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No que concerne aos aspectos negativos há a referir a facilidade com que tudo circula não havendo grande controle como se pode facilmente depreender pelos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos da América. Esta globalização serve para os mais fracos se equipararem aos mais fortes pois tudo se consegue adquirir através desta grande autoestrada informacional do mundo que é a Internet. Outro dos aspectos negativos é a grande instabilidade econômica que se cria no mundo, pois qualquer fenômeno que acontece num determinado país atinge rapidamente outros países criando-se contágios que tal como as epidemias se alastram a todos os pontos do globo como se de um único ponto se tratasse. Os países cada vez estão mais dependentes uns dos outros e já não há possibilidade de se isolarem ou remeterem-se no seu ninho pois ninguém é imune a estes contágios positivos ou negativos. Como aspectos positivos, temos sem sombra de dúvida, a facilidade com que as inovações se propagam entre países e continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos bens. Com a ressalva de que para as classes menos favorecidas economicamente, especialmente nos países em desenvolvimento, esse acesso não é "fácil" (porque seu custo é elevado) e não será rápido. o 5 anos atrás o Denuncie Aspectos negativos da globalização financeira: O rol dos problemas encarados pelos países em desenvolvimento, devido à súbita exposição às tentações e rigores de um mercado financeiro globalizado, aumenta cada vez mais. Os riscos macroeconômicos da maciça entrada de capitais nas economias de países em desenvolvimento merecem especial destaque, em virtude da rapidez com que suas conseqüências podem ser sentidas. Cumpre mencionar, inicialmente, os efeitos cambiais e monetários. Em um regime de câmbio fixo, uma entrada líquida de capitais externos implicará a emissão de moeda por parte do Banco Central em montante equivalente, de modo a honrar seu compromisso de adquirir as divisas estrangeiras pela taxa

aspectos negativos da globalização

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No que concerne aos aspectos negativos há a referir a facilidade com que tudo circula não havendo grande controle como se pode facilmente depreender pelos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos da América. Esta globalização serve para os mais fracos se equipararem aos mais fortes pois tudo se consegue adquirir através desta grande autoestrada informacional do mundo que é a Internet. Outro dos aspectos negativos é a grande instabilidade econômica que se cria no mundo, pois qualquer fenômeno que acontece num determinado país atinge rapidamente outros países criando-se contágios que tal como as epidemias se alastram a todos os pontos do globo como se de um único ponto se tratasse. Os países cada vez estão mais dependentes uns dos outros e já não há possibilidade de se isolarem ou remeterem-se no seu ninho pois ninguém é imune a estes contágios positivos ou negativos. Como aspectos positivos, temos sem sombra de dúvida, a facilidade com que as inovações se propagam entre países e continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos bens. Com a ressalva de que para as classes menos favorecidas economicamente, especialmente nos países em desenvolvimento, esse acesso não é "fácil" (porque seu custo é elevado) e não será rápido.

o 5 anos atrás o Denuncie

Aspectos negativos da globalização financeira:

O rol dos problemas encarados pelos países em desenvolvimento, devido à súbita exposição às tentações e rigores de um mercado financeiro globalizado, aumenta cada vez mais. Os riscos macroeconômicos da maciça entrada de capitais nas economias de países em desenvolvimento merecem especial destaque, em virtude da rapidez com que suas conseqüências podem ser sentidas. Cumpre mencionar, inicialmente, os efeitos cambiais e monetários.

Em um regime de câmbio fixo, uma entrada líquida de capitais externos implicará a emissão de moeda por parte do Banco Central em montante equivalente, de modo a honrar seu compromisso de adquirir as divisas estrangeiras pela taxa de câmbio oficial. Percebe-se, assim, que, tudo o mais constante, a entrada de capitais provocará o efeito de expansão monetária, com possíveis impactos sobre a taxa de inflação doméstica.

Contrariamente, uma súbita reversão do fluxo financeiro, com saída líquida de capitais, acarretará o efeito oposto de contração monetária, trazendo em seu núcleo uma provável recessão doméstica, à mercê da contração do crédito. Mais importante do que tudo, porém, é o fato de que a política monetária perde toda a eficácia e torna-se completamente passiva, dependente dos fluxos exógenos de capitais. O governo vê-se, portanto, privado de um importante grau de autonomia na condução da política econômica.

Já em um regime de câmbio flexível, o efeito de uma entrada maciça de capitais não se manifesta diretamente sobre a quantidade de moeda, mas, sim, sobre a própria taxa de câmbio. Inevitavelmente, nessas condições, o aumento da oferta de divisas estrangeiras levará a uma valorização do câmbio (isto é, ao aumento do valor da moeda nacional em referência à moeda estrangeira), com os reflexos já

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conhecidos em termos de perda de competitividade comercial do país receptor de capitais.

Um outro perigo ao qual freqüentemente, estamos sujeitos, é a súbita reversão de expectativas do mercado, possibilidade cada vez mais presente em vista da rápida transmissão de choques, permitida pela integração dos mercados financeiros. Em geral, portanto, a atual fase de globalização financeira faz com que os países emergentes se defrontem com dificuldades e vários problemas, como riscos de volatilidade cambial, de elevação de juros, de aumento do passivo interno, e de vulnerabilidade a choques externos.

