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ARREPENDIMENTO POSTERIOR 1 ARREPENDIMENTO POSTERIOR EM DELTA ELISA MOREIRA CAETANO Delegada de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Especialista em Ciências Penais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG). Bacharela em Direito pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC/RJ). Professora de Direitos Humanos da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Professora Convidada de Legislação Penal Especial na Academia de Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Professora de Direito Administrativo do Curso CEI - Círculo de Estudos pela Internet. Professor da Pós-graduação em Ciências Criminais da FANCOPAR/PR. Professora do Supremo TV. Cofundadora do Canal EM DELTA. MURILLO RIBEIRO DE LIMA Delegado de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Especialista em CQB pela Tactical Explosive Entry School. Especializando em Ciências Criminais pela Universidade Estácio de Sá (UNESA). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR). Professor Convidado da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Professor de Direito Administrativo do Curso CEI - Círculo de Estudos pela Internet. Professor da Pós-graduação em Ciências Criminais da FANCOPAR/PR. Professor do Supremo TV. Cofundador do Canal EM DELTA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR Art. 16, CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços)”.

Arrependimento Posterior Em Delta

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ARREPENDIMENTO POSTERIOR

EM DELTA

ELISA MOREIRA CAETANO

Delegada de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Especialista em Ciências Penais

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG). Bacharela em Direito pelo

Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC/RJ). Professora de Direitos

Humanos da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Professora

Convidada de Legislação Penal Especial na Academia de Polícia Militar do Estado de

Minas Gerais. Professora de Direito Administrativo do Curso CEI - Círculo de Estudos

pela Internet. Professor da Pós-graduação em Ciências Criminais da FANCOPAR/PR.

Professora do Supremo TV. Cofundadora do Canal EM DELTA.

MURILLO RIBEIRO DE LIMA

Delegado de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. Especialista em CQB pela Tactical

Explosive Entry School. Especializando em Ciências Criminais pela Universidade Estácio

de Sá (UNESA). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR).

Professor Convidado da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Professor de

Direito Administrativo do Curso CEI - Círculo de Estudos pela Internet. Professor da

Pós-graduação em Ciências Criminais da FANCOPAR/PR. Professor do Supremo TV.

Cofundador do Canal EM DELTA.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Art. 16, CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,

reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa,

por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços)”.

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Primeiramente, deve-se dizer que a opção legislativa

por inserir o arrependimento posterior no campo da teoria

do crime foi equivocada, tendo em vista que não altera a

adequação típica do fato concreto. O instituto tem

relevância, portanto, no âmbito da teoria da pena, por

interferir na dosimetria da mesma.

Arrependimento posterior é a causa pessoal e obrigatória de diminuição de pena

que ocorre nas hipóteses em que o agente criminoso restitui a coisa ou repara o dano

provocado por sua conduta, desde que em crimes praticados sem violência à pessoa

ou grave ameaça, de forma voluntária e até o recebimento da denúncia ou queixa. É a

“ponte de prata” oferecida pelo Direito Penal ao agente.

ATENÇÃO!

No iter criminis, o arrependimento posterior está entre a consumação do crime

e o recebimento da denúncia ou queixa.

VAI CAIR!

P: Qual a natureza jurídica do arrependimento posterior?

R: Trata-se de CAUSA PESSOAL E OBRIGATÓRIA DE DIMINUIÇÃO DE PENA que ocorre

com o cumprimento de alguns requisitos relativos à natureza do crime, à reparação do

dano ou restituição da coisa e ao limite temporal.

REQUISITOS:

Natureza do crime O crime em análise deve ter sido praticado

necessariamente sem violência ou grave ameaça à pessoa. Significa dizer que não

cabe arrependimento posterior em crime cometido com violência ou grave ameaça à

pessoa! Já a violência contra a coisa encampa o benefício. Cabe arrependimento

posterior na violência culposa, uma vez que a violência ocorreu no resultado, não na

conduta. Neste raciocínio, quanto à violência imprópria, parece-nos que a corrente

mais acertada é a que defende que não cabe arrependimento posterior, já que

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violência imprópria é violência dolosa, na qual a vítima não

consegue oferecer resistência.

