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PAULO ROBERTO GAIGER FERREIRA FELIPE LEONARDO RODRIGUES Ata Notarial Doutrina, prática e meio de prova 3ª edição Revista, ampliada e atualizada 2021

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PAULO ROBERTO GAIGER FERREIRA FELIPE LEONARDO RODRIGUES

Ata Notarial

Doutr ina, prát ica e meio de prova

3ª ediçãoRevista, ampliada

e atualizada2021

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3 PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE NOTARIAL

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3PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE

NOTARIAL

Os princípios funcionam como alicerce, e revelam o conjunto de preceitos que traçam a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica. Assim, os princípios exprimem e têm mais relevância do que a própria norma ou regra jurídica. Mostram-se a razão de ser das coisas jurídicas, convertendo-as em perfeitos axiomas13.

Princípios não se confundem com normas jurídicas, mas podem con-sagrar-se nelas.

Mesmo quando sejam normas, os princípios são superiores a elas, posto que são preceitos fundamentais. Os princípios são a causa e o fim do direito. Do mesmo modo, não se confundem com procedimentos téc-nicos: o operador do direito não deve confundir ou denominar princípios meros procedimentos técnicos. Os princípios inspiram estes procedimen-tos, mas a atenção acrítica à técnica esvazia o princípio e, não raro, cons-titui entrave à consecução do princípio.

13 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 21ª ed, atualizada por Nagib Slaibi Filho e Gláu-cia Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 639.

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Os princípios também não se confundem com a natureza, ou com os efeitos jurídicos. A identificação da natureza jurídica muitas vezes deriva do princípio, mas não se trata dele. Os efeitos jurídicos do ato realizam o princípio, mas são menos que ele: são a sua manifestação concreta.

3.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS SERVIÇOS NOTARIAIS

O tabelião é um delegado do Estado, operando em caráter privado, a serviço dos particulares. O tabelião é o Estado a serviço dos particulares. O tabelião não trabalha para o Estado. Essa dualidade, similar ao mito-lógico deus romano Jano14, pode ser representada por duas faces: uma fixando o interesse do Estado, e a outra buscando realizar o interesse do particular.

O fundamento da atividade notarial, bem como do direito, é a segu-rança jurídica. É por conta desse objetivo que o Estado impõe a profilaxia notarial. A profilaxia é uma prevenção em face do potencial, mas con-creto, mal. Se a prevenção não for feita, o mal se realizará. A segurança preventiva é axioma em todas as áreas15. A segurança jurídica notarial é profilática. Sem ela temos, para tratar do imenso número de situações da vida potencialmente “incendiárias”, somente a querela e a “cura” judicial.

O tabelião é, pois, o Estado protegendo os interesses particulares com relevância e reflexos para a sociedade e para o próprio Estado. Como ente estatal, o tabelião está sujeito aos princípios da administração. E, como agente a serviço dos particulares, o tabelião deve operar em obediência aos princípios do direito privado.

14 O deus do início (princípio), cujo nome deu origem ao primeiro mês: janeiro.

15 Citamos, ainda, a engenharia: para a prevenção de incêndios, as construções devem obedecer a certos padrões e, quando tenham grande circulação de pessoas, os chuveirinhos (sprinklers) devem ser obrigatórios. 99,9% dos chuveirinhos nunca receberão uma gota de água, mas sua presença compõem um sistema profilático eficaz.

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Não há contradição: as duas faces da atividade harmonizam prin-cípios oriundos do direito público em face daqueles do direito privado. Ademais, a própria atividade notarial constitui princípios sob os quais o tabelião deve operar.

Classificamos os princípios notariais em atípicos – decorrentes de ou-tras áreas – e típicos – aqueles que são próprios da natureza da atividade.

3.1.1. PRINCÍPIOS ATÍPICOS

Os princípios atípicos da atividade notarial classificam-se em: a) princípios constitucionais da administração pública; b) princípios de di-reito privado; e c) princípios de direito registral.

Vamos relegar a discussão sobre a prevalência de um direito, o pú-blico sobre o privado, ou vice-versa. Neri consolida o tema dizendo que:

“A divisão do direito em público e privado não é questão de catego-ria, mas de princípios. Portanto, não é possível sua separação, nem sequer uma imaginária linha divisória, seja qual for o ponto de vista, nem é possível ainda uma distinção entre direito público e princípios de ordem pública; isso seria teleológico. Ao final e ao cabo, todo direito é público e todo direito é privado: o direito público, no fundo, não é senão a soma dos direitos privados. O direito privado, por sua vez, é certamente o úni-co e verdadeiro direito que dá base ao direito público. Pela mesma razão, toda a ordem pública e o consequente conjunto de seus preceitos não é mais que a fonte da razão e justiça do direito privado em geral.”16

A tarefa dos operadores do direito e da jurisdição é, portanto, achar o ponto de equilíbrio entre os direitos, ou melhor, entre os interesses pú-blicos e os privados.

