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CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 20 | novembro de 2015 1 DIREITO, SEGURANÇA E DEMOCRACIA NOVEMBRO 2015 20 AS FRONTEIRAS DA UNIÃO EUROPEIA E AS POLITICAS QUANTO À IMIGRAÇÃO ILEGAL JOÃO PAULO VENTINHAS BARROSO E SILVA Mestrando em direito e Segurança RESUMO A União Europeia vive um dilema quanto às políticas de imigração. Por um lado necessita de mão-de-obra para se desenvolver e contribuintes para sustentar as políticas sociais, por outro lado cria políticas restritivas à entrada de estrangeiros. As taxas de natalidade dos diversos países que constituem a União Europeia não têm contribuído para o aumento da população, nem mesmo com o aumento dos incentivos à natalidade. Torna-se assim necessário o acolhimento de imigrantes para preenchimento de postos de trabalho necessários para a competitividade do espaço da União Europeia. Uma política sustentável quanto à imigração está a ser implementada a par do rigoroso controlo da fronteira externa e obrigatoriamente das áreas adjacentes sob pena das políticas de imigração não cumprirem o seu desiderato. Esse controlo deverá além de diminuir o fluxo de imigrantes ilegais, também diminuir o flagelo das mortes no mar mediterrâneo de inúmeros imigrantes que à procura de melhores condições de vida colocam em riscos as suas vidas.

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Nº 20

AS FRONTEIRAS DA UNIÃO EUROPEIA E AS POLITICAS QUANTO À IMIGRAÇÃO ILEGAL JOÃO PAULO VENTINHAS BARROSO E SILVA Mestrando em direito e Segurança RESUMO

A União Europeia vive um dilema quanto às políticas de imigração. Por um lado

necessita de mão-de-obra para se desenvolver e contribuintes para sustentar as políticas

sociais, por outro lado cria políticas restritivas à entrada de estrangeiros. As taxas de

natalidade dos diversos países que constituem a União Europeia não têm contribuído

para o aumento da população, nem mesmo com o aumento dos incentivos à natalidade.

Torna-se assim necessário o acolhimento de imigrantes para preenchimento de

postos de trabalho necessários para a competitividade do espaço da União Europeia.

Uma política sustentável quanto à imigração está a ser implementada a par do rigoroso

controlo da fronteira externa e obrigatoriamente das áreas adjacentes sob pena das

políticas de imigração não cumprirem o seu desiderato. Esse controlo deverá além de

diminuir o fluxo de imigrantes ilegais, também diminuir o flagelo das mortes no mar

mediterrâneo de inúmeros imigrantes que à procura de melhores condições de vida

colocam em riscos as suas vidas.

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PALAVRAS-CHAVE Frontex, Eurosur, fronteira, imigração ilegal, políticas de imigração, tráfico de seres

humanos.

ABSTRACT The European Union faces a dilemma as to immigration policies. On the one hand

requires workers to develop its economy and to contribute to support social policies, on the

other hand it creates difficulties in access to its territory. The actual birth rates of the

various countries do not contribute, even with the increased incentives for the birth.

It is therefore necessary to host immigrants to fill jobs needed for the

competitiveness of the European Union space. A sustainable policy regarding immigration

is being implemented along with the strict control of the external border and also the

adjacent areas, under penalty of immigration policies do not fulfill their intention. These

controls should also decrease the flow of illegal immigrants as well reduce the scourge of

deaths in the Mediterranean Sea of the countless immigrants seeking better living

conditions that put their lives in risk.

KEYWORDS Frontex, Eurosur, border, illegal Immigration, immigration policies, human trafficking

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS CPOS Curso de Promoção a Oficial Superior

GNR Guarda Nacional Republicana

ICMPD Centro internacional para as políticas de migração e

desenvolvimento

IOM Organização internacional das migrações

p. Página

pp. Páginas

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SIVE Sistema integrado de vigilância exterior

SOLAS Safety of life at sea

TFUE Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

UE União Europeia

INTRODUÇÃO O presente trabalho, no Curso de Promoção a Oficial Superior (CPOS) da Guarda

Nacional Republicana (GNR), pretende demonstrar a importância do controlo das

fronteiras externas europeias na prossecução das políticas quanto à imigração ilegal na

União Europeia em resposta aos atuais fluxos de imigração ilegal, principalmente por via

marítima.

Este objetivo visa responder à pergunta “COMO TÊM EVOLUIDO AS POLITICAS

QUANTO É IMIGRAÇÃO ILEGAL NA UNIÃO EUROPEIA?”

Na sequência do Tratado de Amesterdão de 1997 a imigração irregular tem sido

um dos focos fundamentais da formulação de políticas da União Europeia em matéria de

imigração e asilo. Definiu-se como uma preocupação dos responsáveis políticos e um

tema de debates políticos, a migração irregular tem sido um grande problema, pelo menos

desde meados da década de 1980.

A conjugação dos efeitos das modificações geopolíticas após o ruína dos regimes

comunistas na Europa Oriental, o incremento da imigração para a União Europeia no final

de 1980 e em particular, o aumento dos pedidos de asilo, relacionados com conflitos fez a

imigração irregular uma preocupação central para os decisores políticos.

