20
Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia 1 Escola Secundária Quinta do Marquês Escola Secundária Quinta do Marquês Geografia C Trabalho Individual As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia Docente: Professor Raúl Castelão Elaborado por: Pedro Tomé Ano letivo de 2012/2013 (18 de Maio de 2013)

As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

1 Escola Secundária Quinta do Marquês

Escola Secundária Quinta do Marquês

Geografia C

Trabalho Individual

As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal

na União Europeia

Docente: Professor Raúl Castelão

Elaborado por: Pedro Tomé

Ano letivo de 2012/2013

(18 de Maio de 2013)

Page 2: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

2 Escola Secundária Quinta do Marquês

Índice Capa ................................................................................................................................ 1

Índice .............................................................................................................................. 2

Introdução ....................................................................................................................... 3

Desenvolvimento ............................................................................................................ 4

Portugal e o Euro ....................................................................................................................... 4

Dívida Soberana ........................................................................................................................ 8

Paraísos Fiscais ........................................................................................................................ 11

Conclusões Finais ........................................................................................................... 13

“Problemas globais, respostas locais” .............................................................................. 17

Bibliografia .................................................................................................................... 18

Anexos .......................................................................................................................... 19

Page 3: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

3 Escola Secundária Quinta do Marquês

Introdução

O trabalho que aqui apresento adota Portugal como ator principal deste teatro com

nome de globalização. O pano de fundo é a entrada do país na a União Europeia, mais

precisamente no momento em que se começa a desenvolver esta aldeia global. A

perspetiva a que me submeto é a da geografia. Por fim o tema, roda em torno das

alterações na circulação de capitais, o que sendo primeiramente de caráter económico,

devo desde já dizer que aqui a economia será apenas uma ferramenta para

compreender as implicações geopolíticas do fluxo de capitais.

Como é já do senso comum, Portugal tem sofrido muito com as alterações na

circulação de capitais, por duas grandes razões, a entrada na União Europeia e mais

concretamente na zona euro, e por outro lado, a globalização. Estes dois fatores têm

gerado inúmeros problemas e conflitos que Portugal ainda não consegui resolver e

está a levar este antigo reino, que já teve metade do mundo nas suas mãos, para a lista

dos pobres e dependentes. A verdade é que com o crescimento e desenvolvimento de

países como a China, Índia, Brasil e outros tantos que poderia nomear, Portugal

passou de uma potência colonizadora para um país endividado, que não se afasta

muito do conceito de colónia.

O trabalho servirá também para demonstrar a subjetividade que há dentro de uma

área tão financeira e matemática como é o fluxo de capitais, em que infelizmente

encontramo-nos rodeados de profissionais técnicos que não compreendem a cultura

portuguesa e o seu potencial, que apenas vêm o nosso caminho traçado numa linha

reta onde não constam outros horizontes, é essa linha que quero aqui transformar.

Page 4: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

4 Escola Secundária Quinta do Marquês

Portugal e o Euro

Relativamente à circulação de capitais esta foi liberalizada, com a aprovação do

Ato Único Europeu há já 27 anos atrás, entre países membros da União. No entanto, a

livre circulação de capitais apenas foi potenciada aquando a entrada em circulação do

Euro. Esta tinha como objetivos, alargar o conceito de economias de escala à

dimensão europeia, especialmente criando atividades económicas que não eram

compatíveis com a dimensão nacional, reforçar a capacidade de negociação, assegurar

vantagens para os consumidores e intensificar a concorrência.

A entrada de Portugal na União Europeia (CEE no momento) marcou

profundamente o caminho do país para o futuro, orientou a sua produção (ou a falta

dela), aproximou-nos da cultura europeia, procurou equilibrar os rendimentos e o

nível de vida. Os objetivos principais, para além dos ambientais, humanos e sociais

que para aqui considero menos relevantes, estavam definidos, só faltavam os

mecanismos para os tornar realidade. O grande mecanismo usado pela União Europeia

foi a criação de uma moeda única, o Euro, que não contou com a totalidade dos

paísesi. Aproveito para fazer referência à não entrada de Inglaterra neste grupo de

países, o que fragiliza o euro e atribui-lhe muito menos relevância, pois sabemos que

em matéria de circulação de capitais a cidade de Londres é uma das grandes praças, a

nível dos créditos bancários e sobretudo nos investimentos de carteira. Esta foi uma

experiência nova, pois até então nunca um conjunto de países tinha adotado uma única

moeda, pelo menos desta forma, e é por isso que a União Europeia se considera o

primeiro e mais importante laboratório de globalização, o que por sua vez acarreta

algumas incertezas e falta de preparação para os problemas que poderiam, e vieram, a

surgir.