16 NÉRI, I. Argentino, Tratado teórico y práctico de derecho notarial: parte geral, 1ª ed., 2ª tir. Buenos Aires: Depalma, 1980., v. 1, p. 163.

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O tabelião brasileiro presta um serviço público (CF, art. 236) e está, por conseguinte, submisso aos princípios constitucionais. Uma das faces de Jano está sobre o reflexo dessas normas: a face institucional e profis-sional adjetiva.

3.1.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO

O tabelião deverá observar os princípios constitucionais da adminis-tração, que estão condensados no art. 37 da Constituição Federal, quais sejam: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

3.1.3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O princípio da legalidade, para o tabelião, significa agir conforme a lei e fiscalizar rigorosamente o cumprimento da lei nos atos que instru-mentaliza. Os requisitos formais dos atos estão claramente previstos – ain-da que incompletos – no art. 215 do Código Civil. A Lei nº 7.433/1985 e seu regulamento acrescem requisitos documentais somente para os atos relativos a imóveis, apesar de pretenderem ir além.

É frequente, na atividade, o tabelião enfrentar situações em que a lei está descumprida e os usuários buscam o ato notarial para sanar a ilegali-dade ou irregularidade, no todo ou em parte. Entendemos que é possível a intervenção nestes casos, cumprindo e buscando atender justamente o princípio da legalidade e a segurança jurídica, base de todo o direito.

Profissionalmente, o tabelião não pode fazer qualquer coisa. Pode e deve agir no estrito cumprimento das competências previstas na Lei Notarial e Registral, a Lei nº 8.935/1994 (arts. 6º e 7º), Código Civil e demais leis esparsas.

A forma dos atos é de responsabilidade do tabelião, profissional do di-reito com competência e autonomia (art. 3º) para escolher o instrumento

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adequado dentre aqueles previstos no art. 7º da Lei nº 8.935/1994. Mes-mo vinculado ao princípio da legalidade, o tabelião tem ampla discricio-nariedade para a escolha da forma mais adequada (art. 6º, II) de instru-mentalizar o ato.

A escritura pública é o ato genérico do tabelião, destacando- se as procurações e os testamentos. A ata notarial é o ato-mestre de autentica-ção de fato17, subdividindo-se em reconhecimento de firmas, autentica-ções de documentos e descrição pormenorizada de quaisquer fatos.

Usualmente, os atos notariais são praticados sobre o papel. A lei não determina, porém, que assim seja; logo, entendemos possível ao notá-rio adotar o suporte eletrônico. Aliás, o Código de Processo Civil, desde 1973, em seus arts. 383 e 384, já previa a possibilidade de qualquer espé-cie de reprodução. A Lei Notarial e Registral, Lei nº 8.935/1994, permite a execução dos serviços previstos em lei, ou seja, os listados nos arts. 6º e 7º, em sistemas de computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de reprodução.

O CPC de 2015 prevê e recepciona a possibilidade dos processos judiciais correrem no suporte eletrônico, bem como os atos notariais e registrais18.

A permissão legal para atos notariais digitais é, aliás, bem anterior: prevista na lei notarial e registral, desde 1994, pode se escorar também na MP 2.200-02/2001, que institui no Brasil a assinatura digital.

17 O vocábulo autenticação é utilizado aqui no sentido de autorização legal, de instrumentação para a produção de fins na ordem jurídica, e não no sentido de atribuição da autoria de um documento.

18 Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico, na forma da lei.

Parágrafo único. O disposto nesta Seção aplica-se, no que for cabível, à prática de atos nota-riais e de registro.

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Em 2020, a pandemia do coronavírus forçou o Judiciário e os notá-rios a saírem da temero-letargia em que repousavam, alheios à sociedade imbricada nas plataformas eletrônicas em que vivem, e eles mesmos se entretêm. O CNJ editou o Provimento 100/202019, prevendo os atos notariais digitais e a forma como podem ser produzidos. As atas notariais e escrituras públicas digitais já são lavradas, são uma realidade que sobre-viverá ao vírus.

Isso representa um significativo avanço. Há poucos anos, o Conse-lho Nacional de Justiça, em ação correcional das atividades notariais no Espírito Santo, caracterizou as imagens constantes de atas notariais como “irregularidades técnicas”20.

