Assembléias Escolares

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    Sumrio

    Introduo .............................................................................................2 Assemblias escolares e resoluo de conflitos ...............................4 Assemblias escolares .........................................................................6 Mediao escolar ................................................................................14

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    INTRODUO

    In Democracia, tradicionalmente, refere-se forma de governo, ou ao governo da maioria. Quando levamos essa discusso para o mbito da educao, no entanto, algumas perguntas surgem de imediato: escola democrtica aquela em que a forma de organizao est pautada no princpio de que deve ser governada pelos interesses da maioria, que so os alunos e as alunas? Ou ento, ser que democrtica a maioria dos estudantes decidir, por exemplo, pela excluso de um (a) colega de seu convvio? O autor catalo Josep Puig, em seu livro Democracia e participao escolar1 (Moderna, 2000), nos lembra de que, embora o termo democracia seja til para definir um modelo desejvel de relaes polticas na sociedade, em instituies como a famlia e a escola existem uma assimetria natural nas relaes, determinada pela diferena na responsabilidade dos papis sociais, que nos levam a compreender a democracia a partir de outros referenciais. Por exemplo, a relao pai/me com seus filhos (as) no uma relao horizontal, de simetria, baseada na igualdade, pois os pais, como adultos, tm responsabilidades que os obrigam, muitas vezes, a ter de contrariar interesses de seus filhos e filhas. Da mesma forma, a relao do (a) docente com seus alunos e suas alunas no horizontal, simtrica, pois esses atores e atrizes sociais tm papis e responsabilidades diferentes dentro da sociedade. Para que o modelo de democracia seja justo e almeje a liberdade individual e coletiva, necessrio que a igualdade e a equidade (que reconhece o princpio da diferena dentro da igualdade) sejam compreendidas como complementares. Ao mesmo tempo em que no se pode perder de vista o direito e o respeito diversidade, ao pensamento divergente. Se quisermos compreender a democracia Na escola, devemos reconhecer, ao mesmo tempo, a diferena nos papis sociais e nos deveres e buscar aqueles aspectos em que todos os membros da comunidade escolar tm os mesmos direitos. PUIG, Josep e outros. Democracia e participao escolar. So Paulo: Moderna, 2000. A igualdade de direitos deve ser objetivada nas instituies sociais, Por exemplo, o direito ao dilogo, livre expresso de seus. Sentimentos e ideias, ao tratamento respeitoso, dignidade, etc. Tal discusso importante para a apresentao de propostas que Promovam o convvio democrtico, dentro das instituies escolares. O trabalho voltado promoo do protagonismo dos jovens (aqui Compreendidos pelas pessoas, homens e mulheres, entre 15 e 24 anos. (De idade), visando construo da cidadania, no pode estar dissociado. Da compreenso sobre os papis que professores (as), direo da escola. E outros atores e atrizes sociais desempenham no funcionamento Da instituio, intimamente ligados s responsabilidades inerentes.

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    s obrigaes sociais e profissionais de cada um. Assim, articular Em tais propostas os princpios de igualdade entre as pessoas, Reconhecendo que somos, ao mesmo tempo, diferentes, em deveres. E responsabilidade pode contribuir para a democratizao real das Relaes humanas no interior das escolas. Tais ideias ficaro mais evidenciadas a partir dos textos Disponibilizados para este mdulo de "Convivncia Democrtica". Propondo uma ampliao do papel dos jovens nos processos Decisrios da escola e na resoluo de seus conflitos cotidianos, Buscar-se- evidenciar o papel da responsabilidade individual e Coletiva nas tomadas de deciso. O primeiro texto traz a experincia das assembleias escolares como Um caminho para a resoluo de conflitos, envolvendo, em seus. Diferentes nveis, relaes entre pares, entre pares e docentes, entre. Docentes e direo e outras formas mais. O vdeo, incorporado a. Este mdulo para ser trabalhado nas reunies do Frum Escolar De tica e de Cidadania e em sala de aula, foi produzido pelo. Prprio Ministrio da Educao, mostrando passo a passo como. Implantar as assembleias escolares nas escolas. E, ao invs de trazer. Um relato de experincia decidiu-se, para este mdulo, outro. Tipo de perspectiva para a resoluo democrtica de conflitos: a Mediao, apresentando uma proposta de trabalho com mediadores. De conflitos para as escolas. A

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    Convivncia Democrtica

    Concebendo os conflitos interpessoais como contedo essencial para a formao tica e moral das futuras geraes, no texto que se segue Ulisses F. Arajo os traz para o cenrio educacional, sinalizando estratgias de resoluo de conflitos como um caminho profcuo para promoo do protagonismo juvenil. O texto apresenta, na sequncia, o trabalho com as assembleias escolares como um espao para resoluo de conflitos. Tal espao pressupe: dilogo, participao, reflexo, crtica, negociao, compreenso, descoberta, etc., ou seja, elementos fundamentais para que o protagonismo se faa presente. Acreditamos que sua leitura e discusso podem contribuir para incrementar a participao coletiva em decises e acordos participativos no contexto escolar.

    A resoluo de conflitos Conflito situao permanente de oposio, desacordo ou luta entre pessoas ou coisas. Uma situao em que no se pode fazer o que necessrio fazer. Momento de impasse, choque, coliso, questionamento, desacordo, diferena, discrepncia, discusso, desgosto, encontro, disputa... Buscando em dicionrios, todos esses termos do significado palavra conflito. Por razes que podemos atribuir influncia da tradio judaico-crist no pensamento ocidental, que dicotomia nossa maneira de compreender as relaes humanas, tendemos a atribuir carter negativo aos conflitos cotidianos, vistos como incompatveis com o amor, o afeto e a harmonia que deveria reinar nas relaes humanas. Por isso so reprimidos, subestimados, criticados, ignorados e, em geral, condenados. O conflito uma parte natural de nossas vidas e apenas isso j seria suficiente para consider-lo um importante tema de estudo. De fato, todas as teorias interacionistas em filosofia, psicologia e educao esto aliceradas no pressuposto de que nos constitumos e somos constitudo a partir da relao direta ou mediado com o outro, seja ele de natureza subjetiva ou objetiva. Nessa relao, deparamo-nos com as diferenas e as semelhanas que nos obrigam a comparar, descobrir, resinificar, compreender, agir, buscar alternativas e refletir sobre ns mesmos e sobre os demais. O conflito torna-se, portanto, a matria-prima para nossa constituio psquica, cognitiva, afetiva, ideolgica e social. :

    Os educadores conscientes de tal fato, em vez de condenar e reprimir deveriam mudar a perspectiva de seus olhares e prticas e buscar compreender os conflitos como um contedo essencial para a formao psicolgica e social dos seres humanos, e encarar o desafio de introduzir o trabalho sistematizado com conflitos no dia-a-dia das salas de aula. Em vez de assumirem posturas de eterna conciliao e anulao das diferenas de valores, interesses, preferncias e gostos de seus alunos e alunas, posturas ES as que geralmente tm como substrato a tentativa de homogeneizao dos seres humanos, poderiam incorporar os conflitos cotidianos como o material de

