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ARTES em PARTES Ano: 1 // Nº: 1 //Sábado, 18 de Dez de 2010 Preço: 1 euro // Director: Mariana Catarino Jornal Cultural De Pontas Pelos Bastidores Lomografia: um afastamento do convencional Conhecidos pela confusão, ambiente frenético e stressante e de ritmo acelerado, os bastidores revelam-se portos de abrigo em cada espectáculo. Anabela: “O mais importante é sermos verdadeiros, genuínos e não usar uma máscara” Anabela Bras Pires sempre foi vista como uma menina. Com 16 anos participou no Festival da Eurovisão da Canção e é este importante marco que alterou a sua carreira. Em 2010 lan- çou um novo CD, “um tributo a grandes intér- pretes”, como a própria afirma. Com 25 anos de carreira, Anabela demonstra uma nova face da “menina”. A mulher menina, de voz doce fala da sua vida, do seu sonho e das suas oportunidades. Harry Potter: O Negro Princípio do Fim Criada em plena Guerra Fria, a Lomografia tem vindo a desenvolver-se em todo o mundo. Esta nova forma artística de fotografar possui já bastantes praticantes em Portugal. São peque- nas máquinas, coloridas, pequenas, práticas e com lentes fora do convencional. Com duas embaixadas em Lisboa e no Porto a lomogra- fia tem feito as delícias de muits fotógrafos, quer amadores, quer profissionais. No Porto e em Lisboa são vários os workshops, pro- gramas e exposições desta arte sem regras. Dez anos após o primeiro “Harry Potter”, J. K. Rowling trás ao cinema um filme mais as- sustador. O filme “Harry Potter e os Talismãs da Morte” é a primeira parte do sétimo livro de Rowling. À conversa com o Artes em Partes, vários fãs da escrita de J. K. Rowling e dos actores Dan- iel Radcliffe falam do que mais os fascina no mundo da fantasia de Hogwards. A grande novidades dos dois últimos filmes do Harry Potter é o facto de serem ambos lança- dos totalmente em versão 3D, para além da ex- istência de uma versão comum. Foto: Mariana Catarino Foto: DR Foto: Embaixada Lomográfica Foto: DR

Artes em Partes

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Jornal realizado integralmente por Mariana Catarino, desde a paginação, às imagens e conteúdos.

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Page 1: Artes em Partes

ARTES em PARTESAno: 1 // Nº: 1 //Sábado, 18 de Dez de 2010 Preço: 1 euro // Director: Mariana CatarinoJornal Cultural

De Pontas Pelos Bastidores

Lomografia: um afastamento do convencional

Conhecidos pela confusão, ambiente frenético e stressante e de ritmo acelerado, os bastidores revelam-se portos de abrigo em cada espectáculo.

Anabela: “O mais importante é sermos verdadeiros, genuínos e não usar uma máscara”

Anabela Bras Pires sempre foi vista como uma menina. Com 16 anos participou no Festival da Eurovisão da Canção e é este importante marco que alterou a sua carreira. Em 2010 lan-çou um novo CD, “um tributo a grandes intér-pretes”, como a própria afirma. Com 25 anos de carreira, Anabela demonstra uma nova face da “menina”.A mulher menina, de voz doce fala da sua vida, do seu sonho e das suas oportunidades.

Harry Potter: O Negro Princípio do Fim

Criada em plena Guerra Fria, a Lomografia tem vindo a desenvolver-se em todo o mundo. Esta nova forma artística de fotografar possui já bastantes praticantes em Portugal. São peque-nas máquinas, coloridas, pequenas, práticas e com lentes fora do convencional. Com duas embaixadas em Lisboa e no Porto a lomogra-fia tem feito as delícias de muits fotógrafos, quer amadores, quer profissionais. No Porto e em Lisboa são vários os workshops, pro-gramas e exposições desta arte sem regras.

Dez anos após o primeiro “Harry Potter”, J. K. Rowling trás ao cinema um filme mais as-sustador. O filme “Harry Potter e os Talismãs da Morte” é a primeira parte do sétimo livro de Rowling.À conversa com o Artes em Partes, vários fãs da escrita de J. K. Rowling e dos actores Dan-iel Radcliffe falam do que mais os fascina no mundo da fantasia de Hogwards. A grande novidades dos dois últimos filmes do Harry Potter é o facto de serem ambos lança-dos totalmente em versão 3D, para além da ex-istência de uma versão comum.

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Editorial Livro de Cabeceira

“Livro do Desassossego”, Fernando Pessoa"Tudo é o que somos, e tudo será, para os que nos seguirem na diversidade do tempo, conforme nós intensamente o houver-mos imaginado, isto é, o houvermos, com a imaginação metida no corpo, verdadeiramente sido. Não creio que a história seja mais, em seu grande panorama desbotado, que um decurso de interpretações, um consenso confuso de testemunhas dis-traídos."

“O Contrabaixo”, Patrick Süskind “... Vejam só... é assim que as coisas muitas vezes acontecem. O melhor desaparece, porque a roda do tempo se lhe opõe. E esta faz rolar tudo por aí abaixo. É o caso dos nossos clássicos, que, sem dó nem piedade, deita-ram abaixo tudo o que se lhes opunha. Inconscientemente. Acho que não. Os nossos clássicos eram pessoas honestas. Schubert era incapaz de fazer mal a uma mosca e Mozart era às vezes um bocado agreste, mas, por outro lado, uma pessoa de rara sensibilidade e incapaz de qualquer violência. Beethoven quebrou, por exemplo, diversos pianos. Mas nunca um contra-baixo, justiça lhe seja feita. Aliás, ele nunca tocou nenhum contrabaixo.”

“O Amor em Tempos de Cólera”, Gabriel Garcia Márquez “Não se atreveu a virar a cabeça porque estava sentada entre o pai e a tia, e teve de soerguer-se para que eles não se aper-cebessem da sua perturbação. Mas no meio da desordem da saída, sentiu-o tão próximo, tão nítido naquela confusão, que uma força irresistível a obrigou a olhar por cima do ombro ao sair do templo pela nave central e então viu, a dois palmos dos seus ol-hos, os outros olhos de gelo, o rosto pálido, os lábios petrificados pelo susto do amor.”

“Bons sonhos, meu amor”, Dorothy Koomson“Apoiámo-nos um no outro, escorregando, deslizando e tropeçando na in-greme praia dos seixos.Diante de nós o mar. Espumoso e efervescente na sua investida em direcção à praia, borbulhante quando recuava. Tirámos as meias e os sapatos, ficámos um ao lado do outro, com os pés frios, à espera que o mar tentasse engoli-los, para vermos quem aguentava mais, até ter de fugir.O mar afastou-se, mas ele e eu mantivemo-nos firmes, a tremer de frio, com as pernas juntas, rindo por antecipação, à espera que a maré nos reivindicasse.E eis que se aproximou. Sentimos o frémio da ansiedade, mas a água tocou-me e eu corri para trás guinchando de frio. Fui a primeira a ceder. A medricas. Ele deixou-se ficar, deixou que o mar se aproximasse cada vez mais, até os seus pés ficarem completamente imersos na água cinzenta e espumada. O seu rosto contorceu-se com o frio e gritou de felicidade, mas não se moveu. Brincar aos medricas com o mar era a nossa brincadeira favorita. Eu era sempre a primeira a fugir. Ele mantinha-se sempre no seu posto. O menino mais corajoso do mundo.”

“ Um sonho de amor”, Nora Roberts“Achas que és a única que se sente desesperada quando o mundo se desmorona em teu redor? Que tem vontade de puxar os lençóis para cobrir a cabeça, em vez de enfrentar o dia de amanhã?”

“Memórias das Minhas Putas Tristes”, Gabriel García Márquez “Desde então comecei a medir a vida não por anos mas por décadas. A dos cinquenta tinha sido decisiva porque tomei consciência de que quase toda a gente era mais nova do que eu. A dos sessenta foi a mais intensa pela suspeita de que já não tinha tempo para me equivocar. A dos setenta foi terrível por uma certa possibilidade de que fosse a última. Não obstante, quando acordei vivo na primeira manhã dos meus noventa anos na cama feliz de Delgadina, atravessou-me a ideia complacente de que a vida não fosse algo que corre como o rio revolto de Heraclito, mas sim uma ocasião única de dar a volta na grelha e continuar a assar do outro lado durante mais noventa anos.”

Cartoon - O Roubo é a Nova Critividade

José Manuel dos Santos“No verão a praia é dos im-pressionistas e no inverno

é dos românticos.”

Destaques - Opinião Cultural

Yasmina Reza, roteirista, escritora e actriz francesa

“Não acho que o ser humano seja pací-fico. Penso que não evolui desde a idade da pedra e que o verniz social que nos protege da selvajaria é inquietantemente

ténue, está sempre prestes a estalar.

Martin André, Maestro“Penso que a sociedade portuguesa é bastante cultivada. A cidade é belíssima, o modo de vida encantador. Mas se me pergunta porque é que aqui estou, não sei bem. Deve ser por arrogância, por achar

que posso fazer um optimo trabalho.”