O fato é que são lavradas, mensalmente, centenas de atas notariais contendo imagens em todo o país. Estas atas têm sido levadas à aprecia-ção jurisdicional e têm sido consagradas como um meio de prova legíti-mo por inúmeros juízes e tribunais.

Tanto é assim que, em decisões inteiramente opostas a esta do CNJ, ata de nossa autoria contendo imagens dos sítios eletrônicos verificados na Internet, foi considerada válida e plenamente eficaz pelo juiz que a apreciou judicialmente e, posteriormente, pelo juízo corregedor. Segundo este, “não obstante a lacuna legal e normativa, tenho que não há óbice

19 “Dispõe sobre a prática de atos notariais eletrônicos utilizando o sistema e-Notariado, cria a Matrícula Notarial Eletrônica-MNE e dá outras providências.”

20 “Não há como transformar o livro de notas num álbum fotográfico ou de imagens, que são meios de provas diversos, que não se inserem na atividade notarial. A competência dos notá-rios está inscrita no art. 6º, I, II e III, da Lei Federal 8.935 de 18 de novembro de 1994, que não contempla a reprodução de imagens para que sejam impressas nos livros de notas.” CNJ, Corregedoria, Auto Circunstanciado de Inspeção Preventiva, Justiça Estadual do Espírito Santo, Portaria nº 127, de 5 de junho de 2009. Na revisão do referido auto de inspeção, o CNJ reviu e entendeu pela possibilidade da impressão de imagens no livro notarial.

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5 A ATA NOTARIAL NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

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5A ATA NOTARIAL NO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL DE 2015

A ata notarial estava implicitamente regrada no art. 364 do Código de Processo Civil de 1973, o qual mencionava que “o documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença”. Já era possível solicitar a lavratura de ata notarial desde 1994, com a pro-mulgação da Lei Federal nº 8.935. Uma verdadeira desconhecida dos operadores do direito, inclusive dos próprios tabeliães. A partir daí obteve esparsas previsões em normas administrativas, mas FOI pouco utilizada e os tabeliães brasileiros não a prezavam.

A realização de concursos públicos, com a aprovação de novos tabeli-ães, tirou a ata notarial do esquecimento e impulsionaram o seu uso com o rigor técnico que o instrumento demanda.

Com a crescente utilização no Poder Judiciário, despertou a aten-ção de juristas e do Congresso Nacional. O doutrinador e processualista William Santos Ferreira esclarece que a redação originária do Projeto do Senado, continha um equívoco grave que era admitir a ata notarial para “fato considerado controvertido e que apresente relevância para alguém”

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o que poderia trazer uma série de problemas práticos graves, pois não cabe ao tabelião formular juízo de valor sobre a relevância ou não, ou se o fato é controvertido ou não. Do mesmo modo, não havia nenhu-ma previsão admitindo que fizesse parte da ata notarial dados de som e imagem mantidos por meio eletrônico, pelo que sugeriu na Câmara dos Deputados, a alteração de redação, bem como inclusão da possibilidade de documentação de som e imagem, o que foi acolhido.100

Com a promulgação do Código de Processo Civil de 2015, a ata no-tarial passou de prova atípica para o status de prova típica, umas das prin-cipais novidades em matéria de direito probatório no Brasil. Isso significa que a ata notarial entrou para o rol dos meios de provas tipificados no CPC.

O doutrinador Daniel Amorim Assumpção Neves aduz que, tratan-do-se a ata notarial de documento, este pode ser anexado ao processo judicial, fixando que a sua força probatória decorre da fé pública do tabe-lião, pela qual o juiz poderá presumir o fato ali descrito como verdadeiro. É espécie de prova pré-constituída, ou seja, criada fora do juízo, ainda que produzida já durante o trâmite processual, a interesse da parte. Tem natu-reza documental, mas seu conteúdo em si é eminentemente testemunhal, vez que o teor da ata será justamente as impressões sensoriais do tabelião a respeito do que ali presenciou101.

É de ressaltar que se trata de um testemunho qualificado e imparcial, o tabelião está a serviço da verdade e não da parte que solicitou seus servi-ços. Isso decorre do múnus público e da fé notarial, bem como da diretriz

100 FERREIRA, William Santos. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. Ata nota-rial. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

101 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil - Vol. único. 8 ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016.

