413
Athos Gusmão Carneiro Ministro do Superior Tribunal de Justiça, aposentado; ex-desembargador do TJRS;  pro fessor jub ila do de Direito Processual Civil d a Faculdade de D ireito da UFRGS; membro titular da Academia Brasileira de Letras Jurídicas, do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual, do Instituto Brasileiro de Direito Processual — IBDP, do Instituto dos Advogados-RS e da Associação Interna cional de Direito Processual; membro da Comissão de Reforma do CPC, mantida pelo IBDP; advogado. JURISDIÇÃO E COMPETENCIA A Exposição didática / Area do direito processual civil 17â E d iç ã o 2010 Editora Saraiwa

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Ruo Henrique Sdioum ann, 2 7 0 , Ce/queira César — Sõo Paufo — SP

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 AM AZ O N AS /R O N D Ô NI A /R OR AI M A/ A C RE

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8AHIA/SERGIPE

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f o n e : ( 7 1 ) 3 3 8 1 - 5 3 5 4 / 3 3 8 1 - 5 8 9 5

Fox; (71 ) 3381-095 9 - Soivodor

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Fone: (67) 3382-3682 - fox: (67) 338 2-0 112 -Co m po Gronde

MINAS G ERAIS

Ruo Além Puroíbo, 4 49 - lojoinha

Fone: (31) 3429-8300 - Fox: (31) 34 29-8 310-B e lo Horizonte

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Tfovesso Apinogés, 1 86 - Bofislo Cornpos

F o n e : ( 9 1 ) 3 2 2 2 - 9 0 3 4 / 3 2 2 4 - 9 0 3 8

F o x : ( 9 1 ) 3 2 4 1 - 0 4 9 9 - B e l é m

PARANÁ/SANTA CATARINA 

Ruo Conselheiro lourindo, 28 95 - Prodo VelhoFone/fox: (41 ) 3332-4894 - (uritibo

P E R M A M B U C O / P AR A Í B A /R . G . D O N O K T Í / A I A G O A S

Ruo Corredor do Bispo, 185 - 8oo Visto

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RIBEIRÃO PRETO {SÃO PAULO)

 Av. Francisco Junqueira, 12 55 - Centro

F on e : ( 1 6 ) 3 6 1 0 - 5 8 4 3 - F o x : ( 1 6 ) 3 6 1 0 - 8 2 8 4 - R ib ei rão P ret o

RIO DE JANEIRO/ESPÍRITO SANTO

Ruo \feconde de Santo Isabel, 11 3 o 11 9 - Wa Isabel

f o r o : ( 2 1 ) 2 5 7 7 - 9 4 9 4 ~ F o x : ( 2 1 ) 2 5 7 7 - 8 8 6 7 / 2 S 7 7 - 9 5 6 5

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RIO GRANDE DO SUL

 Av. A. J . Renner, 23 1 - Formpos

f o n e / fo x : ( 5 1) 3 3 7 1- 4 0 01 / 3 3 7 M 4 6 7 / 3 3 7 1 - 1 5 6 7

Porto Aiegre

SÃO PAULO

 Av. Marquês de Sõo Vicente, 16 9 7 ~ Borra Fundo

Fone: PA8X (1 1) 3613-3000 - Sõo Podo

I S B N 9 7 8 - 8 5 - 0 2 - 0 8 5 8 9 - 3

Dados Internacionais de Catalogação no Publicação {C1P)

(Câmara Brasileira do livro, SP, 8rosii)

Corneiro, Aíhos Gusm ão, 192 5- .

Jurisdição e competência : exposição didático : área do

direito processual civil / Athos Gusmão Carneiro. - 1 7 . ed.

São Paulo : Saraiva, 2010.

1 . Com petência (Direito judiciário) 2 .   Competência

. (Direito ) • Brosil 3 . Jurisdição 4 . Jurisdição - Brasil i. Título.

■ 0 9 -0 7 5 16 C D U -3 4 7.9 8 ( 8 1)

índices para catálogo sistemático:

1 . Bra s il : Co m pe tên c ia : Pro ce ss o c iv ii 3 4 7.9 8 ( 8 1 )

2 . Bro sil: Jurisprudência : Processo civil 3 4 7. 9 8 (8 1)

Dir eto r editoria l Antonio Luiz de Toledo Pinto 

Diretor de produção editorial Luiz M e r ío C m  

Edi tor Jônotas Junqueira de Mello 

 Assis tent e ed ito ria l Jhiog o M arcon de S o m  

Produçã o editoria l tigio Alves

Clarissa Bor nc ki Moria  

Prepa ração de originais Moria lúcio de Oliveira Soday

Mario Izabel Barreiros Bitencourt Bresson 

 Â rt e e di ag ra m aç ão Cristina Aparecido Ag ud o de Freitas  

Claudirene de Moura Santos 

Revisã o ds pro vas Rita de Cóssis Queiroz Gorgati 

M mie M a g o w o  

Serviços editoriais Cada Cristina Marques  

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Data de fechamento dà édição: 157ÍÒ-2009

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punido peto ortigo 184 do Código Penal.

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À memória dos meus pais, Manoel AlireBorges Carneiro e Ione Gusmão Carneiro, em pensamento sempre comigo.

À Glória, minha esposa, companheira detodos os momentos, com amor.

A memória do fraterno amigo, meu cunhadoAnthero do Amaral Simões.

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i l í  A

Apresentação da 17a ediçãoComo mencionado na apresentação da l~  edição, ao escrever esta

monografia tive em mente proporcionar aos alunos dos cursos jurídicos, e igualmente aos advogados militantes, uma exposição concisa, redigida de forma didática, a respeito dos institutos fundamentais da jurisdição e da competência, abordados sob o ângulo do direito processual civil.

Em face da boa acolhida que a obra mereceu, em edições posteriores tivemos oportunidade de ampliá-la, de reformular e apresentarconceitos com remissões ao magistério de juristas de nomeada e, por fim,de adaptá-la em virtude da Constituição de 1988 e das sucessivas leis dereforma do Código de Processo Civil.

Apresento agora, sempre pela Editora Saraiva, a 17â edição de  Jurisdição e competência, sob a experiência adquirida como integrante doSuperior Tribunal de Justiça, com a introdução de novos verbetes e notas

de rodapé, e remissão a numerosos arestos desse tribunal a respeito daaplicação das normas do Código de Processo Civil sobre competência.

 Na 9â edição os verbetes foram em parte reagrupados, surgindo maisdois capítulos. A partir da 12â edição, as remissões ao Código Civil jádizem respeito à Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Na 14â edição,as notas de rodapé foram renumeradas por Capítulos, e a obra revisada,inclusive tendo em vista a Emenda Constitucional n. 45/2004.

 Nesta 17â edição, a atualização abrangeu naturalmente as últimas leisde reforma do Código de Processo Civil e a nova lei sobre o mandado desegurança.

Tudo, como sempre, sob a censura dos doutos e confiante na benevolência dos leitores.

Porto Alegre, setembro de 2009.

 Athos Gusmão Carneiro

VII

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Abreviaturas e siglasac.  —  Acórdão

AC  —  Apelação CívelADC  —  Ação Declaratória de Constitucionalidade

ADIN  —  Ação Direta de InconstitucionalidadeAg.  —  Agravo

Ag. Inst.  —  Agravo de Instrumento

Ag. Reg.  —  Agravo Regimental AJURIS   —  Revista  AJURIS , da Associação dos Juizes do RioGrande do Sul

AP  —  Ação PenalAp.  —  ApelaçãoAR.  —  Ação Rescisória

art.(s) — artigo(s)CA  —  Conflito de atribuições

CADE — 

Conselho Administrativo de Defesa EconômicaCâm.  —  CâmaraCap.  —  Capítulo

CC  —  Código Civilc c  —  Conflito de Competênciac/c  _  combinado com

CDC  —  Código de Defesa do Consumidor CF  —  Constituição Federalcit  —  citado

CJ  —  Conflito de Jurisdição .CLT — Consolidação das Leis do Trabalho

COJE  — Código da Organização Judiciária do EstadoCol.  — Coleção ou Coletânea

CP  —  Código PenalCP C  —  Código de Processo CivilCPI  — Código da Propriedade Industrial

CPM  —  Código Penal Militar 

CPP  —  Código de Processo PenalCPPM  —  Código de Processo Penal Militar 

IX

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dec.  —  decisãoDec.  —  Decreto

Dec.-lei  —  Decreto-leiDes.  —  Desembargador 

desig. — designado Dialética  —   Revista Dialética de Direito Processual

DJe — Diário da Justiça eletrônicoDJU — Diário da Justiça da UniãoDO — Diário OficialEC „— Emenda Constitucionaled.  — edição

Em. — EmentárioEmb. Decl. — Embargos de DeclaraçãoEmb. Div. — Embargos de Divergência

EREsp — Embargos de Divergência no Recurso EspecialEMC — Estatuto da Mulher CasadaERE  —  Embargos em Recurso Extraordinário

FGTS — Fundo de Garantia do Tempo de ServiçoHC —  Habeas Corpusi. e. — isto é

 Inf. STJ  —  Informativo do STJ INSS — Instituto Nacional do Seguro Social

 j-  — julgado JTARS  —  Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul

LC — Lei Complementar LOMAN — Lei Orgânica da Magistratura Nacional

MC — Medida Cautelar  Magister   —   Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil

Med. Prov. —

Medida ProvisóriaMin.  —  MinistroMS — Mandado de Segurança

n. — número(s)OMC — Organização Mundial do Comércioorig. — original

P- —  páginaPEC — Proposta de Emenda ConstitucionalPet.  —  Petição

PGR  — Procuradoria Geral da República p. m. v.  —   por maioria de votos

X

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 RDA  —   Revista de Direito AdministrativoRE — Recurso Extraordinário

Rec.(s)  —  Recurso(s)Recl.  —  Reclamação

Ref. Adm. — 

Reforma AdministrativaReg.  —  Regimentorei.  —  relator 

Repr. — Representação RePro —  Revista de Processo (ed. Revista dos Tribunais)

REsp  —  Recurso Especialretif. — retificaçãorev. — revista

RF—

Revista ForenseRHC  _ Recurso de Habeas CorpusRJTJRS — Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do

Rio Grande do SulRMS  —  Recurso em Mandado de Segurança

RR  — Recurso de RevistaRSTJ — Revista do Superior Tribunal de Justiça

 RT   _  Revista dos Tribunais RTJ   —   Revista Trimestral de Jurisprudência  (STF)

s.  — seguinte(s)SE — Sentença Estrangeira

Síntese —  Revista Síntese de Direito Civil e Processual CivilSTF — Supremo Tribunal FederalSTJ — Superior Tribunal de Justiça

T.  —  TurmaTACSP  —  Tribunal de Alçada Civil de São Paulo (extinto)

TARS  —  Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul (extinto)

TFR   _ Tribunal Federal de Recursos (extinto)TJRJ — Tribunal de Justiça do Rio de JaneiroTJRS  —  Tribunal de Justiça do Rio Grande do SulTJSP  —  Tribunal de Justiça de São PauloTRF — Tribunal Regional Federal

v. — volumev.  _ vide

verb.  —  verbete

v. g-  —  verbi gratia (por exemplo)V . u .  —  voto unânime

XI

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s

índice geral Apresentação da 17~ ed ição .............. ................................................ VII

 Abreviaturas e s igla s ......................................................................... IX

PARTE I

DA JURISDIÇÃO

Capítulo I

 NOÇÕES GERAIS E CONCEITO DE JURISDIÇÃO

1. Noções gerais sobre a jurisd ição.............................................. 32. Conceitos de jurisdição............................................................. 53. Jurisdição e composição da lid e............................................... 6

Capítulo II

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAATIVIDADE JURIS DICIONAL

4. A jurisdição como “atividade provocada” e “atividade pública” 105. A jurisdição como “atividade substitutiva” ............................   136. A jurisdição como “atividade indeclinável”, a serexercida

 pelo “juiz natural” ...................................................................... 147. A coisa julgada como atributo específico da jurisdição..........  17

8. Jurisdições anômalas................................................................ 188.1. Processo de impeachment ................... .............................. 188.2. Tribunal de Contas........................................ ......... ..........   198.3. Tribunal Marítimo............................................................. 22

Capítulo III

DISTINÇÃO ENTRE O ATO JURISDICIONALE O ATO LEGISLATIVO

9. Legislação e jurisdição............................................................. 23

XIII

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10. Exercício de atividade “legislativa” pelo Poder Judiciário.Ações diretas de inconstitucionalidade e de constitucionalidade 24

11. Normas regimentais......................................................... ........   26

Capítulo IVDISTINÇÃO ENTRE O ATO JURISDICIONAL

E O ATO ADMINISTRATIVO

12. Administração e jurisdição .............................................. 2713. Esquema das distinções entre o ato jurisdicional e o ato admi

nistrativo 2814. A terzietà do juiz ............................................................. 29

Capítulo V

CLASSIFICAÇÕES DA JURISDIÇÃO

15. Unidade da jurisdição...................................................... 3116. Jurisdição penal e jurisdição civil............................................ 3117. Jurisdição comum e jurisdições especiais............................... 3218. Jurisdição federal...................................................................... 3219. Jurisdição trabalhista e jurisdição eleitoral.............................. 33

20. Jurisdição militar....................................................................... 3321. Jurisdição comum ou ordinária................................................ 3422. Jurisdições de primeira e segunda instâncias.................. 3423. Supremo Tribunal Federal e Tribunais superiores.........   3424. Conselho Nacional de Justiça, órgão de controle interno  do

Poder Judiciário ................................................................. 3725. Organograma geral do Poder Judiciário.........................   3926. Organograma do Poder Judiciário da União................... 40

27. Organograma do Poder Judiciário dos Estados-Membros.....   4128. Organograma do Superior Tribunal de Ju stiça .......................   42

Capítulo VI

CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

29. Unidade e dualidade de jurisdição..................................   4330. O Conselho de Estado, no Brasil Im pério............................... 44

31. O contencioso administrativo, no Brasil República................  4432. Decisões do CADE — Conselho Administrativo de Defesa

Econômica......................................................................... 45

XIV

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32-A. O art. 205 da Constituição Federal de 1969 ..........................   45

Capítulo VII

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

33. Jurisdição voluntária. Noções gerais ........................................ 4734. A administração de interesses privados por órgãos do poder 

 público.............. .......................... ................................................ 4835. Modalidades de intervenção estatal na administração dos inte

resses privados............................................................................ 4836. Razões da intervenção por intermédio do Poder Judiciário...  5037. Distinções entre jurisdição contenciosa e voluntária.............. 50

38. Classificação dos procedimentos de jurisdição voluntária....

  51

Capítulo VIII

LIMITES DA JURISDIÇÃO CIVIL

39. Limites espaciais da jurisdição brasileira ..............................   5340. Limites subjetivos da jurisdição brasileira .............................   54

Capítulo IX

DA ARBITRAGEM E DA SENTENÇA ESTRANGEIRA

41. Os “equivalentes jurisdicionais” .............................................. 5542. A arbitragem, natureza jurídica............................................... 5543. A arbitragem. Noções gerais ................................................... 5844. A sentença de tribunal estrangeiro e sua homologação.......... 6444-A. Convenções relativas à eficácia extraterritorial das Sentenças

e Laudos Arbitrais Estrangeiros.............................................. 68

PARTE II

DA COMPETÊNCIA

Capítulo X

 NOÇÕES INICIAIS

45. Conceito de competência.......................................................... 7346. Fontes das normas sobre competência....................................,.. 75

XV

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Capítulo XI

DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

47. Princípio da efetividade............................................................ 78

48. Competência internacional concorrente.......................... .......  8048-A. Lugar de assinatura do contrato e lei aplicável......................   8449. Competência exclusiva da Justiça brasileira...........................   8650. Limitações à imunidade de jurisdição dos Estados estrangeiros 8951. A representação em juízo do Estado estrangeiro....................  9552. Das cartas rogatórias e seu exequatur ...................................... 9652-A. Cartas rogatórias no âmbito do Mercosul............................... 97

Capítulo XII

DA “COMPETÊNCIA DE JURISDIÇÃO” E DA COMPETÊNCIATERRITORIAL OU DE FORO

53. Busca da “justiça” competente ................................................ 10054. Busca do foro competente....................................................... 101

Capítulo XIII

DA COMPETÊNCIA DE JUÍZO

55. Do juízo competente................................................................. 10256. Competência interna nos órgãos colegiados...........................  10456-A. Deslocamento da competência interna nos órgãos colegiados 105

Capítulo XIV

PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS 57. Regra da perpetuação da competência....................................  10758. Casos de desmembramento de comarcas................................  109

Capítulo XV

COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA

59. Da competência absoluta e da competência relativa..............   111

60. Primeiro esquema didático....................................................... 11161. Segundo esquema didático....................................................... 11362. Terceiro esquema didático........................................................ 114

XVI

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Capítulo XVI

MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA PORCONEXÃO, PREVENÇÃO E PRORROGAÇÃO.

FORO DE ELEIÇÃO

63. Competência pela conexão, pela prevenção e pela prorrogação 11563.1. Competência pela conexão e pela continência............. 11563.2. Competência pela prevenção......................................... 11763.3. Competência pela prorrogação..... ................................ 119

64. Foro de eleição e contratos de adesão......................................   12065. Contrato de adesão e possibilidade de o juiz declinar de ofí

cio de sua competência............................................................. 125

65-A. Nova redação dos arts. 112, 114 e 305 do CPC .....................   129

Capítulo XVII

OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DA COMPETÊNCIA

66. Competência ple na.................................................................... 13167. Competência privativa.............................................................. 13168. Competência comum. Competência exclusiva e competência

concorrente................................................................................. 13269. Competência originária e competência recursal.....................   13370. Classificação de Chiovenda...................................................... 133

Capítulo XVIII

REGRAS DE COMPETÊNCIA

71. Foro do domicílio do réu .......................................................... 135

72. Competência nos casos de Foros Regionais...........................   13673. Foro da situação da coisa (CPC, art. 9 5 ) .................   13874. Foro da situação da coisa e indisponíbilidade .........  13975. Foro da situação da coisa e disponibilidade ............   13976. Ações decorrentes de promessas de compra e venda de imóveis 14077. Imóvel situado em território de mais de uma comarca..........   14178. Causas em que for parte a União ou o Estado, e o forum rei

sitae.............................................................................................. 141

79. Inventário. Ações relativas à herança....................................... 14279-A. Inventário e partilha por escritura pública.............................   143

XVII

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80. Ações de separação judicial, de conversão em divórcio, dedivórcio direto, de anulação de casamento (CPC, art. 100,1) ede dissolução das uniões de fato.............................................. 14

80-A. Separação consensual e divórcio consensual por escritura pú

 blica ................................................................................... .....

  1481. Ação de alimentos (CPC, art. 100, II) .................................... 1482. Forum obligationis  (CPC, art. 100, IV, d ) .............................  1583. Forum commissi delicti (CPC, art. 100, V, a, e parágrafo único) 1584. Ainda a competência de foro .................................................. 15

84.1. Ação contra pessoa jurídica (CPC, art. 100, IV, a e b) . 1584.2. Ação contra o administrador ou gestor de negócios

alheios............................................................................ 1584.3. Ação contra pessoa declarada judicialmente ausente (CC,

art. 22; CPC, arts. 1.159 e s.).......................................   1584.4. Ação contra incapaz..................................................... 15

85. Mercosul. Acidentes de trânsito. Protocolo de São Luiz......   1586. Causas em que o Estado for parte, ou autarquia estadual.....   1587. Ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos. Ações

acessórias. Reconvenção. Ação declaratória incidental.........  1687-A. Insolvência civil....................................................................... 16088. Ações cautelares — art. 800 do CPC..................................... 16

89. Ação cautelar ajuizada pendente recurso...............................   1690. Cumprimento da sentença......................................................   1690-A. Ação de execução de título extrajudicial................................ 16891. Justificações judic ia is .............................................................. 1691-A. Pedidos de alvará. FGTS, PIS-PASEP.................................... 171

Capítulo XIX

REGRAS DE COMPETÊNCIA PREVISTAS

EM LEIS ESPECIAIS92. Ação de acidente do trabalho.................................................. 1793. Ação revisional de benefício previdenciário decorrente de aci

dente do trabalho...................................................................... 1794. Ações relativas à movimentação do Fundo de Garantia.......   1795. Ação de desapropriação........................................................... 1896. Ação de cobrança de duplicata............................................... 1896-A. Ações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente....   181

97. Ações de falência e recuperação judicial...............................   1898. Ação de execução fiscal........................................................... 1898-A. Execução fiscal e falência.......................................................   187

XVIII

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99. Competência para dirimir “questões agrárias” ...... .................   188100. Competência para as questões relativas à propriedade indus

trial............................................................................................... 189100-A. Ações relativas à representação comercial, à concessão de

venda de veículos e à corretagem de imóveis ..........................   189100-B. Ações de responsabilidade civil propostas por consumidor 192100-C. Ações cíveis contra estabelecimentos de ensino .................. 193101. Ação de usucapião especial e ação de usucapião....................   198102. Procedimentos de jurisdição voluntária...................................   199

Capítulo XX

COMPETÊNCIA NO MANDADO DE SEGURANÇA,

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, AÇÃO POR IMPROBIDADEADMINISTRATIVA E AÇÃO POPULAR 

103. Ação de mandado de segurança................................................ 202104. Mandado de segurança coletivo................................................ 208105. Mandado de segurança contra ato judicial. Ação rescisória.

Tribunal competente para julgá-los.......................................... 209105-A. Mandado de segurança e Juizados Especiais.......................   211106. Ação civil pública...................................................................... 215106-A. Ação civil pública. Projeto de lei de modificação................ 221106-B. Ação por improbidade administrativa................................... 224107. Ação popular............................................................................... 226

Capítulo XXI

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

108. Causas em que a União for parte .............................................. 229109. Observações sobre a competência da Justiça Federal.............. 230

110. Competência recursal. Súmula 55 do STJ.......................... .....  232111. Competência da Justiça Federal de primeira instância...... .  235111.1. Competência ratione personae e ratione materiae  .... 235111.2. Competência quando for parte instituição estatal de

 previdência social — INSS ..........................................   237111.3. “Outras causas” sob competência delegada da Justiça

estadual — CF, art. 109, § 3-, infine. Direitos de mineração. SFH. BNDES.....................................................   239

111.4. Ordem dos Advogados do Brasil — OAB................... 241

111.5. Competência nas causas relativas a interesses de servidores federais........................................... ..................   243

XIX

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111 -A. Afastamento do ente federal da relação processual............. 244112. Causas em que é parte autarquia federal ou empresa pública

federal. Intervenção em concurso de credores........... .............   245112-A. Causas em que é parte Conselho de fiscalização profissional 248

Capítulo XXII

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

113. Ampliação da competência da Justiça do Trabalho — limites.. 252113.1. Ações decorrentes de convenções ou acordos coleti

vos de trabalho............................................................... 258113.2. Servidores públicos celetistas....................................... 260

113.3. Lides envolvendo questões de direito civil. Ações por 1danos morais.................................................................. 262

113.4. Contribuições sociais e execução de oficio................. 266113.5. Justiça do Trabalho e meio ambiente laborai............   268113.6. Justiça do Trabalho e trabalhadores portuários.........   269113.7. Justiça do Trabalho e falência da empresa reclamada. 270113.8. Mandado de segurança na Justiça do Trabalho........... 273113.9. Justiça do Trabalho — EC n. 45/2004 — Regime de

transição......................................................................... 275114. Cumulação de pedidos sob diversidade de jurisdição............. 275

Capítulo XXIII

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA, DA PESSOA,DO VALOR E DA COMPLEXIDADE DA CAUSA

115. Competência em razão da matéria............................................ 277

116. Competência em razão da pessoa............................................. 278117. Competência em razão do valo r............................................... 280118. Competência dos Juizados Especiais........................................ 281

118.1. Juizados Especiais Cíveis Estaduais............................   281118.2. Juizados Especiais Cíveis Federais.............................   283

Capítulo XXIV

COMPETÊNCIA FUNCIONAL119. Competência em razão da função, no “plano horizontal” e no

“plano vertical” ......................................................................... 285

XX

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120. Competência para conhecimento dos embargos do devedor ede terceiro, na execução por carta.............................................   287

121. Limitações do juízo deprecado, em tema de exceção deincompetência de foro, e em questão de mérito ......................   290

122. A competência na via jurisdicional prevalece sobre a com petência em nível administrativo..............................................   291

Capítulo XXV

COMPETÊNCIA FUNCIONAL, PELA VINCULAÇÃODO JUIZ AO PROCESSO

123. Princípio da identidade física do juiz no CPC de 1939 ..........   293

124. Orientação pragmática do Código vigente ..............................   294125. Da competência, para proferir a sentença, do juiz transferidoapós concluir a instrução em audiência.................................... 295

126. Posição, a respeito, do Supremo Tribunal Federal..................  295127. Controvérsia no campo doutrinário...................... ...................   296128. Hipótese de remoção de vara dentro da mesma comarca.....   296129. Tendência sobre a exegese do art. 132 do Código de Pro

cesso Civil................................................................................... 297

130. Nova sistemática da Lei n. 8.637/93......................................... 298131. Nulidade da sentença dada por juiz “auxiliar”, não vinculado 301132. Casos de não ocorrência de vinculação...................................   301

Capítulo XXVI

; CONTROLE DA COMPETÊNCIA

133. Instrumentos processuais para o controle da competência __    303134. Exceção de incompetência......................................................... 304

135. Conflito de competência............................................................ 305136. Do não cabimento de conflito entre tribunais de hierarquia

diversa.......................................................................................... 307137. Incompetência do tribunal para apreciar decisão de juiz vin

culado a outro tribunal............................................................... 307138. Conflito de competência nos casos de processos conexos......   309139. Conflito de competência suscitado por juiz não vinculado ao

tribunal que julgou questão de incompetência..... ...................   310

140. Tribunal competente para o julgamento dos conflitos. Procedimento ....................................................................................... 311

XXI

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141. Conflito do qual participe Juizado Especial.............................   312142. Conflito interessando a Justiça do Trabalho.............................   315143. Alcance do art. 117 do Código de Processo Civil ...................  317

144. Conflito de atribuições............................................................... 318ANEXO IA Cidadania da parte como elemento de fixação da competência

(Estudo histórico).................................................................... 321

ANEXO IICompetência internacional concorrente. Artigo 88 do CPC e o foro

de eleição.................................................................................. 337

ANEXO IIISúmulas do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de

Justiça sobre competência....................................................... 355

ANEXOIV

Acórdãos do Superior Tribunal de Justiça sobre competência(Ementas)................................................................................. 371

 Bibliografia  ........................................................................................ 383

índice alfabético-remissivo  ............................................................... 391

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Parte I

DA JURISDIÇÃO

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NOÇÕES GERAIS E CONCEITO DE JURISDIÇÃO

Capítulo I

1. Noções gerais sobre a jurisdição

Ao direito subjetivo de “ação”, pelo qual alguém pede ao Estado quelhe faça justiça, corresponde a atividade estatal da “jurisdição”, pela qualo Estado cumpre o dever de, mediante um devido processo legal, administrar justiça aos que a solicitaram. A jurisdição é, com a administração e alegislação, forma de exercício da soberania estatal.

 Na lição de Seabra Fagundes, “o Estado, uma vez constituído, realiza os seus fins através de três funções em que se reparte a sua atividade:legislação, administração e jurisdição... O exercício dessas funções é dis

tribuído pelos órgãos denominados Poder Legislativo, Poder Executivo ePoder Judiciário. É de notar, porém, que cada um desses órgãos não exerce,de modo exclusivo, a função que nominalmente lhe corresponde, e sim temnela a sua competência principal ou predominante” (O controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, 2. ed., Konfino, 1950, p. 13-5).

Pode-se dizer que, sob certo aspecto, o juiz é a longa manus do legislador, pois transforma, pela jurisdição, em comando concreto entre as

 partes as normas gerais e abstratas da lei.

A jurisdição é função estatal — e assim bem ensina Moacyr AmaralSantos — desde o momento em que, proibida a defesa privada por com

 prometer a paz do grupo social, “se reconheceu que nenhum outro poderse encontra em melhores condições de dirimir os litígios do que o Estado,não só pela força de que dispõe, como por nele presumir-se interesse emassegurar a ordem jurídica estabelecida” (Primeiras linhas de direito processual civil, São Paulo, Saraiva, v. 1, n. 44)1.

1. Escreve Sergio Bermudes que “a etimologia do substantivo jurisdição — ju - rísdictio, em latim — já lhe revela o conteúdo. A palavra é formada pela aglutinaçãode duas outras: juris,  genitivo singular da 3â declinação, significando do direito,  e

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Galeno Lacerda, dizendo não endossar o erro de Binder — de que aactio seria um prius em relação ao jus, prossegue com a afirmação de que “adescoberta do direito nasce com o processo. Com efeito, só a análise da riqueza e complexidade dos casos individuais permitem à razão abstrair o

valor e a normatividade jurídica que lhes correspondem e, desse modo, atingir a formulação dos juízos universais de conduta, expressos nos textos delei. Eis por que a obra do juiz precede historicamente à do legislador, e eis arazão pela qual o direito nasce da jurisprudência, como fonte viva do primeiro contacto da razão com as espécies jurídicas. A história o comprova” (Processo e cultura, Tribuna da Magistratura, caderno de doutrina, abr. 1999).

A jurisdição, “como tantas outras instituições jurídicas, é produto daexperiência da humanidade, forjada através dos tempos” (Sergio Bermudes,

 Introdução ao processo civil, Forense, 4. ed., 2006, p. 29).Como função estatal, foi exercida pelos antigos reis de direito absolu

to, por si ou por intermédio de delegados. Entre certos povos primitivos,cabia à assembleia da tribo ou do clã, conforme “prática entre os germanos,ao que nos informam as narrações de Tácito, e entre os gregos dos temposhoméricos, ao que se diz na Odisséia” (Mário Guimarães, O juiz e a função 

 jurisdicional, Forense, 1958, n. 1). O pretor romano, concedendo as fórmulas, criou o ju s honorarium e lançou as bases do direito codificado. Na

Idade Média, a fragmentação do poder público entre os senhores feudaisimplicou a multiplicação das jurisdições baroniais e eclesiásticas, que seforam extinguindo na medida em que os reis logravam consolidar seu

 poderio e unificavam seus povos, criando os Estados. Nos Estados nacionais modernos, a jurisdição é uma das expressões

da soberania do Estado, e é exercida em nome do povo  (CF, art. le, parágrafo único).

Conforme Cândido Dinamarco, “modernamente sabe-se que a juris

dição não é um poder, no quadro de uma suposta pluralidade de poderesexercidos pelo Estado; é somente uma expressão do poder estatal, que porsua vez é uno e indivisível, definindo-se como capacidade de decidir  imperativamente e impor decisões” (Litisconsórcio, 5. ed., Malheiros Ed.,1997, p. 41, nota n. 3).

dictio, nominativo singular da mesma declinação, isto é, dicção, ou dição, ato de dizer;

de dicere, dizer. Nisso consiste a jurisdição na sua essência: dizer o direito, no sentidode identificar a norma de direito objetivo preexistente (ou de elaborá-la, se inexistente)e de fazê-la atuar numa determinada situação” (Introdução ao processo civil, Forense,1995, p. 19).

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Como concisamente expôs Mário Guimarães: “O poder de julgar pertence à Nação, que o exerce por meio de seus juizes. Chama-se a esse poder — jurisdição” (O juiz, cit., n. 23, p. 53).

2. Conceitos de jurisdiçãoPara Chiovenda, a jurisdição “consiste na atuação da lei mediante asubstituição da atividade alheia pela atividade de órgãos públicos, afirmando a existência de uma vontade da lei e colocando-a, posteriormente, em prática” (. Derecho procesal civil, México, Cardenas, 1989, v. 1,1.1, p. 369).Ou, ainda, é a “função do Estado que tem por escopo a atuação da vontadeconcreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos,da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar aexistência da vontade da lei, já no tomá-la, praticamente, efetiva” (. Instituições de direito processual civil,  ed. port., Saraiva, 1943, v. II, n. 137).

Segundo Camelutti, o processo é um meio de que o Estado se vale para a justa composição da lide, ou seja, a atividade jurisdicional visa àcomposição, nos termos da lei, do conflito de interesses submetido à suaapreciação. Já o conflito de interesses surge “entre dos intereses cuando lasituación favorable a la satisfacción de una necesidad excluye la situaciónfavorable a la satisfacción de una necesidad distinta” (Sistema de derecho 

 procesal civil, ed. esp., UTEHA, v. I, p. 16-17), configurando-se a lide

quando ocorre o confronto “entre intereses de dos personas distintas”. E,adiante, explicita: “llamo litigio al conflicto de intereses calificado por la

 pretensión de uno de los interesados y por la resistencia dei otro” (ob. cit., p. 44).

Todavia, no magistério de Galeno Lacerda, o conceito “camelutiano”de lide (conflito de interesses privados) necessita ser ampliado. Carnelut-ti terá esquecido “que há interesses relevantes pertencentes a outras esferasda ordem jurídica e que, assim, a lide nem sempre se manifesta em con

flitos apenas entre particulares. Considerando os valores antinômicos tutelados pelo direito, podem perfeitamente ocorrer, num processo, conflitos,quiçá mais relevantes, entre interesses públicos ou de ordem pública, cominexistência de conflito privado, sem que a atividade do juiz deixe de ser

 jurisdicional. ... (omissis)... Modificando o conceito de Camelutti impõe--se afirmar, portanto, que existe lide sempre que houver, também, conflitode interesses públicos ou particulares, a serem compostos pelo processo”(Teoria geral do processo, Forense, 2006, p. 67-8).

O conceito de lide aparece, hodiernamente, como “ideia inseparávelda jurisdição” (Araken de Assis,  Ações cumuladas, 4. ed., Revista dos

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Tribunais, 2002, n. 7.2, n. 7.4). Não terá sido diverso o pensamento deFrederico Marques: “A jurisdição pode ser definida como a função estatalde aplicar as normas da ordem jurídica em relação a uma pretensão. Nistoreside a essência e substância do poder jurisdicional” (Jurisdição volun

tária, 2. ed., Saraiva, 1959, p. 53).Como enfatizou Galeno Lacerda, quanto à importância do conflito de

interesses como causa do processo, “a Jurisdição, como atividade específica do Poder Judiciário, existe por causa do conflito e para solucioná-lo.Esta a finalidade indiscutível do Judiciário como poder autônomo do Estado” (Comentários ao CPC, 7. ed., Forense, 1998, v. VIII, t. 1, n. 6, p. 15).

3. Jurisdição e composição da lide

Assim, podemos conceituar a jurisdição como a atividade pela qual o Estado, com eficácia vinculativa plena, elimina a lide, declarando e/ou realizando o direito em concreto.

Galeno Lacerda considera atividade jurisdicional apenas a decisão das questões  (i. e., dos pontos controvertidos, de direito ou de fato) aolongo do processo. Ousando em parte divergir do eminente processualista,creio jurisdicionais todos os atos do juiz praticados em processo de jurisdição contenciosa, pois praticados com a finalidade de lograr, ao final, a

eliminação da lide pela aplicação do direito em concreto. No dizer de José Frederico Marques, “embora a declaração da voluntas 

legis seja o núcleo da jurisdição, ou o ato jurisdicional por excelência Jurisdicionais são, também, os demais atos que no processo o magistrado praticaem preparação à sentença” (Instituições de direito processual civil, 2. ed.,Forense, 1962, v. 1, n. 133). E reporta-se o mestre paulista aos ensinamentosde Davi Lascano (Jurisdicción y compeiencia, 1941) e de Manzini (Trattato di diritto processuale penale, v. 2, p. 19-20), para quem são jurisdicionais

não só os atos de decisão, como também os atos imprescindíveis ao exercício da jurisdição, tais como os de direção, coação e documentação.A atividade jurisdicional revela-se por decisão dotada de eficácia 

vinculativa plena,  porquanto a sentença de mérito faz “coisa julgada”entre as partes, i. e., a eficácia da sentença, ao conceder ou denegar à parte o bem da vida objeto do litígio, reveste-se do caráter de definitividade, vinculando as partes (e seus sucessores) para sempre2.

2. A coisa julgada  goza, inclusive, da tutela constitucional, e só pode ser desfeita por ação específica para tal fim, a “ação rescisória” (CF, art. 5fi, XXXVI; CPC,art. 485).

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A jurisdição dirige-se, essencialmente, à eliminação (ou composição)do conflito de interesses existente (ou virtual) entre as partes3. A lide éeliminada mediante a declaração e aplicação do direito incidente ao casoconcreto (processo de conhecimento), ou mediante a realização do direito 

(processo de execução). Não se questiona na atualidade, diga-se, a jurisdicionalidade da execução forçada, quer mediante processo de execução, quer através de atosde efetivação  realizados no próprio processo de cognição (José MiguelGarcia Medina, Execução civil,  Revista dos Tribunais, 2002, n. 2.1 et  

 passim).

O verdadeiro ato jurisdicional, ou processo jurisdicional, distingue-sedos atos dos demais órgãos do Estado, como veremos, pela finalidade de

eliminação de uma lide, conceituada a lide em sentido amplo, abrangentede conflitos de interesses tanto de ordem privada como de ordem pública,eliminação revestida de caráter definitivo (pelo menos definitivo no plano

 jurídico, embora nem sempre no plano dos fatos...)', além disso, qualifica--se a jurisdicionalidade pela atuação de um terceiro imparcial, dotado deinvestidura para tal ofício e responsável pela condução dos atos tendentesà composição do conflito e pela definição da vontade do Estado, paratanto aplicando a lei incidente (Araken de Assis, Cumulação de ações, 4. ed., Revista dos Tribunais, 2002, n. 7.5, p. 52-3).

Possível é, também, conceituar a jurisdição como o poder (e o dever) de declarar a lei que incidiu e aplicá-la, coativa e contenciosamente, aos casos concretos4.

Busquemos escandir tal definição.A mera declaração da lei, em si, não constitui atividade jurisdicional.

Diante de um determinado caso, o jurisconsulto oferece parecer, com suasconclusões sobre qual a lei incidente, mas tal parecer, por mais douto queseja, encerra apenas um juízo lógico; é mera opinião despida de impe-ratividade.

3. Segundo José Frederico Marques, a jurisdição pressupõe, sempre, “uma situação contenciosa anterior” e é exercida “pela aplicação do direito objetivo em relaçãoa uma pretensão” (. Instituições, cit., v. 1, n. 120).

4. A expressão “jurisdição” é vezes muitas empregada impropriamente.  Assimé que se fala em “jurisdição da lâ Delegacia de Polícia”; em “estrada sob a jurisdiçãodo DNER”; em escola “sob jurisdição da 1- Delegacia de Ensino”, e assim por diante.

 Não se cuida nestes casos, em absoluto, de “jurisdição”, mas sim de “atribuições” oude “âmbito de responsabilidade” do órgão administrativo.

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Também a aplicação da lei, por si, não é atividade jurisdicional. Alei é aplicada diutuma e normalmente pelos indivíduos a ela sujeitos: a“realização espontânea” do direito é a regra; a realização forçada, pelasvias judiciárias, é a exceção. As autoridades são adstritas a pautar sua

conduta pelas normas de direito, devendo agir cumprindo a lei. Mas aaplicação da lei, tanto pelas autoridades como pelos interessados, nãoassume caráter definitivo', àquele que alegar errônea aplicação da lei emseu prejuízo assiste o direito, constitucionalmente assegurado (CF, art. 52,XXXV), de obter o pronunciamento do Poder Judiciário sobre a matéria.

A cocitividade, em si, também não é específica ou privativa da jurisdição. A atividade administrativa do Estado, máxime no exercício do poder  de polícia, goza frequentemente do privilégio de execução de ofício (pri- 

vilège du préalable) e impõe-se de forma cogente.A contenciosidade  na declaração e aplicação da lei também pode

ocorrer na atividade administrativa. O Estado, v. g., ao punir seus servidores (mormente quando lhes aplica penas disciplinares graves), ou ao imporsanções fiscais aos contribuintes em mora, organiza processos (rectius, “procedimentos”) e assegura amplo direito de defesa, mas nem por isso aimposição de penas disciplinares, ou das sanções fiscais, adquire caráter

 jurisdicional.

A jurisdição é, referem Cintra, Grinover e Dinamarco, poder, função e atividade: como poder, manifesta o poder estatal, como capacidade dedecidir imperativamente e impor decisões; como função, expressa o encargo de promover a pacificação de conflitos interindividuais, mediante arealização do direito justo, através do processo; como atividade, é o com plexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a funçãocometida pela lei (Teoria geral do processo, 13. ed., Malheiros Ed., 1997,n. 60)s.

Ou, conforme Galeno Lacerda, “ Jurisdição é  o poder de declarar o direito, e de o aplicar em caso concreto, resolvendo de uma forma definitiva a lide ou qualquer questão de direito. É também poder de coerção com

5. A respeito do controle jurisdicional dos atos administrativos, interessantíssimoestudo de Eckart Hein, Presidente do Tribunal Federal Administrativo alemão (Leipzig

 — República Federal da Alemanha), onde refere que a moderna teoria alemã da dis-cricionariedade diferencia a discricionariedade em sentido estrito da chamada “liberdade de apreciação” (Revista CEJ , do Conselho da Justiça Federal — STJ, v. 27, dez.2004).

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a finalidade de executar uma sentença, depois de transitada em julgado. É poder, além disso, de o juiz investigar a matéria de fato, poder de documentação. Todos estes poderes estão ínsitos na jurisdição”6.

Por fim, vale mencionar a indelegabilidade  como característica da

 jurisdição,44exercida pelos juizes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece” (CPC, art. Ia).

Luiz Guilherme Marinoni, ao discorrer quanto à concepção contemporânea da jurisdição, parte da premissa de que a jurisdição “temo dever de prestar ao cidadão a tutela que decorre da sua posição jurídica”, aplicando a lei “na dimensão dos direitos fundamentais, fazendosempre o resgate dos valores substanciais neles contidos”, visão estaque, a seu ver, contém “um nítido plus em relação à teoria chiovendia-

na”, que via na jurisdição apenas “uma função voltada à tutela dos direitos subjetivos privados violados” (Teoria geral do processo, RT, 2006,n. 7.26, p. 136-8).

A exata definição do ato jurisdicional impõe, portanto, cotejar aatividade judiciária com a atividade legislativa e com a atividade administrativa, e examinar as características básicas da atividade jurisdicional.

6. Esta definição dada por Galeno Lacerda está em notas de aulas ministradasna Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul, em 1947/1948, e queafortunadamente tenho em meu poder.

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CARACTERÍSTICAS 

BÁSICAS DA ATIVIDADE JURISDICIONAL

Capítulo II

4. A jurisdição como “atividade provocada” e “atividade pública”A atividade jurisdicional é uma “atividade provocada”. Não há jurisdição sem ação.

Essa inércia inicial do Judiciário está no art. 2- do Código de Processo Civil: “ Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a 

 parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma le g a is E é reiteradano art. 262: “0  processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso ofic iar .

Os juizes não saem em busca das lides para resolvê-las, mas aguardamque os interessados, frustradas eventuais tratativas amigáveis, busquemespontaneamente a intervenção estatal, propondo a demanda.

Dois brocardos expressam a necessidade de um pedido, de uma demanda, para que o Estado preste tutela jurisdicional, e isso tanto em jurisdição contenciosa como na chamada jurisdição voluntária:

 Nemo judex sine actore — “ninguém é juiz sem autor”.

 Ne procedat judex ex officio — “não proceda o juiz de ofício”.

Para Calmon de Passos, o princípio da inércia do julgador é um princípio democrático fundamental: “Se o fundamental nas democraciasé que ao individuo tudo é permitido (princípio da liberdade) salvo o que alei proíbe ou impõe, a ele se deve deferir a decisão sobre seu interesse ounecessidade de valer-se do aparato judicial para solucionar os conflitos emque se envolver”. E esse princípio é tão fundamental que, para atender aos

interesses qualificados como indisponíveis, “foi instituído um órgão inde pendente e estranho ao Judiciário — o Ministério Público, ao qual se deferiu o poder de provocar a prestação da atividade jurisdicional” (estudo

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na coletânea Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais, Revista dos Tribunais, 2008, p. 220).

O princípio da inércia inicial do Judiciário impõe-se no direito brasileiro com raríssimas exceções1, e assim também nos demais países

“ocidentais”2e 3.A atividade jurisdicional é, outrossim, “atividade pública”, constituindo no sistema jurídico brasileiro monopólio do Poder Judiciário, sal-vante os restritíssimos casos de jurisdições anômalas.

Requisito formal da jurisdição é, pois, a existência e atuação de umórgão integrante do Poder Judiciário e dotado de garantias que asseguremsua imparcialidade465.

1. Exceções ao princípio da inércia inicial temos, no plano cível, o caso da declaração judicial de falência, embora o devedor haja pedido recuperação judicial (Leifalencial, arts. 61, § Ia, e 73), bem como a previsão de que o juiz inicie de ofício oinventário, no caso de omissão das pessoas legitimadas a requerê-lo (CPC, art. 989).

Cumpre acrescentar nova exceção, com base constitucional: compete à Justiçado Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195,1, a, e II,decorrentes das sentenças que proferir — EC n. 20/98 e EC n. 45/2004 — CF, art. 114,VIII. V., nesta obra, o verbete n. 113.4.

Lembremos, outrossim, a possibilidade de o juiz decretai- de ofício medidas

cautelares — CPC, art. 797. Não será demasia lembrai- igualmente os casos em que o juiz, no curso de processo contencioso, pode, de ofício, impor multa à parte a fim de assegurar o cumprimentode decisão que haja proferido. A respeito, Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, 10. ed., Revista dos Tribunais, v. 1, n. 52 e notas de rodapé n. 19 e 21.

2. Assim no Código de Processo Civil de Portugal, art. 3-: “O tribunal não poderesolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente citada para deduzir oposição”.

Também no Código de Processo Civil da Itália, art. 99: "Chi vuolefar valere un diritto in giudizio deveproporre domanda al giudice competente”.

Igualmente no novo Código de Processo Civil francês, art. I2: “Seules lesparties introduisent Vinstance, hors les cas ou la loi en dispose autrement”.3. Nos países do Leste europeu (antigamente de orientação marxista), igualmen

te vigorava o princípio da necessidade da demanda, ajuizada tanto pela parte interessada como, frequentemente, pelo agente do Ministério Público ou por substituto processual, admitidas algumas exceções em matéria de execução de sentença (Fundamentos dei derecho soviético, trad. esp., Academia de Ciências da URSS (Moscou), 1962,

 p. 594; Paolo Pecori, O novo Código de Processo Civil da República Socialista Federativa Soviética da Rússia,  Rivista di Diritto Processuale, v. 22, ano 67). O princípiode demanda foi mantido no novo CPC russo, editado em 2002 e em vigor a partir defevereiro de 2003 ( RePro , 121/159).

4. Na Idade Média o regime feudal propiciava as “jurisdições senhoriais”, àmargem dos Tribunais dos reis; e, mesmo em tempos mais recentes, em vários países

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Criado ao longo do tempo todo um aparelhamento estatal especializado na composição dos litígios, e posto amplamente à disposição das

 partes (CF, art. 52, XXXV: “A lei não excluirá da apreciação do PoderJudiciário lesão ou ameaça a direito”), é defeso hoje ao cidadão exercer a

autotutela, i. e., a defesa privada de seus interesses, sob pena inclusive deincorrer no delito do “exercício arbitrário das próprias razões”6. A jurisdição, monopólio do Poder Judiciário, é  exercida por juizes independentes,imparciais e desinteressados (v. o verbete n. 14).

A existência de órgãos da justiça administrativa  ou contencioso administrativo (Conselhos de Contribuintes, Tribunais de Recursos Fiscais)não implica ofensa ao monopólio exercido pelo Poder Judiciário. As de

cisões proferidas pelos colegiados administrativos não se revestem decaráter jurisdicional; portanto, não transitam materialmente em julgado,ficando sujeita a matéria ao rèexame dos Tribunais, a instância de quemdemonstre jurídico interesse7.

“ocidentais”, certas matérias eram submetidas à “justiça eclesiástica”, principalmenteem assuntos de família. Em países de religião muçulmana mantém-se, em maior ou

menor grau, a influência do Clero na administração da Justiça. Nos países antes sobregime socialista (de orientação marxista), determinadas lides não eram submetidasaos Tribunais ordinários, e sim a órgãos administrativos de arbitramento.

5. Lembramos, como reminiscência de forma consuetudinária de julgamento decontendas, o Tribunal de Águas de Valência (Espanha), surgido ainda nos tempos dadominação moura (em 1960 comemorou seu milenãrio). Composto por oito síndicosescolhidos pelas comunidades rurais (reunidos os “juizes” à frente da porta principalda Catedral de Valência), decide sob absoluta oralidade (salvo breve anotação escritada decisão) as lides entre lavradores, surgidas a respeito do uso das águas do rio Turia,água que “não é de uns nem de outros; é de todos”, como teria dito Jaime I, de Aragão,

o primeiro rei cristão de Valência. A sentença é irrecorrível, e a pena de multa fixadasob a eficaz cominação de privação do acesso à água a quem não a pague. Surgido decostume rústico, que atravessou os séculos, não constitui, segundo Othon Sidou, umórgão judiciário nem um “tribunal” administrativo, e igualmente não se apresenta comocorte arbitrai, mantendo caráter absolutamente singular (O milenário Tribunal das 

 Águas de Valência, Forense Universitária, 2001, p. 25 etpctssim).6. Art. 345 do Código Penal: “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer

 pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena — detenção...” .A lei permite, em alguns raros casos, a autotutela, como na hipótese do desfor- 

ço incontinenti para recuperação da posse  (CC, art. 1.210, § Ia).

7. A revisão dos atos administrativos pelo Poder Judiciário compreende os as pectos relativos à legalidade  do ato, não, salvo casos excepcionais, os relativos àsimples conveniência ou oportunidade (ou “mérito”) da medida tomada pela administração.

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5. A jurisdição como “atividade substitutiva”

A atividade jurisdicional, segundo Chio venda8 (em magistério que prossegue referendado por abalizada doutrina), seria de natureza substitutiva. Assim, se os que deveriam afirmar ou realizar determinada “vontade

concreta da lei” negam-se a fazê-lo ou permanecem omissos, a atividade jurisdicional (desde que, é evidente, seja ajuizada a correspondente demanda) fará realizar, em caráter substitutivo, o mandamento legal. O devedor deveria pagar suavdívida, e não o fez; o juiz, em execução, determinará a penhora de seus bens, a alienação de tais bens em hasta pública, ecom o preço será satisfeita a dívida. O contratante deveria cumprir determinada prestação em favor do outro contratante, mas permaneceu inadim

 plente; o juiz, substitutivamente, condenará o faltoso e assegurará ao de

mandante o recebimento da prestação devida.O Judiciário, pois, estaria agindo em lugar  do devedor, “em substituição ou sub-rogação da atividade de outros sujeitos” (Antonio Segni,Giurisdizione civile, in Nuovo Digesto Italiano).

 No magistério de Cândido Dinamarco, “a jurisdição é a atividade pública e exclusiva com a qual o Estado substitui a atividade das pessoasinteressadas e propicia a pacificação de pessoas ou grupos em conflito,mediante a atuação da vontade do direito em casos concretos. Ele o faz

revelando essa vontade concreta mediante uma declaração (processo deconhecimento), ou provendo com meios práticos os resultados por elaapontados (execução forçada). A jurisdição é, pois, manifestação do poder  estatal” (Fundamentos do processo civil moderno, 3. ed., Malheiros Ed.,2000, v. 1, n. 39, p. 115).

Conforme Arruda Alvim, “afigura-se-nos que a função jurisdicionalé de índole substitutiva” (. Manual, cit., 10. ed., 2006, n. 51, p. 172).

Chiovenda mesmo, no entanto, salienta que por vezes o processo, e

 portanto a atividade jurisdicional, é “fonte autônoma de bens ” 9, os quaisnão se podem conseguir a não ser no processo.  Assim, v. g., a certeza 

 jurídica  resultante da sentença é insubstituível: “nenhuma declaração extra judicial, por mais formal e solene, da parte do devedor” poderá eqüivaler,em seus efeitos, à certeza jurídica decorrente da sentença.

8. Chiovenda,  Instituições de direito processual civil, trad. port, São Paulo,

Saraiva, 1942, v. 2, n. 140.9. Chiovenda, Instituições,  cit., v. 1, n. 13.

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O caráter de substituição também inexiste nas ações “constitutivasnecessárias”, tendentes à obtenção de efeitos que só se podem produzir no

 processo, como a nulidade de casamento, separação pessoal dos cônjuges,nulidade de testamento10, e, ainda, nas ações de natureza estritamente

cautelar (v. Chiovenda, Instituições, cit., v. 1, n. 13).Galeno Lacerda rejeita enfaticamente a proposição de que a essênciada atividade jurisdicional consistiria em seu efeito substitutivo e secundário: essa tese absolutamente insatisfatória não só não explica a natureza jurisdicional dos processos mais relevantes, que tiverem por objetoconflitos sobre valores indisponíveis, cuja solução não se pode alcançar

 pela atividade direta das partes (processo penal, processo civil inquisi-tório — p. ex.: nulidade de casamento) senão que deixa in albis o porquê

da natureza jurisdicional das decisões sobre questão de processo, especialmente daquelas que dizem respeito à própria atividade do juiz, como asrelativas à competência e suspeição, onde jamais se poderá vislumbrarqualquer traço de ‘substitutividade’ a uma atuação originária, direta e

 própria das partes” (Comentários, cit., 7. ed., v. 8, t. 1, p. 17, n. 6).

O parâmetro da substitutividade é também insuficiente frente ã sentença de procedência da ação referida nos arts. 461 e 461-A do CPC.

Alude Humberto Theodoro Júnior a que não se deverá insistir numa

“secundariedade” da atividade jurisdicional, mesmo porque as modernastendências do processo se inclinam em afirmar relevantes escopos à Jurisdição, “na ordem política e social, a par da mera atuação da vontade concreta da lei”.

As finalidades do Judiciário, inclusive as que emanam das garantiasfundamentais constantes da Constituição, não se coadunam com o assertode ser a Jurisdição uma função “secundária” diante da norma geral e abstrata da lei (Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da 

 Arbitragem, Revista dos Tribunais, v. 14, p. 367).

6. A jurisdição como “atividade indeclinável”, a ser exercida pelo “juiz natural”

 A atividade jurisdicional ê “ indeclinável", e somente pode ser exercida, caso a caso,pelo “juiz natural”.

10. Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil17. ed., Forense,1998, v. 8, t. 1, n. 6, p. 14 e s.

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De conformidade com o princípio do ju iz natural, a demanda deveráser sempre formulada “perante um julgador cuja competência foi abstratamente fixada, em geral por regra legal prévia” (Aluisio Gonçalves deCastro Mendes, Competência cível da justiça federal, São Paulo, Saraiva,

1998, n. 2.3, p. 20).O princípio do juiz natural, segundo Nelson Nery Junior (com remis

são a Karl Schwab, Gomes Canotilho, Vital Moreira e Celso Bastos) consiste na exigência de determinabilidade, que é a prévia individualização dos

 juizes por meio de leis gerais; na garantia de justiça material, decorrente daindependência e imparcialidade dos juizes; no estabelecimento de critériosobjetivos para a. fixação da competência dos juizes e na exata observânciadas determinações referentes à divisão funcional interna. Resta vetada,

destarte, a designação, substituição ou convocação de juizes por parte doPoder Executivo ou do Poder Legislativo, tarefa reservada com exclusividade ao próprio Poder Judiciário, em seu autogovemo (RePro, 101:101).

Taxativamente proibidos que são, pela Lei Maior (art. 5-, XXXVII),os “juízos” e ‘Tribunais de exceção”, a jurisdição somente pode ser exercida por pessoa legalmente investida no poder de julgar, como integrantede algum dos órgãos do Poder Judiciário, previstos no art. 92 da Cons

tituição Federal: Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça,Tribunais Regionais Federais e Juizes Federais, Tribunais e Juizes doTrabalho, Tribunais e Juizes Eleitorais, Tribunais e Juizes Militares, Tri bunais e Juizes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Consideram-se tribunais de exceção aqueles criados ex post facto, instituídos ad hoc, fora dos quadros do Poder Judiciário e como que deencomenda, para favorecer ou para prejudicar a determinadas pessoas ouinteresses, para atuar em determinados casos, tudo acertado previamente,

a cujos juizes faltaria a presunção de independência e de imparcialidade; já o juiz natural é aquele previsto abstratamente, sob previsão constitucional(Nelson Nery Junior, O juiz natural no direito processual civil comunitárioeuropeu,  RePro,  707:103 e s.). A proibição dos tribunais de exceção àevidência não permite confundir “tribunal de exceção” com a “prerrogativa de foro” decoirente da natureza da causa ou em razão da função, comov. g. a prerrogativa constitucional do Senado para julgar o Presidente da

República era crime de responsabilidade (RePro, 707:104).Os juizes exercem jurisdição na medida de sua competência e me

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diante um contraditório regular,  obedecidos os ritos, formas e garantias previstos na lei processual11612.

A lei assegura, outrossim, a imparcialidade no exercício da jurisdição,quer atribuindo garantias aos magistrados (vitaliciedade, inamovibilidade,

irredutibilidade de vencimentos), quer estipulando as hipóteses em que o juiz, caso a caso, não deve julgar porque impedido ou suspeito (CPC, arts.134 a 137)13.

Sendo indeclinável a jurisdição, não poderá o juiz delegar suas atri buições ou eximir-se de julgar, salvante, como dito, os casos de incompetência, impedimento e suspeição. É a esse respeito expresso o art. 126 doCódigo de Processo Civil: “O juiz nao se exime de sentenciar ou despacharalegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á

aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”. Não assiste, pois, ao juiz ou ao órgão colegiado judicante “o direito

de duvidar” : ou aprecia o mérito, atingindo assim o processo sua finalidade precípua, ou extingue o processo sem julgamento de mérito, nos casosde invalidade do próprio processo ou de carência de ação\  mas, de qualquerforma, é obrigado a pronunciar-se.

Refere Frederico Marques que o judicium  é atividade absolutamente

obrigatória, “pois o não julgamento é a manifestação mais característicada denegação de justiça. A obrigação de julgar é inerente à função judiciária” (. Instituições,  cit-, v. 1, n. 134).

11. A sentença proferida por quem não for juiz (v. g., por juiz temporário cujo prazo de nomeação já se tenha esgotado, ou por juiz jã aposentado ou posto em disponibilidade) ou estiver suspenso do exercício da judicatura, é inexistente como ato jurídico processual.

12. A lei estadual pode criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça   Militar estadual, constituída em primeiro grau pelos Juizes de Direito e Conselhos deJustiça, e em segundo grau pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de JustiçaMilitar naqueles Estados em que o efetivo da polícia militar seja superior a vinte milintegrantes (CF, art. 125, § 32).

A Constituição igualmente prevê (art. 126) a designação, pelo Tribunal de Justiça de cada Estado, de juizes para dirimir conflitos fundiários, em varas especializadas“com competência exclusiva para questões agrárias”. V. o verbete n. 99.

13. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em AssembleiaGeral das Nações Unidas em 1948, art. 10, prescreve: “Toda pessoa tem direito, em

condições de plena igualdade, de ser ouvida publicamente e com justiça por um tribunal independente e imparcial, para a determinação de seus direitos e obrigações, ou para o exame de qualquer acusação contra ela em matéria penal”.

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Em contrapartida, o órgão jurisdicional de mais elevada hierarquianão pode instruir  o de menor hierarquia em como deverá uma causa ser

 julgada, nem pode avocar  a demanda14.

Os Tribunais, respeitada a “independência jurídica” dos juizes de

 primeira instância, podem todavia confirmar, modificar ou anular as sentenças, desde que procedam por via de recursos regularmente interpostos(regra do duplo grau de jurisdição).

A jurisdição abrange hodiernamente, quando menos nos países deestrutura jurídica consolidada, a totalidade dos feitos, afastadas as ju risdições baroniais (próprias aos regimes feudais), as jurisdições eclesiásticas, e bem assim afastada a interferência de jurisdições estrangeiras comrelação aos respectivos nacionais (como existiram em países sob o antigo

regime de protetorado, ou semelhantes).O princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional não comporta

exceções, e nem mesmo admite a exigência de prévio esgotamento docontencioso nas vias administrativas; neste ponto, contudo, a vigente LeiMagna abre uma (única) exceção — legítima porque prevista no própriotexto constitucional — no relativo à Justiça Desportiva. Assim, as açõesconcernentes à disciplina e às competições esportivas só podem ser levadasao Judiciário após se esgotarem, no prazo máximo de sessenta dias, asinstâncias da Justiça Desportiva (CF, art. 217, §§ 1Qe 22).

1. A coisa julgada como atributo específico da jurisdição

A autoridade de “coisa julgada material ” é atributo específico da jurisdição. Toda  sentença, findo o prazo para recurso, ou esgotados os

14. Quando se cuida de atividade administrativa, geralmente o superior hierárquico pode determinar a atividade e a conduta funcional do subordinado, e podeavocar  à sua decisão pessoal os expedientes que se encontrem com o subordinado.

Lembra Ruy Cime Lima, em sua obra clássica, que na estrutura hierárquica daadministração “encontram lugar os órgãos de manifestação da vontade estatal, multi plicados ao influxo da desconcentração administrativa. Nesta hipótese, a subordinaçãohierárquica, as mais das vezes, antes se estabelece entre os atos, do que entre os indivíduos: — o inferior delibera validamente; o superior, porém, poderá cassar-lhe adeliberação. (...) A devolução ao superior hierárquico do conhecimento do ato administrativo, praticado pelo subalterno, opera-se por intermédio do recurso hierárquico,

ou da avocação. Ao inverso do recurso hierárquico, que é iniciativa da parte ou dofuncionário subalterno, a avocação é   iniciativa do superior” (Princípios cie direito administrativo brasileiro, 2. ed., Ed. Livraria do Globo, 1939, § 17, p. 147 e 150).

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recursos interponíveis, faz coisa julgada “ fo rmal”, i. e., torna-se imodifi-cável, inimpugnável dentro do processo.

As sentenças de mérito  (com algumas exceções) adquirem, além

disso, também a autoridade de “coisa julgada m a te r ia l sua eficácia projeta-se fora do processo em que tal sentença foi proferida, tornando-seimutáveis os efeitos da sentença (segundo Liebman), ou imutável a declaração contida na sentença (Hellwig). Transitada uma sentença materialmente em julgado, não poderão mais as partes (ou seus sucessores) discutir ou reclamar, em processo posterior, quanto ao bem da vida que a sentença atribuiu, ou denegou, a qualquer delas. Esta é a “eficácia vinculativa plena  ” característica da atividade jurisdicional, e que só a atividade 

 jurisdicional produz .As decisões administrativas, mesmo as pronunciadas por autoridadeda mais alta hierarquia, não adquirem a imutabilidade decorrente da coisa

 julgada, pois a matéria, nos limites em que se alegue lesão a direito individual ou coletivo, pode ser objeto de reexame pelo Poder Judiciário, aoqual toca a última palavra15.

Todavia, se é verdade que só a atividade jurisdicional é capaz de produzir a eficácia vinculativa plena, tal princípio não nega caráter jurisdi

cional a atividades do juiz, como no processo de execução propriamentedito, ou no processo cautelar, que não conduzem a tal eficácia; aliás, a

 própria sentença que põe fim ao processo sem julgamento de mérito tam bém produz coisa julgada apenas formal.

8. Jurisdições anômalas

A Constituição admite dois casos de lijurisdição anômala”, exercida

 por órgãos alheios ao Poder Judiciário.

8.1. Processo de impeachment

O primeiro diz respeito aos processos de “impeachment”, pelo julgamento do Presidente da República e do Vice-Presidente e de ministrosde Estado nos crimes de responsabilidade, julgamento de competência

 privativa do Senado Federal, após haver a Câmara dos Deputados decla

15. A respeito, a clássica monografia de Seabra Fagundes, O controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, 2. ed., Konfino, 1950.

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rado a “admissibilidade” da acusação formulada contra tais autoridades.Igualmente cabe ao Senado “processar e julgar” os ministros do SupremoTribunal Federal, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geralda União nos crimes de responsabilidade (CF, arts. 51,1, e 52,1 e II)16.

A pena imponível, no entanto, limitar-se~ã à “perda do cargo” e ina- bilitação por oito anos para o exercício de função pública (cuida-se, pois,de processo com caráter dominantemente político), mas “sem prejuízo dasdemais sanções judiciais cabíveis” (CF, art. 52, parágrafo único).

Ensina Paulo Brossard de Souza Pinto que “ao processo político podesuceder, ou não, o processo criminal. Sucedendo, à condenação no juízo

 parlamentar não se segue, necessariamente, a condenação no juízo ordinário. No juízo político os fatos podem parecer bastantes para justificar oafastamento da autoridade a ele submetida. No juízo criminal, sob o im

 pério de critérios que não são em tudo iguais aos que vigoram no juízo parlamentar, os mesmos fatos podem ser insuficientes para a condenaçãoe a ação penal ser julgada improcedente” (O “impeachment ”, Globo, 1965,n. 51).

8.2. Tribunal de ContasEm segundo lugar, o Tribunal de Contas, órgão colegiado, “preposto

do Poder Legislativo, encarregado da fiscalização do orçamento” (JoséCretella Júnior,  Dicionário de direito administrativo, 3. ed., Forense, p.522), integrado, na esfera federal, por ministros que gozam das garantiase prerrogativas dos ministros do Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 73,§ 3e).

O Tribunal de Contas, no magistério de Hely Lopes Meirelles, “temuma posição singular na Administração brasileira, pois está instituídoconstitucionalmente como órgão auxiliar do Poder Legislativo (art. 71),mas desempenha atribuições jurisdicionais administrativas, relacionadas

com a fiscalização da execução orçamentária, com a aplicação dos dinhei-

16. Se no entanto a acusação for por crime comum, o Presidente ou o Vice-Presidente da República e os ministros de Estado, após a manifestação da Câmara dosDeputados, serão processados e julgados pelo Supremo Tribunal Federal; tambémserão processados e julgados pelo Alto Pretório os ministros do próprio SupremoTribunal, bem como os membros do Congresso Nacional e o Procurador-Geral daRepública (CF, art. 102,1, b), e ainda os membros dos Tribunais Superiores e do Tri

 bunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente(CF, art. 102,1, c).

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ros públicos, com a legalidade dos contratos, aposentadorias e pensões”(Direito administrativo brasileiro, 22. ed., Malheiros Ed.,. 22. ed., 1990,

 p. 663).

Cumpre melhor explicitar: as atribuições do Tribunal de Contas são

de natureza administrativa. Entretanto, quando “julga” as contas “dosadministradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores pú

 blicos”, tal julgamento impõe-se ao Poder Judiciário17no que concerne aoaspecto contábil, sobre a regularidade da própria conta; o julgado do Tri

 bunal de Contas constitui prejudicial no juízo penal, como apuração, daqual o juiz não se pode afastar, de elemento de fato necessário à tipicidadedo crime (José Cretella Júnior, Tribunal de Contas, Dicionário, cit.; SeabraFagundes, O controle, cit., n. 62).

Da mesma forma, tal julgado  impõe-se na ação de ressarcimento promovida contra o responsável pelo alcance18.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua l â Turma, julgou que o PoderJudiciário não detém competência para rever as decisões do Tribunal deContas dos Municípios (Estado de Goiás), no concernente a exame de contas, não competindo ao STJ analisar a motivação da imputação dodébito e a ilegitimidade da Resolução de Câmara de Vereadores, que autorizou pagamentos a maior realizados pelo Presidente da Câmara aos edis(RMS 12.487-GO, rei. Min. Francisco Falcão, ac. de 22-5-2001,  RSTJ ,759:116).

Em ação civil por ato de improbidade, a 2~ Turma do STJ considerou,todavia, possível ao Poder Judiciário o reexame, sob a ótica da legalidade,das contas do Poder Público embora já aprovadas pelo Tribunal de Contas:

“As contas do poder público e os contratos administrativos são examinados pelos Tribunais de Contas sob a ótica do acerto ou desacerto ad

ministrativo, por ser a Corte de Contas órgão integrante do Poder Legislativo, auxiliando-o no controle externo. O controle externo não exime o Poder Judiciário de examinar as contas e os contratos sob a ótica da legalidade” (REsp 593.522,2*Turma, rei. Min. Eliana Calmon, j. 27-11-2007).

17. Segundo Pontes de Miranda, “não havemos de interpretar que o Tribunal deContas julgue e outro juiz as rejulgue depois” (Comentários à Constituição de 1946 ,v. 2, p. 95).

18. Alcance — diferença para menos que, em tomada de contas, é apurada contra o funcionário responsável por dinheiros e valores públicos (v. José Jappur, O conceito de alcance, RDA, 114:518).

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Rodolfo de Camargo Mancuso, admitindo a inafastabilidade docontrole jurisdicional sobre as decisões dos Tribunais de Contas, todavia,afirma que a revisão judicial “não poderá implicar uma singela substituição dos critérios adotados pelo Juiz de contas por aqueles que acodem ao Juiz

togado” . Sustenta que, a se entender de outro modo, “ter-se-ia o Tribunalde Contas como instância inferior , ou de primeiro grau, em face do PoderJudiciário, o que, com certeza, não está na letra nem no espírito do textoconstitucional... (omissis)... a nosso ver, não imbricam, não se confundemnem se sobrepõem às funções do Poder Judiciário e dos Tribunais de Contas”. E traz à balha decisões do Supremo Tribunal Federal no sentido deque, no julgamento das contas de responsáveis por haveres públicos, acompetência é exclusiva dos Tribunais de Contas, “salvo nulidade por

irregularidade formal grave ou manifesta ilegalidade aparente” ( RTJ ,43:151). Assim também o Superior Tribunal de Justiça ( RSTJ , 30:379).

As observações do ilustre jurista estão em RT, 743:14-6  e tambémem Gênesis,  7:65, artigo de doutrina sob o título “Sobre a execução dasdecisões proferidas pelos Tribunais de Contas, especialmente a legitimação”.

De outra parte, decidiu a Corte Suprema, com remissão ao MS 23.665-DF (. DJU , 20 set. 2002), que o Tribunal de Contas não pode desconhecer  

a autoridade da coisa julgada: “se a decisão judicial se baseou em premissas errôneas, deve ser ela desconstituída por meio de ação rescisória,e não mediante deliberação do TCU” (STF, MS 23.758, rei. Min. MoreiraAlves, j. 27-3-2003,  Informativo do STF,  n. 302, mar. 2003); foi, assim,deferido mandado de segurança contra ato do TCU que determinara asuspensão do pagamento de vantagem pessoal de servidores públicos,concedida por decisão judicial transitada em julgado.

Quanto à capacidade judiciária  dos Tribunais de Contas, eles a

 possuem para estar em juízo na defesa de suas prerrogativas, bem como podem figurar no polo passivo de ação de mandado de segurança. Todavia, não são pessoas jurídicas e, portanto, não são titulares de direitos;integram a estrutura da União e dos Estados e, excepcionalmente, deMunicípios.

Assim, o Tribunal de Contas é  parte ilegítima para figurar como réuem ação que vise desconstituir ato de sua competência. Como foi dito emsede jurisprudencial, “não é jurídico, nem legal, cometer-se aos conselhosde contas a legitimidade para defender, em juízo, ativa ou passivamente,as suas decisões, mas as suas prerrogativas. (...) Órgãos da natureza dos

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Tribunais de Contas só podem residir em juízo (e consequentemente recorrer) nas lides internas, em confronto com outros órgãos ou com Poderes do Estado e no momento em que algum destes lhes retire prerrogativasou lhes afronte direitos que lhes são próprios, porque indesjungíveis de

seus fins constitucionais” (STJ, lâ Turma, REsp 121.053, rei. Min. Demó-crito Reinaldo, j . 18-9-1997).

A matéria relativa à legitimidade ad causam dos Tribunais de Contasencontra-se largamente exposta no REsp 504.920 ( STJ, Ia Turma, rei. Min.José Delgado, ac. 4-9-2003, RSTJ, 775:204), ao qual nos reportamos.

8.3. Tribunal Marítimo

O Tribunal Marítimo, conceituado como “órgão auxiliar do PoderJudiciário” e vinculado ao Ministério da Marinha, não interfere no mono

 pólio jurisdicional do Poder Judiciário. Suas decisões, relativas a responsabilidades técnicas por acidentes de navegação, constituem em juízoapenas elemento de prova, com presunção de certeza (Lei n. 2.180, de 5-2-1954, modificada pela Lei n. 5.056, de 29-6-1966; Dec. n. 72.169, de4-5-1973).

As decisões do Tribunal Marítimo, julgou a 3- Turma do Superior

Tribunal de Justiça, “podem ser revistas pelo Poder Judiciário; quandofundadas em perícia técnica, todavia, elas só não subsistirão se esta forcabalmente contrariada pela prova judicial” (REsp 38.082, ac. 20-5-1999,rei. Min. Ari Pargendler).

O Tribunal Marítimo tem a atribuição de registro da propriedademarítima, de direitos reais e de outros ônus que gravem embarcações

 brasileiras, sendo todavia isentas de registro as embarcações com arquea-dura bruta inferior a cem toneladas (REsp 864.409, 4a Turma, rei. Min.Luis Felipe Salomão, j. 23-6-2009).

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DISTINÇÃO ENTRE O ATO JURISDICIONAL E O ATO 

LEGISLATIVO

Capítulo III

9. Legislação e jurisd ição

A lei1, editando regras de conduta gerais e abstratas, busca a tutelados interesses coletivos; a sentença,  pela composição de determinada lidemediante a aplicação da lei, realiza uma tutela concreta e individualizada (salvo no caso das ações coletivas, nas quais a sentença, via de regra, farácoisa julgada erga omnes).

É possível dizer que, atualmente e falando de maneira geral, a legislação é um “prius”  em relação à jurisdição. José Frederico Marquesafirma, aliás, haver maior precisão em mencionar-se não a lei, mas o direito objetivo como sendo o prius da atividade jurisdicional2.

 Nem sempre assim foi. Eduardo Couture, o grande processualistauruguaio (Fundamentos do direito processual civil,  Saraiva, 1946, n. 19),escreveu que “o Poder Judiciário é historicamente anterior ao Legislativo”.E traz à colação a lição de De Page, de que, “em suas origens, o direitonão era senão processo. Este o dominava e o absorvia. Todos os autoresingleses reconhecem que foi do processo que surgiu a common law,  asubstantive law” (Fundamentos, cit., nota 51). Em Roma, ao conceder aactio, o pretor frequentemente criava a lei para o caso concreto; o direitoromano era mais um “sistema de ações” do que de direitos subjetivos.

1. Tratamos, aqui, das leis que o são não só em sentido formal como também em sentido material, e não das leis apenas formais; estas regem situações individuais e seconstituem, portanto, na realidade, em atos administrativos.

2. Direito objetivo é  o conjunto de normas de um ordenamento, vigente ou não, positivo ou natural, incluindo-se aqui normas legais, consuetudinárias, individuais egerais (v. Tércio Sampaio Ferraz Júnior, Direito objetivo, in Enciclopédia Saraiva do  Direito, v. 27).

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Mesmo hodiernamente, não é sem sentido sustentar a importância eo relevo da jurisprudência  (reiteração de sentenças num mesmo sentido)como fonte do direito3.

Enquanto a legislação é atividade constitutiva, no sentido da criação

de normas de conduta, a jurisdição assume uma posição preponderantemente de aplicação do direito preexistente, mesmo naqueles casos em que,

 por omissa a lei, cabe ao juiz encontrar e “revelar” as normas de conduta“latentes” na ordem jurídica, o que faz por intermédio da invocação aoscostumes, à analogia, aos princípios gerais de direito ou à equidade.

 No magistério de Humberto Theodoro Júnior, “o certo é que a funçãolegislativa, criando a lei, estabelece normas para o futuro, não se fundandosobre um juízo do ser , mas do dever ser. Já o órgão jurisdicional se ocupa

do que é, ou seja, do fa to   e de sua subsunção à lei” (. Revista de Direito  Bancário, cit., v. 14, p. 359).

10. Exercício de atividade “legislativa” pelo Poder Judiciário. Ações diretas de inconstitucionalidade e de constitucionali- dade

Em duas hipóteses, todavia, a Constituição Federal atribui ao PoderJudiciário, mais especificamente ao Supremo Tribunal Federal e aos Tri

 bunais de Justiça, o exercício, embora sob vestes jurisdicionais, de umaatividade de índole legislativa, porque não vinculada à aplicação do direito a um caso concreto.

Referimo-nos, em primeiro lugar, à ação direta de inconstitucionalidade. Mediante essa ação, instaurada por representação das altas autoridades e das entidades referidas no art. 103 da Constituição Federal, oSupremo Tribunal Federal pode declarar, em tese, a inconstitucionalidade

3. “Mesmo nos dias que correm, é um fato que o direito substantivo germina ese modifica nos interstícios do processo. As aparatosas — e tantas vezes pouco substanciais — reformas legislativas não conseguem obscurecer, a olhos mais atentos, alenta e silenciosa reconstrução do direito estabelecido, com o propósito de ajustá-lo àsnovas necessidades. Na maioria dos casos, impõe-se reconhecê-lo, a obra legislativaapenas se limita a recolher e a sistematizar esse direito segregado caso a caso, revelando-se com isto o poder publico um simples confiscador dos meios de direção socialcuja utilidade se patenteou na prática forense” (José Puig Brutau,  A jurisprudência 

como fonte do direito, trad. port. Lenine Nequete — Col. AJURIS, 5).Consultar, ainda, Miguel Reale, Lições preliminares de direito, 4. ed., São Pau

lo, Saraiva, p. 167-72.

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de lei ou de ato normativo federal ou estadual que julgar infringentes aos princípios da Constituição Federal (CF, art. 102» I, a), bastando tal declaração para, por si só, excluir a eficácia da lei ou ato normativo4.

A ação direta de inconstitucionalidade, relativamente a leis ou atos

normativos estaduais ou municipais apontados como contrários a princípiosda Constituição Estadual, depende de representação da pessoa ou órgãolegitimado de acordo com a lei local, e será julgada pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado (CF, art. 125, § 2S)S.

Em segundo lugar, a Emenda Constitucional n. 3, de 17 de março de1993, criou a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, para cujo ajuizamento são legitimadas as pessoas e entidades referidas no art. 103 da CF, e de competência do Supremo Tribunal

Federal. As decisões nessas ações produzirão “eficácia contra todos eefeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário eà administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual emunicipal” (art. 102, § 2~).

A Lei n. 9.868, de 10-11-1999, que “dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória deconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal”, estabelece emseu art. 28, parágrafo único, que “a declaração de constitucionalidade oude inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto,  têmeficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do PoderJudiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal”.

4.  Em conseqüência, ainda ao tempo de vigência da Constituição Federal de1969, havia resolvido o Supremo Tribunal Federal não ser necessária a comunicaçãoao Senado Federal, prevista no art. 42, VI, da Constituição revogada (v.  DJU, 16 maio

1977, p. 3123), nos casos de declaração de inconstitucionalidade de lei em tese.  Essacomunicação, para “suspensão da execução” da lei declarada inconstitucional, serianecessária apenas nas declarações de inconstitucionalidade in casu, i. e., as proferidascomo “prejudiciais” no julgamento de demanda chegada ao conhecimento do SupremoTribunal Federal. Tal orientação do Supremo Tribunal Federal foi mantida diante daatual Constituição da República.

5. OTJ pode exercer controle, mediante ação direta, quanto à (in)constituciona-lidade de lei estadual (ou municipal), arguida sob o fundamento de violação de normasda Constituição do Estado, ainda que tais normas sejam mera repetição de dispositivosda Constituição da República de obrigatória observância pelos Estados ( RTJ , 155/974;

RE 177.865; RTJ  163/836; Recl. 3.436, rei. Min. Celso de Mello,  DJU, l9 ago. 2005),admitindo-se em tais casos a subsequente interposição de recurso extraordinário aoSTF (RTJ, 177/1084, 183/936).

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Essa disposição de lei ordinária amplia o efeito erga omnes  que aConstituição já atribui às decisões definitivas de mérito do STF em açõesdeclaratórias de constitucionalidade (art. 102, § 2S) e, de certa forma,restabelece, se interpretada com largueza, a ação para interpretação de lei

federal pela Corte Suprema6.Como referiu o Min. Celso de Mello, a ação direta de inconstituciona

lidade não pode, outrossim, ser utilizada com o objetivo de transformar oSupremo Tribunal Federal, indevidamente, em legislador positivo, com o

 poder de inovar  o sistema normativo; assim, não é lícito pretender, em sedede controle normativo abstrato, que o STF possa, a partir da supressãoseletiva de fragmentos da lei, proceder à virtual criação de outra norma legal, substancialmente divorciada do conteúdo material que lhe deu o

 próprio legislador (ADI 1.063, Informativo do STF , n. 225, abril 2001).

11. Normas regimentais

Pode-se ainda lembrar que as Constituições, por vezes, têm atribuídoao Judiciário, excepcionalmente, atividade legislativa através de normasregimentais. Assim, ao tempo da Constituição Federal de 1969, o SupremoTribunal Federal podia estabelecer normas processuais em seu Regimento

Interno (art. 119, § 3S, c).E antes da edição da Emenda Constitucional n. 7, de 13 de abril de1977, cabia aos Tribunais de Justiça editar, mediante Resoluções, os Códigos de Organização Judiciária.

De qualquer forma, atualmente as normas regimentais, dispondosobre a estrutura, a competência e o funcionamento dos tribunais, de seusórgãos diretores e dos colegiados judicantes que os integram (CF, art. 96,a), não apenas sistematizam a inserção e aplicação de regras constitucionais

e legais como, igualmente, integram tais regras e suprem lacunas normativas.

6. A Constituição Federal de 1988 não mais prevê a ação direta, por representação do Procurador-Geral da República, para interpretação, em tese, “de lei ou atonormativo federal”. A previsão a esse respeito foi cancelada quando da última revisãodo projeto constitucional. Na sistemática anterior, a decisão do Supremo Tribunal

Federal eqüivalia, em verdade, a uma “lei interpretativa”.Denominam-se leis interpretativas as que têm por objeto determinar, em casode dúvida, o sentido das leis existentes, sem introduzir disposições novas (EduardoEspínola, Tratado de direito civil brasileiro, Freitas Bastos, 1939, v. 2, n. 62).

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DISTINÇÃO ENTRE O ATO JURISDICIONAL E O ATO 

ADMINISTRATIVO

Capítulo IV

12. Administração e jurisdiçãoSe, em geral, é bastante precisa a distinção entre o ato jurisdicionale o ato legislativo, apresenta-se tarefa complexa a de buscar teoricamente,em linhas nítidas, os elementos que permitam discernir entre o ato jurisdicional e o ato administrativo. Em muitos países, inclusive, a doutrinadominante, negando ao Judiciário a qualificação de “Poder”1, é no sentidode considerar a jurisdição apenas como modalidade, embora bastante diferenciada, da administração, inexistente, assim, uma distinção essencial

entre o ato administrativo e o ato jurisdicional. No direito brasileiro, o Judiciário é um dos Poderes da União,  “independentes e harmônicos” entre si (CF, art. 22).

A distinção não será certamente encontrada pelo critério subjetivo ou orgânico (de quem praticou o ato), pois os juizes também praticam atosadministrativos, quer sob forma  processual, no exercício da chamada“jurisdição voluntária”, “graciosa” ou “administrativa”, quer praticandoos atos de autogoverno da magistratura e de administração dos serviços

 judiciários2.

1. A respeito do Judiciário como Poder autônomo, v. Mário Guimarães, O juiz e a função jurisdicional, Forense, 1958, Cap. III.

2. Assim, o presidente do Tribunal (ou o Conselho da Magistratura ou o Tribunal)atualmente pratica a totalidade dos atos administrativos referentes aos juizes e servidores do foro judicial (CF, art. 96 ,1 e II); o Conselho da Magistratura exerce atividadecensória; o Judiciário dispõe sobre a aplicação de suas verbas etc.

O Conselho Nacional de Justiça, instituído pela EC n. 45/2004, exerce ocontrole interno do Poder Judiciário, em nível administrativo — V.,  nesta obra, overbe te n. 24.

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A distinção deve, pois, ser buscada na conjugação de diversos critérios de ordem objetiva.

13. Esquema das distinções entre o ato jurisdicional e o ato ad

ministrativoApresentamos, assim, o seguinte esquema:

 Ato Jurisdicional 

A atividade jurisdicional dependede “iniciativa da parte interessada ”, mediante o ajuizamento da

“ação”  (ubi non est actio ibi non est jurisdictio).

 Ato Administrativo

A atividade administrativa podedispensar requerimento do interessado, agindo, portanto, “de ofício ”.

 A “aplicação da lei ” a uma pretensão é o “objetivo”, em si mesmo,da atividade jurisdicional; é a razão de ser  da jurisdição3.

A administração, conquanto devaagir em conformidade com a lei,aplicando a lei, tem por “objetivo ”a promoção do “bem comum”.

 A  atividade jurisdicional pressupõecomo causa um litígio, uma “lide ”(ainda que virtual), para cuja eliminação é aplicada a lei.

A atividade administrativa visa satisfazer necessidades individuais ecoletivas, não tendo por pressuposto a existência de uma lide entre 

 partes.

 A  atividade jurisdicional reveste-se A atividade administrativa é “ativi- (segundo Chiovenda) normalmente dade primária” ou originária,do caráter de atividade de “substituição

3. Considera José Frederico Marques que a jurisdição “pode ser definida comoa função estatal de aplicar as normas da ordem jurídica em relação a uma pretensão”{Jurisdição voluntária, 2. ed., Saraiva, 1959, p. 53).

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A jurisdição atua sempre “processualmente ”, sob as regras da dualidade de partes e do contraditório, 

 para apreciar conflitos “alheios” (o

 juiz julga in re aliena).

O ato jurisdicional de composiçãoda lide (sentença de mérito) adquire a “autoridade de coisa julgada”,ou seja» seus efeitos tornam-se imu

táveis.

