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12/10/2014 arquitextos 025.04: O papel do desenho urbano no planejamento estratégico: | vitruvius http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.025/773 1/6 receba o informativo | contato | facebook vitruvius | pt|es|en 23 mil Curtir busca ok pesquisa guia de livros jornal revistas em vitruvius arquitextos | arquiteturismo | drops | minha cidade | entrevista | projetos | resenhas online 025.04 ano 03, jun. 2002 revistas buscar em arquitextos ok arquivo | expediente | normas arquitextos ISSN 1809-6298 O papel do desenho urbano no planejamento estratégico: a nova postura do arquiteto no plano urbano contemporâneo Zeca Brandão Após um período de total desvalorização do planejamento na década de 1980, quando muitos projetos urbanos foram concebidos de forma isolada e conduzidos pelo setor privado, ressurge nessa última década o reconhecimento da relevância do poder público no controle do desenvolvimento urbano. São vários os modelos de planejamento urbano que reivindicam o lugar antes ocupado pelo desacreditado Plano Diretor. Entre eles, o Planejamento Estratégico se destaca como um dos mais difundidos. Assim como os planos urbanos desenvolvidos no período pós-guerra, o Planejamento Estratégico também enfatiza a importância dos projetos urbanos. Entretanto, dois fatores referentes ao projeto urbano parecem diferenciar entre si esses modelos: o relacionamento entre as escalas do planejamento e do projeto e o referencial teórico utilizado pelos arquitetos na ação projetual. O primeiro fator diz respeito à relação dialética entre o plano e o projeto urbano presente no Planejamento Estratégico, rejeitando formalmente a hierarquia do planejamento convencional. O projeto não é mais visto apenas como um produto derivado do planejamento onde os seus impactos supostamente obedecem uma lógica pré-estabelecida nos objetivos do plano. No Planejamento Estratégico, portanto, o projeto abandona a posição passiva diante do plano urbano podendo até mesmo redirecioná-lo. O segundo, se refere ao instrumental teórico baseado nos conceitos do Desenho Urbano que têm sido aplicados na elaboração dos projetos urbanos contemporâneos. Enquanto os projetos desenvolvidos após a segunda guerra mundial baseavam-se nos paradigmas modernistas estabelecidos pelo CIAM (1), os projetos urbanos mais recentes seguem os princípios desenvolvidos 025.04 sinopses como citar idiomas original: português compartilhe 025 025.00 Urbanismo para uma nova era (editorial) Abilio Guerra 025.01 Arquitetura racionalista na velha paisagem. A obra de Glenn Murcutt Françoise Fromonot 025.02 Milionários e revolucionários em Windsor: um debate urbanístico Roberto Segre 025.03 O intangível em psicanálise e arquitetura Jorge Mario Jáuregui 025.05 Centro de Formación de Herne Sodigen, Jourda & Perraudin Ana Rosa de Oliveira 025.06 O novo paradigma na arquitetura: a linguagem do pós- modernismo Ana Paula Baltazar 025.07 Arquitectos sin fronteras Jordi Balari 025.08 Cidades fantasmas Fernando Freitas Fuão jornal notícias agenda cultural rabiscos eventos concursos seleção Concurso para La Isla, Barcelona. Projeto de Wilhelm Holzbaner 1/15 em vitruvius

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    025.04 ano 03, jun. 2002

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    arquitextos ISSN 1809-6298

    O papel do desenho urbano no planejamento estratgico:a nova postura do arquiteto no plano urbano contemporneoZeca Brando

    Aps um perodo de total desvalorizao do planejamento na dcada de1980, quando muitos projetos urbanos foram concebidos de forma isolada econduzidos pelo setor privado, ressurge nessa ltima dcada oreconhecimento da relevncia do poder pblico no controle dodesenvolvimento urbano. So vrios os modelos de planejamento urbano quereivindicam o lugar antes ocupado pelo desacreditado Plano Diretor. Entreeles, o Planejamento Estratgico se destaca como um dos mais difundidos.

