6
Artigo Original Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1415-8426 EXERCÍCIOS FÍSICOS, AUTO-IMAGEM E AUTO-ESTIMA EM IDOSOS ASILADOS EXERCISE ACTIVITY AND SELF-IMAGE/SELF-ESTEEM IN NURSING HOME RESIDENTS Tânia Bertoldo Benedetti 1 Édio Luiz Petroski 2 Lúcia Takase Gonçalves 3 RESUMO O estudo teve como objetivo verificar os efeitos da implementação de um programa de exercício físicos sistemáticos sobre a auto-imagem e auto-estima em idosos institucionalizados. A amostra foi constitu- ída por idosas da Sociedade Espirita Obreiros da Vida Eterna-SEOVE, em Florianópolis, SC, sendo dividida em dois grupos: experimental (n=15) e controle (n=12). Foi aplicado um pré teste para ambos os grupos. A auto- imagem e auto-estima foi determinada por meio da aplicação do questionário proposto por Steglich (1978). O grupo experimental foi submetido a um programa de exercício físico durante cinco meses (70 sessões) com três sessões semanais de 60 min. Após o programa foi aplicado o pós teste para ambos os grupos. Como resultado verificou-se correlação positiva moderada (r=0,48) entre a diferença do pré e pós-teste da auto- imagem e auto-estima no grupo experimental sobre o controle. Considerando o exposto, o programa de exer- cício físico sistemático aplicado na instituição asilar, apresentou melhora significante na auto-estima do grupo experimental, e na auto-imagem do grupo controle. Palavras-chave: exercícios físicos, auto-imgem, auto-estima, idosos, asilos. ABSTRACT This study discusses the application, in istitutionalized aged people, of a program of systematic physical exercises and self-image/self-esteem. The elderly that participated in this study live at SEOVE (the nursing home studied) in Florianópolis, Brazil. They were divided in two groups, an experimental (n = 15) and a control (n = 12) one and a pre-test was then applied to them. The experimental group was submitted to a program of physical exercise with the frequency of 3 sessions of 60 minutes each per week for a period of 5 months. At the end of this period a post-test was applied to both groups. To evaluate the self-image/self-esteem the Steglich (1978) questionnaire was used. Difference was observed in pre and post-test data for the experimental and control groups self-image/self-esteem. Considering the exposed, the program of systematic physical exercise applied to nursing home residents it present significant between the self-esteem in experimental groups and the self-image control groups. Key words: physical exercises, self-image, self-esteem, elderly, nursing home. 1 Profª Departamento de Educação Física - CDS/UFSC – NuCIDH. Dda PEN/UFSC 2 Prof. Dr. DEF/CDS/UFSC - NuCIDH 3 Profª Drª Departamento de Enfermagem CCS/UFSC

artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

  • Upload
    alend

  • View
    145

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

Rev

ista

Bra

sile

ira d

e C

inea

ntro

pom

etria

& D

esem

penh

o H

uman

o

69Exercícios físicos, auto-imagem e auto-estima em idosos asilados

Artigo Original

Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1415-8426

EXERCÍCIOS FÍSICOS, AUTO-IMAGEM E AUTO-ESTIMA EM IDOSOSASILADOS

EXERCISE ACTIVITY AND SELF-IMAGE/SELF-ESTEEM IN NURSINGHOME RESIDENTS

Tânia Bertoldo Benedetti1Édio Luiz Petroski2

Lúcia Takase Gonçalves3

RESUMO

O estudo teve como objetivo verificar os efeitos da implementação de um programa de exercíciofísicos sistemáticos sobre a auto-imagem e auto-estima em idosos institucionalizados. A amostra foi constitu-ída por idosas da Sociedade Espirita Obreiros da Vida Eterna-SEOVE, em Florianópolis, SC, sendo dividida emdois grupos: experimental (n=15) e controle (n=12). Foi aplicado um pré teste para ambos os grupos. A auto-imagem e auto-estima foi determinada por meio da aplicação do questionário proposto por Steglich (1978). Ogrupo experimental foi submetido a um programa de exercício físico durante cinco meses (70 sessões) comtrês sessões semanais de 60 min. Após o programa foi aplicado o pós teste para ambos os grupos. Comoresultado verificou-se correlação positiva moderada (r=0,48) entre a diferença do pré e pós-teste da auto-imagem e auto-estima no grupo experimental sobre o controle. Considerando o exposto, o programa de exer-cício físico sistemático aplicado na instituição asilar, apresentou melhora significante na auto-estima do grupoexperimental, e na auto-imagem do grupo controle.

Palavras-chave: exercícios físicos, auto-imgem, auto-estima, idosos, asilos.

ABSTRACTThis study discusses the application, in istitutionalized aged people, of a program of systematic physical

exercises and self-image/self-esteem. The elderly that participated in this study live at SEOVE (the nursinghome studied) in Florianópolis, Brazil. They were divided in two groups, an experimental (n = 15) and a control(n = 12) one and a pre-test was then applied to them. The experimental group was submitted to a program ofphysical exercise with the frequency of 3 sessions of 60 minutes each per week for a period of 5 months. At theend of this period a post-test was applied to both groups. To evaluate the self-image/self-esteem the Steglich(1978) questionnaire was used. Difference was observed in pre and post-test data for the experimental andcontrol groups self-image/self-esteem. Considering the exposed, the program of systematic physical exerciseapplied to nursing home residents it present significant between the self-esteem in experimental groups and theself-image control groups.

Key words: physical exercises, self-image, self-esteem, elderly, nursing home.

1 Profª Departamento de Educação Física - CDS/UFSC – NuCIDH. Dda PEN/UFSC2 Prof. Dr. DEF/CDS/UFSC - NuCIDH3 Profª Drª Departamento de Enfermagem CCS/UFSC

Page 2: artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

70 Benedetti et al.

Volu

me

5 –

Núm

ero

2 –

p. 6

9 -

74 –

200

3

1 - INTRODUÇÃO

A auto-imagem é conceituada porSchilder (1981) como a representação e a figu-ração de nosso corpo formada em nossa men-te, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apre-senta para nós, enquanto que a auto-estimadecorre da atitude positiva ou negativa que apessoa tem de si mesmo. Auto-estima é o quea pessoa sente a respeito de si mesma(Mosquera, 1976).

Para o ser humano, a imagem corpo-ral desempenha um papel importante na cons-ciência de si. Schilder (1981) afirma que a ima-gem corporal é tanto imagem mental quantopercepção; se a percepção do corpo é positivaa auto-imagem será positiva, e se há satisfa-ção com a imagem do seu corpo, a auto-estimaserá melhor. A imagem do corpo pode ser mo-dificada pela prática de atividades físicas comoa ginástica, dança entre outras que modificama postura corporal. Esta mudança na postura,é modificado a cada momento que é realizadoum novo movimento, por isto os movimentosfísicos agem de forma positiva, pois utilizamreflexos posturais que não estão intrínsecos emnossa consciência. A dança e a ginástica seconstituem como atividades físicas eficientespara modificar a imagem corporal e diminuir arigidez da forma física.

Desenvolver a auto-imagem positiva éalimentar a certeza de ser capaz de levar umavida plena e realizada em nossa sociedade,sendo esta imagem estimulante, inquietante oudecepcionante.

Os autores Davis (1997), Fox (1997) eHasse (2000) afirmam que com o processo deenvelhecimento há uma diminuição da auto-imagem e da auto-estima. O ser humano é de-pendente do seu corpo, das habilidades, rou-pas, cabelos, bem como da integração e har-monia com relação ao “eu”. A atividade físicase constitui em uma forma de envelhecer ativo,para que os idosos, mesmo asilados, possamter autonomia e independência por mais tempocom melhor auto-estima.

