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7/30/2019 artKairsMarques e Calheiros2006.doc
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Marques, S. & Calheiros, M. (2006). O Modelo Lgico como Instrumento de Avaliao da
Qualidade: o Centro de Dia para Pessoas Idosas.Revista Kairs Gerontologia, 9(2), 147-167.
(ISSN 1516-2567).
Ttulo: O Modelo Lgico como Instrumento de Avaliao da Qualidade: o Centro de
Dia para Pessoas Idosas
Autores:
Sibila Marques (Psicloga, Estudante de Doutoramento, Instituto Superior de Cincias
do Trabalho e da Empresa, [email protected])
Maria Manuela Calheiros (Psicloga, Professora Auxiliar, Instituto Superior de Cincias
do Trabalho e da Empresa, [email protected])
Resumo
O presente estudo teve como objetivo desenvolver os requisitos de qualidade de
funcionamento do Centro de Dia para pessoas idosas. Atravs da metodologia dos
modelos lgicos, construiu-se um Referencial de Qualidade de Centro de Dia que despecial relevncia anlise das necessidades dos clientes e aos processos envolvidos
na definio deste servio. Deste modo, pretendemos contribuir para a promoo de
prticas de avaliao e monitorizao dos servios para pessoas idosas.
Abstract
The present study goal is to develop quality standards for the Day Care Centre forelderly people. Using logic models methodology, weve created a Day Care Quality
Referential that gives special attention to the analysis of clients needs and processes
essential to this services procedure. In this way, we hope to contribute to promote
evaluation and monitoring practices of social services for elderly people.
Palavras-chave: Avaliao da qualidade; modelos lgicos; centro de dia
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mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]7/30/2019 artKairsMarques e Calheiros2006.doc
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Introduo
O aumento da esperana mdia de vida e as baixas taxas de fecundidade so
responsveis pelo progressivo envelhecimento da populao portuguesa que se tem
verificado desde a dcada de 60 (INE, 2005). Esta mudana demogrfica coloca grandes
desafios, promovendo o debate social relativamente a vrias matrias. Neste sentido, um
dos tpicos de maior interesse tem sido a reflexo sobre as respostas sociais necessrias
para lidar com esta situao. Verifica-se que, apesar do desenvolvimento acentuado dos
equipamentos sociais e servios para pessoas idosas que se verificou a partir dos anos
80, estes esto ainda aqum de poderem responder de forma adequada s necessidades
colocadas pelo nmero crescente de pessoas idosas (Quaresma, 1996). Em face desta
situao, os polticos e as instituies sociais tm realizado esforos no sentido de
melhoria das respostas sociais existentes para idosos em Portugal.
O presente estudo surge como resultado da reflexo sobre o trabalho
realizado no mbito do projeto Rumo Qualidade, inserido na iniciativa comunitria
EQUAL. Este projeto conta com a participao da Unio Distrital das Instituies
Particulares de Segurana Social de Lisboa (UDIPSS), o Instituto de Aco Social dos
Aores (IAS), o Centro de Investigao e Interveno Social (CIS) do Instituto Superior
de Cincias do Trabalho e da Empresa em Lisboa (ISCTE) e tem como entidade
interlocutora a associao Elo Social. Iniciado em 2004, tem a durao de 3 anos e
pretende resultar em produtos que permitam promover a qualidade das respostas sociais
para vrios pblicos em Portugal. O desafio colocado foi o de criar critrios de
qualidade que pudessem ser incorporados nas prticas das inmeras instituies desta
natureza em Portugal.
O presente artigo pretende descrever o processo utilizado na resposta a estedesafio. Especificamente, estamos interessadas no s em descrever o resultado obtido,
mas tambm o processo seguido na sua elaborao. Neste sentido, iremos seguidamente
ilustrar a nossa posio atravs de um estudo de caso especfico relativamente ao Centro
de Dia para pessoas idosas.
1. A avaliao da qualidade dos servios sociais: a utilizao do modelo lgico como
mtodo de elaborao dos requisitos de qualidade para os servios sociais.
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Uma atividade fundamental para garantir um adequado funcionamento dos
servios e programas sociais a sua avaliao. De uma forma geral, a avaliao pode
ser definida como uma forma de determinar o mrito, o valor e o significado de um
determinado objeto (Fernndez-Ballesteros, 2004). Esta deciso baseia-se numa
comparao dos resultados obtidos a partir dos dados recolhidos com referenciais ou
critrios previamente definidos (Arnal, Delio del Rincn & Latorre, 1994).