Com a rápida aceleração da integração europeia em meados da década 1980 e

com o auxílio em especial, da implementação do Ato Único Europeu em 1986, bem como

do Tratado de Maastricht em 1992, o problema da imigração ilegal tornou-se uma questão

europeia e não apenas a nível dos países. A abolição das fronteiras estava intimamente

ligada à necessidade de uma política comum e cooperação quanto à imigração.

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Resultado da necessidade de cooperação a nível do controlo fronteiriço, foi firmado o

acordo de Schengen em 1985, com as medidas de combate à migração irregular sendo

um elemento primordial do acordo.

Um número crescente de projetos de investigação financiados pela União Europeia

têm abordado a migração irregular construindo as noções comuns de migração irregular.

A imigração irregular na Europa do Sul é distinta do fenómeno da situação dos

requerentes de asilo rejeitados no norte da Europa ou da situação irregular dos imigrantes

que transitam nos países da Europa Oriental que são originários dos países de leste. O

debate político motivado pelas vagas de imigrantes ilegais por via marítima e naufrágios

no mediterrâneo, bem pelas crises económicas que assolam os seus países tem

contribuído ativamente para a construção da interpretação comum de imigração ilegal e

com isso criando uma importante base que legítima as iniciativas políticas conexas, que

respondem a esse flagelo.

Durante o trabalho, vão ser utilizadas, essencialmente, fontes documentais

plasmadas em normativos legais e fontes bibliográficas, empregando-se as técnicas e

métodos associadas às ciências sociais. Para a recolha de dados, as técnicas de

pesquisa documental e bibliográfica. Para a análise de dados vão ser utilizados na

abordagem o método dedutivo e no procedimento os métodos histórico e comparativo.

E por fim, sob a designação Conclusões, irão ser plasmadas algumas

considerações finais materiais do presente trabalho.

CAPÍTULO I: A EVOLUÇAÕ DAS POLITICAS DE IMIGRAÇÃO

NA EU É com o tratado de Maastricht em novembro de 1993 que se inicia a cooperação

intergovernamental sobre as migrações e assuntos internos, o terceiro pilar. É firmado

em 1999 o tratado de Amesterdão onde é dada competência à União Europeia quanto a

políticas de asilo e assuntos de migração sendo o acordo de Schengen integrado nos

tratados.

As orientações e objetivos práticos da política de assuntos internos como as

bases das políticas comuns de asilo e migração, bem como a preparação para a

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harmonização do controlo de fronteiras surge com o programa de Tampere (1999-2004)

em outubro de 1999.

Segue-se o programa Hague (2005-2009) em março de 2005 com as orientações

das políticas e objetivos práticos das políticas de assuntos internos para a regulação dos

fluxos migratórios e o desenvolvimento de um sistema comum de asilo e controlo das

fronteiras externas.

É em novembro de 2005 que a «Abordagem Global para a Migração e a

Mobilidade», para harmonizar, as políticas relevantes para o problema das migrações. A

abordagem incluía quatro eixos principais, a imigração legal e a mobilidade; imigração

irregular e tráfico de seres humanos a proteção internacional e as políticas de asilo, bem

como a maximização do impacto da migração e da mobilidade sobre o desenvolvimento

(Comissão europeia, 2015).

Os direitos fundamentais dos imigrantes constituem uma questão fundamental

nesta perspetiva.

A Abordagem Global incide no diálogo a nível regional e bilateral entre os países

de origem, de trânsito e de destino. Um dos principais instrumentos da Abordagem

Global era a eventualidade de efetivar colaborações quanto a mobilidade com países

terceiros. Essas parcerias incluem não só os acordos de reingresso, mas também todo

um conjunto de medidas, da ajuda à evolução da concessão de vistos temporários,

passando pela migração circular e a luta contra a migração ilegal (Hibou, 2012).

Já com o tratado de Lisboa em dezembro de 2009 o procedimento legislativo

regular torna-se a norma em assuntos de migração e asilo, abolindo-se a estrutura de

pilares e aplicando-se a jurisdição total do tribunal de justiça em 01 de dezembro de

2014.

O programa de Estocolmo em maio de 2010 entre 2010 a 2014, colocou na agenda os

desafios futuros nas áreas dos assuntos internos europeus ao desenvolver uma política

comum de migrações e a manter uma política de asilo sustentável e o fortalecimento da

área Schengen (figura 1).

Já em março de 2014 tem lugar a comunicação “ Uma europa aberta e segura:

fazer acontecer” onde foram apontadas as prioridades políticas para aplicar as políticas

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de assuntos internos em prática quanto às migrações, mobilidade, Schengen, a política

de vistos comum e o sistema europeu comum de asilos.

Figura 1- Espaço Schengen (Comissão Europeia, 2015)

As substanciais mudanças populacionais na Europa trouxeram uma diversidade

crescente ao continente bem como alguns problemas. Alguns países europeus

habituados a verem a sua população emigrar, evoluíram para áreas de receção de

imigrantes desde os anos 60. Atualmente o ritmo de imigração aumentou

dramaticamente, bem como o número de imigrantes ilegais. O fluxo é maioritariamente

de pessoas fora da União Europeia, o que para isso contribuiu as alianças criadas para

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aumentar a cooperação política, económica e social, incluindo a utilização de uma

moeda única e a livre circulação de trabalhadores e turistas pelas fronteiras nacionais

(Andersson, 2012).

