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As Igrejas e o uso do rádio e da televisão: a formação de uma nova cultura religiosa Magali do Nascimento Cunha 1 A explosão gospel da passagem do século XX para o século XXI imprimiu um novo relacionamento dos cristãos com a mídia e estabeleceu um novo papel para ela no campo religioso brasileiro. Este trabalho procura estudar este fenômeno recente, destacando como se dá a configuração de um novo modo de ser cristão, a cultura gospel. Como será observado, a mídia tem importante lugar mas não é ela A responsável pela formação dessa nova cultura religiosa – ela é um dos componentes de um quadro complexo, que se relaciona ao contexto sociopolítico contemporâneo, muito mais do que à tradição religiosa cristã. Igrejas na mídia As igrejas em geral nunca rejeitaram os meios eletrônicos de comunicação social. Com um referencial predominantemente aristotélico e funcionalista, vendo o processo da comunicação como um movimento de convencimento do outro, as igrejas, desde a época da emergência desses meios, em especial do rádio e da televisão, baseavam-se no pensamento de que convencer pessoas a optarem pelo Evangelho, e conseqüentemente pela adesão a um determinado segmento cristão, geraria um efeito-chave: o crescimento do Cristianismo. Ao lado disso, a perspectiva da visibilidade também era elemento importante na aproximação igreja-mídia eletrônica. Os meios de comunicação tornavam possível uma publicidade das igrejas, a visibilidade de sua presença nos espaços sociais. Este interesse prático estimulou que as igrejas criassem departamentos e comissões de comunicação e redigissem documentos orientadores. Criaram programas de rádio, construíram imprensas, buscaram acesso aos meios. Transmissão de cultos, missas, sermões, palavras pastorais eram o forte das programações. No lado católico-romano, a dimensão comunitária e do serviço ganhou espaço, devido à dimensão paroquial distinta da prática pastoral dos evangélicos, esta mais voltada para o interior da congregação e mais sectária. 1 Leiga vinculada à Igreja Metodista, jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. É professora da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo onde ministra as disciplinas Comunicação na Ação Pastoral, Ecumenismo e Igreja e Sociedade, e coordena o Grupo de Pesquisa Discursus – Teologia Prática e Linguagem.

As Igrejas e o Uso Radio e Da TV

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Uma analise sobre o uso da media nas igrejas

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  • As Igrejas e o uso do rdio e da televiso: a formao de uma nova cultura

    religiosa

    Magali do Nascimento Cunha1

    A exploso gospel da passagem do sculo XX para o sculo XXI imprimiu um

    novo relacionamento dos cristos com a mdia e estabeleceu um novo papel para

    ela no campo religioso brasileiro. Este trabalho procura estudar este fenmeno

    recente, destacando como se d a configurao de um novo modo de ser cristo, a

    cultura gospel. Como ser observado, a mdia tem importante lugar mas no ela

    A responsvel pela formao dessa nova cultura religiosa ela um dos

    componentes de um quadro complexo, que se relaciona ao contexto sociopoltico

    contemporneo, muito mais do que tradio religiosa crist.

    Igrejas na mdia

    As igrejas em geral nunca rejeitaram os meios eletrnicos de comunicao social.

    Com um referencial predominantemente aristotlico e funcionalista, vendo o

    processo da comunicao como um movimento de convencimento do outro, as

    igrejas, desde a poca da emergncia desses meios, em especial do rdio e da

    televiso, baseavam-se no pensamento de que convencer pessoas a optarem pelo

    Evangelho, e conseqentemente pela adeso a um determinado segmento cristo,

    geraria um efeito-chave: o crescimento do Cristianismo. Ao lado disso, a

    perspectiva da visibilidade tambm era elemento importante na aproximao

    igreja-mdia eletrnica. Os meios de comunicao tornavam possvel uma

    publicidade das igrejas, a visibilidade de sua presena nos espaos sociais.

    Este interesse prtico estimulou que as igrejas criassem departamentos e

    comisses de comunicao e redigissem documentos orientadores. Criaram

    programas de rdio, construram imprensas, buscaram acesso aos meios.

    Transmisso de cultos, missas, sermes, palavras pastorais eram o forte das

    programaes. No lado catlico-romano, a dimenso comunitria e do servio

    ganhou espao, devido dimenso paroquial distinta da prtica pastoral dos

    evanglicos, esta mais voltada para o interior da congregao e mais sectria. 1 Leiga vinculada Igreja Metodista, jornalista e doutora em Cincias da Comunicao. professora da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de So Paulo onde ministra as disciplinas Comunicao na Ao Pastoral, Ecumenismo e Igreja e Sociedade, e coordena o Grupo de Pesquisa Discursus Teologia Prtica e Linguagem.

  • 2

    No Brasil, a presena mais intensa das igrejas na mdia eletrnica remonta aos

    anos 50 do sculo passado. Naquela poca, o rdio era visto com o grande veculo

    para campanhas e cruzadas tanto de evangelizao quanto de alfabetizao do

    povo. A Igreja Catlica Romana foi a que mais investiu no acesso ao rdio e,

    diante da grande disputa por concesses, ela obteve amplo nmero de emissoras

    em todo o territrio nacional, dada a influncia que ainda exercia sobre os rgos

    governamentais. Esse processo expandiu-se nos anos 60 e 70 levando a Igreja

    Catlica Romana hoje marca de cerca de 185 emissoras pertencentes a dioceses,

    a congregaes religiosas e a grupos catlicos organizados.2

    O investimento catlico-romano em espao na TV foi mais tmido. Os

    primeiros programas de alcance mais amplo que o regional, foram transmisses de

    missas, como o produzido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, no ar desde 1968,

    Santa Missa em seu Lar, pela Rede Globo de Televiso. O investimento em

    TVs catlicas acontece a partir dos anos 90, quando so criadas trs redes de

    alcance nacional: a Rede Vida , a Rede Cano Nova e a Rede Sculo XXI, ambas

    controladas por grupos catlicos. Uma quarta rede est em preparao a Rede

    Aparecida.

    Entre os evanglicos, de igual modo, a maior presena d-se por meio do rdio.

    Nos primrdios, havia dificuldades para alcanar concesses, devido forte

    influncia catlico-romana no campo poltico. Apenas uma concesso foi

    alcanada nos anos 50 a Rdio Copacabana (AM/RJ) o que levava os

    evanglicos a buscarem espao por meio da compra de horrios em grades, para

    veicular sua programao.

    Tentar montar um quadro da presena evanglica na mdia brasileira, hoje, em

    especial no rdio deparar-se com uma tarefa de difcil empreendimento. No h

    estatstica da Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e de TV (Abert) e nem

    levantamento preciso possvel diante deste universo. Um extenso nmero de

    emissoras de rdio est nas mos de diferentes indivduos e grupos evanglicos.

