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As Crianças que Matam – conto do João do Rio By admin | March 19, 2013 0 Comment É assombrosa a proporção do crime nesta cidade, e principalmente do crime praticado por crianças! Estamos a precisar de uma liga para a proteção das crianças, como a imaginava o velho Júlio Vallés… – Que houve de mais? – indagou Sertório de Azambuja, estirando-se no largo divã forrado de brocado cor de ouro velho. – Vê o jornal. Na Saúde, um bandido de treze anos acaba de assassinar um garotinho de nove. É horrível! O meu amigo teve um gesto displicente. – Crime sem interesse… A menos que não se dê um caso de genialidade, um homem só pode cometer um belo crime, um assassinato digno, depois dos dezesseis anos. Uma criança está sempre sujeita aos desatinos da idade. Ora, o assassinato só se torna admirável quando o assassino fica impune e realiza integralmente a sua obra. Desde Caim nós temos na pele o gosto apavorador do assassinato. Não estejas a olhar para mim assim assustado. As mais frágeis criaturas procuram nos jornais a notícia das cenas de sangue. Não há homem que, durante um segundo ao menos, não pense em matar sem ser preso. E o assassínio é de tal forma a inutilidade necessária ao prazer imaginativo da humanidade, que ninguém se abala para ver um homem morto de morte natural, mas toda gente corre ao necrotério ou ao local do crime para admirar a cabeça degolada ou a prova inicial do crime. Dado o grau de civilização atual, civilização que tem em germe todas as decadências, o crime tende a aumentar, como aumentam os orçamentos das grandes potências, e com uma percentagem cada vez maior de impunidade. Lembra-te das reflexões de Thomas de Quincey na sua pedagogia do crime. É dele esta frase profunda: “O público que lê jornais contenta-se com qualquer coisa sangrenta; os espíritos superiores exigem alguma coisa mais…” Humilhadamente, dobrei o jornal: – Então só os espíritos superiores?… – Podem realizar um crime brilhante. Esse caso da Saúde não tem importância alguma. É antes um exemplo comum da influência do bairro, desse bairro rubro, cuja história sombria passa através dos

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As Crianas que Matam conto do Joo do RioByadmin|March 19, 20130 Comment assombrosa a proporo do crime nesta cidade, e principalmente do crime praticado por crianas! Estamos a precisar de uma liga para a proteo das crianas, como a imaginava o velho Jlio Valls Que houve de mais? indagou Sertrio de Azambuja, estirando-se no largo div forrado de brocado cor de ouro velho. V o jornal. Na Sade, um bandido de treze anos acaba de assassinar um garotinho de nove. horrvel!O meu amigo teve um gesto displicente. Crime sem interesse A menos que no se d um caso de genialidade, um homem s pode cometer um belo crime, um assassinato digno, depois dos dezesseis anos. Uma criana est sempre sujeita aos desatinos da idade. Ora, o assassinato s se torna admirvel quando o assassino fica impune e realiza integralmente a sua obra. Desde Caim ns temos na pele o gosto apavorador do assassinato. No estejas a olhar para mim assim assustado. As mais frgeis criaturas procuram nos jornais a notcia das cenas de sangue. No h homem que, durante um segundo ao menos, no pense em matar sem ser preso. E o assassnio de tal forma a inutilidade necessria ao prazer imaginativo da humanidade, que ningum se abala para ver um homem morto de morte natural, mas toda gente corre ao necrotrio ou ao local do crime para admirar a cabea