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ESTUDOS DE ALTERNATIVAS REGULATRIAS, INSTITUCIONAIS E FINANCEIRAS PARA A EXPLORAO E PRODUO DE PETRLEO E GS NATURAL E PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRLEO E GS NATURAL NO BRASIL

ESTUDOS DE ALTERNATIVAS REGULATRIAS, INSTITUCIONAIS E FINANCEIRAS PARA A EXPLORAO E PRODUO DE PETRLEO E GS NATURAL E PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRLEO E GS NATURAL NO BRASIL

RELATRIO CONSOLIDADO

So Paulo, 26 de junho de 2009

ESTUDOS DE ALTERNATIVAS REGULATRIAS, INSTITUCIONAIS E FINANCEIRAS PARA A EXPLORAO E PRODUO DE PETRLEO E GS NATURAL E PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRLEO E GS NATURAL NO BRASIL

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Esse trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturao de Projetos do BNDES (FEP), no mbito da Chamada Pblica BNDES/FEP No. 01/2008. Disponvel tambm em .

ISBN 978-85-62690-01-3 (Bain & Company) ISBN 978-85-62691-01-0 (Tozzini Freire Advogados)

O contedo dessa publicao de exclusiva responsabilidade dos autores, no refletindo, necessariamente, a opinio do BNDES. permitida a reproduo total ou parcial dos artigos desta publicao, desde que citada a fonte.

Expediente Editores: Bain & Company e TozziniFreire Advogados

1 Edio Junho de 2009

Bain & Company Rua Olimpadas, 205 - 12 andar 04551-000 - So Paulo - SP - Brasil Fone: (11) 3707-1200 Site: www.bain.com

TozziniFreire Advogados Rua Borges Lagoa, 1328 04038-034 - So Paulo - SP - Brasil Fone: (11) 5086-5000 Site: www.tozzinifreire.com.br

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ApresentaoO BNDES tem por misso promover o desenvolvimento econmico e social do pas, e para isso apoia programas, projetos e empreendimentos nos diversos setores da economia. Visando fomentar projetos estruturantes e contribuir com um ambiente favorvel para a realizao de investimentos, o Banco criou o Fundo de Estruturao de Projetos (FEP). O intuito desse instrumento apoiar a realizao de estudos e pesquisas que contribuam para a formulao de polticas pblicas e propiciem a elaborao de projetos relacionados ao desenvolvimento econmico e social do Brasil e da Amrica Latina. O FEP constitudo com parte dos lucros anuais do BNDES. Seus recursos de natureza no reembolsvel destinam-se ao custeio de pesquisas cientficas, prospeco de projetos e estudos sobre polticas pblicas setoriais, inclusive em perspectiva comparada. Os resultados produzidos tm por finalidade alimentar o debate pblico sobre temas prioritrios, difundindo informao de qualidade para permitir a melhor avaliao possvel de alternativas. Nesse sentido, os trabalhos no visam construir proposies e no refletem, necessariamente, opinies do BNDES. O contedo dos estudos e pesquisas pblico e deve ser amplamente divulgado a toda a sociedade. Os Estudos de alternativas regulatrias, institucionais e financeiras para a explorao e produo de petrleo e gs e para o desenvolvimento industrial da cadeia produtiva de petrleo e gs no Brasil constituem o resultado do primeiro financiamento com recursos do FEP na modalidade projeto. Produzido pelo consrcio formado entre Bain Brasil e Tozzini Freire , Advogados, selecionado na Chamada Pblica BNDES/FEP n 01/2008, o estudo chega em um momento em que a recente descoberta de jazidas em territrio nacional indica uma ampliao relevante do potencial de explorao de combustveis fsseis no Brasil. Seus objetivos fundamentais so: (i) difundir informaes que permitam compreender os diferentes regimes de explorao e produo (E&P) encontrados na experincia internacional; (ii) avaliar as modalidades existentes de fundos financeiros baseados em receitas derivadas da produo de petrleo e gs; e (iii) analisar alternativas para a viabilizao de investimentos voltados explorao e produo de petrleo e gs e ao desenvolvimento industrial da respectiva cadeia produtiva em nosso pas. A disseminao de conhecimento e o planejamento de longo prazo so fundamentais para assegurar o progresso tcnico, a introduo de novos bens, servios e processos e a criao de novos plos de crescimento, necessrios para alimentar a trajetria do desenvolvimento e a competitividade nacional. Esperamos que esse estudo seja uma relevante contribuio nesse sentido.

Comit de Seleo do FEPESTUDOS DE ALTERNATIVAS REGULATRIAS, INSTITUCIONAIS E FINANCEIRAS PARA A EXPLORAO E PRODUO DE PETRLEO E GS NATURAL E PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRLEO E GS NATURAL NO BRASIL

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Lista de abreviaturas e siglas

ADIA: Abu Dhabi Investment Auhority ADNOC: Abu Dhabi National Oil Company AEA: Atomic Energy Agency AL: Alagoas AM: Amazonas ANP: Agncia Nacional do Petrleo ANTAQ: Agncia Nacional de Transportes Aquavirios APF: Alaska Permanent Fund BA: Bahia BIA: Setor de Assuntos Indgenas BLM: Setor de Administrao de Terras BNDES: Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social BNOC: British National Oil Corporation BOE: Barris de leo Equivalente BP MIGAS: Badan Pelaksana Kegiatan Usaha Hulu Minyak Dan Gas Bumi (Executive Agency for Upstream Oil and Gas Activity) BPH MIGAS: Badan Pengatur Hilir Minyak Dan Gas Bumi (Downstream Oil and Gas Regulating Body) CAGR: Compound Annual Growth Rate CE: Cear CEM-Mec: Centros de Excelncia de Metal-Mecnica CENAP: Centro de Aperfeioamento e Pesquisas do Petrleo CENPES: Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Amrico Miguez de Mello CEO: Chief Executive Officer CEQT: Centro de Excelncia em Qualidade da Terceirizao CEXISTO: Centro de Excelncia em Tecnologia do Xisto CIO: Chief Investment Officer CNPE: Conselho Nacional de Poltica Energtica COFINS: Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente CSF: Copper Stabilization Fund CVM: Comisso de Valores Mobilirios DOE: Departamento de Energia DPR: Departamento de Recursos de Petrleo (Nigria)

DTI: Departamento de Comrcio e Indstria (Reino Unido) E&P: Explorao e Produo EAD: Ensino Distncia EAU: Emirados rabes Unidos EEA: Espao Econmico Europeu EITI: Extractive Industries Transparency Initiative EPA: Agncia de Proteo do Meio Ambiente EPB: Economic Planning Board (Coria do Sul) EPC: Engineering, Procurement and Construction ES: Esprito Santo EUA: Estados Unidos da Amrica FERC: Comisso Federal de Regulao Energtica FGTS: Fundo de Garantia de Tempo de Servio FINAME: Financiamento de Mquinas e Equipamentos FINEP: Fundo de Financiamento de Estudos e Projetos FMI: Fundo Monetrio Internacional FS: Fundo Soberano FSB: Fundo Soberano do Brasil GIC: Government of Singapore Investment Corporation GLO: Escritrio Geral de Terras GPFG: Government Pension Fund Global IBAMA: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBP: Instituto Brasileiro de Petrleo, Gs e Biocombustveis IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados IWG: International Working Group of Sovereign Wealth Funds JDA: Autoridade de Desenvolvimento Conjunto (Nigria) JDZ: Joint Development Zone JOA: Joint Operation Agreement KAIST: Instituto Coreano Avanado de Cincias KDI: Korean Development Institute KIC: Korea Investment Company KIST: Instituto Coreano de Tecnologia LEMIGAS: Research and Development Centre for Oil and Gas Technology

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MATSU: Marine Technology Support Unit MENPET: Ministrio do Poder Popular para a Energia e Petrleo (Venezuela) MG: Minas Gerais MIGA: Multilateral Investment Guarantee Agency MINFIN: Ministrio das Finanas (Angola) MINPET: Ministrio do Petrleo (Angola) MME: Ministrio de Minas e Energia (Brasil) MMS: Servio de Gerncia dos Minerais MPE: Ministrio do Petrleo e Energia (Noruega) MTD: Marine Technology Directorate NNPC: Nigerian National Petroleum Corporation (Nigria) NOC: National Oil Company NPC: National Petroleum Consultants NPD: Norwegian Petroleum Directorate NWF: National Wealth Fund OC: Oil Company OCDE: Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico OCSLA: Outer Continental Shelf Lands Act OETB: Offshore Energy Technology Board OPEP: Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo OSA: Acordo de Servios Operacionais OSO: Offshore Supplies Office P&G: Petrleo e Gs PAC: Programa de Acelerao do Crescimento PDVSA: Petrleos de Venezuela S.A. PEM: Plano Exploratrio Mnimo PEMEX: Petrleos Mexicanos Pertamina: National Oil and Natural Gas Company PETROBRAS: Petrleo Brasileiro S.A. PEX: Participao Extraordinria PIB: Produto Interno Bruto PIDIREGAS: Proyectos de Infraestructura Diferidos en el Registro del Gasto

PIS: Programa de Integrao Social PPP: Parceria Pblico-Privada PR: Paran PROMINP: Programa de Mobilizao da Indstria Nacional de Petrleo e Gs Natural PSC: Production Sharing Contracts (Contratos de Partilha de Produo) QIA: Qatar Investment Authority REPETRO: Regime Aduaneiro Especial de Exportao e Importao de Bens Destinados s Aividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petrleo e de Gs Natural RF: Reserve Fund RJ: Rio de Janeiro RN: Rio Grande do Norte RRC: Comisso de Ferrovias do Texas RS: Rio Grande do Sul SCPMA: Supreme Council of Petroleum and Mineral Affairs SDFI: States Direct Financial Interest SE: Sergipe SEBRAE: Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SERC: Science and Engineering Research Council SISCO: Saudi International Service Company SOFAZ: State Oil fund of the Azerbaijan Republic Sonangol: Sociedade Nacional de Combustveis de Angola SPE: Sociedade de Propsito Especfico TCEQ: Comisso Texana em Qualidade do Meio-Ambiente TIR: Taxa Interna de Retorno UEP: Unidade Estacionria de Produo UiS: Universidade de Stavanger UKCS: United Kingdom Continental Shelf UOA: Unit Operating Agreement VPL: Valor Presente Lquido

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ndice1.