Tradicionalmente, a avaliao dos servios sociais tem sido realizada em duas reas que
surgem separadas na literatura: a avaliao da qualidade e avaliao de programas
(Fernndez-Ballesteros, 2004). No entanto, tendo em considerao a sobreposio de
objetivos, defendemos que a juno dos conhecimentos destas duas literaturas constitui
uma mais-valia em termos prticos na elaborao de determinados desenhos de
avaliao. O estudo de caso que apresentamos tenta demonstrar, atravs da anlise do
processo de elaborao de um referencial para a avaliao da qualidade no Centro de
Dia para idosos, a incorporao da ferramenta de modelos lgicos, tradicionalmente da
rea da avaliao de programas, na anlise da qualidade dos servios sociais. Antes de
descrevermos o caso prtico em anlise, iremos definir sucintamente em que consiste a
avaliao da qualidade de um servio e enunciar as mais-valias na adoo do mtodo
dos modelos lgicos na determinao dos requisitos de qualidade do servio em anlise.
O ambiente sciopoltico da Europa ocidental atual caracteriza-se pela existncia
de um Estado de bem-estar. Este um modelo de Estado social, democrtico e de
direito, que desenvolveu vrios mecanismos e sistemas de proteo social com o
objetivo de garantir o bem-estar dos seus cidados (Serra, 2003). neste contexto que
surge a necessidade de incorporar o conceito de qualidade no funcionamento dos
servios e programas sociais (Guerrero & Moreno, 2002). A incorporao da cultura da
qualidade nos servios sociais tem vrias vantagens tais como, a orientao de todas as
atividades para a satisfao dos clientes; o aumento da sua eficincia e dos seusprocessos; a legitimao social e transparncia; e a melhoria do funcionamento de forma
contnua (INTRESS, 2002).
A avaliao da qualidade dos servios sociais incorpora metodologias muito
desenvolvidas e aplicadas a vrios contextos desde as crianas (Pinto, Leal & Bairro-
Ruivo, 1996), pessoas com deficincia mental (Fernandez & Garcia, 1997) e pessoas
idosas (Soares & Antunes, 2001; Suol, 2002).
A avaliao de grau de qualidade tem como objetivo determinar a eficcia-medida em que as atividades planejadas foram realizadas e conseguidos os resultados
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planejados de acordo com os requisitos iniciais - e a eficincia - relao entre os
resultados obtidos e os recursos utilizados. Neste sentido, existem dois aspectos centrais
na definio da qualidade de um produto/servio.
Em primeiro lugar, destaca-se a nfase dada s necessidades dos clientes. De
fato, considera-se que um determinado produto/servio tem qualidade quando est apto
para satisfazer as necessidades dos seus utilizadores e clientes (Instituto Portugus da
Qualidade, 2001). Deve procurar-se identificar no s grupos de pessoas com
necessidades especficas, como a rede social e grupos de interessados no programa
(stakeholders), mas tambm as suas famlias ou as prprias organizaes em que opera
(Fantova, 2002).
Em segundo lugar, uma avaliao da qualidade enfatiza uma abordagem por
processos isto , atividades que recebem inputs e os convertem em outputs,
acrescentando valor para o cliente. Cada organizao pode ser decomposta nos seus
vrios processos que funcionam como caixas dentro da caixa que a organizao
(Fantova, 2002, pp. 191). Cada processo deve ser pensado em termos das suas vrias
caractersticas especficas tais como, os recursos de que necessita, os seus subprocessos,
o produto especfico que produz, etc.
A avaliao da qualidade pode abordar-se de dois modos: (1) programas
internos, que os servios especficos desenvolvem para melhorar os problemas que
detectam; e (2) programas externos que so desenvolvidos por rgos centrais da
administrao pblica ou por unidades de investigao que definem nveis timos de
qualidade num determinado setor, aumentam a homogeneidade dos critrios utilizados e
promovem a qualidade dos programas das vrias instituies desse setor (Suol, 2002).
De qualquer modo, em ambos os casos, a avaliao da qualidade exige sempre a
participao dos interessados no processo, ou seja, dos elementos das organizaes que
vo implementar esse modelo, uma vez que se espera que o processo de comunicaoentre os diversos interlocutores e o intercmbio de informaes e de experincias
culmine na construo de novas estruturas de relao (Fantova, 2002).
Apesar da maior parte dos trabalhos de elaborao dos requisitos de avaliao da
qualidade dos servios sociais para as pessoas idosas, seguirem os princpios enunciados
(Soares & Antunes, 2001; Suol, 2002), estes apresentam tendencialmente, apenas o
produto final, esquecendo-se da descrio do processo que conduziu quele resultado.
