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“AS EXPECTATIVAS DOS JOVENS ANAPOLINOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DE ANÁPOLIS, GOIÁS EM RELAÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO ATUAL: ABORDAGEM DA INFLUÊNCIA FAMILIAR E ESCOLAR”
Clícia Aparecida Vieira Moura1; Lucas Silva de Oliveira1; Josana de Castro Peixoto2, 3
RESUMO
Introdução: Pode-se observar que atualmente o mercado de trabalho está cada vez mais seletivo e exigindo das pessoas mais qualificação e experiência para assumir determinado cargo. Nisso, é visto que os jovens não são bem aceitos, devido à falta de experiência e a pouca idade, deixando-o desmotivado e sem uma identidade profissional formada. Objetivos: Este trabalho tem como objetivo principal tentar compreender melhor a realidade atual do jovem que trabalha frente as suas responsabilidades na escola e perante a família, observando o perfil psicossocial e inclusivo que os jovens têm sobre o assunto. Metodologia: Foi elaborado um questionário semi-estruturado auto-aplicativo, com 26 questões abordando temas sócio-econômicos e sócio-culturais. O questionário foi aplicado em 80 alunos devidamente matriculados no terceiro ano do ensino médio de uma rede pública estadual, do turno matutino e noturno. Resultados: Foi observado que o turno noturno realmente possui uma coorte superior ao do matutino de alunos que trabalham, sendo que dos 46 alunos pesquisados do noturno, 34 trabalham contra 12 que não trabalham, sendo que no turno matutino o resultado é totalmente inverso, sendo que dos 34 pesquisados, somente 4 trabalham, contra 30 que não trabalham. Palavras-Chave: trabalho, escola, família, jovens e responsabilidades.
ABSTRACT
Introduction: It may be noted that currently the labor market is becoming more selective and demanding of people who want to join it, more qualifications and experience to assume certain position. It is seen that young people are not well accepted due to lack of experience and young age, leaving you unmotivated and without a professional identity formed. Objectives: This study have main objective, try to understand better the actual reality of the young age that work against ours responsibilities in the school and to family, observing the psychosocial and inclusive profile that the young age has about the issue. Methodology: It was elaborate a semi-structured self-application questionnaire, with 26 questions addressing social-economic and socio-culture issues. The questionnaire was applied in 80 students duly enrolled in the third year of high school in a state public school, the morning shift and night. Results: It was observed that the night shift really cohort has a higher than students who work in the morning, and the night of the 46 students surveyed, 34 work against 12 who do not work, and in the morning watch, the result is totally opposite, and the 34 respondents, only 4 are working, compared to 30 who do not work. Keywords: work, school, family, young age and responsibilities. ________________________________________________________ 1 Licenciados e Bacharéis em Ciências Biológicas pela Anhanguera Educacional Ltda. Unidade Faculdade Anhanguera de Anápolis, 2011. E-mail: [email protected]; [email protected] 2 Bióloga, Professora Doutora da Anhanguera Educacional Ltda. Unidade Faculdade Anhanguera de Anápolis. Orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso, 2011. E-mail: [email protected] 3 Docente do Curso de Farmácia da Unidade de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Estadual de Goiás, UEG, 2011.
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1. INTRODUÇÃO
De acordo com Saviani (2007) as funções de trabalhar e educar são atributos
essenciais do homem, sendo este o único que tem a capacidade de executá-los, fazendo-os a
sua essência no qual faz o homem formar-se através de um processo educativo para realizar
determinada tarefa. Isso é verificado desde as eras primitivas, onde havia grande distinção
entre aqueles que eram educados para o ócio, ou mesmo para suprir necessidades intelectuais
e os que eram educados para o trabalho ou escravidão, iniciando assim a divergência entre
classes. Após a Revolução Industrial, no qual a educação ministrada no ensino fundamental
era basal, onde os conteúdos de línguas, ciências naturais e sociais não tinham caráter
explícito e direto como no ensino médio, onde a relação esperada seria de conhecimento
teórico e prático do trabalho. Infelizmente esse quadro de educação esperada, não ocorreu no
Brasil, sendo que teoricamente falando a Escola Nova ou politécnica pretendida, ficou
somente no papel.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,1997) existem no
Brasil 22,6% de jovens na faixa etária de 15 a 17 anos, 21,1% de 18 anos, 19% de 19 anos e
13% na faixa etária entre 20 a 24 anos que trabalham e estudam, sendo taxas relativamente
altas, porém deve-se levar em consideração que dentre essa porcentagem pesquisada, existem
aqueles que trabalham sem carteira assinada, outros que não recebem nenhum tipo de
remuneração, entre outros problemas trabalhistas. Mesmo com todos os impasses enfrentados
por muitos jovens brasileiros, é evidente que muitos não trabalham por “hobbie” ou diversão,
mas sim por pura necessidade sendo uma forma desesperada de sobrevivência e que na
maioria das vezes é o único jeito de subsistência de uma família inteira que tem contas a
serem pagas, contudo, a família se encaixa como um eixo central de relacionamento e
preocupação dos jovens trabalhadores (Guimarães, 1998; Campos & Alverga, 2001).
Ainda, foi averiguado pelo IBGE (1997) que indivíduos que possuem uma menor
escolaridade são aquelas que ganham menos e trabalham mais, vivendo em uma situação
similar de escravidão ou subemprego. Segundo a Organização Internacional do Trabalho
(OIT, 2001) entre os jovens de 15 a 24 anos de idade a situação é ainda mais crítica, pois
devido talvez, pela falta de confiança ou inexperiência em relação ao cargo pretendido, a taxa
de desemprego juvenil é 2,5 vezes maiores do que nas pessoas de 25 ou mais anos de idade.