Os idosos ao ingressarem nos asiloscomeçam a apresentar limitações intelectuaise físicas que se tornam evidentes na realizaçãodas atividades da vida diária, sendo que o ócio,a falta de terapia ocupacional, a indisposiçãofísica e o desinteresse, colaboram ainda maispara estas limitações, levando muitas vezes à

invalidez e ao profundo abatimento moral, sur-gindo assim as doenças crônico-degenerativasassociadas a outras patologias, que podem serresponsáveis pela perda progressiva de auto-nomia e consequentemente da imagem e esti-ma corporal (Born, 1996).

É um desafio fazer com que os idososdurante sua existência aproveitem melhor o tem-po que lhes resta de maneira saudável, inde-pendente, com autonomia, sentindo-se bem e,dentro do possível, com melhor qualidade devida. Por isto, a proposta é incluir na rotina dosidosos da instituição asilar a prática sistemáti-ca de exercícios físicos, como forma de contri-buir na sua imagem corporal e na sua auto-es-tima. Os exercícios físicos são fatores de res-tauração da saúde que proporcionam maiorequilíbrio nesta etapa da vida.

Portanto, este estudo teve como obje-tivo verificar os efeitos da implementação de umprograma de exercício físicos sistemáticos so-bre a auto-imagem e auto-estima de idososinstitucionalizados.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo caracterizou-se segundoCampbell e Stanley (1970) como quase-experi-mental.

A população foi constituída intencional-mente por idosas do asilo Sociedade Espíritados Obreiros da Vida Eterna (SEOVE) porqueesta instituição asilar atendeu os seguintes re-quisitos previamente estabelecidos:

- instituição com grande número deresidentes idosas na Grande Florianópolis;

- instituição onde não há programade exercícios físicos sistemáticos e nenhumoutro trabalho de recreação;

- instituição sem atividade programa-da de lazer, geralmente realizada por gruposde voluntários;

- instituição onde idosos internadospossuem condições físicas de realizar exercíci-os físicos.

Na instituição estudada havia 38 mu-lheres residentes. Participaram da amostra 29idosas acima de 60 anos. Estas, apresentavamcondições de realizar o programa de exercíciosfísicos proposto, 15 constituíram o grupo expe-rimental e 14 o grupo controle.

Para avaliar a auto-estima e a auto-ima-gem das idosas foi aplicado o questionário de-

Page 3: artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

Rev

ista

Bra

sile

ira d

e C

inea

ntro

pom

etria

& D

esem

penh

o H

uman

o

71Exercícios físicos, auto-imagem e auto-estima em idosos asilados

senvolvido por Steglich (1978), que foi validadopara idosos. Utilizou-se um caderno de campoque foram realizadas as anotações necessáriasem ambos os grupos no decorrer da aplicaçãodo programa de exercícios físicos. Foi utilizadoo item “aspecto emocional” do questionário por-que correspondia à área de interesse da pesqui-sa. O “aspecto emocional” apresentava os se-guintes sub-itens: felicidade pessoal, bem-estarsocial e integridade moral. As respostas de cadaquestão apresentavam escores de 1 a 4 e paraavaliação foi utilizada a escala somatória do to-tal de pontos proposta por Steglich (1978), quantomais alta a pontuação, melhor era a auto-ima-gem e a auto-estima.

O programa de exercício físico siste-mático aplicado na instituição asilar foi realiza-do três vezes por semana, durante 5 meses,com um total de 70 sessões de 60 min, sendo10 minutos de alongamento, 15 minutos de ca-minhada, 10 minutos de dança, 15 minutos detrabalho de equilíbrio, força e flexibilidade e 10minutos de relaxamento final.

Durante a realização do programa fo-ram desenvolvidos os elementos da aptidão fí-sica: força, flexibilidade, equilíbrio e resistência.