Muitos destes países europeus têm taxas de natalidade baixas ou mesmo

negativas, apontando as projeções da Divisão da População das Nações Unidas que em

1995 a população europeia era superior em 100 milhões à população dos Estados

Unidos mas que em 2050 seria menor em 20 milhões. Com a população a diminuir vem

também a diminuição da força de trabalho e a necessidade de trabalhadores

estrangeiros, principalmente a França, a Alemanha, a Itália e o Reino Unido. Em 1995 a

os países membros da União Europeia acolheram 18,1 milhões de imigrantes, 80 por

cento dos quais provenientes de fora da União Europeia. A Alemanha acolheu 7,2

milhões, seguida da França com 3,6 milhões e o Reino Unido com 2,2 milhões.

De acordo com os números do governo italiano existiam 1,2 milhões de

estrangeiros em Itália que tem uma população total de 60 milhões. Do número total de

imigrantes em Itália, 40 por cento são provenientes de outros países da Europa em que

dois terços desta percentagem é proveniente da Europa do leste, 30 por cento são

provenientes do norte de África, 16 por cento da Ásia e 14 por cento das Américas. A

Itália estabeleceu uma cota de 63000 imigrantes legais em 2000, numero que atingiu na

primeira metade do ano. Milhares de imigrantes ilegais chegam todos os anos à costa

Italiana especialmente no verão sendo apenas uma pequena parte detetada pelas

autoridades do país, estimando que existam um total de 600000 imigrantes ilegais em

Itália (Parrillo, 2004).

Nestes países europeus, bem como nos Estados Unidos, os imigrantes

concentram-se em bairros específicos e beneficiam de determinados apoios mas

comparados com os cidadãos nacionais, têm uma maior taxa de desemprego e os que

trabalham, recebem menos. Além de enfrentarem uma hostilidade crescente porque

existe a perceção local que a sua presença coloca um elevado encargo nos sistemas

nacionais de saúde, sistemas educativos e programas de segurança social. Também é

sentido por alguns cidadãos nacionais a perda da identidade cultural devido ao grande

fluxo de imigrantes.

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Existe ligações fortes entre a imigração, a segurança e o crime existindo grupos

de imigrantes que manifestam maior propensão para a criminalidade do que a maioria

dos grupos. Em contraste alguns grupos de imigrantes demonstram o mesmo nível de

envolvimento em crime ou um nível mais baixo ao observado na maioria dos grupos.

A primeira geração de imigrantes demonstra um envolvimento menor na criminalidade

em comparação com a segunda ou terceira geração e de imigrantes chegados a partir

das décadas de 80 e 90.

O que existe em comum na maioria dos grupos de imigrantes são as

desvantagens socioeconómicas e posições precárias que os coloca em risco de cair no

mundo da criminalidade. As diferenças culturais entre grupos com condições sociais

semelhantes levam a diferentes construções das suas comunidades e preservação da

sua identidade étnica e cultural. Essa diferença cultural é importante na explicação dos

vários graus da criação e acesso a oportunidades sociais e económicas.

Os imigrantes são um grupo suscetível a riscos e podem colocar riscos em

termos do desvio e crime, não sendo muito diferentes da maioria dos grupos nestes

termos (Albrecht, 2002).

Estas atitudes muitas vezes dão origem a atos violentos, não apenas confinado a

guerras como a guerra na Bósnia ou Kosovo em 1990 mas pelo resto da Europa.

Milhares de ataques violentos e dezenas de mortes, algumas cometidas por alas de

extrema-direita e outras cometidas por denominadas pessoas comuns, geralmente

jovens, são o rosto da violência étnica.

Os governos destes países tomaram alguns passos para reduzir a entradas ilegais

e atividades de grupos violentos e melhorar as condições de vida dos novos imigrantes

e das minorias já estabelecidas, mas os países europeus continuam a experienciar

problemas relativos à imigração e preconceito tal como existe nos Estados Unidos

(Parrillo, 2004).

a. A imigração ilegal e o tráfico de seres humanos

Importa distinguir entre a introdução de imigrantes ilegais e o tráfico de seres

humanos pois são dois problemas distintos, ainda que sejam atividades criminosas

interligadas perpetradas por redes criminosas. A diferença entre os dois é que na

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primeira, os imigrantes normalmente vão de boa vontade para se envolverem num

processo de migração irregular, pagando os serviços de um facilitador para atravessar

uma fronteira internacional, enquanto neste último eles são vítimas de uma forma

hedionda de atividade criminosa, onde eles são coagidos a um processo vicioso de

exploração grave, que pode ou não estar relacionado com a passagem de uma fronteira.

Na realidade, os dois fenómenos não são fáceis de distinguir uma vez que ao iniciar as

suas viagens de forma voluntária podem acabar em redes de exploração laboral ou

sexual ao longo do caminho.

Os imigrantes contrabandeados também são frequentemente expostos à violência,

violações de direitos humanos ou até mesmo a morte (Albrecht, 2002).

A Estratégia da UE para a erradicação do tráfico de seres humanos foi adotada

em 2012. Esta atualizou o Plano de Acão da UE sobre as melhores práticas, normas e

procedimentos para prevenir e combater o tráfico em seres humanos. A Estratégia é um

conjunto de concreto e medidas práticas a serem implementadas ao longo de cinco

anos.

