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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA- UFPB CENTRO DE EDUCAÇAO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO   PPGE MESTRADO ANDRÉA KARLA DE SOUZA GONZAGA O PROCESSO DE INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA- UFPB João Pessoa- PB 2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA- UFPB

    CENTRO DE EDUCAAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO PPGE MESTRADO

    ANDRA KARLA DE SOUZA GONZAGA

    O PROCESSO DE INCLUSO DE PESSOAS COM DEFICINCIA E A EDUCAO

    INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA DE EDUCAO BSICA- UFPB

    Joo Pessoa- PB

    2010

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    ANDRA KARLA DE SOUZA GONZAGA

    O PROCESSO DE INCLUSO DE PESSOAS COM DEFICINCIA E A EDUCAO

    INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA DE EDUCAO BSICA- UFPB

    Texto apresentado ao Programa de Ps-Graduao

    em Educao, da Universidade Federal da Paraba,

    Campus I, como requisito final para a obteno do

    ttulo de Mestre em Educao. Linha de Pesquisa:

    Educao Popular

    Orientadora: Prof. DrEdineideJezine

    Joo Pessoa- PB

    2010

  • 3

    ANDRA KARLA DE SOUZA GONZAGA

    O PROCESSO DE INCLUSO DE PESSOAS COM DEFICINCIA E A EDUCAO

    INFANTIL: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA DE EDUCAO BSICA- UFPB

    Texto apresentado ao Programa de Ps-Graduao

    em Educao, da Universidade Federal da Paraba,

    Campus I, como requisito final para a obteno do

    ttulo de Mestre em Educao. Linha de Pesquisa:

    Educao Popular

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________________

    Prof. DrEdineideJezine- PPGE-CE-UFPB

    Orientadora

    _______________________________________________

    Prof. Dr. Janine Marta Coelho Rodrigues - PPGE-CE-UFPB

    Examinadora

    _______________________________________________ Prof Dr. Jorge Fernando Hermida- PPGE-CE-UFPB

    Examinador

    _______________________________________________ Prof. Dr. Glria das Neves Dutra Escario - PPGCR- UFPB

    Examinadora Externa

    _______________________________________________ Maria do Socorro Xavier Batista - PPGE-CE-UFPB

    Examinadora Suplente

  • 4

    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo analisar como ocorre o processo de incluso dos alunos com

    deficincia na Escola de Educao Bsica - UFPB; identificar quais as concepes das

    coordenadoras e professoras da instituio sobre a incluso de pessoas com deficincia na

    escola regular e quais as metodologias que empregam para a promoo das aprendizagens dos

    alunos com deficincia. A pesquisa, de carter qualitativo, teve incio com o estudo

    bibliogrfico acerca da temtica da incluso, buscando rememorar a historicidade - da

    Educao Especial Educao Inclusiva - bem como identificar as polticas pblicas

    educacionais, as normas e as leis que regulamentam uma educao de qualidade para todos e

    a sua aplicabilidade na escola regular, promovendo a incluso dos alunos com deficincia.

    Parte do pressuposto de que a criana com deficincia parte integrante da sociedade e detm

    habilidades a serem desenvolvidas. Foi possvel constatar a resistncia e a luta das professoras

    para desenvolverem uma proposta de prticas inclusivas e as iniciativas para o despertar de

    prticas educacionais de incluso, para promover o desenvolvimento cognitivo, social e

    emocional dos alunos com deficincia..

    Palavras-chave: Incluso. Deficincia. Educao Infantil.

  • 5

    ABSTRACT

    This paper aims to analyze as it is the process of inclusion of disabled pupils in

    BasicEducationSchool - UFPB; identify which conceptions of the coordinators and teachers

    of the institution on the inclusion of persons with disabilities in regular schools and what

    methods they employto promote the learning of students with disabilities.The research,

    qualitative, began to study literature on the subject of inclusion, seeking to recall the historical

    - of Special Education to Inclusive Education - as well as identifying public educational

    policies, standards and the laws governing quality educationfor all, and its applicability in

    regular schools, promoting the inclusion of students with disabilities.It presumes that a child

    with disabilities is an integral part of society and has skills to be developed.Was possible to

    detect the resistance and the struggle of teachers to develop a proposal for inclusive practices

    and initiatives for the awakening of the educational practices of inclusion, to promote

    cognitive development, social and emotional development of students with disabilities.

    Keywords: Inclusion.Disabilities.Early Childhood Education.

  • 6

    Dedico esta produo acadmica a toda da minha

    famlia, por ter sonhado os meus sonhos, por ter

    acreditado na concretizao do mesmo, bem como,

    por ter acompanhado a evoluo de cada etapa,

    constituindo-se ento em realidade,por ter

    confiado na minha capacidade, e simplesmente por

    ter me amado! todas as pessoas que so

    especiais para mim.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo, primeiramente, a Deus, por me conceder o dom da vida. Pela sua soberania

    e pelo seu infinito amor por mim. Por me ajudar sempre que necessitei, mesmo com as

    fraquezas diante dos obstculos que, muitas vezes, me fizeram sentir impotente e

    desestimulada, mas que me ajudou a superar, com xito, esses instantes e permitiu que eu

    conseguisse cumprir esta meta em minha vida. Obrigada, simplesmente, por tudo o que tenho

    e tudo o que sou.

    A minha famlia. Meus avs paternos: Alfredo e Carminha que, com muito carinho,

    cuidaram de mim e acompanharam os meus estudos, dando-me apoio moral e financeiro, o

    que possibilitou que eu conquistasse cada etapa, das sries iniciais at o Mestrado.

    A minha me, pela dedicao e credibilidade na minha capacidade, sempre me

    apoiando nos momentos em que eu mais precisei, mesmo, muitas vezes, sem estar presente

    fisicamente ao meu lado, mas reconheo e agradeo suas palavras de estmulo.

    As minhas irms, Karina e Kelly, e s minhas sobrinhas Anne Karoline e Anna Clara,

    por estarem participando dessa conquista e por compreenderem minhas inquietudes diante das

    aflies e o anseio ante a concluso desta pesquisa.

    A minha tia Dulcinia, por muitas vezes ser a minha inspirao quando criana, por

    v-la em seus estudos acadmicos e pelo prazer, anos mais tarde, de t-la como colega de

    classe na graduao e pelos seus incentivos na ps-graduao.

    A voc, Alexandre, pela pacincia, compreenso e por participar das minhas angstias

    e expectativas; tristezas e confiana; desnimo e esperana, enfim, por todos os momentos em

    que voc esteve do meu lado nesta trajetria.

    s minhas amigas - neste momento, no quero citar nomes para no cometer a

    injustia de me esquecer de listar algumas, pois cada uma teve sua importncia em minha

    vida. Obrigada pela fora e por no me deixarem esquecer que tenho capacidade concluir

    deste curso, pois, em momentos de desnimo e de cansao fsico e mental, sempre me davam

    palavras de conforto.

    Bruna, que esteve presente durante o percurso. Obrigada pelas oraes, entregando

    a Deus todas as minhas aflies, e pelas palavras, ditas pessoalmente ou por telefone, de

    conforto e de perseverana! Me emociono quando lembro voc dizendo Eu no vou deixar

    voc desistir! Porque voc capaz! No deixe que seja apenas um sonho, faa-o realidade,

    levando-me a refletir e a agir em busca dos meus ideais.

  • 8

    A Adriana e a Marcilene, pelo apoio direto e indireto para a realizao desta pesquisa

    e pelos incentivos.

    s educadoras e coordenadoras participantes da pesquisa, bem como escola, onde a

    pesquisa se desenvolveu, por terem contribudo, direta ou indiretamente, para a realizao

    deste trabalho.

    Aos meus alunos, pela troca de conhecimentos em nossos encontros, tornando-os ricos

    em aprendizagem, como tambm pela compreenso nos momentos em que precisei me

    ausentar.

    Em especial, minha orientadora, a Prof. DrEdineideJezine, pelas suas contribuies

    e orientaes, por acreditar e apoiar a realizao deste trabalho, por ser a grande educadora,

    gestora, me, amiga, constituindo a mulher que , admirvel pela sua inteligncia, perspiccia

    e atitudes. Obrigada, Edineide, por acreditar que a Educao se faz por mim, por voc, por

    cada pai, me, equipe escolar constituda, pelas pessoas que cuidam da limpeza, os

    educadores e toda a comunidade escolar, enfim, por todos ns.

    Coordenao do Programa e a todos os professores e funcionrios do PPGE. s

    professoras: Dr. Janine Marta, Dr.Glria das Neves Dutra Escario, Dr Maria Socorro

    Xavier e ao prof. Dr. Jorge Fernando Hermida, por contriburem para as discusses e

    reflexes aqui apresentadas.

    Enfim, muito obrigada a todos e a todas que contriburam para a minha formao

    acadmica e pessoal.

  • 9

    Uma das minhas preocupaes constantes a de

    compreender como que o outro existe, como

    que existe, como que no sejam a minha,

    conscincias estranhas que no sejam a minha,

    conscincias estranhas minha conscincia que,

    como que por ser conscincia, me parece ser

    nica. Compreendo bem que o homem que est

    diante de mim de mim, e me fala com palavras

    iguais s minhas, e me faz gestos que so como os

    que eu fao ou poderia fazer, seja de algum modo

    seu semelhante. O mesmo, porm me acontece

    com as gravuras que sonhos da ilustraes, com as

    personagens que vejo nos romances, com as

    pessoas dramticas que no palco passam atravs

    dos atores que representam. Ningum, suponho,

    admite verdadeiramente a existncia real de outra

    pessoa. Pode conceder que essa pessoa esteja

    viva, que sinta e pense como ele; mas haver

    sempre um elemento annimo de diferena, uma

    desvantagem materializada. [...] Os outros no so

    para ns do que de paisagem, e, quase sempre,

    paisagem invisvel de rua desconhecida.