    Alm de espaos comprados h a prtica do arrendamento de rdios. Matria da

    2 Dados obtidos na entrevista do bispo catlico romano D. Amaury Castanho, Jesus Cristo o nico fundamento, publicado na pgina eletrnica da Associao do Senhor Jesus. Disponvel em: < http://www.asj.org.br>. Acesso em 30 mai 2005.

  • 3

    revista Veja, em 2003, indicou a existncia de 470 emissoras evanglicas no

    Pas.3

    O fato que a partir dos anos 90 h um amplo empreendimento da presena crist

    na mdia. Pode-se constatar o avano da presena catlico-romana da TV e um

    avano nas diferentes mdias entre os evanglicos, mais precisamente os

    pentecostais. A Igreja Universal do Reino de Deus ganhou posio consolidada

    como o maior imprio de mdia religiosa no Brasil4, seguida pelas Igrejas

    Internacional da Graa, Renascer em Cristo, Deus Amor, Batista da Lagoinha, e

    por empresrios evanglicos de comunicao como o deputado federal Arolde de

    Oliveira, o ex-deputado federal Francisco Silva, e o pastor Samuel Cmara, da

    Assemblia de Deus de Belm/PA5.

    Um novo contexto religioso cristo no Brasil

    Este avano do empreendimento de igrejas e organizaes crists na mdia

    eletrnica no pode ser avaliado de forma desconectada das transformaes

    vivenciadas no contexto sociopoltico do prprio pas e do mundo.

    O avano do capitalismo globalizado a partir dos anos 90, imprimiu uma nova

    ordem mundial na qual o investimento tecnolgico estratgia determinante. A

    informao passa a ter espao privilegiado, bem como os canais de comunicao.

    Cerca de 10% da economia mundial passam a ser centrados na informao e na

    comunicao, e a previso de que, no sculo XXI, a indstria da comunicao e

    informao se consolide como a maior do mundo.

    Nesse contexto sociopoltico e econmico, o campo religioso brasileiro

    experimenta o fenmeno do crescimento dos movimentos pentecostais. Surge um

    sem-nmero de igrejas autnomas, organizadas em torno de lderes, baseadas nas

    propostas de cura, de exorcismo e de prosperidade sem enfatizar a necessidade de

    restries de cunho moral e cultural para se alcanar a bno divina. Baseiam-se

    tambm no reprocessamento de traos da matriz religiosa brasileira, da

    valorizao da utilizao de smbolos e de representaes icnicas. A igreja que

    mais representa esse grupo a Universal do Reino de Deus. 3 MARIA, Me do Filho de Deus - Os catlicos contra-atacam. Veja On Line, So Paulo, 8 out. 2003. Disponvel em: . Acesso em 30 mai 2003. 4 Ela controla hoje a rede de TV que a terceira em audincia no pas, a Record. 5 Dessas igrejas citadas, apenas a Deus Amor no tem investimento em TV

  • 4

    H ainda um tipo de pentecostalismo mais recente ainda que privilegia a busca de

    adeptos da classe mdia e de faixa etria jovem e a msica como recurso de

    comunicao. formado pelas Comunidades (Evanglica, da Graa) e pelas

    Igrejas Renascer em Cristo e Sara a Nossa Terra, entre outras.

    Essa presena pentecostal percebida na vida do Pas principalmente de duas

    formas: um alto investimento em espaos na mdia (como descrito acima) e

    participao poltica partidria com busca de cargos no Poder Pblico.

    O crescimento pentecostal passou a exercer uma influncia decisiva sobre o modo

    de ser das demais igrejas crists. Para os evanglicos, ele provocou incmodo em

    relao a um aspecto que marcou as igrejas histricas no Brasil a estagnao e o

    no-crescimento numrico significativo e promoveu uma espcie de motivao

    para a concorrncia e busca do aumento do nmero de adeptos. Para os catlico-

    romanos, representou uma ameaa, j que os seus fiis so alvo do proselitismo

    pentecostal, o que se manifestou na forma de um declnio numrico. A influncia

    se concretizou de maneira especial no reforo aos grupos chamados avivalistas

    ou de renovao carismtica, que possuem similaridade de propostas e posturas

    com o pentecostalismo e passaram a conquistar espaos importantes na prtica

    religiosa das igrejas chamadas histricas6 para que elas recuperassem ou

    alcanassem algum crescimento numrico.

    Paralelamente, ganham espao no Brasil duas correntes religiosas denominadas

    Teologia da Prosperidade e Guerra Espiritual , estreitamente relacionadas

    nova ordem mundial. Na lgica de excluso que caracteriza o capitalismo

    globalizado, essas correntes pregam a incluso social com promessas de

    prosperidade material ("Vida na Bno"), condicionada fidelidade material e

    espiritual a Deus. Na mesma direo, prega-se que necessrio destruir o mal

    que impede que a sociedade alcance as bnos da prosperidade. Por isso, os

    filhos do Rei devem invocar todo o poder que lhes de direito para estabelecer

    uma guerra contra as potestades do mal.

    6 Alm da Igreja Catlica Romana, inclua-se entre os grupos aqui chamados histricos ou tradicionais, as Igrejas Evanglicas originadas da Reforma do sculo XVI, que vieram para o Brasil trazidas por missionrios norte-americanos no sculo XIX (Metodista, Batista, Presbiteriana, Congregacional, Episcopal); tambm as Igrejas de Migrao, que tm razes na Reforma do sculo XVI e chegam ao Brasil com o fluxo migratrio estabelecido a partir do sculo XIX, sem preocupaes missionrias (Anglicana, Luterana, Reformada).

  • 5

    A pregao sobre o direito a reinar com Deus e desfrutar das suas riquezas e do

    seu poder parece responder necessidade de aumento da auto-estima dos

    membros das igrejas histricas, inferiorizados pelo crescimento pentecostal e

    vitimados pelas polticas neoliberais excludentes implantadas no Pas. Por outro

    lado, a confisso positiva carrega elementos da matriz religiosa brasileira:

    concebem-se pobreza, doena, as agruras da vida, qualquer sofrimento do cristo

    como resultado de um fracasso concretizao da falta de f ou de vida em

    pecado. Individualismo e competio tambm se tornam palavras de ordem, no

    que diz respeito a pessoas ou a grupos.

    A tudo isto conecta-se o crescimento do chamado mercado da religio. Os cristos

    tornam-se um segmento de mercado com produtos e servios especialmente

    desenhados para atender s suas necessidades religiosas sejam de consumo de

    bens sejam de lazer e entretenimento.

    Os grandes magazines tambm descobriram os consumidores cristos. Se, no

    passado, para um adepto ou simpatizante buscar artigos religiosos, como

    camisetas, discos ou livros, o caminho era procurar as tradicionais "livrarias/lojas

    evanglicas ou catlicas", hoje ele pode ir a qualquer grande magazine ou rede de

    supermercados para encontr-los. Importa tambm destacar que o mercado

    religioso passa a representar uma fonte alternativa de renda e de trabalho para o

    crescente nmero de desempregados vinculados s igrejas.

