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As TICs como apoio ao processo educativo: o caso de uma escola do Paraná
Autora: Beatriz Aparecida Rocha Cruz1
Orientador: Jorge Carlos Correa Guerra2
Resumo
Mesmo com as inovações, as escolas continuam retrogradas no uso das mídias e se
baseiam apenas na fala do professor e na repetição do que foi dito por ele. Não há
como ignorar que as instituições de ensino fazem parte da atual sociedade do
conhecimento, com real participação dos recursos midiáticos na vida dos educandos.
Tal evolução leva os educadores a sair da sua área de “comodismo” e atualizar-se na
cibercultura3, pensando na mídia-educação como processo emancipatório, uma vez que
a escola não aceita que a tecnologia já faz parte do cotidiano dos seus alunos,
independente de condições financeiras, restringindo o aprendizado ao quadro negro e
ao giz: o arcadismo, que ainda é visto como uma forma de ensino (ainda que sem
muitas vantagens, nos dias de hoje). Dessa forma, utilizando as TICs – Tecnologias de
1 Professora da rede pública de ensino do Estado do Paraná há 15 anos, formada em Letras pela PUC-PR e Artes
Visuais pela FAP-PR. Concluiu sua especialização em Interdisciplinaridade na Educação Básica. Foi gestora de escola pública dos anos iniciais do ensino fundamental durante seis anos e está concluindo o PDE 2010 em Gestão Escolar. 2 Especialista em Engenharia de Produção (UFSCar), Especialista em Gerência e Manutenção (FAAP), Mestre em
Educação - Linha Metodologia de Ensino (UNICAMP), Free Docent in Business Administracion (WU). Membro da Associação Brasileira de Inteligência Competitiva e da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. Membro de diversos conselhos editoriais. Professor das disciplinas Planejamento Estratégico, Gestão do Produto e Economia Empresarial da UTFPR, Curitiba/PR – Orientador PDE/2010 3 A cibercultura é o nome que recebe a interação sociocultural da sociedade, baseada nas novas tecnologias de
comunicação, como a internet, por exemplo. Surgiu com a relação da tecnologia e da modernidade, com a necessidade de um meio de comunicação mais rápida e eficiente.
2
Informação e Comunicação -, a escola assume seu papel de formadora de opinião e
cidadania, auxiliando seus alunos a lidarem com as ferramentas tecnológicas
disponíveis de forma que possam ser úteis não apenas socialmente, mas que seu uso
ofereça apoio no estudo. Além disso, ao fornecer tal suporte, se aproxima da realidade
dos seus alunos, virtual e fisicamente. O aluno que vê seus interesses inseridos na aula,
tende a prestar atenção e concentrar-se naquilo. O interesse dos alunos, ao terem
contato com a internet na escola, por exemplo, mostra a eficácia da utilização dessas
tecnologias.
O presente artigo procura apresentar possibilidades para um novo processo educativo,
com o apoio das TICs que as escolas estaduais dispõem, através da criação de um
blog onde professores e educandos possam interagir, em prol da melhoria da qualidade
do processo de ensino e aprendizagem da escola pública, participando ativamente da
contemporaneidade midiática em que vivemos.
Palavras chave: mídia-educação, TIC, blog, escola pública.
1-INTRODUÇÃO
Vivemos na era pós-industrial, onde o trabalho físico é feito pelas máquinas e o
mental, pelos computadores. Nela, cabe ao homem uma tarefa para a qual é
insubstituível: ser criativo, ter idéias.
Devido a isso, esta era também é conhecida como a era da Informação e do
Conhecimento. Tem seus prós e contras, pois ao oferecer ao homem a chance de
3
globalização, tendo acesso num só dia a um número equivalente de informações que
um sujeito teria durante toda a sua vida na Idade Média, também torna o seu cérebro
uma verdadeira esponja, onde a informação entra num momento e, já descartável, é
atirada ao lixo da memória logo em seguida. As pessoas estão expostas ao estresse
informativo, recebendo esse bombardeio desordenado, sem ter controle sobre isso e
sem saber como se proteger, ou pelo menos, selecionar as informações de forma
correta.
A globalização abre a vida das pessoas à cultura e a toda a sua criatividade, com
grande fluxo de idéias e conhecimento, o que torna inquietante a vida de todos os que
compartilham deste momento do mundo moderno.
Como argumenta Anthony McGrew (1992), a globalização se refere àqueles
processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais,
integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de
espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado.
Para acompanhar este novo processo de desenvolvimento do mundo onde os
serviços e a criatividade são essenciais, o capital humano é representado pelo conjunto
de capacitações que as pessoas adquirem através da educação, por isso esta
sociedade também é chamada de sociedade do conhecimento.
Portanto, o papel da educação neste momento é fazer com que os alunos
pensem, se transformando uma grande central de idéias.
Segundo Lévy, no século XX, o surgimento dos meios de comunicação de massa
provoca não só a imensa ampliação do mercado cultural, como também transforma
seus usos e significados atribuídos aos bens simbólicos. Mudam os públicos, as
linguagens, as relações, os usos, mas de certa forma, é através da cultura e
principalmente através dos produtos oferecidos pelo mercado, que se elaboram
conceitos, valores e modelos cujo papel fundamental é mediar a socialização dos
indivíduos e, mais do que isso, propor aquilo que, com Foucault, podemos chamar de
modos de “subjetivação”. (1999, p. 262)
4
Segundo PIAGET:
“... ao assimilar assim os objetos, a ação e os pensamentos são obrigados a
acomodar-se a eles, isto é, a reajustar-se a cada variação exterior. Portanto, ao
aprender a linguagem digital e o seu funcionamento, o aluno reorganiza seus
conhecimentos e absorve esse universo, assimilando novas formas, novos
objetos e reajustando-se a cada variação exterior, interagindo com o discurso do
outro.” (PIAGET, 1978, p.18)
Se ao professor, em seu cotidiano, são exigidas as habilidades de observar,
refletir e expressar o cotidiano, esse tem, no desafio técnico, a busca do
aperfeiçoamento das narrativas e o uso dos recursos tecnológicos disponíveis na
escola.