Introduo.......................................................................................................................................... 10

2.

Estrutura do trabalho ...................................................................................................................... 13Definio dos temas principais.................................................................................................. 13 Regimes jurdico-regulatrios e contratuais de E&P de petrleo e gs ........................................ 15 Fundos financeiros baseados em receitas de petrleo e gs (ou similares) ................................. 17 Desenvolvimento da cadeia produtiva de petrleo e gs e investimentos em E&P ...................... 19

2.1. 2.2. 2.3. 2.4.

3. Regimes 3.1. 3.2. 3.2.1. 3.2.2. 3.2.3. 3.2.4. 3.2.5. 3.2.6. 3.2.7. 3.2.8. 3.2.9. 3.2.10. 3.3. 3.3.1. 3.4.

jurdico-regulatrios e contratuais de E&P de petrleo e gs ............................................................................................................... 21Caracterizao conceitual dos regimes existentes ...................................................................... 21 Experincia internacional .......................................................................................................... 36 Estados Unidos de Amrica .................................................................................................. 38 Emirados rabes Unidos ...................................................................................................... 43 Reino da Noruega ............................................................................................................... 46 Repblica de Angola ............................................................................................................ 50 Repblica da Indonsia ........................................................................................................ 53 Estados Unidos Mexicanos ................................................................................................... 57 Reino da Arbia Saudita ...................................................................................................... 60 Repblica Bolivariana da Venezuela...................................................................................... 63 Federao Russa ................................................................................................................. 66 Repblica Federal da Nigria ............................................................................................... 70 O caso brasileiro ...................................................................................................................... 74 Caracterizao do regime de concesso atual ...................................................................... 74 Particularidades dos Regimes .................................................................................................... 81

4. Fundos 4.1. 4.2. 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.3. 4.3.1 4.3.2 4.3.3 4.3.4 4.3.5 4.3.6 4.3.7 4.3.8 4.3.9 4.4.

financeiros baseados em receitas de petrleo e gs (ou similares).................................................................................................... 88Introduo................................................................................................................................ 88 Contextualizao de FSs, oil funds e similares ........................................................................... 89 Definio de fundos soberanos e oil funds............................................................................ 89 Histrico de constituio ...................................................................................................... 89 Mercado atual de FSs e perspectivas para o futuro ................................................................ 90 Alternativas conceituais de institucionalizao de FSs ................................................................ 92 Objetivos de FSs.................................................................................................................. 93 Instrumentos legais de formalizao ..................................................................................... 94 Regras de entrada e retirada de recursos.............................................................................. 94 Regras para alocao de recursos ........................................................................................ 95 Polticas de parcerias com outras instituies financeiras........................................................ 96 Metas do gestor .................................................................................................................. 96 Modelos de remunerao do gestor ..................................................................................... 96 Mecanismos de governana, controle e superviso ............................................................... 97 Alternativas operacionais ..................................................................................................... 98 Caracterizao dos casos representativos da experincia internacional ...................................... 98

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4.5. 4.5.1 4.5.2 4.5.3 4.5.4 4.5.5 4.5.6 4.5.7 4.5.8 4.5.9 4.5.10

Avaliao da adequao da instituio de diferentes modelos de oil funds existentes para o caso brasileiro ............................................................................... 103 Objetivos de FSs................................................................................................................ 103 Instrumentos legais de formalizao ................................................................................... 107 Regras de entrada e retirada de recursos............................................................................ 109 Regras para alocao de recursos ...................................................................................... 111 Polticas de parcerias com outras instituies financeiras...................................................... 111 Metas do gestor ................................................................................................................ 112 Modelos de remunerao do gestor ................................................................................... 112 Mecanismos de governana, controle e superviso ............................................................. 113 Modelo operacional .......................................................................................................... 114 Consideraes finais ......................................................................................................... 115

5.

Desenvolvimento da cadeia produtiva de petrleo e gs e investimentos em E&P.................................................................................................... 116Indstria mundial de equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs .................... 116 Introduo ........................................................................................................................ 116 A cadeia de valor de explorao e produo de petrleo e gs ........................................... 116 Mercado de servios e equipamentos de E&P de petrleo e gs ........................................... 117 Segmentao proposta do setor de servios e equipamentos de E&P.................................... 121 Metodologia de anlise dos segmentos e as indstrias relacionadas .................................... 132 Anlise de segmentos ........................................................................................................ 133 Informao de reservatrios .............................................................................................. 133 Contratos de perfurao .................................................................................................... 139 Servios de perfurao e equipamentos associados ............................................................ 145 Revestimento e completao de poos ................................................................................ 151 Infraestrutura .................................................................................................................... 156 Produo e manuteno .................................................................................................... 159 Apoio logstico .................................................................................................................. 165 Desativao ...................................................................................................................... 168

5.1. 5.1.1. 5.1.1.1. 5.1.1.2. 5.1.1.3. 5.1.1.4. 5.1.2. 5.1.2.1. 5.1.2.2. 5.1.2.3. 5.1.2.4. 5.1.2.5. 5.1.2.6. 5.1.2.7. 5.1.2.8.

5.2. Polticas pblicas nacionais de apoio ao desenvolvimento industrial e tecnolgico ................... 171 5.2.1. Introduo e abordagem metodolgica .............................................................................. 171 5.2.2. Experincias internacionais no desenvolvimento de clusters de E&P ...................................... 174 5.2.2.1. Seleo de casos para estudo ............................................................................................ 175 5.2.2.2. Modelos de desenvolvimento de sucesso ............................................................................ 175 5.2.2.2.1. Coria do Sul e Noruega ................................................................................................... 177 5.2.2.2.1.1. Coria do Sul .................................................................................................................... 178 5.2.2.2.1.2. Noruega ........................................................................................................................... 183 5.2.2.3. Reino Unido ...................................................................................................................... 187 5.2.2.4. Mxico e Indonsia............................................................................................................ 190 5.2.2.4.1. Mxico .............................................................................................................................. 190 5.2.2.4.2. Indonsia.......................................................................................................................... 197 5.2.3. O caso brasileiro da indstria de P&G................................................................................ 202 5.2.3.1. Caracterizao das polticas pblicas vigentes .................................................................... 202 5.2.3.2. Possveis alternativas para o Brasil ...................................................................................... 208 5.3. 5.3.1. 5.3.2. 5.3.3. 5.3.4. 5.3.4.1. 5.3.4.2. 5.3.4.3. 5.3.4.4. 5.3.4.5. 5.3.4.6. 5.3.5. 5.3.5.1. 5.3.5.2. Financiamento para investimentos em E&P ............................................................................. 213 Introduo ........................................................................................................................ 213 Viso geral de mecanismos de financiamento em E&P ........................................................ 214 Metodologia para o estudo dos casos da experincia internacional ..................................... 221 Experincia internacional................................................................................................... 224 Seleo de casos representativos da experincia internacional ............................................ 224 Anlise do Reino da Noruega ............................................................................................ 226 Anlise da Repblica de Angola ........................................................................................ 227 Anlise da Federao Russa .............................................................................................. 228 Anlise da Republica Bolivariana de Venezuela .................................................................. 229 Anlise do Mxico ............................................................................................................. 230 O caso brasileiro .............................................................................................................. 231 Caracterizao das prticas existentes ............................................................................... 231 Alternativas e recomendaes para o caso brasileiro .......................................................... 233

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1. IntroduoO Monoplio da Unio sobre as atividades upstream e downstream de petrleo e gs, que era realizado exclusivamente por intermdio da Petrobras, comeou a ser relativizado com a Emenda Constitucional n 9/95, que alterou o art. 177 da Constituio Federal, permitindo Unio contratar com empresas estatais ou privadas para consecuo dessas atividades. Em seguida, foi editada a Lei 9.478/97, que criou a Agncia Nacional do Petrleo (ANP) e estabeleceu as bases dessa relao entre a Unio e as OCs para as atividades petrolferas. Desde ento, com o objetivo de atrair agentes econmicos, a ANP realiza, periodicamente, Rodadas de Licitao para Explorao, Desenvolvimento e Produo de Petrleo e Gs Natural para a outorga do direito de exerccio dessas atividades no setor de petrleo e gs. No perodo de 1997 a 2007, que compreende os primeiros dez anos do atual regime regulatrio para o setor, as reservas provadas1 brasileiras de petrleo saltaram de 7,1 bilhes para 12,6 bilhes de barris e as reservas provadas de gs natural cresceram de 228 bilhes de m para 365 bilhes de m. Nesse mesmo perodo, a produo anual de petrleo aumentou de 316 milhes de barris para 669 milhes de barris e a produo anual de gs natural passou de 9,8 bilhes de m para 18,2 bilhes de m - levando a que a produo de hidrocarbonetos no Brasil mais que dobrasse em 10 anos. A participao de grande nmero de OCs nacionais e estrangeiras marcou essa trajetria, viabilizando o financiamento de tais atividades e impulsionando o desenvolvimento tecnolgico das atividades de explorao e produo no Brasil. Em abril de 2008, 72 grupos econmicos 36 de origem brasileira, includa a Petrobras, e 36 de 19 outros pases, tais como Angola, Canad, Cingapura, Colmbia, Coria do Sul, Estados Unidos, Frana, Holanda, ndia, Noruega, Portugal e Reino Unido atuavam no Brasil em atividades de explorao e produo de petrleo e gs natural, em investimentos de pequeno e de grande porte. Apesar do avanado desenvolvimento da indstria petrolfera nacional, o Brasil ainda um pas extremamente promissor para novas descobertas. De acordo com a ANP12, o Brasil possui 29 bacias sedimentares com interesse para pesquisa de hidrocarbonetos o equivalente a 7,5 milhes de km (cerca de 2,5 milhes de km2 no mar). Menos de 5% dessas reas esto sob concesso para as atividades de explorao e produo. Em 08 de novembro de 2007, s vsperas da realizao da 9 Rodada de Licitao da ANP , o Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE) anunciou, na sede da Petrobras, as primeiras avaliaes sobre as reservas da maior provncia petrolfera da empresa, denominada Tupi, localizada na bacia de Santos. Inicialmente se estimou que a reserva de Tupi contivesse quatro bilhes de barris, mas estudos mais precisos indicaram que essa descoberta detm, sozinha, aproximadamente oito bilhes de barris de leo equivalente (BOE), o que aumentaria as reservas brasileiras de hidrocarbonetos em mais de 50%. O anncio sobre a reserva de Tupi deu incio a uma srie de declaraes acerca da possvel existncia de reservas gigantescas em uma rea de fronteira exploratria denominada camada de prsal. Tal denominao deve-se ao fato de que essas reservas encontram-se armazenadas abaixo de uma espessa camada de sal, a aproximadamente seis mil metros de profundidade. O bloco de pr-sal1 Informaes retiradas do stio da ANP na internet (www.anp.gov.br), acessado em 18/12/2008.