    No foram s os grandes magazines que atentaram para esta nova realidade. Dois

    exemplos so ilustrativos: o lanamento do celular Fiel da Ericsson O celular

    para quem acredita no poder da palavra e toca at oito hinos diferentes ao receber

    chamadas; e a parceria Livrarias Siciliano-Universal Produes. O celular da

    Ericsson, desenhado inicialmente para os membros da Assemblia de Deus, a

    maior denominao evanglica do Brasil, com estimativa de 16 milhes de

    membros7, oferece servios como a "caixa de promessas eletrnica" (servios de

    mensagens temticas via SMS e portal de voz), alm da distribuio de cartes de

    recarga de pr-pago veiculando mensagens bblicas.A parceria entre a Siciliano e

    a Editora Grfica Universal, da Igreja Universal do Reino de Deus, d-se para

    comercializao de literatura evanglica. A Siciliano, uma das maiores redes de

    livrarias do Pas, passou a abrir suas estantes para comercializar ttulos de autores 7 Conforme pesquisa de marketing da Ericsson.

  • 6

    evanglicos.8Gravadoras importantes na indstria fonogrfica no Brasil abriram

    espao para o segmento cristo. Na trilha do sucesso dos padres cantores,

    gravadoras seculares deram espao para o Padre Marcelo Rossi (Sony Music e

    Universal), Padre Zeca (EMI) e o Padre Antonio Maria (Sony) e obtiveram

    sucesso em vendas. A Top Tape criou o selo Top Music com base na alta

    vendagem dos evanglicos. Alm de discos, a Top Music j inaugurou uma

    livraria evanglica na cidade do Rio de Janeiro, a Encontro das Letras. A

    gravadora Som Livre que j produzia coletneas dos padres cantores, passou a

    produzir, a partir de 2003, discos de cantores evanglicos. As vendas de

    instrumentos musicais tambm so ampliadas por conta do mercado evanglico.

    A msica abre tambm espao ao entretenimento com os espetculos de msica

    religiosa e os programas de games e clips na TV.

    A revista Veja, em 2002, aps a divulgao dos dados do censo brasileiro que

    indicou o crescimento da populao evanglica, publicou reportagem especial em

    que afirmou: Somando tudo de CDs a bares e instituies de ensino , o

    mercado impulsionado pelos protestantes movimenta trs bilhes de reais por ano

    e gera pelo menos dois milhes de empregos.9

    Esses levantamentos retratam a visibilidade alcanada pelos evanglicos nas

    ltimas dcadas e ampliada com a maior presena deles na mdia, conseqncia de

    todo o processo acima descrito. Isso se configura na atualidade como um aspecto

    destacado na promoo e nas transformaes no cenrio religioso brasileiro.

    Importa, pois, destacar que no possvel referir-se ao fenmeno religioso dos

    ltimos 15 anos que a ampliao da presena crist mdia como A formadora de

    uma nova cultura religiosa. A ampliao fato, mas d-se num contexto de

    transformaes do campo religioso relacionadas a todos esses fatores acima

    descritos e a outros que poderamos descrever, como o crescimento da

    urbanizao e a busca de inculturao das igrejas no mundo urbano.

    Todo esse contexto revela como o cenrio religioso cristo no Brasil tem sofrido

    significativas transformaes nas ltimas duas dcadas. As culturas da mdia e do

    consumo, originrias da modernidade, passam a mediar um modo de vida entre os 8 Cf. FEIRA do Consumidor Cristo movimenta 3,5 milhes de dlares. Servcio de Notcias ALC, Lima, 16 out. 2003. Boletim Eletrnico recebido por [email protected] em 16 out. 2003. 9 A FORA do Senhor. Veja On Line, So Paulo, 3 jul. 2002. Disponvel em: . Acesso em: 29 nov. 2003.

  • 7

    cristos no Brasil nas ltimas dcadas. Alm delas, os movimentos religiosos

    contemporneos que desenvolvem uma teologia e uma prtica que respondem aos

    anseios da sociedade moderna tambm se convertem em mediaes culturais.

    Todos esses elementos mediam a configurao de novas formas culturais

    religiosas. A cultura gospel uma delas.

    Culturas so modos de vida em construo

    Com base nos estudos de Raymond Williams, a cultura compreendida como o

    processo social geral de dar e assimilar sentidos comuns um lento

    desenvolvimento de sentidos comuns, formados por aquelas direes j

    conhecidas com as quais os sujeitos esto acostumados, mas tambm pelas novas

    observaes e os novos sentidos, que so recebidos e testados. Da a cultura ter a

    natureza de ser sempre tradicional e criativa formada pelos sentidos comuns (do

    modo de vida global) e pelos processos de descoberta (as artes e a

    aprendizagem).10

    Cultura, portanto: 1) um modo de vida global, dentro do qual, percebe-se, um

    sistema de significaes essencialmente envolvido em todas as formas de

    atividade social; 2) no se resume a uma manifestao unificadora de grupos

    distintos mas a uma pluralidade de manifestaes, de modos de vida; 3) no algo

    esttico mas em permanente construo a partir da vivncia prpria dos diferentes

    grupos e entre eles mesmos. Com essa noo possvel analisar o processo em

    que se estabeleceu a construo das culturas crists no Brasil.

    Enquanto a cultura catlico-romana baseou-se na insero do catolicismo ibrico

    a partir do modelo colonizador e construiu-se na tenso religio oficial-religio

    popular, as culturas evanglicas no Brasil, desde seus primrdios no sculo XIX,

    assentaram-se sobre as bases da negao das manifestaes culturais autctones e

    da supervalorizao do american way of life e da cultura religiosa anglo-sax.

    Essas culturas crists tinham em comum: o autoritarismo, presente no forte

    clericalismo; a intolerncia religiosa e o antiecumenismo; o modo de vida rural,

    inserindo prticas,costumes e viso de mundo rurais nas formas de

    institucionalizao e organizao. Particularmente entre os evanglicos, as suas

    culturas eram formadas por uma viso de mundo dual em que o sagrado e o 10 Williams, Raymond. Culture is ordinary. In: Gray, Ann, McGuigan, Jim (eds). Studies in Culture: An Introductory Reader. London: Arnold, 1997. p. 5-14.

  • 8

    profano so antagnicos, concretizados no dualismo igreja-mundo, alicerces de

    um sectarismo; um anti-intelectualismo, baseado em uma f de certezas; uma

    religiosidade racional, com pouca nfase na emoo; uma tica restritiva nos

    costumes, fundada no moralismo puritano (no danar, no beber, no fumar,

    guardar o domingo, adotar indumentria sbria, so exemplos de costumes a

    serem cultivados).11

    A partir destas bases, manifestaes plurais inseriram novas significaes

    culturais no modo de vida cristo, especialmente a partir da terceira dcada do

    sculo XX: ampliam presena no pas os pentecostais e os movimentos avivalistas

    com a nfase na emoo e na mstica; o Vaticano II o divisor de guas que abre

    a Igreja Catlica Romana para valores como a vida comunitria, as demais igrejas

    crists como igrejas irms e o engajamento social e cultural; surgem as

    Comunidades Eclesiais de Base; surgem os primeiros grupos pentecostais com

    razes brasileiras, sua rejeio tica restritiva nos costumes e sua insero no

    modo de vida urbano; surgem novas denominaes pentecostais, tambm

    inculturadas na realidade urbana, estabelecendo alvos de alcance da juventude e

    das classes mdias, com a valorizao da tecnologia e da cultura da mdia como

    mediaes de prticas religiosas, como o culto.

