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 4 TÉCHNE 153 |  DEZEMBRO DE 2009 ARTIGO A s patologias nas marquises, assim como nas demais estruturas de concreto armado ocorrem em fases distintas do processo construtivo, as quais são: projeto, construção, utiliz a- ção e manutenção. O colapso da estru- tura não ocorre sempre pela ação de agentes causadores de forma isolada, mas geralmente por agentes causado- res principais e outros que aceleram o processo de deterioração (Braguim, 2006). A patologia mais comum nas marquises é a fissuração do concreto, seja pela ação de sobrecargas, erros de projeto ou na fase de construção – fis- suras pelas quais percolam agentes oriundos da poluição do ar, das fezes de animais, e a própria água de chuva, que causam a corrosão de armaduras, levando a estrutura à ruína (Dorigo, 1996). De acordo com cálculos do Crea-RJ em 2007, cerca de 500 marquises na cida- de do Rio de Janeiro apresentam proble- mas estruturais. Ainda no Rio de Janeiro, a Defesa Civil confirma que 70% das marquises dos edifícios do centro não passam por manutenção há anos. A mar- quise que ruiu em Copacabana em 04 de março de 2006, matando duas pessoas e ferindo oito, não era vistoriada há quase Deterioração de marquises de concreto armado na cidade de Bambuí (MG) Marco Antônio do Carmo Professor Msc. do Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Bambuí, doutorando em Engenharia na Universidade Federal de Viçosa e-mail: [email protected] Turibio José da Silva Professor-doutor da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia e-mail: [email protected] Envie artigo para: [email protected] . O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com espaço). Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG 13 anos. Ainda segundo a Defesa civil, 16 marquises foram demolidas em 2006. Em Vitória, capital do Estado do Es- pírito Santo, a prefeitura identificou após inspeções de rotina 190 marquises em situação de risco, dessas, 157 (82,6%)  pos suem lau do téc nic o de est abi li dad e e segurança emitido por engenheiro civil após recuperação efetuada pelos pro- prietários. Outros levantamentos foram realizados em várias cidades brasileiras indicando a gravidade do problema. Em virtude do alto índice de aci- dentes com marquises, visando evitar a ruína e posterior queda dessas estrutu- ras, é imprescindível tomar medidas que levem ao conhecimento das causas de patologias nessas estruturas, visando evitar a repetição dos mesmos erros na construção de novas marquises. O co- nhecimento das causas dessas patolo- gias deve ser feito por uma metodologia que leve em consideração a análise de projeto, o levantamento das caracterís- ticas geométricas da estrutura, e a ins- peção visual e/ou detalhada pela reali- zação de ensaios não destrutivos. O objetivo deste artigo é aplicar uma metodologia simplificada e objetiva que possa ser capaz de diagnosticar , por mé- todos de inspeção adequados, os aspec- tos estruturais, de utilização e de deterio- ração de marquises em edificações. Com isso, busca-se a implementação de nor- mas e regulamentos que tratam da ins- peção de marquises, com preocupação de garantir a durabilidade desta, e conse- quentement e uma maior segurança para pedestres que passam pelos locais. Vá- rios trabalhos foram desenvolvidos abordando a inspeção de marquises (Gomes et al, 2003, Souza et al, 2007) ou de estruturas em geral. O CEB 243 (1998) aponta as estratégias disponíveis por inspecionar e avaliar as estruturas de concreto com referência particular para corrosão das armaduras. No do- cumento abordam-se as atividades de T abela 1 – CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DAS MARQUISES CADASTRADAS EM BAMBU Í Dimensões Marquises 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 Espessura (cm) 13,0 13,0 10,0 10,0 12,0 12,0 13,0 13,00 8,0 12,0 Comprimento (m) 12,50 5,60 13,30 5,50 4,65 12,20 13,20 12,80 9,20 7,20 Largura (m) 1,05 1,50 1,0 1,55 0,88 1,30 1,20 1,27 1,00 1,00 artigo.indd 4 1/12/2009 13:51:12

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4 TÉCHNE 153 | DEZEMBRO DE 2009

ARTIGO

As patologias nas marquises, assimcomo nas demais estruturas de

concreto armado ocorrem em fasesdistintas do processo construtivo, asquais são: projeto, construção, utiliza-ção e manutenção. O colapso da estru-tura não ocorre sempre pela ação deagentes causadores de forma isolada,

mas geralmente por agentes causado-res principais e outros que aceleram oprocesso de deterioração (Braguim,2006). A patologia mais comum nasmarquises é a fissuração do concreto,seja pela ação de sobrecargas, erros deprojeto ou na fase de construção – fis-suras pelas quais percolam agentes

oriundos da poluição do ar, das fezesde animais, e a própria água de chuva,que causam a corrosão de armaduras,levando a estrutura à ruína (Dorigo,1996).