Há um outro aspecto, porém, que talvez represente a síntese do novo cenário em que os governos das nações em desenvolvimento se vêem forçados a atuar. Trata-se do fato de que a integração dos mercados financeiros minou consideravelmente a eficácia dos instrumentos tradicionais de condução da economia. De fato, a política monetária não mais pode ser considerada à parte da política cambial. Quaisquer medidas domésticas que afetem os juros também afetarão os fluxos de capital e, por conseguinte, o câmbio.

Em contrapartida, quaisquer decisões sobre o câmbio limitarão o nível dos juros disponíveis para o governo. Por seu turno, decisões de política fiscal também exercerão influência direta sobre as expectativas de mercado e, em conseqüência, sobre o fluxo de capitais, acarretando, ainda, no caso de países com mercados de títulos de longo prazo, influência sobre o nível dos juros domésticos.

Concluindo, os governos perderam, vários graus de liberdade para este ente indefinido e misterioso, o chamado "mercado". Naturalmente, este debate encontra- se no início, suas consequências e os rumos que estão por vir, estender-se-ão no futuro, que caberá a nós contemplar e vivenciar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

:

GONÇALVES, Reinaldo [et al]. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro, Campus, 1998.

GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos anos de periferia. Porto Alegre/Rio de Janeiro: Editora da Universidade/UFRGS, 1999.

HALLIDAY, Fred. Repensando as relações internacionais. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999.

OLIVEIRA, Odete Maria (coord.). Relações internacionais e globalização – grandes desafios. Ijuí: Unijuí, 1998.

Entendendo a Globalização e sua influência nos Blocos Econômicos

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Tércio Waldir de Albuquerque

Introdução

lobalização, mundialização, internacionalização são termos que podem ser considerados sinônimos do que o mundo vem experimentando, segundo alguns, a partir dos anos oitenta, para outros há mais de cinco séculos, e hoje vemos, ouvimos e lemos inúmeras matérias que os conceituam das mais diversas maneiras e formas. Para alguns, um obstáculo que causa tropeço no caminhar. Para outros, um avanço com muitos benefícios.

Para Clovis Rossi, um exemplo do que seja globalização é1:

"A notícia do assassinato do presidente norte-americano Abraham Lincoln, em 1865, levou 13 dias para cruzar o Atlântico e chegar à Europa. A queda da Bolsa de Valores de Hong Kong (outubro-novembro/97), levou 13 segundos para cair como um raio sobre São Paulo e Tóquio, Nova York e Tel Aviv, Buenos Aires e Frankfurt. Eis ao vivo e em cores, a globalização"

Já para Celso Pinto, o exemplo do que pode ser entendido como globalização é:

"O furacão financeiro que veio da Ásia, passou pela Europa, Estados Unidos e chegou ao Brasil, teve pelo menos uma vantagem didática. Ninguém pode mais alegar que nunca ouviu falar da globalização financeira. Até poucos meses, é provável que poucos soubessem onde ficava a Tailândia ou Hong Kong. Hoje muita gente sabe que um resfriado nesses lugares pode virar uma gripe aqui. Especialmente se fizer uma escala em Nova York." 2

Na visão de Voltaire Schilling 3, a globalização

se divide em três períodos distintos:

1450-1850 - Primeira fase - Expansionismo mercantilista

1850-1950 - Segunda fase - Industrial-imperialista-colonialista

pós-1989 - Globalização recente - Cibernética-tecnológica-associativa

Na verdade, o efeito globalizante pode ser visto sob aspectos negativos e positivos, a depender da ótica com que é olhado. Para um país como os Estados Unidos da América a situação global é excepcional, pois lhe dá condições de gerir e ingerir, fluir e influir nos mais diversos pontos do universo em tempo real. Há 24.000 povos no mundo. Há 6.809 línguas no mundo e evidentemente não são todos que podem gozar dos privilégios da globalização. Para países em situação de miserabilidade a globalização é aterradora, representa ingerência externa, interfere no cultivo das tradições, permite comparações que muitas vezes não são benéficas e acabam por atrapalhar planos e metas governamentais. Para os países em desenvolvimento a mundialização é uma faca de dois gumes. O primeiro, afiado para cortar as possibilidades de que sejam acobertadas suas misérias e mazelas, seus problemas de corrupção, de má gestão da coisa pública, do desgoverno, uma vez que as notícias transitam em tempo real e não mais como dantes. O segundo gume, afiado para cortar o isolamento às vezes pretendido e propiciar uma abertura para os demais países do mundo e assim gerar possibilidades reais de um entrelaçamento social, político, cultural e comercial.

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Nesse ensaio dos efeitos gerados pela globalização aparecem as relações comerciais, inicialmente formadas entre países fronteiriços para depois transpor distâncias e criar um mercado efetivamente global, em que é possível perceber claramente a necessidade de que todos procurem parceiros para seu desenvolvimento.

No dizer do ex-presidente do Brasil, "A globalização requer a reforma das instituições econômicas e financeiras e não pode limitar-se ao triunfo do mercado."4

Com o avanço da globalização econômica, financeira e comercial, a temática prioritária no campo empresarial passou a ser a competitividade. Nesse caminho, a necessidade de se impor em um mercado sem fronteiras fez com que as economias substituíssem o trabalho humano desqualificado pela eficiência e perfeição da alta tecnologia, muitas vezes gerando desemprego ou realocando trabalhadores para funções menos nobres.