Estas incluem prevenção, proteção, apoio das embarcações usadas pelos imigrantes

ilegais pois são de grande fragilidade, levando muitas vezes a naufrágios trágicos com

dezenas de mortes de cada vez. Esta situação veio criar uma causa justa que em muito

justifica a intervenção no mar das autoridades europeias e a necessidade de criar

organismos que auxiliem na prevenção e resgate cada vez mais além, com a

responsabilidade de busca e salvamento da convenção SOLAS. As frágeis embarcações

dos imigrantes ilegais são possíveis naufrágios a acontecer, levando justificar ações em

águas territoriais Africanas com a assinatura de memorando que permitem o

patrulhamento nessas zonas (Andersson, 2012).

CAPÍTULO II: SISTEMA DE VIGILANCIA DE FRANTEIRAS

EUROPEU

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a. Enquadramento

A decisão da criação de um território sem fronteiras internas tomadas pela

França, Bélgica, Alemanha, Luxemburgo e Holanda na década de 80, foi firmada na

cidade Luxemburguesa de Schengen e preconizava o livre fluxo de pessoas.

Foi em 1995 que o controlo fronteiriço interno foi retirado, ficando apenas a

fronteira externa única, harmonizando-se as regras quanto a atribuição de vistos e

direito a asilo em todos os países Schengen. Foram introduzidas medidas

compensatórias que no caso são no âmbito da coordenação e cooperação policial e

judicial, pois a criminalidade organizada não respeita as fronteiras, sendo fundamental

esta cooperação tendo em vista a salvaguarda da segurança interna, tendo sido

afirmada esta cooperação em 1999 com a assinatura do tratado de Amesterdão (frontex,

2015).

A cooperação foi intensificada e vários projetos foram desenvolvidos e operações

conjuntas em vários países e em 26 de Outubro de 2004 foi estabelecida a agência

Frontex pelo Regulamento do Conselho (EC) 2007/2004, com o objetivo de melhorar

procedimentos e métodos de trabalho.

O problema respeitante ao aumento do fluxo de imigração ilegal vinda do norte de

África já há muito foi diagnosticado e tem vindo a ser tratado no seio da União Europeia.

Para dar resposta a este problema, estão a ser desenvolvidos centros de coordenação

nacionais com o propósito da sua integração formando o designado sistema Eurosur,

proporcionando as infraestruturas e ferramentas capazes de aumentar a sua perceção

situacional.

O desenho do sistema tem como objetivo a vigilância da fronteira marítima a sul

da Europa por forma a impedir e dissuadir a imigração ilegal por via marítima.

Os acontecimentos que levaram ao desenvolvimento da presente estratégia

remonta a 2005, quando uma vaga de migrantes assola Ceuta e Melila, levando à morte

de 14 pessoas devido à reação das forças locais. Os acontecimentos seguintes à

tragédia levaram a que as rotas de introdução de imigrantes ilegais se desviasse para as

Ilhas Canárias onde durante o ano de 2006 mais de 30000 imigrantes ilegais se

introduziram por via marítima. Por serem avultados números, foi desencadeada uma

operação com a agência Europeia Frontex denominada Hera na região afetada,

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mobilizando um grande número de meio, levado a uma queda acentuada no número de

imigrantes por via marítima (Pugliese, 2013).

Contudo continua-se a verificar um grande fluxo de imigrantes ilegais na fronteira

greco-turca e em Itália, tornando-se a atividade de controlo de fonteiras cada vez mais

importante e alvo da atenção da classe política na Europa (Andersson, 2012).

As ameaças ao interior da Europa não se localizam apenas na sua fronteira, mas sim na

pré fronteira, o que obriga a um processo de vigilância e controlo extraterritorial,

necessitando de um policiamento à distância por forma a controlar as migrações

indesejadas.

A segurança das fronteiras europeias carece de uma abordagem global devido às

circunstâncias geopolíticas, devendo a esfera de vigilância e atuação focar-se no

Mediterrâneo e África.

Os países Schengen são responsáveis pelas suas fronteiras externas com países

terceiros e simultaneamente responsáveis pela fronteira externa da UE, agindo desta

forma em prol dos restantes membros.

Por este motivo os métodos e ferramentas do controlo de fronteiras têm que ser

melhorados constantemente, devendo a reação aos desafios colocados pela pressão

migratória serem respondidos de forma atempada e eficaz.

Para se desenvolver um sistema comum, deve existir uma cultura comum,

capacidades comuns e suficientes, padrões e cooperação oleada (Hibou, 2012).

b. Frontex

A Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras

Externas dos Estados-Membros da União Europeia foi criado pelo Regulamento (CE) n.º

2007/2004 (26.10.2004, JO L 349 / 25.11.2004) tendo em conta o Tratado que institui a

Comunidade Europeia.

Este regulamento foi posteriormente alterado pelo Regulamento (CE) n.º 863/2007

do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Julho de 2007 que estabelece um

mecanismo para a criação de equipas de intervenção rápida nas fronteiras e que altera

o Regulamento (CE) n.º 2007/2004 do Conselho Relativamente a este mecanismo e que

regulamenta as competências e tarefas dos agentes convidados. Foi alterado pelo

Regulamento (UE) n.º 1168/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de

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Outubro de 2011 que altera o Regulamento (CE) n.º 2007/2004 que institui a Agência

Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-

Membros da União Europeia (Comissão Europeia, 2015).