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imposta pelo CPC102. Este é o ensinamento de Humberto Theodoro Jú-nior: a ata notarial por ser dotada de fé pública, goza de presunção de veracidade juris tantum, ou seja, não aceita prova em contrário e o notário não é testemunha, mas, sim, um documentador público.103

Assumpção Neves menciona ainda que a capacidade [do tabelião] de atestar a existência ou o modo de ser do fato deve considerar todos os sentidos humanos, e não somente a visão. Dessa forma, a descrição pode se referir a eventual barulho ou som (audição), odores e cheiros (olfato), gosto (paladar), e textura ou formato (tato). É prova cabível, portanto, para atestar música alta, cheiro forte, comida ruim, superfície lisa etc.104

Fredie Didier Jr. ressalta que a ata notarial é um excelente meio para documentar fatos, mas isso, contudo, não exime o juiz de dar-lhe o va-lor que ela merece. Deve-se então, nos casos concretos, permitir à parte contrária as impugnações que lhe são de direito, garantia que é indiscuti-velmente reservada pelos princípios do contraditório e da ampla defesa105.

As atas notariais, como as demais provas juntadas no processo, se submetem ao contraditório e a ampla defesa. Nenhuma prova, por mais especial que seja, está imune.

Para o professor Luiz Guilherme Marinoni, a ata notarial é o instru-mento público por meio do qual o notário certifica – por meio da sua

102 CPC, art. 378. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade.

103 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Teoria geral do direi-to processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. v. I. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

104 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil - Lei 13.105/2015. 2.ª ed. rev. atual. e ampl., Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.

105 DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Teoria da Prova, Direito Probatório, Ações Probatórias, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Antecipação dos Efeitos da Tutela. 12 ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016.

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condição pública, e do decorrente dever de imparcialidade – a ocorrência de certo fato, por ele presenciado. Por óbvio, considerando que o notário atua aqui com imparcialidade, na função de mero “certificador” da ocor-rência do fato por ele verificado, é vedado a ele a emissão de qualquer juízo de valor sobre aquilo que atesta, bem como atestar fatos ‘supostos’ ou por ele não pessoalmente presenciados. Pela mesma razão, não se ad-mite que, por meio da ata notarial, possa o notário emitir juízos técnicos ou científicos a respeito do que presenciou. Esse papel, como é evidente, é reservado à prova pericial, e não pode ser assumido por alguém que, a par de não poder emitir juízos sobre fatos, não tem a capacidade técnica necessária para a adequada valoração do ocorrido106.

De fato, o tabelião não pode emitir juízo subjetivo sobre os fatos constatados. Quando o fato escapa da compreensão do homem médio, o tabelião deve sugerir a presença de um especialista.

Marcus Vinícius Rios Gonçalves leciona que a ata notarial é uma modalidade de prova extrajudicial, uma vez que não é produzida em juí-zo. Porém, por gozar de fé pública, presume-se a veracidade daquilo que o tabelião, por meio dos sentidos, constatou a respeito da existência e do modo de existir dos fatos.107

5.1. O DOCUMENTO NOTARIAL COMO MEIO DE PROVA

Prova é a representação de um fato e, por consequência, a demonstra-ção da realidade (ou irrealidade) dele mesmo. Se o fato não se prova pelos modos previstos na lei, é como se não existisse108.

106 MARINONI, Luiz Guilherme et al. O novo processo civil. 2.ª ed. rev., atual. e ampl., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

107 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo curso de direito processual civil, volume 2: pro-cesso de conhecimento (2.ª parte) e procedimentos especiais. 13.ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2017.

108 MESSINEO, Francesco. Manual de derecho civil y comercial: tomo II, doctrinas generales. Buenos Aires: Ediciones Juridicas Europa – America, 1979, p. 506.

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Segundo João Batista Lopes, prova é a demonstração dos fatos, ou melhor, das alegações sobre fatos. Sob o aspecto objetivo, é o conjunto de meios produtores da certeza jurídica ou o conjunto de meios utilizados para demonstrar a existência de fatos relevantes para o processo. Sob o aspecto subjetivo, é a convicção que se forma no espírito do julgador a respeito das alegações presentes no processo109.

O estudo da prova na doutrina pátria é muito breve e reticente no que diz respeito à distinção dos efeitos probatórios existente entre os do-cumentos públicos e os particulares.

Essa distinção pode ser, de fato, muito sutil, como veremos, e, por-tanto, nosso interesse em aprofundar o tema.

5.2. A PROVA NO DIREITO BRASILEIRO

Há ampla liberdade de provar no direito brasileiro, fundamento que decorre dos pilares do Estado de Direito: os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (Constituição Federal, art. 5º, incs. LIII a LV).

