taxas de Inovação PINTEC 2001-2003 Fonte: Tabela 2 -IBGE (2005:40-41)

Destacam-se dois pontos principais em relação aos dois gráficos

apresentados na Figura 06 e Figura 07: a estabilidade dos resultados e a sua

composição setorial. Pode-se verificar que entre os dois períodos da pesquisa não

houve grandes alterações nem nas posições nem na composição dos setores mais

inovadores brasileiros. Contudo, o que se deseja enfatizar é a predominância do

setor de bens de capital nas divisões mais inovadoras, conforme mostrado nos

gráficos acima.

A primeira colocada de ambos os períodos da PINTEC, a divisão de

“Fabricação de Máquinas para Escritório e Equipamentos de Informática”,

apresenta alguns grupos (CNAE) que são considerados parte do setor de bens de

capital, pelo IBGE, como “Fabricação de Máquinas para Escritório”. Esse grupo é

formado pelas seguintes classes: “Fabricação de Máquinas de Escrever e Calcular,

Copiadoras e outros equipamentos não-eletrônicos para escritório” e “Fabricação

de Máquinas de Escrever e Calcular, Copiadoras e outros Equipamentos

Eletrônicos Destinados à Automação Gerencial e Comercial”. A segunda colocada

também possui grupos que se enquadram no setor de bens de capital como, por

exemplo, “Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Telefonia e

Radiotelefonia e de Transmissores de Televisão e Rádio”. A terceira colocada

“Fabricação de Equipamentos de Instrumentação Médico-Hospitalares,

Instrumentos de Precisão e Óticos, Equipamentos para Automação Industrial,

Cronômetros e Relógios” é tipicamente uma divisão do setor de bens de capital. A

Dez Maiores Taxas de Inovação da Ind. de Transformação (2001-2003)71,2

56,7

45,4 43,6 43,5 41 39,736,2 35 35

30 32 33 24 29 31 34 25 17 23Divisões CNAE/IBGE

Tax

as

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 35: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

34

quarta colocada do período 1998-2000 é a divisão de “Fabricação de Máquinas,

Aparelhos e Materiais Elétricos”, que possui grupos considerados como parte do

setor de bens de capital, tais como os de “Fabricação de Geradores,

Transformadores e Motores Elétricos”; “Fabricação de Equipamentos para

Distribuição e Controle de Energia Elétrica”. Já a quarta colocada da pesquisa do

período 2001-2003 é a divisão de “Fabricação de Produtos Químicos”. Essa

divisão apresenta grupos vistos como inovativos pela literatura, tal como a

produção de produtos farmacêuticos. Dentro dessas top ten divisões da indústria

de transformação, o que se pode observar é uma forte presença do setor de bens de

capital. Nas primeiras colocações, aparecem divisões com a presença de grupos

integrantes do setor de bens de capital e, em ambos os períodos, essa presença se

reforça. Isso indica que, no Brasil, o setor de bens de capital vem tentando

aumentar sua competitividade através da inovação.

A importância da atividade inovativa nesse setor pode ser demonstrada

através da Figura 08, que apresenta a importância atribuída às atividades de

aquisição externa de P&D, aquisição de outros conhecimentos externos,

introdução das inovações tecnológicas no mercado, atividades internas de P&D,

projeto industrial e outras preparações técnicas, treinamento, aquisição de

máquinas e equipamentos; dados que revelam a importância de cada uma dessas

atividades.

8,2%

16,4%

27,8%

34,1%

44,1%

76,6%

4,6%

10,1%

20,3%

20,7%

40,0%

54,2%

80,3%

59,1%

Aquisição Externa de P&D

Aquisição de OutrosConhecimentos Externos

Introdução das Inovaçõestecnológicas no Mercado

Atividades Internas de P&D

Projeto Industrial e OutrasPreparações Técnicas

Treinamento

Aquisição de Máquinas eEquipamentos

1998-2000 2001-2003

Figura 08 – Participação percentual do número de empresas que implementaram inovações

Fonte: Adaptada de IBGE (2005:34)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 36: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

35

Os dados da PINTEC 2003, e do IBGE (2005), mostram um aumento no

número de empresas que atribuem importância alta ou média para a atividade de

“aquisição de máquinas e equipamentos” e suas atividades complementares,

“treinamento” e “projeto industrial e outras preparações técnicas”. No gráfico da

Figura 08, pode-se observar que nas empresas inovadoras essas atividades se

destacam em ambos os períodos, em especial a “aquisição de máquinas e

equipamentos”. Essa constatação aponta para a importância do setor de bens de

capital como difusor de tecnologia e potencializador da competitividade da

indústria nacional. Máquinas e equipamentos para a produção de produtos

melhorados, maior produtividade ou qualidade, inovações de processos são apenas

alguns exemplos desse papel potencializador. Sendo assim, o setor de bens de

capital é um setor importante para nosso mercado interno, na medida em que pode

tornar endógena a fonte de inovações para a produção, possibilitando um acesso

mais fácil.

O fato de a indústria de transformação como um todo perceber a aquisição

de máquinas e equipamentos como item principal de sua atividade inovativa não

significa que essas compras sejam feitas no mercado interno, tendo como

fornecedores empresas nacionais. No entanto, explicita o papel de difusor do

progresso tecnológico do setor, reforçando a importância da inovação tecnológica

na competitividade de nossa indústria de transformação. Além, é claro, da

importância de um setor de bens de capital inovador, competitivo.

2.3.

PEBT de Origem Universitária do Setor de Bens de Capital

Esta pesquisa direciona-se a uma parte específica do setor de bens de

capital, as Pequenas Empresas de Base Tecnológica (PEBT) de origem

universitária. Esse tipo de empresa foi também denominado neste trabalho, de

forma geral, de empresas start-up do setor de bens de capital de origem

universitária.

A pequena empresa, segundo (ANPROTEC, 2002:80), é uma “pessoa

jurídica ou firma mercantil individual cuja receita bruta anual é superior a R$

244.000,00 e inferior ou igual a R$ 1.200.000,00 (Lei 9841 de 05/10/99)”. Nesta

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 37: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

36

pesquisa, o limite inferior de receita é relaxado pelo fato de tratar-se de empresas

start-up. O termo base tecnológica, também segundo (ANPROTEC, 2002:30),

apresenta dois significados. O primeiro refere-se à “processo ou produto que

resulta da pesquisa científica e cujo valor agregado advém das áreas de tecnologia

avançada: informática, biotecnologia, química fina, mecânica de precisão, novos

materiais, etc”; o segundo refere-se à “aplicação do conhecimento científico, do

domínio de técnicas complexas e do trabalho de alta qualificação técnica”. A

origem universitária das empresas ratifica que a inovação tratada neste trabalho é

fruto da pesquisa científica desenvolvida na universidade.

Como colocado no capítulo introdutório desta dissertação, a

inovação é considerada como ponto central da política industrial brasileira. O

governo enxerga o empreendedor tecnológico como um vetor do crescimento

econômico através da inovação. Mas a passagem da invenção à inovação não é

tarefa fácil. O empreendedor está sujeito a muitos modos de falha e as

incubadoras são uma das formas de aumentar a chance de sucesso na passagem da

invenção à inovação. São utilizadas, principalmente, por empreendedores de

origem universitária. A importância das incubadoras como instrumento de

promoção do empreendedorismo e da inovação é reconhecida pelo governo

através do PNI (Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas). De

forma geral, o objetivo do PNI, segundo o MCT, é fomentar a consolidação e o

surgimento de incubadoras de empresas que contribuam para o desenvolvimento

sócio-econômico, acelerando o processo de criação de micro e pequenas empresas

caracterizadas pela inovação tecnológica. O PNI define incubadora como:

“um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e

pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou de

manufaturas leves por meio da formação complementar do empreendedor em seus

aspectos técnicos e gerenciais e que, além disso, facilita e agiliza o processo de

inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas. Para tanto, conta com um espaço

físico especialmente construído ou adaptado para alojar temporariamente micro e

pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços e que, necessariamente,

dispõe de uma série de serviços e facilidades”.

Além do programa de incubação, o governo desenvolve programas de

estímulo ao capital de risco e ao financiamento não-reembolsável de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 38: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

37

empreendimentos tecnológicos. As PEBT enfrentam grandes dificuldades em

obter financiamentos para o seu desenvolvimento. Pode-se citar, como exemplo

dessas dificuldades, o fato de não possuírem ativos tangíveis a serem oferecidos

como garantias na operação de financiamento. O alto risco, não apenas

tecnológico, mas também mercadológico inerente a esse tipo de empreendimento,

também reduz a probabilidade de financiamento tradicional, além do, em geral,

alto custo do desenvolvimento de um produto ou serviço. Nesse sentido, o

governo trabalha em duas frentes: no fomento ao empreendedorismo tecnológico

através de financiamentos não-reembolsáveis e apoio às incubadoras de empresa e

na promoção da atividade de capital de risco no Brasil.

Em relação aos financiamentos não-reembolsáveis, merecem lugar de

destaque a FINEP e seus fundo setoriais. A FINEP destaca-se também com o

Projeto Inovar que, segundo a mesma, “tem por objetivo promover o

desenvolvimento das pequenas e médias empresas de base tecnológica brasileiras

através do desenvolvimento de instrumentos para o seu financiamento,

especialmente o capital de risco”. O Projeto Inovar é constituído pelas seguintes

iniciativas: Fórum Brasil Capital de Risco; Incubadora de Fundos INOVAR;

Fórum Brasil de Inovação; Portal Capital de Risco Brasil; Rede INOVAR de

Prospecção e Desenvolvimento de Negócios; Desenvolvimento de programas de

capacitação e treinamento de agentes de Capital de Risco. Portanto, o governo

desempenha um papel de destaque na promoção da inovação tecnológica e da

cultura empreendedora através de suas instituições e ações.

Mas o valor das PEBT não é reconhecido apenas pelo governo. Na era em

que o conhecimento passa a ter valor econômico, instituições como a própria

PUC-Rio desenvolvem ações para estimular o empreendedorismo tecnológico e

capturar os retornos provenientes da inovação. Com este intuito, podemos

destacar o Instituto Gênesis, o ensino de empreendedorismo na universidade, o

Escritório de Negócios em Propriedade Intelectual (ENPI), o Parque Tecnológico

da Gávea (em parceria com a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro) e a

proximidade com a Gávea Angels como iniciativas importantes no sentido de

aumentar a taxa de inovação e de sucesso nos empreendimentos de origem na

universidade.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 39: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

38

A seguir, colocam-se peculiaridades desse tipo de empresa que norteou o

desenho desta pesquisa: empresas start-up, de base tecnológica e de origem

universitária.

A primeira das peculiaridades refere-se ao fato de serem empresas start-

up. Nessa condição, o empreendedor, ou a equipe empreendedora, acumula

funções diversas na estrutura organizacional da empresa.

A segunda diz respeito à condição de empresas start-up de base

tecnológica. Tal arranjo confere aos empreendedores o acúmulo de tarefas

administrativas, juntamente com a responsabilidade de desenvolverem os produtos

ou serviços que deram origem à empresa.

A terceira refere-se à sua origem universitária. Nesse caso, os

empreendedores contam com a infra-estrutura de pesquisa da universidade e, em

alguns casos, com as incubadoras instaladas na mesma. O empreendedor, muitas

vezes, concilia sua atividade empreendedora com o ensino ou a pesquisa, o que

torna sua jornada diária mais extensa e densa. Não é raro, em função de sua

origem universitária, o empreendedor não possuir experiência em gestão ou

qualquer experiência anterior em outro empreendimento, seja tecnológico ou não.

Em geral, as empresas start-up de origem universitária instalam-se em

incubadoras como forma de aumentar sua chance de sucesso na passagem da

invenção à inovação. O empreendedor de pequenas empresas, em geral, não

dispõe de recursos para contratações, instalação e manutenção do negócio, sendo a

incubadora uma alternativa muito atraente. Como colocado pela ANPROTEC,

com a ajuda de uma incubadora de empresas, o empreendedor pode desenvolver

suas potencialidades, fazer sua empresa crescer. Nesse ambiente, ele desfruta de

instalações físicas, suporte técnico-gerencial, além de ter a oportunidade de

partilhar experiências com os demais incubados e formar uma rede de

relacionamentos.

Todas essa peculiaridades atuam como complicadores para um estudo

mais amplo. Portanto, a dificuldade de abordar um número maior de empresas,

logo de empreendedores, origina-se tanto na natureza da atividade

empreendedora, quanto no número reduzido de empresas com o perfil de

interesse.

No próximo capítulo, apresenta-se uma revisão de conceitos relevantes ao

entendimento dos temas inovação e empreendedorismo tecnológico.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 40: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

3.0.

A Inovação e o Empreendedorismo Tecnológico

Como colocado por Branscomb (2004), deve-se entender o que ocorre

entre a invenção e a inovação.

A invenção é apresentada em Branscomb & Auerswald (2001) e

Branscomb (2004) como um conceito, uma nova idéia comercial para uma nova

tecnologia. Trata-se, então, de uma idéia originária da pesquisa ou de uma

reinterpretação do mundo pelo empreendedor. 1 Uma invenção é algo passível de

sucesso comercial, mas que não foi ainda comercializado nem tem seu sucesso

garantido. Sua transformação em uma inovação será impulsionada pela percepção

do empreendedor em relação à premiação de seus esforços, ou seja, dos retornos

financeiros que a comercialização do produto ou serviço originário dessa idéia,

invenção, pode trazer.

Quando a invenção chega ao mercado passa a ser chamada de inovação.

Um conceito amplo de inovação traduz-se como o “fazer coisas novas ou coisas já

existentes de uma nova maneira” (Swedberg, 1991:412 apud Rutten, 1998:5). Tal

conceito aplica-se à geração, por exemplo, de novos produtos, de novos métodos

de produção e transporte, de novos sistemas de organização industrial. Entretanto,

a inovação abordada neste trabalho está centrada naquela referente à criação de

novos produtos. O ator principal do processo de inovação tecnológica é chamado

de empreendedor tecnológico. Branscomb & Auerswald (2001) colocam de forma

simples que inovar é transformar uma idéia ou invenção em um produto

comercializável ou uma inovação. Para exemplificar a trilha entre a invenção e a

inovação, assim como colocado por Branscomb & Auerswald (2001), pode-se

utilizar a transição entre a invenção e a inovação nas life sciences. Segundo os

autores, antes de passar pela avaliação do mercado, ou seja, antes de tornar-se

uma inovação, existem vários estágios a serem vencidos, como a prova do

princípio de funcionamento, geralmente através de um experimento, a construção

1 Existem outras definições para invenção com finalidades específicas, como as de Ferreira (2001) para a palavra “inventar” , como: 1) ser o primeiro a ter a idéia de; 2) criar na imaginação, imaginar.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 41: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

40

de um modelo ou unidade do produto ou serviço e o aumento de sua escala de

produção.

Para entender a idéia de inovação tecnológica faz-se mister recorrer ao

conceito de tecnologia. Para Shane (2005:15), tecnologia é “a incorporação do

conhecimento de diferentes formas, tornando possível criar novos produtos,

explorar novos mercados, usar novas maneiras de organização, incorporar novas

matérias-primas ou utilizar novos processos para atender às necessidades de

clientes”. A tecnologia pode ser caracterizada ainda de forma geral como “termo

usado para atividades de domínio humano, embasada no conhecimento, manuseio

de um processo e ou ferramentas e que tem a possibilidade de acrescentar

mudanças aos meios por resultados adicionais à competência natural,

proporcionando, desta forma, uma evolução na capacidade das atividades

humanas, desde os primórdios do tempo, e historicamente relatadas como

revoluções tecnológicas”.2 Essa definição lato sensu, no entanto, não caracteriza

bem a tecnologia a qual refere-se a pesquisa. Far-se-á uso de outras duas

definições que caracterizam stricto sensu a tecnologia, delimitando melhor tanto o

tipo de inovação, quanto o de empreendedorismo abordados por este estudo.

“Conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos ordenados, colocados à

disposição de um processo produtivo de bens e riquezas”3 e “estudo sistemático

dos procedimentos e equipamentos técnicos necessários para a transformação das

matérias-primas em produto industrial. Ciência com sentido econômico.”4 São

outras definições que caracterizam o sentido de tecnologia que se emprega neste

trabalho.

3.1.

Os Tipos de Inovação

O processo de inovação tecnológica apresenta algumas tipologias quanto

ao seu impacto e à sua natureza, entre outros aspectos de sua complexidade.

Colocar-se-ão neste capítulo os conceitos fundamentais relativos à inovação e ao

empreendedorismo para a contextualização da pesquisa. Serão apresentadas, a

seguir, algumas dessas tipologias, no tocante a conhecimento, apropriabilidade e

2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnologia. Acessado em 01/09/2006. 3 http://www.indg.com.br/info/glossario/glossario.asp?t 4 http://www.dem.isel.ipl.pt/seccoes/pagspm/glossario/glossario.htm

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 42: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

41

ativos complementares empregados, explicitamente ou implicitamente neste

trabalho, além dos conceitos fundamentais para esta pesquisa, como o do Vale da

Morte e o de empreendedorismo tecnológico.

