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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: UMA OPORTUNIDADE PARA
NOVOS NEGCIOS
Bruno Pagotto Zamboni
Adriana Sartrio Riccoii
Resumo
O cenrio vivido pela humanidade nos implica numa rdua misso de reconstruir a
sociedade. Neste sentido, se faz necessria uma mudana de paradigma por parte dos
cidados e das organizaes e isso passa por uma reinveno dos modelos de produo
e consumo adotados pelo ser humano. Para tanto, so necessrias novas formas de
organizao, como a sustentabilidade empresarial. Proposio que inova e desafia
organizaes e administradores a respeito da necessidade de conciliar as dimenses
econmica, ambiental e social nos negcios.
Este artigo objetivou evidenciar como a sustentabilidade empresarial pode ser uma
oportunidade de novos negcios para as empresas. Em sua metodologia, trata-se de uma
pesquisa de natureza descritiva, cujo instrumento de coleta de dados em campo foi a
entrevista. Constata-se que, atravs de aes inovadoras de ecoeficincia, a
sustentabilidade empresarial pode ser uma oportunidade de novos negcios, gerando
receitas e contribuindo para a perenidade dos negcios.
Palavras-chave: sustentabilidade empresarial; inovao; retorno financeiro.
1 INTRODUO
Foi e ainda cada vez mais necessria a reflexo sobre os problemas e desafios globais
que tem feito parte de nossa sociedade nas ltimas dcadas. Os modelos de consumo,
produo e desenvolvimento escolhidos por ns desde a revoluo industrial tem
desencadeado uma srie de desigualdades, concentradas, principalmente, na distribuio
de renda e no decesso aos direitos, garantias e condies fundamentais para a
sobrevivncia digna do ser humano.
Neste sentido, o conceito de desenvolvimento sustentvel surge propondo um novo
paradigma tico e holstico da ao humana. Isso permeia todas as pessoas e setores da
sociedade, e passa, necessariamente, pelo re-posicionamento poltico-estratgico e pela
adoo de novas prticas, principalmente, no setor empresarial.
Das cem maiores economias do mundo, cerca da metade so de corporaes mundiais,
portanto, preciso repensar o significado do papel do empresariado, buscando ir alm
2
da gerao de riqueza material, de forma que as empresas tambm exeram a sua
sustentabilidade empresarial, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento
sustentvel da humanidade.
Para se efetivarem, as polticas e prticas de sustentabilidade empresarial devem,
necessariamente, atender simultaneamente aos critrios de relevncia social, prudncia
ecolgica e eficincia econmica. Isso deve estar refletido em estratgias e prticas
ticas e sustentveis de ecoeficincia e responsabilidade social. Est a, o maior desafio
ao empresariado neste sculo XXI: conciliar crescimento econmico, preservao do
meio ambiente e equidade social. neste sentido que se torna cada vez mais necessria
a reflexo, disseminao e proposio de ideias e prticas que tornem realidade a
sustentabilidade empresarial.
Diante do contexto, a sustentabilidade empresarial tambm deve ser vista como uma
oportunidade de novos negcios para as empresas. Conciliar progresso econmico,
equidade social e preservao ambiental podem gerar bons dividendos, imagem e
reputao, contribuindo tambm para o crescimento e perenidade dos negcios.
Desta forma, este artigo apresenta como problema de pesquisa: a sustentabilidade
empresarial pode ser uma oportunidade para novos negcios? E apresenta como
objetivos evidenciar como a sustentabilidade empresarial pode ser uma oportunidade de
novos negcios para as empresas, especificando, o contexto da sustentabilidade
empresarial, avaliando a influncia da inovao na adoo de prticas de
sustentabilidade empresarial, bem como, explicitando e avaliando possibilidades de
obteno de retorno financeiro atravs da prtica de aes empresariais sustentveis.