Com a passagem da nossa antiga moeda, o escudo, para o euro, Portugal:

Passa a ter uma moeda forte

Consegue obter crédito mais barato

Page 5: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

5 Escola Secundária Quinta do Marquês

Mas no entanto, como consequência:

Deixa de poder desvalorizar a sua moeda (perde o controlo cambial da balança

de pagamentos e da inflação)

Torna a produção de produtos de baixo valor acrescentado pouco competitiva

Aumenta o seu consumo interno, o que aumenta o endividamento das famílias e

destrói as poupanças

As importações crescem com maior intensidade que as exportações

Como era de esperar, os resultados não foram vantajosos, entre 1986 (ano de

entrada de Portugal na UE) e 1998 o PIB português cresceu a uma média de 5% ao

ano e já contraiu a partir de 2011. O desemprego em 1998 era de 5% e agora já

ultrapassou os 15%. A divida pública correspondia a 55% do PIB e subiu para 64%. O

rendimento "per capita", em 1998, que era de 71% da média europeia desceu para

66% em 2005. Apenas a inflação estabilizou entre 1998 e 2005 (2,2 e 2,3,

respetivamente), o que mesmo assim é desvantajoso, pois quando a economia se

encontra em recessão espera-se que a inflação seja negativa (deflação).

Com todos estes dados e consequências, podemos ver que a entrada de Portugal

no euro foi um erro. Pouco ou nenhum partido tirámos desta moeda forte e o que

poderíamos eventualmente tirar, como a facilidade de acesso ao crédito, desvirtuamo-

la, andámos a financiar o consumo das famílias em vez da produção nacional.

Relativamente à balança de pagamentos portuguesa, interessam-nos a balança de

capitais e a balança financeira. Convém também referir que a estas duas junta-se a

balança corrente para que se forme a balança de pagamentos.

Fazendo uma breve apresentação do que é a balança de capitais, esta é constituída

por fluxos de capitais unilaterais e que por isso não exigem um pagamento futuro

como contrapartida, ou seja, é composta basicamente (em Portugal) por fundos

Page 6: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

6 Escola Secundária Quinta do Marquês

provenientes da UE, perdão de dívidas e por ativos intangíveis, como patentes, marcas

ou franchises.

Já a balança financeira, como o nome indica, refere-se à transferência de ativos e

passivos financeiros do exterior, dos quais destaco:

O investimento direto

O investimento de carteira (ações e obrigações)

Os derivados financeiros (futuros)1

Ativos de reserva (transações de moeda estrangeira)

Em Portugal, a balança de capitais (desde a entrada no euro) é das que mais

relevância tem tido. Apresenta um saldo positivo de 3.870 mil milhões de euros, valor

que resulta essencialmente dos fundos oriundos da União Europeia e que por isso

embora esta seja uma balança de capitais positiva não representa uma positiva balança

de capitais, na medida em que este saldo não resulta da capacidade que Portugal tem

para vender marcas mas sim da necessidade de ajuda para resolver problemas. O

alargamento a leste da UE permitiu-nos constatar esse facto na perfeição. Com a

entrada, em 2004, de 10 novos países com graves problemas e discrepâncias em

relação ao resto da União, os fundos de Portugal foram fortemente afetados e

direcionados para o leste. Na tabela que se segue, vemos que até 2003 o saldo da

balança de capitais foi sempre crescente, mas que no entanto, a partir de 2004 o

sentido inverte-se. No entanto a explicação que podemos atribuir para o facto de em

2007 o saldo voltar a tornar-se crescente pode estar na crise que começa logo no ano a

seguir, em 2008. A União Europeia terá aumentando os fundos como resposta aos

problemas que o país iria enfrentar, de onde sobressai o fundo social europeu.