A administração geralmente ageinformalmente, embora deva comfrequência organizar procedimentos, com ritos previstos em lei, para

 prover acerca de certos assuntos emque a própria administração é parteinteressada (prover in re sua).

As decisões administrativas podemapenas precluir  no âmbito da administração (não admitem recursoadministrativo), mas estão sujeitas,

sem exceção, quanto à sua legalidade, ao reexame pelo Judiciário.

Como já dissemos, a Jurisdição é Poder, é Função e é Atividade  (v.o verbete n. 3).

Como função, distingue-se da Administração — como bem acentuouRodolfo de Camargo Mancuso, principalmente porque, embora o admi

nistrador também aplique a norma de regência aos casos que lhe sãoatribuídos, suas decisões não se revestem de definitividade “seja porque pode a própria Administração rever de ofício os seus atos e condutas (Súmula 473 do STF: o privilège de préalable ou autotutela), como também

 porque esses procedimentos podem vir a ser contrastados judicialmente”(assim, em juízo é cassada a aposentadoria irregularmente concedida; éanulada a contratação direta, sem licitação) (Jurisdição coletiva e coisa 

 julgada, Revista dos Tribunais, 2007, p. 203).

14. A terzietà do juiz

Sustentou com razão Mauro Cappelletti4que a característica mais nítida do ato jurisdicional é  a “terzietà” do juiz, seu desinteresse pessoal na relação

 jurídica sobre a qual a sentença irá operar. O juiz é sempre um terceiro  nosentido de ser alheio ao litígio, de ser imparcial, e o comando da sentença é umimperativo ao qual as partes ficam sujeitas, é um comando superpartes.

 4. V. O controle de constitucionalidade das leis no sistema das funções estatais, Revista de Direito Processual Civil, São Paulo, Saraiva, 1962, v. 3, p. 37.

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Anota Cappelletti que o legislador também atua super partes; porémo traço distintivo, aqui, estará em que o legislador age de ofício, enquantoo juiz age condicionado pelo pedido da parte (nemo judex sine actore), edentro dos limites do pedido da parte ine judexjudicet ultrapetitapartium);

a sentença resulta de uma atividade de colaboração entre o juiz, sujeitoimparcial, e as partes, sujeitos parciais do processo.

Quando portanto é afirmado que o Estado-Juiz “exerce a jurisdiçãocomo um terceiro perante a relação jurídica litigiosa”, não se trata apenasde ressaltar o caráter de imparcialidade do magistrado, mas sim que é “o

 próprio órgão judiciário que se apresenta na posição de ‘terceiro’, com pletamente estranho à relação deduzida em juízo”, o que ocorre inclusivenos casos em que o Estado, como pessoa jurídica, esteja envolvido no li

tígio (Humberto Theodoro Júnior,  Revista de Direito Bancário, cit., p.365). Como refere Gian Franco Ricci, “la terzietà è qualcosa di piü, perchèè agire al di sopra di ogni interesse sia privato che pubblico (dei singolo odello Stato), dedotto in giudizio” (Principi di diritto processuale generale,Turim, 1985, n. 2, p. 7).

Também Arruda Al vim aponta como característica marcante da atividade jurisdicional a “terzietà” do juiz, “que tem de ser desinteressado dolitígio, conceito este universalmente aceito e tradicional, e há de ser ocu

 pante de órgão constitutivo do Poder Judiciário; daí, como conseqüência,afastar-se do processo o juiz impedido ou suspeito (art. 134 e ss-X pois oseu desinteresse (= imparcialidade) está comprometido” (Manual de direito processual civil, Revista dos Tribunais, 10. ed., n. 51, p. 172).

Assim, o ato jurisdicional retrata um imperium super partes, condicionado ao pedido da parte (pela “ação”), e tendo por pressuposto uma lide (lide de direito privado, de direito administrativo, de direito tributário, dedireito constitucional etc.).

 No magistério de Alfredo Rocco, a jurisdição apresenta as seguintesformas externas:

“a) um órgão adequado (o juiz), distinto dos órgãos que exercem asfunções de legislar e administrar, e colocado em posição de bastante inde

 pendência para exercer seu ofício serena e imparcialmente;

b)  um contraditório regular , que permita às partes propugnar porseus interesses, fazendo valer suas razões, a fim de que a autoridade judiciária tudo decida conforme o direito;

c)  um procedimento preestabelecido,  com formas predeterminadas para assegurar uma resolução justa do conflito” (La sentenza civile,  1906,apud José Frederico Marques, Instituições, cit., v. 1, p. 301).

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CLASSIFICAÇÕES DA JURISDIÇÃO

15. Unidade da jurisdição

Como função inerente à soberania do Estado, a jurisdição,  poder- 

-dever de administrar justiça, é una  e homogênea, “qualquer que seja anatureza jurídica do conflito que deva resolver” (José Frederico Marques,

 Instituições, cit., v. 1, n. 136) (v., nesta obra, o verbete n. 29).

Como bem refere Cândido Dinamarco, “sendo una como expressãodo poder estatal, que é também uno e não comporta divisões, a rigor a

 jurisdição não seria suscetível de classificação em espécies”. Todavia,acentua que as conhecidas classificações da jurisdição em espécies justi-ficam-se “pela utilidade didática de que são portadoras e por serem elementos úteis para o entendimento de uma série de problemas processuais,como competência, graus de jurisdição, poderes decisórios mais amplosdo juiz em certos casos, etc.” (Instituições de direito processual civil, Malheiros Ed., v. 1, 2001, n. 122).

16. Jurisdição penal e jurisdição civil

A diversidade das pretensões  postas em juízo e a heterogeneidade

das lides ocorrentes na vida social conduzem à “classificação” da jurisdição em:

Jurisdição penal — quando o titular da ação (Ministério Público ouo querelante) pretende a aplicação ao demandado de sançõesde natureza penal (finalidade “aflitiva”).

Jurisdição civil — é exercida em face de pretensões não penais, comfinalidade reparatória  (lato sensu) ou de resguardo do direito

violado ou ameaçado. Abrange todos os ramos não penais, incluindo as matérias de direito administrativo, comercial, tributário, agrário etc.

Capítulo V

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17. Jurisdição comum e jurisdições especiaisA multiplicidade e a diversidade dos conflitos sociais conduzem à '

conveniência de especialização de funções, criando-se, pois, ao lado da“jurisdição ordinária”, as “jurisdições especiais”. Em face do sistema vi

gente no Brasil, podemos assim esquematizar as várias “jurisdições”:

Comum ou ordinária

 jurisdição federal jurisdição trabalhista jurisdição eleitoral jurisdição militar 

 A competência das jurisdições especiais é definida expressa e taxativamente na Constituição Federal

A lei ordinária não poderá restringir, nem ampliar, tal competência.Os juizes que exercem as jurisdições especiais pertencem ao Poder Judiciário da União (excetuados os integrantes da Justiça Militar dos Estados),sendo, portanto, em sentido lato, “juizes federais”.

Cumpre reafirmar a antiga e autorizada lição de João Mendes ( Direi

to judiciário, p. 40) de que o Poder Judiciário, “delegado da soberanianacional”, não é nem federal nem estadual: “É eminentemente nacional,quer se manifestando na jurisdição federal, quer se manifestando nas jurisdições estaduais, quer se aplicando ao cível, quer se aplicando ao crime,quer decidindo em inferior, quer em superior instância”.

Aliás, a vigente Constituição Federal, mantendo esse posicionamento, no elenco dos órgãos do Poder Judiciário incluiu os “Tribunais e Juizesdos Estados” (art. 92, VII).

18. Jurisdição federalA jurisdição federal é exercida pelos juizes federais (stricto sensu),

tendo como órgãos de segunda instância os Tribunais Regionais Federais.Sua competência define-se, em quaisquer causas, pela presença da UniãoFederal, de suas autarquias ou empresas públicas (e também das “fundações” federais), como autoras, rés ou intervenientes (CF, art. 109, I), eainda, em alguns casos, pela natureza da lide.

Esta jurisdição abrange causas penais e cíveis, e pode excepcionalmente ser exercida, em primeira instância, por juizes estaduais, nas hipóteses previstas na Constituição Federal (art. 109, §§ 3- e 42).

Jurisdição —  Jurisdiçõesespeciais

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19. Jurisdição trabalhista e jurisdição eleitoral

A jurisdição trabalhista cabe processar e julgar as ações oriundas darelação de trabalho, ainda que nela seja parte ente da administração pú blica direta e indireta da União, Estados e Municípios, bem como todas

as demais causas elencadas no art. 114 da CF, e ainda “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei” (redação da ECn. 45, de 8-12-2004)1. Evidentemente, o maior volume de demandascompreende os dissídios individuais e coletivos entre empregados e em

 pregadores.

Esta jurisdição poderá ser, em caráter de exceção, exercida por juizesde direito, nas comarcas onde não houver Vara do Trabalho (CF, art. 112,com a redação dada pela EC n. 45, de 8-12-2004 (v. o verbete n. 113).

À jurisdição eleitoral cabem atribuições administrativas relativamente à organização e realização dos pleitos eleitorais, bem como o julgamento, em sede contenciosa, de lides cíveis e criminais previstas em lei com

 plementar (CF, art. 121).

20. Jurisdição militar

A competência da Justiça Militar federal permaneceu a mesma, li

mitada ao julgamento dos “crimes militares definidos em lei”, visto quenão alterado o texto do art. 124 da CF.

Todavia, no alusivo à Justiça Militar dos Estados, a EC n. 45/2004,modificando a redação do art. 125, § 4e, explicitou a competência do Tri bunal do Júri quando for civil a vítima do homicídio praticado por militar,e ainda (contrariando sistemática sempre observada) atribuiu à JustiçaMilitar estadual competência para o julgamento de causas de caráter não penal (!), pois aditou a expressão “e as ações judiciais contra atos disci plinares militares”. Assim, v. g., o mandado de segurança, ou a açãoanulatória visando anular, ou declarar a nulidade de ato punitivo disciplinar imposto ao militar estadual, passará a ser apreciado pelo órgão judiciário castrense designado na lei local.

1. As ações de acidentes do trabalho  permanecem na competência da Justiçacomum estadual — v., nesta obra, o verbete n. 92. Igualmente permanecem na com

 petência da Justiça comum as causas vinculadas à relação estatutária entre o PoderPúblico e seus servidores estatutários ou ocupantes de cargo de confiança.

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21. Jurisdição comum ou ordináriaPor exclusão, as demais causas são processadas e julgadas pela Jus

tiça comum ou Justiça ordinária, integrada não só pelos juizes componentes do Poder Judiciário dos Estados, como ainda pelos juizes “locais”

(vinculados embora à União) do Distrito Federal.

22. Jurisdições de primeira e segunda instânciasÉ ainda cabível falarmos em jurisdição de primeira instância e de se

gunda instância. A primeira é exercida pelos juizes vitalícios e pelos juizesdos “juizados especiais”, tanto togados como leigos (CF, art. 98,1). Peranteos juizes de primeira instância é ajuizada a quase totalidade das demandas.

A jurisdição de segunda instância é exercida na Justiça comum pelosTribunais de Justiça, com a faculdade de derrogação, mediante a interposiçãode recursos, das decisões e sentenças proferidas nos juízos inferiores; algumascausas, pela sua relevância, são de “competência originária” dos Tribunais.

 Nas jurisdições especializadas, os recursos ordinários são apreciados pelos Tribunais Regionais Federais, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, pelos Tribunais Regionais Eleitorais e pelo Superior Tribunal Militar.

O Tribunal Superior do Trabalho e o Tribunal Superior Eleitoral superpõem-

-se aos respectivos Tribunais Regionais e lhes uniformizam a jurisprudência.

23. Supremo Tribunal Federal e Tribunais superioresO Supremo Tribunal Federal, sobranceiro a todos os demais órgãos

 judiciários, exerce precipuamente a guarda da Constituição,  tendo paratanto como vias processuais:

a) de controle concentrado, a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual (CF, art. 102,1, a)2, com “efi

cácia contra todos e efeito vinculante” (art. 102, § 2a);

2. No julgamento da ADI 1.063-DF (Informativo do STF , n. 225, abr. 2001), deque foi relator o Min. Celso de Mello, consta da ementa interessante asserto, no sentido de que “a ação direta de inconstitucionalidade nâo pode ser utilizada com o ob

 jetivo de transformar o Supremo Tribunal Federal, indevidamente, em legislador positivo, eis que o poder de inovar o sistema normativo, em caráter inaugural, constituifunção típica da instituição parlamentar. Não se revela lícito pretender, em sede de

controle normativo abstrato, que o Supremo Tribunal Federal, a partir da supressãoseletiva de fragmentos do discurso normativo, inscrito no ato estatal impugnado, proceda à virtual criação de outra regra legal, substancialmente divorciada do conteúdomaterial que lhe deu o próprio legislador”.

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b) de controle concentrado, a ação declaratória de constitucionalidade  de lei ou ato normativo federal (CF, art. 102, I, a),  com “eficáciacontra todos e efeito vinculante”3.

c) de controle difuso, o recurso extraordinário  (CF, art. 102, III),cabível sempre que a decisão recorrida (mesmo as proferidas pelo cole-giado recursal dos Juizados Especiais) haja:

1) contrariado dispositivo da Constituição;2) declarado a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

3) julgado válida lei ou ato de governo local contestado em face daConstituição;

4) julgado válida lei local contestada em face de lei federal;

d)  da arguição de descumprimento de preceito fundamental decorrente da Constituição, nos termos da lei (CF, art. 102, § l2; Lei n. 9.882,de 3-12-1999);

e)  do mandado de injunção,  na ausência de elaboração de normaregulamentadora de determinada situação jurídica (CF, art. 102 ,1, q).

A Lei n. 9.868, de 10-11-1999, que “dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal” , tornou

explícito que a declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, e “inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal” (art. 28,

 parágrafo único).

O Supremo Tribunal Federal, em competência originária, julga osconflitos entre a União e os Estados, ou entre uns e outros, inclusive as

respectivas entidades da administração indireta — CF, art. 102,1,/.

3. O Supremo Tribunal Federal tem sustentado que, em não sendo função daCorte o decidir consultas, toma-se indispensável pressuposto ao ajuizamento da açãodeclaratória de constitucionalidade a comprovação liminar da ocorrência, em proporçõesrelevantes, de dissídio jurisprudencial, cuja existência implique verdadeiro estado deinsegurança jurídica, gerador de perplexidade social e de grave incerteza quanto àvalidade constitucional de determinada lei ou ato normativo federal, sob pena de in

viabilizar-se a própria instauração do controle normativo abstrato (ADC 8, dec. 4-8-1999do Min. Celso de Mello, DJU , 12 ago. 1999, p. 49-50, com amplas remissões de juris prudência e doutrina).

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Todavia, em causa cível originária tendo como autor o Banco deBrasília e réu o Estado de Santa Catarina, foi decidido que a jurisprudência do STF, a esse respeito, firmou-se no sentido de reconhecer que não équalquer causa que legitima a invocação dessa regra de competência, mas

exclusivamente aquelas controvérsias que possam provocar situações caracterizadoras de conflito federativo, criando situação capaz de introduzir “instabilidade no equilíbrio federativo ou que possa ocasionar aruptura da harmonia que deve prevalecer nas relações institucionais entreas pessoas estatais que integram o Estado Federal” ; e como a demanda nãose revelava apta a “comprometer os valores político-institucionais subjacentes ao pacto da Federação”, o relator, em decisão liminar, não conheceuda ação (ACO 597, rei. Min. Celso de Mello, dec. em 10-10-2000,  DJU, 

17 out. 2000, p. 3).A respeito, elucidativo estudo do Prof. Arruda Alvim, com análise da

mais recente jurisprudência do STF, publicado em Estudos de direito constitucional em homenagem à Prof Maria Garcia  (2. ed., IOB, 2008,

 p- 44). No plano da jurisdição civil, o STF julga, em recurso ordinário, o

mandado de segurança e o mandado de injunção, quando denegatória adecisão proferida, em única instância, por Tribunal Superior (CF, art. 102,

II).O Superio r Tribunal de Justiça , criado pela Constituição de 1988,

além de sua competência originária e em recurso ordinário, julga em “recurso especial” as causas decididas, em única ou última instância, pelosTribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do DistritoFederal, quando a decisão recorrida (CF, art. 105, III):

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) julgar válido ato de govemo local contestado em face de lei federal;c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuídooutro Tribunal.

Trata-se, portanto, de colégio judicante nacional, instituído com afinalidade precípua de aliviar a pletora de feitos que competiam, pelasConstituições anteriores, ao Supremo Tribunal Federal.

Todavia, do ponto de vista administrativo e censório, o SuperiorTribunal de Justiça é órgão federal, pois através do Conselho da Justiça

Federal exerce a supervisão correicional, administrativa e orçamentáriada Justiça Federal de primeiro e segundo graus (CF, art. 105, parágrafoúnico, II), com eficácia vinculante. A Lei n. 11.798/2008 veio a regula

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mentar os poderes correicionais do Conselho da Justiça Federal, com posto por cinco Ministros do STJ e pelos Presidentes dos cinco TribunaisRegionais Federais.

A competência do Tribunal Superior do Trabalho é a fixada em lei,

conforme prevê a CF, art. 111-A, § l2, como instância última, no plano infra-constitucional, de resolução dos dissídios relativos a relações cie trabalho.

Quanto ao Tribunal Superior Eleitoral, sua competência, bem comoa dos Tribunais Regionais Eleitorais, dos juizes de direito com jurisdiçãoeleitoral e das Juntas Eleitorais, será estabelecida em lei complementar(CF, art. 121, caput).

O Superior Tribunal Militar exerce função de segunda instânciarelativamente às auditorias do Exército, Marinha e Aeronáutica, cabendoà Justiça Militar “processar e julgar os crimes militares definidos em lei”(CF, art. 124 e parágrafo único). Excepcionalmente, no plano cível, julgamandados de segurança contra atos administrativos da própria Corte e deseu Presidente, como é mencionado no verbete n. 103.

24. Conselho Nacional de Justiça, órgão de  controle interno  do Poder Judiciário

Após longo debate, o Congresso Nacional incluiu no texto da Emenda Constitucional n. 45, de 8-12-2004 (art. 52), a instituição do Conselho Nacional de Justiça, como órgão de controle interno do Poder Judiciário.

A criação de um órgão de controle externo seria inconstitucional, comoalertaram magistrados e juristas. Todavia, inserido no rol dos órgãos doPoder Judiciário (CF, art 92, inciso I~A), o Conselho apresenta-se como

 órgão integrante do próprio Judiciário, a fim de exercer controle interno correicional, administrativo e financeiro. A circunstância de dele participa

rem minoritariamente pessoas alheias à magistratura não lhe retira o caráterde autocontrole do Judiciário. Aliás, lembremos do “quinto, constitucional”nos tribunais de segundo grau, da participação dos jurados leigos peranteos tribunais do júri, dos juizes “leigos” nos Juizados Especiais.

É composto por quinze Conselheiros, sendo nove magistrados (indicados pelo próprio Judiciário), dois membros do Ministério Público (indicados pelo Procurador-Geral da República), dois advogados (indicados

 pela Ordem dos Advogados do Brasil) e “dois cidadãos, de notável saber

 jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados eoutro pelo Senado Federal”, sendo todos os Conselheiros nomeados pelo

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Presidente da República após aprovação das escolhas pela maioria absoluta do Senado Federal. Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geralda República e o Presidente do Conselho Federal da OAB.

Dispõe o CNJ de amplos poderes de controle da atuação administra

tiva e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento pelos juizes de seusdeveres funcionais, cabendo-lhe inclusive apreciar a legalidade dos atos administrativos  praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário,“podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as

 providências necessárias ao exato cumprimento da lei”; conhecer de reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário e serviços au~xiliares, inclusive órgãos de registro e tabeliães, “sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais”, podendo avocar processos

disciplinares em curso e aplicar sanções administrativas (remoção, disponibilidade, aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais),“assegurada ampla defesa” ; rever processos disciplinares de juizes e mem

 bros de tribunais (CF, art. 103-B, § 4a).

Ficam, pois, excluídos do controle pelo CNJ os atos jurisdicionais  praticados pelos membros e órgãos do Poder Judiciário, assim mantida aindependência jurídica dos magistrados, como garantia inerente ao exer

cício livre e imparcial da Jurisdição.Embora as muitas críticas partidas de entidades de classe temerosasde quebra do princípio da independência do Poder Judiciário, a criação doCNJ realmente apresenta-se como imposição do superior interesse público, em face da necessidade de um órgão nacional  (imune a eventuais

 perniciosas influências locais) de uniformização e controle das atividadesadministrativas dos vários segmentos do Judiciário, em país com dimensõescontinentais e diversidades culturais e de estrutura econômica e social

como o Brasil.

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25, Organograma geral do Poder Judiciário

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26. Organograma do Poder Judiciário da União

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27. Organograma do Poder Judiciário dos Estados-Membros

CF, art. 98,1-

CF, art, 125,§§ 3S, 4- e 59

Obs.: 1. O numero de Desembargadores dos Tribunais de Justiça varia conforme a

legislação local.2. Existem Tribunais de Justiça Militar estaduais em São Paulo, Rio Grande do

Sul e Minas Gerais.

3. O “órgão especial”, com o mínimo de onze (11) e o máximo de vinte e cinco(25) membros, poderá ser criado somente nos Tribunais que contem mais de vinte ecinco (25) julgadores (CF, art. 93, XI).

4. Os antigos Tribunais de alçada foram extintos pela EC n. 45/2004, art. 4fi.

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28. Organograma do Superior Tribunal de Justiça

Obs.: A competência da Corte Especial, das Seções e das Turmas, raüone materiae, é  definida no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. O Tribunal Pleno só exerce funções administrativas. O Conselho da Justiça Federai exerce a supervisão administrativa eorçamentária da Justiça Federal de l2 e 2Õgraus, possuindo ainda “poderes correicionais”, com eficácia vinculante — CF, art. 105, parágrafo íínico, II.

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CONTENCIOSO

ADMINISTRATIVO

Capítulo VI

29. Unidade e dualidade de jurisdição

 Nos países que seguem o sistema da unidade da jurisdição  (sistema“inglês”, igualmente adotado em linhas gerais nos EUA, nos países latino--americanos e em países sob influência cultural britânica) impõe-se plenamente a regra do monopólio da jurisdição pelo Poder Judiciário.

 No sistema da dualidade da jurisdição (sistema “francês”), aqueleslitígios (geralmente os referentes a atividades de serviço público) em quefor parte a administração (ou suas autarquias) são apreciados não por órgãosdo Poder Judiciário, mas por “tribunais” integrados na estrutura do próprioPoder Executivo. E esses “tribunais” decidem com eficácia vinculativa 

 plena, i. e., suas decisões transitam materialmente em julgado, não podendo a questão ser reexaminada pelo Poder Judiciário. Tais “tribunais administrativos”, pois, “exercem jurisdição  É o contencioso administrativo 

 propriamente dito*.

 Na França, o “contencioso administrativo” tem como órgão de cúpula o Conselho de Estado; e, como órgãos de base, as cortes administrativasde apelação, criadas pela Lei de 31 de dezembro de 1987, e os “tribunaisadministrativos”. Seus “juizes”, mercê do prestígio granjeado pelo altonível das decisões proferidas, adquiriram virtual independência e constituem, realmente, um “segundo” Poder Judiciário, embora entrosado orga-

1. Conforme Athos G. Tsoutsos, na França os tribunais administrativos foramcriados ante o temor de intervenção-do Judiciário na obra da Administração, “à caused’une mauvaise expérience du passé, spécialement de Factivité abusive des Parlementsà Pancien régime, cette crainte a conduit à une séparation rigide des pouvoirs et à la

 protection du fonctionnement de 1’administration par la défense aux tribunaux ordi-naires de juger les affaires concemant Fadministration” (Les notions d'administration et de la juridiction, Paris, 1968, p. 54, apud Carlos Alberto Álvaro de Oliveira,  Do 

 formalismo no processo civil, São Paulo, Saraiva, 1997, n. 112.2, p. 91, nota 85).

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nicamente no Poder Executivo; aliás, na França é geralmente negada aoJudiciário a qualificação de “Poder”. Para resolução dos dissídios sobrecompetência entre os tribunais jurisdicionais e os administrativos existeem França o “Tribunal dos Conflitos” (Bernard Pacteau, Contentieiix ad- 

ministratif 3. ed., Paris, 1994). Nos países do Leste europeu (antes de orientação marxista), ao lado

do Poder Judiciário, existiam órgãos de arbitramento para dirimir as lidesentre as empresas estatais, ou entre estas e os particulares.

 No Brasil, vigorando o princípio da “unidade da jurisdição” , nãoexiste o “contencioso administrativo” propriamente dito, a “jurisdiçãoadministrativa”. Conforme Eduardo Talamini, “essa é uma diferença significativa do direito brasileiro em relação a outros ordenamentos”; assim,a expressão “processo administrativo” no Brasil assume significação diferente da atribuída à mesma expressão nos países que adotam como regraa dualidade de jurisdição {RePro,  152/41-42).

30. O Conselho de Estado, no Brasil Império

 No Brasil, ao tempo do Império, um Conselho de Estado (criado em1823, suprimido em 1834, restabelecido em 1841) prestava alto assesso

ra mento ao imperador e decidia no relativo a certas lides de direito administrativo; refere, no entanto, o mestre Agrícola Barbi que “a fixação dos limites entre a jurisdição dos tribunais judiciais e dos tribunais administrativosera, porém, motivo de acirrada controvérsia, influindo, de um lado, a tradiçãolusitana de unidade de jurisdição, e, de outro, as ídeias hauridas nos livrosfranceses, que consignavam a dualidade de jurisdição existente em seu direito positivo” {Do mandado de segurança, 6. ed., Forense, n. 40).

31. O contencioso administrativo, no Brasil RepúblicaCom a República, foi abolido em nosso país o contencioso adminis

trativo, firmando-se a regra da unidade de jurisdição, reiterada no art. 5-,XXXV, da vigente Constituição, ao preceituar que “a lei não excluirá daapreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

 No Brasil, portanto, inexiste o verdadeiro “contencioso administrativo”, com função jurisdicional. É, entretanto, usada tal denominação com

relação aos “Tribunais”, Conselhos, ou outros órgãos administrativos queexercem funções decisórias no âmbito da administração e sem eficácia de coisa julgada material.

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A Constituição de 1969 previa a criação de contenciosos administrativos para a decisão de questões trabalhistas de interesse da União e entidades públicas federais (arts. 110 e 111), e de questões fiscais e previden-ciárias nos âmbitos federal e estadual (art. 203), mas contenciosos “sem

 poder jurisdicional”, ressalvando-se expressamente a incidência da regra basilar da unidade de jurisdição. A vigente Constituição não contém dis positivos semelhantes.

32. Decisões do CADE — Conselho Administrativo de Defesa Econômica

As decisões do CADE (órgão vinculado ao Ministério da Justiça),que cominam multas ou impõem obrigações de fazer ou não fazer, cons

tituem título executivo extrajudicial  — art. 60 da Lei n. 8.884/94. Suaexecução, conforme o art. 64 da mesma Lei, “será promovida na JustiçaFederal do Distrito Federal ou da sede ou domicílio do executado, à escolha do CADE”.

Foi todavia arguida, na ADI 1.094, proposta em 1994, ofensa ao art.109, § 1~, da CF — as causas em que a União fo r autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte —, alegando-se sereste preceito extensivo às autarquias. Embora o voto do relator Min. Car

los Velloso, prevaleceu, em julgamento relativo à medida liminar, o entendimento de que a aludida norma constitucional aplica-se apenas à União,não atingindo as suas autarquias e empresas, sendo dito que a aplicaçãoextensiva da norma deve ser acompanhada da análise das peculiaridadesde cada uma delas (STF, Plenário, j. 21-9-1995). A ADI encontra-se conclusa, com parecer da PGR, pelo acolhimento parcial da arguição (julhode 2009).

32-A. O art 205 da Constituição Federal de 1969A Constituição pretérita, em dispositivo que não chegou a merecerregulamentação por lei complementar ou ordinária, previa que as lidesentre as entidades maiores de direito público e as respectivas autarquias,empresas públicas ou sociedades de economia mista seriam decididas (comeficácia vinculativa plena) pela autoridade administrativa, ressalvado aoacionista da sociedade de economia mista o apelo ao Judiciário medianteação anulatória da decisão (CF de 1969, art. 205).

Assim, a causa entre a União e autarquia federal ou sociedade deeconomia mista criada por lei federal, ou entre a autarquia e a sociedade,

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seria resolvida pela autoridade federal que a lei indicasse; a causa entreduas autarquias estaduais, pela autoridade estadual. Mas a causa entre oEstado e autarquia federal, ou entre sociedade de economia mista federale o município ou autarquia municipal, seria dirimida pelo Poder Judiciário

(RTJ, 95:428).Em suma, a resolução pela via do contencioso administrativo limitar-

se-ia às demandas interna corporis,  se assim podemos dizer, ou seja, àsdemandas entre entidades situadas no mesmo plano de governo; e a incidência da norma constitucional, conforme decidiu o Pretório Excelso porunanimidade de votos, aguardou lei regulamentadora que fixasse qual aautoridade administrativa com atribuições decisórias (RE 90.102, STF,Pleno, RTJ, 92:363; AJURIS , 75:79-80).

A vigente Constituição Federal omitiu dispositivo análogo, o que nãoimpede a solução administrativa, pela autoridade maior, das lides entreentidade de direito público e uma de suas autarquias; a decisão tomada,entretanto, não se revestirá da autoridade de coisa julgada, permanecendoeficaz apenas no plano administrativo.

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Capítulo VII

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

33. Jurisdição voluntária. Noções geraisA doutrina dominante e o Código de Processo Civil do Brasil (art.

ls) distinguem a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária1.

A primeira, como jã exposto, visa à aplicação da lei com o objetivo

de eliminar um litígio, um conflito de interesses; em face do litígio, o juizoutorga a um ou a outro dos litigantes o bem da vida disputado, e os efeitos da sentença adquirem definitividade, imutabilidade em frente às partese seus sucessores (autoridade de coisa julgada material). A coisa julgadamaterial, já foi dito, é o “atributo específico da jurisdição”.

Quanto à exata natureza da jurisdição voluntária, afirmou-se que doentrechoque de opiniões ter-se-ia, ao final, chegado à conclusão de quenão é uma coisa nem outra, i. e., não é jurisdição  nem é voluntária2, cuidando-se, ao invés, de atividade de índole administrativa, confiada aosórgãos do Poder Judiciário por razões de tradição3 ou de conveniência.

Manifestam autores de nomeada que na jurisdição voluntária não temos processo, mas simples procedimento; não há partes, como na jurisdição contenciosa, mas simples interessados; e a decisão definitiva desses procedimentosnão alcança a força de coisa julgada inaterial, que apenas ocorre nas sentençasde mérito proferidas em causas de jurisdição contenciosa. De outra parte, na

 jurisdição voluntária “predomina o princípio inquisitório, enquanto na jurisdição contenciosa prevalece o princípio dispositivo” (Agrícola Barbi, Comentá

rios ao Código de Processo Civil,  10. ed., Forense, 1998, v. 1, n. 9).A matéria é sobremodo polêmica, e muitos autores de nomeada

sustentam que a “jurisdição voluntária” (ou “graciosa”, ou administrativa)

1. Sobre o tema, é indicada a obra fundamental de José Frederico Marques,Ensaio sobre a jurisdição voluntária, 2. ed., Saraiva, 1959.

2. Alcalá-Zamora y Castillo, Premisas para determinar la índole de la llamada jurisdicción voluntaria, in Studi in onore di Enrico Redenti, 1951, v. 1.

3. Segundo Buzaid, “por larga tradição, em casos tais sempre coube ao juiz a funçãode administrar os interesses privados” (Exposição de Motivos do CPC de 1973).

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enquadra-se no âmbito, que consideram amplo, da atividade propriamente jurisdicional4.

34. A administração de interesses privados por órgãos do poder 

públicoFiquemos, no entanto, com o conceito de jurisdição até agora expos

to, consoante a linha de orientação da maioria dos processualistas, brasileiros e estrangeiros.

Geralmente, a ordem jurídica deixa a critério dos particulares regularem, uns em face dos outros, suas relações, livremente criando, modificando ou extinguindo direitos e obrigações recíprocos. Assim, A e B podemlivremente pactuar o arrendamento de um campo, a novação de uma dívi

da, o empréstimo de um veículo, a compra de uma máquina.Em outros casos, no entanto — e a intervenção do Estado na ativi

dade privada acentua-se sempre mais — , o poder público, de formas várias,intervém, facultativa ou necessariamente, em situações jurídicas individuais ou no relacionamento jurídico entre particulares. Ocorre, pois, a administração de interesses privados por órgãos do poder público.

Cuida-se, então, de manifesta restrição aos princípios “de autonomiae de liberdade que caracterizam a vida jurídico-privada dos indivíduos

 — limitação justificada pelo interesse social nesses atos da vida privada”(Cintra, Pellegrini e Dinamarco, Teoria geral do processo, Malheiros Ed.,13. ed., n. 78).

35. Modalidades de intervenção estatal na administração dos interesses privados

Tal intervenção estatal na administração dos interesses privados podeser realizada:

4. Como Salvatore Satta, Rafael de Pina, Micheli e Amílcar de Castro, citados por Marcos Afonso Borges, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, em artigo sob o título “Jurisdição voluntária” (AJURIS, 18:76), sendoeste processualista também partidário de uma conceituação muito ampla da jurisdição.Segundo Marcos Afonso Borges, “justiça não somente existe quando há litígio, direitos em conflito. Toda a vez que o Poder Judiciário se manifesta, acerca do que lhe élevado à apreciação, está fazendo justiça àqueles que lhe submeteram o problema, quer

seja litigioso ou não. Entendemos que na jurisdição voluntária há jurisdição, ação e  processo” (Jurisdição, cit., AJURIS, 18:90). No mesmo sentido Ronaldo Cunha Cam pos (Comentários ao CPC, Forense, 1979, v. 1, n. 91, p. 257).

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A) Por órgãos estatais alheios ao Poder Judiciário.

Assim, as sociedades mercantis adquirem personalidade jurídicamediante o arquivamento de seus atos constitutivos na Junta Comercial (Lein. 8.934, de 18-11-1994, arts. 8S, I, e 32; CC, arts. 985 e 1.150); o Instituto

 Nacional da Propriedade Industrial efetua o registro das patentes de invenção e dos modelos de utilidade, bem como o registro de desenhos industriaise das marcas de produto e de serviço (ÇPI, Lei n. 9.279, de 14-5-1996, quena quase totalidade de seus artigos entrou em vigor em 15-5-1997, art. 243).

B) Por órgãos sob o controle e fiscalização do Poder Judiciário.São os órgãos do chamado/oro extrajudicial. Assim os tabelíonatos,

lavrando escrituras públicas, quer facultativamente, quer porque imprescindíveis à formalização de atos jurídicos; os ofícios do Registro de Imóveis,operando os registros indispensáveis à alienação e constituição de direitosreais sobre bens de raiz (CC, arts. 1.245 e 1.492); os ofícios do Registrode Títulos e Documentos; os ofícios do Registro Civil das Pessoas Naturaise das Pessoas Jurídicas; os ofícios de Protestos Cambiais.

Pela Constituição Federal de 1988, art. 236, “os serviços notariais ede registro são exercidos em caráter privado, por delegação  do PoderPúblico”, mantida a fiscalização pelo Poder Judiciário nos termos da Lein. 8.935, de 18-11-1994.

C)  Diretamente por órgãos do Poder Judiciário,  pelos própriosmagistrados. Temos, agora, a jurisdição voluntária, também denominadagraciosa ou administrativa.

Os atos praticados no exercício da jurisdição voluntária são atos  judiciais, porque praticados por juizes; mas não são atos jurisdicionais, pois ao praticá-los o juiz não está aplicando o direito com vista a eliminarum conflito de interesses, mas sim com o propósito de influir em um ne

gócio privado ou em uma situação jurídica.  O juiz, no exercício da jurisdição voluntária, pratica atos subjetivamente judiciais, mas substancialmente administrativos.

 Na definição de José Frederico Marques, os atos de jurisdição voluntária são atos de direito público, no exercício de atividade administrativa,“que o Poder Judiciário realiza para reconhecer, verificar, autorizar, aprovar, constituir ou modificar situações jurídicas” (. Manual de direito processual civil, São Paulo, Saraiva, v. 1, n. 61 e 62). No fundo, disse Arruda

Alvim, “a jurisdição voluntária importa uma limitação à autonomia privada” (. Manual, cit., 10. ed., v. I, n. 57, p. 222).

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36. Razões da intervenção por intermédio do Poder Judiciário

Qual o motivo que levou o legislador a confiar, em hipóteses cada vezmais numerosas, a administração de interesses privados ao Poder Judiciário?Por que não os confiou, como seria teoricamente mais adequado, a órgãosdo próprio Poder Executivo? As razões são muitas. De uma parte, a tradiçãohistórica, dos tempos em que se não reconhecia a separação dos Poderes,e as atividades jurisdicionais e administrativas não eram devidamente discriminadas; de outra parte, a conveniência em confiar certos atos, de intervenção  nos negócios e situações dos particulares, a pessoas dotadas degarantias de imparcialidade, e experientes na aplicação do direito.

A intervenção do Judiciário, aliás, é também fator valioso para refor

çar a “prevenção” de eventuais futuras lides, que poderiam com mais facilidade surgir se a intervenção fosse realizada por agentes de outro Poder5.

Vejamos um exemplo de jurisdição voluntária: o pai, representantelegal e administrador dos bens de filho menor, não pode alienar (ou onerar)imóvel do filho sem prévia autorização judicial (CC, art. 1.691). O Estado,na pessoa do juiz, irá verificar se a alienação consulta ao interesse domenor. Como vemos, não há lide, não há interesses contrapostos ou em litígio. Pode surgir, é certo, oposição do Ministério Público, ou quiçá da

mãe do menor, entendendo ser prejudicial o negócio pretendido. Será umacontrovérsia, um dissenso de opiniões. Mas o interesse tutelável é sempreapenas um,  o interesse do menor; o dissenso de opiniões diz respeito àmelhor forma de proteger e acautelar esse único interesse em jogo.

37. Distinções entre jurisdição contenciosa e voluntária

Podemos apresentar o seguinte esquema comparativo:

 Jurisdição Contenciosa Jurisdição Voluntária(CPC, arts. 1.103 es.)

Atividade:  Jurisdicional Administrativa

Causa: um conflito de interesses,  JJm negócio, ato ou providência uma “lide>’ jurídica

5. “La prevenzione delia lite è il fine specifico dei processo volontario” (Carne-lutti, lstituzioni dei nuovo processo civile italiano, 1951, v. 1, p. 19).

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Aspectos subjetivos: partes contra postas (inter nolentes)

Iniciativa: por meio de  “ação ”, emque se formula o pedido do autorcontra o réu

“Interessados ” (art. 1.104) na tutela de um mesmo interesse (inter  volentes)

Por meio de simples “requerimento ”, em que se indica a “providência

 judicial” postulada. Essa providência não é “contra” ninguém, masapenas em favor do requerente

Maneira de proceder: mediante um "processo

”, sob o princípio do“contraditório”

Sentença:  produz   “coisa julgada material ”

Embora a citação do Ministério Pú blico e de eventuais interessados, há um simples  “procedimento administrativo”, facultada eventual “controvérsia” quanto à melhor maneira deadministrar o “negócio” em jogo

 Não produz a  “coisa julgada material”,  podendo ser modificada emface de circunstâncias supervenien

tes (art 1.111)

Critério de julgamento: o da legali-  Não é obrigatória a “legalidadedade,  com a aplicação do direito estrita”, podendo o juiz ater-se aobjetivo para a eliminação do con- critérios de conveniência e oportu-flito. nidade (art. 1.109).

38. Classificação dos procedimentos de jurisdição voluntária

Adotando em linhas gerais a orientação de Chiovenda (. Instituições, cit., v. 2, n. 142), podemos assim classificar os casos de administração

 pública dos interesses privados, mediante a jurisdição voluntária:A)  Intervenção estatal na form ação de sujeitos jurídicos.

 No Brasil, geralmente a intervenção estatal para a formação (e extinção) de sujeitos jurídicos é realizada por intermédio de órgãos não integrantes do Poder Judiciário: assim, v. g., a formação das empresas mercantis pelo registro de seus contratos na Junta Comercial, nos termos do

art. 32, II, da Lei n. 8.934, de 18-11-1994; a formação de sociedades civis pelo registro de seus estatutos no Ofício do Registro Civil das Pessoas

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Jurídicas (CC, ar t 45; Lei n. 6.015, de 31-12-1973, art. 114); a intervençãodo Ministério Público na organização, fiscalização e extinção das fundações(CPC, arts. 1.200 a 1.204).

 No direito eleitoral, os partidos políticos adquirem personalidade

 jurídica na forma da lei civil e, posteriormente, registram seus Estatutos perante o Tribunal Superior Eleitoral (CF, art. 17, § 2~).

B) Intervenção do Judiciário na integração da capacidade jurídica   das pessoas e no status jurídico das pessoas.

Apontemos, aqui, a nomeação, remoção e dispensa, pelo juiz, de tutorese curadores (CC, arts. 1.732, 1.734 e 1.767; CPC, arts. 1.187 e s.); a opçãode nacionalidade (Lei n. 818, de 18-9-1949, arts. 3e e 4° e Lei n. 6.015/73).

Assim também os procedimentos de jurisdição voluntária para aseparação judicial por mútuo assentimento (CPC, arts. 1.120 a 1.124; Lein. 6.515/77, art. 34); para o divórcio direto consensual (Lei n. 6.515/77,art. 40, § 2~); para as alterações, declarações de dúvida, retificações nosregistros públicos (Lei n. 6.015/73, arts. 109 e s.; arts. 198 e s.; arts. 212e 213); de habilitação para casamento (Lei n. 6.015/73, arts. 67 e s.); decolocação de menor em família substituta, mediante guarda, tutela ouadoção (Lei n. 8.069/90, arts. 28 a 52); de interdição (CPC, arts. 1.177 es.)6; de declaração de ausência (CC, arts. 22 e 23; CPC, art. 1.159) etc.

C) Intervenção do Judiciário em negócios jurídicos.Sob esta classificação encontram-se os casos mais freqüentes de jurisdição

voluntária. Assim, a alienação ou oneração de bens de menores e incapazesdepende de autorização judicial (CC, arts. 1.691,1.747, V, 1.748, IV, e 1.774);a sub-rogação de bens clausulados por inalienabilidade (CPC, art. 1.112, II);casos de alienação, locação e administração de coisa comum (CC, arts. 1.322 e1.325, § 2~; CPC, arts. 1.112, IV, 1.117, U, e 1.118); casos de alienação de quinhãoem coisa comum (CC, art. 504; CPC, art. 1.112, V); casos de extinção de usufruto e fideicomisso (CPC, ait. 1.112, VI); abertura, registro e confirmação detestamentos (CPC, arts. 1.125 e s.); arrecadação de bens de herança jacente (CPC,arts. 1.142 e s.); arrecadação de bens de ausentes e arrecadação de coisas vagas(CPC, arts. 1.160 e s. e 1.170 e s.); especialização de hipotecas legais (CPC, arts.1.205 e s.) e muitíssimos outros casos previstos em leis especiais.

6. No plano doutrinário, é muito discutido o enquadramento da interdição. Autores de nomeada entendem existir aqui uma ação, sob jurisdição contenciosa. Deoutra parte, o enquadramento dos inventários entre os processos de jurisdição contenciosa, como fez o vigente Código de Processo Civil, tem merecido crítica (nesta obra,vide o verbete 79-A).

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LIMITES DA JURISDIÇÃO 

CIVIL

Capítulo VIII

39. Limites espadais da jurisdição brasileira

Constituindo uma das manifestações da soberania estatal, a jurisdição

é exercida nos limites territoriais do respectivo país, para a decisão de litígios de alguma forma vinculados ao seu território.

 No Brasil, exerce~se a jurisdição civil de nossos Tribunais desde queo réu aqui esteja domiciliado; ou no Brasil deva ser cumprida a obrigação;ou a demanda se originar de fato ocorrido ou ato praticado no Brasil; ouquando aqui estiver situado o imóvel objeto da lide; ou estiverem situadosos bens arrolados em inventário (CPC, arts. 88 e 89).

Em alguns casos, a lei brasileira admite a concorrência de jurisdições;

assim, se não houver sido acionada a jurisdição brasileira, poderá merecerhomologação, para produzir efeitos no Brasil, sentença proferida no juízoestrangeiro. Em outros casos (CPC, art. 89), a jurisdição brasileira afirma--se com exclusividade.

Embora no plano teórico a jurisdição de um Estado pudesse ser es- pacialmente ilimitada, na prática aceitam os Estados, de maneira geral, aslimitações decorrentes dos princípios da efetividade e da submissão.

Amílcar de Castro, reportando-se à doutrina inglesa, anota que o primeiro princípio significa “que o juiz é incompetente para proferir sentença que não tenha possibilidade de executar”, por estarem fora de seualcance as coisas objeto da demanda, ou o sujeito passivo. Pelo princípioda submissão, “uma pessoa pode voluntariamente submeter-se à jurisdiçãode tribunal a que não esteja sujeita, pois, se começa por aceitar essa jurisdição, não pode depois pretender livrar-se dela” ( Direito internacional 

 privado, 3. ed., Forense, n. 293).

Lembra Lopes da Costa ( Direito processual civil brasileiro,  v. 1, n.40) que os navios de guerra estrangeiros são considerados território estran-

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geiro, ainda que dentro de nossas águas territoriais, e também o são, emtermos, os prédios das legações diplomáticas.

40. Limites subjetivos da jurisdição bras ileira

Subjetivamente, a jurisdição brasileira impõe-se a todas as pessoasque se encontrem em território nacional, brasileiros ou estrangeiros.

 No âmbito civil, gozam, todavia, de imunidades  jurisdicionais oschefes de Estado estrangeiros e os agentes diplomáticos, de acordo com

 princípios de direito internacional público, e ainda funcionários de algumasinstituições de caráter internacional. Tais imunidades comportam restrições(Lopes da Costa,  Direito, cit., n. 41)1.

Os próprios Estados estrangeiros e organizações internacionais, renunciando à imunidade, podem ser parte perante as justiças brasileiras,sendo então competentes para o julgamento das causas o Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, e), ou os juizes federais (CF, art. 109, II)2,neste último caso cabendo da sentença recurso ordinário para o SuperiorTribunal de Justiça (CF, art. 105, II, c).

 No alusivo à renúncia à imunidade, o Supremo Tribunal Federal,reconhecendo a imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro em litígio

decorrente de execução fiscal promovida pela União Federal contra oConsulado da República Federal da Alemanha, entendeu que o silêncio doEstado estrangeiro, quanto à sua submissão à jurisdição brasileira, nãoimporta em renúncia à imunidade de jurisdição (AC (Ag. Reg.) 522-AP,

 j. 16-9-1998, rei. Min. Ilmar Galvão). Precedentes citados: AC 9.687 (RTJ, 111:949), AC 9.694 e AC 9.684 (RTJ, 104:990) (Informativo do STF , n.124, set. 1998). Mas essa orientação sofreu profunda revisão, pois atualmente a imunidade do Estado estrangeiro é limitada aos atos praticados

 jure imperii.

Vide, sobre a imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro, os acórdãos do STJ na AC 02 e no Ag. Inst. 757, na íntegra no Anexo IV destelivro. Vide, outrossim, nesta obra, o verbete n. 50.

1. Quanto aos cônsules, em caso de habeas corpus (ação penal por pedofüia), oSTJ negou a ordem sob o entendimento de que os funcionários diplomáticos não estãoisentos de toda a jurisdição civil e criminal do Estado receptor, porquanto a imunidade

diplomática se restringe apenas aos atos de estrito exercício das funções, de conformidade com a Convenção de Viena, assinada pelo Brasil em 1963 (HC 14.703, rei. Min.Fontes de Alencar, j. 19-6-2001, Informativo do STJ, n. 101, jun. 2001).

2. V  a respeito, Amílcar de Castro,  Direito, cit., n. 295.

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DA ARBITRAGEM E DA 

SENTENÇA ESTRANGEIRA

Capítulo IX

41. Os “equivalentes jurisdicionais”

Determinados atos, embora não provindos de autoridade judiciária

 brasileira, conduzem, sob certas condições, ao mesmo resultado, ou seja,à composição definitiva da lide, que seria obtido mediante o uso das vias jurisdicionais.

São os substitutivos da jurisdição (Lopes da Costa,  Direito,  cit., n.44), ou os “equivalentes jurisdicionais”, na expressão de Camelutti (Sistema de derecho procesal civil,  trad. esp., v. 1, n. 49), adotada por JoséFrederico Marques (. Instituições, cit., v. 5, n. 1.329).

Os meios “alternativos” de solução de controvérsias podem ser en

quadrados como de autocomposição  ou da heterocomposição.  Na auto-composição, os próprios interessados, com a eventual colaboração de umterceiro, obtêm a solução de seu conflito. Na heterocomposição, quandonão realizada pelas vias jurisdicionais estatais, um terceiro, escolhido

 pelos interessados, “substitui o juiz” na missão de efetuar o julgamento.

A conciliação e a mediação, disse Ada Pellegrini Grinover, “integramo gênero autocomposição, enquanto a arbitragem é   um meio de heterocomposição. Desse modo, as técnicas mencionadas distinguem-se de

acordo com a atuação do terceiro na resolução do litígio: o mediador e oconciliador simplesmente auxiliam as partes na busca de um acordo, queelas mesmas celebram; o árbitro é um terceiro imparcial, diverso do Esta-do-juiz, que julga a controvérsia, sendo que as partes se vinculam à decisão

 proferida”.

42. A arbitragem, natureza jurídica

De início, observemos que muito se tem discutido se a arbitragem

apresenta caráter jurisdicional ou meramente contratual. Joel Dias Figueira Jr. sustenta que não existe impedimento algum a que o Estado atribua a

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 juizes privados o poder de dirimir conflitos em caráter definitivo, salvo noscasos previstos em lei (Manual cia arbitragem, Revista dos Tribunais, 1997,

 p. 96-7). Eduardo Arruda Alvim vê na arbitragem “um regime substitutivoda jurisdição que, apesar de não ser exercida pelo Estado, visa a obtenção

do mesmo fim: a pacificação social”, configurando-se a arbitragem comouma “jurisdição privada” (Curso de direito processual civil, Revista dosTribunais, 1999, v. 1, p. 56-7)1.

Alexandre Câmara nega ao arbitramento caráter jurisdicional, entendendo que o árbitro, embora exerça função pública, não exerce atividade jurisdicional; a arbitragem é um processo, “não porém um processo jurisdicional,

 pois a jurisdição é monopólio do Estado, não podendo ser exercida pelo árbitro, o qual é um ente privado” (Arbitragem, Lumen Juris, 1997, p. 11).

Cândido Dinamarco considera a arbitragem como um “meio alternativo” para a solução de conflitos, processando-se “fora do âmbito doexercício do poder estatal pelo juiz” (: Instituições de direito processual civil, Malheiros Ed., 2001, v. III, n. 844).

Teori Zavascki nega peremptoriamente à arbitragem o caráter jurisdicional: “Nem se poderia, mediante lei ordinária, igualar ato privado comato de jurisdição, já que isso importaria rompimento do monopólio dafunção jurisdicional, que pertence ao Estado por força da Constituição (art.5e, XXXV)”. E, destarte, considera “inapropriada a inclusão da sentençaarbitrai entre os títulos executivos judiciais” (Comentários ao CPC, 2. ed.,Revista dos Tribunais, v. 8, p. 165-85).

Para Marinoni, “não há qualquer motivo para equiparar a jurisdiçãocom a atividade do árbitro. Na verdade, tal equiparação somente é forçada

 para permitir a conclusão de que a lei da arbitragem é constitucional” (LuizGuilherme Marinoni, estudo na rev.  Jurídica, 373:24-5). E remete ao as~

1. Ada Pellegrini Grinover, em parecer solicitado pela OAB/SP, frisou que a Lein. 9.307/96 não utiliza a expressão ju iz arbitrai9mesmo porque o árbitro não é juiz: “oárbitro decide, mediante sentença arbitrai, mas não é juiz. A expressão do art. 18 daLei não afirma ser o árbitro um juiz. O árbitro é ju iz de fato e de direito, proclama odispositivo, indicando apenas que o árbitro decide sobre o fato e o direito. Pode parecer uma filigrana, mas não é: a lei não diz que o árbitro é ‘o'juiz de fato e de direito,mas que é ‘juiz de fato e de direito’; juiz, no sentido de apreciar e decidir, mas não co

 ju iz ’ que exerce função jurisdicional. Tanto assim é, que a decisão arbitrai não tem

força coercitiva, pois a coerção é própria do Estado: a sentença arbitrai só pode serexecutada pelo Poder Judiciário”.Conclui a mestra no sentido de que.os árbitros não se podem autodenominar de

“juizes”, porque não o são.

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serto de Owen Fissi (The forms o f justice, Harvard Law Review, p. 30-1)no sentido de que a arbitragem assemelha-se à jurisdição pelo fato detambém procurar um julgamento correto; mas é diverso o órgão decisor:um privado, incumbido basicamente de resolver uma disputa sobre direitos

 patrimoniais disponíveis, e o outro um agente público, o qual busca darsentido aos nossos valores públicosx*A.

Outros autores opinam no sentido de que a atividade dos árbitros éverdadeira atividade jurisdicional, e não apenas uma atividade de carátermarcadamente contratual. Assim Carlos Alberto Carmona, que critica como“ideia tacanha” a de que não possa haver jurisdição fora do âmbito datutela estatal estrita, afirmando que “o conceito de jurisdição, em crise jáhá muitos anos, deve receber novo enfoque, para adequar-se a técnica à

realidade” (Arbitragem e processo, Malheiros Ed., 1998, p. 38-9).Segundo Nelson Nery Junior, a sentença arbitrai é “verdadeiro jul

gamento”, acobertado pela coisa julgada e que não necessita de homologação judicial para adquirir o atributo da executividade: “o árbitro exerceverdadeira jurisdição estatal, razão por que o processo arbitrai não pertence ao direito privado, mas ao processual e, pois, ao direito público” (RePro, v. 101/117 e s.).

Humberto Theodoro Júnior escreve que após a Lei n. 9.307/1996 nãomais se pode duvidar que resultou vitoriosa a corrente jurisdicional, ou publicísüca:

o novo procedimento arbitrai, uma vez instaurado, em tudo seequipara à jurisdição oficial, já que nem mesmo o compromisso dependenecessariamente de intervenção oficial, nem tampouco a sentença arbitraitem sua eficácia subordinada a qualquer crivo de aprovação em juízo”, etal natureza revela-se também na inovação introduzida no art. 475-N, IV,do CPC, que passou a qualificar como título executivo judicial ‘a sentençaarbitrai’, independentemente de homologação em juízo” (Curso de direito

1-A. Para Marinoni, a arbitragem foi idealizada para atender aos interesses deuma classe bastante restrita da população, capaz de suportar seus altos custos, com o propósito de solução de controvérsias privadas relativas a grandes negócios, marcados por peculiaridades próprias, conflitos que dependem, para sua solução, do manejo deconhecimentos técnicos específicos; “não é preciso dizer que a solução de conflitos

desse porte, preocupada especialmente com a afirmação de regras técnicas relativas aatividades empresariais, está muito longe de poder ser comparada com a substância doque dá forma à jurisdição no Estado constitucional” ( Jurídica, 373:24).

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 processual civil,  36. ed., Forense, 2006, v. III, n. 1.472-f; v. II, 39. ed.,2006, n. 668).

Aliás, a respeito da denominação “sentença arbitrai” observou José

Carlos Barbosa Moreira que “la scelta terminologica ha inteso certamentemettere in risalto Tequiparazione tra gli effetti dei due atti, prendendo inconsiderazione soprattutto rattribuzione immediata alia decisione arbitra-le di un’efficacia paragonabile a quella delia pronuncia dei gíudice, indi-

 pendentemente dalfomologazione” (La nuova legge brasiliana sul arbi- trato, in Temas de direito processual, Sexta Série, Saraiva, 1997, p. 283).

Podemos portanto concluir que o atual sistema de arbitragem brasileiro, “por natureza e por definição, tem indiscutível caráter jurisdicional,

não cabendo mais, depois da Lei n. 9.307/96, falar-se em contratualidade,salvo no que concerne à sua origem, por resultar da vontade das partes”(J. E. Carreira Alvim, Direito arbitrai, 2. ed., Forense, 2004, p. 46).

Convirá anotar que Ada Pellegrini Grinover, com larga fundamentação, sustenta que “não deve pairar qualquer dúvida sobre a admissibilidade da arbitragem envolvendo a Administração e, com maior certeza, órgãosda Administração indireta” (artigo na rev. Direito Civil e Processual Civil,

ed. Síntese, n. 26, p. 64 e s.).O STJ, por sua 2- T., julgou que as sociedades de economia mista,que desempenham atividade econômica de produção de bens ou prestaçãode serviços, podem validamente avençar cláusula compromissória de caráter cogente. Assim, é a cláusula motivo de extinção do processo sem

 julgamento de mérito — CPC, art. 267,VII. Precedentes: STF, AgReg. naSE 5.209; STJ, REsp 612.439 (REsp 606.345, rei. Min. Otávio de Noronha,

 j. 17-5-2007).

43. A arbitragem. Noções gerais

Em anteriores edições anotamos que o antigo “juízo arbitrai” foi pouquíssimo usado no Brasil, salvante quiçá no âmbito dos antigos Juizadosde Pequenas Causas, hoje substituídos pelos Juizados Especiais Cíveis.

Já o Código Comercial de 1850 instituíra o juízo arbitrai obrigatório nas lides oriundas de locação mercantil (art. 245) e nas alusivas à liquida

ção de sociedade comercial (art. 294). O arbitramento necessário foi, noentanto, revogado pela Lei n. 1.350, de 14 de setembro de 1866, tendosido, logo após, pelo Decreto n. 3.900, de 26 de junho de 1867, regulamentado o juízo arbitrai facultativo nas causas comerciais.

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 No regime dos Códigos Processuais de 1939 e de 1973, a cláusulacompromissória, o pactum de compromittendo, apenas continha promessade submeter eventuais conflitos à decisão de árbitros; mas tal promessa,simples obrigação de fazer, não obrigava as partes a firmar o efetivo com

 promisso quando surgida real controvérsia entre os contratantes, gerandoapenas um dificilmente realizável dever de indenizar.

Consoante a moderna tendência de buscar meios alternativos de solução dos litígios, a Lei n. 9.307, de 23-9-1996, prioriza “a autonomia davontade das partes em sede de direitos disponíveis, meios e instrumentos

 processuais adequados a permitir sua utilização sem os entraves constantesda legislação que até então regulava a matéria (arts. 101 e 1.072 a 1.102do CPC)’*

Pela nova lei, a “convenção de arbitragem” compreende a “cláusulacompromissória” e o “compromisso arbitrai”3.

Pela cláusula compromissória, comprometem-se os contratantes “asubmeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente atal contrato” (art. 4S).

Já o art. 9S dispõe sobre o compromisso arbitrai, que pressupõe umacontrovérsia presente; tal compromisso pode ser judicial,  celebrado portermo nos autos onde tem curso a demanda já instaurada, ou extrajudicial.

A Lei n. 9.307/96, ante a perspectiva de um dos contratantes, nãoobstante a cláusula compromissória, recusar-se a firmar o compromissoarbitrai, foi obrigada a criar uma nova ação judicial, a fim de emprestarreal obrigatoriedade a tal cláusula. O art. 7S dispõe detidamente sobre ostrâmites de tal ação, que culminará com sentença que “valerá como com

 promisso arbitrai”.

Alonga-se a lei a respeito do conteúdo do compromisso arbitrai(que poderá inclusive conter a autorização para o julgamento por equidade), das regras para a escolha do(s) árbitro(s), qualificado(s) como“juiz de fato e de direito”, e do procedimento a ser observado no cursodo processo de arbitragem. Finalmente, será proferida a sentença arbitrai,

2. Paulo Cesar Pinheiro Carneiro, Arbitragem — a nova lei brasileira e a praxe internacional  (coletânea), LTr, 1996, p. 131.

3. Surgiu nesse passo tema de funda controvérsia, já objeto de exame pela Su prema Corte: será constitucional, ante o art. 5-, XXXV, da Lei Maior, essa prévia renúncia à Jurisdição estatal? A decisão do Supremo Tribunal Federal foi no sentidoafirmativo, ou seja, pela constitucionalidade.

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que entre as partes produzirá “os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui títuloexecutivo” (art. 31).

Muito embora o manifesto propósito de conferir à arbitragem um

máximo de efetividade como jurisdição substitutiva , a lei não pôdeevitar a previsão de uma “demanda para decretação da nulidade dasentença arbitrai”, sob o procedimento comum previsto no Código deProcesso Civil e com o prazo de noventa dias a contar da notificaçãoda sentença arbitrai4. Vale ainda sublinhar que, consoante o art. 18, asentença arbitrai “não fica sujeita a recurso ou a homologação peloPoder Judiciário”5.

 No tocante às sociedades de economia mista, a 2a Turma do STJ

 julgou serem “válidos e eficazes os contratos firmados pelas sociedades deeconomia mista exploradoras de atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou prestação de serviços (CF, art. 173, § P) queestipulem cláusula compromissória submetendo à arbitragem eventuaislitígios decorrentes do ajuste” (REsp 606. 345, rei. Min. João Otávio de

 Noronha, j. 17-5-2007).

Quanto às lides decorrentes de contratos de consumo revela-se nula,de regra, a cláusula compromissória constante de contratos-padrão ou de

adesão; nestes, a cláusula compromissória só terá eficácia, excepcionalmente, se o próprio aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ouconcordar expressamente com sua instituição, preponderando em princípioas regras específicas do CDC (Joel Dias Figueira Jr., informativo INCIJUR, n. 26, set. 2001).

 Notemos, no entanto, que o juízo arbitrai não detém os poderes inerentes ao imperium, ou seja, a efetuar modificações no plano dos fatos, eassim o diz, com alguma impropriedade textual, o art. 22, § 4S, da Lei da

4. Somente a experiência dirá se, nos contratos internos, a nova lei terá efetivaaplicação e uso. Quanto aos contratos internacionais, queremos crer na receptividadee eficiência da nova instituição.

5. No âmbito intemo, anota-se que a Lei n. 10.303, de 31 de outubro de 2001,que parcialmente modificou a Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/76, art. 109,inserção do § 3S), contém a previsão de que “as divergências entre os acionistas e acompanhia, ou entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários, poderãoser solucionadas mediante arbitragem, nos termos em que especificar”, cláusula esta

obrigatória também àqueles que vierem a adquirir ações da empresa, ou seja, aos novosacionistas.

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Arbitragem. Seus poderes limitam-se à cognição, ou seja, à formulação danorma jurídica que deve disciplinar o conflito de interesses. No magistériode Joel Dias Figueira Jr., “nesse particular, seus poderes são limitados enão se comparam aos dos juizes togados. Tanto é que as medidas coerci

tivas ou cautelares que se fizerem necessárias serão solicitadas pelo órgão julgador privado ao Poder Judiciário que seria, originariamente, competente para julgar a causa (art. 22, §§ 2a e 4Q), assim como a execução forçada da sentença arbitrai constitui título executivo judicial (art. 41, queconfere nova redação ao art. 584, III, do CPC)” (Arbitragem, jurisdição e execução, 2. ed., Revista dos Tribunais, 1999, n. 14, p. 156)6.

A maior prestância da Lei n. 9.307/96 estará em sua aplicação nonível internacional, pela previsão de que a sentença arbitrai estrangeira

será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratadosinternacionais com eficácia no ordenamento brasileiro interno, sujeitaunicamente à homologação pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termosdos arts. 483 e 484 do Código de Processo Civil.

Anotou Lauro da Gama e Souza que, no mesmo ano de 1996, “entrouem vigor na ordem interna a Convenção Interamericana sobre ArbitragemComercial, firmada na cidade do Panamá em 1975”, ratificada pelo Decreto Legislativo n. 90, de 1995, e promulgada por meio do Decreto Executivon. 1,902, de 9 de maio de 1996 (DOU, 10 maio 1996, p. 8012) (Arbitragem

 — a nova lei brasileira e a praxe internacional, cit., p. 313)7eS.

As contendas surgidas no âmbito do Mercosul eram dirimidas conforme o Protocolo de Brasília, firmado em 17 de dezembro de 1991 e in

6. O Superior Tribunal de Justiça, em decisão realmente relevante e invocando precedente do TST no RR 491.080, lembrou que sentença arbitrai é meio hábil para  pôrjim à relação de trabalho, e assim igualmente poderá dispor sobre o levantamen

to dos saldos de conta vinculada ao FGTS (2- Turma, rei. Min. Eliana Calmon, ac.28-9-2004, Inf. STJ , n. 223, out. 2004).7. Em agosto de 1996 figuravam, como Estados-partes nessa Convenção, Argen

tina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Estados Unidos daAmérica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

8. A instituição privada de arbitragem de caráter mais global é a Corte de Arbitragem da Câmara Internacional de Comércio de Paris — CIC, instalada em 1923 eque, atualmente, recebe mais de 500 pedidos de arbitragem por ano, provindos de todosos cantos do mundo. Outras prestigiadas Cortes de Arbitragem são a de Londres, a

 London Court o f International Arbitration; a American Arbitration Associatioir,  oInstituto de Arbitragem da Câmara de Comércio de Estocolmo; no Egito, o CentroRegional de Arbitragem Comercial Internacional do Cairo, criado em 1979; e o Centrode Arbitragem Internacional de Hong Kong, de 1985.

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corporado ao nosso direito pelo Decreto Legislativo n. 88, de 12 de dezem bro de 1992.

Atualmente, vigora o Protocolo de Olivos, datado de 18 de fevereirode 2002, com a criação (art. 18 do Protocolo) de um Tribunal Permanente

de Revisão (integrado por 5 árbitros), a fim de possibilitar o reèxame delaudo proferido por “Tribunal Arbitrai ad hoc”.  O Protocolo inclusive

 permite que os interessados se dirijam de imediato ao Tribunal, caso frustradas as negociações diretas entre os Estados-Partes, bem como prefiramoptar por outro sistema de solução das controvérsias (como a OMC). Olaudo do Tribunal Permanente é definitivo, não sujeito a reexame e, comrelação às partes, tem força de coisa julgada (art. 23); são igualmente

 previstos “procedimentos especiais para atender casos excepcionais de

urgência que possam ocasionar danos irreparáveis às Partes” (art 24). OProtocolo de Olivos foi aprovado pelo Congresso Nacional, em 14 deoutubro de 2003, e promulgado, para eficácia no território brasileiro, peloDecreto n. 4.982, de 9 de fevereiro de 2004.

Um importante instrumento para o fortalecimento do Mercosul é oacordo de Arbitragem Comercial Internacional, concluído em BuenosAires, em 1998, e promulgado no Brasil pelo Decreto n. 4.719, de 4 de

 junho de 2003, destinado a facilitar a solução, mediante arbitragem, deconflitos surgidos entre empresas comerciais sediadas nos países integrantes da comunidade. A única ressalva brasileira refere-se ao direito aplicável à solução da controvérsia, pois o acordo alude ao direito internacional

 privado e seus princípios, mas o art. I2 do decreto brasileiro dispõe quefica permitida a livre escolha das regras incidentes, dês que respeitada aordem pública internacional.

As normas da Lei de Arbitragem que permitem às partes excluir, pelacláusula compromissória, o futuro e eventual acesso ao Poder Judiciário,foram apreciadas incidentemente pelo Supremo Tribunal Federal no jul

gamento da SE n. 5.206 e, após demorado debate, julgadas constitucionais, julgamento plenário encerrado em sessão de 12 de dezembro de 2001,restando vencidos os Mins. Sepúlveda Pertence, Sydney Sanches, Néri daSilveira e Moreira Alves. A querela resultou resolvida, pois, pela afirmação da plena eficácia de tais dispositivos, a saber, o parágrafo único do art. 6a,o art. 7° e seus parágrafos, arts. 41 e 429.

9. A respeito da nova Lei da Arbitragem a doutrina vem sendo enriquecida porobras como Arbitragem, jurisdição e execução, de Joel Dias Figueira Jr., 2. ed., Revista dos Tribunais, 1999;  Arbitragem, legislação nacional e estrangeira e monopólio 

 jurisdicional, LTr, 1999, do mesmo autor;  Arbitragem e processo, Carlos Alberto

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 No alusivo às sentenças arbitrais estrangeiras, o STF deferiu a homologação de sentença arbitrai oriunda da Inglaterra, que condenou em

 presa brasileira por descumprimento de contrato de compra e vendamercantil firmado com empresa estrangeira sediada na República da Ir

landa. O Tribunal deferiu o pedido por entender presentes os requisitosdos arts. 38 e 39 da Lei de Arbitragem, salientando ser possível a homologação, pelo STF, de laudo arbitrai estrangeiro, independentemente de

 prévia chancela do Poder Judiciário do país de origem, nos termos da Leide Arbitragem — Lei n. 9.307/96, art. 31: “A sentença arbitrai produz,entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida

 pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui títuloexecutivo”; e art. 35: “Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a

sentença arbitrai estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação doSupremo Tribunal Federal”.

O louvor à possibilidade de escolha dos juizes pelos demandantesremonta à alta Antiguidade: “Regardons donc comme le tribunal le pluscompétent celui que les parties se seront données à elles-mêmes, en choi-sissant d’un commun accord leurs juges” (Platão,  Les lois, L. VI, p. 130,§ 767~b, ed. francesa da coleção Guillaume Budé).

A importante convenção internacional sobre reconhecimento e exe

cução de sentenças arbitrais estrangeiras, firmada em Nova York em 1958e já ratificada por mais de 120 países, igualmente dispõe sobre o reconhecimento e cumprimento das sentenças arbitrais estrangeiras, tendo sidoincorporada ao ordenamento brasileiro pelo Decreto n. 4.311, de 23-7-2002.Vide, a respeito, detalhado estudo de José Carlos de Magalhães, na Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, Revistados Tribunais, v. 18, p. 309-1810.

Carmona, Atlas, 2. ed., 2004; A arbitragem na era da globalização, coletânea, Forense, 1997; Arbitragem, a nova lei brasileira e a praxe internacional,  coletânea, LTr,1997; Arbitragem, Alexandre Freitas Câmara, Lumen Juris, 1997; Curso de Arbitragem, José Cretella Neto, Forense, 2004, e numerosos artigos de doutrina, dentre os quais Lanuova legge brasiliana suirarbitrato, José Carlos Barbosa Moreira, Rivista delVArbitrato,fase. 1, 1997, Milano; O juízo arbitrai em face do princípio da inafastabilidade docontrole jurisdicional, Fábio Henrique Podestá, Tribuna da Magistratura  n. 113, caderno de doutrina; A arbitragem no sistema jurídico brasileiro, Sálvio de FigueiredoTeixeira,  Revista Forense, 355; 181; Arbitragem internacional, José Maria RossaniGarcez, Revista Renovar, 7:61.

10.  No que diz respeito às formas de impugnação do laudo de arbitragem, emdireito comparado (Alemanha, Itália, França, Inglaterra e Estados Unidos), completa

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44. A sentença de tribunal estrangeiro e sua homologaçãoCamelutti inclui entre os “equivalentes jurisdicionais” a atribuição

de efeitos jurídicos a sentença emanada de tribunal estrangeiro.Embora a sentença estrangeira seja um ato jurisdicional no país de

origem, e igualmente o seja se nos fixamos em seu resultado, todavia nãoo é se considerarmos ser a jurisdição função soberana do Estado, nãosendo o juiz estrangeiro dotado de jurisdição no Estado em que a eficácia da sentença irá ser reconhecida  (v. Camelutti, Sistema, cit., v. 1, n. 50).

Quanto à nacionalidade da sentença arbitrai, a lei brasileira adota osistema da legislação espanhola, e assim considera como estrangeira asentença proferida fora do território brasileiro (art. 34, parágrafo único);

 por exclusão, será brasileira a sentença proferida no Brasil, tendo as partesa faculdade de indicar onde a sentença deverá ser proferida (art. 10, IV).

Tratando-se de sentença arbitrai estrangeira, sua execução no Brasildependerá do prévio exeauatur  no STF, por seu Presidente. Caso proferidano âmbito do Mercosul, incidem as regras do Tratado de Las Lenas, sendoa homologação realizada por procedimento mais simples, similar ao dascartãsrogatórias (Res. n. 09/2005-STJ)Tsobreo assuntoTrecomenda-seominudente estudo de Luiz Fernando Guerreiro,  RePro, 159/9-31)*

Dentre as sentenças estrangeiras cumpre incluir, já agora, as profe-ridas. poxtribunais de natureza supranacional ou comunitária, reconhecidosinternaçiojialmente.,.tais como~a~Corte da Europa_c o a sede emJLiixeirb,

 biirgo^Ó£gão d(3 Poder Judjriárioda União Européia, e ainda o TribunalComunitário Europe_u..4e.JPrimeira Instância. (criado em 1988).

JPorjnteTrné.dio do processo de homologação, a sentença estrangeiraadquire eficácia e executoriedade no Brasil; torna-se uma “sentença bra

notícia nos é trazida pelos Cuademos Procesales, editados pelo Colégio de Profesoresde la Universidad Autônoma de México, n. 16, jun. 2002 (informações sobre essa publicação vide <cí [email protected]>, endereço eletrônico do prof. Cipriano Gómez Lara).

11. A atitude de diversos países, quanto à eficácia das sentenças estrangeiras,não se apresenta uniforme. Alguns países simplesmente negam eficácia às sentençasestrangeiras. A Alemanha e a Espanha, apenas para dar exemplos, exigem a reciprocidade. Na Inglaterra e nos Estados Unidos a sentença estrangeira é admitida como

 prova do direito por ela declarado, “mas o interessado terá que obter novo julgamento pelos tribunais locais” (Humberto Theodoro Júnior, Curso, cit., 44. ed., v. 1, n. 586).

Ampla e minudente exposição sobre os diversos sistemas de reconhecimento desentenças estrangeiras em direito comparado encontra-se em recentíssima obra deAdriana Beltrame, cuja leitura se recomenda (Reconhecimento de sentenças estrangeiras, GZ Ed., 2009, n. 3.2, p. 48 e s.).

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sileira” com o conteúdo dado pelo iuiz estrangeiro (CPC, art. 483). O legislador brasileiro adotou, na matéria, o sistema do “juízo de defíbaçtõ”fcontenta-se com um exame formal da sentença, não lhe discutindo o mé-rltoTnaõ^nHagando dã"justiga da sentença, a hão ser tãò sõmenlgl5ãrã~

negar homologação às sentenças que atentem contra a soberania nacional,a ordem publica ou os bons costumes (Reg. Interno do STF, art. 211).

. Q STJ. em Corte Especial, teve por inviável a homologação de sentença estrangeira quando não comprovada a citação válida da parte requerida, quer no território do país onde proiatada a decisão a ser homologada.quer citação no Brasil mediante carta rogatória, sendo outrossim necessário que a sentença estrangeira tenha transitado em julgado (SEC n. 980,rei. Min. João Õtávio de Noronha, j. 6-9-2006).

O Pretório Excelso entendeu, com remissão a precedentes, que nãoatenta contra a soberania nacional, e assim não impede sua homologação,a circunstânciajie a_sentenca estrangeira de divórcio haver ratificado acor-do das partes sobre a partilha de bens imóveis situados no Brasil (SE 7.146-

-....................  I. jiL— -  li.l-í 11HI ij i..1J....iTlni ll«i. ■■...KM. !!■ ___ I I t1  _EUA, rei. Min. Ilmar Galvão, j. 12-6-2002). No mesmo sentido o STJ, porsua Corte Especial, em caso de divórcio consensual celebrado nãÀrgentma:*‘O fato de a sentença estrangeira ratificar acordo das partes acerca de imóvel localizado no território brasileiro não obsta sua homologação”,sendo no azo considerado inviável no processo homologatório a discussãoacerca de eventual induzimento a erro de um dos interessados (SEC 1.043,rei. Min. Arnaldo Esteves, j. 28-5-2009). V., nesta obra, o verbete n. 49.

Todavia, considerou ofensiva à soberania nacional e à ordem pú-

 jT çm trffigação de sentença estrangeira que concedera ao pai a guarda do filhomenor, pois a mãe já possuía, em seu favor, decisão proferida pela justiça brasileira dando-lhe, a guarda provisória da criança. Precedente ci

tado: SEC (ED) 6.729-Espanha (SEC 6.971-EUA, rei. Min. MaurícioCorrêa, j. 28-11-2002).

Após a edição da EC n. 45, de 8 de dezembro de 2004. oJS.uperiorTribunal de Justiça, por seu Presidente, passou a ser o órgão judiciáriocompetente para a homologação de sentenças estrangeiras (e. ainda... paraa concessão de^exexiMOlULÀs.XQgatórias passivas),.conforme o^art 105,1,/, da Constituição re fo m ^% A v esoluçag^n^â»JÍ^..de^jnaio^Je^JO^jdoSTJ, em moldes similares aos anteriormente vigorantes no. RISTF, deter-

mina a citação do interessado residente no país, com o prazo de quinzedias para a contestação. Sendo contestada a homologação, o processo será

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distribuído a um dos Ministros e julgado pela Corte Especial do STJ, ca^ bendo ao relator os atos concernentes.ao andamenXo e .insirução.,.do. feito(Res?n. 09/2005-STJ, art. 92, § lg). A sentença estrangeira condenatória éconsiderada, uma vez homologadaj>elo Superior Tribunal de Justiça, títu

lo executivo judicial, nos termos do art. 475-N, VI (acrescentado ao CPC pela Lei n. 11.232/2005).

Oj>rocesso de homologação não é  de jurisdição graciosa, travando--se o ,,ç p £ ^ de,eficáçia.l^^tençae^

 p arte contrária, que pode negá-la (Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, Forense, v. I, 44. ed., 2006, n. 589)12.

J^ã&.será homologada a sentença estrangeira se não estiver revestidadas formalidades previstas.na.legislação do.Estado de^pjjgem^exigindo-se

haja sido proferida por juiz competente (competência internacional) sob-

contrar-se,..autmticaáa,.p.dox.Qns.uLj3ra.slle,iro..e..devidamente traduzida.Asentença que defere a homologação é de natureza constitutiva, atribuindo^1 sm ten CiL^fkif ii^^ ; denegando-a, será meramente d e c Fratória negativa13.

 No alusivo ao art. 15, parágrafo único, da Lei de Introdução ao Código Civil, verbis: “Não dependem de homologação as sentenças mera

mente declaratórias do estado das pessoas”, tal preceito é de consider a r a .derrogado pelo Código de Processo Civil, art. 483, que alude generica-mente'.alQd,QS..QS.atos..smtenciais.ej3aanad.Qs.d,e auloridade estrangeira, sem _ cláusula de exclusão14e 15.

12. A respeito da homologação de sentença estrangeira meramente declaratóriado estado das pessoas, recomenda-se artigo de Carlos Augusto de Assis e Aurea Cristina Tanaka, publicado em Gênesis — Revista de Direito Processual Civil, 27: 52-70.

13. A respeito, vide Humberto Theodoro Júnior, estudo Homologação de sentença estrangeira: ofensa à ordem pública, na Revista Magister, n. 15, p. 5, nov.-dez. 2006).14. Assim decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Min. Celso de Mello,

datada de 1^-10-1997 e proferida na Petição Avulsa n. 11, sob a ementa seguinte:“Sentença estrangeira de divórcio.  Pedido de averbaçao desse ato sentenciai

dirigido a magistrado estadual.  Alegada  desnecessidade de prévia homologação, emface do art. 15, parágrafo único da 3LICC. Norma legal derrogada pelo CPC (art. 483). Magistério da doutrina. Impossibilidade processual da instauração de delibação incidente. Ação de homologação de sentença estrangeira. Sistema de contenciosidade limitada. Evolução do instituto no direito brasileiro. Indispensábilidacle da homologação

 prévia de qualquer  sentença estrangeira, quaisquer   que sejam os efeitos postulados pela parte interessada. Precedente do STF’.15. Em tema de homologação de sentença estrangeira, o STF tem adotado exe

gese aditiva, “vislumbrando-se, na referência a sentenças estrangeiras, documentos

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EsL-SiJUOiaLJi^ disse Carmen Tibúrcio (em estudo publicado na RePro, 132), conforme o entendimento da doutrina e jurisprudência dominantes, "a homologação constitui pressuposto tanto para o reconhecimento quanto para a execução de uma sentença estrangeira. Enquan-

toTKomõlogacãocabeao.STJ (art. 105.1. i. d a C F / 8 8 Io ^ c ^ j^ e n to d aexecução compete, em jm meiru. grau, aos iuízes federais (art. 109, X, daCF/88)” (rev. cit., p. 137), com observância do art. 484 do CPC (extração decarta de sentença do processo de homologação). Sobre o tema apontamosigualmente o magistério de José Carlos Barbosa Moreira (Notas sobre oreconhecimento e execução de sentenças estrangeiras, RePro, 124:19).

A execução, melhor dito o “cumprimento” da sentença estrangeira processar-se-á conforme a sistemática consagrada pela Lei n. 11.232/2005,

impondo-se nova citação do réu, jLos„,ier^ do art.475-N (é.,um.,das..cas.as,excepcionais em que o cumprimento da sentença

*” ~ \  . . .. ......... ..................  i | , mi l-, .. .

far-se-á em processo autônomo).

Quanto ao exequatur  de carta rogatória, v. o verbete n. 52.

Por evidente, a homologaçãoda sentença estrangeira pressupõe quea citação do réu, no Brasil domiciliado, haia sido efetuada regularmente,mediant^c^tâxogaíóxia (v. verbete n. 48, parte final).

As sentenças proferidas em  jurisdição trabalhista  não encontramobstáculo à sua homologação, como decidido pelo STJ na SE 821. relativa a_conciliação prévia homologada por juiz trabalhista na Colômbia,sendo no azo anotado o descabimento do reexame do mérito da sentençaestrangeira (Corte Especial, SE 821, rei. Min. Menezes Direito, ac. 18-5-2005, DJU , 15 ago. 2005, p. 208). Também a sentença arbitrai estrangeira, para ser executada no Brasil, deve ser previamente homologada peloSuperior Tribunal .de Justiça, nos termos-do^m-ts. 483 e 484 do CPC. con-forme dispõe o art. 36 da Lei da Arbitragem — Lei n. 9.307/9616.

que, segundo a legislação de origem, tenham tal envergadura” (SE 7.039, Min. MarcoAurélio, dec. em 20-3-2002). Assim, no Japão, o divórcio não é feito na via jurisdicional, mas por ato administrativo, atuando o administrador do distrito, ou Prefeito Municipal (SE 1.312, rei. Min. Mário Guimarães). Na Dinamarca, ato do próprio Reimereceu a homologação do STF (SE 1.943, rei. Min. Adaucto Cardoso). Boa notíciaa respeito na SE 7.202, do Japão, dec. de P-2-2002, rei. Min. Marco Aurélio.

16. Ficou, portanto, certo que a expressão “sentença estrangeira” (CF, art. 105,1, i) 

deve ser interpretada como abrangente de decisões de quaisquer órgãos com funções judiciais, inclusive de outro Poder, desde que funcionem na condição de verdadeiros tribunais, como no exemplo da decisão do Tribunal Administrativo dinamarquês sobre o di

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Por fim, breve referência aos sistemas de reconhecimento automático e de reconhecimento difuso da sentença estrangeira. Reconhecer automaticamente, como refere Adriana Beltrame, significa dar eficácia à sentençaestrangeira sem necessidade de um procedimento judicial para tanto. Já o

reconhecimento difuso “significa atribuir aojuiz de primeiro graujíde acor-do com as regras do direito interno),-a competência para o reconhecimento"de sentenças estrangeiras, para efeito dé coisa julgada ou, ainda^gara ,a sua execução” ( Reconhecimento de sentenças estrangeiras, cit., n. 63, p. 169-170). A União Européia adota um sistema combinado: as sentenças prove-nientes de países da comunidade não necessitam de reconhecimento, poisautomático o efeito de coisa julgada; todavia, se as partes não concordarem'

com tal eficácia e resolverem contestá-la, a competência..para-Q-reconhed.-mento será do juízo de jpnmeiro grau (Regulamento CR n. 44/2001). A citada autora considera perfeitamente possível a adoção pelo Brasil do sistemade reconhecimento difuso, cabendo ao juiz de primeiro grau a verificaçãodos requisitos de adequação à ordem pública brasileira, o que entretantoexigirá alterações constitucionais e da lei processual.

44-A. Convenções relativas à eficácia extraterritorial das Sen

tenças e Laudos Arbitrais EstrangeirosPelo Decreto n. 2.411, de 2-12-1997 (DOU, 3 dez. 1997, Seção I, p.

28436), foi promulgada a “Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos Arbitrais Estrangeiros”, concluída emMontevidéu aos 8-5-1979, convenção esta cujo art. 2S apresenta o seguinte teor:

“Artigo 2 As sentenças, os laudos arbitrais e as decisões jurisdicionais estran

geiras a que se refere o artigo 1 terão eficácia extraterritorial nos Estados- -Partes, se reunirem as seguintes condições:

a) se vierem revestidos das formalidades externas necessárias para que sejam considerados autênticos no Estado de onde provenham;

b) se a sentença, o laudo e a decisão jurisdicional, e os documentos anexos que forem necessários de acordo com esta Convenção, estiverem

vórcio amigável, devidamente homologada pelo STF (atualmente competente é o STJ)(José Russo, estudo “Sentença estrangeira de divórcio. Homologabilidade”, publicadona coletânea Curso de direito internacional contemporâneo, Forense, 2003, p. 415 e s.).

