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OS SINOS DA AGONIA, DE AUTRAN DOURADO: A PERMANNCIA DO MITO NA LITERATURA Dadiesca Piurcoski (Graduanda de Letras-UNICENTRO), Giuliano Hartmann (Orientador Dep. de Letras/UNICENTRO) Palavras-chave: Autran Dourado, Literatura Brasileira, Mito. Resumo: Este estudo apresenta uma anlise introdutria da obra Os Sinos da Agonia, de Autran Dourado. A partir da verificao de todos os seus constituintes ficcionais detemo-nos, particularmente, questo da adaptao do mito literrio e sua permanncia no texto atravs dos tempos. Introduo O presente trabalho tem como objeto de pesquisa o romance Os Sinos da Agonia de Autran Dourado publicado em 1974; a histria de um tringulo amoroso que se passa no Barroco mineiro ao gosto da tragdia clssica, em perfeita analogia com o resgate do mito de Hiplito. Uma obra de carter contemporneo que articula o novo, o velho e o clssico em um jogo de seduo e morte, amor e tragdia, tendo como pano de fundo a eterna presena do mito que surge no momento em que o homem questiona sua existncia e sua posio diante da vida. A permanncia da verdade primordial, que desde sempre ilumina as cavernas do desconhecido. Materiais e mtodos O referencial terico baseia-se em teorias e reflexes acerca do mito e sua incidncia no texto e na sociedade. Joseph Campbell (1990), ressalta a importncia da narrativa mtica para com a construo da mentalidade humana ao sanar sua sede de conhecimento. Tambm citando Rodrigo Siqueira Batista que com Deuses e Homens (2003), resgata o percurso histrico do conhecimento mtico para ento explicar sua permanncia, como tambm o desenrolar de todas as outras faculdades sociais humanas em decorrncia deste. Assim, o romance de Autran Dourado surge como eco de um eterno retorno, no qual remonta a tragicidade de eras primevas trazendo para o universo contemporneo o que estava oculto e mesmo assim mantm seu poder e resistncia pelas malhas do texto, ou seja, o mito. Um texto sempre o resgate de um outro que j foi e todos incorporam um outro maior que representa o conhecimento e o imaginrio social do homem. Portanto, o presente trabalho baseia-se nas concepes j citadas e no suporte que fundamenta a literatura comparada e o dialogismo entre passado, presente e futuro na literatura contempornea. Resultados e discusso ConclusoO presente trabalho desta forma, amarra o dilogo j permanente na literatura, ou seja, as possiveis releituras e seus processos de adaptao ao longo dos tempos. Histrias contadas que resurgem como atemporais mostrando a capacidade de adaptao da narrativa, trata-se da utilizao de mitos e arqutipos perenes universais sempre renovados. Autran Dourado, com Os Sinos da Agonia, promove pelo processo da mimesis a reconstruo do passado: "apropria-se de 'modelos' e os transforma. A obra nova, sua, aparece, ento, como um todo complexo, porque resulta dum trabalho de desarranjo e reestruturao de elementos preexistentes, mas transformados por adjuno de elementos originais" (SANTOS, 1984, p 1). pelo processo de reconstruo j citado, que Malvina incorpora Fedra, Gaspar assume a personificao de Hiplito e Joo Diogo Galvo ser Teseu encarnado. Personagens que esboados luz da modernidade, assumem uma nova proposta dentro da narrativa com a possivel autonomia de seus destinos, mas como prpio da tragdia, no se pode fugir ao 'Fado'. Malvina repete o passado, em um processo de autocondenao e flagelo, e que fatalmente determina a sentena de Joo Diogo e de Gaspar, um tringulo amoroso que mistura, amor e repulsa, incesto e pecado num perodo em que a religo a diretriz base da sociedade e que leva o mundo que os rodeia morte e ao caos. O fio condutor da narrativa e de seu desenlace, ser Janurio que entra na histria como um personagem hibrido, um misto de raas: 'Bugre e bastardo, filho das ervas, as duas chagas da sua alma' (DOURADO, 1981, p 19), para com seu dualismo personificado incorporar o deus romano Janus e seu bifrontismo, como determinante de incio e fim de tudo. Desta forma, possvel perceber que o romance de Autran Dourado, permeia o universo fragmentrio do mundo contemporneo, o texto narrativo em sua reelaborao. Representa a no apenas sua contemporaneidade, mas tambm todo um passado a ser recontado, sob uma nova roupagem. Basta que se pense em Donguinho, irmo de Malvina, um esboo deformado do Minotauro grego. A luta pela felicidade, a eterna busca, as inperfeies humanas em seu devir, amor e dio, pecado e redeno, um jogo entrelaado que transporta para o Barroco brasileiro o palco no qual a tragdia da vida e do desencontro se mantm de forma atemporal. Referncias BATISTA, Rodrigo Siqueira. Deuses e Homens: Mito, filosofia e medicina na Grcia antiga. So Paulo: Landy, 2003.CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. So Paulo: Palas Athena, 1990. DOURADO, Autran. Os Sinos da Agonia. 4 ed. So Paulo: DIFEL, 1981.SANTOS, Adazil Corra. Tempo-Teatro-Mito: Os Sinos da Agonia. Bauru-SP: fasc, 1984.DOURADO, Autran. Os sinos da agonia, romance ps-moderno. conferencia pronunciada em Sorbone em 17/11/1992. Disponivel em FONSECA, Laura Goulart. O trgico em Os Sinos da Agonia. disponivel em