A tipologia mais geral na distinção dos tipos de inovação é a diferenciação

entre inovações radicais e incrementais. As inovações radicais são aquelas que

levam ao surgimento de novas empresas e, muitas vezes, à extinção de empresas

estabelecidas. É freqüente uma inovação gerar outras inovações em indústrias

diferentes. A leitura a laser foi uma dessas inovações que permitiram uma série de

aplicações em indústrias diferentes como, por exemplo, na indústria fonográfica,

com o compact disc, as aplicações em instrumentação e controle de processos

industriais e na medicina. O compact disc, por exemplo, substituiu o vinil,

fechando as portas de empresas que não atentaram para a mudança.

Já a inovação incremental está vinculada a melhoria de processos ou

produtos de uma determinada empresa. A inovação ocorre de forma iterativa. O

aumento da velocidade dos processadores dos computadores pessoais é um

exemplo de inovação incremental, dado que inexiste uma ruptura; a evolução de

sua velocidade é gradual.

Christensen & Overdorf (2000) utilizam outra tipologia (entre as

existentes): propõem os termos sustaining innovations e disruptive innovations.

As sustaining innovations melhoram a performance de produtos direcionados aos

maiores clientes, enquanto as disruptive innovations criam mercados totalmente

novos.

3.2.

Natureza do Conhecimento

Combustível para inovações, o conhecimento apresenta duas naturezas.

Existe o conhecimento codificado ou explícito e o conhecimento que não pode ser

codificado, o tácito.

O conhecimento codificado é aquele que pode ser expresso, explicitado e

reproduzido sem dificuldades pelos pares ou por outros indivíduos capazes de

interpretar a mensagem recebida. Nesse sentido, a tecnologia da informação (TI)

aumentou, e muito, a velocidade e a facilidade de difusão do conhecimento

codificado.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 43: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

42

Já o conhecimento tácito não pode ser expresso. Provém do dia-a-dia, da

tentativa e erro, não pode ser documentado. Por exemplo, não é possível que um

determinado jogador, o melhor do mundo, explique como bater uma falta de

forma que outro jogador possa reproduzi-la do mesmo modo, sem nenhum contato

com seu instrutor. O conhecimento tácito, para ser transmitido, precisa do contato

entre o instrutor e o objeto de interesse. Em outras palavras, o conhecimento tácito

requer um processo de aprendizado para que possa ser assimilado. A transmissão

desse tipo de conhecimento é algo localizado, interativo, sendo, portanto, de

difícil compartilhamento e difusão.

O tipo de conhecimento predominante em uma inovação é de suma

importância. Uma inovação com conhecimento altamente tácito cria uma proteção

natural contra os competidores que pretendam imitar determinado produto ou

processo. Quanto mais tácito o conhecimento envolvido, mais difícil se torna a

imitação pelos concorrentes. A possibilidade de o conhecimento envolvido ser

codificável envolve uma maior necessidade de proteção legal, ou por outros

meios, e uma maior facilidade de imitação pelos competidores. Abre-se, assim, a

discussão sobre o conceito de apropriabilidade da inovação, como apresentado no

próximo tópico.

3.3.

A Apropriabilidade da Inovação

A apropriabilidade “é a propriedade do conhecimento e do ambiente em

que está inserido que permite que uma invenção seja protegida contra a imitação”

(Dosi 1988 apud Shane, 2001:1176). A apropriabilidade é função de duas

variáveis: a replicabilidade e a proteção legal à propriedade intelectual. Quanto

mais tácito o conhecimento envolvido em uma inovação, mais difícil tonar-se sua

replicação por um competidor. Quanto mais forte a proteção legal em torno de

uma inovação, mais difícil se torna, também, a entrada de um novo competidor.

Deve-se levar em conta que, em alguns setores, os produtos são “copiáveis” por

engenharia reversa e outros não. Não se trata de uma reprodução fiel, que pode ser

evitada por patente, mas do que se chama “inventar em volta” – modificações que

legalmente descaracterizam a cópia.

Para os setores em que os produtos podem sofrer uma engenharia reversa,

por exemplo, a patente é ineficaz. Já setores como o de medicamentos apresentam

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 44: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

43

apropriabilidade alta, devido à força das patentes, à natureza tácita do

conhecimento envolvido e à dificuldade de “inventar em volta”. Dessa forma,

Teece (1998) divide os regimes de apropriabilidade em: 1) regime de

apropriabilidade fraca, 2) regime de apropriabilidade forte e 3) regime de

apropriabilidade moderada. O primeiro caracteriza-se por uma inovação difícil de

ser protegida, porque pode ser prontamente codificada e porque a proteção legal é

ineficaz. O segundo regime é caracterizado por uma inovação de conhecimento

predominantemente tácito, para a qual a proteção legal é eficaz. Existem também

condições intermediárias, em que uma ou outra característica se manifesta, como

pode ser visto na Figura 09.

Replicabilidade

Fácil Difícil

Inef

icaz

Fraca Moderada

Prot

eção

Leg

al à

Prop

ried

ade

Inte

lect

ual

Efic

az

Moderada Forte

Figura 09 – Regime de Apropriabilidade de Ativos de Conhecimento

Fonte – Adaptada de Teece (1998:67)

3.4.

Importância dos Ativos Complementares

Neste trabalho, a inovação abordada será aquela que ocorre através do

lançamento de novas empresas. Nesse contexto, a apropriabilidade ganha um

sentido prático ao colocar-se a importância dos ativos complementares na

passagem do plano das idéias, da invenção, para o da comercialização de um

produto, da inovação, como assinalado por Shane (2001).

A falta de ativos complementares traria ao empreendedor dificuldades para

se apropriar de sua invenção, ou seja, de inovar quando esses fossem importantes.

Por ativos complementares entende-se, por exemplo, sistemas de distribuição,

sistemas de manufatura especializados, entre outros. Sendo assim, o

empreendedor terá maior chance de sucesso, quanto menor for a importância

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 45: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

44

desses ativos. Geralmente, o empreendedor não dispõe desses ativos ou não

aprendeu ainda como melhor utilizá-los. “Se a invenção pode ser copiada

facilmente e o imitador pode fornecer mais e melhores atributos ao menor preço, o

imitador capturará os retornos que resultam da inovação” (Teece, 1987 apud

Shane, 2001:1177). Portanto, a apropriabilidade é um conceito que vai além da

proteção por patentes ou outras formas legais de proteção.

3.5.

O Referencial de Branscomb & Auerswald para a Passagem da Invenção à Inovação

A passagem da invenção à inovação, tema principal desta dissertação, é

balizada pela alegoria do Vale da Morte apresentada por Branscomb &

Auerswald (2001). Segundo esses autores, existem várias fendas (gaps) ou

questões entre os extremos do Vale da Morte a serem superadas. Essas fendas

seriam, segundo esses autores, questões que o empreendedor precisa dar conta

para o sucesso de seu empreendimento. São elas: a financeira, a de pesquisa, e a

de informação e confiança. Sendo assim, o empreendedor tecnológico precisa

equacionar e solucionar essas questões para obter sucesso ao tentar fazer a

transição da invenção à inovação, ou em outras palavras, ao tentar atravessar o

Vale da Morte.

A fenda financeira inclui recursos para financiar, concomitantemente, a

geração de idéias de base tecnológica, a demonstração do funcionamento de seu

princípio em escala laboratorial e os recursos necessários para transformar essa

idéia em um protótipo pronto para o mercado. Branscomb & Auerswald (2001)

percebem como pronto para o mercado o produto com especificações bem

definidas, com seus custos de produção conhecidos e com seus mercados

adequados identificados. Tendo como referência o sistema americano de

inovação, referência global, os empreendedores contam com o auxílio dos

seguintes recursos: investidores-anjo; empresas de capital de risco especializadas

em lidar com projetos nascentes, o capital-semente; demanda de instituições

públicas e militares; programas estatais ou federais com o propósito de financiar a

passagem da invenção à inovação. Além desses recursos, existem ainda as

economias do empreendedor, o apoio financeiro de amigos e familiares e os

empréstimos bancários para financiar essa passagem. De fato, o empreendedor

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 46: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

45

deve avaliar e viabilizar algumas dessas formas em determinados momentos, até

que sua empresa se torne “autofinanciável”.

A fenda de pesquisa deve ser profundamente analisada em um recorte

setorial, dada a peculiaridade da transformação de uma descoberta científica em

uma inovação em cada um dos setores da economia. Para tornar uma descoberta

científica em uma inovação, existem algumas variáveis a serem consideradas.

Podem ser citados o grau de dificuldade da pesquisa, o custo dessa pesquisa, o

tempo necessário para levar o produto ao mercado em função de testes requeridos

para que ele se torne comercializável, entre outros. Mesmo após o empreendedor

tecnológico, cientista ou não, demonstrar que um princípio científico funciona,

base de um produto comercializável, as portas do paraíso ainda não lhe foram

abertas. O que ele ofereceu ou provou é apenas uma expectativa. O empreendedor

deve ainda dar conta de aumentar a escala do processo produtivo, entre outras

questões. O setor de medicamentos ilustra bem essa questão, devido à

obrigatoriedade da aprovação das drogas a serem comercializadas pelas

instituições competentes (FDA5, nos EUA ou ANVISA6, no BRA). Demais

tópicos relativos ao grau de dificuldade da pesquisa incluem o custo de produção

do produto, a qualidade suficiente desse produto para sobreviver ao ambiente

competitivo, a funcionalidade adequada, entre outros.

A fenda de informação e confiança, última apontada por Branscomb &

Auerswald (2001), representa o conflito de interesses, as diferenças culturais e de

percepção que residem em cada um dos dois atores fundamentais do processo de

inovação, o empreendedor e o investidor. O que está em jogo para o

empreendedor é a sua reputação ou a perda de um retorno que ele visualizava com

a sua inovação. Por outro lado, o investidor, geralmente, está arriscando o

dinheiro de outras pessoas. A abstração no julgamento de inovações e as

diferenças de percepção colocam a confiança e a boa comunicação como moedas

de troca por passagens para transpor o Vale da Morte. A confiança configura-se

não um ato de fé, mas sim reflexo da reputação do empreendedor dentro de um

ambiente de negócios ou acadêmico ou em ambos. A confiança e a informação

são fundamentais, dado que o investidor, geralmente, sabe levar novos produtos

5 FDA – Food and Drug Administration uma agência do Department of Health and Human Services dos EUA. 6 ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 47: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

46

ao mercado, algo que o empreendedor, em geral, desconhece. Mas ao mesmo

tempo, o investidor deve confiar no empreendedor, quando se trata de questões

tecnológicas.

Antes de lançar-se ao Vale da Morte, não só o empreendedor, mas todos os

atores envolvidos no processo de inovação, avaliam o risco que pretendem

assumir. A avaliação do risco, segundo Branscomb & Auerswald (2001), depende

fundamentalmente de sua concepção de sucesso e fracasso. Fracasso e sucesso

dependem de objetivos para serem caracterizados. Esses objetivos podem ser

institucionais, pessoais ou definidos para um projeto. Um projeto com múltiplos

objetivos possui múltiplas formas de fracassar ou de obter sucesso. Assim, a

avaliação de risco é constituída de pequenos problemas de minimização de riscos,

estudados sob perspectivas diferentes, que devem convergir para encontrar um

mínimo global, ou seja, uma intersecção de satisfação de todos os envolvidos.

3.6.

Empreender ou não empreender: a reflexão proposta por Bhide

Neste trabalho, a ênfase é dada também à avaliação do empreendedor

sobre os motivos que o levaram a se lançar ao Vale da Morte. Para tal, toma-se

como referência o trabalho de Bhide (1999), que, com base em anos de

experiência, faz menção à necessidade de o empreendedor conjeturar sobre a

criação de sua empresa e seus objetivos de maneira pragmática, aumentando

assim sua chance de sucesso.

Bhide (1999) apresenta três degraus que os empreendedores devem subir

para aumentar sua chance de sucesso: esclarecer suas metas, avaliar suas

estratégias quanto ao atendimento dessas metas e, por fim, verificar sua

capacidade de executar sua estratégia. Esses degraus, na verdade, representam um

processo de avaliação gradual, passo a passo, o que permite ao empreendedor

pensar antes de agir e dessa forma agir melhor, ou até mesmo não agir. As

perguntas que o empreendedor deve se fazer são hierárquicas. Primeiramente, o

empreendedor deve pensar sobre suas metas pessoais, para depois estabelecer

metas para a empresa, até chegar à avaliação sobre sua capacidade de executar a

estratégia pensada para a empresa.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 48: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

47

3.6.1.

O Primeiro Degrau de Bhide

Bhide (1999) coloca três pontos importantes que seriam as aspirações

pessoais, a expectativa do empreendedor em relação ao tamanho do negócio e sua

sustentabilidade e a tolerância do empreendedor em assumir riscos. Essa auto-

avaliação pode ajudar o empreendedor na hora de buscar não apenas sócios, mas

investidores com objetivos não conflitantes com os seus. Um empreendedor pode

estar buscando a imortalidade de construir uma grande empresa, um estilo de vida

melhor, mais flexível, uma forma de estar empregado, entre outros desejos.

Financeiramente, o empreendedor pode estar atrás de grandes retornos de forma

rápida, da venda da empresa ou da manutenção de um fluxo de caixa satisfatório.

Essa consciência reduzirá, certamente, os riscos de fracasso inerentes à atividade

empreendedora.

Após o empreendedor esclarecer para si mesmo seus objetivos pessoais,

ele deve pensar em que empresa quer construir. Precisa pensar no tamanho da

empresa e na sua sustentabilidade, ver a empresa a curto e a longo prazo. Essas

decisões estão fortemente ligadas às suas metas pessoais e determinarão o

tamanho de empresa a ser alcançado e a sua sustentabilidade. Bhide (1999) cita,

como exemplo desse link existente entre objetivos pessoais e o tipo de empresa a

ser construída, empreendedores interessados em construir grandes empresas

capazes de evoluir independentemente de sua presença. Esses empreendedores

terão a sustentabilidade a longo prazo em primeiro plano, quando estiverem

pensando sua estratégia ou tomando decisões importantes.

Em seguida, o empreendedor deve avaliar que riscos e sacrifícios a

empresa dos seus sonhos demandará e qual sua disposição em incorrer nesses

riscos. Bhide (1999) fornece vários exemplos de riscos que devem ser assumidos;

um deles é o risco de se levar anos até que o fluxo de caixa da empresa se torne

positivo – o que é comum em empresas de medicamentos, devido ao processo de

aprovação de medicamentos do FDA ou outros órgãos similares. No entanto, o

empreendedor pode não estar disposto a ficar tanto tempo trabalhando em uma

empresa sem retornos financeiros. Considerando o exemplo anterior, se o

empreendedor for um pesquisador, por exemplo, esse tempo pode ser demais para

a sustentabilidade de sua posição dentro da universidade – pode ser maior do que

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 49: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

48

o tempo permitido para tirar uma licença ou em que as duas atividades possam ser

exercidas concomitantemente. Portanto, se existir conflito entre os riscos

necessários e a disposição em assumi-los, o empreendedor deve reavaliar seus

objetivos. O processo de avaliação das metas pessoais é dinâmico; não está

discretamente localizado no início, na idéia, devendo ser aplicado continuamente.

Seu caráter contínuo advém da imprevisibilidade de vários aspectos da inovação

tecnológica e da mudança de percepção do próprio empreendedor.

3.6.2.

O Segundo Degrau de Bhide

A importância da estratégia está relacionada à construção de competências

necessárias e à busca de recursos essenciais para a sobrevivência da empresa,

principalmente a longo prazo. Shane (2005) coloca que a estratégia deve focar

pontos que permitam explorar a fraqueza das grandes empresas. Para tal, é

importante identificar as debilidades das empresas consolidadas do setor ou

segmento. Essas debilidades seriam, segundo Shane (2005:1) o foco na eficiência;

2) a exploração das capacidades existentes; 3) a necessidade de satisfazer os

clientes existentes, 4) as limitações da estrutura organizacional existente ,5) a

necessidade de recompensar as pessoas por fazerem seu trabalho, 6) a dificuldade

de desenvolvimento de produtos em uma estrutura burocrática. Tendo isso em

vista, o empreendedor pode direcionar melhor a sua estratégia, com maiores

chances de sucesso.

Bhide (1999:10) coloca que “formular uma boa estratégia é mais

importante para uma nova empresa do que resolver questões relativas a

contratações, definir sistemas de controle, fixar a estrutura organizacional ou

determinar o papel do empreendedor dentro da empresa”. O autor afirma que a

estratégia, quando bem clara, pode suplantar deficiências de comando. Porém,

todas as questões anteriores não compensam uma estratégia pobre ou sua

inexistência. Mas a estratégia não é estática, é dinâmica e deve ser sempre

reavaliada, de acordo com Bhide (1999), em três pontos. Esses pontos são: 1)

quão bem definida está a estratégia; 2) qual a sua capacidade em gerar lucro e

crescimento e a 3) como é a sustentabilidade da estratégia. “A estratégia de uma

nova empresa deve encarnar a visão de seus fundadores sobre onde a empresa

quer chegar e não de onde está” (Bhide, 1999:11). Segundo Bhide (1999), a

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 50: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

49

estratégia deve ter todos os seus pontos colocados de forma clara e simples para o

entendimento de todas as pessoas-chave para o sucesso do empreendimento, como

funcionários, investidores e clientes. Após ter em mente, claramente, a estratégia

pretendida, deve-se avaliar seu potencial de gerar lucro e fazer a empresa crescer

de forma satisfatória. Essa avaliação deve, também, ser contínua; todavia, não se

pode negligenciar a longevidade da estratégia. O empreendedor deve se lembrar

que toda onda arrebenta, se acaba. Quando essa onda acaba, a empresa tem que ter

consolidado capacidades que a diferencie das demais, gerando os retornos

esperados. Metas de crescimento e de lucro devem ser bem avaliadas, pois as

empresas crescem de maneira diferente, dependendo do setor , da disponibilidade

de recursos para financiamento, de incentivos governamentais, dos competidores,

entre outros fatores.

