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ARTE 21 Surrealismo Introdução O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido prima- riamente em Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo e posteriormente expandido para outros países. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na ati- vidade criativa. Seus representantes mais conhecidos são Max Ernst, René Magritte e Salvador Dali. As características deste estilo: uma combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência co- tidiana, expressando o inconsciente e os sonhos. O principal teórico e líder do movimento é o poeta, escritor, crítico e psiquiatra francês André Breton (1896- 1966), que em 1924 publica o primeiro Manifesto Surrealista. No manifesto e nos textos teóricos posteriores, os surrealistas rejeitam a cha- mada ditadura da razão e os valores burgueses como pátria, família, religião, trabalho e honra. Humor, sonho e a contra-lógica são recursos a serem utiliza- dos para libertar o homem da existência utilitária. Segundo a nova ordem, as ideias de bom gosto e decoro devem ser subvertidas. Neste sentido, o Surrealis- mo aproximava-se daquelas que eram chamadas de vanguardas positivas, como o neoplasticismo e a Bauhaus, chegando inclusive a dialogar com o movimento comunista. No entanto, pela sua proposta estética, está mais próximo das van- guardas negativas, como o supracitado dadá, de onde surgiu parcialmente. Uma das principais ideias trabalhadas pelos surrealistas é a da escrita automá- tica, segundo a qual o impulso criativo artístico se dá através do fluxo de consci- ência despejado sobre a obra. Ainda segundo esta ideia, a arte não é produto de gênios, mas de cidadãos comuns Artes plásticas Foi através da pintura que as idéias do surrealismo foram melhor expressadas. Através da tela e das tintas, os artistas plásticos colocam suas emoções, seu in- consciente e representavam o mundo concreto. O movimento artístico dividiu-se em duas correntes. A primeira, represen- tada principalmente por Salvador Dalí, trabalha com a distorção e justaposição de imagens conhecidas. Sua obra mais conhecida neste estilo é A Persistência da Memória. Nesta obra, aparecem relógios desenhados de tal forma que parecem estar derretendo. O célebre elefante, Max Enrst - 1921 Wikimedia Commons

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ARTE

21

Surrealismo

Introdução

O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido prima-riamente em Paris dos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a defi nir o modernismo, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo e posteriormente expandido para outros países. Fortemente infl uenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na ati-vidade criativa. Seus representantes mais conhecidos são Max Ernst, René Magritte e Salvador Dali.

As características deste estilo: uma combinação do representativo, do abstrato, e do psicológico. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência co-tidiana, expressando o inconsciente e os sonhos. O principal teórico e líder do movimento é o poeta, escritor, crítico e psiquiatra francês André Breton (1896-1966), que em 1924 publica o primeiro Manifesto Surrealista.

No manifesto e nos textos teóricos posteriores, os surrealistas rejeitam a cha-mada ditadura da razão e os valores burgueses como pátria, família, religião, trabalho e honra. Humor, sonho e a contra-lógica são recursos a serem utiliza-dos para libertar o homem da existência utilitária. Segundo a nova ordem, as ideias de bom gosto e decoro devem ser subvertidas. Neste sentido, o Surrealis-mo aproximava-se daquelas que eram chamadas de vanguardas positivas, como o neoplasticismo e a Bauhaus, chegando inclusive a dialogar com o movimento comunista. No entanto, pela sua proposta estética, está mais próximo das van-guardas negativas, como o supracitado dadá, de onde surgiu parcialmente.

Uma das principais ideias trabalhadas pelos surrealistas é a da escrita automá-tica, segundo a qual o impulso criativo artístico se dá através do fl uxo de consci-ência despejado sobre a obra. Ainda segundo esta ideia, a arte não é produto de gênios, mas de cidadãos comuns

Artes plásticas

Foi através da pintura que as idéias do surrealismo foram melhor expressadas. Através da tela e das tintas, os artistas plásticos colocam suas emoções, seu in-consciente e representavam o mundo concreto.

O movimento artístico dividiu-se em duas correntes. A primeira, represen-tada principalmente por Salvador Dalí, trabalha com a distorção e justaposição de imagens conhecidas. Sua obra mais conhecida neste estilo é A Persistência da Memória. Nesta obra, aparecem relógios desenhados de tal forma que parecem estar derretendo.

O célebre elefante, Max Enrst - 1921

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Os artistas da segunda corrente libertam a mente e dão vazão ao incons-ciente, sem nenhum controle da razão. Joan Miró e Max Ernst representam muito bem esta corrente. As telas saem com formas curvas, linhas fluidas e com muitas cores. O Carnaval de Arlequim e A Cantora Melancólica, são duas pinturas de Miró que representam muito bem esta vertente do surre-alismo.