Um dos efeitos considerados negativos da globalização para o Brasil está na questão ligada ao despreparo de grande parte de sua força de trabalho, segundo avaliação feita por Maria das Graças Reggiani Almeida5:

"A globalização, as novas tecnologias e a formação profissional alijam uma série de pessoas. Os profissionais não estão acompanhando o desenvolvimento tecnológico, as mudanças de mentalidade e de comportamento".

Assim, o que inicialmente representava um pequeno negócio internacional transforma-se em um verdadeiro bloco de integração econômica, no qual os planos e metas são vistos e revistos a todo instante, a busca pelo desenvolvimento e troca de tecnologias se tornam necessários, a produção e o consumo se aliam e todos os envolvidos acabam percebendo ser indispensável esse tipo de convivência para a sobrevivência de seus investimentos e equilíbrio de suas contas. Tudo isso não era pensado e não era tido como imperioso, indispensável, mas hoje, impossível imaginar de modo diverso.

No estabelecimento de políticas de aproximação, o comércio é o carro chefe, pois através dele passa a ser possível uma integração dos demais temas como pessoas, bens e serviços, e o que significava uma pequena relação de interesses transforma-se em um gigantesco conglomerado de estados e empresas. Cada país sai em busca do seu igual para poder criar parcerias promissoras, e a partir destas parcerias surgem os hoje conhecidos blocos econômicos, em que alguns se destacam mais que outros em razão de número de países, do volume de negociações que os envolvem e, em pouco tempo, se transformam em alavancas mundiais, globais. Podemos trazer como exemplos mais conhecidos desta nova realidade o NAFTA, a UNIÃO EUROPÉIA, a ALCA, a COMUNIDADE ANDINA, a ALADI e o MERCOSUL.

O NAFTA (North American Free Trade Área) é uma zona de livre comércio entre os países da América do Norte: Estados Unidos, Canadá e México. No caso de formação de uma união aduaneira hemisférica em 2005 (ALCA), os países do NAFTA também serão incluídos nela, tanto que já participam das negociações. Decorridos pouco mais de cinco anos de sua implementação, o intercâmbio comercial entre os países aumentou, o que significa o aumento do saldo de suas balanças comerciais, especialmente no caso do México.

A União Européia é resultado de uma tentativa bem sucedida da segunda metade do século XX. Mas tudo começou em 1951, quando seis Nações devastadas pela guerra decidiram unir suas matérias-primas industriais de carvão e de aço para

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evitar a guerra entre elas. A Constituição de base desta Comunidade, o Tratado de Roma, entrou em vigor em 1958. A UE é formada por 15 países, mas apenas 11 adotaram a moeda única, o euro: França, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Luxemburgo, Áustria, Grécia, Bélgica, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Dinamarca, Suécia e Finlândia. A união monetária foi aprovada pelo Tratado de Maastricht, em 1991.

A ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) é uma proposta dos EUA de integração comercial que, se concluída, abrangerá todos os países das Américas, com exceção de Cuba. Os países-membros da ALCA terão, entre si, preferências tarifárias. O objetivo é que as tarifas para o comércio intrabloco sejam reduzidas até que fiquem zeradas, facilitando o fluxo de bens e serviços na região.

A Comunidade Andina (CAN) é uma organização sub-regional com personalidade jurídica internacional composta por: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Os cinco países tinham mais de 111 milhões de habitantes e PIB de US$ 270 bilhões em 1999. O principal objetivo da CAN é contribuir para o desenvolvimento da região mediante a integração econômica e social dos países membros e a gradual formação de um mercado comum latino-americano.

A Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) é uma organização intergovernamental, cujo objetivo é promover a expansão da integração regional e a constituição de um mercado comum, contribuindo, assim, para o desenvolvimento econômico e social.

O Mercosul é o mais importante projeto de política externa do Brasil. Decorridos praticamente dez anos desde a assinatura do Tratado de Assunção, o MERCOSUL representa hoje um agrupamento regional economicamente pujante e politicamente estável, que tem sabido aproveitar os ensinamentos e as oportunidades da globalização e tem, assim, atraído, cada vez mais, o interesse de todo o mundo.

A assinatura, em 26/3/91, do Tratado de Assunção culmina um processo de negociações iniciado em agosto de 1990 entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O Tratado materializa antiga aspiração de seus povos, refletindo os crescentes entendimentos políticos em âmbito regional, a densidade dos vínculos econômicos e comerciais e as facilidades de comunicações propiciadas pela infra-estrutura de transporte dos quatro países.

A integração em curso dá cumprimento a dispositivo incorporado no art. 4º, parágrafo único, de nossa Constituição, e é ferramenta valiosa para a inserção mais competitiva das quatro economias no mercado internacional, em um quadro em que se destacam a formação de grandes blocos econômIcos e os grandes desafios impostos pela globalização.

Constituindo-se na mais recente experiência de integração da América do Sul, o Mercosul é, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas iniciativas diplomáticas da história do continente.