    Alm destes aspectos, h elementos culturais que so assimilados pelos segmentos

    cristos e reprocessados pelos diferentes grupos a partir da vivncia prpria deles,

    entre eles mesmos e na sociedade. A cultura do mercado e a cultura miditica so

    dois fortes elementos.

    Entenda-se por cultura do mercado o modo de vida determinado pelo consumo,

    conforme o pensamento desenvolvido por Renato Ortiz: "O consumo se

    desvenda, assim, como uma instituio formadora de valores e orientadora de

    conduta.(...) O espao do mercado e do consumo tornam-se, assim, lugares nos

    quais so engendrados e partilhados padres de cultura12. A cultura do mercado

    baseada na oportunidade de participao em um sistema de gratificao comercial

    11 Cf. A descrio das bases que consolidaram o protestantismo de misso no Brasil foi abordada profundamente por Antonio Gouva Mendona e Rubem Alves, respectivamente nas obras O Celeste Porvir. A insero do protestantismo no Brasil. So Paulo: Paulinas, 1984 e Protestantismo e Represso. So Paulo: tica, 1979. 12 Um outro territrio. Ensaios sobre a mundializao. So Paulo: Olho Dgua. s.d. p. 121

  • 9

    e insero na modernidade13, oferecida a todas as pessoas, desde que tenham

    possibilidade de adquirir um conjunto de bens e servios que lhes so oferecidos.

    Participar do sistema e obter satisfao so alvos de um modo de vida cuja ao

    central o consumo.

    Entenda-se por cultura miditica o novo quadro das interaes sociais, uma nova

    forma de estruturao das prticas sociais, marcada pela existncia dos meios.

    produto da midiatizao da sociedade, ou seja, a re-configurao do processo

    coletivo de produo de significados por meio do qual o grupo social se

    compreende, se comunica, se reproduz e se transforma, a partir das novas

    tecnologias e meios de produo e transmisso de informao. Essa cultura se

    expressa por meio de imagens, de sons, de espetculos, de informaes, que

    mediam a construo do tecido social, ocupando o tempo de lazer das pessoas,

    fornecendo opinies polticas, oferecendo formas de comportamento social.

    uma cultura da imagem que explora a viso e a audio e com isso trabalha com

    idias, sentimentos e emoes. Para isso a cultura miditica uma cultura de alta

    de tecnologia, o que a torna um setor dos mais lucrativos na economia global.

    Alm disso, a cultura da mdia parte do mercado, isto , trabalha como uma

    indstria que precisa produzir em massa para servir ao mercado em expanso.

    Grupos cristos, em especial os histricos ou tradicionais, portanto, interagem

    com a cultura do mercado e a cultura da mdia, e do novo significado ao seu

    modo de vida, enfraquecendo pouco a pouco elementos que lhe davam a base.

    Deste processo explode a cultura gospel, que expresso deste momento

    sociocultural brasileiro da passagem do sculo XX para o sculo XXI.

    A configurao cultura gospel

    Gospel (evangelho, no ingls) utilizado para expressar o gnero de msica

    negra norte-americana, nascida no incio do sculo XX nas celebraes de

    comunidades protestantes negras.

    As razes desse gnero musical remontam ao final do sculo XVIII, quando os

    escravos africanos nos Estados Unidos adaptaram hinos religiosos protestantes e

    13 O termo modernidade aqui utilizado em sua forma pejorativa, que significa adaptao aos novos tempos, ou ligeireza, preocupao com a moda, tendncia para abandonar-se sem juzo nem inteligncia do passado, s impresses do momento. Lalande, Andr. Vocabulrio Terico e Crtico da Filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 693. [Verbete: Moderno].

  • 10

    injetaram vrios elementos de sua tradio musical, tais como os ritmos

    sincopados e o padro pergunta-resposta. Assim nasceram os negro spirituals, que

    esto na base de toda a msica negra norte-americana, no blues, no ragtime e nas

    msicas religiosas populares do movimento urbano do revival (reavivamento)

    do sculo XIX.

    A msica gospel no se inspirou tanto na clssica hinologia protestante. Com

    bases no movimento revival, e a busca de uma religio mais popularizada, ela era

    mais emocional e espontnea. Havia o canto coral mas tambm destaque para

    cantores-solo. Nas origens, o forte tom religioso do gnero restringia o gospel ao

    espao religioso; no entanto, o alcance de pblico e a mercantilizao do gnero,

    especialmente a partir dos anos de 1950, fizeram com que a msica transcendesse

    o espao das igrejas e deixasse de ser msica religiosa para se transformar em

    uma fora da cultura negra estadunidense.

    No Brasil, at os anos 90, o uso do termo gospel era o mesmo. Ele passa a ser

    utilizado a partir de ento pelo mercado fonogrfico evanglico em ascenso para

    expressar a produo musical de cunho religioso que adota ritmos

    contemporneos, desde o rock e as baladas romnticas, tradicionalmente utilizadas

    como alternativas msica sacra evanglica, at o samba, o pagode, o funk e o

    rap. Fala-se, entre os evanglicos, de um movimento gospel novas prticas

    desencadeadas a partir da profissionalizao de msicos, cantores e grupos

    musicais evanglicos ocorrida no perodo, aliada ao desenvolvimento da mdia

    religiosa no Brasil, ambos fundamentados numa teologia que enfatiza o valor

    superior do louvor e da adorao no culto.

    O movimento gospel no um fenmeno exclusivamente evanglico mas tambm

    se refere a outros grupos, como o catlico-romano; portanto, gospel no

    sinnimo de evanglico. A escalada dos padres miditicos como Marcelo Rossi,

    Zeca, Antnio Maria e outros, e sua produo fonogrfica, e a presena maior da

    igreja nos canais de TV prprios, j so alvo de estudos no campo da

    comunicao e da sociologia da religio. Este trabalho dedica-se ao estudo do

    processo entre os evanglicos porque so os maiores responsveis pela exploso

    gospel e de sua constituio como expresso de cultura. Observaes preliminares

    revelam que no h distino substancial da expresso entre os catlico-romanos

  • 11

    pois possvel afirmar que este grupo religioso segue a trilha do que se manifesta

    entre os evanglicos com um reprocessamento luz de suas tradies.