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    onde se produziriam textos, e se desenvolveriam projetos de pesquisa e se construiriam os momentos de dilogo na escola. O que justifica tal preocupao? Como nos lembram no livro Resoluo de conflitos e aprendizagem emocional: gnero e transversalidade, Genoveva Sastre e Montserrat Moreno: No fomos preparados para compartilhar nem para resolver com agilidade e de forma no violenta os problemas que iam surgindo em nossas relaes pessoais. No desenvolvemos a sensibilidade necessria para saber interpretar a linguagem de nossos sentimentos. Nossa razo no foi exercitada na resoluo de conflitos e tampouco dispnhamos de um repertrio de atitudes e comportamentos prticos que nos permitissem sair dignamente de uma situao. Em sntese, nossa formao nos tornou mais hbeis para lidar com o mundo fsico do que com o social, aprendemos mais coisas do mundo exterior que de nossa prpria intimidade, conhecemos mais os objetos que as pessoas do nosso convvio (2002, p.19). A escola que conhecemos tem seu grau de responsabilidade neste processo de formao que ignora a importncia das relaes interpessoais e dos conflitos para a formao integral dos seres humanos. Um currculo com base apenas no mundo externo e umas limitaes espao-temporais que justificam as dificuldades que se impem ao trabalho com as relaes humanas fazem com que os sistemas educativos no cumpram com um importante papel que lhes atribudo pela sociedade: o da formao de cidados e cidads autnomos (as), que tenham as competncias necessrias para lidar de modo tico com seus conflitos pessoais e sociais. A educao com base em propostas de resoluo de conflitos est cada vez mais difundida em todo o mundo, dentro de perspectivas que buscam melhorar o convvio social e criar alicerces para a construo de sociedades e culturas mais democrticas e sensveis tica nas relaes humanas. De acordo com Schnitman (2000), no entanto, a maioria das experincias atuais se baseia em modelos tradicionais que utilizam arbitragens, mediaes, negociaes e terapias. Em geral, atuam sobre objetivos especficos e prticos e pautam-se em pressupostos dicotmicos de ganhar e perder nas resolues. Por sua vez, mostra essa autora, surgem novos paradigmas em resoluo de conflitos, que, com base na comunicao e em prticas discursivas e simblicas, promovem dilogos transformativos. Tais propostas no adotam o pressuposto de que em um conflito h sempre ganhadores e perdedores, e sim afirmam que possvel construo do interesse comum, em que todos os envolvidos ganhem conjuntamente, com uma co-participao responsvel. Elas permitem aumentar a compreenso, o respeito, e construir aes coordenadas que considerem as diferenas, as quais incrementam o dilogo e a participao coletiva em decises e acordos participativos. Por fim, acreditam na importncia do protagonismo das pessoas ao enfrentar os conflitos em suas vidas e entendem que tal processo deve enfocar no apenas emoes, intenes e crenas dos participantes, mas tambm domnios simblicos, narrativos e dialgicos como o meio pelo qual se constroem e transformam significados e prticas, permitindo o aparecimento de identidades, mundos sociais e novas formas de relaes.

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    Programas educativos que assumam a perspectiva de trabalhar os conflitos e os problemas humanos como um elemento essencial de sua organizao curricular possa, de acordo com Sastre e Moreno: Formar os (as) alunos (as), desenvolver sua personalidade, faz-los (as) conscientes de suas aes e das consequncias que acarretam conseguir que aprendam a conhecer melhor a si mesmos (as) e s demais pessoas, fomentar a cooperao, a autoconfiana e a confiana em suas companheiras e seus companheiros, com base no conhecimento da forma de agir de cada pessoa, e a beneficiar-se das consequncias que estes conhecimentos lhes proporcionam. A realizao destes objetivos leva a formas de convivncia mais satisfatrias e melhoria da qualidade de vida das pessoas, qualidade de vida que no se baseia no consumo, e sim em gerir adequadamente os recursos mentais... Intelectuais e emocionais, para alcanar uma convivncia humana muito mais satisfatria (2002, p. 58). O trabalho com assembleias escolares complementa a perspectiva que acabamos de discutir de novos paradigmas em resoluo de conflitos, pois permite, em sua prtica, partindo do conhecimento psicolgico de si mesmo e das outras pessoas sobre o que preciso para resolver os conflitos, chegar ao conhecimento dos valores e princpios ticos que devem fundamentar o coletivo da classe. Ao mesmo tempo, evidentemente, permite a construo psicolgica, social, cultural e moral do prprio sujeito, em um movimento dialtico em que o coletivo transforma e constitui cada um de ns, que transformamos e ajudamos na constituio dos espaos e das relaes coletivas.

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    As assembleias escolares Nas pginas anteriores foram apresentados alguns pressupostos essenciais sob os quais podemos assentar as bases das assembleias escolares e sua relevncia para a construo de importantes aspectos da vida coletiva e pessoal de cada um e de todos os seres humanos: a democracia escolar e social; o protagonismo e a participao social; os valores morais e ticos; o entendimento sobre como estratgias de resoluo de conflitos podem contribuir para a formao tica e psquica das pessoas, bem como para a transformao das relaes interpessoais no mbito escolar. Mas o que so assembleias escolares? De acordo com Puig (2000), as assembleias so o momento institucional da palavra e do dilogo. O momento em que o coletivo se rene para refletir, tomar conscincia de si mesmo e transformar tudo aquilo que os seus membros consideram oportuno. um momento organizado para que alunos e alunas, professores e professoras possam falar das questes que lhes paream pertinentes para melhorar o trabalho e a convivncia escolar. Alm de ser um espao para a elaborao e reelaborao constante das regras que regulam a convivncia escolar, as assembleias propiciam momentos para o dilogo, para a negociao e o encaminhamento de solues dos conflitos cotidianos. Dessa maneira, contribuem para a construo de capacidades psicomorais essenciais ao processo de construo de valores e atitudes ticas. Em outra perspectiva, com esse tipo de trabalho, professores tm tambm a. Oportunidade de conhecer melhor seus alunos e suas alunas em facetas que no so possveis no dia-a-dia da sala de aula. Temas como disciplina e indisciplina deixam de ser obrigao somente da autoridade docente e passam a ser compartilhados por todo o grupo classe, responsveis pela elaborao das regras e pela cobrana de seu respeito. Enfim, o espao das assembleias propicia uma mudana radical no modo como as relaes interpessoais so estabelecidas dentro da escola, as quais, se devidamente coordenadas com relaes de respeito mtuo, permitem verdadeiramente a construo de um ambiente escolar dialgico e democrtico. Tais objetivos so possveis de ser atingidos quando as assembleias so institucionalizadas nos centros educativos com periodicidades e espaos determinados para esse fim, Permitindo que se dedique uma pequena parte do tempo que as pessoas passam na escola a encontros, durante os quais podem dialogar sobre os conflitos e as coisas positivas relacionadas ao seu convvio. Diferentemente de outros modelos de resoluo de conflitos, as assembleias no buscam medi-los no pressuposto de que existe o certo e o errado e de que deve haver uma pessoa munida de autoridade institucional com responsabilidade para julgar e decidir os problemas, estabelecer recompensas e sanes ou mesmo obrigar as partes envolvidas a chegar a um consenso nico. Essa concepo abre espao, muitas vezes, para posturas arbitrrias, injustas e autoritrias, que promovem decises a partir dos valores e das crenas de uma pessoa com autoridade legitimada pela sociedade.