Sem sombras de dúvidas que neste tempo o maior desafio, quando se trata do assunto globalização e blocos econômicos, é o processo de criação da ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS - ALCA, cuja proposta visa aglutinar em torno de seu projeto 34 países e todos os blocos econômicos existentes e cujos membros ou parceiros estejam dentre do contorno estabelecido para sua abrangência - do Alaska à Terra do Fogo. Esta arrojada pretensão, que tem como mola propulsora os Estados Unidos da América e os demais países que junto com ele compõem o NAFTA - México e Canadá tem encontrado barreiras de toda ordem, podendo destacar as relativas ao temor de vários estados em se tornarem reféns desse

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processo que por muitos está sendo chamado de anexação, volta ao colonialismo, entrega de soberania, estratégia hegemônica de dominação americana, absorção e não integração, e muitas outras denominações que em nada auxiliam no desenvolvimento do projeto, mas que têm sua importância no momento em que chamam a atenção para vários aspectos que precisam ser mais bem discutidos pelos estados chamados à sua composição.

Nessa esteira de desenvolvimento globalizado e com a necessidade de que, a cada dia, mais e mais países busquem aproximação para poder comprar, vender e permutar seus produtos e serviços, sua tecnologia, é importante que os governos envolvidos nesse processo procurem torná-los mais transparentes possível, propiciando a toda coletividade conhecer os detalhes dos compromissos que serão assumidos, demonstrando com clareza as vantagens e desvantagens e o grau de interferência dos mesmos para a população em geral, e não somente dar a conhecer a grupos de interesses de uma forma fechada e às vezes isolada. Este tipo de procedimento nestes processos pode facilitar muito o seu desenvolvimento e, no momento em que todos os aspectos forem bem conhecidos e discutidos, o país será, sem dúvida alguma, beneficiado.

O surgimento de um bloco econômico nem sempre significa vantagens imediatas a seus componentes, que, por vezes, precisam criar condições de competitividade com os demais e para que isso ocorra é necessário que o próprio governo adote medidas de incentivo ao desenvolvimento, evitando, assim, que no momento da abertura comercial as empresas locais não tenham condição de sobreviver à entrada das concorrentes, além de criar uma situação social insustentável, com elevação do nível de desemprego, redução salarial, perdas de benefícios e outros. De outro lado, quando o governo está comprometido com o desenvolvimento sustentável, sua vinculação a um bloco econômico vai significar uma ampliação, não só em sua balança comercial, mas na condição de vida de seu povo.

Em recente entrevista aos meios de comunicações, o presidente da Abracelpa, Associação Brasileira dos Produtores de Celulose e Papel, Osmar Zogbi, ao indagado sobre os benefícios ou prejuízos ao seu seguimento caso o Brasil participe efetivamente da ALCA, trouxe uma informação assustadora. Disse o entrevistado:

"Tem oito ou dez empresas americanas, cada uma isoladamente representa toda a produção brasileira de celulose e papel. De repente lá tem uma crise econômica e eles resolvem despejar o produto no Brasil. Aí acaba com a indústria brasileira"7

Nesse sentido o cuidado deve ser maior, valendo inclusive o estudo de viabilidade de uma reserva de mercado por um período necessário para que as indústrias brasileiras possam se adequar e chegar a uma condição de igualdade de tecnologia e produção com os demais países, e, em especial, com os Estados Unidos da América, que, como já dissemos, é o mentor e maior interessado nesse processo.

Conclusão

Como vemos, existe uma diferença entre GLOBALIZAÇÃO e BLOCOS ECONÔMICOS. No primeiro caso, visto sobre os mais diversos ângulos e formas, o processo é irreversível e pode significar ganhos e perdas, a depender dos países envolvidos. Neste caso não há muita opção em ser ou não partícipe, pois ele caminha sozinho e a passos largos e se utiliza de mecanismos que nem sempre podem ser controlados pelos estados, como é o caso da comunicação em tempo real, em que notícias transitam no mundo todo, levando e trazendo boas e más informações que podem acabar por interferir nos planos de investidores detentores do conhecido capital especulativo que, de um instante para outro, desfalca reservas cambiais. No segundo caso, a existência de blocos econômicos passa

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necessariamente pela expressa vontade do Estado em fazer ou não parte do processo e mesmo diante de ameaças de boicotes, sobretaxas, barreiras não tarifárias, redução ou ampliação de quotas de importação e exportação, e muitos outros, ainda assim, é prerrogativa do Estado sua inserção ou não naqueles blocos. A experiência tem demonstrado que muitos dos blocos existentes trouxeram grandes benefícios a seus membros, graças ao estabelecimento de políticas coerentes com as necessidades e possibilidades de cada um dos Estados e pouco se vê falar sobre prejuízos advindos em razão de ter o Estado passado a compor um bloco econômico. Sim, sabemos que muitas vezes os benefícios não alcançam todos os seguimentos econômicos e sociais, mas com o aprimoramento das relações entre os Estados essas eventuais assimetrias vão sendo superadas.

Referências Bibliográficas

Celso Pinto - do Conselho Editorial - Folha de São Paulo.

3 Voltaire Schilling - é professor de História e Mestrando na UFRGS.

4 Fernando Henrique Cardoso - Montevidéu, Uruguai, 20 de agosto de 2002 - Discurso na Associação Latino-Americana de Integração (ALADI).