3.6.3.

O Terceiro Degrau de Bhide

O terceiro degrau é aquele em que o empreendedor tem a maior

probabilidade de fracassar. Seu triunfo depende muito de sua avaliação sobre a

possibilidade real de executar a estratégia desenhada. Bhide (1999) dividiu esse

tópico em subitens que devem ser avaliados pelos empreendedores e que precisam

ser considerados por serem fundamentais ao entendimento desse fenômeno. Esses

subitens são perguntas que o empreendedor deve se fazer: 1) tenho os recursos e

relações sociais necessárias?; 2) a organização é forte o bastante; tenho a

capacidade ou disponibilidade de executar meu papel dentro da estratégia?

O primeiro tópico é fundamental. Trata-se da rede de relacionamentos do

empreendedor, de sua capacidade de atrair pessoas talentosas e de sua própria

capacidade em executar atividades necessárias ao desenvolvimento da empresa.

As capacidades do empreendedor podem determinar a necessidade, ou não, de

sócios. Dependendo da importância dessas capacidades que faltam ao

empreendedor, pessoas serão recrutadas como sócios ou como funcionários. A

rede de relacionamentos é importante porque os empreendedores, para terem

acesso a recursos financeiros dos quais podem não dispor, precisam saber onde

encontrá-los e como consegui-los.

O segundo subitem versa sobre a organização. Bhide (1999) coloca que a

capacidade de organização do empreendedor ao executar sua estratégia depende

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 51: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

50

do que o autor chama de infra-estrutura pesada e infra-estrutura leve. A infra-

estrutura pesada seria sua estrutura organizacional e seus sistemas, enquanto que

sua infra-estrutura leve seria sua cultura e normas. A cultura da organização é um

ponto fundamental para a boa execução da estratégia. Bhide (1999) diz que essa

cultura determina como os funcionários se relacionam e como lidam com os

clientes. Diferentemente de sistemas organizacionais (softwares), a cultura não

pode ser copiada, ela é construída. Normalmente, ela absorve as características

dos primeiros funcionários ou é fortemente influenciada por estas.

O terceiro e último subitem é o papel do empreendedor. No início da

empresa, o empreendedor faz muito do trabalho total, jogando em várias posições.

O empreendedor deve saber ensinar e delegar tarefas à medida que a empresa

cresce. Outro ponto importante é a auto-avaliação do empreendedor. Ele deve ter

consciência de que pode não ser a pessoa mais indicada para exercer uma

determinada função ou executar uma dada tarefa em um momento específico da

existência da empresa.

3.7.

O Empreendedorismo Tecnológico

Após colocar-se os três pontos que o empreendedor deve analisar antes de

iniciar sua jornada pelo Vale da Morte, aprofundar-se-á o conceito de

empreendedorismo tecnológico. O empreendedor é a força motriz da nova

economia. Esse ator pode estar a serviço de uma empresa, perseguindo os

interesses dela, ou trabalhando em causa própria, em uma oportunidade que ele

reconheceu, desvinculada de qualquer empresa estabelecida. De acordo com

Shumpeter apud Bygrave (1997:1), “empreendedor é aquele que destrói a ordem

econômica introduzindo novos produtos e serviços, pela criação de novas formas

de organização, ou pela exploração de novas matérias-primas.”

Já Bygrave (1997:2) define, de forma mais ampla, empreendedor como

“alguém que percebe uma oportunidade e cria uma organização para persegui-la”.

Essa é a definição que será utilizada nesse trabalho. O empreendedor, no presente

estudo, não desenvolve sua idéia dentro de uma empresa estabelecida. Ele cria

uma empresa para explorar sua idéia, a fim de torná-la uma inovação.

O que leva uma pessoa a empreender? Questões como as possibilidades de

carreira visualizadas pelo empreendedor, a família, os amigos, os exemplos de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 52: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

51

pessoas que conseguiram obter sucesso sendo empreendedores, a situação

econômica e a disponibilidade de recursos, todos esses pontos influenciam a

decisão de abrir um negócio próprio. Quase sempre existe um “evento de disparo”

(triggering event), que leva ao surgimento de uma nova empresa. A origem desse

disparo pode estar no descontentamento do indivíduo com sua situação no

trabalho, por se sentir injustiçado ou sem boas perspectivas de carreira dentro da

empresa, por exemplo. Mas há também aquelas pessoas que o fazem por simples

escolha, como uma opção de carreira.

O processo de empreendedorismo é definido por Bygrave (1997:2) como

“o processo que envolve todas as funções, atividades e ações associadas com a

percepção de oportunidades e criação de organizações para persegui-las”. Esse

processo depende de alguns fatores para que possa ocorrer. Bygrave (1997) divide

esses fatores em pessoais, fatores relacionados ao ambiente que envolve o

empreendedor e outros de natureza sociológica.

Os atributos pessoais são o primeiro ponto destacado por Bygrave (1997).

O autor cita um grande debate acadêmico sobre a separação das pessoas em

empreendedoras e não-empreendedoras. Em seguida, fornece um exemplo que

busca desmontar essa classificação. O autor destaca que os possíveis

empreendedores devem ter uma necessidade de realizar, devem ter ambição, um

desejo de sucesso. Porém, o autor volta à classificação das pessoas em

empreendedoras e não-empreendedoras, colocando que as primeiras têm um

higher internal locus of control, o que significa dizer que elas acreditam estar no

controle de suas vidas, são pessoas que não acreditam no acaso ou destino. Shane

(2005) mostra-se cético quanto aos trabalhos que buscam identificar

características especiais dos empreendedores. O autor destaca a importância do

reconhecimento de oportunidades e não de traços psicológicos especiais. Mas

reconhece que as atitudes empreendedoras e o talento aumentam a chance de

sucesso. Shane (2005:16) utiliza, para ilustrar seu ponto de vista, exemplos como:

“Ele [Bill Gates] não é um bilhão de vezes mais bem-sucedido do que o empreendedor médio que abre um restaurante por ter características psicológicas especiais e atitudes um bilhão de vezes melhores do que o empreendedor médio. Pelo contrário, Bill Gates tem mais sucesso porque a criação do sistema operacional DOS – a tecnologia sobre a qual ele construiu a Microsoft – criou uma oportunidade magnífica para um novo negócio. Ela era muito mais valiosa do que a oportunidade de qualquer negócio de varejo ou de restaurante que o empreendedor médio começa.”

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 53: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

52

O exemplo dado, todavia, coteja negócios de tamanho médio diferente, em

indústrias diferentes. Adicione-se ainda o fato de que um (o caso de Bill Gates)

trata de empreendedorismo tecnológico e o outro (o empreendedor médio) não.

Apesar disso, deve-se destacar que o reconhecimento de oportunidades é uma

questão central. Esse reconhecimento é facilitado ou tem sua chance de ocorrer

amplificada pelas experiências prévias do possível empreendedor. Na perseguição

da mesma oportunidade, essas características ou traços são importantes, entre

outros fatores, para o sucesso dos novos negócios. Dessa linha derivam outras

questões como a possibilidade de se preparar empreendedores e outras que não

serão abordadas nesse trabalho.

O ambiente no qual o empreendedor está envolvido exerce um papel

essencial na sua decisão de abrir uma nova empresa. Bygrave (1997) coloca que

não é por acidente que existem partes do mundo mais empreendedoras do que

outras e destaca o exemplo do Vale do Silício. Segundo Bygrave (1997), lugares

como esses aumentam a chance de pessoas iniciarem novos negócios. Tais

ambientes fornecem exemplos a serem seguidos, os role models, e estes modelos

de sucesso podem estar no trabalho, na família, nos amigos. Há estudos que

buscam analisar essa influência, como o do próprio Bygrave (1997) e o de Nair &

Pandey (2006), entre outros.

Um outro fator importante é o que Bygrave (1997) chama de Family

Responsibilities. A responsabilidade familiar do empreendedor é um fator

importante na sua decisão de abrir um novo negócio. A decisão de investir em um

novo negócio torna-se mais fácil para pessoas solteiras, sem dependentes, que

moram com os pais, do que para uma pessoa, por exemplo, casada e com filhos

em idade escolar. Essa questão pode ser estendida, abordando-se o conflito entre a

experiência e a energia, ou seja, como a idade do possível empreendedor

influencia na sua decisão de abrir um novo negócio. Até mesmo a religião pode

ser alvo de investigação. Existe uma idéia corrente de que pessoas pertencentes a

minorias seriam mais empreendedoras do que as pertencentes a grupos

majoritários, item que foi analisado, por exemplo, em Nair & Pandey (2006).

Por fim, existe outra questão também imprescindível: os contatos. O

empreendedor deve saber onde conseguir a ajuda necessária para abrir sua nova

empresa. Mas, muitas vezes, apenas saber onde estão os recursos necessários não

basta para consegui-los, pode se fazer necessária uma reputação, uma relação de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 54: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

53

confiança com os tomadores de decisão que liberam recursos, ou que decidam

embarcar no empreendimento. Bygrave (1997) assinala a existência, nos EUA, de

instituições que procuram auxiliar os empreendedores a um custo baixo ou, até

mesmo, sem custo algum. Cita o exemplo do SBA - o Small Business

Development Centers - existente em todos os estados americanos e também o

exemplo de incubadoras, como iniciativas importantes na promoção do processo

empreendedor.

3.8.

Questões para Avaliar o Empreendimento

Colocam-se a seguir questões relativas ao lançamento de empresas start-

up, questões ligadas à avaliação do empreendimento tecnológico, apontadas por

Shane (2005). O autor assinala pontos importantes na escolha de setores mais

propícios a novos empreendimentos de tecnologia. Apresentar-se-ão aqui as

quatro dimensões identificadas por Shane (2005), que devem ser levadas em

consideração ao se lançar novas empresas: 1) condições de conhecimento, 2)

condições de demanda, 3) ciclos de vida industriais e 4) estrutura da indústria.

A condição de conhecimento, segundo Shane (2005), deve ser avaliada

porque existem áreas em que o conhecimento não está restrito, não requer uma

expertise existente apenas em empresas já estabelecidas. Essas áreas em que o

conhecimento não se encontra restrito são mais favoráveis para empresas

emergentes. Esse conceito se desdobra nas questões colocadas a seguir. A

primeira delas diz respeito à complexidade do processo produtivo; quanto mais

complexo, mais difícil se torna o sucesso para as novas empresas. A quantidade

necessária de conhecimento para gerar novos produtos é um fator complicador no

lançamento de empresas start-up.

A condição de demanda é, indubitavelmente, uma dimensão importante.

Essa dimensão foi subdividida em três aspectos principais: 1) o tamanho da

demanda por produtos ou serviços, 2) a taxa de crescimento dessa demanda e 3) a

heterogeneidade dessa demanda nos segmentos de clientes. O tamanho da

demanda por bens ou serviços influencia positivamente a criação de empresas

start-up; quanto maior o mercado, maiores as chances de novas empresas obterem

sucesso. A taxa de crescimento do mercado é outro aspecto crucial na avaliação

do empreendedor. Quanto mais rapidamente o mercado cresce, mais fácil se torna

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 55: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

54

a conquista de clientes pelas novas empresas. Caso contrário, as novas empresas

terão sua probabilidade de sucesso reduzida diante de empresas estabelecidas, que

se esforçam para manter seus clientes. Por fim, coloca-se a segmentação de

mercado. “A segmentação de mercado refere-se ao grau no qual a base de clientes

de uma indústria busca características diferentes nos produtos ou serviços que

adquire.” (Shane 2001:29) Essa segmentação permite que as novas empresas

focalizem nichos que não estão sendo bem atendidos pelas empresas já

estabelecidas. O setor de bens de capital é um setor segmentado e, dentro de

alguns segmentos, podemos encontrar nichos de mercado que podem ser

explorados por novas empresas.

Os ciclos de vida da indústria influenciam a chance de sucesso de novos

empreendimentos, porque existe um momento mais propício para a entrada de

novos competidores. “As indústrias, assim como as pessoas e os novos produtos,

nascem, crescem, amadurecem e morrem. (...) elas [as novas empresas] tendem a

ter um desempenho melhor quando as indústrias foram recém-criadas, ou são

jovens e estão crescendo, do que quando estão maduras ou morrendo.” (Shane

2001:30) Entretanto, ser o primeiro pode não significar garantia de sucesso, pois o

número de pessoas que adotam novos produtos, processos ou serviços não é

grande nesse estágio inicial. Esse número é considerado pequeno em comparação

com os que adotam novos produtos, processos ou serviços em um período

intermediário, nem cedo nem tarde. Portanto, perceber o tempo certo de entrada

no mercado é fundamental, principalmente em se tratando de novas empresas que

em geral são carentes de recursos. A desvantagem das novas empresas cresce com

a maturidade do segmento em que atuam, tendo em vista que a experiência é

cumulativa em relação ao tempo.

Em relação à estrutura da indústria, Shane (2005) aponta quatro

características importantes para o desempenho das novas empresas: 1) intensidade

de capital, 2) intensidade de propaganda, 3) concentração e 4) tamanho médio das

empresas. A primeira característica é intuitiva. Quanto maior a intensidade de

capital, menor é a chance de novas empresas obterem sucesso. As empresas start-

up devem focalizar, por exemplo, os segmentos onde pessoas são um fator

importante. A segunda característica é análoga a anterior. Quanto mais intensiva é

a propaganda, maior é a desvantagem das novas empresas. A concentração reflete

a participação no mercado das maiores empresas de um segmento ou indústria.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 56: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

55

Quanto mais concentrado é um segmento ou indústria, pior ele ou ela se apresenta

para as novas empresas. Quanto mais segmentada uma indústria ou setor, como o

de bens de capital, melhor se torna para empresas start-up. O tamanho médio de

firma na indústria também é um fator essencial. As novas empresas aumentam sua

chance de sucesso, quando o tamanho médio do segmento é pequeno. Esse

tamanho permite minimizar o risco dos empreendedores e não deixa a empresa

start-up em grande desvantagem frente às estabelecidas. Já em indústrias onde o

tamanho médio das empresas é grande, começar pequeno é uma enorme

desvantagem, enquanto começar grande é muito arriscado e pode não ser possível

por falta de recursos.

A inovação e o empreendedorismo são, como colocado, complexos,

estudados por várias áreas, com diversos debates internos e vários recortes

possíveis. O intuito aqui é apenas colocar questões que são consideradas

relevantes para o entendimento do fenômeno, sendo elas, direta ou indiretamente,

utilizadas nesta pesquisa.

O capítulo quatro apresenta um breve histórico das empresas dos

empreendedores entrevistados, além dos resultados das entrevistas realizadas.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 57: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

4.0.

Apresentação dos Resultados das Entrevistas

4.1.

Gávea Sensors: sensores a fibra ótica

4.1.1.

Apresentação da Empresa

A Gávea Sensors é a primeira empresa do Brasil a desenvolver sensores

utilizando a fibra ótica. A empresa é uma spin off universitária, uma PEBT com

origem universitária. Oriunda do laboratório de sensores à Fibra Ótica, do

Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, essa empresa que, conforme

classificação CNAE/IBGE, integra o setor de bens de capital, desenvolve, fabrica

e vende sensores e sistemas de leitura baseados na tecnologia de Redes de Bragg

em Fibra Óptica (Fiber Bragg Grating - FBG), além de softwares de gestão de

dados. Seus clientes-alvo são o setor de petróleo e gás, o de infra-estrutura civil e

de geotecnia, assim como o setor elétrico e a indústria aeroespacial.

Essa empresa iniciou suas atividades dentro da própria universidade, na

incubadora de empresas do Instituto Gênesis. Após dois anos, conseguiu se

graduar em 2006. No entanto, sua germinação ocorreu em 1998, a partir de um

encontro entre físicos e engenheiros em torno da aplicação de sensores à fibra

ótica. O primeiro contrato foi obtido em 1999, com o Programa de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) para o desenvolvimento de

um PIG Geométrico Óptico, em parceria com a empresa Pipeway. No ano

seguinte, foi possível obter apoio através do projeto CTDUT-FINEP, fato que

permitiu montar e equipar o Laboratório. No início de 2001, o

CENPES/PETROBRAS buscou a parceria com o Laboratório de Sensores à Fibra

Óptica (LSFO) para o desenvolvimento de uma família de transdutores a serem

aplicados em sistemas de completação inteligente. No final do ano, o primeiro

transdutor para medição de pressão e temperatura no fundo do poço passou por

uma instalação experimental em Taquipe (BA). O sucesso dessa instalação

motivou os empreendedores, os sócios Luiz Guedes Valente e Arthur Martins

Barbosa Braga, a criarem a empresa. Decidiram então participar da fase 1 (pré-

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 58: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

57

incubadora) de um edital da FINEP chamado Inovar. Com esses recursos,

investiram em pesquisa de mercado, preparação do plano de negócios e no próprio

protótipo, ao longo de 2002. No final desse ano, a primeira instalação efetiva de

duas unidades do Transdutor de Pressão e Temperatura em um poço em operação

em Mossoró, no Rio Grande do Norte, foi realizada. Em 2003, uma nova etapa do

projeto da Petrobras incluiu a fabricação de outras 100 unidades.