Além disso, o Regulamento (UE) n.º 1052/2013 de 22 de Outubro de 2013, que

estabelece o Sistema Europeu de Vigilância das Fronteiras (Eurosur), especifica um

quadro comum para o intercâmbio de informações e para a cooperação entre Estados-

Membros e a Frontex por forma a melhorar a consciência situacional e para aumentar a

capacidade de reação das fronteiras externas dos Estados-Membros da União com o

objetivo de detetar, prevenir e combater a imigração ilegal e à criminalidade

transfronteiriça e contribuir para assegurar a proteção e salvar as vidas de migrantes.

A sede da agência é em Varsóvia, na Polónia, tal como decidido pelo 2005/358 /

CE: Decisão do Conselho de 26 de Abril 2005, que designa a sede da Agência Europeia

de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros

da UE.

A agência Frontex é o fulcro da estratégia da União Europeia e está a modificar a

forma dos países verem a fronteira através do treino de guardas de fronteira, criação de

fóruns de discussão e fornece informação e conhecimento aos estados membros e

fundamentalmente efetua a análise de risco (frontex, 2015).

A análise de risco leva a alocação de recursos onde são mais necessários. As

informações são recolhidas pelos estados membros e países de trânsito, sendo muitas

vezes detetados casos subsidiários de derrames de óleos, embarcações em perigo e

interceção de tráfico de droga que são objetivos secundários (Pugliese, 2013).

A sua aparente parecença, no papel, com uma agência regulatória responsável

pela troca de informação e cooperação entre os estados membros em assuntos

relacionados com as fronteiras, é o mais visível ator no trabalho de fronteira externa da

união europeia.

A Frontex tem sido alvo de alguns protestos de grupos ativistas, contudo a Frontex é

apenas parte de um número maior de instituições incluindo a organização internacional

das migrações (IOM), e o centro internacional para as politicas de migração e

desenvolvimento (ICMPD), que trabalham de forma mais discreta aos olhos do público,

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mas que têm um papel fundamental na moldagem do debate sobre a imigração ilegal e

da própria noção de fronteira da união europeia e sua segurança.

c. Eurosur

Em fevereiro de 2008 foi equacionada a criação do sistema de vigilância de

fronteira europeia, a Eurosur, encontrando-se em implementação até aos dias de hoje.

O sistema tem como objetivo auxiliar as autoridades que trabalham em razão da matéria

dos estados membros na obtenção da informação precisa das atividades que ocorrem

nas fronteiras externas continentais e fronteira marítima.

É o quadro de intercâmbio de informações destinadas a melhorar a gestão das

fronteiras externas da Europa. Destina-se a apoiar os Estados-Membros, aumentando a

sua consciência situacional e a capacidade de reação na luta contra a criminalidade

transfronteiriça, luta contra a imigração irregular e evitar a perda de vidas de migrantes

no mar (frontex, 2015).

O sistema está desenhado para identificar situações de transposição ilegal da

fronteira, além de melhorar a resposta às autoridades de investigação criminal na

identificação de imigrantes ilegais bem como de facilitadores.

No âmbito do Eurosur os estados membros devem cooperar com os restantes

estados membros e com o Frontex, podendo trocar informação operacional. A troca de

informação, conjugada com os meios de deteção e observação, tem salvado muitos

imigrantes ilegais nas fronteiras marítimas da UE.

A introdução do sistema foi planeada para ser em 3 fases. Primeiramente a

implementação dos centros nacionais de coordenação das fronteiras dos estados

membros do sul e este da UE e operar as ligações informáticas entre os centros e a

agência Frontex e analisar que ajudas logísticas e financeiras serão necessárias a

países terceiros no caso de necessidade de cooperação (Pugliese, 2013).

Numa segunda fase, a melhoria e implementação dos sistemas de vigilância já

implementados como satélites, camaras e sistemas aéreos não pilotados, por forma a

proporcionar cada vez mais informação credível, podendo-se observar uma imagem

mais nítida do estado atual das fronteiras (figura2).

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Na terceira fase, a integração dos sistemas de informação, reporte e vigilância

dos estados membros por forma a formar uma rede fiável onde o foco primordial será o

mediterrâneo estendendo-se até às ilhas Canárias e mar negro e mais tarde todos as

regiões marítimas europeias.

A primeira e segunda fase concentram-se na parte marítima e continental e a

terceira fase exclusivamente na vertente marítima.

Figura 2 - Desenho da infraestrutura EUROSUR (Comissão europeia, 2009)

A perceção situacional conforme o sistema se propõe, traz subjacente a

capacidade de monitorizar, detetar, seguir e perceber as atividade de transposição da

fronteira, levando a uma resposta proporcional e justificada, através da combinação da

informação atual com a informação já recolhida e tratada, indo de encontro a aspirações

dos estados de deter uma omnisciência sobre o território definido pelas fronteiras.

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As informações recebidas através dos sensores, autoridades, plataformas e

outras fontes que são partilhadas em canais comunicacionais, em tempo real ou quase

em tempo real dão uma “fotografia” crucial para definir a atuação correta. Essas

informações situacionais vão dar também suporte às capacidades de reação ao longo

da fronteira externa e à área de pré fronteira.