degolada ou a prova inicial do crime. Dado o grau de civilizao atual, civilizao que tem em germe todas as decadncias, o crime tende a aumentar, como aumentam os oramentos das grandes potncias, e com uma percentagem cada vez maior de impunidade. Lembra-te das reflexes de Thomas de Quincey na sua pedagogia do crime. dele esta frase profunda: O pblico que l jornais contenta-se com qualquer coisa sangrenta; os espritos superiores exigem alguma coisa maisHumilhadamente, dobrei o jornal: Ento s os espritos superiores? Podem realizar um crime brilhante. Esse caso da Sade no tem importncia alguma. antes um exemplo comum da influncia do bairro, desse bairro rubro, cuja histria sombria passa atravs dos anos encharcada de sangue. Nunca foste ao bairro rubro? Queres l ir agora? So oito horas. Vamos? Vem daDescemos. Estava uma noite ameaadora. No cu escuro, carregado de nuvens, relmpagos acendiam clares fugazes. A atmosfera abafava. Uma agonia vaga pairava na luz dos combustores.Sertrio de Azambuja ia de chapu mole, com um leno de seda guisa de gravata. Ao chegar ao Largo do Machado, chamou um carro, mandou tocar para o comeo da Rua da Imperatriz. Que te parece o nosso passeio? Estamos como Dorian Gray, partindo para o vcio inconfessvel. Lord Henry dizia: Curar os sentidos por meio da alma e a alma por meio dos sentidos. Vamos entrar no outro mundo..Eu atirara-me para o fundo da vitria de praa e via vaga-mente a iluminao das casas, os grandes panos de sombra das ruas pouco iluminadas, a multido, na escurido s vezes, s vezes queimada na fulgurao de uma luz intensa, os risos, os gritos, o barulho de uma cidade que se atravessa. Na Rua Marechal Floriano, Sertrio pagou ao cocheiro, dizendo: Saltaremos em movimento.E para mim: No vale dar na vistaUm instante depois saltou. Acompanhei-o. O carro continuou a rodar. O bairro rubro no um distrito, uma freguesia: uma reunio de ruas pertencentes a diversos distritos, mas que misteriosamente, para alm das foras humanas, conseguiu criar a rede tenebrosa, o encadeamento lgubre da misria e do crime, insaciveis. A Rua da Imperatriz um dos corredores de entrada.O bairro onde o assassinato natural abraa a Rua da Sade, com todos os becos, vielas e pequenos cais que dela partem, a Rua da Harmonia, a do Propsito, a do Conselheiro Zacarias, que so paralelas da Gamboa, a do Santo Cristo, a do Livramento e a atual Rua do Acre. Naturalmente as ruas que as limitam ou que nelas terminam So Jorge, Conceio, Costa, Senador Pompeu, Amrica, Vidal de Negreiros e a Praia do Saco participam do estado de alma dominante.Toda essa parte da cidade, uma das mais antigas, ainda cheia de recordaes coloniais, tem, a cada passo, um trao de histria lgubre. A Rua da Gamboa escura, cheia de p, com um cemitrio entre a casaria; a da Harmonia j se chamou do Cemitrio, por ter a existido a necrpole dos escravos vindos da costa da frica; a da Sade, cheia de trapiches, irradiando ruelas e becos, trepando morro acima os seus tentculos, o caminho do desespero; a da Prainha, mesmo hoje aberta, com prdios novos, causa, noite, uma impresso de susto.Como dizia o meu guia, estvamos num novo mundoA Rua da Imperatriz, s oito e meia, com uma poro de casas comerciais velhas e to juntas, to trepadas na calada, que parecem despejadas na rua, estava em plena febre. Os botequins reles, as barbearias sujas, as tascas imundas gargulejavam gente, e essa gente era curiosa trabalhadores em mangas de camisa, carroceiros, carregadores, fumando mata-ratos infectos, cuspinhando cachaa em