O tratamento estatístico utilizado paraa análise dos dados da auto-imagem e auto-

estima foi o teste “t” para amostras indepen-dentes e o coeficiente de associação de“Pearson”, entre o pré e pós-teste de ambos osgrupos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados serão discutidos decorren-tes da análise estatística do cruzamento entreo pré e pós-teste de ambos os grupos.

Os grupos investigados possuíam ca-racterísticas semelhantes. A média de idade nogrupo controle foi de 74,00 ± 12,27 anos. Haviaduas idosas com surdez, duas com cegueira,uma com hipertensão arterial, duas com psico-se compulsiva, uma com demência senil e umacom diabetes mellitus. No grupo experimentala média de idade foi de 74,73 ± 8,36 anos. Ha-via duas idosas com problemas de epilepsia,uma com aneurisma, uma com surdez, umacom hipertensão arterial, uma com demênciasenil, uma com diabetes mellitus e quatro compequenas seqüelas de acidente vascular cere-bral, como monoplegia de braço esquerdo edificuldade para andar.

A tabela 1 exibe a média e desvio pa-drão entre o pré e pós-teste no grupo experi-mental e controle.

Tabela 1 - Média e desvio padrão das medidas do pré e pós-teste de ambos os grupos de idosas do asilo SEOVE submetidas ao programa de exercícios físicos.

Legenda:AI - Auto-ImagemAE- Auto-Estima

Na tabela 2 será apresentado o teste “t” para amostras independentes entre os resultadosdo pré-teste e do pós-teste, de ambos os grupos

Tabela 2 - Teste “t” entre as medidas do pré e pós-teste de ambos os grupos de idosas do asilo SEOVE submetidas ao programa de exercícios físicos.

Variáveis Auto-Imagem Auto-Estima t p t p Experimental - 0,5 0,6 - 2,1 0,05*

Controle 4,8 0,001* 0,3 0,7

*p < 0,05

Variáveis Grupo experimental Grupo controle Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste X s X s X s X s

AI (pontos) 49,8 9,3 50,8 9 59,4 11,5 52,9 10,2 AE (pontos) 81,7 13,1 93,2 13,6 95,2 20,1 94,3 18

Page 4: artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

72 Benedetti et al.

Volu

me

5 –

Núm

ero

2 –

p. 6

9 -

74 –

200

3

Pode-se observar que houve diferen-ça significante na auto-estima do grupo experi-mental, e na auto-imagem do grupo controle.Esses resultados mostram que a atividade físi-ca pode ter influenciado também as idosas dogrupo controle, que estavam presentes no lo-cal e assistiam na maioria das vezes as aulasministradas. Neste período, algumas idosas dogrupo experimental adoeceram o que pode termodificado a percepção em relação as ques-tões aplicadas.

Algumas idosas tiveram pontuaçãomais alta no teste aplicado, mas outras conti-

nuaram igual ou até diminuíram. Este fato ocor-reu em ambos os grupos.

Também utilizou-se a análise estatísti-ca do coeficiente de associação de Pearson.Este apresentou uma correlação linear der=0,48 e o p=0,031 indicando uma correlaçãopositiva moderada entre as diferenças da auto-imagem e auto-estima no grupo experimental econtrole.

Os idosos do grupo experimental apre-sentam melhora acentuada na auto-estima eauto-imagem em relação ao grupo controle, oque pode ser observado na figura 1.

Diferença de Auto-Estima

Dife

renç

a de

Aut

o-Im

agem

1

1

1

11

1

1

1

1

1

1

1

22

2

2

2

2

22

-20

-16

-12

-8

-4

0

4

8

12

-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50

Legenda: 1 - grupo experimental 2 - grupo controle

Figura 1 - Correlação entre a diferença do pré e pós-teste na auto-imagem e auto-estima dos grupos experimental e controle.