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localiza-se a uma distncia mdia de 170 quilmetros da costa brasileira, distribuindo-se ao longo de uma faixa de aproximadamente 800 quilmetros de extenso, entre o litoral dos Estados do Esprito Santo e Santa Catarina. Apenas as descobertas de Tupi j seriam suficientes para posicionar o Brasil como potencial exportador relevante de petrleo. A Petrobras, porm, indicou que a regio de pr-sal poderia conter ainda muito mais petrleo. De acordo com a Estatal, essa nova rea exploratria poder fazer o Brasil pular da atual 24 colocao entre as maiores reservas de petrleo do mundo para 8 ou 9 lugar, posies atualmente ocupadas por Venezuela e Nigria, respectivamente. Atualmente, estima-se que as reservas brasileiras recuperveis possam atingir, pelo menos, o patamar de 100 bilhes de BOE. Em virtude dessas novas e significativas descobertas, o CNPE decidiu retirar da 9 Rodada de Licitao 41 dos 311 blocos que seriam ofertados. Esses 41 blocos encontravam-se na rea de pr-sal, nas trs principais bacias brasileiras, do Esprito Santo, Campos e Santos. A justificativa apresentada pelo Conselho foi a de que a magnitude das novas descobertas elevaria o Brasil a uma nova categoria no que tange explorao e produo de hidrocarbonetos e que, considerando os interesses do pas, seria necessria a realizao de estudos abrangentes, objetivando avaliar a adequao do marco regulatrio nacional atual nova realidade antes de que se tomasse novas decises. Suspenso o processo licitatrio dessa rea do pr-sal, iniciou-se uma srie de discusses, na esfera governamental e na sociedade civil, sobre a necessidade da adoo de alternativas estrutura jurdico-regulatria estabelecida na segunda metade dos anos 1990. A motivar essas discusses encontram-se, entre outros temas, as preocupaes com a ampliao das receitas do Estado derivadas das atividades de E&P o desenvolvimento da cadeia produtiva nacional e a robustez do marco regulatrio, , fundamentais para o desenvolvimento do setor. Existem diversos exemplos na histria mundial, inclusive no Brasil, ilustrativos de que reservas minerais ou vegetais, por mais que representem uma enorme riqueza, no so, obrigatoriamente, sinnimos de fartura e desenvolvimento para seus povos. Ciente desses riscos, o Governo pretende garantir um volume adequado de receitas governamentais oriundas da explorao de hidrocarbonetos, direcionando-as para equacionar os diversos problemas e carncias socioeconmicas do pas, lanando, assim, as bases para um desenvolvimento sustentvel e de prosperidade, que garanta qualidade de vida s geraes futuras. Em julho de 2008 foi criada uma Comisso Interministerial para analisar as diversas possibilidades e sugerir as alteraes necessrias no marco regulatrio da atividade de explorao da regio do pr-sal. Essa Comisso dever apresentar uma proposta ao Presidente da Repblica, contemplando no apenas a previso de mudanas jurdico-regulatrias que garantam a maior participao possvel do Estado nas receitas geradas sem desestimular investimentos pelas OCs, independentemente das variaes do preo do petrleo, como tambm polticas de incentivo ao desenvolvimento da indstria e da mo-de-obra nacionais. A Comisso Interministerial foi formada por cinco ministros: (i) de Minas e Energia, Edison Lobo, Coordenador da Comisso; (ii) da Casa Civil, Dilma Rousseff; (iii) do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, Miguel Jorge; (iv) da Fazenda, Guido Mantega; e (v) do Planejamento, Paulo Bernardo; alm dos presidentes do (vi) Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), Luciano Coutinho; (vii) da Agncia Nacional do Petrleo (ANP), Haroldo Lima, e (viii) da Petrobras, Jos Srgio Gabrielli. Os referidos membros no so remunerados, pois a participao na Comisso considerada prestao de servio relevante. O objetivo da supracitada Comisso oferecer macro-opes Presidncia da Repblica, para que o Presidente possa tomar decises de forma fundamentada. Este estudo, financiado com recursos do Fundo de Estruturao de Projetos (FEP) do Banco Na-

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cional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), integra-se ao esforo de anlise desencadeado com a instituio da Comisso Interministerial acima referida. Ele pretende prover sociedade brasileira um amplo mapeamento da experincia internacional no setor de petrleo e gs, com o objetivo de consolidar um arcabouo informativo em relao a 3 temas principais: (i) Modelos jurdico-regulatrios do mundo, desde sua evoluo histrica at as legislaes vigentes, apontando pontos de especial interesse;

(ii) Fundos financeiros baseados em receitas derivadas da produo de petrleo; e (iii) Viabilizao de investimentos voltados explorao e produo de petrleo e gs e desenvolvimento industrial da cadeia produtiva de petrleo e gs. De modo a facilitar o entendimento do leitor sobre a abrangncia do presente trabalho, o captulo seguinte trar sua estrutura completa, identificando os temas abordados.

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2. Estrutura do trabalho2.1. Definio dos temas principaisConforme exposto anteriormente, as descobertas de hidrocarbonetos em grande volume na camada de pr-sal vm estimulando a reflexo sobre temas relacionados, tanto por parte de agentes econmicos como da sociedade civil. Este estudo busca contribuir com contedo e avaliao tcnica para o enriquecimento de alguns dos temas em discusso. Primeiramente, torna-se necessrio definir melhor a estrutura do trabalho, objetivo do presente captulo. Os temas objeto deste estudo sero inicialmente definidos, bem como suas principais metas. Em seguida, cada um desses temas ser detalhado, sob as dimenses de estruturao do contedo deste documento. Finalmente, sero estabelecidas as associaes entre o contedo sumarizado no presente relatrio (que ser denominado de Relatrio Consolidado) e as sees que esto publicadas nos relatrios detalhados deste estudo (chamados de Relatrios I a III). Vale destacar, adicionalmente, que os autores deste estudo se privaram, de forma deliberada, de referenciar fontes bibliogrficas utilizadas ao longo do Relatrio Consolidado, bem como associar as sees subseqentes do Relatrio Consolidado com as correspondentes aos Relatrios I a III apenas neste captulo. Essa ao possui objetivo de propiciar uma leitura mais objetiva do Relatrio Consolidado, sem causar prejuzo ao leitor que necessite de auxlio para consultar os detalhes sobre cada tema abordado neste relatrio (disponveis nos Relatrios I a III), bem como as fontes bibliogrficas. Este estudo versa sobre trs temas principais, cujos objetivos so sumarizados conforme abaixo: 1. Regimes jurdico-regulatrios e contratuais de E&P de petrleo e gs: com respeito a este tema, o estudo tem como objetivos: a. Caracterizar os conceitos e dimenses relevantes que permeiam a constituio dos regimes ou, em outras palavras, as regras de relacionamento entre os governos dos pases hospedeiros das reservas de petrleo e gs e as empresas produtoras (denominadas, neste estudo, Oil Companies ou OCs); b. Compreender os detalhes da aplicao prtica desses conceitos e elementos em experincias internacionais; c. Extrair, dos conceitos e experincias, elementos de distino dos regimes existentes (concesses, partilha de produo, contratao de servios e joint ventures); d. Caracterizar o contexto regulatrio atual no Brasil, e contrast-lo com os aprendizados da experincia internacional; 2. Fundos financeiros baseados em receitas de petrleo e gs (ou similares): o estudo objetiva: a. Caracterizar os conceitos e elementos relevantes que permeiam a constituio de fundos financeiros para gerir os recursos captados pela taxao das futuras operaes de petrleo e gs (denominados, neste estudo, Fundos Soberanos ou FSs), bem como os elementos motivadores que podem ensejar sua constituio;

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b. Compreender os detalhes da aplicao prtica desses conceitos e elementos em experincias internacionais; c. Avaliar a adequao da instituio de diferentes modelos de FSs para o caso brasileiro.

3. Desenvolvimento da cadeia produtiva de petrleo e gs e investimentos em E&P: finalmente, em relao a este tema o estudo busca: a. Caracterizar a indstria mundial de equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs, seus segmentos, dimenses, players, tendncias tecnolgicas, estratgias de localizao e especializao da produo, bem como o posicionamento da indstria localizada no Brasil; b. Caracterizar e analisar polticas pblicas nacionais de apoio ao desenvolvimento industrial e tecnolgico, e propor recomendaes para o caso brasileiro; c. Caracterizar e avaliar os modelos existentes de financiamento para investimentos em E&P na experincia internacional, e propor recomendaes para o caso brasileiro.

Na seqncia, o raciocnio deste captulo prossegue com a explicao dos temas e as associaes do contedo do Relatrio Consolidado com os relatrios detalhados, sendo esses feitos em cada seo particular.