altos berros, num calo de imprevisto, e rapazes mulatos, brancos, de grandes calas a balo, chapu ao alto, a se arrastarem bamboleando o passo, ou em tabernas barulhentas. A nossa passagem era acompanhada com um olhar de ironia, e bastava parar dois segundos defronte de uma taberna, para que dentro todos os olhos se cravassem em ns.Eu sentia acentuar-se um mal-estar bizarro. Sertrio ria. A vulgaridade da populaa! H por aqui, entre esses maranos fortes, gente boa. H tambm ruim. Esto fatalmente destinados ou a apanhar ou a dar, desde crianas. a vida. Alguns so perversos: provocam, matam. Vais ver. Nasceram aqui, de pais trabalhadoresTnhamos chegado Rua Camerino, esquina da da Sade. H a uma venda com um pequeno terrao de entrada. O prdio desfaz-se, mas dentro redemoinha uma turba estranha: negralhes s guinadas, inteiramente bbedos, adolescentes ricos de msculos, embarcadios, foguistas.Fala-se uma lngua bablica, com termos da frica, expresses portuguesas, frases inglesas. Uns cantam, outros rouquejam insultos. Sertrio aproxima-se de um grupo. H um mulato de tamancos, que parece um arenque ensalmonado, no meio da roda. O mulato cuspinha: Go on, go on yeah. farewell! yeah! brasileiro. Est aprendendo todas essas lnguas estrangeiras com os prticos ingleses.H um venervel ancio, da Colnia do Cabo, to alcoolizado que no consegue seno fazer um gesto de enjo; h um copta, apanhado por um navio de carga no Mar Vermelho; h dois negrinhos retintos, com os dentes de uma alvura estranha, que bradam: Eh oui, petit monsieur, nous sommes du Congo. tudis avec pres blancsTodos incondicionalmente abominam o Rio: querem partir.Sertrio paga maduros; eles fazem roda. O mulato brasileiro est delicado. Hip! Hip! Cambada! Para mostrar a vocs que c na terra h gente para embrulhar lngua direito! Agente, negrada! Sai burrique! grunhe o ancio.Dando guinadas com os copos a escorrer o lquido sujo do maduro, essa tropa parecia toda vacilar com a casa, com as luzes, com os caixeiros. Sa antes, meio tonto. Sertrio livrava-se da matilha distribuindo nqueis.Quando conseguiu no ser acompanhado, meteu-se pelo beco. Segui-o e, de repente, ns demos nos trechos silenciosos e lgubres. Nas ruas, a escurido era quase completa. Um transeunte ao longe anunciava-se pelo rudo dos passos.De vez em quando uma rtula aberta e dentro uma sombra. Que lugares eram aqueles? O outro mundo! A outra cidade! A atmosfera era aquecida pelo cheiro penetrante e pesado dos grandes trapiches. Em alguns trechos, a treva era total. Na passagem da estrada de ferro, a luz eltrica, muito fraca, espalhava-se como um sudrio de angstias.Foi ento que comeamos a encontrar em cada esquina, ou sentados nas soleiras das portas, ou em plena calada, uns rapazes, alguns crescidos, outros pequenos. nossa passagem calavam-se, riam. Mas ns amos seguindo, cada vez mais curiosos.Afinal, demos no Largo da Harmonia, deserto e lamentvel. porta da igreja uma outra roda, maior que as outras, confabulava. Aproximamo-nos. Boa noite! Boa noite! respondeu um pretalho, erguendo-se com os tamancos na mo.Os outros ficaram hesitantes, desconfiando da amabilidade. Que fazem vocs a? Ns? indagou um rapazola j de buo, gingando o corpo Contamos histrias: ora a tem! Interessa-lhe muito? Histrias! Mas eu gosto de histrias. Quem as conta? Isso costume c no bairro. H rapazes que sabem contar que at d gosto. Aqui quem estava contando era o Jos, este caturritaEra um pequeno franzino, magro, com uma estranha luz nos olhos.Talvez matasse amanha, talvez roubasse! Estava ingenuamente contando histriasSertrio insistia, entretanto, para ouvi-lo. Ele no se fez de rogado. Tossiu, ps as mos nos joelhos Era uma vez uma princesa, que tinha uma estrela de briIhantes na testa.A roda cara de novo num silncio atento. A escurido parecia aumentar, e, involuntariamente, ou e o meu amigo sentimos na alma a emoo inenarrvel que a bondade do que julgamos mau sempre nos causa