Ou seja, descrevem os requisitos de qualidade de determinado processo, mas noespecificam os passos na construo do referencial de qualidade adotado. Consideramos
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que tal constitui uma limitao j que torna mais difcil a replicao do procedimento
seguido noutros casos em estudo.
Neste sentido, julgamos que a explorao de metodologias tradicionalmente
utilizadas noutros domnios tericos da avaliao, tais como a metodologia dos modelos
lgicos na avaliao de programas e servios sociais pode acrescentar uma mais-valia.
Iremos apresentar as vantagens da utilizao desta metodologia ilustrando atravs de um
estudo de caso que realizamos relativo ao Centro de Dia para pessoas idosas.
2. Estudo de caso: a construo do modelo lgico do Centro de Dia com qualidade
Os modelos lgicos consistem em instrumentos que somariam num diagrama
os elementos-chave do servio ou programa recursos ou outros inputs, atividades e
resultados (de curto e/ou de longo prazo) (McLaughlin, Gretchen & Jordan, 2004). O
desenho de um modelo lgico tem vrias vantagens, pois permite: (1) planejar; (2)
definir hipteses e compreender as concepes subjacentes criando estratgias para as
testar; (3) compreender as relaes causais e o papel do contexto; (4) testar a teoria
subjacente ao programa; (5) desenhar, conduzir e controlar o processo de avaliao; (6)
evitar custos suprfluos e perigos de validao; (7) identificar constrangimentos e
qualidades do programa; e (8) preparar e apresentar resultados e recomendaes. Tal
como veremos ilustrado no estudo de caso, a sua elaborao envolve vrios passos
metodolgicos previamente estabelecidos e que promovem a colaborao das vrias
partes interessadas. Neste processo, privilegia-se freqentemente a adoo de uma
abordagem da Teoria da Ao, onde se procura confrontar os modelos dos tcnicos, ou
seja, as representaes que estes construram atravs do conhecimento tcnico adquirido
e experincia na profisso, com os dados de investigao terica e emprica disponveis
em determinada rea social (McLaughlin, Gretchen & Jordan, 2004).O objetivo do presente trabalho foi o de elaborar os requisitos de qualidade
para o Centro de Dia para pessoas idosas. Este trabalho enquadra-se como um programa
externo de qualidade (Suol, 2002) j que o nosso objetivo a promoo da qualidade
para um setor (para os Centros de Dia em geral) e no resolver questes especficas de
uma instituio particular. Alm disso, no modelo seguido tivemos preocupaes
terico-metodolgicas nem sempre contempladas nestes processos (definio de nveis
timos de qualidade, promoo da homogeneidade dos critrios e processo controladode construo do modelo). Tendo em considerao que nos inserimos na tica da
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avaliao da qualidade, a construo do modelo lgico do Centro de Dia pressupe que
sejam tidos em considerao dois aspectos fundamentais: as necessidades dos clientes e
os processos inerentes atividade do Centro de Dia. O objetivo a construo de um
modelo lgico de um Centro de Dia ideal, que traduza os requisitos de qualidade e que
sirva destandardde comparao para as instituies especficas.
2.1. Metodologia seguida
O processo de construo do modelo lgico do Centro de Dia envolveu a
participao de vrios agentes do projeto Rumo Qualidade. A equipa especfica que
construiu o modelo foi constituda por trs pessoas ligadas ao meio universitrio (CIS) e
trs tcnicos de instituies com Centro de Dia para idosos (UDIPSS). A equipa
alargada que funcionou como consultora incluiu todos os elementos do projeto Rumo
Qualidade (trs acadmicos e 9 profissionais com diferentes funes/cargos na rea da
interveno social). Realizaram-se as seguintes tarefas, que seguiram a proposta
metodolgica de construo do modelo lgico ((McLaughlin, Gretchen & Jordan,
2004):
a) Definio de objetivos, das fases e dos processos necessrios para a
elaborao de um modelo lgico para um Centro de Dia com
qualidade. Nesta tarefa, foram realizadas duas reunies em que
participaram todos os elementos do projeto Rumo Qualidade (equipa
especifica e equipa alargada).
b) Realizao de um glossrio com o objetivo de se construir uma base
de significados comum entre os membros da equipa especifica e a
equipa alargada. Tal foi conseguido atravs da realizao de umareunio interna ao grupo de trabalho e de outra com todos os agentes
do projeto. Nesta fase, deu-se uma particular importncia definio
de conceitos tais como, avaliao, qualidade, programas, modelo
lgico e Centro de Dia.
