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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Gilliard Molina Rosa RESUMO Os direitos fundamentais do homem são aqueles oriundos da própria condição humana e que estão previstos pelo ordenamento constitucional. Aliás, esses direitos não podem ser alterados ou abolidos. Como o texto constitucional só pode sofrer alterações por meio de Emendas à Constituição, e não sendo possível qualquer proposta tendente a alterar ou a abolir os direitos individuais, certo é que eles jamais serão suprimidos, a não ser por outra Assembléia Nacional Constituinte. Além dos direitos, os remédios constitucionais processuais, também chamados garantias constitucionais, que são os meios oferecidos para a proteção dos direitos humanos. Palavras-chave: direitos; garantias; constituição 1 INTRODUÇÃO Desde 1964 estava o Brasil sob o regime da ditadura militar, e desde 1967 sob uma constituição imposta pelo governo. O sistema de exceção, em que as garantias individuais e sociais eram diminuídas (ou mesmo ignoradas), e cuja finalidade era garantir os interesses da ditadura (internalizado em conceitos como segurança nacional, restrição das garantias fundamentais, etc.) fez crescer, durante o processo de abertura política, o anseio por dotar o Brasil de uma nova Constituição, defensora dos valores democráticos. Anseio este que se tornou necessidade após o fim da ditadura militar e a redemocratização do Brasil, a partir de 1985.

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Gilliard Molina Rosa

RESUMO

Os direitos fundamentais do homem são aqueles oriundos da própria condição humana e que estão previstos pelo ordenamento constitucional. Aliás, esses direitos não podem ser alterados ou abolidos. Como o texto constitucional só pode sofrer alterações por meio de Emendas à Constituição, e não sendo possível qualquer proposta tendente a alterar ou a abolir os direitos individuais, certo é que eles jamais serão suprimidos, a não ser por outra Assembléia Nacional Constituinte. Além dos direitos, há os remédios constitucionais processuais, também chamados garantias constitucionais, que são os meios oferecidos para a proteção dos direitos humanos.

Palavras-chave: direitos; garantias; constituição

1 INTRODUÇÃO

Desde 1964 estava o Brasil sob o regime da ditadura militar, e desde 1967 sob uma constituição imposta pelo governo.

O sistema de exceção, em que as garantias individuais e sociais eram diminuídas (ou mesmo ignoradas), e cuja finalidade era garantir os interesses da ditadura (internalizado em conceitos como segurança nacional, restrição das garantias fundamentais, etc.) fez crescer, durante o processo de abertura política, o anseio por dotar o Brasil de uma nova Constituição, defensora dos valores democráticos. Anseio este que se tornou necessidade após o fim da ditadura militar e a redemocratização do Brasil, a partir de 1985.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normativas, situando-se no topo da pirâmide normativa. É a sétima a reger o Brasil desde a sua Independência.

O objetivo deste trabalho, é mostrar a importância da utilização da referida constituição na vida de cada um de nós seres humanos.

_________________________________

Este exemplo foi apresentado como avaliação do curso ACG – Estudos de Web 2.0 2009/1 e autorizado pelo aluno para constar neste anexo

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2 ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO

A Constituição de 1988 está dividida em 10 títulos. As temáticas de cada título

são:

- Preâmbulo - introduz o texto constitucional. De acordo com a doutrina

majoritária, o preâmbulo não possui força de lei.

- Princípios Fundamentais - anuncia sob quais princípios será dirigida a

República Federativa do Brasil.

- Direitos e Garantias Individuais - elenca uma série de direitos e garantias

individuais, coletivos, sociais, de nacionalidade e políticos. As garantias ali inseridas

(muitas delas inexistentes em Constituições anteriores) representaram um marco na

história brasileira.

- Organização do Estado - define o pacto federativo, alinhavando as atribuições

de cada ente da federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Também

define situações excepcionais de intervenção nos entes federativos, além de versar sobre

administração pública e servidores públicos.