Reparação do dano ou restituição da coisa Tal

reparação ou restituição deve ser voluntária, pessoal e

integral. Voluntária, porque deve ser realizada sem a

incidência de coação física ou moral (não significa necessariamente ser espontânea,

podendo acompanhar sugestão, orientação ou conselho de terceiro, desde que de

forma livre). Pessoal, porque deve ser feita diretamente pelo autor do crime (exceção:

hipóteses de comprovada impossibilidade, como agente preso ou internado em

hospital. Nestes casos, outra pessoa o representa e procede à reparação do dano ou à

restituição da coisa). Integral, porque a reparação ou restituição deve se amoldar ao

conceito trazido pelo art. 16, CP, sendo a integralidade constatada principalmente pela

vítima, no caso concreto (ATENÇÃO! No entanto, conforme HC 98.658/PR, 1ª Turma, j.

09.11.2010, Informativo 608 o STF admitiu o arrependimento posterior em caso de

reparação parcial do dano, sendo que o quantum de diminuição da pena seria

verificado de acordo com a extensão da reparação e da prontidão em sua ocorrência).

Observações:

São dois os critérios para o cálculo da fixação da pena: celeridade e

voluntariedade. Significa dizer que quanto mais rápida e mais sincera for a reparação

do dano ou a restituição da coisa, maior será a diminuição da pena.

O agente não poderá ser prejudicado caso preencha os requisitos legais que

autorizam a concessão do benefício e a vítima se recuse a aceitar a reparação do dano

ou a restituição da coisa. Neste caso, a coisa deve ser entregue à Autoridade Policial,

que deve lavrar auto de apreensão e remetê-la ao juízo competente, que fará a

tentativa de devolvê-la à vítima. Alternativa é o depósito em juízo (determina-se em

ação de consignação em pagamento).

O arrependimento posterior comunica-se no concurso de pessoas pelo fato de

que tanto a reparação do dano quanto a restituição da coisa apresentam caráter

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objetivo. Caso esta reparação ou restituição por um dos

agentes inviabilize a mesma atuação por parte dos outros

envolvidos, o benefício será estendido a todos.

Observância ao limite temporal O limite para a

reparação do dano ou restituição da coisa é o recebimento da

denúncia ou queixa (e não o oferecimento, atenção!), ou seja, o juízo de

admissibilidade da petição inicial apresentada. Caso a reparação do dano seja feita

após o recebimento da denúncia ou queixa, mas antes do julgamento, tratar-se-á da

atenuante genérica do art. 65, III, b, parte final, CP (“... ou ter, antes do julgamento,

reparado o dano.”).

Observações:

- No peculato culposo (art. 312, §3º, CP), a regra do art. 16, CP é afastada. Assim,

se a reparação do dano ocorre antes da sentença irrecorrível, extingue-se a

punibilidade (1ª parte); se após a sentença irrecorrível, é causa de diminuição de pena

(2ª parte).

- Quanto aos juizados especiais, em se tratando de crimes de ação penal pública

condicionada à representação ou de ação penal privada, se houver a composição dos

danos civis entre autor e ofendido haverá renúncia ao direito de representação ou

queixa, extinguindo-se a punibilidade (art. 74, p. único, Lei nº 9.099/95).

- STF, Súmula 554: “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,

após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”. Ou

seja: o pagamento de cheque sem provisão de fundos até o recebimento da denúncia

impede o prosseguimento da ação penal. A jurisprudência dominante entende que

esta não é hipótese de arrependimento posterior, mas de falta de justa causa para a

denúncia. (Em tempo: o STJ limita a súmula ao crime de estelionato na modalidade

“emissão de cheque sem fundos” – art. 171, §2º, VI, CP. No entanto, vale ressaltar que

o próprio STJ já entendeu que o pagamento da dívida da emissão dolosa de cheque

sem fundos tem como consequência a extinção da punibilidade mesmo que se dê após

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o recebimento da denúncia ou da queixa – HC 93.893/SP, rel.

Min. Nilson Naves, 6ª Turma, j. 20.05.2008).