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    O modelo das assembleias o da democracia participativa, que tenta trazer para o espao coletivo a reflexo sobre os fatos cotidianos, incentivando o protagonismo das pessoas e a coparticipao do grupo na busca de encaminhamentos para os temas abordados, respeitando e naturalizando as diferenas inerentes aos valores, s crenas e aos desejos de todos os membros que delas participam. Com isso, nem sempre o objetivo o de se obter consenso e acordo, e sim o de explicitar as diferenas, defender posturas e ideias muitas vezes opostas e, mesmo assim, levar as pessoas a conviverem num mesmo espao coletivo. Dentre outras coisas, o que se tenta com essa forma de se trabalhar os conflitos reconhecer e articular os princpios de igualdade e de equidade nas relaes interpessoais nos espaos de convivncia humana, o que nos remete construo da democracia e da justia. Como isso se opera? Em um espao de assembleia, ao se dialogar sobre um conflito, garantido a todos os membros que dela participam a igualdade de direitos de expressar seus pensamentos, desejos e modos de ao, ao mesmo tempo em que garantido tambm o pelo dilogo, mediado na assembleia pelo grupo, as alternativas de soluo ou de. Enfrentamento de um problema compartilhado, e as diferenas vo sendo explicitadas e trabalhadas pelo grupo regularmente, durante um longo processo e perodo. Tudo isso contribui para que na constituio psquica dos valores que as pessoas constroem ao participar de espaos coletivos de dilogo, sejam privilegiadas maneiras abertas de compreender o mundo e a complexidade dos fenmenos humanos, e no fechadas em certezas e verdades que assumem caminhos nicos e dogmticos. Entendemos que pessoas com tais habilidades cognitivas, afetivas e sociais tero maior possibilidade de agir de modo tico no mundo, ao perceber com naturalidade as diferenas em nossos modos de agir e de pensar. A escola e a sala de aula so um espao privilegiado para que um trabalho de formao como esse se opere. Afinal, o espao pblico, hoje obrigatrio, em que as pessoas tm de conviver durante boa parte de seu dia com valores, crenas, desejos, histrias, culturas diferentes. Em vez de tentar homogeneiz-las e eliminar as diferenas e os conflitos, podemos usar a instituio escolar para promover o desenvolvimento das capacidades cada um de seus membros o direito diferena de pensamentos, desejos e modos de ao, dialgicas e dos valores de no violncia, respeito, justia, democracia, solidariedade e muitos outros. Mais importante ainda: no de maneira terica e sim na prtica cotidiana, a partir dos conflitos dirios.

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    Sugestes de Estratgias de trabalho No caso especfico deste texto, no apresentamos propostas concretas de atividades. Isso ser feito aps o grupo assistir ao vdeo Assembleias escolares, que ser apresentado a seguir.

    Assembleias escolares Gnero: Documentrio Diretor: Roberto Machado Ano: 2005 Durao: 33 min lugar-comum a queixa de professores (as) e alunos (as) acerca dos problemas crescentes que envolvem o no cumprimento de regras, a ausncia de formas de mediao de conflitos e o desinteresse generalizado pela participao, seja na vida escolar ou pblica. O documentrio mostra uma verso contempornea de uma prtica que j tem mais de 80 anos: a discusso entre educadores (as) e alunos (as) sobre as normas que devem conduzir a convivncia escolar. No se trata de uma panaceia capaz de resolver, em um passe de mgica, os inconvenientes disciplinares da escola. , antes, um recurso educativo que visa a formar discentes comprometidos com a soluo de contratempos, capazes de debater abertamente o que lhes agrada ou desagrada e comprometer-se com as medidas propostas. A apresentao do vdeo Assembleias escolares, que est disponibilizado no Portal, pode levar o grupo a promover reflexes e apontar caminhos pedaggicos para a construo de relaes interpessoais democrticas no convvio escolar, pautadas no dilogo e na resoluo pacfica de conflitos. Os depoimentos de professores (as) e alunos (as), contidos no vdeo, parecem cumprir uma dupla funo: por um lado, sensibilizar e encorajar os educadores para a implantao das assembleias escolares; e, por outro lado, sinalizar para os cuidados a serem tomados em um trabalho dessa natureza. Dando visibilidade, tambm, s diferenas existentes entre a escola pblica e a particular, o vdeo parece-nos um material significativo para a construo de aes que tenham como pressupostos a democracia escolar e o protagonismo social. Veja, a seguir, as informaes tcnicas desse vdeo, bem como sugestes de atividades para serem desenvolvidas na sala de aula:

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    Sugestes de Estratgias de trabalho Aps assistir ao vdeo Assembleias escolares, sugerimos que os membros do Frum Escolar de tica e de Cidadania proponham que a dinmica de democratizao das relaes escolares seja implementada nas salas de aula da escola. Caso haja concordncia do grupo, podem-se criar condies para que os docentes assistam ao vdeo com vista compreenso dos detalhes de implantao e funcionamento de uma assembleia de classe. Vejam, a seguir, sugestes de procedimentos para a implementao de assembleias de classe. Nas salas de aula: Existe uma srie de procedimentos que aumentam a probabilidade de Que as assembleias cumpram seus objetivos. O primeiro deles refere-se preparao das assembleias e composio da pauta de temas que sero abordados. A pauta construda coletivamente, durante a semana que antecede assembleia. No caso das assembleias de classe, a sugesto que tenham periodicidade semanal. Assim, aps uma assembleia, j se comea a preparao da prxima. Quanto aos temas que comporo as pautas, devem ser relacionados, apenas, a temticas envolvendo convvio escolar e relaes interpessoais. Em convvio escolar inclumos aquelas temticas que afetam o coletivo da classe ou da escola. Assim, nesse eixo de contedos, por exemplo, inclumos a limpeza dos espaos coletivos, as aes que tumultuam o bom andamento das atividades, o papel dos prestadores de servio e a organizao dos espaos e tempos. Em relaes interpessoais fazemos referncia quelas temticas que afetam pessoalmente os membros da instituio nas relaes que mantm entre si. Assim, as brigas entre colegas, as perseguies por motivo acadmico ou pessoal, as relaes autoritrias, o assdio psquico e moral e as chantagens so alguns exemplos de. Temas que merecem ser tratados nas assembleias. Como elas so organizadas? Inicia-se o processo atravs da colocao de uma cartolina, em lugar visvel para todos os participantes, com uma diviso que separe os contedos em dois blocos: CRTICAS e FELICITAES. Estando afixada em local visvel, as pessoas vo escrevendo as crticas e sugestes em relao ao que querem debater durante a assembleia. A cartolina deve permanecer na parede da sala, durante toda a semana. Nesse processo de construo coletiva da pauta existem alguns aspectos que precisam ser observados: o primeiro o anonimato; o segundo a forma e o contedo da escrita.