Em outra comparação, entre 1986 e 1996 a desempregabilidade dos jovens aumentou na
média 188,9% nas cinco regiões brasileiras, sendo que a região Centro-Oeste foi responsável
3
por 292,3%, região Sul por 248,4%, região sudeste 198,1%, região Norte 192,3% e região
Nordeste 171,1%.
Além do desemprego juvenil, a preocupação com os aspectos familiares são
bastante recorrentes na literatura, promovendo discussões que possam levar a conclusão que
não se trata somente da função biológica (pai, mãe e filhos), mas também do vínculo afetivo
familiar e cultural do indivíduo, possibilitando a construção da auto-imagem com base no
mundo exterior propiciando o encontro de sua auto-identidade, mantendo-se como eixo
central da segurança e apego, se portando como um aporte essencial na vida dos mesmos
(Sarti, 2004a; 2004b).
Infelizmente com as diversas dificuldades que podem ser encontradas por esses
adolescentes como a distância da escola, o horário que às vezes não pode ser conciliado com o
trabalho, falta de vaga, o preço dos livros, falta de tempo para estudar, necessidade de um
“padrinho” para bancar os estudos ou indicar para certos trabalhos, e às vezes situações
ligadas com a qualidade de ensino são motivos para desistência de muitos estudantes
(Guimarães, 1998; Alves-Mazzotti, 2002).
Este trabalho tem como objetivo principal tentar compreender melhor a realidade
atual do jovem que trabalha frente as suas responsabilidades na escola e perante a família,
observando o perfil psicossocial e inclusivo que os jovens têm sobre o assunto, e o que eles
pretendem fazer ao egressarem da escola, e se eles se sentem aptos a estarem exercendo
alguma atividade laboral ou se ingressarem no ensino superior, visto que as competências
profissionais exigidas pelo mercado de trabalho se encontram mais rigorosas a cada dia,
buscando obviamente o aporte da Legislação vigente que instituem as Leis Trabalhistas, Lei
do Estagiário e a Lei do Menor Aprendiz.
Devido à tamanha desigualdade social das classes econômicas brasileiras, nota-se
a necessidade que existe quanto ao que se refere à prioridade do trabalho na vida de milhares
de jovens brasileiros, mesmo que esses tenham que conciliar o estudo com o trabalho e
buscando assiduamente como alicerce a família, dando todo o apoio possível e necessário
para que possam seguir em frente em seus sonhos.
4
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. O jovem, o mercado de trabalho, a família e a escola: O impasse;
Atualmente mesmo com toda a reforma educacional ocorrida no mundo e em
especial no Brasil, ainda assim, podem-se notar algumas dificuldades impostas na educação
de alguns cidadãos brasileiros – em destaque o jovem – devido à falta de recursos, localidade
ou até mesmo por falta de motivação, que muitos deixam a escola, e vão procurar algum meio
de subsistência para suprir suas necessidades pessoais ou na maioria das vezes familiares: O
trabalho.
No caso específico dos jovens, muitos encontram dificuldade de encontrar um
emprego formal devido à falta de experiência ou mesmo de capacidade educacional para
realizar determinada função, e aqueles que realizam alguma atividade geralmente não estão
satisfeitos, pois, não recebem um salário que na maioria das vezes é insuficiente para as
carências pessoais e/ou familiares, nenhum seguro legal como INSS, FGTS, 13º salário,
abono salarial, entre outros, vivendo assim em uma condição de subemprego com elevada
carga horária sem garantias de benefícios (Guimarães, 1998; Câmara & Sarriera, 2001;
Pochmann, 2004; Bastos, 2006; Raitz & Petter, 2006; Carvalho, 2008).
Ainda segundo Guimarães (1998); Raitz & Petter (2006), muitos jovens procuram
na escola uma educação que faça com que na esperança de aprenderem algo, possam seguir
em frente e tentar uma chance no mercado de trabalho, e querem ter a mesma qualidade e as
mesmas oportunidades dos alunos de instituições privadas, já que a pesquisa se passou em
uma instituição pública no turno matutino e noturno na cidade de Anápolis – Goiás.
Uma das questões abordadas pela literatura é a preocupação com os jovens a
respeito do seu compromisso na escola, que mesmo associando o trabalho, no qual, este ocupa
a maior parte do dia de muitos jovens, a escolarização que muitas das vezes só pode ser
realizada a noite, horário o qual, todos os freqüentadores estão cansados de uma longa jornada
de trabalho, muitos buscam o aprendizado como subterfúgio para uma posição social melhor
na vida. Pesquisas mostram que há repetência, regresso etário nas séries e evasão escolar,
constatando assim que o trabalho prejudica o estudo, e de modo especial, aparentemente afeta
mais aos meninos do que as meninas, devido a estes estarem talvez, começando a sua jornada
laboral prematuramente, resultando no fracasso escolar para muitos que acreditam na escola
como alternativa de uma vida mais digna, porém é válido ressaltar que esse ponto de vista é
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facultativo (Alves-Mazzotti, 2002; Pochmann, 2004; Carvalho, 2008; Artes & Carvalho,
2010).