A Constituição Federal reflete em várias normas uma luta dialética da ampla liberdade de pensar e expressar versus a responsabilidade, o meio de provar os excessos e a resposta reparadora. No art. 5º, IV, por exemplo, é vedado o anonimato nas manifestações de pensamento, pois é assegu-rado também o direito de resposta e indenização proporcional ao dano (inciso V). O constituinte deseja facilitar a prova do agravado, impedindo o anonimato.

No inciso XII, outra amostra desta batalha dialética. É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das

109 LOPES, João Batista. A prova no direito processual civil. 3ª ed., revista, atualizada e ampliada. São Paulo: RT, 2007, p. 25-26.

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16 MINUTAS

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16MINUTAS

REQUERIMENTO PARA ATA NOTARIAL

REQUERIMENTO PARA LAVRATURA DE ATA NOTARIAL

Senhor tabelião,

Solicito a lavratura de ata notarial para a finalidade de _________________________________

Objeto – Fato a constatar: ( ) sem valor ( ) com valor: R$_____

Este requerimento fica arquivado em pasta própria neste Tabelionato.

Autorizo a cobrança dos emolumentos devidos e de eventuais servi-ços com terceiros.

São Paulo, ... de ... de ...

Assinatura – solicitante

REQUERIMENTO PARA CONFIDENCIALIDADE DE DADOS PESSOAIS

Senhor tabelião,

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ATA NOTARIAL – DOUTRINA, PRÁTICA E MEIO DE PROVA

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Solicito a lavratura de ata notarial para a finalidade de ___________________________________________________

Objeto – Fato a constatar: ________________________ Solicito confidencialidade a respeito de (p. ex. o endereço residencial) na ata no-tarial, por motivo de segurança pessoal.

Autorizo a cobrança dos emolumentos devidos e de eventuais servi-ços com terceiros.

São Paulo, ... de ... de ...

Assinatura – solicitante

MINUTAS DE ATAS NOTARIAIS

ATA DE DECLARAÇÃO (OU DE TESTEMUNHO)

ATA NOTARIAL

Objeto: Declaração

S A I B A M todos os que virem esta ata notarial que æData_lav1>, às (HORA, MINUTO E SEG), na cidade de (CIDADE), Estado de (ESTADO), República Federativa do Brasil, no XXº Tabelionato de Notas de XX, eu, (NOME DO ESCREVENTE), escrevente autorizado pelo tabelião, recebo a solicitação verbal de (QUALIFICAÇÃO DO SOLICITANTE). Reconheço a identidade do(a)(s) presente(s) e sua(s) capacidade(s) para o ato, dou fé. E, por ele(a)(s), sob responsabilidade civil e penal me é dito que deseja(m) fazer a seguinte declaração que passo a narrar: PRIMEIRO – (primeiro). SEGUNDO – (segundo). TERCEIRO – (terceiro). QUARTO – (quarto). Nada mais diz(em). Para constar, lavro a presente ata, para os efeitos dos arts. 405 e 374, inciso IV, do Código de Processo Civil, de acordo com a competência exclusiva que me conferem a Lei n° 8.935, de 18 de novembro de 1994, em seus incisos III dos arts. 6º e 7º e o art. 384 do Código de Processo

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17 CASOS VERÍDICOS – ATAS LAVRADAS EM DESTAQUE

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17CASOS VERÍDICOS – ATAS LAVRADAS

EM DESTAQUE

ATA DE POLUIÇÃO DE RIO

ATA NOTARIAL

SAIBAM todos os que virem esta ata notarial que no ano de dois mil (2000), aos dezoito (18) dias do mês de setembro, nesta cidade de São Paulo, capital do Estado, compareceu perante mim, tabelião, ELARA, brasileira, solteira, engenheira química, portadora da carteira de iden-tidade número 22.222.222 expedida pela SSP/SP, e do CIC número 333.333.333-33, domiciliada em São Paulo, na rua Nilo Peçanha, 00, que me solicitou que comparecesse na sede da Ela Indústria Metalúrgi-ca Ltda., CNPJ número 00.000.000/0001-00, na Av. Rotary, 0000, em Guarulhos, para verificar da coleta de uma amostra de um líquido efluen-te do processo industrial de galvanoplastia da referida indústria e sua en-trega para exame no Laboratório Bacana S/C Ltda., estabelecido nesta capital, na rua Aquinos, 000, o que fiz e ocorreu assim: I) Chegando no local da coleta, as dez (10) horas e quinze (15) minutos encontrei presen-tes a solicitante e funcionários da empresa, o técnico químico CHIRON, portador da carteira de identidade número 88.888.888-8 SSP-SP, com