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    importante que, nas pautas, as pessoas, ao anotarem algum tema, no se identifiquem. Podero faz-lo no momento da assembleia, mas na escrita melhor que a pauta no reflita uma personalizao, pois tal fato pode interferir, negativamente, na sua construo. As temticas podem passar a refletir desejos e crticas pessoais que desviam o objetivo de discutir princpios, e muitas vezes as pautas tornam-se canal de recados entre pessoas, desvirtuando-a. Um dos princpios mais caros boa organizao das assembleias consiste na forma como os contedos so anotados na pauta. Eles, necessariamente, devem ser impessoais, referindo-se a temas e no a pessoas concretas. O objetivo de uma assembleia discutir princpios, atitudes, e da construir as regras de regulao coletiva e propostas de resoluo dos problemas. Discutem-se as brigas na escola, a sujeira da classe, o assdio moral ou sexual, o fato de as aulas estarem sendo prejudicadas por determinados comportamentos; e no quem est cometendo tais faltas. Isso porque as regras no podem, jamais, ser personalizadas. No podem ser feitas para uma pessoa ou um pequeno grupo. Elas tm e ser coletivas. Por fim, surge uma questo importante. A pauta que ser levada assembleia segue a sequncia de temas apontados na cartolina? A resposta negativa, pois no necessariamente a ordem em que foram escritas reflete sua importncia. E, tambm, muitas vezes aparecem temas repetidos ou semelhantes que precisam ser agrupados para que as assembleias possam ser operacionalizadas no tempo disponvel para sua realizao. Assim, necessrio haver uma reunio prvia para a organizao da pauta definitiva, aquela que ser levada assembleia. Dessa reunio, podem participar um docente e dois estudantes. O processo de organizao da pauta precisa levar em considerao alguns aspectos. O primeiro deles o estabelecimento de uma hierarquia nas temticas; o segundo consiste em agrupar temas semelhantes; e o terceiro aspecto a garantia de que todos os temas propostos estejam presentes na pauta definitiva. No podemos colocar em um mesmo nvel um tema de violncia e um que critica o fato de os livros da classe estarem sempre fora do lugar. preciso estabelecer uma hierarquia dos assuntos a serem discutidos, inclusive porque aqueles mais srios e complicados precisam ser os primeiros a serem discutidos j que necessitam de mais tempo. Assim, independente da sequncia em que foram escritos na cartolina, o grupo encarregado de organizar a pauta deve estabelecer uma hierarquia para a discusso, colocando-os em ordem de importncia. Nessa organizao cabe um grande grau de subjetividade, claro, mas o bom senso ajuda em seu estabelecimento. Em geral, utiliza-se como referncia o fato de que os assuntos de violncia (de todos os nveis) devem ser priorizados, depois as temticas mais coletivas, tanto de convvio quanto de relaes interpessoais, e por fim, os temas mais isolados, que afetam menos pessoas ou que no so pertinentes ao espao das assembleias. O segundo aspecto a ser considerado, quando se organiza a pauta, que muitos temas so iguais ou semelhantes e no h necessidade de repeti-los na pauta

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    definitiva. Podem ser agrupados. Por exemplo, crticas a alunos que atrapalham a aula e a alunas que batucam na carteira durante as aulas, podem ser agrupadas em um mesmo item: estudantes que perturbam as aulas. Em outro exemplo de assembleia de escola, crticas a pessoas que ameaam bater nos colegas na hora do recreio e a alunos que ficam humilhando os outros no recreio, podem ser discutidas como a violncia durante o recreio. Com isso, diminui-se o tamanho da pauta, a quantidade de regras a serem estabelecidas, e h mais. Tempo disponvel para as discusses de cada item. Por fim, o terceiro aspecto de organizao da pauta refere-se necessidade de respeitar todos os itens apontados na cartolina. Se um (a) estudante propuser um tema na cartolina e sentir que sua proposta no foi contemplada na pauta definitiva, a tendncia que ele no legitime o espao da assembleia. Se tal fato for uma constante, em poucas semanas se notar a diminuio dos temas escritos na cartolina, ou a apatia dos estudantes durante a assembleia. A discusso de cada tema da pauta pode ser dividida em trs momentos distintos. O primeiro momento aquele de aproximao e de esclarecimentos sobre o tema. Iniciasse com o coordenador perguntando se a pessoa que colocou o tema na pauta gostaria de manifestar-se, garantindo o direito de palavra todo. Encerrada a discusso de cada tema da pauta, quando for pertinente, o grupo deve construir coletivamente a regra que regular os conflitos inerentes ao tema. Assim, coordenador da assembleia abre o espao para que os participantes sugiram regras para o coletivo envolvido. Aps construrem as regras, o (a) coordenador (a) da assembleia pede s pessoas que apresentem propostas para que o problema no volte a se repetir, ou ento, que auxiliem o grupo e os colegas a se conscientizarem das consequncias do conflito e a cumprir as normas acordadas. De maneira semelhante, como mostrado no vdeo Assembleias escolar, a escola pode criar as assembleias de escola. A responsabilidade da assembleia de escola regular e regulamentar as relaes interpessoais e a convivncia no mbito dos espaos coletivos. Contando com a participao de representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, buscam discutir assuntos relativos a horrios (chegada, sada, recreio) espao fsico (limpeza, organizao), alimentao e relaes interpessoais. De seu temrio devem constar aqueles Assuntos que extrapolam o mbito de cada classe especfica. Com essas sugestes de implantao das assembleias de classe e de escola, acreditamos que docentes e estudantes tero condies de iniciar processos de dilogo e construo coletiva de regras de convvio mais democrticas. Essa perspectiva das assembleias deve permitir a participao democrtica dos estudantes nos processos de regulao e de tomada de decises, ajudando-os a exercer o protagonismo social que se espera dos jovens na sociedade contempornea, levando-os a construrem uma identidade pautada na democracia e na cidadania. O relato que vamos apresentar traz uma proposta que tem como principal objetivo Implantar a cultura de paz no ambiente escolar. Valendo-se do conceito de mediao na resoluo de conflitos, analisa, cuidadosamente, vrio de seus aspectos: origem, aplicabilidade, caractersticas, qualidades do mediador, seu processo no Brasil, etc.