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devidamente traduzidos para o idioma oficial do Estado onde devam surtir efeitos;

c) se forem apresentados devidamente legalizados de acordo com a lei do Estado onde devam surtir efeito;

d) se o juiz ou tribunal sentenciador tiver competência na esfera internacional para conhecer do assunto e julgá-lo de acordo com a lei do Estado onde devam surtir efeito;

e) se o demandado tiver sido notificado ou citado na devida forma  legal de maneira substancialmente equivalente àquela admitida pela lei do Estado onde a sentença, laudo e decisão jurisdicional devam surtir  efeito;

 f) se tiver assegurado a defesa das partes;

g) se tiverem o caráter de executáveis ou, conforme o caso, se tiverem  passado em julgado no Estado em que houverem sido proferidas;

h) se não contrariarem manifestamente os princípios e as leis de ordem pública no Estado em que se pedir o reconhecimento ou o cumprimento

“Artigo 6

Os procedimentos, inclusive a competência dos respectivos órgãos 

 judiciários, para assegurar a eficácia das sentenças, laudos arbitrais e decisões jurisdicionais estrangeiros, serão regulados pela lei do Estado em que fo r solicitado o seu cumprimento”.

Posteriormente, pelo Decreto n. 4.31 i, de 23 de junho de 2002, foifinalmente promulgada no Brasil (com atraso de mais de 40 anos...) a“Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças ArbitraisEstrangeiras”, assinada em Nova York em 10 de junho de 195817.

Ponto interessante é o de que a aludida convenção não deve ser interpretada como dispensando a decisão arbitrai estrangeira da exigênciade homologação a que são sujeitas as sentenças estrangeiras de qualquernatureza (agora constitucionalmente reservada ao STJ) para que possamser cumpridas em nosso país (v. n. 42-A). A respeito, no plano infracons-

17. Sobre o tema e as diversas posições doutrinárias a respeito, v. o estudo deJuliana Kalichsztein, A homologação de laudos arbitrais estrangeiros no Brasil, publicado na coletânea Curso de direito internacional contemporâneo, acima mencionada,

 p. 425 e s.

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titucional, são expressos os arts. 35 e s. da Lei da Arbitragem (Lei n.9.307/96).

De outra parte, mediante a promulgação do Decreto Legislativo n.163, de 3-8-2000, foi aprovado o Acordo de Cooperação Judiciária em

Matéria Civil, celebrado entre o Governo da República Federativa doBrasil e o Governo da República Francesa, em Paris, em 28-5-1996 (DOU, 4 ago. 2000, Seção I).

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Parte IIDA COMPETÊNCIA

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Capítulo X

NOÇÕES INICIAIS

45. Conceito de competência

Ante a multiplicidade e a variedade das demandas possíveis em juízo,tornou-se necessário encontrar critérios  a fim de que as causas sejamadequadamente distribuídas  aos juizes, de conformidade não só com o

superior interesse de uma melhor aplicação da Justiça, como, também, buscando na medida do razoável atender ao interesse particular, à comodidade das partes litigantes.

Todos os juizes exercem jurisdição, mas a exercem numa certa medida,  obedientes a limites  preestabelecidos. São, pois, “competentes” somente para processar e iulgar determinadas causas. A “competência7' "  assim, “é a medida da jurisdição”, ou. ainda, é a jurisdição na medida emque pode e deve ser exercida pelo juiz.

“La competenza è la giurisdizione che da astratta si fa concreta; valea dire, la giurisdizione avvisata in rapporto a ciascuna causa” (AristidesManassero, Introduzione alio stuclio sistemático delia competenza funzio- nale in matéria penale, 1939, p. 43, apud José Frederico Marques,  Instituições, cit., v. 1, p. 344, nota 11).

Sergio Bermudes elucida que “o âmbito dentro do qual o Judiciáriode cada país e, dentro dele, cada um dos órgãos que o compõem exercem

a jurisdição denomina-se competência (de competentia: proporção, simetria; de competere: concorrer com outro; buscar ao mesmo tempo; dar nomesmo ponto): Quando se afirma corresponder a competência à medidada jurisdição, quer-se dizer que a competência é uma porção, um segmento dela” (Introdução ao processo civil, 4. ed., Forense, 2006, p. 62).

Disse Mário Guimarães: “A jurisdição é um todo. A competência-.uma fração. Pode um juiz ter jurisdição sem competência. Não poderá tercompetência sem jurisdição” (O juiz, cit., n. 27, p. 56).

 No magistério de Liebman, “a competência é a quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão, ou seja, a ‘medida da jurisdição’. Em outras palavras, ela determina em que casos e com relação a

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que controvérsias tem cada órgão em particular o poder de emitir provimentos, ao mesmo tempo em que delimita, em abstrato, o grupo de controvérsias que lhe são atribuídas” (Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil,  trad. port., Forense, 1984, v. 1, n. 24, p. 55).

Humberto Theodoro Júnior escreve que “a competência é justamente o critério de distribuir entre os vários órgãos judiciários as atribuiçõesrelativas ao desempenho da jurisdição” (Curso de direito processual civil,35. ed., Forense, 2000, v. 1, p. 137). Em essência, segundo Eduardo Arruda Alvim, “a competência significa ideia da legitimidade do exercício deum determinado poder, num determinado momento e sob determinadascircunstâncias” (Curso de direito processual civil, Revista dos Tribunais,1999, v. l,p. 90).

A lei processual civil atribui competência aos juizes valendo-se dediferentes “dados”,  relacionados principalmente com a própria lide oucom as pessoas dos litigantes. Assim, v. g., o local de domicílio do réu é  o “dado” mais comum para a determinação da competência; mas tambémo valor  atribuído à causa, a matéria sobre que versa a demanda, o lugar  em que se encontra o imóvel objeto da lide, ou a vinculação de uma demanda com outra que já se encontra em andamento e muitos outros dados são aproveitados pela lei para, isolada ou cumulativamente, dispor que umadeterminada causa deva ser conhecida e julgada pelo juiz A,  e não pelo

 juiz B ou por qualquer outro juiz.

Moacyr Amaral Santos menciona que a distribuição das competênciasnão se faz de modo arbitrário, mas sim segue determinados critérios. Seguindo a trilha clássica de Chiovenda, ensinou Celso Agrícola Barbi que“a doutrina moderna mais aceita considera que a competência interna éfixada_£g.gmido três critérios: o objetivo, o funcional  e o territorial. O

objetivo é   extraído da natureza da causa — competência enTrazao^a”matéria, ou de seu valor, ou da qualidade das pessoas; o funcional é  extra-'ídolfalTâtureza especial e das exigências especiais das funções que o juizé chamado a exercer num processo; e o territorial  relaciona-se com acircunstância territorial designadaAatividade de cada órgão iurisdicional”(Comentários ao Código de Processo Civil, 10. ed., Forense, v. 1, n. 501,

 p. 301-2).

Como salientou Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, com remissão

a Barbosa Moreira (Ações coletivas, Revista dos Tribunais, 2002, p. 223),o enquadramento da competência como pressuposto de “validade” do processo rião encontra respaldo na sistemática de nosso direito processual,

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 porquanto mesmo a incompetência absoluta não anula o processo, masapenas os atos decisórios (CPC, art. 113, § 2~). Nos casos de incompetência relativa, ou se opera a prorrogação caso não suscitada a exceção deincompetência, ou simplesmente o processo é remetido ao juízo tido como

competente (arts. 313 e 114).

46. Fontes das normas sobre competência

As normas de determinação de competência encontram-se na Constituição Federal, em Constituições estaduais, no Código de Processo Civil(bem como no Código de Processo Penal), em íeis federais não codificadas,nos Códigos de Organização Judiciária estaduais e nos Regimentos Internos dos Tribunais. Só por esta enumeração já é possível constatai* a com

 plexidade do tema e a variedade de elementos e de fontes a serem sucessivamente ponderados na determinação da competência.

Sucessivas Constituições brasileiras detidamente dispõem sobre acompetência dos Tribunais, e das Justiças especiais, elevando assim àhierarquia máxima, como normas constitucionais, tais regras de competência. É natural o enquadramento na Lei Maior de normas fundamentaissobre o assunto, pois em última análise tais normas delimitam e definemo exercício da soberania nacional pelos órgãos do Poder Judiciário.

A Constituição Federal de 1988 prevê a competência do SupremoTribunal Federal, tanto a competência originária como a competência em grau de recurso (art. 102). Assim também quanto ao Superior Tribunal deJustiça (art. 105).

Também está na Lei Maior a competência da Justiça Federal (arts.108, 109 e 110), da Justiça Militar (art. 124), da Justiça Eleitoral (art. 121)e da Justiça do Trabalho (art. 114).

Todas as demais causas, não expressamente referidas na ConstituiçãoFederal, são de competência dos Tribunais e juizes estaduais (denominados

 justiça comum, ou ordinária), que assim exercem, pode-se dizer, umacompetência residual.

A competência fixada na Constituição apresenta-se exaustiva e taxativa: dispositivo algum de lei, ordinária ou complementar (salvante, evi-dentemente, emenda à própria Constituição), poderá reduzir  ou amj.

O Código de Processo Civil (arts. 86 a 124) contém a maior parte dasnormas de competência, máxime as pertinentes à competência territorial,

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ou competência de foro.  Assim também inúmeras leis federais ordinárias,ao regularem determinadas espécies de ações (v. g., Lei de Falências eRecuperação de Empresas, Lei das Desapropriações, Lei das Duplicatasetc.).

Conforme previsão do próprio Código de Processo Civil (art. 91), acompetência em razão da matéria e a competência em razão do valor da causa (ressalvados casos expressos na Constituição, no próprio Código ouem lei federal) regem-se pelas leis de organização judiciária. Cada Estadoedita seu respectivo Código de Organização Judiciária e leis federais dis

 põem sobre a organização judiciária das Justiças especializadas e da Justiça comum do Distrito Federal e dos Territórios.

Pela Constituição de 1988, art. 98,1, e § ls, cabe tanto à União comoaos Estados a criação de “Juizados Especiais” para o julgamento de causascíveis de menor complexidade (e, no plano penal, de delitos de menor potencial ofensivo)1. Pela Lei Maior, tanto a União como os Estados podemlegislar sobre o processo dos juizados de pequenas causas (rectius, dosJuizados Especiais), e sobre “procedimentos em matéria processual” (CF,art. 24, X e XI).

Também à legislação estadual, nas comarcas providas de duas ou

mais varas, cabe dispor sobre a criação de juízos privativos, incumbidosde conhecer determinadas causas conforme critérios ligados à matéria, aovalor da causa ou à pessoa do litigante. A lei estadual, destarte, pode criar

 juízos privativos  das ações relativas a direitos de família, ou a falênciasetc.; pode criar juízos privativos de causas de pequeno valor, pode criar

 juízos privativos das causas em que nm dos 1i f i p;a n d o nnn oMunicípio da capital, ou entidades de direito público., estaduai s  . . q i l  m u n i r ,

cipais (varas da Fazenda Pública).

Finalmente, os Regimentos Internos dos Tribunais geralmente dis põem sobre a competência do Pleno e dos órgãos fracionários do Tribunal(‘Turmas”, nos Tribunais Superiores Federais e nos Tribunais RegionaisFederais; Câmaras Reunidas, SecçÕes, Turmas, Grupos de Câmaras, Câmaras Separadas, nos Tribunais de Justiça), quer ditando regras, quersimplesmente repetindo ou explicitando regras já contidas na Lei Maior 

1. A Lei n. 9.099, de 26-9-1995, veio a dispor sobre o processo, julgamento eexecução, nos Juizados Especiais, das causas cíveis de menor complexidade. E a Lein. 10.259, de 12-7-2001, dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis eCriminais no âmbito da Justiça Federal. V. o verbete n. 118.

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ou em leis ordinárias federais ou estaduais. Definem, assim, a competênciainterna do Colegiado, inclusive a competência jurisdicional e administrativa do Presidente, do Conselho da Magistratura, da Corregedoria daJustiça, do relator, do revisor (CF, art. 96,1, a).

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DA COMPETÊNCIAINTERNACIONAL

Capítulo XI

47. Princípio da efetividadePartindo do pressuposto de que a lide não deva ser processada e

 julgada perante um juízo arbitrai, mas sim submetida à jurisdição estatal,verifica-se quefa busca do juiz competente deverá ser feita por sucessivas>asj

*-------\Em primeiro lugar, impende\verificar\se é competente a Justiça bra

sileira. Cuida-se, neste primeiro passo, da “competência internacional^Verificada a competência da Justiça brasileira, seguir-se~á a indagação dequal a “ Justiça” competente, se a Justiça comum (e neste passo ainda valedistinguir entre as Justiças estaduais e a Justiça federal comum), se alguma

das “Justiças ” especializadas (Justiça trabalhista, Justiça militar, Justiçaeleitoral), valendo mda^erquirir se a demanda, pelo, valor ou pela .matéria» não se inclui na competênciados Juizados Especiais (antigos Juizadosde Pequenas Causas).

Segue-se a busca do “foro”  competente, ou seja, da circunscricãoterritorial em que a demanda deve ser processada. Mas como nessa cir-cunscricão territorial (“comarca”, no âmbito das JusticaSde^adiiaijslmd&rrLexistir duas ou mais unidades jurisdicionais, a causa ainda deverá.ser atri-

 buída a jim ^.e tenrm e esta atribuição .dependeiá^fr.e-quentemente, da.matéria objeto dojpedido(v^s^sp.e^ja]i^adas,,jexistêQt^tantQ .nas..Justiças, do.a,.E.st.ada§,tçQrnQ_. na Justíçafederal}^

Vale observar que, no plano teórico, a jurisdição não encontrariaobstáculos territoriais; no dizer de Camelutti, de um ponto de vista lógicoa jurisdição não teria limites (todavia, “altra è la questione quanto al pote- re esecutivo,  inteso come la seconda sottospecie dei potere processuale”

 — Limiti delia giurisdizione dei giudice italiano, Rivista di Diritto Proces

suale Civile, 1931, v. VIII, II, p. 213-9). Teoricamente, uma ação com pedido indenizatório, ajuizada por cidadão espanhol contra outro cidadãoespanhol, ambos domiciliados na Espanha, por fato ilícito ocorrido no

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mesmo país, poderia ser ajuizada no Brasil (ou em Portugal, ou na Argentina). Todavia, qual motivo iria legitimar a ingerência da jurisdição brasileira (como elemento integrante da soberania estatal) na composição de umconflito absolutamente alheio ao Brasil e aos interesses brasileiros, ou seja,

que não interfere na “paz social” ou na “ordem pública” no Brasil?Sendo o Estado, referiu o saudoso Agrícola Barbi, “uma organização

com finalidade prática, não seria do seu interesse ocupar seus juizes comquestões que não se liguem ao seu ordenamento jurídico por qualquercircunstância” (Comentários ao CPC , 10. ed., Forense, v. I, n. 476). Alémdisso, a Justiça do país realmente “interessado” iria fazer executar a sentença proferida pelo juiz de outro país, ou afirmaria a sua própria competência?

Assim, é princípio geralmente assente em direito internacional o deque o exercício da jurisdição por um determinado país encontra limites no

 princípio da efetividade: o juiz brasileiro, portanto, somente atuará relativamente às demandas de alguma forma vinculadas a algum outro país sehouver possibilidade de tornar efetiva, de realmente fazer cumprir   suasentença (vale dizer, de que as cartas rogatórias de execução sejam bemaceitas pela justiça do outro país). No magistério de Cândido Dinamarco,“a conveniência do exercício da jurisdição e a viabilidade da efetivação de

seus resultados são os fundamentais critérios norteadores das normas dedireito interno sobre competência internacional (Gaetano Morelli)” ( Instituições de direito processual civil, Malheiros Ed., v. I, n. 133).

A boa política legislativa recomenda que somente se dê competênciaa um dado Estado para o julgamento de causas cuja satisfação do direito(declarado no processo de conhecimento) possa ser, por esse Estado, efetivamente assegurada, isto é, realizada: “De nada adianta proferir-se umasentença, cuja execução (realização prática do decidido) seja impossível”(Arruda Alvim,  Direito processual civil — Teoria Geral do Processo de Conhecimento, Revista dos Tribunais, 1973, v. n, p. 408-9).

Adita Arruda Alvim que normalmente o legislador estabelece regrascoincidentes com as fronteiras do país, onde a soberania se exerce defato e de direito; mas muitos fatores podem influir, como o que recomenda a vivência harmônica entre os Estados e o princípio de que, quantomaiores as relações comerciais entre dois países, tanto mais ampla deveser a receptividade das sentenças proferidas em um Estado em relaçãoao outro (Manual de direito processual civil, RT, v. 1, 10. ed., 2006, n.70, p. 253).

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48. Competência internacional concorrente

Casos existem nos quais a Justiça brasileira se considera competente para julgar uma demanda, mas não exclui a possibilidade de a ditacausa ser julgada por Justiça estrangeira.

 Nesses casos, se a demanda vier a ser proposta e julgada fora doBrasil, a sentença do juiz estrangeiro poderá ser cumprida no Brasil, evidentemente depois de homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.

 __ Esses casos. déf^iíp^^H^^fir^aH^aF^co^corrg^/^^jestão no\ art- 88 do Código deProcesso Civil. \ "

Passemos, assim, a analisar os casos considerados como de competência da Justiça brasileira.

A — Em primeiro lugar, nos termos do art. 88, I, é competente aautoridade judiciária brasileira nos casos em que o réu, mesmo se estrangeiro, mantiver domicílio em território nacional (não bastará, pois, estejao réu “de passagem” pelo território brasileiro, ou nele mantenha simplesresidência sem o animus manendiyM^s^ço^^t&MÚ%Á,ÇMUÇJ?IWltê!i

Ocorrendo em Montevidéu um acidente de trânsito, sendo envolvidoscomo agente e como vítima cidadãos uruguaios, a ação demdemzaçao

 poderá ser pela vítima ajuizada perante a Justiça brasileira, caso seja o reu

domiciliado em território brasileiro. Mas a demanda poderá, igualmente~ser ajuizada perante juiz do vizinho país, e nesta hipótese õ réu será citado

JocTlBrasil por rogatória, e a sentença que o condene poderá receber, emtese, o exequatur  brasileiro.

 Notemos, outrossim, que a só circunstância de o réu, qualquer queseja sua nacionalidade, ser domiciliado em território brasileirctpoHe~nag;:)ser suficiente para determinar a competência da Jurisdição brasileira,quando a lei do país onde a sentença deva ser cumprida opuser-se à interferência de juiz alienígenãTCaso, v. g., de lide envolvendo imóvel situadoem território estrangeiro, se a lei do país da situação do imóvel afirmar suacompetência “exclusiva”, a símile da norma do inciso I do art. 89 de nos-

..so.CMigO-PXomssiiall^.^,,

B — Competente será a Justiça brasileira — art. 88, II — quando a obrigação assumida deva ser cumprida no território nacional, ou seja,quando aqui esteia o forum destinatae solutionis: não importará, então, a

eventual circunstância de que o autor e o réu sejam pessoas (físicas ou jurídicas) domiciliadas no exterior. Se tal ocorrer^ o juizjDrasileiro faráexpedir carta rogatória para a citação do demandado no foro onde resida""

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Para Donaldo Armelin, trata-se de “uma nova^iipótese de fixação dacompetência internacional independente da anterior, de tal sorte quefmes^mo não domiciliadas no Brasil as partes litigantes, desde que a execuçãoda obrigação que as vincula tenha de se efetuar neste país, estará a deman

da sob jurisdicãQ_nacionaiy (artigo in RePro,  v. 2, p. 131-157). Diga-seque, embora o texto legal mencione apenas as ações destinadas ao “cum primento” da obrigação, os motivos inspiradores da regra da competência

.. aplicam-se igualmente às demandas erh que se pretenda indenização comosucedâneo da prestação*

De qualquer forma, caso a demanda venha a ser proposta no estran-geiro, a respectiva sentença poderá receber o exequatur  brasileiro, salvose o caso for'enquadrado" como de competência exclusiva da Justiça bra-

sileira (CPC, art7B"9).^ | | t.

......  I- T I1" '' S w T-. - ^ |||-|

A vetusta Lei de Introdução ao Código Civil — Decreto-lei n. 4.707,de 17-9-1942, em norma aliás superada pelo vigente CPC, já dispunha:

“Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira quando foro réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação”.

Como frisou Oscar Tenório (Lei de Introdução ao Código Civil, 2. ed.,Borsoi, 1955, n. 724), a lei de 1942 afastou-se do disposto no art. 15 daanterior Lei de Introdução (CC de 1916) e abandonou o critério ligado ao

lugar onde a obrigação se houvesse constituído, porquanto, lembrando Sa-vigny, “a conclusão do contrato é um elemento acidental e transitório, quenão tem qualquer relação com a substância da obrigação” (ob. cit., n. 725).

C — A competência “concorrente” da Justiça brasileira tambémocorre quando a pretensão do demandante tiver por base ato (ato jurídicoou negócio jurídico)  praticado no BrasilTou fato  (Tato jurídico stricto sensu) ocorrido em nosso país — art. 88, III.

Q acidente de trânsito ocorrido no Brasil, réu e vítima cidadãos ve~

nezuelanos e na Venezuela domiciliados, poderá autorizar a propositurada ação indenizatória perante a Justiça brasileira (até pela maior facilidadena produção de provas); no entanto, se a ação for proposta perante a Justiça da VenezuelauaãQ^se-negará..a.Justiça brasileira ao cumprimento de 'carta rogatória para a tomada da prova, ou à homologação da sentença es-"'trangeiracondenatória1.

1. A Resolução n. 9/2005 do Superior Tribunal de Justiça confere a seu presidente competência para conceder o exequatur   a cartas rogatórias e para homologarsentenças estrangeiras.

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 _Nesses casos de competência internacional'concorrente, pode, todavia, a ação ser proposta no Brasil mesmo que já esteia em andamento igualdemanda perante Tribunal de outro país (CPC, art. 90). A litispendência,normalmente impeditiva a que alguém renove a mesma causa que já está

em juízo (v. CPC, art. 301, V, e § 3~), neste caso, excepcionalmente, nãoopera como exceção processual2. Mas, se a ação proposta no estrangeiro

 já foi definitivamente julgada, sua homologação perante nosso Superior jH bünãr de Justiça impediráT desde en tãoaie i^ vacãc) dademanda emTribunal brasileiro3,465.

De outra parte, a sentença estrangeira não terá efíráHa no .Brasil sem a prévia

homologação pelo presidente do STJ. cabendo da .decisão do presidente, concessivaou denegatória de homologação, agravo para o Plenário do Tribunal. Sendo contestadaa ação de homologação, a competência para o julgamento será da Corte Especial (Res.n. 9/2005, art. 9e, § l2).

2. O STJ julgou interessante caso de contratos “coligados”, ambos com nãocoincidente eleição de foro, um de conversão de navio petroleiro em plataforma flutuante, o outro de seguro de desempenho {Performance bond) firmado com seguradorasnorte-americanas. A 4&Turma, sendo rei. o Min. Barros Monteiro, considerou o contrato de seguro como acessório do contrato de prestação de serviços, e julgou que asseguradoras se sujeitavam ao foro brasileiro e não ao de Nova Iorque, a teor do art. 88,

II, do CPC, “pois no Brasil é que deveria ser cumprida a obrigação principal”; assim,ocorrendo competência internacional concorrente, a competência da autoridade judiciária brasileira “não é suscetível de ser arredada pela vontade das partes”. Além disso,“à Justiça brasileira é indiferente que se tenha ajuizado ação em país estrangeiro, queseja idêntica à outra que aqui tramite”, pela incidência do art. 90 do CPC (REsp 251.438,ac. 8-8-2000; na íntegra em RSTJ, 146:368). V  Anexo II.

3. Conforme decisão do Min. Celso de Mello, mostra-se relevante a normainscrita no art. 90 do CPC, “que consagra a prevalência da competência internacionalda autoridade judiciária brasileira sobre processos em curso no exterior ou sobre decisões já proferidas por tribunais estrangeiros, ainda que com trânsito em julgado, pois,

enquanto não sobrevier a homologação, pelo Supremo Tribunal Federal, do ato sentenciai alienígena, inexistirá qualquer obstáculo a que a Justiça do Brasil conheça damesma causa e de todas aquelas que, com ela, guardem relação de conexidade” (SE5.778-EUA, rei. Min. Celso de Mello, dec. de 12-5-2000, Informativo do STF, n. 189,maio 2000).

4. Os temas da litispendência e da coisa julgada no direito processual civil internacional, suposta assim a competência internacional concorrente de dois Estados,são estudados com minudência por Arruda Alvim, em sua obra  Direito processual civil; teoria geral do processo de conhecimento, Revista dos Tribunais, 1972, v. 2,Parte 9, p. 407-35.

A  RePro, 7:8, publicou, a respeito, dois exaustivos trabalhos, de autoria domesmo Prof. Arruda Alvim, sob o título “Competência internacional”, e do Prof. Des.José Carlos Barbosa Moreira, sob o título “Relações entre processos instaurados, sobrea mesma lide civil, no Brasil e em país estrangeiro”.

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 Nos casos de competência inte-tnanionfll concorrente., a cláusulacontratual de eleição de foro estrangeiro é inoperante. não elidindo oaiuizamento da acão emigrobrasileiro. Assim, no REsp 804.306, o STJdecidiu caso de contrato de distribuição no Brasil de produtos fabricados

no Reino Unido, sendo este o “foro de eleição”; como a execução contratual ocorrera essencialmente em território brasileiro, a alegação de que o pagamento sempre fora efetuado no exterior não afastou a competência daJustiça brasileira (3- Turma, rei. Min. Nancy Àndrighi, j. 19-8-2008).

É aliás o magistério do Prof. José Ignãcio Botelho de Mesquita: “Asnormas que definem a extensão da jurisdição de um Estado são normasdiretamente fundadas na soberania nacional e, por isso, não se acham sub-"  

 Inètidãsa vontade das partes interessadas” ... (...) ... “Os limites da juris

dição nacional não podem, por isto, ser ampliados, nem restringidos, porvontade das partes. As partes podem modificar a competência territorial,mas não podem modificar a extensão da jurisdição nacional” ... f...) ... “acompetência internacional é sempre absoluta, ainda quando a lei admita acompetência concorrente de outro Estado” (RePro, 50:52-3) (grifamos).

De outra parte, se o fato ocorreu no território estrangeiro, sem repercussão em nosso país, a Justiça brasileira será incompetente: nesse sentido,decidiu o STJ aue o retomo forcado ao Brasil de passageiro de empresa

aérea, ao descer em aeroporto espanhol, não enseia indenização por danosmorais perante a Justiça brasileira, pois a soberania nacional não se esten-de aos fatos ocorridosTÕ7ã HolSmtonÕdbBrasil. salvo nas hipóteses doãrt 88, fe ll , do CPC: irrelevante. pois.,a4 im¥alênciad.Qs.dii:eiLQS-humanosou a existência de convênio de cooperação jurídica^ Precedente citado: AC13-RS (RO 19-BA, rei. Min. Cesar Rocha, j. 21-8-2003)6.

5. No julgamento do REsp 2.170 (3â Turma, rei. Min. Eduardo Ribeiro, j. 7-8-1990), considerou o Superior Tribunal de Justiça que a competência da autoridade

 judiciária brasileira firma-se quando verificada alguma das hipóteses previstas nos arts.88 e 89 do Código de Processo Civil, não se admitindo a conexão como critério paraampliar a competência da Justiça brasileira para conhecer de causas ou de pedidos decompetência de Justiça estrangeira ( RSTJ , 72:361).

6. A 3â Turma do STJ afirmou a competência da Justiça nacional em caso emque um helicóptero, sob arrendamento mercantil por empresa brasileira, veio a cair nolitoral das Bahamas. A seguradora, tendo pago a indenização, promoveu ação regressiva contra a arrendadora, empresa com sede no estrangeiro e com agente no Brasil.Considerou o colegiado que as obrigações deveriam ser cumpridas em território brasileiro (art. 88, II, CPC), tais como o pagamento dos aluguéis, exercício da posse,manutenção da aeronave e seu registro em órgão aeronáutico brasileiro.^ competência,

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Também assim no concernente ao trabalho de cidadão brasileiro,executado (alegadamente em condições altamente danosas) em país estrangeiro (no caso, na República da Irlanda), sob a legislação alienígena,o Superior Tribunal de Justiça afirmou a incompetência da Justiça brasi-

ieira: “Tendo o fato danoso ocorrido fora do territóriofbrasileiro, não tem _a_ justiça brasileira competência para processar e julgar ação indenizató- ria’\  exceto nos casos de incidenciã^o~ãrt 88,1 e II, do CPC (RO n. 37,lâ Turma, rei. Min. José Delgado, j. 19-4-2005).

Vale acrescentar que, instaurado o processo perante a Justiça estrangeira, o réu domiciliado no Brasil deverá ser citado por carta rogatória, sujeita ao exequatur  da Presidência do Superior Tribunal de Justiça (CF,art. 105,1, z, na redação da EC n. 45/2004). O sistema.pmc.essuaLbrasilei-

ro não aceita as citações por via postal — comuns aos países da common law. ou por funcionário; c ^ ^ ia ^ u ^ m e d ia nte (citacão feita emcaráter privado). A falta de citação regular considera-se, todavia, supridacaso o réu haja comparecido espontaneamente ao processo estrangeiro enele apresentado defesa; neste caso, a ausência da carta rogatória citatórianão impedirá a homologação da sentença estrangeira (STF, SE 4.248, j.20-11-1991, RTJ,  138/471).

48-A. Lugar de assinatura do contrato e lei aplicávelVale anotar que o lugar de assinatura r]a..cammto é “dado” eventual,

 por si só absolutamente irrelevante para o fim de determinação da competência internacional concorrente Poderia o contrato ter sido assinado emLondres, e nem por isso a composição da lide seria de competência dosmagistrados do Reino Unido; ou em Madri, e nem por isso o julgamentoda lide será de competência da Justiça espanhola.

A respeito, dispõe a Lei de Introdução ao Código Civil (Dec.-lei n.4.657, de 4-9-1942):

“Art. 9a Para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a lei do  país em que se constituírem.

embora concorrente, não é  afastada pela circunstância de o contrato haver sido cele

 brado em solo estrangeiro, oú porlá serdbmlciíiada a arrendadÕfà:7RessàItoürmaís,11 -|'I> H| | | —. -T, n in III TH»* I i * M|»I L»l»n n — ^

ser vedado à parte dispor sobre essa competência mediante clausula contratual (REsp498.835, rei. Min. Nancy Andrighi, ac. 12-4-2005, precedente citado— REsp 251.438).

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§ 2- A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente

Claro, a escolha da lei aplicável encontra limitações; y&própria lei brasileira é expressa em declarar que não prevalecerão as disposições de

lei estrangeira quando contrariarem a ordem pública brasileira, os bonscostumes e a soberania nacional  ,

E isso evitará, inclusive, a alternativa de as partes irem ao estrangeiro apenas para assinar o contrato, ou assinarem o pacto no consulado do

 país estrangeiro, assim buscando assegurar a aplicação da lei de tal país(Antônio Felix de Araújo Cintra, Lei aplicável: uma questão de escolha,

 boletim INCIJUR, n. 56, março de 2004). O autor acima citado menciona,

outrossim, com muita razão, que as manifestações legais mais recentes dãosuporte a esta linha de raciocínio, valendo mencionar-a ^norma do art. 2a,§ 1~, da Lei da Arbitragem}(Lei 9.307, de 23-9-1996) ao estabelecer que

tas partes poderão escolher a lei aplicável, desde que não ocorra violaçãoà ordem pública e aos bons costumes i e essa norma foi reiterada no acordo sobre arbitragem comercial do Mercosül, promulgado no Brasil peloDecreto n. 4.719, de 4-6-2003.

 Não conhecendo a lei estrangeira, o juiz exigirá de quem a invoca

 prova do texto e da vigência (Lei de Introdução, art. 14; CPC, art. 337).Em sua obra maior, Cândido Dinamarco refere que a jurisdição é

exercida segundo as normas nacionais de direito processual; já o direito material vai além-fronteiras em muitos casos, segundo normas desuperdireito representadas pelo direito internacional privado. E prossegue:

“Especialmente em contratos entre particulares, que são regidos pela

disponibilidade própria do direito privado (comercial, civil), permite-seaté que as partes indiquem a norma de regência, optando legitimamente pela lei do país que escolherem.

É perfeitamente admissível, portanto, que, não obstante a competência internacional pertença à autoridade judiciária de dado Estado soberano,esse juiz internacionalmente competente venha a julgar segundo normas

 jurídico-substanciais de outro país e até mesmo a dar-lhe efetividade mediante aos atos do processo de execução forçada” (. Instituições de direito  processual civil, Malheiros Ed., 2001, v. I, n. 148, p. 347).

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49. Competência exclusiva da Justiça brasileiraA lei processual brasileira prevê casosj(art. 89) de competência

Tribunal estrangeiro, a sentença não poderá merecer homologação para

ser executada em nosso país, e também rogatórias não receberão o exe-

Assim, quaisquer açoes relativas a imóveis  situados no Brasil —-tanto fundadas em direito real. v. g.. acão reivindicatória. como fundadas

gada sentença estranpp.ira nu .r.cmc&àiàQ_exemtatur  a carta rogatória, que ofendam asoberania nacional ou a ordem pública Cart. 6~). Note-se que. séTòFo caso de comve- thirin^xrluxivn da Justiça brasileira. a homologação ofenderia a soberania nacional;além disso, a sentença estrangeira não estaria sendo prolatada por “juiz competente”,

 pois este seria o juiz brasileiro. A sentença estrangeira homologada será cumprida noJuízo Federal competente (art. 12).

8. No magistério de Agrícola Barbi, “o texto é amplo, não se restringindo a açõesreais, isto é, fundadas em direito real; a lei abrange qualquer ação relativa a bem imóvel, vale dizer, também as fundadas em direito obrigacional, como, v. g., a locação,apromessa de venda e casos semelhantes” (Comentários ao Código de Processo Civil,Forense, v. 1, 10. ed., 1998, n. 490).

 No mesmo sentido, Pontes de Miranda: o art. 89,1, falou em ‘ações relativasa imóveis situados no Brasil’, e não só de ações reais relativas a imóveis situados noBrasil” (Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, 1974, t. 2, p. 195).

A recíproca nem sempre é verdadeira. O Supremo Tribunal Federal (2a Turma, RTJ, 90:121) admitiu a competência do foro de Foz do Iguaçu para julgar ação em que,

com base em promessa de compra e venda celebrada no Brasil (entre brasileiros noBrasil residentes), era pedida a outorga da escritura definitiva de imóvel situado noParaguai. Importa notar que a Justiça do país de situação do imóvel se dera por incom

 petente, em 1- e 2S graus.9. A norma do art. 89, II, do Código de Processo CivjüLpela oual compete

exclusivamente à autoridade judiciária brasileira “proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil”, tem caráter absoluto e é aplicável não_só-ao„inventárÍQ e partilha mortis causa, como também ao inventário e à partilha^aràçõo ju c tíc i^ ^   Assim, não pode ser homologada no Brasil sentençaestrangeira que, em ação de divórcio julgada em Portugal, haja procedido a partilha

envolvendo bens móveis e imóveis situados no Brasil (STF, Presidência, 27-6-1980, RTJ, 96:569). No julgamento da SE 7.101 (em nível de Ag. Reg.) foi decidido pelo STF que a

sentença da Justiça do Paraguai, que declarou a nulidade de procuração e da transfe

 brasileiraj Nestes casos, se proposta acão perante

de imóvel sito no Brasil8 brasileiro,,eo ju iz brasile;dição estrangeira9.

7. Pela^esoluçãolir?) de 4-5-2005, da Presidência\do STB não será homolo-

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Igualmente, somente o juiz brasileiro poderá proceder ao inventário ejmrtilha de bens, imóveis ou móveis, situados no Brasil10, e isto mesmoque o de cujus tenha sido estrangeiro e haja residido e falecido no estrangeiro. Destarte, se um cidadão uruguaio deixou bens no Tlrngiiai. e no

Brasil, apesar do princípio da “universalidade da herança”, haverá um  -- —  --1. . r7.....   ,fj,  , m m , ,  in ,r mr- .......... „uwiynim*........   ini « fc»■■■■....   juízo sucessório no Uruguai e outro no Brasil, inclusive porque também oJJmguai adotaregra semelhante11.

O STF, todavia, entendeu que não atenta contra.a_soheimáa_nacianal

estrangeira de divórcio em que é ratificado acordo das partes sobre a par-, tiifia cíe~bens imóveis situados no Brasil. V.  o verbete n. 44.

rência de imóvel situado no Brasil, somente merecia ser homologada na parte alusivaà outorga do mandato; portanto, a homologação não abrangeu os atos alusivos à alteração subjetiva na Matrícula do imóvel (Tribunal Pleno, rei. Min. Maurício Corrêa(Presidente), ac. de 15-10-2003, Informativo do STF, n. 326).

10. O STF, em sessão plenária, apreciando pedido de homologação da partilhade bens decorrente de separação de cônjuges, deu eficácia à sentença proferida portribunal do cantão de Zurich — Confederação Suíça, que adjudicara a um e a outro dos

ex-cônjuges bens móveis e imóveis situados no Brasil, fazendo aplicação da lei brasileira, partilha por meação. Ao final de seu voto, disse o relator Min. Paulo Brossard:“Entendo que em casos como este, onde foi aplicada a lei brasileira, não há óbice paraque esta Corte homologue a sentença estrangeira que decide sobre a partilha de benssituados no Brasil, por não ver ofensa ao inciso II do art. 89 do CPC” (SE 4.512-6

 — Confederação Helvética, j. 21-10-1994).Com essa diretriz, a Suprema Corte voltou atrás no decidido nos acórdãos na SE

2.446 {RTJ, 92:522) e na SE 2.544 (RTJ, 93:36), que aplicaram o art. 89, II, tanto às partilhas decorrentes de sucessão causa mortis como às concernentes a ato inter vivos. Já agora voltou a vigorar a exegese de que o inciso II do art. 89, que fixa a competên

cia absoluta do juiz brasileiro, “não se refere expressamente à partilha de bens decorrente da dissolução da sociedade conjugal”, dês que, por certo, cumprida a regra deaplicação da lei mais favorável ao cônjuge brasileiro (acórdão publicado na revistaGênesis, Curitiba, i:213-8).

11. O tema relativo à unidade ou pluralidade de juízos sucessórios, inclusive emseu desdobramento histórico no Brasil, e com apreciações do direito comparado, foiamplamente abordado em acórdão da lâ Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, na Ap. 29.716, de que fomos relator, publicado na  Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 91:245.Este acórdão foi em parte reformado pela egrégia lâ Turma do colendo Supremo Tri

 bunal Federal — RE 99.230, decisão de 22 de maio de 1984 (RTJ, 110:750). O inteiroteor dos arestos constou das anteriores edições deste livro, até a 4- edição inclusive,como Anexo III.

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Transferida para o STJ a competência constitucional para a homologação de sentença estrangeira (v. o verbete n. 44), a orientação man- .teve-se inalterada; assim, a Corte Especial do STJ deferiu o pedido dehomologação de sentença estrangeira de divórcio ao entendimento de

que o fato de determinado imóvel estar situado no Brasil não impede ahomologação da sentença de partilha efetivada perante tribunal de Portugal, que incluiu o mesmo bem, não ofendido o art. 89, II, do CPC,inclusive porque a partilha obedeceu ao sistema da lei brasileira na divisão dos bens, metade para cada cônjuge (SE 878, rei. Min. MenezesDireito, j. 18-5-2005, v.u.).

 Last but not least, vale sublinhar quedas normas de competência internacional são normas de ordem pública.

Por isso mesmo, conforme afirmou o professor Botelho de Mesquita{RePro,  50/53), não se aplica à competência internacional a conhecidaclassificacão da competência interna aue a classifica em competência

a r . u r - L w w ^ - ' . . T w . - ™ . » I r   — I . . . . . . . . . . . . . . 1 ■ ■ ■ » ■ 1" “ p i i h m , M n u « : . . . . . . .   P ' , ^ v r r h > i m i t  n u

absoluta” e competência, “relatraa”.

E se reporta o mestre paulista à lição de Liebman, para quem “o fatode certa causa ser estranha à jurisdição do Estado, não é a rigor caso deincom~pêtenciá (significa'no Itodo, nêgãçao dã^açadj^e; Talvez,"so^oTanalogia se lhe.possa aplicar a regra de incompetência ratione materiae 

(Liebman, Estudos sobre o processo civil brasileiro, Saraiva, 1947, p. 24-5).Portanto, na aplicação das normas sobre competência, deverá o juiz pri-meiramente verificar se a causa se inclui dentro dos ílmites queTiTanTa ~Tlmsdição brasileTra7 para somente depois apreciar os dados relativos a

Assim, a ausência de Jurisdição nacional (não ocorrência de nenhumdos casos~3e competência internacional concorrente) a rigor poderá e d e-

 _vera co^fitm ^qi^tãoj^efada]^ ser suscitada na contestação (aplicação,

 por compreensão, do art. 301,jncisos í F e i r p ^ ^Com efeito, a “exceção de incompetência” é instrumento para ocontrole da competência relativa, prorrogando-se a competência do juiz sea questão não fbFiuscitada em tempo hábil; mas a ausência de jurisdição'não^om^ortà^ evidentemente, a prorrogação de uma competência a prio- ri inexistente.

12. Em sentido contrário, pela competência relativa nos casos do art. 88 do CPC,e portanto pela sua arguição via exceção de incompetência, manifestou-se o TJRJ noAg. Inst. 598/95 (rei. Des. Miguel Pachá, j. 30-5-1995).

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50. Limitações à imunidade de jurisdição dos Estados estrangeiros13

A modema doutrina do direito internacional público não mais admite como absoluta a regra da imunidade jurisdicional de Estado estrangeiro

(STJ, AC 05, rei. Min. Cláudio Santos).Em voto no Pretório Excelso, o Min. Francisco Rezek salientou serem

inaplicáveis as Convenções de Viena, as quais dizem respeito à imunidade pessoal e não dos Estados estrangeiros; esta resultaria somente dos costumesinternacionais. Mas tais costumes não mais abrigam a imunidade absolutados Estados uns perante os outros, afastada por Convenção europeia (Convenção de Basiléia) e pelo direito interno britânico e americano.

 Não restam dúvidas, pois, que as pessoas físicas permanecem tuteladas pelos privilégios e imunidades diplomáticas concedidas pelas Con-venções de Viena, de 1961 (relativa ao servidor diplomático) e de 1963(concernente ao serviço consular), incorporadas ao direito positivo interno

 pelos Decretos n. 56.435/65 e 61.078/67; assim, existindo imunidade à jurisdição civil e penal, somente em caso de expressa renúncia estarao taisagentes sujeitos à jurisdição nacional (v., nesta obra, o verbete n. 40).

Já quanto ao Estado estrangeiro, a Convenção europeia de Basiléia,

de 1972, sobre as imunidades dos Estados, e leis dos Estados Unidos (Fo- reign Sovereign Immunities Act, de 1976), do Reino Unido (State Immu- nityAct, de 1978) e de outros países14introduziram limitações à teoria daimunidade absoluta, passando a aceitar o controle jurisdicional nacionalsobre os atos de pura gestão praticados pelo Estado estrangeiro, mas nãosobre os atos caracterizados como jure imperii  (STF, AC 9.696, Pleno,reclamação trabalhista contra a antiga República Democrática Alemã, ac.de 31-5-1989, rei. Min. Sydney Sanches,  RTJ , 133:159 e s., com elucida

tivo voto do Min. Francisco Rezek).Cumpre anotar, no entanto, que não é possível, salvo expressa anuên

cia do Estado estrangeiro, a execução forcada de eventual sentença que otenha condenado, pois seus bens, móveis ou imóveis, vinculados à ativida

13. A respeito do tema, excelente artigo de doutrina do Dr. Júlio Marino deCarvalho, ex-Procurador Regional da República, sob o título “Jurisdição e renúncia no

direito internacional”, publicado na RF, 318:61 -87, cuja leitura se recomenda.14. Assim, igualmente, v. g., em Cingapura, em 1979; na África do Sul e no

Paquistão, em 1981; no Canadá, em 1982; e na Austrália, em 1985.

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titucional da Alemanha, “em sentença de 1983, repeliu a imunidade deexecução quando se trate de bens não destinados ao exercício da soberania”;igualmente a jurisprudência francesa, bem como o Tribunal Federal Suíço,têm decidido que o princípio da imunidade de execução “deve ceder quan

do os bens objeto de constrição sejam usados para a atividade econômicaou comercial de natureza jurídico-privada em que a demanda se baseia”(artigo dout, Tribuna do Direito,  ed. de janeiro de 2001, p. 10)15e 1<s.

 No (Supremo Trihnnal FederaÒ disse JsMin. Celso de Mello ^ ue “aimunidade de jurisdição do Estado estrangeiro, quando se tratar de litígiostrabalhistas, revestir-se-á de caráter meramente relativo e, em consequên-cia, não impedirá que os juízes e‘TfT15unãisT^controvérsias e sobre elas exerçam o poder jurisdicional que lhes_ é ineren-*

 M l   Turma, Agravo Interno no Ag. Inst 139.671; RTJ, 161:643).Desse aresto vale transcrever o seguinte excerto:

“Não se revela viável impor aos súditos brasileiros, ou a pessoascom domicílio no território nacional, o ônus de litigarem, em tomo de questões meramente laborais, mercantis, empresariais ou civis,  perante tribunais alienígenas, desde que o fato gerador da controvérsia judicial — necessariamente estranho ao específico domínio dos

15. Para tornar operante a execução, Marcelo Sampaio Costa (artigo publ., RF, 357:389-94) preconiza, ao final de interessante estudo, que, se o ente de direito público externo não se propuser a cumprir espontaneamente o julgado exarado pela jurisdição laborai brasileira, deverá a execução “prosseguir por intermédio de ofício expedido pelo Presidente do TRT endereçado ao Ministério das Relações Exteriores, encaminhado através do Ministério da Justiça, solicitando ao ente alienígena que façacumprir tal julgado”. Tal providência, por certo, não excluirá, caso infrutífera, a penhora sobre bens de propriedade do Estado estrangeiro, desde que não vinculados às

atividades diplomáticas ou consulares.16. No magistério de Júlio Marino de Carvalho, nas demandas ajuizadas no

Brasil contra Estado estrangeiro, por atos de gestão,  “já que inexiste imunidade de jurisdição, o Judiciário está capacitado a proceder à execução do. julgado, sem maisformalidades que as do CPC. Descabe no caso a chamada 4segunda renúncia', para ofim especial de execução de sentença e que é exigida quando a parte sucumbida éagente diplomático. A cobrança de uma postulaçao vitoriosa pode recair, v. g., sobre bens pertencentes ao Estado, como créditos comerciais, navios mercantes, imóveisdestinados a atividades comerciais etc. Nesse particular o princípio da efetividade estáatuante, favorecendo a concreção do decisório. A execução compulsória, entretanto,

não pode incidir sobre imóveis e meios de transporte diplomáticos, porquanto esses bens estão resguardados pela Convenção de Viena de 1961, art. 22” (Jurisdição e renúncia em direito internacional, RF, 318:84).

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acta jure imperii — tenha decorrido da estrita atuação more privato- rum do Estado estrangeiro.

Os Estados Unidos da América — parte ora agravante — járepudiaram a teoria clássica da imunidade absoluta naquelas questões

em que o Estado estrangeiro intervém em domínio essencialmente privado. Os Estados Unidos da América — abandonando a posiçãodogmática que se refletia na doutrina consagrada por sua Corte Su

 prema em Schooner Exchange v. McFaddon (1812) — fizeram prevalecer, Ja no início da década de 1950, era típica declaração unilateral de caráter diplomático, e com fundamento nas premissas expostas na Tate Letter , a conclusão de que ‘tal imunidade, em certos tipos de caso, não deverá continuar sendo concedida\ O Congresso ame

ricano, em tempos mais recentes, institucionalizou essa orientaçãoque consagra a tese da imunidade relativa de jurisdição, fazendo-a

 prevalecer, no que concerne a questões de índole meramente privada,no Foreign Sovereign Immunities Act  (1976)”.

Como reiterou o Min. Celso de Mello, rei. no STF da Açao CivilOriginária n. 575 (pretensão indenizatória ajuizada pelo Distrito Federalcontra a República dos Camarões, por acidente de trânsito), em funçãodesta nova orientação “a jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal

 privada, notadamente em conflitos de naturezaJrabalhista, consolidou-seno sentido de atribuir caráter meramente relativo à imunidade de jurisdiçãotal como reconhecida pelo direito internacional público e consagrada na prática internacional” (dec. de P -8-2000)17.

O Min. Eduardo Ribeiro (STJ, 3âTurma, AC 07, j. 3-4-1990) sublinhaque se passou a distinguir conforme a natureza do ato praticado pelo Es

tado estrangeiro, excluindo-se da incidência da imunidade os atos quedigam respeito apenas a “relações rotineiras, travadas entre o Estado es

17. Mui recentemente, em longa decisão no RE 222.368, relativo a demandatrabalhista ajuizada contra o Consulado-Geral do Japão, o Min. Celso de Mello maisuma vez afirmou a competência, em tais casos, da Justiça brasileira: “O fato irrecusável é um só: privilégios diplomáticos não podem ser invocados, em-Processos .trabalhistas. rnnnpcdrar n enriquecimento sem causa de Estados estrangeiros, em injus-

to detrimento de trabalhadores residentes em território brasileiro, sob pena de essa prática consagrar in aceitável"desvio ético-jurídico, incompatível com o princípio da boa-fé ê~com os grandes postulados do direito intemacíonar’ (dec. monocrática).

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trangeiro. representada. p.0r_.£sus_.ageiite.s'-e os súditos do pais em queatuam”. Assim, v. g., em litígios trabalhistas, em lides oriundas de relaçõesde locação, de fornecimento de materiais18.

O Supremo Tribuna] Federal todavia -rp.mnhp.nftit ao Estado estran

geiro imunidade de jurisdição relativamente a matéria tributária. Assim,o Tribunal manteve decisão do relator que, em sede de ação cível originária, negara seguimento a execução fiscal promovida pela União em facedo Consulado da República da Polônia — que expressamente invocou aimunidade —, visando a cobrança de multa aduaneira (ACO, Ag. Reg.524, rei. Min. Carlos Velloso, j. 26-3-2003, informativo do STF , n. 302,mar. 2003). É afirmado como pacífico no^STjjque os Estados estrangeirosgozam de imunidade jurisdicional em matéria tributária, afastada a imu

nidade apenas quando em discussão, matérias de ordem estritamente pri

18. Anoto alguns dos julgados do Superior Tribunal de Justiça:1. Na AC 02, j. 7-8-1990 pela 4a Turma do Superior Tribunal de Justiça, leading 

case de que foi relator o Min. Barros Monteiro, o colegiado adotou o entendimento,expresso na ementa, de que, “sofrendo o princípio da imunidade absoluta de jurisdiçãocertos temperamentos em face da evolução do direito consuetudinário internacional,não é ele aplicável a determinados litígios decorrentes de relações rotineiras entre oEstado estrangeiro e os súditos do país em que o mesmo atua, de que é exemplo a jurisdição trabalhista” (ac. na íntegra no Anexo IV).

2. Na AC 05 (j. 19-6-1990), a egrégia 3âTurma do Superior Tribunal de Justiça,seguindo o voto condutor do rei. Min. Cláudio Santos, igualmente afirmou a tese denão ser absoluta a regra da imunidade jurisdicional do Estado estrangeiro, sendo excepcionados inclusive os feitos de natureza trabalhista. A tese mereceu adoção tambémna AC 07 (j. 3-4-1990, rei. Min. Eduardo Ribeiro), com remissão à AC 04, em recla-matória trabalhista contra “o consulado português”. A competência da Justiça brasileira foi igualmente afirmada no Ag. Inst. 757 (STJ, 4a Turma, j. 21-8-1990, rei. Min.Sálvio de Figueiredo), em ação de cobrança contra a antiga Tchecoslováquia por em

 presa fornecedora de material de construção (ac. na íntegra no Anexo IV).3. No Rec. Ord. 6, relativo a “impostos e taxas cobrados em decorrência de

serviços específicos prestados ao Estado estrangeiro”, no caso o Japão, a Ia Turma doSTJ, sendo rei. o Min. Garcia Vieira, reiterou que “a imunidade absoluta de jurisdiçãodo Estado estrangeiro só foi admitida até o século passado. Modernamente se temreconhecido a imunidade ao Estado estrangeiro nos atos de império, submetendo-se à

 jurisdição estrangeira quando pratica atos de gestão. O Estado pratica ato ‘jure gestio-nis’ quando adquire bens imóveis ou móveis.... (omissis)... Não se pode alegar imunidade absoluta de soberania para não pagar impostos e taxas cobrados em decorrênciade serviços específicos prestados ao Estado estrangeiro” (ac. de 23-3-1999).

4. Em ação de cobrança de honorários de advogado., por serviços prestados aEstado estrangeiro (Consulado Geral), a 3â T. do STJ considerou competente a jurisdição brasileira (RO n. 42, rei. Min. Menezes Direito, j. 7-12-2006).

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vada, como as questões trabalhistas ou de responsabilidade civii (RO 55,2- Turma, rei. Min. Carlos Mathias — juiz convocado, j. 18 -3-2008).

A imunidade de jurisdição não representa uma regra que automaticamente deva ser apliçada a qiiaiÃqtier procesmsj-udiciais mmddos contra

Estado estrangeiro: trata-se de um direilo_que_p-Qde.>_Q.u não, ser invocadoe exercido por esse Estado.

Assim, em ação indenizatória ajuizada por brasileiro naturalizado,de etnia judaica, contra a República Federal da Alemanha, por danos materiais e morais sofridos quando da ocupação do território francês portropas nazistas durante a 2- Guerra Mundial, o STJ, ao reformar a sentença que extinguira o processo por incompetência da Justiça brasileira, determinou a citação da demandada a fim de que viesse a alegar, querendo,seu interesse em não se submeter à Justiça nacional (princípio da submissão), demonstrando cuidar-se de ato de império (RO n. 6 4 ,3~ T„ rei. Min.

 Nancy Andrighi, j. 13-5-2008). Todavia, embora os doutos fundamentosdoutrinários do acórdão, temos a impressão de que, nesse caso, a naturezade “ato de império” (embora manifestamente criminoso) revelava-se na

 própria narrativa da inicial, sendo assim correta a sentença.

Com efeito, tratando-se de acta iure imperii, a imunidade é conside

rada absoluta, sem exceções. Assim, a Justiça brasileira considerou-seincompetente para julgar ação de indenização contra a República Federalda Alemanha, pelo afundamento de barco brasileiro em águas litorâneas

 por submarino nazista, em 1943, durante a 2- Guerra Mundial (STJ, ROn. 66,4âT., rei. Min. Fernando Gonçalves, j. 15-4-2008).

Em outro caso, ação por danos morais e materiais ajuizada contraEstado estrangeiro por pessoa que, ao desembarcar, foi detida e obrigadaa retornar ao Brasil, foi entendido que, para que se classifiquem os atos

em de império ou de gestão, necessário que se oportunize a manifestaçãoformal do Estado, e daí a necessidade de sua citação (STJ, 3â T., RO n. 70,rei. Min. Nancy Andrighi, j. 27-5-2008)19.

19. Decisão semelhante foi tomada no RO n. 57, em que por maioria de votosfoi determinada a citação dos Estados Unidos da América, por seu embaixador noBrasil, a fim de que manifeste aceitação, ou não, da jurisdição brasileira em ação in

denizatória promovida pela família de João Goulart, que acusa os EUA de havercontribuído para a deposição do ex-presidente. A relatora, Min. Nancy Andrighi, bemcomo o Min. Gomes de Barros, ficaram vencidos, por considerarem que teria ocorrido“ato de g e s tã o também vencido o Min. Sidnei Beneti, pela extinção do processo,

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O STJ reconheceu a imunidade de jurisdição da República Federativa da Alemanha, contra a qual vítima do regime nazista ajuizou, perante a Justiça brasileira, ação revisional de alimentos; o fundamento doacórdão foi o de que a concessão de pensão resultou de ato de império do

Estado estrangeiro (REsp 436.711, 3- Turma, rei. Min. Gomes de Barros, j. 25-4-2006).

 Na Ação Cível Originária n. 633 (STF, Pleno, j. 11-4-2007, rei. Min.Ellen Gracie), concernente a execução fiscal (multa referente ao Impostode Importação) contra o Consulado-Geral da R,epública da Coreia, é referido que a imunidade de jurisdição modernamente passou a ser afastada nos conflitos de ordem privada, notadamente lides de natureza trabalhista (conforme Circular que o Itamaraty dirigiu às Missões Diplomáticas

em 14-2-1991). Com cinco votos vencidos, o Supremo Tribunal Federalmanteve orientação no sentido da imunidade absoluta do Estado estrangeiro a imposições fiscais brasileiras, com invocação às Convenções deViena de 1961 e 1963; os votos minoritários, seguindo orientação sustentada pelo Min. Celso de Mello, entendiam relativa a imunidade, peloentendimento de ser possível a constrição judicial naqueles bens não vinculados aos serviços regalares da Missão Diplomática ou consular do Estado executado. Este acórdão, pela riqueza de fundamentação, merecedetida análise.

51. A representação em juízo do Estado estrangeiro

É atribuição do Embaixador, não do cônsul. Assim decidiu a 4~ Turma do Superior Tribunal de Justiça (Ag. Inst. 11.771,20-4-1993, rei. desig.Min. Athos Carneiro, RSTJ , 48:11'), sob a ementa seguinte:

“Estado estrangeiro. Representação em juízo. Atribuições doscônsules. Convenções de Viena. Caso do art. 105, II, c, da Const.Federal.

 Nos termos da Convenção de Viena de 1961, sobre relaçõesdiplomáticas, cabe ao Embaixador representar o Estado acreditante

entendendo cuidar-se de ato de império; prevaleceu então o voto médio, do Min. Aldir

Passarinho e do Min. Ari Pargendler (3a Turma, j. 21-8-2008). Parece-nos, a respeito,tratar-se de ato tipicamente de império, o de (suposta) ingerência de um país soberanoem movimento insurrecional em outro país soberano.

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 perante o Estado acreditado; não ao cônsul, cujas atribuições limitam-se, de regra, aos planos administrativo, comercial e notarial.

 Não pode o cônsul, pois, outorgar mandato judicial em representação do Estado estrangeiro, visando ajuizar demanda perante a

Justiça brasileira.Falta de legitimação para o processo. Aplicação do art. 13CPC. Agravo provido”.Tal orientação foi mantida pela 3- Turma: somente os chefes de mis-

são diplomática possuem legitimidade para as causas em que os interessesdo país que representam estejam em discussão perante o Estado em queservem, limitando-se os representantes consulares a atividades de cunhoeminentemente comercial e administrativo (RO 24, rei. Min. Nancy An

drighi, ac. de1 - 4 ~ 2 ^ R S T j 7 l 7 6 : T ^ 9 f ^

52. Das cartas rogatórias e seu exequatur

A cooperação internacional, em matéria jurisdicional, realiza-se inclusive mediante o envio de cartas rogatórias:

“De duas espécies são as cartas rogatória^: quando enviadas do Bra-sil para outro país, elas se denominam rogatórias ativas; quando remetidas _ . ..JZ  — |   .......   m . J T 7   ______________   ....   n r ir

de país estrangeiro para serem entre nós cumpridas, elas se chamam roga- 

tórias passivas”  (Frederico Marques,  Instituições de direito processual civil, 4. ed., Forense, 1971, v. 2, item 504).

A carta rogatória ativa obedecerá, “quanto à sua admissibilidade emodo de seu cumprimento, ao disposto na convenção internacional; àfalta desta, será remetida à autoridade judiciária estrangeira, por via diplo-mátLca.denoisjdeJxaduzidanara.aJínaLua_do país em que há de praticar-se

 j?J*to” — CPC, art. 210.Como se vê, em se tratando de carta rogatória ativa, poderá ela ser

remetida diretamenteãcTMInistério das Relações Exteriores, que a enca-

20. Nesse mesmo sentido continua decidindo a 3aTurma, como no RO n. 24, rei.Min. Nancy Andrighi: “apenas os Chefes de Missão Diplomática possuem legitimidade para as causas em que os interesses do Pafs a que pertencem e representam estejamem discussão perante a Justiça do Estado onde servem, limitando-se os representantesconsulares a atividades de cunho eminentemente comercial e administrativo” (ac. 7-4-2003). E novamente no RO n. 40, de relatoria do Ministro Castro Filho, com remissãoà Convenção de Viena, art. 3e, a t e  (ac. de 28-9-2004, Informativo do STJ, n. 223, out.

2004).

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minhará à missão diplomática brasileira no país de destino. Prática consue-tudinária, no entanto, recomenda o encaminhamento inicial por intermédio"do Ministério da Justiça. ’ ^ '-------*----

Já as cartas rogatórias passivas, a fim de serem cumpridas no Brasil,submetem-se ao exequatur  pelo Superior Tribunal de Justiça — Constituição Federal, art. 105,1, i.

Quanto à homologação de sentença estrangeira, vide verbete 44.

Em regra, são admissíveis cartas rogatórias passivas para a prática.deatos de informação ou de comunicação processual (intimações, notificações,citações) ou tomada de provas (depoimentos pessoais, testemunhos).

Todavia, como regra, a rogatória passiva não pode ter eficácia exe- cutória. Assim a jurisprudência remansosa da Suprema Corte:

“Vê-se, portanto, que constitui postulado fundamental do sistema normativo brasileiro a pré-exclusão de qualquer atividade execu-tória em tema de cartas rogatórias passivas, pois, em tal hipótese,impor-se-á a necessária e prévia homologação da resvectiva decisão estrangeira. a efetivar-se em procedimento específico a ser instaurado no âmbito djesla_Cflrí^JKi$,..termos do CPC, arts. .4&3. e.-4M e do

RISTF, arts. 215 a 224” (Carta Rogat. n. 8.425, rei. Min. Celso deMello, dec. de 4-9-1998, negando executoriedade a rogatória proveniente da Justiça de Portugal solicitando desconto em folha de pagamento).

E que Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias^ celebrada no Panamá e formalmente incorporada ao direito interno brasileiro em1996 (Decreto n. 1.899, de 9-5-1996), ao definir a natureza das atividades

 processuais passíveis de cumprimento em sede de carta rogatória, excluiu,de maneira expressa, do art. 3Q. os atos “aue impliquem execução coativa”.Tais atos devem ser submetidos à necessária e prévia homologação darespectiva decisão estrangeira, a ser instaurada no_ âmbito do Superior 

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52-A. Cartas rogatórias no âmbito do Mercosul

Esta regra, a de que nas cartas rogatórias não se pode pleitear medi-da executória de sentença estrangeira que não haja sido homologada pelaJustiça do Brasil (KU,   /2T659-67; RTJ, 95:157), encontra agora exceção para os casos de rogatórias oriundas dos países do Mercosul, tendo em

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vista o Protocolo de Las Lenas, tratado este formalmente incorporado aodireito positivo nacional pelo Decreto Legislativo n. 55/95 e pelo DecretoExecutivo n. 2.067, de 12-11-1996.

As sentenças estrangeiras, desde que proferidas por autoridade judi-

ciária dos demais Estados componentes do Mercosul, poderão, para efeitode sua execução em território nacional, “submeter-se a~"reconhecimento ehomologação mediante procedimento ritual simplificado,  fundado natramitação de simples carta rogatória dirigida à Justiça brasileira” (CartaRogat. n. 7.618 — Rep. Argentina, rei. Min. Sepúlveda Pertence; CartaRogat. n. 7.899 — Rep. Argentina, rei. Min. Celso de Mello, DJU , le ago.1997, p. 33528). (V. Revista Gênesis, 7:208)21.

As cartas rogatórias alusivas a medidas cautelares  encontram-se

atualmente submetidas aos dispositivos do Protocolo de Medidas Cautelares, concluído em Ouro Preto em 16-12-1994 (como parte integrante doTratado de Assunção) e integrado ao direito positivo brasileiro pelo Decreto Legislativo n. 192, de 15-12-1995, e pelo Decreto n. 2.626, de 15-6-1998, sendo Estados Partes, além do Brasil, ainda o Paraguai, a Argentinae o Uruguai22. Nele é inclusive prevista a não aplicação, no cumprimentodas medidas cautelares, do procedimento homologatório das sentençasestrangeiras; além disso, “os Juizes ou Tribunais das zonas fronteiriças dos

Estados Partes poderão transmitir, de forma direta, os ‘exhortos’ ou cartas

21. O STF negou exequatur  a carta rogatória expedida pela Justiça da Bolívia, pela qual se pretendia, com fundamento no Protocolo de Las Lenas, a penhora de bensde pessoas residentes no Brasil. Reconheceu-se, no azo, a impossibilidade de tal cum

 primento, pois a Bolívia não está integrada ao Mercosul, bem como ainda não foiaprovado, pelo Congresso Nacional, o Acordo de Cooperação e Assistência Jurisdicio

nal em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa entre os Estados Partesdo Mercosul e as Repúblicas da Bolívia e do Chile; assim, prevaleceu a regra de quea execução de sentença estrangeira, no Brasil, não prescinde de homologação (CR10.479, rei. Min. Marco Aurélio, 23-4-2003, Informativo do STF, n. 305, abr. 2003).

22. Minudente e criterioso estudo a respeito das cartas rogatórias executórias ecautelares e da repercussão dos Protocolos de Las Lenas e de Ouro Preto sobre a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, de autoria de Carmen Tiburcio (Doutoraem direito internacional, Prof3 na UERJ), encontra-se publicado na  Revista Forense sob o título “As cartas rogatórias executórias no direito brasileiro no âmbito do Mer-

cosul” (v. 348, p. 77-88).Igualmente muito interessante a leitura do excelente estudo Medidas de cooperação interjurisdicional no Mercosul, de autoria de Nadia de Araújo et al. (RePro, 123/77 e s.).

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rogatórias previstos neste Protocolo sem necessidade de legalizaçao” (art.19, infiné).

As cartas rogatórias alusivas a m e d i d a s c a u t e l a r e s s e r ã o e n c a m i n h a

das: d) pela via diplomática ou consular, não se exigindo então o requisitoda legalizacão-L-QU-.M diretamente por intermédio da parte interessada, enesse caso deverá ser previamente legalizada perante o agente diplomáticoou consular do Estado requerido, salvo se os Estados requerente e reque-rido houverem dispensado tal formalidade (art. 19).ii niwwrnmi ------  :.....

Inteiro teor do Protocolo encontra-se em Nelson Nery Junior et al.,Código de Processo Civil comentado, 9. ed., Revista dos Tribunais, glosaao art. 796, p. 939-41.

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DA “COMPETÊNCIA DE 

IURISDIÇÃO” E DA COMPETÊNCIA 

TERRITORIAL OU DE FORO

Capítulo XII

53. Busca da “justiça” competenteVerificada a competência da Justiça brasileira, cumpre passar a uma

segunda etapa na busca do/juiz competente,Verquirindo-se(qual a “Justiça”^cõraÊêtMte^

Vale aqui assinalar que a expressão “competência de jurisdição” é, arigor, incorreta, porquanto a competência é, como disse Enrico Liebman,

a “medida da jurisdição”. Todavia, esta expressão vem utilizada, como preconizam Araújo Cintra, Ada Pellegrini e Cândido Dinamarco, “à faltade outra melhor (e segundo o uso da doutrina) para significar o conjuntode atividades jurisdicionais cujo exercício é atribuído a cada organismo

 judiciário, ou sistema integrado e autônomo de órgãos (Justiças)” (Teoria geral do processo, 21. ed., Malheiros Ed., n. 143, p. 244).

Trata-se, já agora, de saber se o conhecimento da ação caberá à Justiça comum,mou_a algum dos ramos das Justiças especializadas na áreacíveí . Ã Constitmção j)revê a competência da Justiça do Trabalho (CF, art.114) e da Justiça Militar (CF, art. 124), bem como, exaustivamente, ascausas que tocam à JustiçalFederal (CFrãHT.TiT8 e 109). Assim, v. g., umaação reclamatória do empregado contra o empregador será de competênciada Justiça laboral; uma ação em que for parte a União^oiLauíarquia federal, ou empresa pública federal, ou a causa fundada em contrato da Uniãocom Estado estrangeiro, caberá à Justiça Federai.

Todas as causas não previstas expressamente na.jCfínsíiíjydglQÜBederalcomo de competência das Justiças especializadas cabem à Justiça comum,

-------

“-

J.------

exercjda^pe]o§„Xribjanais^e iiiízes estaduais, e ainda pela Justiça local doDistrito Federal.

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54. Busca do foro competente

, Numa terceira etapa, buscamos o “foro competente”, i. e., a circuns- crição territorial judiciária em que a causa deve ser processada............

 Na Justiça comum, buscamos a comarca. Na Justiça eleitoral, a zona 

eleitoral. Na Justiça Federal, a seção judiciária e a subseção1.A comarca dispõe de pelo menos uma vara,  titulada por juiz de di

reito, podendo abranger a área de um ou mais Municípios. O Municípioque não for sede de comarca, mas tiver serviços judiciários instalados, édenominado termo.

De outra parte, em comarcas de grande população e intensíssimomovimento forense, como São Paulo e Rio de Janeiro, leis estaduais dis

 põem sobre uma divisão territorial interna, pela criação áe foros regionais em áreas suburbanas, fixando-lhes a competência. Em Porto Alegre, porexemplo, os “foros regionais” do Sarandi, do 4S Distrito, da Restinga, daTristeza, do Alto Petrópolis e do Partenon.

O principal dado de determinação do foro competente, ou seja, da“competência territorial” é o domicílio do réu, o "Toro geral”. Se o réutiver mais de um domicílio, poderá ser demandado em qualquer-deles;ignorado o domicílio do réu, será demandado onde estiver residindo, ou

no foro do autor; finalmente, residindo o réu no estrangeiro fe sendo o„processo de competência dã~TÍist.ica hrasiletral o foro competente será odo domicflio do autor ou. se este também residir fora do Brasil, poderá ademanda ser proposta em qualquer foro (art. 94, § 3g) ou, melhor dito,, noforo que tiver alguma vinculação com a causa.^

Se dois ou_mais-0,s réus, comjdifej^iite^

O tema da competência territorial (CPC, arts. 94 a 101) será adiante

melhor explicitado.

1. Constituição Federal, art. 110: “Cada Estado, bem como o Distrito Federal,

constituirá uma Seção Judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas localizadas segundo o estabelecido em lei”. A denominação “subseção” foi adotada para a base territorial dos juizados federais.

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DA COMPETÊNCIADE JUÍZO

Capítulo XIII

Do juízo competente

Suponhamos que, do ponto de vista territorial, já encontramos, comoforo competente, o de determinada comarca (na Justiça Estadual), ou cir~ cunscrição ou subseção  (na Justiça Federal). Mas nessa comarca, ou cir-cunscrição, podem estar sediadas Varas Cíveis comuns, e varas especializa-das por competência em razão da matéria’. Varas de Família e Sucessões,Varas dos Registros Públicos, Varas de Acidentes do Trabalho, Varas deFalências, Varas Federais Previdenciárias, Varas Empresariais, Varas deExecuções Fiscais (além das Varas Criminais, alheias ao nosso estudo) etc.

Se pretendemos propor, v. g., ação de indenização por acidente detrânsitõT^send^TéiTui^particular, será competente, em razão da matéria, uma das Varas ÇjveísTJaa ação de inventário, ou de anulação de testamen-tò, irá para uma das Varas de Família e Sucessões. E assim por diante.

A competência de juízo em razão da matéria e, pois, a competênciadas varas especializadas é de caráter absoluto, atraindo o julgamento dascausas conexas com as a elas distribuídas. Assim, v. g., a competênciaratione materiae de uma Vara dos Registros Públicos, determinada pelalei de organização judiciánaTpI^^lece sobre a competência de uma vanT~cível comum, e as ações anülatória docontrato e anulatórmdo respectivo^registro, propostas separadamente mas com iáê^icãl5ãüs7rpl;tencíírs&r^(í  reunidas, pela conexão, na vara especializada (STJ, REsp 127.082, 4-Turma, rei. Min.™Sáívio de Figueiredo, j . 13-4-1999, RSTJ, 117:431).

.Porém, se uma ação indenizatória tiver como ré a Fazenda PúblicaEstadual ou Municipal, competente será, em razão da pessoa do réu,

“ratione personae,\  uma das varas da Fazenda Pública estadual.Além disso, em Porto Alegre, digamos, estão sediadas no Foro Cen

tral da Justiça comum dezoito Varas Cíveis, oito Varas de Família e Suces-sões etc. Se a causa deve tocar, por hipótese, a uma Vara Cível, será ela

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^distribuída .(ÇPC^jart J 251) a uma dessas varas, que se tornará competente por üWisxiçãcu^.

 A vrevencão é   o fenômeno processual mediante o qual, havendovários juizes em tese competentes para conhecer determinada causa (ou

seja, todos competentes do ponto de vista territorial, competentes em razãoda matéria etc.), apenas um dentre eles, aquele a quem o processo hãJasiHo~distribuído, adquire a competência no caso concreto,  tornando-se ôsj5e£_mais, daí em avante, incompetentes relativamente àquela causa.

De regra, é{   a citação válida que toma prevento o juízo /CPC, art.219); mas, se causas conexas correrem perante juizes com a mesma com petência territorial, “considera-se prevento aauele aue despachou em primeiro lugar” (CPC, art. 106).

Assim, se uma demanda é ajuizada perante a 2a.Vara Cível de SãoPaulo, quaisquer outras demandasxpiiexas.pQSteElQrmente_aimzadas nesta comarca deverão ser também distribuídas a essa vara.lornadaprexenta. 

“Mas se demanda conexa estiver tramitando em Vara Cível de Santos, ecomo a conexão impõe a reunião das causas (CPC. art. 105). será necessário perquirir, para encontrar o juízo prevento,  em qual dos processos

Encontramos assim, finalmente, aplicando os vários critérios de

determinação da competência, o “juízo competente”, onde a causa irá ser   processada e julgada1. É mister, aliás, distinguir entre juízo  e juiz. O juízo, a “vara”, é a célula básica da organização judiciária, é a unidade de prestação jurisdicional, pressupondo uma estrutura composta, quando menos,de um juiz, do escrivão e do oficial de justiça, com as disponibilidades de

 pessoal e material indispensáveis ao funcionamento do serviço judiciário.mudança da pessoa física dos juizes que o integram não altera a com-

 petência ãojuizo.  !

Por vezes, o encontro do “juízo competente” não esgota a tarefa defixação de competência. Existem varas dotadas de mais de um juiz (emPorto Alegre, v. g., nas dezoito Varas Cíveis do Foro Central e na Vara deFalências estão dois juizes), e a causa será então distribuída a um deles.

1. Pode, no entanto, um juiz, apesar de não mais pertencer a determinado juízo,continuar “vinculado” a certas causas que nesse juízo tramitam (CPC, art. 132): assim,v. g., o juiz que é removido (ou classificado) para outra vara na mesma comarca con

tinua competente para processar e julgar os feitos cíveis cuja instrução concluiu emaudiência (CPC, art. 132). V.  os verbetes n. 123 a 132.

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56. Competência interna nos órgãos colegiados

 Nos órgãos colegiados, surge o problema da competência interna. Os Tribunais de Justiça são fracionados em “Câmaras”; os Tribunais Regionais Federais, em “Turmas"; uma apelação, um agravo serão distribu

ídos a uma dessas Câmaras ou Turmas, que se tomará competente paraapreciar o recurso2,

 _Na Câmara ou Turma, um de seus Desembargadores será sorteadocomo relator, e exercerá as atribuições que, em razão da função, cabem aorelator.

 Nos Tribunais de Estados menos populosos (v. g., Tribunal de Justiça do Amapá), não há divisão em Câmaras. Já no Tribunal do Rio Grande

do Sul, por exemplo, as 22 Câmaras Cíveis agrupam-se duas a duas, em11 Grupos de Câmaras Cíveis, com competência fixada no Código deOrganização Judiciária do Estado, para determinados recursos e para de-tenrünadas çau sas, de_£ojnpM§.^

... Finalmente,_algung„pp^ (v. g., mandado de segurança contra ato_jjpJjrov,ernador do Estado) cabem em “competência originária” ao Tribunal Pleno.

Esta partilha “interna” de competência, para julgamento dos recursos

e das ações de competência originária dos Tribunais, também sucede nosTribunais Sjijperiores nacionais (Supremo Tribunal Federal, Superior Tri bunal de Justiça, Tribunal Superior do Tra^Turmas, ora tm Tribunal,Pleno^

 Nos Tribunais compostos de mais de vinte e cinco julgadores, pode serconstituído “órgão especial”, com o mínimo de onze e o máximo de vinte ecinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdi-clÕnãisdelegadas da competência do Tribunal Pleno (CF, art. 93, XI).

A Constituição Federal é explícita no sentido de que compete priva- tivamente aos tribunais dispor sobre “a competência e o tuncionameTttcr~dosrespectivos órgãos jurisdicionais^ administrativos”_(CF, art. 9670^" Nesse tema, portanto, não cabe a interferência do legislador.

 No concernente à estrutura interna dos órgãos fracionários, e tendoem vista a possibilidade regimental de os tribunais convocarem juizes de

2. E ficará essa Câmara com a competência preventa para conhecer de novosrecursos relativos àquele processo.

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 primeiro grau para substituição de Desembargadores ou para os auxiliaremnos casos de extremo acúmulo de demandas, surgiram ultimamente controvérsias não quanto à possibilidade de tal convocação, mas quanto àvalidade de decisões tomadas por Câmaras ou Turmas formadas, em sua 

maioria ou totalidade, por magistrados convocados. No Supremo TribunalFederal, a arguição de nulidade, após longo debate, foi rejeitada (HC84.414, j. 11-6-2004). O tema foi detidamente examinado também noSuperior Tribunal de Justiça, na via de hdbeas corpus, ao final concedidaa ordem sob o fundamento de que haveria ofensa ao princípio do juiz natural no julgamento do réu por colegiado composto majoritariamente pormagistrados de primeiro grau (HC 72.941, 6a T., rei. Min. Maria Therezade Assis Moura, j. 11-9-2007). Existe um precedente no STJ: o HC 9.405, p.m.v., rei. desig. Min. William Patterson (6â X, DJU,  18-6-2001).

Vale questionar, outrossim, se essa linha de raciocínio aplicar-se-áaos julgamentos cíveis.

56-A. Deslocamento da competência interna nos órgãos colegiadosO CPC, mediante aditamento de parágrafo ao art. 555, trazido pela

Lei n. 10.352/2001, instituiu interessante caso de “deslocamento” da com petência recursal, a saber:

“Art 555. No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será tomada, na câmara ou turma pelo voto de 3 (três) juizes.■ ,-f , y . | ir -tr i t  t  —'-   :n' " —nr. nMfiri ' 11 i '   1 ~ * •• • r— i i rn , li i f ~- r- .....

§ 1° Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conve- niente_m‘eyemrmi^cmmar^cliiLexgência£Jitze_câmaras ou turmas do _tribunal, poderá o relator provor seja o recurso julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse púSW~~co na assunção de competência, esse órgão colegiado julgará o re- curso.

Este dispositivo foi inspirado no Regimento Interno doSTJi cujo art.^14. II. dispõe que a Turma poderá remeter feito de sua competência para

................ .. .............. .. *rr 11- ii .............. .........   .............   ■■ 1 u | , n | mi i iimriiiii........ i ‘ ni i

a Seção, em razão da relevância dfl_.que£íão_e. para prevenir divergência jsntre as Turmas da mesma Seção; em tais casos, competirá à Seção o julgamento da causa  ÍRISTJ. art. 12, parágrafo único, II) e não apenas aapreciação do ponto onde apontada a divergência JEsfô^dispjp^itiyo^êmsendo aplicado pelo STJ com real proveito.

Em moldes similares, o Regimento Interno .d( STR2a.rt. prevê aremessa do feito ao plenário do Supremo Tribunal Federal, entre outros

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motivos, “quando houver matéria em que diviriam as Turmas entre si oualguma delas em relação ao Plenário” e, ainda, em razão da relevância daquestão jurídica e da necessidade de prevenir divergência entre as Tur-mas. __  _ 

Cxüdãise não de um novo rgcur 5.a^maajaim.ile^mais um instrumento processual voltado a assegurar, na medidajjqjíQssíveJLa.estahilidade nainterpretação do direito. A respeito, sublinhou Luiz Guilherme Marinonique, diferentemente do que ocorre com o incidente de uniformização de

 jurisprudência (demorado e complexo, e quiçá por isso mesmo raramenteutilizado pelos tribunais), o presente instituto não se limita á submeter aocolegiado maior a apreciação da questão de direito relevante e controvertida; mais ainda, atribui o julgamento da totalidade da demanda ao cole-

giado maior, que virá a proferir o acórdão de  julgamento  do recurso(.Manual do processo de conhecimento, Marinoni ét ah, 2. ed., Revista dosTribunais, 2003, n. 3.12.4, p. 626 e s.). Barbosa Moreira observa, mui

 justamente, que, embora a norma esteja inserida em dispositivo concernente ao julgamento de apelações e agravos, iguais motivos militam emfavor de sua utilização no julgamento de outros recursos, nosauais possa

- r - nnii.Tr-iirn.miin. WÉinrtTf?.!!  w .mi' — t  r-r-r-ir-,— r- iii- irr-nnf n-i.-—11 .. .......  

relevante e a cujo respeito seja conveniente pre- j^gnir ou compor divergência entre órgãos fracionários do tribunal (Comen-

«— --------1 I nfln||T>’T,‘,~*,‘I) . II ....................II faii ri~~'i~T— r Ia n ________________ ..

tários ao CPC , 14. ed., Forense, 2008, v. V, n. 360, p. 673).Embora a decisão do colegiado maior não resulte necessariamente

na formulação de súmula, e não se revista de eficácia imperativa, cmer paraos órgãos do tribunal, quer para os magistrados.,d.eJnslâxi.ciainferi.or. certoé, todavia, que, na prática, a orientação passará a ser considerada comoautorizada expressão da^^T pj^ e^fa B olm nahte dò tribunal” (art. 557),contribuindo para a desejável uniformidade na aplicação da lei.

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Capítulo XIV

PRINCÍPIO DA“PERPETUATIO

JURISDICTIONIS

.":VC' ^§7/Regra da perpetuação da competência^ O princípio da “perpetuação da jurisdição” ou, melhor dito, da perpe-

tuação da competência,  está no art. 87 do Código de Frocesso CiviIT A

competência, determinada no momento em aue foi proposta a demanda,não mais se altera,.ainda que se modifiquém os “dados”, de fato ou de direito,

' èm função dos quais se operou tal determinação^Assim, se a ação é ajuiza-* da em Curitiba, porque o réu lá era domiciliado, é irrelevante a circunstância'''-de, posteriormente, trajosl^nrTrréuTÍÕmicíIio para São Pauloi ^

Conforme leciona Arruda Alvim, Ço instituto da  perpetuatio juris- dictionis  se prende à necessidade de, uma vez determinada e fixada acompetência, conferir-se. sob este aspecto — ligação da caüsaTwggg ^ "

minado^foro e juízo —  a indispensável estabilidade ao processo” (A “per-~ petuatio jurisdictionis” no Código de Processo Civil brasileiro,  RePro, 4:13); Manual de direito processual civil, 10. ed., Revista dos Tribunais,2006, v. 1, n. 109).

Por exceção não se aplica a “ perpetuatio iurisdirtin-nis” sp n Aro nr,  judiciário for suprimido, ou guando alterada sua competência em razão da matéria ou da hierarquia4 Suprimida uma Vara Cível, obviamente osfeitos que nela tramitavam passam aos cuidados de outra vara. Se a lei nova

dispuser que as acões âe. dissolução.rie sociedade passam a ser de com petência das Varas de Ealênd^e_nãajiiaisAs^VaimjCjüZ£Ís.-taI normaaplica-se aos processos em andamento, salvo se a própria lei exceptuar 

Tribunal de Justiça ou de criação de novos Tribunais1.

1. A 2- Seção do STJ fixou entendimento sobre interessante questão ao decidir

que a regra da perpetuatio jurisdictionis diz respeito apenas ao foro, “nada impedindoque, fixado este em sede de conflito, se defina, em outro incidente, o juízo competente” (Emb. Decl. no CC 29683, rei. Min. Ari Pargendler, ac. de 14-2-2001).

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Se em determinada comarca (ou subseção da Justiça Federal) vem aser criada uma nova vara, cumpre distinguir: a) se a nova vara tiver com petência especializada, em razão da matéria, a eia deverão ser redistribu-ídos os feitos concernentes àquela matéria e em tramitação nas varas cíveis

, —ii i — — ................   ..... ' ------ " --- —- - ^...... ................ " ■* n r... nn ■in i . ,||IIIIMTT.-IIJ _______ l ■! I ‘ — ““ ~........... '■

existentes: se. no entanto, a nova vara tiverjcnmpetência concorrente coma das varas preexistentes, os feitos não deverão ser redistribuídos, sob penade violação à regra do juiz natural (a desejável equiparação no número de processos poderá ser obtida com a distribuição dos novos feitos, preferencialmente, à unidade jurisdicional recém-criada) (Fernando da FonsecaGajardoni, estudo na coletânea Os poderes do juiz e o controle das decisões 

 judiciais, Revista dos Tribunais, 2008, p. 263).

 No caso de posterior instalação de uma vara federal em comarca ondehá varas estaduais, não se aplica a  perpetuatio jurisdictionis. porque a15õmpetêHüiir^ pela vara federal (CC 38.713.12 Seção,maioria, rei. orig. Luiz Fux, rei. desig. Teori Zavascki, ac. de 14-4-2004,

 Informativo do STJ, n. 205, abril 2004).

 No alusivo às ações fundadas em direito real sobre imóvel, é absoluta a competência ào forw nrêi sitae quando o litígio recair sobre direitode propriedade, vizinhança, servidão. posse^.-dmsão^e„d£mar£agão de

^ggãrgnunciacão de obr.ajio.vaíCPC. art. 95). Pergunta-se: se a área ondese situa o imóvel for transferida para a jurisdição de outra comarca (ele-vação de um município à categoria de comarca, ou passagem de um município da área territorial de uma comarca para outra), aplica-se a  perpetuatio jurisdictionis?

Existem (mãmTeitações discrepante^, mas deve prevalecer, até porestar conforme com os motivos de existência da norma (v. verbetes n. 73

e 74), a orientação adotada pelo STJ, 4a Turma, no sentido de que “instalação denova comarca, em cujo território se situa o imóvel objeto da açãoreivindicatória, determina a modificação da competência” (REsp 156.898,rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 30-4-1998).