    Assim como os planos urbanos desenvolvidos no perodo ps-guerra, oPlanejamento Estratgico tambm enfatiza a importncia dos projetosurbanos. Entretanto, dois fatores referentes ao projeto urbano parecemdiferenciar entre si esses modelos: o relacionamento entre as escalas doplanejamento e do projeto e o referencial terico utilizado pelosarquitetos na ao projetual.

    O primeiro fator diz respeito relao dialtica entre o plano e oprojeto urbano presente no Planejamento Estratgico, rejeitandoformalmente a hierarquia do planejamento convencional. O projeto no mais visto apenas como um produto derivado do planejamento onde os seusimpactos supostamente obedecem uma lgica pr-estabelecida nos objetivosdo plano. No Planejamento Estratgico, portanto, o projeto abandona aposio passiva diante do plano urbano podendo at mesmo redirecion-lo.

    O segundo, se refere ao instrumental terico baseado nos conceitos doDesenho Urbano que tm sido aplicados na elaborao dos projetos urbanoscontemporneos. Enquanto os projetos desenvolvidos aps a segunda guerramundial baseavam-se nos paradigmas modernistas estabelecidos pelo CIAM(1), os projetos urbanos mais recentes seguem os princpios desenvolvidos

    025.04 sinopses como citar

    idiomas

    original: portugus

    compartilhe

    025

    025.00Urbanismo para uma novaera (editorial)Abilio Guerra

    025.01Arquiteturaracionalista na velhapaisagem. A obra deGlenn MurcuttFranoise Fromonot

    025.02Milionrios erevolucionrios emWindsor: um debateurbansticoRoberto Segre

    025.03O intangvel empsicanlise earquiteturaJorge Mario Juregui

    025.05Centro de Formacin deHerne Sodigen, Jourda &PerraudinAna Rosa de Oliveira

    025.06O novo paradigma naarquitetura: alinguagem do ps-modernismoAna Paula Baltazar

    025.07Arquitectos sinfronterasJordi Balari

    025.08Cidades fantasmasFernando Freitas Fuo

    jornalnotciasagenda culturalrabiscoseventosconcursosseleo

    Concurso para La Isla, Barcelona. Projeto de Wilhelm Holzbaner

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    pelo Desenho Urbano.

    O presente artigo pretende discutir o relacionamento plano-projeto e aimportncia do Desenho Urbano como instrumento terico no PlanejamentoEstratgico. Pretende ainda examinar, sob o ponto de vista do arquitetoprojetista, a conexo entre essas duas escalas urbanas e at que ponto aqualidade do projeto urbano pode influenciar no sucesso ou fracasso doPlano Estratgico.

    Finalmente, como contribuio mais geral ao debate urbano contemporneo,o artigo apresenta algumas reflexes sobre o papel do arquiteto e daqualidade do projeto urbano na construo das cidades.

    Planejamento Estratgico (PE): as relaes entre o plano e o projeto

    Baseado na premissa que o processo de globalizao no qual as grandescidades se encontram tem mudado radicalmente os seus papeis e as relaesentre elas, o PE se prope a adapt-las a este novo contexto. Se por umlado esta realidade tem transformado as cidades em protagonistas nasrelaes internacionais do mundo contemporneo, por outro, tem induzido odesenvolvimento de um profundo senso de competitividade na disputaacirrada pelo seu espao prprio nessa rede urbana internacional (2).

    Tendo como paradigma o inegvel sucesso de Barcelona e como principaisrepresentantes um grupo de planejadores catales, este modelo deplanejamento sugere a elaborao de um projeto de cidade que teria comoobjetivo leva-la conquista de sua posio global. Segundo Borja e Forn(3), o maior desafio do planejamento urbano contemporneo aumentar opotencial competitivo das cidades no sentido de responder s demandasglobais e atrair recursos humanos e financeiros internacionais.

    Em termos conceituais, existe uma grande diferena entre o tradicionalPlano Diretor e o PE. O primeiro, se apresenta fundamentalmente como umplano normativo, mais preocupado com a regulamentao de futuras eeventuais intervenes urbanas. O segundo, se prope a ser um plano deaes visando solues de problemas atuais e concentrando-se naspossveis articulaes de agentes urbanos com o objetivo de explorar asreais possibilidades da cidade.