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    Desenvolvida em duas escolas do municpio do Rio de Janeiro, acreditamos que a referida experincia possa aportar elementos que nos ajudem: a nos relacionar, a compartilhar os problemas que surgem de nossa convivncia diria e a elaborar solues conjuntas. Em ltima instncia, que nos ajudem a erradicar as condutas violentas e agressivas, nas instituies escolares e na sociedade. Apresentao O Projeto Escola de Mediadores uma proposta de Construo de uma cultura de paz no ambiente escolar tradicional formador de opinies e senso crtico nos jovens, numa tentativa de se reverter o quadro Da. Violncia crescente. Com ele, busca-se tambm alcanar uma reflexo sobre o mundo que nos cerca. Segundo os princpios da mediao, os conflitos podem ser resolvidos atravs do dilogo, evitando solues baseadas na agresso fsica e/ou verbal. A ideia principal do projeto estimular uma atmosfera pacfica nas escolas, a partir de criao do hbito de dilogo e resoluo de conflitos por meio de solues apresentadas pelos prprios envolvidos e, portanto, principais interessados em resolv-los. Pretende-se aqui evitar que problemas pequenos, comuns ao cotidiano de todos, cresam e se desdobrem em desfechos graves ou mesmo trgicos. Cremos que a escola seja uma ambiente privilegiado para aplicar a filosofia da mediao, visto que atua na formao de cidados e, ao valorizar a capacidade de autoria dos jovens estudantes, de uma sociedade mais justa e solidria. A experincia, ora apresentada, foi desenvolvida em duas escolas do municpio do Rio de Janeiro, uma na Zona Norte e outra na Zona Sul da cidade. Desse modo, foi possvel vivenciar diferentes situaes, visto que o universo das duas escolas era e continua a ser, bem diferente entre si. Nesse trabalho, capacitamos 35 jovens mediadores, que j comeam a fazer diferena. Um dos objetivos do programa Escola de Mediadores transmitir habilidades necessrias aos jovens para negociar os conflitos inevitveis que nos ocorrero diversos contextos de suas vidas de forma mais colaborativa, propiciando uma mudana de postura frente s controvrsias. Os benefcios de um Programa de Preveno/Manejo/Resoluo de Conflitos incluem: 1. Contribuio para uma convivncia escolar mais saudvel; 2. Intensificao do desenvolvimento social e emocional; 3. Incremento das relaes intra e intergrupais; 4. Melhoria no desempenho acadmico e 5. Construo de cidadania e enfrentamento da violncia escolar.

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    Nesta cartilha voc ter acesso a algumas informaes bsicas sobre a mediao, bem como a sugesto de procedimentos para a aplicao deste projeto em sua escola.

    O que mediao? Mediao, juntamente com a arbitragem e a conciliao, uma forma alternativa. De resoluo de conflitos em que os prprios envolvidos chegam a uma soluo para suas demandas. O papel do mediador nesse contexto facilitar o dilogo entre eles, proporcionando condies favorveis para chegarem a um consenso. A mediao definida como um processo no adversarial, confidencial e voluntrio, no qual um terceiro imparcial facilita a negociao entre duas ou mais partes, onde um acordo mutuamente aceitvel poder ser um dos desenlaces possveis. dessa definio que se extrai toda a base deste projeto. Apesar dos conflitos serem parte da vida, frequente associ-los a algo negativo. Se lidarmos de forma mais positiva e construtiva com as diferenas, podemos construir uma viso mais otimista a respeito dos conflitos.

    Em que situao se aplica a mediao? A princpio, todo e qualquer conflito passvel de ser mediado, desde que o mediador tenha condies para faz-lo. Isso quer dizer que sua aplicabilidade abrange todo e qualquer contexto de convivncia capaz de produzir conflitos: impasses polticos e ticos, nacionais ou internacionais, questes trabalhistas e comerciais. Empresas, famlias, comunidades e instituies podem se beneficiar da mediao como recurso, desde que criem ambiente para isso. Vivemos em um contexto cultural que utiliza, primordialmente, duas classes de dilogo na resoluo de conflitos: a negociao e o litgio. Entre esses dois polos situam-se a conciliao, a mediao e a arbitragem, meios alternativos de resoluo de disputas que so cada vez mais utilizados. A vantagem da mediao sobre os outros mtodos alternativos que se chega pacificamente a um acordo que satisfaz todas as partes envolvidas no conflito, uma vez que foi alcanado pelos prprios interessados em resolver a questo.

    De onde surgiu a ideia da mediao? Desde a Antiguidade, utiliza-se um terceiro para auxiliar na resoluo de disputas. No entanto, a difuso e expanso da mediao como mtodo formal de resoluo de controvrsias ocorreu a partir de meados da dcada de 1960, nos Estados Unidos. Questes de discriminao sexual e tnica so cada vez mais objetos de mediaes realizadas por diversos organismos oficiais, comisses de direitos civis e organismos privados.

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    E no Brasil, como est a mediao? O Brasil ainda no dispe de uma legislao especfica que regule a mediao, o que faz com que seu desenvolvimento ocorra de forma gradativa e espontnea. , de fato, indispensvel criao de instrumentos que viabilizem a instalao de um sistema pacfico de resoluo de conflitos. Existem projetos de lei tramitando no Congresso a esse respeito. H tambm um grande nmero de instituies de mediao preocupadas com a tica e com a formao do mediador, distribudas pelo territrio nacional.

    Em que consiste a figura do mediador? O mediador um profissional imparcial que facilita a comunicao entre as pessoas, com o objetivo de ampliar as alternativas para a resoluo dos impasses, de modo a reduzir o conflito a nveis administrveis e construir acordos mutuamente aceitveis. Ele um facilitador e no um interventor da tomada de deciso; as partes envolvidas so autoras da soluo do conflito, e as relaes so transformadas em vnculos de solidariedade.

    Quais so as qualidades de um mediador? So trs as caractersticas principais do mediador: integridade absoluta, imparcialidade constante e competncia tcnica em comunicao e no processo de mediao. O mediador deve ser imparcial, no devendo expressar sua opinio sobre o conflito. Deve deixar que as partes chegassem s suas solues. Contudo, ele deve ter a capacidade de comandar todo o processo, cuidando para que as relaes se deem com base no respeito mtuo. O mediador precisa se sentir apto a desenvolver a mediao, caso contrrio, deve se declarar impossibilitado de realiz-la.

    O que o Projeto Escola de Mediadores? A ideia principal do projeto estabelecer nas escolas, palco de diversos tipos de conflitos, um canal de dilogo, em que o outro seja visto como colega na construo de um mundo melhor, e no como um adversrio. Defendemos a ideia do protagonismo juvenil, ou seja, o jovem que est envolvido numa situao de conflito que ir chegar, junto com a outra parte, a uma resposta para o problema. O que pretendemos com a Escola de Mediadores preparar jovens para aplicar esta proposta de paz. O objetivo do projeto capacit-los em mediao, tornando-os aptos a responder s demandas que apaream em suas escolas. Queremos fornecer aos jovens mediadores ferramentas para que auxiliem na busca por uma soluo particular para cada caso, sempre respeitando a autoria dos envolvidos nos conflitos; e no ideias prontas para sanar este ou aquele problema.