5 Maria das Graças Reggiani Almeida - Coordenadora do Departamento de Desenvolvimento Gerencial do Ietec.

6 Global 21 e Página Oficial do Mercosul - www.global21.com.br e www.mercosul.gov.br.

          7 Entrevista ao Jornal da Globo de 30/01/03.

Podemos considerar 3 as características negativas da globalização:

1) a insegurança de emprego e de rendimento: há um aumento significativo na taxa de desemprego devido ao facto de cada vez mais as empresas sairem do país em que se situam para outros paises onde a mão-de-obra é mais barata deixando assim um grande número de desempregados. Devido ao facto dos estados não terem poder suficiente para interferir nas leis de mercado e de concorrência, já que vivemos num mundo neoliberal; os trabalhadores ficam sujeitos a contratos precários sem garantias de renovação dos mesmos.

As empresas tomam decisões em benefício próprio, com vista ao lucro, realizando fusões e aquisições que culminam com a redução ou despedimento colectivo e que inúmeras pessoas sem rendimentos.

2) a insegurança na saúde, isto é, com a livre circulação de pessoas (desaparecimento de fronteiras), aumentou o movimento migratório, o que conduziu à propagação de determinadas doenças como por exemplo o vírus HIV que pode ser transmitido, por exemplo, através do contacto sexual desprotegido.

3) a insegurança cultural. Cada vez mais estamos a perder a nossa identidade cultural devido ao bombardeamento constante de publicidade, música e filmes e outros produtos audiovisuais dos quais resultam a formação de autênticas tribos globais de determinada marca ou estilo.

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ZygmuntBauman

"Ou encontramos o modo de controlar as forças globais liberadas e, no momento, desenfreadas, ou desmoronaremos,

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mais cedo do que tarde, todos juntos."

Zygmunt Bauman é sociólogo. Iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi afastado da universidade. Logo em seguida emigrou da Polônia para o Canadá, Estados Unidos e Austrália até chegar à Grã-Bretanha, onde em 1971 tornou-se professor titular da Universidade de Leeds. Responsável por uma prodigiosa e premiada produção, atualmente é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Tem mais de dez obras publicadas no Brasil pela Jorge Zahar, dentre as quais Globalização: as conseqüências humanas, Modernidade Líquida, Em busca da Política, Vidas Desperdiçadas e Medo Líquido, último título publicado no Brasil em 2008.

entrevista por Ana Manuella Soarestradução por Vanessa Parisi

  

Considerado um sociólogo humanista, Zigmunt Bauman consegue com brilhantismo o que a maioria dos cientistas procura fazer com o resultado de suas pesquisas. Em linguagem direta e simples, escrevendo para milhares e não apenas para iniciados, Bauman faz diagnósticos do complexo sistema capitalista globalizado. Para o professor emérito das universidades de Leeds e de Varsóvia, a sociologia tem hoje o papel de explicar como funcionam as relações de poder e de consumo na sociedade e de ampliar a visão dos indivíduos, alargando seus horizontes cognitivos, dando a eles condições de enxergar além do individualismo dominante.

Para o cientista social, não há como negar que a Terra é hoje “um planeta abarrotado e intercomunicado”. Na por ele chamada ‘modernidade sólida’, as ameaças para a existência humana eram mais óbvias. “Era óbvio, por exemplo, que alimento, e só alimento, era o remédio para a fome”.

Hoje, segundo o autor de Medo Líquido, publicado este ano pela editora carioca Zahar, os riscos são de outra ordem. Para além do palpável ou previsível. Não há como ver, ouvir ou tocar as condições climáticas que se apresentam cada vez mais ameaçadoras em um tempo não mais essencialmente natural ou histórico. Os níveis de radiação e de poluição, a disputa pelo controle mundial das fontes de energia não-renováveis e os processos de globalização das nações sem controle político, segundo Bauman, solapam as bases da existência humana e sobrecarregam a vida dos indivíduos com um grau de incerteza e ansiedade sem precedentes em nossa história.

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em formação: A Era Moderna foi destinada a ser o tempo em que os fenômenos naturais seriam, por assim dizer, ‘dominados’ pelo homem. Após dois séculos de investimentos em ciência e tecnologia, no entanto, a humanidade parece estar totalmente vulnerável ao que o senhor chama de ‘caos de tipo natural’. Como o senhor analisa o alardeamento de grande parte da comunidade científica internacional de que o planeta estaria profundamente ameaçado por um aquecimento térmico global?