José Amaral Lopes, Secretário de Estado da Cultura no Governo de Durão Barroso“Uma das características dos sistemas de financiamento público às actividades cin-ematográficas é a sua ‘independência’ dos

orçamentos do Estado”

// 2 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010 // 3 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Comentário

equenos sonhos resumem-se cada vez mais à sua qualificação: pequenos. Em época de crise e grave conjuntura económica e política, a cultura volta a sof-rer. Escolas de dança e música fecham, as salas dos

espectáculos ficam gradualmente mais vazias e os artistas vêm-se obrigados a “mudar de vida”, como diz Variações. Infelizmente, para um português poder aceder à cultura e até criá-la tem que dispender bastante dinheiro. As aulas de música, dança, pintura e outras artes exigem gastos bastante avultados se estas forem leccionadas por grandes profission-ais. Para assistir a um espectáculo de qualidade, o português comum dispende pelo menos 20 euros. Obviamente, que é possível aceder a eventos culturais bem mais baratos e até gratuitos, mas estes só acontecem porque não existe outra al-ternativa. No início do mês de Dezembro fundou-se a Porta-Jazz, uma associação com músicos de Jazz da cidade do Porto. Com artistas reconhecidos nesta área musical, a Associação

vê-se desprovida de um local para viver. Sem grandes apoi-os estatais que são progres-sivamente mais diminutos, a Porta-Jazz actuou na rua das Galerias Paris de forma a demonstrar o seu potencial. A Associação pretende fidelizar um público mas, com a falta de espaço para actuar, a Por-

ta-Jazz vai começar a actuar em bares. Este é mais um exem-plo de sonhos, de opções profissionais que têm que enfrentar inúmeras barreiras para poderem vincar no nosso país. Em época de crise grande parte dos apoios estatais são cortados e, infelizmente, acabam por ser as Associações, quer de carácter cultural quer de carácter humanitário a sofrer. Em época natalícia, a terceira idade não é privada das suas ha-bituais regalias. Os já conhecidos ‘passeios à Malafaia’ con-tinuam a existir em vários concelhos do país. Os gastos são avultados, mas tudo é importante para os ‘senhores do poder’ obterem mais alguns votos. Para vigésimo nono plano, ficam os pequenos sonhos de crianças, jovens e adultos que pretendem fazer aquilo que mais gostam e construir cultura neste Portugal que tanta falta sente dela. O sonho, como diz Pessoa, é “alcançar os beijos merecidos da verdade”. Para estes pequenos sonhadores, os beijos são gélidos e a verdade adquire um tom negro. Felizmente, a nuvem cinzenta da crise que paira sobre os céus portugueses não retira a criatividade e imaginação do povo lusitano. Diariamente são dadas provas de que existe cri-ação, mas o apoio e a motivação são maioritariamente diminu-tos. Se o Governo português nada faz, cabe a todos os por-tugueses fazê-lo. Se todos criticamos o mau estado do nosso património arquitectónico e da nossa cultura, é a hora de fazer algo por isso! É hora de apoiar as iniciativas culturais, de en-cher auditórios, de aplaudir espectáculos e de colocar sorrisos nas caras dos artistas. Há sempre pequenos grandes sonha-dores.

“Para estes pequenos

sonhadores, os beijos são gélidos e a verdade adquire um tom negro.”

Pequenos Sonhadores, Pequenas Oportunidades

P

José Luís Peixoto, poeta“O Porto chegava-me ao estôma-go à hora certa do entardecer: a tranquilidade seria inquestionável. Todos os poetas da cidade have-riam de ter um acesso súbito de

inspiração.”

Pedro Burmester, pianista“Não toco no Porto. É um modesto protesto contra uma autarquia que despreza a cultura. Rui Rio usa os cortes na Cultura como discurso para ganhar vo-tos. A minha crítica é por não haver estratégia nen-huma para a Cultura, numa cidade que tinha vindo a

apostar e até se fiferencia por aí.

s fotógrafos profissionais têm vindo a falar de um conceito muito recente: a massificação da fotografia. O ad-vento das novas tecnologias trouxe

consigo a máquina fotográfica digital. Os antigos rolos e os negativos foram arrumados nas gavetas e as fotografias pas-saram a ser captadas para cartões de memória. Um disparo passou a ter um peso de apenas alguns megas que com um clique são facil-mente eliminadas. O limite de fotogramas por rolo de fotografias, deixou de ser um problema e um constrangimento e, consequentemente, os gastos monetários também. Alguns fotógrafos denunciam a mas-sificação da fotografia como a principal causa do desemprego na sua área. A câmara digital trouxe consigo amantes da fotografia. E mui-tos! Portanto, o espaço mundial é cada vez

mais fotografado. Boas fotografias vão surgindo e algumas sofrem logo com o botão “delete”. As verdadeiras fo-tografias conseg-uem-se pelo captar de um momento único que só vai fun-

cionar naquela fracção de segundo. Com mais fotógrafos no mundo, alguns deles profission-ais, outros apenas amadores, estes momentos únicos são cada vez mais captados. A esfera que é o nosso planeta começa a caber numa fotografia. A fotografia está na moda e, como todas as modas, é seguida pela maioria das pessoas. O número de pessoas que não possui uma

máquina digital é diminuto, quase inexistente. Aos poucos e poucos, com o uso das máqui-nas fotográficas, agora muito diferentes das “câmaras escuras” como eram inicialmente, os fotógrafos vão aperfeiçoando a sua arte. Aprender com os erros é o denominador comum de todos os fotógrafos, quer iniciantes, quer profissionais. Quanto mais se fotografa, melhor fotógrafo se é. Além disso, a existên-cia de um maior número de fotografias publi-cadas, nomeadamente de boas fotografias, faz os amantes desta arte olharem para elas e aprender, aperfeiçoar e criar arte em cada foto-grama. O jornalismo ganha com a massificação. A fotografia obriga a deslocação do fotojornal-

Disparidade de Disparos

ista, obriga a que este esteja na acção. Os ac-ontecimentos são imprevisíveis, portanto um fotojornalista não consegue adivinhar quando ocorrerá um incêndio, ou uma fuga da prisão. É o cidadão comum que, muitas vezes, faz o tra-balho de um fotojornalista. Com uma máquina perto de si e, no momento certo à hora certa, o fotógrafo amador faz um bom trabalho, sendo apoiado pelas circunstâncias. Os bons fotógrafos serão sempre bons fotógrafos. A arte não é algo que surge de um momento para o outro, só porque a tecnologia evoluiu. Portanto, não há razões para os fotó-grafos se preocuparem. Como diz o português: quem é bom terá sempre um bom lugar.

Mariana Catarino

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“A arte não é algo que surge de um momento para o outro, só porque a tecnologia evoluiu.”

Foto: DR

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// 4// Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Reportagem - Dança // 5 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Reportagem - Dança

De Pontas pelos BastidoresConhecidos pela confusão, ambiente frenético e stressante e de ritmo acelerado, os bastidores revelam-se portos de abrigo em cada espectáculo.

s extensos corredores de cor cinzenta da cara-cterísticos da Casa da Música contrastavam

com as purpurinas, dourados e prateados das bailarinas. Numa Gala de Bailado Jovem promovida pelo Centro de Dança do Porto, dezenas de bailarinos e aspir-antes à profissão, espalharam-se pelas salas conhecidas como o “refugio” de cada bailarino an-tes e após cada espectáculo. Ao ver-dadeiro estilo das estrelas de Hollywood, os espelhos co-brem todas as paredes das salas e, incor-poradas, cinco lâmpadas em forma de globo prateado tor-navam o ambi-ente ainda mais p r o f i s s i o n a l . No ar sentia-se ner-vosismo, ansiedade, felicidade e uma certa curiosidade em cada ol-har das bailarinas. As sabrinas de ballet, também conhecidas como “sapatos de pontas” já se encon-

tram gastas de tanto uso, mas nem isso as deixa de parte. Enquanto o espectáculo não começava os corpos das bailarinas concentram-se. Fazem os últimos alongamen-tos, alguns pliés, voltas, saltos pois, como se ouvia no ar “não há mais nenhuma oportunidade!”. Joana Tojal, ainda não se considera bailarina, mas estuda dança desde os seus três anos de idade. Hoje, dança do Insti-tuto "Alicia Alonso" da Universi-dade Rei Juan Carlos de Madrid e reconhece os bastidores como um local de estado imprevisível.

“Nunca sabemos muito bem como estamos nos bastidores. Se as coisas correrem mal, o ambiente não é nada bom, mas se correrem bem estamos todos felizes e a sorrir”. “ F r e n é t i c a ” é a palavra que Marta Macedo, professora e bailarina de Bal-

let utiliza para descrever a vivência nos camarins. Diz que falta sem-pre “algum pormenor”. Marta dan-ça desde os três anos e diz que esta arte é “indispensável na sua

vida”. Não se consegue recordar nitidamente do ambiente dos bas-tidores, mas lembra que “adorava aquele ambiente, adorava ver os mais velhos a entrar em palco, fi-cava fascinada”, confessa com um brilho nos olhos. Actualmente, como normalmente actua com crianças, revela que a expressão mais utilizada dentro das salas dos bastidores é o típico “Shhh!!!”. Tal como Joana Tojal, Marta diz que o ambiente vai variando mas é com certeza que afirma que “os bas-tidores são um lugar tão mágico como o palco, senão mais ainda”. Pela sala, dezenas de sacos com mil e umas coisas, começavam a dar sinais de ex-cesso de carga. Com o início dos ensaios, os sacos começaram a esvaziar-se. Nos sacos, não se en-contra apenas o necessário para a actu-ação. As baila-rinas têm que contar com tudo e, nos bastidores, os i m p r e v i s t o s são típicos “ e acontecem sem-pre”, afirmam todas elas. Andres-sa Oliveira, de origem brasileira, é bailarina há vários anos. Actual-mente dança em Berlim, mas por ser uma antiga aluna, foi convida-da pelo Centro de Dança do Porto para actuar na Gala de Bailado Jovem. Andressa traz sacos “gi-gantes que vêm com tudo, como forma de precaução para pos-síveis imprevistos”. Neles incluiu uma lista infindável de coisas que possa precisar para o espectáculo, desde vários pares de meias, agul-ha e linha, maquilhagem, sabrinas de pontas suplentes, adereços para o cabelo, cera para tornar o palco menos liso, e muito mais. Os imprevistos, tal como o seu próprio significado indica, não são esperados. O ensaio geral revela-se fundamental para de-tectar algumas falhas. “Pode faltar uma peça de roupa e tenhamos que a ir buscar, ou improvisamos algo”, explica Joana Ferreira que organiza este tipo de even-tos há oito anos pelo Centro de Dança do Porto. Marta, enquanto professora da alunas dos 4 aos 6 anos, deparou-se com um im-previsto bastante caricato. Uma das suas alunas queria subir ao

palco com umas meias roxas da Kitty por cima dos sapatos de pon-tas. “Fez birra”, mas a equipa de produção conseguiu convencê-la”, explica a bailarina e professora de ballet. O certo, é que a menina conseguiu o que queria e, “quan-do a menina entrou para o palco ia outra vez com as meias roxas calçadas e ninguém percebeu como. Obviamente que depois de ela estar no palco já não se pode fazer nada por isso, toda a gente põe as mãos na cabeça e pergun-ta ‘como é que isto aconteceu?’ “ A cumplicidade entre as bailarinas é notória. Conhecem os seus estilos, limitações, bons movimentos, personalidades e rit-uais antes de cada espectáculo. Os rituais traduzem-se em amule-tos da sorte e hábitos de concen-

tração que, tal como Andreza explica “são manias dos bailarinos que acreditam que podem trazer alguma sorte e que confortam