De acordo com cálculos do Crea-RJem 2007, cerca de 500 marquises na cida-de do Rio de Janeiro apresentam proble-mas estruturais. Ainda no Rio de Janeiro,a Defesa Civil confirma que 70% dasmarquises dos edifícios do centro nãopassam por manutenção há anos. A mar-quise que ruiu em Copacabana em 04 de

março de 2006, matando duas pessoas eferindo oito, não era vistoriada há quase

Deterioração de marquisesde concreto armado nacidade de Bambuí (MG)

Marco Antônio do Carmo

Professor Msc. do Instituto Federal de

Minas Gerais, Campus Bambuí,doutorando em Engenharia naUniversidade Federal de Viçosa

e-mail: [email protected]

Turibio José da Silva

Professor-doutor da Faculdade deEngenharia Civil, Universidade Federal de

Uberlândiae-mail: [email protected]

Envie artigo para: [email protected] texto não deve ultrapassar o limitede 15 mil caracteres (com espaço).Fotos devem ser encaminhadasseparadamente em JPG

13 anos. Ainda segundo a Defesa civil, 16marquises foram demolidas em 2006.

Em Vitória, capital do Estado do Es-pírito Santo, a prefeitura identificouapós inspeções de rotina 190 marquises

em situação de risco, dessas, 157 (82,6%) já possuem laudo técnico de estabilidadee segurança emitido por engenheiro civilapós recuperação efetuada pelos pro-prietários. Outros levantamentos foramrealizados em várias cidades brasileirasindicando a gravidade do problema.

Em virtude do alto índice de aci-dentes com marquises, visando evitar aruína e posterior queda dessas estrutu-

ras, é imprescindível tomar medidasque levem ao conhecimento das causas

de patologias nessas estruturas, visandoevitar a repetição dos mesmos erros na

construção de novas marquises. O co-nhecimento das causas dessas patolo-gias deve ser feito por uma metodologiaque leve em consideração a análise deprojeto, o levantamento das caracterís-ticas geométricas da estrutura, e a ins-peção visual e/ou detalhada pela reali-zação de ensaios não destrutivos.

O objetivo deste artigo é aplicar uma

metodologia simplificada e objetiva quepossa ser capaz de diagnosticar, por mé-todos de inspeção adequados, os aspec-tos estruturais, de utilização e de deterio-ração de marquises em edificações. Com

isso, busca-se a implementação de nor-mas e regulamentos que tratam da ins-peção de marquises, com preocupaçãode garantir a durabilidade desta, e conse-quentemente uma maior segurança parapedestres que passam pelos locais. Vá-rios trabalhos foram desenvolvidosabordando a inspeção de marquises

(Gomes et al, 2003, Souza et al, 2007) oude estruturas em geral. O CEB 243(1998) aponta as estratégias disponíveispor inspecionar e avaliar as estruturasde concreto com referência particular

para corrosão das armaduras. No do-cumento abordam-se as atividades de

Tabela 1 – CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DAS MARQUISES CADASTRADAS EM BAMBUÍ

DimensõesMarquises

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Espessura (cm) 13,0 13,0 10,0 10,0 12,0 12,0 13,0 13,00 8,0 12,0Comprimento (m) 12,50 5,60 13,30 5,50 4,65 12,20 13,20 12,80 9,20 7,20

Largura (m) 1,05 1,50 1,0 1,55 0,88 1,30 1,20 1,27 1,00 1,00

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preparação, rotina e inspeções detalha-

das, o procedimento de avaliação e aproposta para intervenção.

Nesse sentido, este trabalho foi de-senvolvido na região central da cidadede Bambuí, visando identificar patolo-gias em marquises de edifícios nessa

região, por inspeção visual e com reali-zação de ensaios de pacometria, poten-cial de corrosão, resistividade elétrica eultrassom e assim diagnosticar o graude deterioração dessas marquises. Umtrabalho similar foi iniciado na cidadede Uberlândia (MG), atualmente para-

lisado, onde a região central conta comaproximadamente 105 edifícios (anti-gos e recentes) com marquises.