    Segundo Nuno Portas (4), o fato da maioria das grandes cidades ter paradode crescer em ritmo acelerado, permitiu que o urbanismo deixasse de serum urbanismo de antecipao e previso para assumir uma postura maisimediatista diante dos problemas j existentes. Alm disto, consciente dagrande limitao dos recursos financeiros do Estado, o PE valoriza a suacapacidade promotora e prope que o urbanismo contemporneo seja baseadona negociao, objetivando aproveitar ou at mesmo criar oportunidadespara o desenvolvimento local (5).

    Entretanto, a mais relevante caracterstica do PE, no que diz respeito este artigo, o retorno nfase conferida ao projeto urbano e a suanova relao com o plano. Alm de desempenhar um importante papel no PE,os projetos urbanos no se apresentam como produtos derivados de um planoj concludo como no planejamento convencional. Neste modelo deplanejamento, os projetos urbanos nascem e se desenvolvem numa relaoaberta, flexvel e, sobretudo, desprovida de qualquer sentido hierrquicocom o plano (6).

    A relao dialtica entre essas duas escalas urbanas proposta no PE,possibilita que o desenvolvimento do plano defina os projetos urbanos eas prioridades entre eles, ao mesmo tempo em que estes mesmos projetos,ao serem desenhados e implementados, ajudam a estabelecer os objetivosgerais do plano, muitas vezes at redefinindo as suas estratgiasbsicas. Assim sendo, da mesma maneira que o PE pode legitimar um grupode projetos urbanos articulados, o contrrio tambm pode ocorrer eprojetos urbanos, algumas vezes j elaborados antes mesmo do incio doplano, podem tambm ser incorporados ao plano para ajud-lo na suaviabilizao (7).

    Borja e Castells (8) acreditam que se os projetos urbanos estiveremcomprometidos com competitividade econmica, integrao social esustentabilidade ambiental, eles devem ser incorporados ao plano para quelhes sejam asseguradas unidade e coerncia. O PE, por se propor a ter umforte componente participativo no sentido de estabelecer consensossociais, automaticamente transfere esta qualidade aos projetos urbanos,que muitas vezes so acusados de acentuarem as desigualdades sociais e afragmentao do tecido urbano, dando-lhes mais legitimao evisibilidade. Por outro lado, o oposto tambm pode ocorrer e projetosurbanos bem sucedidos podem dar ao PE credibilidade e senso de eficcia.

    Em termos estratgicos esse modelo de planejamento sugere a articulaode projetos urbanos pontuais, cuidadosamente localizados de forma que osseus efeitos transcendam as reas de intervenes. O potencialestratgico destas intervenes urbanas depende da coerncia dos projetoscom outras intervenes articuladas por um plano mais abrangente e opoder de gerar benefcios sobre os seus entornos imediatos, tanto no quediz respeito aos aspectos scio-econmicos como fsico-espaciais. exatamente esta capacidade de ampliar os benefcios s reas vizinhas dasintervenes que legitima a intensidade do capital pblico investido empoucos e restritos pontos da cidade.

    Desenho Urbano (DU): o embasamento terico na ao projetual

    A urgente demanda de reconstruir as cidades europias parcialmente

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    destrudas na segunda guerra mundial trouxe tona uma srie de espaosurbanos projetados segundo princpios modernistas. Apesar da maioriadesses projetos ter tido o nobre objetivo de criar espaos urbanosconfortveis e socialmente mais justos, um significativo nmero deles norespondeu plenamente s necessidades humanas bsicas diante do ambienteconstrudo.

    Com isto, uma gradual e constante insatisfao entre os profissionais eusurios sobre a qualidade espacial desses ambientes urbanos comeou atomar corpo. Atravs da sistematizao dessas crticas se desenvolveu aestrutura terica do DU, que aos poucos vem se estabelecendo comoatividade profissional relacionada ao projetual e enquanto disciplinaacadmica, fundamentada sobretudo em pesquisas referentes relaodireta entre o ambiente construdo e o comportamento social (9).