Mesmo com todos os impasses enfrentados, Jaccard (1960) idealiza que é da
natureza humana, satisfazer três necessidades essenciais: “a necessidade de subsistir (função
econômica), a de criar (função psicológica) e a de colaborar (função social)”, mesmo assim,
muitos jovens almejam ter sua função social para cumprir seu papel na família, ou mesmo
para exercer alguma atividade que lhe traga alguma auto-realização, além é claro o desejo
intrínseco da satisfação econômica e/ou independência financeira. Ainda, pode ter significado
de sobrevivência, possibilidade de melhorar de vida, formação profissional privilegiada e
valor moral (Amazarray et al, 2009).
Outro fator relevante para esta pesquisa é o desemprego juvenil que em 1997
segundo a OIT (2001), aproximadamente 17,8% de jovens com idade entre 15 a 17 anos e
13,3% de jovens com idade entre 18 a 24 anos estavam desempregados no Brasil, enquanto
em 1999 essas estimativas pioraram, pois, o desemprego entre os jovens com idade entre 15 a
19 anos estavam em 27,8%, e os com idade entre 20 a 24 anos estavam com 17,2%, sendo que
este levantamento para aqueles que vivem na zona urbana.
Essa alta taxa de desemprego e a baixa empregabilidade dos jovens que persiste
em grandes centros metropolitanos brasileiros são reais, e acaba gerando grandes problemas
sociais, pois, faz com que o jovem que inicia sua vida profissional mais cedo devido à
necessidade de começar a trabalhar, acaba se deparando com o descaso e a falta de confiança
de muitos empregadores, fazendo com que os índices de violência, prostituição, consumos de
álcool e drogas elevem, e obrigando o jovem a ser um inimigo ao invés de um aliado da
sociedade (OIT, 2001; Silva & Kassouf, 2002; Rodrigues & Martins, 2005; Carvalho, 2008).
Ainda, em outros estudos na área da saúde mostram que o status ocupacional reflete na sua
condição psíquica e física, podendo muitas vezes levando o jovem á depressão e perda da
autoconfiança (Silva & Kassouf, 2002; Amazarray et al, 2009).
Outro fator marcante que será levado em consideração é o preconceito que a
sociedade tem com a comunidade que possui o status social inferior, e que conseqüentemente
não teve as oportunidades de estudar e de progredir financeiramente. Segundo a Pesquisa
Mensal do Emprego (PME, 2010) realizada pelo IBGE (2010) e nas pesquisas de Alves-
Mazzotti (2002); Pochmann (2004); Barros et al (2008), indicam que o nível de escolaridade e
sócio-econômico dos pais destes jovens, influenciam negativamente na sua seleção no
mercado de trabalho, pois, devido às condições de vida totalmente diferentes, é observado que
aqueles que tiveram a oportunidade de estarem em uma boa escola, tiveram os maiores
6
percentuais de um emprego assalariado formal, enquanto, os mais humildes que tiveram uma
instrução considerada até então de qualidade inferior ou ruim, apontavam os percentuais
menores.
2.2. O Estagiário e o Menor Aprendiz: Lei, porém insuficiente;
Ao contrário do que foi concluído por Alves-Mazzotti (2002), Pochmann (2004) e
pelo PME (2010) realizado pelo IBGE (2010), conforme citado acima, as pesquisas de
Segnini (2000), apontam que os jovens brasileiros constituem o grupo social melhor
escolarizado e mais desempregado, ou inserido em condições de subemprego e/ou escravidão,
que atualmente está sendo denominado de estágio. Apesar de esse dado ser uma exceção
torna-se necessário e indubitavelmente indispensável o reconhecimento da capacitação
profissional, sendo este necessário, porém insuficiente.
Ainda de acordo com Segnini (2000), após a homologação da Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT) em 1943, as taxas de emprego formal com carteira profissional,
cresceu de 12,1% para 49,2% na época. Mesmo com o crescimento de cargos assalariados na
década de 80, o Brasil detinha 13,6% da renda total do País destinada aos mais pobres,
enquanto para os mais ricos, era de 46,2%. Pode-se observar, que mesmo com a suposta
“escolarização” imposta, a divisão social por classe econômica é bem marcada pela
desigualdade.
De acordo com a Lei Nº 11.788 de 25 de setembro de 2008, o estágio é uma
atividade educativa, que pode ser requisito obrigatório ou não, para concluir um determinado
curso, e este deve ser devidamente supervisionado por um orientador da instituição de ensino
e instituição concedente, além de propiciar ao educando experiências relevantes, que só
podem ser adquiridas em um ambiente de trabalho propriamente dito, porém é necessário que
a parte concedente oferte instalações físicas para que o estagiário cumpra suas atividades sem
danos físicos e/ou mentais. No entanto, muitos empregadores não respeitam tais quesitos
estipulados pela Constituição, deixando o jovem em um impasse, pois, o mesmo na maioria
das vezes necessita do estágio, sendo este remunerado ou não-remunerado versus a
imparcialidade de certos empregadores e o medo dos estagiários não conseguirem outros
lugares para poder realizá-lo, devido a esse fato (Brasil, 2008).
O Decreto Nº 5.598 de 1º de Dezembro de 2005, institui o regulamento da
contratação de menores aprendizes, no qual é obrigatório que em qualquer estabelecimento
7
com cunho comercial ou industrial, sendo que o mesmo deve conter pelo menos 5% no
mínimo do seu quadro de colaboradores, e até 15% no máximo, destes educandos, com a
finalidade de aprenderem práticas profissionais, respeitando a condição de aprendiz, e
estipular funções que são cabíveis e que não agridam a integridade física e/ou mental do
mesmo, que exerçam suas atividades de aprendizagem diárias de até 6 (seis) horas e
remuneração justa a cada hora de aprendizagem (Brasil, 2005).