Joo do Rio,pseudnimodeJoo Paulo Emlio Cristvo dos Santos Coelho Barreto, (Rio de Janeiro,5 de agostode188123 de junhode1921)1foi umjornalista,cronista,tradutoreteatrlogobrasileiro.ndice[esconder] 1Histrico 1.1Paulo Barreto, jornalista 1.1.1As Religies no Rio 1.2Paulo Barreto, imortal 1.3Paulo Barreto, homossexual 1.4Paulo Barreto, paladino 1.5A morte de Joo do Rio 1.5.1Homenagens pstumas 2Cronologia 3Representaes na cultura 4Obras 5Academia Brasileira de Letras 6Bibliografia 7Referncias 8Ligaes externasHistrico[editar|editar cdigo-fonte]Filho de Alfredo Coelho Barreto, professor de matemtica epositivista, e da dona-de-casa Florncia dos Santos Barreto, Paulo Barreto nasceu na rua do Hospcio, 1284 (atual rua Buenos Aires, noCentro do Rio). EstudouPortugusno Colgio So Bento, onde comeou a exercer seus dotes literrios, e aos 15 anos prestou concurso de admisso ao Ginsio Nacional (hoje,Colgio Pedro II).Em 1 de junho de 1899, com 17 anos incompletos, teve seu primeiro texto publicado emO Tribunal, jornal deAlcindo Guanabara. Assinado com seu prprio nome, era uma crtica intituladaLuclia Simessobre a peaCasa de BonecasdeIbsen, ento em cartaz no teatro Santana (atualTeatro Carlos Gomes).Prolfico escritor, entre 1900 e 1903 colaborou sob diversospseudnimoscom vrios rgos da imprensacarioca, comoO Paiz,O Dia,Correio Mercantil,O TagarelaeO Coi. Em 1903 foi indicado porNilo Peanhapara aGazeta de Notcias, onde permaneceu at 1913. Foi neste jornal que, em 26 de novembro de 1903, nasceuJoo do Rio, seu pseudnimo mais famoso, assinando o artigo "O Brasil L", uma enquete sobre as preferncias literrias do leitor carioca. E, como indica Gomes (1996, p. 84), "da por diante, o nome que fixa a identidade literria engole Paulo Barreto. Sob essa mscara publicar todos os seus livros e como granjeia fama. Junto ao nome o nome da cidade". E comoJoo do Rioque assina o texto do magnfico lbum sobre oTheatro Municipal do Rio de Janeiro, lanado pela Photo Musso em 1913. Ali divergiu de seu amigo e colega teatrlogoArthur Azevedo, ao elogiar o pano de boca do Theatro, pintado porEliseu Visconti, obra cuja concepo havia sido ferozmente atacada porArthur Azevedoantes de sua morte, em 1908.Paulo Barreto, jornalista[editar|editar cdigo-fonte]Segundo seus bigrafos, ao profissionalizar-se, Paulo Barreto representou o surgimento de um novo tipo de jornalista na imprensa brasileira do incio dosculo XX. At ento, o exerccio do jornalismo e da literatura porintelectuaisera encarado como "bico", uma atividade menor para pessoas que possuam muitas horas vagas disposio (como funcionrios pblicos, por exemplo). Paulo Barreto move a criao literria para o segundo plano e passa a viver disso, empregando seus pseudnimos (mais de onze) para atrair diversos pblicos e leitores. Foi diretor da revistaAtlantida2(1915-1920) e colaborou na revistaSeres3(1901-1911).As Religies no Rio[editar|editar cdigo-fonte]Entre 22 de fevereiro e abril de 1904, realizou uma srie de reportagens intituladas "As Religies no Rio", que alm de seu carter de "jornalismo investigativo", constituem-se em importantes anlises de cunhoantropolgicoesociolgico, cedo