    Fernando Pessoa

  • 10

    SUMRIO

    1 INTRODUO 11

    2METODOLOGIA DA PESQUISA: NAS TRILHAS DA INCLUSO 20

    3 INCLUSO EDUCACIONAL: UMA HISTRIA DE DESAFIOS,

    LUTAS E CONQUISTAS

    24

    3.1 Breve Histria da Educao Especial: da Incluso Excluso 24

    3.2As Poltica de Incluso no Brasil e os desafios da Escola Pblica 35

    3.3Contextos Histricos da Educao Especial na Paraba 46

    4. EDUCAO INFANTIL: POLTICAS E PRTICAS DE INCLUSO 50

    4.1 A representao da infncia no contexto histrico e social 50

    4.2 A escolha do lcus da pesquisa 59

    4.3 O Projeto Poltico-pedaggico e a histria da Escola de Educao Bsica 62

    4.4 Caracterizao social, fsica e funcional da Escola de Educao Bsica 67

    4.4.1 Anlise de documentos: Projeto Poltico-pedaggico e a Proposta Curricular da

    Escola de Educao Bsica 71

    5 PROCESSOS DE INCLUSO NA ESCOLA DE EDUCAO BSICA 78

    5.1 A incluso e as concepes dos professores da Escola de Educao Bsica 78

    5.2. PROPOSIES NECESSRIAS PARA A INCLUSO DE PESSOAS COM

    DEFICINCIA

    83

    5.2.1 Formao profissional 83

    5.2.2 A relao famlia-escola e os processos de incluso educacional e social 89

    6 CONSIDERAES FINAIS 96

    REFERNCIAS 99

    ANEXO A 109

    ANEXO B 113

  • 11

    1 INTRODUO

    O interesse pela temtica incluso surgiu em 2005, quando trabalhava em uma

    escola que tinha em seu quadro de matrcula alunos com deficincia. A convivncia com esses

    alunos despertou a compreenso acerca de suas necessidades e peculiaridades. No ano

    seguinte, estava trabalhando em outra instituio educacional e, mais uma vez, na turma em

    que iria lecionar, estava matriculada uma aluna com sndrome de Down, cursando o 5 ano.

    Ela conseguia acompanhar a turma nas atividades propostas, em alguns momentos, com

    dificuldades, em outros, com superao e, em determinadas situaes, era a primeira a atingir

    os objetivos. Esses e outros acontecimentos fizeram com que eu percebesse que a deficincia

    no era empecilho para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional do aluno. No

    entanto, apenas a prtica no era suficiente para atender s necessidades pedaggicas, razo

    por que senti que era importante aprofundar os conhecimentos na teoria e iniciei uma busca

    atravs de pesquisas e trocas de experincias.

    Em 2007, participei de um projeto de pesquisa pela Universidade Federal da Paraba,

    financiado pelo Programa de Formao de Licenciatura- PROLICEN, intitulado O papel do

    pedagogo na mediao da relao escola-famlia na incluso da pessoa com sndrome de

    Down, sob a orientao da Prof. Dr. EdineideJezine. Esse projeto foi inspirado na

    experincia do Projeto Roma, desenvolvido a partir de 1998, em Mlaga, Espanha, sob a

    coordenao do Prof. Miguel Lopez Melero.

    O modelo educativo do Projeto Roma sustentado a partir da ideia de que a

    aprendizagem um processo interativo entre os participantes, que objetiva uma reflexo a

    respeito da problemtica. Nesse processo, sobremaneira relevante o trabalho de uma

    mediadora, pois ela que vai articular, atravs de suas observaes, a reflexo e a prtica nos

    dois contextos: famlia e escola, contando sempre com a ajuda dos familiares e da instituio

    de ensino. Essas propostas devem abranger mudanas no currculo da escola, na prtica

    educativa de sala de aula e nas concepes das professoras e da gesto escolar. Baseado nas

    prticas e teorias do Projeto Roma, o Projeto do PROLICEN se desenvolveu no ano de 2007,

    na Creche-escola da Universidade Federal da Paraba - UFPB1, situada no municpio de Joo

    Pessoa. Durante esta investigao, tive a oportunidade de vivenciar a prtica escolar

    1Transformada em Escola de Educao Bsica- EEBAS- atravs da Resoluo 06/2010, que autoriza o

    funcionamento do nvel de Educao Infantil, Ensino Fundamental e Mdio. No entanto, a EEBAS funciona com

    Educao Infantil e Ensino Fundamental I at o 4 ano.

  • 12

    daincluso de um aluno com sndrome de Down, como mediadora, com o objetivo de

    trabalhar as aprendizagens do sujeito em seu contexto educacional e social.

    Durante o perodo da pesquisa, financiada pelo PROLICEN, foi possvel observar

    que a interao com as professoras facilitou o desenvolvimento da criana com sndrome de

    Down, que apresentava facilidade para realizar algumas atividades, e outras no, da mesma

    forma como acontece com as crianas consideradas normais. No entanto, quando se tratava

    de atividades que exigiam mais concentrao, a educadora-mediadora precisava intervir,

    pedagogicamente, com respeito ao tempo da criana, por meio de estratgias didticas

    diferenciadas para desenvolver o pensar e o fazer, utilizando-se de conceitos j trabalhados,

    pois a repetio criativa para a pessoa com sndrome de Down um recurso metodolgico

    indispensvel.

    A partir da pesquisa, ficou constatado que o papel da educadora-mediadora em

    relao criana deficiente de suma importncia, pois esse acompanhamento

    individualizado, objetiva dar continuidade ao trabalho realizado pelas professoras da

    Educao Infantil, viabilizando o xito do processo ensino-aprendizagem. As atividades que

    foram desenvolvidas pela pedagoga-mediadora eram destinadas a suprir as necessidades do

    desenvolvimento cognitivo da criana, como complemento das que eram propostas pela

    professora para serem realizadas em sala de aula.

    importante ressaltar que valorizar o potencial de desenvolvimento de habilidades

    que a pessoa com sndrome de Down detm e sua necessidade precoce de ser estimulada e de

    participar da escola desde a Educao Infantil fundamental para o desenvolvimento das

    aprendizagens. Assim, em um carter de interatividade, buscou-se atender s necessidades

    educativas para promover a incluso desses sujeitos na sociedade, atravs do

    acompanhamento do processo ensino e aprendizagem e da relao famlia e escola, em que o

    Pedagogo atua como mediador educacional.

    Alm do trabalho com a educadora-mediadora, o aluno com sndrome de Down

    contou, positivamente, para o seu processo de ensino e aprendizagem com a socializao

    vivida com as demais crianas e com os profissionais da instituio de ensino. Esse contato

    com novas pessoas possibilitou-lhe, entre outras coisas, o convvio social, a que tem direito, e

    o desenvolvimento da aprendizagem, pois se acredita que as experincias diversificadas no

    contexto social podem contribuir para sua formao como ser individual, social e autnomo

    no que concerne ao pensar e ao fazer.

    A pesquisa do PROLICEN foi inspirao para o Trabalho de Concluso de Curso

    TCC - como requisito para a obteno do grau em Licenciatura Plena em Pedagogia, ocorrido

  • 13

    no mesmo ano de 2007, intitulada O pedagogo como mediador na relao famlia-escola e a

    incluso do portador de necessidades educativas especiais, sob orientao da professora Dr.

    EdineideJezine.

    Durante essa pesquisa emprica, pude analisar como estava se processando a incluso

    dos alunos com deficincia na Creche-escola da UFPB, situada no Campus I dessa

    universidade, e na Creche Santa Brbara, localizada no municpio de Cabedelo. Foi diante

    dessa oportunidade que foram identificadas, nessas instituies, as dificuldades do processo

    de incluso das pessoas com deficincia2 na escola regular e dos professores diante da falta de

    formao especfica.

    Nos achados da pesquisa, em nvel de graduao, foi confirmada a importncia do

    pedagogo, como mediador, no processo de incluso dos alunos com deficincia em salas

    regulares. Alm disso, os estmulos precoces dados aos sujeitos com deficincia so de suma

    importncia para seu desenvolvimento cognitivo, porquanto viabilizam sua incluso na

    sociedade.

    Atravs das observaes e das entrevistas, foi possvel coletar informaes sobre as

    dificuldades enfrentadas pelos profissionais das creches que serviram de lcus para a pesquisa

    e a dos familiares tanto do aluno com sndrome de Down quanto das crianas que

    apresentaram outros dficits de aprendizagem.

    No decorrer da pesquisa, a maior dificuldade foi a falta de conscientizao dos

    professores acerca da necessidade de se estabelecerem mudanas paradigmticas no currculo

    e na prtica escolar, o que resultou em resistncias para o processo de interao entre a

    pesquisadora e as professoras. A ansiedade para a aposentadoria era maior do que a

    necessidade de mudanas para promover a incluso. Ento, ficou claro que no apenas o

    currculo que tem que sofrer alteraes, mas, necessariamente, a concepo dos profissionais,

    que devem ser ousados para construir processos educativos, pautados na diversidade, e no,

    na homogeneidade.

    A diversidade a realidade do nosso meio social. E a escola no est fora dessa

    realidade, pois, ao se adaptar aos princpios da incluso, gera conflitos e confrontos

    pedaggicos entre prticas enraizadas na ideia de igualdade. Nessa proposta, o Pedagogo

    entra como agente mediador, para intensificar a relao entre a escola e a famlia e

    conscientiz-la das dificuldades que existem no contexto educacional. Essa , pois, uma

    2Nesta pesquisa, o termo utilizado pela autora ser pessoa com deficincia ou deficiente, por serem esses os mais

    empregados e aceitos recentemente pelas pessoas com deficincia e profissionais envolvidos com esses sujeitos.

    Alm de ser a denominao usual adotada na legislao atual.

  • 14

    maneira de contribuir com as mudanas que devem ocorrer na instituio e de propagar a

    proposta escolar, estabelecendo um elo entre a famlia e a escola para incluir os indivduos

    com deficincia no processo educativo. Alm disso, constatou-se que a Educao Infantil

    caminha em passos lentos para a execuo da proposta de educao inclusiva, portanto adota

    apenas os processos de integrao, porque inclui os alunos nas salas de aula sem que haja uma

    adaptao dos aspectos fsicos e pedaggicos para atend-los, associados ideia de cuidar.

    Os desafios encontrados neste trabalho acadmico oportunizaram uma demanda para a

    construo de novas pesquisas, pois estava ciente de que o TCC tinha sido apenas o incio da

    etapa de uma longa caminhada acadmica.

    No ano de 2008, iniciei o Mestrado pelo Programa de Ps-graduao em Educao -

    PPGE/UFPB. No decorrer da pesquisa, houve diversas tentativas de obter informaes sobre a

    estatstica do ano de 2009/2010 de matrculas de alunos com deficincia efetivados na

    Educao Infantil do municpio de Joo Pessoa, no entanto, essas tentativas foram frustradas,

    pois a Secretaria de Educao do Municpio e o Departamento de Educao Especial do rgo

    competente no puderam fornecer esses dados, alegando que estavam realizando esse

    levantamento, mas que ainda no estava concludo, e ressaltaram a dificuldade de se obter

    com exatido esse censo, pois os alunos com deficincia matriculados em determinada

    creche- por inmeros motivos, mudam de escola, e a direo da instituio no repassa a

    informao para a Coordenao da Educao Especial, o que dificulta a eficcia desse

    trabalho. No entanto, mesmo no tendo o conhecimento da estatstica para a anlise, a

    coordenao repassou, informalmente, apenas o nome de uma instituio Creche Joo Leite

    Gambarra Neto, localizada no Bairro do Valentina Figueiredo I, na qual havia um aluno com

    deficincia.