De acordo com as conclusões de Amazarray et al (2009), a condição de
aprendizagem muitas das vezes não é respeitada pelas empresas, no qual aproveitam do
momento de fragilidade psicológica e falta de conhecimento frente a Legislação, fazendo com
que o aprendiz, ao invés de exercer a sua função de educando, passe a se tornar um
trabalhador efetivo. Diante da preocupação, que muitos destes jovens têm em relação a
responsabilidade, maturidade profissional e compromisso com o “trabalho”, muitos não têm
noção do que está sendo exigido deles, e o pior ainda é a insegurança que os ronda a cada
momento, em deixar de seguir uma ordem e perder o emprego, dificultando a construção da
sua identidade e/ou personalidade como trabalhador (Martinez, 2001; Amazarray et al, 2009).
Ainda, nesse mesmo estudo muitos jovens almejam em cursar o ensino superior
na área em que trabalham, ou em áreas afins, pois acreditam que somente com a qualificação
adequada, diante de um país, onde a competitividade a cada dia se torna cada vez maior, e a
exigência de uma escolaridade mais elevada também é o critério de seleção para uma possível
vaga de emprego (Amazarray et al, 2009).
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Área de estudo;
O presente estudo foi conduzido no Colégio Estadual Dr. Genserico Gonzaga
Jaime no município de Anápolis (Figura 1), Estado de Goiás, localizado na Avenida Sebastião
Pedro Junqueira, Quadra 17, Lotes 01 ao 11, situado no Bairro Jundiaí Vila Industrial.
Anápolis é um município brasileiro do estado de Goiás, nas coordenadas
16° 19′ 43,33″ S latitude e 48° 57′ 12,23″ W longitude, que fica a 48 quilômetros de Goiânia,
e têm segundo estimativa do IBGE (2010), 324.303 habitantes, sendo o terceiro maior em
população do estado, ficando atrás de Goiânia com 1.256.514 habitantes, e Aparecida de
Goiânia com 442.978 habitantes.
8
Figura 1 - Localização geográfica da cidade de Anápolis, Goiás. (Obtido de Oliveira &
Carvalho, 2004).
3.2. Coleta dos dados;
A coleta de dados ocorreu no mês de Maio/2011, nos turnos matutino e noturno da
referida instituição. Foi realizado junto à mesma, um diagnóstico inicial com o objetivo de
obter as devidas informações a respeito do número de alunos matriculados e destes quantos
poderiam estar trabalhando durante uma parte do dia e/ou o dia inteiro com a finalidade de
auxílio à família e/ou própria subsistência, sendo que estes dados foram obtidos na secretaria
da escola e conversas entre os pesquisadores com a equipe pedagógica.
A escolha da instituição escolar seguiu o critério do diagnóstico precoce
informado pela direção da escola e também pelos professores das áreas de Biologia e
Química, devido a queixas sobre dispersão dos alunos na sala de aula e falta de atenção em
relação ao conteúdo aplicado, fatores estes que se agravavam de modo considerável no turno
noturno, devido talvez ao problema da conciliação do trabalho e escola, indícios estes que
preocupam os professores devido ao baixo rendimento escolar.
A coleta foi realizada com a autorização da diretora do colégio em questão, sendo
que dos 162 alunos devidamente matriculados no terceiro ano do ensino médio, participaram
do estudo 80 alunos do turno matutino e noturno, sendo que esta amostragem representa
49,38% da população, tendo um elevado grau de confiabilidade. A escolha da série em
questão seguiu o princípio de que os discentes por estarem concluindo o ensino médio, e
possivelmente estarem pensando em ingressar em uma Universidade e/ou estarem
trabalhando, ou pelo menos, pensando em trabalhar, muitos ainda não tem a sua identidade
9
profissional totalmente formada, facilitando assim os critérios de pesquisa, podendo
identificar problemas sócio-econômicos, inclusivos e psicossociais.
Foi elaborado um questionário semi-estruturado auto-aplicativo, que sofreu uma
adaptação do questionário usado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD,
2007), com 26 questões estruturadas em perguntas fechadas, binárias, múltipla escolha e
escalonadas, caracterizando assim como pesquisa quantitativa, que abordavam temáticas
sócio-econômicas, etnias, sexo, inclusão educacional/profissional, processo de ensino-
aprendizagem, perspectivas para o futuro, cansaço físico e/ou mental e evasão escolar que
seguiu a proposta idealizada por Vieira (2009). Metodologias similares foram aplicadas por
Câmara & Sarriera (2001); Barros (2008); Carvalho (2008); Artes & Carvalho (2010).
3.3. Análise dos dados;
Os dados obtidos foram analisados manualmente, e lançados no programa
Microsoft Office Excel 2007, utilizando tabelas para facilitar a análise, e dispondo das
ferramentas necessárias para a construção dos gráficos que foram dispostos nos resultados e
discussões do presente estudo. A análise do conteúdo seguiu a proposta de Bardin (2002).
3.4. Comitê de ética;
O presente estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Anhanguera Educacional Ltda., apresentado para a avaliação o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, requisito obrigatório no desenvolvimento de pesquisas com seres
humanos, de acordo com a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho
Nacional de Saúde.