As Redes de Bragg em fibra óptica vieram contribuir para um avanço

significativo no mercado de sensores, oferecendo diversas vantagens técnicas e

econômicas. A tecnologia de Redes de Bragg em fibra óptica permite a integração

de vários sensores de diversos tipos em uma única interface, o que garante aos

clientes uma significativa redução de custo no sistema global de

monitoramento. Por estas razões, existe uma tendência crescente e natural de que

sensores baseados nesta tecnologia venham a substituir os sensores elétricos

convencionais, em muitas aplicações. Esta tendência também é motivada pelas

limitações dos sensores elétricos convencionais no monitoramento de grandes

estruturas. As principais vantagens dos sensores à fibra ótica em relação à

tecnologia convencional são: 1) alta sensibilidade, 2) tamanho reduzido -

aproximadamente do mesmo diâmetro de um fio de cabelo, 3) flexibilidade e

resistência; 4) baixo peso, 5) longa vida útil; 6) longa distância de transmissão -

até dezenas de quilômetros; 7) baixa reatividade química do material; 8)

isolamento elétrico - ideal para operar em ambientes com alta voltagem; 9)

imunidade eletromagnética, 10) multiplexação de sinais - uma única fibra pode

possuir dezenas de sensores, reduzindo o peso e o custo de instalação, 11)

multifuncionalidade - uma única fibra pode medir vibração, pressão, temperatura

e deformação.

4.1.2.

Apresentação das Evidências

“Experiência como empreendedor eu tinha pouca, para não dizer zero”

(Guedes, 2006). O entrevistado, antes da Gávea Sensors, tinha como experiência

empreendedora uma livraria, na qual possuía participação, acompanhando de

perto a administração do negócio.

No entanto, o entrevistado já trabalhava com sensores por volta de 1986-

87. Segundo Frajhof (2006), Luiz Carlos Guedes Valente começou a dar aulas na

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 59: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

58

Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1985, tendo adotado como área de

pesquisa a utilização da fibra ótica para a fabricação de sensores. Em seguida,

trabalhou com sensores de fibra ótica para o setor elétrico no CEPEL (Centro de

Pesquisa da Eletrobrás). Em 1996, Luiz Carlos Guedes Valente saiu do CEPEL e

foi trabalhar no Departamento de Física da PUC-Rio, que desenvolvia estudos

sobre fibra ótica, não relativos a sensores, mas onde havia o estímulo de

desenvolvimento nessa área. Isso demonstra toda a experiência envolvida na

identificação da oportunidade de negócio de que os sócios dispunham.

Foi na PUC-Rio que Luiz Carlos Guedes Valente conheceu o professor

Arthur Martins Barbosa Braga, do Departamento de Mecânica, por ocasião de um

congresso sobre fibra ótica que o referido professor estava organizando. A partir

daí começaram a trabalhar juntos, orientando suas pesquisas para aplicações da

tecnologia da fibra ótica ao processo produtivo da indústria de petróleo, entendido

por eles como promissor. Foi esse encontro (congresso), realizado em 1998,

reunindo físicos e pesquisadores de engenharia em torno da aplicação de sensores

à fibra ótica em mecânica, o embrião do Laboratório de Sensores à Fibra Ótica

(LSFO). Partindo desse ponto os empreendedores seguiram pesquisando,

ganhando visibilidade e mostrando aplicações para a tecnologia que

desenvolviam. Guedes (2006) destaca a importância dos casos de empreendedores

da universidade que estavam progredindo, colocando esse sucesso como um

motivador importante. Esses empreendedores abriram uma espécie de caminho

para a empresa seguir. Eles também estavam desenvolvendo máquinas e

equipamentos para a indústria de petróleo e gás. E, por fim, tinham o mesmo

cliente-alvo: a Petrobras. Em particular, o empreendedor citou a Pipeway como

exemplo.

Os empreendedores da Gávea Sensors são uma exceção à regra do

empreendedorismo, de forma geral, segundo a qual o empreendedor deve

reconhecer uma oportunidade de negócio. Nesse caso, a oportunidade foi que os

reconheceu. A credibilidade adquirida gradualmente com o desenvolvimento de

suas pesquisas na área os tornou mais visíveis à oportunidade. Até que esta surgiu

através de uma proposta da Petrobras de desenvolvimento de tecnologia junto a

PUC-Rio. Em 1999, segundo Frajhof (2006), o laboratório desenvolveu seu

primeiro grande projeto com recursos do CT-Petro, que possibilitou a

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 60: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

59

reestruturação do laboratório para o desenvolvimento de produtos para a indústria

de petróleo.

Como assinalado por Frajhof (2006), em 2001, o CENPES/Petrobras

buscou uma parceria com o LSFO para o desenvolvimento de sensores medidores

de pressão e temperatura, baseados na tecnologia da fibra ótica. Segundo Guedes

(2006), foram apresentados números maravilhosos sobre o mercado para o

produto com as características desejadas pela Petrobras e que atenderia a outros

clientes potenciais. Mas antes de realmente investir na criação de uma empresa,

tinham que verificar a viabilidade técnica e comercial do projeto. Em três meses

de projeto, os empreendedores testaram com sucesso um protótipo, em um poço

para testes da Petrobras, na cidade de Taquipe, na Bahia. O protótipo não tinha o

objetivo de medir temperatura nem pressão, mas somente o de testar a descida do

equipamento. O sucesso obtido com a descida do equipamento foi o disparo para a

criação da empresa, momento no qual os empreendedores sentiram que a

tecnologia era promissora, que poderia funcionar e que haveria mercado. A esse

cenário somou-se ainda o fato de que, quando a Petrobras patrocina uma pesquisa,

ela se torna dona da patente originária da mesma, e que, portanto, eles precisavam

constituir uma empresa para obter o licenciamento da tecnologia. Assim,

poderiam fornecer para a Petrobras o produto. Na mesma época em que Guedes e

Braga decidiram abrir a empresa, entrou em vigência um edital federal (FINEP)

de apoio a PEBT, permitindo que a empresa fosse incubada no Instituto Gênesis

da PUC-Rio.

Em relação às suas expectativas pessoais, foram destacados por Guedes

(2006) alguns pontos. Participar ativamente de um projeto cujo conhecimento

envolvido ele dominava foi o primeiro ponto relevante. A motivação ficou por

conta de ver uma criação sua funcionar e ser adotada como solução de um

determinado problema pela indústria.

Em segundo lugar, Guedes (2006) destacou que havia muita incerteza

quanto aos retornos financeiros, mas que eles poderiam ser compensadores. Hoje,

o sentimento em relação a esse ponto manifesta-se de maneira mais otimista.

Relativamente aos riscos, o empreendedor colocou que não estava saindo

totalmente da sua área de atuação e que, se os projetos dessem errado, poderia

voltar a dar aula na PUC-Rio ou em outra universidade, se fosse o caso. Além

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 61: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

60

disso, ele continuaria atuando nos projetos da universidade como consultor, o que

dava uma certa segurança financeira para o empreendedor.

A estratégia era conquistar a Petrobras, o que estava definido antes mesmo

da constituição da empresa. Esse cliente funcionaria como um cartão de visitas,

um selo de qualidade que permitiria à empresa conquistar o mercado mostrado

pela própria empresa na proposição do projeto. “O alvo era a Petrobras como

primeiro passo. Mas desde o começo a gente vislumbra a possibilidade de vender

pra outras empresas de petróleo, que produzem petróleo. (..) ver a Petrobras como

a primeira, mas certamente não a única.” (Guedes, 2006).

A empresa conquistaria o cliente, porque partira dele a encomenda de uma

solução. Então, em caso de desenvolvimento satisfatório do produto haveria um

grande cliente interessado em comprá-lo - a Petrobras. Não existiam competidores

à empresa. O próprio cliente, quando da proposição do projeto, informou que as

soluções existentes não atendiam totalmente às suas necessidades. Portanto, a

conquista da Petrobras como cliente ocorreria pela diferenciação do produto,

possuidor de características que o tornavam muito mais atraente que os produtos

com a mesma função dos concorrentes. Além disso, o produto seria desenvolvido

com o acompanhamento do cliente, aumentando suas chances de sucesso.

Como dito anteriormente, a estratégia era conquistar a Petrobrás. O

sucesso no fornecimento de tecnologia para essa empresa abriria as portas do

mercado externo e até mesmo poderia despertar o interesse das grandes empresas

multinacionais em parcerias ou aquisição. Quando os empreendedores resolveram,

em função do resultado positivo de estudo de viabilidade técnica e econômica,

abrir a empresa, em 2003, decidiram convidar outras pessoas com capacidades

distintas, mas que consideravam importantes para o sucesso do empreendimento.

Foi nesse estágio que os outros três sócios juntaram-se a eles. Outro ponto

importante da estratégia era a diversificação de produtos, para que a empresa não

se tornasse dependente de um único cliente (no caso, a Petrobras). Nesse sentido,

os empreendedores investiram, com o apoio da FAPERJ, no desenvolvimento de

um produto chamado DOV (Detector Ótico de Vazamento), para monitorar

vazamentos em postos de gasolina. Mas, apesar de tecnologicamente superior, o

produto não obteve sucesso junto aos postos de gasolina. Uma nova aplicação foi

intentada, com direcionamento para o processo de fabricação de bebidas, através

de recursos de outro edital público da FAPERJ. A estratégia da empresa era se

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 62: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

61

tornar uma fornecedora de soluções não apenas para a indústria de petróleo, mas

sim para todos os segmentos nos quais a sua tecnologia pudesse ser aplicada. Com

o objetivo de oferecer mais produtos ao mercado nacional, intensificando sua

estratégia de diversificação de produtos, a empresa fechou uma parceria com a

Fiber Sensing.

Sua estratégia, como pode ser notado pelo desenvolvimento de produtos

em paralelo, baseava-se fortemente em P&D. Com esse intuito, pós-constituição

da empresa, os sócios decidiram-se pela manutenção da proximidade com a

universidade, através da presença (continuidade) no LSFO de parte da equipe

empreendedora - Arthur Martins Barbosa Braga, Luis Carlos Blanco Linares e

Rogério Dias Regazzi. Esses continuariam a desenvolver suas atividades na

universidade, mesmo após a graduação da empresa na incubadora tecnológica.

No tocante às fendas existentes na passagem da invenção à inovação, o

empreendedor coloca que, num primeiro momento, o maior gap de todos era o de

pesquisa. A justificativa para seu peso dá-se pelo fato de que, ao fim do projeto

com o CENPES, dever-se-ia chegar a um produto que atendesse às demandas da

Petrobras. Não havia certeza de que a solução técnica desenvolvida seria aprovada

nos testes de laboratório e nos testes de campo e, por fim, fosse aceita pela

Petrobras.

Além disso, o empreendedor cita a questão do licenciamento da tecnologia

desenvolvida. Segundo Guedes (2006), quando a Petrobras provoca uma pesquisa

tecnológica, patrocinando o desenvolvimento de uma solução técnica, ela é dona

da patente gerada. Então, apesar de a equipe empreendedora da Gávea Sensors ter

desenvolvido o produto, não havia garantia de que poderia explorá-lo

comercialmente. A exploração comercial só ocorreria através de licenciamento de

tecnologia e pagamentos de royalties. Essa questão representa o gap de confiança

entre o investidor, no caso a Petrobras, e a equipe empreendedora. Ainda de

acordo com Guedes (2006), no início do projeto o licenciamento foi colocado

como uma questão simples, sem problemas relevantes; no entanto, com o

resultado positivo do projeto, essa questão se tornou uma grande incógnita. Isso

pode ser ilustrado pelo tempo entre o encaminhamento do pedido de

licenciamento em 2003 e sua assinatura em 2006.

Foi citado também o gap financeiro. Pairava uma grande dúvida quanto à

capacidade de autofinanciamento da nova empresa até que fosse feita a primeira

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 63: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

62

venda. Guedes (2006) assinala que, olhando sempre dentro um horizonte de seis

meses a um ano, a empresa mantinha-se como prestadora de serviços e com o

máximo apoio governamental possível, instalando-se na incubadora da

universidade. Cogitava-se também, caso fosse necessário, em buscar capital

externo para o financiamento da empresa.

Na travessia do Vale da Morte, 80% do tempo da empresa era dedicado a

P&D. A empresa se autofinanciava, em parte, através de editais governamentais

de apoio ao desenvolvimento tecnológico. Em paralelo, a gestão e o marketing da

empresa tomavam cerca de 20% dos esforços de travessia do Vale da Morte.

Nesse período, a receita da empresa era majoritariamente proveniente do

desenvolvimento de projetos junto a PUC-RIO, cerca de 90%, segundo o

empreendedor.

O empreendedor colocou que, em relação ao produto principal, não

reconhece nenhum erro em sua trajetória pelo Vale da Morte. No entanto, um dos

produtos que a empresa desenvolveu não obteve êxito. Nesse caso, o

empreendedor reconhece uma discrepância entre a valorização da tecnologia feita

por ele e os outros sócios, e a considerada pelos clientes. O empreendedor chegou

à conclusão de que é muito difícil atuar junto ao mercado de postos de gasolina,

devido a sua organização e que o preço do produto estava fora do que esse

mercado aceitaria.

O maior problema que o empreendedor aponta diz respeito ao

licenciamento do produto. Essa questão gerou grandes incertezas, foi um processo

longo de quase três anos, gerando reflexões profundas por parte do empreendedor.

A pergunta que ele se fez foi se haveria a possibilidade de negociar os termos do

contrato com a Petrobras. Em outras palavras, se existiria a possibilidade de

modificação de termos do contrato com a empresa.

O empreendedor colocou que o modelo de negócio da empresa foi

evoluindo com o tempo. A estratégia atual consiste na venda de um pacote com

todos os componentes necessários para o funcionamento do sensor; mas a Gávea

Sensors não se responsabiliza pela instalação. A equipe empreendedora busca

descentralizar as vendas, através de distribuidores/instaladores que difundam a

tecnologia. “A gente pode se multiplicar através dos instaladores”, justificou

Guedes (2006).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 64: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

63

Na fase de comercialização, as atividades mais importantes passam a ter o

seguinte peso: 40% Produção e Distribuição, de 10% a 15% P&D e de 20% a

25% Marketing, Vendas e Administração.

Guedes (2006) coloca que é importante para o empreendedor tecnológico

ter a consciência de que esse é um processo longo e com muitos riscos. Afirma

ainda que não se deve pensar que tudo acontecerá rapidamente; não há garantias

de riqueza e sucesso fáceis. Ele destaca que outros tipos de empreendimentos

podem ser mais interessantes para aqueles que desejam obter retornos rápidos e,

ou, maior segurança.

4.2.

Ativa: tecnologia e desenvolvimento

4.2.1.

Apresentação da Empresa

A Ativa é outra empresa com origem na PUC-Rio e incubada no Instituto

Gênesis. A empresa começou a ser desenvolvida em 2001, por um grupo de

alunos da universidade. Assim como a Gávea Sensors, seu produto também está

voltado, principalmente, para o mercado de produção de petróleo, podendo ser

aplicado com outras finalidades.

Em seu site, a empresa coloca-se como uma organização “voltada para o

desenvolvimento de produtos inovadores na área de meio ambiente” (Ativa, s.d.).

Mas, para as aplicações na produção de petróleo, pode-se considerar a empresa

como pertencente ao setor de bens de capital. Essa classificação é válida, pois seu

sistema aumenta a segurança da produção em relação a vazamentos de óleo, ou

seja, é um equipamento aplicado à produção.

O principal produto da empresa chama-se Barreira Ativa, um produto

patenteado. Sua criação teve como fontes o impacto ambiental sobre a sociedade e

o impacto financeiro sobre as empresas, causados por vazamentos de óleo e

derivados em grandes massas de água, como mar e rios.

Segundo a Ativa, a inovação de seu produto reside no sistema de captação

e bombeio. “Dois captadores cilíndricos dotados de uma série de orifícios

calibrados são instalados à montante e à jusante do corpo desta nova barreira.

Posicionados na região da mancha, permitem a captura do poluente que é

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 65: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

64

bombeado continuamente ao longo do corpo da barreira para reservatórios

especiais”(Ativa, s.d.). Assim, o produto, além de conter o avanço da mancha,

recolhe o poluente.

4.2.2.