    Realizei a visita nessa creche, mas no tive acesso s salas, aos alunos, nem aos

    professores, pois a direo me recebeu brevemente, informando sobre as dificuldades que se

    tem para desenvolver a incluso dos alunos com deficincia. Logo, subtende-se que a

    instituio no desenvolve um trabalho com prticas inclusivas. Devido a tantas dificuldades

    para averiguar como se processa a incluso dos alunos com deficincia nas escolas regulares,

    em nvel de Educao Infantil, no municpio de Joo Pessoa, e as dificuldades encontradas

    pelos professores em algumas creches, optou-se pela Escola de Educao Bsica - EEBAS/

    UFPB, pois se sabe que essa instituio tem matriculado alunos com diferentes deficincias,

    especificamente, com sndrome de Down, autismo e deficincia mental, e se constitui como

    um lcus de pesquisa e de formao para alunos de graduao e ps-graduao da UFPB.

    Nesses termos, a instituio educacional foi a escolhida para o desenvolvimento da

  • 15

    investigao deste estudo de caso, possibilitando analisar os avanos e os desafios para a

    incluso dos alunos com deficincia, atravs de observaes.

    A EEBAS encontra-se com uma proposta pedaggica de incluso, um currculo

    voltado para as diferenas e as diversidades constantes no seu Projeto Poltico-pedaggico e

    na Proposta Curricular, que foram formulados pela gesto tcnico-pedaggica e pelas

    professoras. Nela est expresso o objetivo primeiro da escola - criar situaes educativas de

    cuidado, educao e aprendizagens orientadas para que os alunos tenham condies concretas

    de desenvolver conhecimentos e as potencialidades cognitivas, corporais, afetivas,

    emocionais, estticas e ticas, que contribuem para a formao de pessoas crticas, criativas e

    autnomas (EEBAS, 2008, p.4).

    A escola conta com crianas deficientes, e a incluso traz a ideia de igualdade de

    direitos e respeito s diferenas, independentemente das necessidades de cada uma delas,

    porque sabe que todas tm o direito de frequentar uma escola regular e de aprender como as

    demais, razo por que as instituies devem validar as polticas educativas de incluso.

    Considerando a experincia que a Escola de Educao Bsica tem vivido no que diz

    respeito incluso, delimitamos as seguintes questes de pesquisa: Como a instituio

    promove a incluso dos alunos com deficincia? Quais as concepes dos coordenadores e

    professores sobre a incluso de pessoas com deficincia na escola regular? Quais as

    metodologias curriculares utilizadas pelos professores para a promoo das aprendizagens dos

    alunos com deficincia?

    Tendo em vista que a pluralidade, e no, a igualdade a principal caracterstica do

    ser humano, fica evidente que no cabe ao educando portador deficincia se adaptar ao

    sistema de ensino, mas a escola que tem que se adequar para atender s necessidades da

    criana e sua participao efetiva nas atividades escolares, visando incluso. Esse termo tem

    sido eixo de vrias discusses, permeado o meio docente e nos convida a fazer uma reflexo

    sobre os seus diversos significados. empregado para indicar a colocao de todos os alunos,

    independentemente do grau e do tipo de necessidades, em salas regulares, eliminando os

    servios de apoio Educao Especial, questo que se polariza na defesa das escolas especiais

    ou na incluso irrestrita na escola regular.

    Na sociedade globalizada, a educao pauta-se na legalidade, e o fundamento

    epistemolgico da incluso constitui-se como um dever da instituio educacional, que o de

    incluir os diferentes e compreender suas particularidades, tendo em vista a diversidade

    existente, bem como o direito s diferenas. Trata-se de uma nova maneira de pensar sobre a

    educao, a partir da valorizao do ser holstico, ou seja, o ser por completo: emocional,

  • 16

    social, psquico e fsico. Mas, para que acontea essa mudana de perspectiva educacional e

    se efetive a incluso, preciso que os profissionais da educao se conscientizem que

    necessrio reformular o currculo, de modo que possa acolher os deficientes nas escolas

    regulares, dando-lhes suportes necessrios para que realmente se efetive o processo de

    incluso.

    A temtica incluso social tambm vem se desenvolvendo de forma ampliada nos

    debates acadmicos, em que se discute a necessidade de se desenvolverem novos estudos,

    principalmente no que concerne incluso das pessoas com deficincia na sociedade. Busquei

    o suporte terico a partir das categorias de incluso, tendo por base as ideias de Voivodic

    (2004), Mantoan (1997), Bueno (2001), Mazzotta (2005), Pacheco (2007), Jannuzzi (2006),

    Jezine (2009), entre outros. Traz a compreenso da historicidade da Educao Especial, sendo

    possvel identificar que, durante muito tempo, as pessoas com deficincia foram excludas da

    sociedade, em todos os seus segmentos, o que promoveu um processo rgido de excluso, com

    srias consequncias sociais, morais, ticas e emocionais. A Educao Inclusiva, entretanto,

    rompe com os paradigmas da incapacidade dos deficientes.

    A partir desses princpios tericos, fica evidente que o processo educacional de

    incluso requer profissionais ousados, que se comprometam em agir com responsabilidade.

    Esse um dos caminhos que podem desmistificar alguns tabus sociais, entre eles, o de que os

    alunos com deficincia no so capazes de executar certas atividades. Se isso for feito,

    certamente, teremos uma Escola Pblica Popular de qualidade, capaz de suprir tais

    necessidades, pois, alm de o conhecimento das pessoas com deficincia ser construdo

    gradativamente e sofrer influncias do meio em que esto inseridas, elas necessitam de

    estmulos para superar as dificuldades que barram sua incluso na sociedade.

    Nesse contexto, objetiva-se analisar como se processa a incluso da pessoa com

    deficincia na escola regular em nvel de Educao Infantil. Com esse propsito, foram

    delineados os seguintes objetivos especficos que nortearam a pesquisa: Reconhecer as

    polticas de incluso na Educao Infantil e analisar sua aplicabilidade na Escola de Educao

    Bsica; Analisar as concepes e prticas terico-metodolgicas das professoras para o

    desenvolvimento das aprendizagens significativas das crianas com deficincia na Educao

    Infantil; e Analisar as dificuldades das professoras que atuam na Educao Infantil em incluir

    alunos com deficincia. Tendo em vista esses objetivos, analisam-se velhos desafios e dilemas

    que se cruzam nos caminhos do tempo, no vaivm de construo de novas teorias, leis e

    normas que asseguram a Educao Inclusiva, em meio necessidade de promover formao

    continuada para os profissionais da rea educacional, para que possam atender mais

  • 17

    adequadamente aos alunos. Convm enfatizar que essa preparao no inclui to-somente os

    contedos disciplinares, porquanto os educadores devem ser preparados considerando-se o

    conhecimento holstico, e um dos primeiros passos em direo a essa mudana deve ser a

    incluso de contedos que contemplem aspectos relativos realidade dos sujeitos. S assim, o

    direito cidadania lhes ser garantido.

    A incluso busca remover as barreiras que sustentam a excluso, em seu sentido mais

    lato e pleno. Aplica-se a todos os que se encontram permanente ou temporariamente

    incapacitados, pelos mais diversos motivos, de agir e de interagir com autonomia e dignidade

    no meio em que vivem.

    Para os profissionais que atuam a servio da melhoria da qualidade de vida humana,

    o desafio lanar propostas que no se destinem a um grupo restrito de pessoas. A inteno

    deixou de ser a de "homogeneizar" solues e de apresent-las previamente definidas e

    estabelecidas em funo de casos particulares. Assim sendo, a incluso nos leva a avanar

    mais, dado que, para atender aos seus preceitos, deve atingir situaes de equilbrio geral, as

    grandes e to almejadas solues que podem atingir fins qualitativamente mais evoludos.

    Para desenvolver esta pesquisa, foi necessrio conhecer, analisar e compreender os

    aspectos histricos da poca pesquisada. Para isso, fizemos um resgate das concepes e

    ideologias reproduzidas pela sociedade, o que reflete sobre o olhar da incluso/excluso dos

    deficientes. Para tanto, de extrema importncia fazer da histria uma fonte de pesquisa, pois

    se sabe que ela no neutra e traz consigo suportes relevantes que possibilitam o

    entendimento dos acontecimentos atuais. Nesse sentido, entende-se a histria a partir da

    produo de conhecimento e das concepes produzidas atravs do social e dos

    acontecimentos, tendo como referncia uma filosofia sobre a realidade de mundo que embasa

    a investigao e permite que ela seja compreendida, na perspectiva de se promoverem

    possveis mudanas, com o intuito de melhorar os procedimentos didticos e promover uma

    aprendizagem significativa. Todavia, isso s ser possvel se se romperem barreiras e tabus

    que permeiam o processo de incluso dos deficientes na escola pblica regular.

    Esta investigao tem carter qualitativo, pois supe o contato direto do pesquisador

    com o ambiente e a situao que est sendo investigada. Nesse tipo de pesquisa, os dados

    obtidos so predominantemente descritivos. Nesse sentido, h uma relao dinmica entre o

    mundo real e o sujeito, uma interdependncia viva entre o sujeito e o objeto, um vnculo

    indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.

    O percurso metodolgico da pesquisa implica um processo de construo do

    conhecimento, a partir de procedimentos cientficos que possam caracterizar o fazer

  • 18

    cientfico. A metodologia tem como objetivo indicar procedimentos e ferramentas para se

    atingirem os fins estabelecidos com base na problematizao que conduziu a pesquisa. Ao

    estabelecer a relao entre cincia e metodologia, a preocupao da cincia captar e tratar a

    realidade terica e praticamente, enquanto a metodologia deve preocupar-se com os possveis

    caminhos para que se possam alcanar os fins a que a pesquisa se destina (DEMO, 1991, p.

    30).

    Nessa perspectiva, a escolha dos procedimentos metodolgicos tem como objetivo

    conhecer o cotidiano educacional e a prtica pedaggica inclusiva dos professores da Escola

    j aqui referida. Para isso, realizamos observaes sistemticas numa sala de aula de alunos

    com deficincia, o que possibilitou perceber a construo do conhecimento no processo de

    incluso.

    A anlise dos documentos da EEBAS foi feita com base no Projeto Poltico-

    pedaggico e na Proposta Curricular da Escola de Educao Bsica, a fim de verificar como a

    concepo ideolgica e pedaggica sobre a incluso educacional de pessoas com deficincia

    contida nos documentos tratada, para contrastar com as entrevistas realizadas.