Como procedimento metodolgico, na primeira fase desta pesquisa foi realizado um
estudo exploratrio acerca dos pressupostos tericos que balizam a temtica da
sustentabilidade empresarial, cujo delineamento foi atravs de pesquisa bibliogrfica e
documental. Na segunda fase foi realizado um estudo descritivo em campo a cerca de
verificar como as empresas esto utilizando a sustentabilidade empresarial como uma
oportunidade de negcio. A tcnica de investigao utilizada nessa fase foi o estudo de
caso, cujo fenmeno de anlise foi utilizao da ecoeficincia como uma oportunidade
de negcio e obteno de vantagens econmico-financeiras.
Esta pesquisa foi realizada em uma empresa siderrgica de grande porte, localizada na
Grande Vitria, Estado do Esprito Santo. Esta organizao foi selecionada de forma
intencional, por ser representativa no segmento industrial e nas prticas que estudamos.
O sujeito participante dessa pesquisa foi o gerente do setor responsvel pela gesto
ambiental da empresa e, como instrumento para coleta de dados que subsidiaram a esta
pesquisa foi utilizada a entrevista pessoal.
Na fase de interpretao da pesquisa foi realizado um cruzamento e uma anlise de
dados que permitiu perceber as relaes entre as vrias categorias de informaes, bem
como uma leitura mais ampla desses dados, confrontando-os com os conceitos tericos.
3
A contribuio para a difuso do conceito de desenvolvimento sustentvel, assim como
a sustentabilidade empresarial, uma responsabilidade de todos. Desta forma, esta
pesquisa objetiva disseminar e demonstrar - atravs de um caso prtico de sucesso -
como possvel conciliar na atividade empresarial a dimenso econmica, social e
ambiental do desenvolvimento sustentvel e, alm do mais, fazer disso uma
oportunidade para novos negcios.
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: DESENVOLVIMENTO
SUSTENTVEL APLICADO AS EMPRESAS
No sentido de contrapor a realidade vivida pela humanidade desde a Revoluo
Industrial que, a partir da dcada de 80, com a publicao do relatrio Nosso Futuro Comum, o conceito de Desenvolvimento Sustentvel surge, ganha fora e comea a sua caminhada rumo a uma nova proposta desenvolvimentista para a sociedade. O
documento publicado pela Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, tambm conhecida como Comisso Brundtland, foi que definiu o
Desenvolvimento Sustentvel como sendo aquele que atende s necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas
prprias necessidades. (COMISSO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1991)
Criamos uma economia que no pode sustentar o progresso econmico, uma economia que no pode nos conduzir ao destino desejado (BROWN, 2003, p.6). tambm por isto que a mudana para o novo paradigma da sustentabilidade prope uma nova
dinmica e ordem para o mundo atual, esta relacionada principalmente interao e
cooperao entre governos, empresas e sociedade civil organizada na construo de uma
sociedade mais justa e sustentvel.
A efetividade e a evoluo das teorias e prticas de desenvolvimento sustentvel
incluem, necessariamente, a participao de todos os atores sociais, dentre eles, as
empresas. Isto posto, torna-se cada vez mais frequente e emergente a necessidade da
reflexo do empresariado sobre o seu papel no desenvolvimento de nossa sociedade.
Diante da conjuntura vivida nos ltimos sculos, o desempenho do empresariado no
contexto da revoluo industrial, cientfica e tecnolgica passou a ser, ento, objeto de
questionamentos, na medida em que a obsesso nica e exclusiva pelo lucro foi e tem
sido uma das mais lembradas caractersticas do setor empresarial, o que, tem interferido
negativamente em sua reputao, suscitando nas empresas novas maneiras de pensar e
agir. Almeida (2002, p.53) nos apresenta esta situao da seguinte forma:
4
[...] Acostumado a dividir o universo em compartimentos estanques para
poder entend-lo fruto de uma viso cartesiana, mecanicista, reducionista, forjada em trezentos anos de Revoluo Cientfica e Industrial , nos ltimos anos do sculo XX o homem viu-se s voltas com a constatao de que a
natureza no se deixa apreender completamente pelas ferramentas
tradicionais de anlise [...]. Para ser compreendida, pede um novo: orgnico,
holstico, integrador [...].
