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BEATRIZ RODRIGUES ASSIMETRIA POSTURAL DE ADOLESCENTES ASMÁTICOS Tubarão, 2006

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BEATRIZ RODRIGUES

ASSIMETRIA POSTURAL DE ADOLESCENTES ASMÁTICOS

Tubarão, 2006

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BEATRIZ RODRIGUES

ASSIMETRIA POSTURAL DE ADOLESCENTES ASMÁTICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia.

Universidade do Sul de Santa Catarina

Orientador Professor Kelser Kock

Tubarão,

2006

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial à minha mãe, Sandra, pela

compreensão, carinho, amor, confiança e por estar

ao meu lado em todos os momentos. Aos meus avós,

Nilda e “Nico”, que me ajudaram, e muito, além de

todas as outras coisas, pelo simples fato de estarem

presentes todos os dias. As minhas amigas, que me

apoiaram nas fases mais difíceis e souberam me

incentivar. Aos colegas de faculdade pelos anos de

convivência. Ao meu orientador, Kelser, pela

dedicação e por todo auxílio que me foi prestado. E

não poderia deixar de agradecer ao meu

“irmãozinho”, Lucky, por estar sempre por perto.

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RESUMO

A asma brônquica é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, tratável e de alta prevalência, determinada pela interação de fatores genéricos e ambientais, em que os brônquios reagem exageradamente a variados estímulos. É bastante comum que os asmáticos desenvolvam algum tipo de alteração postural, a postura é uma composição das posições de todas as articulações do corpo em qualquer momento dado. Se uma posição for habitual, haverá uma correlação entre o alinhamento e os achados das provas musculares. Este trabalho teve como objetivo, avaliar a relação entre a gravidade da asma e as alterações posturais de forma quantitativa. Foi utilizado o software SAPO para analisar a postura dos participantes da pesquisa. Realizou-se um estudo do tipo multicaso, em que a amostra foi constituída por três adolescentes asmáticas. Era esperado que a adolescente com uma classificação pior de asma, segundo o III Consenso Brasileiro no Manejo de Asma, tivesse as maiores alterações posturais. Com a pesquisa foi possível concluir que isto nem sempre ocorre, porém deve-se levar em conta que o tamanho da amostra foi pequeno. Palavras-chave: asma brônquica, alteração postural, fisioterapia respiratória.

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ABSTRACT

The asthma is a chronic inflammatory disease of the aerial ways, treatable and of high prevalence, determined for the interaction of generic and ambient factors, where the bronchis react the varied stimulatons exaggeratedly. It is sufficiently common that the asthmatic ones develop some type of postural alteration, the position is a composition of the positions of all the joints of the body at any point given. If a position is habitual, will have a correlation between the alignment and the findings of the muscular tests. This work had as objective, to evaluate the relation it enters the gravity of the asthma and the posturals alterations of quantitative form. Software was used SAPO to analyze the position of the participants of the research. A study of the type was become fullfilled multicase that, where the sample was constituted by three asthmatic adolescents. It was waited that the adolescent with a worse classification of asthma, according to III Brazilian Consensus in the Handling of Asthma, had the biggest posturals alterations. With the research it was possible to conclude that this nor always occurs, however must be led in account that the size of the sample was small.

Keywords: asthma, posture alteration, chest physical therapy.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8

2 ASMA E ALTERAÇÃO POSTURAL ............................................................................. 10

2.1 Asma e Epidemiologia..................................................................................................... 10

2.1.1 Etiologia ......................................................................................................................... 13

2.1.2 Fisiopatologia ................................................................................................................. 14

2.1.3 Manifestações clínicas.................................................................................................... 14

2.1.4 Exames complementares ................................................................................................ 17

2.1.5 Classificação da asma..................................................................................................... 18

2.1.6 Tratamento clínico.......................................................................................................... 19

2.1.7 Tratamento fisioterapêutico............................................................................................ 21

2.2 Alterações Posturais Advindas do Problema Respiratório ......................................... 21

3 DELINEAMENTO DA PESQUISA ................................................................................. 23

3.1 Tipo de Pesquisa .............................................................................................................. 23

3.2 População / Amostra ....................................................................................................... 24

3.3 Procedimentos Utilizados Para Coleta de Dados.......................................................... 25

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3.4 Instrumentos Utilizados Para Coleta de Dados ............................................................ 28

3.5 Tratamento Estatístico .................................................................................................... 28

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS........................ 29

4.1 Dados Gerais .................................................................................................................... 29

4.2 Avaliação Postural........................................................................................................... 30

4.2.1 – Centro de Gravidade.................................................................................................... 38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 43

ANEXOS ................................................................................................................................ 46

Anexo A – Relatório de Avaliação Postural (Protocolo SAPO) ............................................. 47

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Oliveira e Freitas (2002), a asma brônquica é uma doença inflamatória

crônica das vias aéreas, tratável e de alta prevalência, determinada pela interação de fatores

genéricos e ambientais, em que os brônquios reagem exageradamente a variados estímulos,

resultando no seu estreitamento (o que leva a dispnéia) ou em irritabilidade excessiva (o que

pode manifestar-se por tosse intensa). Podemos dizer então, que o principal problema da asma

é a dificuldade da passagem do ar pelos brônquios, o que pode levar a um insuficiente

desempenho da função pulmonar e conseqüentemente a uma redução do aporte de oxigênio ao

organismo.

Vários fatores podem desencadear uma crise asmática, isto dependerá de cada

paciente. Entre os mais comuns, estão: animais domésticos (principalmente, cão e gato),

poeira domiciliar, infecções respiratórias, alguns medicamentos, atividade física, poluição

atmosférica, entre outros.

O tratamento do asmático não envolve apenas medicação e fisioterapia respiratória, o

paciente deve estar consciente de que precisa evitar ao máximo o fator que desencadeia sua

crise, e no caso de fumantes, abandonar o vício.

É bastante comum que os asmáticos desenvolvam algum tipo de alteração postural.

Segundo Kendall e Creary (1987), a postura é uma composição das posições de todas as

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articulações do corpo em qualquer momento dado. Se uma posição for habitual, haverá um

correlação entre o alinhamento e os achados das provas musculares. Já na postura

desalinhada, os músculos em posições ligeiramente encurtadas tendem a ser mais fortes, e

aqueles em posições ligeiramente alongadas tendem a ser mais fracos do que os músculos que

trabalham em oposição a eles. Essa alteração muscular terá como conseqüência uma falha na

relação entre as várias partes do corpo, produzindo decréscimo na força e eficiência corporal.