Projetos como o sistema integrado de vigilância exterior (SIVE) que combinam

camaras de infravermelhos, vídeo, informação satélite, radar e apoiados pela

intervenção de embarcações e helicóptero, encontra-se em desenvolvimento o projeto

CLOSEYE que utiliza radar e camaras distribuídas ao longo da costa para monitorizar as

embarcações e intercetar caso necessário para o projeto CLOSEYE são utilizado o

recurso a imagem satélite, e drones, potenciando em muito as capacidades das

autoridades que atuam no mediterrâneo.

Também as tecnologias de identificação biométrica dos indivíduos têm sido

desenvolvidas por forma a identificar e monitorizar e prevenir a entrada de imigrantes

ilegais através da implementação através do regulamento do conselho n.º 2725/2000 de

11 de Dezembro de 2000 com o sistema Euordac (Pugliese, 2013).

Foi estabelecido um sistema de identificação através de impressões digitais

ligado a uma base de dados central onde os estados membros se ligam e enviam os

dados respeitantes aos indivíduos que pedem asilo bem como todos os estrageiros

maiores de 14 anos, com ligação a imigração ilegal.

Este sistema é uma rede interoperável de monitorização e processamento dos

indivíduos ligados à imigração ilegal com o seu núcleo o sistema europeu de arquivo de

imagem (FADO) que acaba por ser o repositório vasto de informação computadorizada

dos documentos de identificação falsos e verdadeiros que complementa a

implementação de fronteiras inteligentes1 para controlo total sobre os movimentos de

1 O pacote de "fronteiras inteligentes" foi proposto pela Comissão em Fevereiro de 2013. Segue a comunicação da

Comissão de fevereiro 2008 sugerindo o estabelecimento de um Sistema de entrada e saída (EES) e um Programa de

viajantes registados (RTP). Destina-se a melhorar a gestão das fronteiras externas de Schengen dos Estados-

Membros, a luta contra a imigração irregular e fornecer informações sobre imigrante que excedem o tempo de

permanência, bem como facilitar passagens de fronteira para os viajantes frequentes previamente aprovados não

pertencentes à UE.

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pessoas nas fronteiras à semelhança do sistema norte-americano com a introdução da

base de dados que congrega impressões digitais que incluem todos os indivíduos que

não são cidadãos europeus que entram e saem da União Europeia.

O sistema terá a possibilidade de criar alertas sobre ultrapassagem de limites

temporais permitido, podendo indiciar uma situação de permanência ilegal.

O sistema de dados biométricos, em especial através das impressões digitais tem vindo

a desencadear cada vez mais casos de mutilação auto infligida das impressões digitais

por refugiados para tornarem os seus corpos ilegíveis ao sistema Eurodac (Pugliese,

2013).

CAPÍTULO III: O FENÓMENO DA IMIGRAÇÃO NA UNIÃO

EUROPEIA A migração para a Europa e no seu interior tem como regulamentos uma

conjugação do direito nacional e do direito da UE, convenção europeia dos direitos do

homem e carta social europeia, bem como diversas obrigações internacionais,

assumidas pelos próprios estados membros (European union agency for fundamental

rights, 2015).

As bases das políticas quanto à imigração na União Europeia encontram-se nos

artigos 79.º e 80.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE).

É definido que compete à UE a definição em que condições pode ser

possibilitada a entrada e de residência estrangeiros de países terceiros, na sua entrada

bem como na continuação de residência, bem como a possibilidade de emprego,

estudos ou reagrupamento familiar. Contudo é reservado aos Estados-Membros o direito

de determinar as taxas de admissão de pessoas provenientes de países terceiros à

procura de emprego (European union agency for fundamental rights, 2015).

Os incentivos proporcionados pela união europeia podem ser neste âmbito e ser

canalizados para a criação de medidas de integração de estrangeiros de países

terceiros residentes legais.

Existe uma obrigação da UE na tomada de medidas de prevenção e redução da

imigração ilegal, em especial através de uma política de regresso eficaz, respeitando

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plenamente os direitos fundamentais. Um migrante em situação irregular é uma pessoa

que entra na UE sem a autorização ou o visto adequado ou que ultrapassa o período de

permanência permitido pelo seu visto (UE, 2015).

Em matéria de combate à imigração ilegal, foram adotados duas importantes

diretivas, a Diretiva «Regresso» (2008/115/CE) que define o normativo e procedimentos

comuns a nível da UE para o regresso de nacionais de países terceiros que se

encontram em situação irregular. Os Estados-Membros foram instados a dar

cumprimento à diretiva até 24 de dezembro de 2010. O primeiro relatório sobre a sua

aplicação foi aprovado em março de 2014 e salientou progressos satisfatórios, bem

como os desafios atuais. Todos os estados membros transpuseram para a sua ordem

interna exceto o Reino Unido e Irlanda bem como os associados ao Schengen, a Suíça

a Noruega a Islândia e o Liechtenstein.

Entre os principais domínios para intervenções futuras incluem-se a garantia da

sua aplicação adequada, a promoção de práticas coerentes e compatíveis com os direitos

fundamentais, a melhoria da cooperação entre os Estados-Membros e o reforço do papel

da Frontex. De acordo com o Eurostat das 425000 pessoas com ordem de regresso

emitida em 2013, aquelas que acabaram por sair somaram 167000 (figura 3).