Portanto, cada vez mais necessria a busca por novas formas que contribuam no
somente para os negcios, mas tambm a construo de uma sociedade sustentvel.
Investir em sustentabilidade empresarial , alm de um comportamento tico e altrusta,
uma maneira de, indiretamente, contribuir para a perenidade dos negcios, beneficiando
no fim, a prpria atividade empresarial.
Uma sociedade sustentvel, ao atender, simultaneamente, aos critrios de relevncia social, prudncia ecolgica e viabilidade econmica, os trs pilares do desenvolvimento
sustentvel (SACHS, 2002, p.35). Para tanto, seguindo essa lgica que as empresas devem adotar polticas e prticas de sustentabilidade empresarial, procurando, a partir
de ento, incorporar estrategicamente aos negcios as dimenses econmica, ambiental e social do desenvolvimento sustentvel.
A importncia da sustentabilidade empresarial na adoo do novo paradigma do
desenvolvimento sustentvel ganhou fora a partir da dcada de 90, com a constituio
de vrias entidades voltadas para o tema. Em 1992, ocorreu criao do WBCSD World Business Council for Sustainable Development, mais adiante, em 1997, a
fundao do CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel e, no ano de 1998, a fundao do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social.
No contexto atual, nota-se que a adoo de prticas empresariais sustentveis uma
realidade perfeitamente possvel e que est ao alcance de todos. Na atual conjuntura
tecnolgica e cientfica nota-se que ser uma empresa sustentvel est intimamente mais
relacionado a questes culturais e a paradigmas carregados ao longo de anos do que a
capacidade intelectual e econmica do mundo de construir novos modelos de
desenvolvimento.
Apesar dessa realidade, a incorporao do desenvolvimento sustentvel ao core
businessiii
das empresas um processo ainda em formao, at por que a construo do
conceito de desenvolvimento sustentvel e sustentabilidade empresarial ainda so
movimentos recentes, pouco difundidos e debatidos pela sociedade neste sculo XXI.
Desta maneira, para fins de delimitao e pesquisa, ser analisado o conceito e a prtica
da sustentabilidade empresarial a partir de duas reas fundamentais e substancialmente
reconhecidas pela sociedade como novos comportamentos ticos do setor empresarial: a
responsabilidade social empresarial e a ecoeficincia.
5
2.1.1 Responsabilidade Social Empresarial
O novo contexto mundial impulsiona as empresas a adotarem modelos de gesto mais
sustentveis. Neste sentido, a responsabilidade social empresarial emerge como uma
alternativa cada vez mais comum de colocar em prtica a sustentabilidade empresarial.
Ser socialmente responsvel considera a premissa de que o crescimento econmico representado na gerao de riquezas uma contribuio aqum daquilo que as empresas devem oferecer a nossa sociedade.
A responsabilidade social empresarial a atuao social da empresa, ela perpassa por
todos os nveis organizacionais, da estratgia at a operao. Ela procura dar a empresa
um carter mais humano e altrusta, que tenha interesses maiores. Adotando esta nova
forma de pensar e agir a organizao est buscando dar a sua contribuio para a
sociedade (ALESSIO, 2008).
A realizao da responsabilidade social empresarial exige que a organizao adote um
posicionamento estratgico multi-stakeholderiv, que considere em todo o seu negcio os
interesses e as necessidades de todos os pblicos afetados diretamente ou indiretamente pela atividade empresarial. Isso exige da empresa conscincia e uma nova postura voltada para alm das questes econmicas. Para tanto, preciso inovar e,
mais do que isso, quebrar paradigmas.
Nessa nova dinmica organizacional de mundo, o papel do empresariado passa a ter
fundamental importncia no enfrentamento organizado dos maiores desafios globais. A
conceituao cada vez mais sedimentada do desenvolvimento sustentvel prope
consigo essa nova perspectiva, que sugere ao empresariado a responsabilidade social
empresarial como condio sine qua non para o estabelecimento, crescimento e
perenidade de qualquer negcio.