Uma postura defeituosa pode se manifestar em quaisquer partes do corpo. Segundo

Riegger - Krugh e Keysor (1996) uma variação da estrutura anatômica causa assimetria,

danos músculos-esqueléticos e movimentos compensatórios, porém as alterações posturais

mais comuns são a hiperlordose (curva convexa na região cervical ou lombar, observada em

perfil), hipercifose (curva côncava na região torácica ou sacral, observada em perfil) e a

escoliose (desvio lateral da coluna).

O estudo torna-se importante devido ao número de adolescentes asmáticos que

apresentam assimetrias posturais estar crescendo cada vez mais. Trazendo como benefício, a

possível intervenção precoce nestas pessoas, para que elas não desenvolvam este tipo de

alteração. Através da avaliação postural é possível conhecer quais as alterações mais

freqüentes, a maneira mais eficaz de preveni-las e assim, permitir ao terapeuta que ele defina

o programa de tratamento mais adequado.

O objetivo geral do presente estudo foi analisar quantitativamente, através do software

SAPO, a assimetria postural de adolescentes asmáticos pacientes da Pneumoclínica (Tubarão

- SC), com faixa etária entre treze e vinte anos. E teve como objetivos específicos identificar o

gênero mais acometido, conhecer o resultado da espirometria de cada participante da

pesquisa, analisar a relação entre a gravidade da asma e as assimetrias posturais.

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2 ASMA E ALTERAÇÃO POSTURAL

2.1 Asma e Epidemiologia

Maia et al. (2004) afirmam que a asma é uma das principais doenças da infância,

sendo certamente a principal doença respiratória crônica da criança e do adolescente. Sua

importância, tanto para o indivíduo como para a coletividade, decorre do fato de ser afecção

potencialmente grave, cuja prevalência tem aparentemente aumentado em todo o mundo, com

participação crescente na mortalidade.

Segundo Lasmar et al. (2002) as hospitalizações de crianças asmáticas constituem um

desafio para a saúde pública mundial e figuram como segunda causa de hospitalização infantil

nos países desenvolvidos. Considera-se que muitas dessas hospitalizações poderiam ser

evitadas por abordagens terapêuticas profiláticas, notadamente por meio da utilização de

corticosteróides inalados, reconhecidamente efetivos. A elaboração e divulgação de consensos

nacionais e internacionais não parecem ter impacto sobre a ocorrência de agudizações clínicas

que, com freqüência, levam à hospitalização. Isto porque as recomendações com as

modificações e os avanços na abordagem clínica dos pacientes, ocorridas principalmente nos

últimos dez anos, não estão sendo incorporadas às práticas sanitárias ofertadas a muitos

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pacientes.

Serpa (1997) afirma que a asma é vista como a obstrução reversível das vias aéreas

grandes e pequenas devido à resposta excessiva a diversos estímulos imunológicos e não –

imunológicos. Diversas condições clínicas associadas a fenômenos de hipersensibilidade

podem afetar o sistema respiratório, mas é indiscutível que a forma mais comum e

importante de alergia respiratória é a asma; é também a doença crônica mais comum na

infância e uma das principais causas de internação e falta escolar nesta faixa etária.

Asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiper – responsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispnéia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã ao despertar. (III Consenso Brasileiro no Manejo de Asma, 2002, p. S4).

As crises de asma acontecem quando há uma resposta inflamatória do tipo alérgica na

mucosa das vias aéreas, resultando na hiper – reatividade brônquica (que é a marca da

doença). Diversos fatores podem ser responsáveis pelo desencadeamento da crise, como: a

fumaça do cigarro, poluentes, infecções virais, exercícios físicos e alguns medicamentos.

Visando a uma conceituação mais detalhada, a asma pode ser definida como uma síndrome caracterizada por paroxismos periódicos e recorrentes de sibilos, freqüentemente associados à dispnéia, tosse, produção de escarro mucóide espesso e, muitas vezes, sensação de constrição torácica. Este complexo sintomático é primariamente causado por uma obstrução dos condutos aéreos de pequeno calibre por constrição ou estreitamento da sua luz, resultante do edema da mucosa bronquiolar, espasmo da musculatura lisa e secreções espessadas. (SERPA, 1997, p. 215).

Segundo Serpa (1997), um aspecto essencial do asmático, e ainda sem explicação

definida, é o seu baixo limiar a uma grande quantidade de estímulos tanto específicos quanto

inespecíficos, como irritantes químicos, histamina e o frio; e estes aspectos são componentes

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que participam da asma. Embora, os mecanismos imunológicos e os mediadores

farmacológicos liberados em função da reação alérgica, dominem a fisiopatologia da doença.

As vias aéreas possuem músculo liso hipertrofiado que se contrai durante um ataque, causando broncoconstrição. Além disso, há hipertrofia das glândulas mucosas, edema da parede brônquica, e infiltração extensa por eosinófilos. O muco é anormal: ele é espesso, viscoso e de movimento lento. Muitas das vias aéreas são ocluídas por tampões mucosos, alguns dos quais podem ser tossidos na expectoração. A expectoração tipicamente é escassa e branca [...] Ocasionalmente, a abundância de eosinófilos no escarro confere-lhe uma aparência purulenta, que pode ser erradamente atribuída à infecção. (WEST, 1996, p. 76).

Segundo o III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma (2002), a doença é uma

condição de alta prevalência e com expressivos índices de morbidade, porém quando

diagnosticada e tratada de maneira adequada, permite uma vida normal a seus portadores.

O III Consenso afirma também que anualmente ocorrem cerca de 350.000 internações

por asma no Brasil, tornando a doença a quarta causa de hospitalização pelo SUS. O dado

mais intrigante da epidemiologia descritiva da asma e de seus sintomas é sua variabilidade

geográfica e temporal. Diversos indicadores epidemiológicos, tais como taxas de morbidade

e mortalidade, internações hospitalares e quantidades de drogas prescritas, sugerem que a

prevalência da asma tem aumentado significativamente desde 1970. Esse fenômeno é

particularmente evidente nas áreas urbanizadas de países em desenvolvimento, embora o

aumento da morbidade tenha sido registrado também em países desenvolvidos.