    Um grande nmero de estudos direcionados ao entendimento dessa relaovem sendo realizado desde os anos 1960 e um razovel conhecimento temsido extrado dessas pesquisas. Apesar da compreenso absoluta deste temaestar ainda longe de ser atingida, e inegvel que informaes relevantese com aplicao imediata no processo projetual foram produzidas.

    Entretanto, essa rea de estudo se apresenta mais desenvolvida nasdisciplinas referentes s cincias comportamentais como a antropologia,psicologia, sociologia e mais recentemente a geografia. De fato, estaabordagem contempornea do DU tem provocado uma certa reao por parte dealguns arquitetos que resistem em incorpor-la nas suas aes projetuais.

    Esse conhecimento de base quase-cientfica extrado das pesquisas parececonfundir a auto-imagem desses arquitetos enquanto artistas expressandopercepes pessoais e intuitivas da sociedade atravs da projetao doambiente urbano. O paradigma comportamental parece no interessar a essesarquitetos que preferem projetar com base estilstica seguindo astendncias do mundo artstico (10).

    O foco deste artigo, no que diz respeito ao debate do DU, se concentra notpico referente natureza intelectual dessa disciplina. Desenvolve-se apartir da dicotomia existente na prtica do DU enquanto atividadeartstica de base intuitiva e\ou atividade quase-cientfica de basecomportamental. Aborda a diferena entre a atitude projetual centrada naarte pura, que prioriza a qualidade visual do espao urbano atravs dautilizao de princpios estticos e a atitude projetual comprometida comaes direcionadas ao melhoramento da qualidade de vida das pessoas queutilizam o ambiente construdo (11).

    Projetos urbanos e o perfil personalista de seus autores

    Essa nova gerao de projetos urbanos, concebida sob os princpios do DUe comprometida com o PE que tambm conhecida como urbanismo deterceira gerao, tem sido vista de forma distinta das geraesanteriores. Muitos tericos urbanos afirmam que os arquitetos projetistascontemporneos tm uma viso mais ampla e comprometida com a dimensosocioeconmica do desenvolvimento urbano e no abordam mais a intervenourbana como projetos arquitetnicos de grande escala e isolados (12).

    Neste contexto, o projeto urbano contemporneo se prope a ter umsignificado estratgico, que ao ser articulado a outros projetos pontuaisinseridos num plano provoque efeitos benficos que transcendam os limitesda rea de interveno. Para tal, esses projetos devem superar o perfilpersonalista de seus autores com plena autonomia projetual, para seremincorporadas a uma rede de intervenes pontuais articuladas com oobjetivo maior de requalificar reas mais vastas (13).

    A questo proposta neste artigo que um grande nmero desses projetosurbanos parece no ter ainda superado o perfil personalista de seusautores. Apesar desses projetos no serem mais baseados na ideologiamodernista, mas sim seguirem uma agenda urbana ps-moderna, eles aindaparecem ser concebidos como grandes e isolados projetos arquitetnicos.

    So muitos os arquitetos urbanistas que se mostram mais preocupados com aoriginalidade dos seus prprios projetos (14) do que com as supostasarticulaes das suas propostas com os projetos dos seus colegas e emltima instncia, com a integrao do seu projeto ao plano urbano.

    A hiptese levantada a existncia de uma contradio inerente essemodelo de planejamento referente ao papel do projeto urbano. Ao mesmotempo em que esses projetos deveriam ser menos personalizados parafacilitar a articulao entre eles sugerida pelo PE, eles tm sido usadoscomo poderosos instrumentos de marketing urbano.

    A grande maioria desses projetos apresenta um forte apelo visual com oclaro objetivo de atrair a ateno do pblico. Alm do fato dessesprojetos serem freqentemente desenhados por celebridades da arquiteturainternacional, que normalmente produzem um trabalho extremamentepersonalizado, com o objetivo de dar mais visibilidade para a cidade.