c) Realizao de uma pesquisa e recolha de informao a nvel nacional
das diversas fontes documentais relevantes para o projeto (dados
estatsticos, planos estratgicos, relatrios, legislao eregulamentao). A anlise desta informao teve por base os
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objetivos que foram determinados relativos identificao das
necessidades dos clientes (pessoas idosas e famlias) e aos processos
inerentes ao funcionamento do Centro de Dia.
d) Reviso de literatura nacional e estrangeira tendo em vista no s as
necessidades dos clientes e os processos de interveno, mas tambm
a definio de critrios timos de qualidade.
e) Definio clara do problema e do seu contexto pretendeu-se
compreender o problema e fatores envolvidos e definir as
necessidades do grupo alvo. Nesta fase, decorreram trs reunies entre
os membros da equipa com o intuito de atravs da discusso ativa
delimitar o problema em anlise.
f) Definio dos elementos do modelo lgico nesta fase categorizou-se
a informao recolhida, verificou-se a preciso e a complementaridade
da informao de forma a haver lgica entre as diferentes dimenses
do modelo. Procurou-se definir os principais clientes e processos
inerentes ao Centro de Dia para pessoas idosas. Trabalharam-se os
requisitos de qualidade para cada processo, em funo das
necessidades dos clientes estabelecidos. Este trabalho foi realizado em
duas fases: (1) individualmente pelos vrios membros da equipe; (2)
partilhado em grupo por todos.
g) Finalmente, a proposta de modelo lgico de Centro de Dia foi
divulgada a todos os elementos do projeto Rumo Qualidade para
avaliao e discusso do produto por todos.
2.2. Proposta de Modelo lgico do Centro de Dia
O modelo lgico do Centro de Dia construdo seguiu as recomendaes tericas
anteriormente referidas embora no deixe de refletir preocupaes de ordem prtica.
Na primeira fase do processo tivemos a preocupao de envolver todos os
parceiros, de criar uma linguagem comum e de a registrar num glossrio que servisse
para estes e outros intervenientes em processos semelhantes. Nesta fase, destacamos a
relevncia da escolha de uma definio consensual de Centro de Dia. A delimitao
deste conceito foi essencial na elaborao do modelo lgico. Neste sentido, foi adotadaconsensualmente pela equipe a seguinte definio:
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O Centro de Dia uma resposta social, desenvolvida em equipamento, que
consiste na prestao de um conjunto de servios que contribuem para a manuteno
dos idosos no seu meio scio-familiar (Bonfim & Saraiva, 1996). Especificamente,
considera-se que um Centro de Dia um servio social e de apoio familiar que oferece
durante o dia ateno s necessidades pessoais bsicas, teraputicas e scio-culturais das
pessoas idosas, afetadas por diferentes graus de dependncia, promovendo a sua
autonomia e a permanncia na sua residncia habitual (Castiello, 1996). O Centro de
Dia distingue-se de outros equipamentos sociais para pessoas idosas de apoio diurno,
como os Centros de Convvio, porque tem subjacente um carter reabilitador e no
apenas de fomento de atividades de convvio e recreio. Os objetivos do Centro de Dia
so: (1) a prestao de servios que satisfaam necessidades bsicas, pondo disposio
das pessoas idosas as diversas formas de ajuda adequadas sua situao; (2) prestao
de apoio psicossocial; (3) fomento de relaes interpessoais ao nvel dos idosos e destes
com outros grupos etrios, a fim de evitar o isolamento; e (4) apoio direto s famlias
das pessoas idosas, permitindo proporcionar um espao formativo e de apoio s suas
atividades na relao com o familiar idoso (Quaresma, 1996).
As fases seguintes incluram a recolha de informao proveniente de vrias
fontes e a definio clara do problema e do seu contexto. Estas etapas fomentaram a
colaborao estreita dos membros da equipa em tarefas que incluram a reviso de
literatura e a reflexo baseada na prtica enquanto tcnicos em Centros de Dia. Este
trabalho permitiu definir dois aspectos fundamentais para a elaborao do modelo de
Centro de Dia com qualidade: as necessidades dos clientes do Centro de Dia e os
processos considerados relevantes para o seu desenvolvimento. Seguidamente, iremos
apresentar resumidamente o resultado do trabalho realizado.
a. As necessidades dos clientes do Centro de Dia
Foram definidos trs grupos de clientes para o Centro de Dia: as pessoas idosas,
a famlia e outros cuidadores informais e os cuidadores formais.
Em primeiro lugar, apresentamos a reflexo realizada sobre as necessidades das
pessoas idosas.