Os custos diretos com o tratamento da asma correspondem à soma dos gastos com

medicamentos, aparelhos, consultas médicas e hospitalizações. Os custos indiretos envolvem

absenteísmo à escola e ao trabalho, tanto do paciente, quanto de seu acompanhante, além de

perda de produtividade, aposentadoria precoce e morte.

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2.1.1 Etiologia

A hiper – reatividade brônquica pode ter diversas causas e, dependendo da causa,

surgirão as manifestações clínicas correspondentes a cada tipo de resposta alérgica.

a) Hereditariedade: o fator genético é considerado um dos principais para o

desenvolvimento da asma.

b) Mudanças bruscas de temperatura: as crises asmáticas são mais comuns no

inverno, provavelmente porque nesta estação há um maior contato com antígenos

ambientais, como a poeira domiciliar devido a maior permanência dentro de casa; e

também pela maior freqüência de infecções respiratórias nesta época do ano.

c) Poluição: os irritantes como o óxido de nitrogênio, de enxofre e ozônio agravam o

processo asmático. Por isso as áreas mais industrializadas, onde ocorre maior

liberação destes poluentes, tendem a ser piores para os indivíduos asmáticos.

d) Epitélios animais: os principais são os de gato e de cão, devido ao contato mais

íntimo destes animais com o homem.

Outra forma bastante comum de manifestação da doença é o broncoespasmo induzido

pelo exercício, sua patogenia está ligada ao fluxo de calor e água da mucosa brônquica em

direção à luz do brônquio, com o objetivo de condicionar grandes volumes de ar que chegam

ao trato respiratório inferior.

Alguns fatores anatômicos e fisiológicos podem contribuir para o aparecimento da

asma, como: menor tamanho das vias aéreas, redução dos canais colaterais de ventilação

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entre os alvéolos (poros de Cohn) e diminuição do suporte de músculo liso das vias aéreas

pequenas.

2.1.2 Fisiopatologia

Conforme o III Consenso Brasileiro no Manejo de Asma (2002), a inflamação

brônquica é o fator fisiopatogênico mais importante da asma, esta inflamação é resultante de

interações entre as células inflamatórias, mediadores e células estruturais das vias aéreas.

A resposta inflamatória tem características especiais que incluem infiltração

eosinófilica, degranulação de mastócitos, lesão intersticial das paredes das vias aéreas e

ativação de linfócitos que produzem citocinas e que causam o início e a manutenção do

processo inflamatório.

Ocorre a liberação de diversos mediadores e através deles, as células causam lesões e

alterações na integridade epitelial, anormalidades no controle neural autonômico e no tônus

da via aérea, alterações na permeabilidade vascular, hipersecreção de muco, mudanças na

função mucociliar e aumento da reatividade do músculo liso da via aérea.

2.1.3 Manifestações clínicas

Serpa (1997) afirma que o sintoma principal, em qualquer tipo de causa, é a

dificuldade respiratória – dispnéia, a respiração torna-se mais difícil fazendo com que

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aumente a freqüência respiratória – taquipnéia. À medida que a crise vai evoluindo o

paciente torna-se ansiado e inquieto, podendo ser observado tiragens intercostais e supra –

esternais, sudorese, cianose da face e extremidades, dor epigástrica e vômitos.

O aspecto mais característico da asma, tal como foi referido na definição, é a sua natureza periódica com o aparecimento recorrente, em diferentes intervalos, de crises de dispnéia predominantemente expiratória, acompanhadas de sibilos, tosse e expectoração de secreção mucóide. O início da crise é extremamente variável nos sintomas, na duração e nas suas relações com circunstâncias tais como a idade do paciente, os fatores ambientais inespecíficos e os antígenos. Os pródomos também são muito variáveis, figurando entre os mais comuns: inapetência, irritabilidade, sono agitado, fadiga e prostração. No entanto, e isso ocorre em um grande número de pacientes, o início é súbito e abrupto, ocorrendo sem sintomas premonitórios. (SERPA, 1997, p. 226).

Segundo Serpa (1997, p. 227), “[...] a dispnéia é muito menos sentida na criança do

que no adulto, e as crianças de pequena idade adotam qualquer posição no leito, podendo

permanecer deitadas de costas durante a crise asmática, em parte pela maior flexibilidade da

caixa torácica e o tipo de respiração abdominal.”

Um sintoma freqüente em praticamente todos os casos é a tosse, que geralmente

ocorre antes da crise e vem acompanhada então, da dispnéia e dos sibilos.

Ela é caracteristicamente seca, dolorosa e não – produtiva, porque o paciente tem dificuldade de expelir o ar de modo adequado. Este fato faz com que as secreções se acumulem e agravem o quadro. À medida que a crise prossegue, a tosse torna-se mais intensa e mais desconfortante, até que o paciente consegue vomitar ou expectorar o catarro mucóide e espesso, o que, de um modo geral, produz acentuada melhora, até mesmo fazendo com que a crise cesse. A tosse pode, cessada a crise, desaparecer por completo ou persistir por dias ou até semanas em alguns casos. (SERPA, 1997, p. 227).

Os outros sintomas que compõe a tríade do asmático, são os sibilos, que muitas vezes

podem ser auscultados sem o uso do estetoscópio. Eles são mais nítidos e acentuados na

expiração, que é prolongada e incompleta durante a crise asmática.

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Conforme Serpa (1997), pode haver outros sintomas, como distúrbios

gastrointestinais, febre, prurido e perda de peso (em crises mais prolongadas). A febre pode

ocorrer antes ou acompanhar a crise, e quase sempre indicará uma infecção, já que não faz

parte do processo alérgico.

Os pacientes nos quais podem ser observados sinais físicos bem definidos são aqueles que estão em crise aguda ou que têm asma crônica de duração suficiente para produzir alterações texturais permanentes. Os sinais que podem ser observados variam, evidentemente, com a idade do paciente, a intensidade da crise e complicações, como infecção e outros fatores. (SERPA, 1997, p. 228).

Segundo Serpa (1997), nas crises moderadas é possível notar alterações limitadas ao

tórax e senão fosse pelos sibilos e dispnéia, o paciente estaria aparentemente normal. Nas

mais intensas os sinais estão no aparelho respiratório e em todo organismo, o indivíduo

poderá assumir uma postura característica, a pele é fria devido à cianose, as narinas ficam

mais dilatadas do que o normal e a boca permanece entreaberta, ocorre ainda batimento de

asa do nariz, para auxiliar em uma maior captação de ar.