2.1.2 Ecoeficincia
Outra forma atual e, substancialmente mais pragmtica de efetivar a sustentabilidade
empresarial atravs da ecoeficincia. Ser ecoeficiente oferecer bens e servios que
satisfaam as necessidades, gerando impactos ecolgicos sempre menores e capazes de
serem absorvidos pela natureza. Segundo WBCSD (apud, DIAS, 2000, p.130):
A ecoeficincia atingi-se atravs da oferta de bens e servios a preos competitivos, que, por um lado, satisfaam as necessidades humanas e contribuam para a qualidade de vida e, por outro, reduzam progressivamente o impacto ecolgico e a intensidade de utilizao de recursos ao longo do ciclo de vida, at atingirem um nvel, que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentao estimada para o planeta Terra.
6
So inmeras as oportunidades de as empresas serem ecoeficientes. Reorientao dos
processos, revalorizao dos subprodutos e a recolocao nos mercados podem
apresentar um novo posicionamento estratgico, uma nova orientao mercadolgica e
tambm uma oportunidade para novos negcios (WBCSD, apud DIAS, 2000).
Empresas ecoeficientes no surgiro num piscar de olhos. Essa nova postura voltada para a conservao dos ecossistemas requer empenho, inovao e, acima de tudo,
mudana. neste sentido que as empresas, independentemente de porte e ramo de
atuao, precisam ousar e sair de sua zona de conforto, rever seus modelos de produo,
buscando outras maneiras de constituir e fazer negcios.
Estima-se que este novo cenrio de ecoeficincia seja, num futuro breve, condio
fundamental para que as empresas sobrevivam num mercado que, alm de competitivo,
tambm seja altamente sustentvel. Para tanto, preciso quebrar paradigmas e buscar
novas estratgias empresariais, desta vez conciliando crescimento econmico com
desenvolvimento social e preservao do meio ambiente.
Desta forma, a janela de oportunidades para a ecoeficincia torna-se uma grande vitrine
para o desenvolvimento dos mercados nas prximas dcadas, e o aproveitamento desta
situao por parte do empresariado ser uma questo de atitude e viso, de como
transformar problemas sociais e ambientais em negcios rentveis e sustentveis.
2.2 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL ATRAVS DA INOVAO
A revoluo cientfica e tecnolgica veemente dos ltimos cinquenta anos tem
proporcionado a humanidade o desenvolvimento virtuoso de vrias reas do
conhecimento humano, dentre elas: a inovao. Sustentabilidade empresarial e inovao
andam lado a lado, pois inovar criar, mudar, renovar e isso tem muito haver com a
efetividade de aes empresariais sustentveis.
Porm, frequentemente, a viso sobre o conceito de inovao tem sido reduzida e
atrelada, apenas, ao desenvolvimento e oferecimento de produtos e servios. A inovao
pode estar presente em toda a estratgia empresarial e, portanto, no deve ser
caracterizada e limitada desta forma.
Almeida (2002, p.82) nos coloca que:
[...] Cabe s empresas, de qualquer porte, mobilizar sua capacidade de
empreender e de criar para descobrir novas formas de produzir bens e
servios que gerem mais qualidade de vida para mais gente, com menos
7
quantidade de recursos naturais. [...] A inovao, no caso, no apenas
tecnolgica, mas tambm econmica, social, institucional e poltica [...].
Esta nova proposta de gesto voltada ao paradigma da sustentabilidade empresarial
representa inmeras oportunidades de inovao e de novos negcios. Para tornar tal
contexto proveitoso, as empresas podem enxergar estas oportunidades de duas
maneiras: a de inovar aproveitando o prprio negcio da empresa e a outra a de inovar
ocupando novos mercados, ou seja, desenvolvendo novos negcios. Essa no uma
tarefa fcil, mas uma grande chance para sair a frente da concorrncia e, portanto,
garantir o crescimento dos negcios.