Relativamente à balança financeira, poucas conclusões se podem tirar a partir dos

dados da tabela, apenas a de que esta é uma balança bastante instável, que está em

1 Futuros são contratos de compra e venda padronizados. Através destes contratos, o comprador e o vendedor

comprometem-se a comprar e vender uma determinada quantidade de ativos financeiros ou reais numa data

futura. Pelo facto de serem padronizados são negociáveis em bolsa.

Page 7: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

7 Escola Secundária Quinta do Marquês

permanente alternância de saldo, o que se compreende pelas caraterísticas de risco que

lhe são inerentes. No entanto acho relevante que se aprofunde a análise do

investimento direto, que em média tem vindo a crescer, infelizmente mais pela

diminuição do investimento de Portugal no estrangeiro do que pelo aumento do

Investimento estrangeiro em Portugal.

Aproveitando esta análise económica para partirmos para considerações globais,

consegue-se extrair que Portugal perdeu relevância no contexto mundial,

principalmente a médio e longo prazo, pois no início deste processo tudo parecia

correr bem. Agora começamos a notar que, deixámos de exportar a nossa cultura e os

nossos produtos, principalmente a nível de vestuário, calçado e bens alimentares para

Page 8: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

8 Escola Secundária Quinta do Marquês

importar outros produtos, até de qualidade inferior. Estamos endividados “até à

cabeça”, a divida chegou a níveis nunca esperados, o que nos faz ficar sob o controlo

de países como a China e alguns outros até da própria União Europeia. A UE ganhou

posição política de ordem mundial, mas Portugal não tem grande influência dentro

dela e no entanto perdeu a sua autonomia. Hoje somos comandados mais pelos

elementos da troika que pelo Sr. Primeiro-ministro e o nosso Presidente da República

o que mais tem feito na prática tem sido enquanto vendedor de produtos portugueses

nas suas viagens pelo estrangeiro. A verdade é que não temos poder para fazer muito

mais, isto admitindo que queremos continuar na zona euro. A nível militar,

adquirimos alguns submarinos (produzidos na Alemanha) e protegemos um pouco

melhor a nossa costa, pela PESC não se chegou a criar uma força de segurança

comum e como tal, Portugal não ganhou muita importância a nível militar. Dados isto,

podemos ver que o país não se conseguiu adaptar nem desenvolver em nenhum dos

três grandes pilares que o mundo geopolítico exige, a economia, a política e as forças

militares.

Relativamente ao investimento, para Portugal ser um maior polo de receção de

capitais e de afirmação enquanto potência produtiva e exportadora tem que criar mais

condições para atrair investidores, a nível de burocracias, liberalização do mercado de

trabalho, incentivos fiscais e melhorar a imagem da mão de obra portuguesa no

exterior, isto para nos afirmarmos economicamente.

Dívida Soberana

Não há assunto que já tenha sido mais debatido e noticiado do que a dívida

portuguesa, que já nos acompanha há longos séculos atrás mas que tem vindo a tomar

proporções insuportáveis. Os meios de comunicação estão permanentemente a repetir

este nome e fazem com que os nossos dias se tornem nublados logo pela manhã,

carregados de palavras incomodativas, desmotivantes e que pouco mais trazem de

novidade, alias a novidade passa a ser a ausência de uma notícia destas, por cada dia

que passa a dívida aumenta e os juros claro, também não perdoam. A abordagem que

Page 9: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

9 Escola Secundária Quinta do Marquês

se segue tem como objetivo fazer perceber o que realmente é importante sobre a

dívida e demonstrar que não tem que ser necessariamente pela austeridade que a

dívida se combate, pois existem muitas outras variáveis que podemos utilizar para

fazer da dívida uma coisa de menor.

Portugal deve ao exterior 397 mil milhões de euros, dos quais 142 correspondem

a dívida pública. A dívida pública portuguesa é considerada uma das mais

preocupantes. Mas se é assim tão alarmante, como é que a dívida dos Estados Unidos,

23 vezes maior, não é considerada de tal risco? Apenas e somente porque o PIB dos

Estados Unidos é incomparavelmente maior que o nosso, o que faz com que a nossa

dívida pública de 76,3% do PIB esteja muito próxima da americana que, uma vez

diluída pelo seu PIB, conta com 84,3% do Produto Interno Bruto americano.