Serpa (1997) afirma que o sinal físico mais proeminente que pode ser observado à

inspeção do tórax é a postura característica: nas crises agudas e intensas, o tórax apresenta-se

usualmente em uma posição de inspiração completa, ombros elevados, clavículas salientes

com o esterno empurrado para diante, e há insuflação da base do pescoço e dos espaços

supraclaviculares. Nos pacientes com asma crônica grave e de longa duração que já

desenvolveram alterações texturais irreversíveis, o tórax pode ter um aspecto enfisematoso

(tórax em tonel), alargamento do diâmetro ântero – posterior, cifose dorsal e deformidade

anterior (peito de pombo). Durante a inspiração, pode-se observar que cada músculo

acessório da respiração se contrai ao máximo, e sobressaem notadamente o

esternocleidomastóideo e mesmo o trapézio e o peitoral.

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O diafragma se encontrará abaixo de sua posição normal para tentar aumentar a quantidade de ar inspirado. A freqüência e o ritmo respiratório estarão alterados durante a crise asmática. A percussão pode ser normal ou hipersonora e, somente nos casos em que o enfisema já é evidente, é que o som pode ser timpânico. (SERPA, 1997, p. 228).

2.1.4 Exames complementares

Os exames complementares serão úteis para eliminar a dúvida sobre outras

patologias, para definir a gravidade da doença, verificar como está a capacidade funcional do

paciente e seu estado geral.

O hemograma deve ser realizado porque a contagem específica de leucócitos, em

particular a percentagem de eosinófilos é importante para o diagnóstico. Porém não se pode

concluir que se a eosinofilia está normal o paciente não tem asma, ou que, se já foi

diagnosticada a doença, que ela não é de natureza alérgica.

Serpa (1997) afirma que a radiografia de tórax normalmente não mostrará dados

significativos, mas deve ser feita para auxiliar na exclusão de condições como tuberculose,

pneumonia e tumores mediastínicos, por exemplo.

O estudo detalhado e preciso da função respiratória envolve métodos demorados e extremamente dispendiosos. Embora tais estudos da função respiratória tenham aumentado o conhecimento sobre a fisiologia pulmonar da asma, e sejam necessários em pacientes extremamente graves, são de valor limitado e impraticáveis na grande maioria dos casos nos quais a função respiratória varia de um dia para o outro em decorrência do tratamento, e também porque não justificam a sua utilização. (SERPA, 1997, p. 231).

Nas provas de função respiratória são analisadas, entre outros parâmetros, a

capacidade respiratória máxima e a capacidade vital no primeiro segundo. A primeira é o

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volume de ar expirado em um determinado tempo, e é fornecida em litros por minuto. A

segunda representa o volume de ar que o paciente expira no primeiro segundo de um esforço

expiratório máximo após uma inspiração máxima, seu valor normal é acima de 80% do

volume total expirado.

No asmático, tanto a capacidade respiratória máxima quanto à capacidade vital no

primeiro segundo estarão diminuídas.

É necessário ressaltar que tanto na asma como no enfisema as alterações espirométricas são similares, e as duas condições não podem ser diferenciadas por um simples traçado. Contudo, na asma, a administração de um broncodilatador inalado ou injetado provoca, geralmente, após alguns minutos, um retorno parcial às condições normais, manifestados por um aumento da capacidade vital e da capacidade respiratória máxima. A função respiratória no enfisema não é praticamente afetada por broncodilatadores, e essa diferença de resposta à medicação fornece o meio complementar mais prático de diferenciar os efeitos reversíveis da asma, dos permanentes e irreversíveis do enfisema. (SERPA, 1997, p. 231).

Os testes alérgicos são bastante úteis, pois a partir deles poderá ser detectada a

etiologia da doença, e assim, adotar medidas que dificultem o contato do asmático com o

fator desencadeante de sua crise.

O pico de fluxo expiratório é um exame rápido e prático de ser feito. Deve ser

realizado antes e depois do tratamento para avaliar a capacidade do paciente.

2.1.5 Classificação da asma

Conforme o III Consenso Brasileiro no Manejo de Asma (2002), a doença pode ser

classificada quanto à gravidade em intermitente, persistente leve, persistente moderada e

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persistente grave (ver Tabela 1).

Tabela 1: Classificação da gravidade da asma

Sintomas

Diurnos

Sintomas

Noturnos PFE ou

VEF1

Variabilidade

PEF

Intermitente nenhum ou

<2/semana

<2/ mês >80% <20%

Persistente Leve 3-4/semana 3-4/mês >80% 20%-30%

Persistente Moderada diariamente >5/mês >60% e <80% >30%

Persistente Grave contínuos Freqüente <60% >30%

Fonte: III Consenso Brasileiro no Manejo de Asma, 2002.

Intermitente e persistente leve correspondem aproximadamente a 60% dos casos, 25 a

30% moderada e 5 a 10% são graves.

A avaliação usual da gravidade da asma pode ser feita pela análise da freqüência e intensidade dos sintomas e pela função pulmonar, a tolerância ao exercício, a medicação necessária para estabilização dos sintomas, o número de visitas ao consultório e ao pronto-socorro, o número anual de cursos de corticosteróide sistêmico, o número de hospitalizações por asma e a necessidade de ventilação mecânica são aspectos também utilizados para classificar a gravidade de cada caso. (III Consenso Brasileiro no Manejo de Asma, 2002, p. S8).

2.1.6 Tratamento clínico

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Conforme Serpa (1997) em 1995, demonstrou-se que o aumento da morbidade e da

mortalidade observadas na asma se associa, entre outros fatores, à inadequação da

abordagem médica e à fraca adesão dos pacientes ao tratamento, o qual, por ser complexo,

exige participação ativa de seus portadores e dos familiares. Pelo fato da asma levar a

limitações físicas, emocionais e sociais, as condutas terapêuticas requerem, além do

tratamento farmacológico adequado, que o doente tenha noções sobre a doença, fatores

desencadeantes e forma de evitá-los, assim como adquira habilidades para o uso correto das

medicações.

Com base nessas premissas, qualquer programa de tratamento, educação ou

prevenção para asma deve ser precedido e seguido por levantamentos epidemiológicos

baseados em questionários padronizados, para o acompanhamento do processo, análise de

efetividade dos programas e correções necessárias.