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ATA NOTARIAL – DOUTRINA, PRÁTICA E MEIO DE PROVA

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identificação funcional do Laboratório L.A. Bacana. Logo após, chegou CRONUS, que se apresentou como engenheiro químico e membro do corpo de fiscais da CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do estado de São Paulo e que, a pedido meu, apresentou car-teira funcional com o número 1111- 1; II) Ato contínuo, o fiscal, o téc-nico do Laboratório e a solicitante, todos acima mencionados, passaram a coletar amostras dos líquidos efluentes no que, segundo a solicitante, é o reservatório final dos efluentes; III) O fiscal coletou o líquido transpa-rente de coloração levemente esverdeada colocando-o em um recipiente de vidro e em outros seis recipientes de plástico, fechando-os em seguida; IV) A seguir, passaram a fazer a coleta do mesmo líquido, o técnico-quí-mico do Laboratório Bacana S/C Ltda. e a solicitante: o primeiro coletou o líquido colocando-o em seis recipientes, três frascos de vidro e três de plástico, fechando-os à minha vista; a solicitante coletou o líquido e o armazenou-o em dois recipientes plásticos, fechando-os logo após. V) A seguir, o fiscal e a solicitante foram fazer a coleta dos efluentes em estado bruto, ou seja, sem tratamento para liberação dos resíduos tóxicos, o que não acompanhei; VI) Após, a pedido da solicitante acompanhei um exa-me preliminar, feito no local de coleta, para determinação da quantidade de cianeto no líquido recolhido. O exame foi feito em equipamento da marca Microquant 14798, cuja faixa de trabalho me foi informado ser de 0,03 (zero, zero três) a 5 (cinco) partículas por milhão (ppm). Realiza-do o procedimento, o equipamento indicou a quantia de zero partículas por milhão; VII) A seguir, a solicitante pediu-me que consignasse que as amostra por ela recolhidas seriam enviadas ao Laboratório da CETESB – Agência Ambiental de Taubaté, no Departamento de Análises Labora-toriais, para análise da presença dos seguintes elementos: cobre, cromo total, cromo hexavalente, cianeto, zinco e ferro. Este pedido de análise será feito pela empresa Cabana S/C Ltda., inscrita no CNPJ sob número 11.111.111/0001-11, com sede na rua Castro Lessa, 00, em Guarulhos, SP; VIII) Finalmente, acondicionados os recipientes coletados pelo téc-nico- químico em uma arca térmica, acompanhei seu transporte até o

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17 CASOS VERÍDICOS – ATAS LAVRADAS EM DESTAQUE

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laboratório da rua Aquinos, 000, nesta Capital, onde a solicitação de en-saios recebeu o número 77777. E, para que produza os necessários efeitos legais, lavrei a presente ata notarial, na forma da Lei nº 8.935/1994, art. 7°, inciso III, que lida à solicitante, aceitou-a, ratificou e assina. Dou fé dos fatos presenciados narrados e das identificações mencionadas.

ATA DE INTERNET

ATA NOTARIAL

Objeto: verificação de fatos na rede de comunicação de computado-res internet

S A I B A M todos os que virem esta ata notarial que aos oito dias do mês outubro do ano de dois mil e sete (08/10/2007), às 10h05min00seg, em São Paulo, SP, República Federativa do Brasil, no 26º Tabelionato de Notas de São Paulo, eu, Paulo Roberto Gaiger Ferreira, tabelião, recebo a solicitação de VALENTTINA, brasileira, solteira, advogada, portadora do documento identidade RG nº 2.222.222 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob nº 111.111.111- 11, domiciliado e residente nesta Capital do Estado de São Paulo, na Rua do Cursino, nº 00 – Bairro Jardim da Saúde (CEP 00.111-000). Reconheço a identidade da presente e sua capacidade para o ato, dou fé. Através da conexão telefônica ao provedor que atende este Tabelionato, acesso os sítios (páginas ou sites) da rede de comunicação INTERNET, a seguir mencionados e verifico o seguinte: PRIMEIRO – A partir das 10h12min08seg, a pedido da solicitante, acesso o endereço eletrônico www.26notas.com.br e, em seguida, e de forma automática, o provedor me remete para o endereço eletrônico https://www.26notas.com.br, no qual constato haver os textos e imagens a seguir impressos (correspondente à imagem nº 01 impressa nesta ata). SEGUNDO – Nada mais havendo, pede-me a solicitante para arquivar os arquivos ele-trônicos e imprimir as imagens da página acessada nesta ata notarial, o que faço, imprimindo-as em cores. Para constar, lavro a presente ata para os efeitos do art. 364 do Código de Processo Civil Brasileiro e de acordo

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ATA NOTARIAL – DOUTRINA, PRÁTICA E MEIO DE PROVA

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com a competência exclusiva que me confere a Lei nº 8.935/ 1994, em seus incisos III dos arts. 6º e 7º. Ao final, esta ata foi lida em voz alta, achada conforme e assinada pela solicitante e por mim. Escrita pelo tabe-lião PAULO ROBERTO GAIGER FERREIRA. Dou fé.