reconhecidas como tal, particularmente no tocante as quatro matrias pioneiras sobre oscultos africanosnaPequena frica, que antecedem em mais de um quarto de sculo as publicaes deNina Rodriguessobre o tema (alm de que, a obra de Rodrigues ficou praticamente restrita aos crculos acadmicosbaianos).Estudiosos apontaram semelhanas entre "As religies do Rio" e o livro "Les petites rligions de Paris" (1898), dofrancsJules Bois. Todavia, a semelhana parece estar muito mais na ideia geral (uma investigao sobre as manifestaes religiosas minoritrias numa grande cidade) do que no plano da realizao formal.A srie de reportagens despertou tamanha curiosidade que Paulo Barreto a publicou em livro, tendo vendido mais de oito mil exemplares em seis anos. A proeza ainda mais impressionante levando-se em conta o restrito pblico leitor da poca, num pas com elevadas taxas deanalfabetismo.Alguns bigrafos criticam o cronista pelo fato de que, ao perceber o filo representado pela publicao de coletneas (algo que se tornaria comum na segunda metade do sculo XX), Paulo Barreto tenha descoberto uma "frmula" para inflacionar a prpria bibliografia. Todavia, uma anlise das coletneas publicadas ao tempo de sua curta vida repele tal afirmao. Primeiro, ele fazia uma seleo dos textos que iriam ser publicados; e, segundo, os textos selecionados possuam unidade entre si, concordante com o ttulo geral da obra e previamente justificados por um pargrafo introdutrio.Paulo Barreto, imortal[editar|editar cdigo-fonte]Eleito para aAcademia Brasileira de Letrasem sua terceira tentativa, em 1910, Paulo Barreto foi o primeiro a tomar posse usando o hoje famoso "fardo dos imortais". Anos depois, com a eleio de seu desafeto, o poetaHumberto de Campos, ele se afastou da instituio. Conta-se que, quando informada de sua morte, a me avisou expressamente que o velrio no poderia ser feito l, pois o filho no aprovaria a ideia.Paulo Barreto, homossexual[editar|editar cdigo-fonte]A orientao sexual de Paulo Barreto desde cedo constituiu-se em motivo de suspeita (e posteriormente, de troa) entre seus contemporneos. Solteiro, sem namorada ou amante conhecidas, muitos de seus textos deixam transparecer uma inclinao homoertica bastante explcita. As suspeitas praticamente se confirmaram quando ele se arvorou em divulgador na terra brasileira, da obra do "maldito"Oscar Wilde, de quem traduziu vrias obras.Figura mpar, que se vestia e se comportava como um "dndide salo" (Rodrigues, 1996, p. 239), Paulo Barreto jamais ousou desafiar os esteretipos com os quais a sociedade rotula os homossexuais. Todavia, ao se propr a defender novas ideias nos campos poltico e social, sua figura "volumosa, beiuda, muito moreno, lisa de pelo" (como registrouGilberto Amado) tornou-se um alvo perfeito para toda sorte de ataques, dentre os quais se destacaHumberto de Campos.4 nesse contexto que se insere seu suposto "flirt" comIsadora Duncan, que apresentou-se noTeatro Municipal do Rio de Janeiroem 1916. Duncan e Barreto j haviam se conhecido anteriormente, emPortugal, mas foi somente durante a temporada no Rio que se tornaram ntimos. O grau dessa intimidade um mistrio. Especula-se que tudo poderia no ter passado de uma "jogada de marketing" para atrair a ateno da imprensa, embora outras fontes citem um suposto dilogo em que abailarinateria interpelado Barreto sobre sua pederastia, ao que ele teria respondido:Je suis trs corrompu("Sou muito corrompido").Paulo Barreto, paladino[editar|editar cdigo-fonte]Em 1920, Paulo Barreto