O tratamento farmacológico dependerá da fase em que se encontra o paciente e da

natureza dos fatores etiológicos responsáveis pelos sintomas. Sendo assim, o tratamento é

composto por duas etapas, na primeira é realizado o tratamento sintomático: que é composto

por medidas terapêuticas para aliviar a crise e seus sintomas; na segunda é realizado o

tratamento profilático: que são os métodos utilizados para evitar novas crises.

O tratamento sintomático, então, tem como objetivos provocar broncodilatação,

reduzir o edema da mucosa, inibir a liberação dos mediadores farmacológicos, promover

uma hidratação adequada, restabelecer as trocas gasosas e o equilíbrio ácido – básico. Para

isso poderão ser usados broncodilatadores, anti – histamínicos, corticóides, entre outros.

A orientação do paciente sobre o controle ambiental é útil, principalmente nos

indivíduos em que a irritação alérgica ocorre por poeira domiciliar e fungos do ar (mofos).

Devem ser tomadas medidas como retirar o carpe ao menos do quarto do paciente, não usar

cobertores de lã, usar antimofo nos armários, o filtro do ar condicionado deve ser lavado

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semanalmente, dormir em quartos bem arejados, limpar o quarto do paciente com panos

úmidos.

2.1.7 Tratamento fisioterapêutico

Os objetivos principais do tratamento da asma incluem controlar os sintomas,

prevenir limitações crônicas ao fluxo aéreo, permitir a realização das atividades da vida

diária, manter a função pulmonar normal ou a melhor possível, evitar novas crises, reduzir a

necessidade do uso de broncodilatador como forma de alívio, prevenir a morbidade e

mortalidade. O tratamento mais adequado é a associação dos medicamentos à fisioterapia,

que tentará diminuir os desconfortos do paciente, proporcionando a ele uma melhor

qualidade de vida e menos limitações na realização de suas atividades.

O tratamento fisioterápico será baseado na monitoração de sinais vitais como:

freqüência cardíaca e respiratória, pressão arterial, ausculta pulmonar, saturação periférica de

oxigênio e pico de fluxo expiratório.

Para atingir os objetivos deverão ser utilizados exercícios aeróbicos e cinesioterapia

respiratória. Os alongamentos devem ser realizados depois dos exercícios intensos para que

os sinais vitais voltem ao normal, e se o paciente apresentar encurtamentos musculares.

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2.2 Alterações Posturais Advindas do Problema Respiratório

“As alterações posturais, assim como as alterações psicomotoras, apresentam, como

característica comum, uma alteração da ventilação pulmonar.” (BRITO JÚNIOR, 1995, p.

266).

“Damos o nome de postura à posição que o corpo assume no espaço em função do

equilíbrio desses quatro constituintes anatômicos: vértebras, discos cartilaginosos

intervertebrais, articulações e músculos.” (KNOPLICH, 1997).

A primeira característica da boa postura, segundo Reich (1984), é o alinhamento

vertical preciso das partes. Cada parte superior do corpo descansa sobre a inferior segundo

apoios ósseos, quase sem nenhum esforço muscular e sem nenhuma tendência das partes a

deslizar ou escorregar. Já Feldenkrais (1988), define boa postura como aquela que permite

movimentar o corpo em qualquer direção.

Conforme Brito Júnior (1995) a melhor postura é aquela em que os segmentos

corporais estão equilibrados na posição de menor esforço e máxima sustentação.

Como já foi citado anteriormente, o asmático apresentará adaptações posturais tanto

no estágio agudo como no crônico da doença.

Diversos são os mecanismos de adaptação à posição ortostática. Ocorre um deslocamento dos órgãos internos abdominais para localização na cavidade pélvica, sustentados anteriormente pela musculatura abdominal; aumento do retorno venoso contra a pressão hidrostática, exercida pelo sistema vascular, submetendo os mecanismos circulatórios à tensão ortostática, aumentando a tendência do homem à insuficiência circulatória periférica; aumento da força de inspiração contra a ação da gravidade, comprovada com a depressão gradual à medida que a idade avança; desenvolvimento dos reflexos, destinados a manter o equilíbrio o mais convenientemente possível sob todas as condições desfavoráveis, aplicadas ao aparelho locomotor; desenvolvimento gradual e efetivo da musculatura extensora dos membros inferiores e tronco, estabilizando a posição ereta e, conseqüentemente, a marcha. (BRITO JÚNIOR, 1995, p. 252).

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Segundo Smith et al. (1997), o centro de gravidade do corpo como um todo é a soma

dos centros de gravidade dos segmentos individuais. O conhecimento da localização dos

centros segmentares de gravidade e o peso aproximado dos segmentos é clinicamente útil

para se ajustar cargas de exercício, aplicar tração e equilibrar partes do corpo.

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3 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Segundo Gil (1999, p. 64), “o delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em

sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua diagramação quanto à previsão de análise e

interpretação dos dados. Entre outros aspectos, o delineamento considera o ambiente em que

são coletados os dados, bem como as formas de controle das variáveis envolvidas”.

3.1 Tipo de Pesquisa

Este trabalho foi desenvolvido baseado na pesquisa do tipo descritiva quanto ao nível,

quantitativa quanto à abordagem e estudo multicaso quanto ao procedimento de coleta de

dados.

Segundo Gil (1999) as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial à descrição

das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações

entre variáveis.

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Köche (1997) afirma que este tipo de pesquisa estuda as relações entre duas ou mais

variáveis de um dado fenômeno, porém sem manipulá-las.

Esta foi uma pesquisa descritiva, pois descreveu as características da amostra e as

relações entre as variáveis: gravidade da asma e alteração postural, sem manipulá-las.

Esta pesquisa é do tipo quantitativa, devido ao número de adolescentes que foram

estudados, e também porque os resultados encontrados na avaliação postural passaram por

uma análise estatística.

Segundo Gil (1999), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo

de um ou de poucos (multicaso) objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e

detalhado.

O estudo realizado foi do tipo multicaso, pois realizou uma avaliação de três

adolescentes, e assim, foi possível conhecer quais são as alterações posturais mais comuns em

indivíduos asmáticos.

3.2 População / Amostra

Para obter a amostra foram analisados os prontuários de asmáticos adolescentes,

pacientes da Pneumoclínica de Tubarão - SC e então foram selecionados os indivíduos que

poderiam fazer parte do estudo. A amostra utilizada foi de três adolescentes asmáticas, com

faixa etária entre treze e vinte anos.