- Organização dos Poderes - define a organização e atribuições de cada poder

(Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário), bem como de seus agentes

envolvidos. Também define os processos legislativos (inclusive para emendar a

Constituição).

- Defesa do Estado e das Instituições - trata do Estado de Defesa, Estado de

Sítio, das Forças Armadas e das Polícias.

- Tributação e Orçamento - define limitações ao poder de tributar do Estado,

organiza o sistema tributário e detalha os tipos de tributos e a quem cabe cobrá-los. Trata

ainda da repartição das receitas e de normas para a elaboração do orçamento público.

- Ordem Econômica e Financeira - regula a atividade econômica e também

eventuais intervenções do Estado na economia. Discorre ainda sobre as normas de

política urbana, política agrícola e política fundiária.

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- Ordem Social - trata da Seguridade Social (incluindo Previdência Social),

Saúde, Assistência Social, Educação, Cultura, Desporto, Meios de Comunicação Social,

Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Família, além de dar atenção especial aos

seguintes segmentos: crianças, jovens, idosos e populações indígenas.

- Disposições Gerais - artigos esparsos versando sobre temáticas variadas e que

não foram inseridas em outros títulos em geral por tratarem de assuntos muito

específicos.

- Disposições Transitórias - faz a transição entre a Constituição anterior e a nova.

Também estão incluídos dispositivos de duração determinada.

3 OS DIREITOS INDIVIDUAIS CONSTITUCIONAIS

A lei regula as relações dos homens em sociedade e o Estado tem o dever de amparar e

proteger todas as pessoas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras. Por conseguinte,

constitucionalmente, o Estado garante a todos: a vida, a liberdade (por exemplo, liberdade de

locomoção, do exercício profissional, de reunião), a igualdade (todos são iguais perante a lei, sem

distinção de sexo, raça, cor, trabalho, religião e convicções políticas), a segurança (é proibida a

tortura e também a inviolabilidade da moradia, da correspondência), a propriedade (proteção à

propriedade literária, científica e artística, direito à herança). A característica essencial desses

direitos individuais é a inviolabilidade.

A atual Constituição Federal impôs nova ordem ao País, com mudanças profundas nos

direitos individuais, as quais podemos verificar, de pronto, pelo elenco dos direitos humanos

definidos em seu artigo 5.º.

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do Dos Direitos e Garantias Fundamentais: direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.

Aliás, os preceitos constitucionais devem ser os mais abrangentes, no tocante aos direitos

individuais.

4 OS DIREITOS POLÍTICOS COMO DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os Direitos Fundamentais do ser humano, tendo como sinônimo a expressão

Direitos Humanos, compõem-se dos Direitos Individuais fundamentais (vida, liberdade,

igualdade, propriedade, segurança); dos Direitos Sociais (trabalho, saúde, educação, lazer

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e outros); dos Direitos Econômicos (consumidor, pleno emprego, meio ambiente); e dos

Direitos Políticos (formas de realização da soberania popular).

Estes grupos se complementam e integralizam de tal forma, que sem a existência

de todos eles, torna-se impossível a plenitude dos Direitos Humanos.

Ao trabalharmos a questão Direitos Fundamentais faz-se necessário mencionar

que esses direitos devem estar garantidos por uma lei, da mesma forma que todo direito

de uma pessoa. Todavia, essa lei que garante os Direitos Fundamentais do ser humano

tem de ser uma lei matriz, que fundamenta as outras. Destarte, os Direitos Fundamentais

são garantidos pela Constituição, lei fundamental, que origina e valida todas as demais.

Segundo José Magalhães citado por Paula Junqueira Dorella (disponível em:

http://jus2uol.com.br/doutrina/lista.asp?assunto=554)

“São direitos de participação popular no Poder do Estado, que

resguardam a vontade manifestada individualmente por cada eleitor

sendo que a sua diferença essencial para os Direitos Individuais é que,

para estes últimos, não se exige nenhum tipo de qualificação em razão

da idade e nacionalidade para o seu exercício, enquanto que para os

Direitos Políticos, determina a Constituição requisitos que o indivíduo

deve preencher".