    Portanto, podem ser listadas como conseqncias desse processo:

    o privilgio ao lugar da msica na prtica das igrejas como principal

    veculo de louvor e adorao, estes compreendidos como a razo de ser

    cristo e da sintonia com Deus;

    as propostas modernizadoras para o canto congregacional que

    acompanham a nfase na msica, como o uso de tecnologia

    (especialmente a projeo eletrnica de letras ao invs de uso de impressos

    e a aparelhagem de som sofisticada);

    entre os evanglicos, o desaparecimento dos conjuntos musicais

    evanglicos (formados principalmente por grupos de jovens) que

    apresentavam-se em momentos especiais nos cultos e o surgimento dos

    grupos ou ministrios de louvor e dos momentos de louvor no programa

    do culto (espao reservado para cnticos coletivos ou no, liderados pelo

    ministrio de louvor);

    a adoo de diferentes gneros e estilos musicais populares (alm do rock

    e das baladas romnticas, j aceitos entre os evanglicos por algum tempo)

    como gneros para o canto litrgico, tais como o samba, o sertanejo o ax

    music, o frevo;

    insero de apresentao danas ou expresses corporais no culto, ao som

    de msicas cantadas por artistas gospel. H figurino e maquiagem

    prprios.

    surgimento dos louvorzes programaes em que pessoas vo igrejas

    para cantar e ouvir a apresentao de cantores e grupos de louvor. Este

    espao mais informal e o modelo o de espetculo musical e animao

    de auditrio. Os louvorzes so utilizados como lazer para a juventude e

    tambm como atividade de evangelismo.

    as rdios religiosas passam a ser um meio de comunicao privilegiado.

    Alguns ouvintes tm as rdios sintonizadas 24 horas. A msica gospel

    disseminada pelas gravadoras especializadas so o repertrio musical

  • 12

    privilegiado. Alguns adeptos das igrejas recusam-se a ouvir outro tipo de

    msica, e consideram a msica e a programao gospel abenoada, a

    servio de Deus. Alm do rdio e da produo fonogrfica h outras

    mdias que alimentam os membros das igrejas, referenciadas na produo

    musical: programas de clips gospel, programas religiosos de variedades,

    revistas gospel.

    os artistas gospel passam a ser conhecidos, comentados e copiados nos

    moldes dos artistas seculares. Os shows gospel passam a ser programa

    de lazer, bem como os espaos gospel (bares, livrarias, etc.), onde est

    liberada a expresso corporal por meio da dana e o consumo de bebidas

    como cerveja e vinho sem lcool.14

    A partir dos anos 90, portanto, um novo modo de vida emergiu entre grupos

    cristos no Brasil, como conseqncia da fora adquirida pelo movimento gospel.

    Este modo de vida manifesta-se principalmente na nfase msica como cultivo e

    enlevo espiritual com valorizao da diversidade de gneros musicais; na

    relativizao da tradio de santidade protestante puritana de recusa da sociedade

    e das manifestaes culturais por meio da abertura para a expresso corporal; na

    insero do consumo de bens religiosos como processo de

    aproximao/apropriao do sagrado. Este modo de vida aqui denominado

    cultura gospel, que hoje alcana, seno todas, a grande maioria das confisses

    crists brasileiras.

    A cultura gospel causa e conseqncia de um novo relacionamento dos cristos

    com a mdia. Causa e conseqncia exatamente pelo papel mediador da mdia

    no contexto de uma nova forma religiosa crist desenvolvido por esta nova

    manifestao cultural.

    14 Esta relao de caractersticas do movimento gospel foi elaborada a partir: 1) da leitura de obras produzidas por lideranas e artistas gospel, dentre outras, Campos, Adhemar de. Adorao e Avivamento. So Paulo: W4Endonet Comunicao e Editora Ltda. 2002; Witt, Marcos. Adoremos. Belo Horizonte: Betania, 2001; Camargo, Jorge. Criatividade e espiritualidade. So Paulo: W4EndoNet Comunicacao, 2002; Souza Filho, Joo A. de. O Ministerio de louvor da Igreja. Venda Nova: Betania, 1988; Fitts, Bob. O mover do Esprito Santo na adoracao. As]o Paulo: W4EndoNet Comunicacao, 2002; 2) de consulta a pginas gospel na internet, incluindo as das gravadoras, a da Igreja Renascer em Cristo e a da Rede Cano Nova; 3) de observao de programao religiosa de rdio e TV (evanglica e catlico-romana); 4) de pesquisa de campo realizada pelo Grupo de Pesquisa Discursus Teologia Prtica e Linguagem, da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de So Paulo, com as trs maiores denominaes do protestantismo histrico de misso (batista, presbiteriana e metodista).

  • 13

    A nfase no consumo e o novo tratamento destinado aos cristos como segmento

    de mercado, d mdia religiosa um novo carter e um novo papel. Algumas

    caractersticas da relao entre cristos e mdia no presente ilustram este novo

    perfil:

    (1) Entre os anos de 1960 e 1980 os programas religiosos de rdio e TV

    privilegiavam os cultos, as missas e as pregaes, no espao evanglico

    com nfase nas experincias de cura e de exorcismo e na proposta de

    salvao em Jesus Cristo.15 Hoje, a programao variada e adaptada

    dinmica dos programas seculares (busca da modernidade), com nfase no

    entretenimento. A cura, o exorcismo e a pregao da salvao em Cristo j

    no mais predominam nos espaos evanglicos; cedem espao ao

    entretenimento. Na TV, a programao dos canais e espaos cristos exibe

    os clips e os shows musicais, filmes bblicos, programas de auditrio, de

    entrevistas e debates. Nas rdios FM, o modelo o mesmo das seculares:

    programao musical na maior parte da grade, entrevistas, debates,

    jornalismo (menor parte da grade), quiz e distribuio de brindes para os

    ouvintes. Tanto na TV quanto no rdio, o contedo troca o eixo salvao-

    milagres-coleta de fundos pela nfase na pregao da prosperidade

    econmico-financeira como bno de Deus e a da guerra espiritual e

    oferece tambm respostas religiosas para questes atuais como depresso,

    estresse, drogas, crises familiares. As poucas excees ainda ficam com a

    programao de algumas rdios catlico-romanas que ainda cultivam as

    dimenses dos servios comunidade e da educao.

    (2) Nos anos de 1960 a 1980 os programas religiosos na mdia, especialmente

    os evanglicos, eram centrados em um personagem carismtico, portador

    das promessas de cura e de salvao os tele/radio-evangelistas. Na

    atualidade, no h personagem carismtico destacado e sim apresentadores

    mais ou menos famosos que possuem seus prprios programas, de

    acordo com a faixa de pblico-alvo e com a temtica trabalhada, dividindo

    a exposio de sua imagem com os cantores-artistas, a exemplo da mdia

    15 Ver ASSMANN, Hugo. A Igreja Eletrnica e seu impacto na Amrica Latina. Petroplis: Vozes, 1986. 17 A Igreja Catlica Romana, que ainda cultiva a prtica da liturgia comum aos domingos, ainda consegue manter o carter celebrativo tradicional, mas observa-se que h parquias que adaptam a missa prtica a esse novo formato gospel.