Apresentação das Evidências

O empreendedor entrevistado, dentre os sócios, é o único a ter experiência

empreendedora anterior à Ativa, que, no entanto, não possuía relação com o

empreendimento atual. Sua experiência deu-se no período 2000-2002, quando

decidiu seguir a onda da internet, atuando no desenvolvimento de páginas web;

porém o empreendimento não logrou sucesso.

A identificação da oportunidade atual, segundo André Souza, ocorreu em

função da observação por parte dos empreendedores de vários acidentes

ambientais no Brasil, envolvendo vazamento de óleo. Entre 1999 e 2001, de

acordo com o site Ambiente Brasil, ocorreram 29 acidentes desse tipo no país, dos

quais muitos, não a maioria, envolveram operações da Petrobras em todo o

território nacional. Acidentes como o rompimento de tubulações da empresa, ou

outros, ilustrado por Santos (2000):

“Este acontecimento lamentável foi verificado nas águas do Estado do Rio de Janeiro na madrugada do dia 18 de janeiro de 2000, onde, em virtude de um problema originado em uma das tubulações da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), foram lançados, segundo dados noticiados pela imprensa, algo em torno de 1,3 milhões de litros de óleo cru na Baía de Guanabara. Considerado o segundo desastre mais grave já verificado na área marítima do Rio de Janeiro, sendo apenas superado pelo acidente ocorrido com o navio "TARIK", em 1975, provocou graves danos ao ecossistema, o qual, segundo especialistas, só deverá recuperar suas condições normais daqui a dez ou quinze anos”.

A mesma visão apresentou Daniel Camerini (Ativa, s.d.), colocando que:

“Vários foram os motivos que nos incentivaram a desenvolver a Barreira Ativa, como as dificuldades encontradas pelas empresas no combate aos vazamentos de óleo em ambiente aquático, a evidente ineficiência dos equipamentos de contenção e captação e os acidentes históricos que ocorreram no país e no mundo nos últimos anos. A repercussão e mobilização nacional, as altas multas e os impactos ambientais, sociais e econômicos em geral eram sinais de que o mercado estava oferecendo uma abertura para produtos na área. Nós aproveitamos essa brecha!”

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 66: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

65

No entanto, outros fatores atuaram como forte incentivo aos

empreendedores para que decidissem atravessar o Vale da Morte. Um deles é o

papel dos exemplos existentes na PUC - Rio, conhecidos através da incubadora de

empresas, o Instituto Gênesis. Os empreendedores de outras empresas, como os da

Gávea Sensors e da Pipeway, que estavam conseguindo apoio para seus projetos e

que pertenciam ao corpo docente e discente da universidade, tornaram-se

referência para a equipe. Além disso, todos estavam envolvidos com o cliente-

alvo da Ativa, a Petrobras, que apoiava os projetos. Porém, saber que outros foram

apoiados e que o projeto poderia interessar a Petrobras não garantiria o sucesso de

um empreendimento para a contenção de vazamentos de óleo.

O evento-disparo para o início da concretização da idéia foi o

conhecimento de um edital da FINEP, o qual oferecia incentivos para projetos na

área de petróleo e gás, trazido pelo sócio Daniel Camerini. Esse convidou Rodrigo

Carvalho e Vinicius Lima, ambos participantes de projetos no CETUC (Centro de

Estudos de Telecomunicações), e André Souza, mestrando do DEI (Departamento

de Engenharia Industrial), para elaborarem um projeto. Todos os sócios nutriam

uma amizade nascida dentro dos corredores da PUC-Rio, antes mesmo do

empreendimento. De forma a evitar custos desnecessários e para não queimar

recursos dos quais não dispunham, os sócios não criaram logo uma empresa;

foram administrando-a como um projeto. Nessa fase, as funções eram as

seguintes: André era responsável pela parte administrativa e os outros três sócios,

pela parte técnica.

A idéia, para conseguir o apoio governamental da FINEP, teria como

requisitos essenciais ser viável, inovativa e competitiva no mercado. A avaliação

do projeto, antes da submissão à FINEP, foi feita pelo empreendedor tecnológico

e coordenador do Departamento de Mecânica da PUC-Rio, Arthur Martins

Barbosa Braga (Gávea Sensors), que apoiou o projeto. O projeto foi, então,

aprovado na primeira fase da avaliação da FINEP, mas não obteve apoio por falta

de um protótipo a apresentar, justamente uma das exigências do edital não

observada pelos empreendedores. Todavia, desse processo ficou a certeza de que a

idéia era boa; a continuação era uma iniciativa promissora. Dividia essa mesma

visão Arthur Braga, que viabilizou junto a ANP (Agência Nacional do Petróleo,

Gás Natural e Biocombustíveis) bolsas para a continuidade do desenvolvimento

do projeto.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 67: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

66

O edital da FINEP foi apenas o evento-disparo para que os

empreendedores saíssem da inércia. O foco pós-edital era conseguir o apoio de

seu cliente-alvo, a Petrobras, o norte da idéia desde o princípio. Foi desenvolvido

e testado, então, o protótipo da Barreira Ativa para ser apresentado a Petrobras. A

rede de relacionamentos, mais uma vez, mostra sua importância, dado que

Rodrigo Carvalho, um dos sócios da Ativa, era orientado por um pesquisador do

CENPES (Centro de Pesquisa da Petrobras), Ney Robinson Salvi dos Reis. O

pesquisador avaliou positivamente o protótipo e apresentou à coordenadora do

PROAMB (Programa Tecnológico de Meio Ambiente) da Petrobras, Thais Murce

Mendes da Silva, que também aprovou a idéia. Esses foram os principais aspectos

que levaram os empreendedores a, num momento seguinte, constituir legalmente a

empresa a fim de que, efetivamente, a idéia pudesse se tornar uma inovação.

Dentre os fatores pessoais que levaram os empreendedores a lançarem-se

na travessia do Vale da Morte pode-se destacar, de forma geral, a vontade de

todos de possuírem seu próprio negócio. Isso se soma ao fato de nenhum dos

sócios ter responsabilidade com terceiros, ou seja, ser casado ou ser pai. De

maneira específica, segundo Souza (2006), Rodrigo C. estava mais interessado em

ver uma criação sua no mercado, estava mais motivado pelo desafio tecnológico,

diferentemente dele, que abandonou sua carreira em um banco para perseguir a

oportunidade. Os outros, ao menos durante um período determinado, dedicaram-

se exclusivamente à empresa. Vinicius Lima, após certo tempo, passou a se

dedicar parcialmente à empresa, em função de uma outra atividade profissional

que passou a exercer. Assim, os riscos e sacrifícios inerentes a um

empreendimento tecnológico não representavam barreira para cada um dos sócios.

Entretanto, vale destacar que, apesar de todos motivarem-se por serem

donos do negócio e desejarem fazer a empresa crescer, não foi descartado, durante

a entrevista, uma possível aquisição da Ativa por um grupo estrangeiro. Segundo

Souza, “A compra por uma empresa estrangeira é quase inevitável”. Esse

momento é encarado quase como uma fatalidade. Mas isso não significa que os

empreendedores estejam à procura de compradores, pelo contrário. Algumas

ofertas de apoio financeiro foram feitas por investidores à empresa, sob

determinadas condições, todas até aqui sem sucesso. Souza posiciona-se quanto a

alguns investidores da seguinte maneira: “Eles são muito agressivos”.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 68: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

67

A estratégia inicial da empresa era não apenas vender sua tecnologia para a

Petrobras, mas tê-la como parceira em seu desenvolvimento. Acreditaram

conseguir esse apoio em função da observação dos exemplos de empreendedores

apoiados pela Petrobras, já citados anteriormente. O foco era desenvolver uma

solução rápida, de tecnologia nacional, de baixo custo e que não competisse

diretamente com soluções de empresas multinacionais. Como apontou Souza: “A

barreira ativa possui custo cerca de três vezes menor do que as soluções de efeito

semelhante”.

O empreendimento tecnológico configura-se em uma empresa para a

comercialização de um equipamento de proteção do meio-ambiente produtivo da

indústria de petróleo, a Barreira Ativa, mas que pode ser utilizado também em

outras situações, operando, por exemplo, em regiões próximas a portos. Segundo

material publicitário da empresa, a Barreira Ativa “é um inédito sistema integrado

de contenção e captação superficial a ser empregado na despoluição de grandes

massas de águas contaminadas por poluentes sobrenadantes, principalmente

petróleo e seus derivados, e que pode ser incorporado às tradicionais barreiras de

contenção. Este sistema tem potencial para remover poluente tanto a montante

quanto a jusante, evitando o espalhamento da mancha e recolhendo o óleo vazado

para tanques.”

Na passagem da invenção à inovação existem fendas, questões principais

que o empreendedor deve considerar para o sucesso do empreendimento, como

colocado no capítulo 02. Souza S. identificou e nomeou as fendas existentes na

sua travessia da seguinte forma: a financeira, a de tecnologia, a da rede de

relacionamentos. A seguir, tratar-se-á de cada uma separadamente.

A questão financeira é a noção mais intuitiva de todas. O empreendedor

afirmou que os sócios não dispunham de recursos financeiros suficientes para o

desenvolvimento do produto, sendo essa uma questão fundamental para a

empresa. Os recursos foram conseguidos junto ao governo federal de duas formas.

Primeiro, por meio de editais públicos de instituições de apoio a P&D, nos quais

os empreendedores foram contemplados, como o da FINEP, Ação Transversal, e o

da FAPERJ, Rio Inovação II. Segundo, através da orientação da Petrobras em

apoiar projetos de PEBT e orientar suas compras, quando possível, para o

mercado nacional. Outra fonte de redução do montante de investimento, não

apenas financeiro, mas também de tempo, foi a entrada da empresa na incubadora

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 69: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

68

do Instituto Gênesis. Por fim, vale a pena destacar que ainda surgiram, em função

da visibilidade que a empresa foi ganhando, ofertas de investidores de risco;

entretanto esses recursos não foram utilizados.

A fenda de tecnologia apontada pelo empreendedor se relaciona à pesquisa

e ao desenvolvimento. Essa fenda foi a primeira a ser superada. A equipe

empreendedora desenvolvia pesquisa e estava ligada a centros de pesquisa, com

orientadores experientes. Isso reduziu a incerteza sobre a capacidade de

desenvolver o produto. Em outras palavras, na fase inicial, o apoio de

pesquisadores/empreendedores de sucesso e de outras pessoas reduziu a incerteza

tecnológica do projeto.

A fenda da rede de relacionamentos foi a última apontada pelo

empreendedor. A rede, nesse caso, demonstra sua importância de duas formas.

Primeiramente, no que diz respeito ao acesso a informações. A condição de

alunos-pesquisadores de uma universidade, com a estrutura empreendedora da

PUC-Rio, catalisou a capacidade cognitiva dos sócios para reconhecer a

oportunidade de negócio. Além disso, pessoas de sua rede de relacionamento

também influenciaram na busca da inovação, direcionando os empreendedores. O

direcionamento refere-se à noção de que desenvolver um produto para a Petrobras

é possível e passível de apoio.

A reputação da equipe empreendedora e o apoio que conseguiram

aumentou sua chance de obter financiamento para a empresa. A confiança deve

existir entre o empreendedor e o governo. Por governo entende-se seu braço

administrativo, as agências e instituições, e seu braço produtor - suas empresas. O

governo brasileiro vem procurando incentivar (facilitar) a criação de PEBT,

através de suas instituições e, em particular, de suas empresas. O apoio do

governo as PEBT depende da confiança que o projeto apresentar. Um dos pontos

centrais dessa confiança é o nível de qualificação dos pesquisadores e instituições

envolvidas. Nesse quesito, os empreendedores da Ativa levariam vantagem sobre

demais equipes empreendedoras com a mesma idéia, mas sem rede de

relacionamentos similar. Não se refere aqui à liberação de recursos pelo governo

para projetos por meio de seleção pública, mas sim ao apoio da Petrobras ao

projeto, conseguido graças à avaliação de um pesquisador do CENPES, do qual

um dos sócios da Ativa era orientado, e que levou a idéia até a Petrobras. Mesmo

que o apoio financeiro não tivesse se concretizado imediatamente, havia a certeza

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 70: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

69

da demanda de seu produto e uma avaliação positiva do mesmo. No entanto, esse

apoio se concretizou, somando-se ainda o apoio ao serem incubados no Instituto

Gênesis, o que aumentou ainda mais suas chances de sucesso e sua visibilidade

junto a investidores. Esses, por vezes, tentaram entrar no negócio sem sucesso.

O produto ainda não foi comercializado. A expectativa é de que a primeira

venda a Petrobras seja efetuada no início de 2007. Essa travessia pelo Vale da

Morte já dura algo em torno de 06 anos, quatro de projeto e dois como empresa.

Os esforços da Ativa concentram-se em 80% do tempo com atividades de P&D e

em 20% com marketing e outras atividades. A empresa não apresentou receita

nesse período, além dos recursos conseguidos junto ao governo. E um dos

principais desafios que enfrenta é o de agregar mais valor ao seu produto, com

vistas à comercialização do mesmo.

Souza (2006) considera que o principal erro da equipe empreendedora foi

concentrar-se inicialmente na obtenção do apoio financeiro apenas da Petrobras ao

projeto. Essa busca levou cerca de dois anos, tempo suficiente para que pudessem

pleitear esse apoio junto a instituições como a própria FINEP e a FAPERJ. Outro

ponto considerado como errôneo foi o de pensar em atrair investidores,

capitalistas de risco para aporte financeiro à empresa. A empresa foi sondada duas

vezes e as propostas foram consideradas inadequadas pela equipe empreendedora.

Segundo os sócios, os investidores queriam deter demasiado controle, o que na

visão dos componentes da Ativa, não seria apropriado naquele momento. Mas não

foi descartada a possibilidade de conversa com outros investidores e análise de

propostas.

No momento em que surgiu, a empresa havia obtido recursos necessários

para determinadas fases do desenvolvimento do produto, o que somado à

quantidade de exigências, afastou a hipótese de qualquer acordo. Para Souza

(2006), o principal fator que um empreendedor deve ter em mente antes de se

lançar ao Vale da Morte é que a travessia é longa.

Após a apresentação das duas entrevistas, o capítulo cinco discute os

achados em relação a cada questão de pesquisa. Este capítulo estrutura-se de

forma a fazer uma análise cruzada dos relatos dos empreendedores entrevistados.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 71: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

5.0. Discussão dos Resultados

5.1.

A Decisão de Empreender ou não.

A primeira questão de pesquisa - quais os fatores avaliados pelo

empreendedor ao tomar a decisão de atuar sobre a oportunidade identificada, ou

seja, o que o leva a lançar-se na arriscada jornada de travessia do Vale da Morte?

– é de fundamental importância, pois esse é o disparo de todo o processo de

inovação tecnológica. Caso essa avaliação se mostre negativa, não há inovação,

sem inovação não há travessia pelo Vale da Morte. Maculan (2002:13) apresenta a

questão da seguinte forma; “como avaliar a viabilidade do projeto empreendedor

inicial e sua posterior transformação significa enfrentar a problemática de acesso

às informações e aos recursos tecnológicos disponíveis localmente, do

atendimento a uma demanda mal identificada e da compreensão do mercado

visado”. Sendo assim, é de vital importância para o desenho de políticas públicas

mitigar os fatores que atuam de forma negativa e potencializar os que atuam de

forma positiva à entrada do empreendedor no Vale da Morte, ao início de sua

jornada empreendedora. Essa discussão balizar-se-á nos trabalhos de Bygrave

(1997) e Bhide (1999).

Segundo o modelo de processo empreendedor de Bygrave (1997), existem

vários fatores (pessoais, sociais e de ambiente) que corroboram para o surgimento

de empresas start-up. O autor coloca que a busca por uma idéia passível de se

tornar uma inovação pode ser realmente deliberada ou ser um processo aleatório,

involuntário. Os empreendedores aqui apresentados nos mostram que esse

processo, ou melhor, que a idéia que norteou a criação de cada empresa foi fruto

de uma busca deliberada. Ambos desenvolveram equipamentos para as operações

da Petrobras, tendo a empresa como principal cliente, ao menos, em um primeiro

momento.

Bygrave (1997) coloca ainda que a decisão do empreendedor de atuar

sobre a oportunidade identificada depende de, por exemplo, suas alternativas

profissionais, família, amigos e dos “exemplos de sucesso”, ou role models, da

situação econômica e da disponibilidade de recursos. Em ambos os casos

estudados, os empreendedores demonstraram ter avaliado os pontos apresentados

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 72: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

71

anteriormente, destacando-se dois: o papel dos role models e as alternativas

profissionais. Guedes (2006) citou a Pipeway como exemplo motivador; Souza

(2006) citou não apenas a Pipeway, mas também a própria Gávea Sensors como

exemplo, pois todas essas empresas, entre outras, mostram para a comunidade da

universidade que é possível desenvolver uma inovação na área de petróleo e gás,

conseguindo o apoio de seu principal cliente para o projeto e para a sua

comercialização. Portanto, nos casos apresentados, observa-se que o processo

empreendedor é fruto, principalmente, do ambiente empreendedor criado e

fomentado na universidade e das relações sociais estabelecidas entre os

empreendedores das diferentes empresas, que reconhecem e têm acesso a outras

fontes de informação dentro da mesma região, exemplificando o caráter local

desse fenômeno. Pode-se ilustrar essa característica local pela proximidade entre a

incubadora e os laboratórios e departamentos da universidade e do Centro de

Pesquisas da Petrobras (CENPES). Essa conjunção de fatores tornou a travessia

do Vale da Morte menos assustadora para esses empreendedores.