    Para verificar como o professor concebe a Educao Inclusiva e complementar a

    anlise documental, aplicamos uma entrevista semiestruturada com eles, visando investigar o

    processo de aplicabilidade das polticas educacionais. As entrevistas ocorreram de forma

    semiestruturada3, com professores da instituio e coordenadores, o que possibilitou ao

    entrevistado contribuir para o desenvolvimento da pesquisa, que recebeu uma orientao

    prvia, por meio de um roteiro, contribuindo de maneira significativa para uma coleta

    abrangente.

    As entrevistas semiestruturadas, que foram desenvolvidas a partir de um esquema

    bsico, contriburam para que houvesse mais interao entre a pesquisadora e as pessoas

    entrevistadas que se constatasse a realidade da prtica docente perante a realidade

    educacional, com seus desafios e tabus. Portanto, esse procedimento de produo de dados foi

    utilizado com o objetivo de analisar e interpretar, atravs dos relatos, o cotidiano inclusivo

    ocorrido na EEBAS/UFPB.

    Por meio da pesquisa bibliogrfica, procedemos a uma reviso sobre a temtica da

    incluso, proporciona a inquietao no mbito educacional. Assim, foram consultados livros,

    revistas cientficas, monografias, dissertaes e teses, com base nos seguintes autores:

    Mantoan (2006), Jesus (2005), Hermida (2007), Mendes (2006), Arajo Jnior (2007) e

    3 Ver anexo

  • 19

    Skliar (2003), buscando compreender as relaes existentes entre a historicidade da sociedade

    de antigamente e a atual, fazendo um elo para analisar e criticar o eixo da incluso e as

    concepes sobre a temtica produzida na Educao Infantil. A partir dos documentos da

    Conferncia de Educao para Todos (1990), da Declarao de Salamanca (1994) e, no

    Brasil, da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - LDBEN n 9394/96 foi possvel

    entender a regulamentao do processo da incluso, que assegura aos alunos com deficincia

    o direito a assistncia em salas regulares.

    O segundo captulo trata das questes metodolgicas e dos instrumentos que foram

    utilizados para a coleta e a natureza dos dados.

    No terceiro captulo investigo o percurso histrico da Educao Especial,bem como

    as leis que regem a Educao Inclusiva. Por essa razo, fundamental para o pesquisador

    compreender os acontecimentos da poca e, assim, problematizar as relaes que travam a

    efetivao da incluso, pois o que identifica os homens reais e suas experincias cotidianas.

    No quarto captulo, fao uma abordagem acerca da historicidade das creches, seu

    desenvolvimento e reconhecimento, mostrando o rompimento da viso dessa instituio como

    mero trabalho assistencialista, que passou a ser parte do processo educativo, em que a

    Educao Infantil foi inserida como responsvel pelo desenvolvimento de aprendizagens, a

    partir da anlise dos Referenciais Curriculares da Educao Infantil (2008) e suas propostas

    para a Educao Inclusiva. Foi apresentado o lcus da pesquisa e os sujeitos que participaram.

    No quinto captulo, ressalto as concepes e as prticas educacionais das professoras

    e coordenadoras da Escola de Educao Bsica e o processo de aprendizagem da criana com

    deficincia. Indicamos proposies necessrias para que a escola desenvolva um trabalho

    pedaggico orientado por profissionais capacitados e promova a participao ativa da famlia

    no contexto educacional e social, para incluir os alunos com deficincia na sociedade.

    Nas consideraes finais, aponto algumas dificuldades encontradas para a efetivao

    da educao inclusiva, os resultados da pesquisa e proponho uma Educao Infantil que

    considere a formao das professoras e a relao famlia e escola como sendo questes

    fundamentais para que ocorra o processo de incluso dos deficientes no mbito social.

  • 20

    2 METODOLOGIA DA PESQUISA: NAS TRILHAS DA INCLUSO

    A concepo de pesquisa que serviu de base para demarcar a trilha metodolgica dessa

    investigao foi baseada na abordagem qualitativa, que envolve estudos empricos sobre o

    cotidiano escolar, o processo de incluso nas escolas regulares, no contexto da realidade

    social. Conforme indica Gonsalves (2003, p.68), a pesquisa qualitativa preocupa-se com a

    compreenso e com a interpretao do fenmeno, considerando o significado que os outros

    do s suas prticas, o que impe ao pesquisador uma abordagem hermenutica, ou seja, que

    envolve a compreenso humana. E analisar a compreenso humana implica uma abordagem que

    remata a aproximao dos sujeitos com a pesquisa, validando a preocupao de no tornar o

    estudo uma reduo operacionalizao de variveis. Minayo (1996, p.21-22) afirma que

    a pesquisa qualitativa responde a questes muito particulares [...] ela trabalha

    com o universo de significados, motivos, aspiraes e crenas, valores e

    atitudes, o que corresponde a um espao mais profundo das relaes, dos

    processos e dos fenmenos que no podem ser reduzidos

    operacionalizao de variveis.

    No mbito da epistemologia, a pesquisa qualitativa tem o propsito de fazer suas

    abordagens de maneira holstica, ou seja, vendo o ser como um todo, e no, em fragmentos,

    analisando os aspectos sociais, cognitivos, emocionais, culturais e econmicos. Nessa

    perspectiva, o pesquisador observa no apenas o objeto, mas tambm o seu contexto. Nesse

    momento h uma aproximao entre ele e o objeto, com o intuito de coletar e organizar

    informaes que lhe possibilitem obter dados atravs da perspiccia dos detalhes. O

    desenvolvimento e as concluses podem sofrer alteraes no processo de construo, pois a

    anlise e os significados emergem da percepo dos sujeitos da pesquisa.

    A pesquisa qualitativa, frequentemente, associada aos estudos no contexto histrico,

    antropolgico e etnogrfico, pela sua singularidade perante as abordagens no mbito desse

    conhecimento. possvel essa anlise, devido ao fato de os problemas emergirem no contexto

    social e terem diversas causas, pois essas variveis podem ou no interagir e ampliam a

    compreenso para que se torne vivel o conhecimento dos fatos humanos e sociais.

    A maior preocupao dos pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa a

    apreenso dos fenmenos a partir do ponto de vista dos participantes, numa relao em que

    predomina o dilogo como fundamento da confiana em que ambos - pesquisador e sujeito -

    encontram-se num mesmo patamar de interao. Essa postura facilitou a troca de ideias

  • 21

    durante as entrevistas realizadas com as professoras do ensino regular infantil na

    EEBAS/UFPB.

    O objeto de pesquisa definido e deve se relacionar com o referencial terico utilizado

    na fundamentao da anlise e na problemtica investigada. Esta pesquisa tem como objeto

    de estudo o processo de incluso de alunos com deficincia na escola de ensino regular em

    nvel de Educao Infantil. Nesse caso, foi verificada a aplicabilidade das Polticas Pblicas

    Educacionais, no tocante incluso de crianas com deficincia de 0 a 5 anos na

    EEBAS/UFPB e as metodologias utilizadas para o desenvolvimento das aprendizagens

    significativas.

    Para esta investigao, foram escolhidas como sujeitos da pesquisa as crianas com

    deficincia, matriculadas na EEBAS/UFPB, seus professores e coordenadores, com o objetivo

    de investigar seu processo de incluso na Educao Infantil, na escola regular, buscando

    identificar o conhecimento das professoras sobre essa temtica e suas Polticas Pblicas, bem

    como sua efetivao na prtica escolar.

    Para o desenvolvimento da pesquisa, foi necessrio utilizar os seguintes

    procedimentos metodolgicos bsicos:

    O levantamento bibliogrfico, que possibilitou, atravs dos estudos de Voivodic

    (2004), Mantoan (1997), Bueno (2001), Pacheco (2007), entre outros, compreender a

    construo/reconstruo de conceitos para a anlise do processo de investigao das polticas

    pblicas educacionais, bem como o processo de incluso na instituio de ensino. Esse

    procedimento inicial importante porque o investigador tem a possibilidade de conhecer o

    que j foi produzido sobre a temtica abordada, em que busca apreender relevncia do tema,

    podendo contribuir cientfica e academicamente para a construo e/ou confirmao de algo

    estabelecido, como refere Gonsalves (2003, p. 34):

    Caracteriza-se a pesquisa bibliogrfica pela identificao e anlise dos dados

    escritos em livros, artigos de revistas, dentre outros. Sua finalidade colocar

    o investigador em contato com o que j se produziu a respeito do seu tema

    de pesquisa.

    Na pesquisa bibliogrfica o pesquisador vai se deparar com dois tipos de

    dados: aqueles: aqueles que so encontrados em fontes de referncia (dados

    populacionais, econmicos, histricos etc.) e aqueles dados especializados

    em casa rea do saber, indispensveis para o desenvolvimento da sua

    pesquisa.

    Por meio da pesquisa bibliogrfica, realizei uma reviso da literatura sobre a temtica

    da incluso, um tema que proporciona a inquietao no mbito educacional. Assim, foram

  • 22

    feitas pesquisas em livros, revistas cientficas, monografias, dissertaes e teses sobre as

    relaes existentes na historicidade da sociedade de antigamente e a atual, fazendo um elo

    para anlise e crticas acerca do eixo Incluso. No que se refere s Polticas Pblicas

    Educacionais, analisei as proposies da Declarao de Salamanca (1994), da Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN) N. 9394/96 e dos Referenciais

    Curriculares Nacionais para a Educao Infantil - RCNEI-1998, que indicam a incluso

    desses alunos em salas regulares.

    Com o objetivo de conhecer a estrutura funcional e pedaggica da escola, foi

    realizada uma pesquisa documental na EEBAS/UFPB, a partir do Projeto Poltico-pedaggico

    e da Proposta Curricular, que indicaram que a EEBAS/UFPB tem uma proposta pedaggica

    inclusiva. A Proposta Curricular da Escola de Educao Bsica apresenta sugestes

    metodolgicas que podem ser aplicadas no cotidiano escolar, o que possibilita a execuo dos

    objetivos que constam do Projeto Poltico-pedaggico da instituio e que se pautam em

    aspectos filosficos e epistemolgicos de construo do conhecimento, em que os alunos so

    os protagonistas do processo de aprendizagem. Nesse sentido, objetivo da escola o

    desenvolvimento das potencialidades cognitivas, corporais, afetivas, emocionais, estticas e

    ticas, atravs de situaes educativas de cuidado, educao e aprendizagem, visando formar

    pessoas conscientes, crticas e autnomas. Os documentos esto embasados nas normas e leis

    que regem a Educao Inclusiva.