Zigmunt Bauman – O “projeto de modernidade” foi uma guerra declarada à contingência, ao acidente, ao cego destino que golpeava esperanças, expectativas e planos humanos. O mundodeveria tornar-se transparente, previsível e administrável – e ‘a conquista da natureza’, que deveria submetê-la à razão humana e estender suas forças a serviço da segurança e da certeza humanas, era vista como um dos principais meios de atingir tal objetivo. Sob gerência humana – assim foi esperado e prometido – a natureza seria a garantia de certeza e segurança, e não fonte de perigo e medos. O que estou tentando explicar com o estudo dos medos que nos assombram dois séculos mais tarde é o motivo pelo qual essas esperanças foram golpeadas e por que nossas inseguranças presentes são, talvez, ainda mais aterrorizantes do que secas, enchentes e terremotos que atingiram nossos antepassados. Desastres naturais continuam ocorrendo ao acaso e sem avisos assim como ocorriam desde tempos imemoriais; o destino não deixou de ser cego e imprevisível. Ao invés de a natureza começar a se comportar tão ‘razoavelmente’ quanto nós, os humanos armados de razão, acreditávamos sermos capazes de nos comportar – são os produtos e produtos secundários de nossas ações humanas que nos atingem com a casualidade e a ferocidade dos desastres naturais. Além dessa espantosa visão de planeta superaquecido, há a perspectiva de uma crise de energia sem precedente que pode ainda retornar como uma nova onda de fome e revoltas dos famintos, ou do desgaste do suprimento de água potável… Ainda que seja longa a lista de catástrofes conhecidas e já temidas, sentimos que está incompleta – e esperamos que novos itens se adicionem a ela devido às horríveis descobertas que, via de regra, surgem tarde demais para que se possa prevenir o desastre…

Em Medo Líquido, o senhor analisa as origens e a trajetória dos temores do homem e sua busca racional pelo controle das intempéries naturais ou sociais. Barbáries morais impetradas por sociedades modernas como o genocídio nazista do século XX ou as recentes guerras terroristas entre nações ou, ainda, o estado de miséria que se encontra boa parte dos povos na África subsaariana, na América Latina e Ásia seriam provas de que o projeto da Modernidade teria fracassado?

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Uma coisa é certa – o triunfo do novo modo de vida (ou seja, o estado de modernização permanente, obsessiva e compulsiva) não conseguiu tornar a crueldade menos freqüente e suas vítimas menos numerosas. Mas as condições que precipitam a crueldade se modificaram no curso da história moderna. Você mencionou o genocídio nazista, o nascimento do terrorismo global e a amplamente espalhada miséria humana de uma só vez – mas esses fatos têm raízes diferentes. Genocídios nazistas (e também comunistas) foram o cúmulo do que chamo de busca ‘moderna sólida’ por uma linha de chegada para o tumulto aflitivo da mudança perpétua; por uma ordem definitiva, um Reich milenar, uma sociedade completamente purificada (das raças do mal ou classes do mal), completamente regulada e administrada na qual nenhuma nova mudança seria solicitada ou bem recebida. Conforme Hannah Arendt apontou, a ‘tendência totalitária’ foi um traço endêmico de um estágio da história humana, e a maior ameaça foi a perspectiva de um estado todo-poderoso detentor de uma soberania ilimitada e indivisível sobre a vida e a morte de seus indivíduos. Desastres humanitários dos nossos tempos de ‘modernidade’ líquida brotam, ao contrário, da crescente lacuna entre nossa dependência mútua, que já é global, e das agências de ação (política) efetiva, que permanecem locais. Até agora, a globalização foi puramente negativa: apenas as forças que negligenciam leis e modos de vida locais, ignoram fronteiras e esvaziam soberanias (forças como o capital, as finanças, o comércio, a criminalidade, a violência, o tráfico de drogas e de armas etc.) globalizaram-se, mas instituições de representação política, legislações, poderes judiciário e executivo e controle democrático permanecem, assim como antes, confinados ao domínio do estado-nação – muito estreito para se opor ou lidar efetivamente com problemas produzidos globalmente. Daí a acelerada polarização de condições e perspectivas de vida, acoplada com a proliferação de sentimentos tribais e guerras, massacres e genocídios (de vizinhanças) locais. Para os problemas globais do nosso tempo, não há soluções locais praticáveis, mas não há até agora forças capazes de articular e impingir soluções tão globais quanto os problemas…

O senhor considera que vivemos um processo de ‘globalização negativa’, altamente seletiva do comércio e do capital, vigiada, sob a coerção das armas, do crime e do terrorismo, elementos que destroem soberanias e desrespeitam fronteiras entre Estados. No planeta globalizado, vivemos, então, sem segurança em relação aos fenômenos da natureza e suas conseqüências, tampouco em relação à barbárie social. Diante deste quadro, quais as chances de superação desta condição? É possível uma ‘globalização positiva’?

Essa é a maior das questões que a humanidade confrontará e será pressionada a responder neste século. Uma questão, podemos dizer com total responsabilidade, de vida e morte. Ou encontramos o modo

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de controlar as forças globais liberadas e, no momento, desenfreadas, ou desmoronaremos, mais cedo do que tarde, todos juntos. O desafio que todos confrontamos juntos é o de dar o mesmo conteúdo e a mesma realidade ao conceito abstrato de ‘humanidade’ assim como nossos ancestrais fizeram com o igualmente abstrato conceito de ‘nação’. E imbuir aquela ‘comunidade imaginada’ com semelhante espírito de diálogo, solidariedade, compromisso mútuo, com o qual a idéia e a prática de ‘nação’ têm sido saturadas. Sob condições de interdependência global, a sobrevivêncianão é um valor pelo qual diferentes agrupamentos humanos (sejam eles étnicos ou religiosos) podem significativamente competir, a sobrevivência de cada parte da humanidade depende da solução dos problemas globais, e devo repetir que os problemas globais somente podem ser resolvidos, se tal solução pode, de fato, ocorrer globalmente…

Este século será dedicado à busca (e esperançosamente à descoberta e ao estabelecimento) de instituições globais de representação, legislação e jurisdição pública, e à equiparação de seu poder ao poder já conquistado pelo capital, comércio, armas de guerra, criminalidade ou terrorismo… Eu não sou profeta e não posso antecipar a direção que nós, juntos, finalmente daremos à nossa história compartilhada. Mas estou certo de que não há nenhuma alternativa ao direto confronto desse desafio.