Bhide (1999) apresenta degraus que o empreendedor deve ser capaz de

vencer antes de decidir transformar uma idéia em uma inovação. Os degraus, já

apresentados anteriormente, são: esclarecer as metas; avaliar as estratégias quanto

ao atendimento dessas metas e, por fim, verificar a capacidade de executar sua

estratégia.

Com relação ao primeiro degrau, os pontos mais importantes colocados

por Bhide (1999) são as aspirações pessoais, a expectativa do empreendedor em

relação ao tamanho do negócio e sua sustentabilidade e a tolerância do

empreendedor em assumir riscos. Em relação às questões pessoais, ambos

empreendedores não tinham impedimentos que os constrangessem a inovar. Os

empreendedores colocaram que suas equipes estavam motivadas em desenvolver

uma tecnologia que seria a solução de um determinado problema, que seria

escolhida em detrimento de outras já existentes por apresentar mais vantagens e

em ter seu próprio negócio. Deve-se destacar, abrindo um parêntese, que tanto a

Gávea Sensors quanto a Ativa consideram como algo inevitável a compra de suas

empresas por um grupo estrangeiro. O que pode ser ilustrado por Souza (2006),

“A compra por uma empresa estrangeira é quase inevitável” e Guedes (2006) “o

produto pode ser os sensores mas pode ser também a própria Gávea”.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 73: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

72

Com relação ao segundo degrau (definição de uma estratégia), os casos

estudados apresentam trajetórias diferentes, apesar de contarem com algumas

semelhanças. Entre as semelhanças pode-se destacar que ambos empreendedores e

suas respectivas empresas se desenvolveram em torno da Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro e de seu Instituto Gênesis, sua incubadora de empresas.

Além disso, ambos desenvolveram seus produtos tendo a Petrobras como

principal foco, principal cliente.

Em relação à Gávea Sensors, não havia uma estratégia clara, ou seja, ela

foi construída através de cenários definidos. No início, Arthur e Guedes, sócios na

referida empresa, resolveram trabalhar juntos, direcionando suas pesquisas com o

fim de ganhar a credibilidade do mercado e chamar a atenção da Petrobras para o

potencial de sua equipe em desenvolver soluções no campo de sensores à fibra

ótica para a área de petróleo e gás. Sua estratégia era continuar na universidade;

não existia empresa, ela só seria aberta quando houvesse um forte indicativo neste

sentido. A estratégia de uma empresa é dinâmica; muda conforme a mudança de

percepção do empreendedor em relação ao negócio ou ao ambiente de negócios.

Então, em um segundo momento, enquanto o licenciamento e as vendas para a

Petrobras não aconteciam, decidiram por diversificar sua atuação, captando

recursos para o desenvolvimento de outros produtos ou serviços. A idéia era atuar

não apenas no setor de petróleo e gás, mas em outros setores onde sua tecnologia

pudesse ser aplicada, como, por exemplo, energia, infra-estrutura civil,

aeroespacial, naval e meio ambiente. Por fim, a empresa fechou uma parceria

comercial e tecnológica como parte de sua estratégia de desenvolvimento.

Atualmente, segundo Fibersensing (2006), tanto ela quanto sua parceira – a Gávea

Sensors - fornecem sensores baseados na tecnologia FBG, Fiber Bragg Grating.

Como assinalado por Guedes apud Fibersensing (2006) “This partnership will

enable both companies to share product development resources and accelerate

new product releases, while keeping compatibility”. O CEO da Fibersensing,

Pedro Antão Alves, no site da companhia, destaca a importância da parceria

firmada colocando que “The combined portfolio of products will provide the user

a competitive solution based on FBG technology”.

Deve-se destacar que a Gávea Sensors está em um estágio diferente da

Ativa, pois a primeira já se graduou, enquanto a segunda permanece incubada. A

Ativa nasceu de um processo deliberado de busca, conforme relatou o

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 74: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

73

entrevistado, buscando percorrer a trilha aberta por outras empresas do instituto,

como a Gávea Sensors e a Pipeway.

Tendo como pano de fundo os incidentes ambientais de vazamento de óleo

no Brasil, alguns envolvendo operações da Petrobras, a equipe empreendedora

objetivava desenvolver um produto nessa área. Os empreendedores buscavam,

para isso, após uma tentativa fracassada de obter recursos da FINEP, o apoio

financeiro da Petrobras. A estratégia da empresa era competir por custo e agregar

mais tecnologia ao seu produto, sem deixar de ser competitiva. Outra faceta

estratégica da empresa era manter parte da equipe empreendera atuando em

projetos de forma a aumentar o reconhecimento do mercado em relação aos

empreendedores e à empresa. Não havia até aqui, ou não foi revelado, mais

nenhum projeto de outro produto em curso, como forma de diversificar sua linha

de produtos. Sendo assim, a estratégia da empresa era conseguir o apoio da

Petrobras para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de seu produto.

Em relação ao último degrau de Bhide, deve-se colocar que tanto os

empreendedores da Gávea Sensors, quanto os da Ativa estavam preparados para

desenvolver seus projetos; com equipes empreendedoras compostas de doutores,

mestres, enfim, de pesquisadores qualificados às suas proposições. Para aumentar

a capacidade de transformar suas idéias em inovações, as duas empresas

incubaram-se no Instituto Gênesis, composto por profissionais que dão suporte

aos empreendedores. Sua infra-estrutura de funcionamento permite que o

empreendedor se dedique às tarefas fundamentais, ao sucesso do empreendimento,

como colocado por Guedes (2006).

Os empreendedores dispunham de uma rede de relacionamentos que os

possibilitava executar sua estratégia. Os empreendedores da Ativa, sem a

avaliação positiva de pesquisadores e técnicos da Petrobras, com os quais tinham

contato, enfrentariam maiores dificuldades em conseguir executar sua estratégia.

Pode-se afirmar que a execução dessa estratégia tornar-se-ia árdua frente à

miríade de pedidos de apoio e patrocínio que a Petrobras recebe das mais variadas

partes do país. O ambiente local e o conhecimento mútuo amplificam a

capacidade de analisar e de executar uma determinada estratégia.

5.2.

A Passagem da Invenção à Inovação

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 75: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

74

A segunda questão de pesquisa aborda “Como o empreendedor de empresa

start-up do setor de bens de capital enfrenta as fendas existentes no fenômeno da

passagem da invenção à inovação?”. Como dito anteriormente, as fendas na

passagem da invenção à inovação, ou seja, da transposição do Vale da Morte, são

a fenda de pesquisa, a fenda financeira e a fenda de informação e confiança.

A fenda de pesquisa não foi o maior problema para nenhuma das equipes

empreendedoras estudadas, pois a Gávea Sensors nasceu de pesquisa no LSFO e a

equipe da Ativa era formada por pesquisadores ligados, de alguma forma, ao

CENPES , ao CETUC e ao DEI, os dois últimos na PUC-Rio.

A fenda de informação e confiança deve ser destacada. Sem informação,

sem o ambiente da universidade, teria se tornado menos provável, não o

surgimento das idéias, mas sua avaliação como “exeqüível” e o início da jornada

aqui descrita. O contato com engenheiros da empresa-alvo, ou que conheçam o

mercado, ajuda a formatar melhor o projeto, atender melhor às necessidades,

assim como o contato com pesquisadores que já desenvolveram projetos e outros

empreendedores do setor. Começa a criar-se uma área de profissionais dispostos a

trabalhar em novos projetos, num sistema local, com entendimento das restrições

e potencialidades que se apresentam.

O gap financeiro pode ser colocado como o mais importante do SNI

brasileiro, mais importante do que os gaps de pesquisa e informação, sendo talvez

a grande barreira à inovação no Brasil. Dado que o capital de risco ainda não é

uma prática difundida no Brasil, essa fenda torna-se ainda mais difícil de ser

superada. No entanto, o governo brasileiro tem oferecido apoio ao

desenvolvimento de inovações com ações, como a Lei da Inovação. Com o apoio

governamental foi possível, por exemplo, o desenvolvimento de incubadoras que

não só são uma opção barata de início de vida das empresas, mas também fonte de

informações, de infra-estrutura e de difusão da cultura empreendedora. O capital

empregado pelo governo, através da FINEP, do BNDES ou de outras instituições,

mesmo nos projetos que fracassam comercialmente, deixa um lastro de

conhecimento que será utilizado por futuros empreendedores.

Mas não só o apoio do governo ou do capital de risco são soluções para a

falta de recursos financeiros. Além dos próprios recursos e de empréstimos, que

dependem das condições de crédito favoráveis à atividade empreendedora,

existem as parcerias e as associações com outras empresas. Tanto a Gávea Sensors

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 76: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

75

quanto a Ativa buscaram parcerias em fases diversas e com objetivos diferentes. A

Ativa para o desenvolvimento e posterior comercialização de seu produto. A

Gávea, além do investimento da Petrobras no projeto, buscou uma parceria para

diversificar sua atuação. Sendo assim, parcerias também são modos de

desenvolvimento das empresas start-up que propiciam formas de

desenvolvimento de produto e também de crescimento e de diversificação de

atuação.

Por fim, o gap de informação não foi citado diretamente, mas pôde ser

evidenciado durante a entrevista com os empreendedores. O fato de as equipes

empreendedoras estarem vinculadas à universidade (PUC-Rio), que proporciona a

participação em congressos, seminários e encontros científicos, onde são trocadas

valiosas informações, mostra-se fundamental para o reconhecimento de uma área

de estudos promissora comercialmente. Além disso, a experiência com programas

de apoio à pesquisa acadêmica permitiu que os empreendedores tivessem acesso

aos recursos para o desenvolvimento tecnológico disponibilizados pelo governo

brasileiro. Outra questão importante, já colocada anteriormente, foi o papel dos

exemplos de empreendedores da universidade que estavam progredindo. E por

fim, já dentro da incubadora Gênesis, os empreendedores destacaram o suporte

dado pela equipe do instituto, as informações e orientações que recebiam.

5.3.

O Aprendizado na Travessia do Vale da Morte

A terceira questão de pesquisa: “Que aprendizado os empreendedores

extraíram das experiências anteriores que julgam ser importantes, que os prepare

melhor para enfrentar os desafios apresentados por fendas que ainda não

atravessaram?”, visa extrair dos empreendedores uma reflexão sobre suas

jornadas. Objetiva-se aqui que o empreendedor faça suas análises ex post sobre o

reconhecimento da oportunidade, sobre as fendas de pesquisa, além de colocar

suas expectativas sobre o futuro.

Em suas análises ex post, cada empreendedor levantou algumas questões.

Existem questões divergentes e convergentes entre os casos. A convergência é

fruto de suas similaridades, como, por exemplo, o fato de pertencerem à mesma

incubadora da mesma universidade e terem o mesmo cliente alvo; enquanto a

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 77: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

76

divergência advém, principalmente, da diferença de estágio em que se encontram;

enquanto uma já é graduada, a outra permanece incubada.

Na Ativa, a questão levantada pelo entrevistado foi a demora na mudança

de rumo. Segundo ele, os empreendedores tentaram por muito tempo ter a

Petrobras como parceira, sem visualizarem outras possibilidades. Perseguiram

“cegamente” um caminho até resolverem buscar outras alternativas. Conseguiram

o apoio da FINEP, incubaram-se e finalmente obtiveram o apoio que tanto

almejavam. Outra questão levantada pelo empreendedor foi o fato de a empresa

ter cogitado o apoio de capitalistas de risco, mas ter mudado sua opinião frente às

condições colocadas para o investimento.

Na Gávea Sensors, o olhar sob a travessia trouxe uma questão principal.

Seria possível negociar termos diferentes com a Petrobras? A empresa

desenvolveu a tecnologia mas não é dona da patente gerada. Quando a Petrobras

patrocina o desenvolvimento de um produto ou tecnologia, ele ou ela passa a ser

de sua propriedade. Após todo o difícil processo de licenciamento, o

empreendedor refletiu principalmente sobre esta questão. No entanto, como o

mesmo ressaltou, sem a Petrobras não conseguiriam chegar às especificações

necessárias, não conseguiriam entender a demanda existente e desenvolver o

produto. Mas, além dessa questão de propriedade intelectual, o empreendedor

comentou sobre o resultado negativo de comercialização de seu produto

secundário, desenvolvido como parte de sua estratégia de diversificação - os

sensores para postos de gasolina chamados DOV (Detector Ótico de Vazamento).

A equipe empreendedora, nesse caso, acreditou mais no diferencial tecnológico do

que o mercado e, mesmo após melhorias que objetivavam reduzir o custo do

equipamento, o empreendedor sentenciou que esse mercado não valeria a pena.

Um ponto de convergência mostra-se fundamental, merece destaque e

ilustra a importância de uma abordagem setorial para as políticas de fomento e

incentivo à inovação no Brasil em particular. Ambos os entrevistados afirmam

que o empreendedor tecnológico precisa de tempo, que a travessia do Vale da

Morte é longa e arriscada. Guedes (2006) coloca que não se deve achar que tudo

acontecerá rápido, que se poderá ficar rico instantaneamente ou que o negócio

certamente logrará sucesso. Ele destaca que outros tipos de empreendimento

podem ser mais interessantes para quem deseja obter retornos rápidos e, ou, maior

segurança. Nesse momento, referia-se a si mesmo enquanto empreendedor de um

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 78: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

77

negócio menos arriscado como uma livraria, explicando que a probabilidade de

sucesso era maior do que no empreendimento tecnológico, desde que planejada e

administrada de forma competente. André, da Ativa, fez a mesma colocação

quanto à duração da travessia e a dificuldade de partir da invenção à inovação. Em

média, da invenção à inovação, a travessia do Vale da Morte, nas empresas

estudadas, apresentou duração de seis a sete anos. No relato de Kaplan (1998)

sobre sua experiência empreendedora no Vale do Silício esse período na indústria

de computadores é longo demais para a sobrevivência de uma start-up sem vender

seu produto principal. A GO, empresa de Jerry Kaplan, consumiu cerca de 75

milhões de dólares, seis anos de trabalho e fracassou. Nenhuma das empresas

investigadas chegou a ter investimentos equivalentes nem à décima parte deste

valor.

No capítulo seguinte, serão apresentadas as conclusões desta pesquisa. No

fim do capítulo de conclusões apresentam-se também questões para investigações

futuras, possíveis norteadores de outras pesquisas vindouras.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 79: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

6.0. Conclusões

Este capítulo coloca os achados, limitações e problemas deste estudo. Em

primeiro lugar, destacam-se os méritos, os achados desta pesquisa, passando-se

em seguida para seus problemas e suas limitações. No decorrer do estudo,

surgiram outras questões colocadas ao fim deste capítulo como insumos para

estudos futuros.

A pesquisa destaca-se por sua contribuição ao estudo do

empreendedorismo. Em particular, por seu olhar sobre o setor de bens de capital.

A seguir, as perguntas de pesquisa terão suas principais respostas discutidas

ordenadamente.

Em relação à primeira questão de pesquisa, o principal achado é o papel

essencial dos modelos, dos exemplos, ou do que Bygrave (1997) chama de role

models. Os empreendedores dos diferentes casos se conheciam e até interagiram

em sua jornada, o que foi importante por abrir uma espécie de trilha a ser seguida

pelos novos empreendedores. Esses exemplos tornam a passagem da invenção à

inovação mais visível, mais factível aos empreendedores. O poder de

disseminação da cultura empreendedora das incubadoras de empresas, quando

dentro de uma instituição de ensino e pesquisa como a PUC-Rio, reafirma-se

através desses empreendedores. O caráter local do processo inovativo evidencia-

se no efeito multiplicativo dos exemplos.

Observou-se também, em ambos os casos, que até mesmo em função dos

exemplos conhecidos dentro da universidade, a busca de uma oportunidade foi

condicionada pelo mercado de óleo e gás; não sendo um processo meramente

aleatório. A conquista da Petrobras como parceira ou cliente cartão-de-visita

norteava a busca, as ações e o planejamento dos empreendedores. A proximidade

com o CENPES mostrou-se fundamental em ambos os casos para a avaliação da

oportunidade. As relações dos empreendedores, suas fontes de informação e

conhecimento, sua condição de empresas incubadas no Instituto Gênesis,

permitiram avaliar a estratégia a ser seguida, interativamente, possibilitando a eles

executá-las.

Em relação à segunda questão de pesquisa, deve-se observar, em primeiro

lugar, que esta pesquisa foi direcionada especificamente às empresas que fazem

parte do setor de bens de capital, mas que se aplicaria a quaisquer empresas start-

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 80: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

79

up. A metáfora do Vale da Morte mostrou-se válida em ambos os casos, tendo os

empreendedores observado, entre as principais questões (desafios), problemas

relacionados a cada uma das fendas apresentadas por Branscomb & Auerswald

(2001). Não foi citada nenhuma fenda diferente das descritas no referencial

teórico utilizado.

