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Uma crtica dialtica nas artes visuaisLUIZ RENATO MARTINS *

To urgente quanto difcil a tarefa de sintetizar a riqueza deste artigo tais as vias que abre. A comear pelo que destri. Dinamita os termos da, em geral, incua querela entre modernistas e ps-modernistas.1 Ato contnuo, o rombo aberto no muro das ideias recebidas faz ver uma vertente esquecida, mas decisiva, da histria da arte moderna ou do modernismo.

Aqui nos limitamos sua negatividade, ciente do que destruir. Quais seus alvos e bases histricas? Ao leitor, o desafio de tecer por si outras tramas possveis a partir dos fios puxados por Craven tradio marxista, implicando: Baudelaire leitor do Marx de 1848; o desenvolvimento desigual e combinado; teses de Benjamin sobre a histria; a vertente smile na nuestra america (Mart, Mari-tegui, as revolues mexicana, sandinista etc.), bem como obras de Thompson, Sweezy, Williams, Anderson, Berman, Brger etc.

Como a via do modernismo alternativo foge aos dogmas da historiografia for-malista? Seu primeiro alvo a doutrina Greenberg, um marco da historiografia formalista do modernismo. As razes de tal doutrina a pura visualidade, de Konrad Fiedler, e o opticalismo francs , remontam respectivamente, na Ale-manha, ao processo bismarckiano de modernizao conservadora, e na Frana, restaurao e despotismo ligados ao massacre da Comuna, origem do perodo dito belle poque.

* Professor do Departamento de Artes Visuais, Escola de Comunicaes e Artes, (ECA), da Universidade de So Paulo (USP).

1 Para notvel exceo, ver Callinicos (2011).

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134 Crtica Marxista, n.37, p.133-135, 2013.

Em sntese, o alvo de Craven a ideia de modernismo anloga ao que Marx denominou na poltica de bonapartismo: a concepo tecnocrtica da arte moderna como discurso especfico infenso guerra de classes e s lutas anti-imperialistas. Com efeito, foi tal noo, de arte pura, fruto de uma habilidade especializada e sem referentes reais, que gerou uma lngua franca internacional nas artes visuais, e nutriu a criao de uma rede de museus de arte moderna, paralela das insti-tuies financeiras globais (Gatt, Banco Mundial, FMI etc.). De fato, as noes de forma esttica e moeda forte como agentes modernizadores transitam por vias, seno iguais, paralelas.2

Porm, a noo de modernismo alternativo no rebaixa o teor negativo da arte. Ao contrrio, Craven elege como exemplo na pintura a Diego Rivera, coautor, com Breton e Trotsky, do programa Por uma arte revolucionria e independente (1937).

O ato reflexivo de radicar a fora crtica e experimental do modernismo no campo anti-imperialista leva Craven a estabelecer os vnculos da poesia antico-lonial de Daro3 com a arte catal radical, libertria e anticapitalista, de Gaud e Picasso, ou seja, com a estratgia destes de pr a arte moderna como ao de sntese que abrange o resgate do passado e a superao crtica do presente, avis-tado como monte de runas passos estes que antecipam ou at esto na raiz das figuras do salto dialtico (tese XIV) e do anjo da histria (tese IX), de Benjamin (Benjamin, 2005, p.87 e p.119).

Por ltimo, o texto (Craven, 1996), apesar de prdigo em referir obras hispano--americanas, no faz referncia ao debate brasileiro sobre a formao, pois com este Craven s veio a ter contato tardio.4 Mas o interesse de entrecruzar ambas as discusses salta vista. Nos ltimos anos, Craven planejava escrever sobre a arte e o debate brasileiro, e a obra crtica de Mrio Pedrosa. Norte-americano anti-imperialista, era apaixonado pelas Amricas mais ao sul, a cujos movimentos sociais e polticos atribua papel decisivo para a transformao do Norte. Quem escreve teve a honra de ter sido seu amigo.

2 No Brasil, um observador pode notar que a operao de publicao da obra de Greenberg (1996) um esforo de dotar a flacidez da arte contempornea de um implante moderno sinttico ou siliconado simultnea a um programa econmico centrado numa moeda apregoada como forte e dita at real (sic) quando se sabe que o realismo, na verdade, no o forte das moedas...

3 Eres los Estados Unidos, eres el futuro invasor... (Daro, 1994, p.255-256 apud Craven, 1996, p.32).

4 Amigo e interlocutor direto do sandinismo, Craven tornou sua cadeira de Histria da Arte, na Universidade do Novo Mxico (Albuquerque) um frum de pesquisas e debates sobre o antico-lonialismo, especialmente ativo em relao arte mexicana e centro-americana (Nicargua e Honduras). Faleceu de um ataque cardaco fulminante em fevereiro de 2012. A revista marxista londrina Historical Materialism (http://www.historicalmaterialism.org/), v. 20, issue 3, dedicou-lhe um dossi de 25 pginas (p.111-136), preparado pelo editor Steve Edwards (Edwards, 2012), que inclui, alm de textos, uma entrevista muito densa e instigante acerca dos marxismos da Amrica Latina, Marxism, Art and Histories of Latin America , bem como uma bibliografia seleta.


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Referncias bibliogrficasBENJAMIN, W. Sobre o conceito de histria. Trad. Jeanne Marie Gagnebin e Marcos

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CALLINICOS, A. Contra el posmodernismo (Against Postmodernism, 1991). Trad. Magdalena Holgun. Buenos Aires: Razn y Revolucin / Biblioteca Militante, 2011.

CRAVEN, D. The Latin American Origins of Alternative Modernism. In: Third Text. London, Continuum, 36, 1996, p.29-44.

DARO, R. A Roosevelt. In: Rubn Daro poesa. Managua: Editorial Nueva Nicaragua, 1994, p.180 apud CRAVEN, 1996.

EDWARDS, S. David Craven (1951-2012): Marxist Historian of Art from las Americas. Historical Materialism: research in critical marxist theory. Leiden: Brill, v.20, issue 3, 2012.

GREENBERG, C. Arte e cultura. Trad. Otaclio Nunes. So Paulo: tica, 1996.LWY, M. Aviso de incndio: uma leitura das teses sobre o conceito de histria. Trad.

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