Qual o papel das comunidades de pesquisadores e professores das chamadas Ciências Naturais e das Humanidades na construção dessa superação?

Um papel crucial… A particularmente espantosa e potencialmente mórbida natureza dos perigos contemporâneos é o mais freqüentemente não visível dentro do campo da experiência individual: você não sente pessoalmente o ‘aquecimento do planeta’, a elevação de radiação deteriorando a qualidade da água e do ar, ou a ameaça de terroristas conspiradores preparando seu conluio, obviamente, com extremo sigilo. Menos ainda seria você capaz de deduzir as causas de todas essas calamidades se conseguisse percebê-las e nomeá-las. Sobre os perigos contemporâneos (rebatizados de ‘riscos’, porque talvez seja possível calcular sua probabilidade, mas não prever exatamente onde e quando eles atacarão) nós podemos apenas aprender com os especialistas, que têm acesso a dados muito mais amplos do que temos individualmente, e que conduzem sua investigação sistematicamente utilizando instrumentos de pesquisa inacessíveis aos homens e mulheres comuns. Daí a singular responsabilidade dos cientistas. E daí também a suspeita com a qual suas comunicações são freqüentemente recebidas. Devido à invisibilidade dos riscos e à sua intensidade, é fácil encobrir sua presença e assim manter o público ignorante a respeito do custo real dos empreendimentos de negócios,

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políticos ou militares. É também relativamente fácil fazer o oposto, mas igualmente desastroso em suas conseqüências: exagerar ao ponto de até mesmo ‘inventar’ os riscos, intensificar os medos humanos e, depois, capitalizar em cima desses medos alimentados artificialmente. Companhias de marketing podem encher os bolsos graças às elevadas demandas de equipamentos declarados necessários para afastar o perigo ou, se a catástrofe anunciada não se concretizar, líderes políticos podem gabar-se de que algo foi prevenido graças ao energético combate empreendido pelo governo – uma pretensão de que a suposta ignorância pública não pode jamais ser colocada à prova…

BAUMAN: Não sei o que esses ?acadêmicos? têm em mente. Até agora, nossaglobalização é totalmente negativa. Todas as sociedades já estão abertas.Não há mais abrigos seguros para se esconder. A ?globalização negativa?cumpriu seu papel, mas sua contrapartida ?positiva? nem começou a atuar.Esta é a tarefa mais importante em que o nosso século terá que seempenhar. Espero que um dia seja cumprida. É questão de vida ou morte daHumanidade!

?As pessoas não são excluídas porque são más, mas porque outrosdemonstram ser mais espertos na arte de passar por cima dos outros.Todos são avisados de que não têm capacidade de permanecer porque existeuma cota de exclusão que precisa ser preenchida?Civilização sem tempo para refletir.

O que será preciso acontecer para que nossa sociedade se dê conta daarmadilha que caiu em busca da suposta ?modernidade??

BAUMAN: A civilização moderna não tem tempo nem vontade de refletir sobrea escuridão no fim do túnel. Ela está ocupada resolvendo sucessivosproblemas, e principalmente os trazidos pela última ou penúltima tentativade resolvê-los. O modo com que lidamos com desastres segue a regra detrancar a porta do estábulo quando o cavalo já fugiu e provavelmente jácorreu para bem longe para ser pego. E o espírito inquieto da modernizaçãogarante que haja um número crescente de portas de estábulos que precisamser trancadas. Ocasiões chocantes como o 11 de Setembro, a tsunami naÁsia, (o furacão) Katrina, deveriam ter servido para nos acordar e fazeragir com sobriedade. Chamar o que aconteceu em Nova Orleans e redondezasde ?colapso da lei e ordem? é simplista. Lei e ordem desapareceram como senunca tivessem existido.

O senhor aponta uma ?crise aguda da indústria de remoção de refugohumano?. É possível criar mecanismos de inclusão dos seres humanos?excessivos? e ?redundantes?? A modernização implica, necessariamente, uma?lixeira humana??

BAUMAN: Esse excesso de população precisa ser ajudado a retornar ao

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convívio social assim que possível. Eles são o ?exército reserva damão-de-obra? e lhes deve ser permitido que voltem à ativa na primeiraoportunidade. Os ?redundantes? são obrigados a conviver com o resto dasociedade, o que é legitimado pela capacidade de trabalho e consumo. Emvez de permanecer, como era visto anteriormente, como um problema de umaparte separada da população, a designação de ?lixo? torna-se a perspectivapotencial de todos. Há partes do mundo que se confrontaram com o antesdesconhecido fenômeno de ?população sobrando?. Os países subdesenvolvidosnão se disporiam, como no passado, a receber as sobras de outros povos enem podem ser forçados a aceitar isso.

Países como Brasil, Índia e China são constantemente apontados comoestratégicos para o século XXI. Ao mesmo tempo, são três países com grandenúmero de ?lixo humano?, com alto índice de desemprego. Isso não é umacontradição?

BAUMAN: Certamente. Isso fica ainda pior quando os gigantes do século XXI,China, Índia, Brasil, entram no ?processo de modernização?. O número de?pessoas desnecessárias? crescerá. E aí há o grande problema que mais cedoou mais tarde teremos que enfrentar: capacitar ou não China, Índia eBrasil a imitar o modelo de ?bem-estar? adotado nos Estados Unidos em umaépoca em que ?modernização? ainda era um privilégio de poucos? Para darvazão, seriam necessários três planetas, mas nós só temos um para dividir.

Um dos mais importantes compositores brasileiros, Chico Buarque deHolanda, afirmou que ?uma nação grande e forte é perigosa, mas que umanação grande, forte e ignorante é ainda mais perigosa?. Ter uma naçãogrande, forte e ignorante no comando do mundo ? como parecem ser osEstados Unidos da Era Bush ? não pode acirrar ainda mais o ?refugo? dosseres humanos?

BAUMAN: Lamento não conhecer Chico Buarque: ele toca no cerne da questão.Até onde vai a situação de nosso planeta com um único superpoder,confundido e subjugado pela ilusão de sua repentina ilimitada liberdade? Aelevação súbita dos Estados Unidos à posição de superpotência absoluta euma incontestada hegemonia mundial pegou líderes políticos americanos eformadores de opinião desprevenidos. É muito cedo para declarar a naturezadeste novo império e generalizar seu impacto no planeta. Seu comportamentoé, possivelmente, o fator mais importante da incerteza definida como ?NovaDesordem Mundial?. Um império estabelecido pela guerra tem que se manterpor guerras. Acabamos de ver isso no Iraque, apesar de todos saberem queera óbvio que bombardear e invadir o país não aniquilaria o terrorismo.

No Brasil, temos uma expressão muito popular, ?jeitinho brasileiro?, querepresenta a capacidade do povo de superar adversidades, sejam elaspequenos problemas do cotidiano ou não. O senhor acredita que há naçõescom seres ?redundantes? que saibam sobreviver melhor do que outros?

BAUMAN: O que vocês chamam de ?jeitinho brasileiro? é a maneira que a

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modernização nos obrigou a reagir. Um dos resultados cruciais damodernização é a dependência dos processos da vida humana pelos?jeitinhos?. Isso implica o outro lado da mesma moeda: a vulnerabilidadecrescente dos legítimos modos instruídos de viver.

Aos 80 anos, sua produção intelectual ainda é grande. O que o motiva acontinuar escrevendo?

BAUMAN: Pierre Bourdieu ressaltou que o número de personalidades docenário político que podem compreender e articular expectativas e demandasestá encolhendo. Precisamos aumentá-lo, e isso só pode ser feitoapresentando problemas e necessidades. O próximo século pode ser o dacatástrofe final ou um período no qual um novo acordo entre osintelectuais e as pessoas que representam a Humanidade seja negociado etrazido à tona. Vamos esperar que a escolha entre estes dois futuros aindaseja nossa.

Todas suas obras apresentam um cenário bastante pessimista do mundo. Temosrazão para acreditar em dias melhores?

BAUMAN: Rejeito enfaticamente essa afirmação. Otimistas são pessoas queinsistem que o mundo que temos é o melhor possível; os pessimistas são osque suspeitam que os otimistas podem ter razão. Portanto eu não sou nemotimista nem pessimista, porque acredito fortemente que outro mundo,alternativo e quem sabe melhor, seja possível. Acredito que os sereshumanos sejam capazes de tornar real essa possibilidade.

www.oglobo.com.br/culturaCasamento resistente à fluidez

Não deixa de ser irônico que um intelectual que estude e escreva tantosobre a fluidez dos relacionamentos amorosos na pós-modernidade estejacasado há tantos anos. Há quase seis décadas, Zygmunt e Janina Baumandividem uma casa, três filhas e a paixão pela sociologia. Freqüentementeconvidado para fazer palestras e conferências ao redor do mundo, ZygmuntBauman recusa as propostas por uma razão tão singela quanto romântica: coma saúde um pouco debilitada, Janina não pode acompanhá-lo em suasincursões fora da Inglaterra.

O mais recente livro de Janina acaba de ser lançado no Brasil. ?Inverno namanhã ? Uma jovem no Gueto de Varsóvia? narra os seis anos em que ela, naépoca uma judia não-praticante de 14 anos, viveu no Gueto de Varsóvia. Apartir de seus diários ? escondidos durante a guerra e reencontradosintactos ao final do conflito ? Janina retorna aos anos de medo em queviveu ao lado da mãe e da irmã após Hitler invadir a Polônia. ?Durante aguerra aprendi (...) que a coisa mais brutal da crueldade é que eladesumaniza suas vítimas antes de destruí-las?, conclui.

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Janina graduou-se na Academia de Ciências Políticas e Sociais em Varsóvia,em 1950. Durante 20 anos trabalhou como tradutora, pesquisadora e editorade roteiro em filmes poloneses. Em 1968, Janina, Bauman e as três filhastiveram que deixar a Polônia. Após morarem em Israel, se mudaram paraLeeds, na Inglaterra, onde vivem até hoje. ( G.P. )