Por outro lado, a maior dívida pública do mundo em percentagem do PIB é a do

Japão ( 217,6%). Tal como o caso dos Estados Unidos, este caso não levanta grandes

problemas, não pela sua relação com o PIB mas sim porque grande parte da dívida do

Japão provem de crédito de japoneses, o que faz com que a dívida externa japonesa

não ultrapasse 41,6% do seu PIB. No quadro que se segue estão expostas as dívidas

públicas e externas dos países por ordem decrescente (em relação ao PIB). Portugal

tem a 19ª maior dívida pública e a 24ª maior dívida externa, sendo que no caso desta

última, considerada mais relevante, o valor da dívida excede o dobro do PIB

português.

Uma outra curiosidade diz respeito ao facto de existirem responsabilidades

financeiras do estado português, relativamente a dívidas de parcerias público-privadas,

que poderia colocar, segundo estimativas, a dívida pública total para 120% do PIB, e

dado que a nossa dívida pública sem estes acrescentos anda na ordem dos 76%, este

novo dado altera por completo o quadro de sustentabilidade da dívida nacional.

Finalizando esta jornada de exemplos com um país do norte europeu, achei

também relevante mencionar que a Bélgica tem uma dívida duas vezes maior que a

portuguesa e um défice que se aproximou dos 4% em 2010. A isto junta-se a crise

política que o país vive desde 2007 e sem governo eleito desde 2010, mas que no

entanto pouco ou nada dá que falar e muito menos que preocupar.

Page 10: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

10 Escola Secundária Quinta do Marquês

Após muitas interrogações, oriundas principalmente dos países do sul, chegou-se

à conclusão que o excedente da balança externa justifica a pouca importância que é

atribuída à sua dívida, pois representa uma capacidade de pagamento da mesma.

Valores de dívida (em percentagem do PIB)

Pública Externa

Japão 217,6 Irlanda 1019,1

Itália 115,8 Islândia 1002,7

Grécia 115,2 Reino Unido 428,7

Singapura 106,2 Holanda 311,0

Islândia 99,8 Hong Kong 302,2

Bélgica 96,8 Bélgica 266,3

EUA 84,3 Suíça 245,0

Canadá 81,6 Portugal 240,6

França 78,1 Áustria 217,8

Portugal 76,3 Suécia 217,4

Índia 74,2 Singapura 210,0

Alemanha 73,5 Dinamarca 197,4

Brasil 68,9 França 194,5

Reino Unido 68,5 Grécia 178,0

Áustria 67,1 Espanha 173,9

Irlanda 65,5 Finlândia 169,3

Holanda 61,8 Alemanha 153,2

Noruega 54,3 Noruega 145,0

Espanha 53,1 Itália 120,4

Finlândia 43,9 Austrália 102,7

Suécia 41,6 EUA 96,6

Dinamarca 41,5 Nova Zelândia 74,9

Suíça 39,0 Canadá 72,6

Nova Zelândia 26,2 Japão 41,2

China 18,6 Rússia 38,4

Austrália 17,6 Índia 20,4

Rússia 10,9 Brasil 17,6

Hong Kong 1,0 China 8,6

Page 11: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

11 Escola Secundária Quinta do Marquês

Em jeito de conclusão, retira-se daqui que o que interessa para a análise da dívida

não são os valores brutos, mas sim em relação ao PIB. Depois, percebemos que a

dívida externa é mais sensível e representativa do que a dívida pública (total), no

sentido em que tem também em conta a relação com os outros países. De todas, no

entanto, a mais importante é a dívida pública externa, pois envolve apenas um

devedor que não depende de si próprio mas sim de toda uma economia nacional. O

exemplo belga é importante para que possamos perceber o quão complexa é a questão

e estudo da dívida.

Paraísos Fiscais

Paraísos fiscais são estados ou regiões autónomas em que a lei favorece a

aplicação de capitais estrangeiros.