Materiais e métodos

A cidade de Bambuí tem populaçãode 21.850 habitantes (IBGE, 2007) e pos-

sui na sua região central edifícios com nomáximo três pavimentos, e idade deconstrução de mais de 30 anos, edifícios

os quais na sua maioria contam commarquises, e sob as quais circulam diaria-mente centenas de pessoas, pois nessaregião concentram-se grande parte daslojas comerciais e agências bancárias.Nessa cidade foi feito cadastramento detodas as marquises da região central, eposteriormente realizada inspeção visuale ensaios não destrutivos de pacometria,

ultrassonografia, medida de potencial decorrosão e resistividade do concreto.

Cadastramento de inspeção visual de

marquises

As atividades de cadastro e inspe-ção visual das marquises foram reali-

zadas de forma simultânea, com o ob- jetivo de reunir, em uma primeira pes-quisa, dados sobre as condições dasmarquises de edifícios da região cen-tral da cidade de Bambuí.

Foram cadastrados todos os edifí-

cios das ruas da região central que pos-suem marquises, sendo nessas estrutu-ras efetuadas inspeção visual, regis-trando suas características geométri-cas (tabela 1), assim como registro daspatologias em fotos digitais.

Na inspeção visual, utilizou-se aplanilha onde se busca a identifica-

ção das seguintes patologias: ferra-gens expostas ou sombreadas; des-placamento de concreto ou reboco;trincas transversais e longitudinaisou junto ao engaste; sobrecargas por

letreiros, placas, sobreposição de ca-madas de impermeabilização, pare-des nas bordas; infiltração de água;furos e rebaixamento na laje; flechasna direção transversal ou longitudi-nal; esmagamento da parede exis-tente abaixo do engaste.

Ensaios não destrutivos nas

marquises

Os ensaios foram realizados emquatro pontos por marquise, sempreno alinhamento do engaste dessa laje,um ponto em cada extremidade e doispontos intermediários. Antes da reali-zação de cada ensaio, realizaram-se osseguintes procedimentos:

n Verificação da rugosidade da super-fície superior da marquise, pois super-fícies com alta rugosidade impossibili-tam a realização dos ensaios

n Verificação da umidade da superfí-cie

n Limpeza da superfície utilizando es-pátula e vassoura

n Preenchimento de planilhas, comanotação de patologias observadas

n Registro fotográfico da fachada doedifício que contém a marquise

n Registro fotográfico de patologiasna marquise

Em virtude dos diferentes teoresde umidade da superfície necessáriospara cada ensaio, a sequência de en-saios sempre obedeceu à seguinteordem:

1o) Medida da velocidade do pulso ul-trassônico2o ) Pacometria3o) Potencial de corrosão4o ) Resistividade elétrica

Medida da velocidade do pulso

ultrassônico

No ensaio de ultrassonografia foiusado o equipamento Ultrasonic PulseVelocity Tester, modelo 58-E0048, marcaControls (figura 1), sendo necessáriaantes do seu uso, a calibração feita pormedida do tempo que a onda emitidapelo aparelho leva para percorrer umade barra ferro, de 30 cm de comprimen-to, o qual deve ser de 57,2 µs (conforme

Tabela 2 – RESULTADO DE INSPEÇÃO VISUAL DE MARQUISES

Tipo de patologia % Tipo de patologia %

Ferragens expostas 30 Sinais de enchimento da laje 20Ferragens sombreadas 10 Tubos e dutos presos à laje 30

Desplacamento de concreto 10 Furos na laje 30Trincas transversais 60 Evidência de reparos na laje –Trincas longitudinais 40 Forro rebaixando a laje _

Desplacamento de reboco 20 Flecha na direção transversal 10Sobrecarga por letreiro luminoso 10 Flecha na direção longitudinal 10

Sinais de infiltração de água 50 Trinca longitudinal junto ao engaste 10

Tabela 3 – COBRIMENTO DAS ARMADURAS DETERMINADO POR PACOMETRIAPosição Cobrimento da armadura (cm)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