Nas sociedades modernas, em que os meios de comunicação interferem
diretamente na formação/deformação das pessoas, sejam elas crianças, jovens ou
adultos, não há mais como negar a importância de pesquisas integradas entre esses
dois campos de estudos para se chegar a resultados mais eficazes nos procedimentos
pedagógicos nas escolas.
Há muito tempo a escola está baseada apenas na fala do professor e na
repetição do que foi dito por ele. Paulo Freire criticou intensamente esse modelo
educacional, dizendo que a educação não se faz de cima para baixo, mas em conjunto,
com os professores criando possibilidades para a própria produção ou construção
Na atualidade fala-se tanto em comunicação e tecnologia que o mundo se
depara a cada segundo com uma novidade a ser presenciada: pendrives, MP3,
notebooks, smartphones, tablets... A cada segundo uma nova tecnologia surge e faz
com que as pessoas se tornem suas dependentes e suas consumidoras.
A verdade é que toda essa inovação trouxe às pessoas uma nova maneira de
relacionamento e comunicação entre si, as chamadas TICs, que surgiram em meados
do século XX, com os meios de comunicação em massa, e hoje ocupam grande espaço
na sociedade.
5
Em virtude disto, não há mais como escapar das TICs também em sala de aula,
pois os próprios alunos as dominam cada vez melhor e mais rapidamente, ávidos
consumidores das novidades oferecidas pela atual sociedade consumista que
enfrentamos
O Gestor e sua equipe passaram a se tornar elementos dinâmicos e flexíveis em
suas ações durante todo o processo de capacitação e criação de um blog através dos
recursos midiáticos ofertados pelo Governo do Estado, mais especificamente o
Laboratório de Informática do Programa Paraná Digital, que adota o Linux como
sistema operacional.
Com a criação do blog para um Colégio Estadual de Curitiba, tornou-se possível a
aproximação virtual dos alunos com a Instituição, agora vista como participante da atual
era cibernética que a sociedade enfrenta.
2-“A INVENÇÃO DO NAVIO É A INVENÇÃO DO NAUFRÁGIO” 4
O que essa frase sugere é que a tecnologia traz uma potencialidade trágica em
si, ou seja, os recursos midiáticos não são bons ou ruins, mas tudo dependerá do uso
que se faz deles (FREIRE, 2011).
A princípio, segundo FREIRE (2011) não basta à escola apenas a
disponibilidade dos recursos midiáticos, sem que os profissionais da educação
entendam as transformações e os processos produzidos pelas tecnologias, que sempre
geraram desigualdades.
O modo como deve ser considerado o aparato midiático das escolas é o de
tecnologia educacional, que possibilita aos educadores a sua utilização no processo
pedagógico, sendo vista como estímulo à colaboração e à interatividade. O professor
passa a ser um estimulador, um coordenador e parceiro no processo de ensino e
aprendizagem, deixando de lado apenas a transmissão de conhecimentos fragmentada
em disciplinas (FREIRE, 2011).
4 Título retirado do livro “Tecnologia e Educação: as mídias na prática docente”.
6
Nos dias atuais, os professores enfrentam uma nova sociedade do conhecimento
que requisita a necessidade da comunicação imediata através da cibercultura, criando
um ambiente de aprendizagem presencial e on-line baseada na interação, no
compartilhamento e na acessibilidade virtual, distanciando-se cada vez mais da
Pedagogia de Transmissão (FREIRE, 2011).
Não há como negar os efeitos nocivos da televisão sobre as crianças (exibição
de cenas inadequadas em horário em que crianças podem estar assistindo, conteúdo e
vocabulário inadequado para um programa infantil, a liberdade que a televisão
demonstra com seus programas e modo de tratar os acontecimentos da sociedade), da
manipulação das informações pelos jornais e rádios ou do excessivo repertório de
bobagens da Internet, mas isso faz parte da evolução da humanidade, que junto
consigo provocou a evolução das comunicações de massa.
A maioria das pessoas hoje, independentemente da idade ou posição social, tem
acesso ou participa das redes sociais existentes como: o facebook, o twitter, o MSN ou
o e-mail, entre outros.
As pessoas se acostumaram a manter contato permanente e isto torna possível
o domínio e a atualização com relação a qualquer informação ou acontecimento em
qualquer parte do mundo, fazendo com que as pessoas estão usem e abusem dessa
capacidade que a tecnologia lhes permite, muitas vezes não percebendo que isto gera
uma solidão cibernética em suas vidas.
O domínio da língua verbal dá lugar ao domínio da informação e não são
somente os jovens que colecionam amigos interagindo nas redes de relacionamento,
pessoas de todas as idades estão se associando às redes em números cada vez
maiores. Mais de dois bilhões e meio de fotos são postados a cada mês no facebook,
segundo um artigo da Revista Carta na Escola, o que prova que a internet se tornou a
melhor maneira de ocupar o tempo de todo o ser humano.
A criação do Twitter, que permite a escrita de mensagens curtas e
aparentemente sem importância de 140 caracteres, atraiu 58 milhões de visitantes
7
somente no ano de 2009, o que demonstra que a participação das pessoas na
utilização da internet não é de agora, pelo contrário, vem se ampliando a cada ano.
O domínio da informação sempre foi essencial para a manutenção de qualquer
estrutura que não leve em conta os preceitos democráticos de qualquer sociedade.
Sempre alguém que deseja o poder estará mascarando as informações.
Para FREIRE (2011), atualmente, com a Internet de alta velocidade, celulares
com câmera e gravador de voz para registrar mais de 50 horas de conversa,
impressoras a laser, tudo isto com valores acessíveis às camadas médias e até baixas
da população, os meios de comunicação tem a oportunidade de deixar de ser
monopolizados apenas por alguns.
No dia a dia do trabalho escolar, as redes sociais ainda são olhadas com
desconfiança, uma vez que a escola e seus profissionais não podem se dar ao luxo de
dedicar seu tempo à navegação.