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2.2. Regimes jurdico-regulatrios e contratuais de E&P de petrleo e gsEste tema ser descrito no captulo 3 deste relatrio, no qual foi aplicada a estruturao lgica do contedo conforme a Figura 1 resume.

Figura 1: Estruturao lgica do contedo do captulo 3 - regimes jurdico-regulatriosCaracterizao conceitual dos regimes existentes Conceituao inicial: o que regime jurdico-regulatrio?

Experincia Internacional Definio dos critrios de seleo dos casos internacionais

O caso brasileiro Histrico brasileiro do marco legal

Caracterizao das dimenses no Apresentao das dimenses relevantes Seleo dos casos internacionais marco legal vigente que compem um regime Para cada caso: Anlise financeira Caracterizao das dimenses que - Breve introduo do pas e marco Destaque de pontos relevantes diferenciam os regimes existentes legal - Concesso - Caracterizao das dimenses - Partilha de produo - Anlise financeira - Contratos de servio - Destaque de pontos relevantes - Join ventures - Classificao dos casos conforme os Caracterizao das outras dimenses regimes existentes relevantes Apresentao do contexto atual de aplicao de regimes no mundo

Fonte: Bain & Company, TozziniFreire Advogados

Como pode ser observada na Figura 1, a estrutura lgica aplicada segue trs passos: inicialmente, os regimes existentes sero caracterizados de forma conceitual (seo 3.1); o segundo passo consiste na descrio e avaliao de dez casos internacionais (seo 3.2); finalmente, o caso brasileiro descrito e analisado sob a tica histrica.

A seo 3.1 deste documento, caracterizao conceitual dos regimes existentes, ter o seguinte roteiro: O conceito de regime jurdico-regulatrio e contratual caracterizado; As dimenses relevantes da constituio de um regime jurdico-regulatrio e contratual genrico sero apresentadas; As dimenses sero caracterizadas de forma conceitual e por meio de exemplos de alternativas que so aplicadas na experincia prtica. Primeiramente, as dimenses que definem a modalidade de regime utilizada (concesso, partilha da produo, contrato de servio ou joint venture) sero abordadas, e posteriormente o mesmo ser realizado para as outras dimenses; Finalmente, um panorama global de adoo de cada uma das modalidades de regime ser ilustrado por meio de um mapa-mndi, sendo complementado com comentrios que justificam a formao do mesmo.

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Quanto seo 3.2 (experincia internacional), a lgica aplicada na estruturao do contedo segue a seguinte ordem: Inicialmente, os casos de experincia internacional (ou pases) sero definidos, bem como seus critrios de seleo; Para cada um dos pases, ser descrito um sumrio do seu histrico e das dimenses definidas na seo 3.1. Uma breve avaliao financeira do regime em anlise tambm compor este sumrio. Complementando a caracterizao do caso, pontos e temas que sejam merecedores de maior destaque sero elaborados; Finalmente, o regime adotado por cada pas ser classificado em uma das modalidades existentes (ou em regime misto) por meio da avaliao das dimenses que caracterizam as modalidades explicitadas na seo 3.1. Finalmente, a seo 3.3 (o caso brasileiro) ir aplicar a mesma metodologia de cada caso internacional para o regime brasileiro no item 3.3.1. Cabe ressaltar que este relatrio, como a prpria denominao sugere, consiste em uma verso resumida de um estudo mais detalhado, tambm disponvel para anlise do leitor nos j chamados Relatrios I a III. Mais especificamente, o captulo 3 resume o Relatrio I deste trabalho. A associao de contedo entre as sees do captulo 3 do Relatrio Consolidado com o Relatrio I pode ser obtida por meio da Tabela 1.

Tabela 1: associao entre Relatrio Consolidado e Relatrio IRelatrio Consolidado3.1. Caracterizao conceitual dos regimes existentes

Relatrio IConcesso: I.2.1, I.2.2 Contrato de Partilha da Produo: I.3.1, I.3.2 Contrato de Servios: I.4.1, I.4.2 Joint Ventures: I.5.1, I.5.2 Regimes Mltiplos : I.6.1, I.6.2 I.2.3.2 I.2.3.3 I.2.3.4 I.3.3.1 I.3.3.2 I.4.3.2 I.4.3.1 I.5.3.1 I.6.2.1 I.6.2.2 I.2.3.1 No h

3.2. Experincia internacional 3.2.1. Estados Unidos da Amrica 3.2.2. Emirados rabes Unidos 3.2.3. Reino da Noruega 3.2.4. Repblica de Angola 3.2.5. Repblica da Indonsia 3.2.6. Estados Unidos Mexicanos 3.2.7. Reino da Arbia Saudita 3.2.8. Repblica Bolivariana da Venezuela 3.2.9. Federao Russa 3.2.10. Repblica Federal da Nigria 3.3. O caso brasileiro 3.3.1. Caracterizao do regime atual 3.4. Particularidades dos regimes

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2.3. Fundos financeiros baseados em receitas de petrleo e gs (ou similares)A discusso sobre fundos financeiros baseados em receitas petrolferas ser desenvolvida no captulo 4 do presente relatrio, de acordo com a estrutura ilustrada na Figura 2.

Figura 2: Estruturao do contedo do captulo 4 fundos financeirosContextualizao Definio de fundos soberanos Histrico Mercado atual e perspectivas futuras

Caracterizao conceitual Desenvolvimento do marco analtico Caracterizao das dimenses relevantes de anlise

Anlise de casos da experincia internacional Definio dos critrios de seleo dos casos internacionais Anlise de cinco casos de experincia internacional de acordo com marco analtico

Aplicabilidade para o caso brasileiro Definio dos critrios para definir aplicabilidade de modelos conceituais de fundos soberanos para o caso brasileiro Avaliao da aplicabilidade em cada dimenso do marco analtico

Fonte: Bain & Company

Conforme mostra a Figura 2, a estrutura lgica aplicada segue quatro passos: aps uma breve introduo (seo 4.1), ser fornecida uma contextualizao da discusso acerca de fundos financeiros baseados em receitas do petrleo (seo 4.2); em seguida, esse tipo de fundo ser caracterizado de forma conceitual (seo 4.3); o terceiro passo consiste na descrio e avaliao de cinco casos internacionais (seo 4.4); e finalmente, avaliar-se- a aplicao de um fundo baseado em receitas petrolferas no caso brasileiro (seo 4.5). A seo 4.2 deste documento, contextualizao de fundos soberanos, abordar os seguintes tpicos: Definio de fundos baseados nas receitas de petrleo e outros tipos de fundos soberanos; Histrico de constituio desse tipo de fundo; Situao atual do mercado de fundos soberanos e tendncias para o futuro;

Na seo 4.3, os fundos soberanos sero caracterizados conceitualmente, de acordo com os seguintes passos: Primeiramente ser desenvolvido um marco analtico que balizar o estudo conceitual de fundos soberanos; Em seguida, alternativas conceituais de institucionalizao de fundos soberanos sero estudadas em cada dimenso do marco analtico apresentado. Na seo 4.4, sero abordados cinco casos da experincia internacional, seguindo a estrutura abaixo: Definio dos critrios de seleo dos casos internacionais a serem estudados detalhadamente; Anlise dos casos da experincia internacional luz do marco analtico desenvolvido na seo 4.3.

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Finalmente, a seo 4.5 avaliar a adequao da instituio de diferentes modelos conceituais de fundos soberanos para o caso brasileiro: Primeiramente, sero definidos os critrios segundo os quais a aplicabilidade ao caso brasileiro ser analisada; A aplicao de modelos conceituais de fundos soberanos ao caso brasileiro ser avaliada separadamente para cada uma das dimenses do marco analtico desenvolvido na seo 4.3.

Faz-se importante ressaltar que este relatrio, como a prpria denominao sugere, consiste em uma verso resumida de um estudo mais detalhado, disponvel nos Relatrios I a III. Mais especificamente, o captulo 4 resume o Relatrio II do presente trabalho. A associao do contedo das sees do captulo 4 do Relatrio Consolidado com o Relatrio II pode ser observada na tabela a seguir.

Tabela 2: associao entre Relatrio Consolidado e Relatrio IIRelatrio Consolidado4.1. Introduo 4.2. Contextualizao de fundos soberanos 4.3. Alternativas conceituais de institucionalizao de fundos soberanos 4.4. Caracterizao de casos representativos da experincia internacional 4.5. Avaliao da adequao da instituio de diferentes modelos de oil funds para o caso brasileiro II.1.1, II.2.1 II.1.2, II.1.3 II.2.2 (critrios para escolha dos casos), II.2.3 (Noruega), II.2.4 (Rssia), II.2.5 (Qatar), II.2.6 (Azerbaijo), II.2.7 (Alasca) II.3