Se tratando da oportunidade de inovao em negcios j existentes, McDonough
e Braungart (apud HART, 2002) nos colocam que:
[...] O rpido surgimento de tecnologias inovadoras, como genoma,
diomimetismo, tecnologia da informao, nanotecnologia, e energia
renovvel, representa uma oportunidade para as empresas especialmente para aquelas muito dependentes de combustvel fssil, recursos naturais e
materiais txicos reposicionarem suas competncias internas em torno de tecnologias mais sustentveis [...].
Mas o desenvolvimento sustentvel tambm pode ser uma oportunidade para novos
negcios. A melhoria dos nveis de desenvolvimento humano, representado no maior
poder de compra pode ser refletida em acesso ao consumo e consequente aumento na
oferta de produtos e servios a mercados, anteriormente, inexplorados.
A melhoria das condies de vida da populao representa um ambiente para o
desenvolvimento de novos negcios, mas muitas e grandes oportunidades de negcios
inovadores no dependem disso, pois elas esto nos mercados de baixa renda. A base da
pirmide ainda uma demanda reprimida, que pode ser um alvo importante para as
novas tecnologias e para o desenvolvimento de novos negcios, quer exijam ou no
uma nova estrutura para a atividade empresarial.
Segundo Hart (2006, p.127):
[...] os inovadores concorrem contra o no-consumo ou seja, eles oferecem um produto ou servio a pessoas que de outra forma seriam deixadas
totalmente de fora ou permaneceriam mal atendidas pelos produtos
existentes. Essa a segunda razo pela qual a base da pirmide oferece
melhores mercados para negcios crescentes [...]. Quando trazem um produto
inovador para clientes que eram mal atendidos ou at mesmo ativamente
explorados, estes ficam encantados por terem produtos simples com
funcionalidade modesta.
As populaes mais pobres representam um imenso e novo desafio gerencial para as
grandes corporaes mundiais. Tornou-se evidente que h um grande mercado potencial
8
a ser atendido na base da pirmide (HART, 2006). Ainda neste contexto, encontramos
uma oportunidade de as empresas fazerem dos mercados de baixa renda inclusive, o da Amrica Latina e do Brasil uma possibilidade de expanso e criao de novos negcios.
Neste sentido, relevante e estratgico que as empresas repensem seu posicionamento
e, a partir de ento, direcionem seus esforos tambm para novas oportunidades at
ento ignoradas ou desconhecidas. Desta forma, um esforo sistemtico voltado para o
marketing e para inovao podem representar uma alternativa a mercados altamente
competitivos e at mesmo saturados.
Nessa perspectiva, a atuao empresarial tambm encontra espao e oportunidade para
inovar naquilo que, at ento, era tratado como um processo exclusivamente gerador de
impactos negativos. Na indstria, a eliminao do desperdcio leva a uma cadeia de
eventos e processos que podem vir a formar a base de uma surpreendente inovao na
esfera empresarial (HAWKEN, 2007).
Contudo, a inovao tambm pode ser parte do cotidiano de empresas de menor porte, e
isto est muito mais intimamente ligado a viso dos empreendedores do que ao acesso a
recursos financeiros. Segundo Marcovitch (2006), no universo das pequenas empresas
tem havido uma busca bem-sucedida de inovao (em segmento crescente). Esta, vem
para desmistificar a inovao como possibilidade real apenas para grandes empresas.
A adoo cada vez mais expressiva e multilateral deste novo paradigma
desenvolvimentista surgido a partir do conceito de desenvolvimento sustentvel pressupe um esforo empresarial, que objetive a incorporao de comportamentos
ticos a sua estratgia, tornando parte de seu modelo de negcio inovao enquanto
quesito fundamental para o exerccio de sua sustentabilidade empresarial e o que antes
era tido como um desafio pode se tornar a chave para a garantia de continuidade dos
negcios.
A inovao deve ser vista e empregada como uma condio favorvel para que as
empresas ganhem fora, abrangncia, competitividade e sustentabilidade em mercados
cada vez mais competitivos e globalizados.