São três os tipos de paraísos fiscais, dependentes das necessidades dos

depositantes. Um primeiro, carateriza-se pela redução da carga tributária, funcionando

como uma espécie de dumping fiscal como é o caso da Holanda, país onde estão

sediadas várias empresas portuguesas, sendo a mais polémica e recente a Jerónimo

Martins, à qual pertence o grupo Pingo Doce. A polémica fez-se pela grandeza do

volume de capitais que a Jerónimo Martins gere e que representava para Portugal uma

enorme quantia de impostos, assim como pela bonita publicidade que até à data

tinham feito na defesa do que é português e do esforço que precisamos de fazer para

ultrapassar a crise, um esforço de união de um povo, o qual deixou de contar com a

ajuda do Sr. Alexandre Soares dos Santos, pois mal viu a oportunidade poupar algum

dinheiro, e também alguma honra, não soube dizer que não, no entanto os

portugueses continuam a ir às suas lojas.

Outro tipo de paraíso fiscal, que abrange também o caso anterior, são os que

permitem a deslocalização das sedes de empresas de indivíduos não residentes.

Por fim, e mais preocupante, temos o caso dos paraísos fiscais que estão ao

abrigo do sigilo bancário, no sentido em que asseguram a identidade desconhecida do

depositante, uma lei criada na Suíça e que tomou dimensões preocupantes também em

Page 12: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

12 Escola Secundária Quinta do Marquês

países como o Líbano. Os principais interessados nestes paraísos são criminosos,

ditadores, milionários e multinacionais.

Para acabar com esta falha de mercado de capitais, o Estado português pode taxar

fortemente os titulares que têm o seu capital nestes “oásis” de impostos e penalizar as

instituições financeiras que não declarem o montante dos depósitos que os indivíduos

têm em paraísos fiscais, à semelhança do que se tem feito na América, que perdia 10

biliões de receitas em impostos por ano, porque mesmo após várias tentativas de que

os bancos Suíços quebrassem o sigilo bancário, estes não cederam, o que se

compreende, pois a Suíça, assim como outros pequenos países, vive quase somente

desta atividade bancária, e com um rendimento per capita muito superior a qualquer

outro país da União Europeia, razão pela qual não pertence à mesma.

À cerca de corrupção, a instituição Transparency International elaborou um

ranking dos países mais éticos e corruptos do mundoii, que coloca os países do Norte

da Europa no topo da tabela e também a Suíça, o que se questiona, pois grande parte

do capital que entra no território suíço é proveniente de fontes não declaradas que

foge aos impostos do país de origem e que muitas vezes serve criminosos que não têm

onde declarar o seu dinheiro, colocando-o por isso numa offshore em que nem as

autoridades do seu país conseguem autorização para ter informações sobre sesses

depósitos.

Fazendo uma análise ética e social da situação, interrogo-me sobre quais as

consequências destas fugas de capital.

Ora, como sabemos, os serviços que são prestados pelo estado, como o serviço

nacional de saúde, o sistema educativo, as vias de comunicação, o serviço social e

todo um conjunto de regalias a que todos temos direito é pago com impostos dos

contribuintes, sejam eles pessoas ou empresas. Uma vez que estas pessoas/ empresas,

que colocam o seu capital em paraísos fiscais (não pagando impostos) o que está

implícito, é que elas não querem pagar os serviços a que todos temos direito (e dever),

o que é uma visão muito pouco responsável e egoísta, pois visto que eles na verdade

não precisam da maioria destes recursos, dado que têm os seus filhos em escolas

Page 13: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

13 Escola Secundária Quinta do Marquês

privadas, frequentam clínicas privadas e não recebem subsídios, a eficiência e

sustentabilidade destes serviços é-lhes totalmente exterior.

Conclusões finais

Para resumir e relacionar todos estes complexos subtemas que aqui coloquei,

construí dois mapas, que nos sugerem a evolução do fluxo de capitais e a forma como

se reproduzem no globo sob outras aparências e mais concretamente quais as

repercussões a que o nosso país está sujeito.

O primeiro mapa refere-se ao período desde a entrada de Portugal na União

Europeia e à ilusão em que vivemos e o segundo mapa vai ao encontro da atual

situação do país e das consequências que nos esperavam.