As crianças e jovens, públicos alvo das redes sociais, têm exercitado cada vez
mais sua socialização on-line, principalmente através dos jogos virtuais que podem ser
acessados simultaneamente em todo o mundo, inclusive em outros idiomas como inglês,
por exemplo.
Ao trazer para o ambiente escolar essas práticas que já são realidade em casa, a
escola cria a possibilidade de reflexão sobre as formas adequadas para a interação
nesses ambientes, os melhores modos de se apresentar e falar sobre si no mundo
digital, os limites entre exposição e privacidade, as responsabilidades na escolha das
relações e na seleção dos sites a serem freqüentados. Ainda abre uma ótima
oportunidade para apontar as expectativas do uso das redes para as atividades com
fins bem definidos e o grau de profundidade que se espera de cada aluno com esse
envolvimento virtual.
Para o sistema educacional a possibilidade de melhoria no processo de ensino e
aprendizagem é grande, já que os profissionais da educação e os alunos têm imenso
acesso a estes meios de produção de conteúdos de mídia. Os novos meios de
8
comunicação que estão surgindo já oferecem uma grande capacidade de interação
entre o produtor do conteúdo e o público a que se direcionam.
Sites e blogs são os melhores exemplos, pois a participação de quem recebe a
mensagem é o elemento que constitui a própria mensagem. Não há sentido no post de
um blog sem que ele tenha espaço para comentários dos leitores daquele blog, que
poderão gerar outro post e assim sucessivamente, em uma velocidade cada vez maior.
Sem falar da TV Digital que possui mecanismos disponíveis ao público para que
modifiquem cenas de um programa ou enviem mensagens instantâneas para um
determinado programa.
Este aprendizado das mídias para a educação é essencial, pois os alunos, cada
vez mais jovens, aprendem a se relacionar de forma interativa com as mídias – do
vídeo game aos desenhos animados. Logicamente, ao crescerem, dificilmente
aceitarão outro tipo de relacionamento.
A Educomunicação, pedagogia abordada neste projeto, veio para explicitar o
papel da comunicação na formação dos professores, é um novo modelo educacional
tendo o professor como mediador dos conhecimentos, valorizando a participação e os
conhecimentos prévios dos alunos, buscando, portanto, através das mídias, a busca de
mais conhecimentos sobre determinado tema (JAQUINOT).
Criada em 1987 por Mario Kaplun, a palavra Educomunicação incorporou novos
significados ao chegar ao Brasil, sendo que aqui foi Ismar de Oliveira Soares que
esclareceu o tema e o levou às escolas. Para ele, existem quatro campos de atuação
do educomunicador segundo SOARES (2000):
1) A Educação para os Meios, promotora de reflexões sobre a formação de
receptores críticos;
2) O uso e manejo dos processos de produção;
3) A utilização das tecnologias de informação e seus produtos no contexto do
ensino e aprendizagem;
9
4) A comunicação interpessoal no relacionamento de grupos.
Investigar os fundamentos desse campo, discutir as inter-relações dos vários
tipos de saberes que se fundem na Educação e na Comunicação constitui os seus
principais objetivos teóricos. O que sentem e pensam as pessoas de si mesmas, dos
outros e do mundo que as rodeia, não importando idade, sexo, credo ou condição social,
por sua vez, são os conteúdos trabalhados na Educomunicação.
Desta forma, fazendo uso do neologismo Educomunicação, a proposta é criar um
campo de pesquisa, de reflexão e de intervenção social, cujos objetivos, conteúdos e
metodologia são essencialmente diferentes, pois educando e docente se unem não
apenas para fazer postagem num blog como é sugerido, mas também criando uma
nova vivência empírica, baseada nos conhecimentos previamente proporcionados
dentro de sala de aula, levando-se em conta que os pensamentos individuais sempre
serão remetidos às ações e debates coletivos, objetivando a recepção e transmissão de
conhecimentos.
Surge, então, a chance de utilização dos recursos midiáticos da escola e do
cotidiano dos alunos como forma de intervenção social na educação e na própria
realidade da comunidade, no intento de melhorar o seu processo educativo, o seu
desenvolvimento como cidadão crítico, uma vez que terá de abrir mão de seu
individualismo para produzir coletivamente. Desnecessário dizer que este comentário
também se refere aos profissionais da educação que atuam na instituição. “O professor
é incentivado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de
alunos ao invés de um fornecedor direto de conhecimentos.” (LÉVY, 1999, p. 158)
É importante ressaltar que o conhecimento que se propõe difundir com este
projeto, não se trata meramente de informação adquirida em sala de aula, mas também,
daquilo que o próprio educando carrega em sua bagagem de vida, como conhecimento
de mundo e cidadão integrante do local onde vive.
O uso presente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa
acompanha e amplifica uma profunda interação na relação com o saber. É a transição
10
de uma educação e uma formação estritamente institucionalizada (a escola, as
universidades) para uma situação de troca generalizada dos saberes, o ensino da
sociedade por ela mesma, de reconhecimento autogerenciado, móvel e contextual das
competências. (PEREIRA, NELÔ, 1993, p. 172)
A indústria cultural da atual sociedade do conhecimento, com sua diversidade de
produtos midiáticos, por fazer parte do imaginário de alunos, professores, pais e
sociedade e também do universo cotidiano das pessoas, precisa ser incorporada ao
processo de aprendizagem numa relação crítica, em que o aprender a pensar (Pedro
Demo) seja parte integrante do aprender a aprender (Paulo Freire) para o aprender a
fazer (Célestien Freinet).
Para que este modelo tenha resultado satisfatório, é necessário que profissionais
da educação e alunos estejam preparados para decifrar as mensagens que são
enviadas através das TICs com a linguagem própria de cada veículo de comunicação.
A escola talvez seja a única esperança para uma profunda transformação na
produção dos meios de comunicação de massa atuais. É no processo de formação do
conjunto indivíduo-família-sociedade, que está a real chance de se produzir pessoas
conscientes da importância dos meios de comunicação, de como usá-los em benefício
próprio e de como não se deixar levar por estes produtos de forma enganosa (FREIRE,
2011).