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    Qualquer escola pode implementar o projeto? recomendvel iniciar o trabalho em escolas do ensino fundamental, pois os jovens nessa etapa da vida esto habitualmente abertos assimilao de atitudes e comportamentos. Da a importncia de coloc-los, o quanto antes, em sintonia com os valores de uma cultura solidria. Alm disso, os mediadores capacitados tero um tempo mais longo de atuao na escola. Nada impede, porm, que a iniciativa se estenda a escolas do nvel mdio, de ensino profissionalizante e de educao de adultos.

    Como eu posso aplicar a mediao na minha escola? O objetivo desta cartilha sugerir uma sequncia de atividades que, ao serem realizadas pelos membros da prpria escola, podem introduzir o tema da Mediao no ambiente escolar. A proposta de ao simples de ser implementada, contudo recomendamos seguir algumas dicas para atingir os objetivos. Como vimos, qualquer escola pode aplicar este projeto, bastando adapt-lo a sua realidade social e estrutural. Mas, vamos a elas: A primeira etapa do projeto perceber se h interesse real de um ou mais segmentos da comunidade escolar em adotar a proposta em particular da direo, mas tambm dos professores, alunos, pais, funcionrios. Qualquer um dos interessados pode propor a aplicao do projeto, imprescindvel, porm, que a direo da escola esteja ciente e colabore com a realizao desta ao, pois, em geral, ela deve estar junto com a equipe de execuo do projeto. Havendo o interesse na realizao da ideia, a prxima etapa constituir uma Equipe de Apoio que coordene o projeto. Essa equipe ser responsvel pela elaborao e planejamento das etapas, desde a implementao at a finalizao dos trabalhos. Qualquer dvida ou sugesto relacionada ao projeto ser dirigida a esse grupo, que ter competncia para resolv-las.

    O que fazer para montar esta equipe de apoio? Quem deve participar? A sugesto que diferentes setores da escola faam parte desse grupo, ou seja, alunos, professores, funcionrios, diretores e pais podem e devem participar. Quanto mais representao, mais forte e atuante ser o grupo e, consequentemente, maior o alcance do projeto. O grupo deve ser formado por pessoas voluntrias, interessadas em refletir e partilhar deste tema. No h limites pr-estabelecidos em relao ao nmero de participantes.

    O grupo ter como atribuies: 1. Acompanhamento dos primeiros passos do projeto;

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    2. A capacitao dos jovens e definio de seus limites de ao; 3. Monitorar e apoiar os trabalhos, quando necessrio. Recomendamos que a cada ano seja renovada a equipe participante desse grupo, seguindo o critrio de motivao pessoal e compromisso com o projeto. Nas escolas do projeto-piloto, realizamos reunies semanais da Equipe de Apoio. Achamos ser essa a melhor forma de trabalhar, pois assim possvel avaliar o projeto constantemente, incrementando o que for bom e alterando o que foi malsucedido. importante lembrar que os componentes da Equipe de Apoio no devem atuar na prtica da mediao para que a imparcialidade no seja comprometida.

    O que necessrio fazer aps a constituio da equipe de apoio? Com a equipe j definida, sugerimos a seguinte sequncia de atividades: 1. Levantamento de dados 2. Planejamento de ao 3. Sensibilizao 4. Seleo de alunos mediadores 5. Aulas de capacitao 6. Prtica da mediao 7. Monitoramento e 8. Avaliao. So fases que devem ser executadas de maneira criteriosa, objetivando o adequado andamento do projeto.

    Para que serve o levantamento de dados? A partir do levantamento de dados que se conhecem os conflitos mais comuns da escola, suas caractersticas e diferenciais. Essa etapa funciona como um reconhecimento de campo, a sondagem do local em que se pretende trabalhar. Algumas das informaes que devem ser levantadas nessa fase so: tamanho da escola nmero de alunos, professores, funcionrios, turnos de aulas, etc.; perfil da escola, regio em que est inserida, idade dos alunos, formao dos professores e dos pais dos alunos, etc.; principais conflitos da escola, quais so, como ocorrem, principais envolvidos, etc. A participao da Equipe de Apoio nessa etapa fundamental. Como o grupo formado por diferentes segmentos, a troca de experincias e informaes possibilitar a realizao de um perfil mais acurado do ambiente escolar, extrado do prprio grupo. Caso a equipe julgue necessrio, pode ser aplicado comunidade escolar um questionrio, de modo a obter uma viso mais ampla sobre conflitos, elaborada com base nas opinies previamente discutidas por todos do grupo. Em nossa experincia, aplicamos esses questionrios de forma aleatria a todos os setores da escola. Uma resposta em torno de 5 (cinco) a 10 (dez)% do total o suficiente para se traar a realidade (caracterizao) do cotidiano das escolas.

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    Como fao o planejamento? Tendo um grupo responsvel constitudo e um levantamento de dados bem desenvolvido, essa etapa se torna muito fcil: o que se pretende elaborar um cronograma do projeto, suas etapas, identificando metas e temas a serem abordados. Primeiramente, devem-se antecipar todas as atividades que envolvem cada etapa de execuo do projeto, definindo seus responsveis, destacando o que ser necessrio para viabiliz-las e adotando providncias para minimizar os imprevistos (sempre possveis de acontecer em um trabalho interativo). Depois, hora de selecionar ou elaborar o material que ser utilizado nas apostilas, leituras de apoio, dinmicas, oficinas, palestras, etc. Caso julgue importante, pessoas que no fazem parte da escola podem ser convidadas para apresentarem os temas acima citados. Se esse for o procedimento, interessante que os palestrantes sejam conhecedores dos temas sobre os quais falaro e que no tenham um discurso cansativo, o que acabaria por afastar os alunos. Feito isso, hora de sensibilizar a escola para receber o projeto!