Uma nova exceção ao princípio da  perpetuatio  surgiu com o art.475-P, parágrafo único, do CPC (Lei n. 11.232/2005), pelo qual o exequen-te pode requerer o deslocamento da execução do iuízo onde proferida asentença condenatória (portanto com competência..funcÍ£mal para os atos

executórios) para o iuízo do local onde se_situ&m.Q5J3.ens_objeto de penho-ra ou o atual domicílio do execiitadq.Jjicidejite-essa^nava.iiQEm^o

), que passa a ter competência integral

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 para processar a causa e seus incidentes nesta etapa de cumprimentada"sentençalv. o verBeíenT

Casos de desmembramento de comarcas

Problema de grande importância de ordem prática é o alusivo à incidência da perpetuatio jurisdictionisjnos casos de criação de novas cornar^cas, com o conseqüente desmemhmm^t.a.da,cornarca preexistente. Deverão ser remetidos à nova * >rSe,pj;É4jor.domiciliado na área da nova circunscrição, ou se nesta fora domiciliado oautôr da herança^assim^pQr^diant&^-~>

Doutrina majoritária responde negativamente, em face da regra doart, 87 do Código de Processo Civil e consid^and^ tr a t^ a hipótese de

modificação do “estado de direito”, ou melhor, das regras jurídicas dedeterminação da competência, sendo portanto irrelevante a modificaçãode tais regras relativamente às causas iá anteriormentejumtostas^Mas-aorientação da doutrina nem sempre vem sendo acolhida» no plano administrativo. pelos Tribunais.

Arruda Alvim (no artigo antes citado) aborda detidamente a questãodo desdobramento de comarcas, e conclui que» nos termos da lei processual vigente, “em sendo criada nova comarca, esta só receberá novos

 processos”, Mas deplora, sob esse aspecto, o dispositivo legal, como inconveniente às necessidades da administração da Justiça. Também Agrícola Barbi é pela manutenção da perpetuatio nos casos de criação de novacomarca, sustentando que, uma vez fixada a competência, ela não seráalterada por posteriores modificações no estado de fato e de direito, e que“modificação no estado de direito existe quando, v.g., o território do imóvel em litígio vier a fazer parte de outra comarca, em conseqüência da leinova” (Comentários ao CPC , 10. ed., Forense, 1998, n. 474, p. 292).

Igualmente é o pensamento de Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas,cit., v. 1, n. 217.

Mas a regra da perpetuatio, como já dissemos, não incide quando setrata de competência absoluta. Assim, Edson Ribas Malachini sustenta quenos casos de competência absoluta devem os processos ser remetidos deimediato à nova comarca, máxime nos casos em que incide o  forum rei sitae, a competência em razão da “situação do imóvel” (Repro, 47/273). Nesse sentido, tratando-se de ação reivindicatória de imóvel situado na

nova comarcardêcidiu o STJ pela.não incidência da perpetuatio iurisdic- tionis  (REsp 150.902, rei. Min. Barros Monteiro, ac. 21-5-1998; REsp

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156.898, rei. Min. Ruy Rosado, ac. 30-4-1998). Consta da ementa do REsp156.898: “A instalação de nova comarca, em cujo território se situa oimóvel objeto da ação reivindicatória, determina a modificação da com- petência”.

As as necessidades da administração da Justiça têm muitas vezes pesado, acima das manifestações doutrinárias, na orientação dos órgãosaâmimstmtivos dos Tribunais, com a determinação de remessa, às novascomarcas, de todos os processos em andamento nas comarcas origináriase vinculados, de qualquer forma, ao território da comarca nova.

Inclusive não é descabido ponderar que, se a supressão de uma co-marca afasta a regra da perpetuatio, da mesma forma a criação de novacomarca^õderaTafastá^liü — ~

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COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA

Capítulo XV

(59|Da competência absoluta e da competência relativa

■Em certos casos as regras de competência visam atender primacial-

mente ao interesse das partes, quer facilitando ao autor o acesso ao Judiciário, quer propiciando ao réu melhores oportunidades de defesa. Temos,então, casos de competência relativa.

As regras de competência relativa podem ser afastadas pelos liti-gantes, ou mediante prévio acordo inserido em cláusula de contrato~— cláusula de eleição de foro, ou deixando o réu de opor a “exceçãodeclinatória de foro”. Há. pois.^uma disponibilidade  quanto ao forocompetente,.,.

Em outros casos,,as regras de competência?sãoonotivadas por consi-derações ligadas principalmente ao interesse público.âs.-Uma.jneihor ad-

éministração da Justiça. Cuida-se, aqui, deindisponível às partes, e se impõe com força cogente ao juiz.

 No magistério de Cândido Dinamarco, importante conseqüênciasistemática e prática da distinção entre oscasos de competênciaã£s®tlT

^ ..........   Vs. * * * ' s • * — ----- --------------------  --  ■»<

e de competencia relativa e que, quanto aos primeiros, o juiz tem o poder-

dever de fazerj3or si proprio o controle de sua competência, afírmando-seincompetente se for o caso, quer as partes hajam alegado essa questão,fluer não o tenham feito (art. 113); quanto aos casos de competência relativa, ela não é fiscalizada de ofício, sendo atribuída exclusivamente à

 parte a faculdade de provocar tal fiscalização, prorrogando-se a competência (art. 114) se ela não o fizer (Instituições de direito processual civil, Malheiros Ed., 2001, v. 1, n. 212).

60. Primeiro esquema didáticoPodemos apresentar, para efeitos didáticos, o seguinte esquema:

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Competência Absoluta

1. Prevalência do interesse público — inclisponibilidade.

2 . 0  juiz deve declarar-se incompetente, de ofício, sempre que lhe forremetido processo para o qual forabsolutamente incompetente (CPC,art. 113).

| 3. Autor, réu ou qualquer interve-

 j niente podem, a qualquer tempo, j invocar a incompetência absoluta,/ matéria que é inclusive uma das

, preliminares alegáveis na contesta- N ção (CPC, arts. 113 e 301, II).

Competência Relativa

1. Prevalência do interesse particular ^ 'dos litigantes — disponibilidade.  -^

^ Ct-fi £X!Ucx>- iX? o2 . O juiz nao pode, em hipótese'nenhuma, declarar~se de ofício incompetente; só poderá fazê-lo se oréu suscitar a exceção de incompetência (CPC, arts. 112, 304, 305 e307) (v. a Súmula 33 do STJ).

3. Somente o réu pode suscitar a

exceção, e no prazo de 15 dias (CPC,arts. 112 e 305); se o réu não suscitarem tempo hábil a exceção, a competência do juiz considera-se automaticamente prorrogada — i. e., o juiz,em tese incompetente, toma-se com

 petente para conhecer e julgar aquela causa (CPC, art. 114).

4. Em face da indisponibilidade, éincabível “eleição de foro ” quandoinfringente a qualquer regra decompetência absoluta (art. 1 1 1).

5. A incompetência absoluta do juiz

torna nulos quaisquer atos decisó- rios  por ele proferidos (art. 113, §\ 2-); e a sentença proferida pelo juiz\absolutamente incompetente pode-r-íã ser rescindida (art. 485, II).

4. Em face da disponibilidade, lícita a cláusula contratual de eleição de foro (art. 111), com ressalvas noscasos de contratos de adesão (v. osverbetes n. 64,65 e 65-A).

5. As regras sobre competência re

lativa não provocam nulidades. Sea exceção declinatoria fori é  suscitada com êxito, o processo será remetido ao juiz competente (art.311); caso contrário, ocorre então a

 prorrogação de competência.

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61. Segundo esquema didático

Também sob propósito didático, segue um segundo esquema:

CompetênciaRelativa

Competência territorial ou competência de foro. É o casotípico de competência relativa, e o mais comum.

Competência em razão do valor da causa. É relativa “domais para o menos”, pois a competência do juiz de maior“alçada” 1  pode ser prorrogada para abranger causa demenor valor. A competência ratione valore é  geralmentefixada nas leis de organização judiciária (CPC, art. 91).

Competência em razão da situação do imóvel, naquelescasos nos quais o art. 95 do Código de Processo Civil permite a opção do autor por um foro diferente.

Competência Absoluta

Competência em razão da matéria ou “competência ob jetiva  Pela natureza da causa, a competência pode tocara uma justiça especializada (v. g., as causas referentes ànacionalidade são da Justiça Federal — CF, art. 109, X);

no âmbito da Justiça comum, as leis de organização judiciária podem atribuir competência a um juízo privativo (v. g., as ações de investigação de paternidade pertencem, em Porto Alegre e em outras capitais, às varas privativas de Família e Sucessões).

Competência em razão da pessoa, vinculada a atributo pessoal do litigante. Assim„ as causas em que for parte a

União ou autarquia federal ou empresa pública federalcabem à Justiça Federal (CF, art. 109,1); as causas emque for parte o Estado, ou autarquia estadual, cabem, naComarca da capital) às varas privativas da Fazenda Pú- blica. ^ e - , OU '

1. A “alçada”, a rigor, é a limitação da competência de um juízo ou Tribunal emrazão do valor da causa; em sentido lato, é  a simples delimitação da competência.

Sobre as diversas acepções da palavra “alçada”, v. Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, 1974, t. 2, p. 199-200.

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(  Competência^ Absoluta / 

Competência em razão da situação do imóvel, nas açõesfundadas em direito real sobre imóveis. A teor do art. 95do Código de Processo Civil, esta competência de foro

é absoluta  nos casos em que esiá em jogo direito de propriedade, ou vizinhança, ou servidão, ou posse, nasacões de divisão e demarcação de terras e nas ações de

0 ühciaça^;de obra nova. Nos demais casos permite-seopçao do autor, sendo, pois, relativa a competência.

Competência funcional, em razão da função, das atribuições que o juiz desempenha. Podemos distinguir a com petência funcional no “plano horizontal'’, i. e., no mesmo

grau de jurisdição, e a competência funcional no “planovertical”, ou seja, a competência recursal (qual o Tribunal, ou o órgão de um Tribunal, a quê é atribuída a funçãode julgar a causa em grau de recurso).

Competência em razão do valor da causa. Esta competência é absoluta quando “do menos para o mais”, i. e.,a competência do juiz de menor “alçada” não pode ser

 prorrogada para abranger causa de maior valor.

62. Terceiro esquema didático

Resumindo os esquemas anteriores, teremos:

Competência Relativa

Competência^ Absoluta

Competência territorial ou de foro;

Competência em razão cio valor, do “mais para o menos”;

Competência pela situação do imóvel>em alguns casos.

Competência em razão da matéria;

Competência em razão da pessoa;

Competência em razão do valor , do “menos para o mais”;

Competência pela situação do imóvel, na maioria dos casos;

no “plano horizontal”;Competência funcional

no “plano vertical” ourecursal.

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MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO, PREVENÇÃO 

E PRORROGAÇÃO. FORO DE ELEIÇÃO

Capítulo XVI

Competência pela conexão, pela prevenção e pela prorrogação

Determinadas circunstâncias modificam, em casos concretos, a aplicação das regras gerais de competência em razão do valor e do território,fazendo com que a competência para conhecer de determinada causa venha

a ser do juiz A, embora em tese o juiz competente devesse ser (ou continuar a ser) o juiz B (CPC, art. 102).

O CPC determina sejam distribuídas por dependência as causas, dequalquèFnaturezi, quando se relacionarem, por conexão ou continência. ~com õTãrãJa ajuizada "(art. 253,1) e igualmente quando, após haver desistido da ação, resolve a parte reiterar a demanda, mesmo que em litiscon-sórcio com outros autores (art. 253, II). A norma busca inclusive evitar

 possíveis futuros incidentes processuais, como conflitos positivos de com- petência e requisições de processos pelo juízo já prevento.

. /’£. j2 jGM.  , i''),r' r> <P ^   í>c''

Competência pela conexão e pela continência

Vejamos as normas processuais:

“Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quandolhes fo r comum o objeto ou a causa de pedir 

’ U A;;  .> ^V; ""Ü

 Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre^que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o obj.eía. de uma, por ser mais amplo} abrange o das outras ”.

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Supõe-se, pois, na conexão, que estejam tramitando, perante diferentes juízõsTA e B ,duas ou mais ações conexas, istoé, duas ações vinculadas:" ..  .......   ~

 _a) pela identidade do bem da vida postulado, ou sei a, quando o pe- 

dido mediato for o mesmo; ou ~'JS>S   ' ° b) pela identidade quanto à causa de pedir , quer a causa de pedir

remota, (reíativa'a.>uma..mesma relação jurídica), quer a causa de pedir próxima (relativa aumamesmacondutaalegadamente^v|Q][&dQrà.^'3lrB~>"to invocado).

Agrícola Barbi considera insuficiente o conceito do art. 103 do CPC,apontando qnpAtambém existirá conexão^qiianrfo entre as partes ocorrarelação de acessório a principal; nos casos de denunciação da lide, serão...

conexas a causa “principal” e a causa onde manifestada a pretensão “regressiva”; nos casos de reconvenção (CPC. art. 315) etc. (Comentários ao CPC , 10. ed., Forense, n.’607, p. 347).

As causas podem ser reunidas, por economia processual, e até devem sê-lo quandõTíecessário para evitar decisões eventualmente contraditórias(a rt l 05 jTReünidasT^assim7 ãs' cãusã^no j mzo^Â^este passou a ser com-

 petente para proFèisa^ãr^jTãlgá^as-ainbasT^e^ortatríõ^o juízo B foi retirada a competência para j'ülgar'a'causa-remetida"aiD“jtíízo*X

Adverte Theodoro Júnior que, quando a causa de pedir envolve omesmo ponto controvertido, é irrecusável a possibilidade de os juízes’cfffêr"rentes chegarem a conclusões diferentes e, em casos tais, “a conexão tomaobrigatório o julgamento comum e o juiz não terá a faculdade de reunir, ounão, as causas conexas; terá o dever legal de ^ssTnTa.gri^ãH^mesmo deofício, como prevê o art. 105 do CPC” (estudo na revista Síntese, 37/25).

Todavia, como assentado na jurisprudência do Superior Tribunal deJustiça, “não se impõe a reunião dos feitos quando um já estiver julgado,ainda que pendente recurso” (3â Turma, REsp 134.864, ac. de 2-6-1998,rei. Min. MenézèsDireito, DJU, 3 ago. 1998, p. 224).

Esta orientação veio ajserfkmada pela Corte Especial, em sessão del s-2-2000, através da Súmula 235) — “A conexão não. determina a reunião dos processos, se um deles já fo i julgado"1.

1. A 2- Seção do STJ aditou que “a prolação de sentença por um dos juizes em

conflito~afástã a possibilidade de reunião dos feitos por conexão, pouco importandoèncontrar-se pendente no tribunal (^julgamento de agravo de instrumento em que sediscute a nulidade da citação” (CC 40.652, rei. Min. Castro Filho, j. 25-8-2004).

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A conexão, escreveu José Frederico Marques, não é “um título especial de competência, como pretendem alguns, e sim uma das causas de

 prorrogação, no processo civil. Como disse Hauss, a conexão provoca “la  jonction des procédures et une prorogation de juridiction’ {Instituições, 

cit., v. I, n. 2 21).A continência é uma forma especial de conexão, havendo entre asdemandas identidade no relativo às partes e à causa de pedir, porém oobjeto de uma das causas, mais amplo, inclui o da outra ou outras causas.Como escreve Cândido Dinamarco, “relação de continência é relação decontinente a conteúdo, ou seja, implica  parcial litispendência',  porém,

 pragmaticamente, a lei trata a continência no mesmo plano da conexidade, furtando-se a impedir o prosseguimento simultâneo das duas causas àpèsãr

do parcial. t o

in idem (litispendência parcial) e ãssociandoTeIa~Ôs mesmos ~efeitos processuais que a conexidade ocasiona” (Instituições de direito ~'processual civil, Malheiros, 2001, v. II, n. 464).

As normas sobre conexão e continência pressupõem casos de com petência relativa; assim._£upando^e-qiie o iuízo A seja competente porforça de norma de competência absoluta, a circunstância de tramitar umacausa conexa no juízo B, ainda que haja sido proposta anteriormente, nãoirá prorrogar a competência Bo juizo B, embora possa ocorrer que o juízo

~A, este sim, se~torne competente para ambas as demandasT

 Nesta linha de pensamento situa-se Theodoro Júnior, ao afirmar que“esse fenômeno de atração da causa conexa pelo juízo de competênciaabsoluta foi analisado por Andrioli, para quem, se^ju iz da primeira cau-sa for absolutamente incompetente para a segunda, a prorrogação deveráPerfeita para o juiz desta e não daquela..Haverá, então, uma inversãõTiocritério cronológico de determinação da compgtencia comum” (artigo narevista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, 37/25-26).

(^ C o m p etên c ia pela prevenção

A prevenção não é propriamente um critério de “determinação” dacompetência, e sim de “fixação” da competência. Devemos supor dois oumais juízos que, pelas regras gerais, seriam, em tese, igualmente competentes. Pela prevenção, apenas em um deles a competência é “fixada”,tomando-se os demais incompetentes (v. o verbete n. 55).

Conforme Moacyr Amaral Santos, “o juiz que conhecer da causa, em

 primeiro lugar, térá sua jurisdição preventaf...) A prevenção, portanto, firma,assegura a competência de um juiz, já competente. Não é, pois, critériodeterminativo da competência, visto que aquele juiz, conforme os critérios

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determinaüyos da competência, ao conhecer da causa já era competente”(. Direito processual civil, 2. ed., Max Limonad, 1965, v. 1, n.198).

O latim praevenire significa chegar antes: o juiz (rectius, o juízo) quechegou primeiro, recebendo a causa ou o recurso, considera-se prevento.

Pela prevenção, concentra-se em um órgão jurisdicional a competência queabstratamente pertenceria a dois ou mais, inclusive ci ele (Cândido Dinamar-co, Instituições, cit., v. 1, n. 211). Mas, evidentemente, não haverá prevençãose o juiz for absolutamente incompetente para julgar a causa, pois em talcaso deverá, de ofício, ãfixmar sua incompetència~(CPC, art. ÍO )1' ^

O principal critério de prevenção é a citação válida (CPC, art. 219);o juízo onde ocorreu a primeira citação válida toma-se o competente_gara_

 julgar aquela causa, e também as demais causas  eventualmente conexas..

~TSTXZr Seção, CC 155 J . 27-9-1989, rei. Min. Nilson Naves)".Mas se as causas conexas correm em juízos diferentes, mas na mesmn 

comarca, considera-se prevento aquele juiz que despachou em primeiro lugar(art. 106). Trata-se de uma regra e de uma exceçlolTregfãTSTJ72^ Seção,CCT60T5Zlte28-6-1990TíSrM ií^álvio de Figueiredo, RSTJ, 3:125).

Em todos os casos de reunião, os processos reunidos não perderãosua identidade própria, “servindo a jünçãóüpenas para a tgcílrtaçgolia^mstru<píõ"TT^ Outrossim, os processos são reunidos, más

como'não^cõrrêTnpoté?e^de questão prejudicial (art. 265, IV, do CPC),nénHüm deles será~^üspensõ ao aguardõ^dã^êci^ao 13e^õuüxT(Luiz Gui-IHerme Marinoni e outros, Manual cío procésso^ãê~conhecimento, 2. ed.,Revista dos Tribunais, 2003, p. 55).

 Nos tribunais, o desembargador ao qual orecurso foi distribuído fica prevento  pelo lançamento do relatório, e o revisõF^uãndõ"ã^e~ o'Téj^- “visto*5"T6^wc€ssõ~(CrCrãxt552,  § 3S). NolKEspTT:035:~3ècidlu o STJ- pela nulidade do julgamêntõ~dò recurso que exige revisão, quando o .de

sembargador, embora nele lançado seu “visto”, não participa da sessão (4aTurma,TêrMínTÃthos Carneiro,

As demais regras de prevenção interna dos órgãos colegiados encon.-— tram-se em seus regimentos: v. g., no STJ os arts. 71 e seguintes dispõem

1-A. As medidas cautelares meramente conservativas de direito, como a notificação, a interpelação, o protesto, a produção antecipada de provas, por não possuírem

natureza contenciosa, não previnem a competência para a ação principal. Com invocação a precedente (REsp 59.238), decidiu a 2- Seção do STJ que “o procedimento judicial meramente conservativo de direito não previne a jurisdição” (Emb. Decl. noCC 40.451, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., j. 10-11-2004).

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sobre as normas de prevenção da competência do relator ou do órgão julgador. A norma mais importante determina a competência do ministro,que haja sido relator em qualquer recurso ou mandado de segurança, paratodos os recursos posteriores oriundos do mesmo processo, tanto na ação

como na execução; caso o relator resulte vencido, a prevenção transfere-seao Ministro designado para lavrar o acórdão.

Competência pela prorrogaçãoPela prorrogação, a competência de um juízo é ampliada, para_ahranr

ger determinada, caus.a-que,..pelasjcegras-gerais..nela não estaria incluída.

Essa ampliação pode ter origem em cláusula contratual e prévia: emum contrato, os contratantes desde logo convencionam que quaisquer açõesdele oriundas serão propostas em um determinado foro, o “foro de eleição mesmo que peias regras gerais õ fòTcTdevesse^eg-mitmJlCPC. art. 1 11 ;CC, art. 42; Súmula 335 do STF)2.

Também pode ocorrer a projiQgaçãíipor acordo tácito, após proposta a demanda, se o réu, podendo opor exceção de incompetência de, foro,deixa de fazê-lo, assim aceitando o foro escolhido pelo autor (v. g., réudomiciliado e n íReclféTceitTsêrdêm andado n^forõ de^Fõrtaleza).

 jSfote-se que a.c.Qmpe.tência,(reiativa) “aceita” tacitamente pelo réuna ação cautelar prenamtória, pelanão apresentação de exceção declina-tória, toma o juízo prevento para a subseque.nte._ação principaL_onde aexceção não mais poderá ser admitida^REsp 489.485, 3â Turma, rei. Min.Menezes Direito, ac. 26-8-2003). Todavia, jamais se tem como preventoo juiz absolutamente incompetente. (Dinamarca.  Instituições de direito 

 processual civil, Malheiros Ed., v. I, n. 331).

A prorrogação só pode alterar a competência relativa. não as regras deCcompetência absolutcQpois estas, como já foi dito,^^Indisponíveis7

A conexão também imvlic^amrm.gacão da competência do iuízo pre- vento~ao qual sera remetida a causa conexa, que corria perante outro juízo.

 Mas a regra da prevenção pode ser afastada pela prevalência de algum., critério de competência absoluta. Por exemplo: corre uma causa de menor valor perante o pretor e, posteriormente, vem a ser ajuizada causa conexa,

2. A questão da validade da cláusula de eleição de foro  nas ações que visam

indenização pelo descumprimento de contrato, ou em que se discute a validade de  cláusulas contratuais ou a nulidade ou anulabilidade do próprio contrato, é examinada nos verbetes n. 64 e 82, aos quais remetemos o leitor.

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de maior valor, perante juiz de direito. O juízo prevento seria o ütulado pelo, pretor. Mas como a competência é absoluta do menos para o mais, e, pois,não pode o juiz temporário julgar causa de maior valor, é afastada a prevenção, e ao juiz de^direito cabe o julgamento das causas conexas....

Vale notar, outrossim, que a competência aceita na ação cautelar   preparatória conduz à fixação de competência na s^seguente ^ãçãb prin-cipaL_Assim decidiu~a 3a Turma doJSXJ^Se o réu não opuser a exceçãodeclinatória na cautelar de protesto, fica a competência prorrogada para aa^cTprincipál Tndêmzatória, sendo intempestiva a exceção quando dacontestação desta última^ÇREsp 489.485, rei. Min. Menezes Direito, 3ãTurma, ac. 26-8-2003).

 No magistério de Cândido Dinamarco, uma vez prevenjxxojmzQ-ao-quaia_demanda (preparatória) acessória houver sido distribuída, “essa prevençãoexpande-se a todo ó~cbnjunto de causas interligadas, incluindo a principal”(.Instituições de direito processual civil, Malheiros Ed., vri7nT331)7

Essa prevenção expansiva  é, ensinou o processualista, “reflexo dacoordenação funcional entre dois ou mais processos, que constitui razãosuficiente pàra exigir que o mesmo juiz se encarregue do processo e julga-mento das demandas interligadas (processo de conhecimento e processoexecutivo; processo principal e processo cautelar etc.)” (ob. cit., n. 330).

;i§4^ Foro de eleição e contratos de adesãoConsoante dispõe o art. 1,1.1 do CPC. em se tratando de-competência

em razão do território e do valor (casos de competência relatiy^), podem,as partes modificar as regras gerais de competência e eleger (= escolher)

"’o “fõrÓÔnãê serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações o~ãcõrd^eve constarde contrato escrito e aludir expessãmente a detei:-mina ^^õH oIii jn d ic o (§ l s), sendo obrigatório para os herdeiros e sucessores das partes (§2^). ' ...

A validade da..cláu$iúajde eleicão„deJorQ_s.uuõe.que ela não implique privilégio injustificado em favor de uma das partes (dificultando.itoutra oacesso^ à Justiçá)_ e,_não,Yenh^de^encontro anormas de ordem pública. O

 pãcto de eleição de foro é geralmente instituído atendendo ao interesse de .üm^dõsoDnlrãtantes. com O lvreanuênciadooutro. Por vezesAa benefício3é ambos, cada um deles na previsão de que o outro possa mudar de domicílio e assim adquirir o direito de ser demandado no novo local dé residência, talvez em comarcaJ.ongínqua.

Se o réu, no entanto, for demandado nãojio foro de. eleição, mas noforo de seu domicílio, em princípio não terá interesse em suscitar a exce-

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ção de incompetência (v. o verbete n. 114) em defesa da fiel observânciada udídã^cla^ula. Mas esse racTõciníõ nèm sempre será aplicável^ por- „quanto pode ocorrer que na comarca de eleição o réu disponha de melhores meios parJTde^ndH^i?. _ 

E nos contrato de adesão, será legítima a cláusula de eleição de foro?Mister inicialmente conceituar o que se entende como contrato de adesão.

 Na definição de Orlando Gomes, em clássica monografia, o contratode adesão “é o negócio jurídico no qual a participação de um dos sujeitossucede pela aceitação em bloco de uma série de cláusulas formuladasantecipadamente, de um modo geral e abstrato, pela outra parte, paraconstituiro_coniejúdQjioimatÍ¥0-e-cd2rigadmaLdeJEutLirasj:elações concre-' lãs”'(Contrato de adesão, Revista dos Tribunais, 1972, n. 1, p. 3). Note-se bem: cláusulas formuladas “de um modo geral e abstrato”, ou seja, não para um certo contrato com outro determinado contratante, mas para umaseqüência ilimitada de relações jurídicas de natureza negociai, a seremconcluídas uniformemente com pessoas indeterminadas.

Ainda no magistério do insigne civilista, “o intento do predisponen-te é obter, de número indeterminado de aderentes, a aceitaçãojpa^iva^dâs.mesmas condições, de sorteque seja invariável o conteúdo de todas as

relações contratuais. A uniformidade é uma exigênciF^ racioriãlizacãoda. atividade, econômica que ele se propõe a desenvolver. Tornar-se-iaimpraticável se, para exercê-la, houvesse de estipular os contratos pelométodo clássico” (Contrato, cit., p. 9).

 No mesmo sentido menciona Caio Mário da Silva Pereira que, “quando o homem do povo entra em relações com a empresa, não discute condições nem debate cláusulas. A sua participação no ato limita-se a dar suaadesão ao paradigma contratual já estabelecido, presumindo-se sua acei

tação pela conduta que adota” (Instituições de direito civil, 5. ed., Forense,v. III, n. 197).

Em última anális&^“o.quex.aracteriza o contrato de adesão é a ausên-cia de liberdade contratual” (Amoldo Wald, Rev. jurídica, 95:109).

3. Se o demandante abdica do foro de eleição e propõe a ação no foro que pensa ser o do domicílio do réu, este adquire legitimidade para opor exceção de incompetência, indicando seu verdadeiro domicílio. A vedação contratual de optar o réu peloforo de seu domicílio torna-se irrita no momento em que o autor claramente mostra aintenção de ajuizar a ação no domicilio do réu (1- Câm. Cív. do TJRS,  RJTJRS ,S9:286).

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 Nos casos de contratos de adesão, a cogência da cláusula de eleição^de foro poderá ser afastada. Cõmo está érfTvoto dõ"Mm. Nilson Naves

IS T JT ^rS êçãórc c 1.339, j. 14-11-1990): “A Súmula 335-STF, que repu-ta ‘válidaM-jd/rnsula de eleição cio foro pãra~os"prõcessos oriitnãos do 

contrato',  tem aplicação, ao que cuido, naquelês~cãsõs de contrato onde._ predominacf^cíuiTibnb^as partes contratantes, oqu/nlo^foemrocãsç)docMmà"cio~ $ntratxTde ades j gi 3 .

O Des. Araken de Assis, do Tribunal de Justiça do Rio Grande doSul, cita a observação de Croze-Morel sobre o perigo das cláusulas sobrecompetência impostas em contratos de adesão, em que a liberdade de umadas partes limita~se a aderir ou não a um regramento preestabelecido: *7/est fréquent en pratique que, dans un contraí, soit insérée une clause qui 

cleroge aux règles légales de compétence. Ces clauses sont d ’autant plus dangereuses qu’elles sont insérées dans les contrats d ’adhésion, et fré~ quemment imposées à des consommateurs” (Procédure civile, Paris, PUF,1988, n. 59).

Sob tais temperamentos, nos contratos de adesão o Superior Tribunalde Justiça tem admitido, em várias situações^ aj)revalência do foro do~~domicílio do réu, quando for este a parte presumivelmente mais “necessitada”, sobre o foro resultante da cláusula contratual derrogadora das regras

gerais de competência. ”Assim no CC 1.339, já citado (rei. Min. Nilson Naves), relativo ao

afastamento do foro de eleição nos contratos de seguro, podendo o segu-fãdõvaler-se dasjegras gerais de competência. Também no CC 1.502 (rei.Min. Hélio Mosimann), no sentido de que o foro de eleição não afasta oforo do domicílio nos contrátõ?"dFlnteresse dos mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (Sálvio de Figueiredo Teixeira, Codigõãe Pro-'  cesso Civil anotado, 5.1xi., Saraiva, 1993, notas ao art. 111 do CPC).

Especificamente sobre o tema da aplicabilidade da cláusula de eleiçãode foro quando se discute a própria validade do contrato (alegação de doloe coação), tal questão foi detidamente examinada na 4â Turma, no julgamento do REsp 305.950, inclinando-se três votos (Min. Barros Monteiro,Cesar Rocha e Aldir Passarinho Jr.) no sentido da observância da cláusula,ainda que a demanda se dirija à pretensão de declarar a invalidade do

3-A. A cláusula de eleição de foro é  válida quando — ajustada entre pessoas jurídicas — não resultar de uma relação de consumo (REsp 972.879, 3- Turma, rei.Min. Ari Pargendler, j. 18-12-2007).

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 pactuado; os votos vencidos (Min. Sáivio de Figueiredo e Ruy Rosado)eram fundados no argumento de que se cuidava de vícios anteriores  àformação do contrato (ac. de 25-2-2003, rei. orig. Min. Sãlvio; rei para oacórdão Min. Barros Monteiro).

Em tema de arrendamento mercantil — leasing —, a 4~ Turma doSuperior Tribunal de Justiça, no REsp 27.122 (rei. Min. Athos Carneiro,

 j. 17-11-1992), decidiu com a seguinte ementa:

“Competência. Arrendamento mercantil Contrato de adesão.Cláusula de eleição de foro. Limitações à .sua aplicação.  Em setratando de contratos de adesão, relativos a negócios pactuados nosmais diversos pontos do território nacional por grande empresa quese dedica ao arrendamento mercantil (‘leasing’), sobre a cláusulaimpressa e praticamente imposta ao pretendente ao arrendamento,devem prevalecer as regras de competência alusivas ao local do negócio e do pagamento das prestações”4.

A tese foi firmada pela 2â Turma no CC 21.433 (rei. Min. Sálvio deFigueiredo, ac. de 27-9-2000), nos seguintes termos:

“Tratando-se de contrato de adesão, a declaração de nulidadeda cláusula eletiva de foro, ao fundamento de que estaria ela a dificultar o acesso do réu ao Judiciário, com prejuízo para a sua ampladefesa, toma absoluta a competência do foro  do domicílio do réu,afastando a incidência do enunciado n. 33 da súmula do STJ”.

 Nestes termos, o magistrado escolhido no contrato de adesão podedeclarar de ofício ^ nulidade da cláusula e declinar da competência para oJuízc^dõ^ro^Õ^om OH odo réu, com prev^ i^ja^

 públicaque defineoçon^mMQrjIQ j^ e garante sua_ade-quada defesa em juízo (CC 19.301, rei. Min. Ruy Rosado, apud CC 30.283,rei. Min. Nancy Andrighi, dec. de 31-9-2000). Assim, em contrato dealienação fidnciária de automóvel, o foro de eleição nele previsto foi des-considerado por importar especial dificuldade de acesso ao Judiciário pela

 parte aderente, tendo a 21 Seção do STJ declarado comp^énte^Tnirzõ dõ~~domicílio dõ corisümidõrTonde a financeira aliás possuía filial/CC 29.088",reOImTWaldemãFZveiter, ac. de"27-9-200Õ)”

A 4- Turma do STJ, relator o Min. Sálvio de Figueiredo, decidiu soba ementa seguinte:

4. O acórdão no REsp 27.122 está transcrito, por sua ementa, no Anexo IV.

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“I — A cláusula de eleição de foro inserida em contrato deadesão é, em princípio, válida e eficaz, salvo:

a) se, no momento da celebração, a parte aderente não dispunhade intelecção suficiente para compreender o sentido e as conseqüên

cias da estipulação contratual; b) se da prevalência de tal estipulação resultar inviabilidade ou

especial dificuldade de acesso ao Judiciário;c) se se tratar de contrato de obrigatória adesão, assim entendi

do o que tenha por objeto produto ou serviço fornecido com exclusividade por determinada empresa.

II — A 2- Seção deste Tribunal houve por bem definir a com

 petência, em se tratando de contratos de adesão, sob a disciplina doCódigo do Consumidor, como absoluta,  a autorizar, consequentemente, o pronunciamento de ofício do juiz perante o qual ajuizada acausa em primeiro grau, ao argumento da prevalência da norma deordem pública que protege o consumidor e garante sua defesa.

III — No caso, no entanto, de o próprio réu-devedor postular pela validade da cláusula de eleição de foro, alegando que não terádificuldades em sua defesa, deve a mesma prevalecer” (REsp 225.866,

ac. de 9-11-1999).Mais recentemente, em contrato de arrendamento mercantil, decidiu a

2ã Seção do STJ igualmente no sentido da nulidade da cláusula de eleição de foro  “inserida em gontfft o . a   4esão _quando gerar maior__ônus para a

 parte hipossufíciente defender-se em ação de reintegração de posse que envolva relação de consumo, em locai distante daquele em que reside” (CC30.712, rei. Min. Nancy Andrighi, ac. de 26-6-2002, na íntegra em  RSTJ ,162:221).

Cumpre assinalar que “não há contrato de adesão quando as partescontratantes, sendo economicamente iguais, livre e conscientemente assinam contrato concordando com a eleição de foro” (1â Turma, REsp 161.548,ac. de 11 -5-1998, rei. Min. Garcia Vieira)5. Todavia, o simples fato de uma

5. Em ação de rescisão de contrato de arrendamento de tanque para armazenamento de leite, a 2a Seção desconsiderou cláusula de eleição de foro imposta emcontrato de adesão pela autora, grande empresa de laticínios, ante a nítida desigualda

de entre as partes e a invencível dificuldade de acesso ao Judiciário pelo réu, pequeno produtor rural, residente em comarca de outro Estado (CC 31.227, rei. Min. Ruy Rosado, ac. de 25-4-2001, RSTJ, 151/223-224).

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empresa de menor porte litigar com uma de grande porte não caracterizaà hipossuficiência necessária à declaração de nulidade do foro de eleição;no caso, ambas~^~empresâs~Tem capacidade financeira de demandar emforo diverso de seus domicílios (REsp 471.921, 3â Turma, rel. K^KnSTáncy

Andrighi,]. 3-6-2003)6e7.

65. Contrato de adesão e possibilidade de o juiz declinar de ofício de sua competência

Como foi dito, p foro de eleição é admissível nos casos de competência relativa e, pois, em linha de princípio seria defeso ao juiz suscitarde ofício sua incompetência.

Está no ennncifldd^3Trl^ 5\nrinnÍZriZsT^\ “3~3. A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.j

A regra era, de início, rigorosamente aplicada no Superior Tribunalde Justiça. Assim, v. g., no REsp 162.200 (3âTurma, ac. de 12-5-1998, rei.Min. Waldemar Zveiter), constando da ementa:

6. Em contrato á<z franquia, sendo uma das partes a McDonald’s, foi considera

da válida a cláusula de eleição de foro por se cuidarem, franqueada e franqueadora, deempresas de grande porte (REsp 545.575, 4a Turma, rei. Min. Cesar Rocha, ac. 5-9-2003). Também em contrato para venda de equipamento médico de grande valor, firmado entre pessoa jurídica e empresa estrangeira, prevalecerá o foro livremente pactuado pelas partes, no caso vara cível do Foro Central de São Paulo (CC 35.774,2aSeção, rei. Min. Pádua Ribeiro, ac. 24-3-2004).

7. A 3a Turma do STF considerou inválida cláusula de eleição de foro inseridaem contrato de mútuo avençado por microempresa, com emissão de cédula de créditocomercial, garantido por alienação fiducíária, aplicando-se assim o art. 6e, VIII, doCDC (REsp 468.148, rei. Min. Menezes Direito, ac. 2-9-2003, Boletim STJ, 3-3-2004).Mas devem ser processadas no foro de eleições as ações vinculadas a contrato de prestação de serviços de acesso à Internet, pois a natureza da obrigação afasta a hipossuficiência dos firmatários (CC 40.220, 2- Seção, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., ac.11-2-2004).

Todavia, não constitui abuso a eleição de foro pactuada por hospital, para aquisição de sofisticados equipamentos de diagnóstico, tendo o comprador condições paraexercer sua defesa no foro eleito (CC 39.794,2a Seção, rei. Min. Gomes de Barros, ac.25-8-2004). Ainda nesse sentido, de validade do foro de eleição, as ações decorrentesde arrendamento mercantil de aparelho de diagnóstico médico de elevado valor, por

inaplicável à espécie o argumento da hipossuficiência dos devedores (CC 35.101, rei.Min. Aldir Passarinho; CC 32.270, rei. Min. Ari Pargendler; Ag. Inst. 505.758, 3ãTurma, rei. Min. Menezes Direito).

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“A possibilidade de o juiz, de ofício, declarar-se incompetente,ou suscitar conflito negativo de competência, limita-se aos casos deincompetência absoluta. Incidência da Súmula 33/STJ”.

Todavia, desde aigum tempo ponderáveis reservas vinham sendoopostas por vários Ministros, que entendiam a Súmula 33 inaplicávelquando “a competência do foro de eleição decorre de cláusula nula de

 pleno direito, verificável liminarmente” (ac. da 4- Turma, REsp 61.457,rei. Min. Fontes de Alencar, citado no voto do Min. Ruy Rosado, no julgamento do REsp 120.673, ac. de 26-8-1997, RSTJ , 104:344). Sublinhouo Min. Ruy Rosado, no aresto acima mencionado, que neste imenso paístorna-se praticamente impossível a um reu. domiciliado_em longínquacomarcacTo interior, constituir advogado para apresentar a exceção decli-natória de foro em São Paulo ou no Rio de Janeiro: assim, “a exigênciaformal da prévia manifestação do interessado com a provocação do juízo

 para a declinatória de foro,dg.ve.,ce4.gr. .Rasso..à-neae^sidade de garantia danorma prevalente”.

 Assim^a proibição da cláusula, em contratos de adesão,  passou a ser considerada regra deMidejn^úbUca^cuia-infrinqência conduz à nulidade absoluta. decretável de ofício.

Tais argumentos por fim encontraram explícita adesão pelo STJquando do CC 21.540, julgado pela 2- Seção em 27-5-1998, rei. Min. RuyRosado, figurando da ementa a afirmativa de que

“O juiz do foro escolhido em contrato de adesão pode declarar  de ofício a nulidade da cláusula e declinar de sua competência parao juízo do foro do domicílio do réu.

Prevalência da norma de ordem pública que define o consumi

dor hip os suficiente e garante sua d e fe sa en T ]ü íz o (acórdao noAnexo IV).

A nova e louvável orientação foi reiterada no CC 22.252, ac. de 12-8-1998, quando a 2â Seção afirmou que

“E possível ao juiz>considerando abusiva a cláusula de eleição de foro quando resultar manifesta dificuldade para a defesa do réu,notadamente nas avenças regidas pelo Código de Defesa do Consu

midor, reconhecer não só a nulidade da referida cláusula eletiva de  foro, como também, de ofício, declinar de sua competência ” (DJU, 5 out. 1998, rei. Min. Barros Monteiro).

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Em ação de alienação fiduciária, e com a nota de que a eleição deforo diverso daquele em que domiciliado o devedor a este acarreta dificuldade notável para exercer sua defesa, mesmo porque a demanda se iniciacom a apreensão do bem e é exíguo o prazo para impugnação, os integran

tes da 2- Seção, no CC 21.331, p. m. v., deram pela competência do juízodo domicílio do réu, ante a “nulidade da cláusula de eleição e reconhecimento de que, tendo em vista o disposto no Código de Defesa do Consumidor (arts. I2 e 69, VIII), possível o reconhecimento, de ofício, da incom

 petência. Inaplicabilidade da Súmula 33” (ac. de 11-11-1998, rei. desig.Min. Eduardo Ribeiro).

JRvidente. todavia, que quando se cuide de pessoas jurídicas de maior porte e pujança econômica, cujos dirigentes dispõem de experiência no"

trato dos negócios e de bom assessoramento advoçatício, com agências eestrutura de pessoal capaz de atender demanda fora de sua sêdeTpõHe^eTem principio, admitir a eficácia da cláusula de eleição de foro (TJSC, Ag.Inst. 8.658, rei. Des. João José Schaeffer, ac. de 17-4-1995, Gênesis —  Revista de Direito Processual Civil, 72:385).

A 3~  Turma do STJ, em disputa entre concessionária de.veículossediada noTnterior do^RN ellmaniiultinacíonal automobilística, p. m. v.,

 julgou válida cláusula contratual elegendo o foro de São Caetano-SP, por

^considerar a concessionária como empresa de mèdio porte, não quaíííica-da como “consumidor final” e com capacidade financeira para sustênfár 'causas em comarca longínqua (REsp 280.224, rei. orig. Min. Castro Filho,rei. desig. Min. ÂrTPargendler, ac. de 7-3-2002). Confessamos dúvidaquanto ao acerto desta decisão, porquanto, embora a não incidência doCDC, a evidente desigualdade entre os contratantes toma leonina a cláusula, não “eleita” mas sim “imposta” pelo mais forte.

Vide, outrossim, com amplo debate, o elucidativo aresto da 2- Seção

no CC 17.735, j. 13-5-1998, de quefoi relator designado o Min. CostaLeite, publicado em RJSTJ, 114:175, bem como o aresto da 4a Turma, noREsp 201.195, caso de contrato de alienação fiduciária,  em cujo votocondutor consta que cabe ao juiz, afastando a cláusula de eleição de foro.“declinar de ofício de sua competência, em favor do foro de domicílio doréü^ po^ú^mH3e7êgrã^dê ordem pública de proteção, prevalecente tantosobre a cláusula contratual como sobre a norma que exige a provocaçãoda parte em"cãsos"dé"competência relativa” (ac. de 7-12-2000, rei. Min.Ruy Rosado, na íntegra em RSTJ, 153:351).

Tratando-se dé^rvíço^W süpW tFemãnu fehcaõ^e sóftwãrepenten- deu a 3- Turma do STJ que, para a determinação do foro competente para_ 

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 julgar lide entre pessoas jurídicas, deve ser afastada a cláusula contratualque prevê foro outro qu^Mòl^dÕdomicílio do autor da demanda, operando-se apllcaçao^tenslvadoconceito dexonsumidor (arts. 29e 101, 1, doCDC); no caso, a recorrente era “consumidora” porque “destinatária finai”

dos serviços utilizados para controle interno de sua produção de alimentos,e, pois, os serviços não eram repassados a seus clientes (REsp 488.274, 3~ Turma, rei. Min. Nancy Andrighi, j. 22-5-2003)8e9.

A 3- Turma igualmente considerou aplicáveis as regras sobre com- petência absoluta aos contratos de adesão submetidos às rtormas do Sistema Financeiro da Habitação  e firmados por Associação de Poupança eEmpréstimo (Ag. Reg. no Ag71mC~4633'6Tr^^M^TM'Qnc'zes~fyifeif:õT]. 6^20 03). ~

Em contrato de franquia, elaborado uniiateralmente pela franquea-dora. a 2- Seção do STJ reconheceu a abusividade da cláusula de eleiçãode foro na comarca de São José dos Campos-SP, considerado o alto podereconomico da franqueadora e as condições do franqueado, domiciliado em

-RS, “afirmada nos autosajmpossibilidade do franqueado, efetuar,regular defesa no Juízo contratualmente eleito, face sua difícil situaçãoeconômica” (CC 32.877, rei. Min. Menezes Direito, ac. de 26-2-2003).

Esse posicionamento do Superior Tribunal de Justiça consoa. como

evidente, com o princípio fundamental da plenitude do acesso à Justiça e

8. A 4-  Turma, apreciando o REsp 196.035, rei. o Min. Sálvio de Figueiredo,novamente refere que nos contratos de adesão, regidos pelo CDC, é absoluta a com petência do foro do domicílio do réu, autorizando o pronunciamento de oficio do juiz,“ao argumento da prevalência da norma de ordem pública que protege o consumidore garante sua defesa em juízo”, esclarecendo além disso que o tema poderá ser realçado sob o aspecto constitucional, de garantia do pleno acesso ao juízo (ac. de 28-4-1999,

 DJU, 7 maio 1999, p. 208). Assim também a mesma 4- Turma, no REsp 190.878, rei.o Min. Cesar Rocha: “A nulidade da cláusula eletiva de foro em contrato de adesão,que coloque o consumidor em desvantagem exagerada, causando prejuízo para suadefesa, por tratar-se de questão de ordem pública, toma absoluta a competência, donde a possibilidade de declinação de ofício” (ac. de l2-12-1998, RSTJ, 119:499).

9. A Observa Alexandre Atheniense que, em negócios realizados por meio decontrato eletrônico de adesão, a cláusula de eleição de foro “deve ser qualificada comoabusiva se dificultar sensivelmente o acesso à justiça ou o direito de defesa”; assim seráilícita a cláusula de eleição de foro estrangeiro, diverso daquele de residência do consumidor, não obstante o comércio através da rede seja dirigido ao mercado brasileiro,

com textos em português “e que no entanto, por estar hospedado em servidor estrangeiro, estabelece cláusula contratual dispondo que o foro competente para dirimir a lidenão seria o brasileiro, mas outro qualquer” (artigo na rev. Magister, v. 2, p. 94-5).

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rio confraditóricL-garantindo a eficiência do processo e a defesa do direitodo contratante economicamente mais frágil10611. : “

(^5-Á^ Nova redação dos arts. 112,114 e 305 do CPC

Assim, na trilha da jurisprudência dominante, e conforme a Lei n.11.280, de 16-2-2006, os arts. 112 e 305 do CPC vieram a incorporar

 parágrafos, e o art. 114 foi alterado, com a redação seguinte (as “novidades”estão em itálico):

“Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetênciarelativa.

Parágrafo único. À nulidade da cláusula de eleição de foro, em 

contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu”.

‘Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o. juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou se o réu não'opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais.”

“Art. 305. Este direito pode ser exercido em qualquer tempo,ou grau de jurisdição, cabendo à parte oferecer exceção, no prazo de15 (quinze) dias, contado do fato que ocasionou a incompetência, oimpedimento ou a suspeição.

10. Conforme reiterou a 4a Turma, “é permitido ao juiz declinar, de ofício, de sua competência em ação intentada contra o consumidor, quando a aplicação da cláusula eletiva de foro vier a dificultar gravemente a defesa do réu. Precedentes” (REsp299.402, rei. Min. Barros Monteiro, ac. de 26-6-2001). Também assim a 3aTurma, como asserto de que a nulidade da cláusula que coloque o consumidor  em desvantagemexagerada há de ser reconhecida, não só no plano do direito material, mas também no

 processual, pois ineficaz será a proteção deferida, com o reconhecimento de seus direitos, se a defesa em juízo pode ser sensivelmente prejudicada. Destarte, cabível a declaração, de ofício, da nulidade da cláusula em que se preestabeleceu foro,   bemcomo poderá o juiz declinar da competência, mesmo sem prévia provocação (CC 20.969,rei. Min. Eduardo Ribeiro).

11. Tendo grande empresa de laticínios proposto, no foro de eleição, ação derescisão de um contrato de adesão para locação de tanques de armazenamento de leite,entendeu a 2a Seção do STJ que a relação entre a indústria e seus fornecedores deleite é nitidamente de subordinação, visto que a empresa estabelece as bases do negócio, o preço, qualidade e quantidade etc.; assim, não há como o estípulante inserir no

contrato a cláusula de eleição do foro da capital, com nítida desigualdade entre as partes e invencível dificuldade de acesso à Justiça do pequeno produtor rural, residente no interior de outro Estado (CC 31.227-MG, rei. Min. Ruy Rosado).

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Parágrafo único. Na exceção de incompetência (art. 112 desta  Lei), a petição pode ser protocolizada no juízo de domicílio do réu, com requerimento de sua imediata remessa ao juízo que determinou a citação

Cabem, no azo, breves observações.A “nulidade da cláusula de eleição de foro”, guando avencada em

contrato tipicamente de adesão (pojtanto^dáusula-!!iin.posta”, e não cláusula “eleita”), e destarte ofensiva ao princípio do contraditório, não apenas p o d e ^ a l ^ i ^ è ^ dècIãmdã^dFWícTõ^^Õjuíz; e como esta declaração ,denülidàde impíicã~ã^fínn^ ã o da incompetênciadõlnSfflstrado “eleito”,

.a este incumbe determinar a remejsad c^ ^ o com- petente de conformidade com as regras gerais.

 Não o fazendo — art. 114 —, presume-se que não encontrou nulida-de na aludida cláusula, e portTntcTa competência permanece como está.

“prorrogação”12.

Vale observar que, se o demandado oferece normalmente sua contestação, e não susciTa à~quêstãa impende presumir que^Tòro eleito não prejudicou a defesa ,e,. portanto, a cláusula de eleiçãojiãoestá eivada denulidadei(pas de nullité sans grief).

Pelo aditamento ao art. 305, o réu, citado por precatória à comarcaonde reside, por vezes longínqua, não mais necessita constituir advogado (oque fãlvezThe seja impossível, ou muito difícil pela sua situação.de hipog^suficiência) para oferecer a exceção de incompetência no foro onde propos-tà a demanda. Pode agora protocolizar sua petição nos autos da precatóriacitatória, ou, se já devolvida, entregar a petição e protocolizá-la diretamente0 2 ÍFÍ5° deprecado; e ao juízojl.emec.adQjiuinnrirá_providenciar najmedia-ta. remessa do expediente ao juízo deprecante. Como refere Luiz Guilherme

Bondiõíi7utrata-se de salutar iniciativa, que permiteaojmT^fêndèrseus^interesses num primeiro momento sem se deslocar de seu domicílio”-!^novo CPC  — a terceira etapa da reforma, Saraiva, 2ÕÕ6, p. 209).

12. Como disseram Luiz Rodrigues Wambier et al., “o juiz somente deverá declarar, ex officio e antes da resposta do réu, a nulidade da cláusula de eleição de foro,quando as circunstâncias fãticas determinantes desta nulidade estiverem evidentes, e puderem ser extraídas da própria petição inicial. Havendo dúvida, deverá o juiz aguardar a apresentação de exceção pelo réu” (Breves comentários à nova sistemática 

 processual civil — 2, Revista dos Tribunais, 2006, p. 21). A respeito, vide Arruda Alvim,revista Magister  v. 20, p. 15 e s.

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OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DA COMPETENCIA

Capítulo XVII

Podemos, ainda, classificar a competência em:

66. Competência plenaEm uma comarca provida de apenas uma vara, ao respectivo juiz

titular é atribuída competência para processar e julgar, em pnmeirãlnsfarFcia, todas as causas propostas naquele foro; tem assim competência plena,ou cumulativa.  ~ ’ ------------------

Assim também em comarcas providas de duas ou mais varas, quandotodas as causas forem distribuídas indistintamente a todas as varas~ '

67. Competência privativa

Ocorre quando a lei atribui ào órgão julgador o conhecimento apenasde déíêrrmnããàs causas, quer em razão da matéria, quer em razão do valor. "

 Nas capitais dos Estados existem geralmente varas privativas dosfeitos concernentes à Família e Sucessões; dos feitos concernentes a Registros Públicos, à Fazenda Pública etc.

De outra "parte, a competência dos Juizados Especiais estaduais,embora opcional para o autor, é privativa em razão da matéria e do valor:somente lhes cabe conhecer determinadas causas, e as causas d êvalor não "excedente a quarenta vezes o salário mínimo — Lei n. 9.099, de 26-9-1995,art. 3e. Nos Juizados Especiais Federais a alçada é de sessenta vezes osalário mínimorsob competência absoluta  (Lein. 10.259, de 12-^^20tTÍ7art. 3e, caput , e § 3e).

Em segundo grau de jurisdição, e também no Superior Tribunaljle

Justiça, as Câmaras ou Turmas podem ser especializadas em razão damatéria, e com frequência assim ocorre. Dou\exêmpio| no STJ, os feitosrelativos a tributos de um modo geral, à responsabilidade civil do Estado,

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à desapropriação incluem-se entre os de competência da Ia Seção (formada pelas l-   e 2a Turmas); os feitos relativos à famüia e sucessões, ou afalências e recuperácao de empresas inciuem-se entre os de competênciada 2a Seção (3a e 4- Turmas); os feitos relativos a servidores públicos civis

e militares e à locacão predial urbana incluem-se entre os de competência.da 3â Seção (5a e 6- Turmas).

O Código de Processo Civil é, ainda, expresso (art. 92) em que somente juizes de dírêtfopoã&m processar e jujgar o_'‘processo de insolvência”f.execncaTTliroTi ^ devedor insolvente, CPC. arts. 748e s.) 1  e as ações concernentes ao estado e à capacidade da pessoa (v. g.,ação cte investigação de paternidade, ação de interdição).

68. Competência comum. Competência exclusiva e competência concorrente

Em contraposição ã_competência privativa, aos demais iuízos toca acompetência comum, residual. As Varas Cíveis comuns, v. g., recebem todos

 _os processos cíveis não expressamente atribuídos às varas privativas.

Podemos outrossim distinguir: "

1. A competência exclusiva. em que o autor deve propor a demanda

.em determinado foro: a ação reivindicatória do imóvel deve ser propostano foro da situação do imóvel (art. 95); na ação de cumprimento, o foroserá o do local onde a obrigação deve ser satisfeita (art. 100, IV, d).

2 . A competência concorrente por eleição do autor: v. g.. na indeni~_zação por acidente de trânsito a ação pode ser proposta no foro do domi-dlio do autor, no foro do local do fato (art. 100, IV, parágrafo único), ou,ainda,no foro de domicílio do réu.

3. A competência concorrente sucessivamente,  em que o segundo

foro é subsjdiáriòTv. g7f õ”fõro gerãL nas ações pessoais e nas reaiTmofiP"'''liárias, é o j c n ^ desconhecido o paradeiro do réu, serádemandado no dônMcflróliõW£or(ãfr"94Tseu § 2~).

1. Segundo Pontes de Miranda, “a referência a processo de insolvência abrangeas ações declaratória, condenatória, constitutiva e executiva, quer concernentes à concordata, ao concurso civil ou comerciai de credores, quer a qualquer outra medida,como a de liquidação” (Comentários ao Código de Processo Civil, cit, t. 2, p. 203).

Contra, no sentido de que a referência do art. 92,1, só abrange o processo de insolvência previsto no Código de Processo Civil, foi o saudoso Agrícola Barbi (Comentários,  \ cit., v. 1, n. 510).

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69. Competência originária e competência recursal

A maioria das demandas sobe  ao conhecimento dos Tribunais em grau de recurso, quer recurso interposto contra sentença (apelação), querrecurso interposto contra decisão interlocutória (agravo).

 _ As causas, normalmente, têm .origem.. sãojpmp.ostas perante órgão judiciário de primeira instância (1~ grau de jurisdição), assim assegurandoo “duplo grau de jurisdição”. Excepcionalmente, pela relevância de certãsdemandas, em razão da matéria ou em razão da qualidade das partes, acausa é desde logo proposta perante o juízo colegiado, perante o TriBunaircausas de competência originária dos Tribunais. " 

Assim, é de competência originária do Supremo Tribunal Federal julgar o mandado de segurança contra ato do Presidente da República (CF,“art. ÍIT2~ 1, ^jjliecompetêriciaorigmáriaci^Superior Tribunal deJusriçã julgar mandado de segurança contra ato de Ministro de Estado (CF, art105,1, by, de competência originária de Tribunal RegiõnâlT^êHerallülgaros mandados cie segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de Juiz federal (CF, art, 108,1, c); de competência originária dêqualquer Tribunal o julgamento das ações rescisórias contra seus própriosacórdãos.

70. Classificação de Chiovenda

Giuseppe Chiovenda, após definir como competência de um Tribunal“o conjunto das causas nas quais pode ele exercer, segundo a lei, sua jurisdição”, assim enquadra os critérios de determinação da competência:

Critério objetivo — extraído ou da natureza da causa ou dovaloràa causa; “ ~ ' -------- — 

Critério funcional — v. g., juizes de 1- e 2a graus de juris

dição;Critério terrjtoriaL^jfoxum domicilii, forum rei sitae, forum 

contrqctus, forum hereditatis, forum destinatae soLutiÕ- ms etc.

Segundo o grande mestre, extrai-se o critério objetivo ou do valor  jiacausa (competência por valor), ou da natureza da causaj^competência pormatéria).

O critério  funcional extrai-se das exigências_especiais e da natu-reza especial “das  funções  que se chama o magistrado a exercer num'    processo”.

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Capítulo XVIII

REGRAS DE COMPETÊNCIA

71. Foro do domicílio do réu

Já vimos que, como regra básica, a competência territorial é determinada pelo domicílio do demandado?— actor sequitur forum rei,  nostermos do (art. 94 do Código de Processo Civili)

“A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis 'serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu ‘

\ É o foro^eraÒ centrado no local jonde o réu for domiciliado\confor-art. 70 do Código Civil) “O domicílio da pessoa natural é o lusar me o

onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo”.  Mas se a^gmanda^versar relações de ordem protissionaf também seráconsideradodomicílio o lugar onde exercida a profissão (CC, art. 72).

Assim, uma ação anulatória de um contrato por vício de consentimento (CC, art. 171, II), ou uma ação de reivindicacão-de ■umj/.eículo.deverá o autor propô-las na comarca onde for o réu domiciliado. Essacompetência é relativa: sé a demãndá for proposta em outro foro, e o réu

 jnão opuser exceção declinatória (CPC, art. 114), considerar-se-á prorro- gada a competência do juízo onde a demanda foi ajuizada.

O art. 94, em seus parágrafos, dispõe quanto aos/casos em que o réutiver mais de um domicílio, ou for incerto seu domicílio, ou tiver domicí-

lio no estrangeiro*..,lAjpluralidade de domicíIíos_do..réu permite ao autor aopção por qualquer deles. Incerto o domicílio do réu, será demandado ondefor encontrado (local de mera residência) ou no foro do domicílio do autor;trata-se de foro concorrente, a critério do demandante.

1 HnminiHaHn e residente o réu no estrangeiro, e em sendo competente aautoridade judiciária brasileira (CPC, arts. 88 e 89), a açao será proposta no tõrodo'dõmjciíio dcTàütor; se o autorfor domiciliado e também residente tora do íjraslt7ã~SÇ'ãTr~'

“será proposta em qualquer foro” (art. 94, § 3S, in fine), notando-se. entretanto, niie.emtais casos comumente incidira o Toro previsto nó art. 100, IV, d, ou 100, V, a, e parágrafo único. " "

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Se o demandante desconhecer o domicílio do réu, irá demandá-lo nodomicílio dele, autor (com citação edital — art. 231, II),. naturalmentefacultado ãó réu opor a exceção decíinãtoriã^intoro. '

A pluralidade de réus, com domicílios em diferentes comarcas, per

mitirá ao autor escolher o foro de domicílio de qualquer urn dos demandados (art, M ^ A 5)2. ■ ' 

72. Competência nos casos de Foros Regionais

Em algumas metrópoles de intenso movimento forense, buscou-seuma descentralização mediante a criação de “varas distritais”, atualmente“Foros Regionais”. Assim em São Paulo, em Porto Alegre, em Brasília, noRio de Janeiro. De logo surgiram dúvidas sobre se a competência desses“foros” era absoluta ou relativa, tendo em vista réus domiciliados na mesma comarca mas com residência na área de outro foro regional ou do forocentralizado, ou bens situados na mesma comarca mas em outra área quenão a do foro regional onde a demanda fora ajuizada.

A inclinação prevalecente é a de que, na hipótese, não se cuida pro priamente de uma competência de foro, mas de uma competência de juízo, afirmando-se seu caráter absoluto3.

 Nesse sentido o magistério de Arruda Alvim: “A competência dosforos regionais, no que diz respeito à matéria (curialmente) e ao valor(igualmente) é absoluta, no sentido de não admitir a preferência pelo foro central, em detrimento de um dado foro regional...(omissis)... A existênciadas varas e dos foros distritais e, hoje, dos foros regionais, sempre é, claramente, decorrente de razões de ordem pública, no sentido de: a) distribuirmelhor a Justiça em si mesma, numa cidade de dimensões gigantescas, e

2. A teor do art. 94, § 39, a ação será proposta no foro do domicílio do autor, casoo réu não tenha domicílio nem residência no Brasil. Todavia, nos casos de litisconsór- cio passivo,  caso algum(uns) dos réus mantenha(m) domicílio no exterior, mas osdemais no território nacional, a ação deverá ser ajuizada no Brasil, no foro de domicílio do réu, ou de algum dos réus aqui moradores. Como referido na ementa do aresto

 proferido no CC 29.684, 2- Seção, reL Min. Barros Monteiro, j. 11-10-2000, a disposição do art. 94, § 3e, apenas se aplica se todos os réus tiverem domicílio no exterior.

3. Nesse sentido aresto da 4- Turma do Superior Tribunal de Justiça, no REsp20.122, rei. Min. Athos Carneiro, sob a ementa: "Foros Regionais. Competência absoluta. Ação de despejo por falta de pagamento. Anulação apenas da sentença profe

rida no juízo incompetente. Recurso especial não conhecido”. Também REsp 127.082,4- Turma, j. 13-4-1999, rei. Min. Sálvio de Figueiredo; REsp 478.802, 3- Turma, rei.Min. Menezes Direito, j. 6-6-2003.

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sem que essa estrutura fosse passível de fácil alteração; b)  a finalidadedessa distribuição, além de dizer com a própria organização do Poder Judiciário, em si mesmo, colima proporcionar um acesso mais cômodo àJustiça, com vantagens para todos os jurisdicionados” (. Manual de direito 

 processual civil,  10. ed., 2006, Revista dos Tribunais, 1. 1, n. 96, p. 319-20).Cândido Dinamarco, lembrando que a lei federal relativa ao processo prevalece sobre as leis estaduais de organização judiciária, apresenta

 ponderáveis distinções, e encerra com o asserto de que a competência dasvaras dos foros regionais é territorial, e portanto sempre relativa e prorrogável; mas, mesmo assim, “os tribunais vêm decidindo, em sentido diferente, porque tolhidos pelo empenho em descentralizar” (. Instituições, cit.,v. 1, n. 335-7)4.

A orientação dominante é realmente a de não admitir a “eleição deforo” no alusivo à competência dos foros regionais. Assim, no entendimento de Cássio Scarpinella Bueno, a competência dos foros regionais, tendosido instituída com vistas a uma melhor distribuição dos processos em dadacomarca, assume natureza absoluta, portanto as partes não podem dispor arespeito: “O que é possível é a escolha do foro no sentido de ‘comarca’. Arepartição de competência na comarca, seja no que diz respeito ao território(foros regionais) e no que diz respeito aos juízos , é matéria de ordem pú

 blica e, portanto, indisponível às partes e ao próprio magistrado” (Curso sistematizado de direito processual civil, Saraiva, v. 2, t. 1, 2007, p. 47).

Interessante observar que, em muitas metrópoles, uma vez fixada acompetência do foro regional, neste estão sediados juízos privativos. EmPorto Alegre, v. g., nos Foros Regionais, encontram-se varas privativasCíveis, Criminais e de Família e Sucessões; já as varas privativas dos Feitos da Fazenda Pública, de Falências, dos Registros Públicos são competentes em todo o território da comarca.

 Notemos ainda, com vistas à questão da competência da JustiçaFederal, que a 3~ Seção do STJ firmou entendimento, em maio de 2005,

4. Como noticiado na MC 1.756, da qual foi relator o Min. Waldemar Zveiter, a10a Câmara do antigo 2fi TACSP julgou que “a competência dos Foros Regionais éabsoluta, dentro da comarca da Capital, não se podendo sobrepor a ela a escolha feitado foro central de São Paulo, por se tratar de matéria prevista nas leis de organização

 judiciária do Estado, insuscetíveis de alteração pela vontade das partes”. No REsp

31.518, do qual foi relator o Min. Adhemar Maciel, DJU , 28 jun. 1993, o STJ julgou,aliás, que o foro de eleição se refere à comarca e não ao juízo ou divisões internas (forocentral e foros regionais), mormente não comprovado prejuízo.

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no sentido de que a competência da vara federal existente na comarcaabrange igualmente a área dos foros distritais ou regionais vinculados àmesma comarca: “não estamos diante da delegação de competência do §3a do art. 109 da CF, não se aplicando a Súmula 3 desta Corte de Justiça”

(CC 43.033, rei. Min. Arnaldo da Fonseca, j. 11-5-2005). Sucederam-sedecisões análogas.

73. Foro da situação da coisa (CPC, art. 95)Quando o conflito interRssea.-tra7.ido a juízo. versar sobre coisa 

móvel,'&demanda será proposta no foro do domicílio do réu (CPC, art 94,caput). E caso de competência relativa, como ja exposto*.

.. f -r .—  ___-_ -r -—  ......  rr i * “r ~.... i ........... ......  ...................f 

Quando o bem da vida, objeto da lide ■for um imóvel, é  mister verifí-

car se a ação, ou melhor, se a pretensão de direito material busca~funHã^mento em direito pessoal ou em direito real Realmente, “a mesma coisa po^êleTobjeto de um direitoj^Foude um direito pessoal, v. g., a casa,que pode ser objeto de locação — direito pessoal, obrmacionaP^ ojü .dê"domínio — direito real” (Agrícola Barbi, Comentários, cit, v. 1, n. 537)6.

O foro da situação da coisa^ “larum rei sitae”, nos termos do art. 95d° Código de Processo CiviL aplica-se apenas às demandas em que o

 fundamento jurídico do pedido (CPC, art. 282, III) tiver por base direito........................................................... .  ............................ .. 

XI.......  .u - " - ................................ ........................................................................ ..

reaV. O motivo desse foro especial, aproximando o juízo da coisa litigio-

5. A ação de busca e apreensão fundada em propriedade fiduciária sobre coisasmóveis  (Lei n. 10.931/2004) é ação real mobiliária,  caso dè competência territorial(relativa) com incidência do art. 94 do CPC, podendo as partes ajustar foro de eleição;todavia, caso se venha a caracterizar contrato de consumo, a eleição de foro será considerada inválida se prejudicar a defesa do consumidor — v., nesta obra, o verbete n.

64 (Joel Dias Figueira Jr.,  Ação de busca e apreensão em propriedade fiduciária, Revista dos Tribunais, 2005, p. 95).6. Decidiu o Supremo Tribunal Federal, por sua lâ Turma, que em ação fundada

em direito real sobre imóvel (nulidade de atos jurídicos, reivindicação e perdas e danos) prevalece o foro da situação do imóvel, mesmo em sendo réu o Estado, que normalmente responde perante vara especializada da Capital (23-9-1980, RTJ, 95:347).

7. O Superior Tribunal de Justiça decidiu que se enquadra na previsão do art. 95a ação em que é pedida a declaração de nulidade de procuração, por falsidade, cumulada com pedido de nulidade do próprio registro da escritura de compra e venda efetivada por meio daquela procuração, sendo assim competente o foro da situação do 

imóvel. Precedentes citados, do STF: RE 84.698, DJU, 8 set. 1976; RE 99.395, DJU, ls jul. 1983 (CC 26.293, 2- Seção, rei. Min. Nancy Andrighi, ac. de 18-2-2002, Informativo do STJ , n. 123, fev. 2002).

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sa, é facilitar a prova, especialmente prova pericial e inspeções judiciais,tão freqüentes em tais demandas, e tomar mais expedita a~èxecuçIo~dê~sentença condenatória.

74. Foro da situação da coisa e indisponibilidadeA lei faz uma distinção. Se o litígio versar sobre direito de  proprie- 

dade, vizinhança, servidão, posse  (assim apontada a posse, pelo menos para eteito de determinação de competência, como direito realV divisão e demarcação de terras e mmciação de obra nova, a competência — embora territorial — é absolutaX Arruda Alvim,  Manual de dTreítcTprocessuaT  civil, 107”e3TT~Revista <3os Tribunais, 2006, v. 1, n. 85; Agrícola Barbi,Comentários,  cit., v. 1, n. 544), não sendo, pois, admitida a prorrogaçãode competência ou a eleição contratual de foro (jR77, 65:817).

Destarte, se uma ação reivindicatoda-de,imóvel, ou acão negalóm(v. Pontes de Miranda, Tratado de direito privado,  2. ed., t. 14, §§ 1.583e s.), ou ação confessória de servidão, ou acão de reintegração de posse,ou acão de usucapião de terras, ou acão demarcatóría etc. forem propostasem foro outro que não o da localização do imóvel Iitigioso, necessariamente se dará o juiz por incompetente e determinará a remessa dos autosao juízo competente (CPC, art7113)7™ — ""

Quanto à imissão na posse, cumpre uma distinção. Às mais das vezes,ajimissão na posse constitui simples ato executório de sentença condenatória à entrega de coisa &v.g., art. 461-A, § 2-). Temos, no entanto, a ação de imissão na posse. em que são partejsJ£gítimas._CQmo. autor aquele_queadquiriu a propriedade (ou o promitente-compradorL mas nãrirece.hen arespectiva posse, e como réu o alienante (ou promitente-vendedor) quemanteve a posse.

„Não se trata de ação possessória, jâ que o demandante nunca teve

 posse, mas sim de ação baseada em direito real (ao proprietário o direitode reaver a coisa do~po3eFge quenTquer que injustamente a possua ou

 jietenha — CC/20Õ2, art. 1.228), o que inclusive atrai a incidência do art.do CPC (Gildo dos Santos, artigo na coletânea Posse e propriedade,

Saraiva, 1987, p. 452 e s.). Contra, afírmando-Cuidai^se...de..ação fundadaem direito pessoal, José Roberto dos Santos Bedaque (artigo na Revista do~Advogado, Ã ASP, v. 84, p. 108).

75. Foro da situação da coisa e disponibilidadeTodavia, se a pretensão for fundada em direito real outro que não os

 já mencionados, o art. 95lío Código de Processo Civil estabelece critério

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de disponibilidade para o demandante: tanto poderá propor a ação no foroda situação do imóvel como optar pelo foro do domicílio do réu, ou esta

 belecer prévia e contratualmente ioxojde eleição.Temos, destarte, já agora^competência relativa^,se a demanda, v. g.,

é proposta em foro que o réu considera não ser^He seu domicílio, mas nãoopõe exceção declinatória, operar-se-à a prorrogação de competência. Assim,v. g., a ação de execução hipotecária, a ação confessória de usufruto (Pon-tesde~Miranda, Tratado, cit., t. 19, § 2.349); as ações fundadas em direitosreais sobre coisa alheia imóvel outros que não os de servidão.

- - - r juTi-ir-un— n .. i* ■ í-.~- | ..................................  ^ ................................. 

76. Ações decorrentes de promessas de compra e venda de imóveisDe notáveljrnportância prática a análise das demandas decorrentes

de con tratosj j p rõ m ^ a de compra e venda de imóveis) máxime as açõesd_eCadjudicação compulsória  juizadas pelo pretendente à compra contrao promitente vendedor.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ao tempo que a maisalta Corte cuidava de matéria infraconstitucional, admitiu a adjudicatóriâcom base em avença por instrumento particular, mas sempre exigindoestivesse registrada no ofício imobiliário (RE 71.167,  RTJ, 57:652;  RE68.705, RTJ, 53:696).

O Superior Tribunal de Justiça, todavia, em leading case no REsp 30(rei. Min. Eduardo Ribeiro), afastou a exigência do registro imobiliário(RSTJ, 5:1043). Ambas as Turmas da 2~ Seção seguiram tal orientação,como está, v. g., no REsp 9.945 (rei. Min. Athos Carneiro,  RSTJ , 25:465),explicitando que “o registro imobiliário somente é necessário para a produção de efeitos relativamente a terceiros”.

Foro competente, em princípio, é o da situação do imóvel, embora odireito aquisitivo decorrente de contrato não registrado não se enquadre,

 parece-nos, em nenhuma das situações previstas noCódigo de Processo Civil8.

^No pertinente às ações de rescisão de compromisso de compra e vendà, com pedido cumulado de reintegração do promitente vendedor  na

8. O Supremo Tribunal Federal já considerou que na ação de adjudicação com pulsória o foro da situação da coisa prevalece sobre o foro de eleição (CJ 6.020, Pleno,

v. u., j. 26-5-1976). Nos casos de “venda de imóvel”, considerou o Superior Tribunalde Justiça que o foro da situação prevalece sobre o do inventário (2- Seção, CC 799, j.13-12-1989, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, RSTJ , 77:66).

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 posse direta do imóvel, a jurisprudência tem divergido. O Supremo Tribu-nal Federal considerou, em alguns casos, prevalecente o foro rei sitae (RTJ, S9:1041; 97:184); mas, em sentido contrario, pela primazia do foro deeleição quando a possessória é mera conseqüência da acão de rescisão* os

arestos in RTJ, 97:442; 777:868. No Superior Tribunal de Justiça, julgou a 2~  Seção (CC 1.557, rei.

Min. Barros Monteiro) que em não sendo a reintegração mera conseqüênciada rescisão, mas sim operando~se a cumulação sucessiva de ações, a com

 petência será do foro da situação do imóvel; e ainda a 4- Turma, no REsp13.125 (j. 22-9-1992, rei. Min. Athos Carneiro), adotou o entendimentode que, havendo a cumulação de pedidos, se o pedido possessório se apresenta “como mera decorrência do pedido principal fundado em inadimple-

mento contratual, não incide a norma de competência do art. 95 do CPC”(este acórdão consta do Anexo IV).

Da ementa no REsp 19.992, j. 13-3-1995, rei. o Min. Sálvio de Figueiredo, consta que “a regra da competência absoluta insculpida no art.95 do CPC, não tem incidência quando o pedido de reintegração na posseé deduzido como mero efeito ou extensão do pedido principal de resolução

“do compromisso de c o m p r a "

. Em se tratando de demanda relativa dÇ^telIrbanQ)(por loteamento

ou por desmembr^^ b1Turtmha)7o^oro competente “será sempreo da^omS^da~situacão]^ Í o S _?_,fLei n. 6.766, de 19-12-1979, art. 48).

77. Imóvel situado em território de mais de uma comarcaCumpre observar que, se o imóvel litigioso se encontrar situado em

mais de um Estado ou de uma Comarca, a competênçxajéJtxada,p.ela,/2^ :venção, e o juiz prevento terá sua competência territorialmente ampliada

 paraabranger a totalidade do imóvel (CPC, art. 107). Assim também nos

casos de fun3ada dúvida sobre a exata localização das linhas di^sóriasT'

78. Causas em que for parte a União ou o Estado, e o forum rei sitae

O forum rei sitm. jmainçide.sobre as causas em que for parte a UniãoFederal, que goza de foro privilegiado., ut  art. l09, §§ Ia e 2- da Leijfvlaior,

9. De forma análoga julgou a mesma 4a Turma no REsp 10.687, j. 11-12-1995,re!. o Min. Barros Monteiro: ‘Tratando-se de ação fundada em direito pessoal, sendoa nulidade da escritura e a cassação dos respectivos registros providências de carátermeramente consequencial, a regra do art. 95 do CPC não tem incidência”.

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correndo a demanda perante a Justiça Federal — Constituição, art. 109, 1(v. orverBetes n. 108 e s.)10.

Já o Estado, nas ações reais imobiliárias, está sujeito ao forum rei sitae\  a demanda, todavia, será distribuída ao “iuízo privativo” dos feitos

fazendários, onde houver (v., outrossim, o verbete n. 86).

79. Inventário. Ações relativas à herança

Devem ser propostas no último domicílio do autor da herança (i. e.,do de cujus) as~ações~cle inventáno e partilhados bens, as ações relativasao testamento e ainda quaisquer  ações movidas contra a herança (a heran-ça ou espólio são presentados em iuízo pelo mventanante — CPC, ãrtTl27~V — salvo quando dativo — CPC, art. 12, § ls).

O art. 96, parágrafo único, prevê qual o foro competente quando ode cujus não^põssuía domicfllro~certo,observai^o-se,^ii^,oIocaIdFsT7"tuação dos bens ou o lugar S n T q u F ô c o ^ lT o o K ^ ^ ^ ^

Assim, em princípio, o loaaT^o^liirfw^ãÕmícílio do “de cujus”  prevalece sobre o local onde ocorreu o oDito, óiTsõbre o local onde sãosTtuaHos os bens, mesmo se bens imóveis. Todavia, se o de cujus era domiciliado no estrangeiro, e faleceu no estrangeiro, o inventáno relativo aos"

'bens situados no Brasil (competência exclusiva da Justiça brasileira, art.outrossim, overbete n. 49 e a nota 1 do Cap. XI).

A competência para o processamento do inventário é relativa, não podenrln,Q juiz^de starte .liuscllia^rdeTffici^rei. Min. Cesar Rocha, dec. de 17-9-2001,  DJU,  2 out. 2001, p. 189).Tratando-se de competência territorial, de natureza relativa, “não cabe ao juiz de direito da comarca onde foi instaurado o inventário, suscitar de

o f e i o T s u a l n c o m p ^ ê n c i ã T ^ ^ X ^ g ^ ^ ^ ^ ^ ü F o ^ ^ ^ c ^ u ^ H v O T ^ ^ núltimo domicílio em outra comarca” (CC 11.629, rei Min. Ruy Rosado,5 7 t7 r2 ^ev T 1 ^5 7 id êm C C ll .050, rei. Min. Pádua Ribeiro, dec. de 13-8-2001, DJU, 23 ago. 2001, p. 321). Portanto, o ajuizamento do inventário,ou de outras ações referidas no art. 96, com infração às regras nesta norma.

10. Incide o forum rei sitae nas ações de usucapião especial, ainda que interve-niente a União Federal (v. o verbete n. 101 e a Súmula 11 do STJ).

11. Contra, Pontes de Miranda: “Se a ação é relativa à herança, a competênciaé segundo o art. 96, ainda que já tenha havido sentença de partilha, trânsita em julgado”(Comentários ao Código de Processo Civil, cit., t. 2, n. 226).

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 previstas, implica incompetência apenas relativa, considerando-se, portan-to, prorrogada a competência do foro caso não oposta, em tempo hábil,excecão deçlimtomiCPC, art. 114).

De outra parte, a competência do foro da herança permanece até omomento em que a herança mantém-se como universitas j urís, indivisa, 

 portanto. Depois da partilha, j á fracionados os bens entre herdeiros, estesdeverão ser acionados individualmente segundo^sregras gerais (Arruda "Alvim, Manual de direito processual civil, Revista dosTribunaísi v. 1,10.ed., 2006, n. 86, p. 287). No mesmo sentido, Agrícola Barbi: “Com a

 passagem em julgado da sentença homologatória, desaparece a figura^io*”espólio, porque cada herdeiro IJajsITT&^Hono^

^lhe coube” (Comentários, cit., v. 1, n. 552). Nos processos de inventário, a circunstância de sua abertura haversido requerida.por,entidade de direito público federal, na qualidade de

«■ ii in " *‘1'" '* ‘* 'f  ‘ ii ii i ■ ■ ■ ijiuiir-r-irrr-nifriTw iiw j.iiiiii TLf-j —» ■ mm ,, i w ihbh rS jm n i i " f * M w w m t u . 1 .

credora do de cujus,  não desloca o foro para a Justiça Federal. Assim,v. g., decidiu a 2- Seção do STJ, sob a ementa: “Compete à Justiça estãdu^

 jdjjroçessaH ainda quefígure como requerente, na qualidadellê"credor do autor da herança, a Caixa Econômica Federal” (CC 34.641, rei.Min. Nancy Andrighi, ac. de 26-6-2002, RSTJ, 160:239).

Vale observar que o foro do último domicílio do inventariado não pre-^valece, em princípio, perante regras relativas a competência absoluta. Assim,ação relativa a direito real sobre imóvel deve ser proposta no local da siaíaçãcT'da coisa, ainda que o polo passivo seja ocupado por um espólio.

79-A. Inventário e partilha por escritura pública

Ao ser promulgado, o vigente CPC permitia fosse o inventário efe

tivado por acordo extrajudicial, desde que todos os herdeiros fossem ca pazes; logo, no entanto, a Lei n. 5.925, de ls-10-1973, veio a revogar os§§ 1- a 5S do ^rt. 982) mantido assim apenas o\capút?jpelo qual proceder--se-á a inventário judicial, “ainda que todas as partes sejam capazes

Destarte^mesmo a possibilidade de efetuar a partilha amigável,quando capazes e de acordo os interessadÕsTCC, arf72~X)T5; CPCTart-1.031), não afastava a necessidade~dé~prevlimente requerer em juízo oinventário ,j

Vários motivos, dentre os quais sobressaem as demoras decorrentes doextremo acúmulo de processos em tramitação judicial, levaram o legislador(por proposta de integrantes do Instituto Brasileiro de Direito Processual) a

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novamente permitir, nos termos da recente Lei n. 11.441, de 4 de janeiro de2007, o inventario e a partilha mediante escritura pública, quando todos osinteressados forem maiores e capazes e estiverem de acordo (CPC, art. 982,nova redação). Por “interessados'” devem entender-se os herdeiros, e não

eventuais legatários, pois, em havendo testamento, proceder-sé-á sempre ainventário judicial. Os herdeiros comparecerão^aò ato notarial pessoalmen-te7 ou rej esentacíos por procurador com poderes especiais.

A fim de diminuir a possibilidade de algum herdeiro posteriormentearguir que forãTIudido ao concordar com a descrição é/ou a divisão dos bens, a lei exige (art. único) que advogado comum, ouadvogados de cada herdeiro, sejam presentes ao ato da escrftüm^devendoconstar sua_qualificacão e assinatura.

Os herdeiros são livres para escolher o tabelião que lavrará a escritura, não estando, portanto, vinculados à comarca em que faleceu o cie cuius. A escritura consfitmrO'tuToTmHl~pÍ^^regisrfo ímobiIiário.'^s^sim ligado às matrículas dos imóveis inventariados.

Eventuais sobrepartilhas podem fazer-se pela escritura pública, ain- jda que o inventário haja.sidoiudlcial.

Munido da escritura, pode outrossim cada herdeiro receber, conformehouverem convencionado, as quantias relativãsao FÜTSTaoTlS -PÁS ÉP

(ejjndajü£SXituiçjõ&s--de-ti:ibutQs^le^ntãmento de pequenos saldõs~Ban~"~'cários) não percebidos em vid.a pelo inventariado, e issjj.mdep.endentemen-te de qualquer alvaráJudicial A escritura, com a especificação. _d_o.s._bensque, de comum acordo, tocaram a cada herdeiro, supre o “alvará judicial”refendo i ^ l ^r~P~HiXei n7^7858/1980. Note-se: a lei nova veio para des-complicar, para tomar desnecessário o uso do aparato judicial, reservando--se a jurisdição voluntária apenas àqueles casos em que realmente indis

 pensável jTadn^^ nesta obra, o

verbete n. 35).A dispensa das vias judiciais é uma faculdade dos mtej s.s.ado.s,,CasQ._ 

consiHereni^onveniente requerej„eni.i.uíz.o..oiny.entário.e..a.paj:tjjha,,podemfazê-lo, com observância, então, das .normas de competência expostas.no verbete n. 79.

80. Ações de separação judicial, de conversão em divórcio, de divórcio direto, de anulação de casamento (CPC, art. 100,1) 

e de dissolução das uniões de fato Nos termos do art. 100,1, é competente o foro:

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“I — da residência  da mulher, para a ação de separação doscônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento”.

 Nestes casos, o legislador ordinário havia considerado necessáriofavorecer processualmente a defesa dos interesses da mulher, partindo do pressuposto (ainda verdadeiro na maioria das vezes) de ser a parte maisfraca, merecedora portanto de especial tutela jurídica.

Assim, o foro da residência da mulher   está posto no Código deProcesso Civil como o competente (competência relativa — 2~ Seção,CC 245, j. 28-6-1989, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, RSTJ, 5:741) paraas ações de separação judicial e de conversão desta em divórcio (CPC,

art. 100, I, com a redação dada pela Lei n. 6.515/77, art. 52) e para asações de anulação (e de nulidade) do casamento, bem como, analogica-mente, para as ações de “divórcio direto” promovidas pelo cônjugemulher.

