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1 AS REPERCUSSÕES DE UMA BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O CASO DA BRINCASTELO EM GOIÁS 1 Maria Clemência Pinheiro de Lima Ferreira 2 Graziela Vanessa Parreira 3 GT8 Espaços Educativos, Currículo e Formação Docente (Saberes e Práticas) RESUMO Os espaços lúdicos têm sido foco de discussão uma vez que os ambientes para o brincar têm se tornado mais escassos. A brinquedoteca garante especificidade para esta atividade. Assim, a presente pesquisa teve como objetivo principal analisar as repercussões de uma brinquedoteca comunitária do interior de Goiás na formação das crianças. Como objetivos específicos, buscamos analisar o brincar neste contexto, descrever sua organização e identificar o desenvolvimento das crianças a partir da perspectiva dos professores que se relacionam com elas na escola. As metodologias utilizadas foram: revisão bibliográfica e coleta de dados por meio de questionário aplicado a 11 professoras; análise documental e entrevista semi-estruturada com a diretora da instituição. Os resultados revelam que as crianças frequentam a brinquedoteca demonstram aspectos significativos em seu desenvolvimento e aprendizagem na escola e, portanto, esta tem relevância, no âmbito social e educacional. Palavras-chave: Brincar. Brinquedoteca. Desenvolvimento infantil. ABSTRACT Play spaces have been the focus of discussion since play environments have become more scarce. The toy library guarantees specificity for this activity. Thus, the present research had as main objective to analyze the repercussions of a community playhouse in the small cities of Goiás in the training of children. As specific objectives, we seek to analyze the act of playing in this context, to describe its organization and to identify children's development from the perspective of the teachers who relate to them in school. The methodologies used were: bibliographic review and data collection through a questionnaire applied to 11 teachers; Documentary analysis and semi-structured interview with the director of the institution. The results reveal that the children attending the toy library demonstrate significant aspects in their development and learning in school and, therefore, it has relevance in the social and educational scope. Keywords: Play. Toys. Child development. INTRODUÇÃO A partir do Renascimento, período que ficou conhecido como o da “compulsão lúdica”, o brincar começou a ser visto como instrumento de desenvolvimento de inteligência e facilitador do estudo. O brincar trazia com este período da história uma forma mais simples e prazerosa de aprendizagem, e substituía métodos escolares tradicionais (KISHIMOTO, 1999). 1 Pesquisa financiada pela Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (FUNADESP). 2 Mestra em Educação. Professora do curso de Pedagogia e Educação Física da UniEvangélica. E-mail: <[email protected]>. 3 Mestre em Educação. Professora no curso de Pedagogia e Pós Graduação da UniEvangélica. E-mail: <[email protected]>

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AS REPERCUSSÕES DE UMA BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA NO

DESENVOLVIMENTO INFANTIL – O CASO DA BRINCASTELO EM GOIÁS1

Maria Clemência Pinheiro de Lima Ferreira2

Graziela Vanessa Parreira3

GT8 – Espaços Educativos, Currículo e Formação Docente (Saberes e Práticas)

RESUMO

Os espaços lúdicos têm sido foco de discussão uma vez que os ambientes para o brincar têm se

tornado mais escassos. A brinquedoteca garante especificidade para esta atividade. Assim, a presente

pesquisa teve como objetivo principal analisar as repercussões de uma brinquedoteca comunitária do

interior de Goiás na formação das crianças. Como objetivos específicos, buscamos analisar o brincar

neste contexto, descrever sua organização e identificar o desenvolvimento das crianças a partir da

perspectiva dos professores que se relacionam com elas na escola. As metodologias utilizadas foram:

revisão bibliográfica e coleta de dados por meio de questionário aplicado a 11 professoras; análise

documental e entrevista semi-estruturada com a diretora da instituição. Os resultados revelam que as

crianças frequentam a brinquedoteca demonstram aspectos significativos em seu desenvolvimento e

aprendizagem na escola e, portanto, esta tem relevância, no âmbito social e educacional.

Palavras-chave: Brincar. Brinquedoteca. Desenvolvimento infantil.

ABSTRACT Play spaces have been the focus of discussion since play environments have become more scarce. The

toy library guarantees specificity for this activity. Thus, the present research had as main objective to

analyze the repercussions of a community playhouse in the small cities of Goiás in the training of

children. As specific objectives, we seek to analyze the act of playing in this context, to describe its

organization and to identify children's development from the perspective of the teachers who relate to

them in school. The methodologies used were: bibliographic review and data collection through a

questionnaire applied to 11 teachers; Documentary analysis and semi-structured interview with the

director of the institution. The results reveal that the children attending the toy library demonstrate

significant aspects in their development and learning in school and, therefore, it has relevance in the

social and educational scope.

Keywords: Play. Toys. Child development.