A correlação mostra que as idosas commelhor auto-estima também apresentavammelhor auto-imagem tanto no grupo experimen-tal, quanto no grupo controle. Não se pode afir-mar que a prática de exercícios físicos aplica-dos na instituição durante os 5 meses, foi a cau-sa da melhora na auto-imagem e auto-estima,principalmente se tratando de idosas que vivemem asilo. Todos os dias diferentes fatos influ-enciam profundamente suas vidas, comomorbidade ou morte de colegas, intrigas quesão comuns nesse ambiente, mudança de di-reção na instituição, visitas de familiares, entreoutros.

Observou-se que desde o início do pro-grama de exercícios físicos na instituição asi-lar, houve modificações na imagem corporal dasidosas como a utilização de roupas coloridas,bijuterias variadas, unhas pintadas, mudançano corte do cabelo, uso de batom e perfumes.Ao elogiá-las sobre estas modificações, ficavammuito felizes. Houve modificações na aparên-cia física de algumas idosas que faziam partedo grupo experimental e do grupo controle. Apresença de novas pessoas e atividades na ins-tituição, pode ter influenciado essas mudanças.

Diversos autores apresentam melhorada auto-imagem e da auto-estima associado àprática de atividades físicas.

Page 5: artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

Rev

ista

Bra

sile

ira d

e C

inea

ntro

pom

etria

& D

esem

penh

o H

uman

o

73Exercícios físicos, auto-imagem e auto-estima em idosos asilados

Carvalho (1996) expõe que a partici-pação em grupos de ginástica traz sentimentospositivos em relação ao próprio corpo, níveismais altos de auto-estima e “competições sau-dáveis” gerada dentro do grupo.

Fox (1997) corrobora com estes acha-dos afirmando que a auto-estima tem sido de-senvolvida positivamente com a intervenção deprogramas de exercícios físicos e esportes, ten-do resultados inéditos na qualidade de vida ebem-estar mental. O autor também coloca quea auto-estima está correlacionada diretamenteà auto-imagem.

Mazo (2003) realizou uma pesquisasobre qualidade de vida e atividade física com198 idosas participantes dos grupos de convi-vência no município de Florianópolis. A autoraverificou que as idosas mais ativas possuíammelhor auto-imagem e auto-estima.

Mc Auley (2000) et al. estudaram 174idosas participantes de um programa de exer-cícios físicos durante seis meses e verificaramque a atividade física influência positivamentenos níveis de auto-estima.

A atividade física, segundo Chogahara,Cousins & Wankel (1998), possui influênciassociais nos idosos e traz benefícios em relaçãoà família, amigos, bem estar, integração sociale melhora na auto-estima.

Gaya (1985) ao pesquisar a auto-ima-gem de cardiopatas praticantes e não pratican-tes de exercícios físicos, utilizou o mesmo ins-trumento deste estudo em sua coleta de dados,e verificou melhora significativa na auto-imagemdos cardiopatas praticantes de exercícios físi-cos em relação aos não praticantes, resgatan-do a auto-imagem perdida pela doença. Eviden-cia-se que o grupo de cardiopatas estudado peloautor possui características semelhantes como grupo de idosos asilados principalmente pelapresença de doenças que segundo Fox (1997),é um fator agravante muito importante paraauto-imagem negativa.

Em um estudo com idosos, Safons(2000) teve como objetivo verificar as contribui-ções da prática regular de atividade física paraa melhoria da auto-imagem e auto-estima, osresultados mostraram que participar de um pro-grama regular de atividades físicas contribui deforma significativa para a melhoria da auto-ima-gem e auto-estima dos idosos.

Mosquera (1976) destaca que a auto-imagem está sempre em mudança, na medida

em que o indivíduo modifica sua estrutura cor-poral ele acrescenta a seu quadro pessoal no-vas dimensões que alteram a percepção de simesmo e do mundo a sua volta.