2.3 O RETORNO FINANCEIRO DAS AES DE SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL
Existem evidncias de que as aes de sustentabilidade empresarial, sejam elas atravs
da responsabilidade social e/ou da ecoeficincia, podem gerar uma variedade de
retornos para as empresas. Imagem, reputao, relacionamento, vendas, produtividade
dos funcionrios e lucro so algumas das formas de obter vantagem competitiva atravs
de aes empresariais sustentveis. Vale salientar que, apesar de todas estas
9
possibilidades, bastante incipiente a adoo deste tipo de prtica nas empresas, seja
pelos altos investimentos demandados em alguns casos ou, principalmente, pela cultura
organizacional que ainda resiste mudana.
Por serem conceitos e prticas ainda em processo de formao, cresce na comunidade
empresarial o questionamento sobre a real conexo entre as prticas de responsabilidade
social e a performance econmica e financeira das empresas. Neste sentido, Jones e
Murrell (apud, Machado Filho, 2001, p.109) colocam que este tipo de correlao vem sendo analisada em vrios estudos acadmicos recentes, embora com resultados muitas
vezes contraditrios e inconclusivos.
Em funo desta dificuldade de mensurar e de estabelecer uma relao direta entre
responsabilidade social empresarial e desempenho econmico-financeiro das empresas,
bem como em funo da necessidade de delimitar, sero tratados nesta pesquisa apenas
os retornos financeiros de aes de sustentabilidade empresarial voltadas para a
ecoeficincia, apesar de existirem outras possibilidades de retorno citadas no primeiro
pargrafo deste captulo.
2.3.1 Produo mais limpa
A efetivao da sustentabilidade empresarial passa fundamentalmente pela reflexo
sobre os processos produtivos adotados pelas empresas. Neste sentido, a busca por
solues voltadas a uma produo mais limpa uma medida de ecoeficincia
importante, que tem se mostrado benfica e rentvel, tanto para a empresa, como para
todos os seus stakeholders.
Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel -
CEBDS:
[...] produo mais limpa a aplicao contnua de uma estratgia tcnica,
econmica e ambiental integrada aos processos, produtos e servios, a fim de
aumentar a eficincia no uso de matrias-primas, gua e energia, pela no
gerao, minimizao ou reciclagem de resduos e emisses, com benefcios
ambientais, de sade ocupacional e econmicos [...].
A aplicao de uma produo mais limpa gera economias dos mais diversos recursos
utilizados no processo produtivo de uma empresa. Ela traz benefcios relevantes, sejam
eles em funo da economia na utilizao de gua, energia e matria-prima ou at
mesmo no retorno econmico que o desenvolvimento e comercializao de subprodutos
podem gerar.
Neste sentido, importante quantificar e avaliar os resduos e perdas que so geradas
durante o processo de produo. Para que, a partir da, a empresa possa gerenciar seus
10
resduos, na busca pela identificao de oportunidades que contribuam para a
minimizao da utilizao de recursos naturais, ou seja, reduo do desperdcio e, por
fim, o aumento de competitividade.
A produo mais limpa exige uma ruptura de paradigmas, como qualquer outra prtica
de sustentabilidade empresarial. Mas isso deve ser visto com bons olhos pelo
empresariado, pois essa nova perspectiva de processo produtivo tambm poder
proporcionar as empresas uma nova forma de comportamento que ser essencial aos
negcios num futuro prximo: a conciliao da atividade econmica com a preservao
do meio ambiente.
3 ANLISE DOS DADOS
Este captulo tratar da anlise dos dados coletados em campo, cujo instrumento de
coleta foi entrevista aplicada em novembro de 2009 ao gerente de meio ambiente da
empresa pesquisadav.