INTRODUÇÃO

A partir do Renascimento, período que ficou conhecido como o da “compulsão

lúdica”, o brincar começou a ser visto como instrumento de desenvolvimento de inteligência e

facilitador do estudo. O brincar trazia com este período da história uma forma mais simples e

prazerosa de aprendizagem, e substituía métodos escolares tradicionais (KISHIMOTO, 1999).

1 Pesquisa financiada pela Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (FUNADESP).

2 Mestra em Educação. Professora do curso de Pedagogia e Educação Física da UniEvangélica. E-mail:

<[email protected]>. 3 Mestre em Educação. Professora no curso de Pedagogia e Pós Graduação da UniEvangélica. E-mail:

<[email protected]>

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2

Ao brincar a criança tem oportunidade de vivenciar inúmeras situações, as quais

acrescentarão vivências reais. São experiências que exigem esforço físico e mental, e que

contribuem para desenvolverem habilidades motoras e cognitivas. São problematizações e

resoluções de situações que terão de ser resolvidas assim como nos “jogos da vida”, ou seja,

que envolvem escolhas e tomadas de decisões (GIMENES, 2007)

O cumprimento de regras, sociabilização, preocupação com o próximo, quebrando

a barreira do individualismo, são características vivenciadas pelas crianças durante o

momento do brincar. Por meio da brincadeira a criança tem oportunidade de conhecer a

cultura dos adultos e do mundo que está à sua volta (CARNEIRO; DODGE, 2007).

O brincar é um ato indispensável à saúde física, emocional e intelectual do

indivíduo, mas para brincar de modo efetivo, as crianças precisam de acompanhamento e

companheiros de brincadeiras, com espaço e material adequados, onde possa brincar sozinha

ou em grupo, tendo tempo para explorar o ambiente e também dar fim àquilo que iniciou, para

que possam ampliar e aprofundar suas vivências (MOYLES, 2002).

Neste sentido, a discussão sobre os espaços lúdicos é um dos focos deste assunto,

pois na atual sociedade, os espaços para o brincar têm se tornado cada vez mais restritos

devido ao crescimento das grandes cidades e ao desenvolvimento urbano, comprometendo a

segurança e a existência de lugares apropriados para tal (CARNEIRO; DODGE, 2007).

O presente trabalho teve como objetivo principal analisar as repercussões de uma

brinquedoteca comunitária do interior de Goiás na formação das crianças. Como objetivos

específicos buscamos analisar o brincar neste contexto, descrever sua organização e

identificar o desenvolvimento das crianças a partir da perspectiva dos professores que se

relacionam com elas na escola.

Caracterizou-se como pesquisa qualitativa e quantitativa e um estudo de caso,

sendo as metodologias utilizadas: revisão bibliográfica sobre as implicações do brincar e

brinquedoteca e coleta de dados por meio de questionário com perguntas abertas e fechadas

aplicado a 11 professoras que atendem crianças entre 05 na e 12 anos que participam no

mínimo há dois anos das atividades desenvolvidas na Brincastelo, todas matriculadas no

Ensino Fundamental, com a finalidade de obter dados a respeito da contribuição deste espaço

sobre aspectos voltados ao desenvolvimento integral destas crianças. Foi feita uma análise

descritiva com percentual para organização dos resultados. Outras metodologias ainda foram:

análise documental dos registros da brinquedoteca e uma entrevista semi-estruturada com a

diretora da instituição para compreensão do funcionamento desta.

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A BRINQUEDOTECA EM QUESTÃO

A brinquedoteca surge no cenário do brincar para garantir à criança um espaço

específico para isto. Muito além da ideia de um “depósito” de brinquedos, ela possui

características próprias voltadas para atividades lúdicas que influenciam definitivamente na

formação e desenvolvimento das crianças que a frequentam (SANTOS, 2002).

Segundo Hypolitto (2001), as Brinquedotecas surgiram no Brasil nos anos 80,

predominando características próprias voltadas para a necessidade de melhor atender as

crianças no que se refere aos espaços lúdicos com segurança e objetivos claros. Kishimoto

(1999), Santos (2002), Schlee (2008) registram que desde então, esta forma de vivência lúdica

vem se expandindo sendo defendida por profissionais que acreditam que o brincar é a forma

perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa para desenvolver-se

Tradicionalmente se diz que uma brinquedoteca é um laboratório criado para

brincar. Sendo assim, profissionais que ali trabalham, devem pensar, discutir, analisar e

pesquisar a repercussão do brinquedo no desenvolvimento infantil (SCHLEE, 2008).

Nestes moldes uma brinquedoteca não pode ser comparada com uma sala de aula

ou sala de reunião ou sala múltipla. Idealizá-la como uma sala que terá quatro paredes

coloridas, confeccionar alguns brinquedos e escolher um(a) “tio(a)” para cuidar de tudo, é

uma redução grosseira das suas possibilidades (SCHLEE, 2008).