    A pesquisa tambm se caracteriza como emprica, pois buscou dados relevantes

    obtidos atravs das experincias cotidianas das professoras a partir de observaes nas turmas

    do Pr II A e B da EEBAS/UFPB, que tm alunos com deficincia. No Pr II A, h

    uma criana com sndrome de Down, e no Pr II B, um aluno com autismo. A escola vem

    desenvolvendo uma proposta de incluso, construda com base em seu Projeto Poltico-

    pedaggico.

    Para identificar as concepes e as prticas metodolgicas realizadas no fazer

    cotidiano da escola pesquisada e como vem se processando na prtica o que regulamentam as

    leis e normas que regem as Polticas Pblicas da Educao Inclusiva, foram realizadas

    entrevistas semiestruturadas com as professoras e as coordenadoras.

    Marconi (1990, p.85) denomina a entrevista semiestruturada como despadronizada,

    na modalidade de entrevista focalizada, que ocorre da seguinte forma:

    H um roteiro de tpicos relativos ao problema que se vai estudar e o

    entrevistador tem liberdade de fazer as perguntas que quiser: sonda razes e

    motivos, d esclarecimentos, no obedecendo, a rigor, a uma estrutura

  • 23

    formal. Para isso, so necessrios habilidade e perspiccia por parte do

    entrevistador.

    Dessa maneira, a entrevista se desenvolve numa conversa informal, para que o

    entrevistado, no caso, as professoras, sintam-se vontade para expressar suas concepes

    sobre o referido assunto - a incluso educacional - contribuindo para que a pesquisa se

    desenvolva significativamente e para que a coleta dos dados seja rica em detalhes, o que

    promove maior interao entre a pesquisadora e as entrevistadas e, consequentemente, os

    acontecimentos sejam compreendidos.

    O procedimento metodolgico empregado na pesquisa foi o estudo de caso, para

    podermos identificar como se processa a incluso na referida instituio, pois possibilita um

    estudo mais profundo e detalhado do objeto pesquisado. Segundo Gil (1991), [...] o estudo

    de caso adotado na investigao de fenmenos das mais diversas reas do conhecimento.

    Ele a define como um conjunto de dados que descrevem uma fase ou a totalidade do processo

    social de uma unidade, em suas vrias relaes internas e nas fixaes culturais, quer seja essa

    unidade uma pessoa, uma famlia, um profissional, uma instituio social, uma comunidade

    ou uma nao. Para Gonsalves (2003, p. 67),

    o estudo de caso o tipo de pesquisa que privilegia um caso particular, uma

    unidade significativa, considerada suficiente para anlise de um fenmeno.

    importante destacar que, no geral, o estudo de caso, ao realizar um exame

    minucioso de uma experincia, objetiva colaborar na tomada de decises

    sobre o problema estudado, indicando as possibilidades para sua

    modificao.

    Nessa perspectiva, coletei informaes do cotidiano escolar, objetivando superar as

    dificuldades que impedem que as prticas docentes que se articulam no processo de ensino e

    aprendizagem, na perspectiva inclusiva, sejam analisadas, com o propsito de orientar para

    que as polticas de incluso educacional sejam conhecidas e efetivadas para que se proceda a

    uma prtica educativa eficaz, que promova a incluso dos alunos com deficincia em escolas

    regulares e o desenvolvimento das aprendizagens significativas.

  • 24

    3 INCLUSO EDUCACIONAL: UMA HISTRIA DE DESAFIOS, LUTAS E

    CONQUISTAS

    As pessoas com deficincia sempre encontraram obstculos para se sentir ou estar

    envolvidas com o seu contexto social, devido s prticas reguladoras que as sociedades tm

    imposto para os que so diferentes, o que dificulta que aceitem os que se distanciam dos

    padres estabelecidos por elas. Essa situao permeia as sociedades desde a antiguidade e

    persiste em existir at os dias atuais.

    Reconhecer o processo de incluso das pessoas com deficincia requer a compreenso

    do contexto histrico da educao e as concepes pedaggicas acerca da deficincia, o que

    nos remete a assimilar as prticas decorridas em cada poca, buscando compreender as

    influncias dessas ideias para a educao e para o desenvolvimento das aprendizagens

    significativas da pessoa com deficincia.

    Na contextualizao histrica do processo educacional, objetiva-se mostrar a

    importncia da educao nas sociedades e a forma como se estruturou em cada momento

    histrico. Trata-se de situar o processo de desenvolvimento da Educao Inclusiva e a

    aplicabilidade das leis para a incluso dos deficientes na sociedade, garantindo-lhes direitos e

    estabelecendo respeito s diversidades, para que possa reconhecer e assumir a prpria

    identidade, sem se preocupar com os princpios de normalizao impostos pela sociedade.

    3.1Breve Histria da Educao Especial: da Excluso Incluso

    Para compreender o processo de incluso das pessoas com deficincia na escola

    regular e suas problemticas, necessrio rememorar as construes ideolgicas de

    deficincia ao longo da histria da Educao Especial, traando o caminho dessa construo a

    partir das Polticas Pblicas de Educao voltadas para as pessoas com deficincia, no Brasil,

    e as influncias das polticas internacionais nesse processo.

    Na histria da Educao Especial, possvel identificar trs fases histricas. Segundo

    Voivodic (2004), a primeira se refere ao tratamento prisional, ou seja, feito em hospitais e

    manicmios; a segunda, em que se procura desenvolver a normalizao das pessoas com

    deficincia a partir da integrao; e a terceira, que se inicia nos idos da dcada de 1990 e

    pretende uma mudana de comportamento das pessoas e das instituies acerca do olhar sobre

    o deficiente e a deficincia, exigindo que se estabeleam distines conceituais acerca do

  • 25

    conceito de integrao e incluso, para que essas concepes no se confundam no exerccio

    da prtica.

    No decorrer do Sculo XVI, a histria da humanidade registrou o processo de

    industrializao e o surgimento de novas ideias a respeito das prticas educativas que, at

    ento, estavam focadas em um ideal de educao que atendesse apenas classe mais

    favorecida economicamente. Assim, surgiram novas teorias baseadas em doutrinas

    democrticas que defendiam que a escola deveria ser para todos. Mdicos e pedagogos

    desafiavam os conceitos que eram estabelecidos pela sociedade da poca e acreditavam na

    possibilidade de que os deficientes conseguiriam aprender, apesar de serem considerados

    ineducveis. O cuidado com esses sujeitos era meramente custodial, e o atendimento a eles

    era feito apenas em asilos e manicmios e ficavam segregados, sob a justificativa da crena de

    que eram diferentes e ficariam protegidos. Alm disso, eram chamados pela sociedade dos

    chamados anormais. De acordo com Silva (2001, p. 183), ainda vivemos em nossa

    sociedade essa segregao das pessoas com deficincia:

    Sem dvida, basta atentar para o cotidiano de nossa sociedade para se ver

    que pessoas com necessidades especiais no circulam pelos espaos sociais-

    supermercados, farmcias, cinemas, shoppings etc. ...-, os que ocupam

    algum espao, so, geralmente cegos vendendo bilhetes, deficientes fsicos

    graves expondo sua condio para a mendicncia. Essa observao

    demonstra, mais uma vez, que o objetivo dos servios em educao especial

    no tem sido alcanado.

    Durante o Sculo XVII, as influncias do pensamento de Plato e de Aristteles

    predominavam na sociedade, pois indicavam que a inteligncia no sofria interferncias e

    influncias do meio existente e tinham uma concepo pr-reformista. Para esses pensadores,

    essa ideia foi perdendo sentido a partir de Rousseau (1712-1778), com a concepo do

    predeterminismo, que se perpetuou at o incio do Sculo XX, essencialmente com as ideias

    de Pestalozzi (1746-1827) e de Froebel (1782- 1852).

    No Sculo XVIII, os filsofos iluministas acreditavam que todos os homens

    poderiam atingir a perfeio. Dentro dessa realidade, ficavam de fora os deficientes, j que

    eles no podiam alcanar esse ideal de perfeio. Os discursos iluministas tinham carter de

    repassar uma ideologia igualitria, mas no beneficiavam essas pessoas, pois no as

    concebiam como parte integrante da sociedade, o que tornava esse discurso contraditrio.

    A deficincia estava ligada ao misticismo e ao ocultismo, posto que os deficientes

    eram tidos como criaturas de Deus ou como bobos da corte, eram indivduos excludos,

  • 26

    pois a sociedade no lhes prestava assistncia e afirmava que eram seres demonacos, como

    afirma Arajo Jnior (2007, p. 14):

    s vezes eram perseguidos, esconjurados ou apedrejados por serem

    portadores de possesses demonacas. No final da Reforma, a negligncia

    aos deficientes foi marcante. Lutero e Calvino referem-se a eles como

    indivduos possudos por satans.

    Essa omisso ocorria porque, para a sociedade da poca, os deficientes eram

    incapacitados de exercer atividades, alm de serem caracterizados como seres do mal. O

    conceito de diversidade e de respeito s diferenas peculiares de cada indivduo no era

    compreendido, avaliado ou, muito menos, validado. A sociedade se omitia para realizar o

    atendimento com servios que pudessem assistir as necessidades educacionais e sociais,

    deixando essas pessoas s margens da sociedade, vtimas de um processo de excluso.

    As ideias iluministas marcaram profundamente a relao entre a sociedade e a

    educao, pois elas criticavam as desigualdades e a opresso existente na sociedade vigente,

    pregando a igualdade entre todos os seres tidos normais.

    Esses ideais estimularam movimentos revolucionrios, que se tornaram vitoriosos em

    vrias partes do mundo, fazendo com que novos governantes se sentissem obrigados a

    garantir que todos os indivduos tivessem direitos iguais. Mesmo o Estado afirmando que era

    de sua responsabilidade oferecer educao pblica e gratuita, o nmero de escolas pblicas

    era muito pequeno, pois ainda no havia uma presso social para que se consolidasse o

    objetivo proposto, que era a democratizao do ensino.

    A preocupao com a integrao de todos na sociedade era o objetivo de movimentos

    que buscavam obter o tratamento igualitrio para todos. E com a influncia do Cristianismo, a

    sociedade passou a desenvolver uma viso abstrata do homem, que passou a ser visto como

    um ser racional, criao e manifestao de Deus. Portanto o deficiente adquire um status

    humano, e sua exterminao j no era mais aceitvel.