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Figura 3 - Comparação das ordens de regresso com os regressos efetivos relativos ao ano de 2013

A Diretiva 2009/52/CE estabelece sanções e medidas a serem aplicadas nos

EstadosMembros contra os empregadores de nacionais de países terceiros em situação

irregular. Os Estados-Membros devem aplicar a diretiva até 20 de julho de 2011 e o

primeiro relatório sobre a sua aplicação está previsto para julho de 2014 (UE, 2015).

A caracterização da ilegalidade da migração por via marítima no mediterrâneo tem

sido vista como uma contradição às políticas mais liberais, a globalização e de abolição

das fronteiras, que contrastam com o fecho e controlo das fronteiras a movimento de

pessoas.

O fecho das fronteiras a pessoas foi decidido em meados de 1970 e o fim da década

de 1980, contemporaneamente com o início das ideias da abertura das fronteiras

económicas. Muitas vezes é explicado como um sentimento de insegurança por parte da

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população que exige medidas de proteção e insegurança de entre os estados com

receio da perda de influência sobre os movimentos económicos e atividades.

Nesta perspetiva as diretivas europeias exprimem a vontade publica, podendo ser

uma explicação superficial, mas persistente e contraditória uma vez que os imigrantes

continuam a chegar e não são sistematicamente expulsos ou perseguidos. A esta

contradição junta-se a o facto que os empregadores que continuam a utilizar esta mão-

deobra não são criminalizados nem incomodados de forma dissuasora.

Nas margens do Mediterrâneo as economias informais caracterizam a região desde

há muito tempo sendo parte da explicação no aumento significativo da imigração ilegal

com a evolução da economia na Europa e a prossecução dos lucros através da

exploração de mão-de-obra cada vez mais barata. Através das contratações que

possibilitam subcontratações, forma-se uma cadeia em que vários níveis de negócios

são cobertos por subcontratantes legítimos. Agências de trabalho temporário também

contribuem para essa procura pois oferecem a flexibilidade e rapidez na disponibilização

de trabalhadores, muitas vezes usando esquemas fraudulentos quanto à contratação e

obrigações fiscais.

Quando por exemplo um contrato é deixado por assinar, a facilidade em dispensar um

trabalhador aumenta em muito e possibilita a legalização da situação do trabalhador

apenas quando necessário (Hibou, 2012).

Tanto imigrantes ilegais como legais sofrem no mercado de trabalho. Os ilegais

por deterem identificação falsa ou nenhuma identificação, ficam vulneráveis devido a

possibilidade de deportação que pode ser explorada pelo empregador. Os imigrantes

legais também são desprotegidos devido à legislação complexa.

A legislação laboral contribui para a precariedade dos imigrantes uma vez que

são permitidos contratos de trabalho de muito curto prazo que vai permitir a comutação

rápida entre trabalhadores legais e ilegais e potencia a utilização de subcontratantes

com mão-deobra temporária (Parrillo, 2004).

A permissividade dos estados quanto à utilização de mão-de-obra de

trabalhadores em situação ilegal contribui em muito para esta realidade, existindo casos

de ser possível um trabalhador em situação irregular pagar contribuições para o estado.

Contudo a situação criada ao não permitir a legalização de certos trabalhadores apesar

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de poder ser economicamente vantajosa, cria o receio nas comunidades de imigrantes

ilegais da sua eminente expulsão.

Existe a tentativa de uma abordagem equilibrada que se tenta realizar para lidar

com o problema da migração legal e o seu combate. Uma gestão adaptada dos fluxos

migratórios envolve uma política de tratamento imparcial aos nacionais de países

terceiros que residem legalmente nos Estados-Membros, aprimorar as medidas de

combate à imigração ilegal e diligenciar, em conjunto com os países terceiros uma

cooperação alargada. É um dos objetivos, desenvolver um nível semelhante de direitos

e deveres para os imigrantes legais, comparável ao dos cidadãos da UE.

As políticas quanto à imigração ilegal devem ser solidariamente tomadas por

todos os estados membros da EU, devendo as responsabilidades mesmo a nível

financeiro, ser em partilhadas de acordo com o art.º 80.º do TFUE.

As recentes intenções quanto ao envolvimento dos estados membros e

instituições, organizações internacionais, sociedade civil, autoridades locais e parceiros

fora da união europeia na prossecução de uma resposta imediata à recente crise no

mediterrâneo, foram em maio de 2015 definidas as prioridades na matéria (Comissão

europeia, 2015).

Assim será centrada a atuação na redução dos incentivos à imigração irregular,

através da investigação e desmontagem das redes de facilitadores e alinhar as políticas

de repatriamento seguidas pelos estados membros e fortalecer a atuação da agência

Frontex e firmar parceiras sólidas com países chave fora da união europeia.

É dada também importância ao salvamento das vidas e à segurança das

fronteiras externas através da melhoria das fronteiras inteligentes e financiar iniciativas

no norte de África para ajudar a região a tornar-se mais relevante em missões de busca

e salvamento e no estudo da implementação de um sistema de guarda de fronteira

europeia que possa ser implementado.

No campo das políticas de asilo, assegurar uma implementação completa e

coerente do sistema comum europeu de asilo através da utilização de sistemas de

identificação, permitindo que um pedido de asilo possa ter igual tratamento em todos os

estados membros e reavaliar o sistema de Dubin em meados de 2016.