Criamos uma economia que no pode sustentar o progresso econmico, uma economia que no pode nos conduzir ao destino desejado (BROWN, 2003, p.6). Por pactuar com este pensamento, a empresa pesquisada tem procurado praticar a sustentabilidade
empresarial cada vez mais, pois acredita que novos modelos de negcio so importantes
para um planeta mais sustentvel e para a perenidade dos empreendimentos. Neste
sentido, a referida empresa encontra-se num estgio avanado no tema, pois, de forma
pr-ativa, vem a muitos anos realizando grandes investimentos em ecoeficincia.
Em seu contexto estratgico, a empresa pesquisada mostra-se de forma bastante similar
ao que nos coloca Almeida (2002), quando diz que a sustentabilidade exige um novo
paradigma: orgnico, holstico e integrador. Tambm desta forma que a referida
empresa se posiciona, na medida em que acredita que a sustentabilidade um conjunto
e que todos os aspectos so interligados e interativos5.
A inovao uma realidade na empresa pesquisada, isso vem tona no
reposicionamento voltado a tecnologias mais sustentveis, medida esta que tambm
fruto da emergncia da causa da sustentabilidade planetria. Este quadro colocado por
McDonough e Braungart (apud HART, 2002), quando dizem que este momento
representa uma oportunidade das empresas adotarem uma nova posio diante de suas
competncias, visando adoo de tecnologias sustentveis.
Na busca pela continuidade e aprimoramento das prticas de inovao para a
sustentabilidade, que a empresa pesquisada tem buscado em todo o mundo as
tecnologias mais avanadas em relao s questes da ecoeficincia e, muito tem feito
neste sentido, apesar de no possuir um centro de pesquisa prprio.
11
A empresa tem inovado cada vez mais em seus produtos, processos, tecnologias e em
seu prprio modelo de negcio e de gesto, adotando uma nova postura e, sobretudo,
realizando grandes investimentos ambientais, contribuindo para formao de um
ambiente propicio a inovaes, desencadeando-se num ciclo virtuoso de inovao.
Como nos coloca Hawken (2007), as prticas sustentveis levam a formao de uma
base surpreendente de inovao no contexto das empresas.
Grfico 01: investimentos da empresa em gesto ambiental - em milhes de dlaresvi
A empresa pesquisada reconhecida internacionalmente pela gesto de seus recursos
hdricos. Estaes de tratamento biolgico, de esgoto e de gua so algumas das
inovaes neste sentido. Com ndices de recirculao e reaproveitamento beirando os
100%, a empresa tornou-se referncia em modelos de produo mais limpos e
sustentveis.
Grfico 02: ndice de recirculao (%) X consumo especfico (m3/t ao) - gua doce
vii
Grande parte das tecnologias da empresa relativas ecoeficincia est concentrada no
controle atmosfrico. Dentre as dezenas de equipamentos de controle ambiental, no
controle da emisso de partculas que esto a maioria, com destaque para os
precipitadores eletrostticos e os filtros de manga, ambos, recm aprimorados.
As aes de ecoeficincia praticadas pela empresa pesquisada tem ido alm do benefcio
da vantagem competitiva e da preservao dos recursos naturais: elas tem gerado
retorno financeiro. Em 2008, a comercializao de resduos tambm conhecidos como co-produtos gerou para a empresa uma receita de 47,95 milhes de dlares.
12
Mais uma vez na frente, a empresa pesquisada tambm est gerando receitas a partir da
comercializao de crditos de carbono, estes obtidos em funo da reduo nas
emisses de dixido de carbono (CO2), resultantes, principalmente, de mecanismos de
desenvolvimento limpo utilizados pela empresa.
A empresa pesquisada acredita que em alguns momentos a sustentabilidade pode vir a
ser uma oportunidade de negcio, mas ela no foca sua ao no retorno financeiro da
ecoeficincia, mas sim na perenidade de seus negcios e na utilizao sustentvel dos
recursos naturais.
As aes ecoeficincia da empresa pesquisada tem os mais diversos objetivos, mas, a
todas elas, h um objetivo em comum: garantir a perenidade dos negcios da empresa.