Steglhich (1978), que desenvolveu oinstrumento de auto-imagem e auto-estima, aoestudar três grupos de idosos acima de 65 anos,não aposentados, aposentados ativos e apo-sentados inativos, concluiu que os aposenta-dos inativos possuem auto-imagem e auto-es-tima significativamente mais baixas que os ido-sos não aposentados e aposentados ativos,sendo que entre esses não houve diferença sig-nificativa na auto-imagem e auto-estima. O as-pecto em que o autor encontrou maior diferen-ça foi no emocional, principalmente no item fe-licidade pessoal.

Na instituição asilar foi pesquisadoapenas o item felicidade pessoal. Os idosospossuem dificuldade física, mental e financeirapara manutenção de boa aparência física o quepoderia melhorar a imagem corporal. Além dosedentarismo, morte social, dificuldades físicas,mentais e financeiras, freqüentemente os ido-sos apresentam quadros depressivos, diminu-indo a auto-estima.

O envelhecimento ativo deve ser con-seqüência de um envelhecimento saudável(Rodrigues, 2000). A busca do ser ativo melhorao ser humano de forma global. Os movimentoscorporais estão ligados ao esporte e ao exercí-cio, criando estratégias de auto-representaçãocom modificações constantes na aparência.

Para que se possa resgatar a auto-estima e recuperar a auto-imagem dos idososasilados é necessário retomar a cidadania, par-ticipando de grupos de discussão, trabalho vo-luntário, atividades físicas de maneira geral,fazendo se sentirem úteis para a sociedade eocupando o seu tempo livre. No asilo, a partici-pação dos idosos em grupos fora da instituiçãoé inexistente, dificultando ainda mais o resgateda auto-estima. Pequenas falas ou carinhos deterceiros são muito importantes e gratificantepara os idosos institucionalizados. A auto-esti-ma positiva indica bem-estar, saúde mental eajustamento emocional, implicando diretamen-te na satisfação com a vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para os idosos, as condições ofereci-das no ambiente influenciam de forma positiva

Page 6: artigo8_exerciciosfisicosautoimagemeautoestimaemidososasilados2003_2

74 Benedetti et al.

Volu

me

5 –

Núm

ero

2 –

p. 6

9 -

74 –

200

3

ou negativa. As instituições deveriam, propor-cionar e se preocupar em resguardar a interaçãohomem/ambiente aumentando assim, a capacida-de funcional e a capacidade emocional do idoso.

Com relação a auto-imagem e a auto-estima, pode-se afirmar que a proposta do pro-grama de exercício físico aplicado na institui-ção asilar estudada foi positiva. Embora, é difí-cil saber o quanto a atividade física influenciouo grupo, pois as atividades, os profissionais queministram as aulas, entre tantos outros fatoresque acompanham a operacionalização de umprograma de atividades físicas, modifica a es-trutura do ambiente em que os idosos estavamacostumados, e pode ser a principal causa namodificação da auto-imagem e auto-estima.

Verificou-se que é possível realizar umtrabalho físico mesmo com pessoas debilitadas,melhorando a sua imagem corporal.

A atividade física além de prevenir adependência é um estímulo para o bem estardas idosas. Conseqüentemente, melhora a au-tonomia e a independência, o que irá se refletirem melhor auto-imagem e auto-estima.

Portanto, são necessários investimen-tos para a contratação e formação de profissio-nais de Educação Física preparados para atua-rem com idosos nas instituições asilares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Born, T. (1996). Cuidado ao Idoso em Instituição. In M.Papaléo Netto (Org.). Gerontologia. (pp 403 -414). São Paulo: Ed. Atheneu.

Campbell, D. & Stanley, J. (1970). Delineamentosexperimentais e quase-experimentais de pes-quisa. São Paulo: EPU.

Carvalho, C.A. (1996).Tratamentos “Revolucionários”.Boletim da SBGG -RJ. Ano 4 No 10, p.3.

Chogahara, M.; Cousins, S. O.; Wankel, L. M. (1998).Social Influence on Physical Activity in Older Adults:A Review. Journal of Aging and Physical Activity.6(1) 1-17. Human Kinetics Publishers.