A amostra foi do tipo não probabilística acidental, que é aquela em que a seleção dos

indivíduos da população para compor a amostra, depende ao menos em parte, do julgamento

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do pesquisador ou do entrevistador de campo. Neste tipo de amostragem, não é conhecida a

chance que cada indivíduo tem de pertencer à amostra.

Fatores de inclusão da amostra:

• Os responsáveis permitirem que os adolescentes realizassem a avaliação

postural, para isso foram utilizados o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e o Consentimento Para Fotografias, Vídeos e Gravações;

• Adolescentes com história de asma;

• Adolescentes que não apresentassem alterações neurológicas.

3.3 Procedimentos Utilizados Para Coleta de Dados

Primeiramente foi feita uma visita a Pneumoclínica de Tubarão – SC, e apresentado o

projeto ao Dr. Evandro Thonsem.

Os prontuários da clínica passaram por uma análise e a partir disto os pacientes foram

selecionados. Os escolhidos foram abordados por telefone em uma conversa informal, na qual

a pesquisadora explicou os objetivos do estudo e como a coleta seria realizada para eles e para

seus responsáveis. Foi marcada uma data para que os participantes fossem até a

Pneumoclínica e as imagens fossem registradas.

Ao chegar a clínica o responsável preenchia o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e o Consentimento Para Fotografias, Vídeos e Gravações.

O participante era então posicionado com uma distância de 1,75 metros do

equipamento fotográfico. A altura do equipamento era de 1,04 metros. Foram retiradas quatro

imagens de cada participante: vista anterior, vista posterior, vista lateral direita e vista lateral

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esquerda. Para melhor interpretação das fotos alguns pontos anatômicos foram marcados com

adesivos, foram eles:

Vista anterior:

1. Trago direito;

2. Trago esquerdo;

3. Acrômio direito;

4. Acrômio esquerdo;

5. Espinha ilíaca ântero – superior direita;

6. Espinha ilíaca ântero – superior esquerda;

7. Linha articular do joelho direito;

8. Linha articular do joelho esquerdo;

9. Ponto medial da patela direita;

10. Ponto medial da patela esquerda;

11. Tuberosidade da tíbia direita;

12. Tuberosidade da tíbia esquerda;

13. Maléolo lateral direito;

14. Maléolo lateral esquerdo;

15. Maléolo medial direito;

16. Maléolo medial esquerdo.

Vista posterior:

1. Ângulo inferior da escápula direita;

2. Ângulo inferior da escápula esquerda;

3. Processo espinhoso de T3;

4. Ponto sobre o tendão de Aquiles direito;

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5. Ponto sobre o tendão de Aquiles esquerdo;

6. Calcâneo direito;

7. Calcâneo esquerdo.

Vista lateral direita:

1. Trago direito;

2. Acrômio direito;

3. Processo espinhoso de C7;

4. Espinha ilíaca ântero – superior direita;

5. Espinha ilíaca póstero – superior direita;

6. Linha articular do joelho direito;

7. Maléolo lateral direito;

8. Ponto entre a cabeça do 2º e 3º metatarso direito.

Vista lateral esquerda:

9. Trago esquerdo;

10. Acrômio esquerdo;

11. Processo espinhoso de C7;

12. Espinha ilíaca ântero – superior esquerda;

13. Espinha ilíaca póstero – superior esquerda;

14. Linha articular do joelho esquerdo;

15. Maléolo lateral esquerdo;

16. Ponto entre a cabeça do 2º e 3º metatarso esquerdo.

Foram coletados também alguns dados pessoais, verificados massa corporal e altura

dos adolescentes.

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A partir da aquisição das imagens fotográficas, as mesmas eram armazenadas em

computador pessoal e foram analisadas com a utilização do software de análise postural

SAPO, o qual emite um relatório sobre a situação postural do indivíduo (Anexo A).

3.4 Instrumentos Utilizados Para Coleta de Dados

• Medidas antropométricas: utilizadas balança e fita métrica, para verificação da massa

corporal e estatura.

• Imagens fotográficas: utilizada câmera fotográfica digital da marca Sony Cyber-Shot

DSC-L1 4.1 megapixels.

• Software v. 0.63: as imagens foram analisadas através do software de análise postural

SAPO.

3.5 Tratamento Estatístico

Em razão do tamanho da amostra, foram utilizados métodos de estatística descritiva, à

saber, a relação entre a gravidade da asma e a alteração postural.

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4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo são apresentados os dados gerais e os resultados referentes a avaliação

postural que foram obtidos na avaliação postural das três adolescentes, realizada na

Pneumoclínica de Tubarão – SC. Posteriormente, os dados serão discutidos e analisados.

4.1 Dados Gerais

Paciente A:

Tem 18 anos de idade, sexo feminino, altura: 1,50 m, peso: 45 kg. Sofre de rinite

alérgica, a asma foi diagnosticada aos 7 anos de idade.

Classificação da gravidade da asma de acordo com o III Consenso Brasileiro no

Manejo de Asma (2002): persistente leve.

Resultado da espirometria do dia 03/04/2006: obstrução leve com componente

restritivo.

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Paciente B:

Tem 15 anos de idade, sexo feminino, altura: 1,53, peso: 48 kg. Asma diagnosticada

aos 8 meses de vida.

Classificação da gravidade da asma de acordo com o III Consenso Brasileiro no

Manejo de Asma (2002): intermitente.

Resultado da espirometria do dia 09/08/2005: obstrução leve.

Paciente C:

Tem 17 anos de idade, sexo feminino, altura: 1,59 m, peso: 55 kg. História de rinite

alérgica e asma desde o primeiro ano de vida.

Classificação da gravidade da asma de acordo com o III Consenso Brasileiro no

Manejo de Asma (2002): persistente moderada.

Resultado da espirometria do dia 14/07/2006: obstrução moderada com componente

restritivo.

4.2 Avaliação Postural

A avaliação postural do presente estudo foi realizada através do Protocolo SAPO de

Medidas, porém analisando somente as medidas de cabeça e tronco em todas as vistas.