A anlise dos dados estatsticos recolhidos permitiu caracterizar as condies de
vida das pessoas idosas em Portugal. Os dados existentes evidenciaram inmerascarncias em vrios domnios. Numa breve caracterizao, a nossa recolha permitiu
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concluir que as pessoas idosas vivem majoritariamente ss (51,4%) e com poucos
recursos econmicos. Ao nvel da sade, as pessoas idosas caracterizam a sua sade
como m ou pssima, sofrem de doenas crnicas (>60%) ou de algum tipo de
incapacidade, necessitando de ajuda para realizarem as tarefas dirias (ex. fazer
compras, preparar as refeies, limpar a casa) (INE, 2000; Villaverde-Cabral, Alcntara
da Silva & Mendes, 2002). Por fim, os dados demonstraram tambm que as pessoas
idosas so majoritariamente inativas (82,8%) (INE, 1999).
Esta reviso dos dados demogrficos permitiu desde logo considerar algumas
necessidades bsicas das pessoas idosas tais como os cuidados de sade, a alimentao e
as relaes sociais.
A reviso de literatura sobre as necessidades das pessoas idosas salientou aimportncia de se considerarem trs variveis fundamentais: o suporte social, familiar
e formal, a qualidade de vida e o bem-estar.
A primeira varivel identificada como uma necessidade essencial das pessoas
idosas foi o suporte social (dando especial relevncia ao familiar e formal). Segundo
Sarason e colaboradores (1983), a percepo de suporte social usualmente definida
como a percepo da existncia ou disponibilidade de pessoas com as quais o indivduo
pode contar, se preocupam e o valorizam enquanto ser humano. A relao entre apercepo de suporte social e a sade fsica e psicolgica de adultos encontra-se bem
documentada na literatura (Israel, Faqhuar, Schulz, James & Parker, 2002).
As outras duas variveis consideradas como essenciais na definio das
necessidades das pessoas idosas foram a Qualidade de vida e o Bem-Estar Psicolgico.
Esta opo reflete as tendncias tericas atuais na literatura gerontolgica, que adotam
uma perspectiva positiva da sade mental (Rohe & Kahn, 1987).
A Qualidade de Vida pode ser definida de acordo com os seguintes traos
distintivos (Fernndez- Ballesteros, Zamarrn & Macia, 1996; Galloway, Bell,
Hamilton & Scullon, 2005): (1) um conceito multidimensional, e que diz respeito
forma como os indivduos valorizam os vrios aspectos da sua vida; (2) pode incluir
aspectos de avaliao subjetiva e objetiva; e (3) existe a necessidade de adaptar a
medida da qualidade de vida a populaes especficas. No caso das pessoas idosas, um
estudo recente revelou a importncia de se analisarem as seguintes seis facetas:
capacidades sensoriais; autonomia; atividades passadas, presentes e futuras;
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participao social; preocupao com a morte; e intimidade (Power, Quinn & the
WHOQOL-OLD GROUP, 2005)
Finalmente, o outro conceito considerado foi o Bem-Estar psicolgico (BEP)
(Ryff, 1989). Embora possa estar relacionado com a Qualidade de Vida, o BEPpsicolgico traduz-se na forma como os respondentes avaliam de forma individual e
subjetiva a sua vida. Este um construto multidimensional que abrange as seguintes
dimenses: aceitao de si, relaes positivas com os outros, domnio do meio,
crescimento pessoal, objetivos de vida e autonomia (Novo, 2003). Ryff e Singer (2003)
concebem o BEP como uma medida psicolgica da capacidade de resilincia face aos
desafios do envelhecimento.
No que se refere aos clientes pessoas idosas, a anlise crtica da literatura e dadocumentao permitiu, assim, determinar dois tipos de necessidades: as necessidades
bsicas (Alimentao, Higiene e Cuidados de imagem, Mobilidade, Controle da sade)
e as necessidades sociais (Suporte social, familiar e formal, Qualidade de vida e Bem-
estar).
Prosseguimos agora com a reflexo sobre o segundo grupo de clientes a
famlia e outros cuidadores informais.