  • 14

    secular. O nico personagem remanescente dos anos de 1970, o pastor R.

    R. Soares, transformou na TV o que tinha o formato de um culto religioso

    para um formato de programa de auditrio e abriu espao para as

    apresentaes musicais, revelando buscar acompanhar a tendncia dos

    demais programas o Show da F.

    (3) Na programao de rdio e TV e na literatura impressa, a nfase da

    mensagem transmitida no na Igreja e na adeso a ela, mas no cultivo

    de uma religiosidade que no depende da Igreja, mas que intimista,

    autnoma e individualizada. Elementos prprios da teologia gospel. O que

    se enfatiza no tanto a Igreja mas a experincia religiosa mediada pelo

    meio TV ou rdio, isto , o meio possibilita o cultivo da religiosidade,

    independente da adeso a uma comunidade de f.

    (4) A inculturao das igrejas e grupos religiosos na cultura miditica

    refletida tanto na sua presena na programao do rdio, da TV, na

    literatura e na internet, quanto na prtica religiosa cotidiana. A imagem

    passa a ser um valor para os momentos de culto/missa nas igrejas, que

    tornam-se veculo promocional dos discos e dos cantores cristos e do seu

    discurso religioso. Os cultos/missas passam a ser espao privilegiado de

    apresentaes. A liturgia fica reduzida a dois momentos: momento dos

    cnticos e da pregao. O momentos dos cnticos denominado pela maior

    parte das igrejas como momento de louvor passa a seguir um padro:

    tudo coordenado pelos grupos de louvor e pelas bandas gospel, que

    so intrpretes reprodutores dos modelos-cantores assistidos nos shows. A

    nfase a apresentao de um programa. Sistemas de som so adquiridos

    para manter o padro estabelecido, bem como um retroprojetor para

    reproduo das letras das canes, no importando as condies fsicas do

    templo17.

    mantido o recurso a tradicionais baladas romnticas de forte cunho

    emocionalista e a abertura ao rock pesado, mas aberto o espao para o

    ritmo sertanejo, antes identificado apenas com o mundo pentecostal, do

    pagode e do ax-music, seguindo as trilhas do mercado musical profano.

    A modernidade dos ritmos contrasta com os contedos tradicionais que

    privilegiam a exaltao e a reafirmao de Deus como Rei e como Poder,

  • 15

    que tambm concedido aos fiis, e os cnticos de guerra espiritual, que

    tm espao de destaque no momento de louvor.

    Estas caractersticas listadas, levantadas a partir de pesquisas na programao

    religiosa na mdia e em igrejas, unem-se ao fato de que os cristos so agora um

    segmento, um mercado em plena expanso, como referido anteriormente. A

    mudana de postura quanto ao proselitismo religioso retrata bem este processo. Se

    no passado havia uma nfase no convite converso e na divulgao da

    denominao religiosa, no presente, a programao das rdios FM e os programas

    televisivos so majoritariamente dirigidos ao pblico j vinculado a alguma igreja

    ou confisso.

    A divulgao dos locais de reunies pblicas dos grupos condutores da

    programao apenas um apndice veiculao massiva de contedo musical por

    meio de clips ou exibio de cantores/as e grupos musicais gospel dada a fora

    do mercado fonogrfico. Os demais aspectos da programao (debates, sesses de

    orao, estudos e sermes) no tm o cunho proselitista clssico, mas nfase

    doutrinria para conquista de pblico para a programao e de consumidores para

    os produtos veiculados.

    Nas programaes de rdio ou TV, por exemplo, so transmitidas peas

    comerciais em que se repetem slogans como: presenteie o seu pastor,

    enriquea a sua igreja/comunidade com o produto x, aprofunde a sua f com o

    produto y, fique mais perto de Deus com o produto z.

    Portanto, os programas e a literatura da mdia crist, disseminadores e

    alimentadores da cultura gospel, so os mediadores de uma comunidade de

    consumidores, em que a vinculao religiosa j no o que mais importa, e sim

    uma vivncia religiosa e o consumo de bens e de cultura que possibilitem

    aproximao com Deus e entretenimento sadio.

    assim que o gospel levado para alm de uma expresso musical e transforma-

    se em contedo disseminado e acessado por diferentes grupos em diferentes

    contextos socioculturais e econmicos. A mdia gospel mais forte a fonogrfica

    tem reforo direto da mdia mais popular: o rdio. Na TV, programas dedicados

    msica tm conquistado espao. Nas livrarias e bancas de jornais surgem as

    revistas e os livros dedicados propagao de um modo de vida gospel, que

  • 16

    alcanam rapidamente a lista dos mais vendidos. Um nmero incontvel de sites

    na internet dedicado msica gospel, com cifras disponveis para os cristos

    cantarem os sucessos com suas igrejas.

    No possvel abordar as transformaes no campo religioso cristo sem vincular

    a anlise a uma nova fora e forma do mercado de consumo e sua presena na

    mdia num contexto religioso o chamado "mercado gospel". Essa configurao

    do mercado gospel deu-se principalmente por meio do mercado fonogrfico.

    Um nmero expressivo de cantores h algumas dcadas comercializavam seus

    discos, a maioria com produo independente. No entanto, com o incentivo do

    mercado, teve incio uma proliferao de cantores, agora com uma nova

    caracterstica: passam a ser profissionais da msica com a realizao de

    espetculos para promover seu trabalho (inclusive em casas de espetculos

    populares) e cobrana direta ou indireta de cachs para apresentao em igrejas e

    eventos de massa. Surgem tambm, num segundo momento, os ministrios de

    louvor e adorao, para se contraporem profissionalizao dos cantorescristos,

    e dar um carter de maior consagrao da prtica musical gospel, que, no entanto,

    esto sendo logo absorvidos pelo mercado fonogrfico. Foi ele que impulsionou

    nos anos 80 o sucesso das rdios crists, em especial as FMs, com significativo

    alcance nas reas metropolitanas.

    O mercado gospel da msica tem tambm atrado artistas da esfera secular que se

    encontram em declnio no mercado fonogrfico dominante. Um dos primeiros a

    seguir a trilha, por exemplo, foi o cantor Nelson Ned, seguido de Mara Maravilha

    (hoje proprietria de uma gravadora evanglica a Maravilha Records), Carmem

    Silva, Baby Consuelo e Wanderley Cardoso

    O poder sagrado da msica e do mercado

    Ao colocar em evidncia os artistas e os ministrios de louvor e adorao o

    mercado fonogrfico trabalha a msica como smbolo sagrado, um bem religioso.

    O gnero musical gospel atinge sentimentos caros aos consumidores de msica

    religiosa.

    Em um contexto socioeconmico e cultural marcado pela excluso social, pelo

    individualismo, pela competio, e em um contexto eclesial configurado por uma

    vasta maioria de mulheres, temas musicados como a realeza de Deus, a vitria

  • 17

    sobre as dificuldades da vida, a escolha que Deus faz de quem fiel, o Deus que

    se coloca como o ser amante e amado, que espera intimidade no relacionamento,

    que preenche vazios, so de forte acolhimento por parte do pblico.