Para conceituar uma brinquedoteca deve ser também analisada a finalidade

(pragmática e filosófica) para qual o edifício (espaço) vai servir. Ela deve ser concebida como

o lugar de um grupo especial. Portanto, deve exprimir uma ideia de identidade. Uma

brinquedoteca que atenda adultos e idosos deverá ter propostas e formatos específicos, assim

como uma brinquedoteca que atenda crianças ou adolescentes (SCHLEE, 2008).

Na sociedade moderna, o tempo das crianças encontra-se saturado por deveres e

afazeres, restando-lhes pouco tempo para brincar. As brincadeiras ficam por conta dos

atributos tecnológicos, nem sempre utilizados de forma saudável e construtiva. Por outro lado,

há crianças que cedo são obrigadas a trabalhar e contribuir com o sustento familiar, o que

também retira delas o tempo e a chance de brincar e fazer suas próprias descobertas.

Outro agravante é o ritmo e a rotina da sociedade atual, o qual isola as pessoas.

Embora as relações sociais tenham sido ampliadas pela mídia, há menos relações sólidas com

proximidade afetiva. As crianças acabam brincando sozinhas em seu pouco tempo livre, o que

retira delas a chance do convívio social lúdico e a vivência de inúmeras aprendizagens

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(CARNEIRO; DODGE, 2007). A brinquedoteca pode oportunizar o brincar, minimizando tais

problemas.

Segundo Cunha (2002), resumidamente os objetivos de uma brinquedoteca são os

seguintes: proporcionar um espaço onde a criança possa brincar sossegada, sem cobranças e

sem sentir que está atrapalhando ou perdendo tempo; estimular a concentração e a atenção;

favorecer o equilíbrio emocional; dar oportunidade à expansão das potencialidades;

desenvolver a inteligência criativa e a sociabilidade; proporcionar acesso a um número maior

de brinquedos, de experiências e de descobertas; dar oportunidade para que aprenda a jogar e

a participar; incentivar a valorização do brinquedo como atividade geradora de

desenvolvimento intelectual, emocional e social; enriquecer o relacionamento entre as

crianças e suas famílias, e ainda valorizar os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade.

De acordo Santos (2002), a organização e função pedagógica da brinquedoteca,

permite oferecer uma seleção de brinquedos de qualidade, enquanto sua função social

possibilita às crianças menos favorecidas usarem brinquedos que nunca antes tinham tido

acesso. Tais elementos instigam o respeito, limites e a cooperação.

A estrutura de uma brinquedoteca pode se dar de diferentes formas, dependendo

de cada realidade e dos objetivos específicos que se pretende. Neste sentido, vários modelos

de brinquedoteca vêm surgindo: escolar, comunitárias, hospitalar e ambulante.

A brinquedoteca comunitária, de acordo com Santos (2002), configura-se como

um espaço lúdico que oferece oportunidade para as crianças brincarem livremente, tendo

acesso a brinquedos e oficinas de atividades artísticas, porém, cada iniciativa organiza-se e

oferece atividades de acordo com a própria realidade, atendendo, na maioria das vezes

crianças de classes mais baixas e menos favorecidas na sociedade.

Uma brinquedoteca necessita de espaços para exploração das alternativas lúdicas

e para vivência. É essencial determinar qual grupo será favorecido e quais atividades serão

desenvolvidas em cada local. A organização ideal de uma brinquedoteca deve garantir

espaços para o maior número possível de atividades diversificadas com uma estrutura, com

locais abertos e fechados para a livre expressão das crianças; acompanhamento de

brinquedistas e assessoria para o desenvolvimento destas atividades (ALMEIDA, 2002).

A brinquedoteca é o espaço que Schlle (2008, p. 64) chama de “espaço qualificado: ...

como pensar numa porta como local de encontro, não apenas como simples passagem”.

Portanto, é essencial refletir sobre este espaço lúdico e suas repercussões em uma tentativa de

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analisar como o brincar explicitamente nele contido, pode influenciar no desenvolvimento

integral das crianças e na aprendizagem escolar das mesmas.

A BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA DE NERÓPOLIS – BRINCASTELO

O diferencial de uma brinquedoteca comunitária é o atendimento das crianças de

classes populares menos favorecidas, que buscam neste espaço, o que não encontram na rua

ou em instituições formais. Este ambiente se torna uma oportunidade de contato com a

diversidade de brinquedos, mas configura-se também como oportunidade de convívio

harmônico e respeito mútuo com outras pessoas (SANTOS, 2002).

A Brincastelo – Brinquedoteca Comunitária que localiza-se em Nerópolis, interior

do Estado de Goiás, nasceu da iniciativa de pessoas que lutam por espaços lúdicos. Esta foi

inaugurada em novembro de 1996, pela Prefeitura de Nerópolis, contando também com o

apoio de recursos vindos da Itália. Conforme folder explicativo da Brincastelo (2009), uma

revista italiana publicou um artigo sobre o funcionamento desta briquedoteca enfatizando sua

importância. De acordo com este documento e com o depoimento da diretora e fundadora da

brinquedoteca, a primeira grande quantidade de brinquedos que a Brincastelo recebeu, foi um

contêiner vindo da Europa, doados pela parceria feita com a AMI - Amigos em Missões

Indianas. Foi construída utilizando todo o espaço físico de uma praça no centro da cidade.

