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323 Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.49, n.79, p.323-359, jan./jun.2009 ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00816-2008-050-03-00-9 Data: 29.06.2009 DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE BOM DESPACHO - MG Juiz Titular: Dr. VALMIR INÁCIO VIEIRA Aos vinte e nove dias do mês de junho do ano de 2009, às 10h56min, na sede da MM. Vara do Trabalho de BOM DESPACHO/MG, tendo como titular o MM. Juiz do Trabalho, Dr. VALMIR INÁCIO VIEIRA, realizou-se audiência de julgamento da ação ajuizada por JOSÉ RITA CORREIA em face de CALÇADOS ADDAN LTDA., relativa à indenização por danos morais de acidente do trabalho etc., no valor de R$400.000,00. Aberta a audiência, foram, de ordem do MM. Juiz Titular, apregoadas as partes. Ausentes. A seguir, o Juiz Titular prolatou a seguinte decisão: Vistos etc. I - RELATÓRIO JOSÉ RITA CORREIA ajuíza reclamação trabalhista em face de CALÇADOS ADDAN LTDA., ambos qualificados nos autos. Sustenta, em suma, que: trabalhou para a reclamada em dois períodos, quais sejam, de 01.09.1999 a 10.05.2005 e de 01.11.2005 a 06.02.2008; recebia remuneração mensal de R$1.270,00 ao passo que sua CTPS era registrada constando salário de R$760,00, devendo sua remuneração ser acrescida das horas extras habitualmente prestadas; no dia 09.11.2005 sofreu acidente do trabalho, o que levou a fraturas no pulso e mão direita; não eram fornecidos EPIs. Em consequência, postula o pagamento das parcelas que arrola às f. 12/14. Atribui à causa o valor de R$400.000,00. Junta aos autos os documentos de f. 15/25. A reclamada, regularmente notificada, apresenta defesa escrita, nos termos de f. 32/42. Invoca a prescrição do primeiro período contratual do reclamante e pondera, em suma, que: o salário do obreiro foi corretamente registrado na CTPS, não havendo pagamento extrafolha e nem a existência de labor em jornada extraordinária; o acidente foi provocado por ato inseguro do próprio reclamante que subiu na escada sem posicioná-la adequadamente e nem utilizou-se de andaime para a realização do serviço; a empresa fornece equipamentos de segurança necessários para a realização do trabalho, não havendo ato ilícito de sua parte; o INSS já liberou o reclamante para suas atividades, estando ele trabalhando normalmente como pedreiro; a reclamada custeia todos os tratamentos necessários ao reclamante; não houve culpa da contestante no acidente; o reclamante litiga de má-fé; impugna os pedidos; pugna pela improcedência da reclamação. Junta aos autos os documentos de f. 43/91. O reclamante apresenta a impugnação de f. 99/103. Realiza-se perícia médica (laudo às f. 127/135 e esclarecimentos às f. 159/165). Colhem-se os depoimentos das partes e de quatro testemunhas (f. 188/ 193). Encerrada a instrução, as partes aduzem razões finais orais remissivas. Não há acordo.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00816-2008-050-03-00-9 · 3 - Da indenização por danos materiais e morais em decorrência de acidente do trabalho É fato incontroverso nos autos

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.49, n.79, p.323-359, jan./jun.2009

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00816-2008-050-03-00-9Data: 29.06.2009DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE BOM DESPACHO - MGJuiz Titular: Dr. VALMIR INÁCIO VIEIRA

Aos vinte e nove dias do mês de junho do ano de 2009, às 10h56min, nasede da MM. Vara do Trabalho de BOM DESPACHO/MG, tendo como titular o MM.Juiz do Trabalho, Dr. VALMIR INÁCIO VIEIRA, realizou-se audiência de julgamentoda ação ajuizada por JOSÉ RITA CORREIA em face de CALÇADOS ADDAN LTDA.,relativa à indenização por danos morais de acidente do trabalho etc., no valor deR$400.000,00.

Aberta a audiência, foram, de ordem do MM. Juiz Titular, apregoadas aspartes. Ausentes.

A seguir, o Juiz Titular prolatou a seguinte decisão:Vistos etc.

I - RELATÓRIO

JOSÉ RITA CORREIA ajuízareclamação trabalhista em face deCALÇADOS ADDAN LTDA., ambosqualificados nos autos. Sustenta, emsuma, que: trabalhou para a reclamadaem dois períodos, quais sejam, de01.09.1999 a 10.05.2005 e de01.11.2005 a 06.02.2008; recebiaremuneração mensal de R$1.270,00 aopasso que sua CTPS era registradaconstando salário de R$760,00,devendo sua remuneração seracrescida das horas extrashabitualmente prestadas; no dia09.11.2005 sofreu acidente do trabalho,o que levou a fraturas no pulso e mãodireita; não eram fornecidos EPIs. Emconsequência, postula o pagamento dasparcelas que arrola às f. 12/14. Atribui àcausa o valor de R$400.000,00. Juntaaos autos os documentos de f. 15/25.

A reclamada, regularmentenotificada, apresenta defesa escrita, nostermos de f. 32/42. Invoca a prescriçãodo primeiro período contratual doreclamante e pondera, em suma, que:o salário do obreiro foi corretamenteregistrado na CTPS, não havendopagamento extrafolha e nem a

existência de labor em jornadaextraordinária; o acidente foi provocadopor ato inseguro do próprio reclamanteque subiu na escada sem posicioná-laadequadamente e nem utilizou-se deandaime para a realização do serviço;a empresa fornece equipamentos desegurança necessários para arealização do trabalho, não havendo atoilícito de sua parte; o INSS já liberou oreclamante para suas atividades,estando ele trabalhando normalmentecomo pedreiro; a reclamada custeiatodos os tratamentos necessários aoreclamante; não houve culpa dacontestante no acidente; o reclamantelitiga de má-fé; impugna os pedidos;pugna pela improcedência dareclamação. Junta aos autos osdocumentos de f. 43/91.

O reclamante apresenta aimpugnação de f. 99/103.

Realiza-se perícia médica (laudoàs f. 127/135 e esclarecimentos às f.159/165).

Colhem-se os depoimentos daspartes e de quatro testemunhas (f. 188/193).

Encerrada a instrução, as partesaduzem razões finais orais remissivas.

Não há acordo.

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II - FUNDAMENTOS

1 - Prescrição

Considerando que o primeirocontrato de trabalho do reclamantevigorou no período compreendido entre01.09.1999 a 10.05.2005 e que apresente ação foi ajuizada em07.07.2008, impõe-se pronunciar aprescrição total dos créditos doreclamante relativos ao referidocontrato, porque transcorridos mais dedois anos entre a extinção contratual eo ajuizamento da presente reclamação.Inteligência e aplicação do inciso XXIXdo art. 7º da Constituição Federal emvigor.

Quanto ao segundo contrato detrabalho, vigente no período de01.11.2005 a 06.02.2008, não há,evidentemente, prescrição a serpronunciada.

2 - Remuneração - Retificaçãoda CTPS

O reclamante alega que recebiasalário mensal de R$1.270,00, queacrescido das horas extras (R$476,00)somaria uma remuneração deR$1.746,00, sendo que sua CTPS foiregistrada constando como últimosalário o valor de R$760,00, o que lhetraz prejuízos quanto ao benefícioprevidenciário.

A reclamada, em sua defesa,nega o pagamento extrafolha, bemcomo a existência de labor em jornadaextraordinária, afirmando que o salárioefetivamente recebido pelo reclamanteé o constante dos recibos depagamento.

Pois bem.Os recibos de pagamento de f.

67/68 comprovam o pagamento dosalário registrado.

Apesar de a testemunha HiltonCorreia de Aguiar ter afirmado, à f. 190,que o reclamante recebia salárioextrafolha, seu depoimento não há queser considerado para fins de retificaçãoda CTPS do reclamante, tendo em vistaque seu primeiro contrato de trabalhofoi declarado prescrito, conforme acima,e no segundo contrato o reclamantesofreu acidente no nono dia de trabalhoe não mais voltou às suas atividades.Desse modo, resta vaga a afirmação datestemunha de que o reclamante“recebia extrafolha, quase um saláriomínimo mensal” e que “via o reclamantereceber salário”, tendo em vista ocurtíssimo período em que trabalhoujunto com o reclamante em seu segundocontrato (09 dias).

Fixadas essas premissas, éinelutável reconhecer que os recibos def. 67/68 correspondem ao valorefetivamente recebido pelo reclamante,razão pela qual se indefere o pedido deretificação da CTPS quanto ao salário.

3 - Da indenização por danosmateriais e morais em decorrência deacidente do trabalho

É fato incontroverso nos autoster sido o reclamante vítima de acidentedo trabalho na data de 09.11.2005,conforme CAT de f. 72, quando elesofreu queda de uma escada, o que lhecausou uma fratura no punho direito.

Ademais, diante do teor daconclusão pericial de f. 135, no sentidode que o reclamante “está incapaz emgrau máximo e definitivo para o trabalhode pedreiro” e não para outrasatividades laborativas, tem-se comosobejamente comprovada a redução dacapacidade laboral do obreiro a partirdo acidente.

Pois bem.O inciso XXVIII do art. 7º da Carta

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Magna assegura ao trabalhador segurocontra acidente do trabalho, a cargo doempregador (do qual decorrem osbenefícios pagos pelo INSS), semexcluir a indenização prevista no direitocivil a que este está obrigado quandoincorrer em dolo ou culpa.

Enfatize-se que a reparabilidadede danos materiais decorrentes deacidente do trabalho tem fundamento nateoria da responsabilidade civil segundoa qual quem cause dano a outrem temo dever de indenizá-lo e está previstaem vários textos legais, em especial naCarta Magna (artigo 5º, incisos V e X),com o objetivo precípuo de garantir quetodos os seres humanos se respeitementre si. Ademais, segundo o art. 186do Código Civil em vigor “Aquele que,por ação ou omissão voluntária,negligência ou imprudência, violardireito e causar dano a outrem, aindaque exclusivamente moral, comete atoilícito”, ficando, pois, obrigado a repararo dano.

Os pressupostos daresponsabilidade civil no pertinente adanos materiais decorrentes de acidentedo trabalho, caracterizando-o como atoilícito, como é cediço em doutrina, são aexistência de erro de conduta do agente(ação ou omissão injusta), a ofensa a umbem jurídico ou dano (acidente oudoença que gera ferimento decomponente da esfera do patrimôniomoral ou material da vítima) e a relaçãode causalidade entre a antijuridicidadeda ação e o dano causado.

No caso dos autos, estãopresentes esses pressupostos. Porpartes:

O prejuízo financeiro decorre, àevidência, da redução da capacidadelaborativa do obreiro a partir do acidentedo trabalho, demonstrada por meio dossubsídios probatórios que instruem osautos.

Quanto à culpa, apesar de operito oficial ter concluído que inexistiuculpa da reclamada pelo acidente e queeste ocorreu por ato inseguro doreclamante, o conjunto probatório dosautos aponta para horizontediametralmente oposto, ou seja, estádemonstrada a culpa da empresa, aindaque levíssima.

No aspecto, para ademonstração da existência de culpa dareclamada é imprescindível a análise daprova oral produzida:

- a testemunha Hilton CorreiaAguiar afirmou às f. 189/190:

[...] trabalhou com o reclamante naobra do SINDINOVA; que era aconstrução de um auditório; que nestaobra não foram fornecidos cintos desegurança; que o depoente estavapresente no momento do acidente;que, no momento do acidente, oreclamante tinha que ter acesso acano de 100mm de passagem deágua para colocar uma braçadeira;que o cano estava a uma altura de3,5 metros a 4 metros; que naquelelocal seria possível colocar umandaime, se fosse colocada umasapata; que o reclamante não colocoua sapata, porque não existia sapatana obra; que existia um andaime, masnão estava sendo utilizado, porque olocal junto a parede tinha uma rampa,que dava mais ou menos 1,20 metrosde altura; que existia uma tesoura deferro na altura de 4 metros, ondepoderia ter sido fixado um cinto desegurança, se existisse o cinto; queo reclamante ia colocar 04braçadeiras e o acidente aconteceuna última; que, na ocasião, oengenheiro não estava na obra; quenaquela obra a turma estavatrabalhando aproximadamente 01 ano

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e 07 meses; que era usado o andaimesem cinto de segurança e quandonecessário fazer algum ajuste, eracolocado embaixo do andaime algumtijolo ou pedaço de madeira; que essefato era do conhecimento doengenheiro, sendo que ele via e nadadizia; que era somente naquele localque havia rampa; que nem a empresanem o engenheiro alertavam para osriscos, ou para medidas a tomar paraevitar acidente do trabalho; que aCIPA esteve no local uma semanadepois do acidente e antes dissonunca; que o reclamante recebiaordens do referido engenheiro; que oengenheiro comparecia à obra umaou duas vezes por semana; que, naobra, não havia materiais suficientespara apoiar a base da escada no diado acidente; que, para evitar oacidente, poderia ter sido usada umaescada menor, sendo que, na obra,não existia uma, mas apenas aquelade 7 metros que foi utilizada peloreclamante; que o local em que aescada ficou apoiada era plano; quea rampa ficava a 1,20 metros daparede, na parte alta e uns 3,20metros na parte baixa; que a escadaficou apoiada na parte baixa e,portanto, ficou bastante inclinada; queforam pregadas na escada duastábuas junto à base para que elapermanecesse em pé; que oreclamante era um trabalhadorcuidadoso; [...] que existiamandaimes mas não as sapatas; que,quando o reclamante subiu naescada, e começou a operar afuradeira, com o impacto as tábuasque estavam pregadas na escadaracharam e a escada caiu; que haviacordas na obra; que o reclamante nãopoderia ter amarrado a escada comcordas, porque a tesoura de metalestava bem atrás dele; [...]