Todavia, impende atualmente ponderar quanto à controvertida vigência do referido art. 100,1, do Código de Processo Civil, em face daregra da Constituição de 1988 (art. 226, § 5a), de imediata cogência,verbis: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exer

cidos igualmente pelo homem e pela mulher ”, em explicitação, diga-se,da norma constitucional de igualdade dos sexos: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” — CF,art. 5a, I.

Em última análise, desigualdades serão admitidas somente quando expressamente estipuladas em norma constitucional (v. g., CF, art.40, III).

Cumpre ressaltar que, em face do novo Código Civil — Lei n.10.406, de 10-1-2002 —, a direção da sociedade conjugal “será exercida,em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casale dos filhos”; nos casos de divergência, “qualquer dos cônjuges poderárecorrer ao iuiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses”(art. 1.567).

 No alusivo ao domicílio familiar, que pelo antigo Código Civil erafixado pelo marido, passou a ser, na nova sistemática, “escolhido por

ambos os cônjuges”, sem prejuízo da possibilidade de qualquer delesausentar-se para atender encargos públicos, profissionais ou “interesses

 particulares relevantes” (art. 1.569). Nos casos de ausência, interdição

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ou impedimento de qualquer dos cônjuges, outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a administração dos bens”(art. 1.570)12.

O prof. Yussef Said Cahali sustenta que não mais vigora o foro privilegiado a benefício da mulher casada, caindo as demandas acima aludidas no foro comum do domicílio do réu (CPC, art. 94); a respeito, tecelonga argumentação, referindo que o princípio da igualdade dos cônjugesnão incide apenas nas normas de direito material, “mas se estende às medidas processuais tendentes ao exercício daqueles direitos tendo por objeto relações de Direito Matrimonial” {Divórcio e separação, 9. ed., Revista dos Tribunais, 2000, n. 57, p. 528)13.

Mas José Roberto dos Santos Bedaque entende que a norma constitucional em nada realmente inovou, pois a CF anterior já consagrava aregra da isonomia (art. 153, § Ia) e “por outro lado, o foro especial damulher atende a um objetivo legítimo, qual seja, o de atenuar possíveis e

 prováveis desigualdades em relação ao homem” (artigo na  Revista do  Advogado, AASP, n. 84, p. 113-114).

12. Nos termos do antigo Código Civil de 1916, ao mando competia fixar odomicílio da família, apenas ressalvado à mulher o direito de recorrer ao juiz no casode deliberação que a prejudicasse (CC, art. 233, III). Igualmente, o domicílio da mulherera o do marido, “chefe da sociedade conjugal” (CC, art. 233), salvo se estivesse amulher judicialmente separada ou lhe competisse a administração dos bens do casal(CC, arts. 26, parágrafo único, e 251).

13. Em sentido contrário, pela permanência do foro privilegiado da mulher,Sérgio Gischkow Pereira, “Algumas questões de direito de família na nova Constituição”, RT , 639:249.

 No sentido do texto, e com exposição da controvérsia, aresto do Superior Tribu

nal de Justiça (4a Turma, REsp 17.999, j. 31-8-1992, rei. Min. Sálvio de Figueiredo).Igualmente o CC 3.344, aresto da 2- Seção do Superior Tribunal de Justiça (j. 28-10-1992), de que fui relator, sob a ementa:

“Ação de divórcio. Competência de foro. Mesmo se considerado não revogado pelas normas constitucionais — CF, arts. 5S, I, e 226, § 5fi — o privilégio de foro emfavor da mulher — CPC, art. 100, I —, ainda assim competente o foro do local deresidência da ré, na demanda promovida pelo marido”.

Todavia, por acórdão de 9-2-1994, rei. Min. Dias Trindade, a 2- Seção do STJveio a decidir que “prevalece o foro da residência da mulher para a ação de separaçãodo casal e de busca e apreensão de filhos menores, por não afetar a lei que assim dispõea igualdade entre os cônjuges estabelecida na Constituição” (CC 6.325, DJU, 28 mar.1994, p. 6287). E também prevalece tal foro, consoante aresto no REsp 7.420, em açãode modificação de cláusula de separação consensual (STJ, 3â Turma, rei. Min. Nilson Naves, DJU , 21 fev. 1994).

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A questão, todavia, mantém-se polêmica, inclusive no alusivo aoforo competente para as demandas decorrentes do término das uniões defato. Aliás, nos termos do art. 9- da Lei n. 9.278, de 10-5-1996: “Toda a matéria relativa à união estável é de competência do juízo da Vara de 

Família, assegurado o segredo de justiça” (v. o verbete n. 91, parte final)14.

Outrossim, alguns autores sustentam que, após a edição do novo CC, o privilégio de foro da mulher só se justificará se ela comprovar hipossu

 ficiência econômica, como na hipótese de pedido cumulado de alimentos,não sendo mais cabível a prerrogativa de foro somente por causa do sexo(a respeito, Marcelo Truzzi,  RePro, 775:58-61). Todavia, é de ponderarque, em si mesma, a hipossuficiência econômica não implica concessão

de foro privilegiado à pessoa carente. O pedido de alimentos, aí sim, autoriza o ajuizamento da demanda no foro do domicílio ou residência doalimentando (CPC, art. 100, II).

80-A 0Separação consensual e divórcio consensual por escritura pública

A Lei n. 11.441/2007 (já referida no verbete 79-A), sempre no pro pósito de restringir os casos de jurisdição voluntária àqueles em que realmente indispensável a intervenção do Estado na administração dos interesses privados, aditou ao CPC o art. 1.124-A, permitindo que a separação consensual e o divórcio consensual, não havendo filhos menores ou inca

 pazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, podemser realizados por escritura pública, da qual também deverão constar asdisposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensãoalimentícia e, ainda, eventual acordo quanto à retomada pelo cônjuge (pelamulher, mais comumente) de seu nome de solteiro ou à manutenção donome adotado no casamento.

A lei é explícita em que a escritura independe de homologação judicial, constituindo título hábil para o registro civil e o registro de imóveis(§ Ia). Exige-se que os contratantes estejam assistidos por advogado comum

14. A 4â Turma do STJ, p. m. v., decidiu que na ação de dissolução de união estável, cumulada com partilha de bens, é inaplicável o art. 100,1, do CPC, diante do princípio da igualdade entre os cônjuges, proclamado no art. 226, § 5a, da CF/88.Assim, incide à espécie o art. 94 do Código (REsp 327.086, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. 8-10-2002).

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ou advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarãodo ato notarial (§ 22).

Algumas questões têm sido suscitadas. Os contratantes podem com parecer pessoalmente ao ato notarial (como se afigura o mais convenien

te), mas igualmente podem ser representados, um ou outro, ou um e outro, por procuradores com poderes especiais (outorgados por escritura pública), não devendo ser admitido um mesmo procurador para ambos oscônjuges. Ao advogado cumpre preservar sua posição de “conselheiro”e, assim, não deve, a nosso ver, simultaneamente servir como procuradordo cônjuge representando-o na escritura. A lei não prevê a intervenção doMinistério Público, e assegura a gratuidade da escritura e demais atosnotariais (neste passo referindo-se aos registros) àqueles que se declararem

 pobres sob as penas da lei.

O tabelião exigirá comprovantes dos prazos mínimos nos casos deconversão da separação judicial em divórcio (CC, art. 1.580, um ano) e dedivórcio após separação de fato (CC, art. 1.580, § 2~, dois anos). Apresentadas testemunhas, estas serão qualificadas e deporão perante o notário arespeito do prazo de separação.

Também aqui o uso da escritura pública é uma faculdade dos cônjuges. Caso entendam que, apesar do consenso, o ingresso em juízo e a

intervenção do magistrado e do Ministério Público lhes proporcionarámaior segurança, podem livremente ajuizar a competente ação, nos termosexpostos no verbete n. 80.

81. Ação de alimentos (CPC, art. 100, II)

O alimentando, na ação em que postula a concessão ou o reajusta-mento de pensão alimentícia, ou sua execução, poderá propô-la no foro deseu próprio domicílio ou residência15 e16; mas, como se cuida de regra de

competência relativa, nada obsta a que o alimentando ajuíze a demandano foro do domicílio do alimentante (rectius, do réu). Também a mulher,

15. Quando incapazes, têm por domicílio o dos seus representantes (CC, art. 36).Valem, quanto ao conceito de residência, as observações da nota 13.

16. Conforme refere Emane Fidélis dos Santos, “embora se tenha tratado talespécie como competência funcional, absoluta portanto, a jurisprudência tem-se inclinado a dar prevalência ao foro privilegiado do alimentando (art. 100, II), para execução 

de sentença condenatória de alimentos, ainda que fundada em título jurisdicional enão em simples acordo” ( Manual de direito processual civil, Saraiva, v. 2, p. 33).

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 pela mesma razão, poderá aceitar  ser ré, nas causas relativas ao matrimônio, em comarca diversa da de seu domicílio; bastará não suscitar exceçãode incompetência de foro (CPC, art. 112).

A orientação do Superior Tribunal de Justiça é no sentido da compe

tência do foro do atual  domicílio do alimentando também nas ações deexecução de alimentos17, ainda que a sentença haja sido proferida em açãode alimentos com trâmite em outro foro. Assim foi decidido pela 2~ Seçãono CC 2.933 (rei. Min. Waldemar Zveiter, j. 28-10-1992 — acórdão naíntegra no Anexo IV), bem como nó REsp 9.941 (mesmo relator). Damesma forma em demanda de revisão de alimentos  fixados em ação deseparação judicial, quando “não incide o disposto no artigo 108 do CPC,fixando-se a competência em função da residência ou domicílio do ali

mentando” (2ã Seção, CC 164, rei. Min. Eduardo Ribeiro, RSTJ, 2:306).A ação revisional de alimentos, proposta contra o alimentando, deve

ser ajuizada no foro do domicílio deste (STJ, CC 2.903, rei. Min. Nilson Naves, 24-6-1992, 2- S., v. u., RSTJ , 42:48), mesmo que não correspondaao foro da anterior ação de alimentos.

O mesmo princípio deve ser observado em se cuidando de ações dealimentos e de busca e apreensão de filho menor, ligadas por conexão, casoem que, “tudo conspirando para que os processos sejam reunidos e julga

dos conjuntamente”, prevalecerá “o foro do domicílio do alimentando ede sua mãe para as ações acima indicadas” (CC 18.961, ac. de 9-9-1998,rei Min. Cesar Rocha, RSTJ, 119:269).

 Nos casos de ação de investigação de paternidade cumulada com ação de alimentos, entendeu o Superior Tribunal de Justiça, por sua 2~ Seção, sercompetente o foro do domicílio ou residência do demandante (CC 214, rei.Min. Athos Carneiro; CC 683, rei. Min. Sálvio de Figueiredo).

Assim a Súmula 01 deste Tribunal:

uO foro do domicílio ou da residência do alimentando é ocompetente para a ação de investigação de paternidade, quandocumulada com a de alimentos”.

Tem sido decidido, outrossim, que sendo a competência determinada“no momento em que a ação é proposta, irrelevante afigura-se o fato de

17. A execução da sentença condenatória a alimentos (salvo nos casos de parcelas antigas, com mais de três meses de atraso) anticontinua a ser processada nostermos dos arts. 732 e s. do CPC, não se aplicando as normas decorrentes da Lei n.11.232/2005.

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haverem os alimentandos, após a citação do réu, se mudado para outromunicípio. Precedentes da Segunda Seção” . A ementa consigna que, “tratando-se de menores impúberes hipossuficientes, cujos direitos em litígiosão indisponíveis, inexigível era a apresentação de ‘declinatoria fori’ na

ação de oferta de alimentos contra eles proposta em outra comarca”, alémdo que os alimentandos anunciaram interesse em que a causa fosse apreciada no foro de sua anterior residência (CC 19.782, ac. de 9-12-1998, rei.Min. Barros Monteiro, RSTJ , 779:274).

Vale considerar, ainda, que a 2â Seção do Superior Tribunal de Justiça deu pela competência da Justiça Comum do Estado para processaração de alimentos com base no Decreto n. 56.826/65, que promulgou aConvenção sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro, sendo o devedor

residente no exterior e o credor, no Brasil (CC 20.175, rei. Min. MenezesDireito).

82. Forum obligationis (CPC, art. 100, IV, â)

As ações em que se exige do réu o cumprimento de obrigação contratual, bem como as ações em que se pede indenização pelo descum-

 primento de obrigação assumida contratualmente, têm como foro competente o do lugar avençado para adimplemento da mesma obrigação: forum obligationis, ou forum destincitae solutionis.

As obrigações via de regra são “quesíveis”, conforme o art. 327 doCC: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partesconvencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias”. Sabemos, no entanto, que emtermos práticos a maioria das obrigações apresenta-se “portável”, ou seja,deve ser satisfeita no domicílio do credor e, assim, neste domicílio será

 proposta a ação de adimplemento contratual.O saudoso Celso Agrícola Barbi adotava exegese restrita: “A lei sóse refere à ação para exigir o cumprimento da obrigação.  Assim, nãoabrange outras ações que podem decorrer do contrato, como a que for

 proposta para o anular, ou para declarar a sua validade, ou para interpretação de qualquer de suas cláusulas. Estas devem ser ajuizadas no foro dodomicílio do réu, segundo a regra geral do art. 94, porque este prevaleceonde não houver disposição em contrário” (Comentários ao CPC , 10. ed.,

Forense, 1998, v. 1, n. 592).Todavia, de legeferenda preconizou a adoção do foro de cumprimento da obrigação para todas as ações dela decorrentes, a exemplo do § 29 da

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ZPO alemã; mais ainda, aceitava o mencionado foro como já incidente àsações de indenização pelo não cumprimento do contrato, porque equivalentesà demanda para exigir o adimplemento (Comentários, cit., v. 1, n. 592).

Doutrina e jurisprudência, no entanto, vêm desde logo interpretandocom certa amplitude a norma legal, no sentido de que, embora o Códigode Processo Civil refira textualmente apenas a ações de cumprimento daobrigação avençada, os motivos inspiradores da regra de competênciaaplicar-se-ão igualmente às demandas em que se postule indenização em pecúnia, como sucedâneo da obrigação inadimplida18 (Ag. Inst. 473.883,rei. Min. Barros Monteiro, dec. de 5-5-2003).

Em sentido ainda de maior abrangência a 3- Turma do STJ, no REsp21.741, rei. o Min. Eduardo Ribeiro, ac. de 29-6-1992, constando daementa:

“A norma do art. 100, IV, cd \ deve entender-se como abrangendo também as ações em que se litigue sobre a validade de cláusulas contratuais. Possibilidade de optar-se pelo domicílio do réu” (RSTJ, 37:553).

O relator fez constar, em seu voto, que para termos um sistemacoerente era mister atribuir à norma de competência maior compreensão,

“justamente para evitar os inconvenientes apontados pelo ilustre proces-

18. Assim o Código de Processo Civil de Portugal: “Art. 74 — I. A ação destinada a exigir o cumprimento de obrigações ou a indenização pelo não cumprimentoserá proposta no tribunal do lugar em que, por lei ou convenção escrita, a respectivaobrigação devia ser cumprida. 2. Se a ação se destinar a efetivar a responsabilidadecivil baseada em fato ilícito ou fundada no risco, o tribunal competente é o correspondente ao lugar onde o fato ocorreu”.

O Código de Processo Civil da Itália: “Art. 20 (foro facoltativo per le cause re-lative a diritti di obbligazione). Per le cause relative a diritti di obbligazione è anchecompetente il giudice dei luogo in cui è sorta o deve eseguirsi T obbligazione dedottain giudizio”.

Código de Processo Civil da França (Dec. n. 75-1123, de 5-12-1975):“Art. 46. Le demandeur peut saisir à son choix, outre la juridiction du lieu oü

demeure le défendeur: — en matière contractuelle, la juridiction du lieu de la livraison effective de la

chose ou du lieu de Fexécution de la prestation de service; — en matière délictuelle, la juridiction du lieu du fait dommageable ou celle

dans le ressort de laquelle le dommage est subi...”.Verifique-se, outrossim, o magistério de Agrícola Barbi (Comentários, cit., v. 1,

n. 592); contra, Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil,  Revista dosTribunais, 1974, v. 1, p. 337-8.

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sualista mineiro e que chegam a tangenciar o absurdo. Com efeito, nãohá como razoavelmente aceitar que, se o autor formular pleito condena-tório, o foro será diverso daquele que seria competente caso, simplesmente, demandasse a declaração da existência da mesma relação jurídi

ca”, ou estivesse a questionar “a validade de determinada cláusula docontrato”.

A mesma 3â Turma, no REsp 84.642, ac. de 13-5-1996, de relatoriado Min. Waldemar Zveiter, fez constar que, “tratando-se de demanda relativa à reparação de dano, o foro competente é o do lugar onde se dará ocumprimento das obrigações pactuadas. Inteligência da regra do art. 100,IV, b ecldo CPC”.

Impende anotar, no entanto, que ocorrerá a prorrogação de compe

tência caso a ação venha a ser proposta noutro foro, como o do domicíliodo demandado, e este não opuser a exceção declinatória de foro.

A 2- Seção do STJ decidiu que “a competência para apreciar ação de nulidade de cláusula contratual, representada por cédula de créditorural, é do foro do lugar onde se acha a agência com a qual se contraiu aobrigação” (Emb. Div. no REsp 52.716, rei. Min. Pádua Ribeiro, ac. de25-6-2003, DJU, 4 ago. 2003, p. 216).

Devo assim, em parte retificando o afirmado em edições anteriores,

opinar no sentido de que também nas ações de anulação, bem como nasque envolvam a rescisão ou resilição contratual, e outrossim nas açõesdeclaratórias da existência, inexistência ou modo de existir da relaçãocontratual ou de cláusulas contratuais, em princípio será competente o

 forum clestinatae solutionis, com a opção, para o autor, de escolha do forogeral.

Pode ser proposta a demanda no foro do domicílio do réu? Em princípio, a resposta será afirmativa, neste caso como nos do inc. V do art. 100

do Código de Processo Civil, pois estará o autor optando pelo foro geral,com vantagem para o demandado.

Mas é possível que, nas circunstâncias do caso concreto, seja conveniente ao réu corra a demanda no forum obligationis (ou no local do atoou fato causador do dano), por entender mais fácil nesse foro a instruçãoda causa ou da demanda reconvencional que pretenda propor19.

19. A ressalva não foi esquecida por Humberto Theodoro Júnior: “A normainstitui, todavia, apenas um privilégio para o credor, que, salvo termos especiais da

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83. Forum commissi delicti (CPC, art. 100, V, a, e parágrafo único)

As ações de “reparação de dano”, aquelas em que se pede o ressarcimento por perdas e danos decorrentes de ato ilícito, ou de fato ilícito, oufundadas no risco, serão propostas no lugar em que ocorreu o ato ou o fato20.

Observemos que a palavra delito refere-se ao ilícito penal com conseqüências no plano do direito civil, não sendo necessário que o autor do ilícito já haja sido condenado no juízo criminal. E não se refere apenas aoilícito penal, mas igualmente ao ilícito dê natureza civil, como afirmado pela3- Turma do STJ, no julgamento do REsp 493.906 (relator o Min. MenezesDireito, j. 19-8-2003, RSTJ, 192:340) com remissão a precedente da mesmaTurma no REsp 56.867 (rei. Min. Costa Leite, DJU , 13 mar. 1995)21.

O objetivo, esclarece Arruda Alvim, “é o de proporcionar a economiade movimentos para eventuais exames, perícias ou vistorias, e porque quemse abalança a vir a juízo possivelmente (na maioria das vezes) terá razão.De mais a mais, se somente pudesse ser movida a ação no domicílio doréu, conforme as circunstâncias, a viabilidade prática de propositura dessaação de reparação dos danos seria muito difícil” ( Manual, cit., 10. ed.,n. 90, p. 296).

 Nos casos de danos decorrentes de delito  (crime ou contravenção),

ou de acidente de veículos, a lei processual busca sobremodo facilitar areparação dos danos patrimoniais sofridos pela vítima, pois a ação indeni-zatória poderá ser proposta quer na comarca onde ocorreu o fato ilícito,quer no foro do domicílio do próprio autor (CPC, art. 100, V, parágrafoúnico)22. Portanto, foros concorrentes.

convenção, pode preferir ajuizar a ação no foro comum do réu, i. e., no de seu domi

cílio. Se não houver prejuízo para este, o que em regra não se dá, não poderá o demandado impugnar a escolha do juízo feita pelo autor” (Curso de direito processual civil, 44. ed., Forense, v. I, n. 167).

20. Na ação de indenização, se o dano é causado em diversos lugares, pode oautor, a sua escolha, propor a ação em qualquer dos foros correspondentes (REsp209.242, rei. Min. Barros Monteiro, 4â Turma, ac. 2-9-2003,  Boletim STJ, n. 19, dez.de 2003).

21. Hélio Tornaghi (Comentários, cit, v. 1, p. 339) lembra que, além dos danos provenientes de ato ilícito, pode haver a reparação de danos causados por atos lícitos,'como, v. g., a destruição de coisa alheia para evitar perigo iminente (CC, arts. 160, II,e 1.519), sendo em tais casos igualmente aplicável a regra de competência do art. 100,V, do Código de Processo Civil.

22. Não é defeso ao demandante optar pelo foro geral, de domicílio do réu. Vale,também neste caso, a ressalva de Theodoro Júnior, mencionado na nota 19, retro.

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Acórdão do Superior Tribunal de Justiça, no REsp 14.731, rei. Min.Eduardo Ribeiro, j . 9-12-1991,3- Turma, explicita que a norma do art. 100, parágrafo único, do Código de Processo Civil, “ao referir-se a delitos, não se restringe aos que se verifiquem com a utilização de automóveis”. De

outra parte, consta do aresto que o autor pode “ajuizar a ação no domicíliodo réu e não no foro do local do fato. Este só poderá recusá-lo demonstrando que lhe interessa o outro, p. ex., em virtude de maior facilidade paraa produção de provas. Em regra, não se justifica a recusa do foro do própriodomicílio, se isso em nada o beneficia e apenas prejudica o autor”.

Segundo julgou a 3~ Turma do STJ, no caso de demanda indenizató-ria por danos morais causados pela veiculação de matéria jornalística emrevista de circulação nacional, “considera-se ‘lugar do ato ou fato’, para

efeito de aplicação da regra especial, e, portanto, preponderante, do art.100, V, letra ‘a’, do CPC, a localidade em que residem e trabalham as  pessoas prejudicadas, pois é na comunidade onde vivem que o eventonegativo terá maior repercussão para si e suas famílias” (Ag. Reg. no Ag.Inst. 458.129, rei. Min. Menezes Direito, ac. de 11-11-2002. No mesmosentido, REsp 191.169, 4- T., rei. Min. Aldir Passarinho; Ag.Reg. no Ag,Just. 592.004, 3âT., rei. Min. Castro Filho, j. 13-12-2005).

Em ação indenizatória por danos morais e materiais foi reiterado o

 princípio da preponderância da regra específica do art. 100, V, a, do CPCsobre as normas genéricas dos arts. 94 e 100, IV, a\  destarte, a demanda pode ser promovida no foro do local onde ocorreu o ato ou fato, ainda quea ré seja pessoa jurídica, com sede em outro lugar (4ã Turma, REsp 533.556,rei. Min. Jorge Scartezzini, j. 2-12-2004). O princípio incide ainda que sejaré autarquia federal, no caso o Banco Central do Brasil (2â Turma, REsp591.268, rei. Min. Eliana Calmon, j. 16-11-2004).

Esse foro excepcional, assegurado à vítima de delito ou de acidente

de veículo, em homenagem a sua situação pessoal, “constitui prerrogativa processual que não se transmite ao que se sub-roga no direito de receberindenização” (STJ, 3â Turma, REsp 17.794, p. m. v., rei. desig. Min. Eduardo Ribeiro). Assim, a seguradora sub-rogada nos direitos da vítima, suasegurada, em termos de direito material, coloca-se na posição do antigocredor da indenização, mas não em termos de direito processual; permitirdestarte que a demanda seja ajuizada na sede da empresa seguradora éconseqüência que não estará na mens legis23.

23. A ementa do aresto no REsp 17.794 encontra-se no Anexo IV.

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Muito bem. expôs a Min. Nancy Andrighi que a norma especial contida no art. 100, parágrafo único, do CPC, foi editada tendo em vista a “situação personalíssima da vítima, que sofre acidente automobilístico, no clarointuito de minimizar-lhe as despesas e aborrecimentos que os danos dele

decorrentes ocasionam. A prerrogativa processual do foro excepcional não se transmite às seguradoras, que tão somente suportam os ônus financeirose, regressivamente, sub-rogam-se materialmente nos direitos do credor” (CC21.829, lâ Seção, ac. de 7-4-2000, DJU, 15 maio 2000, p. 114).

De outra parte, havendo empresa locadora de veículos proposto açãoindenizatória por acidente de trânsito no foro de seu domicílio, consoantedisposto no art. 100, parágrafo único, a 4- Turma considerou possível adeclinatória de competência para o foro do local do fato, tendo em vista

que a demandante era empresa atuante em muitas localidades no territórionacional, e a conveniência em observar os princípios da celeridade processual tendentes a uma pronta pacificação dos conflitos (REsp 261.181, rei.Min. Aldir Passarinho Jr., ac. de 6-2-2001).

84. Ainda a competência de foro

84.1. Ação contra pessoa jurídica (CPC, art. 100, IV, a e b )

Em princípio, é seguida a regra geral, de competência vinculada aodomicílio da ré, ao local onde tem sua sede. Nas obrigações contraídas porintermédio de agência ou sucursal (inclusive em se tratando de empresacom sede no estrangeiro), a ação será proposta no local da agência24.

A respeito a Súmula 363 do Supremo Tribunal Federal:

“A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada nodomicílio da agência ou estabelecimento em que se praticou o ato

Como ensina Arruda Alvim {Manual de direito processual civil,  10.ed., Revista dos Tribunais, v. 1, p. 294, nota 134), o conceito de agência ou sucursal “implica ausência de autonomia absoluta, pois são geneticamente ligadas ao estabelecimento; não há sucursal, agência ou filial com

24. Segundo a 4â Turma do Superior Tribunal de Justiça, em aresto proferido noREsp 80.762 (ac. de 21-5-1998, rei. Min. Sálvio de Figueiredo), “a ação de nulidadede cláusula inserta em cédula de crédito rural deve ser proposta no lugar onde se achaa agência bancária com a qual foi contraída a obrigação, que consta do contrato como

 praça do pagamento do título, e onde pode ser exigido o seu cumprimento, nos termosdo art. 100, IV, b, do CPC”.

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autonomia absoluta (cf. Pontes de Miranda, Tratado de direito privado,1 1, 2- ed., § 112.4)”.

As empresas de economia mista têm seu foro na Justiça estadual,ainda que na ação a controvérsia gire “em tomo de reajuste de tarifa de

energia elétrica fixado com base na observância, pela concessionária deserviço público, de portarias baixadas pelo DNAEE, que não participa dalide” (CC 23.761, ac. de 9-12-1998, rei. Min. Aldir Passarinho Jr.,  RSTJ, 779:54).

Ainda de anotar que, em se tratando de pessoa jurídica estrangeira, >o gerente da filial ou agência presume-se autorizado “a receber citação ?inicial para o processo de conhecimento, de execução, cautelar e especial”(CPC, art. 12, § 3e). É que se reputa domiciliada no Brasil “a pessoa jurí

dica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal” (CPC, art. 88 , parágrafo único).

Quando for ré uma sociedade ou comunidade de pessoas, sem personalidade jurídica (CPC, art. 100, IV, c), a ação será movida no local ondeatua a demandada, onde exerce sua principal atividade, devendo ser citadana pessoa que de fato estiver dirigindo a entidade (CPC, art. 12, VII).

A competência para processar ação contra entidade de previdência privada é a da respectiva sede (art. 100, IV, a, do CPC), excetuando-se oscasos em que possuidor hipossuficiente venha a optar pela propositura dademanda em seu domicílio, a fim de facilitar-lhe o acesso à Justiça — STJ,Súmula 321 (4â Turma, REsp 825.316, rei. Min. Jorge Scartezzini, j. 4-5-2006).

84.2. Ação contra o administrador ou gestor de negócios alheios

Deve ser proposta no foro do lugar do ato ou fato invocado na inicial

como fundamento da pretensão (CPC, art. 100, V, b), se o autor não preferir propô-la no domicílio do réu. É o chamado forum rei gestae. Abrange as ações contra tutores e curadores, como ensina Agrícola Barbi (Comentários, cit., v. 1, n. 596).

84.3. Ação contra pessoa declarada judicialmente ausente (CC, art. 22; CPC, arts. 1.159 e s.)

A demanda irá correr no foro do último domicílio que mantinha

antes do desaparecimento, citado o ausente na pessoa do curador (CPC,art. 97).

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Entretanto, se simplesmente fo r ignorado o domicílio e o paradeirodo réu, a ação será proposta no foro do domicílio do autor (CPC, art. 94,§ 2S), sendo o demandado citado por editais. Não acudindo à citação, ser--lhe-á nomeado um curador à lide (CPC, art. 9-, II).

A norma do art. 97 visa apenas complementar a regra geral relativaao domicílio do réu, não excluindo a incidência de foros especiais, como

 por exemplo o foro do domicílio do autor caso a demanda verse indenização por acidente de trânsito (art. 100, V, parágrafo único), ou o foro ondea obrigação deveria ter sido satisfeita (art. 100, IV, d).

84.4. Ação contra incapazA ação em que um incapaz for réu será proposta no foro de seu re

 presentante ou assistente (menores absoluta ou relativamente incapazes; pessoas sob interdição total ou parcial — CC, art. 76; CPC, arts. 98 e1.185).

85. Mercosul. Acidentes de trânsito. Protocolo de São Luiz

Os países integrantes do Mercosul, “convencidos da importância dese adotarem regras comuns sobre jurisdição internacional e direito aplicá

vel no âmbito da responsabilidade civil emergente de acidentes de trânsito”, firmaram em 25 de junho de 1996 o Protocolo de São Luiz (Rep.Argentina), promulgado no Brasil pelo Decreto n. 3.856, de 3 de julho de2001 (íntegra RF, 356:473).

Por esse Protocolo, “a responsabilidade civil por acidentes de trânsito será regida pelo direito interno do Estado Parte em cujo territórioocorreu o acidente”; todavia, segundo o art. 32, se do acidente “participaremou resultarem atingidas unicamente pessoas domiciliadas em outro Estado

Parte”, terá aplicação o direito interno deste último. Já a responsabilidadecivil “por danos sofridos nas coisas alheias aos veículos acidentados seráregida pelo direito interno do Estado Parte no qual se produziu o fato”.

Consoante o art. 7S, para conhecer das ações compreendidas nesteProtocolo serão competentes, por opção do autor, “os tribunais do EstadoParte: a) onde ocorreu o acidente; b) do domicílio do demandado; e c) dodomicílio do demandante”.

Assim, se veículo registrado no Brasil capotar em estrada argentina,

ficando feridos apenas cidadãos domiciliados no Brasil (ou apenas cidadãos domiciliados no Uruguai), a responsabilidade civil será determinada na conformidade da lei material brasileira (ou uruguaia), podendo a

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ação indenizatória ser proposta perante juízo da República Federativa doBrasil (ou da República Oriental do Uruguai) ou perante a Justiça daRepública Argentina. Mas em caso de colisão com outro veículo, resultando também atingido cidadão domiciliado na Argentina, ou no Paraguai,

a responsabilidade civil reger-se-á pela lei argentina, sendo competente para conhecer da demanda o juízo escolhido pelo autor, conforme dispõeo art. 7e.

É de lamentar que o Protocolo não haja simplificado o procedimento para as cartas rogatórias citatórias ou destinadas à instrução da causa ou ,cumprimento das sentenças — como aliás previsto, para as medidas cau- <<telares, no Protocolo de Ouro Preto (v. o verbete n. 52, in fine).

í86. Causas em que o Estado for parte, ou autarquia estadualOs Estados federados, bem como suas autarquias ou empresas pú

 blicas, não gozam da vantagem de foro privativo',  mas os Códigos deOrganização Judiciária estaduais podem, obedecidas as normas de com

 petência territorial, criar “juízos privativos” para os feitos da Fazenda,.Pública25 e26.

A autarquia estadual tanto pode ser demandada no local em que se

encontra localizada a respectiva sede quanto no foro do local onde contraiuas obrigações (STJ, 5â Turma, Ag. Reg. no Ag. Inst. 42.513, 25-5-1994, RSTJ, 74:11).

Assim decidiu o STJ, por sua lâ Turma: “O Estado membro não temforo privilegiado, mas juízo privativo (vara especializada), nas causas que

25. O antigo Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, por sua 2a Câmara Cível,

relator Adroaldo Furtado Fabrício, decidiu o CC 29.025 sob a seguinte ementa: “Com

 petência.. Empresa Pública. Combinação dos Critérios Territoriais e Objetivo. Açãomovida à Comp. Est. de Energia Elétrica no foro do domicílio do autor, que é tambémo do local do fato, com base no art. 100, § único, do CPC. Declinação !ex-officio’ dacompetência para uma das varas da Fazenda Pública da Capital, e conseqüente recusada competência pelo titular desta, com suscitação de conflito.  Impossibilidade de criação pela lei estadual de privilégio de foro que a legislação federal não contemplou (CPC, art. 91). Limitação do alcance da regra do art. 84, V, do COJE do RS aos feitosque, segundo a lei processual federal, devam tramitar na comarca da capital. Procedência do conflito. Competência do Juiz suscitado” ( JTARS , 45:187).

26. Na Comarca de Porto Alegre existem oito Varas da Fazenda Pública, comcompetência nas causas em as quais, devendo correr no foro da Capital, for parte oEstado do Rio Grande do Sul ou o Município de Porto Alegre, bem como suas autarquias,empresas públicas, fundações de direito público e sociedades de economia mista.

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devam correr na comarca da Capital, quando a Fazenda for autora, ré ouinterveniente. Nas causas pertencentes à competência territorial de qualqueroutra comarca não pode a Lei de Organização Judiciária atrair essas causas para o foro da Capital (arts. 94, 99 e 100, IV, a, do CPC). Precedentes da jurisprudência. Recurso improvido” (REsp 34.816, rei. Min. Milton Pereira, ac. de 8-2-1995).

A mesma Ia Turma, no REsp 80.482, ac. de 22-2-1986, relator o Min.José de Jesus, afirmou que, “conforme a jurisprudência desta Corte, oEstado-membro não tem foro privilegiado, mas apenas Varas especializadas, por isso que, tratando-se de procedimento contra a Fazenda Estadual, acompetência se fixa pelo local do fato, ex-vi do art. 100, IV, ‘d’, do CPC.

Precedentes”. No Agi (Ag. Reg.) 164.394, ac. de 19-2-1998, sendo rei. o Min.

Garcia Vieira, ainda a 1- Turma firmou que “O Estado-membro não temforo privilegiado, mas sim juízo privativo (vara especializada) quando aação é ajuizada na Capital. Mas, quando é distribuída no interior, não podea lei de organização judiciária atrair a causa para a Capital. Agravo improvido”.

Assim também no REsp 67.345, ac. de 13-6-1996, rei. Min. Demó-crito Reinaldo: “A Fazenda do Estado (e a do Município), em face dosistema jurídico-constitucional vigente, não tem foro privativo, mas, tãosó, Varas Especializadas. A competência das Varas Especializadas só setoma absoluta quando a causa em que intervenha a Fazenda Estadual tenhaa Capital do Estado como o foro respectivo. É defeso à Lei de OrganizaçãoJudiciária, em se sobrepondo à legislação federal, instituir um foro especial

 para a Fazenda Estadual, ou estabelecer a competência de foro de forma

diversa da previsão na Lei de Processo Civil”.A 2â Turma, apreciando o REsp 167.308, fez constar da ementa que:

“Os Estados-membros não gozam de foro privilegiado, mas apenas de foro privativo (vara especializada), podendo ser demandados no foro ondeocorreram os fatos que deram origem à lide, mesmo que esse não seja oda comarca da Capital” (rei. Min. Peçanha Martins, ac. de 16-6-2000).

O Superior Tribunal de Justiça, por sua Corte Especial, editou em

1--4-1998 o enunciado n. 206 de sua Súmula:“A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não

altera a competência territorial resultante das leis de processo

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87. Ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos. Ações acessórias. Reconvenção. Ação declaratória incidental

O Código de Processo Civil prevê que a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos  corra no foro do domicílio do devedor (CPC,

arts. 100, III, 907 e s.).Dispõe ainda o Código de Processo Civil (art. 108) que a “ação 

acessória ”27  será proposta perante o juiz competente para conhecer da ação“principal”.

Igualmente dispõe (art. 109) que a reconvenção e a ação declaratória  :incidental serão propostas perante o juiz da causa principal (e diferente ?não poderia ser, pois são ações propostas no mesmo processo  em que

corre a “ação principal”), e também perante o juiz da causa principal serão* propostas “as ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interve-niente”28.

87-A. Insolvencia civil

A insolvência civil pode ser requerida por credor munido de títuloexecutivo judicial ou extrajudicial (art. 754) ou pelo próprio devedor ouseu espólio (art. 759), devendo a execução ser proposta no foro da comar

ca em que o devedor mantém domicílio (art. 760), e perante juiz de direito (art. 92,1).

 Nesse processo opera, em termos, a regra da universalidade do juízo,conforme está no Ag. Reg. no Ag. 194.861, pois “o juízo universal da insolvência civil atrai para si todas as execuções propostas em face do devedor 

27. Por exemplo, a ação de modificação de guarda de filho menor foi pelo Su

 premo Tribunal Federal considerada acessória com relação à ação de separação judicial(antigo desquite) anteriormente proposta (RE 86.549).

Mas Galeno Lacerda entende que as modificações na situação alimentar e naguarda de filhos, ou em cláusula alusiva ao direito de visita, constituem ações novas, resultantes de novos fatos, e que por isso devem ser ajuizadas consoante as regras decompetência ligadas à nova situação (Comentários, cit., v. 8 ,1.1, n. 44).

O STJ, por sua 3â Turma (REsp 7.420, rei. Min. Nilson Naves, ac. de 14-12-1993),adotou esta orientação, constando da ementa que a ação de modificação é autônoma, não se aplicando o disposto no art. 108 do CPC, sendo competente o foro da residênciada mulher, “a teor do art. 100,1, do mesmo Código” (RSTJ, 59:158).

28. “As ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente”: v.g-, a oposição (arts. 57 e 60); a ação de embargos de terceiro (art. 1.049); a ação dadenunciação da lide, que é ação regressiva “no mesmo processo” (arts. 70 e s.) etc.

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insolvente, excetuando-se as fiscais (CTN, art. 187)” (STJ, 3- Turma, rei.Min. Nilson Naves, ac. 24-6-1999, DJU , 4 out. 1999, p. 56). O juízo da in-solvência, todavia, não abrange senão as execuções, pois as ações de conhecimento continuarão a tramitar normalmente nos juízos onde propostas, e

novas ações serão normalmente distribuídas, citando-se a massa na pessoade seu administrador. Trata-se, assim, de uma “universalidade” restrita.

A jurisprudência tem mantido a Súmula 244 do antigo Tribunal Federal de Recursos, verbis:

“A intervenção da União, suas autarquias e empresas públicasem concurso de credores ou de preferência não desloca a competência para a Justiça Federal”,

 Nos processos de insolvência civil, ainda que autarquia federal sejacredora, a competência é da Justiça estadual (STF, CJ 6.602-PR, rei. Min.Aldir Passarinho, DJU, 5  set 1986, p. 15831).

Como refere Humberto Theodoro Júnior, “ainda que haja interessede pessoa sujeita à jurisdição especial, como a Federal ou a Trabalhista, o

 processo de insolvência é da competência da Justiça comum (Código deProcesso Civil, art. 99, parágrafo único, I)” (A insolvência civil, 4. ed.,Forense, n. 102, p. 114).

Pode ocorrer, outrossim, que a insolvência civil seja requerida pelocredor que propôs ação de execução contra devedor que se supunha solvente, e não encontrou bens suficientes a penhorar; nesses casos, algumasdecisões existem no sentido de que a ação de insolvência tenha curso nomesmo juízo. Cuida-se, todavia, de questão polêmica, notando-se que oautor antes citado sustenta que, mesmo quando “formulado o pedido deinsolvência pelo mesmo credor que antes ajuizara a execução singular, ocaso não é de prevenção, posto que ‘eljuicio de concurso es completamen

te distinto y independiente dei juicio ejecutivo, así por sus fmes como porlos trâmites dei procedimiento a seguir’” (A insolvência civil, cit., n. 105, p. 116). A determinação legal, sustenta Theodoro Júnior com remissão aSérgio Fadei e a Paulo Restiffe Neto, “não é prejudicada nem pelo forocontratual, nem pela convenção de local diverso para o pagamento de dívidas” (A insolvência civil, cit., n. 102, p. 114).

Considerou a 2â Seção do STJ que “o pedido de insolvência não écontinuação de processo de execução. E processo autônomo, independen

te, que não tem por que acompanhar a competência para execução (cf.REsp 292.383)” (CC 46.683, rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. 13-4-2005).

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88. Ações cautelares — art. 800 do CPC

À teor do art. 800 do Código de Processo Civil, “as medidas cautelares serão requeridas ao ju iz da causa; e, quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da causa principaV\ 

O emprego da expressão “preparatórias” é passível de justa crítica:cuida-se, isso sim, de providências de caráter “preventivo”, propostas comantecedência à ação principal. Essas providências, como adverte GalenoLacerda (Comentários, cit., v. 8, t. 1, n. 6 e 42), distinguem-se conformea natureza da tutela cautelar. >

Temos, assim, as ações jurisdicionais, tais como os arrestos, seques- ?tros, cauções, buscas e apreensões, exibição, alimentos provisionais,atentados, sustações de protestos de títulos; temos também os pedidos sob f  

 jurisdição voluntária , neles enquadradas as antecipações de provas (vistorias, perícias ou depoimentos ad perpetuam), as comunicações de vontade (protestos, notificações, interpelações) e os atos de administração de interesses privados  (homologações de penhor legal, posse em nome denascituro).

As ações jurisdicionais preventivas devem em princípio ser requeridas no foro competente para conhecer da causa principal a ser proposta. Todavia, cumpre lembrar que em casos de manifesta urgência tem-se

 por exceção admitido que juiz territorialmente incompetente possa conhecer da medida cautelar, de conformidade com o antigo preceito:Quando est periculum in mora incompetentia non attenditur  (por todos,a respeito, Galeno Lacerda, Comentários, cit., n. 44), sem prejuízo da

 propositura da ação principal no foro competente, de acordo com asregras gerais.

Salientou Ovídio Baptista da Silva que no direito luso-brasileiro “étradicional a regra que confere competência para as ações cautelares aos

 juízos originariamente incompetentes, sempre que a iminência do perigoseja de tal magnitude que impeça o ajuizamento da demanda de segurança perante o juiz que teria competência para da mesma conhecer”, e issotendo em vista que, “contendo todas as ações o selo da urgência, não seria prudente amarrá-las sempre ao foro da demanda satisfativa, que será determinado segundo regras e interesses de outra natureza” (Do processo cautelar, Forense, 1996, p. 142). Igualmente Humberto Theodoro Júniorrefere a freqüente necessidade de a medida cautelar ser requerida ao juizdo local onde se encontram os bens em risco de lesão (Curso de direito 

 processual civil, 39. ed., Forense, 2006, v. 2, n. 998).

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 No alusivo às cautelas voluntárias antecedentes, sustenta GalenoLacerda que podem ser propostas consoante critérios de conveniência,cabendo de regra “aos juízos do local do fato ou do domicílio dos interessados, salvo preceito de competência absoluta a ser obedecido”. Mas o

 juízo da providência cautelar “não fica prevento para a demanda principal,cujo aforamento deverá obedecer às regras próprias da competência” (Comentários, cit, n. 43). Assim, v. g., embora vistoria ad perpetuam  hajatramitado no foro de Curitiba, onde ocorreu o acidente de trânsito, a açãode indenização poderá ser ajuizada em Florianópolis, local de domicíliodo réu. V  a nota de rodapé n. 1, verbete n. 63.1 e o REsp 59.238, STJ, 6âTurma, rei. Min. Vicente Leal, j. 9-4-1997.

89. Ação cautelar ajuizada pendente recurso

A redação do parágrafo único do art. 800  do CPC sofreu notávelalteração, decorrente da Lei h. 8.952/94.

O texto anterior dispunha que, estando a causa no tribunal, a com petência seria do relator para os casos urgentes. Ora, além da circunstânciade que a urgência é, via de regra, inerente à fundamentação das pretensõesà cautela, a norma pretérita induzia o interessado a impetrar mandados desegurança a fim de conseguir, pela via mandamental, a imediata tutela adireitos não resguardados pela só interposição do recurso (Nelson NeryJunior, Atualidades sobre o processo civil, Revista dos Tribunais, 1995, p.122). Além disso, subsistia dúvida sobre se, durante a etapa de processamento do recurso perante o juízo de primeiro grau, poderia o juiz conhecerde ação cautelar, uma vez que teria cumprido e acabado o ofício jurisdicional, art. 463, podendo assim tão somente mandar processar os eventuais

recursos.Pelo novo texto legal, “Interposto o recurso, a medida cautelar será 

requerida diretamente ao tribunal".

O Supremo Tribunal Federal, no entanto, em exegese francamenterestritiva, tem reiteradamente julgado (mantendo, aliás, orientação anteriorà Lei n. 8.952/94) que só lhe cabe conhecer de medidas cautelares após orecurso extraordinário haver merecido juízo positivo de admissibilidadena triagem inicial perante a Presidência do tribunal a quo, prevalecendotal orientação mesmo quando do juízo negativo houver sido interpostoagravo de instrumento (STF, Pet. 1.315, j. 18-7-1997, rei. Min. Celso deMello; Pet. 914, rei. Min. Néri da Silveira; Pet. 150, ac. de 18-9-1985, RTJ,

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 bem como sua Câmara ou Turma, para conhecer do recurso ainda emtramitação na instância de origem29.

Essa disciplina aplica~se aos recursos interpostos ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça: “até que interposto o recur

so extraordinário ou especial, a competência originária para as medidascautelares prosseguirá com o tribunal de origem, transferindo-se àquelesno momento da efetiva interposição” (Cândido Dinamarco, A reforma cio Código de Processo Civil , 4. ed., Malheiros Ed., 1997, n. 233).

Cumpre aqui anotar que o Supremo Tribunal Federal, em sessão de24-9-2003, aprovou o Adendo n. 7 à Súmula de sua jurisprudência predominante, nele incluindo dois enunciados a respeito do tema, a saber:

“634. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida  cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda  não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem.

635. Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de  medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo  de admissibilidade”.

O assunto é por nós examinado detidamente na obra Recurso especial,  agravos e agravo interno, Cap. X, verbetes 32 a 35, em 6. ed.

90. Cumprimento da sentença No alusivo ao cumprimento das sentenças condenatórias, agora re

gido pelas disposições da Lei n. 11.232/2005 (a partir de 24 de junho de2006), o novo art. 475-P apresenta o seguinte teor:

“Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:

 I  — os tribunais, nas causas de sua competência originária;

 II  — o juízo que processou a causa no primeiro grau de juris dição;

 III  —  o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitrai ou de sentença estrangeira.

29. Como aludido na MC 1.068, uma vez “interposto o recurso especial, a cautelar incidental será ajuizada diretamente no Superior Tribunal de Justiça, ainda que o

 presidente do tribunal ‘a quo’ não tenha proferido juízo de admissibilidade. O fato deo presidente da Corte de segundo grau não ter proferido juízo sobre o especial nãoimpede a concessão de efeito suspensivo ao recurso” (STJ, 2â Turma, ac. de 11-12-1997,rei. Min. Adhemar Maciel.

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nada a remessa do processo ao foro onde serão processados os atos executivos (neste foro o processo será distribuído, se for o caso, a uma dasvaras cíveis competentes). Caso, assim, de “deslocamento” de competência, de afastamento do princípio da perpetuatio jurisdictionis, com o ob

 jetivo de facilitar a entrega ao exequente do bem da vida a que tem eledireito.

Fica ressalvada, claro está, a possibilidade de o executado impugnar o deslocamento de competência, arguindo, v.g., a inexistência de

 bens penhoráveis no foro indicado, ou negando haja transferido seudomicílio.

Segundo Araken de Assis, “a principal modificação, digna dosmaiores elogios, reside na quebra da competência funcional do juízo dacausa para processar a ulterior execução. A antiga vinculação obrigatóriada execução ao juízo que produziu (sentença não apelada ou cuja apelação não foi conhecida) ou poderia ter produzido (sentença substituída

 pelo pronunciamento superior, quer para confirmá-la, quer para reformá--la) provocava graves dificuldades para o exequente... ( omissis)... Naverdade, inexistiam razões ponderáveis para semelhante vinculação,exceto o vezo da tradição” (Cumprimento da sentença, Forense, 2006,n. 67, p. 181-182).

Aduz Pedro Luiz Pozza que, uma vez remetidos os autos ao outro juízo, com afastamento da regra do art. 87 do CPC, passa o novo juízo “aser o competente para o julgamento de quaisquer incidentes que surgiremno tramitar da execução, especialmente da impugnação, embargos à arre-matação ou adjudicação, assim como embargos de terceiro, perdendo o

 juízo que proferiu o título qualquer competência para atuar no feito” (coletânea A nova execução, Forense, 2006, p. 219).

Todavia, alertou Rodrigo Bariori para a conveniência em limitarapenas às execuções definitivas essa faculdade de opção por outro foro e juízo que não o da sentença, lembrando que, em se cuidando de execuções provisórias, seu (eventual) processamento em juízo de outro Estado poderá motivar problemas de competência (tribunais diversos...) para o julgamento de eventuais agravos interpostos de interlocutórias proferidas no“novo” juízo (estudo na coletânea Processo de execução civil, Ed. QuartierLatin, 2006, p. 238).

Finalmente, nos casos de cumprimento de sentença penal condena tória, de sentença arbitrai ou de sentença estrangeira, a execução proces-sar-se-á perante “o juízo cível competente”, de conformidade com as

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normas do CPC30. Nos casos de sentença estrangeira, a competência é daJustiça Federal (CF, art. 109, X).

Tratando-se de sentença condenatória ao pagamento de prestações  alimentares, dispõe o art. 732 (ainda inalterado) que se aplica o disposto

no Capítulo IV do Título II do Livro II, isto é, as normas relativas à execução por quantia certa contra devedor solvente. O cumprimento da sentença, adotando exegese sistemática, deverá fazer-se consoante os arts.475-J e seguintes, no alusivo às prestações vencidas há mais de três meses.O rito do art. 733, permissivo inclusive da prisão civil do devedor, seráutilizado em se tratando de dívida “atual”, de molde a assegurar no pre- ,sente a subsistência do alimentando (neste caso, persiste a execução porquantia certa como processo autônomo, iniciando com a citação do réu

 para pagar os “alimentos provisionais”). * No concernente às execuções por carta (CPC, art. 747), v. os verbe

tes n. 120 e 121.

90-À. Ação de execução de título extrajudicialComo escreveu Teori Zavascki, na execução fundada em título ex

trajudicial a atividade jurisdicional executiva precede à (eventual) atividade cognitiva, e isso porque a presunção de certeza, liquidez e exigibilida

de da prestação, que decorre da lei, permite ao credor o imediato exercícioda pretensão à satisfação (Processo de execução, 3. ed., Revista dos Tri bunais, 2004, p. 133).

A ação de execução de título extrajudicial, regida pelo Livro II doCPC, com as muitas alterações introduzidas pela Lei n. 11.382, de 6 dedezembro de 2006, continua a reger-se pelo art. 576, ou seja, com submissão às regras gerais de competência. Assim, o foro do lugar do pagamento,nos termos do art. 100, IV, d , será em princípio o competente para a ação

de execução do título extrajudicial, forum destinatae solutionis. (STJ,  2~ Seção, CC 1.422, rei. Min. Nilson Naves, j. 13-3-1991), podendo todavia

30. Interessante a observação de Araken de Assis de que, nos casos de sentença penal condenatória, seus efeitos no alusivo à indenização pecuniária em favor da vítima exigem, de início, a liquidação, a ser procedida no forum commissi delicti (CPC,art. 100, V, d), E refere que para o cumprimento da sentença penal condenatória, não

importa qual a “Justiça” que condenou o réu; assim, “a sentença penal condenatóriaoriunda da Justiça Federal executar-se-á na Justiça comum, pois semelhante causa nãose insere no art. 109,1, da CF/88” (Cumprimento da sentença, cit., n. 70).

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o exequente optar pelo foro de eleição ou pelo foro de domicílio do réu(STJ, 2-  Seção, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 25-8-1993; 3- Turma,REsp 160.711, rei. Min. Ari Pargendler, j. 17-5-2001).

Conforme o Min. Sálvio de Figueiredo, o foro do lugar do pagamen

to é igualmente competente para as ações “inversas” (2â Seção, CC. 4.404, j. 25-8-1993), como as ações de consignação em pagamento, ou anulatóriado título. Nos casos de execução de duplicata, incide o disposto no art. 17da Lei n. 5.474/68, sendo competente o foro da praça de pagamento, ou odo domicílio do comprador.

 No alusivo à execução hipotecária, embora as manifestações nosentido de que o foro competente seria o da situação do imóvel, parece-nos

correto sustentar, com Cândido Dinamarco, que a ação executiva hipotecária não é ação real sobre o imóvel, de forma que para efeito de competência deve permanecer o foro do lugar para cumprir a obrigação, ou, àfalta de convenção a respeito, o foro pessoal (Execução civil, 6. ed., Malheiros Ed., 1998, p. 224 e 227). Nesta obra, v. os verbetes n. 74 e 75.

91. Justificações judiciais

Destina-se a justificação judicial, nos termos do art. 861 do Código

de Processo Civil, à comprovação pelo requerente, em procedimento de jurisdição voluntária (não obstante sua colocação entre os processos cautelares; a respeito, v. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, v. 8, t. 2, n. 167; Humberto TheodoroJúnior, Processo cautelar , 4. ed., LEUD, n. 274), de algum fato ou relação

 jurídica, “seja para simples documento e sem caráter contencioso, seja paraservir de prova em processo regular”. Impõe-se a citação pessoal dos interessados, em última análise a pessoa física ou jurídica, de direito privado

ou público, perante quem ou contra quem a justificação se destine a serapresentada (CPC, arts. 862 e 864).

Deverá a causa (os procedimentos de jurisdição voluntária tambémsão considerados “causas”, pelo que podem propiciar julgamentos no STFou no STJ em grau de recurso extraordinário ou de recurso especial) tramitar, por via de regra, no foro do domicílio ou residência do requerente(v. o verbete n. 102).

Mas se a pessoa contra quem se pretenda fazer valer a prova forentidade de direito público federal, competente será para a justificação o  juízo federal ou o juízo estadual?

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 No antigo Tribunal Federal de Recursos inclinavam-se os julgados pelacompetência da Justiça Estadual no alusivo a questões vinculadas ao “direito de família”, isso a teor da Súmula 53 daquele colegiado. Instalado o Su

 perior Tribunal de Justiça, de início tal orientação resultou mantida, v. g.,

nos CC 127 e 231. Todavia, no CC 660, de que fui relator (acórdão na íntegra no Anexo IV), a 2- Seção, em um caso de justificação de “união de fato”

 para servir de prova perante o Ministério do Exército, após longo debate,firmou posição pela competência da Justiça Federal sempre que essencial

 para a validade do processo a citação da União (ou autarquias federais etc.),sendo a respeito posteriormente editada a Súmula 32, verbis:

“Compete à Justiça Federal processar justificações judiciais  destinadas a instruir pedidos perante entidades que nela têm exclusivi

 dade de foro, ressalvada a aplicação do art. 15, II, da Lei  5.010/66 

A situação, então, está nos seguintes termos:

1. Se interessada na justificação a União Federal ou entidade de direi-to público federal, perante quem a justificação deva ser apresentada como

 prova, competente é a Justiça Federal; caso contrário, a Justiça do Estado;

 2. Quando competente a Justiça Federal, duas situações podem apresentar-se:

 a) se no local de domicílio ou residência do requerente for sediada Vara Federal, nesta correrá a causa (STJ, 2â Seção, CC 2.452,

 j. 26-8-1992, rei. Min. Athos Carneiro);

 b) se no local não for sediada Vara Federal, o processo de justificação deve ser ajuizado perante o juízo estadual , que nesse casoagirá sob “jurisdição federal delegada”, nos exatos termos do art. 15,II, da Lei n. 5.010/66 (lei que organizou a Justiça Federal de primei

ra instância), norma confirmada pelo art. 109, § 3S, infine, da Constituição de 1988.

Ao Tribunal Regional Federal da região (CF, art. 109, § 4-) cabe, emqualquer destes casos, o julgamento de eventuais recursos.

Vale aditar que é da Justiça Federal a competência “para apreciar pedido de declaração de ausência para o fim específico de obter benefício previdenciário junto à autarquia federal”. Nesse sentido o CC 20.093,  2- Seção do STJ, ac. de 12-8-1998, rei. Min. Barros Monteiro; CC 31.698,rei. Min. Cesar Rocha, dec. de 8-8-2001; CC 31.281, rei. Min. CastroFilho, dec. de 19-12-2001.

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A lâ Seção, em aresto proferido no CC 28.129, rei. o Min. Milton LuizPereira, fez constar da ementa que “pedido de movimentação do FGTS ePIS, em sede de jurisdição voluntária, inexistente o litígio, o exame da

 pretensão quanto à competência não está albergado pela Constituição Fe

deral (art. 109), não se justificando o deslocamento para a Justiça Federal.Precedentes jurisprudenciais — Súmula 161/STJ” (ac. de 24-8-2000).

Afirmou o Min. José Delgado, no CC 30.939, que “o conflito levantado já não encerra polêmica no seio deste Sodalício, no sentido de que o . pedido de alvará, para levantamento de valores pleiteados junto à CEF,atinentes ao PIS, em razão do falecimento do titular da conta, é de com

 petência da Justiça Estadual. Tratando-se de atividade específica de juris dição voluntária,  inexistindo interesse jurídico na relação processual por

 parte da CEF, tem-se como incompetente o Juízo federal” (dec. de 8-2-2001). No mesmo sentido o CC 46.552, dec. 15-10-2004.

Em recente pronunciamento, a 1~ Seção melhor explicitou sua posição.Assim, se o levantamento dos depósitos do FGTS encontra resistência por

 parte do Conselho Curador ou da entidade gestora, a CEF, a competência para julgar a ação será da Justiça Federal, nos termos do enunciado 82 daSúmula do STJ. Será caso d& jurisdição contenciosa. Todavia, se o pedidomantém-se em âmbito não contencioso, “sendo a CEF apenas simples

destinatária do alvará, afasta-se a competência prevista no art. 109,1, daCarta Magna”, sendo então competente a Justiça Estadual, que decidirá asquestões relacionadas com a divisão dos depósitos, a teor da Súmula 161-STJ. Assim, “a simples expedição de alvará para levantamento de saldo deconta vinculada do FGTS traduz-se em ato de jurisdição voluntária, desviando a competência para a Justiça Estadual” (CC 41.036, rei. Min. CastroMeira, ac. 9-6-2004). Idem, CC 41.392, rei. Min. Teori Zavascki (dec. 18-3-2004). Idem, CC 47.555, rei. Min. Castro Meira (dec. 18-1-2005). Idem, 

CC 61.612, rei. Min. Castro Meira, lâ Seção, j. 23-8-2006.A Justiça do Trabalho também poderá autorizar tal levantamento.Assim, no REsp 637.055, o STJ refere que “a Justiça do Trabalho aceita a sentença arbitrai como meio hábil a pôr fim à relação de trabalho, tal comouma sentença judicial. Logo, também é apta para proporcionar o levantamento dos saldos de conta vinculada ao FGTS (art. 20, I, da Lei n.8.036/1990). Precedente citado aoTST: RR 491.080)” (2~ Turma, rei. Min.Eliana Calmon, ac. 28-9-2004, Informativo do STJ , n. 223, out. 2004).

É possível, outrossim, que com a superveniência da EC n. 45/2004venha a Justiça do Trabalho a considerar-se como a competente para a

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 prática dos atos de jurisdição voluntária  relativos à movimentação doFGTS. Mas não será demasia ponderar que, mesmo em sua atual redação,o art. 114 da CF prevê a competência da Justiça laborai apenas para o

 julgamento de “ações” e de “outras controvérsias” decorrentes da relação

de trabalho, o que sugere uma competência apenas no âmbito da jurisdição contenciosa propriamente dita.

V. o verbete n. 94.

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REGRAS DE COMPETÊNCIA 

PREVISTAS EM LEIS ESPECIAIS

Capítulo XIX

92. Ação de acidente do trabalho

A  ação de acidente do trabalho manteve-se no âmbito da JustifaComum Estadual (ou do Distrito Federal), sob rito sumário, sendo forocompetente o do “lugar em que se deu o ato ou fato, nos termos do art 100, V, 'a\ do  CPC’ (REsp 167.725,  4ê Turma, rei. Min. Aldir Passarinho Jr.,ac. de 21-9-2000), podendo todavia o demandante, ou seja, o acidentadooptar pelo foro do domicílio do réu, atualmente sempre o INSS1,2e3.

Em obra recente, lembrou Sergio Bermudes a advertência de EvandroRamos Lourenço, de que a CF exclui a competência da Justiça do Trabalho

 para as ações de acidentes do trabalho quando, no art. 119,1, dissocia ascausas de acidente do trabalho das de competência da Justiça laborai:“Fosse desta a competência para aquelas, obviamente não haveria neces-

1. O foro do INSS (resultante da fusão dos antigos INPS e IAPAS — Lei n.8.029/90; Dec. n. 99.350/90) é o de sua sede no Distrito Federal ou da capital do Estado onde esteja o órgão local, para os atos deste emanados.

2. Segundo decisões do STJ, o acidentado não pode optar por propor a ação no  foro de seu próprio domicílio, pois competente “o juízo do local em que ocorrido ofato danoso” ( REsp 165.725, rei. Min. Aldir Passarinho,  DJU, 20 nov. 2000; REsp112.177, rei. Min. Eduardo Ribeiro, DJU, 8 set. 1998; REsp 493.455, rei. Min. NancyAndrighi, dec. 26-3-2003, DJU , 4 abr. 2003, p. 369).

3. Como está em decisão do Min. Celso de Mello, “tratando-se de matéria aci- dentária, qualquer que seja a condição ostentada pela parte que figura no polo passivoda relação processual (INSS ou empregador) há, no que se refere a tais causas, expressa reserva de competência instituída, ope constitutionis, em favor da Justiça comumdos Estados-membros. Esta reserva de competência, que tem sido tradicional em nosso sistema de direito constitucional positivo, permanece íntegra, não obstante a super-veniência da EC 45/2004” (STF, Ag. Inst. 533.764, rei. Min. Celso de Mello, dec. de10-3-2005, DJU , 16 mar. 2005, p. 59).

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sidade para a referência isolada às ações acidentárias porque estariamenglobadas nas causas da Justiça trabalhista” (A  Reforma do Judiciário 

 pela Emenda Constitucional n. 45, Forense, 2005, p. 85).

A vigente Constituição de 1988 a respeito refere-se por exclusão, aoafastar a competência da Justiça Federal para julgar tais causas, ainda quea União, autarquia ou empresa pública federal sejam parte na demanda(art. 109, item I, in fine).

 Não se cuida, outrossim, de dissídio individual entre empregado eempregador, e destarte (salvo se lei constitucional futura vier expressamente a incluir tais lides como decorrentes da “relação de trabalho” inseridas na jurisdição especializada) persiste a competência da Justiça comum,

aliãs já aparelhada para dirimir tais conflitos.Assim dispõe a vigente Lei n. 8.213 — Lei da Previdência Social, de24-7-1991, art 129, verbis:

“Art. 129. Os litígios e medidas cautelares relativos a aciden tes de trabalho serão apreciados:

 I .................................................................................................

 II. na via judicial , pela Justiça dos Estados e do Distrito Fede

 ral, segundo o rito sumaríssimo, inclusive durante as férias forenses,  mediante petição instruída pela prova de efetiva notificação do evento à Previdência Social, através de Comunicação de Acidente 

 do Trabalho — CAT”  (onde consta “rito sumaríssimo” leia-se, agora,“rito sumário”, conforme o atual art. 275 do Código de ProcessoCivil).

 No CC 28.415, a 2~ Seção do STJ taxativamente afirmou (da ementa)que a Constituição de 1988 “não modificou a regra, tradicional no direito

 brasileiro, de que compete à Justiça comum, e não à trabalhista o julgamento dos litígios referentes a acidentes de trabalho, fundados no direitocomum” (ac. de 10-5-2000, rei. Min. Eduardo Ribeiro,  RSTJ , 755:233).Lê-se no voto do eminente relator: “Não seria razoável admitir-se que aConstituição, sem norma clara e explícita, houvesse pretendido, inovandoradicalmente, dividir as competências para decisão de idêntico tema. Omesmo acidente de trabalho, que gera efeitos regulados pelo Direito comumdá nascimento, também, a direitos previdenciários. Não seria convenienteque em ramos diferentes do Judiciário a matéria fosse examinada, ense

 jando contradições lógicas. Assim é que, para determinado efeito, se poderia ter o acidente como verificado e para outro não” (p. 235).

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 Nesse sentido a Súmula 15 do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

“Compete à Justiça Estadual processar e julgar os litígios   decorrentes de acidente de trabalho”,

na esteira da Súmula 501 do STF, pela qual“Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julga

 mento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho,  ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas  públicas ou sociedades de economia mista”.  .

Irrelevante, a respeito, o superveniente enunciado n. 736 (Adendo n. 8 >à Súmula, aprovado pelo STF em sessão de 26-11-2003), do seguinte teor:

“Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham$ 

 como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores

Com efeito, é mister não confundir demandas em geral, referentesao descumprimento de normas trabalhistas relativas à saúde, higiene esegurança dos trabalhadores (como as ações que a empresa venha a ajuizar

 buscando a anulação de multa imposta pelo Poder Público), com as açõesque busquem indenização por acidente de trabalho, ainda que decorrenteda infração de tais normas. V., nesta obra, os verbetes n. 113.3 e 113.5.

Muito recentemente, já sob a vigência da EC n. 45  (publicada em8-12-2004), o Supremo Tribunal Federal de início afirmou, p. m. v., queas ações de indenização por dano moral ou material  decorrente de acidente do trabalho mantinham-se na competência da  Justiça Estadual   (RE438.639, Plenário, rei. desig. Min. Cezar Peluso, ac. 9-3-2005); posteriormente, no julgamento do CC 7.204, sendo relator o Min. Carlos Britto, oPlenário passou ao unânime entendimento de que apenas as ações de aci

 dentes de trabalho, ajuizadas contra o INSS, permanecem com a JustiçaEstadual, tendo as demandas por danos materiais e morais decorrentes doacidente e promovidas  contra o empregador,  passado à competência daJustiça laborai (j. 29-6-2005).

A divergência jurisprudência!, no entanto, tende ao desaparecimento, prevalecendo a orientação da Corte Suprema no sentido de que o ajuiza-  mento da ação pelos sucessores do trabalhador não afasta a competênciada Justiça laborai. Com efeito, o STJ, por sua Corte Especial, veio a can

 celar sua recente Súmula 366  (aprovada em 19-11-2008 e que afirmava acompetência da Justiça comum), e o fez no julgamento, em 16-9-2009, do

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CC 101.977, relator o em. Min. Teori Zavascki, com expressa referênciaà necessidade de evitar recursos desnecessários.

Em se tratando de doença profissional , ou de doença do trabalho, assimiladas ao acidente do trabalho (Lei n. 8.213/91, art. 20), a 2â Seção

'do STJ igualmente considerava competente a Justiça comum, sendonumerosas as decisões nesse sentido. Todavia, com o acatamento à orientação do Supremo Tribunal Federal e o cancelamento da Súmula 366-STJ,a competência para o julgamento de tais ações deve ser igualmente reconhecida à Justiça do Trabalho.

Foro competente será o do lugar do ato ou fato, ou da prestação doserviço cuja insalubridade gerou a doença incapacitante, a teor do art. 100,V, a, do CPC (4â Turma, REsp 655.206, rei. Min. Aldir Passarinho, ac.

23-11-2004; REsp 568.794, rei. Min. Castro Filho, dec. 26-4-2005).

93. Ação revisional de benefício previdenciário decorrente de acidente do trabalho

 Não obstante seja competente a Justiça Comum Estadual para processar os litígios decorrentes de  acidente do trabalho,  quer ajuizadoscontra o INSS, quer contra o empregador, no caso previsto na Constituição

Federal, art. 7-, XXVIII (indenização nos casos de culpa ou dolo), o Su perior Tribunal de Justiça vinha inicialmente decidindo no sentido de queas ações de revisão do benefício previdenciário, ainda que decorrentes de 

 acidente do trabalho, seriam de competência da Justiça Federal4.

Todavia, o Supremo Tribunal Federal, por seu Plenário, adotou diversa orientação no julgamento do RE 176.532, j. 5-2-1998, rei. orig. Min.Marco Aurélio, rei. p/ o acórdão Min. Nelson Jobim, firmando a tese deque é da Justiça comum, em ambas as instâncias, a competência para

 processar e julgar a  ação de revisão do benefício previdenciário devido pelo INSS. Segundo consta do voto do Min. Celso de Mello, por efeito dacláusula de exclusão constante do art 109, I, da CF, a competência daJustiça local estende-se “a todos os processos que se destinem a obter 

4. A orientação da 3a Seção do STJ era firme nesse sentido, de que a Justiçacomum só seria competente para julgar, em primeira instância, ação revisional de proventos contra o INSS se a comarca do foro do domicílio do segurado ou beneficiárionão dispusesse de vara da Justiça Federal, agindo então por “delegação”, com recurso

 para o TRF da região (CC 13.790, 3- Seção, rei. Min. Anselmo Santiago, j. 3-8-1995, DJU,  13 nov. 1995, p. 38635; CC 22.004, rei. Min. Anselmo Santiago, j. 26-8-1998, DJU, 5 out. 1998, p. 15).

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“Compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhis

 tas, processar e julgar os feitos relativos à movimentação do FGTS”.

Assim, quando o pedido relativo à movimentação do FGTS, em sede

. de jurisdição contenciosa, não houver sido formulado conjuntamente com pretensões de natureza laborai e, portanto, perante a Justiça do Trabalho,mas sim ajuizado diretamente contra a Caixa Econômica Federal, empresa pública federai e órgão gestor do mesmo Fundo, hã “tranqüila jurisprudência sobre caber à Justiça Federal a competência para as ações de levantamento do fundo de garantia” (STJ, CC 14.129, j. 26-9-1995, rei. Min.José Dantas; CC 27.231, j. 29-2-2000, rei. Min. Milton Luiz Pereira; CC38.389, Ia Seção, rei. Min. Peçanha Martins, j. 24-3-2004).

Mantém-se a orientação em se tratando de  medida cautelar objetivando a liberação do FGTS em decorrência de alteração do regime jurídico do funcionalismo federal (STJ, 1- Seção, CC 14.069, j. 26-9-1995, rei.Min. Cesar Rocha), e igualmente nos pedidos de  alvarás com a mesmafinalidade (STJ, l â Seção, CC 14.108, j. 29-8-1995, rei. Min. Cesar Rocha;CC 17.764, j. 27-11-1996, rei. Min. Pádua Ribeiro).

Também são de competência da Justiça Federal, diga-se, as ações propostas por mutuários do SFH, versando sobre o reajustamento de prestações decorrentes do financiamento da casa própria (STJ, 1- Seção, CC17.839, rei. Min. Pádua Ribeiro, j. 27-11-1996).

Já no concernente aos pedidos de alvará para levantamento do FGTS, assentou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido deque, cuidando-se de procedimento de jurisdição voluntária, em que nãohá litígio entre o postulante e a Caixa Econômica Federal (esta não é autora, nem ré, assistente ou opoente), a competência pertence à JustiçaEstadual, sendo a CEF apenas a destinatária da ordem (CC 8.529, l5 Seção,reL Min. Humberto Gomes de Barros; CC 17.431, rei. Min. Milton Pereira; CC 24.809, rei. Min. Aldir Passarinho, dec. 11 maio 1999).

Essa orientação fixou-se na Súmula 161-STJ, a saber:

“E da competência da Justiça Estadual autorizar o levanta

 mento dos valores relativos ao PIS/Pasep e FGTS, em decorrência  do falecimento do titular da conta”.

V., a respeito, o verbete n. 91-A.

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 A l .1

tura Nacional, os juizes federais e os juizes de direito, embora durante o primeiro biênio de exercício ainda não gozem de estabilidade, poderão praticar todos os atos reservados por lei aos juizes vitalícios.

96. Ação de cobrança de duplicataSerá proposta no local indicado no título como “praça de pagamento”,

ou no foro do domicílio do comprador; ou, nos casos de ação regressiva,no foro do domicílio do demandado, seja ele o sacador, o endossante ourespectivos avalistas (Lei n. 5.474, de 18-7-1968, art. 17, com a redaçãodada pela Lei n. 6.458, de 1M 1-1977).

96-A. Ações previstas no Estatuto da Criança e do AdolescenteEm conformidade com a Lei n. 8.069 — Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA), muitas são as ações de competência da Justiça daInfância e da Juventude, como as ações de adoção, de guarda e tutela demenores, de destituição do poder familiar, de emancipação, de alimentosem favor de menor etc.

A fixação do foro competente obedecerá ao disposto no art. 147, peloqual a competência será determinada:

 — pelo domicílio dos pais ou responsável;

 — pelo lugar onde se encontre a criança ou o adolescente, à falta dos pais ou responsável.

A 2â Seção do STJ, em conflito de competência entre Juízo de Família de Belo Horizonte e Juízo de Família de Niterói/RJ, decidiu que, a teorda orientação daquela alta Corte, “a competência para dirimir as questõesreferentes ao menor é a do foro do domicílio de quem já exerce a guarda,na linha do que dispõe o art. 147,1, do ECA. Hipótese em que, ademais,a fixação da competência atende aos interesses da criança” (CC 43.322,rei. Min. Barros Monteiro, j. 9-3-2005).

Essa orientação foi reafirmada com o asserto de que, nos termos doart. 147,1, do Estatuto da Criança e do Adolescente, a competência paraapreciar as ações que envolvam interesse de menor é a do foro do domicílio dos pais ou responsáveis; todavia, ostentando ambos o pátrio poder, as

ações devem ser propostas no foro do domicílio daquele que detém a res pectiva guarda (CC 93.279,2a Seção, p.m.v., rei. Min. Luis Felipe Salomão, DJe, 27-3-2009).

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Em conseqüência, a 2a Seção veio a editar o enunciado 383 da Súmula do STJ, nos termos seguintes: “A  competência para processar e 

 julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do  domicílio do detentor da guarda

97. Ações de falência e recuperação judicial

Para a decretação e processámento da recuperação judicial e da falência é competente o foro do lugar onde se situa o principal estabeleci

 mento do devedor, onde real e efetivamente mantenha a sede de seus ne~ ■gócios, que não necessariamente coincide com aquele indicado como sedenos estatutos ou no contrato social (STJ, 2- Seção, CC 366, j. 11-10-1989,

rei. Min. Eduardo Ribeiro)8. Ou do local da filial de empresa que tenh#sede fora do Brasil. Assim dispõe a Lei 11.101, de 9-2-2005 — nova Leide Falências, arts. 32 e 6r,  § 8S.

Ada Pellegrini Grinover lembra aresto do TJSP ( R T 757:281), nosentido de que o principal estabelecimento “não é aquele a que os estatutos da sociedade conferem o título de principal, mas o que forma concre-tamente o corpo vivo, o centro principal das principais atividades comerciaisdo devedor, a sede ou núcleo dos negócios em sua palpitante vivênciamaterial”. Assim, após a citação de vários autores, refere Ada Grinoverque “na verdade, trata-se, na linha da doutrina anteriormente invocada, de

.  competência territorial funcional  e, portanto, absoluta, com todas as conseqüências que resultam daí” (art. dout. “Competência territorial funcionalem matéria de falência”,  Revista de Direito Civil e Processual Civil , Ed.Síntese, v. 23, p. 11).

Aliás, esse já era o magistério de Chiovenda: “Deve inserir-se na

 competência funcional o processo falenciah Decreta a falência o tribunalde comércio (agora, tribunal civil) em cuja jurisdição tem o devedor seuestabelecimento principal . A falência é uma execução geral, concomitante com a verificação dos créditos em relação ao falido. Nela exerce o juiz

*. uma função especial, em vista da qual se institui a competência do tribunal

8. O pedido de falência deve ser ajuizado no local onde a empresa devedoramantém seu estabelecimento principal atual, não na comarca onde manteve, por disposição contratual, sua sede em tempo anterior (STJ, 2- Seção, CC 1.930, j. 30-10-1991,rei. Min. Athos Carneiro).

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de determinado lugar. Ainda nesse caso, portanto, o elemento territorial éabsoluto e improrrogável. Compreende-se nessa competência todo o processo da falência e a cognição de todas as ações dela derivadas, vale dizer,de qualquer ação que se coordene aos fins da falência” (.instituições de direito processual civil,  trad. port., 1943, v. 2, n. 194, p. 267-8).

A “transferência” da sede da empresa, com a finalidade maliciosa dedificultar a ação de seus credores, não, implica mudança na competênciade foro, que permanece no local onde a atividade se manteve centralizadadurante longos anos. Assim decidiu a 2a Seção do STJ em caso em que aempresa, acossada por protestos e requerimentos de quebra, aparentoumudar a sede de seus negócios para um Estado distante, onde veio a re

querer sua autofalência (CC 32.988, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de14-11-2001).

O juízo falencial é declarado indivisível (art. 76), e competente paratodas as ações sobre “bens, interesses e negócios do falido”9.

A regra da universalidade encontra todavia limitações, inclusive noconfronto com foros especiais10e u, e no alusivo a ações possessórias eações de despejo. O Superior Tribunal de Justiça, por sua 2- Seção (CC1.644, j. 29-5-1991, rei. Min. Cláudio Santos), considerou “inaplicável na

concordata a chamada ‘vis attractiva’, eis que a ação principal somentesubordina as ações e execuções dos credores quirografários”12.

9. A 2- Seção do STJ, apreciando o CC 22.147, julgou que, “cessadas por com pleto as atividades comerciais da devedora, a competência para processar e julgar o pedido de falência contra ela ajuizado é do foro onde a mesma mantinha a sua sede, pouco relevando que um de seus representantes legais tenha sido encontrado em outralocalidade, onde simplesmente possui residência” (ac. de 10-3-1999, rei. Min. Barros

Monteiro, RSTJ, 121:232).10. O foro dito universal da falência não prevalece quando em confronto com

foros especialmente previstos em lei, foros especiais, como o forum rei sitae na açãode usucapião especial (STJ, 2a Seção, CC 2.137, j. 11-12-1991, rei. Min. Nilson Naves;STJ, 2- Seção, CC 2.136, j. 25-3-1992, rei. Min. Athos Carneiro).

11. O princípio da indivisibilidade do juízo falimentar tem âmbito limitado, nãoabrangendo as demandas excepcionadas na Lei de Falências, iniciadas antes da quebra.Ação indenizatória ajuizada por empresa pública federal — CEF contra empresa récuja falência foi posteriormente decretada; prevalência, de qualquer sorte, da regra doart. 109,1, da Lei Maior (STJ, 2a Seção, CC 1.445, j. 8-5-1991, rei. Min. Sálvio deFigueiredo, com remissões aos CC 1.439, rei. Min. Barros Monteiro, e 1.440, rei. Min.Eduardo Ribeiro).

12. A 2~  Seção do Superior Tribunal de Justiça manifestou entendimento nosentido de que, uma vez decretada a falência, “a execução dos julgados, mesmo os

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Conforme decidido pela 2- Seção do STJ, em processo em que interessada a Caixa Econômica Federal, “o juízo falimentar atrai as açõesreguladas na lei de falências; a ação de revisão de contrato bancário nãose inclui nesse rol”; assim, foi declarada competente a Justiça Federal (CC

31. 346, rei. Min. Ari Pargendler, ac. de 11-12-2002, DJÜ, 17 mar. 2003, p. 174).

Quanto às demandas trabalhistas, a decisão do litígio laborai far-se-á perante a Justiça do Trabalho; já o pagamento dos créditos terá lugar no juízo falimentar, onde se efetuará o eventual rateio entre os da mesmaclasse (CC 8.892, 2- Seção, rei. Min. Eduardo Ribeiro, ac. de 29-3-1995,

 RSTJ , 71:34); em outras palavras, uma vez decretada a falência, as recla-matórias prosseguirão perante a Justiça especializada, mas os atos

execução do julgado — ainda que já efetuada a penhora na instância tra balhista —, iniciar-se-ão ou terão prosseguimento na vara de falências. V.,nesta obra, o verbete n. 113.7.

Firmado o foro competente, vale ainda anotar que em comarcas degrande movimento forense a lei local frequentemente prevê juízos privativos de falências e recuperação judicial.

O tema “insolvência civil” está no verbete n. 87-À.

98. Ação de execução fiscal13A execução por crédito fiscal (Lei n. 6.830, de 22-9-1980) fundada

em certidão de dívida ativa (CPC, art. 585, VI) será proposta, de regra, noforo do domicílio do réu (art. 578), podendo a Fazenda Pública optar poroutros foros, consoante dispõe o art. 578, parágrafo único, do Código deProcesso Civil (v. nota 12, verbete n. 111.3).

Tratando-se de competência relativa, é defeso ao juiz apreciar de

ofício sua competência (STJ, Súmula 33), que portanto se prorroga se nãofor oposta exceção de incompetência (CC 33.129, j. 26-11-2001, rei. Min.Laurita Vaz, DJU , 25 fev. 2002, p. 493). Sumulou o STJ, outrossim (Súmula 58), que, uma vez proposta a execução fiscal, a mudança de domicí

trabalhistas, terá prosseguimento no Juízo Falimentar” (CC  22.093, rei. Min. BarrosMonteiro, ac. 25-8-1999, DJU , 17 dez. 1999). V. o verbete n. 113.7.

13. Cumpre a leitura do artigo “Notas sobre a competência na ação de execuçãofiscal”, do Mín. Teori Zavascki, na revista AJURIS , 75:348.

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lio cio executado não deslocará a competência (CC 32.007, là Seçao, rei.Min. Peçanha Martins, ac. de 13-11-2002, DJU, 17 mar. 2003, p. 172).

A execução fiscal federal ajuizada em comarca que não seja sede de Vara do juízo federal é  processada e julgada pelo juiz estadual, com juris

dição federal “delegada” e, pois, recurso para o Tribunal Regional Federalda respectiva Região (v. o verbete n. 110 e Lei n. 5.010/66, art. 15,1)14.

Conforme à unanimidade decidiu a lâ Seção do STJ, não existindoVara Federal no foro da execução fiscal federal, o Juiz de Direito da comarca exerce competência delegada, por força do art. 109, § 3~,  da CF,integrado pelo art. 15,1, da Lei n. 5.010/66, norma esta recepcionada pelanova ordem constitucional (CC 41.017, rei. Min. Castro Meira, ac. 14-4-

2004, DJU, 21  jun. 2004, p. 158).A respeito surgira dúvida: criada uma vara federal no interior doEstado, com competência territorial abrangente de diversos municípios ecomarcas estaduais, os processos em tramitação na Justiça Estadual cum

 pre sejam remetidos à Justiça Federal, ou permanecem na Justiça Estadual, passando o juiz estadual a exercer jurisdição “delegada”?

Resposta: os processos em geral devem ser remetidos à Justiça Federal, pois ocorreu a extinção da aludida “delegação”; todavia, por previ

são constitucional, certas ações, dentre as quais as causasprevidenciárias e as execuções fiscais, mantêm-se em tramitação no juízo estadual, nascomarcas onde não tenha sede a Justiça Federal, com a manutenção da

 jurisdição delegada conforme dispõe o art. 109, § 3e, da Constituição Federal vigente (CC 33.964, rei. Min. Eliana Calmon, dec. de 21-1-2002,

 DJU , 25 fev. 2002, p. 501)15.

14. A Justiça estadual é competente para processar e julgar execução fiscal promovida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária — INCRA, sea comarca do foro do domicílio do devedor não for sede da Vara Federal (Súmula 40/TFR). O art. 109, § 3°, da CF trata da competência territorial, não podendo o juiz deladeclinar de ofício, ainda que o devedor mude de domicílio — Súmulas 33 e 58-STJ (IaSeção, CC 27.666, rei. Min. Milton Luiz Pereira, ac. de 29-12-2000, DJU , 15 maio2000, p. 114).

15. As Resoluções de Tribunal Regional Federal, fixando ou ampliando a áreasob jurisdição de determinada vara federal, não alteram tal orientação. Nestes termos,

“as Resoluções do TRF da 4- Região, que determinam a integração do Município de Nova Petrópolis à jurisdição territorial das Varas Federais de Caxias do Sul, restaram,naturalmente, sobrepujadas pela Lei Maior, vale dizer, inexistindo sede de Vara Federal em Nova Petrópolis, para as ações previdenciárias e execuções fiscais, continua o

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De notar, aqui, o disposto na Lei n. 5.010/66, pela qual,“Art. 15. Nas comarcas cio interior onde não funcionar Vara da 

 Justiça Federal (art. 12), os Juizes Estaduais são competentes para pro cessar e julgar: 1 — os executivos fiscais da União e de suas autarquias, 

 ajuizados contra devedores domiciliados nas respectivas Comarcas;..” É da competência da Justiça Federal processar e julgar as execuções

fiscais propostas por Conselho de Fiscalização Profissional, a teor da Sú mula 66 do STJ.

Assim os CC 21.930— Conselho Regional de Corretores de Imóveis; {n. 22.039 — Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia,ac. de 9-9-1998, rei. Min. Hélio Mosimann,  DJU,  5 out. 1998,

 p. 3). V, nesta obra, o verbete n. 112.