    Consideraes finais

    inegvel que com o PE o arquiteto projetista voltou a ser oprotagonista na dinmica do planejamento urbano, sobretudo seconsiderarmos a relao hierarquicamente independente entre o projeto e oplano presente neste modelo de planejamento. Cresce com isso o poder doarquiteto de influenciar, atravs de seus projetos, decises quetranscendam o mbito da escala projetual, aumentando assim a sua

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    responsabilidade. A compreenso de todo o processo, principalmente no quese refere s articulaes dos projetos urbanos entre si e com o plano,passou a ser essencial para o bom desempenho dos projetistas.

    O desconhecimento por parte do arquiteto das complexas relaes entreplano e projeto no planejamento contemporneo pode ter sriasconseqncias com graves repercusses sociais. A mais bvia seriafavorecer a manipulao do PE para legitimar uma srie de intervenespontuais desarticuladas, que tenham como objetivo beneficiar gruposprivilegiados atravs da valorizao imobiliria de nichos urbanos (15).O consentimento formal do poder pblico atravs da m utilizao dessemodelo de planejamento tornaria essas intervenes ainda mais danosas doque os projetos urbanos gerenciados pelo mercado realizados na dcada de80.

    Seria ingnuo acreditar que a postura do arquiteto diante do seu projeto suficiente para determinar ou impedir o sentido deformador do PE.Outros atores urbanos envolvidos nesse processo, como as instituiespblicas, os empreendedores e a prpria comunidade tambm desempenhampapis de fundamental importncia nesse contexto. Por outro lado, aparticipao do arquiteto urbanista atravs da sua ao projetual deveser considerada um importante componente dessa equao.

    fato que em toda ao projetual sempre est, e provavelmente sempreestar, presente a dimenso artstica de fundamentao predominantementeintuitiva. Afinal, todo projeto arquitetnico ou urbano, alm de servirao seu uso, expressa atravs de sua esttica um estilo que nada mais doque a materializao do pensamento de um povo numa determinada poca. Ahistria tem estabelecido relaes ntidas entre os espaos urbanos, otempo e as sociedades nas quais foram construdos. Enfim, o espao urbano tambm uma obra de arte na qual um momento especfico da cultura humana retratado.

    Assim, como em qualquer outra atividade artstica, faz-se imprescindvelum certo grau de personalismo na projetao dos espaos urbanos.Entretanto, parece indiscutvel que o excesso desse componente podedificultar ou mesmo comprometer o entrosamento funcional e esttico entreespaos projetados por diferentes arquitetos. neste particular que seapresenta a grande complexidade do relacionamento entre as intervenespontuais propostas pelo PE. Como garantir a individualizao da aoprojetual e a articulao coletiva dos projetos resultantes desta ao?

    Neste sentido, as relaes estabelecidas entre o comportamento social e oespao urbano, assim como outras reas de concentrao do DU, podemdesempenhar um papel de extrema importncia, funcionando como um elo deligao conceitual entre as propostas. O embasamento terico inserido noprocesso projetual que, ao ser somado criatividade intuitiva doarquiteto, ajude na realizao de espaos urbanos de qualidade funcionale esttica. Assim, o DU deve ser visto como uma disciplina hbrida,composta por elementos de base quase-cientfica somados dimensoartstica de natureza intuitiva.

    Parece ser fundamental que o arquiteto contemporneo assuma essaambigidade contida na concepo dos projetos urbanos, sem receio de quea utilizao do conhecimento adquirido atravs das pesquisas acadmicaslimite o seu potencial criativo. Afinal, e essa mesma ambigidade queimpede o desenvolvimento de teorias precisas que, ao serem aplicadascorretamente, garantam a realizao de um espao urbano de qualidade. Omisterioso componente denominado criatividade, que insiste empermanecer indecifrvel, o principal fator diferencial entre oresultado mediano e o genial.

    Para finalizar, sempre bom lembrar que a falncia dos projetos urbanosmodernistas em atender s necessidades dos seus usurios contribuiu deforma imperativa para o descrdito do projeto urbano. Com isto, a imagemdo arquiteto tambm foi comprometida e o projetista urbano passou a servisto durante um longo perodo como uma pea de importncia secundria,convocado apenas no final do processo para materializar graficamentepropostas j concebidas.