5 O QUE MUDOU NO BRASIL COM A CONSTITUIÇÃO DE 1988

A seguir, uma breve análise de como era e como ficou o nosso País com a

Constituição de 1988.

Ambiente

Como era

Até 1988, o ambiente era considerado um bem econômico e nem era citado na

Constituição. Era possível a apropriação para fins particulares de áreas como lagos e

açudes, por exemplo, e indústrias não precisavam ter grandes cuidados com seu impacto

nanatureza.

Como ficou

Pela primeira vez, a Carta Magna trouxe um capítulo inteiro tratando do tema, o

VI - no total, são mais de 40 artigos espalhados pelo documento. O artigo 225 determinou

que: “o ambiente é um bem público, cujos titulares são as presentes e futuras gerações, e

a preservação da natureza, um direito fundamental do cidadão”.

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REPARAÇÃO AOS ANISTIADOS

Como era

Não existia.

Como ficou

O Artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias previu a

reparação aos anistiados. Isso foi regulamentado pela Lei 10.559.

VOTO AOS 16 ANOS

Como era

A Constituição Brasileira de 1934 estabeleceu o voto secreto e obrigatório para

maiores de 18 anos. A partir do início do regime do Estado Novo, em 1937, o direto ao

voto foi vetado.

Como ficou

Com a Constituição de 1988, foram determinada as eleições diretas para a

presidente, governador, deputado estadual e federal, senador e vereador. E o direito ao

voto facultativo foi dado aos jovens a partir dos 16 anos.

FIM DA DIFERENÇA ENTRE IRMÃOS

Como era

Filhos concebidos fora do casamento eram discriminados, com menos direitos do

que os irmãos "legítimos". Com a lei do Divórcio de 1977, houve um avanço estendendo

o direito de herança a filhos ilegítimos, mas o filho só podia exigir a Investigação de

Paternidade se o pai não estivesse casado com outra mulher. Dependia do

reconhecimento voluntário do pai. Com isso, o filho passava a ser "legitimado", o que era

diferente do "legítimo" (fruto do casamento)

Como ficou

A lei assegurou a igualdade entre os irmãos, independentemente de terem sido

concebidos dentro ou fora do casamento, e proibiu qualquer tipo de discriminação.

APOSENTADORIA RURAL

Como era

Lei Complementar 11/71

- Quem era segurado: somente o chefe da família, em geral o homem;

- Contribuição: os agricultores repassavam ao governo 2% sobre a produção rural que era

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comercializada. Além disso, todas as empresas urbanas do país contribuíam com 2,4%

por mês sobre a folha de pagamento;

- Benefícios: aposentadoria por idade aos 65 anos, pensão por morte, aposentadoria por

invalidez e auxílio funeral;

- Valor do benefício: meio salário mínimo;

- Idade para aposentadoria: 65 anos

Como ficou

Lei 8.213/91

- Quem era segurado: todos os membros do grupo familiar. Não só o chefe da família,

mas homem e mulher estão inseridos na previdência;

- Contribuição: os agricultores contribuem com 2,1% sobre a produção comercializada;

- Benefícios: aposentadoria por idade, auxílio-doença, aposentadoria por invalidez,

auxílio-acidente, salário maternidade, pensão por morte e auxílio reclusão. Os

empregados rurais têm direito também a aposentadoria por tempo de contribuição;

- Valor do benefício: pelo menos um salário mínimo. O valor varia conforme a

contribuição adicional, que é facultativa;

- Idade para aposentadoria: 55 anos para mulher e 60 anos para homem.