1 2,854b 4,090 c 2,375 c 5,41 c 9,84 c 1,55 b 2,65 c 3,06 c 2,85 c 3,01 c

2 1,905 b 2,94 c 4,44 b 1,55 c 10,22 c 1,485 b 2,22 c 1,65 c 3,02 c 2,65 c

3 5,040 c 4,38 c 5,87 c 6,81 b 6,63 c 3,18 c 2,27 c 1,63 c 3,00 c 2,05 c

4 3,74 c 1,74 c 7,504 c 5,96 c 7,98 c 2,60 c 2,61 c 1,62 c 1,99 c 2,54 c

c= laje analisada na parte superiorb = laje analisada na parte inferior

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Tabela 4 – TEMPO DE PROPAGAÇÃO DE ONDA POR ULTRASSONOGRAFIA NAS MARQUISES

PosiçãoTempo de propagação da onda (µ s)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

1 159,4 123,3 151,9 98,8 183,7 251,2 101,1 623,70 162,4 0,02 132,0 119,2 150,2 101,2 183,1 264,2 112,5 0,0 159,8 184,93 201,2 140,2 152,1 99,2 190,2 162,4 115,1 0,0 158,7 166,04 208,3 127,4 158,7 98,7 196,9 287,8 114,7 698,9 163,8 197,2

1 µ s= 10 -6 s

Tabela 5 – VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DE ONDA POR ULTRASSONOGRAFIA NAS MARQUISES.

PosiçãoVelocidade da onda (m/s) – V= L*/ T

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

1 1.882,05 2.354,79 1.890,36 3.036,43 1.633,09 1.042,49 2.967,36 481,00 1.847,29 –2 2.272,72 2.139,80 1.972,39 2.964,43 1.638,45 1.847,32 2.666,67 – 1.877,35 1.622,503 1.491,05 2.516,78 1.997,33 3.024,20 1.577,29 1.135,56 2.606,43 – 1.890,35 1.807,234 1.440,23 2.433,09 1.974,98 3.039,52 1.523,61 1.194,31 2.073,25 434,84 1.831,50 1.521,30

L = distância entre os transdutores igual a 30 cmT = tempo que a onda leva para percorrer a estrutura (método indireto)Segundo Lorenzi (2003), em um concreto íntegro, a velocidade de propagação da onda é sempre superior a 2.500 m/s. Assim verificou-se que apenas o concreto das marquises 4 e 7 apresentam-se íntegros, já que as demais, pela velocidade detectada, apresentam vaziosinternos, fissuras e falhas de adensamento do concreto, com especial atenção para as marquises número 6 e 8 que apresentaramvelocidade de propagação da onda muito baixa.

orientação do fabricante), sendo esse otempo de calibração. A distância entre os

transdutores para cada ponto da laje foiigual a 30 cm. Para cada leitura da veloci-dade da onda aplicou-se vaselina indus-trial na superfície dos transdutores, a fimde permitir o contato dos transdutorescom a superfície do concreto sem a in-

terferência do ar. As leituras de tempoque a onda leva para percorrer a estru-tura de concreto foram expressas em µse foram feitas pelo método indireto,conforme NBR 8802:1994 (figura 2), uma vez que pela posição dos pontos deanálise foi impossível a colocação dos

transdutores na face superior e inferiordas lajes.

Pacometria

O pacômetro é o termo adotadopara o aparelho que, por ondas eletro-

magnéticas de baixa frequência, é usadopara localizar as barras de aço da arma-

dura e para estimar a sua posição emrelação à superfície onde está a sonda. Abase do método de ensaio está descritaem ACI 228 2R-98. Nesse ensaio foiusado o equipamento da marca JamesInstruments Inc., sendo necessária

antes do seu uso a sua calibração. Peladefinição da unidade de medida para osparâmetros desejados, a unidade esco-lhida foi a de milímetros para o cobri-mento e distância horizontal entre ar-maduras e do diâmetro da armadurapara a estrutura; na falta dessa informa-ção estimou-se o diâmetro conforme

orientação do fabricante.Com o aparelho calibrado iniciou-

se o ensaio, que consiste em percorreros pontos previamente marcados coma sonda, identificando por sinal sonoro

a existência de armadura nas proximi-dades do ponto, fazendo-se então a lei-tura do cobrimento da armadura e oespaçamento horizontal entre essas.Sendo, no entanto, para este estudo ne-cessário apenas a informação do cobri-

mento da armadura, os quais foramexpressos em milímetros.