o nervosismo de entrar no palco”. Para a bailarina brasileira, a sua “frescura”, como a própria diz, é uma rotina de concentração. Ex-plica que quando se maquilha tem de estar concentrada “Não gosto que as pessoas me interrompam, nem de falar com ninguém. Gosto de ficar sozinha, no meu canto, e é esse mesmo o meu processo de concentração para depois subir ao palco”. Para a bailarina brasileira, a sua “frescura”, como a própria diz, é uma rotina de concentração. Ex-plica que quando se maquilha tem de estar concentrada “Não gosto que as pessoas me interrompam, nem de falar com ninguém. Gosto de ficar sozinha, no meu canto, e é esse mesmo o meu proces-so de concentração para depois subir ao palco”. Com vários anos de prática na arte do ballet, mui-

tos espectáculos e um grande à von-tade entre todas, conhecem os seus hábitos. Joana To-jal perguntava a

uma colega se era ela que estava ao seu lado no camarim, porque conheceu o típico e usual perfume de morango que a colega usa em cada espectáculo. O ritual de Marta Macedo não se centra nela própria, mas na ajuda às suas co-

legas, “gosto de pentear, maquil-har, ajudar a vestir toda a gente enquanto ainda estou com a roupa de aquecimento e só depois é que me dedico a mim, com muita calma, devagarinho. Acho que é mesmo o único momento no espectáculo em que estou, de facto, tranquila”. A grande quantidade de espectáculos faz com que as bailarinas se sintam em família. Os termos em francês, carac-terísticos do ballet, saem natu-ralmente das suas bocas. Falam dos seus corpos, cabelos, dos seus pares, das “brancas” que têm em palco e reconfortam-se nos piores momentos. “Estás linda!”, “Não conseguia tirar os ol-hos de ti!”, dizem umas às outras. As sabrinas de ballet já se encontram gastas e rompidas pelo uso, mas é com estas que as bailarinas se movem, dançam e fazem aquilo que pensamos ser impossível. Marta Macedo já dan-ça há 18 anos. As suas sabrinas de pontas estão gastas, mas con-tinua a dançar com uma respon-sabilidade acrescida. A bailarina e professora dança com as suas

alunas. Confessa que sente o ner-vosismo à flor da pele em cada espectáculo que participa porque, agora, “passa a ser uma dupla re-sponsabilidade”. Com alunas na idade da inocência e do conhecido “mimo”, a professora conta que, nos bastidores, as suas alunas “fazem mil perguntas nos basti-dores, pedem-me conselhos ou às vezes só querem um miminho”. Os compassos de cada música ditam os tempos na dan-ça de cada bailarino. Por vezes, os compassos apressam-se e o tempo escasseia. Com a impulsivi-dade do momento, as bailarinas vêm obrigadas a trocar de roupa em segundos. Nestas situações, os bastidores passam a não existir. As bailarinas trocam de roupa em qualquer lado, a forma mais rápida possível, independentemente do que se passa à sua volta. A in-ibição corporal ganha por Adão e Eva deixa de existir. Marta Mac-edo afirma que na altura “não se pensa: age-se”. O único objectivo é entrar em palco a tempo, com as roupas, sapatos e adornos nos lo-cais ideais. A professora e bailarina

confessa que “é uma corrida con-tra o tempo tão intensa, tanta gen-te à nossa volta, a ajudar, que nem se pensa quem é que está a ver, o que é que está à mostra. Nada! Só depois do pano fechar, das luzes apagarem é que se reflecte sobre tudo, incluindo esses momentos”. Joana Tojal explica que “ com o stress nem nos lembramos disso e fazemos o que temos a fazer”. Na Gala de Bailado Jovem, Andressa apenas trocou de roupa duas vezes, portanto não lu-tou contra o tempo para subir ao pal-co e expressar-se através do ballet. Com vários anos de prática, a bailarina brasileira diz que no início da sua carreira, estas situações eram bastante constrangedoras. “Com o tempo acaba por ser um hábito. Troca-mos de roupa em frente a todos e fingimos que só lá estamos nós”. Nos espectáculos não vêm o dia passar. Andressa diz que os dias de espectáculo são “mági-

cos”. Pela manhã fazem alguns aquecimentos para evitar lesões e, pela tarde, treinam minuci-osamente todo o espectáculo. A magia de toda esta rotina antes de casa espectáculo, explica An-dressa, deve-se ao facto de estar todo o dia a trabalhar para umas horas de espectáculo em que tem a oportunidade de “expor as min-

has emoções e de demonstrar ao público a minha verdadeira paixão”. O trabalho nos bastidores é feito de forma par-tilhada e coorde-nada entre todos os intervenientes.

Antes de cada espectáculo, Joa-na Ferreira diz que “há milhentos assuntos para tratar”. O fazer as coisas “em cima do joelho” não funciona. Joana Ferreira começou a trabalhar na Gala de Bailado Jovem com cerca de dois meses de antecedência. O trabalho em equipa é fundamental. Joana Fer-reira trabalhou com diversos inter-venientes e profissionais que se

Mariana Catarino

“Adorava aquele ambiente, adorava ver os mais velhos a entrar em palco, ficava fascinada”.

“Estás linda!”, “Não conseguia tirar os olhos de ti!”, dizem

umas às outras.

Foto: Mariana Catarino

No ar sentia-se nervosismo, ansiedade, felicidade e uma certa curiosidade em cada olhar das bailarinas.

Foto: Mariana Catarino

“Não gosto que as pes-soas me interrompam, nem de falar com nin-guém. Gosto de ficar

sozinha, no meu canto, e é esse mesmo o meu

processo de concentração para de-pois subir ao palco”.

Na altura “não se pensa: age-se”.

Com os imprevistos, as bailarinas apoiam-se e enfrentam as dificuldades nos bastidores.

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// 6 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Reportagem - Dança // 7 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Música

Moysés Eusébio é conhecido na Póvoa de Varzim e um pouco por todo o país. Com 80 anos, continua a cantar ao desafio e a tocar concertina

A cultura na Póvoa de Varzim contada por 80 primaverasom as temperaturas altas, Moysés Eusébio relembra os seus tempos de juventude passados na praia da Póvoa de Varzim. Na altura, vivia

nas Caxinas, mas a Póvoa de Varzim era-lhe muito familiar. A conhecida “rainha das praias do norte”, como apelida a Póvoa de Varzim, já na altura era bastante apreciada. Recorda que, na sua juventude, andavam pela marginal a cantar. “O Sr Modesto Maio era o homem que levava a aparelhagem sonora e andávamos pelo Passeio Alegre e pela Avenida dos Ban-hos a ouvir música, a cantar e a conversar”, relembra o tocador de concertina. No Inverno, reuniam-se na Praça do Almada para conviver-em e se divertirem ao som da música popular. As festas, romarias e procissões têm perdido alguns visitantes. Eusébio diz que a participação da população é menor, mas há cada vez mais tocadores de concertina. Este instrumento de fole tem ganho um grande número de adeptos, “desde os mais joven-zinhos, até aos mais velhos”, explica o toca-dor. “Hoje em dia já existem várias escolas a

ensinar a tocar concertina”, afirma Eusébio. Desde o I Grande Encontro Nacional de Toca-dores e Cantadores ao Desafio, em 1996, pro-movido pelo Inatel de Viana de Castelo, que o número de tocadores tem aumentado. Moy-sés participa em todos e é com grande satis-fação que vê a sua arte a crescer. Este ano convidou o seu filho mais velho para ir consigo, “temos que passar o que sabemos”, explica. A 28 de Maio fez 80 anos de vida. Anda de um lado para o outro com encontros de tocadores de concertina, actuações, espec-táculos e apresentações de festas. O seu mé-dico aconselha-o a não parar porque “ é isso que me dá saúde”. A sua esposa costuma dizer que o “trata bem”, mas para Moysés é o gosto por esta arte que o faz viver assim. O seu filho mais velho seguirá as suas pisa-das. Actualmente já “canta, toca e apresenta vários espectáculos”. Moysés está feliz pelo filho, pois não quer que esta arte termine. Com alegria e sentimento pelo que faz, Moy-sés demonstra-se um verdadeiro jovem. Se a saúde o ajudar, ainda ouviremos muitas vezes o senhor Moysés nas festividades populares.

CMariana Catarino

Moysés, nas suas 8 décadas de vida, con-tinua vivamente a tocar concertina.Foto: Mariana Catarino

Mariana Catarino

7ª Edição do Azurara Beach Party com algumas novidades A praia da Azurara recebe no próximo domingo a 7ª edição da Beach Party de Vila do Conde. Os organiza-dores prometem melhorias e surpre-sas para a maior Beach Party da Europa.

om o mar como cenário de fundo e areia nos pés, milhares de pessoas são esperadas na freguesia de Vila do Conde. Pelo sétimo ano con-

secutivo, dezenas de Dj’s e músicos alegram a noite dos visitantes. No cartaz destacam-se os três palcos que irão contar com nomes como Booka Shade, Vanilla Ice, Buraka DJ’s, Technotronia, Marcelinho da Lua e o con-hecido DJ vilacondense, Miguel Rendeiro. Com um toque moderno e sobretudo juvenil, o evento com a duração de 24 horas, conta com muitas novidades. Ivo Lima, membro da organização, afirma que “nunca tivemos ca-pacidade para trazer grandes nomes da músi-ca internacional mas, talvez, esta tenha sido a fórmula do sucesso”. Com um palco diferente e algumas surpresas na produção e imagem, a aposta deste ano centra-se “em nomes que estão a surgir agora nas rádios portuguesas”. A principal novidade deste ano centra-se no transporte dos visitantes para o evento. Com a grande afluência de pessoas para a

praia de Azurara, o congestionamento do trân-sito era desgastante, o conduzia à desistência de muitas pessoas, explica Ivo Lima. “O depar-tamento do Norte da GNR fez-nos uma propos-ta para melhorar a circulação, pois a A28 ficava parada com a quantidade de trânsito. A nível dos transportes públicos, sabemos que vai cor-rer tudo bem. O transporte entre a estação de metro e o evento será assegurado pela em-presa Litoral Norte”, explica o organizador. Ivo Lima aconselha a todos que venham de metro até à estação de Azurara e depois venham de autocarro até ao recinto. Os horários dos autocarros e do metro podem ser encontra-dos na página Web do Azurara Beach Party. A organização sente-se lisonjeada pelo sucesso da Beach Party. “O vice-presidente do Turismo do Norte enviou-nos uma mensagem bastante motivadora, dizendo que temos dado um grande contributo para a nossa região”. A Beach Party de Vila do Conde tem, também um lado social. Este ano, a festa encontra-se ligada a duas missões em África, ao Instituto da Droga e Toxicodependência e apoia, tam-bém uma instituição de deficientes invisuais. No futuro, Ivo Lima promete ser am-bicioso para fazer crescer ainda mais o evento. Para que tal seja possível, o membro da or-ganização admite que “as pessoas têm que vir para cá de transportes públicos. Vila do Conde está a rebentar pelas costuras e não te-

mos mais meios para abarcar mais pessoas”. Na praia da Azurara são esperadas cerca de 50 mil pessoas. Os bilhetes têm um custo de 12 euros, se forem comprados an-tes do dia do evento e de 17 euros no próp-rio dia. Os apreciadores da Beach Party po-dem comprá-los vários locais, como na FNAC, Ticketline e em vários distritos desde Vila do Conde, Trofa, Gondomar, Porto, a Lisboa.