Portanto, possui ampla área verde com árvores por todo pátio.

O nome Brincastelo corresponde à estrutura física da entrada e aos muros que

cercam o espaço. Ambos simulam o formato de um castelo. Na entrada existem duas torres,

nas quais funcionam duas salas: a secretaria e a sala da diretora.

Constam da estrutura física geral: uma cozinha onde são preparados os alimentos;

uma área de lanche para as crianças; um pátio espaçoso em que são realizadas atividades

recreativas; banheiros; sala de brinquedos onde as crianças podem brincar utilizando jogos

educativos, de tabuleiro, pedagógicos, carrinhos, bonecas, bichinhos de pelúcia e ferramentas

que simulam profissões; sala de oficinas onde são realizadas atividades artesanais para

crianças a partir de nove anos e também adultos e idosos que se matriculam para oficinas

específicas (pintura em tecido, bijouterias, biscuit, bordado em vagonite, em pedraria e

culinária); uma casinha de alvenaria que simula uma casa de bonecas, local exploração de

jogo simbólico; uma sala de costura onde são confeccionadas fantasias e ainda um anfiteatro

em formato de arena onde acontecem as aulas de dança e teatro em que são realizadas

Page 6: AS REPERCUSSÕES DE UMA BRINQUEDOTECA …

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reuniões e eventos; “sala de fantasia”, atrás na coxia do anfiteatro onde são armazenadas as

fantasias utilizadas pelas crianças da brinquedoteca em apresentações de dança; play ground,

que no momento está desativado com brinquedos de madeira.

A Brincastelo oferece 300 vagas para crianças a partir de três anos de idade e

atende em sua maioria, as crianças de escolas ligadas à rede municipal de Nerópolis. Funciona

de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h.

De acordo os documentos de registro4, a proposta da Brincastelo estabelece os

seguintes objetivos: proporcionar um espaço saudável para o brincar; valorizar o brinquedo e

o brincar como “fenômenos sérios” e fundamentais no processo educativo e de

desenvolvimento integral e holístico da criança; aproximar a criança da arte e da cultura,

aspectos intimamente ligados ao lúdico; cultivar afetividade, sensibilidade, espontaneidade e

criatividade; elaborar formas de apropriação do conhecimento de diversas ordens, para a partir

daí, construir a identidade cultural das crianças; desenvolver nas crianças, vários processos

mentais como linguagem, memória, imaginação, pensamento, expressão e concentração.

Crianças com a idade entre de três e seis anos podem se matricular na Brincastelo.

Há opções no programa para todos os dias da semana, meio período, período integral, ou em

dias alternados. As atividades dos dias alternados se referem basicamente às oficinas. Para o

funcionamento das atividades são formados grupos de no máximo 25 crianças por faixa etária.

A rotina de atividades consta de acolhida no início do período com música ou

roda de conversa e em seguida uma atividade lúdica dirigida. Logo depois as crianças têm um

período de brincadeiras livres supervisionadas por agentes educativas que trabalham com as

crianças. Há também o momento do lanche, oferecido pela Prefeitura de Nerópolis, seguido

das aulas de teatro e dança.

As professoras planejam e executam as atividades sistematicamente; já as agentes

educativas auxiliam-nas. Mas há também a professora de Artes e uma costureira.

Os principais projetos da Brincastelo são: o Clubinho Ambiental, o Sarau

Cultural, o Festival Interno e as atividades que partem de temas geradores, na maioria das

vezes, ligadas à literatura envolvendo música e poesia. A equipe planeja reuniões de pais e

ocasiões para apresentar o que desenvolvem ali. O calendário segue a Secretaria de Educação.

4 Projeto Brinquedoteca Pública Municipal Brincastelo. Nerópolis, 2009.

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BRINCASTELO: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES

A primeira questão visou investigar junto a cada uma das professoras se elas

tinham conhecimento da brinquedoteca da cidade. Observamos que todas conheciam. Neste

sentido, pudemos comprovar que a direção da Brincastelo procura divulgar o espaço e as

atividades em toda a comunidade. A população da cidade local é de aproximadamente 24.210

habitantes (entre a zona rural e a zona urbana)5, e segundo depoimentos da direção, pessoas e

instituições como, por exemplo grupos de universidades, vêm de outros lugares para

conhecer a brinquedoteca. Tal fato indica que este local é conhecido da maioria da

população, e tem se tornado um referencial na região em que se encontra.

A tabela 01 mostra dados sobre o conceito que as professoras possuem com

relação às finalidades de uma brinquedoteca. Esta foi uma questão na modalidade aberta,

portanto as respostas foram agrupadas conforme a proximidade das palavras e de acordo com

o sentido da escrita de cada sujeito. Das entrevistadas, uma não respondeu, representando

9,1% do total de professoras; seis delas, representando 54,5% das respostas, responderam que

a brinquedoteca é um lugar lúdico com função educativa e quatro, representando 36,4%

responderam o mesmo, acrescido da função educativa, recreativa e artística.