Potencial de corrosão

A medida do potencial de corrosãose baseia em determinar a diferença depotencial entre o aço da armadura e

um eletrodo de referência em contatocom o concreto, geralmente situado nasuperfície. Medindo-se o potencial aolongo da armadura podem-se detectaráreas com altos gradientes, que corres-ponderão a forças eletromotrizes ele-

vadas e consequentemente a um gran-de risco de corrosão.

Neste ensaio foi usado o equipamen-to Canin (Corrosion Analysing Instru-

ment ), modelo 9602474E, marca Proceq(figura 4). O ensaio foi realizado em ma-lhas formadas por quatro quadrados de

25 cm de lado, dispostos nas marquisesconforme descrito na introdução doitem sobre ensaios não destrutivos.

O terminal positivo do voltímetrofoi ligado na armadura exposta (na ine-xistência desta foi feita a conexão em

L1

R2R1 R4R3E

L2

L3

L4

Figura 1 – Ultrassom Figura 2 – Esquema de medição indireta

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Tabela 6 – CLASSIFICAÇÃO DA QUALIDADE DO CONCRETO EM FUNÇÃO DAVELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DA ONDA ULTRASSÔNICA

Velocidade da onda ultrassônica (m/s) Qualidade do concreto

V > 4.500 Excelente

3.500 < V < 4.500 Ótimo3.000 < V < 3.500 Bom2.000 < V < 3.000 Regular

V < 2.000 Ruim

TABELA 7 – POTENCIAL DE CORROSÃO NAS MARQUISES.

Posição

Potencial de corrosão relativo ao eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre (mV)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

133 28 -15 10 41 26 141 146 0 0 -179 -180 150 154 -210 -192 40 41 48 50

36 37 -20 -90 42 42 123 117 0 0 -177 -168 155 157 -207 -204 46 47 37 39

215 32 32 21 51 42 92 98 90 91 1 0 80 120 -174 -165 78 80 63 711 20 28 29 44 48 89 102 96 92 1 2 174 182 -146 -161 77 74 74 20

384 78 1 2 -67 -75 96 94 99 90 48 37 128 117 -169 -158 37 38 64 2151 51 2 2 -59 -58 69 87 90 88 68 57 156 131 -145 -150 34 32 87 67

4-29 -13 9 23 105 105

-110 -91 -21 -54 64 96

grampos metálicos já chumbados namarquise) da marquise, e o terminalnegativo no eletrodo de referência (sul-fato de cobre), buscando dar continui-dade elétrica das armaduras. A superfí-cie do concreto foi umedecida unifor-memente, de maneira a se ativar dife-renças apreciáveis nas leituras de zonas

secas e úmidas. A esponja do eletrodode referência também foi umedecidaem água. Todas as leituras realizadasforam expressas na unidade de mV.

Resistividade do concreto

A resistividade do concreto é umdos parâmetros que estão relacionadoscom a velocidade de corrosão das ar-maduras. Esta é responsável pelo fluxo

de íons na solução aquosa dos poros doconcreto, pelo que, a umidade dosporos é um fator fundamental para aresistividade (Cost, 1996). Assim comoé possível estimar a corrosão pelas ar-maduras, também se pode fazê-lo peloconcreto, que é o eletrólito do sistema.

A determinação direta da resistivi-

dade do concreto normalmente é rea-lizada por um método denominado“os quatro eletrodos”, que foi desen-volvido para a prospecção elétrica

geofísica e foi adaptado para o concre-to para medir a resistividade superfi-cial. A adaptação é devida ao fato deque o método assume como hipótesebásica que o meio homogêneo, que setrata de espaço semi-infinito e que os

contatos elétricos são perfeitos. Estemétodo está descrito na ASTM G57-78 (1984) e os valores encontradospor ele têm obtido boa correlação,com uma margem de erro de 20%.

Neste ensaio foi usado o equipa-mento ResI-Resistivity Meter, modelo38004200, marca Proceq, sendo neces-sário antes do seu uso o umedecimen-to da superfície a ser realizado o ensaio,a fim de se ativar diferenças apreciá-veis de leituras nas zonas secas e úmi-das. Todas as leituras realizadas foramexpressas em KΩ.cm.