Foto: DR

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revelaram fundamentais para a re-alização do espectáculo. A profes-sora de ballet, Marta Macedo, tem a preocupação de verificar se os seus alunos estão bem alinhados, se “os figurinos que têm que ser mudados rapidamente estão pre-parados no backstage, se a equipa

técnica está pronta e, no fundo, se as pessoas responsáveis têm tudo sob controlo”. A confiança entre as equipas que trabalham num espec-táculo é fundamental porque “um espectáculo funciona como um todo e as partes têm que estar co-ordenadas e em sintonia”, afirma.

Quando as cortinas fe-cham, vêm os suspiros e olhares de alívio e sensação de objectivo cumprido. Aos poucos e poucos a sala de espectáculos esvaziou-se. Nos bastidores, as bailarinas vestiram as suas roupas normais e, aos poucos e poucos, saíram

da sala. Todo o dia se resumiu a umas pequenas horas de rep-resentação, expressão e paixão pelo ballet. Por detrás, os bas-tidores ergueram um muro em que apenas a leveza, elegância e harmonia das bailarinas foi per-ceptível aos olhares do público.

Noite de Hip Hop no Passeio Alegre

O placo da Passeio Alegre en-cheu-se com ritmos característi-cos de Nova Iorque. Música, arte plástica e muita cultura à mistura, numa noite da Póvoa de Varzim.

niciado na década de 70 por comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas nas ruas de Nova Iorque,

o Hip Hop é um estilo musi-cal cada vez mais apreciado. Desta vez, foram as ruas da Póvoa de Varzim a acolher

Espectáculos da Gimnoarte esgotam no Auditório Munici-pal de Vila do Conde

“Dança 2010” foi levado à cena pela Academia Gimnoarte. Sob a orientação da Profes-sora Joana Rios, o espectáculo inseriu-se no plano de formação artística dos seus alunos e na sensibilização do público para a dança. O Auditório Municipal de Vila do Conde abriu as por-tas nos dias 26 e 27 de Junho pelas 21:30 horas a dois es-pectáculos de dança variados. Com distintos estilos de dança, o Auditório Municipal de Vila do Conde contou com lo-tação esgotada para assistir às apresentações dos alunos da Gimnoarte. “Dança 2010” apresentou coreografia de Bal-let, dança Moderna, Contem-porânea, Modern Jazz e Hip Hop.

I

a cultura artística. Na passa-da sexta-feira, o palco do Pas-seio Alegre deu a conhecer três vertentes da cultura Hip Hop. O turntablism, conhecido como a arte de manipular sons e criar músicas, os graffitis, ex-pressão plástica da cultura do Hip Hop e o MC conhecida fig-ura do Hip Hop que durante o evento interage e anima o públi-co, foram apresentados pelas 22 horas no “Hip Hop Euracini”.

Mariana Catarino

Enquanto alguns graffitis eram pintados, várias bandas actuaram nesta noite em que a entrada era gratuita para todos. A cultura do Hip Hop, que tantos estilos e vertentes engloba, foi apresentada nesta noite pelo DJ Player, PNOZ, Brdz, Contrabando 88 e Ernesto, mentor do projecto. O “Hip Hop Euracini” contou com o apoio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. Para terminar o evento, “Simbiose” foi apresen-

tado como um projecto conjunto, tendo como base os ideais e as características da cultura Hip Hop.

Mariana Catarino

Todas as roupas encontram-se organizadas de acordo com as necessidades das bailarinas

Foto: Mariana Catarino

Foto: DR

Page 5: Artes em Partes

// 8 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Entrevista // 9 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Entrevista

ulher menina, de voz doce e sorriso na cara. Anabela Braz Pires é conhecida como a

“Menina Anabela” mas já conta com 25 anos de carreira. De sígno virgem, Anabela conta como foi crescer em cima dos palcos com os focos de luz apontados para si. Sempre com um brilhozinho nos olhos e sorriso con-tagiante, Anabela conta como foi con-struir uma carreira tão nova. Com ap-enas 12 anos, ganhou a Grande Noite do Fado, cerimónia que reuniu vários artistas e pessoas do meio da músi-ca. Em 1993, venceu o Festival RTP da Canção, com a mítica canção “A cidade até ser dia”. Seguiu-se o Fes-tival da Eurovisão da Canção, em que Anabela consegue o décimo lugar com a mesma música. Cantar e repre-sentar sempre foram os seus maiores sonhos. Aos 17 anos recebe um con-vite de Filipe La Ferria e começa a sua carreira nos musicais. Elege o My Fair Lady e o Música no Coração como os melhores musicais que levou à cena. Hoje, com 25 anos de carreira, lançou o disco “Nós”, que reúne obras de in-térpretes dos anos 50, 60 e 70.

O que define a Anabela?É uma mulher simples e que faz o que gosta. Adora a sua profissão e adora a sua família. Já canta há muitos anos e ama o que faz. Gosta de se divertir, de estar com os seus amigos e de viajar.

Se não fosse cantora, o que seria?Acho que era Psicóloga, ou maquilhadora ou teria uma profissão ligada à saúde. Licenciei-me em psicologia, mas nunca exerci, portanto poderia ser uma profissão. Gosto imenso de maquilhagem, portanto penso que me sentiria realizada se fosse maquilhadora. Ou então es-taria numa profissão ligada à saúde, também gosto bastante.

Porquê a licenciatura em Psicologia?Porque sempre me interessei pelo estudo do comportamento humano, da personalidade e das relações humanas. Para além disso, a psicologia é uma área muito interessante e muito útil para as pessoas.

Como foi crescer em cima dos palcos?

Foi muito bom para mim, porque sentia-me muito bem. Comecei aos 8 anos. Cresci, de facto, a cantar e já com muitas responsabi-lidades. Mas foi muito bom porque concretizei um grande sonho e era exactamente isto que queria fazer.

Para a Anabela, qual o significado da pala-vra “cantar”?Cantar significa dar voz às minhas emoções. Dar voz às emoções e palavras que uma canção tem. É a transmissão de sentimentos através da minha voz. Sinto uma enorme feli-cidade por poder cantar para o público portu-guês.

Cantar ou representar?Cantar e representar, sempre gostei das duas.

Quais as memórias que guarda dos seus 8 anos, período em que começou a cantar?Nessa altura andava nos festivais infantis. Era muito giro. Uma verdadeira festa! Éramos mui-tos miúdos a concorrer e aquela camaradagem entre os miúdos era muito bonita. Gostava mui-to de andar a viajar de um lado para o outro. Aos poucos e poucos, fui conhecendo as ter-ras de Portugal com os meus pais e os meus irmãos.

Já ganhava muitos prémios na altura?Sim, normalmente acabava sempre por gan-har. Era muito giro. Trazia sempre para casa as taças e bicicletas que normalmente davam às crianças.

Como foi, com apenas 12 anos, ganhar a Grande Noite do Fado?Foi assim a minha primeira vitória num grande certame português. Eu cantava em festivais in-fantis, mas não eram muito conhecidos. Este foi o primeiro espectáculo em que concorri e que tinha uma grande importância nacional. Era falado nos jornais diários e trazia muitos profissionais do meio e editoras. Foi um ponto de viragem na minha carreira porque, a partir da minha ida à Grande Noite do Fado, comecei a gravar as minhas canções.

Em 1993, seguiu-se a vitória no Festival RTP da Canção com “A Cidade até ser Dia”. Qual a importância?Foi muito relevante para a minha carreira. Eu era miúda e sempre quis ir ao Festival da Canção. Aos 16 anos, quando atingi a idade mínima para ir ao Festival, participei. Foi uma grande emoção. Mudou muita coisa na minha vida porque me tornei mais conhecida entre o grande público e as pessoas cantavam a min-ha canção. Tive muitas felicitações e foi muito importante para a minha carreira.

Seguiu-se o Festival da Eurovisão da Can-ção. Foi muito importante representar Por-tugal para toda a Europa?Sim. Para mim, representar Portugal, sempre foi um motivo de muito orgulho porque gosto de vestir a camisola e de gosto de levar a nos-sa música além-fronteiras.Foi muito importante porque representei Portu-gal num certame internacional de uma grande importância e que chegava a milhões e mil-hões de pessoas. Além disso, fiquei bem clas-sificada no Festival, conseguindo o 10º lugar.

Porquê o patriotismo por Portugal?Devemos amar, defender e cuidar daquilo que é nosso, das nossas raízes e da nossa língua! Adoro o meu pais e tenho muita pena de não o tratarmos tão bem como devíamos. Temos excelentes pessoas em diversas áreas como a musica, literatura, desporto, etc que são exem-plos de bons portugueses.

De que forma a sua família lidava e continua a lidar com a sua carreira?Muito bem. Desde miúda que me acompanha e se não fossem os meus pais não conseguiria chegar aqui. Como comecei muito jovem, se eles não tivesse o apoio deles, nunca teria construído uma carreira como a minha. Nunca o teria con-seguido sozinha. Em pequenina, era a minha mãe que fazia as minhas primeiras roupinhas que utilizava nos espectáculos. Continuam a apoiar-me sempre. Hoje em dia vêm aos meus espectáculos e são o meu grande refugio.

Porque ainda é a “menina Anabela”?Comecei muito jovem e tenho ainda este ar de menina. Não cresci muito e sou “miudinha”. Acho que se deve um pouco à minha constitu-ição física. E as pessoas lembram-se de mim dessa altura, interpreto como sendo um termo carinhoso. O público português, ao chamar-me

de menina, denota um grande carinho e uma grande afeição por mim. E isso é motivo para eu ficar muito contente.