3.5. Procedimentos;
Os investigadores contataram pessoalmente os indivíduos e explicaram o objetivo
geral do estudo, isto é, estudar a relação entre o trabalho, escola e a família, referindo que o
importante era a opinião pessoal de cada um sobre os assuntos abordados, não existindo, por
isso, respostas certas ou erradas. Foi igualmente referido que o questionário era anônimo e
que a confidencialidade dos dados individuais estava assegurada. Depois de os indivíduos
confirmarem a sua disponibilidade e interesse em participar do estudo, os investigadores
forneceram o questionário para ser respondido. Cada questionário foi respondido
10
individualmente por cada um dos participantes. Este mesmo procedimento foi conduzido por
Chambel & Santos (2009).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Do tamanho amostral de 80 alunos (100%), foram entrevistados 34 alunos do
turno matutino, correspondendo 42,5% da amostra e 46 alunos do turno noturno,
correspondendo 57,5% da amostra, respectivamente. Foi observado que o sexo masculino é
predominante ao invés do público feminino, principalmente no turno noturno, como pode ser
visto na comparação abaixo (Figura 2). Comparando-se o gráfico A que representa o turno
matutino, observa-se que a quantidade de homens pesquisada (10 alunos ou 12,50%) é
inferior ao de mulheres (24 alunas ou 30%), sendo que no B, ocorre o contrário, o número de
homens (26 alunos ou 32,50%) é superior ao de mulheres (20 alunas ou 25%), sendo que este
resultado talvez seja um indício de que os homens se ingressam no mercado de trabalho
prematuramente e estão estudando no turno da noite, devido ao trabalho que provavelmente
toma grande parte do dia, sendo este resultado similar ao que foi indagado por Barros et al
(2008); Carvalho (2008) e Artes & Carvalho (2010). Contudo, é valido ressaltar, que este
resultado não insinua que as mulheres, não estejam estudando no turno noturno pelo motivo
levantado, e/ou que estão realizando algum afazer doméstico.
Figura 2 – Comparação por sexo, do turno matutino (A) e noturno (B).
A B
11
Em relação à variável trabalho, foi averiguado que os alunos que freqüentam o
turno matutino possuem o menor índice de ocupação, sendo que no turno noturno é visto o
inverso. Conforme o Figura 3-A nota-se que 4 alunos ou 5% dos alunos do turno matutino
trabalham, contra 30 alunos ou 37.5% que não trabalham. No Figura 3-B é visto que no turno
noturno, 34 alunos ou 42.5% trabalham, contra 12 alunos ou 15% que não trabalham.
Figura 3 – Comparação por ocupação, entre o turno matutino (A) e noturno (B).
A B
Conforme levantado por Alves-Mazzotti (2002); Pochmann (2004) e Artes &
Carvalho (2010), e visto através da figura 3 deste estudo, nota-se que o maior índice de
ocupação se dá no turno noturno, e mesmo diante do cansaço da jornada laboral diária, a
maior parte da amostra ainda freqüenta as aulas, e não vê dificuldades em equilibrar o
trabalho com a escola, como se observa na Figura 4.
Apesar de não ter o gráfico comparativo, o turno matutino obteve resultado
similar.
Figura 4 – Índice de equilíbrio entre trabalho e escola, do turno noturno.
12
Ainda pode-se averiguar através da Figura 5, que a grande parte dos alunos que
trabalha do turno matutino, não possuem carteira assinada (3 alunos ou 3,75%), contra
13,75% ou 11 alunos do turno noturno que também não a tem, esta última é a minoria em
relação a amostra do noturno, porém não deixa de ser alarmante. Conclui-se então, que estes
jovens não estão em condições adequadas de trabalho, pois, não possuem garantias
trabalhistas como INSS, FGTS, 13º salário, abono salarial, entre outros, vivendo assim em
uma condição de subemprego com elevada carga horária sem garantias de benefícios
conforme visto pelo IBGE (1997); Guimarães (1998); Câmara & Sarriera (2001); Pochmann
(2004); Bastos (2006); Raitz & Petter (2006); Carvalho (2008).
Figura 5 – Comparação de estudantes-trabalhadores que possuem carteira assinada, dos turnos
matutino (A) e noturno (B).
A B
Embora grande parte da amostra esteja eventualmente estudando no turno da
noite, e trabalhando durante o dia, que segundo a resposta da maioria dos entrevistados,
considera o trabalho como extremamente a muito cansativo (16 alunos ou 20%), como mostra
13
a Figura 6*, porém, neste caso não é o motivo principal para a evasão escolar, no entanto não
atrapalha os estudos, como foi indagado nos estudos de Alves-Mazzotti (2002); Pochmann
(2004) e Artes & Carvalho (2010), ou seja, este estudo corrobora parcialmente as conclusões
dos mesmos.
Figura 6* – Índice de cansaço relacionado à conciliação do trabalho e escola, do turno
noturno.
___________________________________________________________________________
*Na Figura 6, houve abstenção de 9 entrevistados, que corresponde a 11.25% que não foi adicionado a este quesito.
O cansaço enfrentado por estes estudantes-trabalhadores se dá por conta da carga
horária de trabalho que muitos destes enfrentam semanalmente, chegando a exceder a 40
horas semanais. Mesmo sendo uma elevada carga horária, ainda está de acordo com o que está
disposto no Cap.II, Seção II, Art.58 da CLT de 1º de Maio de 1943, e no Cap.II, Art. 7 da
Constituição Federal de 1988, no qual permitem uma jornada de trabalho de até 8 horas
diárias (Brasil, 1943; 1988) e 44 horas semanais, no máximo (Brasil, 1988). Observando a
Figura 7-A, representando o turno noturno, nota-se que a maioria dos estudantes trabalha até
40 h/semana (10 alunos ou 12.5%), e somente 5 alunos ou 6.25%, têm carga horária laboral
superior a 40 h/semana. Os demais têm carga horária de trabalho inferior a 30 h/semana.