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Tabela 2 – Medidas segundo o Protocolo SAPO Medidas segundo protocolo SAPO-1

Vista Anterior A B C

Alinhamento horizontal da cabeça -1,2 -2,6 0

Alinhamento horizontal dos acrômios -1 0 -0,9

Alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-superiores 0,7 -0,8 -1,3

Ângulo entre os dois acrômios e as duas espinhas ilíacas ântero-

superiores 1,7 -0,8 -0,4

Vista Posterior A B C

Assimetria horizontal da escápula em relação à T3 20,4 3,2 14,1

Vista Lateral Direita A B C

Alinhamento horizontal da cabeça (C7) 46,7 46,6 35,8

Alinhamento vertical da cabeça (acrômio) 26,1 22,2 34,7

Alinhamento vertical do tronco -1,9 -2,6 -4,5

Ângulo do quadril (tronco e membro inferior) -4,8 -7,6 -10,3

Alinhamento vertical do corpo 0,5 1,3 0,6

Alinhamento horizontal da pélvis -9,1 -11,9 -1

Vista Lateral Esquerda A B C

Alinhamento horizontal da cabeça (C7) 47,6 47,7 47,9

Alinhamento vertical da cabeça (acrômio) 27,4 28,3 30

Alinhamento vertical do tronco -3 -5,8 -6,5

Ângulo do quadril (tronco e membro inferior) -4,8 -10,1 -6,2

Alinhamento vertical do corpo -0,5 -0,5 -3,2

Alinhamento horizontal da pélvis -7,6 -10,1 -1,1

Fonte: a autora, (2006).

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Segundo o Protocolo SAPO de Medidas, na vista anterior o alinhamento horizontal da

cabeça é o ponto entre o trago direito e o esquerdo, ângulo positivo significa que a cabeça está

rodada para o lado direito. O alinhamento horizontal dos acrômios mostra se o acrômio

esquerdo está mais alto que o direito, ângulo positivo significa que o acrômio esquerdo está

mais alto que o direito; assim como o alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-

superiores. E o ângulo entre os dois acrômios e as duas espinhas ilíacas ântero-superiores vai

indicar se a distância entre o acrômio e EIAS direitas é menor que no lado esquerdo ou não,

ângulo positivo significa que a distância entre o acrômio e EIAS direitas é menor que no lado

esquerdo.

Gráfico 1 – Vista anterior

Vista Anterior

-3

-2

-1

0

1

2

Ân

gulo

(gra

us)

Paciente APaciente BPaciente C

Paciente A -1,2 -1 0,7 1,7

Paciente B -2,6 0 -0,8 -0,8

Paciente C 0 -0,9 -1,3 -0,4

Alinhamento horizontal da cabeça

Alinhamento horizontal dos acrômios

Alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-superiores

Ângulo entre os do is acrômios e as duas

espinhas ilíacas ântero-

Fonte: a autora, (2006).

Conforme o software SAPO, na vista posterior a assimetria horizontal da escápula em

relação à T3 indica se há rotação de escápula ou não, o valor positivo significa que a escápula

direita está mais abduzida.

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Gráfico 2 - Vista posterior

Vista Posterior

0

5

10

15

20

25

Âng

ulo

(gra

us)

Paciente A

Paciente B

Paciente C

Paciente A 20,4

Paciente B 3,2

Paciente C 14,1

Assimetria horizontal da escápula em relação à T3

Fonte: a autora, (2006).

O Protocolo SAPO explica que na vista lateral direita o alinhamento horizontal da

cabeça é feito através da análise do trago direito e de C7. O alinhamento vertical da cabeça é

feito através da análise do trago direito e do acrômio direito. O alinhamento vertical do tronco

é feito através da análise do acrômio direito e do trocânter maior do fêmur direito. O ângulo

do quadril é feito pela posição do tronco e do membro inferior direito. O alinhamento vertical

do corpo é feito pelo acrômio direito e pelo maléolo lateral direito. E o alinhamento horizontal

da pelve é feito pela análise da espinha ilíaca ântero-superior direita e espinha ilíaca póstero-

superior direita.

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Gráfico 3 – Vista lateral direita

Vista Lateral Direita

-20

-10

0

10

20

30

40

50

Âng

ulo

(gra

us)

Paciente A

Paciente B

Paciente C

Paciente A 46,7 26,1 -1,9 -4,8 0,5 -9,1

Paciente B 46,6 22,2 -2,6 -7,6 1,3 -11,9

Paciente C 35,8 34,7 -4,5 -10,3 0,6 -1

Alinhamento horizontal da cabeça (C7)

Alinhamento vertical da

cabeça

Alinhamento vertical do

tronco

Ângulo do quadril (t ronco

e membro

Alinhamento vertical do

corpo

Alinhamento horizontal da

pélvis

Fonte: a autora, (2006).

A vista lateral esquerda é analisada da mesma maneira que a lateral direita.

Gráfico 4 – Vista lateral esquerda

Fonte: a autora, (2006).

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O controle postural envolve o controle da posição do corpo no espaço, para o objetivo

duplo de estabilidade e orientação. A orientação postural é definida como a capacidade de

manter uma relação adequada entre os segmentos do corpo e entre o ambiente, para uma

determinada tarefa (COOK; WOOLLACOTT, 2003).

A posição ereta do homem trouxe uma função complexa, devido ao peso corporal,

ocorrendo mudanças no centro de gravidade. A posição ereta só foi possível pelas

transformações que surgiram na coluna vertebral, com o aparecimento das curvas lordóticas

na região cervical e lombar (RESENDE; SANCHES, 1992).

Segundo Cailliet (1985), quando o homem assumiu a posição ereta, a pelve não

completou a rotação; a coluna vertebral reteve curvas fisiológicas, uma na região inferior

acima das nádegas (lordose), outra na obtenção de alinhamento do centro de gravidade, na

região superior (torácica), outra em direção oposta (cifose), e outra ainda, na região do

pescoço (lordose cervical). Quando ocorre mudança em uma das curvaturas, ocorrem

modificações nas demais, como forma de compensação.

Portanto a postura corporal do ser humano, nos dias atuais, é fruto de dois elementos:

a adaptação da espécie durante todo processo evolutivo e as adaptações individuais que

ocorrem durante seu desenvolvimento neuropsicomotor para aquisição da posição bípede

contrapondo-se à ação da força da gravidade (BRACCIALLI, 2000).

A estabilidade postural é a capacidade de manter o corpo em equilíbrio. Um corpo está

em equilíbrio quando se encontra em repouso (equilíbrio estático) ou em movimento

(equilíbrio dinâmico) (COOK; WOOLLACOTT, 2003).