Principais inseguranças da “menina de La Ferria”?Acho que a insegurança maior talvez seja não querer desapontar o público, querer sur-preender mas, sobretudo, não querer desapon-tar. Esse é o meu maior receio, é querer fazer sempre as coisas bem e também querer trazer sempre coisas novas e que o público goste. E, o mais importante de tudo, que o trabalho não

“O mais importante é sermos verdadeiros, genuínos e não usar uma máscara enquanto sou a Anabela em palco”ANABELA

Mariana Catarino

me falte.

Como vive com a fama? Nunca pensou de-sistir da sua profissão em algum mau mo-mento?Por vezes é muito cansativo e extenuante, mas o público português é muito generoso. É muito simpático e quando gosta, gosta e exprime as suas emoções. Sobretudo no Norte aqui no Norte, em que o público é espectacular. Dou-me bem com isso. Não é algo que me faça con-fusão. Tento viver na maior normalidade pos-

sível.

Como surgiram os musicais do La Fer-ria na vida da “menina Anabela”?Foi um convite que o Filipe me fez nos

meus 17 anos. Conheceu-me no Festival da Canção e convidou-me para participar no primeiro, que foi Jasmim ou o sonho do cin-ema.

Era um sonho desde infância aliar a música e o teatro num espectáculo?Adoro fazer musicais. Era um sonho que eu tinha desde criança porque sempre gostei de representar e cantar, mas nunca tinha repre-sentado assim para o público sem ser com o Filipe La Feria.

Qual o musical que mais a marcou?

Nome: Anabela Bras PiresNascimento: 22 de Setembro de 1976Signo: VirgemNatural de: AlmadaOcupação profissional: cantora e actrizMomentos relevantes da sua carreira:1989 vence a Grande Noite do Fado1993 vence Festival RTP da Canção e 10º lugar no Festival da Eurovisão da Canção1994 participação em musicais de Filipa La Ferria2005 lançamento do álbum Aether2006-2008: representação do Música no Coração2008 musical Jesus Cristo Super Star2010: lançamento do CD “Nós”Música favorita: algumasPeça de teatro favorita: My Fair LadyEstilo de Dança predileto: balletMelhor livro: não consegue eleger umÍdolo ou referência inspiradora: Sting, Amália e Rui Veloso

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Com 25 anos de carreira, Anabeça lança um novo CD.

“Sou uma mulher de sorte”

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My Fair Lady

A pequena Anabela de 8 anos que andava pelo país a actuar no festivais, ainda existe dentro da Anabela de hoje?Não sei se a Anabela com 8 anos ainda existe dentro de mim. Acho que o mais importante é sermos verdadeiros, genuínos e não usar uma máscara enquanto sou a Anabela em palco. Se há uma menina cá dentro de mim, ela denota-se. Não faço questão de a esconder, embora já não seja uma menina. No fundo, acho que o mais importante é ser fiel aquilo que sou na

realidade.

Lançou agora o “Nós”, porquê este CD ag-ora?Porque acho que é um disco com grande ma-turidade e que é faz sentido nos meus 25 anos de carreira. É um tributo aos grandes intérpret-es e compositores e às grandes canções dos anos 50, 60 e 70. Tive vontade de homenagear todos estes artistas e que funcionam também como referências da minha vida, enquanto cantora. Também fazem parte da história e do património que deve ser cuidado, bem tratado e não deve morrer. Para mim, a melhor forma de o preservar é continuar a cantar essas can-ções. Eu senti essa vontade e, portanto, aqui está o “Nós”.

Quais as suas músicas preferidas do CD?“Só nós dois”, “Lisboa à noite” e “De degrau em degrau”.

O CD “Nós”, tal como disse, é um tributo para grandes interpretes. Porquê interpre-tar músicas antigas?Desde muito nova que oiço musica Portugue-sa. Algumas das referências musicais nacion-ais moldaram o meu estilo e o meu gosto musi-cal. “Nós” é, portanto, o meu tributo às grandes canções, intérpretes e compositores das déca-das de 50 a 70, que foram recheadas de exce-lentes exemplos.

Qual o balanço deste quarto de século?Sou uma mulher de sorte. Tenho feito coisas muito importantes, que me têm dado imenso prazer e, ao mesmo tempo, grande responsa-bilidade. Gosto de desafios e, portanto, tem sido uma carreira recheada de bons concertos, viagens, histórias, de conhecer gente boa, de trabalhar com excelentes músicos, de fazer grandes papéis ao nível do teatro musical. E, portanto, tem sido uma carreira que eu vejo com muita alegria e carinho.

Melhor momento?Essa é uma pergunta muito difícil. Não consigo estar a escolher, foram muitos momentos. O Festival da Canção foi importante. O My Fair-Lady, o Música no Coração. Este disco está a ser muito importante para mim, está-me a dar muita alegria.

O que ainda falta fazer?Espero que muita coisa. Muitos discos, muitos concertos, mais teatro musical.Não faço muitos projectos. Acho que as coisas, vão acontecer, com o tempo.

Se pudesse mudar algo no mundo, o que seria?Tanta coisa! Acabava com as injustiças sociais, pobreza, discriminação, abusos de poder, fome...e fazia de tudo para que voltassemos a encontrar o equilíbrio da nossa terra.

Page 6: Artes em Partes

// 10// Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Fotografia // 11 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Cinema

Lomografia: um afastamento do convencionalCriada em plena Guerra Fria, a Lomografia tem vindo a desenvolver-se em todo o mun-do. Esta nova forma artística de fotografar possui já bastantes praticantes em Portugal.

om duas Embaixadas Lomográ-ficas no nosso país, em Lisboa e no Porto, a “Lomomania” tem vindo a expandir-se. São peque-

nas máquinas, coloridas, pequenas, práti-cas e com lentes fora do convencional. No final de 2000, deu-se o lançamen-to da Lomo em Lisboa. A partir de 2000, a “Lomomania” desenvolveu-se em Portugal. Actualmente, são vários os apreciadores desta

arte imagética. Vária exposições, festas, con-cursos, workshops e publicações têm vindo a ser promovidos pela Embaixada Lomográfica. A arte de fotografar com uma Lomo é característica pela sua descontracção e impre-visibilidade. As cores e efeitos tornam esta arte apreciada por vários fotógrafos e amadores. Esta arte fora do convencional pretende demon-strar que a fotografia não necessita de ser rígi-da, que se pode fotografar sem pensar em fo-tografar. Tal como é descrito na quinta regra de ouro da Lomografia: não penses... Lomografa.Criada na Rússia, em plena Guerra Fria, o objectivo das Lomos seria terem um custo re-

10 regras de ouro da Lomografia

01 . Leva a tua Lomo onde quer que vás. 02 . Usa-a a qualquer hora do dia ou da noite. 03 . A Lomografia não interfere na tua vida, torna-se parte dela. 04 . Aproxima-te o mais possível do objecto a fotografar, se assim o desejares. 05 . Não penses …… lomografa. 06 . Sê rápido. 07 . Não precisas de saber antecipadamente o que fotografaste. 08 . Nem depois. 09 . Fotografa a qualquer ângulo. 10 . Não te preocupes com quaisquer regras.

duzido para “as famílias da URSS documen-tarem amplamente o estilo de vida soviético”,

como explica a Embaixada Lomográfica Portuguesa.

Porém, a Embaixada afirma que foi apenas em Praga no ano de 1991, que as Lomos começaram realmente a ser descobertas. Dois jovens vienen-eses descobriram a Lomo e “começaram então a fotografar tudo, muitas vezes sem se-quer olhar através da objectiva. De regresso a casa, o fascínio dos dois fotógrafos pela cor, a luz e a qualidade das imagens ( foca-das ou desfocadas) foi tão contagioso que

rapidamente a moda das Lomo se es-palhou entre os jovens da cidade”. A Sociedade Lomográfica, em colabo-ração com várias embaixadas mundiais, cri-ou o LomoWordArchive, um registo visual de fotografias de lomógrafos de todo o mundo. Actualmente, não é muito dispen-dioso adquirir uma Lomo. Segundo o site da embaixada Lomográfica, uma Lomo pode custar entre os €40 e os €375. Existem tam-bém vários acessórios para Lomos, como Flashes, adaptadores de lentes, entre out-ros. Tudo para tornar as fotografias mais des-contraídas, diferentes, coloridas e artísticas.

Mariana Catarino

C

Cor, descontracção, sem regras, é assim que se caracteriza a Lomomania. Foto: Embaixada Lomoráfica

Pensamentos ImagéticosNo Duomo de Milão, milhares de turistas e italianos rezam e praticam o habitual ritual de colocar uma vela pelos seus entes queridos. Em frente a vários altares, são colocadas cen-tenas de velas pela mão dos crentes.

Fotografia de Mariana Catarino

Dez anos após o primeiro “Harry Potter”, J. K. Rowling trás ao cinema um filme mais assustador. O filme “Harry Potter e os Tal-ismãs da Morte” é a primeira parte do sé-timo livro de Rowling.

arry Potter e os Talismãs da Morte” é o sétimo e último livro da escritora britânica J. K. Rowling.

Pela extensão do volume e pelas sucessivas críticas dos leitores e espectadores do filme quanto à exclusão de várias cenas do livro no filme, este é agora dividido em dois volumes. A grande novidades dos dois últimos filmes do Harry Potter é o facto de serem am-bos lançados totalmente em versão 3D, para além da existência de uma versão comum. Da-vid Yates é o realizador deste penúltimo filme do feiticeiro de Hogwards, tal como já havia ac-ontecido em “Harry Potter e a Ordem de Fénix” e “Harry Potter e o Príncipe Misterioso”. Neste novo filme, Harry e os seus dois amigos, Ron e Hermione, têm como missão destruir a imortalidade do vilão Voldemort. Após a morte do professor Dumbledore, Volde-mort aproveita os ventos favoráveis para pla-near o seu golpe final e matar Harry Potter. Paralelamente ao conflito entre os feiticeiros e Voldemort, os três protagonistas enfrentam vários problemas da sua adolescência. Harry, interpretado por Daniel Radcliffe, tem já 10 anos de idade. O actor tem agora 21 anos, mas continua a representar o jovem feiti-ceiro de Hogwarts. O actor diz ao jornal Metro que “Nesta última parte o espectador vai ficar com a cabeça a andar a 200 à hora” e com-plementa, dizendo que “o ritmo de acção é in-sano”. O protagonista denomina a batalha de Hogwarts como “impressionante” e afirma que os “espectadores vão ficar ofegantes”.