Imagem nº 01

ATA DE MENSAGEM ELETRÔNICA (E-MAIL)

ATA NOTARIAL

Objeto: verificação da existência de mensagem eletrônica (e-mail)

S A I B A M todos os que virem esta ata notarial que aos dez dias do mês de dezembro do ano de dois mil e sete (10/12/2007), em São Paulo, SP, República Federativa do Brasil, neste 26º Tabelionato de São Paulo, eu, Felipe Leonardo Rodrigues, escrevente autorizado pelo Tabelião, lavro a presente ata notarial em decorrência da solicitação de LOLA BANDIT MEL, brasileira, solteira, advogada, portadora do documento identidade RG nº 1.111.111 SSP/SP, inscrita no CPF/MF sob nº 222.222.222-22, domiciliada e residente nesta Capital do Estado de São Paulo, na Rua Riachuelo, nº 00 – Bairro Centro (CEP 00.0000-000). No dia sete do

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17 CASOS VERÍDICOS – ATAS LAVRADAS EM DESTAQUE

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mês de dezembro do ano de dois mil e sete (07/12/2007), pedira-me a solicitante para verificar e autenticar os seguintes fatos. Assim faço, com-parecendo em diligência à empresa denominada CINESA, situada nesta Capital, na Rua Riachuelo, nº 01 – Centro. Neste local, nesta data, entre às 09h05min (nove horas e cinco minutos) às 09h40min (nove horas e quarenta minutos), verifico e presencio o seguinte: PRIMEIRO – Ini-cialmente, a solicitante me pede esta ata para constatar a existência de uma mensagem eletrônica (e-mail) no computador de uso profissional de TÍCIO OLIVEIRA, portador do documento de identidade RG nº 33.333.333-3, inscrito no CPF/MF sob o nº 444.444.444.44, presente ao ato e cuja identidade e capacidade reconheço em vista do documen-to de identidade que me é apresentado. SEGUNDO – As 09h10min, me é apresentado um computador marca Dell Inc., modelo Optiplex – GX260, com número de série JHDVH45687DSFB. Neste computador, a pedido da solicitante, acesso o programa denominado “Outlook Ex-press”, cujo ícone de acesso está localizado na “Área de Trabalho”. TER-CEIRO – Aberto o aludido programa, constato haver no canto esquerdo um índice com diversas expressões que possibilitam o acesso a outros ar-quivos de mensagens. Dentre estas, a pedido da solicitante, clico e acesso a expressão “Caixa de entrada” e, em seguida, um arquivo se abre e nele constato haver diversas mensagens eletrônicas. Dentre estas, pede-me a solicitante para clicar e acessar a mensagem denominada nos campos: “De”, “Assunto” e Recebido”, respectivamente: “Felipe Leonardo Rodri-gues”, “modelo” e “7/12/2007 14:45”. Assim procedo, tendo o programa aberto a mensagem eletrônica, na qual constato haver os textos a seguir impressos (correspondente à imagem nº 01). QUARTO – Por derradeiro, pede-me a solicitante para clicar sobre a expressão “Arquivo” localizada na guia superior do programa “Outlook Express”. Assim faço e, em seguida, e de forma automática, abre-se um índice com dez expressões. Dentre es-tas, pede-me o solicitante para clicar na expressão “Propriedades”, tendo o programa aberto uma nova janela em formato reduzido. Nesta jane-la, a pedido da solicitante, clico sobre a aba denominada “De- talhes”,

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18 JURISPRUDÊNCIA SOBRE ATA NOTARIAL

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18JURISPRUDÊNCIA SOBRE ATA NOTARIAL

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ

STJ – SUSPENSÃO DE LIMINAR – PRESIDENTE DO STJ

Suspensão de Liminar e de Sentença nº 128 – RJ (2005/ 0075596-1)