Formar alunos conhecedores dos meios de comunicação e formar cidadãos que
possam criar seus próprios veículos é um objetivo que devemos perseguir diariamente
no processo escolar. Para isso, é necessário que todo o corpo escolar se direcione para
não ter mais as mídias como adversárias e sim como parceiras no processo de
aprendizado. Isso significa mudança de postura e não é a maioria que gosta e incentiva
mudanças, pois isto provoca desacomodação, coisa que a maioria das pessoas não
consegue fazer.
Para que haja uma mudança no processo educacional é necessário incentivo e
estímulo por parte dos gestores, pois haverá necessidade de qualificação dos
profissionais da educação. Sem professores capazes de lidar com as mídias, qualquer
11
investimento dos gestores em tecnologia será desnecessário. Os professores devem
antes de tudo ser qualificados para desenvolver as capacidades dos alunos na
produção e decodificação das mensagens dos meios de comunicação (BELLONI, 2001)
O rádio, o jornal, o cinema, a televisão e os chamados equipamentos da era
digital, com suas conexões com a internet, além dos vídeo-games em 3D, impõem
grandes transformações sociais e alteram profundamente os mapas cognitivos das
pessoas. São o resultado da inteligência da ciência moderna com o alargamento da
informática e com a cultura da Internet (FREIRE, 2011).
Aristóteles falava em três ambiências da sociedade grega: da vida contemplativa,
da vida política, da vida prazerosa (do corpo). Muniz Sodré acrescenta uma quarta
ambiência, referindo-se à sociedade contemporânea:
“Implica a midiatização, por conseguinte, uma qualificação particular da
vida, um novo modo de presença do sujeito no mundo (...) Partindo-se
da classificação aristotélica, a midiatização deve ser pensada como
tecnologia de sociabilidade, com uma qualificação cultural própria (a
tecnocultura)”. (SODRÉ, 2002, p.24-25)
O que se passa no mundo é representado no discurso midiático de forma global.
Qualquer projeto de sociedade e de educação deve levar em conta a mídia como
espaço público. Logicamente a mídia-educação não será a solução para a educação e
a sociedade, mas para o melhoramento destas duas instâncias é necessário que se
transforme os espectadores (pessoas) em cidadãos, no que ela pode contribuir
significativamente (BELLONI, 2001).
Na contemporaneidade, vive-se com clareza a predominância da mídia nas
atividades socioculturais. A mídia tem presença marcante no trabalho, na vida diária e
no entretenimento, com grande poder de sedução e é a segunda grande categoria de
atividade depois do trabalho, predominante nas casas. Sendo a atividade educativa,
que se realiza na escola, uma atividade sociocultural que também está exposta a esse
processo de sedução, cabe aos educadores decidir de que maneira a mídia deve ser
integrada ao processo pedagógico nas salas de aula (FREIRE, 2011).
12
É importante ajustar a prática pedagógica à contemporaneidade e repensá-la
para incluí-la no cotidiano das escolas. Assim MORAN (2001) alerta que ensinar e
aprender são os desafios maiores agora que a sociedade está pressionada pela
transição do modelo de gestão industrial para o da informação e do conhecimento.
Segundo FREIRE (2011), sabe-se que é possível interagir via Internet por meio
de quatro tipologias de rede:
a. Rede vertical, que está presente na maioria dos sites e tem como característica
“eu coloco conteúdo e você consome”;
b. Rede horizontal direta sem alteração do conteúdo original, que se encontra em
expansão e tem como característica “eu coloco conteúdo e você comenta” e está
presente em vários portais de notícias;
c. Rede horizontal indireta sem alteração do conteúdo original, que também está
em expansão e tem como característica “eu deixo você colocar e criar sua rede
horizontal simples” e permite aos usuários criar seus blogs e comunidades;
d. Rede com alteração do conteúdo original, que também está em expansão,
possui como característica “eu coloco conteúdo e você pode alterá-lo” e é
utilizada em sites como Wikipédia.
Diante da variedade de mídia disponível atualmente, o professor deve procurar
alternativas para desenvolver seu processo pedagógico sintonizado com a
contemporaneidade, como por exemplo, produzir mídia e cultura com seus alunos a
partir de suas realidades, formando não apenas consumidores, mas produtores de
mídia e cultura.
O professor precisa estar “antenado” e preparado para construir uma escola mais
crítica, ativa e autônoma, conectada com o mundo. Isto significa discutir o cotidiano
impregnado de mídia e tomar decisões que envolvam o acolhimento do novo, do
diferente.
A mídia-educação deve ser incorporada nas escolas com o propósito de formar
continuamente indivíduos éticos, críticos da sociedade, que utilizem as mídias na
perspectiva das tecnologias educacionais, com princípios voltados para os valores
13
humanos, criando um caminho de formação do cidadão com os valores da
contemporaneidade.
Estudando Paulo Freire nos tantos textos e livros que produziu, podem ser
identificadas diversas áreas do conhecimento com a democratização dos meios de
comunicação de massa. E como democratização, entende-se a possibilidade de
produção e acesso à informação por todos os cidadãos, não somente os privilegiados
ou os grandes empresários da mídia. Daí a justificativa de que as atividades realizadas
com a mídia escolar, quando executadas de uma maneira crítica, podem melhorar a
perspectiva de vida dos alunos enquanto cidadãos perante o mundo e as situações que
o afligem.
A escola no formato em que está não educa ninguém. É necessária uma reforma
no seu planejamento curricular, regenerando o público com estratégias educacionais
inovadoras e que incorporem à sala de aula os recursos tecnológicos dos quais os
alunos já dispõe. Mesmo com o crescimento de uma área cada vez mais sistematizada
e legitimada como a Educomunicação, ainda é muito alto o grau de timidez com que
suas possibilidades e orientações são absorvidas em virtude da marcha lenta com que
o processo educacional como um todo vem tentando resgatar.