    A msica gospel msica de consumo, produto industrial, de qualidade

    meldica e potica passvel de crticas, pois visa satisfao das demandas do

    mercado fonogrfico, mas tambm constitui um alvio das tenses do cotidiano

    dos fiis. Ela ajuda a escapar de cargas pessoais pois canal que torna as pessoas

    mais prximas do divino. Alm disso, pronuncia um discurso que tem embutidos

    traos componentes da matriz religiosa brasileira, o que lhe permite extensas

    possibilidades de uma resposta positiva.

    A ampla aceitao pelo pblico cristo da msica religiosa de consumo ainda se

    explica pelo fato de que a cultura gospel redesenhou as linhas divisrias entre o

    sagrado e o profano, entre a igreja e o mundo, estabelecidas pela tradio

    protestante dualista, e reafirmou a demonizao da msica secular e seus

    similares, como os espetculos musicais, a programao musical nas rdios e na

    televiso. No discurso que predomina na cultura religiosa evanglica

    contempornea, o verdadeiro adorador, aquele que deseja intimidade com Deus,

    no ouve, canta ou toca msica profana.

    Ao comprar o CD, ao ouvir a parada de sucessos de uma rdio crist, ao participar

    do espetculo de determinado artista gospel, o pblico cristo est inserido, sim,

    na lgica e na cultura do consumo. Entretanto, a esse consumo atribudo sentido

    emocional, religioso. Ouvir os artistas que so instrumentos de Deus, veculos

    de sua mensagem, ouvir os ministros de louvor e adorao que so levitas

    separados por Deus para ador-lo e guerrear contra as foras do mal (inseridas na

    prpria msica profana) e apoiar o que eles fazem o mesmo que ouvir e apoiar a

    Deus.

    Alm de proporcionar acesso direto a Deus, a indstria da msica gospel coloca

    os evanglicos mais prximos do que h de mais moderno no campo da mdia.

    CDs e DVDs de qualidade, programaes de rdio e TV que seguem o modelo

    secular, espetculos com produo de alta tecnologia, so alguns dos aspectos que

    provam s igrejas e sociedade em geral que possvel ser religioso e ser

    moderno, sintonizado com os recursos disponveis no mundo contemporneo.

  • 18

    A conseqncia direta desse processo a transformao na forma de os cristos

    praticarem o culto religioso, o qual ganha novo cenrio, novos protagonistas e

    novas nfases. O altar toma a forma de palco, com suporte tecnolgico e com a

    presena dos instrumentos musicais ao lado da mesa da eucaristia e do plpito, os

    condutores so os cantores e msicos, e a msica o elemento privilegiado e

    catalisador, fazendo emergir at mesmo a prtica da dana, outrora identificada

    como pecado. O formato das apresentaes musicais, de expresso corporal e da

    conduo do programa nas igrejas o estabelecido pelos artistas gospel e pelos

    lderes dos ministrios de louvor e adorao. As msicas cantadas so aquelas

    comercializadas em CD e DVD e veiculadas pelas rdios evanglicas; a postura

    do corpo e o gestual so modelados com base no avivalismo e na emoo

    religiosa: baladas romnticas, olhos fechados, expresso facial chorosa, cabea

    jogada para trs, braos levantados com punhos cerrados ou mos abertas; ou

    ritmos mais animados, palmas, balano de corpo, pulos e brados de palavras de

    ordem.

    Os lderes religiosos que no so msicos ou animadores musicais deixam de ser

    os protagonistas do culto/missa. Os lderes dos ministrios de louvor e adorao

    que se tornam as personagens centrais, que, alm de apresentarem e animarem

    os cnticos coletivos, fazem oraes, lem a Bblia, pregam pequenos sermes.

    As nfases dos discursos presentes em todos os momentos do culto religioso

    evanglico passam a ser as da Teologia da Prosperidade e da Guerra Espiritual.

    Essas teologias so alimentadas por uma linguagem que reprocessa formas

    teolgicas conservadoras como a teofania da tradio monrquica de Jerusalm, a

    que relaciona a Deus imagens como a de realeza, poder, domnio, trono,

    soberania, guerra. Alm disso, entre os evanglicos, h nfase na utilizao da

    linguagem e de certos costumes religiosos judaicos, como por exemplo, a figura

    dos levitas, hoje utilizada como terminologia para referir-se ao ministro do

    louvor nas igrejas. A teologia da tradio monrquica de Jerusalm a

    referncia bblica mais apropriada para justificar as teologias da prosperidade e da

    guerra espiritual.

    Essas nfases no culto/missa reproduzem os discursos predominantes na mdia

    evanglica, por meio de canes, sermes, e textos veiculados, e nos treinamentos

    oferecidos por lderes de louvor e adorao. A anlise desses discursos indica a

  • 19

    mediao scio-histrica na religiosidade gospel expressa por meio da adoo de

    uma linguagem prpria da lgica e da cultura do mercado. dessa mediao que

    emerge a perspectiva da seleo, da separao a partir da qual os filhos de Deus,

    os verdadeiros adoradores, precisam ser purificados, separados das influncias

    malignas do corpo social e hierarquicamente organizados, como na

    reinterpretao da figura dos levitas. Essa postura encontra embasamento na

    teologia judaica sacerdotal que impunha a pureza do corpo como princpio

    fundamental para o alcance da ateno de Deus, o que reprocessado pelo gospel.

    No momento em que a lgica do capitalismo globalizado caracterizada pelo

    permanente consumo de bens materiais (posse), pelos ideais da eficincia e do

    sucesso e pela conseqente competio prevalece como ordenadora da

    sociedade contempornea, a cultura gospel revela-se sua extenso, ou seja, uma

    expresso cultural desse capitalismo em verso religiosa. Isto no ocorre somente

    por meio do culto e dos discursos veiculados pela mdia. Outros elementos, que

    caracterizam a cultura gospel, a descrevem em termos de um universo econmico-

    religioso, como o consumo e o entretenimento. Desse modelo, os cristos em

    geral passam a ser interpretados e trabalhados como segmento de mercado. J os

    empresrios evanglicos vem-se e agem como scios do empreendimento de

    Deus, que a salvao do mundo. Seus produtos so vistos como sagrados,

    abenoados por Deus para fazer com que mais pessoas se acheguem a ele. A base

    destas interpretaes e destas aes encontra-se na premissa de que consumir no

    pecado, mas evidncia de que os evanglicos no devem ser um grupo isolado

    e sim inserido socialmente, para sinalizarem a ateno de Deus para com eles.

    O alvo da insero social introduz [insero e insere juntos no ficam bem] na

    cultura religiosa no apenas o consumo mas tambm outros valores da

    modernidade como a modelagem do corpo, a adeso moda e o prazer do corpo

    via entretenimento (consumo cultural religioso). O segmento evanglico passa a

    ter acesso a espaos de lazer e diverso que incluem a dana e a expresso

    corporal, encontra at mesmo no Carnaval um veculo de expresso religiosa e

    ganha produtos especiais como jogos e outras distraes.