SALÁRIO MÍNIMO PARA IDOSOS

Como era

A lei 6.179, de 1974, criou o benefício chamado de renda mensal vitalícia para

pessoas com mais de 70 anos que não tivessem como se sustentar. Para se habilitar, havia

exigências como ter sido filiado à Previdência Social por pelo menos 12 meses e ter

exercido atividade remunerada abrangida pela Previdência. O benefício era de meio

salário mínimo.

Como ficou

Para garantir condições mínimas de vida digna aos idosos, a Constituição de 1988

estipulou o pagamento de um salário mínimo mensal àqueles que não tivessem condições

de se manter, mesmo que nunca houvessem contribuído para a Previdência. O benefício

passou a ser concedido a partir dos 67 anos. Em 2003, o Estatuto do Idoso reduziu a

idade para 65 anos. Para ter direito a ele, a renda familiar per capita deve ser inferior a

um quarto do salário mínimo.

SUS

Como era

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Pela Lei 6.439, de 1º de setembro de 1977, o Instituto Nacional de Assistência

Médica da Previdência Social (Inamps) se obrigava de atender somente os brasileiros

contribuintes da previdência e seus dependentes. Os demais, na maior parte das vezes,

acabavam dependendo da disponibilidade de vagas em instituições filantrópicas como as

Santas Casas, que se dedicavam a atender pobres e indigentes.

Como ficou

O artigo 196 da Constituição estabeleceu que: "a saúde é um direito de todos e um

dever do Estado". A partir disso, estava aberto o caminho para que todo cidadão,

independentemente de estar trabalhando ou de contribuir para a previdência, tivesse

direito de acesso ao sistema público de saúde por meio do SUS. O antigo Inamps acabou

oficialmente extinto em 1993.

INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Como era

Um delegado de polícia podia assinar o próprio mandado, ou seja, autorizar a si

mesmo a entrada na casa do suspeito. Era comum, também, a prisão para averiguação.

Policiais prendiam primeiro e informavam ao juiz depois. Era o equivalente à atual prisão

temporária, só que sem ordem judicial, como é exigido agora.

Como ficou

O Artigo 5º da Constituição diz que:

“ a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

RACISMO

Como era

Conhecida como Lei Afonso Arinos, em homenagem ao ex-deputado federal

mineiro autor da norma, a lei 1.390, de 1951, dava o grau de contravenção penal aos atos

de preconceito racial, ou seja, não era considerado crime e estava no mesmo nível de

punição, por exemplo, para o jogo do bicho. Em 1985, houve uma nova redação para a

legislação, mas que manteve a discriminação racial como contravenção e a pena máxima

para quem os cometia era de no máximo um ano de prisão.

Como ficou

A Constituição Federal tornou a prática do racismo crime inafiançável, sujeito à

pena de reclusão. Para garantir a aplicabilidade desse dispositivo que se encontra no

artigo 5º da Carta Magna, em 1997, foi promulgada a lei 9.459, que inclui o delito no

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Código Penal. Dessa forma, se a injúria cometida contra outra pessoa consistir na

utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia ou etnia, a pena é de um a três anos

de prisão. Caso a ocorra o crime de divulgação de material ou símbolos nazista, seja por

intermédio dos meios de comunicação social ou qualquer outro tipo de publicação, a pena

pode chegar a cinco anos de reclusão.

SALÁRIO MÍNIMO PARA DEFICIENTES

Como era

Não havia benefícios para quem não contribuía com a Previdência. Se uma pessoa

se tornasse deficiente física ou mental, a lei 6.179, de 1974, que criou a pensão mensal

vitalícia lhe assegurava meio salário mínimo. Para se habilitar, era preciso ter sido filiado

à Previdência Social por pelo menos um ano ou exercido atividade remunerada abrangida

pela Previdência. O inválido também precisava provar que não tinha mais condições de

exercer uma atividade remunerada, não era sustentado por ninguém nem mantinha outros

meios para garantir sua sobrevivência.