A apropriação e a utilização dos recursos midiáticos, por exemplo, vem, pouco a
pouco, se materializando graças à injeção de recursos e criação de projetos na rede
pública. O empenho dos organismos administradores deve, sem dúvida, ser analisado
com todo o mérito, o problema é que enquanto as políticas públicas tentam dar conta
de um paralelismo entre escola e as TICs, os demais envolvidos com a educação
permanecem, de certa forma, inertes em suas funções.
Os meios impressos e virtuais, pelo caráter menos exigente e complexo em
termos de recursos técnicos e financeiros, certamente representam uma via possível ao
encontro dessa expectativa. O crescimento de trabalhos específicos com as mídias
existentes no ambiente educacional é a atividade mais significativa na forma de projeto
por uma educação menos sisuda e mais manejável.
14
As possibilidades reservadas para a educomunicação, a partir dos multimeios
ampliam-se a cada momento que a escola compreende os horizontes que podem ser
criados a partir do estreitamento entre as TICs e os processos de educação.
3-APRESENTAÇÃO DO PROJETO
Este projeto, a princípio pensado para a confecção de um jornal virtual foi além
do planejado e realizou-se através da construção de um blog, em plataforma acessível
pelas escolas estaduais do Paraná, através dos laboratórios 5 de informática do
Programa Paraná Digital.
A escola, na qual o projeto foi implementado juntamente com os dezesseis
professores de língua portuguesa e os alunos do segundo ano do ensino médio, conta
com uma diretora, dois vice-diretores, doze pedagogos. Possui, aproximadamente, cem
professores, trinta funcionários e 2.022 alunos, em trinta salas de aula. Além de
oferecer o ensino médio regular, o colégio oferece o ensino profissionalizante no
período noturno.
Portanto, o projeto a que este artigo se refere, pretendeu tornar a escola pública
mais acessível e atualizada aos a pensar novas formas de qualificar o processo de
ensino e aprendizagem, capacitando seus profissionais, de acordo com seus interesses
tecnológicos, através da criação de um blog, levando o Gestor e sua equipe educativa a
repensar a educação na área da mídia-educação.
Inicialmente, a gestora foi conscientizada da importância do trabalho com as
TICs existentes na escola como apoio ao processo de ensino e aprendizagem e,
também, como forma de aproximar alunos e educadores no contexto atual, onde a
tecnologia tem falado mais alto, e afastado, cada vez mais, a escola da realidade virtual
de seus educandos.
5 Programa implementado no ano de 2006, cujo objetivo era que, todas as escolas, tivessem TV Pendrive em todas
as salas de aula, e laboratórios de informática com acesso à internet.
15
A gestora e sua equipe diretiva concordaram que os alunos vivem uma solidão
cibernética, pois estão cada vez mais ligados com o mundo globalizado, e isso os deixa
mais propensos a ter dificuldades nos interrelacionamentos e na integração com seus
colegas e com os professores.
Foi discutido, também, sobre a viabilidade do projeto ser aplicado no Ensino
Fundamental, com professoras experientes, de longa carreira no magistério. A
aprovação foi unânime, pois, a possibilidade de estar expondo tudo o que a instituição
faz de positivo pela educação pública animou a todos, além da utilização da
Educomunicação que permite ao educador e ao aluno se unir não apenas pela
postagem no blog, mas também criando uma nova vivência empírica, além das paredes
da escola.
O enfoque deste trabalho poderia ocorrer em qualquer disciplina, até mesmo
porque na Internet existe conteúdo vasto para qualquer que seja o tema escolhido.
Entretanto, neste caso, foi escolhida a disciplina de Língua Portuguesa, pretendendo-se
mostrar ao aluno a eficácia da Internet como um auxiliar literário, gramatical ou qualquer
que seja o estudo, desmistificando o seu uso apenas como uma ferramenta para
“copiar e colar” na realização de trabalhos. Sem deixar de comentar o quanto aluno e
professor ampliaram seus conhecimentos no que se refere a vídeos, livros digitais,
acervo digital e gravuras ilustrativas.
Portanto, o projeto a que este artigo se refere, pretendeu tornar a escola pública
mais acessível e atualizada aos alunos, a pensar novas formas de qualificar o processo
de ensino e aprendizagem, capacitando seus profissionais da educação e seus alunos,
de acordo com seus interesses tecnológicos, através da criação de um blog, levando o
Gestor e sua equipe educativa educação na área da mídia-educação.
Este não é um projeto que ofereça resultados logo no início da sua aplicação.
Não só pela resistência de alguns profissionais aos projetos do PDE, como também
pela utilização de tecnologia, muitas vezes distante da prática dos professores mais
antigos.
16
Pelo contrário, logo no primeiro contato com as professoras, chegou-se à
conclusão de se levaria pelo menos três anos para formar boas equipes de redação
responsáveis pelas postagens no blog, com alunos conscientes e críticos da sua
importância como cidadãos neste projeto, pois se for levada em conta a rotatividade de
professores nas escolas públicas e os alunos que são transferidos para outras escolas,
deve-se considerar que quando a equipe estiver realmente capacitada, alguns
elementos deverão ser substituídos, o que significa retomar-se a capacitação.
A equipe de editoração seria formada por três alunos, escolhidos pelo professor,
obviamente pela sua responsabilidade e adequação aos objetivos do projeto, sendo
que estes teriam as funções de: editor-chefe, responsável pelo levantamento dos temas
semanalmente e tamanho dos posts, além de sua revisão ortográfica; editor de texto,
responsável pela leitura e seleção dos textos, além de seus resumos, conforme sua
postagem; editor de layout, responsável pela postagem dos vídeos, filmes e gravuras
postadas no blog, bem como a manutenção de novidades na página, mantendo
atualizados suas cores e seu formato.
Entretanto, para ser bem aproveitado, o blog deve ser um meio e não um fim. O
envolvimento dos alunos na redação dos posts é mais importante do que o blog em si,
pois isto significa que realmente se dedicaram à pesquisa. Além disso, neste processo
ocorre um trabalho interdisciplinar, que exige o uso de diversas linguagens como a
textual e a imagética, trabalhando diversos temas.