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Já mais recentemente em 27 de Maio de 2015 a comissão europeia anunciou as

medidas concretas quanto às politicas de migração dando especial atenção aos

mecanismos de resposta para assistir à crise de imigração em Itália e na Grécia usando

o mecanismo de resposta de emergência nos termos do artigo 78 (3) do Tratado sobre o

Funcionamento da União Europeia. Esta disposição, que está sendo ativada pela

primeira vez, será utilizadas para estabelecer um regime de deslocalização de

emergência para ajudar a Itália e a Grécia. O regime será aplicável a cidadãos sírios e

eritreus que necessitam de proteção internacional aquando da sua chegada a Itália ou

Grécia após 15 de Abril de 2015 ou que chegam após o mecanismo ser iniciado. Um

total de 40 000 pessoas devem ser realocadas da Itália e da Grécia para outros

Estados-Membros da UE com base em uma chave de distribuição ao longo dos

próximos dois anos - o que corresponde a aproximadamente 40% do número total de

requerentes de asilo com necessidade de proteção internacional que entraram nesses

dois países em 2014. Abrindo as porta a fazer o mesmo se outros Estadosmembros,

como Malta, também enfrentam um súbito afluxo de migrantes. Os EstadosMembros

receberão € 6.000 para cada pessoa realocados no seu território (Comissão europeia,

2015).

A Comissão aprovou uma recomendação pedindo aos Estados-Membros o

realojamento de 20000 pessoas de fora da UE, em clara necessidade de proteção

internacional. Os Estados-Membros que participam no regime terão direito a apoio

financeiro durante os anos de 2015 e 2016.

A criação de um plano de ação da UE contra a introdução irregular de imigrantes

para 2015-2020 estabelece medidas concretas para prevenir e combater o contrabando

de migrantes. As ações incluem a criação de uma lista de embarcações suspeitas,

plataformas dedicadas a melhorar a cooperação e troca de informações com instituições

financeiras e cooperar com prestadores de serviços de internet e órgão de comunicação

social para garantir que o conteúdo da Internet usada por contrabandistas para fazer

propaganda das suas atividades ser rapidamente detetado e removido (Comissão

Europeia, 2015).

Para o sistema comum de asilo da UE trabalhar de forma eficaz, os imigrantes

precisam de ser controlados sistematicamente através das impressões digitais no

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momento da chegada. Os serviços da Comissão publicaram diretrizes para que os

Estados-Membros estabeleçam uma melhor abordagem para a recolha das impressões

digitais aos candidatos recém-chegados necessitando de proteção internacional.

Equipas do Frontex e Europol irão trabalhar no terreno para identificar rapidamente,

registar e recolher as impressões digitais dos migrantes que entram e avaliar aqueles

que estão com necessidade de proteção.

A Comissão pretende melhorar o sistema de cartão azul UE existente, que visa

tornar mais fácil para as pessoas altamente qualificadas poderem vir e trabalhar na EU.

A consulta pública convida as partes interessadas (migrantes, empregadores,

organizações não governamentais, sindicatos, ONGs, agências de emprego, etc.) a

compartilhar suas opiniões sobre o cartão azul UE e como ela pode ser melhorada

(Comissão europeia, 2015).

O novo Plano de Atividades para o reforço da Operação Conjunta Tritão

estabelece o novo número de ativos: 10 marítimos, 33 terrestres e oito meios aéreos, 121

recursos humanos. O Plano Operacional também alarga o âmbito geográfico da operação

para sul até as fronteiras da de busca e salvamento para cobrir a área da antiga operação

italiana Mare Nostrum (Albrecht, 2002).

CONCLUSÕES Com as mudanças rápidas do mundo, as ameaças e as contingências também

mudam e cada vez surgem mais desafios que devem ser resolvidos para que prevaleça

o sentimento de segurança.

As principais ameaças à UE foram identificadas como o crime organizado, o terrorismo e

a cibercriminalidade. Para fazer face a essas ameaças as fronteiras externas europeias

devem ser reforçadas.

Os recentes acontecimentos no mediterrâneo vieram trazer para a agenda do dia

o problema dos fluxos de imigrantes para o território europeu vindo revelar os problemas

da pobreza extrema, fome, desespero e conflitos prolongados que empurram povos das

suas terras para tentar a sua sorte na Europa, onde as condições de vida são

significativamente melhores mesmo com a possibilidade do sacrifício da sua vida.

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Sistemas como o Eurosur tem como objetivo aumentar a perceção do fenómeno da

imigração ilegal e melhorar a resposta das entidades envolvidas no combate a esse

flagelo.

Para esse desiderato é fundamental a cooperação das autoridades responsáveis

em razão da matéria de todos os estados membros, principalmente os diretamente

responsáveis pela vigilância das fronteiras externas da União Europeia. Com estas

possibilidades a informação atualizada será disponibilizada aos estados membros e

Frontex que terão a possibilidade de alocar os seus recursos de forma mais racional.

Contudo o trabalho da vigilância das fronteiras deverá obrigatoriamente ser

complementado com as autoridades dos países de onde partem os imigrantes e dos

países de trânsito.

As novas tecnologias podem contribuir para a reação atempada e acertada para

fazer face nas fronteiras continentais e marítimas às mudanças geopolíticas dos países

de origem, o mais rapidamente possível.

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