Como ficou

A Constituição de 1988 criou o Benefício da Prestação Continuada (BPC) para

deficientes físicos e mentais carentes. Pela primeira vez, era concedido um salário

mínimo para pessoas que nunca haviam contribuído com a Previdência. Para se habilitar,

é preciso ser incapacitado para o trabalho remunerado e ter renda familiar per capital

inferior a um salário mínimo. Recentemente, uma mudança na regulamentação permite

que mais de uma pessoa da mesma família recebam o BPC.

UNIÃO ESTÁVEL

Como era

Até a Constituição de 1988, só eram legalmente reconhecidas as uniões oriundas

do casamento. As demais relações, sem comprovação legal, não tinham direitos, como,

por exemplo, à herança ou à pensão alimentícia. A Justiça, no entanto, garantia a divisão

do patrimônio amealhado durante a união desde que ambos tivessem contribuído

diretamente para a aquisição de bens: os termos utilizados eram "concubinato" e

"sociedade de fato". Esta concepção prejudicava especialmente as donas de casa que não

tinham como comprovar sua participação para aumentar o patrimônio do casal e não

tinham direito à divisão dos bens na separação.

Como ficou

A Constituição de 1988 ampliou a noção de família. O artigo 226 assegura

proteção do Estado também para as entidades familiares formadas por união estável (um

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termo novo, na época) e por um pai ou uma mãe e seus filhos. Com alguma resistência,

os processos de união estável foram migrando das varas cíveis para as varas de família.

Na divisão dos bens adquiridos durante o relacionamento, não havia mais necessidade de

provar a contribuição para construir o patrimônio. Em 1994, a Lei 8.971 estendeu o

direito à pensão alimentícia e à herança, desde que comprovados cinco anos de vida em

comum ou contanto que o casal tivesse filhos. Em 1996, a Lei 9.278, exigia apenas a

comprovação de coexistência pública, garantindo praticamente os mesmos direitos do

casamento, o que foi ratificado no Novo Código Civil de 2003. Somente com relação ao

direito à herança é que o Código Civil acabou retrocedendo e deferindo menos direitos ao

companheiro da união estável do que ao cônjuge.

Hoje, os casais que vivem em união estável têm a opção de fazer um contrato de

convivência por escritura pública ou junto a advogados.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Como era

Antes de 1988, questões envolvendo crianças e adolescentes eram tratadas pelo

Juizado de Menores. Os ''menores" como eram chamados, que, por desestruturação

familiar, cometiam algum delito ou viviam em situação de risco, eram muitas vezes

recolhidos a abrigos, sem avaliação profunda do contexto familiar e social.

Como ficou

Pela Constituição, crianças e adolescentes têm prioridade absoluta de direito à

alimentação, educação, saúde e a todas as formas de proteção da família, do Estado e da

sociedade. Essa prioridade foi especificada, ponto a ponto, pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), de 1990. O ECA deixa claro o que é questão infracional e o que é

abandono. A questão social ganha relevância. Programas e projetos de acolhimento, antes

assistencialistas, assumem o caráter de promoção da cidadania. Surgem as ONGs, os

conselhos tutelares. Família, Estado e sociedade são obrigados a assumir

responsabilidades.

FIM DA CENSURA

Como era

Uma série de leis e dispositivos diversos eram usados para estabelecer os critérios

da censura prévia a programas de TV, jornais, e produtos culturais como filmes, livros,

músicas e espetáculos de teatro. A lei nº 5.536, de 21 de novembro de 1968, criou o

Conselho Nacional de Censura, que deveria determinar a censura dos programas por

faixas etárias. A maioria dos vetos efetivados durante a ditadura militar, contudo,

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amparava-se em uma lei mais antiga, os 13 capítulos do Decreto 20.493/46: o

regulamento do Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP), que regulava da

censura prévia ao direito autoral e determinava, dentre outros assuntos, que nenhum filme

poderia ser exibido ao público sem censura prévia e sem um certificado de aprovação

fornecido pelo SCDP, com validade de cinco anos.