Dúvidas surgiram, no Estado de São Paulo, no alusivo às (antigas!Varas Distritais (ou  Foros Regionais), tendo a Seção do STJ firmado,

 pacificamente, que a Vara Distrital situada em município outro que não oda sede da comarca, consoante a organização judiciária, “não se distinguecomo comarca para a previsão constitucional de competência federal delegada”; assim, “se na sede da comarca do domicílio do devedor existeJuízo Federal, a execução fiscal ajuizada pela União, autarquia ou empresa pública federal é da competência da Justiça Federal” (STJ, lâ Seção,

CC 16.373, rei. Min. Demócrito Reinaldo, j. 14-8-1996; CC 43.075, reiMin. Castro Meira, ac. 9-6-2004).

Outrossim, “instalada Vara da Justiça Federal na sede da comarca, édela a competência para julgar as execuções fiscais promovidas anteriormente pela Fazenda Nacional perante o Juízo de Direito da Vara Distrital”(STJ, P Seção, CC 17.753, j. 9-4-1997).

Vale ainda consignar que, em junho de 2008, a Ia Seção do Superior

Tribunal de Justiça aprovou a Súmula 349, com a redação seguinte:“349. Compete à Justiça Federal, ou aos juizes com competência 

 delegada, o julgamento das execuções fiscais de contribuições devidas  pelo empregador ao FGTS”.

 Juízo Estadual competente, exercendo a jurisdição federal ‘delegada’. Matéria pacificada pela eg. Primeira Seção. Competência do Juízo de Direito de Nova Petrópolis-RS”

(CC 31.018, Ia Seção, rei. Min. Laurita Vaz, ac. de 8-8-2001, DJU, 3 set. 2001, p. 139;CC 31.151, Ia Seção, rei. Min. Laurita Vaz, DJU , 10 set. 2001, p. 270; CC 36.950, rei.Min. Paulo Medina, dec. de 2-12-2002, DJU , 5 maio 2003, p. 337).

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98-A. Execução fiscal e falência

 No referente às execuções fiscais, prevalece ainda o enunciado daSúmula 44 do antigo Tribunal Federal de Recursos:

“Ajuizada a execução fiscal anteriormente à falência, com penhora realizada antes desta, não ficam os bens penhorados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar; proposta a execução fiscal contra a massa falida, a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo de quebra, citando-se o síndico

Surgiu divergência sobre se o numerário, apurado com a alienaçãodos bens penhorados em execução fiscal, deveria permanecer no juízofazendãrio, onde seria submetido à concorrência preferencial dos créditostrabalhistas (REsp 84.723, rei. Min. Ari Pargendler; REsp 74.471, rei. Min.José Delgado; REsp 164.874, rei. Min. Milton Luiz Pereira, RSTJ, 158:129),ou deveria ser remetido ao juízo falimentar, a fim de nesse juízo ser procedido ao concurso de preferências.

Em decisão plenária o Superior Tribunal de Justiça dirimiu a controvérsia, sob o entendimento, por voto majoritário, de que a decretação dafalência não paralisa o processo de execução fiscal, nem desconstitui a

 penhora, prosseguindo o processo de execução até a alienação dos bens penhorados, sendo, após , posto o produto à disposição do juízo dafalência: “os créditos fiscais não estão sujeitos a habilitação no juízo falimentar,mas não se livram de classificação, para disputa de preferência com créditos trabalhistas (D.-Lei 7.661/45, art. 126)”; efetuada a alienação de bens,será o correspondente o numerário entregue “ao juízo da falência, para quese incorpore ao monte e seja distribuído, observadas as preferências e as

forças da massa” (REsp 188.148, Corte Especial, rei. Min. Gomes deBarros, ac. de 19-12-2001, p. m. v.; Emb. Div. REsp 536.033, Corte Especial, rei. Min. Eliana Calmon, ac. le-12-2004; EREsp 422.112, lâ Seção,rei. Min. Franciulli Netto, ac. 24-11-2004; CC 45.406,  \~ Seção, rei. Min.José Delgado, j. 9-3-2005)16.

16. Conforme decisão da 2â Turma, decretada a falência posteriormente à pe

nhora de bens da devedora em execução fiscal, deverá a execução prosseguir até aalienação dos bens penhorados; então, o produto entrará para a massa, em respeito aoscréditos preferenciais, ou seja, aos créditos decorrentes de acidente do trabalho e ostrabalhistas, que são preferenciais aos créditos fiscais (antiga Lei falencial, art. 102,

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A nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas — Lei n. 11.101, -de 9-2-2005, dispõe sobre a classificação de créditos no art. 83, mantida a

 preferência dos créditos tributários, “independentemente de sua naturezae tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias”. Tudo indica

que não será alterada a jurisprudência a respeito.

99. Competência para dirimir “questões agrárias”

Segundo a vigente Constituição, art. 126, “para dirimir conflitos  fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas,1com competência exclusiva para questões agrárias”.

Verifica-se, pelo texto, que a norma constitucional toma equivalentes

as expressões “conflitos fundiários” e “questões agrárias”. Por questõék  agrárias, e até tendo em vista as motivações e precedentes da norma, deve--se entender aquelas questões vinculadas à “reforma agrária”, à redistri-

 buição e distribuição de terras17.

A expressão ‘Tribunal de Justiça” deve ser entendida em sentido am plo, como “tribunal de segundo grau”; assim, os Tribunais Regionais Federais podem, e devem, criar Varas Federais com competência especializadaem lides de natureza agrária, mesmo porque com frequência autarquia fe

deral, como o INCRA, deverá figurar como parte ou interveniente. EmPorto Alegre, existe no Foro Federal uma Vara Federal Ambiental e Agrária.

§ l2; CTN, arts. 186 e 187) (REsp 443.190, rei. Min. Franciulli Netto, ac. 25-11-2003;REsp 630.863, rei. Min. Castro Meira, ac. 8-6-2004).

Longa notícia das discussões doutrinárias e das divergências jurispradenciaisencontra-se no REsp 422.112, rei. Min. Luiz Fux, RSTJ, 165:115-145.

17. Acolhendo em parte crítica formulada pela Procuradora do INCRA, Dra.

Débora Bomfim (palestra proferida em ciclo de debates do INCRA, realizado em MatoGrosso em abril de 1998), retiramos do texto a afirmação de que o aludido juiz estadual seria competente para processar as ações de desapropriação para fins de reformaagrária, pois cabe à União promovê-las (CF, art. 184), com delegação ao INCRA,autarquia com prerrogativa de foro perante a Justiça Federal (CF, art. 109, I). Mas

 persistimos no asserto de que as “questões agrárias”, previstas no art. 126 da Lei Maior,são as alusivas à “reforma agrária”, entre as quais se devem incluir aquelas decorrentes de “invasões” multitudinárias com o alegado propósito maior de acelerar tal reforma a benefício dos invasores. As questões “comuns” relativas à posse ou propriedadede imóveis rurais, as múltiplas ações de posse, as reivindicatórias, as causas relativasa servidões rurais etc., mantêm-se na competência do juiz da situação do imóvel, forum  rei sitae — CPC, art. 95 (nesta obra, v. os verbetes n. 73 a 76).

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 Não serão conflitos fundiários, para os fins do art. 126 da Constituição Federal, as questões sobre domínio, posse ou uso de imóveis ruraisque não tenham origem em atos ou fatos vinculados à reforma agrária, nemas ações de usucapião pro labore  (CF, art. 191).

O parágrafo único do art. 126 prevê que possam e devam deslocar-se“sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional”, até o local da lide.  Podem outrossim ser criados, nos termos da lei local, juizes comcompetência sobre a área de determinadas comarcas.

100. Competência para as questões relativas à propriedade industrial

Consoante a Lei n. 9.279, de 14-5-1996, as ações que versem sobrea nulidade de patente de invenção devem ser ajuizadas ‘‘no foro da JustiçaFederal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito” (art. 57,  caput), com prazo de sessenta dias para a contestação (art. 57, § Ia). Idênticas asnormas concernentes às ações de nulidade de registro de desenho industrial  (art. 118) e às ações de nulidade do registro de marcas (art. 175).

De outra parte, a mesma lei “autoriza” o Poder Judiciário a criar

 juízos especiais “para dirimir questões relativas à propriedade intelectual”.Duas observações: a) a autorização para o Judiciário especializar varas,em razão da matéria, a rigor não é necessária; b) a expressão “propriedadeintelectual” é ampla, podendo inclusive abranger os direitos autorais, deque cuida a Lei n. 9.610, de 19-2-1998.

A propriedade industrial no Brasil, além da Lei n. 9.279 (Lei daPropriedade Industrial — LPI), é regida igualmente pela Lei n. 9.609/98(lei relativa ao software),  pela Lei n. 9.610 (Lei de Direitos Autorais), pela

Convenção de Paris e, ainda, pelo TRIPS (Trade Related Aspects oflntel- lectual Property Rights), que estabelece as regras gerais a serem adotadas

 pelos países membros da OMC (Organização Mundial do Comércio).

100-A. Ações relativas à representação comercial, à concessão de venda de veículos e à corretagem de imóveis

Consoante dispõe a Lei n. 4.886, de 9-12-1965, art 39 (com a reda

ção dada pela Lei n. 8.420, de 8-5-1992), para julgamento das causassurgidas entre representante comercial e a empresa representada, “<? com petente a Justiça comum e o foro do domicílio do representante, aplican do-se o procedimento sumaríssimo previsto no art 275 do Código de

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 Processo Civil, ressalvada a competência do Juizado de Pequenas Causas” [cumpre, já agora, substituir a expressão “procedimento sumaríssimo” por“procedimento sumário”, e a menção “Juizado de Pequenas Causas” por

referência ao Juizado Especial].Questiona-se a possibilidade de, mediante cláusula de eleição de foro,deslocar o foro competente para o outro que não o do domicílio do representante. A 4- Turma do STJ negou validade a taí cláusula, pelo argumento de que importa “dificuldade de acesso à Justiça” e vem de encontro aodisposto no art. 39 da lei mencionada (REsp 47.074, rei. Min. Ruy Rosado, ;■ac. de 19-11-1994). *

 Não obstante, a  2~  Seção, no CC 19.849, ac. de 10-12-1994, por

maioria de votos (vencidos os Mins. Ruy Rosado e Nilson Naves), decidii^no sentido de que a competência territorial prevista na Lei n. 4.820 é  relativa, podendo destarte ser modificada pela vontade das partes, conformeo art. 111 do CPC (RSTJ, 105:201).

Mas a  4~ Turma, no REsp 169.709, manteve seu posicionamento,afastando a cláusula de eleição de foro em contrato de representação comercial (ac. de 9-6-1998, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU, 21 set. 1998,

 p. 206)17’A.

 No mesmo sentido aresto unânime da 3â Turma: “Havendo lei especial que taxativamente determine o foro do domicílio do representante como o local apropriado para dirimir conflitos entre as partes, contrato deadesão não poderá modificá-lo” (REsp 608.983, rei. Min. Pádua Ribeiro,ac. 16-3-2004).

Anotemos, por fim, que a 2~ Seção, em recente julgamento, reiterouser relativa a competência do foro do representante comercial para o julga

mento de lide entre ele e o representado (art. 39 da Lei n. 4.886/65), poden-

17-A. A 3â Turma sustentava posicionamento pela natureza relativa da norma decompetência estabelecida no art. 39 da Lei n. 4.886/65 (REsp 110.104, rei. desig. Min.Menezes Direito, p. m. v., ac. de 24-11-1998, DJU, 26 abr. 1999, p. 89; REsp 255.076,rei. Min. Menezes Direito, p. m. v., ac. de 15-12-2000, DJU , 12 mar. 2001, p. 142).

Todavia, a aludida 3â Turma, à unanimidade, veio a ajustar sua orientação à da4~ Turma, no julgamento do REsp 140.648, rei. Min. Pádua Ribeiro, constando da

ementa que “o contrato de adesão, no qual se firma o foro de eleição diverso do domicílio do réu, não deve prevalecer quando acarreta desequilíbrio contratual, dificultando,em razão da distância, a própria defesa do devedor. Tratando-se de contrato de representação comercial, há lei expressa que determina o foro do domicílio do representante como o lugar apropriado para dirimir conflitos entre as partes” (ac. de 19-3-2001).

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do ser alterada mesmo em contrato de adesão, desde que não haja hipossuficiência ou que a mudança da competência não se transforme em obstáculo ao acesso do representante à Justiça; cumpre que a lei seja interpretadade forma que não represente instrumento voltado ao indevido favorecimen-

to do representante em detrimento do representado. Precedentes citados:REsp 533.230 e CC 19.849 (EREsp 579.324, rei. Min. Nancy Andrighi, j.12-3-2008). De outra parte, mesmo após a vigência da EC n. 45/2004, aJustiça competente continua a ser a Justiça comum (não a Justiça do Tra

 balho), isso porque na representação comercial não existe subordinação,que é um dos elementos da relação de emprego (2* Seção, CC 96.851, rei.Min. Carlos Mathias — Desembargador convocado, j. 11-2-2009).

Também quanto aos contratos de concessão de venda de veículos, peças e acessórios, destinados à colocação dos produtos automobilísticosno mercado consumidor e regidos pela Lei n. 6.729/79 (Lei Ferrari), alterada pela Lei n. 8.132/90, a divergência no tocante à validade da cláusulade “eleição de foro” (sempre constante nos contratos-tipo elaborados pelasmontadoras) apresenta-se notória.

Os argumentos favoráveis e os contrários à aplicação da aludidacláusula constam detidamente dos votos proferidos quando do julgamento

do CC 33.256 (STJ, 2â Seção, CC 33.256, j. 27-10-2004, p.m.v., rei. desig.Min. Barros Monteiro,  RSTJ, 200:221); nesse julgamento, prevaleceu atese segundo a qual “nas relações entre empresas de porte, capazes financeiramente de sustentar uma causa em qualquer foro, prevalece o de adesão” (da ementa, com referência ao REsp 279.687). Em última análise,vê~se que fundamental terá sido a constatação, no caso mencionado, deque a concessionária gozava de capacidade financeira para bem defender--se no foro de eleição.

Quando, no entanto, a concessionária for pequena empresa, situadaem local longínquo (neste país de dimensões continentais), inaplicávelserá, em nosso parecer, a cláusula de eleição de foro (que será uma cláusula de “imposição” de foro); a nulidade da cláusula poderá, então, serdeclarada de ofício pelo próprio juiz (CPC, art. 112, parágrafo único, coma redação dada pela Lei n. 11.280/2006) ou suscitada pela parte mediante petição protocolizada no juízo de seu domicílio, com sua imediata remessa ao juízo que determinou a citação (art. 305, parágrafo único, idem).

O corretor de imóveis  que, sem relação de subordinação, aproxima o comprador do vendedor atua como profissional liberal; assim,

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tal como nas hipóteses de remuneração por empreitada e de honoráriosmédicos e advocatícios, é da competência da justiça comum estadual  o julgamento da ação em que o corretor cobra sua remuneração peloserviço prestado (CC 70.349, 2a Seção, rei. Min. Gomes de Barros, j.

27-6-2007). O mesmo deve dizer-se da corretagem autônoma de veículos, de gado etc. Vide,  a respeito, a Súmula 363 do STJ.

100-B. Ações de responsabilidade civil propostas por consumidor

 Nos termos da Lei n. 8.078, de 11-9-1990, entre os direitos doconsumidor insere-se o de “acesso aos órgãos judiciários e administra^tivos, com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais emorais, individuais, coletivos ou difusos” (art. 6-, VII). A fim de asse

gurar com plenitude tal acesso, prevê a lei que nas  ações de responsa bilidade civil  dos fornecedores de produtos e serviços possa a demandaser proposta “no domicílio do autor” (art. 101,1). Cuida-se, no dizer deKazuo Watanabe, “de regra que beneficia o consumidor, dentro daorientação fixada no inciso VII do art. 6S do Código”; não é, no entanto,norma cogente, pois dela pode o consumidor abrir mão para, “em benefício do réu, eleger a regra geral, que é a do domicílio do demandado”(Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, 2. ed., Forense Univer

sitária, 1992, p. 563)17'B.Todavia, segundo Arruda Alvim, a regra de competência é de ordem

 pública no sentido de que não pode ser objeto de eleição de foro. Deoutra parte, haverá de conferir ao texto dimensões amplas, privilegiandonão apenas o consumidor individual, mas sendo igualmente aplicável àsações coletivas: “dessa forma, exemplificativamente, poderá uma associação mover a ação coletiva, no seu domicílio civil. Da mesma forma, parece-nos, se os integrantes ou membros de uma classe, categoria ou gruposão domiciliados num dado lugar e o fornecedor em outro (ainda que taismembros não sejam partes processuais), dever-se-á promover a ação nodomicílio daqueles” (Arruda Alvim et alii, Código da Consumidor comen

 tado, 2. ed., Revista do Tribunais, 1995, p. 454).

17-B. O contrato de transporte, contaminado por vício de qualidade do serviço,atrai a incidência do Código do Consumidor, com a faculdade de a ação de indenização

 por danos morais ser proposta no foro do domicílio do autor  (STJ, REsp 303.379, 4âTurma, rei. Min. Fernando Gonçalves).

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 jurídicas privadas, ao argumento de estarem agindo por delegação do  poder público federal”.

O Superior Tribunal de Justiça aprovou, em 1991, enunciado nosseguintes termos:

“Súmula 34. Compete à Justiça Estadual processar e julgar causa  relativa a mensalidade escolar, cobrada por estabelecimento particular  de ensino”.

A jurisprudência do STJ evoluiu (com decisões nem sempre harmônicas) no sentido de que, cuidando-se de mandados de segurança  impetrados contra ato de autoridade educacional do ensino superior, a competência tocaria à Justiça Federal, quer se tratasse de estabelecimento oficial,

quer de entidade particular, entendendo-se neste último caso que a “autoridade” impetrada teria agido por delegação do Ministério da Educação.

Assim, consta da ementa do CC 35.194 que, em caso de recusa deefetivação de matrícula estudantil pela entidade educacional (Fac. de Direito de Patos de Minas-MG), a Justiça Federal é a competente para julgaro mandado de segurança,  “por se tratar de atividade relacionada com oacesso ao ensino, inserida, portanto, no contexto de ato administrativodecorrente do exercício de função pública delegada pelo Estado” (Ia Seção,

rei. Min. Laurita Vaz, ac. 11-9-2002, com remissão aos CC 30.297, rei.Min. Milton Luiz Pereira; 28.399, rei. Min. Garcia Vieira; e 22.473, reiMin. Eliana Calmon). Idem, CC 40.515, pela competência da Justiça Federal em caso de matrícula na Univ. do Vale do Itajaí-SC (Ia Seção, rei.Min. Castro Meira, ac. 11-2-2004, DJU , 15 mar. 2004, p. 145).

Todavia, se a lide vem a juízo em processo de conhecimento ou cau

 telar,  a competência será da Justiça Federal se o estabelecimento for federal, e será da Justiça Estadual se particular a instituição de ensino —

salvo, nesta segunda hipótese, se na causa for parte a União ou entidadede direito público federal — CF, art. 109,1 (Ia Seção, CC 19.409, rei. Min.Ari Pargendler, DJU , 6 out. 1997; Ag. Reg. no CC 37.947, rei. Min. Gomesde Barros, ac. 12-11-2003).

Conforme está no CC 36.580, a lâ Seção (por maioria de votos)“firmou entendimento no sentido de que, não se tratando de mandado desegurança, a competência para o processamento e julgamento da ação,quando se discute a matrícula de aluno em entidade de ensino particular,é da Justiça estadual , eis que ausente da relação processual qualquer dos

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entes elencados no art 109 da CF/88” (rei. desig. Min. Francisco Falcão»ac. 28-4-2004, DJU, 23 ago. 2004, p. 113).

 No CC 41.695 foi dito que “o STJ pacificou entendimento de que

compete à Justiça estadual  o julgamento de processos nos quais se analisem atos praticados por dirigentes de instituição de ensino particular,quando a pretensão deduzida em juízo se der em sede de ação de conhe

 cimento ou cautelar, de procedimento comum, ressalvados os casos em quefiguram nos autos as pessoas de que trata o art. 109, inciso I, da CF/88”(rei. Min. João Otávio Noronha, dec. 2-8-2004, DJU , 9 ago. 2004, p. 297);questionava-se impedimento a que aluno freqüentasse as aulas e se sub

metesse a exames. Idem, CC 39.823, rei. Min. Luiz Fux (dec. 10-3-2004, DJU , 5 abr. 2004, p. 190).

Afirmou a l1 Seção que, cuidando-se de  ação sob rito comum, “salvo nos casos de mandado de segurança, as ações propostas contra instituição particular de ensino superior serão apreciadas pela Justiça 

 Estadual ”, na ausência das hipóteses do art. 109, I, da CF (lâ Seção,v.u., CC 41.292, rei. Min. Denise Arruda, ac. 23-6-2004,  DJU,  2 ago.

2004, p. 279; idem, CC 40.624). Com base nestas premissas, foi considerada competente a  Justiça Estadual   para  ação sob rito ordinário, visando a matrícula de aluno em entidade particular de ensino superior(CC 46.770, rei. Min. Teori Zavascki, dec. 27-10-2004,  DJU,  10 nov.2004, p. 199).

Registremos, outrossim, o recente posicionamento do STJ de que éde competência da Justiça Estadual   julgar também os mandados de segu

 rança  impetrados contra instituição pública estadual  de ensino superior(Univ. Estadual do Rio Grande do Norte), sob o relevante fundamento deque, como os Estados e Municípios gozam de total autonomia para organizar e gerir seus sistemas de ensino (CF, art. 211), os dirigentes de taisentidades, quando mantidas pelo Estado ou pelo Município, “ não agem 

 por delegação da União” ( lâ Seção, CC 41.234, rei. Min. Denise Arruda,ac. 23-6-2004; idem CC 38.440). Idem, no CC 46.501, sendo interessada

a Univ. Estadual da Paraíba (rei. Min. Paulo Gallotti, dec. de 29-4-2005).Idem no CC 40.679, sendo interessada a Univ. Regional de Blumenau-SC(rei. Min. Castro Meira, ac. 11-2-2004). Idem no CC 46.193, sendo interessada a Fund. de Ens. Sup. de Rio Verde-GO — instituição municipal

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(rei. Min. Teori Zavascki, ac. 23-9-2004)18. Mas, em se cuidando de mandado de segurança  contra ato de dirigente de instituição particular deensino superior, a competência é da Justiça Federal, independentementeda natureza do ato questionado (lâ Seção, CC 53.922, rei. Min. Eliana

Calmon, j. 13-8-2008).Atualmente, portanto, a orientação prevalecente no STJ, lâ Seção,

 parece-nos ser a seguinte:

A) tratando-se de mandado de segurança, cumpre distinguir:

1) a competência será da Justiça Federal quando a autoridade edu- ’cacional apontada como coatora for autoridade federal;

--------- £

18.  Nesse sentido decisão do Min. Teori Zavascki no CC 46.193 (j. 23-9-2004),em cuja ementa lê-se: “As universidades estaduais e municipais gozam de total autonomia para organizar e gerir seus sistemas de ensino (CF, art. 211), e seus dirigentesnão agem por delegação da União. Por isso que a apreciação jurisdicional de seus atosé da competência da Justiça Estadual”  (o mandado de segurança visava obter transferência de um curso para outro na mesma instituição de ensino). Alude o relator, nadecisão, antigo acórdão do STF no sentido da competência da Justiça Estadual   para o

 julgamento de ações, inclusive mandados de segurança, contra universidades que sejamautarquias estaduais, como a Universidade de São Paulo (RE 95.722, Pleno, rei. Min.Moreira Alves).

Em outra oportunidade, também sob a relatoria do Min. Teori Zavascki, foi dito pela lâ Seção que, em ação de mandado de segurança, considera-se autoridade federal o agente de entidade particular investido de delegação pela União (CC 40.330, j. 10-12-2003). Na ementa do CC 40.515, relativo a mandado de segurança (caso de matrícula em instituição de ensino superior) esta escrito que “incumbe ao Estado prover oacesso ao ensino superior e, por essa razão, as instituições que atuam nesse setor,ainda que não sejam mantidas pela União, exercem atividade delegada do Poder Pú

 blico, estabelecido em lei federal e controlada pelo Ministério da Educação e Cultura”,sendo considerada competente a Justiça Federal  (Ia Seção, rei. Min. Castro Meira, ac.11-2-2004).

Cuidando-se de ensino superior privado, a lâ Turma do STJ decidiu, p. m. v.,

que é da competência da Justiça Estadual processar e julgar a medida cautelar relativaà matrícula em curso superior de ensino privado de estudante que ainda não concluiuo segundo grau. Precedente citado — CC 40.679, DJU , 15 mar. 2004 (REsp 603.917,rei. designado Min. Francisco Falcão, j. l s-4~2004).

As Universidades estaduais gozam de total autonomia para organizar e gerir seussistemas de ensino (CF, art. 211), e seus dirigentes não agem por delegação da União;assim, a apreciação jurisdicional de seus atos, inclusive por mandado de segurança (nocaso,  matrícula de aluno na Univ. Estadual da Paraíba), é de competência da Justiçaestadual (STJ, Ia Seção, CC 45.667, v. u., rei. Min. Castro Meira, ac. 18-10-2004).

É de competência da Justiça estadual o julgamento de quaisquer ações — exce

to mandados de segurança — ajuizadas contra estabelecimentos particulares de ensino(STJ, l â Seção, CC 47.258, rei. Min. José Delgado, ac. 14-2-2005).

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2) a competência será da Justiça Federal  quando o dirigente de instituição particular de ensino estiver no exercício de função “delegada pelaUnião” (Ministério da Educação), ou seja, na prática de atos alusivos àatividade ordenadora ou executória do ensino; ficam assim excluídos do

âmbito do writ os atos praticados na gestão da própria entidade, interna  corporis (aliás, estes últimos atos sequer comportam impugnação pela viamandamental);

3) a competência será da Justiça Estadual  quando a autoridade educacional apontada for dirigente de instituição oficial  mantida pelo Estadoou Município;

B) tratando-se de ação de outra natureza, em processo de conheci

 mento ou cautelar, então:1) a competência será da Justiça Federal  se a União, autarquia fede

ral ou empresa pública federal for parte no processo (art. 109,1), mesmose a controvérsia versar matéria que não seja de seu interesse;

2) a competência será da  Justiça Estadual   se as pessoas jurídicasacima referidas não participarem da causa, ainda que a lide diga respeitoa matéria que lhes possa interessar.

As decisões judiciais também não são, outrossim, de todo precisassobre a exata delimitação dos chamados atos de gestão dos dirigentes deinstituição de ensino: no CC 37.354 a l â Seção do STJ, p. m. v., considerou(em decisão não imune a questionamentos), como mero ato de gestão anegativa do diretor de facultar ao aluno a “realização de exames curriculares” para ajustamento do seu histórico escolar, sendo assim afastada  a competência da Justiça Federal  (j. 27-8-2003, rei. Min. Eliana Calmon,informativo do STJ , n. 181 — agosto 2003). A mesma Seção, p. m. v.,

considerou que as questões relativas “ao direito de matrícula” em escolade ensino superior, tanto públicas como privadas, integram o âmbito dacompetência federal delegada pela União, donde a competência da Justiça 

 Federal  (CC 36.221, rei. Min. Peçanha Martins, ac. 27-8-2003).

 No concernente às instituições de ensino pré-escolar, de ensino  fundamental e de ensino médio, a competência, em princípio, será sem pre da Justiça Estadual, porquanto o ensino pré-escolar e o fundamentalsituam-se, com prioridade, na esfera de atribuições do Município, e oensino médio encontra-se, com prioridade, na órbita do Estado-Membro,conforme dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96,arts. 10, VI, e 11).

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Ressalvemos, apenas, os casos em que a União, ou entidade federal,mantenha estabelecimento de ensino de tais níveis.

Finalmente, o Distrito Federal é  equiparado a Estado-Membro, e as

demandas nele ocorridas, em matéria educacional, serão de competênciada Justiça comum local ou da Justiça Federal, conforme os princípios jáexpostos.

101. Ação de usucapião especial e ação de usucapião

O usucapião especial, ou pro labore, encontra-se regulamentado naLei n. 6.969, de 10-12-1981, sendo que a dimensão máxima da área usucà-

 pienda foi pela Constituição de 1988 (art. 191) aumentada de vinte e

cinco para cinqüenta hectares, vedada todavia a aquisição de imóveis pti~ blicos (CF, art. 191, parágrafo único).

 No alusivo à competência, o art. 4- da mencionada lei dispõe que aação de usucapião especial será processada e julgada “na comarca da situação do imóvel”; em se tratando “de terras devolutas federais, a ação será

 promovida na comarca da situação do imóvel, perante a Justiça do Estado,cabendo ao Ministério Público local, na primeira instância, a representação

 judicial da União” (art. 4-, § Ia).Cumpre afastar, parece-nos, a alusão às “terras devolutas federais”,ante a vedação de usucapir imóveis públicos, já aludida. Mas ainda assima União, ou autarquia federal, ou empresa pública federal, poderá ter interesse na demanda, quer como confmante do imóvel (assim litisconsortenecessária), quer porque considere o objeto da demanda como área pública, quer por ostentar interesse possessório ou de servidão sobre o imóveletc., devendo ou pretendendo, assim, intervir como ré, opoente ou assis

tente. Em tais casos, desloca-se o foro, ratione personae, para o juízo federal com competência territorial na região, ou permanece no juízo estadual da comarca onde se situa a gleba usucapienda?

Decidiu o Superior Tribunal de Justiça, mantendo antiga orientaçãodo extinto Tribunal Federal de Recursos, que mesmo em tais hipóteses acompetência, em primeiro grau, permanece com o magistrado local, pois“o permissivo encontrava-se no art. 126 da Constituição Federal de 1967,cujo alcance vem reproduzido na parte final do art. 109, § 3~, da vigenteCarta Política” (do voto do rei. Min. Barros Monteiro, no CC 146,2â Seção,

 j. 28-6-1989; no mesmo sentido, o CC 1.064, 2- Seção, j. 30-5-1990, rei.Min. Eduardo Ribeiro).

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Cora animo nesses dois arestos, o Superior Tribunal de Justiça editoua Súmula 11, do teor seguinte:

“A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação

 do imóvel 

 No caso, portanto, de presença da União,  ou de qualquer de seus entes, em ação de usucapião especial que tramite em comarca que não for 

 sede de Vara federal , o juiz estadual estará agindo por “delegação”, noexercício de jurisdição federal, a teor do permissõrio do art. 109, § 3a, in 

 fine, da Lei Maior; e de suas decisões caberá recurso para o Tribunal Regional Federal (art. 109, § 4-). Se a comarca for sede de Vara federal, a de

manda deverá ser processada no juízo federal (STJ, 3â Seção, CC 4.839,v. u., 25-8-1993, rei. Min. Costa Leite).

Mas quando a União, ou qualquer de seus entes (CF, art. 109,1), não  for parte ou assistente na demanda, o juiz estadual atuará no exercício desua própria jurisdição, sujeitas suas decisões a recurso para o Tribunalestadual competente.

Impende lembrar que a atual Constituição da República, em seu art.183, igualmente dispõe sobre o usucapião especial sobre área urbana, de

até duzentos e cinqüenta metros quadrados, possuído durante mais de cincoanos para moradia familiar, excluídos os imóveis públicos (este artigo foiregulamentado pela Lei n. 10.257, de 10-7-2001 — Estatuto da Cidade).

Tratando da ação de usucapião, sempre a ser proposta no forum rei  sitae, afirmou o Superior Tribunal de Justiça (2â Seção, CC 175, j. l 9-6-1989, rei. Min. Athos Carneiro) a competência da Justiça Estadual para

 julgá-la mesmo em se cuidando de área rural situada na Faixa de Frontei ra,  pois tal circunstância só por si não a torna devoluta, nem autoriza sua

inclusão entre os bens que são da União (CF, art. 20, II), e portanto nãousucapíveis (acórdão na íntegra no Anexo IV).

Igualmente competente será a Justiça Estadual, à qual o feito deveser devolvido, se a entidade de direito público federal (v. g., a Caixa Econômica Federal) declarar seu não interesse na demanda, sendo em conseqüência excluída da relação processual (CC 71, j. 28-6-1989, rei. Min.Athos Carneiro).

102. Procedimentos de jurisdição voluntáriaSão propostos, via de regra, no foro do domicílio do requerente.

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A açao de interdição, no foro do domicílio do interditando.

Os pedidos de retificações no registro civil serão ajuizados no forodo domicílio de quem pretende a retificação, restauração ou suprimento,ainda que o assento esteja lançado em ofício do Registro Civil situado em

outra comarca; neste último caso, o cumprimento do mandado de retificação será solicitado pelo juiz que o expediu ao juiz com jurisdição sobre ocartório (Lei n. 6.015, de 31-12-1973, art. 109 e parágrafos).

Decidiu a 2- Seção do STJ, em aresto relatado pela Min. Nancy Andrighi, no alusivo ao foro competente para o pedido de retificação de re- ;gistro civil, que “é de se entender que essa ação pode ser ajuizada, facul->tativamente, à escolha da autora, na comarca do local de sua residência ou

na de onde localizado o cartório do registro de nascimento” (CC 33.172,^ j. 28-11-2001,  Informativo do STJ , n. 118, nov. 2001). '

O Superior Tribunal dé Justiça tem entendido que compete à JustiçaEstadual processar e julgar pedido de retificação de assentamento do registro civil,  ainda que o objetivo último do requerente seja o de fazer

 prova perante o INSS a fim de instruir pedido de aposentadoria (CC 29.890,rei. Min. Pádua Ribeiro, DJU, 26  out. 2001, p. 246; CC 24.808, rei. Min.Aldir Passarinho Jr., DJU, 20 set. 1999; CC 11.603, rei. Min. Nilson Naves,

 DJU,  13 fev. 1995).Segundo o entendimento da 2~ Seção do STJ, ê da competência da

Justiça Estadual processar e julgar pedido de cancelamento de registro imobiliário, ainda que formulado por ente federal, tal como o INCRA, issoem face da natureza administrativa da postulação (CC 30.453, rei. Min.Pádua Ribeiro, dec. de 19-10-2001, DJU, 6  nov. 2001, p. 219).

Todavia, o oficial do registro deve cumprir os mandados da Justiça

Federal, ou da Justiça do Trabalho, expedidos na via jurisdicional. Assim,tendo o oficial do registro de imóveis recusado cumprimento a determinação de juiz federal no sentido de averbação de penhora, suscitandodúvida, decidiu a l â Seção do STJ que não é permitido ao Juiz Corregedor estadual, na via administrativa, opor-se ao que fora ordenado emfeito jurisdicionalizado, e declarou competente o juiz federal (CC 32.641,rei. Min. Eliana Calmon, j. 12-12-2001, Informativo do STJ , n. 120, dez.2001). No CC 21.366, igualmente alusivo ao registro de penhora, foi

 julgado que “o juízo correcional, no exercício de sua função administrativa, não pode opor-se a ato jurisdicional trabalhista que determina penhora de bens”, sendo declarado competente, com remissão a preceden

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tes, o juízo do trabalho (rei. Min. Pádua Ribeiro, dec. de 22-11-2001, DJU,  13 fev. 2002, p. 190).

Quanto às justificações judiciais, v., nesta obra, o verbete n. 91.

Quanto aos pedidos de alvarás, v., nesta obra, o verbete n. 91-A.

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COMPETÊNCIA NO MANDADO 

DE SEGURANÇA, AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 

AÇÃO POR IMPROBIDADE ; ADMINISTRATIVA E

AÇÃO POPULAR

Capítulo XX

103. Ação de mandado de segurança

A questão da competência para o julgamento das ações de mandadode segurança assume aspectos peculiares. Nessa ação, embora a parte ré

seja realmente a pessoa jurídica de direito público a que pertence a autoridade apontada como coatora1, a notificação  (com eficácia de citação

 — Lei n. 12.016, de 7-8-2009, art. 7a, I) é feita à autoridade, e não ao presentante legal da pessoa jurídica. Temos sustentado que a autoridadecoatora apresenta-se no writ  como substituto processual da entidade dedireito público, mas apenas até a prolação da sentença; deverá da sentença ser intimada também a entidade de direito público, que, desde então,

 passa ao primeiro plano na relação de direito processual e exerce o direito

de recorrer ou de responder ao recurso (RJTJRS,  55:188). A autoridadecoatora também poderá recorrer (Lei n. 12.016, art. 14, § 2a).

Tem sido salientado que a segurança deve ser impetrada pondo comoautoridade coatora aquela que disponha de poder , que detenha atribuições

1. Tema dos mais controvertidos na doutrina é o de quem seja a parte passiva, oréu na ação de mandado de segurança. Por todos, recomenda-se a leitura, a esse res peito, de Agrícola Barbi,  Do mandado , cit., n. 152 e s.; ainda Cretella Júnior,  Do mandado de segurança, 2. ed., Forense, 1980, n. 81; Cassio Scarpinella Bueno, Mandado de segurança, Saraiva, 2002, p. 18-23.

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que a habilitem a corrigir a ilegalidade arguida: “se as providências pedidas no mandado não são da alçada do impetrado, o impetrante é carecedorda segurança contra aquela autoridade, por falta de legitimação passiva

 para responder pelo ato impugnado” (Hely Lopes Meirelles, Mandado de 

segurança, 31. ed., Malheiros Ed., p. 67). Considera-se autoridade coatora a pessoa que ordena ou omite a prática do ato impugnado,  e não osuperior que editou as normas destinadas a regrar a execução de tais atos(STJ, lâ Seção, MS 8.716, rei. Min. Luiz Fux, ac. de 26-2-2003)1‘A, etambém não o simples executor, aquele que cumpre a ordem como merosubordinado hierárquico da autoridade coatora. Nos termos da Lei n.12.016/2009, art. 6-, § 3-, “considera-se autoridade coatora aquela que tenha

 praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática”.

As regras de competência encontram-se na Constituição Federal, emConstituições estaduais, nos Códigos de Organização Judiciária e Regimentos Internos dos Tribunais. Assentam tais regras, fundamentalmente,não na natureza da lide ou da pretensão deduzida no writ, mas sim estãoem função da qualificação da autoridade coatora, se autoridade de nívelfederal, ou de nível estadual ou municipal, e ainda em função da hierarquia de tal autoridade.

Como afirmado em aresto do STJ, 5- Turma, “tratando-se de mandado de segurança, a competência para o processo e julgamento é definidasegundo a categoria, qualificação e hierarquia funcional da autoridadecoatora, portanto, absoluta” (REsp 101.102, rei. Min. José Arnaldo). Éirrelevante, “para fixação da competência, a matéria a ser discutida emmandado de segurança” (STJ, 3a Seção, CC 6.284, rei. Min. Félix Fischer).V., também, nesta obra, os verbetes n. 110 e 116. A nova Lei n. 12.016/2009dispõe expressamente no sentido de que “considerar-se-á federal a autori

dades coatora se as conseqüências de ordem patrimonial do ato contra oqual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada”.

Em se cuidando de ação de segurança impetrada por entidade pública federal contra autoridade jurisdicional estadual, a 2-  Seção do STJ,reafirmando o princípio acima exposto, declarou a competência do TJSC,

1-À. Para efeito de admissibilidade da ação de segurança, qualificam-se comoautoridade pública também os dirigentes de sociedades de economia mista, como severifica do enunciado n. 333 da Súmula do STJ, a saber:

“Súmula 333. Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação  promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública

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e não do TRF da 4- Região, para apreciar mandado ajuizado pela CaixaEconômica Federal contra magistrado estadual catarinense (CC 31.210,rei. Min. Castro Filho, j. 14-4-2004). Vale todavia ponderar que, surpreendentemente, a  \-  Seção do STJ, invocando precedente do STF (no RE176.881, Pleno, rei. Min. Ilmar Galvão, j. 6-3-1998), havia chegado àconclusão de que o art. 109,1, da CF, que estabelece regra de competência ratione personae,  atrai a competência da Justiça Federal nos casos demandado de segurança impetrado pela União, entidade autárquica ouempresa pública federal contra entidade pública local, inclusive magistrado estadual (assim, CC 60.849, rei. Min. Castro Meira, v.u., j. 23-8-2006;CC 45.709, rei. Min. Luiz Fux, maioria, j. 23-8-2006). ^

Assim, se o mandamus é impetrado contra autoridade federal de morhierarquia, indigitada como tendo cometido ou mandado cometer o atoalegadamente violador de direito líquido e certo do demandante, caberá

 julgamento do feito ao Supremo Tribunal Federal : atos cometidos peloPresidente da República, Mesas da Câmara e do Senado Federal, pelo

 próprio Supremo Tribunal Federal, e por outros colegiados ou autoridadesreferidos no art. 102,1, d , da Constituição.

O Superior Tribunal de Justiça conhece dos mandamus, também aquiem competência originária, postulados contra ato de Ministro de Estado.A Súmula 103 do antigo TFR, pela competência originária do tribunalsuperior para julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de

órgão colegiado presidido por Ministro de Estado, restou superada  por ac.do STJ, no MS 237, Ia Seção, 13-2-1990, rei. Min. Geraldo Sobral, considerando a Corte incompetente para julgar ato do Ministro da Fazenda naqualidade de presidente do CMN, remetendo-se o processo ao juízo de

 primeira instância.Esta orientação tomou-se remansosa no STJ, e resultou na vigente

Súmula 177 , de 27-11-1996, da aludida Corte, verbis:

“O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processare julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão

 colegiado presidido por Ministro de Estado”.

A lâ Seção do STJ, apreciando ato praticado pelo Ministro da Justiça no uso das atribuições de Presidente do Conselho Nacional de Trânsito

 — Contran, reiterou tal posicionamento afirmando ser a Corte “incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de segurançacontra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado” (MS 6.229,ac. 9-6-1999, rei. Min. Hélio Mosimann).

O Superior Tribunal de Justiça igualmente conhece dos mandados desegurança impetrados contra ato do próprio Tribunal (CF, art. 105,1, b), e

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os Tribunais Regionais Federais julgam os mandados de segurança impetrados contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal (CF, art. 108,1, c).

Cumpre referir, neste passo, que a jurisprudência firmou-se no sentido de que não cabe a um tribunal conhecer de mandado de segurança

•impetrado contra ato jurisdicional prolatado por órgão do próprio tribunal,quer em decisão colegiada, quer em decisão monocrática. A respeito, oenunciado 121 da Súmula do antigo Tribunal Federal de Recursos: “ Não cabe mandado de segurança contra ato ou decisão, de natureza jurisdicional, emanado de relator ou presidente de Turma”. Esta Súmula continuaaceita pelo Superior Tribunal de Justiça: Corte Especial, MS 2.928, rei.Min. Peçanha Martins; AgRg no MS 5.219, rei. Min. Sálvio de Figueiredo;MS 10.702, rei. Min. José Arnaldo da Fonseca, dec. de 20-6-2005, sempresob o entendimento de que a referência feita no art. 105, I, b, da CF dizrespeito a matéria administrativa, não jurisdicional, do tribunal.

Os juizes federais da respectiva Seção Judiciária julgam os mandados de segurança apresentados contra ato de qualquer outra autoridadefederal, como tal definida em lei ou apontada no art. le, § l2, da Lei n.1.533/51, com recurso para o respectivo Tribunal Regional Federal (CF,art. 109, VII).

Cabe à Justiça Estadual conhecer dos mandados de segurança impetrados contra ato de autoridade estadual ou municipal. Também nestescasos apresenta-se preponderante o critério da hierarquia — competênciaratione muneris — da autoridade dita coatora.

Apreciando o CC 27.963, decidiu o STJ, por sua lâ Seção, ser competente a Justiça Estadual para processar e julgar mandado de segurança “contra ato de sociedade de economia mista, salvo quando praticado por delegaçãoda União Federal” (rei. Min. Peçanha Martins, v. u., ac. de 26-10-2000).

Sendo a autoridade impetrada Juiz de Direito diretamente vinculadoao Tribunal de Justiça local, irrelevante será a matéria objeto da lide para

deslocar a competência para a Justiça Federal: permanece competente oTribunal Estadual. Como consta do CC 21.263, ac. de 29-4-1998, rei. Min.Hélio Mosimann, “definindo-se a competência pela categoria da autoridade apontada coatora, compete à Justiça Estadual processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato praticado por magistrado integrante da Justiça Comum” (STJ, l â Seção). V,  também, RSTJ, 47:282.

2. Vale, a respeito, referir as seguintes decisões do STJ:

1. Em mandado de segurança contra a Eletropaulo, foi julgada competente a Justiça Federal, eis que o ato impugnado (suspensão do fornecimento de energia elétrica) não seria de gestão administrativa, mas relacionado à continuidade na prestação deserviço público federal (lâ Seção, CC 40.060, rei. Min. Castro Meira, ac. 24-3-2004).

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 Nos Estados, as respectivas Constituições e os Códigos de Organização Judiciária estabelecem as normas de competência para processar e

 julgar os atos de autoridades de maior hierarquia, cabendo normalmenteao Tribunal de Justiça (ou seu Órgão Especial) conhecer dos mandamus 

contra atos do Governador, da Assembleia Legislativa, do Tribunal deContas e do próprio Tribunal de Justiça. Os mandados de segurança contraatos de juizes de primeira instância são normalmente julgados pelas Câmaras isoladas, muito embora a previsão da Lei Orgânica da Magistratura

 Nacional (a rt 101, § 3-, ã f.

 Note-se que, pela atual Constituição da República, cabe privativq.- mente aos Tribunais dispor “sobre a competência e o funcionamento dosrespectivos órgãos jurisdicionais e administrativos”, podendo portantofixar por Resolução, nos feitos de sua competência, quais os atribuídos Io

 plenário e quais os reservados ao julgamento pelos órgãos fracionários dotribunal.

É defeso aos tribunais conhecer originariamente  de mandados desegurança contra atos jurisdicionais ou administrativos praticados portribunais outros de menor hierarquia funcional. A norma constou da LeiOrgânica da Magistratura Nacional (art. 21, VI), verbis:

“Compete aos tribunais, privativamente: ... VI  — julgar, originariamente, os mandados de segurança contra seus atos, os dos respectivos Presidentes e os de suas Câmaras, Turmas ou Seções

Já ao tempo da Constituição de 1946, o Supremo Tribunal Federal,através da Súmula 330, explicitara não ser ele competente “para conhecer demandado de segurança contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados”.

2. No CC 37.568, a 2- Seção entendeu competente a Justiça Estadual no casode ação promovida por empresa concessionária de serviços ferroviários (rei. Min.Pádua Ribeiro, ac. 23-6-2004).

3. Em mandado de segurança impetrado contra o Presidente da Eletropaulo,visando a suspensão do pagamento de conta de fornecimento de energia elétrica, o rei.Min. Otávio de Noronha teve por competente a Justiça Federal, por estar o apontadocoator no exercício de função federal delegada (CC 40.970, dec. 2-8-2004).

3. Segundo a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, referida na revoga

Constituição Federal de 1969, art. 101 e § 3a, d , na previsão de Câmaras ou Turmasespecializadas ou agrupadas em Seções especializadas, competia a cada Seção especializada o julgamento dos “mandados de segurança contra ato de juiz de direito”(rectius, “de juiz de primeira instância”).

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O Superior Tribunal de Justiça, de sua vez, em sessão de 14-5-1992editou a Súmula 41, com a seguinte redação:

“O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para  processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos”.

Foi considerada necessária a edição da Súmula em decorrência dosnumerosos mandados de segurança impetrados no Superior Tribunal deJustiça, originariamente, contra acórdãos de tribunais inferiores ou decisõesdos respectivos Presidentes.

Assim também decidiu o Supremo Tribunal Federal, ao editar suaSúmula 624, a saber:

"Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais ”(enunciado aprovado em sessão do Pleno de 24-9-2003).

Relevante frisar que a Justiça Eleitoral detém competência, agora emrazão da matéria, para o julgamento de mandado de segurança em matériaeleitoral (CF, art. 121, § 4S, V).

De outra parte, embora a taxatividade de sua competência constitu

cionalmente fixada, aos Tribunais do Trabalho, aos Tribunais Eleitorais eao Superior Tribunal Militar  é reconhecida competência para a apreciaçãoe julgamento de mandados de segurança contra atos administrativos praticados pelos próprios Tribunais ou seus presidentes4 (v. a Súmula 433 doSTF).

Os mandados de segurança contra autoridade municipal são julgados pelo juiz de direito da comarca, e distribuídos à vara privativa, onde houver. Igualmente os writs impetrados contra autoridade estadual sediada emcomarca interiorana (Agrícola Barbi, Do mandado, cit., n. 141; Cretella

Júnior, Do mandado, cit,  n. 111).Anote-se, por oportuno, que os Tribunais de Justiça dos Estados não

têm competência para rever, através de ação de mandado de segurança, omérito de decisão proferida por Turma Recursal dos Juizados Especiais(RMS 12.218, rei. Min. Castro Filho, dec. de l e-2-2002). Como disse oMin. Ruy Rosado de Aguiar, caso para cada ato processual acoimado de

4. V. Agrícola Barbi, Do mandado, cit., n. 131 a 142; Cretella Júnior, Do mandado, cit, n. 115 a 118.

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ilegal fosse possível mandado de segurança para o Tribunal de Justiça,-“estaria destruído o sistema, ingressando as causas dos juizados na valacomum dos procedimentos recursais” (RMS 10.357). Mas o mandado temsido admitido para o controle da competência do Juizado Especial — v. o

verbete n. 105-Á.O mesmo raciocínio vale para os Tribunais Regionais Federais, relativamente às Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais.

V., nesta obra, os verbetes n. 105, parte final, 105-A, 110 e 137.

104. Mandado de segurança coletivo ’

O tema da competência apresenta, no mandado de segurança coletivo, certas particularidades. ^

Vamos supor uma majoração tributária estadual que os contribuintes,espalhados por muitos municípios e comarcas, considerem ilegal. Assiste-lhes a faculdade, naturalmente, de ajuizar mandados de segurança individuais, apontando como coator, em cada caso, o agente que houver concre-tamente lavrado a autuação fiscal, ou que os haja notificado para efetuaro pagamento sob pena de autuação e multa, ou que ameace notificá-los.

Todavia, a entidade de classe, digamos a Associação Comercial ou aAssociação das Indústrias, sediada na Capital estadual, propõe o mandadode segurança coletivo em substituição de todos os seus associados, indeterminados na petição inicial, embora determinãveis na execução manda-mental. Como em ação de mandado de segurança firma-se a competência

 pelo local onde sediada a autoridade coatora e pela hierarquia funcionalda mesma autoridade, e como na hipótese são muitas as autoridades apontadas como coatoras dos substituídos, necessário será perquirir quem, deacordo com as normas administrativas, ostenta hierarquia superior à dosagentes fiscais concretamente coatores, e assim presumivelmente haja

determinado a prática dos atos ditos ilegais, podendo destarte igualmentemandar sejam sustados ou revogados. Se a autoridade fiscal superior for,v. g., o Inspetor-Geral de Tributos, competente será o juiz da FazendaPública da Capital, e a sentença fará coisa julgada relativamente a todos os substituídos, sejam ou não domiciliados na área territorial sob a jurisdição do mencionado magistrado. Se a autoridade superior, no entanto, foro Secretário da Fazenda, então provavelmente competente será, originariamente, um dos órgãos fracionários do Tribunal de Justiça ou seu ÓrgãoEspecial, conforme dispuser a legislação de organização judiciária localou o Regimento Interno da Corte.

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Com a habitual precisão Calmon de Passos preconiza esta solução(Mandado de segurança coletivo, mandado de injunção, “habeas data”,Forense, 1989, p. 25-8), sublinhando inclusive sua repercussão no relativoà eficácia das decisões proferidas no mandamus coletivo;

“Disso decorre que a autoridade coatora, não só ela, comoagentes outros da pessoa jurídica de direito público envolvida, estãoobrigados a se comportar como determinado na decisão do mandadode segurança no tocante a todo e qualquer membro ou associado daentidade impetrante, encontre-se ele onde se encontrar, em termos decircunscrição territorial. Se a indústria é filiada da FIESP e se beneficiou com a segurança impetrada, liberando-se de pagar determinado tributo, todos os seus estabelecimentos e todos os seus negócios,

em qualquer parte do país, se beneficiam da coisa julgada do writ  coletivo, em que ela foi parte como substituída. Daí o relevo que tem,no mandado de segurança coletivo, a determinação da autoridadecoatora, que somente pode ser aquela cuja jurisdição (sensu lato)tenha suficiente abrangência reclamada para a eficácia da coisa julgada nos termos apontados” ( Mandado de segurança coletivo,  cit.,

 p. 75-6).

Aqui uma observação: em nossa opinião, a eficácia do julgadonão abrangerá os atos praticados em área territorial não incluída na

 jurisdição do tribunal; assim, o contribuinte domiciliado na área sob jurisdição do Tribunal Regional Federal da Ia Região não será favorecido por decisão de outro TRF no sentido da ilegalidade de determinada majoração tributária, exigida por autoridade fiscal comatribuições nessa outra região.

105. Mandado de segurança contra ato judicial. Ação rescisória.Tribunal competente para julgá-los

Os mesmos princípios alusivos aos recursos incidem no que dizrespeito ao tribunal competente para o julgamento dos mandados de segurança contra ato judicial.  Vale notar, desde logo, que não é admissívelmandado de segurança contra decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo, e igualmente não é admitido em decisão judicial transitada em julgado  (Lei n. 12.016/2009, art. 5~, II e III).

Cuidando-se de decisão de juiz estadual, somente o tribunal do res pectivo Estado poderá conhecer do mandado de segurança, ainda que estetenha sido impetrado pela União Federal ou por entidade autárquica ou

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empresa pública federal5. Assim decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por sua 2- Seção, no CC 8.152, rei. Min. Cláudio Santos, em que foi negada a possibilidade de a União obter, pela via de mandamus  impetrado

 perante o Tribunal Regional Federal, a decretação da nulidade, por incom

 petência absoluta, de processo de execução de sentença proferida pela justiça comum do Rio de Janeiro contra a Rede Ferroviária Federal S.A.

Realmente, o TRF somente é competente para julgar originariamente mandado de segurança “contra ato do próprio tribunal ou de juiz federal” .(CF, art. 108,1, c), não contra ato de outro tribunal ou de juiz não vinculado ao TRF, sejam quais forem os fundamentos do writ  A propósito, v.ac. do STJ, 3- Seção, no CC 4.703, em 21-10-1993, afirmando a competência de TRT para julgar mandado de segurança contra ato de JCJ {RSTJ, 

60:53), atualmente Vara do Trabalho. ^Impende notar que o art. 109,1, da Constituição Federal fixa a com

 petência ratione personae dos juizes federais, não a dos tribunais federais6.

Também, por idênticos motivos, a ação rescisória, que é de competência originária de tribunal, somente poderá ser processada e julgada pelocolegiado ao qual estiver vinculado, na linha de hierarquia recursal, o juízo que houver proferido a sentença.

Assim — embora a matéria seja controvertida na jurisprudência —,temos por certo que um TRF, v. g., não poderá apreciar demanda rescisória de sentença prolatada por juiz estadual, ainda que autora da demandarescisória seja a União Federal; e isso inclusive porque a competênciaoriginária dos TRFs limita-se às rescisórias “de julgados seus ou dos juizesfederais da região” (CF, art. 108,1, b). O “interesse” da União será, pois,nesse caso particular, apreciado pelo tribunal estadual, com eventual recurso especial ou extraordinário para o STJ ou o STF, estes, sim, tribunais“nacionais”. V., nesta obra, o verbete n. 110.

Mencionemos, por fim, o magistério do juiz federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes no sentido de que “o Tribunal de Justiça do Estado

5. Em se tratando de mandado de segurança contra decisão proferida em processo em trâmite perante o Juizado Especial, a competência para o julgamento é do órgãocolegiado do próprio Juizado, conforme tem decidido o STJ (RMS 10.334, 6â Turma,rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. de 10-10-2000, Informativo do STJ , n. 74, out. 2000,com remissão a precedentes do STJ). V., nesta obra, o verbete n. 105-A.

6. Pela similitude de situações, pode ser trazida à baila a Súmula 518 do STF,verbis: “A intervenção da União, em feito já julgado pela segunda instância e pendente de embargos, não desloca o processo para o Tribunal Federal de Recursos

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será sempre competente para processar e julgar as ações rescisórias deseus acórdãos e das sentenças prolatadas pelos Juizes de Direito, salvoquando estes estiverem exercendo a competência federal. O enunciadocontido na Súmula n. 55 do STJ, de que ‘Tribunal Regional Federal não é

•competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz estadual nãorevestido de jurisdição federal’, deve ser interpretado em sentido amplo,

 para incidir sobre os dois tipos de remédios utilizáveis contra decisões judiciais: os recursos e as ações autônomas de impugnação” (Competência cível cia Justiça Federal, Saraiva, 1998, item 9.1.1, p. 138-9).

Todavia, contrariando tal orientação, a lâ Turma do STJ afirmou serde competência originária do Tribunal Regional Federal o julgamento demandado de segurança impetrado por empresa pública federal (CEF)

contra ato praticado por  Juiz de Direito  (RMS 18.040, rei. Min. TeoriZavascki, ac, 3-2-2005). Tratou-se, segundo o aresto, de afirmar o princí pio da prevalência do órgão judiciário da União sobre o do Estado-Mem- bro, conjugado com o princípio da hierarquia, ou seja, sendo o ato praticado por juiz, o julgamento deverá caber ao órgão judiciário de segundainstância. No voto condutor consta que “solução semelhante tem sido dada

 para as ações rescisórias de sentenças proferidas pela Justiça dos Estadosquando nelas figurar, como parte ou interveniente, um ente federal”,

anotando-se como precedentes os CC 5.427, 2â Seção, rei. Min. CláudioSantos e REsp 94.332, 4â Turma, rei. Min. Sálvio de Figueiredo6"A. Foi,outrossim, invocado nesse sentido o precedente do Supremo TribunalFederal no RE 176.881 (Pleno, maioria de cinco votos a quatro, rei. desig.Min. Ilmar Galvão, ac. de 13-3-1997).

Rogando vênia, parece-nos bem mais jurídica e sistemática a solução preconizada no STF, no RE antes referido, no voto (vencido) do relatororiginário, Min. Carlos Velloso.

105-A oMandado de segurança e Juizados Especiais

Tema realmente inquietante o alusivo aos mandados de segurançacontra ato judicial praticado em processo perante Juizado Especial Cível

6-A. A 2- Seção do STJ, no julgamento do CC 5.427, adotou a tese do “deslocamento de competência”, segundo a ementa, sob o fundamento de que “a habilitaçãono feito de empresa pública federal como assistente litisconsorcial acarreta a transfe

rência para o Tribunal Regional da competência a fim de julgar a ação rescisória deacórdão da Corte Estadual. Justifica-se essa competência excepcional porque, de regra,a ação rescisória envolve o iudicium rescindens e o iudicium rescisorium” (rei. desig.Min. Cláudio Santos» j. 15-12-1993, p.m.v.).

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estadual ou federal, visto que se estão multiplicando os writs (à guisa desucedâneo recursal) diante da inadmissibilidade, em princípio, de agravosno procedimento sumaríssimo perante aqueles órgãos (a respeito, v. nosso

 Recurso especial, agravos e agravo interno, 6. ed., Forense, n. 67)7.

Caso o mandado seja ajuizado contra ato do juiz processante, tementendido o STJ que a competência para julgá-lo é do órgão colegiado do próprio Juizado, e não do Tribunal de Justiça (6â Turma, RMS 10.334,rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. 10-10-2000, com remissão a precedentes,da Corte; 2a Seção, CC 38.190, rei. Min. Ari Pargendler, ac. 9-4-2003; 3- Seção, CC 40.319, rei. Min. Arnaldo da Fonseca, ac. 10-3-2004; 4â Turma,RMS 18.477, rei. Min. Jorge Scartezzini, j. 16-11-2004; enunciado n. 62do Fórum Permanente dos Coordenadores dos Juizados Especiais)8.

Por certo que a um primeiro exame, tendo em vista que o ato é deJuiz de Direito (pois Juizes de Direito presidem os Juizados Especiais —Lei n. 9.099/95, art. 5S), competente para conhecer do mandamus seria oTribunal de Justiça, por intermédio de uma sua Seção especializada (LCn. 35/1979 — LOMAN, art. 101, § 3a, d). Todavia, em visão sistemática,apresentar-se-ia estranho que a apelação (Lei n. 9.099, art. 41), veiculando

 pedido de reforma da sentença, fosse julgada pela Turma Recursal (sem possibilidade alguma de intervenção recursal do Tribunal de Justiça), e omandado de segurança (como sucedâneo recursal), impugnando simples

decisão interlocutória, viesse a ser apreciado pelo Tribunal8'4.Problema maior surge quando o mandado de segurança é impetrado

contra ato (alegadamente eivado de ilegalidade extrema) da própria TurmaRecursal9.

7. A Lei n. 10.259/2001, que regulamenta os Juizados Especiais Federais, admiteexpressamente, em seu art. 4S, a concessão de medidas cautelares no curso do processo,e estas decisões serão recorríveis — art. 5S?a contrario sensu.  Neste caso, o recursocabível somente poderá ser o agravo de instrumento, pois o agravo retido seria ineficaz.

8. Contra, pela competência do Tribunal de Justiça, Fredie Didier Jr., artigo em RePro, 105:249.

8-A. Não obstante, a 5a Turma do STJ surpreendentemente admitiu a impetraçãode mandado de segurança pelo INSS ao Tribunal Regional Federal contra decisão interlocutória de juiz de Juizado Especial Estadual (causa previdenciária, em comarcaonde não sediado Juizado Especial Federal — CF, art. 109, § 32), afirmando o cabimento do writ  e a competência do tribunal de segundo grau (RMS 17.113, rei. Min.Laurita Vaz, j. 24-8-2004). E decisão no mesmo sentido consta do RMS 16.124 (5âTurma, rei. Min. Felix Fischer, j. 7-2-2006).

9. E a utilização de tal meio autônomo de impugnação se está tornando freqüente, inclusive porque no sistema dos Juizados Especiais não é admissível o recurso es-

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 Nestes casos:a) ou bem não se admite o cabimento do writ , em orientação que virá

de encontro à amplitude da garantia constante da Lei Maior;

 b) ou competente será o Tribunal de Justiça, mas esta solução esbar-ra no princípio de que os tribunais não têm competência para processar e

 julgar, originariamente, atos de outros tribunais ou dos respectivos órgãos(STJ, Súmula 41; STF, Súmula 624; LOMAN, art. 21, VI);

c) ou competente para o julgamento será a própria Turma Recursal do Juizado Especial,  e esta parece-nos ser, em exegese sistemática, aorientação adequada.

Com frequência os mandados de segurança contra decisão de Turma

Recursal têm sido endereçados diretamente ao Superior Tribunal de Justiça, que reafirma sua manifesta incompetência para julgá-los, ante odisposto no art. 105,1, b , da CF ( v. g., 4â Turma, RMS 10.357, rei. Min.Ruy Rosado; 2â Seção, Ag. Reg. no MS 10.405, rei. Min. Barros Monteiro, ac. 9-3-2005).

O enunciado n. 64 do Fórum Permanente dos Coordenadores dosJuizados Especiais sustentou a competência, em tais casos, do SupremoTribunal Federal, já que dos arestos das Turmas Recursais cabe, nos mol

des constitucionais, recurso extraordinário ao Pretório Excelso (por certoque o writ  deveria sustentar tese imediatamente constitucional).

Todavia, apreciando Questão de Ordem no MS 24.691, o SupremoTribunal Federal, sendo relator o Min. Sepúlveda Pertence, em sessão de4-12-2003 negou sua competência para o julgamento de mandado de segurança contra ato de Turma Recursal, e proclamou a competência da 

 própria Tunna  para julgar impetrações contra ato de integrante ou docolegiado (ficou vencido o Min, Marco Aurélio, o qual considerava com

 petente o Tribunal de Justiça). V. MS 25.396.Por fim, vale anotar que, julgado originariamente o mandado de segurança pela Turma Recursal, mesmo sendo denegatória a decisão, delanão caberá recurso ordinário constitucional. Não caberá se endereçado aoSupremo Tribunal Federal, ante a previsão constitucional de sua admissi

 bilidade em face de decisões proferidas “pelos Tribunais Superiores” (CF,art. 102, II, a)\  não caberá o recurso ao Superior Tribunal de Justiça, porque, a teor do art. 105, II, b, da CF, é pressuposto do cabimento haver sido

 pecial nem a ação rescisória. Nem o reexame necessário nas causas submetidas aosJuizados Especiais Federais.

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a decisão denegatória do mandamus  proferida, em instância originária,“pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, doDistrito Federal e Territórios”; e o Superior Tribunal de Justiça recusa-se, por ponderáveis fundamentos, a “equiparar” as Turmas Recursais a um

“tribunal”, assim decidindo ao negar admissão a recursos especiais contrasuas decisões (Súmula 203). V. Recurso em MS 19.125, STJ, 4â Turma,rei. Min. Fernando Gonçalves, j. 21-6-2005.

Destarte, o recurso em tese possível contra a decisão proferida pela.Turma Recursal em ação de mandado de segurança será, tão somente, o recur-,so extraordinário, nos limites em que a Lei Maior o permite (art. 102, III). ■*

 Neste passo, surge relevantíssima indagação: como proceder quando a Turma Recursal Estadual ou Federal manifestamente ultrapassa 

o âmbito de sua competência? £A resposta foi dada em aresto da Corte Especial do STJ, de que foi

relatora a Min. Nancy Andrighi, verdadeiro leading case  com base nadistinção entre o mandado de segurança impetrado perante Tribunal deJustiça, visando o controle de competência da Turma Recursal, e o mandado (ou recurso) em que se busque na justiça comum o controle do mérito da decisão proferida pelo Juizado Especial.

Assim, conforme sua ementa:“Não se admite, consoante remansosa jurisprudência do STJ, o controle, pela justiça comum, sobre o mérito das decisões proferidas pelos

 juizados especiais. Exceção é feita apenas em relação ao controle de constitucionalidade dessas decisões, passível de ser promovido mediante ainterposição de recurso extraordinário.

A autonomia dos juizados especiais, todavia, não pode prevalecer para a decisão acerca de sua própria competência para conhecer das  

causas que lhe são submetidas. E necessário estabelecer um mecanismode controle da competência dos juizados, sob pena de lhes conferir um poder desproporcional: o de decidir, em caráter definitivo, inclusive ascausas para as quais são absolutamente incompetentes, nos termos da leicivil.

 Não está previsto, de maneira expressa, na Lei n. 9.099/1995, ummecanismo de controle da competência das decisões proferidas pelosJuizados Especiais. É, portanto, necessário estabelecer esse mecanismo

 por construção jurisprudencial.Embora haja outras formas de promover referido controle, a forma

mais adequada é a do mandado de segurança, por dois motivos: em pri

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meiro lugar, porque haveria dificuldade de utilização, em alguns casos, daReclamação ou da Que rela Nullitatis; em segundo lugar, porque o mandado de segurança tem historicamente sido utilizado nas hipóteses em quenão existe, no ordenamento jurídico, outra forma de reparar lesão ou pre

venir ameaça de lesão a direito.O entendimento de que é cabível a impetração de mandado de segu

rança nas hipóteses de controle sobre a competência dos Juizados Especiaisnão altera o entendimento anterior deste Tribunal, que veda a utilizaçãodo writ  para o controle do mérito das decisões desses juizados. Recursoconhecido e provido” (RMS 17.524, rei. Min. Nancy Andrighi, p.m.v., j.2-8-2006).

A orientação foi confirmada em aresto da 2-  Turma, entendendo

 possível a impetração de mandado de segurança,  perante o Tribunal de  Justiça, contra ato de Turma Recursal de Juizado Especial estadual, nãoquanto à revisão da matéria de mérito da lide, mas sim ao controle da competência dos Juizados Especiais  (RMS 26.665, rei. Min. HermanBenjamin, j. 26-5-2009 ). Interessante afirmar que o STJ afirmou admissível o mandado de segurança perante o Tribunal de Justiça mesmo no casoem que a decisão, a ser anulada por vício de incompetência absoluta, játenha transitado em julgado, e assim foi decidido porque incabível nosJuizados Especiais a ação rescisória, podendo em tais casos igualmente

ser considerado o writ   como equiparado a uma que rela nullitatis  (MC15.465, 3~ Turma, rei. Min. Nancy Andrighi, j. 28-4-2009).

Já em se tratando de mandado de segurança contra decisão de juiz singular   de Juizado Especial, a competência será da respectiva TurmaRecursal, sob pena de transformar em ordinário um mecanismo admitido

 para situações absolutamente extraordinárias (RMS 27.609, lâ Turma, rei.Min. Teori Zavascki, j. 10-3-2009) . E nesse sentido a Corte Especialeditou, em 18-3-2009, a Súmula 376, com o teor seguinte:

“376. Compete à Turma recursal processar e julgar o mandadode segurança contra ato de Juizado Especial'’.

106. Ação civil públicaA ação civil pública, instituída pela Lei n. 7.347, de 24-7-1985,

 possui um “núcleo comum”, acentuado na nova Constituição Federal,com a ação popular, visto que ambas buscam a tutela de bens e direitosde valor histórico e cultural. Diferenciam-se quanto à legitimação ativa

e quanto ao rito, notando-se que a ação civil pública tutela também omeio ambiente e “qualquer outro interesse difuso ou coletivo” (CDC,

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art. 110), sendo cabível ainda (consoante a Lei n. 8.884, de 11-6-1994, art.88) nos casos de infrações da ordem econômica e de ofensas ao princípioda livre concorrência.

Conforme dispõe o art. 2- da Lei n. 7.347, as ações civis públicas

devem ser propostas “no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terácompetência funcional para processar e julgar a causa” (ou melhor, com petência absoluta, embora a vinculação territorial)9'Ae9'B.

O parágrafo único do mesmo artigo (introduzido pela MP n. 2.180-35, de 24-8-2001) aduz que “a propositura da ação prevenirá a jurisdição,do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam amesma causa de pedir ou o mesmo objeto” (ou melhor, prevenirá a com

 petência do juízo).

Onde ocorreu o dano, ou onde se teme venha a ocorrer, o que sl justifica, como anotou Hely Lopes Meirelles, pela facilidade na obtençãoda prova testemunhai e de realização das convenientes perícias (Mandado de Segurança, 14. ed., Malheiros Ed., 1992, p. 123).

Em se tratando de danos ocorridos em escala nacional ou regional, oforo competente será, respectivamente, o do Distrito Federal ou o da ca

 pital do Estado, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aoscasos de competência concorrente (aplicação analógica do art. 93 da Lein. 8.078 — Código de Proteção ao Consumidor)9'0. V  verbete n. 106-C.

Conforme Arruda Alvim, quando o dano ocorrido ou temido “transcender a área de uma dada comarca, tratar-se-á de dano regional, enquanto circunscrito ao âmbito de um Estado federado, e a competência para a

9-A. O legislador incidiu em equívoco ao afirmar (art. 2S) que a competência doforo do local do dano, nas ações civis públicas, tem natureza ‘funcional’. Cuida-se,evidentemente, de competência absoluta, embora baseada no critério territorial (JoséRoberto Bedaque, Revista do Advogado, AASP, n. 84, p. 107). Vide, outrossim, eluci

dativo artigo de Barbosa Moreira ( RF , 380/179).9-B. Em caso de ação contra a UNIMED/Porto Alegre, visando declarar semefeito a rescisão de contrato de assistência médica e a imposição de cobrança de adicional para internação hospitalar (feitas unilateralmente pela ré), o STJ afirmou que aação civil pública é   instrumento adequado para a defesa dos interesses individuaishomogêneos dos consumidores (REsp 805.277, 3âT., rei. Min. Nancy Andrighi, j. 23-9-2008).

9-C. Em ação civil pública relativa à criação do “Parque Nacional de Ilha Grande”, abrangendo municípios de dois Estados da Federação, a 2- Turma entendeu que acompetência em primeira instância toca a uma das varas federais sediadas na Capital de um dos Estados, pois a questão terá caráter nacional  (REsp 1.018.214, rei. Min.Campbell Marques, j. 2-6-2009).

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causa é a do foro da capital do Estado. A competência será da comarca doDistrito Federal quando o dano que haja ocorrido transcender, ou, se ainda por vir a ocorrer, puder vir a transcender, a área geográfica de mais de umEstado, ganhando, por isso, âmbito nacional (o dano, por exemplo, deve

vir a ocorrer em âmbito nacional, ainda que já existente em âmbito localou regional). Estes critérios, conferindo-se o sentido de que, no âmbitoregional, a competência é a da Capital do Estado federado e, tendo emvista o dano de espectro nacional, a competência é do Distrito Federal, sãoos que, ao lado da distinção das áreas, como distintas e inconfundíveis, éo que melhor diz com o acesso à Justiça” (Código do Consumidor comentado, 2. ed., Revista dos Tribunais, 1995, p. 426). Em outras palavras: asentença do juiz do Distrito Federal produzirá efeitos, excepcionalmente,

em todo o território nacional, a sentença do juiz da Capital, em todo o território do respectivo Estado federado.

Serão, assim, evitados graves problemas, como os surgidos no conhecido “caso do metanol” (apreciado pelo STJ no CC 971, lâ Seção, rei.Min. Vicente Cernicchiaro, p. m. v.), nas demandas “múltiplas” do caso“Vale do Rio Doce”, da privatização das “Teles” etc.

O Superior Tribunal de Justiça, todavia, pela sua 2- Seção, tem-semanifestado, era casos de danos de âmbito nacional,  pela competência concorrente do foro da capital do Estado ou do foro do Distrito Federal(certamente que da capital de Estado onde o dano se tenha manifestado,não de Estado alheio ao dano). No CC 17.533-DF foi julgado, em exegesedo art. 93, II, do CDC, que “não há exclusividade do foro do Distrito Federal para o julgamento de ação civil pública de âmbito nacional.  Isto porque o referido artigo, ao se referir à Capital do Estado e ao DistritoFederal, invoca competências territoriais concorrentes, devendo ser analisada a questão estando a capital do Estado e o Distrito Federal em planos

iguais, sem conotação específica para o Distrito Federal” (da ementa, rei.Min. Menezes Direito). No mesmo sentido o julgamento do CC 17.532,de que foi relator o Min. Ari Pargendler, com o asserto de que “a açãocivil coletiva deve ser processada e julgada no foro da capital do Estadoou no do Distrito Federal, se o dano tiver âmbito nacional ou regional;votos vencidos no sentido de que, sendo o dano de âmbito nacional, com

 petente seria o foro do Distrito Federal” (da ementa)10.

10. A orientação foi confirmada no CC 21.338, rei. Min. Ruy Rosado, ac. de8-5-2002,  JSTJ,  n. 133, maio 2002. Idem no CC 26.842, ac. de 10-10-2001,  RSTJ, 160:211 (vencidos os Mins. Sálvio de Figueiredo e Pádua Ribeiro).

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Se na demanda houve a intervenção (como autora, ré, opoente ouassistente) da União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal(ou também “fundação federal”, porque considerada integrante do gêneroempresa pública ou do gênero autarquia — STJ, 2-  Seção, CC 1.424 e1.273), desloca-se o foro para aquele competente no âmbito da JustiçaFederal. Caso se trate de comarca em que não há juiz federal, “será com petente o juiz de direito, cabendo recurso para o Tribunal Regional Federal” (CC 15.411, rei. Min. Demócrito Reinaldo, j. 5-12-1995, DJU , 26 fev.1996, p. 3911). ;

Escrevemos, em edições anteriores, que a circunstância de a ação haver?sido proposta pelo Ministério Público Federal, mesmo para a tutela de inte

resse especialmente protegido pela União, tal circunstância, por si só, nãoimplicava competência da Justiça Federal para processar e julgar a demanda, pois a competência ratione ■ materiae  da Justiça Federal, no âmbito civil,ocorre apenas nas causas referidas ná CF, art. 109, III e XI.

Cumpre, no entanto, reconsideremos tal orientação, ponderando queo Ministério Público Federal é órgão da União>  e, assim, sua presençacomo  parte autora  determina a competência da Justiça Federal. Nessesentido julgou a l3 T. do STJ, relator o Min. Teori Zavascki, declarando a

competência da Justiça Federal para processar ACP ajuizada pelo Ministério Público Federal, legitimado à defesa de bens federais, no caso man-guezais situados em terreno de marinha e sujeitos ao poder de polícia doIBAMA (REsp. 440.002, j. 18-11-2004)13.

Caso venha efetivamente a intervir qualquer das pessoas de direito público referidas na Constituição Federal (art. 109,1), competente será aJustiça Federal. Surge indagação, no entanto, quando o dano venha a

ocorrer na área de comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal; poder-se-á, então, com invocação ao art. 109, § 3S, da CF, considerar talcaso como de “delegação de competência” ao juízo estadual, com recurso para o Tribunal Regional Federal?

 Neste sentido, o STJ, por sua lâ Seção, emitiu súmula (em 12-3-1997),com o seguinte teor: “183. Compete ao Juiz Estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil

11. Tratando-se de ação civil pública em que é postulada a tutela coletiva dcumprimento de normas de segurança e medicina do trabalho, competente é  a Justiça do Trabalho — v., nesta obra, o verbete n. 113.

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A restrição “nos limites da competência territorial do órgão julgador”tem dado ensejo a muita controvérsia. A 4âT. do STJ, no julgamento doREsp 253.589, adotou o entendimento de que “a eficácia erga omnes circunscreve-se aos limites da jurisdição do tribunal competente para

 julgar o recurso ordinário” (da ementa); tratava-se, então, de ação civil pública ajuizada pelo IDEC e relativa aos rendimentos de caderneta de poupança em janeiro /l989 (rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar Jr., v.u., j.16-8-2001). Já a 3â T. do STJ, no julgamento do REsp 411.529, de quefoi relatora a Min- Nancy Andrighi, p.m.v. (vencidos os Min. Gomes deBarros e Ari Pargendler), reformou sentença do TJSP, adotando o enten-,dimento de que os efeitos da sentença produzem-se erga omnes, para alémdos limites da competência territorial do órgão julgador; a limitação ter

ritorial não teria incidência aos casos de direitos individuais homogêneosfmas apenas às demandas em defesa de direitos difusos e coletivos (j. 24-6~2008)12- \

Cumpre observar que o Supremo Tribunal Federal considerou-seincompetente para julgar originariamente  ação civil pública ajuizadacontra Ministro de Estado, ou contra quaisquer outras autoridades que emsede penal dispõem de prerrogativa de foro perante a Suprema Corte. Acompetência originária do STF revela-se em numerus clausus no art. 102,

i, da Constituição Federal (Pet. 1.926, medida liminar, dec. do rei. Min.Celso de Mello em 24-2-2000, Informativo do STF , n. 181, e DJU , 2 mar.2000). A natureza da ação civil pública não permite seja confundida coma ação penal condenatória, inexistindo relação de litispendência ou preju-dicialidade entre elas (RTJ, 167:166, rei. Min. Celso de Mello). O STF nãoé competente para processar e julgar originariamente ação civil públicacontra o Presidente da República (RTJ, 159:28, rei. Min. Ilmar Galvão).

 Nesses termos vale mencionar aresto do STJ, por sua 3~ Seção, em

12-A. No caso do REsp 411.529, entidade de defesa do consumidor ajuizaraACP contra banco sediado em São Paulo, pedindo fosse o réu condenado a ressarcirdepositantes por diferenças a menor creditadas em cadernetas de poupança, em janeiro de 1989. O TJSP limitou os efeitos da sentença de procedência apenas aos corren-tista residentes nesse Estado, mas a 3a Turma do STJ ampliou a eficácia do acórdão

 para todos os correntistas residentes no território nacional.A respeito de aspectos da competência em ação civil pública, interessante artigo

da então juíza do TRF da lâ Região, Eliana Calmon Alves, hoje Ministra do STJ (in Monteiro, Meire Lúcia Gomes (coord.)  Introdução ao Direito Previdenciário,  LTr.,1998, pp. 167-78).

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apreciando ação por rito ordinário promovida contra a União Federal, emque diretamente atacado ato de Ministro de Estado; lê-se do decisório queas ações populares, ou civis públicas, ou cautelares, ou de conhecimento,ainda que impugnado ato de autoridade sujeita, na via do mandado de

segurança, ao juízo do Superior Tribunal de Justiça, tais demandas devemser processadas e julgadas perante o juízo de primeiro grau, uma vez quea competência do Superior Tribunal de Justiça (e do Supremo TribunalFederal) é de direito estrito, em numerus clausus.

Outrossim, o princípio é o de que a prerrogativa de foro, unicamente invocãvel nos processos de caráter penal, não se estende às causas de natureza civil  (Pet. n. 1.143, 3a Seção, rei. Min. Arnaldo da Fonseca, ac.de 27-10-1999, RF, 356:212).

106-A. Ação civil pública. Projeto de lei de modificação

Encontra-se em tramitação, na CCJ da Câmara dos Deputados (outubro de 2009), projeto de lei de iniciativa do Poder Executivo — PL n. 5.139/2009, propondo uma nova Lei da Ação Civil Pública, a qual passará a englobar as disposições constantes de diversos estatutos relativas aações de natureza coletiva; assim, serão revogadas normas processuais

contidas no Código de Defesa do Consumidor, no Estatuto do Idoso, noEstatuto da Criança e do Adolescente e em outras leis. O Projeto resultoude longos debates em Comissão criada no Ministério da Justiça, a qual oelaborou com base principalmente em anteriores estudos e anteprojetos deCódigo Brasileiro de Processos Coletivos12'8.

 No alusivo à competência, a previsão do Projeto é a seguinte:

“A rt 4° É competente para a causa o foro do local onde ocor

reu ou deva ocorrer o dano ou o ilícito, aplicando-se as regras da  prevenção e da competência absoluta.

§ I a Se a extensão do dano atingir a área da capital do Estado, será esta a competente; se também atingir a área do Distrito Federal, será este o competente, concorrentemente com os foros das capitais atingidas.

12-B.A comissão íeve como relator o prof. Luiz Manoel Gomes Junior, e nelao Instituto Brasileiro de Direito Processual foi representado pelos Profs. Ada Pellegri-ni Grinover, Athos Gusmão Carneiro, Petrônio Calmon Filho e Aluisio Gonçalves deCastro Mendes.

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§ 2° A extensão do dano será aferida, em princípio, conforme indicado na petição inicial.

§ 3~ Havendo, no foro competente, juízos especializados em razão da matéria e juízos especializados em ações coletivas, aqueles 

 prevalecerão sobre estes

O problema do foro competente, já foi dito, tomou-se e ainda é o“calcanhar de Aquiles” do processo coletivo brasileiro, até porque apre-senta-se inerente à eficácia da sentença, proferida em processos coletivos,a possibilidade, em conformidade com seu objeto, de ultrapassar os limi- *tes de competência territorial do magistrado prolator. Para tanto, afigura~se*necessário e de relevante interesse público que a ação civil pública — que

 pelo projeto, como exposto, irá englobar as demandas coletivas em gera^ — seja proposta perante seu juiz natural, com afirmação peremptória dó princípio da prevenção e das regras inerentes à competência absoluta. Sea demanda for proposta perante juiz incompetente, deverá este declarar deimediato sua incompetência e ordenar a remessa do processo ao juízo queconsiderar competente, sendo-lhe defeso proferir qualquer decisão, mormente no alusivo a medidas antecipatórias de tutela.

O projeto, em seu art. 4Ú, caput, considera competente o foro do localonde ocorreu ou deva ocorrer (ameaça de lesão) o dano ou o ilícito, ouseja, o juiz mais próximo dos fatos, que poderá pessoalmente (princípioda imediação)  inquirir as testemunhas e coordenar as provas técnicas e

 periciais, bem como as tentativas conciliatórias.

Caso, no entanto, o ato danoso cause prejuízos no território de mais de uma comarca, a ação poderá ser proposta no foro de qualquer das comarcas atingidas, e a competência (sempre competência absoluta) firmar--se-á pela prevenção e, quanto a posteriores demandas, pela conexão.

Se a extensão do dano atingir igualmente a área da Capital do Estado(v.g., a poluição do rio Tietê, ou da baía de Guanabara, ou do Rio dos Sinos-Lago Guaíba), então haverá motivo suficiente para que se imponha acompetência, como “juiz natural’, de juízo sediado no foro da própria Capital (art, 4-, § 1-). Por similares motivos, em se cuidando de danos de âmbito nacional — pensemos na disseminada distribuição de alimentosou remédios adulterados, óu em condutas monopolistas de grandes empresas —, então o juízo natural será o do foro de Brasília, em concorrênciacom os foros das capitais dos Estados igualmente vulnerados pelo dano. A mesma solução impõe-se naqueles casos em que se apresente incerto o 

 próprio local do dano, o qual pode ter acontecido em lugares diversos e

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dificilmente deterraináveis, ou de forma difusa pelo território nacional,como, por exemplo, nos casos de publicidade enganosa veiculada pelao-rande mídia.

A solução adotada pelo Projeto n. 5.139/2009 busca elidir, tantoquanto possível, os males do subjetivismo na determinação do foro com petente, melhor preservando os princípios fundamentais do juiz natural eda efetividade da tutela nas ações coletivas; e assim igualmente contribui

 para o afastamento dos radicalismos e obsessões não raramente manifestados pelos partícipes dessas demandas (Cândido Dinamarco lembrou sermister “equilibrar o pêndulo da História”, evitando que o processo fiquea serviço apenas de determinados valores, em detrimento ao equilíbrio com

outros valores igualmente ponderáveis para a vida em sociedade (Prefácioà obra Ação civil pública, de Pedro Dinamarco, Saraiva, 2001, p. XIII).

O § 3- do art. 4S do Projeto dispõe sobre a hipótese em que, no foroda causa, existe juízo especializado em razão da matéria e igualmente

 juízo com especialização em ações coletivas. Nesses casos, a opção foi pelo ajuizamento da demanda na vara competente em razão da matéria,ou seja, em razão do direito substantivo invocado como incidente à lide; eessa solução afigura-se a mais conveniente, pela valorização dos fundamentos da competência ratione materiae. E vale ponderar que, ao final dascontas, o juiz titular de “Vara de ações coletivas” é especializado em ordenar um determinado “tipo de processo” e de “procedimento”, mas que

 pode versar os mais diversos assuntos da vida em sociedade. A escolha pelo juízo competente em razão da matéria, do objeto do conflito coletivo,evitará que sobre um mesmo tema possam surgir posições divergentes emum e outro juízo, com sérios prejuízos à segurança jurídica.