Resultados e discussão

Inspeção visual

Na inspeção visual foram levanta-dos os problemas mais comuns das

marquises e que podem contribuirpara o comprometimento da seguran-ça. Na tabela 2 encontram-se relacio-nados os percentuais para um dostipos de patologia. Nela pode-se notarque as trincas longitudinais e verticais

são as patologias que mais aparecem.A situação crítica foi a marquise 10

que apresentou trincas transversais(que transpassam toda a espessura daestrutura), equidistantes ao longo detodo o seu comprimento.

Inspeção detalhada

Na inspeção detalhada buscou-severificar se as características do con-

creto e das armaduras foram influen-ciadas ou estavam influenciando aspatologias apresentadas.

Pacometria

Na determinação do cobrimentodas armaduras, em algumas lajes ou re-giões, não foi possível a determinação na

Figura 3 – PacômetroFigura 4 – Medidor de potencialde corrosão

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A R T I G O

parte superior, onde normalmente en-contram-se as armaduras. Nesses casos,

o cobrimento foi analisado tendo-secomo base a espessura medida da laje.

De acordo com a NBR 6118:2003,as marquises em questão enquadram-se na classe ambiental II, agressividademoderada e com risco de deterioraçãopequeno. Para essa classe de agressivi-dade o cobrimento nominal deve serno mínimo de 25 mm.

Na análise do cobrimento das ar-maduras das marquises, determina-da pelo ensaio de pacometria, verifi-cou-se que somente as estruturas 7 e

10 não apresentaram cobrimento in-suficiente em nenhum ponto. Sendoo caso mais grave o da marquise 8.

Medida da velocidade do pulso

ultrassônico

Seguindo os procedimentos indi-cados no item sobre medida de veloci-dade do pulso ultrassônico, foram ob-

tidos os tempos de propagação deonda por ultrassonografia relaciona-dos na tabela 4.

A partir dos tempos medidos e dadistância entre as sondas, determinou-sea velocidade de propagação de onda porultrassonografia nas marquises, obten-do-se os valores indicados na tabela 5.

Segundo Lorenzi (2003), em umconcreto íntegro, a velocidade de pro-

pagação da onda é sempre superior a2.500 m/s. Assim verificou-se queapenas o concreto das marquises 4 e 7apresentam-se íntegros, já que as de-

mais, pela velocidade detectada, apre-sentam vazios internos, fissuras e fa-lhas de adensamento do concreto,com especial atenção para as marqui-ses número 6 e 8 que apresentaramvelocidade de propagação da ondamuito baixa.

Se analisada a qualidade dos con-cretos segundo a tabela 6, confirma-seque somente o concreto da marquise 4pode ser considerado bom, das mar-quises 2 e 3 regular e os demais ruins.

Potencial de corrosão

Na medição dos potenciais de cor-rosão, apresentados na tabela 7, paraminimizar os efeitos da umidade nosresultados aplicou-se o procedimentodescrito no item “resistividade do con-

creto”, ou seja, toda a superfície foiumedecida. Entretanto outras variáveispodem ter afetado os resultados, dentreelas, as microfissuras.

De acordo com a norma ASTM C876-91, para potenciais de corrosãomais negativo que -350 mV, tem-se

uma probabilidade de corrosão de 90%,potenciais de corrosão entre -200 m V e-350 mV indicam uma probabilidadede corrosão incerta, e mais positivo que-200 mV, indicam a probabilidade decorrosão menor que 10%.

Neste sentido verificou-se que ne-

nhuma das armaduras das marquisesapresenta probabilidade de corrosãoda ordem de 90%, com 10% de proba-bilidade de corrosão temos a marquise08, a laje 06 com probabilidade de cor-rosão elevada, porém abaixo de 90%.

Todas as demais marquises apresen-tam probabilidade de corrosão incertapara suas armaduras.

Resistividade elétrica

Os valores obtidos nas medidas deresistividade do concreto apresenta-

dos na tabela 8 demonstram que esseparâmetro varia de um ponto a outrode uma marquise, apesar de ter-seadotado o procedimento de umedeceruniformemente as regiões ensaiadas.O que se pode extrair em relação àuniformidade dos resultados é que,embora variem, no conjunto eles indi-cam o real estado do concreto de umamarquise e, se eliminados os valores de

Tabela 8 – RESISTIVIDADE DO CONCRETO NAS MARQUISES

PosiçãoResistividade do concreto (KΩ.cm)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