    O que sensibilizao? Como a realizo? Sensibilizao a etapa do projeto que se destina a mobilizar a escola em torno da proposta a ser desenvolvida. Seu objetivo fundamental criar um ambiente propcio realizao dos trabalhos, de modo a fazer com que a escola absorva a ideia da mediao, transformando o dia-a-dia de cada um. O projeto no visa somente a capacitar os alunos como mediadores. Acima disso, o objetivo introduzir no ambiente escolar a ideia de alternativas no violentas de resoluo de conflitos. Assim, a sensibilizao no deve dirigir-se apenas aos alunos. Todos os integrantes da escola: dirigentes, pessoal de apoio tcnico e administrativo, professores, pais de alunos, sem se esquecer da comunidade na qual est inserida a escola, em outras palavras, todos devem ser includos nesse processo. Em nossa experincia, a sensibilizao foi feita atravs de palestras a toda a comunidade escolar, sem, entretanto, agrupar os diferentes setores da escola. Foram realizadas palestras Separadas aos pais, alunos, professores e demais funcionrios da escola. A divulgao para os eventos se deu por meio de cartazes e comunicados feitos pelos professores em sala de aula e de cartas dirigidas aos pais. Os professores foram informados pela direo. Sugerimos que sejam abordados os seguintes temas: 1. Direitos humanos; 2. A violncia na atualidade e nas escolas em particular; 3. Como lidar com conflitos e

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    4. Mediao conceitos e prtica. Parte desses temas discutida no Manual de Referncia ao Mediador em anexo, que pode ser utilizado como apoio neste momento. De acordo com o desejo da escola, pode ser preparada uma semana alusiva aos Direitos Humanos, na qual as palestras entrariam como parte da programao. Qualquer aluno pode participar do projeto? Como selecionar? A princpio, no h qualquer restrio relacionada a este ou aquele aluno. Todos podem participar basta que demonstrem interesse para isso. No entanto, no custa lembrar que voc estar lidando com temas controverso tais como: conflitos, violncia, dentre. A partir da experincia adquirida no projeto piloto e de estudos de outros grupos Voltados para a mediao escolar, optamos por trabalhar com alunos de 6 (sexta) e 7(stima) sries, pois demonstram j ter capacidade de compreender os temas abordados. Outro ponto que pesou na escolha dos alunos dessas sries foi o fato de que eles ainda permanecero, ao menos teoricamente, nas escolas por mais alguns anos, possibilitando assim a multiplicao do que aprenderam. Aps a etapa de sensibilizao, espera-se que apaream vrios interessados em participar do projeto. A funo dos responsveis ser, ento, a de preencher o nmero de vagas disponveis (esse nmero deve estar acertado desde a etapa do planejamento). importante que haja uma ficha de identificao de cada aluno que ir participar do projeto. Caso o nmero de interessados seja maior que o de vagas disponveis, restaro aos responsveis duas hipteses: inscreverem os alunos por ordem de chegada, ou seja, quando acabarem as vagas ningum mais pode se inscrever; ou, ainda, estabelecerem uma eleio entre os alunos interessados, na qual os mais votados participariam do processo de mediao. Outro cuidado que dever ser tomado pela equipe responsvel pelo projeto ser o de enviar cartas aos pais informando sobre a escolha do filho. Se possvel, pedir que os pais assinem uma autorizao. Aconselhamos tambm que o grupo responsvel procure criar algum tipo de identificao dos jovens mediadores. muito importante que eles sejam facilmente reconhecidos por todos na escola, de modo a criar confiana e legitimidade dos mediadores perante a escola. Como so preparadas as aulas de capacitao? Vamos por etapas. Antes de explicar como so feitas as aulas de capacitao, deixe-nos falar sobre o que so elas. Capacitao o momento em que os alunos iro receber conhecimentos para que possam aplicar a mediao. Alm da capacitao terica, tambm so ministradas oficinas que orientam a prtica da mediao. O curso de capacitao prioriza os exerccios que proporcionem vivncias dos aspectos fundamentais da prtica da mediao aos alunos, tais como a escuta ativa, saber se colocar no lugar do outro, cuidado com as prprias palavras e trabalho de duplas. Todo esse contedo pode, e achamos que deve , estar compilado numa apostila, que ser outros sentimentos ligados a situaes de

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    disputas. Desse modo, recomendamos contar com alunos que demonstrem ter facilidade em comunicao, liderana e capacidade de observao, alm de saber ouvir, ser paciente e imparcial, trabalhada segundo a proposta do projeto e adaptada realidade de cada escola. Tambm aconselhamos a utilizao de textos de apoio que auxiliem os alunos a compreenderem a mediao e saibam como enquadr-la no contexto em que vivem. Conforme nossa experincia, sugerimos a diviso do curso em dez blocos de aulas de 2 horas cada ministradas por dupla de monitores, e turmas com at 20 (vinte) alunos. A dupla de monitores interessante, pois j acostuma os alunos ao trabalho em parceria, Modelo adotado frequentemente pela mediao. Achamos que esse formato possibilita um melhor aproveitamento da capacitao por parte dos jovens. Somente os alunos sero capacitados em mediao? O que fazer se em minha escola outras pessoas se interessarem? As informaes sobre o processo de mediao no so exclusivas aos alunos. Como j foi dito anteriormente, para que o recurso da mediao seja de fato utilizado por todos que compem o ambiente escolar, necessrios que o maior nmero possvel de pessoas esteja sensibilizado para a construo dessa nova cultura. No basta que elas saibam que a mediao existe. indispensvel que tomem conhecimento sobre como o processo se constitui e de como pode ser utilizado. Este projeto destina-se formao de estudantes mediadores de conflitos. Desse modo, a capacitao deve se restringir aos alunos das escolas. Entretanto, no caso de aparecerem outras pessoas interessadas em participar do projeto e obterem mais informaes, a equipe pode estar preparada para lhes dar respostas. Uma boa ideia a ser adotada para atender a essas demandas preparar um material com informaes sobre mediao e o projeto, uma espcie de folder informativo. Esse material deve ser de fcil leitura, a ponto de uma pessoa que no conhea nada sobre mediao possa ter noes sobre como funciona o processo. Quando deve comear a prtica de mediao? Como deve ser feita? O melhor momento para o incio da prtica logo aps a finalizao da etapa de Capacitao, quando os alunos estaro aptos a enfrentar situaes reais. Primeiramente, necessrio que a escola tome conhecimento que existem alunos. Habilitados a mediar, por meio de cartazes ou outras formas prprias da escola. Outra forma de divulgao eficiente feita pelos prprios alunos capacitados, que passam em cada sala de aula se apresentando e explicando o trabalho que iro desenvolver. importante perceber que os alunos passam a utilizar a metodologia nas situaes de conflito do dia-a-dia, de forma original e espontnea, sem se prenderem ao formato desenvolvido no curso de capacitao, mas sempre de acordo com os princpios da mediao. Isto demonstra que uma das ideias principais do projeto, a de que os conflitos fazem parte do cotidiano e que