    Esse novo paradigma d suporte s primeiras iniciativas assistencialistas aos

    deficientes com o auxlio das explicaes cientficas. As causas das deficincias no eram

    mais vistas como oriundas do sobrenatural, mas que tinham um carter hereditrio, disfuno

    gentica, males fsicos e mentais. A educao de pessoas com deficincia surgiu com

    perspectivas assistencialistas e teraputicas, com a preocupao de cuidar dos deficientes j

    que eles eram frutos dos desgnios de Deus:

  • 27

    A educao de pessoas com deficincia e/ou com problemas de conduta

    surgiu com carter assistencialista e teraputico, mediante a preocupao de

    religiosos e filantropos na Europa, mas tarde nos Estados Unidos e Canad,

    desejosos em investir na ateno nos cuidados bsicos de sade,

    alimentao, moradia e educao dessa frao da populao, at ento,

    Neste perodo, a prtica a favor da caridade, instituiu um carter meramente

    assistencialista que permeou a ateno para os deficientes. As instituies

    foram assumindo uma natureza de asilos, destinados ao acolhimento de

    pessoas invlidas, que at ento no havia um carter educacional.

    As primeiras iniciativas de assistncia aos deficientes surgiram na Frana. Em 1620,

    Jean-Paul Bonet teve a primeira publicao impressa sobre a educao de deficientes,

    intitulada Redao das Letras e Arte de ensinar os mudos a falar. De acordo com a obra,

    foiconstatado que a primeira instituio especializada para a educao de surdos-mudos foi

    fundada pelo abade Charles L ep, em Paris (1770), que inventou o mtodo de sinais,

    destinado a complementar o alfabeto manual e para classificar vrios objetos que no podiam

    ser distinguidos pelo sentido auditivo.

    Sob a influncia dos trabalhos desenvolvidos por Abade Lep, nesse perodo,

    tiveram grande importncia o ingls, Thomas Braidwood, e o alemo, Samuel Heinecke, que

    criaram em seus respectivos pases de origem institutos para surdos-mudos.

    No que se refere aos deficientes visuais, em Paris, no ano de 1784, foi fundado por

    Valentin Hauy o Instituto Real dos Jovens Cegos, destinado leitura ttil, atravs do sistema

    de letras em alto relevo. Essa tcnica de leitura teve a aprovao da Academia de Cincias de

    Paris.

    O Instituto tinha como aluno Louis Braille que, em 1834, criou o sistema de leitura e

    de escrita para as pessoas com deficincia visual. Essa evoluo na leitura e na escrita trouxe

    perspectivas para a comunicao, a educao e a independncia dos deficientes (BRASIL,

    2002). O mtodo foi uma adaptao de um cdigo militar criado por CharlisBarlier, como

    expe Arajo Jnior (2007, p.15):

    Em 1819, o oficial do exrcito Frances CharlisBarbier sugeriu ao Instituto

    Nacional de Jovens Cegos uma tcnica idealizada por ele, para transmisso

    de mensagens no campo de batalha noite, sem utilizao de iluminao,

    para que no fosse atrado pelos inimigos. Tal tcnica de escrita codificada e

    expressa em pontos salientes reproduzia os trinta e seis sons bsicos da

    Lngua Francesa.

    Essa tcnica, denominada Sonografia, passou a ser chamada, depois, de mtodo

    Braille, uma referncia a Louis Braille.

  • 28

    No Sculo XIX, inicialmente, o atendimento aos deficientes tinha um domnio

    estritamente mdico-clnico, cujas anlises eram feitas de acordo com os padres de

    normalidade, indicando as possibilidades e dificuldades dos indivduos.

    No que se refere deficincia mental, o mdico francs, Jean Marc Itard, foi

    responsvel pelas primeiras iniciativas sobre os estudos relativos a esse aspecto. Esse mdico,

    que sistematizou um mtodo baseado na repetio de experincias positivas, acreditava que a

    pessoa com deficincia era educvel e, por isso, era possvel desenvolver o seu potencial

    cognitivo (JANNUZZI, 2006). Ao contrrio de Pinel, seu mestre, o jovem mdico Itard

    passou a defender a ideia de educar essas pessoas e de (re)integr-las na sociedade. De sua

    experincia, nasceu a possibilidade e as tentativas de educar e modificar o potencial cognitivo

    do deficiente. Itard via o indivduo como uma pessoa completa, detentora de desejos,

    averses, interesses e inrcia. Seus estudos abriram possibilidades para outras reas

    produzirem conhecimentos sobre deficincia mental, destacando a necessidade de abordagem

    multidisciplinar (CAVALCANTE, 1997).

    Assim, Jean Marc Itard foi de encontro s ideias de seu mestre, o mdico Phillipe

    Pinel, que acreditava que no havia possibilidade de educar uma pessoa com deficincia. As

    ideias de Itard repercutiram no perodo histrico, pois o tornou pioneiro nas pesquisas

    voltadas para a deficincia mental, na perspectiva de trat-lo considerando-se seu

    desenvolvimento holstico.

    As escolas especiais proliferaram por toda a Europa e os Estados Unidos, durante a

    segunda metade do Sculo XIX e incio do Sculo XX. Ao longo do Sculo XIX, as escolas

    residenciais eram consideradas aptas para atender ao deficiente mental e, na ltima dcada do

    Sculo XIX, tomaram aspectos pedaggicos e as pessoas com deficincia mental passaram a

    ser atendidas em classes especiais, de acordo com suas deficincias e com prticas educativas

    desenvolvidas por mtodos especficos (PANTUZZO e COUTO, 2004).

    A primeira instituio pblica direcionada deficincia mental foi fundada pelo

    mdico francs, Edward Seguin, que criou um mtodo educacional baseado na utilizao de

    recursos didticos com cores e msicas para indicar a motivao e o interesse das crianas.

    No incio do Sculo XX, o mtodo Montessori, criado pela mdica italiana, Maria

    Montessori, teve uma grande importncia, por se tratar de um mtodo fundamentado na

    estimulao sensrio-perspectiva e na autoaprendizagem, que foi difundido em todo o mundo

    e, at os dias atuais, ainda utilizado nas escolas de Educao Infantil com crianas com ou

    sem deficincia. Nesse mtodo, utilizam-se blocos, cubos e barras em madeiras, objetos

    variados coloridos, material de encaixe e seriao, letras grandes em lixa e outros.

  • 29

    A partir da metade no Sculo XX, com o avano cientfico, as causas e as origens das

    deficincias so investigadas e comeam a ser esclarecidas, no entanto, rompe-se com as

    ideias msticas relacionadas deficincia entre o bem e o mal. Apesar de esses avanos

    cientficos terem colaborado para a compreenso da deficincia como diversidade na

    humanidade, ainda prevaleciam os preconceitos e as discriminaes.

    No decorrer da histria da Educao Especial, os movimentos de integrao foram

    intencionalizados na Europa, durante a dcada de 1950, por pais que tinham como objetivo

    reivindicar educao para seus filhos em ambientes mais normalizados. Tambm contriburam

    para a efetivao e a aceitao do movimento de integrao a necessidade de reduzir os custos

    com a Educao Especial, uma vez que manter esse sistema paralelo ao da escolarizao

    regular tornava altos os custos para as polticas governamentais, conforme explicita Mendes

    (2006, p. 388).

    Os movimentos sociais pelos direitos humanos intensificaram-se na dcada de 1960,

    com a promoo da conscientizao e da sensibilizao, para que a sociedade enxergasse os

    prejuzos causados pela segregao e pela marginalizao de pessoas que se encontravam s

    margens da sociedade. Assim, constituiu-se um alicerce com base moral para que se

    desenvolvesse uma proposta de integrao escolar, sob o argumento irrespondvel de que

    todas as crianas com deficincia teriam o direito de participar de todas as atividades, junto

    com as outras crianas que no tinham deficincia, e dos argumentos morais que indicavam

    que a socializao dos alunos com deficincia com os demais beneficiava na aprendizagem de

    todos. Mendes (2006, p.388) indica que

    os potenciais benefcios para alunos com deficincia seriam: participar de

    ambientes de aprendizagem mais desafiadores; ter mais oportunidades para

    observar e aprender com alunos mais competentes; viver em contextos

    normalizantes e realistas para promover aprendizagens significativas; e

    ambientes sociais mais facilitadores e responsivos. Benefcios potenciais

    para os colegas sem deficincias seriam: a possibilidade de ensin-los a

    aceitar as diferenas nas formas como as pessoas nascem, crescem e se

    desenvolvem, e promover neles atitudes de aceitao das prprias

    potencialidades e limitaes.

    Um conjunto de argumentos fundamentou as prticas integradoras, pois tiveram

    bases empricas dos resultados encontrados em pesquisas educacionais. A cincia

    desenvolveu metodologias para que fosse possvel ensinar aos deficientes que, durante muito

    tempo, foram considerados ineducveis. Posteriormente, foi comprovado que os deficientes

    poderiam aprender, e as prticas de segregao comearam a ser criticadas e no mais aceitas.

  • 30

    Ento, durante a pesquisa, a preocupao, que antes era apenas sobre o que, passou

    a ser tambm para que e onde eles poderiam aprender. Essa postura desencadeou a

    preocupao com a qualidade de vida e com contextos culturais mais normalizantes a fim de

    ampliar as possibilidades de desenvolvimento interpessoal e a insero social. Esses

    conceitos, como afirma Mendes (2006, p. 388),

    [...] contriburam para reforar o movimento pela integrao de aes

    polticas de diferentes grupos organizados de portadores de deficincia, pais

    e profissionais, que passaram a exercer forte presso no intuito de garantir os

    direitos fundamentais e evitar discriminao.

    Diante disso, pode-se mencionar e afirmar a luta dos pais, que era constante, para que

    seus filhos deficientes pudessem aprender e estar inseridos na sociedade, garantindo-lhes o

    direito como qualquer outra pessoa, a fim de evitar a discriminao. Voivodic (2004, p. 22-

    23) tambm confirma que, historicamente, a incluso tambm est ligada a movimentos de

    pais de crianas com deficincia que buscavam convencer a sociedade e as autoridades a

    inclurem seus filhos com deficincia em classes regulares de ensino. Nesse sentido,

    importante relacionar algumas fases histricas que marcaram o movimento de integrao,

    quais sejam:

    Dcada de 1950 e 1960, EUA: pais de alunos com deficincia fundaram organizaes

    como a NationalAssociation for RetardedCitizens;

    Na dcada de 1960, os movimentos sociais que conscientizavam e sensibilizavam a

    sociedade sobre os prejuzos que eram ocasionados pela segregao e marginalizao

    foram intensificados;

    A partir de 1968, na Sucia, crianas deficientes foram introduzidas em classes

    regulares;

    Dcada de 1970: nos EUA, reivindicaram-se programas educacionais para os

    deficientes, que tiveram o apoio de vrios servios complementares, que foram

    denominados mainstreaming;

    Dcada de 1990: o movimento de incluso ganhou um novo mpeto, com a criao de

    uma organizao internacional, a Schools are for Everyone, que foi constituda por

    membros de vrios pases e objetivaram promover a incluso em escala mundial.