199 99 40 33 99 98 99 95 90 89 17 18 76 70 5 4 77 96 83 8099 99 34 34 99 98 92 94 88 52 15 16 78 75 2 4 93 95 88 91

298 97 74 78 99 99 85 93 90 91 14 16 71 79 7 6 81 83 21 1995 97 90 81 99 99 92 63 96 92 12 18 81 83 5 1 88 80 25 22

399 97 37 33 99 99 91 43 99 90 31 29 83 84 23 22 76 79 15 1495 95 39 44 99 99 75 96 90 88 34 27 91 89 24 23 85 76 17 14

493 92 35 38 99 97 72 78 91 92 15 14 84 81 12 10 77 74 71 7291 92 37 32 93 98 71 74 94 93 19 17 90 91 8 7 78 79 70 69

Tabela 9 – RECOMENDAÇÃO DO CEB 192 (1989) PARA AVALIAR A PROBABILIDADEDE CORROSÃO NAS ARMADURAS NO CONCRETO

Resistividade do concreto (KΩ.cm) Taxa provável de corrosão

> 20 Desprezível10 a 20 Baixa5 a 10 Alta

< 5 Muito alta

Figura 5 – Medidor de resistividadeelétrica do concreto

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maior dispersão, os restantes caracte-rizam a região ensaiada.

O CEB 192 (1989) propõe que sepode avaliar a probabilidade de corrosãono concreto relacionado com a resistivi-dade do concreto segundo a tabela 9.

De acordo com CEB 192 (1989), amarquise 8 apresentou probabilidadede corrosão muito alta (menor que 5KΩ.cm) e alta (5 a 10 KΩ.cm) em al-guns pontos analisados. A marquise 6e 10 apresentaram probabilidade decorrosão baixa (maior que 20 KΩ.cm),enquanto que as demais marquisesapresentaram probabilidade de corro-

são desprezível.

Considerações finais

Pela realização do ensaio de paco-

metria, houve a constatação de falhasquanto ao cobrimento das armadurasem 80% das marquises analisadas, oque evidencia mesmo para as estrutu-ras com menor idade de construçãofalha no processo construtivo quanto

à adequada posição das armaduras.No ensaio de ultrassonografia veri-

ficou-se concreto pouco compacto emtambém 80% das marquises analisadas,o que mostra concreto pouco adensa-do, alto grau de fissuras e, portanto, altaprobabilidade de percolação de agentesagressivos à integridade da armadura.

Já para os ensaios de potencial decorrosão e resistividade elétrica, ficouclara a corrosão das armaduras nasmarquises 6 e 8, que têm idade de cons-trução maior e manutenção muito pre-

cária. Dessa forma, fica evidente queessas duas marquises devem ser recupe-radas com urgência, caso contrário, po-derão tornar-se mais um caso de ruínaa ser relatado nos noticiários do País.

Deve-se ressaltar que nenhumadas marquises analisadas apresentasistema de impermeabilização, a ma-

nutenção é precária, nem tampouco érealizada a limpeza, haja vista a quan-tidade de sujeira encontrada sobreessas marquises.

Ao projetar e construir uma mar-

quise, é necessário considerar a inci-dência muito elevada de acidentes quevêm ocorrendo no Brasil e no exterior.Sendo assim, deve ser dado maior rigorno projeto, na escolha dos materiais, na

execução e conservação de marquises,observando os seguintes aspectos: naconstrução, seguir os projetos estabele-cidos e as precauções usuais como asrelativas à dosagem e à vibração doconcreto; cuidado especial quanto à

posição correta da armadura negativano engastamento. A armadura pode

sair de posição, por exemplo, por piso-teamento durante o transporte ou ma-nuseio de equipamentos e de materiaisna laje; observar o cobrimento do con-creto adequado para proteção da arma-dura; realizar a cura do concreto ade-quadamente para evitar fissuras por

retração; evitar acúmulo de água dechuva (represamento), que implica so-brecarga não prevista em projeto; uso eocupação devem ser de acordo com oprevisto em projeto.

Por último devem-se programar

inspeções visuais rotineiras e periódicasna estrutura, nos sistemas de drenageme de impermeabilização, fazendo os re-paros necessários dos danos e deficiên-cias encontrados. Na realização deste

trabalho não houve transtorno para osusuários e, por serem ensaios não des-trutivos, as lajes continuam no mesmoestado anterior à inspeção.

LEIA MAIS

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