Como ficou

O artigo 5º Inciso IX da Constituição tornou a expressão da atividade intelectual,

artística, científica e de comunicação um direito individual fundamental,

independentemente de licença ou censura. Mais adiante, o artigo 220 garantia a mesma

manifestação de pensamento, criação, expressão e informação livre de restrições, e era

ainda mais explícito em seu parágrafo 2º: "é vedada toda e qualquer censura de natureza

política, ideológica e artística". A Censura Federal foi extinta e seus agentes

reaproveitados em outras funções na Polícia Federal, por determinação do artigo 23 das

Disposições Transitórias.

VOTO DOS ANALFABETOS

Como era

Antes de 1988, os analfabetos eram impedidos de fazer alistamento eleitoral no

Brasil. A definição de um conceito preciso de analfabetismo, porém, sempre foi um

problema. A emenda constitucional de 1969, por exemplo, não permitia o voto do

analfabeto. Em 1985, uma nova emenda constitucional de reformulou o conceito:

estavam impedidos de votar aqueles que não soubesse "exprimir-se na língua nacional".

Por conta da incerteza, surgiam interpretações diferentes dentro da Justiça Eleitoral. Em

alguns momentos, por exemplo, o fato de a pessoa assinar o próprio nome seria como

prova de alfabetização.

Como ficou

A Constituição reconheceu o voto dos analfabetos, até então impedidos de fazer

alistamento eleitoral.

VAGAS PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA

Como era

Não havia regulamentação.

Como ficou

O Artigo 37º estabeleceu a reserva de cargos e empregos públicos para as pessoas

portadoras de deficiência. Os critérios foram definidos posteriormente.

DEMOCRACIA DIRETA

Page 11: artigo acadêmico constituição federal

Como era

A Constituição de 1967 estabeleceu: "Todo poder emana do povo e em seu nome

é exercido". Não havia referência a representantes eleitos, muito menos à participação

direta. O presidente da República, por exemplo, era escolhido pelo Congresso ou por uma

Junta Militar.

Como ficou

Em parágrafo único, o Artigo 1º estabeleceu: "Todo o poder emana do povo, que

o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente".

A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,

com valor igual para todos, e mediante plebiscito, referendo ou iniciativa popular.

EMPREGADOS DOMÉSTICOS

Como era

Os empregados domésticos não dispunham de direitos trabalhistas. Como

autônomos, no entanto, podiam se aposentar caso contribuíssem espontaneamente para a

Previdência.

Como ficou

A Carta estendeu nove benefícios para os domésticos. O pacote é apenas parte dos

direitos dos demais trabalhadores com carteira assinada:

- Salário mínimo;

- Irredutibilidade salarial;

- Décimo terceiro salário;

- Descanso semanal remunerado;

- Férias, com acréscimo de um terço no salário;

- Licença maternidade e licença paternidade;

- Aviso prévio de 30 dias em caso de demissão;

- Aposentadoria.

OBRIGATORIEDADE DE CONCURSOS PÚBLICOS

Como era

Havia brechas para ingresso no concurso público, não estavam claros os limites

para nomeações de cargos de confiança.

Somente a primeira contratação deveria ser feita por concurso público. Uma vez

contratado, o servidor podia ser promovido com concursos internos, sem a concorrência

de candidatos de fora. As contratações temporárias não tinham limite de tempo definido.

Não havia prazo para manutenção da lista de aprovados nos concursos públicos. Se o

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candidato preferido não ficasse entre os primeiros, o administrador poderia lançar uma

nova prova.

Como ficou

As novas regras ajudaram a tornar o processo de seleção mais justo e transparente.

Funções de confiança foram limitadas a cargos de chefia, direção e assessoramento. Para

trocar de carreira dentro da administração pública, o servidor precisa fazer um novo

concurso. Temporários podem ficar somente um ano no cargo. Depois, o órgão precisa

abrir concurso. Concursos têm prazo de validade de até dois anos, prorrogável uma vez,

por igual período.