Além do mais, a temática abordada em um blog não pode ser a mesma usada
em um jornal impresso, por isso é preferível que sejam postados temas locais, como o
dia a dia na escola e acontecimentos da comunidade. Além disso, a formatação de um
texto de jornal impresso tem características próprias, como o texto alongado, inserção
de detalhes minuciosos e informações adicionais – o que não pode acontecer no blog,
porque este busca a objetividade e a coerência de forma rápida na informação.
O blog possibilita que as matérias escritas pelos estudantes sejam lidas por um
número muito maior de pessoas, de diversas localidades do mundo todo. A medida em
que percebem, por meio do contador de acessos e comentários, a repercussão do
17
conteúdo postado no blog, os alunos ficam mais atenciosos e seguros com a produção
dos posts, aumentando sua produtividade e a qualidade de suas escritas, que podem
nascer com comentários enviados por leitores.
Além dos benefícios mais imediatos, como melhora no vocabulário e na
ortografia e maior interesse pela leitura, o valor pedagógico dos blogs está no fato de
ser uma atividade descentralizada e produzida integralmente pelos próprios alunos. A
utilização da internet, também, valoriza o trabalho, já que se torna um meio de
“aparecer” diante do mundo de possibilidades.
O professor deve agir como um editor, que propõe pautas, debate os resultados,
orienta o trabalho e apresenta gêneros textuais, como artigos, crônicas e reportagens,
sem se tornar um “censor”. Esse trabalho com os gêneros textuais, além de ser útil para
o blog, se mostra importante para os alunos, que passam a produzir textos com um
objetivo (diferentemente de apenas escrever para a obtenção de nota). Segundo
Antunes:
“A atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de expressão,
(ex-, para fora), de manifestação verbal das ideias, informações,
intenções, crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com
alguém, para, de algum modo, interagir com ele. Ter o que dizer é,
portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade de escrever.”
(ANTUNES, 2003, p. 45)
Inicialmente, às professoras foram fornecidas informações atualizadas com
relação às TICs e a importância da sua utilização no processo de ensino e
aprendizagem, além de relembrá-las de algumas noções de ética e responsabilidade
social, uma vez que este projeto poderá ser acessado a qualquer hora do dia e por toda
a comunidade escolar.
Sem mencionar o quanto foi ressaltada a importância da palavra, maior
instrumento de trabalho de um educador, uma vez que estaria sendo trabalhada
justamente a questão dos meios de comunicação.
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Aproveitou-se, então, para a introdução do neologismo Educomunicação,
conhecido apenas por algumas das professoras presentes, onde se ressaltou a
defasagem que a escola pública vive em virtude do comodismo de alguns profissionais,
sem deixar de mencionar que a oferta de laboratórios de informática nas escolas, sem
capacitar os profissionais para sua utilização, está muito distante da real prática de uma
pedagogia adequada à atual sociedade do conhecimento.
O tema gerou polêmica e todos concordaram que apenas criar o blog para expor
os trabalhos realizados na escola seria perda de tempo e que o projeto não iria gerar
bons resultados a princípio, pois necessitaria do envolvimento de todos os profissionais
da escola.
A princípio, os professores participaram de uma capacitação iniciada com o
conceito de blog, neologismo que surgiu da contração do termo da língua inglesa
Weblog, ou diário da Internet. O blog tem uma estrutura que permite a atualização das
informações de forma rápida, a partir da inserção dos chamados artigos ou posts. Seu
sistema de utilização diversificada faz com que cada um desses posts seja bem variado,
com inclusão de imagens, vídeos disponíveis em outros domínios da Internet e um
leque de outras possibilidades.
Organizado de forma cronológica inversa (sempre do mais novo para o mais
antigo) e mantendo o foco na temática proposta pelo blog, possibilita, após a publicação
do artigo, que o visitante possa deixar seu comentário sobre o que foi disponibilizado no
site.
De forma geral, a utilização do blog é cabível ao objetivo, uma vez que pode ser
acessado por qualquer aparelho conectado à Internet, em qualquer lugar do mundo.
Além disso, a forma como é estruturado ajuda o aluno a desenvolver suas idéias acerca
dos temas expostos, colocando imagens que têm relação com a temática, bem como
vídeos, fragmentos de documentários e, até mesmo, links para outros sites que possam
complementar a leitura do que acabou de citar
Neste mesmo dia, além do conceito da palavra blog, onde surgiu, sua
importância na vida dos alunos pelo fato de poder ser acessado de qualquer aparelho
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que tenha conexão com a internet foram apresentadas outras palavras desta era
tecnológica como link, post, site, que puderam ser explicadas e apresentadas como
parte da realidade cotidiana dos alunos.
O segundo encontro foi realizado no laboratório de informática, onde foi
apresentada a plataforma wordpress.com, que gratuitamente facilita a criação de blogs
e pode ser acessado pelo sistema Linux, oferecido pelos computadores do Programa
Paraná Digital.
Para facilitar a apreensão por parte dos professores, apesar de todos terem um
conhecimento básico de informática, distribuiu-se um manual de orientações
detalhando passo a passo como se cria um blog e teve início o treinamento neste dia,
todos em frente aos computadores, ajudando-se mutuamente, tirando dúvidas,
questionando como poderia ser delimitado o conteúdo que os alunos escrevessem.
Para satisfação geral, o sistema wordpress.com permite que as postagens sejam
bloqueadas até que o responsável as libere, se estiverem de acordo com a proposta
deste projeto.
O mais importante é que depois desse treinamento todos perceberam que uma
tecnologia de informação e comunicação que está sempre à mão, pode ser um
importante instrumento de divulgação do que ocorre dentro da escola, valorizando a
própria disciplina dentro da instituição e os aproximando dos alunos na sua realidade
virtual.