Relatrio II

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2.4. Desenvolvimento da cadeia produtiva de petrleo e gs e investimentos em E&PO captulo 5 deste relatrio caracteriza modelos existentes e possveis alternativas para a viabilizao de investimentos voltados explorao e produo de petrleo e gs e ao desenvolvimento industrial da cadeia produtiva de petrleo e gs no Brasil. Esta discusso est segmentada em trs temas principais: Indstria mundial de equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs; Polticas pblicas nacionais de apoio ao desenvolvimento industrial e tecnolgico; Financiamento para investimentos em E&P . O primeiro tema do captulo 5 busca mapear a indstria mundial de equipamentos e servios de E&P de petrleo e gs, seguindo a seguinte estrutura: A seo 5.1.1 apresentar introduo ao leitor sobre o tema, dando uma viso geral em respeito cadeia de valor, ao papel dos servios e equipamentos, segmentao utilizada no estudo, e ao desenho de uma hiptese de trabalho quanto demanda futura da indstria de E&P brasileira, necessria para dimensionar potencial de mercado para os diversos segmentos. Esta seo ser finalizada com a apresentao da metodologia de anlise a ser empregada em cada um dos segmentos de mercado; A seo 5.1.2 aplicar a metodologia descrita a cada um dos segmentos; Finalmente, a seo 5.1.3 far breve concluso sobre os aprendizados extrados das anlises anteriores. O segundo tema deste captulo, que versa sobre as polticas pblicas, ser desenvolvido ao longo da seo 5.2 do presente relatrio, de acordo com o seguinte roteiro: A seo 5.2.1 apresentar breve introduo e definir a abordagem metodolgica a ser utilizada ao longo das anlises subseqentes; A seo 5.2.2 selecionar cinco pases para posterior avaliao de suas experincias de utilizao de polticas pblicas para desenvolvimento de segmentos de E&P e relacionados, finalizando com a extrao dos aprendizados de sucesso e insucesso no que tange aos resultados prticos observados; Finalmente, a seo 5.2.3 descrever as polticas pblicas vigentes no contexto atual brasileiro, e delinear possveis alternativas para o pas, fundamentadas pelas aprendizagens da experincia internacional. A seo 5.3 deste documento, financiamento para investimentos em E&P ir seguir o seguinte roteiro: , A seo 5.3.1 apresentar uma breve introduo que abordar os seguintes temas: contextualizao do financiamento em E&P apresentao de fatores de financiabilidade de pro, jetos em E&P enumerao de possveis mecanismos de financiamento, resumo do histrico , de financiamento em E&P em mercados emergentes; A seo 5.3.2 apresentar a metodologia de casos adotada para o estudo de mecanismos de financiamento; a seguir, descrever o marco analtico desenvolvido para esses estudos e a aplicao para o caso brasileiro; Na seo 5.3.3, sero expostos os critrios utilizados para a seleo dos casos internacionais e posterior aplicao desses critrios seleo dos casos. Finalmente, sero mostrados os

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cinco casos internacionais em forma de resumo de uma pgina, seguindo as dimenses do marco analtico; No final, na seo 5.3.4, ser apresentado o caso brasileiro, tendo como incio uma descrio da situao atual; a seguir, sero feitas recomendaes dentro do contexto atual e possveis cenrios futuros. O estudo mais detalhado dos trs temas abordados neste captulo est disponvel para anlise do leitor no Relatrio III deste estudo. A associao de contedo entre as sees do captulo 5 do Relatrio Consolidado com o Relatrio III pode ser observada na prxima tabela.

Tabela 3: associao entre Relatrio Consolidado e Relatrio IIIRelatrio Consolidado5.1. Indstria mundial de equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs 5.1.1. Introduo 5.1.1.1. A cadeia de valor de explorao e produo de petrleo e gs 5.1.1.2. Servios e equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs 5.1.1.3. Segmentao proposta do setor de servios e equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs 5.1.1.4. Hiptese sobre o futuro da indstria de explorao e produo no Brasil 5.1.1.5. Metodologia de anlise dos segmentos e as indstrias relacionadas 5.1.2. Anlise de Segmentos 5.1.2.1. Informao de reservatrios 5.1.2.2. Contratos de perfurao 5.1.2.3. Servios e equipamentos relacionados perfurao 5.1.2.4. Revestimento e completao de poos 5.1.2.5. Infra-estrutura 5.1.2.6. Produo e manuteno 5.1.2.7. Apoio logstico 5.1.2.8. Desativao 5.1.3. Concluses sobre indstria mundial de equipamentos de explorao e produo de petrleo e gs 5.2. Polticas pblicas nacionais de apoio ao desenvolvimento industrial e tecnolgico 5.2.1. Introduo e abordagem metodolgica 5.2.2. Experincia internacional 5.2.2.1. Seleo de casos para estudo 5.2.2.2. Modelos de desenvolvimento de sucesso 5.2.2.3. Noruega e Coria do Sul 5.2.2.4. Reino Unido 5.2.2.5. Mxico e Indonsia 5.2.3. O caso brasileiro da indstria de P&G 5.2.3.1.Caracterizao das polticas pblicas vigentes 5.2.3.2. Possveis alternativas para o Brasil 5.3. Financiamento para investimentos em E&P 5.3.1. Introduo 5.3.2. Metodologia do estudo 5.3.3. Experincia internacional 5.3.3.1. Seleo de casos 5.3.3.2. Reino da Noruega 5.3.3.3. Repblica de Angola 5.3.3.4. Federao Russa 5.3.3.5. Repblica Bolivariana da Venezuela 5.3.3.6. Estados Unidos do Mxico 5.3.4. O caso brasileiro 5.3.4.1. Caracterizao dos mecanismos existentes 5.3.4.2. Alternativas e recomendaes III.3.4 III.3.5 III.3.2.1 III.3.3.3 III.3.3.2 III.3.3.5 III.3.3.4 III.3.3.1 III.3.1, III.3.1.1 III.3.1.2 III.2.4 No h III.2.2 No h III.2.3.1, III.2.3.2 III.2.3.3 III.2.3.4, III.2.3.5 III.2.1

Relatrio IIIIII.1.1 III.1.1.1 III.1.1.2 III.1.1.3 III.1.1.4 III.1.1.5 III.1.2.1 III.1.2.2 III.1.2.3 III.1.2.4 III.1.2.5 III.1.2.6 III.1.2.7 III.1.2.8 III.1.3

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3. Regimes jurdico-regulatrios e contratuais de E&P de petrleo e gs23.1. Caracterizao conceitual dos regimes existentesO regime jurdico-regulatrio de explorao e produo de hidrocarbonetos consiste no modo como o Estado ordena as atividades petrolferas e como se envolve e se relaciona com os diferentes agentes dessa indstria. O regime jurdico-regulatrio determina tambm a relao e o envolvimento entre o Estado hospedeiro e as Oil Companies (OCs). Todo regime jurdico-regulatrio depende da estrutura poltico-econmica do Estado, ou seja: De seu arcabouo legal constitucional e infraconstitucional e; De seu nvel de envolvimento e participao na atividade de E&P . O regime jurdico-regulatrio adotado por determinado pas produtor , sobretudo, um reflexo de suas instituies polticas, do nvel de abertura econmica3 e da importncia do petrleo em sua economia. O regime jurdico-regulatrio composto por diversos elementos e caractersticas presentes na estrutura poltico-econmica do Estado. Dentre esses elementos e caractersticas, pode-se dizer que aqueles listados a seguir so os mais relevantes para definir o modo por meio do qual o Estado ordenar as atividades petrolferas e como se envolver e se relacionar com os diferentes agentes dessa indstria: Propriedade dos hidrocarbonetos; Instrumento jurdico tpico celebrado entre o pas hospedeiro e a OC; Agentes governamentais envolvidos; Fases contratuais; Papis/ responsabilidades da OC e do governo do pas hospedeiro; Contrapartidas recebidas pelas OCs; Mecanismos de escolha e contratao das OCs; Mecanismos de remunerao do Governo4; Propriedade das instalaes utilizadas na explorao e produo; Dispositivos de reviso contratual e disputa; Mecanismos de controle de produo; Controles e limites de comercializao; Mecanismos de incentivo transferncia de tecnologia e ao contedo local; Mecanismos de individualizao (unitizao) da produo.2 3 4 Captulo elaborado por TozziniFreire Advogados, com a colaborao de Bain & Company. Nota do autor: Pases com economias mais fechadas iniciativa privada tendem a utilizar regimes restritivos a participao de OCs multinacionais. Em todas as suas esferas (Federal, Estadual, Municipal, entre outras possveis)

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Verifica-se, por meio de uma anlise histrica e emprica dos casos internacionais, que os trs principais regimes jurdico-regulatrios adotados por pases produtores de petrleo e gs so a Concesso, o Contrato de Partilha de Produo (Production Sharing Contracts - PSC) e o Contrato de Servios. Alm desses trs, existe ainda o regime da Joint Venture, historicamente muito pouco utilizado pelos pases produtores. vlido mencionar ainda que certos Estados hospedeiros utilizam-se de mais de um regime jurdico-regulatrio, o que convencionamos chamar de Regimes Mltiplos. Geralmente, Regimes Mltiplos so adotados quando h explorao e produo de hidrocarbonetos em reas com caractersticas muito distintas dentro de um mesmo territrio, e, portanto, a pluralidade de regimes melhor atenderia s particularidades de cada regio. Outros motivadores podem estar relacionados a questes polticas ou econmicas, quando o pas produtor resolve adotar um novo regime para novas reas outorgadas. A seguir feita uma breve descrio de cada regime jurdico-regulatrio.

Concesso:A Concesso, tambm referida como Licena e Lease5 em determinados pases produtores, o regime jurdico-regulatrio por meio do qual o titular originrio dos direitos sobre os hidrocarbonetos via de regra o Estado6 concede a uma ou mais OCs nacionais ou estrangeiras exclusividade na explorao e produo de hidrocarbonetos, por sua conta e risco, em determinada rea. As OCs, ento, se tornam proprietrias da produo e podem dela dispor livremente, observando as regras do contrato e da legislao aplicvel. Na doutrina especializada, o Regime da Concesso tambm referido como Tax & Royalties System, aluso ao modo precpuo pelo qual o Estado (ou titular dos direitos sobre os hidrocarbonetos) remunerado pela atividade de E&P realizada pela OC. Nesse sentido, na Concesso, via de regra o Estado hospedeiro no participa diretamente da atividade e, portanto, no recebe os recursos advindos diretamente da venda da produo. Sua contrapartida o pagamento de tributos e participaes governamentais (geralmente royalties) pelas OCs. Neste trabalho, decidiu-se pela no utilizao do termo Tax & Royalties System, uma vez que, atualmente, existem Regimes de Concesso em que o Estado hospedeiro, de fato, participa diretamente da atividade de E&P7, e recebe, pois, os proventos diretos da comercializao da produo. H casos tambm em que royalties no so pagos pelas OCs. Como exemplo, podemos citar a Noruega, em que ambas as caractersticas esto presentes.