fundou o jornalA Ptria(chamado ironicamente deA Mtriapor seus detratores), no qual buscou defender os interesses dos "poveiros", pescadores lusos oriundos em sua maioria dePvoa de Varzim, e que abasteciam de pescado a cidade doRio de Janeiro. Ameaados por uma lei de nacionalizao do governo brasileiro, que exigia que a pesca fosse exercida apenas por nacionais, e os obrigava a naturalizar-se para poder continuar na profisso, os "poveiros" entraram em greve.A atividade de Barreto em prol da colnia portuguesa granjeou-lhe grande quantidade de inimigos, um sem-nmero de ofensas morais ("manta de banha com dois olhos" foi uma das mais leves) e at mesmo um covarde episdio de agresso fsica, quando, surpreendido enquanto almoava sozinho num restaurante, foi surrado por um grupo de nacionalistas.A morte de Joo do Rio[editar|editar cdigo-fonte]Obeso, Paulo Barreto sentiu-se mal durante todo o dia 24 de junho de 1921. Ao pegar um txi, o mal-estar aumentou e ele pediu ao motorista que parasse e lhe trouxesse um copo d'gua. Antes que o socorro chegasse, no entanto, ele faleceu, vtima de umenfarte do miocrdiofulminante.A notcia de que Joo do Rio havia morrido espalhou-se por toda a cidade rapidamente. Estima-se que cerca de 100 mil pessoas tenham comparecido para o ltimo adeus ao escritor que certa feita, sob o pseudnimo de Godofredo de Alencar, havia registrado sua opo preferencial pela diversidade:Nas sociedades organizadas interessam apenas: a gente de cima e a canalha. Porque so imprevistos e se parecem pela coragem dos recursos e a ausncia de escrpulos.(Gomes, 1996, p. 29).Homenagens pstumas[editar|editar cdigo-fonte]Os restos de Joo do Rio encontram-se sepultados em uma magnfica tumba de mrmore italiano e bronze, erguida por ordem de sua me, noCemitrio de So Joo Batista, no bairro deBotafogo. Tambm por ordem de sua me, a biblioteca de Joo do Rio foi doada aoReal Gabinete Portugus de Leitura, onde ainda hoje pode ser vista uma placa comemorativa do ato. O tmulo de Joo do Rio considerado um dos mais belos trabalhos de arte funerria no Rio de Janeiro e atrai muitos visitantes.O nome Paulo Barreto batiza uma rua inexpressiva no mesmo bairro de Botafogo. Como apontouGraciliano Ramos, "a homenagem que lhe tributaram modesta: ofereceram-lhe uma rua curta" (Gomes, 1996, p. 11). APvoa de Varzim, emPortugal, tambm deu o seu nome a uma pequena rua mesmo no centro da cidade, junto Cmara Municipal. Em Lisboa, Portugal, o seu nome foi dado a uma praa onde se encontra um pequeno monumento em sua honra contendo as suas seguintes palavras: "Nada me devem os portugueses por amar e defender portugueses, porque assim amo, venero e e quero duas vezes a minha ptria".Joo do Rio patrono da cadeira nmero 34 daAcademia Irajaense de Letras e Artes(AILA) ocupada pelo escritor e poeta acadmico Agostinho Rodrigues, fundador da entidade, em 1993.Cronologia[editar|editar cdigo-fonte] 1881: nasce em 5 de agosto. 1896: presta concurso para o Ginsio Nacional (Colgio Pedro II). 1898: morre Bernardo Gutemberg, irmo caula de Paulo Barreto. 1899: em 1 de junho publica seu primeiro texto. 1900: comea a escrever para vrios rgos da imprensa carioca. 1902: tenta entrar para oItamarati, mas "diplomaticamente" recusado peloBaro do Rio Brancopor ser "gordo, amulatado e homossexual" (Gomes, 1996, p. 114). 1903: indicado porNilo Peanha, comea a trabalhar naGazeta de Notcias, onde permaneceria at 1913. 1904: entre fevereiro e maro, realiza para aGazetaa srie de reportagens "As religies do Rio", posteriormente transformadas em livro. 