Literatura

O romance e a poesia em estilos tradicionais que representavam os valo-res sociais da burguesia são rejeitados e textos marcados pela livre associa-ção de ideias, frases montadas com palavras recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e ideias do inconsciente tomam a preferência dos escri-tores desta tendência. Alguns representantes conhecidos do surrealismo na literatura são: o poeta Paul Éluard, autor de Capital da dor e André Breton, autor de O amor louco, Nadja e Os vasos comunicantes.

Cinema

No cinema, as tradições também são rompidas e a preocupação maior dos cineastas passa a ser o enredo do filme. Também, como na literatura, os ideais da burguesia são combatidos e os desejos não racionais afloram. Os filmes Um Cão Andaluz (1928) e L’Âge D’Or (1930) de Luiz Bruñuel em parceria com Salvador Dali, representam bem a tendência surrealista no ci-nema.

Teatro

Por meio de seu teatro da crueldade, o dramaturgo francês An-tonin Artaud pode ser considerado o maior representante do sur-realismo no teatro. Buscando despertar o inconsciente da plateia a libertando das regras sociais impostas, Artaud buscava unir palco e plateia, durante a realização das peças. Técnica esta apresentada no livro O Teatro e seu duplo.

Os Cenci, história de uma família italiana durante a fase do Re-nascimento, é uma das suas obras mais conhecidas.

O surrealismo, nas décadas de 1940 e 1950, influenciaram o te-atro do absurdo.

Tarsila do Amaral, auto-retrato

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SURREALISMO NO BRASIL

No Brasil, foi na década de 1930 que as ideias do surrealismo foram ex-ploradas pelo movimento modernista. Nas pinturas Nu e Abaporu de Ismael Nery e da artista Tarsila do Amaral respectivamente, observamos caracte-rísticas surrealistas, bem como nas obras Eu Vi o Mundo e Ele Começava no Recife, do artista pernambucano Cícero Dias. Também nas esculturas de Maria Martins, percebemos características deste movimento.

Principais artistas

Salvador Dali - é, sem dúvida, o mais conhecido dos artistas surrealistas. Estudou em Barcelona e depois em Madri, na Academia de San Fernando. Nessa época teve oportunidade de conhecer Lorca e Buñuel. Suas primeiras obras são influenciadas pelo cubismo de Gris e pela pintura metafísica de Giorgio De Chirico. Finalmente aderiu ao surrealismo, junto com seu amigo Luis Buñuel, cineasta. Em 1924 o pintor foi expulso da Academia e começou a se interessar pela psicanálise de Freud, de grande importância ao longo de toda a sua obra. Sua primeira viagem a Paris em 1927 foi fundamental para sua carreira. Fez amizade com Picasso e Breton e se entusiasmou com a obra de Tanguy e o maneirista Arcimboldo. O filme O Cão Andaluz, que fez com Buñuel, data de 1929. Ele criou o conceito de “paranóia critica“ para referir-se à atitude de quem recusa a lógica que rege a vida comum das pessoas .Segundo ele, é preciso “contribuir para o total descrédito da realidade”. No final dos anos 30 foi várias vezes para a Itália a fim de estudar os grandes mestres. Instalou seu ateliê em Roma, embora continuasse viajando. Depois de conhecer em Londres Sigmund Freud, fez uma viagem para a América, onde publicou sua biografia A Vida Secreta de Salvador Dali (1942). Ao vol-tar, se estabeleceu definitivamente em Port Lligat com Gala, sua mulher, ex-mulher do poeta e amigo Paul Éluard. Desde 1970 até sua morte dedicou-se ao desenho e à construção de seu museu. Além da pintura ele desenvolveu esculturas e desenho de jóias e móveis.

Joan Miró - iniciou sua formação como pintor na escola de La Lonja, em Barcelona. Em 1912 entrou para a escola de arte de Francisco Gali, onde conheceu a obra dos impressionistas e fauvistas franceses. Nessa época, fez amizade com Picabia e pouco depois com Picasso e seus amigos cubistas, em cujo grupo militou durante algum tempo. Em 1920 Miró instalou-se em Pa-ris (embora no verão voltasse para Montroig), onde se formara um grupo de amigos pintores, entre os quais estavam Masson, Leiris, Artaud e Lial. Dois anos depois adquiriu forma La masía, obra fundamental em seu desenvolvi-

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mento estilístico posterior e na qual Miró demonstrou uma grande precisão gráfica. A partir daí sua pintura mudou radicalmente. Breton falava dela como o máximo do surrealismo e se permitiu destacar o artista como um dos grandes gênios solitários do século XX e da história da arte. A famosa magia de Miró se manifesta nessas telas de traços nítidos e formas sinceras na apa-rência, mas difíceis de serem elucidadas, embora se apresentem de forma amistosa ao observador. Miró também se dedicou à cerâmica e à escultura, nas quais extravasou suas inquietações pictóricas.

Fonte: http://www.historiadaarte.com.br/surrealismo.html - Acesso em dezembro de 2008.