Partilha da Produo (PSC):O PSC um contrato firmado entre o Estado hospedeiro, via de regra atravs de sua NOC, e a OC, por meio do qual o primeiro contribui primordialmente com a rea territorial a ser explorada, e a OC, geralmente, conduz as atividades de explorao e produo a seu prprio risco e custo. Uma vez encontradas reservas comercializveis, a OC recebe sua parte dos hidrocarbonetos produzidos como compensao, conforme definida contratualmente. Entre as principais diferenas em relao Concesso, podemos apontar que:5 Nota do autor: Ainda que includos na mesma classificao de regime jurdico-regulatrio, existem diferenas tnues entre Concesso, Licena e Lease. No entanto, essas diferenas no impedem que esses trs modelos sejam classificados sob o mesmo regime. Maiores detalhes constam do Relatrio I. Nota do autor: Nos Estados Unidos, que utiliza o Lease, o titular originrio dos direitos sobre os minrios o proprietrio da terra. Assim, cabe a este a outorga do direito de explorar e produzir hidrocarbonetos encontrados no subsolo. Nota do autor: por meio de NOCs.

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O hidrocarboneto extrado permanece sob propriedade do Estado; O Estado participa diretamente das atividades de E&P geralmente por meio de sua NOC8, , 9 podendo atuar como operador ou no ; O Estado recebe sua parcela da produo definida no PSC, no sendo, via de regra, remunerado por meio de royalties e tributos pelas OCs10. importante frisar que a contrapartida para ambas as partes ocorre apenas em caso de sucesso das operaes e da descoberta de reservas comercializveis. Aps o incio da produo, a OC recupera os custos incorridos e investimentos realizados na explorao, desenvolvimento e produo, por meio do recebimento de uma porcentagem da produo, normalmente denominada petrleo-custo (cost oil). O petrleo remanescente, denominado petrleo-lucro (profit oil), corresponde parcela da produo que ser partilhada entre o pas produtor e a OC, de acordo com os termos previamente estabelecidos no PSA. Essa partilha do resultado dos trabalhos (produo) realizados pela OC que d nome ao contrato.

Contrato de Servios:O regime jurdico-regulatrio do Contrato de Servios geralmente adotado naqueles Estados em que o direito de explorar e produzir hidrocarbonetos atribuio exclusiva da NOC, no se prevendo outorga s OCs. Ou seja, nesses pases produtores as OCs tm pouco ou nenhum acesso s atividades de E&P e, logo, s reservas de hidrocarbonetos. Cumpre esclarecer que no se pode confundir os contratos de servio firmados entre as NOCs e as OCs para instrumentalizar este Regime, com os contratos de servios corriqueiros amplamente adotados pelas OCs (tanto multinacionais quanto nacionais, e tambm pelas NOCs) para contratao de servios necessrios realizao das atividades de explorao e de desenvolvimento e produo. Estes contratos de servio so comuns a todos os regimes jurdico-contratuais. Esses servios so geralmente contratados de prestadores de servios nacionais e internacionais, como Halliburton, Schlumberger, Maersk e Technip, para a perfurao de poos, operao e manuteno de sondas, FPSOs11e outras embarcaes utilizadas nessas atividades. No regime de Servios, o pagamento aos prestadores de servio feito em espcie e os contratados no correm qualquer risco na explorao das jazidas, ou seja, o pagamento pelo servio prestado independe, portanto, da descoberta de reservas. importante notar que existem duas modalidades contratuais no Regime de Servios para contratao da OC pela NOC: o contrato de servio sem risco e o contrato de servio com clusula de risco12. Quando o interesse das OCs reside no acesso s reservas de determinado Pas Produtor para a conseqente comercializao do hidrocarboneto produzido, os contratos de servio sem risco so poucos atrativos, como forma de relacionamento contratual entre OCs e o Pas Produtor. No entanto, existem casos em que OCs multinacionais figuram como partes contratadas por NOCs, quando tal alternativa a nica forma das mesmas poderem operar em pases com grandes reservas, nos quais a NOC detm o monoplio das atividades de E&P Atravs desse contrato, a OC pode adquirir conhecimento geolgico . sobre as reservas e iniciar relacionamento com a NOC e governo locais.8 Nota do autor: para fins deste estudo, estamos definindo a National Oil Company (NOC) como a companhia de petrleo integralmente detida pelo Estado hospedeiro, atuando como seu instrumento executor e por vezes fiscalizador - da atividade de E&P e da indstria de petrleo nacional. Nota do autor: a NOC pode atuar tambm como mero parceiro-investidor em blocos operados por OCs. Nota do autor: nos PSCs de alguns pases (como Indonsia) observa-se o pagamento de participaes governamentais. Nota do Autor: Floating Production Storage Offloading Units so embarcaes utilizadas, em campos offshore, para extrao, processamento e armazenamento de petrleo, para posterior descarga para navios petroleiros ou dutos. Nota do Autor: Conhecido na prtica mundial como Risk Services Contracts.

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Como exemplos, podemos destacar o Mxico e o Ir, onde OCs internacionais atuam como prestadores de servio das NOCs. Os contratos de servio com clusula de risco, por outro lado, foram adotados em pases que pretendiam atrair OCs, mas cuja legislao proibia a outorga da atividade de E&P pela NOC. O fator de atratividade para OCs nesse tipo de contrato que este permite que o pagamento OC contratada seja feito em petrleo ou por meio de desconto no preo de compra do barril pela OC. Os contratos de servio com clusula de risco permitem, portanto, que as OCs tenham acesso, ainda que limitado, s reservas do pas produtor. Nos contratos observados na experincia internacional, a OC contratada para realizar as atividades de explorao com vistas a encontrar reservas comercializveis. Uma vez que a produo se inicie, a operao, via de regra, passa de volta NOC contratante. As atividades exploratrias e os investimentos para tanto correm por conta e risco da OC contratada. Caso reservas comercializveis no sejam encontradas, a OC no recebe nada, ao contrrio do contrato de servios simples. Os contratos de servio foram muito utilizados pela Petrobras na poca do monoplio (entre 1953 e 1997) e chegaram a ser adotados no Mxico (anos 50) e no Ir e no Iraque (anos 60). Nenhum dos Estados hospedeiros que analisamos neste trabalho utiliza atualmente os contratos com clusula de risco como forma de atrair OCs. Assim, pode-se dizer que esse tipo de contrato perdeu importncia no cenrio internacional, cedendo espao aos regimes da Concesso e PSCs.

Joint Venture:O Regime de outorga da Joint Venture, tambm denominado como contrato de participao ou associao, consiste na formao de uma sociedade com propsito especfico13. Portanto, a relao societria entre as partes se d no mbito do regime jurdico-contratual da Joint Venture14, no havendo a celebrao de contratos de concesso ou de PSCs. Esse regime utilizado em pases produtores cujas NOCs so atuantes na atividade de E&P e , geralmente detm o direito originrio de realizar essas atividades. importante esclarecer, no entanto, que no se pode confundir a Joint Venture como regime de outorga aqui estudado com o instituto jurdico da Joint Venture reconhecido mundialmente, no qual h a possibilidade de constituio na forma societria (mediante criao de uma SPE) ou na forma contratual (mediante contratos de natureza consorcial sem personalidade jurdica prpria)15. H autores que no consideram a Joint Venture como uma modalidade singular de regime jurdico-regulatrio, uma vez que foram e continuam sendo utilizadas de maneira marginal na prtica de E&P no contexto mundial, alm do fato de que muitas de suas caractersticas se assemelham tanto Concesso quanto aos PSCs. Apesar de tema controverso, decidiu-se por classificar a Joint Venture como uma modalidade singular de regime jurdico-regulatrio neste estudo. Isto se deve ao fato de que um dos pases mais relevantes analisados, a Venezuela, de fato, no utiliza qualquer outro regime, sendo l obrigatria a constituio de uma sociedade de propsito especfico (denominada empresa mixta), entre a PDVSA e a OC, para realizao das atividades. Outrossim, verificamos que na Nigria a Joint Venture foi amplamente utilizada entre as dcadas de 1970 e 1990 e em Angola existe a previso legal desse regime, apesar de no adotado na prtica.13 14 15 Nota do Autor: Sociedade de Propsito Especfico, tambm usualmente denominada pela abreviatura SPE. Nota do autor: e em seus contratos operacionais acessrios, como o Joint Operating Agreement. Nota do autor: Exemplificativamente, podemos citar a prtica brasileira, em que as OCs obrigatoriamente constituem consrcios para realizar as atividades de E&P mesmo assinando, individualmente, o Contrato de Concesso aplicvel. Desse modo, no Brasil o contrato , de consrcio um instrumento auxiliar ao Contrato de Concesso, que define o regime ora adotado em nosso pas.

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Elementos Diferenciadores entre os Regimes:Em vista da conceituao dos regimes jurdico-regulatrios, deve-se frisar que dentre seus elementos e caractersticas existem aqueles que so considerados como aspectos diferenciadores entre os regimes, que servem para demarcar as singularidades entre a Concesso, PSC, Contrato de Servios e Joint Venture. Dentre tais elementos diferenciadores podemos destacar e explicar brevemente os seguintes:

Propriedade dos Hidrocarbonetos: A propriedade dos hidrocarbonetos certamente um dos principais elementos diferenciadores dos regimes jurdico-regulatrios existentes, sendo determinante para o entendimento de outras das suas caractersticas, como remunerao do Estado e responsabilidades das partes envolvidas. A anlise dos pases produtores escolhidos para este trabalho demonstra que a propriedade da reserva (isto , antes da explorao do hidrocarboneto), , na grande maioria dos casos, do prprio Estado16. Verificamos que a distino entre os regimes jurdico-regulatrios no tocante propriedade dos hidrocarbonetos ocorre quando o hidrocarboneto extrado. Desse modo: Na Concesso, os hidrocarbonetos extrados passam a ser da OC; No PSC, a produo sempre de propriedade do Estado hospedeiro, sendo que parte da produo entregue OC a ttulo de compensao pelo risco corrido na explorao e pelos investimentos feitos nas fases contratuais17; No Contrato de Servio (com clusula de risco), a OC pode ser remunerada com parte da produo ou com desconto no preo de compra do barril de petrleo produzido18, mas a propriedade da produo sempre do Estado hospedeiro; Na Joint Venture, a produo compartilhada entre o Estado hospedeiro e a OC, na proporo de suas respectivas participaes na SPE.