Além disso, foram afastados os medos do analfabetismo digital na equipe, pois
apesar de todos saberem apenas o básico do manuseio no computador, nessas quatro
horas de encontro todos já estavam mais animados e ansiosos pelo início das
postagens.
No encontro seguinte foi questionada a idéia de se trabalhar somente com a
disciplina de português, mostrando ao aluno que a Internet pode ser um grande auxiliar
literário, gramatical e que serviria para reforçar os conteúdos vistos em sala de aula. No
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entanto, a equipe chegou à conclusão de que se o blog era para o Colégio como um
todo, deveria ser aberto às demais disciplinas.
Uma vez que somente os professores de português estavam sendo capacitados,
estes se comprometiam em repassar as informações para os demais em suas horas-
atividade, semanas pedagógicas ou em outros momentos possíveis.
A fim de se obter um bom resultado com o domínio das postagens pela turma, os
professores que estavam na escola há mais tempo e conheciam melhor os alunos
ficariam responsáveis pela orientação de um grupo de alunos que formariam uma
equipe de coordenação editorial, responsáveis pela leitura, seleção e publicação dos
posts recebidos. Também estariam organizando sua turma de maneira que os colegas
preparassem os conteúdos semanalmente e os enviassem ao blog até uma
determinada data delimitada pelo professor, para uma organização feita com calma e
com qualidade na hora das postagens.
Ao professor restaria arranjar mais tempo para se dedicar também à seleção dos
posts, deixando-os como pré-editados e selecionando-os na data desejada de
postagem para facilitar o seu trabalho. Sugeriu-se, então, que a organização do
conteúdo postado variasse de acordo com a idade e o interesse dos alunos, se fosse
aprovado pelo professor responsável e estivesse de acordo com os interesses da
comunidade escolar.
Foi explicitado de quantos caracteres deveria ser o post, qual o tipo da fonte,
qual o seu tamanho e a quantidade de linhas, esclarecendo que este deveria,
obrigatoriamente, estar acompanhado de pelo menos uma mídia, seja áudio ou visual,
deixando claro aos alunos o porquê da necessidade desta padronização: visualização e
praticidade.
Também, foi sugerido que a equipe de direção e equipe pedagógica do Colégio
deixassem comentários nos posts dos alunos, postando uma vez por mês uma nota de
encerramento com críticas, sugestões ou elogios naqueles artigos que já foram
inseridos, incentivando não só os alunos, mas toda a comunidade a continuar
participando do projeto.
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O terceiro encontro foi encerrado após mais alguns momentos de treinamento na
prática com o sistema WordPress e solicitou-se à equipe que novas idéias fossem
pensadas até o próximo encontro, o qual iria encerrar a intervenção e capacitação
deste projeto no Colégio.
Ao iniciar-se o quarto e último encontro, um ponto muito importante foi levantado:
o projeto estava sendo aplicado ao final do terceiro bimestre e todos estavam
assoberbados de provas, notas para fechar, recuperações a serem feitas,
encerramento do ano e chegou-se à conclusão de que não haveria como os
professores se responsabilizarem por algumas turmas nesse momento e que talvez
nem os próprios alunos conseguissem se dedicar a isto, pois também não haveria
tempo para prepará-los.
Após diálogo com a Direção e Equipe Pedagógica, ficou combinado que, até o
final do ano de 2011, a aluna PDE ficaria responsável pela criação do blog e postagens
iniciais. Ficando, então, para o ano seguinte um correto trabalho com as mídias no
Colégio, sendo que este começaria já na primeira semana pedagógica ofertada pela
Secretaria de Educação.
Acertado isto, foi realizada ampla divulgação junto aos professores, funcionários
e alunos, da criação do blog, seu link6, além do e-mail da professora para envio dos
conteúdos desejados. Assim que a página foi criada, vários comentários foram
postados e, até o final de dezembro, já havia 34 postagens e 800 visualizações.
Os alunos receberam muito bem o projeto, anotaram os endereços e deram
várias sugestões sobre como poderia ser o blog. Quanto aos professores, aqueles que
já tinham seu próprio blog aceitaram bem a idéia do projeto e se comprometeram a
auxiliar na formação do blog, o que realmente ocorreu. Outros, não aceitaram tão bem
assim, conforme já era esperado e preferiram ficar na sua área de acomodação, sem
envolver-se com o projeto.
Foi muito interessante tornar possível este projeto na escola pública e, melhor
ainda perceber que grande parte dos professores já evoluiu muito com relação ao uso
6 O blog pode ser acessado pelo cespaprof.wordpress.com
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das mídias e ao domínio da informática, inclusive dando sugestões sobre a melhoria do
projeto em todas as disciplinas, uma vez que não somente a disciplina de português foi
contemplada.
Nessa disciplina, é importante ressaltar que o trabalho com produção de texto
foi muito objetiva e diferenciada, já que os alunos puderam escrever com uma função
social, e não apenas para obtenção de nota. Além disso, os conteúdos de gramática –
como coerência, coesão, regência, uso sintático – também foram muito bem reforçados,
uma vez que os alunos tiveram que utilizar todo o conteúdo aprendido com o professor
para elaborarem seus textos.
Dessa forma, foi possível utilizar as regras padrões da língua com aplicabilidade
dentro de um objetivo, de forma que adjetivo deixou de ser mera qualidade, para virar
ênfase, expressão de opinião sobre algo e crítica, por exemplo. Segundo Antunes
(2003), “a gramática está naturalmente incluída na interação verbal, uma vez que ela é
uma condição indispensável para a produção e interpretação de textos coerentes,
relevantes e adequados socialmente”.
No campo da leitura, ainda dentro da matéria de língua portuguesa, é necessário
ressaltar o conteúdo que os alunos tiveram com a leitura, com o objetivo de ajudá-los
em suas produções e no estudo do conteúdo apresentado em sala regularmente.
Consequentemente, o léxico dos alunos, a estruturação das frases e o uso correto de
expressões e frases melhoraram significativamente.