Tabela 01: Conceito/finalidades da brinquedoteca

Classificação Frequência Porcentagem (%)

- Não respondeu 1 9,1

- É um lugar lúdico com função educativa 6 54,5

- É lugar lúdico com função educativa,

recreativa e artística 4 36,4

Total 11 100

Fonte: Autoria (2017).

As respostas condizem com a proposta de trabalho da brinquedoteca e

consequentemente com os tipos de atividades que são desenvolvidas ali. O fator ludicidade é

o principal, pois é inerente ao papel da brinquedoteca, mas as professoras compreendem que

existe implicitamente também uma função educativa.

Se nos remetermos aos conceitos de espaços educativos, deparamo-nos com o

que a literatura classifica como espaços formais e espaços não formais de educação. Os

5 Dados do IBGE (2013). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=521450&

search=goias|neropolis>.

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espaços formais caracterizam-se como o tipo de educação organizada sistematicamente, em

sequência hierarquizada, a qual se dá especificamente no espaço escolar.

É a educação que ocorre nas instituições regidas pelas leis educacionais do país no

espaço físico chamado de escola, com todas as suas dependências. Já a educação não formal

segue também uma estrutura e uma organização, diferentes da escola e pode até sugerir uma

certificação, mas diverge da educação formal pelo fato de não fixar tempos e locais, bem

como pela flexibilidade de adaptação das diversas aprendizagens (BARZANO, 2008).

Assim, é possível compreender a educação não formal como qualquer tentativa

educacional organizada que, normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de

ensino. Neste sentido, a brinquedoteca pode ser classificada como um ambiente não formal

de educação, o que foi indicado pelas professoras participantes.

Uma observação interessante sobre a educação não formal é que:

Enquanto na educação formal quem educa é o professor, na educação não

formal, o grande educador é o outro, aquele com quem interagimos ou nos

integramos (...). As escolas são os espaços territoriais da educação formal.

Por outro lado, na educação não formal, os espaços educativos localizam-se

em territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e

indivíduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde há processos

interativos intencionais. (GOHN, 2006, p. 29 apud BARZANO, 2008, p. 2).

Segundo Bianconi e Caruso (2005), o sucesso das iniciativas de educação não

formal nos leva a acreditar que este tipo de ensino tem ainda um enorme potencial a ser

explorado no que diz respeito à capacidade de motivar os envolvidos em diferentes

aprendizagens, valorizando suas experiências anteriores e desenvolvendo a criatividade.

Um exemplo neste sentido é o que se observou no ambiente da brinquedoteca.

Ali as crianças têm liberdade para brincar e são estimuladas quanto ao desenvolvimento da

criatividade. Contam suas histórias, ouvem as dos colegas. Interagem naturalmente com as

brinquedistas que estão ali como orientadoras nos diferentes momentos das atividades. O

respeito ao próximo, respeito às regras em grupo, o incentivo às atividades coletivas com

tarefas em equipe são alguns dos elementos explorados neste ambiente e que se configuram,

portanto como parte da educação não formal. As crianças sempre são orientadas quanto à

responsabilidade de guardar e organizar todos os objetos utilizados. Aspectos desta natureza

indicam a função educativa da brinquedoteca a qual pode contribuir significativamente na

formação de um cidadão responsável, que sabe conviver de forma saudável em sociedade.

Page 9: AS REPERCUSSÕES DE UMA BRINQUEDOTECA …

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As professoras ressaltaram nas respostas os conhecimentos artísticos adquiridos

por meio das oficinas. Estas revelam o artesanato local e as marcas da cultura. São

expressões que nem sempre podem ser vivenciadas e elaboradas na escola e que se

configuram como conhecimentos adquiridos por meio de uma educação não formal.

A tabela 02 demonstra os dados da terceira questão feita às professoras, a qual diz

respeito à indicação ou não da brinquedoteca para outras famílias. Nove das entrevistadas,

representando 81,8%, responderam que indicariam a outros que matriculassem o filho na

Brincastelo e duas professoras, representando 18,2% do total, afirmam que não indicariam.

Tabela 02: Conselho sobre a brinquedoteca para outras famílias

Classificação Frequência Porcentagem (%)

-Indicaria para matricular o filho 9 81,8

-Não indicaria para matricular o filho 2 18,2

Total 11 100

Fonte: Autoria (2017).

Como a maior porcentagem assinalou positivamente, percebe-se que a maioria

destas professoras compreende que a brinquedoteca pode contribuir para a formação das

crianças e há possibilidades, portanto, desta ser um aliado na tarefa de educá-las, o que nos

remete às considerações feitas sobre a educação não formal.