Através deste mapa de fluxos de capitais de região para região e de região para

Portugal temos uma noção geográfica do sentido dos capitais e da sua finalidade, devo

desde já dizer, que na maioria dos casos, e Portugal é um deles, a forma como o

Page 14: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

14 Escola Secundária Quinta do Marquês

capital irá ser aplicado (finalidade) é muito mais importante que o seu sentido. No

mapa, as setas representam o destino dos capitais e as cores o seu impacto (positivo ou

negativo) para Portugal. Quando nos encontrávamos no “tempo das vacas gordas” em

que a nossa qualidade de vida e economia eram invejáveis, o que se passava era que

vivíamos à custa de crédito e fundos da União Europeia, que por sua vez vinham de

países emergentes, dos quais atribuo destaque especial à China. Para agravar, a forma

como foi usado esse capital foi vergonhosa, os créditos postos ao serviço do consumo

descontrolado e irracional das famílias e os fundos postos para que os investidores na

área da pesca e agricultura modernizassem todas as suas máquinas, à exceção das que

precisavam para trabalhar. O plano não poderia estar a correr melhor, menos para os

que não o fizeram nem tinham um outro (nós). Devo ainda salientar que algum capital

(que não dependeu destes fundos ou empréstimos) foi colocado sob a forma de

investimento noutros países, nomeadamente através da deslocalização de fábricas.

Page 15: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

15 Escola Secundária Quinta do Marquês

Este segundo mapa é mais lúcido, revela o que estava por detrás da venda que

cobria os olhos do país. Com o frágil estado da produção portuguesa, tivemos que pôr

mais peso sob as importações para satisfazer o consumo interno, que também ele tinha

aumentado. Com a balança comercial a tornar-se mais negativa e com o PIB do país a

cair, as agências de rating começaram a especular sobre a economia portuguesa (com

razão), mas devido à crise foram duplamente penalizadoras na classificação da nossa

capacidade de pagamento da dívida. Com isto segue-se o aumento das taxas de juro

dos empréstimos a que nos fomos viciando e que entretanto já tínhamos contraído.

Gerou-se então uma bola de neve que ainda vai a meio da montanha e poucas casas

derrubou, mas ela está atingir proporções que se multiplicam e cada vez mais o seu

desfecho parece inevitável. Aproveitando a analogia, temos que retirar a neve que está

no seu caminho, para que não aumente e depois começar a aparar-lhe os golpes, para

ver se perde inércia.

Dirigindo-me agora ao investimento, quero colocar como premissa que na

generalidade dos casos o investimento é algo positivo, seja para o país que o recebe

como para o que o acolhe. No entanto, como sempre, Portugal conseguiu contrariar

esta tendência.

Na verdade, é preferível que alguns indivíduos invistam lá foram do que sigam o

consumo de massas que por cá anda. Mas o problema é que o investimento em

Portugal é já tão escasso que se o pouco que existe é deslocalizado para o estrangeiro,

deixamos de produzir e passamos a ser meros investidores. O problema que aqui se

põe é que, desta forma, quem fica a ganhar é quem tem capacidade para investir

(empresas), ou seja, pessoas com elevadas quantias de capital. Como sempre, em crise

ou em prosperidade, quem está no topo nem dá pelas dificuldades, aliás, em tempos de

crise, ainda poderá aproveitar-se do desemprego para baixar os salários, comprar

produtos baratos e emprestar dinheiro com elevadas taxas de juro, e este caso não é

exceção, para um investidor comum, pouco lhe importa se investe em Portugal ou no

estrangeiro, desde de que o retorno cá venha parar, e se pelo meio conseguir fugir aos

impostos colocando o capital num paraíso fiscal então aí enche-se de felicidade.

Page 16: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

16 Escola Secundária Quinta do Marquês

O problema é que existe uma massa trabalhadora, que corresponde à grande

maioria da população, que não tem emprego e não se consegue desmembrar dos seus

hábitos de consumo, já para não tocar no assunto das hipotecas.

Para além disto ainda temos um estado, que tem que pagar subsídios a todos os

desempregados e que não recebe impostos.

Concluo, com toda esta carga de pessimismo, que ainda existe margem para um

futuro esperançoso, mas como vimos quem tem o poder, em Portugal, são os

investidores e é neles que temos que apostar.