O fato de as empresas terem sido incubadas já demonstra uma estratégia

para enfrentar o Vale da Morte de reduzir os gaps financeiro e de informação e

confiança. Isso se deve ao fato de que o custo de instalação em uma incubadora é

muito menor que o custo de mercado, além da vantagem de se encontrar uma

infra-estrutura pronta, principalmente em relação a tecnologias de informação.

Conforme colocado por Maculan (2002), “o primeiro objetivo da empresa que se

instala numa incubadora é ter acesso, a custos reduzidos, aos recursos materiais e

humanos indispensáveis a suas operações produtivas”. Além disso, as incubadoras

aumentam a atratividade das empresas start-up ao investimento, tanto do governo,

através de seus programas de fomento à inovação, quanto de investidores. Os

casos estudados revelaram a importância de dois gaps em especial, o financeiro e

o de informação e confiança, frente à fenda de pesquisa.

Em relação à fenda financeira, a ação governamental apresentou-se muito

mais forte do que a de qualquer outro agente. Através do financiamento

proporcionado por instituições como a FINEP, o desenvolvimento de produtos

tornou-se possível. A ação dessas instituições propiciou, quando necessário, a

instalação de infra-estrutura laboratorial de forma não-reembolsável. Essa

possibilidade aumenta a chance de novos players no Vale da Morte, de novos

empreendedores decidirem desenvolver projetos – apresentando-os a instituições

de apoio à inovação. Desse modo, destaca-se o papel principal desempenhado

pelo governo federal no empreendedorismo tecnológico brasileiro ao reduzir o

gap financeiro do Vale da Morte. Esse papel contrasta com o que foi difundido na

literatura, em geral relatando casos de empreendedorismo americano, em que o

capital de risco ou os investidores-anjos se destacam. O capital de risco,

principalmente nos estágios iniciais, ainda não se desenvolveu o suficiente no

Brasil para compará-lo ao americano. Deve-se destacar que o acesso das empresas

envolvidas nesta pesquisa aos recursos financeiros necessários deveu-se a sua

condição de PEBT de origem universitária. Se não estivessem nessa condição,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 81: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

80

provavelmente não seria possível a sua entrada no Vale da Morte, não haveria

acesso aos recursos financeiros necessários.

Já em relação à informação e à confiança, o caráter local da inovação

destaca-se na proximidade com a empresa-cliente ou usuária das tecnologias que

os empreendedores desejavam desenvolver e comercializar. Essa proximidade

permitiu às empresas firmarem parcerias, terem suas idéias avaliadas por técnicos

da empresa usuária, ou seja, permitiu uma interação que aumentou a chance e a

confiança no sucesso de suas proposições, no êxito de desenvolvimento e

comercialização de suas invenções.

Nos dois casos, parte ou toda a equipe empreendedora tinha acesso aos

laboratórios da universidade. Esse acesso dava-se em função de suas posições

como docentes ligados a tais laboratórios ou de pós-graduandos. Em Sbragia &

Pereira (2004), coloca-se que haveria um acesso facilitado a posterori a

empreendedores com contato anterior com os laboratórios. Ainda segundo Sbragia

(2002) apud Sbragia & Pereira (2004), existiriam indicações muito claras de que

as universidades, em geral, ainda não têm uma cultura de prestação de serviços

para as pequenas empresas. Nesse sentido, os empreendedores da Gávea e da

Ativa estavam em posição privilegiada por possuírem contatos não apenas

internos, mas também externos à universidade e importantes para o êxito de seus

empreendimentos. Esta questão torna o gap de pesquisa relevante, tendo em vista

que o acesso a laboratórios pode ser fundamental ao sucesso dos

empreendimentos tecnológicos.

Em relação à terceira questão de pesquisa, esta reflete uma avaliação ex

post das escolhas feitas durante a trajetória no Vale da Morte. Mostrou-se quão

importantes são o caráter dinâmico do processo inovativo e a percepção do

aprendizado através do balanço dos empreendedores sobre suas travessias. O

aprendizado altera a estratégia, as percepções e condiciona decisões futuras dos

empreendedores. Mas o principal sinal proveniente de ambas empresas é de que o

empreendedorismo tecnológico é um processo longo, mensagem deixada pelos

entrevistados a futuros empreendedores tecnológicos. Esses devem, portanto, ter

em mente tal desafio ao pensar nos degraus de Bhide (1999) e nas fendas a serem

enfrentadas. Os futuros empreendedores tecnológicos precisam estar cientes de

que trilhar o caminho da invenção à inovação não é tarefa das mais tranqüilas. O

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 82: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

81

empreendedorismo tecnológico mais se assemelha a uma escalada de montanha

gelada ou a um rali, como utilizado anteriormente, em forma de metáfora.

A pesquisa teve como cerne à passagem da invenção à inovação.

Escolheu-se para este estudo uma abordagem setorial, tendo sido o setor de bens

de capital escolhido pelos motivos expostos no capítulo introdutório e no segundo

capítulo. Como colocado no segundo capítulo, o setor de bens de capital mostra-

se amplo, podendo ser dividido em vários segmentos, estratificados de acordo

com a indústria usuária. Neste trabalho, foram focalizadas as empresas start-up

fornecedoras da indústria de petróleo e gás, segmento no qual o Estado do Rio de

Janeiro ocupa lugar de destaque, através da Bacia de Campos, da refinaria de

Duque de Caxias e demais instalações da Petrobras, todas usuárias de tecnologia,

máquinas e equipamentos para a produção ou processamento de petróleo. É ainda

no Rio de Janeiro que está localizado o CENPES (Centro de Pesquisa da

Petrobras), o seu centro de P&D, o que torna o Estado ainda mais representativo

em relação a essa fração do setor de bens de capital, a de empresas fornecedoras

de equipamentos para indústria de petróleo e gás. Pôde-se verificar, em ambos os

casos estudados, que a proximidade do CENPES tornou-se vantajosa para os

empreendedores.

No que diz respeito aos seus problemas e limitações, destacam-se a

complexidade do setor de bens de capital e o número reduzido de empreendedores

entrevistados. Em outras palavras, destacam-se duas limitações de abrangência: a

setorial e a em relação à origem dos empreendedores.

Os empreendedores objetos deste estudo pertencem a empresas start-up do

setor de bens de capital. No entanto, nessa condição, foram identificadas apenas as

empresas de origem universitárias, mais especificamente empresas que passaram

pelo processo de incubação. Esse ambiente não pode ser considerado

representativo do setor de bens de capital pois a inovação não ocorre apenas

através de empresas incubadas. Sendo assim, os resultados encontrados aplicam-

se a uma parte específica do setor. Esta parte específica é formada por empresas

start-up de origem universitária, fornecedoras da indústria de petróleo e gás que

passaram pelo processo de incubação. No entanto, o setor de bens de capital é

composto de vários segmentos não abordados.

A abrangência anteriormente referida relaciona-se ao fato de que existem

outras origens de empreendedores de empresas start-up. Dentre essas fontes,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 83: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

82

podem ser citadas outras incubadoras do Estado do Rio de Janeiro, além da

Incubadora Tecnológica Gênesis da PUC-Rio (Rio de Janeiro/RJ), a Incubadora

de Empresas de Base Tecnológica do Instituto Politécnico da UERJ (Nova

Friburgo), a Incubadora de Empresas do Inmetro (Duque de Caxias/RJ), a

Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares Coppe-Ufrj (Rio de

Janeiro/RJ), a Incubadora de Empresas de Teleinformática do CEFET/RJ (Rio de

Janeiro/RJ), a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da UFF (Niterói/RJ),

a Incubadora de Empresas da Universidade Veiga de Almeida (Rio de

Janeiro/RJ), a Incubadora de Empresas do INT (Rio de Janeiro/RJ), entre outras;

sem contar as incubadoras de outras unidades da federação. Mas nem só de

empresas incubadas vive o empreendedorismo tecnológico. Existem empresas

financiadas com recursos próprios dos empreendedores ou de terceiros, fora de

incubadoras, tendo origem universitária ou não. Assim, o trabalho apresentado

representa apenas uma primeira exploração sobre parte do setor de bens de capital,

as PEBT de origem universitária, localizadas na cidade do Rio de Janeiro e

fornecedoras da indústria de petróleo e gás. Portanto, os resultados colhidos são

apenas indicativos que devem ser investigados de forma mais profunda. Os

resultados aqui discutidos podem gerar a replicação da pesquisa, aumentando a

confiança e a validade de seus achados, assim como podem inspirar o

delineamento de pesquisas mais abrangentes. Isso se faz necessário,

principalmente, quando esses dados são utilizados como fonte para políticas,

públicas visando melhores resultados na área de empreendedorismo e inovação

tecnológica.

Outro problema foi o número reduzido de empreendedores participantes. A

fonte principal de evidências, a realização de entrevistas com os empreendedores

das empresas selecionadas, demanda tempo. Como colocado anteriormente, em

empresas start-up, o empreendedor assume várias funções, o que reduz seu tempo

disponível para a participação nesta ou em outras pesquisas quaisquer. O receio e

a falta de espírito cooperativo também dificultam pesquisas desta natureza.

A seguir, são sugeridas algumas questões para possíveis investigações

futuras, levantadas em meio à discussão e às conclusões apresentadas

anteriormente.

Como relatado pelos empreendedores de ambos os casos, em todas as fases

do projeto (pré-comercialização), a equipe empreendedora se dedica quase que

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 84: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

83

full time a P&D. Em virtude disso, ambos reconheceram o valor de estarem

incubados por toda a infra-estrutura da qual dispunham. Essa infra-estrutura teria

um custo alto para o empreendedor e desviaria em parte sua atenção para

atividades que não agregam valor. Mesmo a incubadora tendo seu valor

reconhecido por ambos os empreendedores entrevistados, pode-se investigar quais

atividades uma incubadora deve desenvolver para aumentar as chances de

crescimento de suas empresas? E ainda, o que poderia ser feito para aumentar a

chance de sucesso dos empreendedores pós-incubação, ou seja, quando as

empresas se graduam e deixam a incubadora? A partir do momento em que uma

PEBT deixa a incubadora, ela passa a não mais se dedicar quase que

exclusivamente à pesquisa; precisa desenvolver outras atividades e competências,

antes (algumas sim, outras não) disponibilizadas pela incubadora. Nesta linha,

Maculan (2002) indaga sobre a possibilidade de se “pensar novas modalidades de

acompanhamento das PEBT após a saída da incubadora”. Essas “novas

modalidades” poderiam não apenas se relacionar à montagem da infra-estrutura

necessária, mas também ao desenvolvimento das competências em negócios.

Outras questão permanecem: teria o gap de pesquisa se tornado maior em

função de um menor acesso aos laboratórios? Quais seriam os efeitos sobre essas

empresas, se tal proximidade não existisse? Teriam resistido até agora, teriam

morrido à míngua, sem acesso à infra-estrutura de pesquisa necessária à passagem

da invenção à inovação? Como as incubadoras trabalham o acesso dos

empreendedores à infra-estrutura de pesquisa das universidades?

Por fim, faz-se mister investigar a questão da venda de empresas start-up a

grupos estrangeiros no Brasil. No caso de venda das empresas, os recursos

investidos pelos órgãos governamentais com o objetivo de desenvolvimento

econômico e geração de empregos poderiam ser considerados ineficazes? Na

operação de venda, todo o conhecimento e a atividade industrial propriamente dita

poderiam ser direcionadas para o exterior, tendo assim efeitos negativos como a

redução dos postos de trabalho. Seria por falta ou dificuldade de acesso aos

chamados development ou growth e mezzanine capital, na medida em que a

competência em negócios se torna mais importante? Ou seria uma questão relativa

à cultura do empreendedor brasileiro?

Encerram-se aqui as sugestões de trabalhos futuros com questões

levantadas a partir da análise efetuada. A pesquisa ou reflexão direcionada aos

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 85: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

84

questionamentos colocados é também uma forma de pensar políticas mais efetivas

ou o aprimoramento das já existentes, com o fim de promover o desenvolvimento

econômico e social. É imperativo pesquisar, investigar, verificar e executar planos

para maximizar os efeitos e o calibre da revolução do conhecimento no país. Esta

pesquisa, dentro de suas limitações e de sua abrangência, espera ter contribuído

para a abertura de novas estradas cognitivas a percorrer, tanto em relação ao

empreendedorismo tecnológico, quanto ao setor de bens de capital ou a outros

setores da economia.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 86: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Bibliografia

Referências Bibliográficas

ALEM, Ana C.; PESSOA, Ronaldo M..”O Setor de Bens de Capital e o Desenvolvimento Econômico: quais são os desafios?” BNDES Setorial, Rio de Janeiro, No. 22, p. 71-88, set. 2005.

ANPROTEC; SEBRAE. “Glossário Dinâmico de Termos na Área de Tecnópolis, Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresa”. Brasília, 2002. Disponível on-line em: www.anprotec.org.br/publicacoes.htm

AMABILE, T. “Motivating Creativity In Organizations: on doing what you love and loving what you do” California Management Review, vol. 40, No. 1, Fall 1997.

ATIVA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO. “Case Ativa” Incubadora de Empresas PUC-Rio. [s.l.]: [s.n.], s/d..

BRANSCOMB, Lewis M. & AUERSWALD, Philip E. “Taking Technical Risks: how innovators, executives, and investors manage high-tech risks” The MIT Press: Cambridge, Massachusetts, 2001.

BRANSCOMB, Lewis M. “Where do High Tech Commercial Innovations Come From?” Duke & Law Technology Review. No. 5, 2004.

BHIDE, Amar. “The Questions Every Entrepreneur Must Answer” Harvard Business Review on Entrepreneurship: 1-28, 1999.

BYGRAVE, Willian D. “The Entrepreneurial Process” in Willian D. Bygrave, editor, The Portable MBA in Entrepreneurship (second edition). New York: John Wiley & Sons, Inc.1997, p.1-26.

CAFÉ, Sônia L.; NASSIF, André; Souza, Priscila Z.; Santos, Bruno G. dos. “Notas Preliminares Sobre o Desempenho Competitivo da Indústria de Bens de Capital Brasileira no Período Recente”. BNDES Setorial,Rio de Janeiro, n. 20. p.223-252, set. 2004.

CHRISTENSEN, Clayton M. & OVERDORF, Michael. “Meeting the Challenge of Disruptive Change”. Harvard Business Review. March-April, 2000.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. “Mini Aurélio Século XXI Escolar: o minidicionário da língua portuguesa”.4ª ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

FRAJHOF, Fernanda. “Gávea Sensors, Sensores a Fibra Óptica”. In: Melhores estudos de casos da pequena empresa. Sebrae/RJ, 2006, Rio de Janeiro, pp.87-101.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 87: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

86

GIL, Antonio Carlos. “Métodos e técnicas de pesquisa social” São Paulo: Atlas, 1999.

Gil, Antonio Carlos. “Como Elaborar Projetos de Pesquisa”. São Paulo: Atlas, 2002.

GUEDES, Luis. Entrevista concedida a Arnaldo Pinheiro Costa Gaio. Rio de Janeiro, 27 set. 2006.

GÜR, U.. “The Development of a Domestic Capital Goods Industry: a diffusion perspective” DRUID Academy's Winter Conference on Innovation, Growth and Industrial Dynamics, 22-24 January, Aalborg, Denmark, 2004.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. “Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2003 (PINTEC 2003)” Rio de Janeiro, 2005.

KAPLAN, Jerry. “Startup: uma aventura no Vale do Silício” (Start-up: a Silicon Valley adventure). Trad. de Luiz Chagas. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1998.

KUPFER, David. “Política Industrial” Econômica. Rio de Janeiro, Vol. 5, No. 2, p. 317-324, 2004.

LALL, Sanjaya. Technological Capabilities and Industrialization. World Development, Vol. 20, No.2, p.165-186, 1992.

LESSA, Carlos. A Estratégia de Desenvolvimento 1974-1976: sonho e fracasso. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP. IE, 1998. (30 anos de Economia – UNICAMP, 5).

MACULAN, Anne-Marie. “Ambiente Empreendedor e Aprendizado das Pequenas Empresas de Base Tecnológica.” Proposição de Políticas para a Promoção de Sistemas Produtivos Locais de Micro, Pequenas e Médias Empresas. Rede de sistemas Produtivos e Inovativos Locais, COPPE/UFRJ, 2002. Disponível on-line em: http://www.redesist.ie.ufrj.br

MARTINS, Gilberto de Andrade. “Estudo de Caso: uma estratégia de pesquisa” São Paulo: Atlas, 2006.

MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.“Diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior”. Brasília, DF. 2004, Disponível em: www.mdic.gov.br. Acesso em: 01/01/2006.

NAIR, K. R. G.; PANDEY, Anu. “Characteristics of Entrepreneurs: An Empirical Analysis” The Journal of Entrepreneurship, 15, 1 (2006).

ROSENBERG, N. “Capital Goods, technology, and economic growth”. Oxford Economic Papers, 15, 1963, p. 217-27.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 88: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

87

RUTTEN, R. “The Process of Innovation: firms, networks, and their spatial dimensions” Tilburg : Tilburg University, WORC, 1998. Disponível on-line em: http://greywww.kub.nl:2080/greyfiles/worc/1998/doc/1.ps .