- a testemunha LeonardoMarcelo Goulart de Castro, engenheiroresponsável pela obra, afirmou às f. 190/191:

[...] que o depoente comparecia àreferida obra uma ou duas vezes porsemana, para marcar o serviço doreclamante, ou seja, o que ele iafazer naquela semana; que odepoente passava as instruções deserviço sempre para o reclamante eele distribuía o serviço para o restodo pessoal; que internamente não seusa cinto de segurança; que nomomento do acidente não existiacinto de segurança; que, nomomento do acidente, o reclamanteia fixar um tubo próximo à cobertura,na altura de 3,5 metros e na ocasiãodeveria ter montado um andaime deuns 2 ou 2,5 metros para aí, sim,pisando na plataforma desseandaime, fazer o serviço; que toda aparte de tubulação aérea era feitacom a util ização de andaime enessas ocasiões, por ser uma alturapequena e por ser trabalho na parteinterna da obra, os trabalhadores nãousavam cinto de segurança; que, nolocal, havia uma parte do pisoinclinada e aí o andaime era calçado,seja com madeira, seja com blocode concreto, para existir onivelamento necessário para amontagem do andaime; que, emBelo Horizonte, existe sapatametálica que é acoplada ao pé doandaime e faz a mesma função docalço de madeira ou do bloco deconcreto; que, para o serviço de furara parede, que o reclamante ia fazer,tinha que estar firmemente seguro eem cima de um andaime; que odepoente acha que o reclamanteestava com pressa e por isso nãomontou o andaime; que, na obra, não

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havia necessidade dessa pressa,tanto que nem era por empreitada;que o depoente acha que oreclamante agiu com um pouco deimprudência; que disseram aodepoente que, naquela ocasião,alguém disse ao reclamante paramontar o andaime e ele se recusoue quis subir na escada; que osmateriais e ferramentas eramsolicitados pelo reclamante para areclamada comprar; que a escadaestava apoiada no plano e a rampaestava em frente à escada; que oreclamante teria escorado a escadano declive, sendo que isso odepoente sabe por ouvir dizer; [...]que o depoente sempre dizia quetrabalhar em altura é com andaime;que onde o reclamante foi fazer oserviço não tinha onde colocar cintode segurança, já que não havia localonde amarrar a escada não tinhalocal para amarrar o cinto desegurança, a não ser que fosseamarrado o cinto no andaime; que,se o serviço fosse feito na parteexterna da obra, o depoenterecomendaria o uso simultâneo decinto e andaime.

- a testemunha Anésio Pedrosodos Santos (f. 191/192) afirmou:

[...] estava presente no dia doacidente; que os trabalhadoresestavam na obra há uns 08 meses;que o pessoal sempre utilizavaandaime quando era trabalho emaltura; que o reclamante era pedreiro;que o engenheiro passava as funçõespara o reclamante e o reclamantepassava para os demaistrabalhadores; que o reclamante,após o horário normal de trabalho,não ficava na obra; que era oreclamante quem solicitava materiais

e ferramentas à reclamada; que, nodia do acidente, o trabalho era interno;que o depoente nunca usou o cintode segurança em trabalho interno,mas em trabalho externo sim, mesmoque a altura fosse a mesma; que orisco de queda não é o mesmonessas situações, porque talvez nãotenha lugar de amarrar; que odepoente viu o acidente acontecendo;que a base da escada usada peloreclamante estava em local plano;que havia madeiras pregadas naescada; que a escada não estava empé, mas bastante inclinada, em razãode ser a escada muito alta, pela alturada parede; que havia na obra umaescada mais compatível, mas odepoente não sabe por que oreclamante não a usou; que a escadamais compatível seria uma deaproximadamente 3 metros e existiauma dessas na obra; [...] que oreclamante não pediu a ninguémajuda para colocar a escada; que oreclamante colocou a escada daforma que ela deu, mas o depoenteacha que a colocação da escada nãofoi correta; que o depoente colocariaoutra escada, talvez a menor queestava lá; que lá teria condições demontar o andaime; que, na hora, odepoente falou para o reclamante quea escada estava perigosa e odepoente não se lembra de como elerespondeu, mas o reclamante subiuna escada; [...] que a distância entrea base da escada e a parede ficouaproximadamente em 3 metros emrazão da rampa; [...] que a CIPA nãoexplicava como fazer algum serviço;que o engenheiro dava ascoordenadas do serviço.

Tais depoimentos devem sersopesados diante de normas jurídicasaplicáveis à espécie. Por partes:

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A NR 18 dispõe sobre as“Condições e Meio Ambiente deTrabalho na Indústria da Construção”,destacando-se os seguintes itens quese aplicam ao presente caso:

18.15.11 É proibido trabalho emandaimes apoiados sobre cavaletesque possuam altura superior a 2,00m(dois metros) e largura inferior a0,90m (noventa centímetros).[...]18.23.3 O cinto de segurança tipopára-quedista deve ser utilizado ematividades a mais de 2,00m (doismetros) de altura do piso, nas quaishaja risco de queda do trabalhador.18.23.3.1 O cinto de segurança deveser dotado de dispositivo trava-quedas e estar ligado a cabo desegurança independente daestrutura do andaime.[...]18.28.1 Todos os empregadosdevem receber treinamentosadmissional e periódico, visando agarantir a execução de suasatividades com segurança.18.28.2 O treinamento admissionaldeve ter carga horária mínima de 6(seis) horas, ser ministrado dentro dohorário de trabalho, antes de otrabalhador iniciar suas atividades,constando de:a) informações sobre as condiçõese meio ambiente de trabalho;b) riscos inerentes a sua função;c) uso adequado dos Equipamentosde Proteção Individual - EPI;d) informações sobre osEquipamentos de Proteção Coletiva- EPC, existentes no canteiro deobra.18.28.3 O treinamento periódicodeve ser ministrado:a) sempre que se tornar necessário;b) ao início de cada fase da obra.

18.28.4 Nos treinamentos, ostrabalhadores devem receber cópiasdos procedimentos e operações aserem realizadas com segurança.

Ocorre que, cotejados os referidosdepoimentos, verifica-se que não restouprovado que a reclamada tenha oferecidoao reclamante os treinamentosestabelecidos na NR 18, sendo que ofato de o reclamante se declararpedreiro experiente não exime, por si só,a reclamada de oferecer treinamentosobre as normas de segurança.

É de se acentuar, por essencialao deslinde da controvérsia, que areclamada, em seu aspectoorganizacional, adotou a cultura dodescuido com relação à segurança,deixando seus empregados entreguesà própria sorte.

Nesse sentido, verifica-se pelaprova testemunhal produzida que acultura do descuido se materializaquando: a reclamada não exige o usodo cinto de segurança em trabalhos emaltura na parte interna da obra; permiteque se faça a sustentação de andaimecom bloco de concreto e pedaços demadeira (de modo que um simplesmovimento brusco pode ensejar umaqueda de todo o andaime), ao passo queexiste a venda no mercado de sapatade metal própria para tal sustentação; aCIPA não fez qualquer visita à obraantes do acidente; o engenheiropassava as informações necessáriasapenas ao reclamante e não a todos osempregados, em conjunto.

Ressalte-se que, quando oengenheiro da obra, preposto doempregador, aceita o chamado “quebra-galho” nas adaptações de materiais eimprovisos na sustentação de andaime,tem-se que ele está aceitando, nocontexto, o mesmo procedimento emtodo o desenrolar da obra.

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Ademais, a empresa não deu oexemplo ao não comprar sapataadequada à sustentação segura deandaimes, de modo que se podequestionar legitimamente: como esperarque o reclamante tomasse uma atitudede estrita segurança e montasse umandaime para a execução do serviço?A reclamada, no aspecto, eximiu-se degastar uma quantia pecuniária mínimacom o investimento em segurança.

Não constitui demasia assinalarque o trabalhador não poderia serecusar a trabalhar utilizando-se desapata improvisada, o que passa a ideiade que o objetivo primordial da empresanão era o da segurança, mas o trabalhoa ser realizado mesmo com a assunçãode riscos desnecessários. Nessesentido, o reclamante nada mais fez queseguir a filosofia do “quebra-galho”...

Úteis, no aspecto, as lições deGuérin et al (2001), segundo as quaisnão se pode, mesmo que implicitamente,considerar os trabalhadores como “meiosde trabalho” adaptáveis, por si sós, aosconstrangimentos decorrentes deescolhas técnicas e organizacionais,sendo que são equivocadas aspresunções de que eles possam:

Seguir procedimentos bastanteestritos “quando tudo vai bem” ou,ao contrário, transgredi-los paraacelerar uma cadência, fazer umconserto rápido, ou fazer andar umafila de espera num guichê.(GUÉRIN, F. Compreender o trabalho

para transformá-lo: a prática daergonomia / F. Guérin...[et al]; traduçãoGiliane M. J. Ingratta, Marcos Maffei.São Paulo: Edgard Blücher:FundaçãoVanzolini, 2001, p. 5)

É errado, segundo essesmesmos autores, entender-se,relativamente aos trabalhadores, que:

suas capacidades de adaptação sãoinfinitas; não correrão riscos no seutrabalho desde que respeitem asnormas de segurança e os modosoperatórios prescritos (obra citada, p. 5).

Ademais, as atitudes adotadaspor prepostos da empresa ao incentivar,no plano da realidade fática, uma culturade descuido com relação à segurançacorrespondem a um tipo decomunicação que é também assimiladopelos trabalhadores.

A respeito, aliás, da importânciadas comunicações nas relaçõeslaborais cita-se Chanlat, que, aodefender uma antropologia da condiçãohumana nas organizações e ensinar queo ser humano, dentre outrascaracterísticas, é um ser de palavra, dedesejo e de pulsão, destaca que, a pardo nível individual, há o nível dainteração e o nível organizacional,sendo que, quanto ao nível de interação,salienta, no aspecto da interação emodo de comunicação, o seguinte:

Como o ser humano dialoga, e todocomportamento é comunicação(BATESON, 1979), toda interação,qualquer que seja, supõe pordefinição um modo de comunicação,isto é, um conjunto de disposiçõesverbais e não verbais que seencarregam de exprimir, traduzir,registrar, em uma palavra, de dizer oque uns querem comunicar aosoutros durante uma relação. Aomesmo tempo locutor, ouvinte einterlocutor, todo indivíduo exprime noquadro da interação ao mesmo tempoo que ele é, o que faz, o que pensa, oque sabe, o que deseja, o que gosta,assim agindo, ele se coloca cada vezmais como pessoa, como assinalaBenveniste (1966: 259) “É um serhumano falando que nósencontramos no mundo, um ser

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humano falando a outro ser humanoe a linguagem explica sua própriadefinição.” A comunicação verbal nãoé, entretanto, o único modo decomunicação. A comunicação nãoverbal constitui um outro modo aomesmo tempo particular,complementar e simultâneo dacomunicação (Feyereisen e deLannoy, 1985). Segundo a distinçãoestabelecida por Cosnier e Brossard(1984), este modo de comunicaçãoenvolve, ao mesmo tempo, elementoscontextuais, isto é, elementosmimogestuais (mímicas, movimentoscorporais etc.), que acompanham otexto falado propriamente dito, e oselementos contextuais, quereagrupam todos os marcadores eíndices de contextualização: espaçoscorporais, distintivos de origem(vestuário, insígnias, uniformes etc.) emarcadores relacionados (signoshierárquicos, sobrenomes etc.). Oconjunto destes marcadoresassociados às característicasespaciais e temporais do lugar ondese situa o ato de comunicação, defineo contexto situacional. Assim, “texto”e “contexto”, como escrevem os doisautores, associam-se para constituiro enunciado total da linguagemheterogênea formada pela sinergiados três subsistemas - “verbal, vocale gestual”. Este enunciado total sóterá significação em determinadocontexto organizacional.(CHANLAT, Jean-François. Artigointitulado “Por uma antropologia dacondição humana nas organizações”.In O indivíduo na organização:

dimensões esquecidas. Ofélia deLanna Sette Torres, organizadora;tradução e adaptação Arakcy MartinsRodrigues et al; Revisão técnicaCarlos O. Bertero. 3. edição, SãoPaulo: Atlas, 1996, p. 37-40)

Quanto ao tema interação eprocessos psíquicos, diz o mesmoestudioso:

Toda interação mobiliza processospsíquicos. Estes processos que sesituam na origem dodesenvolvimento cognitivo e afetivodo ser humano representam a parteimersa da interação, objetosprivilegiados de estudo da psicologiae da psicanálise, processos quesubentendem e acompanham todapalavra, todo discurso e toda ação.Tanto em nível interpessoal comointergrupal, os processos deidentificação, de introspecção, deprojeção, de transferência, de contra-transferência, de idealização, declivagem, de repressão etc., para falarcomo os psicanalistas (Laplanche ePontalis, 1967), são onipresentes.Frequentemente imperceptíveis, elessão a base de numerosos problemas,mal-entendidos, quiproquós econflitos que encontramos nasorganizações. Aliás, a presençadestes mecanismos, na maioria dasvezes inconscientes, exerce maior oumenor influência na qualidade dacomunicação [...].[...]Toda comunicação jamais étotalmente enfática. A significaçãoque se dá a alguns gestos, aalgumas palavras, deve sempre serinserida nos quadros psíquicos ondesurgiram. Agindo desta maneira,podemos apreender melhor algunscomportamentos que poderiamparecer à primeira vista ambíguos,paradoxais e mesmo totalmenteirracionais[...].(Obra citada, p. 37-40)

E quanto ao nível daorganização, o mesmo autor arremata:

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Pelo seu quadro original de ação, onível organizacional introduz asdimensões que lhe são apropriadase que influenciam as condutashumanas observáveis internamente.As exigências econômicas doambiente, os modos de dominaçãoutilizados, a história da organização,os universos culturais que se cruzam,as características sociodemográficasdo pessoal dão à cada organizaçãouma configuração singular einfluenciam os comportamentosindividuais e coletivos.(Obra citada, p. 37-40)

Embora tais atitudes dareclamada não impliquem culpa graveou leve, tem-se que se pode atribuir àempresa uma culpa levíssima, emespecial porque o artigo 157 da CLTdispõe em seu inciso I que cabe àsempresas “cumprir e fazer cumprir asnormas de segurança e medicina dotrabalho”. Já o § 1º do artigo 19 da Lein. 8.213/91 dispõe que:

A empresa é responsável pelaadoção e uso das medidas coletivase individuais de proteção esegurança da saúde do trabalhador.

A reclamada, pois, também nesteaspecto, foi omissa ao permitir a culturado descuido com relação à segurança,não exigir o uso regular de EPIs, bemcomo a ausência de exigência demontagem de andaimes para execuçãode serviços a altura superior a doismetros na parte interna da obra, sendoomissa quanto à fiscalização respectiva.

Não se olvide de que oempregador, ao não adotar a condutaesperada por quem zela pela saúde esegurança de seus trabalhadores,incorre em culpa por violação do deverlegal de cautela.

Essa culpa da reclamada enseja,em concreto, a responsabilizaçãorespectiva. Não se deve esquecer, noparticular, de que o inciso XXVIII do art.7º da Constituição Federal prevê a culpa,em qualquer grau, como pressuposto daindenização a que está obrigado oempregador na hipótese de acidente dotrabalho. Releva destacar, ainda acercado tema, que, na relação de emprego,constitui obrigação precípua doempregador zelar pela saúde eintegridade física dos seus empregados,em especial diante do disposto nosincisos III e IV do art. 1º da CF. É oempregador, e não o empregado, queescolhe o local de trabalho, os métodosde produção, o mobiliário, as ferramentase os veículos utilizados, o ritmo daprodução, a forma de treinamentos etc.e por isso tem ele o dever de garantir odireito ao ambiente de trabalho saudávele a redução dos riscos inerentes aotrabalho, sendo que o pagamento doseguro social obrigatório não o eximedesse dever. Deve ele, ainda, sob oenfoque ora debatido, contratar, se nãoestiver seguro a respeito, especialistashabilitados para manter o ambiente detrabalho seguro e saudável. A condutaexigida do empregador é a de adotar,com seriedade, medidas preventivasefetivas para afastar os riscos inerentesao trabalho, valendo-se dosconhecimentos técnicos disponíveispara eliminar as possibilidades deacidentes do trabalho e doençasocupacionais. Daí ilícita sua condutaquando se omite no particular.