Figura 7 – Carga horária semanal dos estudantes-trabalhadores do turno noturno (A) e
matutino (B).
A
14
B
Carvalho (2008) observou que grande parte da coorte pesquisada, das regiões
Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-oeste, trabalham entre 15 a 39 h/semana (46,7%) e de
40 a 44 h/semana (20,3%), em média. Essa coorte foi representada por jovens de 14 a 17 anos,
sendo esta média etária similar a do presente estudo, que foi de 91,25%, de jovens entre 16 a
19 anos, referente às amostras que foram coletadas (Este percentual representa a grande
maioria da amostra de ambos os turnos).
No Gráfico 7-B, nota-se que o índice de carga horária de trabalho é bem inferior
ao que foi demonstrado no Gráfico 7-A. Este resultado se dê talvez ao fato de que os alunos
do turno matutino, dispõem de mais tempo para estudar, devido a pouca exigência que é
15
solicitada dos mesmos, nos locais onde estes trabalham, notando-se que a grande maioria
trabalha no máximo 20 h/semana.
Mesmo que teoricamente sendo permitida por lei, as cargas horárias pré-
estabelecidas são válidas para empregados com carteira assinada e devidamente efetivados
nas empresas contratantes, no entanto, a maioria dos pesquisados são menores de idade o que
na realidade não fomenta nenhuma explicação plausível para que os mesmos tenham tamanha
carga laboral semanal, portanto, tais empresas que estão no uso desse artifício, estão em
situações irregulares, conforme previsto nas Leis do Estágio e do Menor Aprendiz (Brasil,
2005; 2008).
Quando os entrevistados foram perguntados, em relação “dificuldade em
conseguir um emprego”, foi observado que a grande parte teve indicação para o trabalho que
realiza atualmente, ou que realizou, conforme visto no Figura 8. Este percentual (17,5% ou 14
alunos, de ambos os turnos), está diretamente vinculado a “apadrinhagem” que acontece
freqüentemente em grandes órgãos privados e públicos, no qual dão preferência a certas
pessoas, não pela capacidade de executar determinada tarefa, mas pelo simples fato de alguém
conhecido que já trabalhava ali, ter a influência de indicá-las, conforme indagado por
Guimarães (1998) e Alves-Mazzotti (2002). Isso influencia diretamente na disponibilidade de
emprego para os outros jovens que almejam certas oportunidades, e que às vezes não
conseguem devido a essa concorrência desleal, podendo levar o jovem a ter uma baixa auto-
estima, perda da autoconfiança, ou até mesmo direcionando-se ao mundo do crime,
prostituição e das drogas, como meio de subsistência, como levantando pela OIT (2001);
Silva & Kassouf (2002); Rodrigues & Martins (2005); Carvalho (2008) e Amazarray et al
(2009).
Figura 8 – Índice de dificuldade em conseguir um emprego, segundo os entrevistados do turno
noturno (A) e matutino (B).
A
16
B
Na Figura 9-A, se observa que a grande massa do matutino, que possui alguma
ocupação, tem rentabilidade entre menos de 1 salário mínimo (2 alunos ou 2,5%), e entre 1 e
2 salários mínimos (2 alunos ou 2,5%). Já a Figura 9-B*, mostra que apesar de trabalhar
grande parte do dia, o turno noturno também tem uma remuneração similar (8 alunos ou
9,16% com menos de 1 salário, 20 alunos ou 22,89% com remuneração entre 1 e 2 salários e 4
alunos ou 4,58% com remuneração entre 2 e 3 salários) com a do turno matutino, mesmo que
teoricamente eles trabalhem mais, visto que os alunos do turno da manhã têm uma carga
horária laboral inferior ao turno noturno (Ver figura 7-A e B), portanto, isso torna a condição
de trabalho destes, como subemprego, devido a baixa remuneração e elevada carga horária
semanal, conforme indagado por Segnini (2000).
17
Figura 9 – Comparação da remuneração mensal informada pelo turno matutino (A) e turno
noturno (B).
A
B*
Foi levantado também, por Carvalho (2008), que a média salarial dos jovens entre
14 e 17 anos pesquisados, nos grande centros metropolitanos, é de ¼ até 1 salário mínimo
mensal, sendo este resultado congruente ao do presente estudo, visto que, a grande maioria da
amostra entrevistada, possuem rendimentos mensais inferiores ao piso salarial mínimo até
entre 1 e 2 salários mínimos no máximo.
Ainda é possível observar através da Tabela 1, que grande parte dos jovens, de
ambos os turnos, não acha que “somente” a escola poderá lhes encaminhar para o mercado de
18
trabalho, devido talvez a má qualidade do ensino público conforme concluído por Saviani
(2009). Analisando a Figura 10-A, nota-se que grande parte do contingente do turno matutino,
_________________________________________________________________________________________________________________
* Na Figura 9-B, houve abstenção de 2 alunos ou 5,88% da amostra, que não foi incluída neste quesito.
acha que a escola não deu embasamento suficiente para que os mesmos prestassem o
vestibular e assim se ingressarem em uma Universidade e/ou Faculdade.
Tabela 1 - Índice de importância única da escola para inserção no mercado de trabalho, dos turnos matutino e noturno.