Instrumento Jurdico Celebrado entre o Pas Produtor e a OC: Pode-se dizer que a diferena mais clara e bsica entre os regimes jurdico-regulatrios o instrumento jurdico a ser celebrado entre o Estado hospedeiro e a OC. Cada regime tem o seu instrumento jurdico tpico19, eventualmente complementado por contratos operacionais acessrios como, por exemplo, o Joint Operating Agreement, que independe do regime. Outrossim, esses contratos refletem os preceitos jurdico-constitucionais e a regulamentao do Estado no que diz respeito indstria petrolfera. Dessa forma, os regimes so instrumentalizados por meio dos seguintes contratos: Na Concesso, os contratos de concesso, contratos de licena e o lease20;16 17 18 19 20 Nota do autor: exceo feita somente aos Estados Unidos da Amrica, pas no qual a propriedade da terra determina a propriedade do subsolo e a subseqente posse do hidrocarboneto. Nota do autor: vide a distino entre cost oil e profit oil neste trabalho. Nota do autor: como afirmamos, o Contrato de Servios simples no atrativo s OCs; logo, no aplicvel sob esse aspecto. Nota do autor: em um contexto global existem as clusulas gerais (apesar das diferenas em termos de contedo) que esto previstas em todos os instrumentos contratuais analisados, independentemente da escolha de qual regime ser adotado (e.g.. prazo, objeto, soluo de disputas). Nota do autor: ainda que includos na mesma classificao de regime jurdico-regulatrio, h diferenas tnues entre a Concesso, Licena e Lease. No entanto, essas diferenas no impedem que os trs modelos sejam classificados sob o mesmo regime. informaes mais abrangentes so encontradas no Relatrio I.

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No PSC, os contratos de partilha da produo; No Contrato de Servio, os contratos de prestao de servios, com ou sem clusula de risco; Na Joint Venture, os atos constitutivos e demais documentos societrios21necessrios formao de SPE.

Mecanismos Tpicos de Remunerao ao Governo: So vrias as formas pelas quais o pas produtor pode obter a sua remunerao dentro da indstria petrolfera, em especial no setor de upstream, ora em anlise. Os principais mecanismos encontrados para a remunerao ao Governo so: Bnus a ser pago pela OC para determinados eventos22; Aluguel da rea, a ser pago ao proprietrio da terra pelo uso da mesma durante o perodo de operao (seja na fase de explorao ou de produo)23, ou pagamentos pela reteno de rea offshore; Royalties sobre a produo; Participaes especiais sobre lucros extraordinrios das OCs24; Compartilhamento do profit oil; Impostos sobre o lucro, que intervm diretamente sobre a renda auferida pelas OCs durante o perodo de produo dos campos; Dividendos do Governo na operao, quando o Governo tem um papel atuante no setor petrolfero, seja na forma de parceria com as OCs, ou quando existe uma OC de propriedade estatal atuando diretamente na produo do campo. Por intermdio dos mecanismos de remunerao ao Governo tambm possvel classificar os tipos de regimes jurdico-regulatrios existentes, pois alguns deles podem ser considerados caractersticos, a saber25: Concesso: participaes governamentais, principalmente royalties; Partilha da produo: compartilhamento do profit oil; Contratos de Servio: receita advinda da venda do petrleo produzido; Joint Ventures: parcela dos lucros da operao atribuvel ao Estado.

Papis e Responsabilidades da OC e do Governo: Esse aspecto est relacionado com modo de atuao da OC em cada pas produtor e com o nvel de envolvimento do pas na atividade de E&P .21 22 23 24 25 Nota do autor: como Contrato Social, Estatuto Social e Acordo de Quotistas e Acionistas. Nota do autor: em sua grande maioria, o bnus atrelado ao momento de assinatura do contrato, ou quando da escolha da OC, podendo, porm, ser determinado contratualmente para um evento especfico (por exemplo, entrada na fase de produo). Nota do autor: a depender do pas em questo e da localizao do campo (terrestre ou martimo), o pagamento do aluguel da rea no ser ao proprietrio da terra, mas sim ao Governo. Nota do autor: funciona como se fosse um gatilho; quando as OCs atingem nveis de lucratividade ou de produo consideradas acima de patamares pr-estabelecidos, a retribuio ao Governo passa a ser maior. Nota do autor: importante enfatizar que tais elementos eram considerados como caractersticas peculiares na concepo clssica de cada regime. Nas primeiras concesses, por exemplo, quando se costumava referir a elas como Tax & Royalties System, o Estado hospedeiro no atuava diretamente nas atividades e no participava de forma direta das receitas advindas da venda do petrleo, sendo remunerado to somente por meio de royalties e tributos incidentes sobre as receitas das OCs. Hoje em dia, existem algumas excees. Como maiores exemplos, h a Noruega, que participa diretamente da atividade de E&P por meio do States Direct Financial Interest, sobre os quais no h incidncia de royalties, bem como Indonsia, regio que adota o PSC e na qual h cobrana de royalties.

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Indiscutivelmente, so as OCs que detm a expertise necessria para a explorao das reservas, da o seu papel quase sempre mais destacado na operao do campo. Entretanto, podem existir diferenas relevantes no que diz respeito sua rea e responsabilidade de atuao. A depender do contexto, a OC pode atuar de forma isolada, como responsvel nica e exclusivamente pela extrao dos hidrocarbonetos, ou em conjunto com entidades do Governo ou mesmo outras OCs (por meio de parcerias). No decorrer de nossa anlise percebemos que, em cada regime jurdico-regulatrio, o Estado hospedeiro tipicamente atua da seguinte forma: Concesso: o papel do Estado o de regular e fiscalizar as atividades de E&P executadas pelas OCs26; Partilha da Produo: o Estado, alm de regular e fiscalizar, atua diretamente nas atividades de E&P atravs de sua NOC, que pode ser operadora ou no; , Contrato de Servios: - o Estado, por meio de sua NOC tem a prerrogativa legal de atuar diretamente na atividade, podendo subcontratar empresas com expertise nas diversas atividades operacionais de E&P27; Joint Venture: o Estado, alm de regular e fiscalizar as atividades, atua como parceiro das OCs no mbito da SPE. Independentemente do regime, percebemos que h, na maioria dos pases, um ministrio competente (geralmente denominado Ministrio do Petrleo ou Ministrio de Energia) que tem, entre suas vrias funes, a tarefa de fiscalizar e proceder normatizao das atividades concernentes indstria petrolfera. Nos pases em que o Estado tem somente uma funo fiscalizadora e regulamentadora, usual a criao de agncias governamentais tcnicas para exercer tais atividades. Por outro lado, em pases nos quais a atuao do Estado se d de forma mais direta nas atividades de E&P as NOCs tm , um papel relevante e ativo no setor petrolfero, podendo at mesmo exercer a funo de regulamentar a indstria. No que tange ao risco da atividade assumido pelo Estado hospedeiro, ocorre o seguinte: (i) Concesso: o Estado no corre risco exploratrio ou comercial advindo da venda do petrleo, uma vez que a OC tem o direito exclusivo de explorar, extrair e comercializar a produo28; (ii) Partilha da Produo: o Estado no corre o risco exploratrio, uma vez que cabe OC arcar com todos os custos e realizar os investimentos necessrios para explorar, desenvolver o campo e produzir hidrocarbonetos, sendo reembolsada atravs do cost oil. Todavia, o Estado arca com o risco comercial, uma vez que se apropria de sua parcela da produo (profil oil), devendo vend-la ao mercado; (iii) Contratos de Servios: nos casos em que o Estado celebra contrato de servios com clusula de risco, o risco exploratrio contratualmente transferido para a OC. Nos demais casos, o Estado assume todo o risco exploratrio. Quanto ao risco comercial, este integralmente suportado pelo Estado, nico e exclusivo detentor do hidrocarboneto produzido;

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Nota do autor: uma importante exceo a Noruega onde o Estado, atravs do States Direct Financial Interest, gerenciado pela empresa estatal Petoro, participa das licenas como parceiro-investidor das OCs. importante notar que a Petoro nunca atua como operadora. Nota do autor: as OCs so contratadas somente nos casos de contratos de servio com clusula de risco, como explicado anteriormente. Nota do autor: uma importante exceo a Noruega onde o Estado atravs do States Direct Financial Interest, gerenciado pela empresa estatal Petoro, participa das licenas como parceiro-investidor das OCs e tem direito a sua parte do hidrocarboneto produzido. Neste pas, a Statoil tem a prerrogativa de vender a parte do Estado junto com sua prpria produo ou de comprar a produo do Estado a preo de mercado.

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(iv) Joint Venture: por se tratar de uma parceria entre o Estado e a OC, tanto na fase exploratria29como na posterior comercializao do hidrocarboneto, o Estado tem o seu risco atrelado ao percentual que detm em cada empreendimento. A tabela a seguir resume os aspectos especficos e diferenciadores que via de regra so verificados entre os regimes jurdico-regulatrios anteriormente mencionados.

Tabela 4: comparao dos principais elementos diferenciadores no que diz respeito s modalidades de regime jurdico-tributrios de E&P de petrleo e gs30ConcessoQuando in situ31: do Estado Aps extrado: da OC.

Partilha da ProduoQuando in situ: do Estado Aps extrado: compartilhado entre o Estado e a OC, garantido primeiramente o cost oil da OC.