A seguir foi feita uma pergunta aberta referindo-se à justificativa da questão

acima sobre os motivos pelos quais aconselhariam ou não outras famílias a matricularem

seus filhos na brinquedoteca. As palavras foram agrupadas para descrição dos resultados. As

duas professoras que não indicariam, justificaram que o ambiente físico é inapropriado e a

proposta de organização das atividades deixa as crianças muito ociosas (“soltas”); as oito

professoras que indicariam a matrícula justificaram que o ambiente pode contribuir

significativamente para a aprendizagem, e desta forma ajuda para que a criança preencha seu

tempo livre de forma criativa e prazerosa; e uma professora justificou que indicaria porque

este espaço lúdico fortalece a comunidade.

Supostamente, um dos aspectos é que a estrutura física da brinquedoteca

apresenta pontos de fragilidade em termos de estética e segurança. Itens como pintura do

ambiente; reforma de salas e mobiliário, dentre outros, indicam necessidades de constante

manutenção. Além disto, o espaço do parque (play ground em madeira), por ser muito

antigo, estava deteriorado e ficou por muito tempo comprometido, com acesso proibido, pois

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havia riscos de acidente. Recentemente foi desmontado e retirado do local, onde há

indicações de que outro seja construído. Tais aspectos marcam de forma negativa a imagem

da estrutura física a qual pode prejudicar a aceitação do espaço por parte da população.

As críticas das professoras que assinalaram que o local é inapropriado podem

estar pautadas em alguma experiência ou relato de acontecimento desagradável, uma vez que

utilizaram a expressão “soltas”. Não deixam claro na resposta, a que exatamente atribuem

esse problema, apenas afirmam que “as crianças ficam muito ociosas, deixando a desejar”.

Na concepção de Kishimoto (1999) a criança não fica ociosa em seu tempo livre,

na verdade ela brinca, joga e elabora atividades simbólicas. Moyles (2002) também se refere

a tal manifestação lúdica e afirma que, por meio do brincar livre, exploratório, as crianças

aprendem alguma coisa sobre situações, pessoas, atitudes e respostas, materiais, dentre outros

elementos. Para as autoras, independente da manifestação do brincar, dirigido ou espontâneo,

é possível compreender que a ação educativa está presente em qualquer uma das situações.

POSSÍVEIS DIFERENCIAIS NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS DA

BRINCASTELO

Os dados e análises a seguir referem-se a aspectos específicos das 18 crianças que

frequentam a Brinquedoteca há no mínimo dois anos. Depois do questionário acima, os

professores responderam questões sobre cada uma das crianças, seus alunos matriculados no

Ensino Fundamental, fornecendo dados a respeito do desenvolvimento e formação destes.

A tabela 03 registra os resultados da questão quanto aos aspectos que se

destacam nas ações de convívio em sala de aula. Diante das alternativas, duas professoras,

representando 11,1% dos entrevistados assinalaram a opção de que seus alunos que

frequentam a brinquedoteca demonstram facilidade no relacionamento com outras crianças e

adultos; sete dos professores, representando 38,9% do total, assinalaram até três opções e

oito professores, representando 44,4% do total, assinalaram mais de três alternativas. As

mais assinaladas foram as opções 3,5 e 6, as quais traziam as seguintes afirmações: possui

iniciativa para resolver problemas; tem facilidade de expressar-se publicamente e demonstra

facilidade em expressar suas opiniões. Uma das professoras não assinalou nenhumas das

alternativas, representando 5,6% do total de entrevistadas.

Page 11: AS REPERCUSSÕES DE UMA BRINQUEDOTECA …

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Tabela 03: Aspectos que se destacam nas ações de convívio das crianças em sala

Classificação Frequência Porcentagem (%)

- Nenhuma alternativa 1 5,6

- Demonstra facilidade no relacionamento com outras

crianças e adultos 2 11,1

- Assinalaram até 03 opções. 7 38,9

- Assinalaram mais de 04 opções 8 44,4

Total 18 100

Fonte: Autoria (2017).

É interessante observar que dentre os objetivos da brinquedoteca, a literatura

apresenta itens que se relacionam diretamente ao desenvolvimento de habilidades como as

assinaladas acima. Cunha (2002) afirma que as possibilidades das relações interpessoais no

ambiente da brinquedoteca favorecem o equilíbrio emocional e dão expansão às

potencialidades da criança.

Nesse sentido, compreende-se que as experiências ali vividas envolvem aspectos

emocionais e sociais e que, no estudo desta realidade, as crianças que a frequentam no

mínimo há dois anos, destacam–se no desenvolvimento de habilidades relacionais e de

linguagem, ou seja, comunicar-se publicamente e expressar suas opiniões. Santos (2002) cita

que a brinquedoteca é um ambiente onde a comunicação e a expressão são estimuladas nas

atividades lúdicas, o que ficou evidente na visão das professoras.