Turno matutino
Freqüência (f) % Sim. Considero importante 9 11,25 Não. Não considero importante 25 31,25 Total 34 42,5
Turno noturno Freqüência (f) % Sim. Considero importante 15 18,75 Não. Não considero importante 31 38,75 Total 46 57,5 Total Geral 80 100,00
Inusitadamente, a Figura 10-B, que mostra a coorte do noturno, houve um
resultado totalmente inverso. A grande maioria acredita que a escola onde eles freqüentam,
deu um bom embasamento para que os mesmos possam tentar um vestibular, e assim adquirir
conhecimentos mais específicos para executar o trabalho realizado atualmente ou futuro.
Talvez, estes resultados se dêem, devido à discrepância do rendimento escolar entre estes dois
turnos, e o tempo disponível para estudar.
Ainda assim, se torna imprescindível a importância da escola na vida destes
jovens, conforme levantado por Guimarães (1998); Alves-Mazzotti (2002); Pochmann (2004);
Raitz & Petter (2006); Carvalho (2008); Artes & Carvalho (2010), mesmo esta não dando
19
todo embasamento e segurança para inserção no mercado laboral e/ou acadêmico, mas têm
um significado de esperança e dignidade.
Figura 10 – Qualidade do ensino e pretensão de ingresso no ensino superior, segundo os
entrevistados dos turnos matutino (A) e noturno (B).
A
B
20
Mesmo diante das divergências levantadas, entre qualidade e rendimento escolar,
é visto também através do presente estudo que grande parte dos estudantes da pesquisa almeja
entrar em uma Universidade/Faculdade, após concluírem o ensino médio. A Figura 11, mostra
que grande parte da coorte acredita que com o curso superior, terão a oportunidade de se
ingressarem no mercado de trabalho atual (58 alunos de ambos os turnos, ou 72,5%), ou
mesmo, ter a oportunidade de trabalhar em qualquer lugar, independente da área de formação
(17 alunos de ambos os turnos, ou 21,25%), corroborando o levantamento feito por
Amazarray et al (2009), de que os jovens estão em busca de sua oportunidade no mercado de
trabalho, que se encontra cada vez mais competitivo e conseqüentemente um encaixe na
sociedade.
Figura 11 – Pretensão e opiniões sobre o ingresso no ensino superior após a conclusão do
ensino médio dos turnos matutino (A) e noturno (B).
A
21
B
Quando o tema é família, sempre é uma questão abordada com bastante atenção
por qualquer pessoa, pois, vai além da sua estruturação biológica como dito por Sarti (2004a;
2004b), mas desperta um sentimento de afinidade mútua entre as pessoas que se consideram
próximas o bastante para se considerarem “parentes”. No entanto, as questões familiares
geralmente são abordadas com mais critérios, pois se têm o hábito de ver a família, como a
“nossa família”, e abordar este tema requer o estranhamento da “nossa família”, para ter a
retórica adequada para argüir o assunto, como levantado também por Sarti (2004a; 2004b).
A percepção de família descrita por Szymanski (2004) é visto como “um grupo de
pessoas que convivem, reconhecendo-se como família, propondo-se a ter entre si uma ligação
afetiva duradoura, incluindo e compromisso de uma relação de cuidado contínuo entre os
adultos e deles com as crianças, jovens e idosos (p. 07)”, ainda dentro desse contexto da
família, com toda a sua estruturação biológica, é visto que a toda a responsabilidade de educar
22
os filhos, é delegada à mãe, sendo esta a responsável pelo sucesso do ingresso ou não, dos
filhos na sociedade.
Muitas das vezes o cerne familiar, se vê obrigado a impor as crianças e jovens ao
trabalho, devido a muitas dessas famílias serem de baixa renda, no qual a ajuda dada por estes
é indispensável na renda familiar. Visto isso, é observado que grande parte dos estudantes
pesquisados trabalha para manter suas próprias despesas ou não possuem participação
nenhuma, e alguns participam parcialmente nas despesas da casa, o que não chega a ser um
caso extremo de necessidade conforme mostrado nos relatos de Raitz & Petter (2006), mas
um estado onde o jovem quer ter a sua independência financeira. Ainda neste mesmo estudo,
é visto que os entrevistados falam da família, sempre que possível, sendo esta uma lembrança
constante e, portanto, marcante na vida dos jovens.
Na realidade dos jovens pesquisados, a família também se encontra em um eixo
central, para que tanto a carreira estudantil e trabalhista sejam reconhecidas como promissoras
ou não, a partir do apoio ou não da família, frente às atividades que estes promovem. No
figura 12, está designada a importância da família na concepção desses jovens, sendo que 59
alunos ou 73,75%, de ambos os turnos consideram a família como alicerce base, e tudo o que
eles são hoje, é reflexo da mesma, sendo um pensamento parecido com o que foi levantado
por Szymanski (2004), pois quando a criança nasce ela se encontra em um mundo repleto de
regras e valores, no qual a família se encontra como responsável da formação social deste
indivíduo.
Figura 12 – Importância da família na concepção dos alunos dos turnos matutino (A) e
noturno (B).