O Projeto igualmente dispõe quanto ao foro competente para a liquidação, execução e cumprimento das sentenças  proferidas na ação civil pública. A preferência volta-se para a liquidação e execução coletiva, promovida por qualquer das entidades legitimadas a propor a ação coletiva (ou pelas vítimas e respectivos sucessores). Caso a pretensão ou vantagem de pessoa beneficiada pela tutela coletiva (vítima do dano) possa ser“destacada” (como em princípio será possível em se tratando de direitosindividuais homogêneos), é admitido possa tal pessoa ajuizar liquidação 

e execução individual, e nesse caso não haverá a “prevenção do juízo daação coletiva originária” (Projeto, art. 41, caput). A liquidação individualou o cumprimento individual da sentença serão feitos em processo autô-

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nomo, sob as regras dos §§ l2 e 2S do art. 41 do Projeto, com foros concorrentes a critério do requerente: o foro e juízo do processo (coletivo) deconhecimento; o foro do domicílio do requerente individual ou o foro dolocal onde se encontrem bens sujeitos à expropriação.

Evidentemente, as normas aqui comentadas estão sujeitas a modificações pelo Congresso Nacional e, assim, será prudente que os leitoresverifiquem qual a situação legislativa atualizada.

106-B. Ação por improbidade administrativa

A ação de improbidade administrativa, com assento constitucional'1(CF 37, § 4~), busca proteger relevantes interesses da comunidade e da

cidadania; tal como a ação popular ou a ação civil pública, serve ao supe-^rior objetivo de tutela ao direito transindividual e democrático “a um governo probo e a uma administração pública eficiente e honesta” (TeoriZavascki, Processo coletivo — tutela cie direitos coletivos e tutela coletiva de direitos, RT, 2006, p. 103-5).

Acentuada divergência ocorreu quanto ao juízo competente para processar e julgar ação civil por improbidade administrativa, quando esteja na posição de demandada alguma autoridade que goze, no plano penal,

de prerrogativa de função.Ante a gravidade das sanções aplicáveis em caso de procedência da

demanda (inclusive perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública), é sustentado com veemência que, em tais casos, a competência se deslocaria para o Tribunal competente no âmbito criminal. Essa tese,todavia, resultou vencida, embora por voto de desempate, no julgamento,

 pela Corte Especial do STJ, da Recl. 591, em que reclamante um juiz deTRT (rei. Min. Nilson Naves, ac. de Ia-12-1999). Aos interessados pelo

relevante tema recomenda-se a leitura do inteiro teor do aresto,  RePro,703:301-327.

O debate foi renovado quando do julgamento do HC 22.342 perantea Corte Especial do STJ, sendo então reiterado, p. m. v., que compete ao

 juiz de primeira instância processar e julgar a ação civil pública de improbidade administrativa, “ainda que no polo passivo figure autoridade quedetenha foro especial por prerrogativa de função, tendo em vista que ashipóteses de foro especial previstas na Constituição Federal são taxativas”.

Foram em número de 10 os votos vencedores, e de 8 os votos vencidos(rei. Min. Felix Fischer, ac. de 18-9-2002).

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O dissenso de opiniões, revelado tão nitidamente na doutrina e na jurisprudência, veio por fim a ser objeto de providência legislativa, pois aLei n. 10.628, de 24 de dezembro de 2002, alterando o art. 84 do Códigode Processo Penal, e aditando-lhe dois parágrafos, atribuiu ao § 2e a reda

ção seguinte:

“§ 2~ A ação de improbidade, de que trata a Lei n. 8.429, de 2  de junho de 1992, será proposta perante o tribunal competente para 

 processar e julgar criminalmente o funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de função  

 pública, observado o disposto no § 1~”.

Escrevemos, na edição anterior, que, embora o CPP não devesse, a

rigor, dispor sobre competência em ação de natureza cível, os novos §§ 1-e .2fi do art. 84 desse Código tornavam certo que a prerrogativa de foro

 permaneceria ainda que o inquérito ou a ação civil fossem iniciados após a cessação do exercício da função pública pelos demandados13.

Ocorre que a legitimidade constitucional desses §§ le e 2-, que visaram beneficiar ex-autoridades, foi questionada no Supremo Tribunal Federal na ADI 2.797, proposta pela Associação Nacional dos Membros doMinistério Público, tendo o relator, Min. Sepúlveda Pertence, sublinhado

que a alteração constituía “evidente reação legislativa ao cancelamento daSúmula 394”, pela Corte14.

Após longo debate, o tribunal, em 15-9-2005, decretou a inconstitucionalidade das normas, sob o fundamento maior de que a competência do

13. Por sua Corte Especial, decidiu o STJ que, mesmo depois da Lei n. 10.628,de 24-12-2002, não lhe assiste competência para “decidir requerimento de abertura de

 processo ou procedimento de improbidade, regulado na Lei n. 8.429, de 2 de junho de1992”, porquanto a representação do interessado deve ser dirigida à autoridade administrativa competente para instaurar a investigação ou ao Ministério Público; assim, “acompetência do Superior Tribunal de Justiça, na hipótese de Governador de Estado,cinge-se às ações judiciais decorrentes da apontada improbidade, propostas pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada” (Ag. Reg. na Pet. 1.938, rei. Min.Menezes Direito, ac. 16-6-2003).

14. Do texto da decisão consta inclusive a seguinte pergunta: “pode o Congresso Nacional, no exercício de sua competência legislativa comum, modificar, sobqualquer aspecto, o rol de atribuições jurisdicionais originárias das Cortes acima refe

ridas, para, nesse complexo de poderes, e mediante legislação de caráter meramenteordinário, introduzir novas competências sem que, com tais alterações, incida emviolação ao textò constitucional? Tenho para mim que o Congresso não dispõe de tal poder” (Informativo do STF, n. 370, nov. 2004).

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Supremo é fixada de forma exaustiva na Constituição Federai, não existindo possibilidade de ampliar essa competência mediante lei ordinária(Min. Marco Aurélio), pois não é lícito ao Congresso dispensar determinado privilégio, embora de índole funcional, a pessoas que não mais se

acham no desempenho da função pública (Celso de Mello). Votaram pelainconstitucionalidade, além do relator e dos julgadores acima referidos,também os Ministros Joaquim Barbosa, Ayres Britto, Cezar Peluso e Carlos Velloso; ficaram vencidos os Ministros Eros Grau, Gilmar Mendes eEllen Gracie.

Em recente aresto, a Corte Especial do STJ afirmou que compete %este tribunal o julgamento dós membros dos Tribunais de Contas Estaduais processados criminalmente, portanto excetuados os casos de prática de

atos de improbidade administrativa, tal como os de suposta contratação^irregular de parentes e enriquecimento ilícito, os quais devem ser apuradosem ação própria de natureza civil (Recl. 2.723, Corte Especial, rei. Min.Laurita Vaz, j. 15-10-2008).

Apreciando ação civil pública por improbidade administrativa promovida contra ex-Ministro do Poder Executivo, o STJ decidiu (com remissão ao julgamento pelo STF da ADI 2.797 e a outros precedentes) que oforo especial por prerrogativa de função, em caso de infração penal, não

se estende às causas cíveis derivadas de atos de improbidade (Lei n.8.429/92), cabendo a juiz federal o julgamento da demanda, em primeirainstância (REsp 896.516, lâ Turma, rei. Min. Luiz Fux, j. 17-2-2009).

107. Ação popular Nos termos do art. 5Sda Lei n. 4.717, de 29-6-1965, cumpre buscar

a “origem do ato impugnado55para determinar qual o juízo competente para processar e julgar a ação popular, que nos termos do art. 5S, LXXIII,

da Constituição de 1988 visa anular não somente os atos lesivos ao patrimônio público ou de entidades de que o Estado participe, como ainda osatos ofensivos à moralidade administrativa, ou prejudiciais ao meio am

 biente ou danosos ao patrimônio histórico e cultural.

Destarte, se o ato impugnado emana de órgão ou autoridade da União,de autarquia ou de entidade mantida pela União, competente será a Justiça Federal, correndo a demanda no juízo federal da seção judiciária onde o ato fo i praticado ou foram produzidos os efeitos danosos.

Quando o ato é produzido por autoridade ou órgão estadual, ou deentidade mantida pelo Estado, competente será o juízo que, de conformi-

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dade com a lei de organização judiciária local, tiver a atribuição de julgaras causas de interesse da Fazenda Estadual.

Já nos casos de atos praticados por autoridade municipal, competen

te é o juiz de direito da comarca e, se existente mais de um juízo, seráaquele a quem caiba processar e julgar as causas de interesse da Fazendamunicipal.

A respeito, o STJ, por sua 3â Seção, editou em 27-5-1998 dois enunciados sumulares, a saber:

“208. Compete à Justiça Federal processar e julgar Prefeito  Municipal por desvio de verba sujeita à prestação de contas perante órgão fed eral”

”209. Compete á Justiça Estadual processar e julgar Prefeito  por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”.

O Supremo Tribunal Federal, em casos de ação popular, se tem afirmado incompetente para julgá-las originariamente, salientando ainda serincabível ação popular contra ato jurisdicional (Ag. Reg. na Pet. 2.018, rei.Min. Celso de Mello, j. 22-8-2000).

A ação popular ajuizada contra sociedade de economia mista,  talcomo a Petróleo Brasileiro S.A. — Petrobras, é de competência da JustiçaEstadual, sem embargo de ser a União sua principal acionista. Assim temdecidido o STJ, como consta da decisão lavrada pelo Min. José Delgadono CC 20.320, j. 16-5-2001. Cumpre ressalvar a hipótese de que a Uniãovenha a intervir na causa, demonstrando jurídico interesse. Igualmente foiconsiderada competente a Justiça Estadual em ação popular ajuizada contra o SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em face

de sua natureza jurídica de direito privado (REsp 433.427, rei. Min. Denise Arruda, ac. 19-4-2005).

Vale anotar que o Supremo Tribunal Federal editou as seguintes súmulas:

“508. Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias,  processar e julgar as causas em que fo r parte o Banco do Brasil S.A.”.

“517. As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal, quando a União intervém como assistente ou opoente ”.

“556. E competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista ”.

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Igualmente o Superior Tribunal de Justiça, por sua Corte Especial,editou (em 14-5-1992) súmula do seguinte teor:

“42. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes prati

cados em seu detrimento”.Façamos consignar que relativamente às ações populares não existe

 previsão constitucional de prerrogativa de função; dessa forma, “qualquerque seja o requerido na ação popular, ainda que se trate de ocupantes decargo ou função que lhe confira foro criminal original em tribunal, a com

 petência para ações populares contra eles ajuizadas será do juízo de pri-.^meira instância”, e assim tem decidido o Supremo Tribunal Federal (PedroRoberto Decomain, Dialética 70:123).

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A participação da União ou de entidade federal como amicus curiae não a inclui no conceito de parte e não importa, portanto, alteração decompetência da Justiça comum para a Justiça Federal. A respeito dasquestões e dúvidas suscitadas pelo atípico “deslocamento de competência”

 previsto no art. 5-, parágrafo único, da Lei n. 9.469/97, v. nossa obra Intervenção de terceiros (18. ed., Forense, n. 71-A e 71-B).

109. Observações sobre a competência da Justiça Federal

A competência das “jurisdições especiais”, como já foi dito (verbetes n. 17 a 21), é aquela prevista taxativamente na Constituição da Repú--'

 blica; por exclusão, as demais causas são processadas e julgadas perantea Justiça comum, ou Justiça ordinária, integrada pelos juizes e tribunai|

dos Estados e do Distrito Federal.Lei ordinária, ou mesmo lei complementar, não poderá ampliar nem

restringir a competência das “jurisdições especiais”. Admissível apenas,no plano jurisprudencial, em determinados casos aceitar uma competência“implícita”; assim, v. g., o art. 109,1, da Constituição Federal alude à com

 petência dos juizes federais para o julgamento das causas em que forem parte ou interveniente a União, entidade autárquica ou empresa públicafederal, porém decisões judiciárias acrescentam os casos em que seja

 parte igualmente fundação de direito público federal, sob o fundamentode que as fundações podem ser equiparadas ao gênero autarquia ou aogênero empresa pública (v. g., a antiga LBA — ut CC  207, STJ, 2~ Seção,

 j. 13-9-1989, rei. Min. Bueno de Souza, e CC 6.650, STF, Pleno, rei. Min.Moreira Alves, RTJ, 122:495; o IBGE, ut  CC 213, STJ, 2â Seção, j. 28-6-1989, rei. Min. Athos Carneiro).

Se uma demanda foi ajuizada perante a Justiça comum, e a União ouente público federal manifesta interesse (deve ser um interesse jurídico) 

em nela ingressar como assistente  (tanto litisconsorcial como assistentesimples)2, ou apresenta ação de oposição (CPC, art. 56), ou a lide é denunciada à União ou ente público federal (STJ, 2~ Seção, CC 12.586, j. 29-3-1995, rei. Min. Costa Leite), caberá ao juiz federal (e não ao juiz da causa)

2. De acordo com a Súmula 61 do antigo Tribunal Federal de Recursos: “Para configurar a competência da Justiça Federal é necessário que a União, entidade au

tárquica ou empresa pública federal, ao intervir como assistente, demonstre legítimo interesse jurídico no deslinde da demanda, não bastando a simples alegação de interesse na causa”.

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apreciar conclusivamente da legitimidade do pedido de intervenção ou deoposição, e aceitá-lo ou não3,4,5e5'A.

Essa orientação veio a ser sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça, por Corte Especial, sessão de 7-2-1996, nos termos seguintes:

“Súmula 150 — Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas

Assim, em princípio não caberá ao juiz estadual aquilatar da ocorrência, ou não, do legítimo interesse da União para participar do feito.Todavia, aqui é preciso fazer uma distinção, admitindo seja repelida de

 plano, sem embargo da Súmula 150, a intervenção solicitada pela Uniãoquando sem fundamento algum razoável, ou por motivo de absoluta im possibilidade física; assim tem sido decidido, v. g., em casos em que aUnião invoca domínio sobre terras de antigos aldeamentos indígenas,desde muitíssimos anos “registradas como sendo de particulares e sobreos quais estão construídas cidades” (STJ, REsp 114.359, 4- Turma, rei.Min. Ruy Rosado, ac. de 9-9-1997, RSTJ , 103:285).

A ocorrência de “interesse jurídico”, de molde a legitimar a inter

venção de pessoa jurídica de direito público, foi dispensada pela Lei n.9.469, de 10-7-1997, art. 5S, parágrafo único, sendo considerados suficientesos “reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica” que a decisão

3. Caso a União venha a ser admitida como assistente em liquidação de sentença proferida na Justiça Estadual, desloca-se a competência para a Justiça Federal, poisentão não se aplica o princípio da perpetuatio jurisdictionis (STJ, 4â Turma, REsp 586,

 j. 20-1-1990, rei. Min. Sálvio de Figueiredo).

4. Em caso de processo de conhecimento em que um dos réus foi a Caixa Econômica Federal, a ação, processada no juízo federal, resultou procedente apenas contraa ré pessoa jurídica de direito privado. Assim, a execução da sentença terá curso na

 justiça Estadual, deixando de incidir a norma do art. 575, II, do Código de ProcessoCivil (STJ, 2- Seção, CC 1.490, j. 10-4-1991, rei. Min. Athos Carneiro).

5. Cuidando-se de disputa possessória entre particulares, a só circunstância dea área encontrar-se em terrenos de marinha não acarreta a competência da JustiçaFederal (CC 31.973, rei. Min. Ruy Rosado, dec. de 24-8-2001, com remissão a precedentes).

5-A. No caso de cumprimento de sentença  oriunda da Justiça Estadual, caso

nesta etapa a União venha a ingressar como assistente, a causa desloca-se para a  Justiça Federal. Assim, a competência funcional prevista no art. 475-P, II (antigo 575,II) cede ante a competência constitucional ratione personae do art. 109,1, da CF (CC41.705, lâ Seção, rei. Min. Luiz Fux, j. 25-8-2004).

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da causa possa ocasionar em detrimento da pessoa jurídica. E esta normalegal (diga-se que neste ponto de duvidosa constitucionalidade) prevê o“deslocamento de competência” (sic) apenas nos casos em que a entidadede direito público, que interveio na causa sem ter interesse jurídico pro

 priamente dito, venha a recorrer  (a respeito do tema, v. Aluisio Gonçalvesde Castro Mendes, Competência cível da justiça federal,  Saraiva, 1998,item 4.1.4, letra b,  p. 66-8; nosso  Intervenção de terceiros,  Saraiva, 18.ed., verbetes 71-A e 71-33).

Se o magistrado federal entende inexistir interesse da União na causa, denegando, v. g., a denunciação da lide à União Federal ou excluindo,do processo o ente federal, determinará a devolução ou a remessa dosautos ao juízo estadual; e o eventual reexame dessa decisão caberá, me

diante agravo, ao Tribunal Regional Federal. ^Enquanto não reapreciada a matéria, “terá curso o processo perante

o Juízo Estadual” (STJ, 2- Seção, CC 17.874, rei. Min. Waldemar Zveiter, j. 11-12-1996). Assim também no CC 16.525, rei. o Min. Sálvio de Figueiredo: “Havendo decisão do Juízo federal de 1~ grau, no sentido de excluirdo feito a União, mercê da ausência de interesse, ainda que pendente deagravo tal decisão, que além de não julgar a lide não põe fim ao processo,competente para persistir no processamento da causa, pelo menos até

eventual reforma daquela decisão, é a Justiça estadual”.O STJ, a respeito, editou a Súmula 224, nos termos seguintes:

“Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o JuizEstadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir osautos e não suscitar conflito” (Corte Especial, 2-8-1999).

110. Competência recursal. Súmula 55 do STJ

 Neste tema têm surgido dúvidas a respeito da competência recursal, dúvidas que deveriam ser afastadas pela aplicação da regra de que as decisões dos juizes estaduais somente podem ser revistas por tribunal estadual, e as decisões dos juizes federais somente por tribunal federal6.

. 6. Ao examinar a apelação, o Tribunal de Justiça entendeu ser o feito de competência da Justiça Federal, e remeteu o processo diretamente ao Tribunal Regional Federal. Este suscitou conflito negativo perante o Superior Tribunal de Justiça argumentando, e bem, que somente o Tribunal de Justiça pode anular sentença de juiz estadual.Todavia, o STJ, por sua l~ Seção, sendo relator o Min. Pádua Ribeiro, atalhou caminhoe desde logo anulou a sentença do magistrado estadual, sob o fundamento de que o

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Assim, se o juiz estadual decide, ele mesmo, indeferir postulação daUnião visando intervir na demanda, tal decisão somente poderá ser revista

 pelo tribunal do Estado, ao qual caberá anulá-la e determinar a remessa dosautos à Justiça Federal (STJ, 2- Seção, CC 2.312, j. 29-4-1992, rei. Min. Athos

Carneiro — ver íntegra do acórdão no site <www.saraivajur.com.br >).Se o juiz federal resolve admitir a mencionada intervenção, quem a

tanto se oponha deverá recorrer ao Tribunal Regional Federal.A respeito, o Superior Tribunal de Justiça aprovou a Súmula 55, com

a redação seguinte:

“Tribunal Regional Federal não é competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz estadual não investido de juris

dição federal” (Corte Especial, em 24-9-1992).Seguindo a mesma sistemática, o STJ editou nova Súmula, sob o n.

225 e com o teor seguinte:

"Compete ao Tribunal Regional do Trabalho apreciar recurso contra sentença proferida por órgão de primeiro grau da Justiça Trabalhista, ainda que para declarar-lhe a nulidade em virtude de incompetência” (Corte Especial, em 2-8-1999).

Encontro alguns corolários lógicos deste princípio fundamental, em bora nem sempre observados nas decisões dos tribunais. Por exemplo:

1. Se autarquia federal ingressa como assistente de uma das partes,após proferida a sentença, a causa não se desloca da Justiça Estadual paraa Justiça Federal, pois o Tribunal Regional Federal não poderia exercer

 juízo de revisão sobre a sentença de juiz estadual; aliás, o assistente rece be a causa “no estado em que se encontra” — Código de Processo Civil,art. 50, parágrafo único. As normas constitucionais, inclusive em matéria

de competência, devem merecer exegese sistemática. V.  Constituição Federal, art. 108, II6A. V., nesta obra, o verbete n. 103.

Superior Tribunal de Justiça exerce jurisdição sobre as Justiças Estadual e Federai e, por isso, ao examinar conflito de competência, poderá também anular sentença proferida por magistrado de qualquer das citadas Justiças (CC 15.370, j. 8-3-1996).

6-A. A l â Seção do STJ, no entanto, julgou que mesmo em caso de intervençãoda Caixa Econômica Federal — empresa pública federal, após o julgamento de primeiro grau da justiça comum estadual, competirá ao Tribunal Regional Federal o julgamento da apelação interposta (CC 38.790, j. 27-8-2003). Esta decisão foi tomada

 por cinco votos contra quatro, restando vencidos os Min. Gomes de Barros (relator),

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2. Mesmo quando for impetrante pessoa de direito público federal,o mandado de segurança contra ato jurisdicional de juiz estadual  é decompetência do tribunal local, salvo se o juiz estadual estiver no exercíciode competência federal delegada. V. Constituição Federal, art. 108,1, c.

3. A ação rescisória de acórdão de tribunal ou juiz estadual, em queautora, v. g., a União Federal ou autarquia federal, é de competência do tribunal estadual, mesmo porque, pela Lei Maior, a competência de Tri

 bunal Regional Federal limita-se às “ações rescisórias de julgados seus oudos juizes federais da região”.

Se negado provimento à rescisória, eventual ofensa ao art 109,1, daConstituição Federal poderá ser corrigida pelo Pretório Excelso, na via dorecurso extraordinário.

£

V., a respeito, o verbete n. 105.4. Entendendo o Tribunal de Justiça que a competência para a causa

seria da Justiça Federal, “haverá de determinar seja a ela remetida, após anular os atos decisórios.  Incompetência do Tribunal Regional Federal

 para rever ato de juiz a ele não vinculado, a teor da Súmula 55” (STJ, 3aTurma, REsp 74.370, rei. Min. Eduardo Ribeiro, j. 9-10-1995,  DJU, 20 nov. 1995, p. 39590).

Vale sublinhar que as regras acima aludidas encontram exceção, comoestá na Súmula, nos casos em que o juiz estadual exerce “jurisdição federal”,conforme previsto no art. 109, § 3S, da Constituição Federal, hipóteses emque o colegiado recursal será o Tribunal Regional Federal — art. 109, § 42(STJ, lâ Seção, CC 02, j. 27-6-1989, rei. Min. José de Jesus Filho).

Estes, os princípios até agora consagrados. Todavia, contrariando talorientação — e como exposto no verbete 105, parte final —, a lâ Turmado STJ veio a afirmar que é de competência originária do Tribunal Regional Federal  o julgamento de mandado de segurança impetrado porempresa pública federal (a CEF) contra ato praticado por Juiz de Direito (RMS 18.040, rei. Min. Teori Zavascki, ac. 3-2-2005). Tratou-se, segundoo aresto, de afirmar o princípio da prevalência do órgão judiciário da Uniãosobre o do Estado-Membro, conjugado com o princípio da hierarquia, ouseja, sendo o ato praticado por juiz, o julgamento deverá caber ao órgão

José Delgado, Francisco Falcao e Franciulli Neto. No voto do redator designado parao acórdão, Min. Teori Zavascki, são feitas referências a precedentes do STF e a acórdãosda 2- Seção do STJ nos CC 27.007 e 38.597.

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 judiciário de segunda instância. No voto condutor consta que “soluçãosemelhante tem sido dada para as ações rescisórias de sentenças proferidas pela Justiça dos Estados quando nelas figurar, como parte ou interveniente, um ente federal”, anotando-se como precedentes os CC 5.427,2- Seção,rei. Min. Cláudio Santos e REsp 94.332, 4- Turma, rei. Min. Sálvio deFigueiredo). Foi, outrossim, invocado nesse sentido o precedente do Su

 premo Tribunal Federal no RE 176.881 (Pleno, maioria de cinco votos a quatro, rei. desig. Min. Ilmar Galvão, ac. de 13-3-1997).

Consideramos, todavia, bem mais jurídica e sistemática a solução preconizada no STF, no RE antes referido, no voto do relator originário,Min. Carlos Velloso, e que resultou vencido.

V,, nesta obra, o verbete n. 136.

111. Competência da Justiça Federal de primeira instância

111.1. Competência ratione personae e ratione materiae

 No plano cível, a competência da Justiça Federal de primeira instância define-se ratione personae, pela condição como parte (ou comoassistente da parte) da União, entidade autárquica ou empresa pública

(ou fundação) federal — CF, art. 109,1 — 7e8, bem como nos casos dedemandas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País — CF, art. 109, II (seem lugar do Município, ou da pessoa física, for interessada a União,Estado-Membro ou o Distrito Federal, competente originariamente seráo STF — CF, art. 102,1, e), e bem assim nos casos de mandados de segurança e habeas data impetrados contra ato de autoridade federal — CF,art. 109, VIII.

A 4â Turma do STJ, sendo rei. o Min. Barros Monteiro, com base noart. 109, II, da CF, declarou nula sentença proferida pelo juízo estadualem ação de cobrança ajuizada por pessoa domiciliada no país contra Estado estrangeiro. A rigor, caberia ao Tribunal estadual anular a sentença

 proferida por Juiz absolutamente incompetente, a ele subordinado (Súmu-

7. A circunstância de ser uma das partes empresa concessionária de serviços públicos de energia elétrica não define a competência da Justiça Federal para a causa(STJ, 2ã Seção, CC 2.834, j. 9-9-1992, rei. Min. Fontes de Alencar; CC 28.193, ac. de26-3-2003, rei. Min. Menezes Direito).

8. V. o verbete n. 112.

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111.2. Competência quando for parte instituição estatal de previdência social — INSS

Interessante anotar que a CF, era seu art. 109, § 3-, prevê que ascausas em que forem parte instituição estatal de previdência social e segu

rado “serão processadas e julgadas na Justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários ”, salvo se nessa comarca tiver sedevara da Justiça federal, sendo que o recurso cabível será interposto “sempre 

 para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau” (art. 109, § 4S)10.

Cuida-se de norma com o objetivo de facilitar aos segurados e beneficiários maior facilidade de acesso à Justiça, configurando-se a possibilidade de jurisdição federal “delegada” ao juízo estadual interiorano11.

 Nesses casos, todavia, a competência é “concorrente” e, portanto, osegurado, embora residente em comarca do interior onde não exista juízofederal, pode optar por propor a ação previdenciária perante vara federalda Capital do Estado-Membro; com esse entendimento, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 223.139, rei. Min. Sepúlveda Pertence(ac. de 25-8-1998, Informativo do STF, n. 120, ago. 1998). A opção igualmente poderá ser exercida, a benefício dos segurados, entre o juízo federalcom jurisdição sobre seu domicílio e o juízo da Capital do Estado, confor

me decidido pelo STF nos RE 223.146, 222.063, 224.101, 225.264-RS,rei. Min. Ilmar Galvão (Informativo do STF , n. 148, de 12-5-1999).

10. Algumas dúvidas surgem quando existindo na cidade sede da comarca Varafederal, todavia o segurado é domiciliado em outro município integrante da área territorial da comarca, mas onde se localiza Foro Regional (v. o verbete n. 72). Nesse caso,a ação contra o INSS visando ao recebimento de benefício previdenciário terá curso

 perante a Vara federal, ou deve ser ajuizada perante a Vara estadual sediada no muni

cípio onde mora o autor? Tem-se inclinado a jurisprudência pela competência do juízofederal, porquanto os Foros Regionais implicam mera descentralização de Varas estaduais (para melhor atendimento dos serviços forenses e comodidade dos jurisdiciona-dos), sem prejudicar a circunstância fundamental de que na comarca funciona Varafederal (CC 29.090, rei. Min. Hamilton Carvalhido, dec. de 4-10-2000,  DJU, 22 nov.2000, p. 245; CC 21.281, rei. Min. José Arnaldo da Fonseca).

11. Segundo afirmou o Min. Fernando Gonçalves no CC 29.298, “o entendimento da Corte é no sentido de que, em sede de ação revisional em benefício previdenciário, a competência define-se pelo Juízo Federal, desde que sediado no foro do domicílio do segurado; caso contrário a competência, embora federal, será exercida pela

Justiça Comum Estadual, na forma do art. 109, § 3e, da Constituição Federal” (dec. de5-6-2000).

Quanto aos benefícios acidentários, v., nesta obra, o verbete n. 93.

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Esta orientação vem sendo mantida pelo STF, como se vê do RE 293.244,com a ementa: “Competência dos juizes federais da capital do Estado para o

 julgamento de causas entre o INSS e segurado domiciliado em município sob jurisdição de outro juiz federal. O art. 109, § 3-, da Constituição apenas fa

culta ao segurado o ajuizamento da ação no foro do seu domicílio, podendoeste optar por ajuizá-la perante as varas federais da capital” (rei. Min. Sepúl-veda Pertence, Informativo do STF , n. 223, abr. 2001).

Finalmente, o Supremo Tribunal Federal aprovou (Tribunal Pleno,sessão de 24-9-2003) enunciado nesse sentido, a saber:

“Súmula 689. O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Estado-Membro”.

£

Muito se questionou, outrossim, no âmbito da terceira Seção do STJ,se o foro do Distrito Federal seria ou não competente para, em competência concorrente, processar e julgar ação proposta, contra o INSS, por segurados residentes em outro Estado da Federação. De início, inclinou-sea jurisprudência pela negativa, inclusive sob o argumento de que “após aregionalização do INSS, não mais se cogita da competência do DistritoFederal para processar e julgar ação ajuizada por servidores ajuizados emoutra Unidade da Federação (Emb. Div. no REsp 149.322, rei. Min. Ha

milton Carvalhido, ac. de 13-12-1999). Seguiram-se muitas decisõesneste sentido.

Todavia, tendo em consideração precedentes do Supremo TribunalFederal, passou a jurisprudência do STJ a aceitar a competência concorrente, como se verifica do aresto no REsp 222.929, era cuja ementa se lê:“Conforme o novo entendimento firmado pela Terceira Seção, no julgamento do Ag. Reg. no REsp n. 223.797 (rei. Min. José Arnaldo da Fonseca), a ação proposta por segurado contra o INSS pode ser ajuizada tanto no foro do seu domicílio quanto no da Capital Federal” (ac. de 16-3-2000,rei. Min. Félix Fischer).

Da ementa nos Emb. Div. no REsp 197.879 consta que “consoanteentendimento preconizado pelo egrégio STF, ainda que o segurado residaem outra unidade da Federação, as ações contra o INSS podem ser ajuizadas na Seção Judiciária do Distrito Federal, em face da faculdade de opção conferida pelo constituinte entre o foro especial (CF, art. 109, § 32) e aquele previsto na norma genérica (CF, art. 109,1)” (rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. de 24-5-2000, DJU, 19 jun. 2000, p. 112; idem nos Emb. Div.no REsp 194.720, 3a Seção, rei. Min. José Arnaldo, ac. de 9-5-2001).

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É competente a Justiça Federal, não a Justiça laborai* para autorizaro levantamento do seguro-desemprego, mantido por recursos arrecadados

 pela União, não havendo qualquer discussão quanto à relação de trabalho(CC 57.520, Seção, relâ Minâ Eliana Calmon, j. 23-5-2007).

111.3. “Outras causas” sob competência delegada da Justiça estadual — CF, art. 109, § 3-, in fin e . Direitos de mineração. SFH. BNDES

Eis a questão: a norma constitucional igualmente dispõe que “a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual”, sempre que a comarca não for sede de Vara do juí

zo federal — CF, art. 109, § 3Q, infine.Pergunta-se: quais serão estas outras causas? Quaisquer feitos? Não.

Estas “outras causas” deverão evidentemente estar compreendidas no elenco do art. 109 da Constituição, devem ser “causas federais”, sob pena deadmitirmos possa a lei ampliar a competência recursal do Tribunal RegionalFederal da área de jurisdição do juiz de primeiro grau — art. 109, § 49.

Pode-se citar, como exemplo de causa prevista no art. 109, § 3S, in 

 fine, a demanda alusiva a direitos de mineração, que deve ser processada,em primeira instância, perante o juiz do local onde se situa a lavra (Dec.-lei n. 227/67, art. 27, VI). Se a causa disser respeito a conflito de interessesentre particulares, não sendo parte nem interveniente a União ou ente

 público federal, o juiz estadual nela exercerá sua própria jurisdição, comrecurso para o tribunal estadual a que se encontra vinculado (v. CC 2.779no Anexo IV; também o CC 21.144, l~ Seção do STJ, ac. de 25-3-1998,

rei. Min. Hélio Mosimann).Todavia, se a União, ou ente público federal, for parte na demanda

(autor, réu, opoente ou assistente), então, se a comarca não for sede de Varafederal, o juiz local exercerá jurisdição “delegada” pela União, com recurso para o Tribunal Regional Federal (art. 109, § 4Q).

A matéria veio a ser objeto de enunciado da Súmula do STJ, do seguinte teor:

“Súmula 238. A avaliação da indenização devida ao proprietário do solo, em razão de alvará de pesquisa mineral, é processadano Juízo Estadual da situação do imóvel” (lâ Seção, em 10-4-2000).

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Outro exemplo: os executivos fiscais federais, por força do art. 15,1,da Lei n. 5.010/66 (que organizou a Justiça Federal de primeira instância),deverão ser ajuizados no domicílio dos devedores e perante os juizes estaduais, salvante se na comarca houver Vara federal12. V.,  nesta obra, overbete n. 98.

Assim também as vistorias e justificações (v. o verbete n. 91) destinadas a fazer prova perante a administração federal, centralizada ou autárquica, devem ser propostas no foro do domicílio do requerente (Lei n.5.010/66, art. 15, II). Vale notar que o inciso IV do mesmo art. 15, que

 prevê o foro federal em ações propostas por sociedades de economia mista com participação majoritária federal, vem de encontro ao art. 109,1, da "'Constituição Federal; aliás, a esse respeito manifestou-se o Superior Tri

 bunal de Justiça por sua Súmula 42: $

“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que éparte sociedade de economia mista e os crimes 

 praticados em seu detrimento ” (Corte Especial, em 14-5-1992).

A mencionada “delegação” de jurisdição federal a juiz estadual reflete-se na indicação do tribunal competente para julgar os conflitos de competência. Quando juiz estadual e juiz federal entram em conflito, acompetência para apreciar o incidente é do Superior Tribunal de Justiça

(CF, art. 105,1, d , infine); porém, se o conflito se estabelece entre juizestadual no exercício da jurisdição federal delegada e juiz federal, competente será o Tribunal Regional Federal (Súmula 3 do STJ), salvante sesediados um e outro em áreas sob jurisdição de Tribunais Regionais Federais diversos, hipótese em que o Superior Tribunal de Justiça conhecerá doconflito (CC 2.779-STJ, j. 28-10-1992, rei. Min. Athos Carneiro).

As autarquias federais podem ser demandadas no foro de sua sedeou naquele em que se acha a agência ou sucursal em cujo âmbito territo

rial ocorreram os fatos geradores da lide, a teor do art. 100, IV, a, do CPC(CC 2.493, rei. Min. Gomes de Barros); assim, ação contra o BNDES  — 

12. Decidiu o Supremo Tribunal Federal, em Tribunal Pleno (RE 90.866, ac. de28-6-1979,  RTJ, 97:351), que, nos casos de execução fiscal da União contra devedordomiciliado em comarca do interior do Estado, competente para o processo é  o juizestadual local, não podendo a União ajuizar a ação na comarca da capital e perante aJustiça Federal (Lei n. 5.010/66, art. 15,1). Assim, como aliás consta do voto do Min.

Thompson Flores, a expressão “permitir”, usada no art. 126 da Constituição Federalde 1969, deveria ser interpretada como eqüivalendo a “estabelecer”.

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 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, autarquia federal, poderá ser ajuizada no foro de sua sede, no caso a cidade do Riode Janeiro; cuidando-se, outrossim» de competência relativa, não poderáo Juiz Federal desta cidade declinar de competência para o foro de domi

cílio da parte autora (CC 28.596, rei. Min. Pádua Ribeiro, dec. de 13-8-2001, DJU, 23 ago. 2001, p. 321; CC 27.223, rei. Min. Menezes Direito,dec. de 11-2-2003).

Também o Instituto Nacional de Propriedade Industrial — INPI  serádemandado no foro do Rio de Janeiro, onde mantém sede (CC 2.860, 2aSeção, rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 26-8-1992).

São de competência da Justiça Federal, outrossim, “todas as causas 

vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação”, pois nelas a Caixa Econômica Federal é litisconsorte necessária (CC 18.919, STJ, lâ Seção, j.9-4-1997, rei. Min. Ari Pargendler)13614.

111.4. Ordem dos Advogados do Brasil — OAB

Também de competência da Justiça Federal as causas em que a Ordem dos Advogados, em sua qualidade de “autarquia profissional especial, com

 perfil de serviço público federal de natureza indireta”, for parte (STJ, lâ

Seção, CC 21.255, ac. de 29-4-1998, rei. Min. José Delgado).Quanto à cobrança pela OAB de anuidades devidas pelos associa

dos, e considerando que a entidade ostenta natureza jurídica de autarquia

13. A Ia Seção do STJ, no CC 28.688, sendo rei. o Min. Milton Luiz Pereira,afirmou a competência da Justiça Federal, conforme a ementa: “Em litígio originadode contrato de financiamento de casa própria, regrado por normas gerais do SFH, ve

rificado que será afetado o Fundo de Compensação de Variações Salariais — FCVS,descortina-se o interesse da Caixa Econômica Federal, ficando configurado o litiscon-sórcio necessário e avivada a competência da Justiça Federal” (ac. de 24-8-2000).

Todavia, remanesce na competência da  Justiça Estadual  processar “ação deexecução hipotecária entre agente financeiro e mutuários, derivada de contrato cele

 brado sem cláusula de cobertura do FCVS” (CC 26.777, 2~  Seção, rei. Min. AldirPassarinho Jr., ac. de 22-9-1999).

14. Apreciando o CC 22.832, relativo a ação de consignação em pagamentoajuizada por mutuário do SFH, o Min. Eduardo Ribeiro, em decisão monocrãtica, deu

 pela competência da Justiça estadual, pois a 2a Seção do STJ tem entendido que a só

circunstância de a demanda envolver o Sistema Financeiro da Habitação não justificaa competência do foro federal: não basta que o ente federal seja interessado na causa, pois necessário que haja assumido a posição processual de autor, réu, assistente ouopoente (dec. de 5-4-1999).

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sob regime especial, prestadora de serviço público de fiscalização da profissão indispensável à administração da Justiça, de início afirmou alâ Turma do STJ, p. m. v., que as execuções deveriam seguir na JustiçaFederal, sob os ditames da Lei n. 6.830/80 — Lei das Execuções Fiscais,

em face das características de contribuição parafiscal (REsp 614.678,rei. Min. Teori Zavascki, ac. 20-5-2004,  Informativo do STJ, n. 209 —maio 2004; Ag. Reg. no REsp 456.798, rei. Min. Francisco Falcão, ac.11-5-2004).

A 2~  Turma, todavia, por aresto de 11-5-2004, sendo rei a Min. ;Eliana Calmon, sustentou que a cobrança de tais anuidades, como não se K destina a compor a receita da Administração e sim da própria entidade,não estará sujeita à incidência da Lei n. 6.830/80 (REsp 462.823, rei. Min.

Eliana Calmon, Informativo do STJ, n. 208 — maio 2004). ^A lâ Seção uniformizou sua jurisprudência no sentido de que a co

 brança das anuidades não é submetida ao rito das execuções fiscais, massim à execução nos termos do CPC   (EREsp 463.258, rei. Min. ElianaCalmon,  DJU, 29-3-2004; EREsp 503.252, rei. Min. Castro Meira,  DJU, 18 out. 2004; EREsp 449.036, rei. Min. Otávio de Noronha, DJU, 13 dez.2004; EREsp 449.372, rei. Min. Otávio de Noronha, j. 13-4-2005), execução processada perante a Justiça Federal.

 No alusivo às Caixas de Assistência dos Advogados,  consideradas“órgãos da OAB” pelo art. 45, IV, da Lei n. 8.906/94, questiona-se secompetente a Justiça Federal ou a Justiça dos Estados, isso porque o § 4~do mesmo artigo dispõe serem as Caixas “dotadas de personalidade jurídica própria”. A 2- Seção do STJ considerou competente a Justiça Federal,visto que os Conselhos Secionais da OAB também são dotados de personalidade própria e nem por isso se desvinculam da Ordem dos Advogadoscomo serviço público federal (CC 29.904, rei. Min. Cesar Rocha; CC

21.749, rei. Min. Cesar Rocha, dec. de 15-10-2001).Em recente decisão, al-S eção do STJ, alterando sua anterior juris

 prudência, passou a admitir a competência da Justiça Federal nas demandas contra Caixa de Assistência, considerando inclusive a posição assumida pela Corte Especial quando do julgamento do CC 36.557 (rei. desig.Min. Franciulli Netto); aceitou, assim, a proposição de que a competênciada Justiça Federal decorre do fato de as Caixas serem órgãos vinculadosà OAB (CC 38.230, v.u., rei. Min. José Delgado, ac. 9-3-2005).

 Nosso ponto de vista é pela competência da Justiça Federal, umavez que a OAB, “dotada de personalidade jurídica e forma federativa”

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(Estatuto da Advocacia, art. 44), possui pecuiiar estrutura, sendo seusórgãos o Conselho Federal, os Conselhos Secionais, as Subseções e asCaixas de Assistência, dos quais apenas as Subseções não dispõem de

 personalidade jurídica própria; ora, como a OAB não existe a não ser  

' através de seus órgãos, é certo que a estes não pode ser atribuída natureza jurídica diversa, capaz de torná-los sujeitos, quando parte em juízo,a diversa jurisdição.

 Nesses termos, era recente manifestação, a 2â Seção reiterou seu posicionamento: “Embora dotada de personalidade jurídica própria, aCaixa de Assistência dos Advogados não se subtrai à condição de órgãoda OAB, circunstância que atrai a competência da Justiça Federal” (CC

37.540, rei. Min. Barros Monteiro, j. 26-2-2003)14~A.Já os Institutos de Advogados, sociedades civis, com personalidade jurídica própria e diversa, não se classificam como órgãos da autarquia, e portanto as causas em que sejam parte serão julgadas pela Justiça Estadual (STJ, CC 37.900, rei. Min. Teori Zavascki, j. 10-12-2003 — Informativo do STJ, n. 195 — dez. 2003).

111.5. Competência nas causas relativas a interesses de servidores 

federaisUma anotação final, mas de todo relevante, pertinente à competência

da Justiça Federal para processar e julgar as ações que digam respeito aoregime jurídico único (de natureza nitidamente estatutária) instituído pelaLei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, para os servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.

Pelo art. 240, e, da aludida lei (haviam sido vetadas pelo Presidente da República as alíneas d e e, mas mantidas pelo Congresso Nacional

 —  DOU , 19 abr. 1991) era assegurado ao servidor regido pela Lei n.8.112/90 o direito de “ajuizamento, individual e coletivamente, frente à 

 Justiça do Trabalho, nos termos da Constituição Federal”. A polêmicasurgida sobre a constitucionalidade desse dispositivo motivou a apresen-

14-A. A 2- Turma do STJ, no entanto, em sede de mandado de segurança, julgou

competente a Justiça estadual para processá-lo e julgá-lo, por cuidar-se de ato de Presidente de Subseção da OAB relativo a processo disciplinar, ato “restrito à esfera desua competência, que não se projeta no âmbito federal” (REsp 235.723, rei. Min. Peçanha Martins, ac. de 19-2-2002, RSTJ, 161:191).

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a competência desloca-se para a Justiça Federal, a quem cabe decidirconclusivamente sobre a denunciação (Ag. Inst. 512.474, rei. Min. LuizFux, dec. de 11-9-2003; CC 41.762, Ia Seção, rei. Min. José Delgado, j.25-8-2004)14'B.

Caso o juiz federal resolva denegar o pedido de ingresso da União,autarquia ou empresa pública federal, não deverá suscitar conflito decompetência, mas sim devolverá o processo, com sua decisão, ao juízoestadual. E também ao juiz estadual, diga-se, não é lícito suscitar conflitonegativo, simplesmente porque não lhe cabe apreciar a procedência, ounão, da petição apresentada pelo ente federal.

Assim, eventual inconformidade com a decisão do juiz federal deve

ser arguida pela União, pela autarquia ou pela empresa pública federalmediante o recurso de agravo, dirigido ao Tribunal Regional Federal daregião.

A respeito, o STJ editou a Súmula 224, nos seguintes termos:

“Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o juizestadual a declinar da competência, deve o juiz federal restituir osautos e não suscitar conflito” (Corte Especial, em 2-8-1999).

A redação da súmula poderia suscitar certas dúvidas, não fora acircunstância de que, com certa frequência, o juiz estadual, por equívoco,defere ele mesmo o ingresso do ente federal e, então, declina de sua com

 petência para o juízo federal. A este, pois, em não encontrando interesse jurídico capaz de legitimar a presença do ente federal, cabe excluí-lo do processo, abstendo-se de suscitar conflito; transcorrido o decêndio recursal, mandará sejam os autos devolvidos à origem.

112. Causas em que é parte autarquia federal ou empresa pública federal. Intervenção em concurso de credores

As autarquias federais e as empresas públicas federais geralmentedesfrutam, por lei, dos privilégios e vantagens processuais da União, eas ações em que são autoras, rés, assistentes ou opoentes correm perante a Justiça Federal (CF, art. 109, I), salvante as causas de falência, de

14-B. Entendendo o juízo federal não existir interesse jurídico da União ou daANATEL para intervir em demanda sobre serviços de telefonia, em que é ré a BrasilTelecom S/A, não haverá como afastar-se a competência da Justiça Estadual (STJ, lâSeção, CC 47.382, rei. Min. Peçanha Martins, j. 11-5-2005).

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acidentes do trabalho, as trabalhistas e as eleitorais15,16,17e 18. V.  o ver bete n. 113.3.

A 3ã Seção do STJ, com invocação ao art. 100, IV, a  e b, do CPC, julgou que o autor, ao demandar contra autarquia federal, deverá fazê-lo no

foro da respectiva sede ou naquele em que se acha a agência ou sucursalem cujo âmbito de atribuições ocorreram os fatos geradores da lide; não pode a autarquia, destarte, ser demandada em qualquer unidade da federa-ção, pois “a competência deve ser determinada com base em critérios razoáveis” (CC 21.652, rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. de 16-12-1998).

Por orientação jurisprudencial, o privilégio é extensivo às fundações >federais, equiparadas para esse fim às autarquias e empresas públicas19. E

15. Decidiu o Supremo Tribunal Federal, em Tribunal Pleno, que a mera intervenção da Caixa Econômica Federal, como assistente simples (ad coadjuvandum) emação entre particulares, invocando a condição de  credora hipotecária, não acarreta odeslocamento de competência para a Justiça Federal, continuando a causa a tramitar

 perante a Justiça comum estadual (RTJ, 97:261). Também em Tribunal Pleno decidiuque a intervenção da União Federal, como assistente simples, em ação trabalhista, nãodeslocava o foro recursal  do Tribunal Regional do Trabalho para o antigo TribunalFederal de Recursos (RTJ, 100:10). Também assim o STJ, p. m. v., no REsp 244, rei.Min. Waldemar Zveiter, vencidos os Min. N. Naves e E. Ribeiro.

 Mas éà Justiça Federal, não à Estadual, que cabe dizer se ocorre, em cada caso, interesse da União (RTJ, 99:1328 e 1382; Súmula 150 do STJ).

 Nos processos de insolvência civil , ainda que autarquia federal seja credora, acompetência é da Justiça Estadual (STF, CJ 6.602-PR, rei. Min. Aldir Passarinho).

16. A jurisprudência do STJ “assentou-se no entendimento de que, nos processosem que se discutem pagamentos relativos a contratos regidos pelo Sistema Financeiroda Habitação, a competência da Justiça Federal somente ocorre quando haja potencialcomprometimento do Fundo de Compensação de Variação Salarial — FCVS”. Assim,a ação de revisão de cálculos, em que mutuário do Sistema de Carteira Hipotecáriadiscute cláusula contratual, visando a revisão de cálculos, sendo réu um agente priva

do no Sistema Financeiro Nacional, será tal demanda de competência da Justiça Estadual (STJ, l â Seção, Ag. Reg. no CC 21.676, j. 22-9-1999, rei. Min. Gomes de Barros).17. “Em princípio, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial — INPI será

demandado no Rio de Janeiro, onde tem a sua sede. Ao autor, porém, é permitidoajuizar a ação no foro do domicílio do outro réu, se assim preferir (art. 94, §  4-, doCPC)” (STJ, 2a- Seção, CC 2.860, j. 26-8-1992, rei. Min. Athos Carneiro).

18. Segundo a Súmula 82 do STJ, “compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os feitos relativos à movimentação do FGTS”,

 pela qualidade da CEF como gestora do Fundo e parte, pois, na demanda. V.  o verbete n. 94.

19. No julgamento do CC 14.746, rei. Min. Costa Leite, decidiu o STJ, 2~ Seção,

que em se tratando de causa contra o IBGE, como fundação federal, competente a justiça federa l , ante a equiparação com os entes autárquicos, “para os efeitos do art.

109,1, da Constituição”.

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isso porque, “embora o art. 109,1, da Constituição Federal não se refiraexpressamente às fundações, o entendimento desta Corte é no sentido deque a finalidade, a origem dos recursos e o regime administrativo da tutela absoluta a que, por lei, está sujeita a entidade fazem dela espécie do•gênero autarquia e, por isso, são jurisdicionadas à Justiça Federal, se instituídas pelo Governo Federal” (STF, RE 127.489, rei. Min. MaurícioCorrêa, em causa em que interessada a Fundação Universidade do Rio deJaneiro, Boletim do STF,  n. 101, mar. 1998).

Já não assim as sociedades de economia mista, relativamente às quaiso STF editou as Súmulas 556  e 517, e o STJ, com a mesma orientação, aSúmula 42, verbis:

“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que éparte sociedade de economia mista e os crimes 

 praticados em seu detrimento ”20 (Corte Especial, em 14-5-1992).

Celso Antônio Bandeira de Mello, confrontando a sociedade de economia mista com a empresa pública, ambas pessoas de direito privado,afirma que, “do ponto de vista do substrato material, só há um traço diferencial. É que uma tem capital exclusivamente de origem governamental

 — empresa pública —:e a outra tem formação compósita de capital governamental e capital privado” (Sociedade de economia mista e empresas públicas; sua atuação na área econômica,  Revista da OAB, Secção doDistrito Federal, 5:83, 1979).

A 2â Turma do STJ reafirmou a competência da Justiça estadual emcaso em que foi ré a Companhia Energética de São Paulo — CESP, sociedade de economia mista dotada de personalidade de direito privado:

 No mesmo sentido a Ia Seção do STJ; assim, em causa em que foi parte a Universidade Federal de Pelotas, fundação de direito público, sendo rei. o Min. MiltonPereira, resultou lançada a ementa a seguir: “As Fundações de Direito Público, criadas

 por lei, instituídas para a gestão de serviço estatal, por suas finalidades e atividadesnão lucrativas (no caso, educação, cultura e pesquisa científica), origem e obtenção derecursos e patrimônio público, devem ser equiparadas à ‘espécie do gênero autarquias’ou, até mesmo, por equiparação, generalizadas como ‘empresas públicas federais’,ficando removidos os óbices para o desfrute do foro federal. Iterativos precedentes doSTF e do STJ” (CC 14.011). ^

20. “Súmula 556-STF : É competente a Justiça comum para julgar as causas emque é parte sociedade de economia mista”.

“Súmula 517-STF:  As sociedades de economia mista só têm foro na JustiçaFederal quando a União intervém como assistente ou opoente ”

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de autarquias federais”, eram consideradas como de competência da Justiça Federal (STJ, l~ Seção, CC 2.378, rei. Min. Demócrito Reinaldo, j.6-12-1991, RSTJ, 44:187;CC 2.419, rei. Min. Pádua Ribeiro, j. 10-2-1992,

 RSTJ, 44:190). V., nesta obra, o verbete n. 98.

Em decorrência, e tendo em vista a causa com mais frequência pro posta por tais entidades, o STJ editou a Súmula 66, do seguinte teor:

“Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal  promovida por Conselho de fiscalização profissional” ( Ia Seção, em15-12-1992).

A Lei n. 9.649, de 27-5-1998, pretendeu, todavia, privar os Conselhos de fiscalização do exercício profissional da natureza jurídica deautarquias corporativas, passando os respectivos serviços (art. 58), a serexercidos “em caráter privado, por delegação do Poder Público, mediante autorização legislativa”; o § 2e do mesmo art. 58 explicitou que taisconselhos, “dotados de personalidade jurídica de direito privado, nãomanterão com os órgãos da Administração Pública qualquer vínculofuncional ou hierárquico”.

Todavia, a competência da Justiça Federal resultou mantida no § 8e,verbis: “Compete à Justiça Federal a apreciação das controvérsias queenvolvem os conselhos de profissões regulamentadas, quando no exercíciodos serviços a eles delegados, conforme o disposto no caput ”21.

Posteriormente, como decorre do julgamento do CC 29.169, rei. oMin. Milton Luiz Pereira, foi declarada sempre competente a Justiça Federal,  lendo-se da ementa: “As contribuições, anuidades e multasexigidas pelos Conselhos de fiscalização profissional não decorrem decontrato de natureza privada e sim de obrigações legalmente estabele

cidas. A alteração da personalidade jurídica da autarquia federal paraente privado (art. 58 da Lei n. 9.649/98) não institui uma relação priva-tística. Não desfigurado o título executivo, a modificação comentada,

 per se ipsum, não altera a situação jurídica anterior, competindo à Justiça Federal, na espécie, processar e julgar a execução forçada” (j. 3-8-

21. Quando a comarca de domicílio do devedor não for sede de vara da JustiçaFederal, prevalece a competência da justiça comum estadual, a teor do art. 109, § 32,da CF e art. 15,1, da Lei n. 5.010/66 (CC 40.284, Ia Seção, rei. Min. Peçanha Martins,ac. 25-8-2004). É caso, assim, de competência “delegada”, cabendo recurso ao Tribunal Regional Federal (STJ, Súmula 3).

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2000). Nos mesmos termos decisão do Min. Francisco Falcão no CC30.649, j. 13-2-200 l)23e23.

Finalmente, a 2- Seção, em aresto relatado pelo Min. Menezes Direito e de interesse do Conselho Regional de Contabilidade de MG, afirmou

a competência da Justiça Federal, sob o fundamento de que o SupremoTribunal Federal, no julgamento da ADIn 1.717-DF, deferira medida cautelar para suspender a eficácia do art. 58, caput  e seus parágrafos, da Lein. 9.649/98 até o julgamento final da ação, com o que o Conselho se mantinha com a natureza jurídica de autarquia federal (CC 25.355-MG, j.22 - 11- 2000) .

Finalmente, por aresto de 7-11-2002, à unanimidade foi julgada procedente a ADIN 1.717, e decretada pelo STF a inconstitucionalidade ^do caput  e dos §§1-, 2-, 4-, 5a, 6-, 7e e 8Qdo art. 58 da Lei n. 9.649/98,constando da ementa a impossibilidade de delegar, “a uma entidade privada, atividade típica de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributare de punir, no que concerne ao exercício de atividades profissionais regulamentadas, como ocorre com os dispositivos impugnados” (.Informativo do STF, n. 292, dez. 2002).

O afastamento da competência da Justiça do Trabalho foi afirmado

 por recente aresto da l â Seção do STJ, nos termos seguintes:“... segundo a orientação desta lâ Seção, a atividade fiscalizatória

exercida pelos conselhos profissionais, decorrente da delegação do poderde polícia, está inserida no âmbito do direito administrativo, não podendo

22. Segundo a 3- Seção do STJ, “em face da suspensão cautelar da eficácia doart. 58,  caput e seus parágrafos (com exceção do § 32) da Lei 9.649/98, na decisão

 proferida na ADIn 1.717/DF pelo STF, as entidades fiscalizadoras de profissões, entreelas o Conselho Federal de Farmácia,  retomaram à condição de autarquias federais, dotadas de personalidade jurídica de direito público’5, permanecendo assim competente a Justiça Federal (CC 33.323, rei. Min. Edson Vidigal, ac. de 13-3-2002).

23. A 1- Seção do STJ entendeu competente a Justiça Estadual   para o julgamento de executivo fiscal  ajuizado por Conselho Regional de Farmácia, quando no domicílio do executado não funciona Vara Federai, caso em que o Juiz de Direito assumecompetência nos termos do art. 109, § 3fi, da CF, integrado pela regra do art. 15,1, daLei n. 5.010/66, recepcionado pela ordem constitucional vigente. Trata-se de  compe tência “delegada”,  tendo a decisão aludido a que o STF mantivera a natureza dos

Conselhos de Fiscalização Profissional como autarquias federais, declarando (ADIn1.717) a inconstitucionalidade do art. 58 e §§ da Lei n. 9.649/98 (CC 40.275, rei. Min.Castro Meira, ac. 11-2-2004, DJU,  15 mar. 2004, p. 145).

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ser considerada relação de trabalho e, de conseqüência, não está incluídana esfera de competência da Justiça Trabalhista.

Ademais, o art. 109, VII, da CF estabelece a competência da JustiçaFederal para processar e julgar os mandados de segurança impetrados

' contra ato de autoridade federal. Cumpre ressaltar que, no julgamento daADI 1.717-DF, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 58 da Lein. 9.649/1998, mantendo a natureza de autarquias federais dos Conselhosde Fiscalização Profissional. Aplicação, mutatis mutandis, da Súmula n.66-STJ” (ac. CC 54.054, lâ Seção, v. u., Denise Arruda, j. 24-5-2006).

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.11 A

VII— as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII ■—a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

 IX   — outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei".A Lei Maior adotou, com tal elenco, um detalhamento que a rigor

seria consentâneo, isto sim, com leis ordinárias, menos difíceis de corrigire de adaptar às contingências de uma realidade social sempre em mutação.E jâ são muitas as dúvidas expostas pelos comentadores, ao impacto da

renovada sistemática.Temos, de início, a relevantíssima questão decorrente da competência

 para o julgamento das causas relativas aos servidores públicos sujeitos ao regime estatutário (não ao regime contratual, submetido às leis do trabalho).Já na anterior edição desta obra, havíamos manifestado nossa opinião nosentido de que permaneceram competentes a Justiça Federal e a Justiçados Estados para dirimir as lides entre o Poder Público e seus funcionários(federais, ou estaduais e municipais) estatutários, quer efetivos como

ocupantes de cargos de confiança, isso ponderando a peculiar eficácia eabrangência das normas de direito administrativo.O Supremo Tribunal Federal, apreciando a ADI-MC 3.395, em que

são requerentes a Associação Nacional dos Juizes Federais do Brasil —AJUFE e Outra, relator o Min. Cezar Peluso, em sessão plenária de 5-4-2006 veio a referendar a liminar  deferida pelo Presidente da Corte nosentido da incompetência da Justiça do Trabalho, vencido o Min. MarcoAurélio. Postularam ingresso no processo, como amici curiae, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e Outras. O mérito

encontra-se ainda pendente de julgamento1(julho de 2009).

1. O Min. Nelson Jobim, como Presidente do STF, apreciando em liminar a ADI3.395, escreveu que “não há que se entender que a justiça trabalhista, a partir do texto

 promulgado, possa analisar questões relativas aos servidores públicos. Essas demandasvinculadas a questões funcionais a eles pertinentes, regidos que são pela Lei 8.112/90e pelo direito administrativo, são diversas dos contratos de trabalho regidos pela CLT.(...) Em face dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade e ausência de pre

 juízo, concedo a liminar, com efeito lex tunc’’. Dou interpretação conforme ao inciso Ido art. 114 da CF, na redação da EC n. 45/2004. Suspendo, ad referendam, toda e qualquer inteipretação dada ao inciso I do art. 114 da CF, na redação dada pela EC n. 45/2004,que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas que sejam

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tência é da Justiça Comum. Precedentes” (da ementa, rei. Min. Teori Zavascki, j .26-3-2008).

Por fim, a Corte Especial do STJ, em 15-10-2008, consolidou a jurisprudência pela edição da Súmula 363, do seguinte teor:

“Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente

Parece claro, de outra parte, que passa à Justiça do Trabalho a competência para o julgamento de questões atinentes a trabalhadores informais, acontratos para serviços eventuais, a empreitadas contratadas diretamentecom o trabalhador pessoa física, causas que versem prestação laborai efetuada por estagiários, por integrantes de “cooperativas” de trabalho etc.2,3e4.

2. No magistério de Sergio Bermudes, “A Emenda Constitucional usa a expressão  relação de trabalho  para indicar relação de emprego. (...) Não se interprete, pois,o inciso I do art. 114, na sua proposição ‘as ações oriundas da relação de trabalho’,como norma que entrega à Justiça do Trabalho o julgamento de todas as pretensõesdecorrentes de um contrato de atividade, sem característica fundamental da relação deemprego, que é a prestação de serviços continuados, num regime de subordinação. Essaespeciosa interpretação levaria para os juízos e tribunais trabalhistas os litígios decorrentes da prestação de serviços dos profissionais liberais, dos empreiteiros, dos autônomos em geral. Interpretação incompatível com a própria natureza da Justiça do

Trabalho. Ramo especializado do Poder Judiciário, a sua competência é matéria deinterpretação restritiva e haverá de ser delimitada pelos fins a que se destina tal segmento da função jurisdicional” (A Reforma do Judiciário pela Emenda Constitucional  

 n. 45, Forense, 2005, p. 81-82).3. Vale mencionar algumas decisões afirmativas da competência da Justiça es

 pecializada, adotadas anteriormente à reforma constitucional:1. Em tema de contribuição assistencial, prevista em Convenção Coletiva de

Trabalho, foi considerada competente a Justiça especializada (lâ Seção, CC 38.472,rei. Min. Luiz Fux, ac. 8-10-2003).

2. O autor, sindicato patronal, cobra contribuições assistenciais devidas porempregados supostamente integrantes de sua categoria econômica. Ação de cumpri

mento de convenção coletiva. Lei 8.984/95. Competência da Justiça do Trabalho (CC43.360, rei. Min. César Rocha, dec. 11-6-2004).3. “Os termos firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia são títulos

extrajudiciais, oriundos de demandas trabalhistas apaziguadas por acordo das partes,cuja execução judicial compete à Justiça do Trabalho (CLT, art. 877-A)” (CC 41.287, 2- Secão, rei. Min. Gomes de Barros, ac. 26-5-2004,  DJU,  7 jun. 2004, p. 157; CC41.088, 2~ Seção, rei. Min. Nancy Andrighi, ac. 25-8-2004).

4. “Compete à Justiça do Trabalho instruir e julgar ação civil pública em que se pretende a tutela coletiva de cumprimento das normas de segurança e medicina dotrabalho”, pois a natureza da relação jurídica substancial determina a competência dasvárias “Justiças” especializadas (STJ, CC 31.469, 2- Seção, rei. Min. Nancy Andrighi,

ac. 27-11-2002, RSTJ, 176:291).4. Diante da nova redação do art. 114 da CF, e seu inciso III, deve considerar-se

 prejudicado o enunciado n. 4 da Súmula do STJ (aprovado em 8-5-1990), segundo oqual “compete à Justiça Estadual julgar causa decorrente do processo eleitoral sindical”.

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Mesmo antes da EC n. 45/2004, a 2- Seção do STJ já havia decididocaber às varas do trabalho conciliar e julgar os dissídios resultantes decontrato de empreitada em que o empreiteiro seja operário ou artífice (CC32.433, rei. Min. Castro Filho), sendo da alçada da Justiça do Trabalho

decidir se o contrato justifica, ou não, a afirmação de sua competência.Mas caso o empreiteiro, pessoa física, por sua vez contrate ajudantes paraexecutar o serviço, transforma-se em empregador, o que afasta a competência da Justiça do Trabalho para o julgamento de dissídio entre ele em

 preiteiro e quem o contratou (CC 89.171, 2- Seção, rei. Min. Gomes deBarros, j. 24-10-2007). >

Vale, no azo, sublinhar que quase todas as relações sociais de cunho patrimonial implicam ou estão vinculadas a uma relação de trabalho, de# prestação de serviços, de forma que, atendendo o princípio da razoabilidade,será necessário, para atrair a competência da Justiça laborai, que a relaçãode trabalho seja predominante no contrato, sob pena de transformarmos aJustiça do Trabalho em Justiça comum, e esta em Justiça Especial (JorgeLuiz Souto Maior, Nova Competência da Justiça do Trabalho, p. 183). Porexemplo, as lides vinculadas a contrato de representação comercial continuam de competência da Justiça comum, por não haver a relação de su bordinação, essencial à relação de emprego (STJ, 2~ Seção, CC 96.851,rei. Min. Carlos Mathias — Desembargador convocado, j. 11-2-2009) (v.o verbete 100-A).

 Neste ponto devemos reiterar que, mesmo sob a renovada sistemática, mantêm-se na competência da Justiça comum as ações por acidente do trabalho — v., a respeito, nesta obra, o verbete n. 93.

Vale referência, ainda, a dois outros aspectos relacionados com otema da competência da Justiça do Trabalho. A antiga questão das deman

das possessórias relacionadas com a relação de trabalho é resolvida pelafixação, em definitivo, da competência da Justiça laborai.

Como escreveu Wagner D. Giglio, com remissão ao magistério deCristóvão Piragibe Tostes Malta, “o que importa é conhecer a natureza dotítulo que autoriza o empregado a ocupar o imóvel”. Assim, se o empregado ocupa o imóvel em decorrência de um contrato de trabalho, como

 Nesse sentido, o STJ, lâ Seção, no CC 48.372, rei. Min. João Otávio de Noronha,com determinação da imediata remessa dos autos para a Justiça do Trabalho (ac. de22-6-2005).

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 parcela integrante do salário, ou se o empregado mora no imóvel em função da natureza das funções que exerce (zelador do prédio, vigia etc.),“então concluímos que a controvérsia sobre o imóvel não deriva de umcontrato autônomo de locação, de natureza civil, mas sim da relação de

emprego, e competente é a Justiça do Trabalho, e não a Justiça ordinária”(revista Magister, v, 5, p. 90)4‘A.

Interessante questão de competência, concernente a desdobramentosdo direito de greve, foi julgada pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal,tendo a Corte decidido pela competência da  Justiça do Trabalho  para

 julgar ação possessória — no caso interdito proibitório — intentada porinstituição financeira contra sindicato de bancários com o objetivo de proibir a ação de “piquetes” na entrada das agências do banco. A maioria,

vencido o relator, entendeu cuidar-se de demanda em função do exercíciodo direito de greve, e não diretamente de proteção ao patrimônio (rei. orig.Min. Menezes Direito, RE 579.648, j. 10-9-2008). Essa diretriz, quanto àcompetência da Justiça do Trabalho para apreciar tal interdito proibitório,vem sendo observada pelo STJ (CC 101.574, Ag. Reg., rei. Min. FernandoGonçalves, j. 25-3-2009).

Impende notar que o art. 114 da CF, em sua anterior redação, atribuíaà Justiça do Trabalho competência para “conciliar e julgar  os dissídiosindividuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores”. Conciliar  e

 julgar: a missão conciliatória era constitucionalmente ínsita à atividade daJustiça laborai, e assim o juiz somente passaria ao processo e ao julgamento após tentadas e malogradas as gestões conciliatórias.

Todavia, pela EC n. 45/2004 o caput   do aludido artigo passou aconsignar: “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:  ...”. Destarte, a atividade conciliatória passou a fundar-se apenas em normas infra-

constitucionais, não apenas naquelas constantes da legislação trabalhista,como também consoante o art. 125, IV, do CPC, pelo qual é facultado ao juiz “tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes” (v. Arion Sayão Romi-ta, artigo na revista Magister , v. 5, p. 66 e s.).

4-A. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar a lide alusiva à reintegração do empregador na posse do imóvel  dado em comodato ao empregado para suamoradia durante o contrato de trabalho, pelas alterações promovidas pela EC n. 45/2004

no art. 114, VI, da CF/88 (STJ, CC 57.524, 2- Seção, rei. Min. Menezes Direito, j.27-9-2006). Com a devida vênia, ponderamos que a competência já era da Justiça la borai anteriormente à aludida Emenda Constitucional.

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A EC n. 45 terá implicado, na expressão de José Acurcio Cavaleirode Macedo, “a efetiva processualização judiciária trabalhista” (revista LTr, n. 69/01-111).

Finalmente, tema eminentemente controvertido o da aplicação, aos processos agora submetidos à competência da Justiça do Trabalho, dasnormas de direito processual civil ou das normas do processo trabalhista. A respeito, o TST editou a  Resolução n. 27,  datada de 16-2-2005,determinando a aplicação das regras processuais da CLT,  salvo paraaquelas ações sujeitas a rito especial, “tais como o mandado de segurança, habeas corpus, habeas data, ação rescisória, ação cautelar e ação de 3consignação em pagamento”(art. I2). Foi também previsto que a sistemática recursal será a constante da CLT, “inclusive no tocante à nomen

clatura, à alçada, aos prazos e às competências” (art. 2fi), e que as custas^recursais devem ser pagas e comprovado seu recolhimento no prazo recursal, a teor dos arts. 789, 789-A e 790-A da CLT (art. 3-, § 2°).  Umtanto enigmática a disposição de que “exceto nas lides decorrentes darelação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela merasucumbência” (art. 5-).

113.1. Ações decorrentes de convenções ou acordos coletivos de 

trabalhoConforme a Súmula 57 do STJ (aprovada pela 1* Seção em 29-9-1992)

era de competência da Justiça comum estadual processar e julgar ação decumprimento fundada em acordo ou convenção coletiva não homologados

 pela Justiça do Trabalho.

Sobreveio, todavia, a Lei n. 8.984, de 7-2-1995, segundo a qual:

“Art. 1° Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os 

dissídios que tenham origem no cumprimento de convenções coletivas de trabalho ou acordos coletivos de trabalho, mesmo quando ocorram entre sindicatos ou entre sindicato de trabalhadores e em

 pregador”.

Em face do novo regramento legal, passou o STJ a considerar superado o aludido enunciado sumular, declarando, v. g., competente a Justiçalaborai para processar e julgar as ações de cobrança de contribuição sindical “prevista em convenções ou acordos coletivos, homologados ou nãona justiça obreira” (CC 41.607, l â Seção, rei. Min. Castro Meira, ac. 9-6-2004).

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tiva de trabalho5. Aliás, assim veio a decidir o STJ, l~ Seção, em ação deconsignação em pagamento proposta por empregador contra diversosSindicatos, relativamente a contribuição sindical (CC 47.466, rei. Min.Castro Meira, ac. 8-6-2005).

113.2. Servidores públicos celetistas

Muitas dúvidas de competência surgiram, mesmo antes da EC n.45/2004, relativamente a demandas propostas por servidores públicos celetistas, convertidos em estatutários pela lei do regime único — Lei n.8.112/90.

Prevaleceu o entendimento de que, mesmo em sendo a ação propos-

ta após a edição da aludida lei, “se o pedido se refere a verbas oriundas de “contrato de trabalho, havidas em data anterior ao citado diploma, a com- petência é da Justiça laborai” (STJ, 3â Seção, CC 14.071, rei. Min. CidFlaquer Scartezzini, ac. de 26-9-1995).

De conformidade com tal orientação, editou o STJ a Súmula 97,verbis:

“ Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação

de servidor público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à instituição do regime jurídico único” (3â Seção, em 3-3-1994).

Também é da Justiça laborai a competência para julgar demandas propostas por servidores em ofícios judiciais não estatizados, pleiteandovantagens ligadas ao exercício de seu trabalho. Assim decidiu o STJ, 2~ Seção, no CC 22.426-SP, sendo rei. o Min. Nilson Naves, ac. de 9-9-1998,sob a ementa: “Serventias não oficializadas. Servidores. Vínculo trabalhista. Reclamação. Em tal caso, a competência é da Justiça do Trabalho, à

vista de precedentes do STJ: CCs 3.156 e 3.383, dentre outros”. Era réu o1le Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo, suscitante o juízo da13â Vara Cível daquela Capital e suscitado o Tribunal Regional do Trabalho da 2~ Região, tendo sido julgado competente o suscitado.

5. Já antes da EC n. 45/2004 foi decidido, no STJ, que se sindicato patronalcobra contribuições assistenciais (alegadamente) devidas por empregados supostamen

te integrantes de sua categoria econômica, cuida-se de ação de cumprimento de convenção coletiva (Lei n. 8.984/95), sendo assim competente a Justiça do Trabalho (CC43.360, rei. Min. César Rocha, dec. de 11-6-2004).

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Todavia, será a Justiça Federal a competente se a demanda versarquestão relativa ao FGTS (CC 21.189,3â Seção, rei. Min. Anselmo Santiago).

 Nos casos de estágio profissional, entendeu a 2- Seção que, por lei,o estágio não cria vínculo empregatício ou mesmo relação de trabalho

entre o estagiário e a empresa, capaz de justificar a competência da justiçaobreira (art. 4e da Lei n. 6.494/77 e art. 62 do Dec. n. 87.497/82), restandocompetente a Justiça comum estadual (CC 29.637, p. m. v., rei. orig. Min.Ari Pargendler, rei para o acórdão Min. Menezes Direito, j. 25-6-2003,

 Informativo do STJ, n. 178, jun. 2003).

Todavia, com a edição da EC n. 45, de 8-12-2004, a competência para julgar as demandas relativas a contrato de estágio profissional  terásido transferida à Justiça laborai.

Muitos Municípios vieram a adotar, nas relações com seus servidores,a legislação trabalhista. Nestes casos, o vínculo entre os “empregados” eo Município mantém caráter estatutário, atraindo a competência da Justiça comum, ou prevalecerá a competência da Justiça laborai?

O STJ, por sua 3a Seção, inclinou-se decisivamente pela competênciada Justiça do Trabalho: “Instituído pelo Município como regime jurídicodos seus servidores o estabelecido pela Consolidação das Leis do Trabalho,fica evidente a competência da Justiça especializada para processar e julgar a reclamação” (CC 15.795, rei. Min. Anselmo Santiago).

Tendo o Município de Santa Cruz do Sul-RS, pela Lei Municipal n.2.447/92, adotado a CLT como regime jurídico único dos seus servidores da Administração Direta, sucederam-se as decisões pela competência deVara do Trabalho daquele município — CC 34.105, rei. Min. Paulo Gallot-ti, dec. de 5-2-2002; CC 34.892, rei. Min. Felix Fischer, dec. de 17-5-2002;CC 38.232, rei. Min. Laurita Vaz, dec. de 3-4-2003.

Entretanto, cuidando-se de servidor contratado para a prestação deserviço público por tempo determinado, no intuito de atender a necessidades temporárias e excepcionais da pessoa de direito público, o STJ vinhadecidindo pela competência da Justiça Federal ou Estadual (v. g., CC33.569, rei. Min. Paulo Gallotti, dec. de 21-5-2002 — reclamatória ajuizada contra a Fundação Nacional de Saúde; CC 38.067, rei. Min. PauloMedina, dec. de 15-4-2003)5'A.

5-A. Tratando-se de funcionário municipal, sob contratação temporária emer- gencial, julgou a 3ã Seção do STJ que, se tal contratação, pelas prorrogações, adquiriu

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Com a edição da EC n. 45, de 8-12-2004, a competência para julgaras demandas relativas a contratos de trabalho por tempo determinado e emcaráter excepcional, avençados com pessoa de direito público, terá sidotransferida à Justiça laborai.

Cumpre à Justiça comum conhecer ação visando a complementação da aposentadoria, conforme previsto em estatuto de fundação instituída

 pelo empregador com o propósito de realizar tal prestação (CC 22.773,rei. Min. Costa Leite; CC 33.507, rei. Min. Nancy Andrighi, dec. de20-5-2002).

Compete à Justiça do Trabalho, no entanto, conhecer e julgar as *causas cuja inicial expõe lide de natureza trabalhista, demarcada pela

causa petendi e pelo pedido, figurando como ré sociedade de economia$ mista  (CC 16.592, rei. Min. Sálvio de Figueiredo; CC 31.969, rei. Min. Nancy Andrighi, dec. de 30-4-2002).

113.3. Lides envolvendo questões de direito civil. Ações por danos morais

Como sublinhamos em edições anteriores, notava-se manifesta tendência, quer pela via legislativa, quer no campo jurisprudencial, no senti

do de “alargar” a competência da Justiça do Trabalho6.O Pretório Excelso, outrossim, de certa forma já vinha ampliando a

competência da Justiça do Trabalho, ao afirmar competente o TRT da 10aRegião para julgar lide envolvendo questões de direito civil  (promessafeita pelo Banco do Brasil de vender apartamentos a seus servidores queaceitassem transferir-se para Brasília), por considerá-la vinculada ao contrato de trabalho (CC 6.959, rei. Min. Sepúlveda Pertence, plenário, p. m.v., ac. de 23-5-1990, RTJ , 134: 96).

cunho de permanência, o regime especial estará desnaturado, devendo-se portantoconsiderar o vínculo como de natureza trabalhista comum; assim, eventuais litígiosserão resolvidos pela  Justiça trabalhista  (CC 89.910, 3â Seção, rei. Min. NapoleãoMaia Filho, j. 13-8-2008).

6. Assim, v. g., em execução trabalhista, levado um imóvel a hasta pública, umaterceira pessoa, atingida pela imissão de posse em favor do arrematante, pretendeudefender seus interesses através de ação de interdito proibitório  ajuizada perante a

Justiça comum. Suscitado conflito de competência, a 2- Seção do STJ, com apenas umvoto discordante, considerou competente a Justiça obreira para o julgamento tambémda demanda possessória (CC 17.866, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., ac. de 10-11-1999).

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Da mesma maneira entendeu competente a Justiça laborai para o julgamento de ação de indenização por danos morais e materiais, movida por empregado contra seu empregador, fundada em fatos decorrentes da relação de emprego, nada importando que o dissídio deva ser apreciado

com base em normas do direito civil; reformou, então, julgado do STJ queassentara a competência da Justiça comum para a ação de reparação pro

 posta por ex-empregado dispensado sob a acusação de apropriação indé bita (RE 238.737, rei. Min. Sepúlveda Pertence, ac. de 17-11-1998, Informativo do STF,  n. 132).

Esse entendimento o Pretório Excelso vem mantendo, como decorredo julgamento do RE 249.740, j. 17-8-1999, rei. Min. Sepúlveda Pertence,

 Informativo do STF , n. 158; RE 438.026, rei. Min. Ellen Gracie, dec. de20-4-2005.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua 2â Seção, inclinou-se à orientação do Supremo Tribunal Federal e, assim, passou a julgar competentea Justiça laborai para processar e julgar ação de responsabilidade civil

 proposta por trabalhador contra o ex-empregador em decorrência de danosmorais e/ou materiais ocasionados durante a relação de emprego, nadaimportando que o dissídio deva ser resolvido com base nas normas do

direito civil (CC 22.840, rei. Min. Menezes Direito; CC 26.852, rei Min.Fontes de Alencar, j. 12-4-2000,  Informativo do STJ,  n. 54; CC 36.382,rei. Min. Pádua Ribeiro, dec. de 28-11-2002; CC 38.307, rei. Min. Menezes Direito, dec. de 27-3-2003).

Como consta da ementa lançada no CC 30.149, é “competente a Justiça do Trabalho para processar e julgar ação de indenização por danos morais  promovida por ex-empregado contra seu empregador que teria

 praticado, por ocasião da resolução e contrato e por muitos meses depois,atos lesivos à sua honra. Embora grande parte das ações consideradasofensivas tenham sido cometidas depois da despedida, não se pode deixarde vincular tal comportamento ao contrato do trabalho. Conflito conhecido e declarada a competência da Vara do Trabalho” (2â Seção, rei. Min.Ruy Rosado de Aguiar, ac. de 25-4-2001).

 No mesmo rumo o recente aresto no CC 34.213, segundo o qualcompete à Justiça do Trabalho “o julgamento de ação de indenização por

danos morais proposta por ex-empregado contra empregador quando ofato ocorreu durante a vigência do contrato de trabalho” (2- Seção, ac. de24-4-2002, rei. Min. Pádua Ribeiro).

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Em se cuidando de danos materiais e morais decorrentes de fato  caracterizado como acidente do trabalho, consideravam os tribunais, inclusive o STJ e o STF, que competente seria a Justiça comum (REsp234.383, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., ac. de 15-2-2000; CC 30.121, rei.

Min. Menezes Direito, dec. de 31-8-2000; CC 37.253, rei. Min. PáduaRibeiro, dec. de 18-2-2003)7.

Aliás, já sob a vigência da EC n. 45  (publicada em 8-12-2004), oSupremo Tribunal Federal de início afirmou, p. m. v., que as ações de indenização por dano moral ou material decorrente de acidente do trabalhomantinham-se na competência da. Justiça Estadual (RE 438.639, Plenário,rei desig. Min. Cezar Peluso, ac. 9-3-2005).

Todavia, posteriormente, quando do julgamento do CC 7.204, sendorelator o Min. Carlos Britto, o Plenário passou ao unânime entendimentode que apenas as ações de acidentes de trabalho propriamente ditas, ajui

 zadas contra o INSS, permanecem com a Justiça Estadual, tendo as demandas por danos materiais e morais decorrentes do acidente e promovidas contra o empregador   passado à competência da Justiça laborai (j.29-6-2005). V., nesta obra, o verbete n. 92.

Tratando-se de doença profissional, ou de doença do trabalho, in

clusive havendo pedido de danos morais, a jurisprudência da 2â Seção doSTJ era pela competência da Justiça comum, com o beneplácito inclusivedo STF (RE 349.160, rei. Min. Sepúlveda Pertence, j. 11-2-2003; RE438.639, rei. Min. Cezar Peluso, j. 9-3-2005).

Todavia, com a posterior mudança de orientação da Corte Suprema(conforme o já mencionado CC 7.204, rei. Min. Carlos Britto, j. 29-6-2005),

7. Igualmente nos casos de trabalhos executados em condições insalubres: “A ação de indenização por danos materiais e morais decorrentes de execução deserviço em condições insalubres adquiridas durante a execução de atividade trabalhista, fundada na responsabilidade civil da empresa ré, deve ser processada e julgada na Justiça Comum Estadual” (CC 33.317, rei. Min. Nancy Andrighi, dec. de29-10-2001).

Esta competência da Justiça comum não se altera ainda que seja empregadora uma empresa pública federal  (CC 30.753, Min. Nancy Andrighi, dec. de 24-1-2001,  DJU,  16 fev. 2001, p. 251). A culpa do empregador pode decorrer do nãooferecimento de condições adequadas de trabalho, resultando doença profissional 

causadora do óbito do empregado (CC 31.518, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., dec.de 22-3-2001).

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Tratando-se de lide vinculada a contrato de representação comercial,regido pela Lei n. 4.886/65 (v. o verbete n. 100-A), a competência mantém--se na Justiça comum, não na Justiça do Trabalho (CC. 48.592, rei. Min.Cesar Rocha, j. 18-5-2005 — caso de pretensão indenizatória por rescisãode contrato). Assim também os honorários cobrados por corretor de imóveis que atua de forma autônoma, sem relação de subordinação (v. o ver

 bete n. 100-A, infine).

113.4. Contribuições sociais e execução de ofício

Além do exposto, a competência da Justiça do Trabalho foi também *aumentada através da Emenda Constitucional n. 20 {DOU, 16 dez. 1998),

que ao art. 114 da Lei Maior aditou um § 3-, com a seguinte redação: #“Art. 114....................................................................................

§ 3S Compete ainda à Justiça do Trabalho executar ,; de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, ‘a ’, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir  ”

Com a EC n. 45/2004, esta execução de ofício passou a ser prevista,nos mesmos termos, no art. 114, VIII.

Cuida-se de norma de eficácia plena, que retirou parcela de competência da Justiça Federal, para atribuir à Justiça do Trabalho a competência para processar, nos mesmos autos da demanda laborai, a execução docrédito em favor do INSS reconhecido na sentença condenatória do em

 pregador. Em edição anterior, havíamos escrito que o juiz de ofício iniciaria tal execução, como notável exceção ao princípio de que o Judiciário sóatua por provocação da parte; referimos, outrossim, que a autarquia

 previdenciária permaneceria “com legitimidade para intervir, querendo,

na execução processada no juízo trabalhista, assumindo, com legítimointeresse, a posição de exequente”.

Melhor reflexão, fundada em interessantes análises de Alexandre Nery de Oliveira e de Salvador Laurino (publicadas na Revista da AMA- TRA II,  out. 1999, p. 19-23 e 12-8), leva-nos a modificar em parte talentendimento. Nos mesmos autos — naturalmente quando procedente a

verbas rescisórias, já findo o contrato de trabalho (STJ, CC 95.325,2a Seção, rei. Min.Fernando Gonçalves, j. 13-8-2008). Como vemos, a matéria continua polêmica, de pendente das circunstâncias de cada caso concreto.

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Assim, a então lâ JCJ de Criciúma foi declarada competente para processar e julgar a execução, e agira corretamente ao solicitar ao INSS“que cumpra a sua tarefa de informar os valores devidos para o início daexecução”.

Todavia, cumpre sublinhar que a competência da Justiça laborai limita-se à execução das contribuições sociais decorrentes das sentenças  proferidas no juízo trabalhista, e previstas na CF, art. 195,1, a, e II, não prejudicando a competência da Justiça Federal para a cobrança das aludidas contribuições quando não decorrentes diretamente de sentença daJustiça do Trabalho (STJ, lâ Seção, CC 56.593, rei. Min. Eliana Calmon, >

 j. 27-9-2006).