A anlise das condies de vida das pessoas idosas em Portugal permitiuconcluir que a maior parte das pessoas idosas vive s ou na companhia do cnjuge e que
tm pouco contato dirio com os familiares (INE, 1999). Neste sentido, estabeleceu-se
como uma das necessidades das pessoas idosas enquanto clientes dos servios para
pessoas idosas o suporte familiar. No entanto, atravs da reviso de literatura realizada
verificamos que esta situao no se deve, na maioria das vezes, a uma inteno da
parte da famlia em afastar-se do seu familiar idoso mas sim determinada por um
conjunto de fatores de ordem econmica e social. Neste sentido, Quaresma (1996)
indica alguns dos fatores que esto relacionados com as dificuldades com que as
famlias que prestam cuidados se deparam: so manifestas as dificuldades
relativamente s necessidades de tempo disponvel, s relaes com outros familiares
(sentir-se explorado) e tambm a questes como a sobrecarga psicolgica ou mesmo
fsica dado que os cuidados prestados so muitas vezes considerados pesados (pp. 18).
De fato, existem dificuldades ao nvel do apoio financeiro e de apoio social s famlias
com idosos. As famlias que garantem os cuidados manuteno no seu seio dos seus
membros mais idosos no so objeto de medidas de apoio, quer em servios quer
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monetrios. Por outro lado, at um passado recente, no existiam formas organizadas de
apoio psicossocial aos familiares que prestam os cuidados. Neste sentido, admite-se que
os familiares das pessoas idosas tm tambm, tal como as prprias pessoas idosas, uma
baixa percepo de suporte social o que pode acarretar diversas conseqncias ao nvel
da sade fsica e psicolgica.
Efetivamente, existem atualmente diversos fatores que competem para que o
envolvimento familiar seja baixo. Esta uma situao difcil para os familiares que,
apesar de no terem outras opes, se sentem muitas vezes culpados pelo abandono em
que se vem forados a deixar o seu familiar idoso (Yanguas, 1996).
Neste sentido, a constituio de um Centro de Dia, deve considerar tambm
as necessidades dos familiares das pessoas idosas enquanto seus clientes, permitindo
preencher as necessidades identificadas. Apenas desse modo ser possvel promover o
contato intra-familiar e diminuir o isolamento em que se encontram as pessoas idosas.
O desenvolvimento do trabalho relativo s necessidades da famlia e outros
cuidadores informais permitiu determinar as seguintes necessidades como
fundamentais: disponibilidade de tempo; recursos financeiros e recursos psicossociais.
Finalmente, iremos considerar as necessidades do terceiro grupo de clientes
os cuidadores formais.
A reviso de literatura realizada permitiu-nos explorar quais as principais
necessidades dos profissionais gerontolgicos e quais as variveis mais importantes a
serem desenvolvidas nesta rea. De fato, o trabalho com as pessoas idosas exigente e
necessita de formao especializada (Fernandz, 2004). Em primeiro lugar, para
aumentar o conhecimento sobre o processo de envelhecimento de modo a evitar
preconcepes que podem determinar o trabalho com as pessoas idosas. Em segundo
lugar, para permitir uma diminuio do estresse psicolgico e laboral, uma vez que as
suas funes envolvem uma enorme tenso provocada por sentimentos contraditriossobre os familiares e as pessoas idosas e podem conduzir a relaes de frieza e de
agressividade dos prestadores de cuidados formais com os clientes.
Neste sentido, salienta-se a importncia de treinar as competncias de
comunicao e resoluo de conflitos. Mediante uma boa comunicao os profissionais
podem relacionar-se melhor com a pessoa idosa e com os seus familiares em tarefas to
simples como a de decidir sobre a medicao a tomar. Outra capacidade que deve ser
treinada a capacidade de agir em situaes de crise (Trinidad, 1999). Como revimosanteriormente, as pessoas idosas tm certas necessidades que podem muitas vezes
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traduzir-se em situaes agudas e que exigem uma interveno imediata (ex. alterao
grave do comportamento). Finalmente, outro aspecto fundamental a considerar o
treino ao nvel do trabalho de equipe. Os servios sociais de apoio s pessoas idosas
exigem a maior parte das vezes um trabalho interdisciplinar. O trabalho em equipe
apresenta muitas vantagens, tais como aumentar a motivao dos indivduos, maior
rigor na tomada de deciso, a produo de mais e melhores solues para os problemas
(Trinidad, 1999).
Em concluso, verifica-se que a existncia de um Centro de Dia com
qualidade exige no s a considerao das necessidades dos seus clientes mais diretos e
externos (i.e., as pessoas idosas e as suas famlias) mas tambm dos seus clientes
internos nomeadamente, dos seus profissionais. Apenas assim ser possvel garantir um
funcionamento adequado deste tipo de servios.