Para vários jovens portugueses o Harry Potter acompanhou a sua infância e adolescência. Daniela Neto tinha dez anos quando conhe-ceu “o menino frágil, de estatura baixa, olhos verdes, cabelo preto em desalinho e cicatriz em forma de raio na testa. A magia e a envolvência do mundo fantástico de Hogwarts fizeram parte do meu crescimento e da minha adolescência”. Muitos seguidores do mundo da ma-gia de Hogwarts desiludem-se com os filmes de Harry por não conseguirem retratar todos os episódios do livro. Diogo Salgueiro tem ac-tualmente a mesma idade que Daniel Radcliffe, o actor que interpreta Harry, e espera que “o facto do filme ser dividivo em 2 partes, ajude a que se transmita melhor o livro e, por sua vez, evitar que a história seja alterada e encurtada”. Após ver o filme, Daniela Neto afirma ter fica-do “agradavelmente surpreendida”, sobretudo com a “possibilidade de divisão em duas partes que possibilita a que este filme seja fiel ao livro como nenhum outro o foi”. Por outro lado, Dio-go ficou desiludido após ter visto o filme. “Notei que modificaram e cortaram grandes partes do livro e quem não tivesse acompanhado os film-es ou os livros anteriores iria achar o filme um pouco confuso”, leitor e seguidor dos filmes, Diogo diz que “mais uma vez, o livro ultrapassa o filme”.

Harry Potter: O Negro Princípio do Fim

Mariana Catarino Alexandra Marques ainda não viu o filme, mas encontra-se ansiosa. A jovem possui vári-as expectativas para este novo filme e espera “entrar na sala de cinema e ficar maravilhada com os efeitos especiais e os cenários que ma-terializam esta fantástica história. Como as se-quelas deste épico saem sempre por altura do Natal é como se dois tipos de magia se unis-sem para criar uma sensação de nostalgia”. Coincidiente com a época natalícia, o “Harry Potter e os Talismãs da Morte” já estre-ou em 54 países. Segundo os estúdios Warner, a última adaptação da história de J.K. Rowling arrecadou 149 milhões de euros de bilheteira. Em Portugal, já mais de 200 mil pessoas as-sistiram ao filme nas salas de cinema portu-guesas. Os dados estatísticos são do Instituto do Cinema e Audiovisual, sendo os dados rela-tivos ao período entre os dias 18 e 24 de No-vembro. A continuação só chega aos grandes ecrãs em meados de 2011, mas o a primeira parte de “Harry Potter e os Talismãs da Morte” pode ser visto nos cinemas até Janeiro. Apesar da história do pequeno feiticeiro estar a chegar ao fim, Daniela Neto diz que para ela este não é um final: “Basta abrir os meus livros e record-ar todas histórias que tenho bem guardadas na minha memória”.

“H

“Ao longo das nossas vidas passamos por mo-mentos de aflição, de incerteza e, por vezes, precisamos de uma luz que nos guie, que nos acalme, que nos dê Paz. Essa luz, simbolica-mente, pode até ser uma pequenoa chama de uma vela no meio de tantas outras. Cada uma das velas da imagem constitui um alento, um pedido profundo da alma dos crentes.” Carlos Catarino, Contabilista

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Page 7: Artes em Partes

// 12 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Literatura // 13 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Pintura e Escultura

BrevesHelena Duarte lança novo livro no Diana Bar O conhecido espaço Diana Bar voltou a lançar um livro. Desta vez foi “Louvado Sejas, meu Bom Deus!... Agora, Hoje, Sempre e Eternamente” da autoria de He-lena Duarte. Depois do seu livro “Emoções Contidas”, publicado em 2007, a autora lançou a sua seg-unda obra no passado domingo pelas 15 horas no Diana Bar. A apresentação esteve a cargo de Carla de Sá Pereira e Oliveira e contou também com a actuação do Coro dos Meninos da Paz.

Os livreiros queixam-se da falta de poder de compra das pes-soas e dizem que o clima não tem ajudado.

s tardes no Passeio Alegre da Póvoa de Var-zim são adquiriram um lado cultural no mês de

Agosto. Turistas e poveiros vão para a praia, para a biblioteca, para uma esplanada ou decidem

visitar a feira do livro. Com término no próximo do-mingo, os livreiros concluem que o negócio está pior que no passado ano. Arlindo Moreira, represent-ante de uma empresa que trabalha com livros em fim de edição, afir-ma que este ano as pessoas não têm nenhuma preferência cultural em concreto, procuram os livros mais baratos. O livreiro constata a queda do poder de compra dos visitantes e afirma que o vento que se sentiu na passada semana não

foi favorável à feira do livro deste ano. José Pin-heiro vende s o b r e t u d o livros técnic-os, como de saúde e de in fo rmát ica . Todas as suas pub l i cações têm 20% de d e s c o n t o ,

mas, mesmo assim, constata que “há muita vontade em comprar, mas nota-se a falta de dinheiro nas pessoas”. Com várias actividades pa-ralelas à feira do livro, como lan-çamentos de livros, tertúlias e mo-mentos musicais, os poveiros e os turistas vão visitando a feira. Cris-tina Sá vem todos os anos visitar a feira do livro. Este ano procura sobretudo livros antigos que “sem-pre ficaram dentro do meu ideal”. José Manuel, frequentador habitu-al, valoriza a iniciativa dizendo que é bom para as pessoas que nunca pegam num livro, ganharem esse gosto. Cristina é da mesma opin-ião, dizendo que “é uma forma de fazer chegar a cultura ao povo”. A visitante afirma que “o livro é uma forma de distanciar as pessoas da televisão, a que estão tão depend-entes. “ O livro é uma forma de dar prazer às pessoas. Faz parte do seu imaginário, levando os seus leitores por uma viagem que lhes permitem ganhar conhecimentos e mais certezas acerca da vida”, conclui a habitual visitante. Considerada a terceira mel-hor feira do livro do país, possui uma série de factores que pos-

sibilitam o seu sucesso. A locali-zação privilegiada, a altura do ano em que se realiza e os preços competitivos atraem imensas pes-soas que estão de férias na Póvoa de Varzim. Carla Gonçalves en-contra-se nessa situação. Vinda da praia, explica que, além dos preços baixos, procura novidades que lhe possam interessar. Os livreiros, como forma de contornar a crise que assola os portugueses, procuram baixar os seus preços. José Pinheiro aderiu a uma nova técnica para aumen-tar as suas vendas. Este ano pos-sui multibanco, contrariamente a 2009. O livreiro verificou que no ano passado perdeu algumas ven-das, pois as pessoas “no espaço de tempo em que iam ao multi-banco, acabavam por mudar de id-eias”. A estratégia tem funcionado, segundo o livreiro este ano ainda nenhuma venda foi perdida. Com o lema “a ler o mar”, a feira do livro encerra no próximo domingo pelas 24 horas. Até lá, pode visitar a feira das 16 h às 24 de domingo a quinta-feira e até à 1 hora às sextas e sábados. No dia de encerramento a Banda Musical da Póvoa de Varzim actua às 10 horas.

Crise e mau tempo prejudicam a Feira do Livro de 2010

Feira do Livro da Póvoa de Varzim segue as tendências da crise. Foto: Luís Xavier

A biblioteca de praia é um local de eleição para vários banhistas em horas de maior calor. Ler um jornal, uma revista ou um livro e aceder à internet são as activi-dades mais requisitadas.

num ambiente calmo e sossegado que dezenas de pessoas se reúnem no Diana Bar para passar

um tempo enquanto lêem e con-sultam informações. O conhecido pólo cultural Diana Bar conta a meio da tarde com visitantes de

Bibliotecas de Praia arrancam com novidades e muitos visitantes

Mariana Catarino

Mariana Catarino

Mariana Catarino

várias idades e diferentes gos-tos. Os mais novos preferem os jogos e livros infantis, as oficinas de expressão plástica e o acesso à internet. Os seus pais ou avós lêem o jornal, uma revista ou um livro e passam uma parte da sua tarde num local “aprazível, de paz e sossego”, como afirma Maria Costa. Maria Costa vem com os seus netos que, devido à idade es-tão sempre agitados e cheios de energia. É neste ambiente calmo que Maria consegue “descansar um pouco enquanto os meus ne-tos brincam com os livros e jogos”. Enquanto Ana Machado lê um livro, os seus filhos brincam com as outras crianças e com os livros didáctivos na biblioteca de praia. Ana diz que o Diana bar “é um bom sítio para se estar com as crianças nas horas de maior calor”. Eduardo Amorim é um fre-quente utilizador do Diana Bar. Não passa os seus dias na bibli-oteca de praia apenas no Verão. Nas restantes alturas do ano el-ege, muitas vezes, o Diana Bar e a

praia como cenário para as suas leituras. “Leio de tudo. Livros, jor-nais e revistas. Tudo o que me chamar à atenção. Por vezes fico curioso com o título de algum ro-mance e leio-o”, conta Eduardo. Os vimaranenses Patrícia e Armando passam as suas férias na Póvoa de Varzim e escolheram a “biblioteca de praia para aceder à internet”, jogar e ver algumas revistas, explicam. As bibliotecas de praia do Diana Bar e da Praia do Lago es-tarão abertas ao público de 1 a 5 de Setembro. Com cerca de 70 mil visitantes no ano passado, a biblioteca de praia do Diana Bar abre as suas portas às 9:30 horas e termina o seu dia às 18:30 ho-ras. Na Praia do Lago a biblioteca de praia funciona das 10 horas às 18:30. Nesta época balnear, novos serviços foram disponi-bilizados, como o empréstimo domiciliário de livros, serviço de internet wireless, hora do conto, actividades com escritores, ilus-tradores, músicos e poetas, ven-da de edições municipais, litera-tura para todas as idades, entre outros.

As crianças aproveitam os seus momentos livres na praia para desfrutar da leitura na bibliote-ca de praia. Foto:DR

Professora lança um olhar so-bre o docente universitário do Porto A Faculdade de Psicologia abriu as portas para o lançamento do livro “Reconfigurar a profission-alidade do professor universitário” no passado dia 4 de Fevereiro. Kátia Ramos, docente na Universidade Federal de Pernam-buco, apresentou o resultado da sua tese de doutoramento.