CRIAÇÃO DO STJ

Como era

Antes da Constituição de 1988, o Supremo Tribunal Federal (STF) acumulava a

análise das questões constitucionais e também das infraconstitucionais, como questões

administrativas e de direito do consumidor. À época, o Supremo passava por uma crise,

devido ao volume de processos.

Como ficou

Com o novo tribunal, o STF transformou-se em uma corte predominantemente

constitucional, deixando para o STJ as demais causas da justiça comum. O STJ seria o

órgão de cúpula da justiça comum, com a missão de uniformizar o entendimento sobre a

legislação federal.

MUDANÇA NO PERFIL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Como era

Antes, pela Constituição Federal de 1967/69, o Ministério Público era apenas

referido, no capítulo do Poder Executivo, e suas funções não eram previstas - apenas se

remetia a uma lei que poderia ser modificada a qualquer momento. Sua atuação se

concentrava na área criminal.

Como ficou

A instituição passou a defender interesses difusos e coletivos - meio ambiente,

patrimônio cultural, direito do consumidor, entre outros, e a lutar em favor da

constitucionalidade e do controle da probidade administrativa. Deixou de ser vinculada

ao Poder Executivo,  adquirindo status de uma instituição ao lado dos demais poderes do

Estado, e com garantias fundamentais para fiscalizar esses mesmos poderes.

6 CONCLUSÃO

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Vinte anos de estabilidade política e econômica e avanços significativos no sentido da

democratização da sociedade e da correção das injustiças sociais: essa é a realidade

brasileira de hoje, e esse balanço positivo é devido, em grande parte, à Constituição de

1988. Com efeito, graças aos princípios e normas que ela consagrou e aos instrumentos

de ação política e jurídica nela estabelecidos é que tem sido assegurada, sem esforço, a

continuidade da ordem constitucional democraticamente estabelecida no Brasil. A par

disso, vem crescendo continuamente a influência da Constituição na sociedade brasileira.

As pessoas estão acreditando que têm direitos e que vale a pena lutar por eles. Para a

correta avaliação da Constituição e dos resultados obtidos a partir de sua vigência, é

importante lembrar, antes de tudo, que ela foi o resultado de intensa mobilização social

em favor da dignidade da pessoa humana. A partir das reações contra as violências

praticadas pela ditadura militar, alguns pontos foram ficando claros, e o potencial cívico

adormecido do povo brasileiro foi sendo despertado. Assim surgiu a idéia de eliminar a

ditadura e, consequentemente, estabelecer uma ordem social mais justa por meio de uma

constituição. A Constituição de 1988, é, sem nenhuma dúvida, a mais democrática de

todas as que o Brasil já teve, tanto pela participação do povo quanto por seu conteúdo,

pois nela estão consagrados não só os tradicionais direitos individuais, mas também os

direitos econômicos, sociais e culturais.

Quanto aos defeitos da Constituição, é importante assinalar que algumas das

alegadas imperfeições são assim qualificadas por incompreensão ou por se referirem a

pontos que os saudosos dos antigos privilégios consideram negativos. O que importa é

que a Constituição de 1988 é, efetivamente, na sua essência, a expressão da vontade do

povo e foi um passo de grande importância no sentido de assegurar a existência de uma

ordem baseada no direito, tendo como fundamento a dignidade da pessoa humana e

prevendo os meios para que, por vias pacíficas, as pessoas de boa vontade lutem para que

os direitos fundamentais sejam direitos de todos, e não privilégios de alguns.

7 REFERÊNCIAS

Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988

DORELLA, Paula Junqueira. Os direitos políticos na constituição brasileira. Disponível em: http://jus2uol.com.br/doutrina/lista.asp?assunto=554. Acesso em: 30 de novembro de 2008.