De acordo com Whiting e Zernicke (2001, p. 221) “[...] os pequenos desvios vertebrais

são bem tolerados e, em geral, são assintomáticos. Em contrapartida, as deformidades graves

podem comprometer profundamente os processos cardiopulmonares.”

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Segundo Whiting e Zernicke (2001), é importante que seja feito o diagnóstico precoce

da alteração postural pelo fato de ser uma deformidade progressiva. A falta de intervenção

pode resultar em deformidades graves, que chegam a ameaçar a vida adulta, nas fases

subseqüentes.

Conforme Tribastone (2001) os fatores que determinam um defeituoso ou

antienconômico modo de respirar podem ser reconduzidos ou a problemas de origem nervosa,

ou a problemas de origem músculo – articular. Um indivíduo portador de qualquer anomalia

da estática ou da dinâmica morfofuncional manifesta uma série de modificações e de

alterações da função respiratória, tanto que todos os indivíduos que têm desvios da coluna

torácica apresentam uma insuficiência respiratória. Uma insuficiência respiratória pode até

determinar um desvio, por isso, nem a causa nem o efeito se sobrepõem. A importância de

uma intervenção modificadora para restabelecer uma eficaz e correta função respiratória é

fundamental.

Como a asma é uma das principais doenças da infância, sendo certamente a principal

doença respiratória crônica da criança e do adolescente, sua importância, tanto para o

indivíduo como para a coletividade, decorre do fato de ser afecção potencialmente grave, cuja

prevalência tem aparentemente aumentado em todo o mundo, com participação crescente na

mortalidade (MAIA et al., 2004).

A espirometria é o exame utilizado para ser feito o diagnóstico. A obstrução das vias

aéreas é caracterizada quando há redução do VEF1 (inferior a 80%) e da relação VEF1/CVF. O

diagnóstico de asma é confirmado quando a obstrução ao fluxo aéreo melhora

significativamente após o uso de um broncodilatador.

Conforme Guimarães (1983) a freqüência e intensidade das crises pode levar a criança

asmática a apresentar tendência a algumas deformidades torácicas e posturais. A avaliação

postural do asmático traz habitualmente os seguintes dados: ombros elevados e protraídos,

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aumento da cifose dorsal, aumento do diâmetro antero-posterior do tórax com saliência do

esterno, aumento da lordose lombar, escápulas abduzidas e rodadas, além da deformidade em

peito de pombo ou barril e tensão muscular variável de toda a musculatura de pescoço,

ombros e rosto. Encontram-se inclusive, alterações de posição da cabeça, quadril e membros

inferiores.

Foi elaborado um gráfico com o somatório do valor absoluto angular da avaliação

postural, que seria a soma de todos os dados sem considerar como positivo ou negativo.

Teoricamente, a paciente com maior soma teria uma classificação pior da asma.

Gráfico 5 – Somatório do valor absoluto angular da avaliação postural

194

196

198

200

202

204

206

Paciente A Paciente B Paciente CSom

atór

io d

o va

lor

abso

luto

ang

ular

da

aval

iaçã

o po

stur

al

Fonte: a autora, (2006).

Acreditava-se que a paciente C por apresentar a pior classificação de asma entre as três

pacientes, persistente moderada, teria o maior somatório do valor absoluto angular da

avaliação postural. Porém isto não ocorreu, a paciente A foi quem apresentou o maior

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somatório, sendo que sua classificação de gravidade da asma é persistente leve (ver Quadro

1).

Quadro 1 – Gravidade da asma e soma absoluta dos ângulos Paciente Gravidade da Asma Soma dos ângulos

A persistente leve 205

B intermitente 202.1

C persistente moderada 198.5

Fonte: a autora, (2006).

4.2.1 – Centro de Gravidade

Quadro 2 – Dados do centro de gravidade Assimetria no plano

frontal Assimetria no plano sagital

Assimetria Total (soma absoluta dos valores)

Paciente A 2,7 % 16,9% 19,6

Paciente B -2,7 % 33,3 % 46

Paciente C -11,7 % 11,1 % 22,8

Fonte: a autora, (2006).

As medidas com a projeção do centro de gravidade (CG) são feitas através da

análise da assimetria entre a projeção do CG e a base de suporte no plano frontal, e a

assimetria entre a projeção do CG e a base de suporte no plano sagital. A projeção do CG é

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mostrada em relação à base de suporte tendo como origem a projeção da posição média

entre os maléolos laterais (ver Figura 1).

Figura 1 – Centro de gravidade: pacientes A, B e C.

Fonte: Protocolo SAPO de Medidas.

Através da figura é possível observar com clareza onde estão localizados os centros de

gravidade de cada uma das adolescentes.

Quadro 3 – Gravidade da asma e assimetria total do centro de gravidade Paciente Gravidade da Asma Assimetria do CG

A persistente leve 19,6

B intermitente 46

C Persistente moderada 22,8

Fonte: a autora, (2006).

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Na relação entre a gravidade da asma e a assimetria total do CG era esperado, assim

como na relação entre a gravidade da asma e a soma dos ângulos, que a paciente C

apresentasse a maior assimetria do CG. Porém foi a paciente B, que apresenta asma do tipo

intermitente, quem apresentou o maior valor de assimetria total do CG.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo sobre a relação da gravidade da asma e a assimetria postural de forma

quantitativa, foi de grande valia por ser uma maneira diferente de realizar a análise postural.

Através dos valores que o Protocolo SAPO de Medidas fornece é possível avaliar as

assimetrias de cada indivíduo.

É importante ressaltar que alguns dados ainda não estão disponíveis no software,

portanto não foi possível fazer comparações sobre os valores normais e os que foram

encontrados nas pacientes. Deve-se lembrar, também, que existem poucas pesquisas que

analisam a postura desta forma quantitativa, o que dificultou a redação da discussão deste

trabalho.

O tamanho da amostra poderia ter sido maior a fim de aumentar a significância do

estudo, porém isto não depende apenas da pesquisadora. Realizou-se contato com vários

pacientes e seus responsáveis, os quais não tiveram interesse em colaborar.

De acordo com a pesquisa realizada, verificou-se que o indivíduo com uma pior

classificação de gravidade da asma, não necessariamente será o que tem uma maior alteração

postural.

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Assim como na relação entre a gravidade da asma e a assimetria total do CG. A

paciente B, que apresenta asma do tipo intermitente, foi a que apresentou maior assimetria do

CG.

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ANEXOS

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Anexo A – Relatório de Avaliação Postural (Protocolo SAPO)

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