Finalizada esta parte relativa s necessidades dos clientes do Centro de Dia,
sero de seguida revistos os principais modelos processuais relativos aos servios de
apoio a idosos que nos serviram de inspirao no presente trabalho.
b. Os processos envolvidos no Centro de Dia de qualidade
Na definio dos processos do Centro de Dia tivemos em considerao os
seguintes aspectos: 1) a definio de Centro de Dia; 2) as necessidades dos vrios tipos
de clientes; 3) a possibilidade de dividir a organizao em unidades com funcionamento
prprio e para as quais possvel definir os seguintes aspectos: recursos especficos que
consome e quem o seu distribuidor; o efeito que produz nos destinatrios; o seu
produto final; as atividades ou subprocessos que o compem; os requisitos de qualidade
associados aos recursos, atividades e ao resultado do processo, e a pessoa e equipe
responsveis.Os processos especficos propostos no mbito deste trabalho foram baseados
nas propostas de outros autores relativamente a servios para pessoas idosas e foram
analisados sob o olhar crtico da equipe multidisciplinar do projeto Rumo
Qualidade. As principais fontes de inspirao foram o Plano Av (Soares & Antunes,
2001), o modelo de Jimeno (1999) e o de Martinho (2005).
Tendo por base esta reviso de literatura e as contribuies crticas da
equipe, foi proposto um modelo para o Centro de Dia composto por processos crticos(i.e., essenciais para o funcionamento do Centro de Dia) e processos de apoio (i.e., no
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so exclusivos do Centro de Dia embora sejam necessrios ao seu funcionamento
adequado).
Os processos crticos identificados foram a candidatura, a seleo, a
admisso, as infra-estruturas e a vida no centro (alimentao, higiene e cuidados de
imagem, cuidados de sade, apoio psicossocial, apoio espiritual, animao scio-
cultural e recreativa, quotidiano do centro de dia e relaes com o exterior). Foram
ainda identificados vrios processos de apoio (ver Figura 1).
Inserir Tabela 1
Para todos os processos identificados foram definidos de forma minuciosa os
requisitos de qualidade. Este trabalho teve como fonte de inspirao, sobretudo a
reviso de literatura realizada e a experincia prtica dos agentes internos e externos ao
projeto que participaram. Com base neste modelo, foi criado um instrumento (RPQ-
CDI) que ser testado posteriormente atravs de um estudo-piloto.
Um exemplo de um processo considerado como crtico ao Centro de Dia foi
o Apoio Psicossocial (Figura 2). Este um processo essencial ao funcionamento deste
servio j que um dos objetivos do Centro de Dia , segundo a nossa definio, a
ateno s necessidades teraputicas e sociais das pessoas idosas. Por sua vez, a
definio dos requisitos de qualidade para este processo teve em considerao as
necessidades dos trs grupos de clientes definidos (i.e., pessoas idosas, famlia e outros
cuidadores informais e os cuidadores formais), as vrias atividades a desenvolver (ou
subprocessos) assim como os principais produtos inerentes ao seu funcionamento.
Inserir Tabela 2
2.3. Discusso
O objetivo do presente trabalho foi o de criar requisitos de qualidade para o
Centro de Dia para pessoas idosas com objetivo de serem aplicados nas vrias
instituies portuguesas desta natureza. Neste sentido, pretende-se contribuir para a
melhoria de funcionamento de um setor que no , neste momento, alvo de
monitorizao e de avaliao. Cremos que a criao de um referencial com requisitos dequalidade para o funcionamento deste servio apresenta uma grande mais-valia j que,
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por um lado, contribui para a criao de uma linguagem comum, que poder ser
utilizada num nmero crescente de organizaes de todas as classes e tamanho. Por
outro lado, fornece um modelo amplamente experimentado e que garante a cobertura
completa de todas as reas de uma organizao (Fernndez-Ballesteros, 2004).
A nfase na avaliao da qualidade permite identificar as necessidades
especficas dos vrios clientes envolvidos, assim como adequar as respostas de forma
eficiente atravs de uma abordagem por processos.
Colocar a tnica nas necessidades dos clientes implica atender no s s
caractersticas especficas de cada grupo-alvo envolvido mas tambm a cada indivduo.
Se, por um lado, esta personalizao parece cada vez mais fundamental em todos os
setores da nossa sociedade como, por exemplo, nas empresas lucrativas que vendem
determinados produtos, ela essencial nos servios sociais cujo produto , em si
mesmo, a garantia do bem-estar e qualidade de vida dos seus clientes (Serra, 2003). Por
sua vez, a adoo de uma abordagem por processos permite no s visualizar todas as
atividades sob o ponto de vista do cliente mas tambm delimitar as redundncias das
tarefas, promover a transparncia e uma base para a melhoria contnua (Martinho,
2005). A diviso da organizao em caixas (i.e., processos) que tm tarefas e
responsabilidades delimitadas permite monitorizar de forma mais eficiente o
funcionamento da organizao como um todo e garantir o seu sucesso (Fantova, 2002).