Começo de ano cheio de novidades na Miguel Bombarda

Bela Silva, Pedro Quintas e Nikola Raspopovic são alguns dos artistas que inauguraram as suas exposições no sábado. Revista Bombart tem agora um novo formato.

ma explosão de cor, vozes, sorrisos e muito movimento inundaram a conhecida Rua Miguel

Bombarda em mais um sábado de inaugurações, o primeiro de 2010. Durante a tarde de 23, cu-riosos e apreciadores de arte visitaram o Circuito Cultural da Miguel Bombarda para conhecer-em as novidades de vários artis-tas nacionais e internacionais. O movimento iniciou-se timidamente às quatro da tarde e prolongou-se até final do dia, quando a chuva começou a cair na calçada do quarteirão Bom-barda. Das exposições em in-auguração, destaque para a da ceramista, pintora e escultora

Bela Silva, que surpreendeu com um trabalho de pintura e escultu-ra chamado “Visita ao Porto”. Na galeria de Fernando Santos, autor do projecto da Rua Miguel Bombarda, foi o artista lis-boeta Pedro Quintas que encheu o espaço com um jogo de cores, padrões e formas geométricas. Nikola Raspopovic, jovem sérvio que veio para o Porto aos

19 anos, é o artista que ocupa a Galeria Miguel Bombarda. Na Mar-iana Jones, é o artista vimaran-ense Nuno Machado que expõe a sua ideia de liberdade e de falta da mesma com “Liberté ou Captivité”. As obras de arte con-temporânea estão expostas até 28 de Fevereiro, nas tar-des de segunda a sábado.

Revista Bombart muda de formato Uma outra novidade do sábado foi a alteração do for-mato da revista Bombart. Ao sé-timo número, a publicação di-minuiu de tamanho, de 28 por 28 centímetros, para 28 por 24. A revista, conhecida por ser um roteiro de exposições de arte de Norte a Sul de Portu-gal, com especial incidência no quarteirão de Miguel Bombarda, decidiu inovar no seu primeiro aniversário. Agora com formato rectangular, a revista bimestral segue a sua linha editorial, apre-sentando artistas de todo o país. No editorial da revista, o director da publicação Augusto Canedo mostra-se surpreendi-do pela continuidade da revista. Canedo afirma em nome da Bombart que espera “continuar a merecer a simpatia com que os lei-tores têm acolhido" o projecto, na "expectativa de que artistas, ga-lerias e instituições" tenham aqui um palco para "divulgar a oferta cultural a todo o território cultural".

No sábado, o quarteirão Bombarda abriu as portas à arte contemporânea

Foto: Mariana Catarino

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É

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Até ao próximo Domingo o Porto conta com interven-ções urbanas, conferên-cias, workshops e festas em que a arte contemporânea marca presença obrigatória

om estreia na cidade do Porto, o Get Set Art Festival tem como tema central “High Tech Low Cost”, assunto que será

retratado em muitos dos seus workshops e conferências. Pela cidade, a arte mostra-se por vários locais e de forma variada. O Street Art & Graffiti, ini-ciativa que permite a arte de Graf-fiti na Nova Praça dos Clérigos, já se encontra com as inscrições esgotadas. O Graffitti, forma de arte quotidianamente vista como uma ilegalidade, ganhará uma nova perspectiva na invicta que se encontra repleta de graffitis ilegais. Também o Coreto do Jardim da Cordoaria vai rece-ber dois concertos na noite de

sábado. A ideia, explica o organi-zador “seria promover concertos em vários Coretos do Porto para revitalizá-los, mas por questões de logística não nos foi possível”.

O Eléctrico 22, defi-nido pelo organizador Luís de Sousa como “um grande apoio para as noites de fim-de-semana, pois permite um descon-gestionamento do trân-sito nocturno no Porto” encontra-se gratuito nos dias 7, 8 e 9 de Outubro. O lado mais boémio do evento pode ser vivido na Embaixada Lomográ-fica, no Pich Club e no Plano B. O encerramento do Festival conta tam-bém com uma festa de encerramento com entra-da gratuita no Opo’Lab. As conferências e workshops realizam-se no edifício do Opo’Lab até Domingo, com te-mas muito variados

desde arquitectura, música elec-trónica a design e ilustração. Luís Fernandes e Luís de Sousa, ambos arquitectos, decid-iram promover a arte da cidade na própria cidade. A iniciativa surgiu

Get Set Art Festival: um ponto de encontro da arte e seus artistasMariana Catarino

C

da “vontade que tínhamos de per-ceber o que se faz na cidade”, ex-plica Luís de Sousa. O organizador diz que “o Get Set Art é também uma continuidade com o nosso percurso académico, em que sem-pre contactamos com diferentes tipos de arte.” Com o Festival, os organizadores esperam que os vários artistas troquem ideias ara “futuramente trabalharem juntos”. Os vinte artistas partici-pantes no evento vêm dos quatro cantos do mundo. A maioria são portuenses ou têm uma ligação com a invicta, mas serão apresentadas obras de artistas da Venezuela, Brasil, Espanha, Itália e Alemanha. No primeiro dia do Festival as expectativas “foram supera-das”, afirma o organizador. Luís diz que os principais visitantes do Get Set Art são estudantes e recém-licenciados da área das ar-tes, bem como jovens criadores. A arte contemporânea portuense continua a ser apre-sentada até dia 9. Para mais in-formação acerca do Festival, visite o site oficial do evento.

Foto: DR

Page 8: Artes em Partes

// 14// Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010Críticas // 15 // Artes em Partes, 17 de Dezembro de 2010AgendaMEMóRIAS DAS MINHASPUTAS TRISTESGabriel García Márquez

Um livro que contenha a palavra “memórias” despoleta no seu leitor uma ânsia de descoberta do passado. Gabriel García Márquez, como já era de esperar, não segue a regra e distorce um pouco o conceito de “memórias”. O autor não começa a contar a sua vida desde criança ou adolescente, este centra-se no seu nonagésimo an-iversário. Um velho e solitário jornalista que durante toda a sua vida fez questão de pagar por sexo, descobre aos 90 anos que é capaz de amar. Num mar de metáforas e recur-sos estilísticos, Gabriel García Marquez demonstra que o verdadeiro amor não é carnal e não existe idade para amar. Um grande romance, de escrita inconfundível em que o autor colombiano é capaz de combinar dois aspectos aparentemente antagónicos: a velhice e o amor verda-deiro. Prémio Nóbel da Literatura em 1982, esta obra revela-se intemporal, re-tratando a vida daqueles que têm medo de amar e nunca conheceram o amor simples e genuíno. Um relato mais real, que fictício que vale a pena ser lido por todos. Numa sociedade em que mui-tos dos cidadãos são solitários, Gabriel García Márquez demonstra que nunca é tarde para viver uma vida a dois. A idade não é um estatuto, nem um doença, são vivências. O amor é intemporal. Não ex-iste nada que impeça a existência de um brilho apaixonado nos olhos de um ado-lescente, ou de um idoso de 100 anos. Nunca é tarde para começar.

MARIANA CATARINO

MEGAMINDde Tom McGrath (EUA)com as vozes de Will Fer-rell, brad Pit, Tina FreyAnimação/Comédia M/6

A Tempo e Horasde Todd Phillips (EUA)com Robert Downey Jr., Zach Galifianakis, Michelle MonaghanComédia M/12

CELA 111de Daniel Monzón (Espanha/França)com Luís Tosar, Alberto Ammann, Antonio ResinesDrama M/16

JOGO LIMPOde Doug Lima (EUA/Emirados Árabes Unidos)com Naomi Watts, Sean PennDrama M/12

O AMERICANOde Anton Corbijn (EUA)com George Clooney, Violance Placido, Paolo BonacelliThriller M/12

A POEIRA DO TEMPOde Theodoros Angelopoulos (Grécia/ Itália/ Alemanha/ França/ Rússia)com Willem Dafoe, Iréne Jacob, Bruno GanzDrama M/12

INCEPTION

Christopher Nolan

Cin

emaTeatro

Expo

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Música

3 e 4/ DEZFESTIVAL POP DELUXETeatro Sá da Bandeira, Porto 22H30passe 2 dias: €40; 1dia €25

4/ DEZSÉRGIO GODINHOapresenta “Final de Ras-cunho”Casa da Música 22H00desde €20

4/ DEZUXU KALHUSHard Club, Porto 22H00€7,50

7 e 8/ DEZJAZZ AO VIVOAssociação Porta-JazzBaixa do Porto18H00entrada gratuita

10/ DEZLADY GAGAPavilhão Atlântico 20H30

17/FEVSUM 41Coliseu de Lisboa

31/ JULBom JoviParque da Bela Vista

até 19/ DEZ“1974”Teatro Nacional D. Maria II21H00

de 8 a 11/ DEZ“THE TANGIBLE”de Eid Aziz, Eve-Chems de Brouwer, Tale Dolven, Boutania Elfekkak, Liz Kinoshita, Frederica Porello, Rojina Rahmoon, Mokhal-lad Rasem, Frank Vercruys-sen, com textos de Etel Adnan, Mourid Bardghouti, John Berger, Mahmoud Darwich e Samih al-QasimTeatro Municipal Maria de Matos21H30de € 7,50 a € 15

4/ DEZAS TRÊS VIDAS DE LUCIE CA-BROLa partir de John BergerTeatro Sá da Bandeira, Porto

até 9/ DEZANTES DO PEQUENO ALMOÇO E HUGHIEde Eugene O’NeillTeatro municipal de Almada

OS GRAFISMOS MEDI-EVAIS DO MOSTEIRO DA BATALHAFundação Mário Soares, Lisboaencerra à segunda, de 3ª a Dom das 10H - 12H30 e 14H - 18H

O CORPO HUMANO COMO NUNCA O VIUEdifício da Alfândega do Portode 2ª a Dom. das 10H às

21H Encerra aos feriados

BARCOS, MEMóRIAS DO TEJONúcleo Naval do Ecomuseu Mu-nicipal do Seixalsáb 14H - 17H e de 3ª a 6ª 9H - 12H e 14H - 17HEncerra à seg, dom e feriado

até 3/ DEZIMAGENS E PALAVRASde Joana RêgoAMIarte, Portode terça a sábado, das 15h às 20h.