    Um fator crucial que influenciou a mudana na filosofia dos servios destinados

    Educao Especial, nas dcadas de 1960 e 1970, no contexto da crise mundial do petrleo, foi

  • 31

    o custo financeiro muito alto dos programas segregados existentes. At ento, apenas os

    pases que eram considerados desenvolvidos economicamente haviam criado um sistema

    educacional que pudesse funcionar paralelamente para os alunos com deficincia. A partir da

    dcada de 1970, passou a ser tambm conveniente adotar uma ideologia que fosse de

    integrao, ou seja, os alunos com deficincia eram inseridos nas salas regulares, sem um

    planejamento fsico e pedaggico para atend-los. Essa prtica seria para diminuir as despesas

    e representava uma economia para os cofres pblicos.

    Em contrapartida, a proposta de integrao prevalecia com o carter segregacionista

    e ainda se baseava na crena de que as pessoas com deficincia seriam bem mais atendidas,

    em relao s suas necessidades educacionais, se ensinado em locais separados. No entanto,

    Silva (2001, p. 183), ao fazer uma anlise desse momento histrico, critica os movimentos

    integradores que permaneceram sob a concepo da segregao e da excluso dos deficientes:

    [...] A crtica do movimento integrador feita tambm no trabalho

    pedaggico desenvolvido pelos contextos educacionais especiais que tem

    priorizado o adestramento elaborao do conhecimento, alm do isolamento deles decorrentes.

    No h dvidas de que com o emprego de uma metodologia que aplicada em

    ambientes separados, fica difcil de obter aprendizagens significativas, pois se trata de

    mtodos sistemticos, j que os deficientes usam mtodos para a aprendizagem mecanizados,

    de adestramento e no se preocupam em atender s necessidades peculiares do aluno com

    deficincia.

    A proposta para a integrao de pessoas com deficincia teve incio nos Estados

    Unidos apenas na segunda metade do Sculo XX, precisamente no ano 1975, atravs da Lei

    Pblica n 94.142, que trouxe uma resposta mais ampla da sociedade para as crianas e os

    jovens com deficincia, devido obrigatoriedade de reabilitao dos mutilados da guerra, j

    que, antes dela, eram considerados indivduos normais e, por honra ptria, ficaram

    mutilados, razo por que sua reintegrao social e educacional passou a ser um compromisso

    moral. O movimento de integrao iniciou-se na II Guerra Mundial, que trouxe consequncias

    malficas para a populao, que via seus compatriotas mutilados, debilitados e com

    problemas mentais. Por esses motivos, as sociedades desses pases, sentindo a necessidade de

    reintegrar esses indivduos considerados veteranos de guerra na sociedade, perceberam a

    importncia de promover formas de atend-los (MENDES, 2006).

  • 32

    Esse processo de integrao se estendeu aos jovens e aos adultos que sempre haviam

    sidos impedidos de ter acesso escola regular, como tambm queles que conseguiram

    ingressar no sistema escolar e passaram a ser encaminhados para salas especiais, por no

    atingirem os objetivos propostos pela escola, no avanando no processo educacional, logo

    tem a proposta de incluir os indivduos que se encontram margem da sociedade.

    A partir do movimento de integrao articulado com o propsito de normalizar a

    aceitao dos deficientes em escolas regulares, esse movimento de reivindicao no foi

    atendido em sua inteno, pois integrar passou a ser sinnimo de estar na escola, sem que

    houvesse a preocupao de se adequar o currculo e as estruturas fsicas s necessidades dos

    alunos com deficincia. Portanto, no se perceberam grandes mudanas curriculares, tericas

    e metodolgicas para o atendimento das necessidades de aprendizagem desses sujeitos, que

    cujas habilidades e potenciais eram diferenciados dos chamados padres de normalidade, o

    que exigia assim maiores mudanas educacionais no sistema escolar.

    Contriburam para reforar o movimento pela integrao dos deficientes em escolas

    regulares as aes polticas de diferentes grupos organizados, de que faziam parte os

    deficientes, os pais e os profissionais, que passaram a exercer forte presso, com o intuito de

    garantir os direitos fundamentais a essas pessoas e evitar que fossem discriminadas. De modo

    que da crtica s aes de integrao dos deficientes na escola, esboa-se um novo

    movimento, o da incluso de alunos com deficincia em salas regulares.

    Constata-se que, a partir dos estudos, o conceito de incluso no o mesmo que

    integrao; para que a incluso se configure em uma instituio de ensino, tem que haver uma

    preparao do meio, ou seja, todo o local tem que se adequar s pessoas com deficincia,

    desde os aspectos fsicos atuao do professor perante essa situao, o que se diferencia do

    movimento de integrao, pois no h mudanas no meio para a recepo desses sujeitos, eles

    que tm que se adequar ao ambiente, sem se levar em considerao o grau e o tipo de

    deficincia (GONZAGA, 2007).

    Assim, mesmo que as nomenclaturas incluso e integrao faam parte do processo

    de incorporao da criana com deficincia no ensino regular, existem diferenas substanciais

    que so apontadas pelos estudiosos Mantoan (1997) e Bueno (2001).

    A distino entre integrao e incluso tambm expressa por Dens (1998), apud.

    Masini (2000, p. 26), que concebe a interao como intervenes necessrias para que a

    criana com necessidades especiais possa acompanhar a escola; j a incluso o oposto, um

    movimento voltado para o atendimento das necessidades da criana, buscando um currculo

    correto para inclu-la.

  • 33

    Para Mantoan (1997), apud. Voivodic (2004, p. 26), para que a incluso seja

    efetivada, so necessrias mudanas de paradigmas sociais de forma a propiciar um ensino de

    qualidade para todos. Isso significa que todos devem participar das atividades desenvolvidas

    na escola. Trata-se de uma reestruturao da cultura, da prtica e das polticas, no ambiente

    escolar, de modo que respondam diversidade do aluno.

    Sabe-se, no entanto, que o maior desafio da educao, na atualidade, est no acesso

    de todos os alunos educao bsica de qualidade, por meio da incluso educacional,

    respeitando-se as diferenas culturais, sociais e individuais, que configuram a base das

    necessidades humanas e, especificamente, das educacionais. De modo que a ideia de incluso

    se constri a partir de outro paradigma educacional que rompe com a segregao e

    institucionaliza a diversidade no espao escolar. Para tanto, entram em cena os processos

    organizativos mundiais, dos quais citam-se duas referncias fundamentais:

    A Conferncia Mundial sobre Necessidades Bsicas de aprendizagem, aprovada em

    Jomtien/Tailndia em 1990;

    A Conferncia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em

    Salamanca (1994), que recomenda que [...] a escola deve incluir a todos,

    reconhecendo a diversidade, e precisa atender s necessidades de cada um,

    promovendo sua aprendizagem.

    Baseando-se nesses documentos, os pases adotaram, em sua legislao, os princpios

    ateno e valorizao das diferenas. Essa concepo de educao rompe com as polticas

    de fortalecimento das estruturas segregadoras de classes e escolas especiais que, baseando-se

    no modelo de integrao, do nfase ao dficit do aluno e a sua capacidade de adaptao e

    assimilao e defendem que, nos diferentes pases, a educao bsica teria como foco o

    desenvolvimento de habilidades e competncias, numa lgica das necessidades bsicas de

    aprendizagem.

    O princpio democrtico da educao para todos s se evidencia nos sistemas

    educacionais que se especializam em todos os alunos, no apenas nos portadores de

    deficincia. A incluso, como consequncia de um ensino de qualidade para todos os alunos,

    provoca e exige da escola brasileira novas prticas, novos posicionamentos e mais um

    motivo para que o ensino seja de qualidade, e os professores aperfeioem as suas prticas

    metodolgicas, que devem estar voltadas as aprendizagens significativas. uma inovao que

  • 34

    implica um esforo de atualizao e reestruturao das condies atuais da maioria de nossas

    escolas bsicas.

    O que sustenta a luta pela incluso, como uma nova perspectiva para as pessoas com

    deficincia, , sem dvida, a qualidade de ensino nas escolas, sejam pblicas ou privadas, de

    modo que se tornem aptas a responder s necessidades de cada um de seus alunos, sobretudo,

    de acordo com suas especificidades, sem se envolver nas teias da excluso.

    O sucesso da incluso de alunos com deficincia na escola regular decorre, portanto,

    das possibilidades de se conseguirem progressos significativos desses alunos na escola, por

    meio da adequao das prticas pedaggicas s diversidades dos aprendizes. E s se consegue

    atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos no

    so apenas deles, mas de todos da escola, pois grande parte dos resultados advm do modo

    como o ensino ministrado, e a aprendizagem concebida e avaliada. Por essa razo,

    importante refletir sobre a incluso, uma vez que no apenas os deficientes so excludos, mas

    tambm os denominados pobres, negros, ndios, ciganos e outros, excludos por motivos de

    etnia e religiosidade dos diversos grupos sociais.

    As Polticas Educacionais, no decorrer dos tempos, foram formuladas e fomentadas

    com o intuito de se promover a incluso dos que se encontram marginalizados da sociedade:

    A Conferncia Mundial sobre Necessidades Bsicas de aprendizagem, aprovada em

    Jomtien/Tailndia em 1990, indica que cada pessoa, seja, criana, jovem ou adulto, deve estar

    em condies de aproveitar as oportunidades educacionais voltadas para satisfazer s suas

    necessidades bsicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto os

    instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expresso oral, o

    clculo, a soluo de problemas), quanto os contedos bsicos da aprendizagem (como

    conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessrios para que as pessoas possam

    sobreviver e desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade,

    participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decises

    fundamentadas e continuar aprendendo. A amplitude dessas necessidades bsicas de

    aprendizagem e a maneira de satisfaz-las variam segundo cada pas e cada cultura, e,

    inevitavelmente, mudam com o decorrer do tempo, concretizando a Educao para todos e

    todas.

    Declarao de Salamanca (UNESCO 1994): apresenta trs referncias ideia de

    flexibilidade curricular. Esse documento sugere e defende que as instituies educacionais se

    tornem mais flexveis e adaptadas para atender s diversas deficincias das crianas e indica a

    adaptao do currculo ao aluno, e no, o aluno ao sistema educacional. Tal adaptao implica

  • 35

    que as escolas proporcionem oportunidades curriculares para as crianas com habilidades e

    interesses diferentes. Como estratgia de flexibilidade curricular, aparecem algumas

    propostas, tais como promover a ajuda entre crianas, diversificar o planejamento propondo

    alternativas diversas relativas aprendizagem, oferecer suporte para as dificuldades

    apresentadas pelos alunos e desenvolver a interao da famlia com a escola. O documento

    proclama que toda criana tem o direito fundamental educao e lhe deve ser dada a

    oportunidade de atingir e manter o nvel adequado de aprendizagem, respeitando-se as

    caractersticas, os interesses, as habilidades e as necessidades de aprendizagem que so

    nicas, respeitando-se a diversidade.