Contrato de ServioQuando in situ: do Estado Aps extrado: do Estado, sendo que a OC pode receber uma parte como forma de remunerao Contrato de Prestao de Servios, com ou sem clusula de risco Comercializao da parcela do Estado no hidrocarboneto produzido. Planejamento e execuo dos servios sob os termos do contrato NOC : planejamento e execuo Agente regulador: - Regulamentao - Acompanhamento e controle do processo Mxico/Arbia Saudita: NOC Caso de risk production: Brasil dcada de 70 - 90

Joint ventureQuando in situ: do Estado Aps extrado: dividido entre o Estado e a OC, respeitado o percentual que cada um detm na joint venture Joint Venture Societria: atos constitutivos e documentos societrios referentes constituio e governana da SPE Comercializao da parcela do Estado no hidrocarboneto produzido Planejamento e execuo, por meio da SPE - Regulamentao - Acompanhamento e controle do processo - Execuo por meio da SPE

Propriedade do Hidrocarboneto

Instrumento Contratual Firmado

Contrato de Contrato de Partilha de Concesso, Contrato Produo (Production de Licena e Lease Sharing Contract) Participaes Governamentais (e.g. royalties) e tributao da OC Planejamento e execuo Comercializao da parcela do Estado no hidrocarboneto produzido e tributao da OC Planejamento e execuo NOC : planejamento e execuo Agente regulador: - Regulamentao - Acompanhamento e controle do processo OC

Remunerao do Estado

Papel da OC*

Agente regulador: - Regulamentao Papel do Governo -Acompanhamento e controle do processo

Riscos / capital empregado

OC

Compartilhado

Elaborao Bain & Company, TozziniFreire Advogados

Elementos que Independem do RegimeAlm dos elementos peculiares que diferenciam os regimes, acima identificados, h tambm outros importantes aspectos relacionados ordenao da atividade pelo Estado hospedeiro, que, na verdade, independem do regime adotado. So estes:

Fases Contratuais: A atividade de E&P independentemente do regime adotado, dividida em etapas nas quais o , operador realiza determinadas atividades e possui responsabilidades especficas para atingir o objetivo almejado naquela etapa. As etapas da atividade de E&P so:29 Nota do autor: o Estado pode, quando da escolha da OC com a qual ir se associar, exigir que a mesma arque com a parcela de investimentos cabveis ao Estado no decorrer da fase exploratria; este procedimento usualmente adotado na indstria, recebendo a denominao de carry. Nesses casos, o Estado contratualmente transfere todo o risco exploratrio OC. Originalmente contido no reservatrio, antes de qualquer produo de petrleo ou gs natural.

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Explorao, que pode compreender a parte da ssmica31, e inclui a contratao dos servios e equipamentos necessrios para a perfurao de poos exploratrios e pioneiros, com vistas descoberta de reservas comercializveis; Desenvolvimento, que abarca as atividades e a contratao dos servios e equipamentos necessrios avaliao de uma descoberta, bem como o preparo do campo para o incio da produo; Produo, que consiste no gerenciamento das operaes de escoamento ou bombeamento dos hidrocarbonetos do subsolo at a superfcie, incluindo o seu tratamento primrio, a sua medio, armazenagem provisria e distribuio aos navios tanques e/ou oleodutos ou polidutos32; Descomissionamento, que abrange o processo de tamponamento e abandono do poo, visando conter possvel migrao de fludos entre as vrias formaes penetradas na explorao. As fases do contrato refletem as etapas de E&P uma vez que, como foi dito, as obrigaes e , responsabilidades do operador so distintas em cada uma delas. Desse modo, ainda que a nomenclatura dessas fases possa variar conforme o regime jurdico-regulatrio e respectivo instrumento contratual, as obrigaes e responsabilidades so essencialmente as mesmas nas fases acima expostas nos diversos regimes jurdico-regulatrios. No que tange aos perodos de cada fase contratual, verifica-se que a de explorao (incluindo a avaliao) sempre mais curta (de 5 a 10 anos) que a de produo (que pode durar de 20 a 40 anos, j incluindo a etapa de desenvolvimento), como forma de garantir e encorajar atividades de explorao eficientes e rpidas, visando o descobrimento de hidrocarbonetos comercializveis.

Contrapartidas Recebidas pelas OCs: As contrapartidas recebidas pelas OCs oriundas das atividades de E&P podem ocorrer de duas formas: por mecanismos de remunerao e pelo direito de registro das reservas provadas em suas demonstraes financeiras. Enquanto a primeira forma de compensao garante a lucratividade da OC, a segunda possibilita o fortalecimento de seu balano financeiro, viabilizando melhor percepo do mercado (e conseqente valorizao de eventuais papis negociados em bolsa) e possibilidade de captao de mais recursos atravs de maior endividamento. importante destacar que, independentemente do regime jurdico-regulatrio adotado, a OC deseja, via de regra, obter a titularidade do hidrocarboneto para poder comercializ-lo e usufruir da volatilidade do mercado. A princpio, no interessante para a OC atuar como mero prestador de servio remunerado em espcie, exceto em alguns casos, como destacamos anteriormente, nos quais o contrato de servio o instrumento pelo qual a OC pode firmar presena em pases com grandes reservas e iniciar relacionamento com a NOC e Governo locais. Entretanto, conforme o regime jurdico-regulatrio escolhido pelo pas produtor, a OC ter outras formas de remunerao. Alguns dos mecanismos usualmente adotados esto relacionados com a participao (parcial ou total) nas receitas auferidas com a venda dos hidrocarbonetos33, o ressarcimento de todos os custos relacionados com as atividades prestadas e o compartilhamento dos lucros remanescentes dentro de determinados parmetros previstos contratualmente34.31 32 33 34 Tcnica de obteno de informaes geolgicas atravs da captao de sinais sonoros refletidos nas camadas subterrneas. Duto que transporta diversos lquidos. Nota do autor: nos casos em que as OCs, apesar de terem a propriedade dos hidrocarbonetos, so obrigadas a vend-lo para o Estado. Nota do autor: no caso do cost oil e profit oil, inerentes aos PSCs.

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importante frisar que no que tange ao direito de registro das reservas nos demonstrativos financeiros, os contratos de concesso e de partilha da produo garantem essa prerrogativa, enquanto os contratos de servio e Joint Ventures35no permitem tal dispositivo.

Mecanismos de Escolha e Contratao das OCs: De forma geral, h duas modalidades possveis para um pas produtor selecionar uma OC: (i) licitao, e (ii) negociao direta. De acordo com o que verificamos, na prtica mundial existem trs tipos bsicos de procedimentos licitatrios, cujas diferenas residem nos critrios para julgamento das ofertas: (i) sistema de outorga discricionrio ou tcnico; (ii) leilo; (iii) sistema misto. No sistema discricionrio, os critrios mais relevantes para deciso do Estado hospedeiro so aqueles de natureza tcnica, de expertise em operaes semelhantes quelas que se pretende realizar no bloco ofertado e de comprometimento de investimentos e trabalhos exploratrios mnimos. A oferta financeira geralmente inexiste ou tem peso pequeno nos critrios da oferta. No leilo, ao contrrio do que ocorre na licitao tcnica ou discricionria, o lance pelo bloco tem grande peso ou o nico critrio de julgamento das ofertas. A parte tcnica das OCs analisada para fins de qualificao, objetivando a participao no certame. No sistema de licitao misto, como se infere por sua denominao, o Estado hospedeiro leva em conta tanto a capacidade tcnica da OC e seu comprometimento de investimento, como a oferta financeira para arremate do bloco determinado. Para referncia, o sistema misto utilizado no Brasil, nas rodadas de licitaes da ANP em que os critrios da oferta so: o programa exploratrio mnimo, o contedo local e o bnus de assinatura. Negociao direta, como o prprio nome diz, quando o Estado hospedeiro utiliza seu poder discricionrio para decidir qual OC ir operar em determinados blocos, sem critrios predeterminados para qualificao ou apresentao de proposta. Esse modelo tambm utilizado nos Estados Unidos, quando o proprietrio da terra ente privado.

Propriedade das Instalaes Utilizadas na Explorao e Produo: Existem quatro tipos de regime de propriedade dos bens utilizados em E&P: Propriedade originria do Estado hospedeiro, sem sofrer qualquer alterao; Propriedade da OC com transferncia de propriedade ao Estado hospedeiro ao final do perodo contratual; Propriedade compartilhada entre governo e OC, respeitando-se o percentual de cada um dentro do empreendimento, no caso das Joint Ventures, sendo posteriormente revertida ao Estado hospedeiro; Propriedade sempre da OC, sem possibilidade de reverso de propriedade ao Estado.

Como exemplo de que o regime de propriedade no caracterstica peculiar do modelo adotado, observa-se que na Indonsia, onde o PSC aplicado, as instalaes e os equipamentos adquiridos pela OC so automaticamente revertidos ao Estado, quando do incio de sua utilizao.35 Nota do autor: essa afirmativa relacionadas a Joint Ventures baseada na legislao brasileira. No encontramos evidncias na prtica internacional analisada Venezuela e Nigria.

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Por outro lado, nos PSCs de Angola, as OCs adquirem os equipamentos utilizados nas suas atividades e os mesmos so revertidos ao Estado hospedeiro somente ao final do prazo contratual. No caso da Venezuela, que adota o regime de Joint Ventures, as SPEs so detentoras dos ativos durante a realizao das atividades, devendo, porm, quando do seu trmino, transferir todos os ativos ao Estado hospedeiro. Como regra geral, no regime de concesso a propriedade dos ativos transferida ao Estado hospedeiro somente ao final do contrato, mediante interesse pblico, via reverso de bens.

Dispositivos de Reviso Contratual e Disputa: A depender da situao poltico-econmica do pas produtor, assim como da instabilidade de suas instituies governamentais, a atratividade para investimentos das OCs no referido pas depender da segurana jurdica que o mesmo poder propiciar aos potenciais investidores. Dessa forma, as clusulas que versam sobre revises contratuais, soluo de controvrsias e disputas assumem um papel de destaque para atrair as OCs ao pas. Dependendo do regime jurdico-regulatrio adotado, diversas so as formas que possibilitam a gerao de segurana institucional aos interessados, podendo existir normas legais versando sobre o tema, assim como mecanismos financeiros que buscam equilbrio contratual. Uma dessas formas a utilizao de arbitragem com regras internacionais evitando a submis