Ao conhecido realizador Christo-pher Nolan junta-se Leonardo Di Caprio, o menino apaixonado do Titanic. Os filmes que juntam grandes actores e um grande realizador elevam as expectativas dos es-pectadores, acorrendo na possibilidade de haver uma desilusão por a fasquia ser tão alta.Na verdade, é o mais frequente. O “Inception” tem um força diferente; con-seguimos transpor o tempo. Perdemos a noção da realidade, atravessamos barrei-ras e imaginamos como seria o mundo se fizéssemos possível o impossível. O autor e realizador faz-nos pen-sar na nossa mente. No seu funciona-mento, no que está para além do nosso auto-controle. No subconsciente que, por vezes, se pode revelar tão influenciador da nossa vida. Os sonhos são invadidos pela re-alidade. No meio de labirintos sem lugar de saída, de transposição de sonhos por várias dimensões, Nolan supera quais-quer expectativas. O trabalho dos personagens é implementar uma ideia no filho de um em-presário. Para tal, os sonhadores nave-gam por várias dimensões, arriscam-se e fazem o impensável. No meio de toda esta acção, o romance surge, mas desta vez como entrave. A possível criação de realidades através do sonho fascinou o casal apaixonado que acabou por fazer Marion Cotillard, a sua esposa, perder a noção do que é real ou irreal. O seu amor sofre com o lado negro do mundo dos sonhos e morre sem perceber em que mundo está - se no imaginário ou no real. Em cada um dos seus sonhos, Cobb (Di Caprio) encontra o amor da sua vida, mas não consegue torná-lo real e esquece o objectivo da missão. Ellen Page e Marion Cotillard têm uma performance irrepreensível e reve-lam-se uma boa aposta futura em novas criações. A esposa de Cobb consegue suscitar, simultaneamente, carinho e re-pulsa em todos os que acompanham a acção.

MARIANA CATARINO

DOIS SELOS E UM CARIMBODeolinda

O grupo português de Ana Ba-calhau lançou o seu segundo CD. Com o “Canção ao Lado”, lançado em 2008, foram os vários concertos, grande volume de vendas e o apoio dos vários fãs da banda que lhes conferiu um enorme suc-esso e grande reconhecimento nacional e internacional. O ritmo pop acústico, o fado e a música popular característicos dos De-olinda voltam neste novo CD. Com ritmos um poucos mais calmos, o “Dois Selos e um Carimbo” volta a mostrar a essência da naturalidade portuguesa dos artistas. A banda constituída pelo casal Ana Ba-calhau (voz) e José Pedro Leitão (con-trabaixo) e os seus dois primos Pedro da Silva Martins e Luís José Martins mostra um grande crescimento. Neste novo CD denota-se a presença de influências dos Madredeus. Para chegarem ao nível da conhecida banda de Teresa Salgueiro, os Deolinda ainda terão que evoluir bastante. Na voz da divertida e brincal-hona Ana Bacalhau nota-se um grande crescimento e seriedade. Apesar de ter-em enveredado por caminhos um pouco diferentes dos de “Canção ao Lado”, os Deolinda mantêm a sua originalidade e grande intimidade com o povo lusitano que apenas é possível quando se canta na língua de Camões. O single “Dois selos e um carim-bo” não é propriamente muito fascinante, nem arrebatador, mas todo o álbum é uma compilação do típico quotidiano do povo português. Temos a característica mar-cha portuguesa na “Problemática colo-cação de um mastro”, a suave e sensível “Passou por mim e sorriu”, a diversão do “Patinho de Borracha” e o “Fado Notário”, o espírito festivo português do “Quando janto em restaurantes” e o quotidiano lis-boeta do “Entre Alvalade e as Portas de Benfica”. A alma da menina Deolinda per-siste. Maturidade e experiência são os principais factores desta diferença entre o primeiro e o segundo CD. Apesar do enorme sucesso e da fresca estreia dos deolinda no mercado fonográfico portu-guês com o “Canção ao Lado”, a banda em nada se saiu mal nesta segunda abordagem musical.

MARIANA CATARINO

TERRA SEM PALAVRASEncenação de João CardosoInterpretação Rosa Quiroga

O próprio nome da encenação suscita no espectador uma enorme curi-osidade para compreender qual é a terra que não possui palavras. A peça baseia-se no livro “Land ohne Wort” da autor alemão Dea Loher. O espaço não é uma convencional sala de espectáculos, com cadeiras de velu-do e extensas escadas. O Estúdio Zero, espaço em que decorre o espectáculo, confere um ambiente familiar à represen-tação. Toda a acção decorre apenas com a representação de Rosa Quiroga. A actriz interpreta o papel de uma artista que, após ter contactado com uma re-alidade muito diferente da sua, deixa de conseguir compreender a sua criação e começa a questioná-la. Ao longo de todo o espectáculo, a personagem relembra o mal que viu nesse território, a misé-ria, a destruição, a morte e pensa se a realidade que reflecte nas suas obras se adequa ao que viu naquela ‘terra sem pa-lavras’. O cenário é simples, mas tudo pensado ao detalhe. A sala em que a ar-tista normalmente faz as suas criações serve de espaço para esta demonstrar a sua angústia relativamente às suas cri-ações. Rosa Quiroga representa agora com uma maior maturidade neste monól-ogo em que, apenas com as suas pala-vras e algumas deslocações no cenário consegue levar o público para uma di-mensão reflexiva. As guerras e conflitos mundiais são comuns e devastadores. É mesmo isto que a artista pretende passar. ‘Terra se palavras’ não demonstra beleza nem perfeição, passa a imagem do quan-to a realidade pode ser cruel. O encenador João Cardoso tem um papel muito importante nesta peça, sobretudo pela forma como expõe o pro-cesso criativo que a própria narrativa ex-ige. A narrativa é extensa e complexa, mas o encenador cria um espectáculo atractivo, reflexivo e até emotivo. Em tempos de constante guerra no mundo, é bom ver que há quem pense nela, quem se afecte com ela e quem pense no seu papel na sociedade.

MARIANA CATARINO

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ARTES em PARTES

17 Dez #1

Aculturar BrevementeAMANHÃ// 21:30 // Teatro: “Eu sou a minha própria Mulher” no Cine-teatro de Vila do Conde, com direcção de João Mota, protagonista: Júlio Cardoso

// 21:30 // Música: “Pedro Abrunhosa e Comité Caviar”, Teatro Virgínia, Torres Novas

// 21:00 // Teatro: “Gustavia”, Teatro Nacional S. João, Porto

// 19:30 // Música: “George Enescu: Compositor e Interprete”, Casa da Música, Porto

// 21:00 // Exposição: “Mafra: da Monarquia Con-stitucional ao Advento da República”, Palácio Na-cional de Mafra

DEPOIS de AMANHÃ// 22:00 // Dança: “O Quebra-Nozes”, bailado de Moscow Tchaikovky Ballet, Teatro de Vila Real

// 21:45 // Teatro: “As aventuras do João Sem Medo”, Teatro da Trindade, Lisboa

// 21:30 // Teatro: “Debaixo da Mesa”, Teatro das Figuras, Faro

// 21:30 // Música: “Moonspell- sombra”, Teatro Mu-nicipal da Guarda

// 15:00 // Teatro: “La Sylphide”, Teatro Nacional S. Carlos, Lisboa

// 21:30 // Exposição: “Resende: a Instituição Atenta à razão”, Lugar do Desenho - Fundação Júlio Re-sende, Gondomar

// 22:00 // Dança: “Sombras - A Nossa Tristeza é uma imensa alegria”, Centro cultural de Vila Flor, Guimarães

Direcção: Mariana CatarinoPaginação: Mariana CatarinoDirectora de Fotografia: Mariana CatarinoJornalistas: Mariana CatarinoFotógrafos: Mariana Catarino e Luís XavierDesign: Mariana CatarinoTiragem: 1000 exemplaresPublicidade: [email protected]ção, admininstração e serviços comer-ciais: Praça Coronel Pacheco, nº 4534400 Cedofeita, PortoFic

ha Té

cnica

pesada porta fecha-se. O som é estridente e assusta todos os que estão na

sala. Uma bailarina furio-sa surge nos bastidores. A sua cara, aos poucos e poucos, adquiria um tom tão vermelho quanto o tutu que uma colega espanhola trazia vestido. O motivo de toda a fúria e raiva que remexiam o pensamento da jovem bailarina deve-se à ine-ficiência do seu par. Com dezenas e centenas de críticas, a jovem reduz o seu companheiro, com tan-tos anos de prática quanto ela à mísera condição de um aspirante iniciado, di-ria que, talvez, com ap-enas uns cinco minutos de uma aula de ballet. O tempo vai passando e pas-sando. A hora do espec-táculo aproxima-se mas a bailarina nada faz, ocupa-se a comentar a fraca per-formance do seu colega e prepara-se para o seu show. Vai para o palco e actua como se nada fosse. Centra-se no seu umbigo e compromete a sua paixão, a sua arte: o ballet. Ser crítico é alta-mente produtivo, mas ap-enas quando essa crítica é exposta e fundamentada à pessoa em causa. No fi-nal de tudo, o par da jovem

A Bailarina Frustrada e o Bailarino Ignorante furiosa nunca ficou a saber das milhentas acusações que esta fez, do cenário negro que pintou e do abominável papel que este iria ter na actuação. A verdade é que muitos dos nossos dias funcionam à semelhança da bailarina frustrada e do bailarino ignorante. Pode parecer uma história de cri-anças em que o “era uma vez” força o final feliz e a liçãozinha de moral. Excep-cionalmente, este final tem algo de feliz. As críticas, e entendam-se as positivas e as negativas, são guar-dadas no entendimento de cada, ou então partilhadas na conhecida ‘conversa de corredores’. O que pode ser melhorado deixa de o ser e, muitas vezes, o que está bom é alterado por falta de receptividade do público. Quando o portu-guês vai ao teatro veste-se a rigor, digamos que este hábito ainda perdura. O amor desta velha tradição de família torna-se, muitas vezes, um desamor quan-do a receptividade é nula, quando não há percepção pela parte do artista quanto à opinião do público. Se há

portugueses que se rec-usam a pisar uma sala de teatro acusando uma per-da de qualidade artística, nada o fazem para inverter a situação e levar o nosso país para a frente. Não são capazes de procurar um artista, questionar os seus actos e, talvez, propor no-vas abordagens. Os ar-tistas são as luzes do es-pectáculo, mas a plateia

AMariana Catarino

também tem sempre algo a dizer. Algo a valorar, algo a apontar e, num efeito de bola de neve tudo vai se seguindo assim no nosso país. Se não gostamos de

um teatro, dizemos a todos os nossos familiares, ami-gos, amigos de amigos, co-legas de trabalho e até ao vizinho do senhor do café. Os principais interessados - os artistas - permanecem

“Os artistas são as luzes do espectáculo, mas a plateia também tem sempre algo a dizer.”

na ignorância como o eter-no bailarino desconhece-dor. Nestes princípios se molda a nossa sociedade. Um elogio, desde que não seja bajulador, é um sinal de continuação de um bom caminho e uma crítica neg-ativa é sempre um apontar para um caminho diferente.

Crónica