Nesse passo, é mister trazer alume os ensinamentos ministrados porSebastião Geraldo de Oliveira:

Estudos recentes estãodemonstrando que há uma tendênciaconsolidada no Brasil de atribuir aculpa dos acidentes a “falhas

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humanas” ou a “atos inseguros” daprópria vítima (culpabilização davítima), desprezando todo o contextoem que o trabalho estava sendoprestado. Quando ocorre umacidente, as primeiras investigações,normalmente conduzidas porprepostos do empregador, sofremforte inclinação para localizar um “atoinseguro” da vítima, analisandoapenas o último fato desencadeantedo infortúnio, sem aprofundar nosdemais fatores da rede causal, atémesmo com receio dasconsequências jurídicas.Essa visão já ultrapassada estáimpedindo que haja progresso naspolíticas de segurança e saúde dotrabalhador, bastando mencionar queos índices de acidentes do trabalhoestão no mesmo patamar há mais oumenos dez anos, conforme anotamosno capítulo 1. Ora, se todosadotássemos permanentemente umnível extraordinário de atenção,praticamente não ocorreriamacidentes do trabalho ou mesmoacidentes de trânsito. Nenhumplanejamento sério pode consideraro empregado como se fosse umafigura robótica que nunca cometedeslize, distante de sua naturezahumana e falível.(Indenizações por acidente do

trabalho ou doença ocupacional. SãoPaulo:LTr, 2005, p. 177/178)

É inelutável, pois, a seguinteconstatação: um empregador diligenteteria orientado todos os trabalhadoresda obra, através de ordens de serviço,quanto às precauções a tomar nosentido de evitar acidentes do trabalho.

Não se olvide de que, na matériarelativa à saúde e à segurança dotrabalho, o legislador exige doempregador ações de orientação, além

de fiscalização efetiva e continuada, àsemelhança do que se espera de umbonus pater familias. Tudo porque nãose pode considerar o empregado comoum robô que nunca falha, distante daprópria natureza humana impregnadada probabilidade normal docometimento de deslizes.

Como bem ensina OswaldoMichel:

O empregador tem uma série deobrigações com relação à segurançae medicina do trabalho, sendo queas principais são as seguintes:a) o empregador fica obrigado acumprir e fazer cumprir as normasde segurança e medicina dotrabalho. Isto significa que não bastaque ele cumpra as referidas normas,mas deve, também, exigir que seusempregados as cumpram. É possívelconcluir-se que o empregadorpoderá ser autuado pela fiscalização,caso fique constatado estar seuempregado desrespeitando umanorma de segurança do trabalho,pois nesse caso ele, empregador,não estava vigilante àquela suaobrigação legal de fazer cumpri-la;b) o empregador fica obrigado a instruiros empregados, através de ordens deserviço, quanto às precauções a tomarno sentido de evitar acidentes dotrabalho ou doenças ocupacionais:é conveniente que a instrução aosempregados se faça através deordens de serviço por escrito, paraevitar, no futuro, discussões acercada existência ou inexistência de umaorientação específica sobre a medidaque deveria ter sido tomada paraevitar o acidente do trabalho ou adoença ocupacional...(In Acidentes do trabalho e doenças

ocupacionais. São Paulo: LTr, 2001,2ª edição, p. 111)

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Em matéria de saúde esegurança do trabalho, portanto, agecom culpa o empregador que deixa deorientar e alertar continuadamente oconjunto dos empregados para os riscosde acidente do trabalho, seja não ospreparando adequadamente parasituações de risco, seja deixando deproibi-los clara e peremptoriamenterelativamente à prática de atos quepossam ensejar risco de acidente dotrabalho. O empregador é quem tem aobrigação legal de adotar semelhantesmedidas preventivas, criando em seusempregados, tanto quanto possível,uma consciência de segurança. Oempregador, nessa linha de raciocínio,tem o dever de, dia a dia, adotar e fazercumprir, com a aplicação dos podereshierárquico e disciplinar dos quais édetentor, ações continuadas com o fitode garantir a segurança de seussubalternos e reduzir os riscosocupacionais.

Fixadas essas premissas, tem-se que, é mister repisar, a reclamadaobrou com culpa levíssima por terpermitido uma cultura de descuido comrelação à segurança no trabalho, pornão ter exigido a confecção deandaimes para o trabalho em alturas naparte interna da obra, bem como porpermitir o trabalho em alturas sem o usodo cinto de segurança e, finalmente, pornão ter, de forma preventiva, orientadoe instruído os trabalhadores da obra, oreclamante inclusive, quanto àsprecauções a tomar no sentido de evitaracidente do trabalho ao executar astarefas, quando ali se poderia prever apossibilidade de acidente, tal qualaconteceu.

E não se diga que, na presentedecisão, teria sido adotada a tese daresponsabilidade objetiva doempregador em acidentes do trabalho.Não, absolutamente não, uma vez que

a culpa pode ser verificada tanto pormeio de ação como de omissão, comoé o caso dos autos.

O nexo causal, por sua vez, estáclaramente demonstrado nos autos,tendo em vista que, no momento doacidente, o reclamante estavaexercendo suas atividades em benefícioda reclamada.

De qualquer forma, relevadestacar que, como é cediço, o dever deindenizar não exige nexo de causalidadeexclusivo, sendo que a presença de umsó elemento de responsabilidade doempregador a causar dano é suficienteao reconhecimento do nexo causal e dodever de indenizar. No caso sub judice,a atitude omissa da reclamada atuou, àevidência, como causa para o acidentedo trabalho verificado.

Fixadas essas premissas, ouseja, porque, no caso dos autos,existiram conduta omissiva e erro deconduta do agente (omissão injusta), aofensa a um bem jurídico (ferimento decomponente da esfera do patrimôniomaterial da vítima, consistente na suaincapacidade laboral parcial e definitiva- f. 108) e, finalmente, relação decausalidade entre a antijuridicidade daação e o dano causado, procede opedido formulado pelo autor depagamento de indenização por danosmateriais, impondo-se, nessascircunstâncias, fixar o valor respectivo.

Pois bem: o quantum deve serapurado com o fito predominante desatisfazer o prejuízo experimentado pelavítima (extensão do dano), tendo-sepresentes, porém, consoante oentendimento doutrinário ejurisprudencial dominantes, aspeculiaridades do caso e a capacidadede prestação do responsável. No casosub judice a culpa da reclamada foilevíssima; a extensão do dano ouprejuízo experimentado pelo autor,

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mediana, tendo em vista a perda parcialde sua capacidade laborativa, apenaspara as atividades de pedreiro ou outrasque exijam força do punho direito, sendoque não mais dispõe o obreiro dasmesmas condições que detinha antesde sofrer o acidente, o que correspondea fato que merece adequado tratamentojurídico diante do difícil e concorridomercado de trabalho brasileiro; quantoà capacidade de prestação dareclamada, tem-se que é mediana, nãohavendo subsídios nos autos quecomprovem que a empresa tenha umaboa capacidade econômica, sendo que,sopesados tais elementos, conclui-seque resultam suficientementeremunerados os danos materiais com opagamento de indenização, no importede R$20.000,00, em cota única,atualizável a partir de 09.11.2005 (datado acidente), até a data do efetivopagamento, acrescido de juros simplesa partir da data da citação.

Noutro giro, cumpre salientar que,segundo a doutrina e a jurisprudênciadominantes, a reparação por danosmateriais não supre aquela relativa aosdanos morais, sendo que, segundo oentendimento consubstanciado naSúmula n. 37 do STJ, “são cumuláveisas indenizações por dano material e danomoral, oriundos do mesmo fato”,devendo buscar-se restabelecer o estadoanterior, inexistindo base para aafirmação de que os valores respectivosdevam guardar correspondência ou umadeva ser maior ou menor que a outra.

Em linhas gerais, pode-se dizerque o dano moral viola direitos inerentesà personalidade, sendo que, consoanteensina o mestre Caio Mário da SilvaPereira, dito dano consiste em

[...] ofensa a direitos de naturezaextrapatrimonial - ofensas aosdireitos integrantes da personalidade

do indivíduo, como também ofensasà honra, ao decoro, à paz interior decada um, às crenças íntimas, aossentimentos afetivos de qualquerespécie, à l iberdade, à vida, àintegridade.(Apud CAMPOS, Maria Luiza deSabóia. Publicidade: responsabilidadecivil perante o consumidor. São Paulo:Cultural Paulista, 1996, p. 254)

Também nas relações laborais,especialmente em razão do caráterduradouro do vínculo jurídico, qualqueruma das partes pode ofenderlesivamente a outra em seus direitosimateriais, causando-lhe angústia edesequilíbrio em seu bem-estar.

Cumpre acentuar, a propósito: areparabilidade do dano moral estáfundada também, como já expostoanteriormente, na teoria daresponsabilidade civil, sendo que nocaso sub judice os pressupostos dessaresponsabilidade estão presentes.

Com efeito, o sofrimentopsicológico do autor não pode sercolocado em dúvida diante da conclusãopericial que instrui os autos, comreflexos altamente negativos para seubem-estar e paz interior.

No caso, o dano moralcorresponde a essa lesão a interessesnão patrimoniais do obreiro, sendo que,embora se saiba que o sentimento dohomem seja algo intangível, a despeitode não ser palpável, é tutelado peloDireito (nos incisos V e X do art. 5º daConstituição Federal, estão protegidosos valores da intimidade).

Impera lembrar, no aspecto, quea necessidade da reparação nasce umavez verificado o evento danoso, não secogitando a comprovação do prejuízo,pois considerado derivado do próprioinfortúnio. Cita-se, a propósito, oseguinte julgado:

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Para caracterizar-se o dano moral,motivado por acidente do trabalho,basta comprovar-se o fato do qualdecorre, pois se entende que, umavez demonstrada a ofensa, ipso

facto, estará demonstrado o danomoral. Ocorre que, considera-se odano moral uma presunção natural,oriunda das regras da experiênciacomum.(AC 70009557729, Nona CâmaraCível, TJRS, Relator: Íris HelenaMedeiros Nogueira, julgado em08.09.2004)

Por fim, resta apreciar a difícilquestão de definir o valor da indenizaçãopor danos morais devidos ao autor.

A lei é omissa acerca doscritérios que devam ser adotados a fimde que se fixe valor justo e razoável,deixando ao prudente arbítrio do juizfixar tal valor, em cada caso concreto.

Não se deve esquecer, noparticular, de que a referida indenizaçãonão pode servir de pretexto para oempobrecimento de um e enriquecimentode outro. Não obstante isso, deverá serfixada da forma mais severa possível,com três finalidades principais: afinalidade punitiva, uma vez que o danomoral é um delito como qualquer outro,de modo que quem o praticou se sintacastigado pela ofensa que perpetrou; afinalidade preventiva, servindo paradesestimular qualquer pessoa,independentemente de sua condiçãoeconômica, a praticar semelhanteofensa; a finalidade compensatória,tendente a constituir remédio parapropiciar à vítima um sentimento de quea justiça foi feita em seu favor.

Nesse diapasão, ensina oconceituado CARLOS ALBERTOBITTAR (in Reparação civil por danos

morais, 1994, p. 197 e seguintes), oseguinte:

Impera, aliás, a respeito: a) oprincípio da responsabil idadeintegral, consoante o qual se deveatender, na fixação da indenização,à necessidade de plena satisfaçãodo lesado, buscando-se nopatrimônio dos lesantes valores que,sem limites, a tanto correspondem;e b) a técnica da atribuição de valorde desestímulo, ou de inibição, paraque se abstenha o lesante de novaspráticas do gênero, servindo acondenação como aviso àsociedade; com isso, ao mesmotempo em que se sancionar oslesantes oferecem-se exemplos àsociedade, a mostrar-lhe que certoscomportamentos, porque contráriosa ditames morais, recebem a repulsado Direito.

No caso dos autos:

Considerando a dor moralsofrida pelo autor, com a fratura dopunho direito e a redução permanentede sua capacidade para o trabalho depedreiro, com reflexos altamentenegativos para seu bem-estar e pazinterior;

Considerando que existiu culpada reclamada no grau levíssimo, o queimplica responsabilização;

Considerando o princípio darazoabilidade;

Considerando o nível econômicoda vítima;

Cons iderando, por f im, acapac idade econômica dareclamada;

Impõe-se arbitrar o valor daindenização por danos morais sofridosem R$15.000,00, atualizável a partir dadata do evento danoso, ou seja,09.11.2005, até a data do efetivopagamento, com o acréscimo de jurossimples a partir da data da citação.

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4 - Expedição de ofícios

Rejeita-se o pedido de expediçãode ofícios ao INSS e Caixa EconômicaFederal porquanto não reconhecido quea remuneração recebida fosse superioràquela registrada na CTPS e constantedos recibos de pagamento.

A União, entretanto, seráintimada da presente decisão, conformedispõe a legislação aplicável à espécie.

5 - Justiça gratuita

Porque preenchidos osrequisitos legais cabíveis (declaração depobreza à f. 25 e requerimento à f. 14),impõe-se deferir a favor do reclamanteo benefício da gratuidade de justiça.Releva destacar, no aspecto, que o fatode ter o obreiro contratado advogado éirrelevante, à luz da legislação aplicávelà espécie para o deferimento dessagratuidade.

6 - Honorários periciais

Fixam-se em R$1.000,00 oshonorários devidos ao perito médico Dr.Jorge Luiz Neto, tendo em vista acomplexidade dos trabalhos periciaisrealizados, a serem satisfeitos pelareclamada, sucumbente no objeto daperícia (art. 790-B da CLT).

7 - Honorários advocatícios

Consoante a inteligência dosentendimentos consolidados nasSúmulas n. 219 e 329, ambas do C. TST,em conjunto com o art. 14 da Lei n. 5.584/70, os honorários advocatícios sãodevidos no âmbito desta JustiçaEspecializada quando o empregado, quese encontre em estado de miserabilidadepresumida, estiver assistido por sindicatode sua categoria profissional.

No caso dos autos, não estádemonstrado o preenchimento dosrequisitos que configuram hipótese decabimento da condenação aopagamento de semelhante verba, razãoda improcedência do pedido respectivo.