    Mercado de bens religiosos e midiatizao o somatrio destes elementos,

    estratgias e princpios tm produzido no campo evanglico o que denominado

    por alguns estudiosos a espetacularizao da f. Isso significa tratar a f e a

  • 20

    religiosidade como algo a ser exposto, apresentado, demonstrado da forma mais

    atraente possvel, com a finalidade de se alcanar pblico. Toda religio tem um

    componente de espetculo, de teatralidade, de performance. Os ritos e os rituais,

    relacionados ao encanto e ao mistrio, do religio esse tom e esse dom. O que se

    observa nas ltimas dcadas no campo religioso cristo no Brasil, em especial na

    passagem dos anos 90 para os 2000, a religio, ela prpria, transformada em

    espetculo, performance.

    A cultura gospel atenua, portanto, no caso dos evanglicos, a tica puritana

    restritiva de costumes e, ao mesmo tempo, refaz a imagem pblica deles, ao

    incentivar a sua insero nas culturas do mercado e da mdia. O sectarismo (o

    isolamento para preservao da santidade) deixa de ser um valor primordial entre

    os evanglicos. V-se como o consumo e o entretenimento so facilitados por uma

    postura de maior insero social dos evanglicos, anteriormente marcados pela

    crise na relao igreja-sociedade, conforme foi analisado no corpo deste trabalho.

    Tal postura resultou em um crescimento significativo no nmero de adeptos das

    igrejas que processaram o novo modo de vida religioso.

    Com isso, a busca da santidade ganha contornos diferenciados e passa a gerar

    benefcios no aqui e agora (e no mais a expectativa de uma vida no alm, como

    na tradio escapista), na busca individualizada, privatizada, de satisfao pessoal

    tanto do ponto de vista da religio como socioeconmico (reconhecimento social,

    lucro financeiro, acmulo de bens, etc.).

    Os evanglicos passam, portanto, por um processo de dessectarizao, de

    liberalizao de costumes e pela modernidade, ao integrarem-se a distintas esferas

    da vida social e cultura urbana, caracterizadas pelo predomnio das novas

    tecnologias de comunicao e do audiovisual, pelo surgimento das tribos, pela

    privatizao da vida coletiva, pelo individualismo, pelo confinamento em

    ambientes e redes sociais restritas, pelo consumo permanente de bens e pelo

    investimento em entretenimento.

    J entre os catlico-romanos, que no basearam sua cultura na tica restritiva de

    costumes nem na ruptura com a sociedade e suas formas culturais, experimentam

    com a nova forma cultural crist ideais de modernizao e popularizao da

    experincia religiosa. Isso se reflete, por exemplo, nas prticas dos padres cantores

    que danam rock e promovem aerbica litrgica.

  • 21

    A cultura gospel permitiu aos cristos, ainda, inserirem elementos profanos,

    aqueles integrantes da cultura do mercado, como o consumo e o entretenimento, na

    forma de viver a f e relacionar-se com o sagrado; ou seja, um processo de

    sacralizao de elementos profanos que d ao duo consumo-entretenimento,

    mediado pelos meios de comunicao eletrnicos, o status de expresso de f.

    A contradio reside no fato de, juntamente com essas mudanas, conviver a

    conservao de aspectos do tradicionais/conservadores tanto do protestantismo

    quanto do catolicismo. O discurso dos artistas e dos ministros de louvor e

    adorao e o de lideranas das igrejas locais revelam isso, quando, por exemplo,

    os evanglicosreafirmam a diviso sagrado vs. profano na forma igreja vs. mundo,

    a necessidade de resguardo para purificao do corpo; ou quando catlico-romanos

    pregam a castidade para os no-casados, a no-utilizao de mtodos

    anticoncepcionais ou o papel da mulher como cuidadora do lar (modelo tradicional

    de famlia). Tudo isso aliado desqualificao de uma reflexo teolgica mais

    profunda, coletiva e contextualizada. o invlucro moderno numa internalidade

    conservadora.

    A ttulo de concluso

    H uma padronizao na oferta de bens simblicos, que vem sendo processada

    pelas diferentes tradies crists. Essa padronizao expressa por prticas

    comuns na forma de cultuar a f, de fazer a leitura bblica e educar os adeptos, na

    re-interpretao das doutrinas e costumes e na compreenso da realidade da vida

    cotidiana.

    No entanto, dizer que a mdia a grande responsvel por esse processo

    equivocar-se. A mdia uma das mediaes neste quadro de transformaes no

    cenrio religioso evanglico. A hegemonia pentecostal, o capitalismo globalizado e

    a lgica do mercado so outras que operaram na produo de um novo sentido,

    uma nova expresso cultural religiosa a cultura gospel.

    A cultura gospel revelou-se mais do que uma simples mudana no modo de ser

    cristo e sim uma estratgia de integrao modernidade e suas expresses

    hegemnicas seja o pentecostalismo, no campo religioso, ou o capitalismo

    globalizado no scio-histrico com a garantia de preservao da expresso

    cultural religiosa tradicional, j conhecida e aprovada no corao das igrejas.

  • 22

    Nessa negociao, buscam-se preservar os traos que deram forma ao jeito de ser

    cristo em suas origens no Brasil e que perpassa todos os segmentos das igrejas,

    centrado no exclusivismo religioso, no antiecumenismo, no antiintelectualismo,

    na demonizao das razes culturais brasileiras indgenas, africanas. As teologias

    da prosperidade e da guerra espiritual, o reprocessamento teofania da tradio

    monrquica de Jerusalm e o intimismo religioso dos movimentos de louvor e

    adorao so reforos a esses traos e esto presentes nos discursos e nas prticas

    das igrejas.

    No h alterao substancial do dominante no tocante interpretao e prtica

    da f. No campo sociopoltico idem, pois a cultura gospel manifesta-se como um

    fenmeno do capitalismo globalizado. Aquilo que se apresenta como novo na

    realidade das igrejas, , de fato, uma expresso do mercado. a transformao no

    invlucro e a conservao na profundidade nada mais do que o mesmo com

    tecnologia, consumo e diverso o vinho novo em odres velhos.

    Para refletir 1 Levando em conta (a) que os meios de comunicao so veculos imprescindveis na vida do mundo hoje (b) a intensa presena das igrejas na mdia eletrnica; que atitude devemos assumir como cristos/s responsveis na relao igreja-mdia? 2 - A cultura gospel fato e faz parte da vida das comunidades crists espalhadas pelo Brasil. O que pode ser reforado e o que pode ser transformado nessa expresso cultural religiosa a partir da nossa prpria prtica?

    REFERNCIAS

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    CASTRO, Clvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento; MELO, Andra

    Pereira; RAMOS, Luiz Carlos. Teologia Prtica e Linguagem: por uma

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  • 23

    CAVALCANTI, Robinson. Neoliberalismo e neomundanismo. Contexto

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