    No PE, a revalorizao do projeto urbano se apresenta como umaoportunidade para o arquiteto reconquistar o legtimo papel deprotagonista na dinmica do planejamento urbano. Para tal, preciso quea postura do arquiteto na elaborao da sua proposta, demonstre coernciacom o novo papel do projeto urbano no processo de planejamento. Casocontrrio, corremos o risco de voltarmos a ser considerados simplesmaquiadores dos espaos urbanos.

    notas

    1

    Congresso Internacional de Arquitetura Moderna: frum realizado nos anos 1920

    para debater o desenvolvimento do Movimento Moderno nas escalas arquitetnica e

    urbana.

    2

    BORJA, Jordi; CASTELLS, Manuel. Local and global: the management of cities in

    the information age. Earthscan Publications Limited, London, 1997.

    3

    BORJA, Jordi; FORN, Manuel. Politicas da Europa e dos Estados para as Cidades,

    Espao e Debates, So Paulo, n. 39, p. 32-47, 1996.

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    4

    PORTAS, Nuno. Un nuevo urbanism. CASTELLS, Manuel(org.). Las grandes ciudades

    en la decada de los noventa. Barcelona, p. 273-281, 1993.

    5

    Em algumas cidades a mobilizao para a elaborao e implantao do PE tem sido

    facilitada atravs da promoo de grandes eventos internacionais.

    6

    PORTAS, Nuno. Os impasses do planejamento. Urbs, So Paulo, 1998.

    7

    Este foi o caso de Barcelona, que incorporou uma srie de projetos que j

    estavam em andamento antes da elaborao do PE.

    8

    BORJA, Jordi; CASTELLS, Manuel, op. cit.

    9

    BARNETT, Jonathan. An introduction to urban design, Harper and Row, New York,

    1982.

    10

    FRANCESCATO, Guido. Paradigm lost: exploring possibilities in environmental

    design research and practice. HARDIE, Graeme; MOORE, Robin; SANOFF, Henry

    (eds). Changing paradigmas: proceedings of EDRA20 / 1989. Environmental Design

    Research Association.

    11

    LANG, Jon. Urban design: the american experience, Van Nostrand Reinhold, New

    York, 1994.

    12

    O termo em ingls para definir esse tipo de projeto big architecture e tem

    sido freqentemente empregado de forma pejorativa no debate do DU para se

    referir aos projetos urbanos concebidos sob forte influncia da tradio

    artstica da arquitetura.

    13

    MADEIRA, Luis. Projeto urbano e planejamento: o caso do Rio de Janeiro.

    Dissertao de Mestrado, UFRJ, Rio de Janeiro, 1999.

    14

    MCGLYNN, Sue. Reviewing the rhetoric. MCGLYNN, Sue; HAYWARD, R. Making better

    places: urban design now, Butterworth, Oxford, 1993. Sue McGlynn observa que na

    tradio arquitetnica a originalidade do projeto um dos fatores de maior

    importncia na reputao do arquiteto.

    15

    ARANTES, Otilia; VAINER, Carlos; MARICATO, Ermnia. A cidade do pensamento

    nico: desmanchando consensos. Vozes, 2000.

    sobre o autor

    Zeca Brando arquiteto e Professor Universidade Federal de Pernambuco UFPE

    e doutorando pela Architectural Association School of London AASchool na

    condio de bolsista da CAPES

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    Manuel Trindade Professor na empresa Escola secundaria de Xai-XaiO trabalho me foi util, pos ja estou a 4 meses a tentar abordar este assunto enao consiguia.Responder Curtir Seguir publicao 29 de agosto de 2013 s 06:49

    Diney Silva Operador de Processos Qumicos na empresa Carta Fabrilmassa *--*Responder Curtir Seguir publicao 12 de maio de 2013 s 21:39

    Luana C. De Bortoli Arquiteta e Urbanista | Proprietria na empresa VivaplanArquitetura e PaisagismoDESENHO URBANOResponder Curtir Seguir publicao 17 de novembro de 2012 s 08:213

    Felipe Oliveira So PauloMATERIAL J PARA O TRABALHO DE HISTRIA DA URBANIZAO ^^.Responder Curtir Seguir publicao 8 de novembro de 2012 s 11:55

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