A tabela 04 registra os resultados de outra questão respondida pelos professores:

como cada criança é vista quanto a seu comportamento geral na escola. Das crianças avaliadas

por seus professores, quatro delas, ou seja, 22,2% apresentam comportamento exemplar,

sempre elogiado também por outros professores; 12 crianças, representando 66,7% do grupo

analisado, comportam-se normalmente como as outras crianças e duas crianças, ou seja,

11,11% delas são citadas como referência negativa em relação a outros alunos.

Tabela 04: Quanto ao comportamento geral demonstrado pela criança (seu aluno)

Classificação Frequência Porcentagem (%)

- Exemplar, sempre elogiado 4 22,2

- Comporta-se normalmente como as outras

crianças 12 66,7

- Citado como referência negativa em relação

aos outros alunos 2 11,1

Total 18 100

Fonte: Autoria (2017).

Page 12: AS REPERCUSSÕES DE UMA BRINQUEDOTECA …

12

Convencionalmente, compreende-se uma criança de comportamento exemplar

aquela que não apresenta constantes atitudes maldosas e de desentendimentos com os colegas,

que não se faz necessário chamar sua atenção o tempo todo com relação a conversas paralelas

ou mesmo quanto a inquietudes nos momentos que deve se dedicar aos estudos e tarefas.

Na percepção das professoras, quatro crianças têm comportamentos considerados

“modelos”, mas no geral, a maioria não as surpreende, ou seja, não são crianças que

necessitam repreensão constante, por isso são consideradas “normais” no que diz respeito ao

que se espera delas na escola, na relação com o outro e diante dos desafios dos estudos.

Tal fato sugere um elemento interessante: tais crianças têm tido a oportunidade de

desenvolver a capacidade de equilibrar os momentos de estudo e tarefas com momentos de

ludicidade, demonstrando uma organização interna mais centrada e equilibrada, elementos

que são discutidos a partir de Luckesi (2002).

“[O] ato lúdico propicia uma experiência plena para o sujeito” (LUCKESI, 2002,

p. 2). Este considera que as atividades lúdicas são essenciais para conduzir a pessoa à

consciência de si mesmo, pois exige simultaneamente do corpo e da mente. Valoriza a

abordagem terapêutica e trata da atividade lúdica como experiência profunda do indivíduo.

Tais considerações trazem à reflexão sobre viver plenamente as experiências

lúdicas, as quais ajudarão a equilibrar as emoções, sentimentos, inteligência e ritmo pessoal,

na obtenção de uma organização e um equilíbrio interno diante vários fatores que nos cercam.

A tabela 05 registra os resultados da questão respondida pelos professores quanto

ao valor da brinquedoteca para seu aluno. A partir das alternativas apresentadas, uma

professora, ou seja, 5,6% do total, afirmou que a brinquedoteca é importante por proporcionar

lazer ao aluno; uma, representando 5,6% das respostas assinala que é importante por não

deixá-lo ocioso nas ruas; 16 professoras, o equivalente a 88,9%, assinalaram a alternativa que

envolvia estes mesmos itens acrescentados de fatores que contribuem para o desenvolvimento

integral da criança.

Dentre as alternativas, havia uma opção que indicava a negação deste espaço, ou

seja, que se a criança não frequentasse tal ambiente, não faria diferença alguma em seu

desenvolvimento. Nenhum dos professores assinalou esta opção.

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13

Tabela 05: Quanto à importância da brinquedoteca na vida da criança (seu aluno)

Classificação Frequência Porcentagem (%)

- É importante por proporcionar lazer 01 5,6

- É importante por não deixá-lo com tempo ocioso 01 5,6

- É importante por não deixá-lo ocioso, por

proporcionar lazer e por contribuir com o

desenvolvimento integral da criança.

- Não faria diferença se ele não frequentasse

16

0

88,9

0

Total 18 100

Fonte: Autoria (2017).

Os resultados desta questão contribuem para uma análise sobre o valor que as

professores dão a este espaço lúdico em sua comunidade. Percebe-se que elas compreendem a

brinquedoteca como parceira na formação das crianças, e que ali há possibilidades de

desenvolvimento integral. Neste caso, baseiam-se nas observações junto às crianças que

frequentam e que não frequentem a brinquedoteca.

Afirmam que esta oportunidade tem contribuído significativamente para o

desenvolvimento de algumas de suas crianças que, afinal, demonstram aspectos diferenciais

em relação a outras. Não se deve atribuir tal desenvolvimento apenas ao fato de as crianças

frequentarem a brinquedoteca, mas acredita-se em uma parcela de contribuição positiva neste

caso, pois a porcentagem de professoras que assinalaram sobre a importância deste espaço foi

significativa.

Paralelamente ao questionário, foi solicitado aos pais das crianças em questão, o

boletim de notas escolares. Embora haja compreensão de que estas não revelam todos os

saberes que um indivíduo possui, ainda é uma maneira de registro formal sobre o nível de

produção de conhecimento e aprendizagem, os quais entrelaçam principalmente conceitos e

procedimentos. Estes elementos são constituídos a partir de elaborações mentais que os

indivíduos constroem por meio de estímulos e relação entre saberes (ZABALA, 1998).