Requerente: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – Previ

Advogado: Flávio Galdino

Requerido: Desembargador Federal Relator do Agravo de Instru-mento nº 200502010044250 do Tribunal Regional Federal da 2ª Região

Interes.: Fundação 14 De Previdência Privada Advogado: Marcelo Lavocat Galvão e Outro

Despacho. Vistos Etc. (...) A Lei nº 8.935/94, em seu artigo 7º, atri-bui competência aos Tabeliães de Notas para lavrar ata notarial, instru-mento por meio do qual o Tabelião, que tem fé pública, faz a narrativa dos fatos que presencia ou presenciou, vendo e ouvindo com seus pró-prios sentidos, sendo, portanto, documento que possui a mesma força

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ATA NOTARIAL – DOUTRINA, PRÁTICA E MEIO DE PROVA

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probante da escritura pública. (...) Brasília (DF), 19 de maio de 2005. Ministro Edson Vidigal, Presidente.

STJ – TERCEIRA TURMA – MEDIDA CAUTELAR

Medida Cautelar nº 6.162 – Pr (2003/0024264-4) Relator: Ministro Castro Filho

Requerente: Crossports Mercantile Inc Advogado: Flávio Luiz Yar-shell E Outros Requerido: Maria Paula Fratti

Decisão: (...) A propósito, em primeiro grau, ao indeferir a tutela pleiteada, consignou o dirigente do processo: “No caso em mesa, não há prova inequívoca. Pretende a autora a suspensão dos efeitos da ata no-tarial, porque, além de alegados vícios de forma, o conteúdo da ata não corresponderia aos fatos ocorridos na reunião.

São expressões da petição inicial: ‘verifica-se que a referida ata nota-rial foi lavrada em plena discordância à letra da lei, podendo em muito prejudicar a autora, pois a mesma, como se depreende do teor, acabou ad-quirindo a feição de confissão de dívida, o que de forma alguma poderia ter ocorrido’. Ou seja, o ponto fulcral da questão é a alegada inexatidão do teor da ata notarial com aquilo que foi dito na reunião.

Mas esta alegação está desprovida de comprovação nos autos, para efeitos de antecipação de tutela. Aliás, é ponto altamente controvertido, pois a contestação afirma que ‘a ata notarial foi minutada no curso da reunião, refletindo, com fidelidade, os pontos abordados pelas partes e as declarações feitas.

Ao final, a minuta foi lida aos presentes na própria reunião, sem im-pugnação, ficando a ré apenas de lavrar o instrumento definitivo em car-tório, submetendo-o às partes antes de fazer o registro’. Disso deflui que não há nos autos prova inequívoca de que o conteúdo da ata notarial está em desconformidade com o que ocorreu na reunião”. (f. 233, apenso).

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18 JURISPRUDÊNCIA SOBRE ATA NOTARIAL

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Por sua vez, consta do voto condutor do acórdão recorrido: “Primei-ramente, cumpre observar que decisão sobre a validade da ata notarial comporta exame aprofundado de mérito, com produção de prova relativa ao conteúdo e à forma da mesma, incluindo as circunstâncias em que se deu a referida reunião” (f. 333, apenso).

Como visto, rever os entendimentos dos atos decisórios implicaria reexame de provas, procedimento, no entanto, vedado a esta medida.

Brasília, 25 de fevereiro de 2003. Ministro Castro Filho, Relator

STJ – TERCEIRA TURMA – AGRAVO DE INSTRUMENTO

Agrg no agravo de instrumento nº 322381 – RS (2000/ 0073812-3)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi Agravante: Lauro Barrios de Araujo Procurador: Miguel Tostes de Alencar Agravado: Darcely Waldo Prade

Procurador: Gomercindo Lins Coitinho e Outro

Decisão: (...) O ora agravante ajuizou ação rescisória, fundamentada nos incisos VI e VII, do art. 485, do CPC, contra acórdão proferido pela e. 7ª Câmara Cível do extinto Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, nos autos dos embargos à execução que lhe foi movida pelo agravado. Alegou, em síntese, que o referido processo de execução fundou-se em notas promissórias com assinaturas falsificadas. Instruiu a demanda com uma escritura pública de ata notarial de confissão do falsificador das notas promissórias e com a retratação dos peritos oficiais, reconhecendo a inautenticidade das assinaturas. Alegou que a confissão constitui documento novo e sustentou ser falsa a perícia produzida quan-do dos embargos do devedor. (...)

(...) Interpõe o presente agravo com o fito de impugnar tal decisão. Em suas razões alega não se tratar de exame de questão federal diretamen-te relacionada à questão originária a apreciação quanto à ofensa ao art.