SANTOS, Fabiano Pereira dos. “Acidente ecológico na Baía de Guanabara”. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 47, nov. 2000. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1695 . Acesso em: 25 de outubro de 2006.

SBRAGIA, Roberto & PEREIRA, Cristiane O. “Determinantes de Êxito de Empresas Tecnológicas de Base Universitária: um estudo de casos múltiplos no âmbito do CIETEC/USP” Revista Espacios. Vol. 25, No. 3, 2004. Disponível on-line em: http://www.revistaespacios.com/a04v25n03/04250301.html

SHANE, Scott A.. “Sobre Solo Fértil: como identificar grandes oportunidades para empreendimentos em alta tecnologia” (Finding Fertili Ground: indentifying extraordinary opportunities for new ventures). Trad. Werner Loeffler. Porto Alegre: Bookman, 2005.

SHANE, Scott. A.. “Technology Regimes and New Firm Formation” Management Science. Vol. 47, No. 9, September: 2001, p. 1173-1190.

SOUZA, André. Entrevista concedida a Arnaldo Pinheiro Costa Gaio. Rio de Janeiro, 04 out. 2006.

TEECE, David J. “Capturing Value from Knowledge Assets: the new economy, markets for know-how, and intangible assets” California Management Review. Vol. 40, No. 3, Spring 1998.

WEISE, Márcia Regina. O Comportamento da Indústria de Bens de Capital após o Plano Real. Rev. FAE, Curitiba, v.3, p. 31-38, set./dez. 2000.

Bibliografia de Consulta

ALVES, A. “Governança em Sistemas Locais de Inovação: uma perspectiva sociológica” Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Industrial, Rio de Janeiro, 2003.

BHIDE, Amar. “Vinod Khosla and Sun Microsystems (A)” Harvard Business School, Boston: Rev. December 14, 1989.

FERNANDES, Rosana L. C.. “APL de Mármore e Granito de Cachoeiro de Itapemirim: aprendizado por interação como fonte de inovações” Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Industrial, Rio de Janeiro, 2006.

FURTADO, André Tosi. A Trajetória Tecnológica da Petrobras na produção Offshore. Espacios. Vol. 17 (3) 1996.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 89: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

88

GARDNER, Diana S.. “Advanced Inhalation Research, Inc.” Harvard Business School, Boston: Rev. June 20, 2000.

GODOY, Arilda S.. “Refletindo Sobre Critérios de Qualidade da Pesquisa Qualitativa” Gestão.Org - Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, Vol. 3, N. 2, mai./ago.2005. Disponível em: www.gestaoorg.dca.ufpe.br Acessado em: 03/05/2006.

GROSSE, Robert & SHAMSI, Adnan. “Global Strategy in Life Sciences: Monsanto Corporation” Thunderbird, The American Graduate School of International Management.1997.

KOSNIK, Tom. “Yahoo! 1995: first-round financing” Stanford Technology Ventures Program (STVP). Rev. August 22, 2001.

LUNA, Sergio V.. “Planejamento de Pesquisa: uma introdução” São Paulo: EDUC, 2002.(Série Trilhas)

MAUFFETTE-LEENDERS, Louise. et alii. “Learning with Cases” Richard Ivey School of Business. The University of Western Ontario. Second Edition, Ontario: Ivey Publishing, 2001.

MORRIS, Michael. “Capturing the Essence of the Entrepreneurial Spirit: notes on conducting an interview of an entrepreneur”. [s.l.]: [s.n.], s/d.

WEISZ, Joel. “Mecanismos de Apoio à Inovação Tecnológica” Brasília (D.F.): SENAI/DN, 2006.

YIN, Robert K. “Estudo de Caso: planejamento e métodos”. Porto Alegre: Bookman, 2005.

Sites Consultados ou Referências Eletrônicas

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. Disponível on-line em: http://www.anp.gov.br. Acessado em:06/01/2007.

AMBIENTE BRASIL. “Principais Acidentes com Petróleo e Derivados no Brasil” Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./agua/salgada/index.html&conteudo=./agua/salgada/vazamentos.html#brasil . Acesso em: 25 de outubro de 2006.

ANPROTEC. Disponível on-line em: http://www.anprotec.org.br/

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS. Disponível on-line em: http://www.abimaq.org.br/

ATIVA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO. Disponível em: http://www.ativatec.com.br

BNDES. Disponível em: www.bndes.gov.br

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 90: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

89

“Convide um Empreendedor para Jantar” Disponível on-line no endereço: www.cesupa.br/empreendedor/Documentos/Convite_para_jantar.doc Consultado em: 05/07/2006.

DERANI, Antonio Carlos. “Entrevista com Aleksandar Mandic” Disponível on-line no endereço: www.mandic.com.br/html/artigos/Entrevista-2005-12-05.pdf Consultado on-line em: 06/07/2006.

FIBER SENSING. Disponível on-line em: http://www.fibersensing.com/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=23682&WMCM_SiteId=3

FINEP. Disponível on-line em: www.finep.gov.br

IBGE. Comentário sobre a taxa de Inovação. Mensagem pessoal enviada para o autor em 22 de setembro de 2006

INCUBADORA DE EMPRESAS COPPE/UFRJ. Disponível em: http://www.incubadora.coppe.ufrj.br/

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO GERENCIAL. Disponível em: http://www.indg.com.br/info/glossario/glossario.asp?t

INSTITUTO GÊNESIS. Disponível em: http://www.genesis.puc-rio.br/genesis/

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA. Disponível em: h t t p : / / w w w . d e m . i s e l . i p l . p t / p t . h t m

MDICE. Disponível em: www.desenvolvimento.gov.br

REDE DE TECNOLOGIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Disponível em: http://www.redetec.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home . Consultado em: 28/06/2006.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 91: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

90

Apêndice

Apêndice 01 – Roteiro das Entrevistas Aplicadas

Roteiro da Entrevista com o Empreendedor: A Passagem da Invenção à Inovação

Perguntas Relativas à Primeira Questão de Pesquisa

I – Identificação da Oportunidade (00:04:00)

1. Fale sobre sua experiência empreendedora anterior e como essa influenciou na sua decisão de empreender o atual negócio?

2. Descreva a oportunidade identificada (que levou ao empreendimento tecnológico)...

3. Você fez algum tipo de avaliação (tecnologia, equipe, mercado) antes de perseguir a oportunidade, de decidir empreender?

a) Sim. Quais os principais pontos de sua avaliação sobre a oportunidade

identificada e quais o fizeram tomar a decisão de empreender?

b) Não.

4. Algum evento/situação o fez perseguir essa idéia?

a) Sim Qual foi esse evento/situação de “disparo”?

b) Não

II- Fatores Pessoais (00:02:00)

5. Fale sobre os seus objetivos pessoais em relação ao empreendimento

inovador (tamanho e sustentabilidade, construir e vender...).

6. Quais eram os riscos e os sacrifícios que você esperava encontrar e estava

disposto a encarar em favor do empreendimento?

III – A Estratégia da Empresa (00:05:00)

7. Quem eram seus clientes-alvo?

8. Escolhi esses clientes e conseguiria conquistá-los porque...

9. Por que as empresas existentes não poderiam atender a essa demanda?

10. Você pensou em uma estratégia para a empresa?

Quais os fatores avaliados pelo empreendedor ao tomar a decisão de atuar sobre a oportunidade identificada, ou seja, o que o impulsiona a lançar-se na arriscada jornada de travessia do

Vale da Morte?

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 92: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

91

a) Sim. Qual foi a estratégia inicial da empresa? Como você achava que a

estratégia pensada inicialmente poderia fazer a empresa crescer e gerar os

retornos suficientes? Você considerava sua estratégia difícil de ser

copiada pelos competidores? Por quê?

b) Não.

IV – Capacidade de Executar a Estratégia (00:06:00)

11. Você era capaz de desenvolver tecnicamente a idéia sozinho?

a) Sim.

b) Não.

12. Você possuía os recursos necessários?

a) Sim. Que recursos?

b) Não. Quais recursos possuía e quais não possuía?

13. Você considera que dispunha de todos os contatos (rede de relacionamento) e de

reconhecimento necessários para lançar a empresa sozinho?

a) Sim.

b) Não.

14. Você iniciou o empreendimento através de sociedade?

a) Sim.

b) Não. Por quê?

15. Qual o seu papel e de seus sócios na fase inicial da empresa; que funções

acumulavam?

Perguntas Relativas à Segunda Questão de Pesquisa

V – Concepção da Invenção a se Tornar Inovação (00:02:00)

18. O empreendimento inovador que proponho consiste em...

VI – Identificação dos Gaps Existentes (00:08:00)

19. Quais a principais questões que deveriam ser solucionadas para o sucesso

do seu empreendimento na fase inicial, para a colocação do primeiro

Como o empreendedor de empresa start-up do setor de bens de capital enfrenta as fendas existentes no fenômeno da

passagem da invenção à inovação?

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 93: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

92

produto no mercado? (Você poderia separá-las em grupos, por exemplo ,

questão financeira, de pesquisa, ...)

20. Fale sobre cada uma delas...

21. Quanto tempo levou da criação da empresa para explorar a idéia até a

primeira venda do primeiro produto?

22. Percentualmente falando, quanto tempo da equipe empreendedora estava

voltada para P&D nessa fase? E para outras atividades (vendas, marketing,

entre outras)?

23. Durante esse tempo, qual era a estrutura de receita da empresa

(percentualmente falando)?

24. Quais as maiores dificuldades encontradas, os momentos mais difíceis na

fase inicial do empreendimento, momentos em que tudo poderia acabar?

VIII- Capital Social (00:05:00)

25. Fale sobre a importância de sua rede de relacionamentos para conseguir

investidores, para solucionar as questões técnicas e para conseguir

clientes?

IX- O Papel do Governo (00:06:00)

26. Você tentou obter recursos governamentais para a sua empresa?

a) Sim. Fale mais sobre isso. Quais e como conseguiu?

b) Não. Por quê?

Perguntas Relativas à Terceira Questão de Pesquisa

X- Reflexão sobre a Avaliação da Oportunidade (00:04:00)

27. Algumas das hipóteses/orientações iniciais sobre o que gerou a inovação

se mostrou equivocada? Quais?

28. O que você aprendeu? Comente.

XI- Reflexão sobre a Ativação do Empreendimento Inovador (00:05:00)

Que aprendizado o empreendedor extraiu das experiências anteriores que julga ser importante, que o prepare melhor para enfrentar os desafios apresentados por

fendas que ainda não atravessou?

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 94: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

93

29. Que erros e acertos, ao longo da transformação da invenção em inovação,

você considera mais importantes?

30. Quais são as principais lições aprendidas com eles?

31. Se você pudesse voltar no tempo, começaria esse empreendimento

novamente? Você faria algo de forma diferente, se tivesse a oportunidade

de começar de novo? Você usaria outro modelo de negócio?

XII – Próxima Fenda e ser Enfrentada (00:02:00)

32. Qual a grande questão que precisou ser resolvida depois do lançamento do

produto no mercado, depois da primeira venda?

33. Após a colocação do produto no mercado, quais atividades se tornaram mais

importantes para o empreendimento (vendas, P&D, Finanças, percentualmente

falando)?

XIII- Fechamento da Entrevista (00:04:00)

34. Os seus valores ou metas pessoais mudaram em relação ao início do

empreendimento? Você ainda está disposto a fazer sacrifícios?

35. Existe alguma pergunta que eu não tenha feito e que você considera que eu

deveria ter feito e que você sente como valiosa para o aprendizado do

empreendedor tecnológico? - algum fator importante sobre o lançamento

de empreendimentos de tecnologia no Brasil, no setor de bens de capital?

36. Você conhece outro novo empreendimento tecnológico do setor de bens de

capital? Poderia me indicar para realizar o mesmo estudo?

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 95: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

94

Apêndice 02 – Carta Convite ao Empreendedor

Convite Rio de Janeiro, (dia) de (Mês) de 2006.

Assunto: entrevista para estudo sobre inovação tecnológica

Prezado (a) Senhor (a): (Nome)

Venho por meio desta, convidá-lo a participar de minha pesquisa sobre a

passagem da invenção à inovação, o lançamento de empreendimentos tecnológicos no

setor de bens de capital brasileiro.

O objetivo da pesquisa é analisar como o empreendedor decide criar uma

empresa a partir de uma oportunidade surgida dos resultados de uma pesquisa

científica/tecnológica. Pretende-se descrever como o empreendedor decide explorar uma

oportunidade, criando uma empresa inovadora (empreendimento tecnológico).

Para atingir tal objetivo, busco sua colaboração em forma de uma entrevista sobre

esse processo. Essa entrevista terá uma duração de 01 hora. De forma a reduzir o tempo

de entrevista, peço-lhe que envie documentos que contem a história da empresa, como

por exemplo, o plano de negócios inicial da empresa e informações sobre o primeiro

produto da empresa vendido (primeira inovação colocada no mercado).

Ressalto que a pesquisa visa gerar novos conhecimentos acerca do

empreendedorismo tecnológico no Brasil em empresas do setor de bens de capital. As

principais motivações para este trabalho são: a geração de conhecimento e a geração de

cases para o ensino do empreendedorismo tecnológico. Esses cases serão escritos e

divulgados sob a aprovação dos envolvidos (empresa).

Este estudo é relevante, pois pode servir de referência para o desenho de políticas

públicas e outras iniciativas para acelerar o processo de inovação, além da difusão da

cultura empreendedora no país, incentivando outras pessoas a lançar-se na aventura do

empreendedorismo tecnológico.

Certo de que entenderá, aguardo uma reposta.

Cordiais saudações,

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 96: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

95

Apêndice 03 – Carta de Agradecimento ao Empreendedor

Agradecimento

Rio de Janeiro, (dia) de (Mês) de 2006.

Prezado (a) Senhor (a): (Empreendedor Entrevistado)

Eu gostaria de agradecê-lo imensamente pelo tempo e pela atenção dispensada em nossa

entrevista. Nossa conversa foi extremamente interessante, proporcionando-me uma visão

da realidade do fenômeno de inovação tecnológica no Brasil.

Gostaria de reforçar meu compromisso em discutirmos os resultados e, caso sejam

escritos, os conteúdos dos cases que podem ser gerados a partir dessa entrevista. O

mesmo é aplicado a qualquer documento que me foi ou for fornecido para o

desenvolvimento deste trabalho. Entrarei em contato para agendarmos uma reunião de

fechamento, caso seja necessária, a fim de validar os resultados.

Mais uma vez agradeço a sua colaboração, sua generosidade em dispor do seu tempo para

responder as nossas questões. A sua contribuição foi de inestimável importância para esta

pesquisa.

Muito Obrigado,

Cordiais saudações,

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 97: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

96

Anexos

Classificação Nacional das Atividades Econômicas CNAE/IBGE

SEÇAO D: CLASSIFICAÇÃO NACIONAL DAS ATIVIDADES ECONOMICAS - CNAE/IBGE

DIVISÔES INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO ATIVIDADES

15 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E BEBIDAS

16 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DO FUMO

17 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS

18 CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS

19 PREPARAÇÃO DE COUROS E FABRICAÇÃO DE ARTEFATOS DE COURO, ARTIGOS DE VIAGEM E CALÇADOS

20 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE MADEIRA

21 FABRICAÇÃO DE CELULOSE, PAPEL E PRODUTOS DE PAPEL

22 EDIÇÃO, IMPRESSÃO E REPRODUÇÃO DE GRAVAÇÕES

23

FABRICAÇÃO DE COQUE, REFINO DE PETRÓLEO, ELABORAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS NUCLEARES E PRODUÇÃO DE ÁLCOOL

24 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS

25 FABRICAÇÃO DE ARTIGOS DE BORRACHA E DE MATERIAL PLÁSTICO

26 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE MINERAIS NÃO-METÁLICOS

27 METALURGIA BÁSICA

28 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE METAL - EXCETO MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

29 FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

30 FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS PARA ESCRITÓRIO E EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA

31 FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS, APARELHOS E MATERIAIS ELÉTRICOS

32 FABRICAÇÃO DE MATERIAL ELETRÔNICO E DE APARELHOS E EQUIPAMENTOS DE COMUNICAÇÕES

33

FABRICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE INSTRUMENTAÇÃO MÉDICOHOPITALARES,INSTRUMENTOS DE PRECISÃO E ÓPTICOS, EQUIPAMENTOS PARA AUTOMAÇÃO INSDUSTRIAL, CRONÔMETROS E RELÓGIOS

34 FABRICAÇÃO E MONTAGEM DE VEÍCULOS AUTOMOTORES, REBOQUES E CARROCERIAS

35 FABRICAÇÃO DE OUTROS EQUIPAMENTOS DE TRANSPORTE

36 FABRICAÇÃO DE MÓVEIS E INDÚSTRIAS DIVERSAS

37 RECICLAGEM

Fonte: IBGE. “Classificação Nacional de Atividades Econômicas” Rio de Janeiro: 2003. (CNAE Fiscal Versão 1.1)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0511096/CA
Page 98: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 99: Arnaldo Pinheiro Costa Gaio PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA ...livros01.livrosgratis.com.br/cp057345.pdfempreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo