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RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E PREVENÇÃO DA PULUIÇÃO (P2): UMA REFLEXÃO DA CONTRIBUIÇÃO NOS PROCESSO PRODUTIVOS DAS EMPRESAS Marcos Daniel Gomes de Castro, Fernanda Serotine Gordono (Faculdade Orígenes Lessa – Facol; Faculdade de Agudos – FAAG) Resumo: Em face aos acontecimentos globais e necessidade de novas estratégias para preservação do meio ambiente, as organizações tem direcionados seus esforços para adequar seus processos e produtos que poluam menos, diminuindo a geração de resíduos. O artigo apresenta os principais conceitos relacionados à utilização da Produção Limpa como estratégia organizacional e como fonte de obtenção de vantagem competitiva. A seguir discute outros instrumentos de melhorias no processo, além dos exemplos de aplicação em empresas. A partir da análise, conclui-se que, o papel do empresário é manter as estratégias e direcionar as atividades, que mantenham os objetivos sociais, ambientais e humanos, da corporação, manter os interesses econômicos, garantindo, portanto a sustentabilidade ambiental. Palavras-chaves: Produção Limpa; Responsabilidade Empresarial, Gestão de Resíduos ISSN 1984-9354

RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E PREVENÇÃO DA … · desenvolve, limitando os respectivos impactos negativos e reforçando os aspectos positivos ao nível econômico, ambiental e

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RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E PREVENÇÃO DA PULUIÇÃO (P2): UMA REFLEXÃO DA CONTRIBUIÇÃO NOS PROCESSO PRODUTIVOS DAS EMPRESAS

Marcos Daniel Gomes de Castro, Fernanda Serotine Gordono

(Faculdade Orígenes Lessa – Facol; Faculdade de Agudos – FAAG)

Resumo: Em face aos acontecimentos globais e necessidade de novas estratégias para preservação do meio ambiente, as organizações tem direcionados seus esforços para adequar seus processos e produtos que poluam menos, diminuindo a geração de resíduos. O artigo apresenta os principais conceitos relacionados à utilização da Produção Limpa como estratégia organizacional e como fonte de obtenção de vantagem competitiva. A seguir discute outros instrumentos de melhorias no processo, além dos exemplos de aplicação em empresas. A partir da análise, conclui-se que, o papel do empresário é manter as estratégias e direcionar as atividades, que mantenham os objetivos sociais, ambientais e humanos, da corporação, manter os interesses econômicos, garantindo, portanto a sustentabilidade ambiental.

Palavras-chaves: Produção Limpa; Responsabilidade Empresarial, Gestão de Resíduos

ISSN 1984-9354

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1 INTRODUÇÃO

Considera-se responsabilidade social, sempre que uma empresa desenvolve a sua ação

numa perspectiva de criação de valor no domínio econômico, social e ambiental. A empresa

responsável é aquela que se preocupa com as consequências de todos os processos que

desenvolve, limitando os respectivos impactos negativos e reforçando os aspectos positivos ao

nível econômico, ambiental e da comunidade.

A comissão Europeia define Responsabilidade Social Empresarial como “a integração

voluntária das preocupações sociais e ambientais, por parte das empresas nas suas operações e na

sua interação com outras partes interessadas. Este posicionamento sempre teve presente em muitas

empresas já existindo, nomeadamente na Europa, uma larga tradição neste sentido. O que sugere

como mais inovador é a alteração do papel atribuído à empresa, dos valores e responsabilidades

que envolvem a atividade empresarial e as implicações em termos das suas práticas de gestão. Na

procura do benefício da Responsabilidade Empresarial, deve-se tomar considerações as pessoas

que constituem o tecido humano da estrutura empresarial (dimensão interna) mas também a

comunidade e o ambiente em que a empresa exerce a sua atividade e com a qual se interage

(dimensão externa). O fator ambiental vem mostrando a necessidade de adaptação das empresas e

consequentemente direciona novos caminhos na sua expansão. As empresas devem mudar seus

paradigmas, mudando sua visão empresarial, objetivos, estratégias de investimentos e de

marketing, tudo voltado para o aprimoramento de seu produto, adaptando à nova realidade do

mercado global e corretamente ecológico.

Atualmente, a preocupação ambiental atinge todas as atividades humanas. Os governos

estão adotando legislações ambientais mais rigorosas. Os cidadãos, por outro lado, estão exigindo

produtos e processos com menor impacto ambiental. Estas novas atitudes constituem um conjunto

de pressões que têm levado as empresas a melhorarem ambientalmente seus processos e produtos,

apresentando o diferencial ambiental como mais um elemento de competitividade

(BITENCOURT et al., 2001).

As questões sociais e ambientais são reunidas e passam a ser ainda mais exigidas no

conceito de sustentabilidade. A sustentabilidade para Gray (2003) é um conceito difícil de aplicar

em qualquer corporação individual. Ele é basicamente um conceito global.

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Prevenção à Poluição (P2) ou redução na fonte, é o uso de práticas, processos, técnicas ou

tecnologias que evitem ou minimizem a geração de resíduos e poluentes na fonte geradora,

reduzindo os riscos globais à saúde humana e ao meio ambiente.

Inclui modificações nos equipamentos, nos processos ou procedimentos, reformulação ou

replanejamento de produtos, substituição de matéria-prima e melhorias nos gerenciamentos

administrativos e técnicos da entidade/empresa, resultante em um aumento de eficiência no uso

dos insumos (matérias-primas, energia, água etc.).

As práticas de reciclagem fora do processo, tratamento e disposição dos resíduos gerados,

não são consideradas atividades de Prevenção à Poluição, uma vez que não implicam na redução

da quantidade de resíduo e/ou poluentes na fonte geradora, mas atuam de forma corretiva sobre os

efeitos e as consequências oriundas dos resíduos geradas (UESPA, 1990).

É interessante ressaltar que as técnicas de Prevenção á Poluição (P2) fazem parte das de

Produção mais Limpa (P+L), mas não são únicas. Existem, além destas, estratégias de P+L para

quando não se consegue evitar ou minimizar a geração do resíduo, e consideram basicamente em

buscar outros usos para estes, exemplo (reuso, reciclagem).

É importante o empresário conscientizar de sua parcela, e o papel da instituição, em

relação a seus colaboradores, e a sociedade, norteando estrategicamente os interesses econômicos

de forma a preservar o meio ambiente. Novas técnicas surgem para desenvolver estratégias de

como relacionar os interesses econômicos, de forma que satisfaça os objetivos e a necessidade

social e ambiental.

2 O PAPEL DO EMPRESÁRIO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Diante das novas mudanças no contexto global em relação ao meio ambiente, o papel do

empresário será imprescindível à adoção de novas formas de gestão que visem ao uso racional dos

insumos, a diminuição do desperdício e à utilização de práticas responsáveis em relação aos seus

empregados e parceiros. Dentre essas práticas pode-se citar a Ecoeficiência, que segundo Barbieri.

“baseia-se na ideia de que a redução de materiais e energia por unidade de produto ou serviço

aumenta a competitividade das empresas, ao mesmo tempo, que reduz as pressões sobre o meio

ambiente seja como fonte de recurso, seja como depósito de resíduos” (2004,p.123).

Outra prática empresarial relacionada ao uso racional de recursos é o Ecodesign. Barbieri

afirma que “ a ideia básica desse modelo é atacar os problemas ambientais na fase de projeto, pois

as dificuldades e, consequentemente, os custos para efetuar modificações crescem à medida que as

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etapas do processo de inovação se consolidam” (BARBIERI,2004, p.123). O Ecodesign se destaca

por buscar analisar os efeitos do produto na saúde e segurança dos trabalhadores e consumidores e

os impactos na natureza ao longo do seu ciclo de vida.

Em relação às ações empresariais, não se pode deixar de citar a Responsabilidade

Ambiental e Social Corporativa que visa unir os objetivos econômicos da empresa com as novas

demandas sociais e ambientais da sociedade.

Por último, faz necessário explicitar o papel da sociedade civil no projeto de

Desenvolvimento Sustentável. A população pode, utilizando o seu poder de compras,

pressionarem as empresas para que as mesmas adotem práticas sócio-ambientais sustentáveis.

Podem, também, contribuir e participar do movimento do Desenvolvimento Sustentável com a

criação de organizações não governamentais (ONGs). Desta forma, estarão ampliando seu poder

de pressão junto ao governo e às empresas.

2.1 Benefícios da Administração com Consciência Ecológica

Para Winter apud Callenbach (1993), seis são as razões pelas as quais todo administrador

ou empresário responsável deve implementar os princípios da administração com consciência

ecológica em sua companhia:

Sobrevivência humana – sem empresas com consciência ecológica, não

poderemos ter uma economia com consciência; sem uma economia com a consciência ecológica, a

sobrevivência humana estará ameaçada.

Consenso público – sem empresas com consciência ecológica, não haverá

consenso entre o povo e a comunidade de negócios; sem esse consenso, a economia de mercado

estará politicamente ameaçada.

Oportunidades de Mercado – sem administração com consciência ecológica,

haverá perda de oportunidades e mercados em rápido crescimento.

Redução de Riscos – Sem administração com consciência ecológica as empresas,

correm o risco de responsabilização por danos ambientais, que potencialmente envolvem imensas

somas de dinheiro, e de responsabilização pessoal de diretores, executivos e outros integrantes de

seus quadros.

Redução de custos – sem administração com consciência ecológica, serão perdidas

numerosas oportunidades de reduzir custos.

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Integridade Pessoal – sem administração com consciência ecológica, tanto os

administradores como os empregados terão a sensação de falta de integridade pessoal, sendo,

assim, incapazes se identificar-se totalmente com seu trabalho.

2.2 Preservações a Poluição (P2), Minimização de Resíduos e Reciclagem

Segundo a United Nations Environmental Program (UNEP), o termo Produção Mais

Limpa e Prevenção de Poluição, são às vezes, usados, trocados entre si. A distinção entre os dois é

geográfica. O termo prevenção de poluição tende a ser usado na América do Norte, enquanto

produção mais limpa usado em outras partes do mundo. Ambos, Produção mais Limpa (P+L) e

Prevenção de Poluição (P2), têm o foco na redução contínua da poluição e do impacto ambiental

através da redução de recursos.

Segundo Mahmoud (1997), para efetuar a prevenção da poluição, minimização ou

reciclagem podem ser usados experimentos em laboratórios ou planta piloto. O processo de

otimização envolve melhor solução entre várias. Para isto deve-se usar uma metodologia

integrada. O grau de excelência da solução é medindo usando uma função objetivo (por exemplo,

custo, geração de resíduos), os quais podem ser minimizados ou maximizados. As restrições são

as variáveis importantes, resultante da igualdade e desigualdade de expressões como balanço de

energia, equação do modelo de processo, requisitos termodinâmicos, quantidades de certos

poluentes, que devem ficar abaixo dos limites especificados. Existem programa simuladores que

podem ser adaptados a cada caso. O ideal é integrar custo, balanço de massa, de energia e

beneficio ao meio ambiente para escolha do melhor processo.

O órgão de proteção ambiental do Canadá define Prevenção de Poluição como uso de

processos, práticas, materiais, produtos ou energia que evite ou minimize a criação de poluentes

ou resíduos que reduza o risco à saúde humana e ao meio ambiente. Já na Agência de Proteção

Ambiental dos Estados Unidos (EPA), define Prevenção de Poluição como redução da fonte,

prevenindo ou reduzindo resíduos onde são originados.

Na prevenção, segundo EPA, pode se incluir:

Atitudes que reduzam volume de toxidade de poluentes e geração de resíduos

durante o processo de manufatura e que podem diminuir a toxidade do produto antes da

reciclagem, tratamento e disposição;

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Mudança de disign de produto, na composição da matéria prima e no produto final

para diminuir os poluentes gerados durante a produção e para reduzir o impacto ambiental durante

pós ou ciclo de vida do produto (ex: replanejar uma pintura, usando tinta a base d água, sem

solventes e compostos contendo metais pesados);

Mudança de tecnologia/mudança de processo como, por exemplo, a melhoria de

vedação de um equipamento ou ajuste da temperatura para reduzir emissões ou a substituição do

processo de limpeza com solvente por sistema seco abrasivo;

Mudança de material na alimentação, assim como a substituição de produtos

químicos perigosos por outros menos nocivos, Ex.: substituição do cloro por Ozônio no

branqueamento;

Reciclagem reutilização no próprio processo como um sistema fechado. Um

material secundário que pode ser usado, reutilizado ou recuperado (ex: metais, solventes, tintas,

águas);

Medidas de melhorias na operação e manutenção preventiva, controle de estoque e

gerenciamento empresarial.

De acordo com GTZ – 3PU BONN & FUNDAÇÃO EMPRENDER BRAZIL, boas

práticas gerenciamento empresarial incluem medidas simples como, por exemplo, a redução do

consumo de energia pela exploração da luz natural do dia em uma garagem. Ações como a

colocação de telhas transparentes no teto e tijolos de vidro transparentes no teto e tijolos de vidro

transparente nas paredes, pintura branca para paredes de cimento, para melhor refletir a luz

natural, ocasionam uma grande economia de energia elétrica, já que antes destas mudanças as

lâmpadas permaneciam acesas durante 12 horas por dia e, após a mudança, as lâmpadas

permanecem acesas por apenas 3 horas por dia.

Laing (1994), a minimização de resíduos para evitar “o tratamento fim de tubo” usando

quatro níveis hierárquicos: reduzir a poluição na fonte, maximizar a reciclagem e reutilização de

resíduo, efetuar tratamentos, quando não possível, reutilizar ou reciclar por método que cause

menor impacto ambiental possível, e realizar disposição final segura. Considera que as técnicas

mais importantes são a redução na fonte, a reciclagem e reutilização.

Mananhan (1997) faz uma colocação importante quando diz que minimizar as quantidades

de resíduos é um bom negócio. Significa economizar. Quando, mesmo assim, ainda houver

resíduos, deve-se lembrar que resíduos são materiais, materiais têm valor e todo material deve ser

usado para um beneficiamento e não para descarga como resíduo, normalmente com alto custo de

disposição.

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Conforme quadro 1, mostra um comparativo entre atitudes de controle da poluição e

produção mais limpa:

Quadro 1 - Comparação entre atitudes de controle da poluição e produção mais

limpa

COMPARAÇÃO ENTRE ATITUDES DE CONTROLE DA POLUIÇÃO E PRODUÇÃO MAIS LIMPA

O enfoque do controle de poluição O enfoque da produção mais limpa

Poluentes são controlados por filtros e métodos de tratamento do lixo

Poluentes são evitados na origem, através de medidas integradas

O controle de poluição é avaliado depois do desenvolvimento de processos e produtos e quando os problemas aparecem

A prevenção da poluição é parte integrante do desenvolvimento de produtos e processos

Controles de poluição e avanços ambientais são sempre considerados fatores de custo pelas empresas

Poluição e rejeitos são considerados recursos potenciais e podem ser transformados em produtos úteis e sub-produtos desde que não tóxicos

Desafios para avanços ambientais devem ser administrados por peritos ambientais tais como especialistas em rejeitos

Desafios para avanços ambientais deveriam ser de responsabilidade geral na empresa, inclusive de trabalhadores, designers e engenheiros de produto e de processo

Avanços ambientais serão obtidos com técnicas e tecnologia

Avanços ambientais incluem abordagens técnicas e não técnicas

Medidas de avanços ambientais deveriam obedecer aos padrões definidos pelas autoridades

Medidas de desenvolvimento ambiental deveriam ser um processo de trabalho contínuo visando a padrões elevados

Qualidade é definida como ‘atender as necessidades dos usuários’

Qualidade total significa a produção de bens que atendam às necessidades dos usuários e que tenham impactos mínimos sobre a saúde e o ambiente

3 PRODUÇÃO LIMPA

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Os sistemas de produção industrial exigem recursos: materiais, a partir dos quais os

produtos são feitos; energia, usada para transportar e processar materiais; bem como água e ar. Os

sistemas de produção atuais são lineares ou cradle-to-grave e com frequência usam substâncias

nocivas e recursos finitos em vastas quantidades e ritmo acelerado.

Recursos

não-

renováveis

ou

renováveis

de forma

não

sustentável

Matérias-

primas

Resíduos

perigosos

Fabricação

Resíduos

perigosos

Produtos

tóxicos

de vida

curta

Montanhas

de resíduos

tóxicos

Resíduos

perigosos

Figura 3: Estrutura linear da economia industrial

O objetivo da Produção Limpa é atender nossa necessidade de produtos de forma

sustentável, isto é, usando com eficiência materiais e energia renováveis, não-nocivos,

conservando ao mesmo tempo a biodiversidade. Os sistemas de Produção Limpa são circulares e

usam menor número de materiais, menos água e energia. Os recursos fluem pelo ciclo de

produção e consumo em ritmo mais lento. Em primeiro lugar, os princípios da Produção Limpa

questionam a necessidade real do produto ou procuram outras formas pelas quais essa necessidade

poderia ser satisfeita ou reduzida.

A Produção Limpa implementa o Princípio Precautório — uma nova abordagem holística e

integrada para questões ambientais centradas no produto. Essa abordagem assume como

pressuposto que a maioria de nossos problemas ambientais — por exemplo: aquecimento global,

poluição tóxica, perda de biodiversidade — é causada pela forma e ritmo no qual produzimos e

consumimos recursos. Também considera a necessidade da participação popular na tomada de

decisões políticas e econômicas.

3.1 Os quatro Elementos da Produção Limpa

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a) O Enfoque Precautório

O Enfoque Precautório prevê que o ônus da prova fique a cargo do agente poluidor em

potencial, para que ele demonstre que uma substância ou atividade não causará danos ambientais,

em vez de ser responsabilidade das comunidades provar esse dano. Essa abordagem rejeita o uso

exclusivo da avaliação quantitativa do risco na tomada de decisões, pois reconhece as limitações

do conhecimento científico para determinar se o uso de uma substância química ou atividade

industrial é procedente. Ela não ignora a ciência, mas reconhece que, como a produção industrial

tem também impacto social, outros profissionais com poder para tomar decisões, além dos

cientistas, devem estar envolvidos.

b) O Enfoque Preventivo

É mais barato e eficiente prevenir danos ambientais do que tentar controlá-los ou "remediá-

los". A prevenção requer que se parta do início do processo de produção para evitar a fonte do

problema, em vez de tentar controlar os danos em seu final. A prevenção da poluição substitui seu

controle. Por exemplo: a prevenção requer alterações de processos e produtos para impedir a

geração de resíduos incineráveis, em vez de se desenvolver incineradores sofisticados.

Analogamente, práticas de uso eficiente de energia, na demanda e na oferta, substituem a atual

ênfase exagerada no desenvolvimento de novas fontes de energia a partir de combustíveis fósseis.

c) Controle Democrático

A Produção Limpa envolve todas as pessoas afetadas pelas atividades industriais, como

trabalhadores, consumidores e comunidades. O acesso a informações e o envolvimento desses

atores sociais na tomada de decisões assegura o controle democrático. No mínimo, as

comunidades devem ter informações sobre emissões industriais e ter acesso a registros de

poluição, planos de redução de uso de substâncias tóxicas, bem como aos dados sobre os

ingredientes de um produto.

d) Abordagem Integrada e Holística

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A sociedade deve adotar uma abordagem integrada para o uso e o consumo de recursos

ambientais. Atualmente, a administração do ambiente é fragmentada, o que permite que os

poluentes sejam transferidos entre o ar, a água e o solo. As reduções nas emissões de poluentes

centradas nos processos de produção fazem com que o risco seja transferido para o produto. Esse

risco pode ser minimizado tratando-se corretamente todos os fluxos de materiais, água e energia, o

ciclo de vida útil completo do produto e o impacto econômico da passagem para a Produção

Limpa. A ferramenta usada para uma abordagem holística é a Análise do Ciclo de Vida Útil. A

abordagem integrada é essencial para assegurar que, quando materiais nocivos forem sendo

progressivamente eliminados — caso do PVC —, não sejam substituídos por substâncias que

representem novas ameaças ao ambiente.

3.2 O Desenvolvimento da Produção Limpa

Os governos tradicionalmente abordam o gerenciamento ambiental estabelecendo padrões

de cargas de poluição admissíveis para água, ar e terra. A indústria reage instalando equipamentos

— como filtros — só nos dispositivos de final de processo para manter esses padrões de emissão.

A contínua degradação do ambiente é prova de que essa abordagem tem falhas graves. Em

primeiro lugar, ela supõe que o ambiente pode tolerar certa quantidade de poluição. Além disso,

como água, ar e terra em geral são regulamentados por autoridades diferentes, essa fragmentação

resulta na troca de substâncias tóxicas entre ar, água e solo. São exemplos disso a descarga de

filtros contaminados em aterros nos quais envenenam tanto o solo como, por fim, o lençol

freático; ou lodo de esgoto contaminado queimado em incineradores de resíduos que provocam a

poluição do ar e também a do solo e do lençol freático quando as cinzas desse incinerador são

descarregadas.

Alguns governos reconheceram as limitações desse abordagem e introduziram o Controle

Integrado de Poluição. É o caso da Grã-Bretanha, da União Européia e da Suécia. Contudo,

mesmo essas políticas deixam de reconhecer que a maior parte da poluição não pode ser

controlada. A ênfase deve ser dada à prevenção.

Nos últimos anos, mais de 30 estados norte-americanos transformaram em lei a prevenção

da poluição e introduziram o planejamento obrigatório para a redução de substâncias tóxicas. O

estado de Massachusetts fundou o Instituto de Redução de Uso de Substâncias Tóxicas (TURI, de

Toxics Use Reduction Institute) para ajudar as indústrias a eliminar gradualmente o uso de

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materiais tóxicos nos processos de produção. O TURI também pesquisa e divulga ativamente

informações sobre processos e materiais mais seguros.

Contudo, a estratégia mais bem-sucedida para eliminar substâncias tóxicas de processos de

produção foi a introdução de proibições e reduções progressivas em âmbito nacional e regional.

São exemplos o chumbo, PCBs (bifenilas policloradas), DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) e

mercúrio. Infelizmente, as proibições não foram globais e a poluição continua a circular no

ambiente, tanto devido a emissões passadas como oriundas da produção em andamento. Ainda

assim, os resultados são significativos.

3.3 Produção Mais Limpa

Produção mais Limpa significa a aplicação continua de uma estratégia econômica,

ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso

de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem de

resíduos gerados em um processo produtivo.

Esta abordagem induz inovação nas empresas, dando um passo em direção ao

desenvolvimento econômico sustentado e competitivo, não apenas para elas, mas para toda a

região que abrangem.

Tecnologias ambientais convencionais trabalham principalmente no tratamento de resíduos

e emissões gerados em um processo produtivo. São as chamadas técnicas de fim de tubo. A

Produção mais Limpa pretende integrar os objetivos ambientais aos processos de produção, a fim

de reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade e periculosidade.

São utilizadas várias estratégias visando a Produção mais Limpa e a minimização de

resíduos.

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Figura 03: Produção mais limpa

A prioridade da Produção mais Limpa está no topo (à esquerda) do fluxograma: evitar a

geração de resíduos e emissões (nível 1). Os resíduos que não podem ser evitados devem,

preferencialmente, ser reintegrados ao processo de produção da empresa (nível 2). Na sua

impossibilidade, medidas de reciclagem fora da empresa podem ser utilizadas (nível 3). A prática

do uso da Produção mais Limpa leva ao desenvolvimento e implantação de Tecnologias Limpas

nos processos produtivos.

Para introduzirmos técnicas de Produção mais Limpa em um processo produtivo, podem

ser utilizadas várias estratégias, tendo em vista metas ambientais, econômicas e tecnológicas.

A priorização destas metas é definida em cada empresa, através de seus profissionais e

baseada em sua política gerencial. Assim, dependendo do caso, poderemos ter os fatores

econômicos como ponto de sensibilização para a avaliação e definição de adaptação de um

processo produtivo e a minimização de impactos ambientais passando a ser uma consequência, ou

inversamente, os fatores ambientais serão prioritários e os aspectos econômicos tornar-se-ão

consequência.

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3.3 Exemplo de Aplicação do Programa Produção Mais Limpa

Sem nenhum investimento, como se operasse um verdadeiro milagre, a Erimpress

Etiquetas Ltda., pequena indústria gráfica de São Paulo, resolveu um problema ambiental que

atormentava seus funcionários e os moradores da vizinhança: ela simplesmente trocou o silicone à

base de solventes orgânicos que usava na fabricação de etiquetas adesivas por silicone à base de

água. O produto não perdeu qualidade e a empresa eliminou os fortes odores que tanto

perturbavam funcionários e vizinhos. A divulgação de casos como esse, da Erimpress, é feita pela

Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), órgão ambiental do governo do

Estado de São Paulo, como parte dos preparativos para a Semana da Produção mais Limpa (P +

L), que terá início amanhã nos salões da Faculdades Integradas de São Paulo (Fisp), no bairro do

Morumbi. O caso da Eripress não é único entre o universo de empresas brasileiras a descobrir que

é possível resolver problemas ambientais e ao mesmo tempo reduzir custos e ampliar receitas.

Outro caso citado é o da 3M, indústria química de grande porte. Até há pouco tempo, a fábrica da

3 M de Sumaré, na região de Campinas, em São Paulo, vendia por preço irrisório toneladas de

retalhos de PVC acumulados na fabricação de tapetes para uso residencial. A fábrica investiu a

bagatela de R$ 3 mil em moldes e desenhos e passou a utilizar os retalhos para produção de

tapetes personalizados. Hoje, ela produz 14.400 tapetes por ano e fatura perto de US$ 36 mil.

4 CONCLUSÃO

Observa-se, pelo estudo realizado ultimamente cresce o interesse das empresas em integrar

em seus processos a responsabilidade social, além de dar sustentação aos pilares que norteiam essa

sustentabilidade, colocar produtos ecologicamente viáveis ao consumidor, minimizando os

impactos ambientais, e implantando tecnologias de produção, que minimiza o uso de recursos

naturais e geração de resíduos. Além de relacionar o fator econômico, é importante salientar, o

fator humano, que tem relação com os funcionários das empresas e comunidade em geral, esses

são integrantes que participam efetivamente das estratégias corporativa e sofrem o impacto do seu

desempenho. A metodologia empregada pelo programa P2 e Produção Mais Limpa, tem como

objetivo principal reduzir os impactos ambientais em suas fontes geradoras, ou seja, uma trata

implantação de tecnologias em todo ciclo de vida do produto, onde onera os impactos ambientais,

enquanto a P2, trata a Prevenção a Poluição, não com abordagem sistêmica, da fabricação dos

materiais, em intervenções pontuais que são realizadas.

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O papel do Empresário é manter as estratégias, direcionar as atividades que mantenham os

objetivos sociais, ambientais e humanos da corporação, manter os interesses econômicos,

garantindo, portanto a sustentabilidade ambiental.

5 REFERÊNCIAS

BITENCOURT, A. C. P.; et al. Sistematização do Reprojeto Conceitual de Produtos para o Meio Ambiente. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO DE DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO, 3, 2001, Florianópolis. Anais eletrônicos. Florianópolis, 2001.

BARBIERE, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelo e Instrumentos, 1 ed. São Paulo: Editora Saraiva 2009.

CALLENBACH, E., et al. Gerenciamento Ecológico – Eco-Management – Guia do Instituto Elmwood de Auditoria Ecológica e Negócios Sustentáveis. São Paul: Ed. Cultrix, 2009.

CETESB – SETOR DE TÉCNICAS DE PREVENÇÃO À POLUIÇÃO. Relatórios Ambientais. Metodologia para a implantação de um programa de P2. São Paulo. SP (2009) pg.

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EPA/530-R-09-015-Maio/09. disponivel em: http://www.epa.gov/epa.oswer/minimize (acesso 20/05/2009)

GAZETA MERCANTIL – Saneamento & Saúde – 22/07/2002 – Pág. C-6.Fonte: http://www.institutodopvc.org/prod.htm

GRAY, R. Responsabilidade, sustentabilidade e contabilidade social ambiental: o setor coorporativo pode se pronunciar?

http://www.gla.ac.uk/departments/accounting/csear/studentresources/index.html (acesso 15 maio de 2009)

GTZ-3PU BONN & FUNDAÇÃO EMPREENDER BRAZIL. Applyng Good house Keeping. Example nº 1. Bonn. Germany. (2009)

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http://www.vanzolini.org.br/areas/desenvolvimento/producaolimpa