Houve muitos posts referentes à disciplina de Arte e Educação Física, pois estas
normalmente são as menos valorizadas nas instituições educacionais. Também os
professores de História e Português em muito contribuíram, além dos próprios alunos
que adoraram a novidade.
4- CONCLUSÃO
Este é um projeto possível de ser realizado nas instituições escolares, sejam elas
públicas ou particulares, porém deve ser aplicado logo no início do ano letivo, colhendo-
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se bons resultados depois de algum tempo, quando finalmente a equipe de
coordenação editorial formada somente por alunos, já estiver dominando o objetivo do
blog.
Apesar das várias alterações sofridas, foi um projeto que deu certo porque teve
total apoio da Direção e Equipe Pedagógica, além da equipe de professores
participantes. Pode e deve ser ampliado a todas as disciplinas conforme foi concluído
nos encontros.
De forma geral, este projeto tem o objetivo de ser um agente propiciador da
inclusão digital, tanto para os alunos, quanto para os professores, porém, mostrando
que a Internet pode ser uma importante aliada no processo de ensino e aprendizagem,
desmistificando a visão do computador como um inimigo da escola e da educação.
Torna-se relevante citar que ainda existem professores que não conseguem
quebrar o paradigma de que o aluno pode usar o computador, o celular com internet ou
qualquer outro meio de comunicação como ferramenta de auxílio para seu processo
educacional.
Além disso, também vale ressaltar a importância da Direção e Equipe
Pedagógica apoiando este projeto, propiciando momentos para que ele ocorra e
participando junto da criação de um blog com o perfil do Colégio, o que é conseqüência
de uma gestão democrática.
O uso das mídias nas escolas estaduais é possível, uma vez que outrora nem se
imaginava que estas instituições um dia fossem ter laboratórios de informática, quanto
mais TVs em todas as salas de aula, com cada professor tendo o seu pendrive.
Apesar da resistência de alguns, vale a pena investir na busca por uma escola
mais atualizada com a realidade tecnológica pela qual a sociedade vem passando, com
inovações a todo o momento e com recursos midiáticos acessíveis a todas as classes
sociais.
Ainda não existem as escolas ideais para um processo educativo onde realmente
se saiba utilizar as TICs como apoio. Não só as escolas não conseguem se apropriar da
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realidade midiatizada que a cada dia invade a sociedade, como os professores também
não conseguem se organizar para o domínio destas ferramentas. Falta tempo, muitas
vezes também, recursos financeiros e um feeling por parte dos profissionais da
educação, muitos em final de carreira. Aqueles que, há pouco, ingressaram no quadro
de magistério do estado ou em escolas particulares, não sabem bem o que fazer com o
conhecimento que possuem acerca das tecnologias e acabam simplesmente utilizando
os laboratórios de informática para fazer cópia de determinados assuntos, satisfazendo
assim, aos anseios dos pais que desejam ver seus filhos utilizando a linguagem
midiática na escola.
É evidente que aquelas instituições que proporcionam aos seus educadores
contínuas capacitações na utilização dos recursos midiáticos ofertados, estará sendo
mais coerente com a necessidade de um avanço na educação, onde os conteúdos
possam ser discutidos virtualmente, oferecendo aos seus professores maior
aproximação digital com os alunos.
Aos professores cabe a busca incansável pelo saber, pelo novo, pela atualização
pedagógica através da Educomunicação, pela utilização correta dos recursos midiáticos
como apoio em sala de aula, motivando seus alunos a entusiasmar-se com os
conteúdos tradicionais ofertados pelas escolas de maneira virtual, unindo-se ao
conhecimento e a facilidade que eles já possuem no manejo desta tecnologia.
Para que haja coesão entre todos os envolvidos neste manejo da tecnologia
dentro do processo educativo é necessário que também a Equipe Pedagógica esteja
“antenada” com a realidade virtual que envolve o cotidiano escolar, para que não fique
alheia às possibilidades de uma nova pedagogia, servindo como “porto seguro” aos
anseios de pais e professores.
Porém, não se pode dizer que o livro deva ser esquecido, assim como o quadro
e o giz, mas devem ser utilizados como apoio a todos os outros recursos que as
escolas possuem. É preciso que o professor deixe de ser mero transmissor de
conteúdos, mas o crie junto com seus alunos, ressaltando e apontando os pontos
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positivos e negativos dos meios de comunicação, lembrando que a fala ainda é a
maneira mais importante do homem se comunicar.
Não esperar que os governantes capacitem seus profissionais também é muito
importante, pois agora é hora de cada um sair de sua zona de conforto e buscar novas
apreensões da realidade midiática de hoje, aplicando-as na sala de aula e tornando a
escola pública, gratuita, de qualidade e atualizada com as vivências deste mundo
globalizado.
5-REFERÊNCIAS
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BELLONI, Maria Luiza. O que é Mídia-Educação. Campinas: Autores Associados,
2001
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FREINÉT, Élise. O itinerário de Celestin Freinét. RJ, Francisco Alves Edit, 1979.
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<http://www.cadesunicamp.br> – acessado em 18 set 2010.
<http.//www.meuartigo.brasilescola.com> – acessado em 18 set 2010.
<http://www.portalgens.com.br> – acessado em 20 fev 2011.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. SP: 34, 1999.
MELO, José Marques de. Comunicação, Teoria e Pesquisa. RJ: Petrópolis, 1977.
MORTENSEN, David. Teoria da Comunicação: textos básicos. SP: Mosaico, 1980.
NEILL, Alexander Sutherland. Um mestre contra o mundo. SP: Ibrasa, 1978.
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PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. NETO, Antonio Fausto (org). Comunicação e
Cultura Contemporâneas. RJ: Notrya, 1993.
PONTUAL, Joana Cavalcanti. O jornal como proposta pedagógica. SP: Paulus, 1999.
REVISTA EDUCAÇÃO, EDIÇÃO 98.
SHAUN, Angela. Educomunicação: reflexões e princípios. SP: Mauad, 202.
WERTHEIN, Jorge. Meios de comunicação: realidade e mito. SP: Nacional, 1979