Davis, C. (1997). Body Image, Exercise, and EatingBehaviors. In Kenneth R. Fox (Editor). ThePhysical Self - From Motivation to Well-Being.(pp. 143-174) E.U.A.: Human Kinetics. Cap 06.

Debert, G. G. (1997). Asilos e Práticas Profissionaispara uma Velhice Adequada. Motus Corporis,4(2), 49-83. Rio de Janeiro.

Fox, K. R. (1997).The Physical Self and Processes inSelf-Esteem Development. In Kenneth R. Fox (Edi-tor). The Physical Self - From Motivation to Well-Being. (pp. 111 - 139) E.U.A.: Human Kinetics. Cap 11.

Gaya, A. C. A. (1985). Auto-imagem em adultos demédia idade, portadores ou não de cardiopatiasisquêmicas submetidos ou não a treinamentofísico sistemático. Dissertação de mestrado emEducação- UFRGS, Porto Alegre, RS.

Hasse, M. (2000). O corpo e o envelhecimento: ima-gens, conceitos e representações. In: Faculdade deMotricidade Humana. Envelhecer Melhor com aActividade Física. (pp. 161 – 174). FMH. Lisboa.

Jordão Netto, A. (1997). Gerontologia Básica. SãoPaulo: Ed. Lemos.

Mazo, Giovana Z. Atividade física e qualidade de vidade mulheres idosas. Faculdade de Ciências de Des-portos e de Educação Física da Universidade do Por-to. (Tese de doutorado) Porto - Portugal, 2003. 203 p.

McAuley, E.; Blissmer, B.; Katula, J., Duncan, T.E. eMihalko, S.L. (2000). Physical activity, selfesteem,and self-efficacy relationships in adults:a randomizedcontrolled trial. Ann Behav Med. 22 (2),131-139.

Mosquera, J. J. M. (1976) Auto-imagem e auto-esti-ma: sentido para a vida humana. Porto Alegre:Estudos Leopoldenses.

Mosquera, J. (1976). Auto-imagem e auto-estima: sen-tido para a vida humana. Estudos Leopoldenses,37, 49 - 54.

Papaléo Netto, M. & Borgonovi, N. (1996). Biologia e Te-orias do Envelhecimento. In M. Papaléo Netto (Org.).Gerontologia. (pp. 44 - 59) São Paulo: Ed. Atheneu.

Rodrigues, N. C. (2000). Conversando com NaraCosta Rodrigues sobre gerontologia social.Passo Fundo. UPF. Ed. 2ª.

Safons, M. P. (2000). Contribuições da atividade físi-ca, para a melhoria da auto-imagem e auto-esti-ma de idosos. Revista Digital Lecturas:Educación Física y

Deportes. Buenos Aires, Año 5, N° 22, Junio 2000.Disponível em: http://www.efdeportes.com.

Scherrill, C. (1997). Disability, Identity, and Involvementin Sport and Exercise. In Kenneth R. Fox (Editor).The Physical Self - From Motivation to Well-Being.(pp. 257 - 286) E.U.A.: Human Kinetics. Cap 10.

Schilder, P. (1981). A Imagem do Corpo - As Energi-as Construtivas da Psique. São Paulo:MartinsFontes Ltda.

Steglich, L. A. (1978). Terceira Idade, Aposentado-ria, Auto-Imagem e Auto- Estima. Dissertaçãode Mestrado. UFRGS - Porto Alegre - RS.

Zani, R. (1998). Beleza & auto-estima. Rio de Janeiro:Revinter.

Endereço para correspondência:Tânia Bertoldo BenedettiRua: Mediterrâneo, 204. Apto. 202.Córrego Grande – Florianópolis-SCCEP: 88037-610e-mail: [email protected]

Recebido em 05/07/2003Revisado em 10/08/2003Aprovado em 07/10/2003