Pessoalmente, não ache que seja politicamente que Portugal se consiga afirmar e

muito menos em termos militares, portanto tem que ser pela moeda, sei que ainda

estamos muito agarrados ao nosso escudo, mas os tempos mudaram e se hoje temos

uma União que não funciona e da qual não temos controlo abriremos outras portas,

exploraremos a relação com a lusofonia captando investimento do Brasil, Angola e

Moçambique, pois a história conta muito, a história atribui informação e informação

transmite confiança e é principalmente confiança que nos falta neste momento,

confiança em nós mesmos e que temos de transmitir aos outros. Este problema de

circulação de capitais não se resolve através da dívida, dos impostos ou da balança

comercial isoladamente, resolve-se principalmente a nível das mentalidades, da

confiança e da capacidade de ultrapassar as adversidades, especialmente quando

estamos à beira da falésia, e os portugueses costumam ser bons nisso, se é verdade que

não planeamos é também verdade que sabemos agir em cima da hora e isto é a nossa

cultura. Acabo com um exemplo de como a cultura influência a área financeira, quem

não vê isto é bastante limitado e nós infelizmente estamos a ser avaliados por

sociedades de corretagem, agências de rating, investidores, especuladores e políticos

limitados e corruptos, portanto não podemos esperar que os outros olhem para nós,

temos que ser nós a dar esse passo e colher os seus proveitos.

Page 17: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

17 Escola Secundária Quinta do Marquês

A relação com a lusofonia deve ser muito bem ponderada, não nos podemos

esquecer de que Angola não deixa de ser um país extremamente corrupto (ocupa os

últimos lugares da tabela referente ao ranking de corrupção). A nossa função com

estes países pode ser enquanto ajuda ao seu desenvolvimento, dado que eles crescem

economicamente mas ainda estão muito aquém nos níveis de desenvolvimento e nós

sabemos como o fazer, temos know-how que eles não têm e temos recursos e

tecnologias que ainda não chegaram lá. A questão é se eles querem caminhar neste

sentido. Ao que parece, Angola não está a mostrar grande interesse em desenvolver o

seu país, mas no entanto está a investir em força nas empresas portuguesas. Já o

Brasil, não vendo tão grande potencial na economia portuguesa e tendo objetivos

sociais muito superiores aos países africanos, pode necessitar da nossa cooperação

nesse sentido. Põe-se então a questão, de saber até que ponto devemos promover a

relação com estes países, será que faria sentido criar uma União a nível político e

económico, que funcionasse paralelamente à União Europeia? A meu ver seria muito

interessante que Portugal avaliasse esta proposta, pois enquanto país fundador da

lusofonia poderíamos ter um poder político muito maior ao que temos na Europa e

estaríamos associados a economias emergentes o que seria uma dupla vantagem.

“Problemas globais, respostas locais”

Tendo o mundo como observatório e Portugal como ponto de partida e partícula

que nos é mais familiar, acho que estamos mais capazes de encontrar respostas dentro

destas linhas de terra e mar, para os problemas que se passam no além fronteiras e que

se tornaram globais. Penso que se formos um exemplo, somos alvo de cópia, como

vimos no caso dos paraísos fiscais, os Estados Unidos encontraram uma solução para

evitar a fuga de capitais, os quais na sua maioria eram de origem duvidosa. Não

precisou que se criasse nenhuma organização mundial que regulamentasse os capitais

em offshore, bastou haver uma resposta interna que servindo de exemplo pode inspirar

o globo. Esta é a minha ambição para Portugal.

Page 18: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

18 Escola Secundária Quinta do Marquês

Bibliografia

Balança de pagamentos – Pordata -

http://www.pordata.pt/Portugal/Balanca+de+pagamentos+saldo+%28R%29-499

Valores da dívida

Pública - International Financial Statistics – FMI

Externa – World Development Indicators – Banco Mundial

Mapa da Zona Euro – Wikipédia

Ranking ética e corrupção

Transparency International - http://cpi.transparency.org/cpi2012/results/

Outros dados – Instituto Nacional de Estatística

João César das Neves, (2011), As 10 Questões da crise, Lisboa, D. Quixote

Page 19: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

19 Escola Secundária Quinta do Marquês

Anexos i

Português: Mapa da Zona Euro

Zona Euro

Estados da União Europeia com adesão obrigatória à Zona Euro

Estados da União Europeia com opção de se manter fora da Zona Euro

Estados não pertencentes à União Europeia mas usando o Euro oficialmente (Andorra,

Mónaco, Vaticano, São Marino)

Page 20: As alteração na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

Geografia C As alterações na circulação de capitais após a integração de Portugal na União Europeia

20 Escola Secundária Quinta do Marquês

ii