Na criao dos requisitos de qualidade para o Centro de Dia, propusemos a
utilizao da tcnica do modelo lgico (McLaughlin, Gretchen & Jordan, 2004). Esta
metodologia permitiu estruturar a recolha dos dados essenciais para a realizao da
tarefa em curso assim como promover o envolvimento ativo das vrias partes
interessadas. O modelo lgico de Centro de Dia que foi criado permite visualizar as
necessidades atuais dos clientes e as atividades propostas para satisfazer essas
necessidades. No entanto, este modelo deve ser regularmente revisto, incorporando ascontribuies de vrios agentes (tcnicos e decisores) envolvidos no funcionamento dos
servios de Centro de Dia. Especificamente, no caso do presente trabalho, pretende-se
ainda incorporar em curto prazo as reflexes de vrios tcnicos de Centro de Dia que
iro realizar uma avaliao crtica do produto. Por outro lado, iremos ainda procurar a
interveno de rgos governamentais com carter decisivo nas polticas sociais no
nosso pas.
Esperamos, com este trabalho, contribuir para a melhoria da qualidade dosservios sociais para pessoas idosas em Portugal.
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de Trabajo y Assuntos Sociales: Instituto Nacional de Servicios Sociales
(INSERSO).
Tabela 1. O modelo lgico do Centro de Dia com qualidade
INPUTS ATIVIDADES OUTPUTS
NECESSIDADES DOSCLIENTES
PROCESSOSSATISFAO DAS
NECESSIDADES DOSCLIENTES
PESSOAS IDOSASNecessidades bsicas:
AlimentaoHigieneCuidados de imagemMobilidadeControle da sadeNecessidades sociais:Suporte social, familiar e formalQualidade de vidaBem-estar
FAMLIA E OUTROSCUIDADORES INFORMAISRecursos
Disponibilidade de tempoFinanceirosPsicossociais
CUIDADORES FORMAISFormaoResoluo de conflitosSituaes de criseTrabalho em equipaComunicaoApoio estresse laboral
PROCESSOS CHAVECandidatura
SeleoAdmissoAlojamentoVida no lar:AlimentaoHigiene e cuidados de imagemCuidados de sadeApoio psicossocialApoio espiritualAnimao social, cultural erecreativaQuotidiano do Centro de DiaRelaes com o exterior
PROCESSOS APOIOArmazenamento, preparao econfeo de alimentosHigiene e seguranaalimentaoTratamento das roupasLimpeza das instalaesManuteno das instalaes eequipamentoGesto administrativa edocumentalRecursos HumanosTransportes
PESSOAS IDOSAS> Necessidades bsicas
> Necessidades sociais
FAMLIA E OUTROSCUIDADORES INFORMAIS>Recursos
CUIDADORES FORMAIS>Formao>Apoio estresse laboral
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Tabela 2. Processo psicossocial do Centro de Dia (CD) para pessoas idosas
Processo psicossocialRequisitos de qualidade
So realizadas avaliaes peridicas com os usurios para aferir o seu grau de adatao relativamente vida no CDSo realizados programas que permitam a integrao social dos usurios do CDExiste um procedimento adequado para lidar como situaes crticas e para encaminhamento dosusurios para outros servios de ajudaSo realizadas avaliaes psicolgicas regulares no sentido de permitir o rastreio de eventuais patologiasSo criados programas especficos para cada usurio (ex. Preveno e tratamento da depresso; Terapia
de orientao para a realidade; Aprendizagem e reaprendizagem de capacidades funcionais na atividadedo dia-a-dia)So realizadas intervenes com as famlias dos usurios (ex. apoio psicolgico aos cuidadores; gruposde auto-ajuda e de suporte social)So realizadas avaliaes peridicas com os usurios para aferir o seu grau de adatao relativamente vida no CDSo realizados programas que permitam a integrao social dos usurios do CDExiste um procedimento adequado para lidar como situaes crticas e para encaminhamento dosusurios para outros servios de ajudaSo realizadas avaliaes psicolgicas regulares no sentido de permitir o rastreio de eventuais patologiasA informao que consta no processo social constantemente atualizadaSo realizados programas de formao para o exerccio do papel profissional dos trabalhadores doCentro de Dia na vertente psicolgica e social (ex. resoluo de problemas em situao de crise; trabalho
em equipe)So realizadas intervenes que lidem com o problema do estresse laboral dos trabalhadores do Centrode Dia