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    podem ser tratados de forma positiva, com respeito e naturalidade, foi absorvida pelos alunos e adaptada ao seu meio. Aconselhamos que sejam montados horrios para que as sesses de mediao ocorram. Acreditamos ser importante que haja duplas de mediadores disponveis nos diferentes turnos. Nessa fase, a direo da escola deve trabalhar junto Equipe de Apoio e aos alunos capacitados de modo a verificar disponibilidades e implementar uma agenda de mediadores que satisfaa s necessidades de cada segmento. Ser muito mais fcil criar o hbito da mediao na escola se todos que pretendem utiliz-la encontrarem duplas aptas A mediar em seus horrios disponveis. Sugerimos ainda que todas as sesses de mediaes sejam registradas em um caderno, onde ficar anotado o nome da dupla responsvel pela mediao, data da sesso e o nome das partes envolvidas. Essa medida visa a facilitar o trabalho de monitoramento, que ser feito pela equipe responsvel pelo projeto. Entretanto, no custa lembrar que qualquer informao relativa ao conflito ou aos fatos relatados nas sesses de mediao deve ser mantida em sigilo; seja pelos mediadores ou pela equipe de apoio. Onde a equipe de apoio deve se reunir? Como devem ser registrados os encontros e as decises dessa equipe? Aconselhamos que desde o incio seja estabelecido um local para as reunies. No projeto piloto, as reunies foram realizadas fora do ambiente escolar. Contudo, no vemos problemas e at estimularmos, que esse espao para reflexo seja dentro da prpria escola. Aconselhamos que sejam criadas pautas de discusses para cada reunio, cujo teor deve ser uma anlise do perodo anterior ao encontro e planejamento para as atividades seguintes. A equipe deve providenciar uma ata, onde ficaro registrados todos os participantes da reunio, bem como as decises tomadas. Como feito o monitoramento? O monitoramento ocorre junto com a prtica da mediao. Constitui-se, basicamente, de um acompanhamento das mediaes que forem realizadas. Deve ser feito pela equipe responsvel pelo projeto. No trabalho que realizamos, os monitoramentos ocorriam quinzenalmente. Este prazo pode ser aumentado ou diminudo de acordo com a necessidade de cada escola. Aconselhamos que seja feito por dois ou trs monitores, que ficaro encarregados de levarem suas concluses para o restante da equipe, para que essa tome conhecimento sobre as mediaes realizadas e andamento do projeto. Essa etapa tambm pode ser utilizada como um espao de aprimoramento das tcnicas de mediao e produo de material de informao. Os alunos teriam a oportunidade de tirar dvidas sobre procedimentos adotados e/ou simular sesses para que se sintam mais confiantes.

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    Como deve ser feita a avaliao? Esta uma das etapas mais importantes de todo o projeto. o momento em que tudo o que foi feito ser apreciado. Nada deve ficar de fora: erros, acertos, desencontros, dificuldades. Tudo precisa ser avaliado, discutido. Em outras palavras, nesta a etapa, as ideias e as atividades planejadas e executadas so resgatadas, confere-se o que de fato pde ou no ser realizado, identificam-se os motivos que levaram a diferenas entre o planejado e o executado. Aproveita-se tambm para corrigir possveis falhas que ocorram no curso do projeto e que possam dificultar uma futura continuidade. Utilizamo-nos de quatro diferentes formas de realizar a avaliao do projeto: avaliao com a equipe, avaliao com os alunos capacitados, avaliao com a escola, alm da realizao de um frum reflexivo. Todas as etapas foram muito importantes e uma complementava as demais, no sentido de que cada uma se destinava a um segmento da comunidade escolar. A avaliao com a equipe deve ocorrer desde o princpio do planejamento, de modo que no se perca o controle sobre as atividades executadas em cada etapa, podendo fazer, de pronto, modificaes que julguem necessrias no momento em que se percebem falhas. Essa avaliao algo informal. Pode ser realizada semanalmente, durante os encontros da equipe. interessante que cada encontro seja aberto com uma avaliao da semana que passou. Ao final dos trabalhos, de extrema importncia que a equipe se rena para analisar o projeto como um todo. Devem-se separar dois ou trs dias para que todos se encontrem e debatam sobre suas experincias, os erros e acertos. aconselhvel que, ao final, seja feito um relatrio nico e abrangente, de acordo com as concluses da equipe. A avaliao com os alunos capacitados deve ser feita ao final do perodo proposto para o projeto. Os alunos devero se pronunciar sobre todas as atividades realizadas ao longo do projeto, tanto em relao ao contedo quanto sobre o formato do curso, aulas, dinmicas, dramatizaes, mediaes reais, etc. Aconselhamos que seja separada uma tarde para que essa atividade seja realizada. importante lembrar que os alunos no devem se sentir obrigados a realizarem a avaliao. Ao contrrio, devem se sentir-se livres e estimulados a falarem tudo os que pensam sobre o projeto. A avaliao com a escola (opcional) realizada por meio de questionrios, aplicados aleatoriamente a diversos setores da escola. Em nossa experincia, reaplicamos o questionrio utilizado na etapa de levantamento de dados. No h nenhum mecanismo especfico a ser adotado no trabalho de coleta de dados. Cada escola deve ter autonomia para fazer esse levantamento, pois sabe melhor que ningum como realiz-lo. Somente destacamos a importncia dessa avaliao, uma vez que s assim possvel saber se as esperanas depositadas no projeto foram alcanadas. O ltimo momento de avaliao deve ser o frum reflexivo. Esta etapa a mais complexa e importante, pois envolve toda a rede que compe o projeto. Para a sua realizao deve ser separado um dia inteiro. Nesse encontro, todos devero participar: alunos capacitados, pais, professores, demais funcionrios,

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    dirigentes da escola, os parceiros institucionais e patrocinadores se houver. Os que no puderem participar devem se fazer representar. O frum o espao que todos tero para exporem seus pensamentos e ouvirem opinies diferentes sobre o projeto que participaram ou apoiaram. um momento importante por trazer uma diversidade de pensamentos acerca da experincia vivida e da continuidade da proposta. Aps a avaliao o projeto est acabado? O que fazer depois dessa etapa? Com a realizao da avaliao, voc ter concludo a fase de implementao do projeto em sua escola. Para que seja criada uma cultura forte e slida de paz no ambiente escolar, muito importante que seja dada continuidade ao projeto. Nesse segundo momento, achamos interessante que cada escola participante construa um material prprio sobre mediao e resoluo de conflitos. No nos restam dvidas de que uma cartilha feita na prpria escola em que o projeto se desenvolve tende a ser mais direcionada aos seus problemas, sendo, portanto, mais efetiva. A utilizao das publicaes de apoio fornecidas pelo Ministrio da Justia facilitar a elaborao desse material. No h um modelo pr-definido sobre como esse material deve ser. Cada escola far o que entende ser melhor para sua realidade. fundamental que todos os participantes da primeira etapa trabalhem na confeco das cartilhas. com a continuidade do projeto que o hbito da resoluo alternativa de conflitos se consolidar no ambiente escolar, desenvolvendo, em mdio prazo, uma cultura de paz no s nas escolas, mas tambm nas comunidades e em todos os locais da rotina dos alunos. Referncias http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2009-pdf/2176-2-convivencia-democratica-juvenil-pdf/file

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    FACULDADE DE BERTIOGA - FABE

    CURSO DE PEDAGOGIA

    LOUISE FERNANDES DA SILVA

    ASSEMBLEIAS ESCOLARES

    BERTIOGA

    2015