1905: em novembro, torna-se conferencista. 1906: estreia sua primeira pea teatral, a revistaChic-Chic(escrita em parceria com o jornalista J. Brito). 1907: o dramaClotilde, de sua autoria, encenado no teatro Recreio Dramtico. No mesmo ano, ele se candidata pela segunda vez Academia Brasileira de Letras. 1908: em dezembro, faz sua primeira viagem Europa, tendo visitadoPortugal,LondreseParis. 1909: em maro, morre o pai e Paulo e sua me mudam-se para aLapa(em casa separadas, contudo). Em novembro, lana o livro de contos infantisEra uma vez..., em parceria comViriato Correia. 1910: eleito para aAcademia Brasileira de Letras. Em dezembro, faz sua segunda viagem Europa e visitaLisboa,Porto,Madri,Barcelona,Paris, aRiviera[desambiguao necessria]e aItlia. 1911: com um emprstimo de 20 contos de ris fornecido por Paulo Barreto,Irineu Marinhodeixa aGazetae lana em junho o jornalA Noite. Um ano depois, ele quitou totalmente o emprstimo. 1912: lanado o livroIntenes, deOscar Wilde, em traduo de Paulo Barreto. 1913: torna-se correspondente estrangeiro daAcademia de Cincias de Lisboa. Em novembro, faz sua terceira viagem Europa, tendo visitado Lisboa (onde sua peaA bela Madame Vargas encenada com grande sucesso), Paris,Alemanha,Istambul,Rssia,Grcia,JerusalmeCairo. 1915: viaja Argentinae se encanta com o pas. Declara que "Buenos Aires aLondresgacha" (Gomes, 1996, p, 120). 1915: diretor, juntamente com Leito de Barros, do peridicoAtlntida: mensrio artstico literrio e social para Portugal e Brazil(15.11.1915-01.1920). 1916: torna-se amigo de Isadora Duncan, durante a temporada dela no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ao lado de Gilberto Amado, teria testemunhado a bailarina danar nua naCascatinha da Tijuca. 1917: em 22 de maio escreve paraO Paizuma crnica intitulada "Praia Maravilhosa" onde exalta as maravilhas dapraia de Ipanema. presenteado com dois terrenos no futuro bairro, onde passa a residir neste ano. Funda e passa a dirigir a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais). 1918: viaja Europa para cobrir a conferncia doarmistcioemVersalhes, aps aI Guerra Mundial. 1919: publica o livro de contos "A mulher e os espelhos". 1920: funda o jornalA Ptria, onde defende a colnia portuguesa. Por causa disso, vtima de ofensas morais e agresso fsica. 1921: em 23 de junho, morre deenfartefulminante. Seu enterro acompanhado por mais de 100 mil pessoas.Representaes na cultura[editar|editar cdigo-fonte]Joo do Rioj foi retratado como personagem no cinema, interpretado porJos Lewgoyno filmeTabu(1982). No filmeBraslia 18%(2006),Otvio Augustointerpreta uma personagem homnima, que no entanto pouco ou nada se relaciona figura histrica.Obras[editar|editar cdigo-fonte] As religies do Rio. Paris: Garnier, 1904? O momento literrio. Paris: Garnier, 1905? A alma encantadora das ruas. Paris: Garnier, 1908.? Era uma vez...(em co-autoria com Viriato Correia). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1909. Cinematographo: crnicas cariocas. Porto: Lello & Irmo, 1909. Fados, canes e danas de Portugal. Paris: Garnier, 1910. Dentro da noite. Paris: Garnier, 1910.? A profisso de Jacques Pedreira. Paris: Garnier, 1911. Psicologia urbana: O amor carioca; O figurino; O flirt; A delcia de mentir; Discurso de recepo. Paris: Garnier, 1911. Vida vertiginosa. Paris: Garnier, 1911. Portugal d'agora. Paris: Garnier, 1911. Os dias passam.... Porto: Lello & Irmo, 1912. A bela madame Vargas. Rio de Janeiro: Briguiet, 1912? Eva. Rio de Janei