Neste sentido, atualmente a empresa tem buscado agir sempre com transparncia e em
consonncia com os interesses de todos os pblicos envolvidos com a sua atividade,
seja a comunidade, universidades, governos, fornecedores, funcionrios, clientes e
demais parceiros. Isso legitima a atividade da empresa e permite a continuidade dos
investimentos em sustentabilidade e de seus negcios.
3.1 SUGESTES PARA FUTURAS PESQUISAS
Para futuras pesquisas sugere-se a anlise comparativa entre investimento e retorno
financeiro das aes de sustentabilidade; avaliao das condies de inovao para
pequenas e mdias empresas serem sustentveis; e avaliao do quadro atual da
sustentabilidade em pequenas e mdias empresas.
4 CONSIDERAES FINAIS
O debate sobre o desenvolvimento sustentvel do planeta est cada vez mais presente no
dia-a-dia da populao e, no sentido de provocar a reflexo sobre o tema e,
principalmente sobre o modelo desenvolvimentista adota pela sociedade ao longo dos
sculos, que esta pesquisa foi realizada.
O paradigma da sustentabilidade exige ao conjunta e coordenada. Isso passa pela
participao dos cidados, empresas e governos. para o caso das empresas que esta
pesquisa foi direcionada e, para tanto, buscou-se avaliar a influncia da inovao na
proposio e execuo de aes empresariais mais sustentveis.
Os investimentos em sustentabilidade tambm podem trazer vantagens para as empresas
e, desta forma, procurou-se focar no retorno financeiro que estas aes podem trazer,
13
buscando-se identificar como isso ocorre e como pode contribuir para a legitimao e
perenidade dos negcios da empresa.
No mbito da pesquisa de campo, pde-se constatar, atravs de entrevista, o contexto
avanado da ecoeficincia e da sustentabilidade na empresa pesquisada. Isso se da pela
viso holstica, pela pro atividade, pelos grandes investimentos e, sobretudo, por que a
empresa pesquisada utiliza as mais reconhecidas tecnologias para inovar em seus
processos, produtos e at mesmo em seu modelo de negcio. Todas estas prticas
sustentveis tem proporcionado uma srie de retornos para a empresa e, como foco da
pesquisa abordou-se o retorno financeiro, quem ela tem obtido nos ltimos anos atravs
da comercializao de co-produtos e, mais recentemente, atravs da comercializao de
crditos de carbono.
No sentido da sustentabilidade empresarial, da inovao e do retorno financeiro, a
empresa pesquisada demonstrou que, atravs de aes inovadoras de ecoeficincia, a
sustentabilidade empresarial pode ser uma oportunidade para novos negcios, gerando
receita e contribuindo para a perenidade da empresa.
14
REFERNCIAS
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15
APNDICE A Roteiro de entrevista
01) Qual o estgio atual da gesto ambiental e da sustentabilidade na sua empresa?
02) Como a sua empresa utiliza a inovao para colocar em prtica a gesto ambiental
(dimenso da sustentabilidade empresarial)?
03) De que forma a sua empresa desenvolve essa inovao? Em projetos, processos,
produtos e tecnologia?
04) As prticas de gesto ambiental (dimenso da sustentabilidade empresarial) tem
proporcionado retorno financeiro para a sua empresa? De que forma?
05) A gesto ambiental (dimenso da sustentabilidade empresarial) pode ser uma
oportunidade de novos negcios para a sua empresa?
06) A gesto ambiental (dimenso da sustentabilidade empresarial) contribui para a
perenidade e crescimento dos negcios da sua empresa? De que forma?
i Graduando do curso superior de Administrao de Empresas da faculdade Estcio de S de
Vitria do Esprito Santo. ii Mestre em Educao, Administrao e Comunicao pela Universidade So Marcos e
professora da faculdade Estcio de S do Esprito Santo. iii Atividade central de um negcio.
iv Pblicos de interesse que afetam ou so afetados pela atividade organizacional.
v Em entrevista concedida a Bruno Pagotto Zambon em 19/11/2009.
vi Fonte: funcionrio da empresa pesquisada.
vii Fonte: site da empresa pesquisada.