    As instituies educacionais devem primar por uma Pedagogia centrada na criana,

    que seja capaz de satisfazer s necessidades dos alunos - com ou sem deficincia - e que as

    escolas regulares possam atuar com orientao inclusiva e constituir os meios mais eficazes

    para combater atitudes discriminatrias, rumo sociedade inclusiva e alcanando a educao

    de todos.

    3.2As Polticas de Incluso no Brasil e os desafios da Escola Pblica

    Para melhor compreenso das questes atuais relativas s polticas educacionais de

    incluso, fazemos um breve resgate do contexto histrico brasileiro. Tendo em vista que o

    Brasil no fugiu ao paradigma da escala mundial em busca de polticas para que possam

    efetivar a incluso de todos no meio social, a Educao Especial iniciou-se em instituies

    especializadas, cujos alunos ficavam segregados do convvio com pessoas normais.

    Desde o perodo colonial, a educao brasileira vem sofrendo com o processo

    excludente e segregacionista, principalmente a educao das pessoas com deficincia. A

    educao era voltada para a elite da sociedade, logo, as classes populares e os deficientes

    faziam parte dos grupos excludos do processo formal de ensino.

    A educao especial aparece no Brasil apenas no final do Sculo XVIII e incio do

    Sculo XIX, sob a influncia do liberalismo, que fundamenta a garantia de direitos para todos

    os cidados, conforme explcito na Constituio de 1824, no art. 179:

    [...] garantindo os direitos Civis e Polticos dos cidados brasileiros- A

    inviolabilidade dos Direitos Civis dos cidados [...] a instruo primria [e gratuita a todos os cidados. Colgios e Universidades onde sero ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Artes e Artes. (BARBOSA.

    2006, p. 18 apud ARAJO JNIOR, 2007, p. 18)

  • 36

    A criao de escolas de Primeiras Letras ocorreu atravs da Lei Orgnica, em 15 de

    outubro de 1827. Tinha como metodologia o Lancaster-Bell4 e objetivava atender tanto os

    alunos mais adiantados quanto os mais atrasados:

    A proposta pedaggica prevista em lei era de que se usasse o Lancaster-Bell,

    o ensino de alunos mais adiantados aos mais atrasados, o que demonstrava a

    sua fragilidade: anteriormente, nas discusses da Assemblia e

    posteriormente comprovada pelos relatrios dos ministros, ficara a patente o

    conhecimento das dificuldades de serem encontrados professores que

    dominassem o contedo. (PANTUZZO e COUTO, 2006, p. 7).

    A Lei de 15 de outubro de 1827 garantia a abertura da Escola de Primeiras Letras, que

    funcionava com um carter mais sofisticado para a poca, pois, alm de lecionar leitura,

    escrita e contas, ensinava a prtica de quebrados, decimais e propores, noes gerais de

    geometria prtica e a gramtica de lngua nacional, sem esquecer os princpios da moral e da

    doutrina da religio catlica apostlica romana (XAVIER, 1980, p. 41-42 apud JANNUZZI,

    2006, p. 7). No foi possvel validar essa lei, devido falta de profissionais capacitados para

    atender s propostas. Mas, no ano de 1834, foi publicado o Ato Adicional, que

    responsabilizava as provncias pelo ensino primrio, bem como pela formao dos professores

    que deveriam atender s devidas necessidades.

    No entanto, a Lei que criava as Escolas de Primeiras Letras no pde ser efetivada

    com sucesso, pois a educao fundamental no ocorria de maneira eficaz para as crianas que

    no tinham deficincia e se agravava ainda mais, no que se refere s com deficincia, pois

    elas no frequentavam a escola pblica. A educao dos deficientes iniciou em instituies

    privadas, de maneira segregacionista, pois a sociedade, alm de rotul-las como incapazes de

    aprender, tambm as caracterizava como perigosas, pois colocavam em risco as pessoas tidas

    normais. Logo, desde ento, j se protegia juridicamente do adulto deficiente na

    Constituio de 1824 (Ttulo 11, artigo 8, item 1), privando do direito poltico o

    incapacitado fsico ou moral (JANNUZZI, 2006 p. 8).

    A sociedade no cobrava um atendimento socioeducacional para os deficientes nem

    achava que fosse vivel sua participao, o que os colocava s margens do contexto social,

    permanecendo na obscuridade e na negligncia de seus direitos como cidados.

    4 Mtodo pedaggico formulado nos ltimos anos do Sculo XVIII pelo ingls Joseph Lacaster (1778-1838),

    tinha mtodo de ensino oral, no uso refinado e constante repetio e, principalmente, na memorizao porque

    acreditava que essa inibia a preguia, a ociosidade e aumentava o desejo pelos estudos.

  • 37

    Durante um longo perodo da histria, constituam-se leis e normas voltadas para o

    atendimento do deficiente, mas no eram efetivadas por falta de capacitao profissional e,

    principalmente, por interesses sociais:

    A partir do deputado Cornlio Frana que se comea a pensar em uma

    educao voltada para os deficientes. Esse projeto tinha como proposta a

    criao do cargo de professor de primeiras letras para o ensino de surdos e

    mudos, mas infelizmente o projeto foi arquivado. Portanto, a educao

    direcionada a essa clientela permaneceu sem rumo. Entre o perodo de 1838

    a 1846 foram criadas no Rio de Janeiro, Bahia, Par, Cear e So Paulo,

    escolas normais, tendo como funo a formao de professores, mas, devido

    a falta de estrutura e precariedade dessas escolas as mesmas tornaram-se

    ineficazes para formar professores para a grande demanda da populao,

    ainda mais para a educao dos deficientes. (ARAJO JNIOR, 2007, p.

    19).

    Mais uma vez, as tentativas foram frustradas, e quem sofria com essas frustraes

    eram os deficientes, por no terem o direito sequer de constituir sua identidade, continuando

    no anonimato e na segregao.

    Apenas no ano de 1854 que foi criada a primeira escola especial para deficientes,

    atravs do Decreto Imperial n 1.428, de 12 de setembro de 1854, quando Sua Majestade

    imperial, D. Pedro II, fundou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, inaugurado em 17 de

    setembro de 1854. Essa conquista foi efetivada atravs da contribuio de Jos lvares de

    Azevedo, que era deficiente e tinha estudado no Instituto Real dos Jovens Cegos, em Paris, e,

    voltou ao Brasil, no ano de 1850, com o objetivo de criar uma escola que empregasse o

    mtodo que aprendeu no instituto, desenvolvido por Louis Braille. Atravs de suas

    experincias, ele escreveu e publicou na imprensa artigos indicando as possibilidades e as

    condies para que as pessoas cegas pudessem estudar e ter autonomia para ler e escrever. A

    primeira pessoa cega a quem ele ensinou o sistema em Braille foi Adlia Sigaud, filha do Dr.

    Francisco Xavier Sigaud. Atravs dessa experincia, o Dr. Francisco Xavier Sigaud teve uma

    entrevista com o Imperador D. Pedro II, que autorizou a criao de uma escola para cegos,

    que ficou sob a administrao de Dr. Francisco Xavier Sigaud e Jos lvares de Azevedo.

    Depois que foi inaugurado, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a ser

    denominado de Instituto Nacional dos Cegos, atravs do Decreto n 408, e, em 24 de janeiro

    de 1891, pelo Decreto n 1.320, mudou a nomenclatura para Instituto Benjamin Constant

    (IBC). Alguns alunos se beneficiaram, pois tiveram a oportunidade de ser professores no

    instituto:

  • 38

    O IBC dava a seus alunos a responsabilidade de serem repetidores, e aps o exerccio de dois anos nessa funo, o direito de trabalharem como

    professores da instituio. Havia at ento certa proteo do aluno

    considerado apto para a funo, pois mesmo quando completo o nmero de

    repetidores o governo poderia manter o aluno com respectivo vencimento. Embora o trabalho ficasse restrito aos muros do instituto, nota-se a

    preocupao de garantir aos alunos um posto de trabalho. (JANNUZZI, 2006

    p. 12).

    Mesmo com o auxlio financeiro prestado aos repetidores, esse benefcio no

    atende a todos os deficientes nem ultrapassa os muros do instituto, o que refora, ainda mais,

    a existncia da excluso social nesse perodo histrico.

    No que se refere educao de surdos, no Brasil, tambm foi iniciada com a deciso

    do Imperador D. Joo II, em 26 de setembro de 1857, com a aprovao da Lei n 939, que

    validava o funcionamento do Instituto dos Surdos-mudos, sob a administrao de Edward

    Huet, em cujo trabalho pedaggico era desenvolvida a Lngua de Sinais5. Cem anos depois,

    passou a ser chamado de Instituto Nacional de Educao de Surdos (INES). A proposta

    curricular envolvia as disciplinas de Portugus, Aritmtica, Histria, Geografia, Linguagem

    Articulada e Leitura sobre lbios.

    No ano de 1862, Edward Huet passou a administrao para o Dr. Manuel de

    Magalhes Couto, cuja administrao no foi eficaz, pois ele no era especialista em surdez e

    no deu continuidade ao trabalho que j estava sendo desenvolvido em prol da aprendizagem

    dos surdos. Assim, a instituio foi caracterizada, em 1868, por uma inspeo do governo,

    como asilo de surdos, por no ter um acompanhamento pedaggico. o que confirma Vilela

    (2005)6:

    Em 1862 Huet deixou o Instituto por problemas pessoais, sendo o seu cargo

    de diretor ocupado por Fr. Manuel de Magalhes Couto, que no era

    especialista em surdez e consequentemente deixou de realizar o treino da

    fala e leitura de lbios no Instituto. Por esse motivo, aps uma inspeo

    governamental, em 1868 o Instituto foi considerado um asilo de surdos. Com

    isso o cargo do diretor passou a ser ocupado por Tobias Leite que foi

    estabelecida obrigatoriamente a aprendizagem da leitura articulada e da

    leitura dos lbios. Em 1889 o governo determinou que, a leitura dos lbios e

    a linguagem articulada deveriam ser ensinadas apenas para aqueles que

    apresentassem um bom aproveitamento sem prejudicar a escrita.

    5Diante de tantas dificuldades no processo de incluso, apenas no Sculo XXI, em 24 de abril de 2002, foi

    sancionada a Lei 10.436, que conhece a Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como um meio legal de

    comunicao e