A
23
B
Além de participar na formação social destes jovens, a família ainda tem um papel
muito importante de estimular os filhos a estudarem e/ou trabalharem. Quando questionados
sobre o apoio dado pela família, nas atividades de estudo e/ou trabalho, a maioria (48 alunos
ou 60%, de ambos os turnos) disseram que a família os apóia, tanto no trabalho quanto na
escola, salvo alguns que têm o apoio da mesma somente na escola (29 alunos ou 36,25%, de
ambos os turnos), devido a estes não praticarem nenhuma atividade laboral, ou mesmo não
necessitarem. No levantamento realizado por Guimarães (1998) e Raitz & Petter (2006), foi
levantado uma grande preocupação dos jovens em relação a família, principalmente vinculado
ao apego com a “mãe”, no qual esta se torna a figura mais importante na concepção de apoio e
estímulo para continuarem na sua jornada em busca de uma qualidade de vida melhor.
24
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realmente a realidade que atinge a juventude atual, na abordagem do mercado de
trabalho atual, a relação dos jovens com a família e a escola, se torna cada vez mais comum
na sociedade não como uma atitude de satisfação própria ou mesmo por vontade, mas muitas
das vezes por necessidade para manter sua sobrevivência. Hoje existem leis, que teoricamente
deveriam proteger o menor de idade contra o trabalho escravo e/ou irregular conforme o que
está disposto na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), leis como: A Lei do menor
aprendiz e a Lei do Estagiário, dispostos no Decreto Nº 5.598 de 1º de Dezembro de 2005 e
Lei Nº 11.788 de 25 de Setembro de 2008, respectivamente.
Infelizmente ainda podem ser encontradas várias empresas que contratam menores
de idade como funcionários normais, para explorá-los devido a sua fragilidade
psicoeconômica na qual se encontram, e de sua identidade profissional ainda não formada.
Nesse sentido, estes jovens que se encontram em uma situação informal perante o mercado de
trabalho, acabam por não tendo nenhuma garantia de benefícios trabalhistas. Porém, neste
estudo pôde-se observar que a minoria dos pesquisados se encontra nessa situação de
irregularidade, o que se pôde concluir que a informalidade laboral vem diminuindo, e a
disponibilidade de emprego vêm aumentando nos últimos tempos.
25
A questão da qualificação profissional é um ponto chave de preocupação dos
jovens, visto que o mercado de trabalho está a cada dia mais seleto e rígido, nisso, muitos
jovens sonham em cursar o ensino superior, numa convicção de que somente com ele irão
conseguir entrar neste mercado tão competitivo. Apesar, de o ensino público ser considerado
ruim a nível nacional, nesta escola, os alunos pesquisados não teve a mesma conclusão,
alegando que o mesmo é de ótimo a bom. Será que a qualidade do ensino público está
mudando? Ou será, que nesta escola em especial há algo que os motive a estudar, e assim
estes terem um bom aproveitamento? Ou melhor, será que a concepção de ensino bom ou
ruim, está realmente esclarecida na mentalidade destes jovens?
A escola como fator determinante na formação social do cidadão, também orienta
o jovem a estar se engajando no mercado de trabalho, na formação técnica e superior, a fim de
prepará-lo para a vida realmente. A busca constante de aperfeiçoamento está diretamente
ligada à esperança de conseguir um emprego formal e consequemente uma situação financeira
estabilizada. Ainda, a família é considerada como primordial na vida destes jovens, no qual
estes encontram refúgio e apoio, e se consolam nas adversidades da vida. Além disso, a
família na concepção destes jovens deve apoiá-los incondicionalmente na escola e/ou no
trabalho, fazendo com que os mesmos se estimulem para a vida e não desistam de suas metas.
O presente estudo tentou apresentar um pouco da realidade de jovens de classe
média baixa, devidamente matriculados em uma rede pública estadual, para que possa ser
observada realmente as deficiências do ensino público, e as expectativas em relação ao
mercado de trabalho e do ensino superior, tentando sempre almejar um status social
equilibrado. Ainda se visou, mostrar a escola como encaixe fundamental na vida destes jovens
e a família como aporte central de apoio nas atitudes tomadas por eles. Com esse
levantamento quantitativo, espera-se que haja outros estudos em outras instituições públicas,
para averiguar se os resultados discutidos aqui são cabíveis para outras regiões da cidade e
entorno.
26
AGRADECIMENTOS
"A cada vitória o reconhecimento devido ao nosso Deus, pois só Ele é digno de toda honra,
glória e louvor"
Senhor, obrigado pelo fim de mais essa etapa.
À nossa família, pelo amor, compreensão e apoio de sempre.
Aos amigos queridos, de perto e de longe, a nossa eterna gratidão.
Aos alunos entrevistados, obrigado pela disposição em colaborar para nossa pesquisa.
Aos professores que cederam suas aulas, obrigado pela oportunidade.
A diretoria do Colégio Estadual Dr. Genserico Gonzaga Jaime, obrigado pela confiança e
credibilidade que sempre depositou em nós.
A nossa querida Orientadora Profa. Dra. Josana de Castro Peixoto, o nosso muitíssimo
obrigado pelo conhecimento, pelo apoio, pela orientação e pela amizade. Agradecemos por
acreditar em nosso potencial e nas nossas idéias.
E por ultimo, e não menos importante, obrigado a Senhora Coordenadora do curso de
Ciências Biológicas, a Profa. M.Sc. Juliana Rodrigues, o nosso muito obrigado pela
oportunidade de concretizarmos mais uma etapa importante para a finalização de nossa
graduação.
27
Agradeço imensamente ao meu amigo Lucas Silva co-responsável pela concretização de todo
projeto e principalmente pela amizade sincera e paciência que sempre teve. Saiba que você
está guardado no mediastino do meu peito.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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revoga as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o
parágrafo único do art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6o da Medida
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