Supostamente os conhecimentos adquiridos por meio da educação formal, na escola e da não

formal, por meio da brinquedoteca, podem refletir também nas notas escolares.

Nem todas as crianças, trouxeram o boletim de notas escolares. Das seis cópias

entregues aos pesquisadores, uma é do 1º ano, duas são do 2º ano, uma do 3º ano, uma do 7º

ano e uma é do 9º ano, todos do Ensino Fundamental. Dos seis boletins, apenas uma criança –

a do 7º ano - demonstrou notas um pouco abaixo da média (60 pontos). Foram valores

aproximados de 5,6 pontos em três disciplinas: Geografia, História e Ciências.

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14

A intenção dos pesquisadores era observar se as crianças que frequentam a

brinquedoteca há pelo menos dois anos, demonstram um bom nível de desenvolvimento e

aprendizagem escolar. Apesar da mostra ser reduzida, foi possível perceber que, no geral,

estas crianças têm demonstrado bom desempenho. Com exceção do caso da criança do 7º ano,

todas as outras apresentaram médias escolares superiores a 60 pontos, atingindo até mesmo o

teto de 95 pontos em variadas disciplinas.

A despeito da quantidade de boletins a que tivemos acesso, o que dificultou uma

análise mais minuciosa da aprendizagem escolar e sua relação com elementos que as crianças

desenvolvem por meio da ludicidade na brinquedoteca, entendemos que os demais dados

apontam para o alcance dos objetivos que são estabelecidos pela referida brinquedoteca.

Portanto, para além dos aspectos voltados ao lazer e para melhor aproveitamento

do tempo ocioso, estas crianças são contempladas com a possibilidade de um melhor

desenvolvimento integral. Isto é um fator significativo que contribui para com o indivíduo

como um todo, em uma concepção que não o compartimenta como na abordagem racionalista,

mas sim valoriza o indivíduo em todos os seus aspectos, dando relevância ao brincar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da pesquisa evidenciam que a brinquedoteca configura-se como um

espaço de educação não formal com repercussões positivas sobre a formação do indivíduo.

Ali os envolvidos demonstram-se motivados a diferentes aprendizagens, pois suas

experiências anteriores são valorizadas e a criatividade é desenvolvida sem imposições ou

pressões, comuns nas séries do Ensino Fundamental.

Os dados colhidos junto às professoras sobre o desenvolvimento das crianças

trazem-nos resultados significativos quanto aos aspectos das relações interpessoais,

habilidades comunicativas e expressivas; a iniciativa para resolver problemas; facilidade de

expressar-se publicamente; facilidade em expressar suas opiniões, itens mais assinalados.

Segundo elas, a maioria tem comportamentos positivos na relação com os outros, na

organização dos espaços e são consideradas “normais” no que diz respeito ao que se espera

delas no ambiente escolar. Não há nada de extraordinário com relação às notas escolares mas

o que fica evidente é o equilíbrio entre os momentos de estudo com momentos de ludicidade.

As professoras, sujeitos da pesquisa, confirmam os fatos acima e consideram que

seja válido indicar aos pais que matriculem seus filhos para frequentarem este espaço.

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Portanto, consideram que a Brincastelo se constitui como parceira na formação das crianças e

acreditam que estas são contempladas sob aspectos integrais.

Todos os dados analisados evidenciam as repercussões da Brinquedoteca

Comunitária de Nerópolis quanto às diferentes possibilidades de aprendizagem e

desenvolvimento integral das crianças que a freqüentam. Conclui-se que a Brincastelo tem

desempenhado seu papel com significativa relevância, no âmbito social e educacional,

contribuindo positivamente junto às famílias locais, particularmente na formação e

constituição dos cidadãos daquela comunidade.

Entende-se que iniciativas como esta devem ser valorizadas pelos órgãos públicos

a fim de atender as classes sociais de baixa renda, melhorando as possibilidades de

aprendizagem e formação das crianças das comunidades locais.

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estruturado para brincar. In: SANTOS, Santa Marli Pires (org). Brinquedoteca: o lúdico em

diferentes contextos. 8. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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Biologia. Ciência em Tela. Feira de Santana, vol 1, n. 1, 2008. Disponível em: <http://www.

cienciaemtela.nutes.ufrj.br/artigos/Barzano_2008_1.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2016.

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Paulo, vol. 57, n.4, outubro – dezembro, 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura

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Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, n. 24, ano VI, p.33-35, fev. 2001. Disponível em:

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experiência interna. Coletânea, Educação e Ludicidade. Ensaios. Salvador, Bahia, n. 2, p. 22-

60, 2002. Disponível em: <http://www.paralapraca.org.br/wp-content/uploads/2011/04/ludici

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MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. 3. ed. Editora

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SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 8. ed. Rio

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Marli Pires (org). Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,

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ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.