8 - Critério de cálculos

Para a apuração dos valorespertinentes às parcelas deferidas napresente, observar-se-ão os critérioslegais de cálculo, com a incidência dejuros e correção monetária, na forma dalei, observando-se o entendimentoconsubstanciado na Súmula n. 381 doC. TST.

9 - Contribuições previdenciárias

Não há recolhimento decontribuições previdenciárias a serdeterminado, em razão da evidentenatureza indenizatória dos valoresdeferidos na presente.

10 - Litigância de má-fé

Cotejados os autos, verifica-seque não restaram preenchidosquaisquer dos pressupostos legaisprevistos nos arts. 17 e ss. do CPC c/cart. 769 da CLT, sendo inelutável oindeferimento do pedido de aplicação demulta por litigância de má-fé.

11 - Compensação

Por não preenchidos osrequisitos legais cabíveis, não hácompensação a ser deferida.

III - CONCLUSÃO

Ante o exposto:

a) pronuncio a prescrição total

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dos créditos do reclamante relativos aoperíodo compreendido entre 01.09.1999a 10.05.2005;

b) julgo PROCEDENTE, EMPARTE, a reclamação, para condenar areclamada a pagar ao reclamante,observados os parâmetros fixados nafundamentação supra, em valores aserem apurados em liquidação desentença, com juros e correçãomonetária, na forma da lei:

b.1) indenização por danosmateriais, no importe de R$20.000,00,em cota única, atualizável a partir de09.11.2005 (data do acidente), até adata do efetivo pagamento, acrescido dejuros simples a partir da data da citação;

b.2) indenização por danosmorais sofridos, no importe de

R$15.000,00, atualizável a partir da datado evento danoso, ou seja, 09.11.2005,até a data do efetivo pagamento, com oacréscimo de juros simples a partir dadata da citação.

Fica deferido o benefício dagratuidade de justiça ao reclamante.

Custas, no importe de R$700,00,calculadas sobre o valor ora arbitrado àcondenação em R$35.000,00, e bemassim honorários periciais, arbitradosem R$1.000,00, ao perito médico Dr.Jorge Luiz Neto, pela reclamada.

Cumpra-se em 48 horas, após otrânsito em julgado e liquidação.

Publicada em audiência. Cientesas partes (Súmula n. 197 do C. TST).

Nada mais.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00320-2009-043-03-00-8Data: 24.06.2009DECISÃO DA 1ª VARA DO TRABALHO DE UBERLÂNDIA - MGJuiz Substituto: Dr. MARCEL LOPES MACHADO

Aos 24 de junho de 2009, às 17h45min, na sede da 1ª Vara do Trabalho deUberlândia - MG, na presença do Dr. Marcel Lopes Machado, Juiz do Trabalho, foisubmetida a julgamento a reclamação anulatória de eleições sindicais propostapor Ronildo Cabral da Silva, Girlei Luis, José Damasceno de Lima e Carlos Humbertoda Silva em face de STTRU - Sindicato dos Trabalhadores em TransportesRodoviários de Uberlândia e Região.

I - RELATÓRIO

Ronildo Cabral da Silva, GirleiLuis, José Damasceno de Lima eCarlos Humberto da Silva ajuizaramreclamação anulatória de eleiçõessindicais em face de STTRU -Sindicato dos Trabalhadores emTransportes Rodoviár ios deUberlândia e Região, alegando: eramassociados do sindicato querepresenta sua categoria profissional;houve irregularidades praticadas pelodiretor presidente; houve nulidade no

edital de convocação das eleições;houve fundamentos para concessãode medida liminar. Formularam oscorrespondentes pedidos. Atribuíramà causa o valor de R$1.000,00.Juntaram docs. de f . 14/67,declarações de f . 68/70 e f . 79,procurações de f . 71/73, f . 78 esubstabelecimentos de f. 80/81.

Decisão à f. 75 que indeferiu aantecipação dos efeitos da tutela.

Notificado, o reclamadoapresentou defesa escrita: arguiupreliminares de ilegitimidade ativa;

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impossibilidade jurídica do pedido; nomérito, contestou todos os fatos epedidos e requereu a aplicação dasanção de litigância de má-fé. Juntouprocuração de f. 101, docs. de f. 102/227.

Impugnação às f. 232/240.Parecer escrito do MPT às f. 248/

254.Manifestações do reclamado às

f. 256/260 e f. 264/267.Em audiência, encerrou-se a

instrução.Razões finais orais dos

reclamantes e escritas do reclamado,acompanhadas dos docs. de f. 294/389.

Inconciliados.

II - FUNDAMENTAÇÃO

II. 1 - Preliminares

A - Condições da ação

É parte legítima para figurar nopolo ativo da demanda aquele queformula a pretensão de direitoprocessual, uma vez que a análise dascondições da ação se fazabstratamente, in status assertione.

Os docs. de f. 14, f. 30/31, f. 54/63 e f. 137/138 demonstram que osreclamantes compõem o quadro deassociados e dirigentes do reclamado,e, via de consequência, atribuem-lhesa pertinência temática para o conteúdojurídico meritório pretendido nareclamação, alínea “b” do art. 525 daCLT.

Não existe impossibil idadejurídica do pedido, uma vez que apretensão processual deduzida, além denão vedada pelo ordenamento jurídico,é expressamente autorizada por este,ante sua previsão legal no art. 8º c/cConvenções n. 87 e 98 da OIT c/c arts.513, “c”, e 524 da CLT.

Ademais, a análise dascondições da ação se fazabstratamente, in status assertione, umavez tratar-se de matéria afeta àpretensão de direito processual.

Por fim, a análise da legalidadee/ou ilegalidade da convocação daseleições sindicais no reclamado ématéria de análise do mérito, por setratar de pretensão de direito material,art. 524 da CLT.

Rejeitam-se as preliminares.

II. 2 - Medidas saneadoras

A - Protestos judiciais

Declarada a preclusão daprodução de prova documental notermo de audiência de f. 84, bem comoencerrada a instrução processual notermo de audiência de f. 268/269, nãose recebem os documentosapresentados pelo reclamado após oencerramento da instrução processual,em face da preclusão do atoprocessual, art. 396 do CPC c/cinteligência da Súmula n. 08 e OJ n.20 da SDI-II do TST, uma vez que édefeso aos órgãos da Justiça doTrabalho conhecer de questões a cujorespeito operou-se a preclusão lógica,temporal e consumativa, art. 836 daCLT c/c art. 473 do CPC.

Devolvam-se os documentos aosignatário, certificando-se, mantendo-seapenas sua petição.

Mantém-se, ainda, a decisão dotermo de f. 268/269 que indeferiu arealização de perícia técnica requeridapelo reclamado sobre o doc. de f. 254apresentado pelo MPT, por se tratar dediligência desnecessária ao resultadoútil da lide, art. 765 da CLT c/c art. 130do CPC.

II. 3 - Mérito

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A - Convocação de eleiçõessindicais - Nulidade - Direitoconstitucional fundamental àdemocracia participativa - Direito àliberdade e participação democráticana entidade sindical - Aplicabilidadee eficácia horizontal dos direitoshumanos fundamentais

Com razão os requerentes e oMinistério Público do Trabalho em suapretensão e parecer escrito,respectivamente, de declaração denulidade do edital de convocação daseleições sindicais, art. 9º da CLT, e, viade consequência, sua pretensão dedeterminação de edital para novaeleição sindical, com restituição deprazo para inscrição de chapas deconcorrência aos cargos eletivos doreclamado, art. 529 da CLT.

Isso porque, a cláusula 45ª doEstatuto Sindical, doc. de f. 16/26 e f.103/113, cria injustificável prerrogativaunilateral da convocação de eleições noperíodo de antecedência de 30 a 150dias das eleições, é contrária ao caput

do art. 532 da CLT, norma de ordempública, caráter cogente e imperativa,que fixa o prazo de 30 a 60 dias.

Chama a atenção o edital depublicação e convocação das eleiçõessindicais, Diário do Comércio, doc. def. 15 e f. 354, página 4ª, na data de27.01.2009, com prazo imediato de 03dias para inscrição de chapas, paraeleição designada para o dia18.06.2009, porquanto, conformeregistrado pelo MPT no seu parecer def. 248/254, inviabilizou-se qualquerparticipação democrática interna

corporis para inscrição de chapasconcorrentes ao presidente, o que, naconvicção deste Magistrado, viola oprincípio constitucional da democraciaparticipativa que informa osfundamentos da República Federativa

do Brasil, parágrafo único do art. 1º daCR/881, direito fundamental de 3ª

1 A consagração de um Estado Democráticopretende, precipuamente, afastar atendência humana ao autoritarismo econcentração de poder. Como ensinaGiuseppe de Vergottini, o Estadoautoritário, em breve síntese, caracteriza-se pela concentração no exercício dopoder, prescindindo do consenso dosgovernados e repudiando o sistema deorganização liberal, principalmente aseparação das funções do poder e asgarantias individuais.O Estado Democrático de Direito significaa exigência de reger-se por normasdemocráticas, com eleições livres,periódicas e pelo povo, bem como pelorespeito das autoridades públicas aosdireitos e garantias fundamentais. [...].Como é possível verificar, a partir do DireitoConstitucional comparado, modernamentea soberania popular é exercida em regrapor meio da Democracia representativa,sem contudo descuidar-se da Democraciaparticipativa, uma vez que são vários osmecanismos de participação mais intensado cidadão nas decisões governamentais(plebiscito, referendo, iniciativa popular),bem como são consagrados mecanismosque favorecem a existência de váriosgrupos de pressão (direito de reunião,direitos de associação, direitos de petição,direito de sindicalização).Todavia, a representação política não deveser meramente teórica, pois umaDemocracia autêntica e real exige efetivaparticipação popular nas decisõesgovernamentais e, em especial, naescolha de seus representantes. Mister sefaz a adequação de mecanismos queampliem a eficácia da representatividade,sejam preventivos, por meio de um maiorinteresse do cidadão nas eleições, sejamrepressivos, por meio de práticas deDemocracia semidireta, pois, comoadverte Dalmo Dallari, a crise daDemocracia representativa pode gerarregimes autoritários, pois, “se o povo nãotem participação direta nas decisões

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dimensão2, cuja aplicabilidade estende-se às relações público-privadas(Estado-cidadão) e privadas-privadas(cidadãos/pessoas jurídicas - cidadãos),em razão da eficácia horizontal dosdireitos humanos fundamentais3, STF -2ª T. - Votos dos Ministros GilmarMendes e Joaquim Barbosa no RExt201.809-RJ - DJU 26.04.2005, In

Informativos STF n. 385 e 405.

Com efeito, predomina hoje a visãode que a ideia de democracia nãomais se circunscreve à existência deeleições periódicas com respeito doprincípio majoritário. Afirma-se, hoje,que a democracia pressupõe aexistência de um espaço públicoaberto, em que as pessoas e grupospossam discutir sobre os temaspolêmicos, prontas ao diálogo,reconhecendo-se reciprocamentecomo seres livres e iguais. Ademocracia exige deliberaçãopública, e o seu objetivo não é - oupelo menos não é exclusivamente -o de solucionar divergênciascontando votos. Presume-se, pelocontrário, que no processodeliberativo as pessoas manifestem-se buscando o entendimento e nãoa derrota do adversário. Pretende-seque, no espaço público, os cidadãosorientem-se pela busca do bemcomum, e não pela defesaincondicional de seus interessespessoais ou de grupo. Almeja-se,enfim, que no debate franco de ideiasinerente a este processo, as pessoaseventualmente revejam suasposições originais, convencidaspelas razões invocadas pelo outro.Em suma, a democracia deve sermais diálogo do que disputa; maiscomunicação do que embate. [...].Portanto, o aprofundamento doprojeto democrático exige aampliação dos espaços em que sejaassegurado às pessoas o direito àparticipação na tomada de decisõesque as atingirem. Para Karl Larenz,um dos princípios do “direito justo”,que condiciona a legitimidade dosordenamentos jurídicos, é o princípioda participação, que, no âmbito doDireito Privado, significa que “[...]cada miembro de uma associación

tiene um irrenunciable derecho [...]

políticas e se, além disso, não se interessapela escolha dos que irão decidir em seunome, isso parece significar que o povonão deseja viver em regime democrático,preferindo submeter-se ao governo de umgrupo que atinja os postos políticos poroutros meios que não as eleições”. In

MORAES, Alexandre de. Constituição do

Brasil interpretada. Ed. Jurídico Atlas. 6ªed., p. 131/132.

2 “A história dos direitos humanos - direitosfundamentais de três gerações sucessivase cumulativas, a saber, direitos individuais,direitos sociais e direitos difusos - é ahistória mesma da liberdade moderna, daseparação e limitação de poderes, dacriação de mecanismos que auxiliam ohomem a concretizar valores cujaidentidade jaz primeiro na Sociedade e nãonas esferas do poder estatal(BONAVIDES, Paulo. Curso de direito

constitucional. Malheiros. 7ª ed., p. 528)”.3 “A ideia de Drittwirkung ou de eficácia de

directa dos direitos fundamentais na ordemjurídica privada continua, de certo modo,o projecto da modernidade: modelar asociedade civil privada segundo os valoresde razão, justiça, progresso do Iluminismo.Este código de leitura - pergunta-se - nãoestará irremediavelmente comprometidopelas concepções múltiplas e débeis dapós-modernidade?” [...]E, a partir de uma perspectiva racional,cumpre insistir, mais e mais, na luta pelaimplementação dos grandes valores doIluminismo, de liberdade, igualdade,democracia e solidariedade”.In SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais

e relações privadas. 2ª ed., 2ª tiragem, LumenJuris Editora, 2008, p. 44/45.

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a participar en los assuntos comunes

y en la formación de la voluntad

social”.Apreciando questão semelhante emPortugal, Canotilho e Vital Moreiranão hesitaram em reconhecer que oprincípio democrático “[...] não é um‘princípio político’ cujo âmbito sedeva limitar à esfera políticaestadual. A Constituição conforma-ocomo princípio abrangente que, deforma tendencial, se deve estendera diferentes aspectos da vidaeconômica, social e cultural [...].Como princípio de legitimação eorganização, não releva apenas parao Estado ou para as coletividadespolíticas em geral. Vale também paraas organizações sociais,designadamente para aquelas que,pelo seu poder social, assumem umparticular relevo político”.4

Verifica-se, inclusive, que opresidente da entidade sindicalreclamada sequer publicou aconvocação e o prazo de inscrição parachapas concorrentes nas eleições noinformativo do sindicato, doc. de f. 27/29, util izando-o apenas para finspolíticos, mas não para informação dedireitos e interesses da categoriaprofissional.

Constata-se também que apublicação do edital, em letrasminúsculas, sem qualquer titulação,com prazo imediato de 03 dias deinscrição para chapas concorrentes sedeu no dia 26.01.2009, e que houve ainscrição de chapa única, do própriopresidente, na data de 29.01.2009, doc.de f. 224/227, mantendo-se comopresidente, perpetuando-se no cargo.

Em suma, o ato, além de violardireito fundamental à informação eparticipação democrática dosassociados e de toda uma categoriaprofissional, visou beneficiar o seupróprio autor, o atual presidente, o queé ilícito, art. 9º da CLT, porquantonenhum interesse meramente individualse sobrepõe em detrimento da ordempública, constitucional e coletiva dotrabalho, art. 444 da CLT.5

Verifica-se que esses fatosocorreram anteriormente, com idênticaconduta do atual presidente, que, desde1994, 1999, 2004, mantém-sepresidente, com convocação deeleições sem nenhuma possibilidadeplausível de inscrição de chapasconcorrentes, docs. de f. 353/354, f. 373/375 e f. 383/384, porquanto semprehouve única e exclusivamente ainscrição de sua própria chapa, o que é

4 Idem, Ibidem, p. 307, 311 e 312.

5 “Dante Alighieri, em feliz expressão, disseque o direito é uma proporção real epessoal, de homem para homem, que,conservada, conserva a sociedade;corrompida, corrompe-a. Interpretandoessa lição, esclarece Miguel Reale que amedida da proporção é o homem emrelação a outro homem porque o direitotutela as coisas somente em razão doshomens.O direito é, portanto, uma ordenaçãobilateral atributiva das relações entre oshomens, na busca do bem comum, o qualé visto modernamente como uma estruturasocial na qual são possíveis e necessáriasas formas de participação e decomunicação de todos os indivíduos egrupos porque a ordem estabelecida o énão para a satisfação individual, mas, namira da realização de uma convivênciaordenada, traduzida na expressão ‘bemcomum’, admitida e reclamada pelasociedade em um dado momento”.In MELO, Raimundo Simão de. Ação civil

pública na Justiça do Trabalho. 2ª ed., SãoPaulo: LTr, 2004.

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contrário, em síntese e em últimaanálise, à própria noção de um EstadoDemocrático de Direito.6

Por fim, as próprias declaraçõesemitidas às f. 220, f. 240 e f. 254 peloJornal Diário do Comércio demonstrama impropriedade e falta de credibilidadedas informações, porquanto seuconteúdo atendeu aos interesses decada um dos litigantes, sem, contudo,demonstrar a divulgação, informação epublicidade das eleições sindicais emcada uma das 07 cidades que compõema base territorial do reclamado.

Razão pela qual, declara-se anulidade do edital de convocação de f.15 e f. 354 e, via de consequência, daeleição sindical com “chapa única”realizada na data de 18.06.2009.

B - Antecipação dos efeitos datutela - Juízo de cognição plena eexauriente - Matéria exclusivamentede direito - Fundado receio decontinuação do ato ilícito e dano àcoletividade da categoria profissional

Com razão os requerentes e oMPT em seu parecer escrito de f. 248/254 a título de antecipação dos efeitosda tutela em sentença de mérito,porquanto constatada a verossimilhançade suas alegações e o fundado receiode dano ao seu patrimônio jurídico emjuízo de cognição plena e exauriente,art. 273, II, §§ 6º e 7º do CPC c/c art.798 do CPC, inerente a direitosconstitucionais fundamentais de toda acategoria profissional dos trabalhadoresquanto à democracia participativa naseleições de seus representantessindicais.

A efetividade da entrega daprestação jurisdicional é garantiaconstitucional inscrita no rol dos direitosfundamentais do cidadão, inciso LXXVIIIdo art. 5º da CR/88 c/c art. 8º daDeclaração Universal dos DireitosHumanos c/c art. 8º da ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos,uma vez que compete ao PoderJudiciário assegurar a todos a razoávelduração do processo e os meios quegarantam a celeridade de suatramitação.

Há, portanto, o fundado receio dedano para que a tutela processualefetiva7 seja prontamente efetiva para

6 “O advento do Estado de Direito promoveuprofunda subversão nestas ideiaspolíticas, que eram juridicamente aceitas.Ao afirmar a submissão do Estado, isto é,do Poder ao Direito e ao regular a açãodos governantes nas relações com osadministrados, fundando assim o DireitoAdministrativo, este último veio trazer, emantítese ao período histórico precedente -o do Estado de Polícia - justamente adisciplina do Poder, sua contenção einauguração dos direitos dos, já agora,administrados - não mais súditos.”Em outra passagem da mesma obra, oprofessor Bandeira de Mello traz a clássicalição de Montesquieu quanto ao EstadoDemocrático de Direito:“Afirmava Montesquieu, como dantes seanotou, que todo aquele que detém oPoder tende a abusar dele e que o Podervai até onde encontra l imites. [...].Deveras, se o Poder vai até onde encontralimites, se o Poder é que se impõe, o únicoque pode deter o Poder é o próprio Poder.Logo, cumpre fracioná-lo para que suasparcelas se contenham reciprocamente”.In MELLO, Celso Antônio Bandeira de.Curso de direito administrativo. 17. ed.,Malheiros, p. 40 e 42.

7 “Razoabilidade da duração do processo.A norma garante aos brasileiros eresidentes no Brasil o direito à razoávelduração do processo, judicial ouadministrativo. Razoável duração doprocesso é conceito legal indeterminadoque deve ser preenchido pelo juiz, no caso

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remoção do ato ilícito de conteúdocontinuado8, que constitui direitofundamental a admitir a antecipaçãoparcial dos efeitos da tutela pretendidasegundo a técnica de ponderação devalores constitucionais, art. 1º,parágrafo único c/c art. 8º c/c arts. 525,“b” e 529 da CLT, como meio adequadode garantir a efetividade e celeridade datramitação processual, inclusive,através de decisões judiciais incidentesno curso da tramitação processual.

A compreensão do direito de açãocomo direito fundamental confere aointérprete luz suficiente para acomplementação do direito materialpelo processo e para a definição daslinhas deste último na medida dasnecessidades do primeiro. Ou seja,a perspectiva do direito fundamentalà efetividade da tutela jurisdicionalpermite que o campo da proteçãoprocessual seja alargado, de modoa atender a todas as situaçõescarecedoras da tutela jurisdicional.[...]Nesse caso, o ideal, diante do atocontrário ao direito, é a ação deremoção do ilícito. Essa açãoconduzirá - obviamente que no casode procedência - à remoção do ilícito,e não ao ressarcimento. NOTE-SEQUE REMOVER O ILÍCITO ÉSECAR A FONTE DOS DANOS. [...]Lembre-se de que, na compreensãodos direitos fundamentais, não sepode mais pensar apenas o velhodireito de defesa, que objetivavagarantir o particular contra asagressões do poder público. Naatualidade, o Estado tem umverdadeiro dever de proteger osdireitos, e, para tanto, está obrigadoa editar normas de direito materialque se dirigem sobretudo em relaçãoaos sujeitos privados. Ao lado disso,o direito fundamental à tutelajurisdicional efetiva concede aoprocedimento (técnica processual)realmente capaz de atender aosdireitos, seja perante o Estado, sejaperante os particulares. 9

concreto, quando a garantia for invocada.Norma de eficácia plena e imediata (CF,art. 5º, § 1º), não necessita deregulamentação para ser aplicada. [...]Aplicação imediata das normas sobredireitos e garantias fundamentais. O textoconstitucional é por demais claro e evita aperenidade das normas programáticas notocante aos direitos e garantiasfundamentais. Todo e qualquer direitoprevisto na CF 5º pode ser desde jáinvocado, ainda que não exista normainfraconstitucional que o regule. [...]”.In NERY JR., Nelson e ANDRADE NERY,Rosa Maria de. Constituição federal

comentada e legislação constitucional.São Paulo: RT. 2006, p. 140.

8 A mais importante das tutelas específicasé aquela que se destina a impedir ou aremover o ato contrário ao direito. Trata-se de tutela anterior ao dano, e que assimé capaz de dar efetiva proteção ao direito,seja quando o ato contrário ainda não foipraticado (tutela inibitória), SEJAQUANDO O ATO CONTRÁRIO AODIREITO JÁ OCORREU, MAS, DIANTEDE SUA EFICÁCIA CONTINUADA, ÉPRECISO REMOVÊ-LO PARA EVITAR APRODUÇÃO DE DANOS (TUTELA DEREMOÇÃO DO ILÍCITO). MARINONE,Luiz Guilherme. In Técnica processual e

tutela dos direitos. RT. 2004, p. 153. 9 Idem, Ibidem, p. 30, 69 e 84.

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Razão pela qual, em face daaplicação do princípio processual dopoder geral de cautela10, art. 798 doCPC, este Magistrado revê a decisão decognição prévia, parcial e sumária de f.75, para, em juízo de constatação plenae exauriente, art. 273, II, §§ 6º e 7º doCPC, conceder a antecipação dosefeitos da tutela pretendida para:

a) determinar ao sindicatoreclamado, na pessoa de seudiretor presidente que, noprazo de 15 dias de suaintimação desta decisão,proceda à publicação deedital para nova eleiçãosindical, com restituição deprazo razoável de 15 diaspara inscrição de chapas deconcorrência aos cargoseletivos, art. 529 da CLT;

b) deverá o novo edital e o prazode inscrição das chapas serpublicado em jornais decirculação local de maiormovimento que o Diário doComércio, em todas as 07cidades que compõem abase territorial do sindicato,bem como no próprio BoletimInformativo da CategoriaProfissional, para amplaciência e divulgação a todosos interessados da categoriaprofissional;

c) tratando-se de obrigação defazer, art. 461 do CPC, odescumprimento daobrigação, após o prazo de15 dias imediatos à suaintimação, acarretará aoreclamado a incidência demulta diária de R$2.000,00(dois mil reais), a favor dosreclamantes, incidente até adata do efetivo cumprimentoda obrigação;

d) ainda, a multa diária possuinatureza de sançãoprocessual, expressamenteprevista no art. 461, §§ 4º e6º do CPC, razão pela qual,em caso de descumprimentoda determinação de fazer,poderá a mesma sermajorada de ofício, a

10 “Diante, porém, do poder geral de cautela,a atividade jurisdicional apoia-se em‘poderes indeterminados’, porque a lei, aoprevê-los, não cuidou de preordená-los aprovidências de conteúdo determinado eespecífico. [...]Apreciando o tema, observa GalenoLacerda que, ‘no exercício desse imensoe indeterminado poder de ordenar asmedidas provisórias que julgar adequadas,para evitar o dano à parte, provocado ouameaçado pelo adversário, a discrição dojuiz assume proporções quase absolutas.Estamos em presença de autêntica normaem branco, que confere ao magistrado,dentro do estado de direito, um poder puro,idêntico ao do pretor romano, quando, noexercício do imperium, decretava osinterdicta”.In THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso

de direito processual civil. Forense. Vol.III, 31ª ed., p. 344/345.

“O poder geral de cautela, tanto quanto oprocesso cautelar em geral, tem origemna CF. Os autores dizem que se trata deum poder integrativo da eficácia global daatividade jurisdicional, e explicaremos,adiante, o que isso significa. [...]Concretamente, o poder geral de cautelafez nascer a possibilidade de a parte queconsegue demonstrar fumus boni iuris e

periculum in mora pleitear proteção ao seuprovável direito por meio de ação cautelarinominada, ou seja, por meio de açãocautelar cujos contornos não estejamnítida e precisamente descritos em lei”.In WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA,Flávio Renato Correia de; TALAMINI,Eduardo. Curso avançado de processo

civil. RT, vol. 3, 5ª ed., p. 38.

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qualquer momento, não sev incu lando ao va lor daobrigação pr incipal , pornão se tratar de cláusulapenal, instituto de direitomaterial, previsto no art.412 do CC/2002.

C - Honorários advocatícios desucumbência

Tratando-se de lide decorrentede relação sindical, inciso III do art. 114da CR/88, são devidos os honoráriosadvocatícios de sucumbência, Súmulasn. 219 e 329 c/c art. 5º da InstruçãoNormativa n. 27/2005 do TST.

Fundamentos pelos quais sãodevidos aos reclamantes os honoráriosadvocatícios de sucumbência, art. 20,§ 3º, “c”, e § 4º do CPC11, arbitrados novalor de R$5.000,00 (cinco mil reais),considerada a natureza dos direitosfundamentais em litígio, e a ausência deconteúdo econômico imediato,porquanto a pretensão da tutelajurisdicional processual é de conteúdodeclaratório, anulatório e mandamental.

D - Litigância de má-fé

Os reclamantes utilizaram-se dapromessa constitucional de acesso ao

11 “A regra do art. 20, § 3º, há de sertemperada no seu rigor, em cada caso, sobpena de os honorários advocatícios seremfixados com exagero, com o que aadministração da Justiça faltaria ao seuobjetivo primordial e à própria seriedadedos seus julgamentos. (1ª TACSP - AP270.205 - In O novo CPC nos tribunais de

alçada cível de São Paulo, p. 39, LEX1975)”In TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Código

de processo civil anotado. 6. ed., Saraiva,p. 26/27.

Poder Judiciário, inciso XXXV do art. 5ºda CR/88, para obter a declaração destequanto à existência ou inexistência darelação jurídica material deduzida emjuízo, o que é seu direito constitucionalfundamental.

Essa garantia constitucionalinsere-se no rol dos direitos humanosfundamentais, não havendo tipificaçãopor litigância de má-fé à parte que sevale do Poder Judiciário para deduzir epleitear os direitos a que se achainvestida.

Ademais, o direito de acesso aoPoder Judiciário não se confunde esequer impõe o direito à sentença demérito favorável, garantindo-se, pois, aoslitigantes seu direito ao devido processolegal em sentido procedimental, incisoLIV do art. 5º da CR/88.12

Assim, ausente, no presentecaso, uma tipificação dos atosprocessuais praticados pelosreclamantes com qualquer dashipóteses do art. 14 c/c art. 17 do CPC,não procede a aplicação da pena delitigância de má-fé.

III - DISPOSITIVO

Ante o exposto, e por tudo maisque consta da fundamentação, rejeitadaa preliminar de carência de ação, nomérito, julgam-se PROCEDENTES ospedidos formulados por Ronildo Cabralda Silva, Girlei Luis, José Damascenode Lima e Carlos Humberto da Silva emface de STTRU - Sindicato dosTrabalhadores em Transportes

12 “O devido processo legal - (CF 5º LIV) -exerce-se de conformidade com a lei. Nocaso, a decisão observou o que dispõe alei processual. (STF - 2ª T. - Ag. Rg. Ag.211.551-7 - Rel. Min. Carlos Velloso - DJU26.06.1998, p. 06).”

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Rodoviários de Uberlândia e Região,para:

a) declarar a nulidade do editalde convocação de f. 15 e f.354, e, via de consequência,da eleição sindical com“chapa única” realizada nadata de 18.06.2009.

Em face da aplicação doprincípio processual do poder geral decautela, art. 798 do CPC, bem como dalesão de caráter continuado aos direitosconstitucionais fundamentais dacategoria profissional constatada emjuízo de constatação plena e exauriente,art. 273, II, §§ 6º e 7º, concede-se aantecipação dos efeitos da tutelapretendida para:

b) determinar ao sindicatoreclamado, na pessoa de seudiretor presidente que, noprazo de 15 dias de suaintimação desta decisão,proceda à publicação deedital para nova eleiçãosindical, com restituição deprazo razoável de 15 diaspara inscrição de chapas deconcorrência aos cargoseletivos, art. 529 da CLT;

c) deverá o novo edital e o prazode inscrição das chapas serpublicado em jornais decirculação local de maiormovimento que o Diário doComércio, em todas as 07cidades que compõem abase territorial do sindicato,bem como no próprio BoletimInformativo da CategoriaProfissional, para amplaciência e divulgação a todosos interessados da categoriaprofissional;

d) tratando-se de obrigação defazer, art. 461 do CPC, odescumprimento daobrigação, após o prazo de15 dias imediatos à suaintimação, acarretará aoreclamado a incidência demulta diária de R$2.000,00(dois mil reais), a favor dosreclamantes, incidente até adata do efetivo cumprimentoda obrigação;

e) ainda, a multa diária possuinatureza de sançãoprocessual, expressamenteprevista nos §§ 4º e 6º do art.461 do CPC, razão pela qual,em caso de descumprimentoda determinação de fazer,poderá a mesma sermajorada de ofício, aqualquer momento, não sevinculando ao valor daobrigação principal, por nãose tratar de cláusula penal,instituto de direito material,previsto no art. 412 do CC/2002.

E, condenar o sindicatoreclamado a pagar aos requerentes:

f) honorários advocatícios desucumbência, art. 20, § 3º,“c”, e § 4º do CPC c/c art. 5ºda Instrução Normativa n.27/2005 do TST, arbitradosno valor de R$5.000,00(cinco mil reais).

A correção monetária, paracá lcu lo dos honorá r ios desucumbência, incidirá a partir dadata da publicação desta decisão,uma vez que o va lo r a rb i t radoencontra-se atualizado nesta data,aplicação extensiva e analógica da

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Súmula n. 362 do STJ c/c Enunciadon. 52 da 1ª Jornada de D i re i toMaterial e Processual do Trabalho -TST/ANAMATRA.

Os juros de mora, no percentualde 1% a.m., nos termos do art. 39 daLei n. 8.177/91, serão devidos desde ainicial, CLT, art. 883, e incidirão sobre aimportância corrigida, Súmula n. 200 doTST.

A correção monetária e os jurosincidirão até a data da efetiva quitaçãodo crédito, Súmula n. 15 do TRT da 3ªRegião.

Tornada líquida a conta, ao final,intime-se a Procuradoria-Geral Federal,§ 3º do art. 879 da CLT c/c § 3º do art.16 da Lei n. 11.457/2007.

Custas, pelo reclamado, noimporte de R$110,00, calculadas sobreR$5.500,00, valor arbitrado àcondenação.

Atentem as partes que a decisãoadotou tese explícita sobre todos ostemas de conteúdo meritório erelevantes da lide, e que não serãoadmitidos eventuais embargos

declaratórios visando à reapreciação defatos, provas e teses jurídicas oualegação de prequestionamento em 1ªinstância, porquanto este último épressuposto processual objetivo dosrecursos de natureza extraordinária aosTribunais Superiores (RExt ao STF, RRao TST e REsp ao STJ), e, porquantoeventual recurso ordinário devolve aoTRT toda a matéria fática e jurídicaobjeto da controvérsia, em razão daamplitude e profundidade do seu efeitodevolutivo, § 1º do art. 515 do CPC c/cSúmula n. 393 do TST.

Intimem-se as partes, e, após, oMPT, este com as prerrogativas do art.18, II, “h” da LC n. 75/93, bem comooficie-se de imediato a DRT, com cópiada presente decisão.

Cumpra-se a int imação daantecipação dos efeitos da tutela, napessoa do diretor presidente dosindicato, por mandado através deof ic ia l de just iça, com asprerrogativas do § 2º do art. 172 doCPC.

Nada mais, encerrou-se.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00976-2007-031-03-00-9Data: 22.06.2009DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE ITAJUBÁ - MGJuiz Titular: Dr. MARCELO MOURA FERREIRA

Aos 22 dias do mês de junho do ano de 2009, às 16h59min, na sala deaudiências da 3ª Vara do Trabalho de Contagem, esteve presente o Juiz do Trabalho,Dr. MARCELO MOURA FERREIRA, para julgamento da ação de cumprimentoajuizada por SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIASMETALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO DE BELOHORIZONTE E CONTAGEM em face de FERROSIDER PARTICIPAÇÕES S/A,FERROSIDER INDUSTRIAL LTDA. e SINDICATO DOS EMPREGADOS EMEMPRESAS DISTRIBUIDORAS DE PRODUTOS SIDERÚRGICOS DO ESTADODE MINAS GERAIS - SEEDSIDER.

Aberta a audiência, foram apregoadas as partes, por ordem do Juiz doTrabalho. Ausentes estas, proferiu-se a seguinte decisão:

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RELATÓRIO

SINDICATO DOSTRABALHADORES NAS INDÚSTRIASMETALÚRGICAS, MECÂNICAS E DEMATERIAL ELÉTRICO DE BELOHORIZONTE E CONTAGEM,qualificado à f. 03, ajuizou ação decumprimento em face de FERROSIDERPARTICIPAÇÕES S/A, FERROSIDERINDUSTRIAL LTDA. e SINDICATO DOSEMPREGADOS EM EMPRESASDISTRIBUIDORAS DE PRODUTOSSIDERÚRGICOS DO ESTADO DEMINAS GERAIS - SEEDSIDER, tambémqualificados, alegando, em síntese, queé legítimo substituto processual dacategoria dos empregados dasempresas rés; que as rés desenvolvematividade ligada à indústria,transformação e beneficiamento deprodutos siderúrgicos; que celebrouconvenção coletiva de trabalho para acategoria que abrange os empregadosdas empresas rés, cujas cláusulas asrés vêm se negando a cumprir sobalegação de que seus empregados sãorepresentados por sindicato diverso;que o sindicato que as empresas résalegam representar seus empregadosnão se encontra legitimado a firmarnormas coletivas de trabalho para ostrabalhadores representados pelosindicato-autor; que houve reunião demediação na DRT para a qual as résforam chamadas a participar quando oSEEDSIDER esclareceu que a entidaderesultou de desmembramento dacategoria de comerciários e que nãopretende representar trabalhadoresmetalúrgicos; que a maioria dosempregados das rés exerce atividade demetalúrgicos e não de distribuição deprodutos (comerciários); que aimposição das rés na alteração darepresentação sindical de seusempregados, atribuindo a sindicato

diverso do sindicato-autor arepresentatividade dos seusempregados, levou à perda de diversosdireitos dos empregados, gerandoindignação dos trabalhadores.

Pelo que expôs, formulou ospedidos e requerimentos de itens “a” até“u” das f. 30/33 da inicial, atribuindo àcausa o valor de R$500.000,00(quinhentos mil reais). Requereu acondenação das rés no pagamento dehonorários assistenciais. Juntoudocumentos e procuração à f. 204.

Juntada de documentos novospelo sindicato-autor, relativos à sentençaprolatada em ação declaratória derepresentação sindical que tramitouperante o juízo da 25ª Vara do Trabalhode Belo Horizonte às f. 212/218.

Conciliação recusada, a primeiraré apresentou defesa escrita de f. 221/226. Documentos às f. 236/267. Alegouque o objeto social da ré é a participaçãoacionária em outras empresas por elacontrolada (holding), não se inserindona categoria representada pelosindicato-autor, asseverando que nãopossui qualquer empregado. Sob essesargumentos, impugna os documentosacostados à inicial, refutando todos ospedidos do mérito e de honoráriosadvocatícios.

A segunda ré tambémapresentou defesa escrita de f. 227/235,alegando, em síntese, que a atividadepreponderante da empresa é acomercialização e não a industrializaçãodos produtos siderúrgicos, sendo estaúltima atividade realizada por terceirosfora da sede da empresa. Impugna, sobessa alegação, a legitimidade dosindicato-autor para representar acategoria de seus empregados, pedindopela improcedência de todos os pedidosda inicial e refutando o pedido decondenação em verba honorária. Juntoudocumentos às f. 268/321.

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Impugnação do autor às f. 325/360 (e-mail) e f. 361/394 (original).

O Sindicato dos Empregados emEmpresas Distribuidoras de ProdutosSiderúrgicos do Estado de Minas Gerais- SEEDSIDER, até então terceiro nalide, requereu sua inclusão na lide comolitisconsorte, uma vez que se diz terceirointeressado no deslinde da demanda,às f. 396/397, com documentos às f.398/419. Concedida vista ao terceiro, omesmo se manifestou nos termos de f.423/430, juntando documentos de f.431/488.

Instado, o autor manifestou-sesobre os documentos juntados às f.492/509 (e-mail) e 510/525 (original).

Designada a prova pericialrequerida pelo autor, em suaimpugnação, com vistas à dilucidaçãoda controvérsia que se estabeleceuquanto ao enquadramento sindical dacategoria respectiva, bem como para seapurar a correção ou não doprocedimento das rés no tocante aocumprimento de convenção coletivadiversa daquela firmada com osindicato-autor, conformefundamentação do termo às f. 527/528.

Deferido, na oportunidade, oingresso de terceiro interessado na lidena condição de assistente adesivo dosréus, f. 527.

As partes apresentaram quesitospara a perícia técnico-administrativa àsf. 530/531, 534/535, 543/544, 545/547.

Requerida pelo perito adelimitação das empresas a serempericiadas e determinada a diligênciaem relação a todas as empresaspertencentes ao grupo econômico dasrés, conforme decisão de f. 559. Juntadade documentos pelas empresasintegrantes do grupo econômico,conforme determinação, às f. 573/1385.

Laudo pericial, com documentos,às f. 1405/1514. O sindicato-autor

manifestou-se sobre o laudo às f.1519/1525 (e-mail) e 1526/1533(original). O assistente adesivomanifestou-se às f. 1542/1548.Manifestação das rés às f. 1549/1550.O perito prestou esclarecimentos às f.1554/1598, sobre os quais o autormanifestou-se às f. 1602/1605 e 1606/1609, as rés, às f. 1615/1618, e oterceiro interessado, às f. 1619/1623.

Autos do processo 1155/08reunidos aos presentes autos às f.1624/1803, devido à conexão dasações, conforme determinado emaudiência, f. 1744.

Audiência para encerramento dainstrução realizada conforme termo def. 1819. Partes dispensadas docomparecimento. Sem mais provas, foiencerrada a instrução processual.Razões finais orais e conciliaçãoprejudicadas.

É o relatório.

FUNDAMENTOS

Assistência litisconsorcial -Intervenção de terceiro na lide

O SEEDSIDER, Sindicato dosEmpregados em EmpresasDistribuidoras de Produtos Siderúrgicosdo Estado de Minas Gerais, terceiroestranho ao processo, dizendo ser olídimo representante da categoria dosempregados da segunda ré, FerrosiderIndustrial Ltda., sustenta ter umacontenda judicial, trânsita em julgado,com o sindicato-autor, dos metalúrgicos,na qual discutiram a representaçãosindical da categoria, em vista do quese explica o seu “alto interesse” -palavras suas - na causa, pelo querequereu sua inclusão nesta como parteintegrante na condição de litisconsortenecessário (petição de f. 396/397).

Terceiro teve sua pretensão, ao

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menos em parte, por mim atendida.Assim foi que, embora não oconsiderando litisconsorte necessário,porque ausentes os supostos legais deformação de um litisconsórcio, sem oque a relação processual não se formavalidamente, tampouco por não ser ele,terceiro, parte, porque não foi desejo doautor incluí-lo no processo, consenti,não obstante, no seu ingresso na lide.Pontuei, no examinar a questãoincidente em audiência, que esseingresso dar-se-ia na condição deassistente adesivo (v. termo de f. 527/528).

Repensando a ideia, pelaamplitude do interesse de terceiro nacausa, que pretendia, pareceu-me,desde o início, assistir a um dos réus, osegundo deles, por considerá-lo seuafiliado enquanto entidade sindical,entendo eu, agora, que a hipótese,conquanto não se amolde à figurajurídico-processual do litisconsórcionecessário, não é, outrossim, de meraassistência adesiva, como até entãovinha pensando, mas de assistêncialitisconsorcial, o que, na conformidadedo disposto no caput do art. 54 do CPC,torna, de fato, o assistente umlitisconsorte da parte assistida. E issose explica facilmente, tendo em vista amanifesta influência da sentença a seproferir nestes autos na relação jurídicaentre ele, assistente, que é um sindicatode classe, e o adversário do assistido,que é o autor na ação vertente e outrosindicato de classe, os dois que vêmcontendendo há algum tempo nadisputa da representatividade de toda acategoria, nesta se compreendendo ostrabalhadores das indústriasmetalúrgicas e os a serviço dasempresas distribuidoras de produtossiderúrgicos.

É bem verdade que, em tese, adecisão de primeira instância, proferida

pela MM. juíza substituta da 25ª VT deBelo Horizonte, e que transitou emjulgado, dirimiu a questão, obstando osindicato ora assistente, o SEEDSIDER,a participar de negociação coletivarepresentando a categoria dosmetalúrgicos. Porém, não lhe obstou deatuar, enquanto entidade sindical, nacondição de lídimo representante dacategoria dos trabalhadores dasempresas distribuidoras de produtossiderúrgicos, categoria que surgiu, a parda prova dos autos, de um dissenso econsequente desmembramento dacategoria dos trabalhadorescomerciários e sindicato respectivo. Aocontrário, a decisão de primeiro graudeixou isso quando menos implícito, aodistinguir, no corpo da precisa e bemposta fundamentação, as atividades demetalurgia e distribuição. Daí a ilação,tanto a que dá a transparecer a MM.juíza prolatora quanto a que eu estou aexternar de que o SEEDSIDER, oraassistente processual do segundo réu,pode e deve representar a categoria dostrabalhadores nas empresas dedistribuição. E em os representando, oresultado do embate jurídico travado nosautos entre uma das empresas que estáa assistir processualmente, em razão daafinidade que entende ter com seusempregados em matéria deenquadramento sindical, e o outrosindicato contra quem tem interesseoposto, é de tal magnitude que vai,inexoravelmente, influir na relaçãojurídica que tem com este último de nãoingressar em sua seara e, portanto, nãorepresentar, em juízo ou fora, ostrabalhadores das indústriasmetalúrgicas, pois que a obrigação denão fazer, vazada neste exato sentido,foi-lhe impingida por decisão judicial deque não cabe mais recurso.

A questão, então, concluindo aexposição, é a de se saber se o

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assistido, Ferrosider Industrial Ltda., nãosó ele como as demais empresas dogrupo Ferrosider, são empresasmetalúrgicas ou de distribuição deprodutos siderúrgicos ou,eventualmente, dedicada a ambos osramos. Em vingando a primeirahipótese, o assistente passa a não maisdeter a representação sindical dosrespectivos trabalhadores. Em vingandoas outras duas, essa representação selhe reconhece sem ou com restrições,nessa ordem.

Com efeito, a assistênciareconhecida a terceiro interveniente élitisconsorcial e não apenas adesiva, aele se aplicando as disposições contidasnos arts. 54, caput e parágrafo único, e55, ambos do CPC. A propósito desteúltimo preceptivo, tenho a esclarecer aoassistente e mesmo às partes em litígioque, malgrado não venha aquele asuportar, neste processo, os efeitosprocessuais desta decisão, por não serele parte na acepção jurídico-processualdo termo, não havendo tutelajurisdicional invocada em face dele, ficaele, assistente, obstado de rediscutir adecisão, em processo posterior, emseguida ao trânsito em julgado.

Insurge-se o autor contra alegitimidade de terceiro, ora assistente,como entidade sindical, alegando nãohaver registro seu junto ao MTE. Sem-razão, assertiva que se lança com esteioem prova material dos autos,demonstrando exatamente o contrário.O registro foi definitivamente obtido pelosindicato, naquele órgão, após decisãojudicial final.

Coisa julgada

Antes mesmo de ter o seu pedidode ingresso na lide apreciado, terceiro,o SEEDSIDER, invocando a decisãotrânsita em julgado, proferida nos autos

em que ele, SEEDSIDER, contende como autor da ação presente, o sindicatodos metalúrgicos arguiu a coisa julgadamaterial e consequente extinção desteprocesso sem resolução do mérito (v.petição de f. 423/429).

Sem qualquer razão, entretanto.Não se subsume a coisa julgada,material ou formal, na espécie, seja emseus limites subjetivos ou objetivos. Acomeçar pelas partes de uma e outracontendas, que não são as mesmas. Naação precedente, partes foram asentidades sindicais, enquanto que, naação vertente, apenas uma delas. Aoutra, a arguente, parte nesta ação nãoé, figurando como assistente processualde outra parte, o que, conforme expostoem capítulo anterior, é figura processualdiversa. Não há, portanto, identidade desujeitos em ambas as relaçõesprocessuais. A arrematar pelo pedido,que também é diverso. Enquanto naação precedente um sindicato vindicavatutela inibitória, pura e simplesmente,em face da conduta do outro, na açãovertente, a tutela requerida não seresume a isso, indo além, revestindo-se de conteúdo em boa partecondenatório em obrigações de dar ede fazer. O que há de comum numa enoutra ações é a representatividadesindical, móvel de uma e de outra, sóque naquela, disputada entre ossindicatos, e nesta, entre um sindicatoe as empresas.

Rejeito.

MÉRITO

Enquadramento sindical -Ação de cumprimento de CCT

O móvel da ação presente,conforme expus no tópico anterior, é omesmo que levou, num primeiromomento, dois sindicatos a uma disputa

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judicial em torno da representatividadede uma categoria profissional, a dosmetalúrgicos, e está levando, nomomento presente, um dessessindicatos a demandar as empresas,cujos trabalhadores, todos eles, a seuver, integram a categoria respectiva, oreconhecimento dessa representação eo cumprimento das disposições insertasnum dos instrumentos normativos quelhe é próprio, a saber, a convençãocoletiva de trabalho da data-base de2006/2007, com vigência no período de01.10.2006 a 30.09.2007, de cujanegociação foram partes o sindicatoautor, dos metalúrgicos, comorepresentante da categoria obreira, e aFIEMG, como representante dacategoria patronal na qual os réus seinserem. O autor funda-se na premissade que todos os empregados do grupoeconômico empresarial Ferrosider,integrado pelos reús, atuam naprodução e transformação próprias daindústria metalúrgica, pelo quemetalúrgicos são.

Os réus se defendem. O primeiro,Ferrosider Participações S.A., alega seruma holding, não tendo empregados,não sendo empresa do ramometalúrgico, tendo por objeto social aparticipação em outras sociedades dogrupo como sócio ou acionista,cumprindo, em razão disso, asdisposições normativas próprias dosindicato dos empregados no comérciode Belo Horizonte e região metropolitana.Junta à defesa GRCSs, comprovando oalegado. O segundo, FerrosiderIndustrial Ltda., adota idêntica linha deargumentação, dizendo que suaatividade preponderante não émetalúrgica, mas mercantil, terceirizandoa atividade industrial. A contribuiçãosindical sua é recolhida em favor doSEEDSIDER, que acabou vindo a serseu assistente processual nesta ação.

É esse, enfim, o sumário dodissídio. Vamos agora aos fatos,coligidos da prova dos autos,eminentemente material.

Começo pelo contrato social daempresa Ferrosider Indústria eComércio de Produtos Siderúrgicos, quenão é parte, mas pertencente ao grupoeconômico dos réus, em cuja cláusulaquarta consta o seu objeto social, asaber, “indústria, beneficiamento ecomércio de tubos, chapas, sucatas,perfis laminados de aço, prestação deserviços no ramo dos aços planos... (sic)importação e exportação de produtossiderúrgicos (docs. de f. 101/109). Essaempresa funciona no endereço doprimeiro réu, Ferrosider ParticipaçõesS.A., sendo uma das empresas do gruporesponsáveis pela contratação dosempregados do primeiro réu. Eis,portanto, a razão de o primeiro réu nãoter, formalmente, trabalhadores a seuserviço. O fato aqui declinado foiapurado em perícia técnico-administrativa.

Prossigo pela ata de reuniãorealizada no MTE, da qual participaramo sindicato-autor e o sindicato-assistente, o SEEDSIDER, em cuja ataconsta a informação, colhida junto aorepresentante do SEEDSIDER, de queo referido sindicato resultou de umdesmembramento do sindicato dacategoria dos comerciários (docs. de f.115).

Passo pela sentença proferidapela MM. juíza do trabalho substituta da25ª VT de Belo Horizonte, em açãopromovida pelo sindicato-autor em facedo sindicato-assistente do réu, oSEEDSIDER, no bojo da qual se decidiuque o réu naquela ação, o SEEDSIDER,devesse se abster de celebrar normascoletivas de trabalho que compreendama categoria dos trabalhadoresmetalúrgicos, representados pelo

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sindicato-autor, também autor na açãovertente (docs. de f. 214/218).

Vejo, agora, a sétima alteraçãocontratual, em dezembro de 2005, dosegundo réu, Ferrosider Industrial,constando como objeto social, além daatividade mercantil pela empresaexercida, a industrialização. No mesmocompasso, o seu CNPJ, constando, atal título, a produção de ferroligas (docs.de f. 276/282 e 283).

Partindo rumo ao laudo pericialtécnico-administrativo, de extrema valiacomo meio de prova, tem-se o seguinte:primeiro, a confirmação de que oscontratos de trabalho dos empregadosde um dos réus, a FerrosiderParticipações, são assinados,aleatoriamente ao que parece, por trêsoutras empresas do grupo. O grupoFerrosider compõe-se de onzeempresas, sendo que três delas,Ferrosider Participações S.A., BGCParticipações S.A. e CG Administraçõese Consultoria Ltda., são ascontroladoras do grupo. À exceçãodessas três, cujo objeto social é restritoà participação noutras empresas, asdemais têm em comum o fato depertencerem à indústria detransformação, produzindo tubos de açocom costura, tubos aluminizados, tuboscom rosca, chapas, peças para tratores,escavadeiras e retroescavadeiras, perfisde aço para construção civil e materialcongênere. Ao final, a oportuna, precisae sucinta conclusão do perito que, poresses predicamentos, vale a penatranscrever (in verbis): “Não restamdúvidas de que as empresas do grupoeconômico réu estão enquadradascomo indústria de transformação,pertencentes ao setor metal mecânico.Por consequência, os seusempregados, pela similitude dascondições em situação de emprego namesma atividade econômica, à exceção

daqueles pertencentes às categoriasdiferenciadas, devem ser representadospelo sindicato dos trabalhadores nasindústrias metalúrgicas, mecânicas e dematerial elétrico de Belo Horizonte eContagem” (laudo de f. 1405 e segs.,especialmente f. 1410).

Seguindo pelo laudo, aoresponder determinado quesito sobre aatividade funcional exercida pelostrabalhadores das empresas do grupoFerrosider, lotados nas dependênciasdo primeiro réu, FerrosiderParticipações, se a mesma guardasimilitude com as atividades dostrabalhadores comerciais, o peritotécnico-administrativo admitiu asimilitude em caráter excepcional,restrita aos trabalhadores dodepartamento de vendas da referidaempresa (respostas aos quesitos h e j,à f. 1424). A seguir, o perito, ao listar oobjeto social de todas as empresas dogrupo, cita, além do processo deindustrialização próprio de cada qual, acomercialização dos seus produtos,inclusive operações de exportação eimportação (resposta ao quesito 2, às f.1432/1434).

Com efeito, a par do arcabouçode provas aos autos trazido à colação eà minha apreciação, concluo semhesitação, na esteira do que concluiu operito judicial, que não só os réus, comoas demais empresas que integram ogrupo econômico empresarialFerrosider, à exceção das três citadaspelo perito - Ferrosider ParticipaçõesS.A., BGC Participações S.A. e CGAdministrações e Consultoria Ltda. - têmcomo atividade preponderante aprodução e a transformação de produtosdo setor metal mecânico, atividadetipicamente metalúrgica. A distribuiçãojunto ao público consumidor do ramo,atacadista e varejista, de sua produçãonão é atividade econômica, mas

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operação mercantil por excelência. Paraaclarar o raciocínio jurídico, tenho comoplausível a indagação que se devaformular quanto ao que essas empresasfazem, o que produzem, e não o quevendem. A venda, no caso delas, é umacontingência da produção, o que vai lhesensejar o lucro. Mas o lucro, fazendocoro com a pertinente exposição doautor na inicial, não é o escopo daempresa tal ou qual, dedique-se ela aocomércio, à indústria ou à prestação deserviços, mas de todas, sem o que ocapital não circula e,consequentemente, não se geratrabalho. É diferente da atividademercantil stricto sensu, em que oempresário não produz, mas revende oque comprou, muitas das vezes não dequem produziu o produto final paraconsumo, mas indiretamente de umatravessador, outro comerciante. Comcerteza que esse empresário docomércio vive a expensas de suasvendas, como delas sobrevivem ostrabalhadores empregados no ramo,pois que nada produzem outransformam, só vendem. Aí se tem, nãohá como negar, atividade econômica, aoreverso da situação anterior, em que avenda consiste em operação de meroescoamento da produção. Deconsiderar-se, ainda, o fato de aatividade metalúrgica abarcar, no grupoempresarial integrado pelos réus, umexpressivo número de trabalhadores,incomparavelmente maior do queaquele dedicado à operação mercantil.Com certeza que o elementoquantitativo da mão-de-obra, se por sisó não define, contribui sobremodo paradefinir o critério de preponderância daatividade econômica empreendida pelasempresas do grupo.

Dito isso, não vislumbrando nosautos controvérsia quanto à legitimidadedo sindicato-autor para representar

judicialmente, na condição de substitutoprocessual da categoria, ostrabalhadores das indústriasmetalúrgicas, ocupem estes esta ouaquela função, exceção só se fazendo,na forma da lei, às categoriasdiferenciadas, e sendo um dos réus,Ferrosider Industrial Ltda., como deresto as demais empresas às quais ele,segundo réu, atrela-se em razão de umgrupo econômico, empresas do setormetal mecânico ou, numa só palavra,empresas metalúrgicas, jungidos estãotodos e não apenas o segundo réu -exceção se fazendo ao primeiro réu,Ferrosider Participações S.A. e às duasoutras empresas do grupo, BGCParticipações S.A. e CG Administraçõese Consultoria Ltda., por não exercerematividade metalúrgica - a cumprirem asdisposições normativas entabuladasentre a entidade sindical maior que osrepresenta, a FIEMG, e o autor, oSindicato dos Trabalhadores nasIndústrias Metalúrgicas, Mecânicas e deMaterial Elétrico de Belo Horizonte eContagem. E a inclusão delas,empresas do grupo, em que pesealheias à relação processual, não podecausar espécie, não havendo de secogitar de error in procedendo desteprolator, na medida em que, em searatrabalhista, são empresas integrantesde um mesmo consórcio empresarial, doramo industrial metalúrgico, pelo queresponsáveis, umas e outras, emcaráter solidário, para com os contratosde trabalho dos incontáveis empregadosseus, ora processualmente substituídos,ex vi do disposto no § 2º do art. 2º daCLT. A não pensar assim seria, então, ocaso de se chamar à lide não dois dosréus, mas os onze integrantes do grupo,cada qual com seus argumentos,sujeitos de direito que são aocontraditório, pelo que podendo cadaqual produzir sua contestação e provas

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em juízo. Mais do que um tumulto, seriauma balbúrdia processual. Imagine-se,então, a situação de o grupoempresarial não ser constituído de onze,mas de cem empresas... O que seria doprocesso, das partes e do juiz? Talvezem um ano não houvesse espaço paraoutra contenda. Também por esse lado,puramente pragmático, o legisladorconsolidado foi sábio ao atribuir aosempregadores que se insiram nocontexto a responsabilidade solidária,indiferentemente ao fato de um, algunsou todos figurarem na relaçãoprocessual. É o caso dos autos.

Passo agora à análise de per se

das parcelas do pedido que, emverdade, têm início no item “d” do roldos pedidos de f. 30/33.

O pedido de letra “d” é o primeiroa se acolher. Se bem interpretado e emconsonância com a exposição clara dainicial em sua fundamentação que, sópara ilustrar, faz referência à empresado grupo Ferrosider que não é parte narelação processual - Ferrosider Indústriae Comércio de Produtos SiderúrgicosLtda. - juntando aos autos os seus atosconstitutivos, o rol de pedidos foideduzido, todo ele, em face não apenasdos réus, mas de todas as empresasque formam o grupo econômicorespectivo. E não podia mesmo serdiverso, pois que o perito judicial, antesde iniciar o seu trabalho, em diligênciapor ele envidada junto a uma dasempresas rés, constatou que cincoempresas do grupo se encontravaminstaladas no endereço de uma delas,a Ferrosider Participações S.A., estasim, parte na lide. Daí em diante, paraque se obviasse a perícia, o louvadosuspendeu a diligência, ficando noaguardo de um pronunciamento judicialsobre as empresas a serem periciadas.Foi quando decidi, atento à parteexpositiva da inicial e sobretudo ante a

constatação do perito, uma e outra muitopróprias da realidade de um grupoempresarial, que todas as empresas dogrupo seriam periciadas porque, emverdade, tudo o que alegado e deduzidona petição de ingresso a elas seestendia, não podendo se circunscreveraos réus, até porque constatado a

posteriori pelo i. louvado que as duasempresas rés detinham um númeroinsignificante de trabalhadores, secomparado ao das outras noveempresas do grupo que ficaram de forado processo (petição de f. 553/555,despacho de f. 559 e laudo e anexos def. 1405/1514). O aqui articulado vai,portanto, em complemento ao que pormim alinhavado em linhas transataspara, a par de todas essascircunstâncias de fato e de direito,concluir, em reforço ao que por mim hápouco afirmado, que o sujeito dasobrigações que venham a serreconhecidas nesta decisão não éapenas o segundo réu, FerrosiderIndustrial Ltda., mas também as demaisempresas integrantes do mesmo grupoeconômico, à exceção, repito, doprimeiro réu, Ferrosider ParticipaçõesS.A., e empresas BGC ParticipaçõesS.A. e CG Administrações e ConsultoriaLtda.

Com efeito, o sindicato-autorestá legitimado, em sua base territorial,a representar os trabalhadores do grupoeconômico integrado pelos réus,quaisquer que sejam as funções poraqueles desempenhadas nas referidasempresas, exceção só se fazendo àstrês empresas antes citadas e aostrabalhadores pertencentes àscategorias diferenciadas na forma da lei.Pedido procedente em parte.

O pedido de letra “e” éconsequência do anterior. Declarada alegitimidade do autor para representarcom exclusividade a categoria dos

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metalúrgicos, com as ressalvas jácitadas, fica o réu - grupo econômico -obstado de entabular negociaçãocoletiva com o SEEDSIDER.Procedente.

O pedido de letra “f” segue igualsorte. Legitimado que está o sindicato-autor a negociar em nome da categoria,como legitimado estava em outubro de2006, quando transacionou direitos eobrigações com a categoria econômicado réu, este - grupo econômico - devecumprir o avençado no particular,reajustando os salários emconformidade com o queconvencionado na CCT respectiva,lançando os novos valores nas CTPSs.Procedente.

Os pedidos de letras “g” e “h”são, igualmente, consequências doanterior. Como de fato, em sereajustando os salários na data-baseprópria, geram-se diferenças salariais,pelo principal e reflexos, a contar deentão e até o momento do efetivocumprimento da obrigação. Procedente.

O pedido de letra “i” é de seacolher parcialmente e em sua partefinal como pedido sucessivo. O abonoúnico especial será, então, concedido,tomando-se como parâmetro de cálculoo número de empregados do réu - grupoeconômico - em 30.09.2006, consoanteo disposto em cláusula específica daCCT respectiva. Procedente em parte.

Os pedidos de letras “j” a “q”, umdeles ensejando obrigação de fazer eos demais de dar, têm todos amparo naCCT de que estou a falar, da data-basede 2006/2007. Não tem por que o réu -grupo econômico - não ter cumprido asdisposições respectivas, a não ser o fatode, a contar de então, ter-se limitado àsdisposições normativas de outra CCT decategoria profissional diversa da que defato representa os seus empregados,equívoco que só agora restou reparado

com a declaração da representatividaderespectiva pelo sindicato-autor. Em facedisso, a condenação ao reconhecimentoe cumprimento das cláusulascontratuais coletivas correspondentes acada qual dos pedidos aqui expresso éobrigação que se lhe impõe.Procedente.

O pedido de letra “r” não segueigual sorte de prosperidade. Com efeito,o tal desconto negocial de que cogita acláusula 84ª da CCT de 2006/2007 épara acontecer na folha de pagamentodos trabalhadores, indistintamente,redundando o procedimento emredução salarial. É bem verdade que oparágrafo primeiro da cláusula fazmenção a um prazo ínfimo, de cincodias, para que o trabalhador se oponhaao desconto, mas sem a garantiaexpressa de que ele vá ser restituído dodesconto. Ao contrário, nas 48 horasseguintes ao fluxo desse prazo, que émínimo, o sindicato envia às empresasa lista de oponentes, mas estas nemaquele nada fazem no sentido deressarcir os que não concordaram, indoparar o dissenso, se for da vontade dosopositores, nas barras desta Justiçaque, em condenando as empresas aoressarcimento, serão elas e não eles,trabalhadores, ressarcidos pelosindicato, porque assim acordado entreeles, empresas e sindicato. É essa adicção do parágrafo segundo daindigitada cláusula. No mais, não hásequer menção na cláusula, em seucaput, parágrafos e diversos incisos,sobre o significado desse desconto, aque título ele se refere, só se tendonotícia, pelo caput do dispositivo, de queele defluira de um TAC celebrado como MPT. Mas os termos desse TAC nãoconstam, sequer resumidamente, daredação da cláusula, tampouco tendo odocumento vindo aos autos. Conclusão,o tal desconto está, segundo penso, na

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contramão de direção do princípioconstitucional da liberdade deassociação sindical, não valendosequer, pelas razões aqui expostas,para os empregados associados aosindicato-autor, que dirá, então, para osnão associados. Improcedente.

O pedido de letra “s”, segundopenso, deve ser interpretado como oque não constou, expressa eespecificamente, do rol dos pedidos.Seu teor é no sentido de que os réuscumpram de imediato “todas as normasprevistas na CCT celebrada pelosindicato-autor”. Considero-o, todavia,vago e incerto. Ademais, emconsiderando que o rol dos pedidos éadstrito à negociação coletivaentabulada na data-base de 2006/2007e que a pretensão em comento,genericamente formulada, vai deencontro a direitos, muitos deles que setraduzem em obrigações de fazer queficam ao sabor das partes renová-los ousuprimi-los nas negociações coletivasposteriores, tenho que o seuatendimento feriria o princípio da livrenegociação, impondo a uma das partesobrigações que ela não ajustou e estavaao seu alcance não ajustar. Deixo claroque a situação aqui descrita é bemdistinta das anteriores, retratadas pelospedidos especificamente deduzidos,certos, que vieram a ser acolhidos,porque ao alcance dos empregadoresque, assim como os réus, formam umgrupo econômico, deveriam tercumprido as obrigações normativas aque se obrigaram na data-baserespectiva, por intermédio da federaçãoque os representa, e, não obstante, nãocumpriram. Improcedente.

O pedido de letra “t” é o de multaconvencional, justificando-se a par dodescumprimento pelo réu - grupoeconômico - das cláusulasconvencionais a que se obrigou pela

CCT de 2006/2007, o que redunda empagamento de uma multa, prevista nacláusula 90ª, por cada infração. Comocláusula convencional descumprida,entenda-se aquela que veio a seracolhida no rol dos pedidos da inicial.Procedente em parte.

O pedido de letra “u” é o dehonorários assistenciais e custassucumbenciais. Ambos são de seatender. O primeiro, no percentualvindicado, incidente sobre o valor líquidoda condenação, a se apurar emexecução, em proveito do sindicato-autor. O segundo, conforme parâmetroque mais adiante arbitrar-se-á nodispositivo da decisão, em proveito daUnião. Procedente.

Todos os pedidos deduzidos emface do primeiro réu, FerrosiderParticipações S.A., são improcedentes.

Honorários periciais

Sucumbente que foi o réu - grupoeconômico - no objeto da perícia, arcarácom o pagamento dos honoráriosrespectivos que, em vista da qualidadedo laudo produzido, a considerar-se aprecisão e o zelo envidados pelo peritoem sua elaboração, ficam arbitrados emR$3.000,00 (três mil reais).

Reunião de processos -Processo n. 1155/08 - Ação decumprimento de CCT

O processo em epígrafe foi, pordeterminação minha, reunido aoprocesso principal que acabo deanalisar - processo n. 976/07 - em faceda conexão que vislumbrei entre uma eoutra ações, ambas de cumprimento(ata de audiência, de f. 1744, 9º vol.).

A ação é voltada contra uma dasempresas do grupo empresarialFerrosider, a Ferrosider Indústria e

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Comércio de Produtos Siderúrgicos.Em seu bojo, o sindicato-autor, dosmetalúrgicos, o mesmo que demandana ação principal, aduz ser o legítimorepresentante da categoria profissionalcorrelata à categoria econômica a quepertencente o réu, razão pela qualpostula a condenação deste aopagamento de contribuições especiais,a saber, desconto negocial emensalidade, previstas na CCT de2006/2007, bem como as contribuiçõessindicais do mesmo período, além dehonorários advocatícios e isenção decustas.

O réu se defende. Sustenta,preliminarmente, a ilegitimidade ativa doautor, ao argumento de que ele nãodetém a representatividade da categoriaprofissional, que se dá a par darepresentação da categoria econômicaque, de seu turno, define-se pelapreponderância de sua atividade, sendoesta, no caso, de distribuição,comercialização de produtossiderúrgicos, e não metalurgia, razãopela qual o sindicato profissionallegitimado a representar a categoriarespectiva é o SEEDSIDER. No mérito,rebate as alegações da inicial,sustentando que as contribuiçõessindicais do período postulado foramrecolhidas em favor do sindicatolegitimado, que não é o autor, e que asdemais contribuições, se devidas foremem razão da representatividade, o sãoem face dos trabalhadores associados,apenas eles.

Vê-se, para logo, da exposiçãoda matéria litigiosa uma identidadequase que plena quanto ao quediscutido na outra ação, cujo temacentral era do enquadramento sindical.Daí a prejudicialidade e a reunião de umprocesso ao outro em razão doincidente. Afinal, na outra ação,discutiam a mesma questão o sindicato

dos metalúrgicos, lá também autor, ealgumas das empresas do grupoeconômico do qual o ora réu faz parte.E as pretensões lá deduzidas eram detal ordem mais abrangentes do que asque aqui se discutem, que o processoprincipal só podia ser mesmo o outro,até porque já em trâmite nestajurisdição, territorialmente competente,muito antes de a ação vertente vir a serdistribuída neste Foro.

Começo por rejeitar a exceçãode ilegitimidade ad causam ativa, semter que me alongar, pois que tudo quetinha a dizer sobre a representatividadesindical das partes em conflito emambos os processos, vale dizer,enquadramento sindical, já o disse noprocesso n. 976/07, autos principais,aqui também sentenciado. Não preciso,portanto, considerando que a sentençaé a mesma para os dois processos,voltar à tona com aquilo que foiexaustivamente apreciado na outraação. A representatividade, lá disse eaqui reitero, é do sindicato-autor, dosmetalúrgicos.

No mérito, quanto ao descontonegocial, valem, igualmente, osargumentos por mim expendidos aoexaminar, nesta mesma sentença,idêntico pedido deduzido na outra ação,quando externei as minhas razões defundo, segundo as quais entendia econtinuo entendendo que a pretensãonão faz sentido de ser acolhida sequerrestritamente, de modo a aproveitar osempregados associados ao sindicato-autor. Quanto à mensalidade, nãovislumbro sequer sua previsão noinstrumento normativo à inicial carreado.Ambos os pedidos são, portanto,improcedentes.

Já as contribuições sindicais,estas sim, são devidas, amparadas queestão pela Consolidação, devendoreverter em proveito do sindicato

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.49, n.79, p.323-359, jan./jun.2009

representante da categoria profissional.Como esta representação, conformeaqui decidido no processo em quefiguram como réus empresas do mesmogrupo do ora réu, a quem também lá sefez referência, recai na pessoa dosindicato dos metalúrgicos, autor emambas as ações, é ele o credor dessascontribuições. O fato de o réu terrecolhido o imposto em favor de terceiro,entidade sindical não legitimada, não oisenta da obrigação, sendo de todoimprópria a alegação de bis in idem.Vale aqui invocar o brocardo de que“quem paga mal paga duas vezes”. Anão ser assim, a opção seria deprescindir do direito em favor da torpeza,o que, obviamente, não se concebe.Pedido de n. “3”, procedente.

Não há razão para expedição deofício a nenhum órgão, ante aconstatação, que dos autos se tem, sejapelo teor da defesa ou da prova material,de não ter havido retenção sem repassede valores, a título de contribuições, aosindicato-autor. Houve, sim, retenção erepasse dos valores respectivos aooutro sindicato, o que não vai eximir oréu de recolher a contribuição sindicalem favor do autor, sem que ele, réu,possa reter o equivalente dos saláriosde seus empregados.

Honorários advocatícios,arbitrados em 10% (dez por cento) sobreo valor líquido da condenação. Pedidode n. “6”, procedente em parte.

CONCLUSÃO

Tudo isso posto, julgoPROCEDENTES EM PARTE as açõesde cumprimento de CCT propostas peloSindicato dos Trabalhadores nasIndústrias Metalúrgicas, Mecânicas e deMaterial Elétrico de Belo Horizonte eContagem em face dos réus Ferrosider

Participações S.A., Ferrosider IndustrialLtda. e Ferrosider Indústria e Comérciode Produtos Siderúrgicos - processos den. 976/07 e 1155/08 - para declarar arepresentatividade sindical dosempregados do Grupo Ferrosider,integrado pelos ora réus, a cargo dosindicato-autor, com as ressalvas feitasàs categorias diferenciadas e àsempresas do grupo não exercentes daatividade metalúrgica, condenando-seos réus na forma seguinte: 1) noprocesso de n. 976/07, o atendimento,no todo ou em parte, conformefundamentos desta decisão, pelasempresas do grupo econômicoFerrosider, das parcelas dos itens “d” a“q”, “t” e “u” do rol dos pedidos; 2) noprocesso de n. 1155/08, o atendimento,no todo ou em parte, conforme idênticosfundamentos, pela empresa FerrosiderIndústria e Comércio de ProdutosSiderúrgicos, das parcelas dos itens “3”e “6” do rol de pedidos respectivo.

A ação ajuizada no processo den. 976/07, em face do réu FerrosiderParticipações S.A., é IMPROCEDENTE.

Honorários periciais, pelasempresas do grupo Ferrosider.

Sobre as parcelas pecuniáriasdos pedidos deferidos incidirão juros eatualização monetária na forma da lei.

Igualmente, sobre as mesmasparcelas e na forma da lei, incidirão osdescontos previdenciários e fiscais. AUnião será intimada da decisão, nostermos e para fins do disposto no § 5ºdo art. 832 da CLT.

Custas pelos réus, no caso,quaisquer das empresas do GrupoFerrosider, no importe de R$8.000,00,calculadas sobre R$400.000,00, valorarbitrado à condenação.

Publique-se, intimando-se aspartes.

Encerrou-se.