•¥

113.5. Justiça do Trabalho e meio ambiente laboraiA Justiça do Trabalho tem sido reconhecida competente, outrossim,

 para conhecer e julgar as demandas relativas ao ambiente, às condiçõesmateriais em que se desenvolve a atividade laborai, inclusive em ações denatureza coletiva propostas pelo Ministério Público do Trabalho.

O Superior Tribunal de Justiça, ao dirimir conflito de competênciaentre (antiga) JCJ e Vara da Fazenda Pública, decidiu que a questão liti-

giosa, alusiva às condições do trabalho, estaria abrangida no conceito de“acidente do trabalho”, pois visava preveni~Ios, devendo portanto ser julgada pela Justiça comum. Na causa eram alegadas precárias condições detrabalho na rede bancária de Juiz de Fora-MG.

Interposto recurso extraordinário, o Supremo Tribunal Federal reformou tal aresto, julgando competente a Justiça especializada, nos seguintestermos:

“Competência. Ação Pública.

Condições de Trabalho. Tendo a ação civil pública como causa de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente do trabalho esportanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho” (RE  206.220-1, rei Min. Marco Aurélio, 2- Turma, j. 16-3-1999).

V., nesta obra, o verbete n. 111.3.

Daí a edição pelo Pretório Excelso, em 2003, do enunciado n. 736de sua Súmula, com o teor seguinte:

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“Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”.

113.6. Justiça do Trabalho e trabalhadores portuáriosTendo em vista a nova organização dos serviços portuários, e consi

derando a inexistência de relação de emprego entre o trabalhador e o ÓrgãoGestor de Mão de Obra (OGMO), a 2â Seção do STJ havia atribuído àJustiça Estadual a competência para apreciar os direitos pelos portuáriosreclamados contra o aludido órgão gestor, orientação esta que deu origemà antiga Súmula 230, do seguinte teor:

“Compete à Justiça estadual processar e julgar ação movida  por trabalhador avulso portuário, em que se impugna ato do órgão gestor de mão de obra de que resulte óbice ao exercício de sua pro

 fissão ”.

A situação jurídica, todavia, resultou alterada com a vigência daMedida Provisória n. 1.952, de 10-12-1999, sucessivamente reeditada, pela

qual os arts. 643, § 3e, e 652, V, da CLT, adotaram a seguinte redação:“Art. 643.....................................................................................

§ 3üA Justiça do Trabalho é competente, ainda, para processar  e julgar as ações entre trabalhadores portuários e os operadores 

 portuários ou o Órgão Gestor de Mão de Obra — OGMO decorrentes da relação de trabalho.

 Art. 652.......................................................................................a ) ................................................................................................

V  — as ações entre trabalhadores portuários e os operadores  portuários ou o Órgão Gestor de Mão de Obra — OGMO decorrentes da relação de trabalho

Em conseqüência, resolveu a 2~ Seção, por deliberação tomada aos

11-10-2000, cancelar a Súmula 230. Nos CC 30.500 e 30.540 foi sublinhado que “todas as ações propos

tas contra o Órgão Gestor de Mão de Obra decorrentes da relação de tra-

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 balho devem ser processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho — entendendo-se que os litígios sobre a relação de trabalho abrangem tanto asações que visam o acesso ao trabalho quanto as que pretendem, simplesmente, a respectiva remuneração” (CC 30.516, rei. Min. Nancy Andrighi,

dec. de 6-12-2000; CC 32.811, rei. Min. Pádua Ribeiro, dec. de 9-10-2001;CC 35.126, rei. Min. Nancy Andrighi, dec. de 26-6-2002).

A 2- Seção do STJ, julgando o CC 34.825, reiterou a competência daJustiça especializada para “apreciar e julgar as ações propostas por trabalhadores avulsos do Porto com o intuito de obter verbas trabalhistas emface do Órgão Gestor da Mão de Obra Portuária, de acordo com a alteração 5do art. 643 da CLT, trazida pela Medida Provisória n. 1.952/2000” (rei

Min. Castro Filho, ac. de 12-6-2002, na íntegra em RSTJ, 162:221). çEsta competência da Justiça obreira “não se modifica diante da citação da União Federal ou de sua pretensão de figurar na lide como assistente simples. Arts. 109,1, e 114 da Constituição Federal” (CC 28.700, reiMin. Barros Monteiro, ac. de 23-8-2000).

113.7. Justiça do Trabalho e falência da empresa reclamada

Conforme o art. 76 da nova Lei de Falências — Lei n. 11.101, de9-2-2005 (norma esta que segue, em linhas gerais, os rumos do art. 7a daantiga Lei de Falências — Dec.-lei n. 7.661/45), o juízo da falência “éindivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litis-consorte ativo”.

 Nos termos do art. 6~, “a decretação da falência ou o deferimento do

 processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição ede todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas doscredores particulares do sócio solidário”.

Como vemos, a universalidade do juízo falencial encontra limitações,inclusive no alusivo às execuções fiscais, permanecendo destarte aplicávela Súmula 44 do antigo Tribunal Federal de Recursos — v., nesta obra, overbete n. 98-A.

O mesmo princípio prevalece relativamente às reclamatórias trabalhistas, as quais prosseguirão na Justiça do Trabalho enquanto na fase de conhecimento; todavia, os atos de execução de seus julgados iniciar-se-ão

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ou terão prosseguimento no juízo falimentar, mesmo se efetuada a penhora. Caso já tenha sido aprazada data para a arrematação no juízo trabalhista, a praça será nesse juízo realizada, mas o produto será entregue à massa,a fim de processar-se o concurso entre os credores (CC 10.014, 2â Seção,■rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar; CC 24.034, 2â Seção, rei. Min. BarrosMonteiro; CC 30.823, rei. Min. Nancy Andrighi, dec. de 10-5-2001).

A nova lei falencial é expressa no sentido de que “as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8S da Lei,serão processadas perante a Justiça especializada até a apuração do res

 pectivo crédito, que será inscrito no quadro geral de credores pelo valordeterminado em sentença” (art. 6Q, § 2e).

Assim, decretada a quebra da empresa reclamada, a execução trabalhista já não pode prosseguir no juízo trabalhista,“ ainda que a penhoratenha sido feita anteriormente, salvo se já aprazada a praça; realizada a

 praça no juízo trabalhista, a totalidade do preço deve ser transferida ao juízo falimentar” (CC 19.468, 2- Seção, rei. Min. Ari Pargendler); mas asexecuções promovidas “contra uma terceira empresa, criada em decorrência de cisão parcial da falida, permanecem em trâmite perante a Justiçaespecializada” (CC 22.093, 2â Seção, rei. Min. Barros Monteiro).

 Num dos muitos processos decorrentes da falência da empresa EncolS.A., o TRT da 17â Região deu pela competência da Justiça laborai para

 processar a execução dos créditos trabalhistas “até seus trâmites finais”,invocando seu “caráter superprivilegiado (CTN, art. 186) que os exime dasujeição a qualquer forma de rateio”. Suscitado conflito pela massa, orelator Min. Castro Filho, com invocação à jurisprudência remansosa doSTJ, entendeu que as reclamatórias trabalhistas prosseguem perante o

 juízo especializado, mas os atos de execução dos seus julgados iniciar-se-ão ou terão seguimento no juízo falimentar, ainda que já efetivada a penhora (dec. de 13-11-2001).

Uma vez decretada a falência, a execução do crédito trabalhista deveser processada perante o juízo falimentar. Assim, julgando conflito entreo TST e o juiz de direito estadual, o Supremo Tribunal Federal declaroucompetente o juízo falencial para arrecadar os bens da massa falida quehaviam sido penhorados pela Justiça do Trabalho em execução trabalhis

ta (CC 7.116, rei. Min. Ellen Gracie, j. 7-8-2002). No mesmo diapasão, em caso de liquidação de sociedade coopera

tiva, entendeu o STJ pela competência do juízo da insolvência civil para

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 processar a execução trabalhista, sendo necessária a habilitação no juízouniversal (CC 33.287, rei. Min. Ruy Rosado, dec. de 16-10-2001; CC28.996, rei. Min. Nancy Andrighi).

Em suma, sobrevindo falência, “a execução trabalhista já não pode

 prosseguir, ainda que haja penhora anteriormente realizada, salvo se jáaprazada a praça ou arrematados os bens, ao tempo de sua declaração,sob pena de romperem-se os princípios da indivisibilidade e da universalidade do juízo da falência, com manifesto prejuízo para os credores” (CC27.785,2- Seção, v. u., rei. Min. Nancy Andrighi, ac. de 27-9-2000, RSTJ, 139:191). No julgamento do CC 33.877, ficou mais uma vez explicitadoque, caso os bens já se encontrem em praça, com dia fixado nos editais,far-se-á a alienação judicial perante o juízo trabalhista, revertendo o produto para a massa; e, se negativas as praças, caberá à Justiça do Trabalhodecidir sobre pedido de adjudicação do imóvel praceado, requerido pelocredor antes da decretação da quebra (2â Seção, rei. Min. Nancy Andrighi,ac. de 24-4-2002).

A orientação continua vigente, no sentido de que “são de competência do juízo falencial todas as questões sobre o patrimônio da sociedade empresarial em recuperação, tais como a extensão de seus efeitos

e a responsabilidade dos sócios.  Ao juízo trabalhista incumbe decidir  apenas a matéria atinente à relação laborai, ficando com o juízo da recuperação todas as controvérsias alusivas ao  pagamento  do respectivocrédito. Precedentes” (CC 68.173,2â Seção, rei. Min. Luís Felipe Salomão,

 j. 26-11-2008).

Votando na Recl. 1.066, perante a 2~ Seção do STJ (ac. de 13-11-2002,na íntegra em RSTJ, 165:212), o relator Min. Cesar Rocha assim sintetizouas várias questões:

a) compete à Justiça laborai resolver as questões relativas à existência dos créditos trabalhistas (CF, art. 114);

 b) exaurida a cognição, os créditos trabalhistas sujeitar-se-ão a concurso, no juízo falimentar (CC 100, rei. Min. Eduardo Ribeiro);

c) decretada a falência, os bens arrecadados não poderão ser penhorados no juízo trabalhista (CC 563, rei. Min. Nilson Naves);

d) mesmo que a penhora seja anterior  à decretação da falência, no

 juízo desta proceder-se-á à alienação dos bens penhorados, em decorrênciado concurso universal (CC 6.729, rei. Min. Torreão Braz);

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e) se, quando decretada a falência, já estiver aprazada data para a hasta pública no juízo trabalhista, a alienação será realizada no juízotrabalhista, mas o produto será entregue à massa, a fim de processar-seo concurso entre os credores trabalhistas (CC 10.014, rei. Min. Ruy

. Rosado);f) se, após decretada a falência, o Juiz do Trabalho fixar data para a hasta pública, ela deve ser sustada e outra designada pelo juízo falimentar, que ficará com o produto da alienação, para o devido rateio e pagamento (CC 19.929, rei. Min. Cesar Rocha);

g) havendo no juízo laborai adjudicação em data posterior à decretação da falência, tal ato será desfeito em virtude da competência universaldo juízo falimentar (CC 26.918, rei. Min. Aldir Passarinho Jr.);

h) decretada a quebra, a execução não pode prosseguir no juízo tra balhista, devendo o crédito ser habilitado no juízo falimentar;

i) decretada a quebra, também a questão relativa à liberação do de pósito recursal passa à competência do juízo falimentar.

113.8. Mandado de segurança na Justiça do Trabalho

Pela EC n. 45, de 8-12-2004, ficou expresso que à Justiça do Traba

lho cabe o julgamento dos “mandados de segurança,  habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua 

 jurisdição” (CF, art. 114, IV).

 Não é novidade a apreciação de mandados de segurança no âmbitoda Justiça laborai, aliás nos exatos termos da LOMAN (LC n. 35/79), art.21, VI, pelo qual compete originariamente aos tribunais o julgamento dos“mandados de segurança contra seus atos, os dos respectivos Presidentes e os de suas Câmaras, Turmas ou S e ç õ e s Limitavam-se, todavia, os

mandados de segurança à impugnação de atos administrativos (excepcionalmente, também atos jurisdicionais) praticados por magistrado trabalhista,  sendo ajuizados nos Tribunais Regionais do Trabalho os writs im

 petrados contra atos de Juiz do Trabalho ou do próprio TRT, e no TST osimpetrados contra atos do próprio tribunal.

A novidade, advinda com a alteração constitucional, está em atribuirà Justiça do Trabalho também a competência para o julgamento de mandados de segurança contra atos praticados por autoridades administrativas. 

 Normalmente, em tema de mandado de segurança, a competência é definida tendo-se em vista apenas a função e cargo da autoridade apontada

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de Estado do Trabalho e Emprego, “ainda que o writ  verse sobre as matérias elencadas no art. 114 da CF” (MS 10.295, rei. Min, Denise Arruda,v.u., j. 23-1 l~2005)n*A.

113.9. Justiça do Trabalho — EC n. 45/2004 — Regime de transição

Cumpre aditar que o TST aprovou, em 16-2-2005, a Instrução Normativa (IN) n. 27, prevendo que as ações ajuizadas na Justiça do Trabalhodevam seguir o procedimento ordinário ou o sumaríssimo, conforme previsto na CLT, excetuando-se apenas as demandas sujeitas, por disciplinalegal expressa, a rito especial, “tais como o mandado de segurança, habe

as corpus, habeas data, ação rescisória, ação cautelar e ação de consignação em pagamento”.

Segundo o art. 2- da IN, os recursos serão os previstos na CLT, exigindo-se inclusive o depósito da condenação em pecúnia. Quanto aoshonorários advocatícios, indevidos nas reclamatórias da CLT, passam a serdevidos “nas novas ações” com base na mera sucumbência — IN, art. 59(v., a respeito, estudo de Arion Sayão Romita, RF, 379/27).

Assim, v. g., diante das alterações trazidas pela EC n. 45/2004, as

ações sobre a representação sindical — cobrança de contribuição sindical — passaram à competência da Justiça laborai, à qual serão de imediatoremetidos, inclusive os processos pendentes perante o Superior Tribunalde Justiça. Cuidando-se de competência absoluta, em razão da matéria(CPC, art. 87), a regra da perpetuatio jurisdictionis  não se aplica a taiscasos (REsp 727.196, Questão de Ordem, rei. Min. José Delgado, j. 25-5-2005; Ag. Inst. 675.211, rei. Min. Teori Zavascki, dec. 20-6-2005, DJU ,30 jun. 2005, p. 301).

114. Cumulação de pedidos sob diversidade de jurisdição

Cumpre ainda referir que, com frequência, o demandante apresenta pretensões cumuladas, ou seja, quer receber parcelas decorrentes da ante-

H-A. O MS 10.295 foi extinto, sem julgamento do mérito, em relação ao Mi

nistro de Estado, sob o fundamento de que a autoridade coatora era, em verdade, oSecretário das Relações do Trabalho daquele Ministério; em conseqüência, tendo emvista a exclusão do Ministro da relação processual, o processo foi remetido à Justiçado Trabaiho.

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rior relação celetista e, ainda, quantias ou direitos relativos à sucessivarelação estatutária. Em tais casos, o juízo perante o qual foi a causa ajuizada julgará apenas os pedidos para os quais for competente.

A esse respeito, após numerosas decisões (v. g., 3- Seção, CC 8.535,

rei. Min. Anselmo Santiago, ac. de 16-3-1995,  DJU , 24 maio 1995, p.10379), o Superior Tribunal de Justiça veio a editar a Súmula 170, do teorseguinte:

"Compete ao juízo onde primeiro fo r intentada a ação envolvendo cumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites de sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de nova cau- sa, no juízo próprio ” (3a Seção, em 23-10-1996).

Embora a superveniente EC n. 45/2004, a Súmula 170 mantém-se £indene.

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COMPETÊNCIA EM RAZÃO 

DA MATÉRIA, DA PESSOA, DO VALOR E DA COMPLEXIDADE 

DA CAUSA

Capítulo XXIII

115. Competência em razão da matériaAs regras de competência em razão da matéria,  ou seja, da res in 

 judicium deducta, do pedido formulado pelo demandante, firmam vezesmuitas a competência dos Tribunais, quer competência originária, querrecursal.

Assim, v. g., a ação direta de inconstitucionalidade de lei é  demanda

de competência originária do STF (CF, art. 102,1, a);  a homologação de sentença estrangeira é  de competência do STJ (CF, art. 105,1, i).

A competência da Justiça do Trabalho é estritamente em razão damatéria, decidindo controvérsias decorrentes da relação de trabalho, oucom esta vinculadas, nos termos expostos no art. 114 da Lei Maior.

As causas sobre inelegibilidade são, em razão da matéria, de competência da Justiça Eleitoral (CF, art. 121, III).

As causas referentes à naturalidade e à naturalização pertencem, emrazão da matéria, à Justiça Federal ( CF, art. 109, X).

 No âmbito da Justiça comum e em primeiro grau de jurisdição, sãocriadas, em comarcas de intenso movimento forense, varas privativas emrazão da matéria, em face das vantagens de uma maior especialização dos

 juízos. Essa especialização revela-se não só na divisão fundamental em“Varas Criminais” e “Varas Cíveis” como na instituição de varas cíveis es

 pecializadas em causas de família, de registros públicos, de falências etc.

Os processos de insolvência (CPC, arts. 748 e s.) e as ações relativasao estado e capacidade das pessoas são de competência exclusiva do juizde direito, na primeira instância (CPC, art. 92).

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A Lei Orgânica da Magistratura Nacional, prevista na Constituiçãode 1969, preconizou, nos Tribunais, a criação de Câmaras ou Turmas es

 pecializadas, além da divisão habitual em Câmaras Cíveis e CâmarasCriminais.

A CF de 1988, com a redação da EC n. 45/2004, prevê a criação devaras especializadas para o julgamento de questões agrárias  (CF, art.126).

A competência ratione materiae,  voltada ao interesse público, éabsoluta e, pois, indisponível

116. Competência em razão da pessoa

A competência  “ratione personae” toma por dado  relevante umatributo ou uma característica pessoal do litigante. Assim a nacionalidade,os foros de nobreza ou classe, a situação como idoso ou incapaz, o cargo ou função pública ocupado pelo litigante, ou a circunstância de ser o litigante pessoa jurídica de direito público ou vinculada ao poder público.

Em tempos históricos, os foros privilegiados  apresentavam-se comuns. Na Idade Média, os nobres e os eclesiásticos gozavam de foros privilegiados ou privativos, e um dos aspectos do fortalecimento do pode

rio dos reis e da decadência do feudalismo revelou-se pelo aumento dacompetência dos Tribunais do rei em detrimento das justiças dos senhoresfeudais e da Justiça Canônica.

 No Brasil, de 1808 a 1844, existiram “juizes conservadores da NaçãoBritânica”, os quais julgavam as causas em que uma das partes fosse cidadão inglês1.

 Nos tempos atuais, a competência ratione personae (mais comum noâmbito criminal) apresenta-se, no âmbito cível, quando interessada na

causa pessoa de direito público.Assim, v. g., são da competência originária do Supremo Tribunal

Federal as causas entre a União e um Estado, ou entre Estados (CF, art.102,1,/); são de competência da Justiça Federal todas as causas em quefor parte “a União, entidade autárquica ou empresa pública federal” (CF,art. 109,1).

1. V. Athos Gusmão Carneiro, O juiz conservador da Nação Britânica, AJURIS, 3:110; A cidadania da parte como elemento de fixação da competência, trabalho pu blicado como Anexo I, na presente obra.

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 Na ação de mandado de segurança, como já exposto, e no habeas data, o cargo ou função pública desempenhado pela pessoa que praticouo ato (apontado como violador de direito líquido e certo) apresenta-sedecisivo à determinação da competência2. Assim, é da competência origi-

. nária do Supremo Tribunal Federal conhecer dos mandados de segurançae dos habeas data  impetrados contra ato do Presidente da República, daMesa da Câmara e do Senado, do próprio Supremo Tribunal Federal etc.(CF, art. 102,1, d); é  da competência originária do Superior Tribunal deJustiça julgar os writs impetrados contra ato de Ministro de Estado (CF,art. 105,1, b).

 Nos Estados, é normalmente de competência do Tribunal de Justiça(ou de seu Órgão Especial) julgar os mandados de segurança impetrados

contra atos praticados pelo Governador, pela Assembleia Legislativa ou arespectiva Mesa, pelo próprio Tribunal e seu Presidente etc. Nos casos demandamus impetrados contra atos de Secretários de Estado, do Procurador-Geral da Justiça ou do Estado e autoridades outras de alto nível, geralmente competentes são as Câmaras Cíveis Reunidas, ou Grupos de Câmarasespecializadas. Se a segurança é postulada contra ato de juiz de primeirainstância, ou de Procurador de Justiça, competente poderá ser, sempre emconformidade com as leis locais de organização judiciária, uma Câmara

Cível Isolada (v., outrossim, o verbete n. 103).Relativamente a atos de outras autoridades, não expressamente incluídas

nas previsões legais, apresentam-se competentes os juizes de primeira instância, tanto os federais como os estaduais, dependendo de ser funcionárioou servidor federal, ou estadual ou municipal, a autoridade dita coatora3.

2. Conforme exposto pela Ia Seção do STJ no julgamento do CC 38.008, “a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, em sede de mandado de segurança, a competência é  fixada em face da qualificação da autoridade coatora” (rei. Min.Eliana Calmon, ac. de 14-5-2003, DJU, 2 jun. 2003, p. 182).

Vale, aqui, afirmar que não concordamos com a assertiva, igualmente constanteda ementa desse decísório, no sentido de que se o magistrado, ao analisar o feito,“concluir que houve indicação errônea da autoridade coatora, deve extinguir o feito enão declinar da competência”; mui ao contrário, pensamos que deve, obedecido o

 princípio da efetividade do processo, remetê-lo ao juízo competente.  Muitas vezes,aliás, difícil é ao interessado, principalmente nos casos de conduta omissíva, saber

quem exatamente se apresenta como autoridade coatora...3. Compete à Justiça comum estadual processar e julgar mandado de segurançacontra ato de gerente do Banco do Brasil S/A (STJ, 3a Seção, CC 6.782, rei. Min.William Patterson, j. 14-8-1996).

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Pelo chamado Estatuto do Idoso — Lei n. 10.741/2003, art. 80 (norma aliás redigida de forma pouco técnica), a pessoa idosa goza da prerrogativa de ajuizamento da ação no foro de seu domicílio, devendo presumir--se que esta competência, dita na lei como sendo absoluta, deva limitar-seàs demandas que versem matéria tratada no aludido Estatuto.

A competência em razão da pessoa é absoluta.

117. Competência em razão do valorEra freqüente, nos Estados com organização judiciária mais comple

xa, existirem juizes não vitalícios, com competência cível limitada em razão do valor da causa. Assim, no Rio Grande do Sul, os pretores4*5.

Em aplicação textual do Código de Processo Civil, a competência

em razão do valor seria sempre considerada relativa, pois o art. 111 per- ^mite a eleição de foro: podem as partes “modificar a competência em razãodo valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações”.

 Note-se, no entanto, que normalmente a competência em razão dovalor não será uma competência de foro, uma competência “territorial”,mas será uma competência de juízo. Achada, conforme as regras gerais, acomarca onde o feito deve tramitar, então o valor da causa determinará,

nesse foro, o juiz competente: nas causas de maior valor, o juiz de direito;nas de menor valor, o juiz não vitalício (caso dos pretores remanescentes,no Rio Grande do Sul).

Em segundo lugar, a competência em razão do valor, s. m. j., somente é relativa “do mais para o menos”. A competência do juiz de direito poderá, assim, ser prorrogada para abranger causa de pequeno valor; masserá absoluta “do menos para o mais”, ou seja, a competência de um juiznão vitalício não poderá abranger causas de maior valor6.

4. A Constituição Federal de 1969, art. 144, § ls, dispunha:“A lei poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça:«) .........................................................................................b) juizes togados com investidura limitada no tempo, os quais terão competência 

 para julgamento de causas de pequeno valor  e de crime a que não seja cominada penade reclusão, e poderão substituir juizes vitalícios” [grifo nosso].

5. Pela vigente Constituição de 1988, embora não subsista previsão expressa,certamente serão temporários os “juizes leigos” dos Juizados Especiais (CF, art. 98).

6. Proposição de Chiovenda: “os limites objetivos da competência por valor sãosempre absolutos para o mais, nem sempre para o menos” ( Instituições, cit-, v. 2, n.174, b).

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Esse princípio pode inclusive afastar os efeitos da “prevenção”, emcausas conexas que devam ser reunidas perante um mesmo juiz. Por exem

 plo, pensemos em uma causa de maior valor proposta perante o juiz dedireito A, e uma de menor valor perante o juiz temporário  B;  sendo as

demandas conexas, impõe-se a reunião dos processos num só juízo. Digamos que, pelo critério de prevenção (primeiro despacho, ou primeira citação válida— CPC, arts. 106 e 219), o juízo prevento seria o do juiz B ; mascomo sua limitada competência não pode abranger a causa de maior valor,o critério da prevenção é afastado, e a reunião das demandas far-se-á perante o juiz de direito, cuja competência ratione valore prorrogar-se-á paraincluir a demanda de valor inferior.

Determina-se o valor da causa, para efeitos de competência, no momento em que se constitui a relação processual. A alteração do valor dacoisa litigiosa, posteriormente à propositura da ação, não altera a competência inicialmente fixada. Princípio da perpetuatio jurisdictionis, ao qual

 já se aludiu (v. Chiovenda, Instituições, cit., n. 74 e 256). Entretanto, o juizde menor “alçada” não pode condenar  em valor superior ao de sua alçada.

118. Competência dos Juizados Especiais

 Nos termos do art. 98, I, da Constituição Federal, os JuizadosEspeciais têm competência, no âmbito cível, “ para a conciliação, o ju lgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade

 Notemos que o conceito “de menor complexidade” é eminentemente fluido, indeterminado; assim, se o magistrado considerar que a demanda, embora incluída no elenco do art. 32, envolve fatos complexos,  deforma a exigir perícia demorada que possa comprometer os critérios informadores dos Juizados Especiais (oralidade, simplicidade, informalida

de, celeridade), “realmente a melhor solução será aplicar o disposto no art.51, II, remetendo as partes ao juízo comum” (J. E. Carreira Alvim, Juizados Especiais Cíveis Estaduais, 2. ed., Ed. Juruá, p. 23).

Quanto aos mandados de segurança no âmbito dos Juizados Especiais,v. o verbete 105-A.

118.1. Juizados Especiais Cíveis Estaduais

 Nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, não obstante permaneçamdivergências doutrinárias e jurisprudenciais, o entendimento prevalecenteé no sentido de que o emprego deste microssistema jurisdicional não de-

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corre de uma imposição por competência absoluta, mas sim de escolhavinculada a opção do autor, competência relativa  portanto. Cabe ao demandante ponderar se lhe é mais conveniente optar   pelo procedimentosumaríssimo dos Juizados Especiais, ou se melhor lhe convém litigar na

Justiça comum (v. art. 3a, § 3S, da Lei n. 9.099, de 26-9-1995).Consoante o art. 3° da mencionada lei, qualificam-se como causas

cíveis de menor complexidade:

a)'as causas de valor não superior a quarenta vezes o salário mínimo;

b) as ações de despejo para uso próprio  (as demais mantêm o ritocomum ordinário, conforme o art. 59, caput, da Lei n. 8.245/91); *

c) as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente

a quarenta vezes o salário mínimo; £d) as ações enumeradas no art. 275, II, do Código de Processo Civil,

 já agora limitadas àquelas relacionadas consoante a Lei n. 9.245, de 26-12-1995, sem limitação de valor;

e) as ações de execução de títulos extrajudiciais, de valor não maisde quarenta salários mínimos;

 f)  as ações de execução de seus próprios julgados.

O acesso aos Juizados Especiais sofre limitação ratione personae,explicável pelos próprios motivos que levaram à sua criação: somente as pessoas físicas capazes e as microempresas são admitidas a propor ações perante eles. No polo passivo da relação processual não podem figurar oincapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas pú blicas federais, a massa falida e o insolvente civil (art. 8~).

Quanto ao foro competente, dispõe o art. 4Sda Lei n. 9.099, ser, preferencialmente, o do domicílio do réu ou, a critério do autor , o foro do

local onde exerça o réu suas atividades ou mantenha sucursal ou escritório(Joel Dias Figueira Jr., Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Revista dos Tribunais, 2~ ed., 1997, p. 139).

Além disso, a ação poderá ser proposta no lugar onde a obrigaçãodeva ser satisfeita; no foro do domicílio do autor; ou no foro do local doato ou fato, em se tratando de ação de reparação de danos de qualquernatureza. Nestas hipóteses, todavia, a ação poderá ser ajuizada no foro dodomicílio ou local de trabalho previsto preferencialmente, sem que o réu

 possa opor-se a tal opção (art. 4-, parágrafo único) (Rogério Lauria Tuc-ci,  Manual do Juizado Especial de Pequenas Causas, Saraiva, 1985, p.107-12).

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sessenta salários mínimos e, se a causa não for daquelas elencadas nosincisos do § 1Qdo art. 3Qda Lei n. 10.259/2001, a competência será doJuizado Especial, independentemente da presença de pessoa jurídica dedireito privado como litisconsorte passivo dos entes referidos no art. 6a da

Lei n. 10.259/2001 (CC 73,000, rei. Min. Nancy Andrighi, j. 8-8-2007).Quanto a conflitos de competência entre Juizado Especial e Juiz de

Direito ou Juiz Federal, v. o verbete n. 140.2.

Quanto a mandado de segurança  contra atos judiciais praticados no processo perante os Juizados Especiais, v., nesta obra, o verbete n. 105-A.

Quanto à competência em razão da matéria, a Lei n. 10.259/2001 prevê a criação de juizados especiais com competência exclusiva para ações

 previdenciárias nas capitais dos Estados e no Distrito Federal, cabendo aoTRF a instalação de tais juizados também em cidades do interior (art. 19, parágrafo único).

A Lei n. 10.259/2001, art. 12, prevê um “recurso” das decisões dasTurmas Recursais Federais, denominado “pedido de uniformização de inter pretação de lei federal”, o qual poderá ser julgado por Turma Regional deUniformização ou pela Turma Nacional de Uniformização, com possibilidade de um sucessivo (atípico) deslocamento de competência para o Superior

Tribunal de Justiça, nos casos em que a decisão de Turma de Uniformizaçãohaja contrariado súmula ou jurisprudência dominante no STJ (a respeito, vide a Resolução n. 10, de 21-11-2007, da Presidência desta Corte, disciplinandoo processamento do “incidente”).

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Capítulo XXIV

COMPETÊNCIA FUNCIONAL

119. Competência em razão da função, no “plano horizontal” e no “plano vertical”

Diferentes “funções”, ou atribuições, dentro de um “mesmo”processo, podem caber a diferentes juizes.

Cuida-se da competência funcional,  extraída, como disse CelsoAgrícola Barbi, “da natureza especial das funções que o magistrado échamado a exercer em um processo” (Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, 10. ed., 1998, v. I, n. 513, p. 306).

Segundo o art. 93 do CPC: “ Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juizes de primeiro grau é disciplinada neste Código”.

Lembra Barbosa Moreira que, sem embargo desta última disposição,

“em vão se procurará no estatuto de 1973 um conjunto articulado de normas sobre a competência funcional dos órgãos de primeiro grau, semelhante ao que nele trata da competência territorial (arts. 94 e segs.)” (artigo na RF, 380/180). E aduz que o conceito de competência funcional, pelamelhor doutrina alemã, determina-se consoante a espécie de atividadedesenvolvida pelo juiz na causa para a qual é competente: “a competência 

 funcional reparte as diversas funções jurisdicionais na mesma causa entrediferentes órgãos judiciais e limita as funções de um órgão em relação às

dos outros que atuam na mesma causa” (Rosenberg-Schwab-Gottwald, Zivilprozessrecht,  16. ed., 2004, p. 174). O legislador brasileiro, em váriasoportunidades, usa pouco adequadamente a expressão competência funcional, e destarte seria conveniente que a expressão fosse reservada apenas“para os casos de repartição de funções a serem exercidas por diversosórgãos judiciais no mesmo feito”( art. cit., p. 187).

 No Brasil, no âmbito criminal, a competência funcional encontraexemplo expressivo nos processos por crimes com julgamento atribuído

ao Tribunal do Júri, pois pode caber a um juiz de Vara Criminal comuminstruir o processo, ao juiz da vara privativa do júri proferir a sentença de

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 pronúncia e presidir o júri, aos jurados responder aos quesitos, ao juiz fixara pena, e, por fim, ao juiz das execuções criminais apreciar os incidentes,surgidos durante a execução da pena. Trata-se, nessa hipótese, de competência funcional “horizontal”  ,  tramitando o processo  no mesmo grau de 

 jurisdição. No cível, o critério da competência funcional encontra maior aplica

ção no plano “vertical  ”, na também chamada competência “hierárquica ”,ou competência recursal.

Como ensina Cândido Rangel Dinamarco, “diz-se funcional  a com petência quando a lei a determina  automaticamente,  a partir do simplesfato de algum órgão jurisdicíonal ter oficiado em determinado processocom atividade que de alguma forma esteja interligada cora essa para a qual

se procura estabelecer qual o juiz competente”.E prossegue o eminente processualista: “Ou seja, ela é a competência

decorrente do prévio exercício da jurisdição por determinado órgão. É automática  porque nenhum outro elemento, além desse, precisa ser pesquisado na busca do juiz competente: as regras de competência funcional;residentes na Constituição e na lei, levam em conta  a função já exercida 

 num processo, para estabelecer a quem compete algum outro processointerligado funcionalmente a este ou a quem compete outra fase do mesmo processo. Por isso é que ela se chama competência funcionar  ( AJURIS, 88:6 3; Instituições, cit., v. I, n. 207, p. 429-30).

Ada Pellegrini Grinover relembra que a competência funcional ésempre absoluta, pois “instituída considerando o interesse público (e nãoa conveniência das partes), e não comporta modificação, quer legal, querconvencional. Como já dissemos no âmbito doutrinário, nos casos decompetência determinada segundo o interesse público, em princípio osistema jurídico processual não tolera modificações nos critérios estabelecidos e muito menos em virtude da vontade das partes em conflito” (art.dout. “Competência territorial funcional em matéria de falência”,  Revista 

 de Direito Civil e Processual Civil , Ed. Síntese, v. 23, p. 7-8).

Conforme Chiovenda, o critério funcional “extrai-se da naturezaespecial e das exigências especiais das funções que se chama o magistradoa exercer  num processo. Tais funções podem repartir-se entre diversosórgãos na mesma causa (assim, há juizes de primeiro grau e segundo grau,

 juizes da cognição, juizes da execução), ou devem confiar-se ao juiz dedado território, em vista, exatamente, de suas exigências, abrindo lugar auma competência em que o elemento funcional concorre com o territorial”

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(Instituições de direito processual civil, trad. port., Saraiva, 1943, v. 2, n.173, p. 214)1.

São de ordem pública, e assim inderrogáveis — competência absoluta —, os critérios da competência funcional, atributivos de competência

a um juiz para praticar “determinados” atos ou para conhecer de umacausa em primeira instância (v. g., art. 132 do CPC), e a outros juizes paraconhecê-la em segunda instância.

 Nos órgãos colegiados (Tribunal Pleno, Turmas ou Câmaras Reunidas,Grupos de Câmaras, Câmaras Isoladas), as leis de organização judiciáriae os Regimentos Internos dos Tribunais atribuem diferentes poderes jurisdicionais aos presidentes, aos relatores, aos revisores.

120. Competência para conhecimento dos embargos do devedor e de terceiro, na execução por carta

Dispunha o Código de Processo Civil, art. 747, que na execução porcarta os embargos do devedor seriam “oferecidos, impugnados e decididosno juízo requerido” (rectius “oferecidos, impugnados e julgados no juízorequerido”, pois a manifestação do juiz solucionando a ação incidental deembargos é “sentença” e não “decisão interlocutória”).

Mas qual seria o juízo requerido? O juízo da execução, no caso o juízo deprecantel Ou o juízo deprecado, onde, por ser o local da situaçãodos bens penhoráveis, far-se-á por carta a penhora, avaliação e alienaçãoem hasta pública dos bens do devedor? É que a expressão “juízo requerido”não possui significação processual definida.

Já em meados de 1974, em sede doutrinária ( AJURIS , 7:124) e tam bém como julgador, adotáramos o entendimento de que os embargos

“somente deverão tramitar perante o juízo deprecado quando disserem

respeito apenas a matéria relacionada diretamente com o bem que láse penhorou ou com a validade de atos processuais lá realizados.Assim, a arguição de nulidade da penhora, ou da praça ou do leilão,ou da adjudicação, por preteridas formalidades essenciais, merecem

1. Como exemplo da concorrência dos critérios funcional e territorial, AluisioCastro Mendes aponta a competência para cumprimento de cartas rogatórias e precatórias (Ações coletivas, cit., p. 225). Lembremos, outrossim, que na doutrina italianaa competência funcional de certa forma passou a ter um mais amplo significado,abrangendo também a competência territorial (Ada Grinover, rev. Síntese, v. 23, p. 7),o que não é o caso da doutrina brasileira.

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ser apreciadas pelo juízo deprecado, que ordenou e presidiu tais atosexecutórios. Mas a matéria de mérito, vinculada à própria pretensãode direito material, cumpre ser julgada no foro da execução. Assimsendo, o ‘juízo requerido’ deve ser entendido, em princípio, comosendo o juízo perante o qual o credor requereu a execução; comosendo, portanto, o juízo deprecante e não o juízo deprecado”.

 Nesse sentido veio a manifestar-se o Supremo Tribunal Federal (v.acórdão em  RTJ,  82:630 e 97:173) e tomou-se orientação prevalecente(Humberto Theodoro Júnior, Processo de execução, 4. ed., Ed. Universitária de Direito, p. 350; Mário Aguiar Moura,  Embargos do devedor, 2.ed., Síntese, p. 225; Edson Ribas Malachini, Questões sobre a execução e  os embargos do devedor, Revista dos Tribunais, 1980, v. 28 e 29).

O Superior Tribunal de Justiça a respeito editou a Súmula 46, verbis: »“Na execução por carta, os embargos do devedor serão deci

 didos no juízo deprecante, salvo se versarem unicamente vícios ou  defeitos da penhora, avaliação ou alienação dos bens ” (Corte Especial, em 13-8-1992).

Manteve, portanto, a orientação do antigo Tribunal Federal de Recursos, em sua Súmula 32.

A Lei n. 8.953, de 13-12-1994, adotando as diretrizes traçadas pela jurisprudência, deu ao art. 747 do Código de Processo Civil a seguinteredação:

“Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no ju í zo deprecante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá mos é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente vícios ou  defeitos da penhora, avaliação ou alienação dos bens”.

Portanto, mesmo os embargos que disserem respeito a matérias con

cernentes à subsistência da própria obrigação (v. g., art. 741, VI; art. 745, in  fine)  poderão ser oferecidos no juízo deprecado; mas este mandará remetê--los ao juízo deprecante, competente para sua instrução e julgamento2.

2. Segundo Leonardo Greco, em princípio, como ação incidente ao processo deexecução, os embargos são da competência do mesmo juízo; entretanto, “na chamadaexecução por carta, em que o devedor não tenha bens no foro da execução (art. 658),os embargos podem ser oferecidos no juízo deprecante ou deprecado, mas se versarem

sobre vícios ou defeitos da penhora, da avaliação ou alienação de bens, serão da com petência do juízo deprecado, perante o qual se realizarem esses atos (art. 747)” (Processo de execução, Renovar, 2001, v. 2, item 13.2.2, p. 601).

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Apenas quando os embargos versarem unicamente matéria processualatinente a vícios da penhora, avaliação ou alienação dos bens, ou seja, aosatos processuais executórios cumpridos no juízo deprecado, será este juízo o competente para processá-los e julgá-los3 e4. Assim, compete ao juízo

deprecado apreciar as questões relativas à impenhorabüidade do bem defamília e à redução da penhora, arguidas pelo devedor sem irresignaçãorelativamente à dívida — Súmula 46 do STJ (CC 36.044, 2- Seção, rei.desig. Min. Barros Monteiro, j. 9-3-2005, RSTJ , 201/277, com remissão a precedentes).

Em se tratando de embargos de terceiro, se o bem apreendido foiindicado pelo juízo deprecante, é ele o competente para julgar a açãoacessória; caso contrário, competente o juízo deprecado (Súmula 33 do

antigo TFR; STJ, 2â Seção, CC 24, j. 28-6-1989, rei. Min. Nilson Naves;STJ, 2~ Seção, CC 271, j. 28-6-1989, rei. Min. Athos Carneiro).

Todavia, se o juízo deprecante forum juízo federal, os embargos deterceiro não poderão ser julgados pelo juízo estadual  deprecado, ante acompetência ratione personae prevista no art. 109,1, da CF (STJ, 2- Seção,CC 17.713, rei. Min. Cesar Rocha, j. 12-3-1997).

Recentemente, em carta precatória expedida pela Justiça Federal, a2~ Seção do STJ reiterou tal orientação; cuidava-se de ação de embargos

à arrematação, ajuizada em causa em que figurava como ré a Caixa Econômica Federal, empresa pública, sendo afirmada a competência inderro-gável e de caráter absoluto, porque ratione personae, do juízo federal da

3. Assim, conforme o magistério de Araken de Assis, “se o embargante ofereceros embargos no juízo deprecado, e a competência para julgá-los for do deprecante,aquele remeterá os autos a este, e vice-versa, competindo ao juízo competente admiti-

-los e processá-los”(Manual do processo de execução,

 11. ed., Revista dos Tribunais,2008, n. 495, p. 1123). No caso de bens penhoráveis distribuídos em várias comarcas,sendo necessária a expedição de mais de uma carta precatória executória, não aceitaAraken de Assis, com remissão a Mariz de Oliveira, a interposição de vários embargossimultâneos ( Manual, cit.); todavia, com referência aos atos praticados nos próprios

 juízos deprecados, consideramos que a competência para apreciá-los será de cada umdeles, e não do juízo deprecante. A circunstância de serem mais de um os juízos deconstrição de bens não altera, a nosso ver, a regra do art. 747 do CPC.

4. Como o juízo deprecado não é o juízo da causa, mas simples executor dosatos a ele solicitados, não lhe cabe perquirir o merecimento, “só podendo recusar ocumprimento e devolução da precatória sob o amês das hipóteses amoldadas no art.209,1, II e III, CPC. Na espécie, a precatória só poderia ser devolvida caso o Juízodeprecado entendesse ser absolutamente competente, quando suscitaria o conflito positivo de competência” (CC 27.688, lâ Seção, rei. Min. Milton Luiz Pereira).

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26â Vara de Minas Gerais (CC 35.198, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac.de 14-5-2003).

121. Limitações do juízo deprecado, em tema de exceção de incompetência de foro, e em questão de méritoSuscitada no juízo deprecado exceção de incompetência do juízo

deprecante, poderá aquele recusar cumprimento à carta precatória?

A resposta é, em princípio, negativa. Assim decidiu a 2- Seção doSuperior Tribunal de Justiça, no CC 1.395, relator o Min. Sálvio de Figueiredo, constando da ementa: “Sendo vedado ao juízo deprecado recusarcumprimento à precatória ao entendimento de que competente seria um

terceiro juízo, competente para a apreciação da arguição de incompetênciarelativa é o juiz deprecante”.

Idêntica a solução adotada no .CC 1.452, relator o Min. Nilson Naves: “Não é lícito ao juiz deprecado recusar cumprimento à precatória, à consideração de incompetência. Conflito conhecido e declaradocompetente o juiz deprecado, para determinar o cumprimento da carta,simplesmente”.

Também assim a 3a Seção do STJ, no CC 14.953, constando da emen

ta que “é vedado ao juiz deprecado recusar cumprimento à precatória aoentendimento de que competente seria um outro juízo” (ac. de 12-3-1997,rei. Min. Vicente Leal).

 Não cabe outrossim ao juízo deprecado suspender o cumprimento dacarta, em atenção a argumentos de mérito suscitados pela parte ré (v. g.,em carta executória para reintegração liminar de posse). No CC 1.474, deque fomos relator, a 2â Seção decidiu com a seguinte ementa:

“O juiz deprecado somente pode recusar cumprimento à precatória, e mandar devolvê-la, nos casos do art. 209 do CPC ouquando entender que absolutamente competente é o próprio juízo deprecado.

Fora disso, a defesa oposta ao cumprimento da diligência deveser apreciada, em sua oportunidade e merecimento, pelo juízo deprecante, que é o juiz da causa”5.

5. Os acórdãos dos CC 1.452 e 1.474 estão por ementa transcritos no Anexo IV,e na íntegra no site <www.saraivajur.com.br >.

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A2â Seção, outrossim, apreciando o CC 18.111, ac. de 9-4-1997, rei.Min. Flaquer Scaríezzini, reafirmou que “ao juízo deprecado cumpreatender às solicitações contidas na carta precatória, somente não o fazendo quando não revestidas dos requisitos legais, nos exatos termos do art.209, CPC”.

Em outra oportunidade, recusando-se juiz estadual a cumprir precatória expedida por juiz federal, sob o argumento de que a tanto se opunhauma Resolução do TJ, teve a lâ Seção do STJ oportunidade de reiterar queao juiz deprecado cabe simplesmente determinar o cumprimento da precatória (CPC, arts. 209 e 1.213, e art. 42 da Lei 5.010/66), só podendodevolvê-la caso se considerasse absolutamente competente para o julgamento da própria causa, hipótese em que suscitaria o conflito positivo (CC27.688, rei. Min. Milton Luiz Pereira, ac. de 18-12-2000, RSTJ, 150:33).

Afirmou outrossim a lâ Seção que “não pode o juiz estadual negarcumprimento à carta precatória, sob o argumento de que sua comarca estaria inserida no âmbito de competência do juízo federal deprecante, a nãoser que a comarca também seja sede de juízo federal. Somente nos estritoscasos do art. 209 poderá o juiz deprecado recusar cumprimento à carta

 precatória, devolvendo-a com despacho motivado (CC 40.406, reL Min.Castro Meira, ac. 11-2-2004).

O juízo federal pode solicitar a cooperação da Justiça Estadual quando a carta rogatória se destina a citar ou intimar pessoa que tem domicílioonde não esteja instalada sede da Justiça Federal (art. 42, caput , da Lei n.5.010/66) (CC 89.791, 2ã Seção, rei. Min. Gomes de Barros, j. 14-11-2007).

122. Â competência na via jurisdicional prevalece sobre a competência em nível administrativo

Um tema de certa forma similar refere-se à impossibilidade de o Juizde Direito Corregedor dos Registros Públicos, no exercício de sua atividade administrativa, opor~se, de ofício ou em procedimento de dúvida, aodecidido por outro juiz, em sede jurisdicional, o qual haja determinado,

 por exemplo, a penhora de determinado bem imóvel e o respectivo registroimobiliário, ou determinado o cancelamento de registro por haver sidoanulada a arrematação de imóvel realizada a preço vil.

Por todos, cite-se o fundamentado aresto, com remissões à jurisprudência, lançado pela 2â Seção do STJ no julgamento do CC 30.820, ac. de22-8-2001, sendo relator o Min. Pádua Ribeiro, em cuja ementa lê~se:

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“Conflito de competência. Juiz do Trabalho. Juiz-Corregedor deCartório extrajudicial. Não deve o juiz-corregedor, em atividade administrativa, recusar cumprimento de mandado expedido por juiz no exercíciode sua jurisdição, sob pena de invadir~lhe a competência. Precedentes”.

Esse aresto está publicado, na íntegra, na RSTJ , 150:229.

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COMPETÊNCIA FUNCIONAL, PELA VINCULAÇÃO 

DO JUIZ AO PROCESSO

Capítulo XXV

123. Princípio da identidade física do juiz no CPC de 1939A regra de que o juiz da sentença deva ser o mesmo juiz que presidiu

à audiência e recebeu a prova oral é corolário lógico do princípio da ime diação: “é claro, com efeito, que tanto a oralidade quanto a imediação sãoimpraticáveis se os diversos atos processuais se desenvolvem perante pessoas físicas a cada trecho variadas; pois que a impressão recebida pelo juiz que assiste a um ou mais atos não se pode transfundir no outro quetenha de julgar, mas somente se lhe poderia transmitir por meio da escrita,

e, em tal hipótese, o processo que seria oral em relação ao juiz instrutortomar-se-ia escrito em relação ao julgador” (Chiovenda, Instituições, cit.,v.3,n. 309)1.

Em conseqüência de tais princípios, o art. 120 do Código de Processo Civil de 1939 dispunha:

“O juiz transferido, promovido ou aposentado concluirá o jul gamento dos processos cuja instrução houver iniciado em audiência,  salvo se o fundamento da aposentadoria houver sido a absoluta in

 capacidade física ou moral para o exercício do cargo. O juiz substi-

1. Forte na intenção de instituir no processo civil brasileiro o sistema da oralidade, expunha Francisco Campos:

“O princípio que deve reger a situação do juiz em relação à prova e o de concentração dos atos do processo postulam, necessariamente, o princípio da identidade física do juiz. O juiz que dirige a instrução do processo há de ser o juiz que decida o litígio. Nem de outra maneira poderia ser, pois o processo visando à investigação daverdade, somente o juiz que tomou as provas está realmente habilitado a apreciá-lasdo ponto de vista do seu valor ou da sua eficácia em relação aos pontos debatidos”(Exposição de Motivos do Código de Processo Civil de 1939).

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 tato, que houver funcionado na instrução do processo em audiência,  será o competente para julgá-lo, ainda quando o efetivo tenha reas

 sumido o exercício.

 Parágrafo único. Se, iniciada a instrução, o juiz falecer, ou ficar,  por moléstia, impossibilitado de julgar a causa, o substituto manda

 rá repetir as provas produzidas oralmente, quando necessário”.

Apesar da excelência, no plano teórico, da  regra da permanência  subjetiva do juiz, todavia a amplitude.de sua incidênciaconduziu, na ordem prática, vezes muitas, a resultados contraproducentes e indesejados, que olegislador certamente não previra.

Em país de dimensões continentais, em que as distâncias entre co

marcas se medem frequentemente por dezenas de quilômetros nem sempre £com boas vias de comunicação, com crônica carência numérica de juizese pautas em geral já sobrecarregadas de audiências, as transferências e as

 promoções de juizes para circunscrições distantes criaram problemas dedifícil solução, procrastinando por longo tempo a solução dos feitos aosquais ficara o juiz vinculado na comarca de origem. E quando a audiênciaera afinal concluída e o processo julgado, o princípio da concentração ficava relegado ao oblívio, pois apagadas estavam da memória do julgador

as impressões colhidas ao início da instrução, com manifesto sacrifício dasvantagens da imediatidade.

Visando afastar tais demoras prejudiciais até à boa imagem da Justiça perante o povo, juizes diligentes — encarando a regra do art. 120 comose fosse de competência relativa — anuíam, com a concordância das partes, em “aceitar” a causa, considerando desvinculado seu antecessor.

124. Orientação pragmática do Código vigente

O Código de Processo Civil de 1973 adotou solução pragmática,condizente com as realidades locais: permaneceu o princípio da imediação  como regra geral e imperativa, mas excetuado naquelas hipóteses em quea experiência o desaconselhou.

Assim, pelo art. 132, em sua original redação:

"O juiz, titular ou substituto, que iniciar a audiência concluirá  a instrução, julgando a lide, salvo se for transferido, promovido ou 

 aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. Ao re cebê-los, o sucessor prosseguirá na audiência, mandando repetir, se entender necessário, as provas já produzidas”.

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 Na Exposição de Motivos do Código vigente, o eminente proces-sualista Prof. Alfredo Buzaid, então Ministro da Justiça, dá os motivos daalteração:

“O Brasil não poderia consagrar uma aplicação rígida e inflexível do princípio da identidade, sobretudo porque, quando o juiz é

 promovido para comarca distante, tem grande dificuldade para retornar ao juízo de origem e concluir as audiências iniciadas. O projeto

 preservou o princípio da identidade física do juiz, salvo nos casos deremoção, promoção ou aposentadoria. A exceção aberta à regra geralconfirma-lhe a eficácia e o valor científico”.

125. 0a competência, para proferir a sentença, do juiz transferido após concluir a instrução em audiência

Sob vários aspectos, a exegese do art. 132, na redação anterior àedição da Lei n. 8.637, de 31-3-1993, já suscitava graves dissensões juris- prudenciais.

Foi tema altamente controvertido o da competência do juiz que presidiu e concluiu a instrução em audiência, sendo, no entanto, transferido antes de proferir a sentença.  Nesse caso, a transferência faria cessar a

vinculação, ou, ao contrário, prevaleceria a regra geral da permanênciasubjetiva?

 Nosso ponto de vista inicial, em favor de interpretação teleológicada regra geral, mantidos os princípios da imediação e da identidade físicacomo normas cardeais do processo, constou de acórdão da 2-  CâmaraCivil do TARS (Ap. 12.619, de 18-5-1976, de que fomos relator).

126. Posição, a respeito, do Supremo Tribunal Federal

Foram numerosas as decisões, num e noutro sentido, até que o Su premo Tribunal Federal veio a pronunciar-se a respeito do tema, por sua2- Turma, em aresto de 5 de dezembro de 1978, sendo relator o Min. Leitão de Abreu, RE 86.759-7-SP, sob ementa de que consta o seguinte:“Julgamento da lide. Mesmo finda a instrução, o juiz transferido, promovido ou aposentado não fica vinculado ao processo para julgar a causa.Interpretação do art. 132 do CPC” (DJU, 16 mar. 1979, p. 1824; AJURIS, 16:86).

A mesma 2-  Turma reiterou tal entendimento nos RE 91.810, rei.Min. Moreira Alves (ac. de 25-11-1980), e 93.283, rei. Min. Djaci Falcão(ac. de 14-11-1980, RTJ , 700:820), em ambos sendo decretada a nulidade

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 da sentença prolatada por juiz que, anteriormente à sua transferência por  promoção, concluíra a audiência de instrução.

Da Turma vale citar os RE 89.722 (rei. Min. Thompson Flores),96.384 (rei. Min. Rafael Mayer) e 99.724 (rei. Min. Néri da Silveira).

127. Controvérsia no campo doutrinário

 No campo doutrinário persistia a controvérsia.

Pela  desvinculação  do juiz transferido, mesmo após concluída ainstrução, era o magistério de José Frederico Marques (. Manual de direito 

 processual civil, v. 3, n. 521) e de José Carlos Barbosa Moreira (O novo  processo, cit., 13. ed., p. 101). Emane Fidélis dos Santos adotou a tese da

 desvinculação,  mesmo se a transferência ou promoção ocorresse apósencerrada a instrução e até os debates (. Manual de direito processual civil , Saraiva, v. 1, n. 323).

Mestre Arruda Alvim sustentava a vinculação {Manual, cit., v. 1, p.9-10; Código, cit., v. 1, p. 65); assim também Wellington Moreira Pimen-tel (Comentários ao Código de Processo Civil, Revista dos Tribunais, 1975,v. 3, p. 481).

Vale notar que não ocorre, todavia, vinculação alguma do juiz quan

do a audiência limita-se apenas à tentativa de conciliação e aos debatesorais. Uma e outros não são atos de instrução, e portanto não estão sob aregra da imediação.

128. Hipótese de remoção de vara dentro da mesma comarcaUm segundo tema, também altamente polêmico, concernia à ampli

tude da expressão “transferência”, usada no art. 132 do Código de Processo Civil, anterior redação, questionando-se se abrangia, ou não, a remoção 

do juiz de uma vara para outra, ou a cessação de substituição, sempre  na  mesma comarca.

Sérgio Sahione Fadei considerou que “por transferência não se deveentender a simples mudança de vara ou juízo dentro de uma mesma comarca ou seção judiciária. Nessas hipóteses, o princípio da vinculação

 persiste. Apenas nos casos de transferência para outro local — princípioda competência territorial — é que se deve remeter o processo ao juizsucessor para os fins consignados no dispositivo” (Comentários ao Códi

 go de Processo Civil , Konfino, t. 1, p. 240).

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129. Tendência sobre a exegese do art. 132 do Código de Processo Civií 

A tendência da jurisprudência, a respeito da amplitude da vinculação prevista no art. 132 do Código de Processo Civil, apresentava-se marcante-

mente restritiva, por certo devido às dificuldades e problemas de ordem prática que o princípio da imediação, embora excelente no plano doutrinário, acarreta ao andamento mais célere (ou menos demorado) dos processos.

A 5â CC doTJRS, ac. de 13-9-1988 (RJTJRS, 133:412, rei Des. RuyRosado de Aguiar Jr.), defendeu a mantença da vinculação em caso de Varaem regime de exceção (juiz titular mais um juiz designado para simultâneo

exercício da jurisdição na Vara com os serviços em atraso), sustentandoque mesmo durante os regimes de exceção “o juiz titular que instrui deve proferir a sentença”; deixou, todavia, de anular a sentença porque a provaoral, tomada em audiência, era absolutamente desnecessária, resumindo-sea lide à questão de direito.

 No Superior Tribunal de Justiça a orientação pronunciou-se pela nãovinculação.

Assim, v. g., no REsp 13.651 (.RJSTJ , 27:496, ac. de 29-10-1991,3â Turma, rei. Min. Eduardo Ribeiro) restou decidido que o juiz substituto, designado para outra Vara na mesma comarca, não fica adstrito ao

 julgamento dos feitos cuja instrução em audiência houvesse iniciado naVara em que antes estivera servindo. Observou o relator que “há de serrecebida com reserva a afirmação de que a regra é a observância daidentidade física e que as exceções devem ser interpretadas sem ampliações. Na verdade, a regra é o juiz exercer jurisdição na Vara de que é

titular ou para a qual se encontra designado. Feitas essas anotações preliminares, adianto a afirmação de que se há de ter como compreendidana transferência, fazendo cessar a vinculação, a designação de juiz paraVara distinta daquela em que praticou os atos, aptos em princípio paradeterminá-la”.

Sob semelhante diretriz o REsp 13.444 (STJ, 3~Turma, j. 29-10-1991,rei. Min. Waldemar Zveiter), afirmando-se que se o “juiz auxiliar” deuinício à audiência de instrução, não a concluindo, competente para senten

ciar será o juiz titular que a concluiu e recebeu as alegações finais. No REsp 20.382 (STJ, 3â Turma, j. 25-5-1992, rei. Min. Nilson Naves)

foi mantida a orientação do Pretório Excelso, no sentido de que o juiz

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 promovido não estará vinculado para julgar a demanda, ainda que tenhaconcluído a instrução colhendo toda a prova em audiência2.

130. Nova sistemática da Lei n. 8.637/93

 Nos termos da Lei n. 8.637, de 31-3-1993, a redação do art. 132 passou a ser a seguinte:

“Art. 132. O Juiz, titular ou substituto, que concluir a audiên cia julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado  por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que pas sará os autos ao seu sucessor.

 Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o Juiz que proferir a 

 sentença, se entender necessário, poderá mandar repetir as provas $  já produzidas ”.

Vê-se, pois, que o legislador, não querendo romper com o princípiodoutrinário da “imediação”, manteve em tese a aplicação da regra da identidade física relativamente ao juiz que concluir (não mais “iniciar”) a audiência; mas simultaneamente, por certo tendo em vista conveniências deordem prática, estabeleceu numerosos casos de afastamento da regra.

Ponho, aqui, as seguintes anotações:

 a) será competente para sentenciar o juiz que, na última etapada audiência, tomar um derradeiro depoimento, ainda que a maior

 parte da prova oral haja sido efetivada em etapas anteriores peranteoutro magistrado;

 b) rompe-se a vinculação se o juiz que concluiu a instrução emaudiência vier a ser convocado, v. g., para servir transitoriamente noTribunal ou na Corregedoria da Justiça;

c) rompe~se a vinculação se o juiz for licenciado, v. g., paratratamento de saúde, licença especial ou repouso à gestante3;

2. A respeito da aplicação jurisprudencial do princípio da vinculação do juiz, podem ser ainda consultados os arestos insertos:

1. na RJTJSP, J 10:221;2. na RJTJRS, 106:324,116:119 e 120:302 (neste último é adotada a tese de que

a cessação da substituição eqüivale à transferência do juiz substituto).

3. Se o magistrado que instruiu o processo encontra-se em licença médica, seusucessor poderá proferir sentença sem ofensa ao princípio do art. 132 do CPC (Ag.Inst. 578.156, rei. Min. Pádua Ribeiro, dec. 30-3-2005, DJU , 6 maio 2005, p. 276).

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d)  rompe-se a vinculação se por qualquer motivo for o juiz afastado do exercício do cargo: frequência a cursos de aperfeiçoamento, prestação com exclusividade de serviços à Justiça Eleitoral,afastamento para exercer a presidência de associação de classe, afas

tamento por motivos disciplinares;e) rompe-se a vinculação pela promoção do juiz para entrância

de categoria superior, ou para o Tribunal de Justiça ou de Alçada; e,evidentemente, se for nomeado juiz de outra “Justiça”, como quandoo juiz da Justiça comum é nomeado juiz federal, ou trabalhista;

 f) rompe-se a vinculação pela aposentadoria,  pois esta acarretaa perda do próprio poder jurisdicional (Agrícola Barbi, Comentários, cit., v. 1, n. 704), e à evidência também pela exoneração e pela de

 missão do juiz. No alusivo ao juiz em férias, a 2- Turma do STJ decidiu que, em tal

caso, não se justifica, mesmo com a inclusão no art. 132 da expressão“afastado por qualquer motivo”, deixar sem aplicação diversos princípiosinformadores do processo (oralidade, imediatidade, identidade física do

 juiz, juiz natural) apenas para salvaguardar a celeridade processual, umavez que o período de férias não pode superar os 60 dias e não configura

afastamento nem licença; assim, o juiz, embora em férias, continua vinculado ao processo que instruiu (REsp 256.198, rei. Min. Franciulli Netto).

Em sentido contrário, a 4- Turma, com os votos vencidos dos Ministros Cesar Rocha e Ruy Rosado, julgou competente o juiz substituto para

 proferir sentença, embora o juiz titular, em férias, houvesse em audiênciainstruído o processo (REsp 262.631, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., ac. de13-2-2001; idem no REsp 134.678, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de2-3-1999).

Suscita as maiores dúvidas saber se, ante a amplitude do novo texto, permanecerá vinculado ao processo o juiz que, embora tenha concluído ainstrução em audiência, houver sido  transferido  para outra comarca, ou removido  para outra vara na mesma comarca. Assim também quanto ao juiz substituto, afastado em decorrência da  cessação da substituição emdeterminada vara.

Em anterior edição desta obra sustentamos que a transferência, aremoção e a cessação da substituição seriam todas motivos para a desvincula

 ção do juiz; em suma, sustentamos que o juiz, titular ou substituto, somente permaneceria vinculado ao processo enquanto se mantivesse no efetivo exercício da jurisdição naquela vara onde o processo tramitava.

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Todavia, o STJ, por sua 4- Turma, rei. o Min. Sálvio de Figueiredo,inclinou-se pela vinculação  nos casos de “transferência”, sob a ementaseguinte:

“Princípio da identidade física do juiz. CPC, art. 132. Sentença

 proferida por juiz diverso do que conduziu e concluiu a instrução.‘Transferência’ (rectius, remoção) para outra vara da mesma comarca. Recurso desacolhido.

Encontrando-se já encerrada a instrução do feito, a simplesremoção do juiz que a tenha conduzido e concluído, máxime se realizada para outra vara da mesma comarca, não faz cessar a sua vin- '  culação, incumbindo-lhe proferir a sentença.

Interpretação que se coaduna com a nova redação do art. 132, £dada pela Lei 8.637/93, que não mais contemplou a remoção — im propriamente denominada de ‘transferência’ pelo legislador de 1973 — como causa de desvinculação nas hipóteses em que finda a faseinstrutória” (REsp 19.826, 24-8-1993, v. u„ RSTJ, 54:132).

O tema permanece polêmico. No REsp 164.391, rei. Min. Sálvio deFigueiredo, é afirmado que, encontrando-se já encerrada a instrução dofeito, a simples remoção do juiz que a tenha conduzido e concluído, má

xime se efetuada para outra vara da mesma comarca, não o impede de proferir a sentença; não obstante, a mesma Turma, no julgamento do REsp251.955, rei. Min. Menezes Direito, assentou que a remoção do juiz, queinstruiu o feito, constitui motivo bastante para que a causa seja julgada pelo seu substituto.

 Na eg. 3~ Turma pelo menos dois arestos salientam o enquadramento como absoluta  da competência do art. 132 do CPC. Assim o REsp56.119, rei. Min. Waldemar Zveiter, com a ementa seguinte:

“Identidade física do juiz. Se houve produção de prova emaudiência, o juiz que a presidiu fica vinculado, devendo sentenciar ofeito, salvo nas hipóteses previstas no art. 132 do CPC. Trata-se decompetência funcional, de caráter absoluto. Recurso conhecido e

 provido”.

Também o REsp 64.458, rei. Min. Nilson Naves:

“Identidade física do juiz. A celeridade processual e a faltade prejuízo não são motivos suficientes para desvincular do pro-

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cesso o juiz que iniciou a audiência e concluiu a instrução. Ofensaao art. 132 do CPC, na redação primitiva. Recurso especial conhecido e provido”.

131. Nulidade da sentença dada por juiz “auxiliar”, não vinculado

De outra parte, é certo que a vinculação manter-se-á naqueles casosem que, em decorrência de acúmulo de serviço, um outro juiz (ou outros

 juizes) é designado para exercer,  simultaneamente  com o juiz titular, a jurisdição da vara, como juiz “'auxiliar”, ou “cooperador”, ou “em regimede exceção”. A regra maior do juiz natural não será infringida na medida

em que a redistribuição dos processos venha a ser feita sob critérios genéricos; todavia não poderão ser redistribuídos ao juiz “auxiliar” aqueles processos conclusos para sentença e nos quais o juiz titular já houver con cluído o recebimento da prova oral4.

Anota-se, ainda, que no parágrafo único do art. 132 a expressão “juizque proferir a sentença” deve ser entendida como “juiz que deva proferira sentença”.

A designação de juiz para “auxiliar”, temporariamente, determinada

vara em regime de cooperação, tem por objetivo acelerar a prestação jurisdicional, e assim o término de tal designação conduzirá ao cancelamen to da vinculação aos processos cuja instrução em audiência haja concluído, enquadrando-se a hipótese como de afastamento “por qualquer motivo”referida no art. 132, e equiparando-se à transferência (REsp 149.366, rei.Min. Sálvio de Figueiredo; REsp 13.651, rei. Min. Eduardo Ribeiro; Ag.Inst. 394.907, rei. Min. Paulo Medina, dec. de 2-10-2001).

132. Casos de não ocorrência de vinculaçãoCabe reafirmar que  não ocorre  a competência por vinculação nos

casos seguintes:

 a) se a audiência, após aberta, e realizada sem êxito a tentativaconciliatória, tem seu prosseguimento designado para nova data, sem

4. Decidiu a 4- Turma do STJ ser “nula a sentença proferida por Juiz de DireitoCooperador, que não presidiu a instrução da causa”, anulando-se, em conseqüência, asentença (REsp 58.043. re!. Min. Torreão Braz, ac. de 7-3-1995).

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a colheita de prova oral (Arruda Alvim,' Manual, cit., 9. ed., v. 1, p.37); as meras gestões conciliatórias não vinculam o juiz;

b)  se, embora realizada a audiência, e inclusive os debates, as partes desistiram de prova oral; nesse sentido, aliás, a Súmula 262

do extinto Tribunal Federal de Recursos, verbis: “Não se vincula ao processo o juiz que não colheu prova em audiência”.

Em recente decisão referiu o Tribunal Regional Federal da 5âRegião (CC 0037, j. 22-8-1990, rei. juiz José Delgado) que “o juizque preside simples audiência, onde não foi produzida prova dequalquer natureza, não se vincula ao feito”. Assim também o SuperiorTribunal de Justiça, nos REsp 7.219 (rei. Min. Eduardo Ribeiro) e23.560 (rei. Min. Dias Trindade);

c) quando a totalidade da prova oral for realizada por via de precatória ou rogatória (STJ, 3~ Turma, REsp 4.091, j. 27-8-1990,rei. Min. Cláudio Santos);

d) quando a prova oral, embora colhida por outro juiz que nãoo prolator da sentença, se evidencie “de todo irrelevante, pois a matéria controvertida, que não fosse simplesmente de direito, haveriade ser decidida com a interpretação de cláusulas contratuais” (STJ,

3-Turma, REsp 57.871, rei. Min. Eduardo Ribeiro, ac. de 11-3-1996, p. m. v., venc. os Mins. Costa Leite e Nilson Naves,  RSTJ ,105:244);

é) quando a prova oral houver sido colhida em processo acessório, inclusive quando de natureza cautelar;

 f) se o juiz de investidura limitada no tempo — juiz adjunto, pretor, juiz municipal — for nomeado juiz de direito, igualmente deveser tido por desvinculado do processo.

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Capítulo XXVI

CONTROLE DACOMPETÊNCIA

(|33pInstrumentos processuais para o controle da competênciaÉ dever primeiro do juiz, ao lhe ser concluso um processo, o de ve

rificar se é competente, conforme os critérios da  competência absoluta,  para dele conhecer. Todo iulz, assim, “é competente para apreciar sua própria competência”. Mas, por isso mesmo, a decisão de um juiz, aodeclarar-se competente ou incompetente, não obriga outros juizes.

Assim, o princípio que domina os incidentes e questões sobre com petência “é o de que todo órgão judiciário é juiz da própria competência(a chamada Kompetenz-Kompetenz dos alemães):... é claro que o juiz podedecidir sobre sua própria competência, sem no entanto vincular outro juiz

a essa decisão, pois que este também tem competência para apreciar edecidir a respeito dos pressupostos do processo” (Piero Calamandrei, apudJosé Frederico Marques, Instituições, cit., n. 245).

O controle da competência pode ser feito mediante a “exceção deincompetência” e p o r m S

Temos, outrossim, o conflito de atribuições,  a que alude o CPC emseu 1S 1 2 4 ) verbis:

“Os regimentos internos dos_ tribunais regularão o processo julgamento do conflito de atribuições entre autoridade judiciária e

 autoridade administrativa ——.. _  , Tl , ,rr-..r.j,-,....

 No STJ os conflitos de competência e de atribuições encontram-seregidos pelos arts. 193 e 198 do Regimento Interno; no STF, nos arts. 163a 168 do respectivo regimento.

Observe-se, a respeito, que, como sintetizaram Luiz Guilherme Ma

rinoni e Sérgio Cruz Arenhart, “o conflito de competência sempre importará a divergência (a respeito da competência), entre mais de um órgão  jurisdicional. Esta é a fundamental diferença entre essa figura e a exceção

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de incompetência, em que a competência de um (e um só) determinado órgão é questionada” ... “o conflito de competência só pode ser instauradoquando Q st^& xtm dís^s sfioàcm ^e^ nc ia jurisdicional de autoridades.Caso a discussão se trave sobre a atribuição (competência) administrativa 

de autoridades judiciárias, ou de autoridade judiciária e autoridade admT-nistrativa, não haverá espaço para o conflito de competência. Será o casode in$tãíTfãçao"de conflito áe atribuições..: ^Manual do processo de co- nhecimento, 2. ed., Revista dos Tribunais, 2003, n. 4.1.8, p. 55-8).

Decidida sob preclusão a questão da competência, tem sido considerado que o temajaãauQdexá^ser reexaminado. Assim a 3â Turma do STJ, coma ementa: Se a matéria relativa à competência fo i decidida pelo Tribunal de origem em agravo de instrumento, o art . 473 do CPC desautoriza amodi- 

 ficação do anterior julgado. Precedente: REsp 408.198 (REsp 755.224, reiorig. (vencido) Min. Gomes de Barros, rei. desig. Min. Menezes Direito,cujo voto foi seguido pelos Min. Nancy Andrighi e Castro Filho).

s * 0  ° 

rf.34; Exceção de incompetênciaCabe ao réu arguir a incompetência relativa {do  foro pnde o autor

 propôs^dêmãncfa. A^oissibãlidãdêcíero^tirZTT/^n^cèT^clarar-se incom petente, ou suscitar conflito negativo de cõmpHenHiTUmita-se^os casigs—“

de competência absoluta.,..Temos sustentado que a “disponibilidade” das partes, em escolher ouaceitar o foro onde deva a causa tramitar, é exatamente a tônica da distirP'çao entre a competência relativa (disponível) e a competência absoluta(indisponível)1.

 Neste sentido a\súmula 33)do Superior Tribunal de Justiça: “A incompetência relativa.nã/L.aade„s.e£_declarada de ofício” (C orte HspêcIalTem 24-10-1991).

1. Moniz de Aragão, todavia, entendeu que “lei alguma proíbe aos juizes declarar de ofício a incompetência relativa”, dês que o façam “no primeiro momento em queatuem no caso, ao apreciar a petição inicial, pois aí se firmará a prorrogação, que ficará a critério do réu obstar” (Comentários ao Código de Processo Civil, 9. ed., Forense,1998, v. 2, n. 192 e 348). A esse entendimento aderiu Alcides de Mendonça Lima(.Direito processual civil , Bushatsky, 1977, p. 62-6).

 No sentido do texto o magistério de José Frederico Marques ( Manual , cit., v. 2,Parte 1, n. 383, nota 1); igualmente Calmon de Passos ( Comentários ao Código de 

 Processo Civil,  8. ed., Forense, 1998, v. 3, n. 203) e Cândido Dinamarco ( Direito  processual civil , p, 138).

V., quanto aos contratos de adesão , o exposto no verbete n. 65.

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O réu suscitará a incompetência relativa por, intermédio da “exceçãode incompetência” (CPC, art. 112), oferecida no prazo de 15 dias (arts.

' 2^7 e 305) e sob o rito previsto nos arts. 299, 307 e s. do Código de Pro- _cessa-Civ.il — 

Ao lado da contestação e da reconvenção, a exceção é uma das formas pelas quais pode o réu oferecer  resposta à petição inicial do autor (CPC,'art. 297).

 Note-se, como já exposto, que a incompetência absoluta, causadorade nulidade prO-ces.s.u.aL_dey£userLdeclarada de ofício  pelo juiz; outrossim,e sem necessidade de exceção, é alegável mediante simpíês~petição porqualquer das partes, em qualquer momento processual, inclusive em grãiP"de recurso (art, 113). O réu, todavia, tem o dever de alegá-la çornojareli^minar na contestação (CPC, art. 301, II); e o autor, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. A parte que assim não procedernão perde a oportunidade de posteriormente susciTaFã^inTcompetênciaabsoluta, mas responderá pelas custas acrescidas (art. 113, § Ia).

A excecão de incompetência é processada em apenso aos autos principais. e a decisão nela proferida pode ser impugnada por meio de agravode instrumento (CPC, art. 522), sem efeito suspensT^YiHnclocTprocesso

suspenso (art. 265, III) até o julgamento da exceção pelo juiz dêHFgnm(REsp 578.344, rei. Min. Pádua Ribeiro, j. 16-3-2004).

;Í35'. Conflito de competênciaOcorre o conflito de competência (que o CPC de 1939 denominava

impropriamente  conflito de jurisdição, expressão ainda usada no CPP)quando dois ou mais juizes (a expressão “iuízes” £mDr£gadajaaCEC^ail^115, compreende tanto os juizes de primeiro grau como os juizes colegia_r

dos de segundo grau) se declaram competentes  para conhecer de determinada causa — conflito positivo de competência —, ou quando se conside- ,ram incompetentes  para conhecer da causa — conflito negativo de compe-tência.

Trata-se, o conflito de competência, de um incidente processual , ausente natureza de recurso, e o acórdão que o julga tem naturezadecla-ratória, porque se limita a declarar qual o juiz competente. Deverá ser

suscitado perante o Presidente do tribunal, quer pelo juiz, de ofício, como pela parte ou pelo Ministério Público, mediante petição (CPC, art. 118).O procedimento e os poderes do relator são disciplinados nos arts. 119 e

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seguintes1'-*. Conforme passou a dispor o art. 120, parágrafo único, haven-,do jurisprudênciadommãnTê do tnSunãTsobre a questão suscitada, oconflito poderá.sejijdecidido de plano e monocraticamente pelo própriorelator (decisão sujeita a agravo interno, no prazo de cinco dias).

O conflito de competência pode ocorrer em tomo de um só processo ou em torno de processos conexos.

Em tomo de apenas um processo: se o juiz A se considera absolutamente incompetente, digamos que em razão da matéria, para conhecer dacausa, remeterá o processo ao juiz B, indicado como sendo o competente(CPC, art. 113, § 2-, infine). Mas o juiz B, também dotado de “competência para julgar sua própria competência”, poderá não aceitar tal entendimento, considerando competente (competência absoluta) o juiz A.

Cabe então ao juiz B, por ofício (CPC, art. 118,1), suscitar o conflito perante o Presidente do Tribunal a que é subordinado (Tribunal deJustiça, em se cuidando de juiz estadual; Tribunal Regional Federal, emse cuidando de conflito entre juizes federais da mesma Região), ou, ainda,se o conflito ocorre entre juizes estaduais subordinados a tribunais deEstados diversos, ou entre juizes federais de Regiões diversas, perante oPresidente do Superior Tribunal de Justiça2.

É possível ao Tribunal declarar, conhecendo do conflito, competentenão o juízo A, nem o juízo B, mas sim um terceiro juízo, o juízo C, para processar e julgar a demanda (STJ, l â Seção, CC 107, j. 17-10-1989, rei.Min. Vicente Cernicchiaro, RSTJ , 6:92).

A Lei de Organização Judiciária e o Regimento Interno do Tribunaldirão qual o órgão deste ao qual caberá o julgamento de determinadoconflito. No Superior Tribunal de Justiça, os conflitos de competência sãoem princípio julgados pelas Seções (especializadas em razão da matéria);

1-A. A respeito do tema, vide a minudente exposição de Daniel Amorim As-sumpção Neves, Poderes do relator no julgamento do conflito de competência, publicada em Dialética, 51/22).

2. Geralmente o conflito se estabelece entre dois juízos , v. g., entre o juízo da lâVara Cível e o juÍ20 da 2a Vara de Família e Sucessões.

Mas também pode ocorrer um conflito propriamente entre juizes; assim, o atualtitular da vara, em exegese do ait, 132 do Código de Processo Civil, pode considerarvinculado ao feito, e, portanto, com competência absoluta para proferir a sentença, oanterior juiz dela transferido, e este pode considerar-se desvinculado. No conflito nãoserá apreciado qual o juízo competente, pois a esse respeito não surge dúvida, mas sim,naquele juízo, qual o juiz competente.

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mas se o conflito for interna corporis, caberá o julgamento à Corte Especial (= órgão especial do STJ).

( J 3  éí ) d o  não cabimento de conflito entre tribunais de hierarquia  

diversaReiteradamente tem entendido o Pretório Excelso ser incabível  o con

flito de competência entre tribunais “organizados hierarquicamente, comoacontece entre o STJ e os TRFs, entre o TST e os TRTs, entre o TSE e osTREs” (CC 6.963-STF, Plenário, ac. de 26-2-1998, reL Min. Maurício Corrêa). Nesse caso cuidou-se de decisão do STJ, que em ação rescisória de julgadodeclinara de competência para o TRF da lâ Região, vindo esta Corte a suscitar conflito negativo perante o Supremo Tribunal Federal, que dele não conheceu, e mandou fossem os autos devolvidos ao tribunal suscitante.

 No mesmo sentido, definindo o alcance do art. 102,1, o,  da Constituição Federal, o CC 6.990-STF, rei. Min. Maurício Corrêa, ac. de 12-2-1998.

Em assim sendo» e embora passível de certas objeções em sede doutrinária, igualmente apresentava-se remansoso o entendimento de que nãocabia conflito de competência entre Tribunal de Justiça e (o antigo) Tribunal

de Alçada do mesmo Estado-Membro, devendo eventuais divergências sersolucionadas mediante o mecanismo das “dúvidas de competência”, a serem julgadas pelo Tribunal de maior graduação administrativa, isso “em face da posição institucional conferida pela Lei Maior ao Tribunal de Justiça”.

A respeito, o ac. da 2â Seção do STJ no CC 487, rei. Min. BarrosMonteiro, RSTJ , *5:123, em orientação ao final traduzida na Súmula 22 doSTJ, verbis:

“Não há conflito de competência entre o Tribunal de 

 Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado-Membro ” (Corte Especial, em 13-12-1990).

Esta Súmula apresenta-se superada, ante a extinção dos Tribunais deAlçada pela EC n. 45/2004.

V., ainda, a nota de rodapé n. 6 deste capítulo.

(13J. Incompetência do tribunal para apreciar decisão de juiz 

^ ^ vinculado a outro tribunalQuanto à competência dos tribunais, impende sublinhar que a cada_tribunal assiste, em princípio, competência privativa  para julgar os recur-

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sos, e também as açoes rescisórias, das deçisõesjgroferidas pelos juizesqueTa eles^estão vincuj^dos^ s^a^juaj for^o.co.nteMQ-da de cisã Assim:

g)as decisÕesdejuízesestaduaissomente-poderão.sejixefQnua^das ou mantidas pdosT ri bunai s_ de Justiça do respectivo Estado--Membro;

 b) as decisões de juizes federais somente poderão ser apreciadas,,em grau recursal, pelo respectivo Tribunal RegionaLEederah__ 

ç) por exceção, as decisões dos juizes estaduais são submetidasao Tribunal Regional Federal quando a Justiça comum atuar “por :delegação” federal, nos termos do art. 109, §§ 3~e 4Q, da ConstituiçloFederal, em comarca que não seja.sede de Vara do jüizoTederal (v.,a respeito, a Súmula 55 do STJ)3. ^

Estes, os princípios até agora consagrados. Todavia, contrariando talorientação — e como exposto nos verbetes 105, parte final, e 110 —, a l âTurma do STJ veio a afirmar que é de competência originária do Tribunal  

 Regional Federal  o julgamento de mandado de segurança impetrado porempresa pública federal (a CEF) contra ato praticado por juiz de direito (RMS 18.040, rei. Min. Teori Zavascki, ac. de 3-2-2005). Tratou-se, segundo o aresto, de afirmar o princípio da prevalência do órgão judiciárioda União sobre o do Estado-Membro, conjugado com o princípio da hie rarquia, ou seja, sendo o ato praticado por juiz, o julgamento deverá caberao órgão judiciário de segunda instância. No voto condutor consta que“solução semelhante tem sido dada para as ações rescisórias de sentenças proferidas pela Justiça dos Estados quando nelas figurar, como parte ouinterveniente, um ente federal”, anotando-se como precedentes o CC 5.427,2- Seção, rei. Min. Cláudio Santos e o REsp 94.332, 4- Turma, rei. Min.Sálvio de Figueiredo. Foi, outrossim, invocado nesse sentido o precedente do Supremo Tribunal Federal no RE 176.881 (Pleno, maioria de  cinco 

votos a quatro, rei. desig. Min. Ilmar Galvão, ac. de 6-3-1998).Consideramos, todavia, bem mais jurídica e sistemática a solução

 preconizada no STF, no RE antes referido, no voto do relator originário,Min. Carlos Velloso, e que resultou vencido.

3. No CC 19.769, Ia Seção do STJ, ac. de 10-6-1998, rei. Min. Aldir PassarinhoJr., foi reiterado que “o Juiz de Direito, no exercício de jurisdição federal, é vinculado

ao Tribunal Federal da região respectiva, pelo que em caso de conflito negativo commagistrado federal do mesmo Estado, a competência para dirimir a controvérsia pertence àquela Corte e não ao STJ”.

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Anoto que não haverá possibilidade de suscitar conflito de competência quando já houver sentença transitada em julgado, proferida por umdos juízos conflitantes (Súmula 59 do STJ).

Por fim, é de lembrar que se o tribunal estadual entender a Justiça

do Estado como incompetente, e houver por competente a Justiça Federal, p. ex., em razão da matéria ou  ratione personae,  para processar e

 julgar a causa onde proferida a sentença, “cabe-lhe anular o ato decisó-rio e determinar a remessa do feito ao juízo federal que entender com

 petente, não devendo remeter o processo ao Tribunal Regional Federal”, pois nenhum tribunal, como dito, salvante em casos de competência“delegada”, pode revisar os atos de juizes que lhe não são vinculados(STJ, 2â Seção, CC 2.312, j. 29-4-1992, rei. Min. Athos Carneiro). V.,

nesta obra, o verbete n. 111.Da mesma forma procederá,  mutatis mutandis, o Tribunal Regional

Federal quando receber recurso proferido em causa que entender de com petência da Justiça do Estado4.

138. Conflito de competência nos casos de processos conexosO conflito também pode ocorrer em conseqüência da tramitação, em

diferentes juízos, de dois (ou mais) processos, alegadamente relacionados por conexão (ou continência). Modificando a competência, a conexão provocará a reunião dos processos perante um só dos juízos, i. e., perante o juízo prevento ou perante o juízo cuja competência deva prevalecer.

O critério da prevenção é afastado quando um dos juízos tiver com petência prevalecente sobre a do juízo que em princípio estaria prevento.Suponhamos duas ações conexas, propostas na mesma comarca; uma

4. Uma vez decidido conflito pelo Tribunal Regional Federal, comete “insubordinação hierárquica” o juiz estadual (execução fiscal, competência “delegada”) quevem a suscitar novo conflito, já agora perante o Superior Tribunal de Justiça: “decidido o conflito de competência pelo órgão competente, encerra-se a solução do incidente processual, devendo oymzoaquo submeter-se a esta decisão” (CC 34.761, l âSeção,rei. Min. Laurita Vaz, j. 26-6-2002,  Boletim do STJ , n. 15, out. 2002).

Caso semelhante veio a ser apreciado pelo STF, que ordenou ao Tribunal deAlçada-MG o cumprimento de anterior decisão do STJ, o qual em conflito de competência havia declarado competente a Justiça estadual, e não a Justiça do Trabalho;aditou o Pretório Excelso que “não pode haver conflito de competência entre um Tri

 bunal Superior (como é o STJ) e um Tribunal de Alçada (estadual) sujeito à jurisdiçãodaquele” (CC 7.129, Informativo do STF , n. 295, fev. 2003).

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 perante Vara Cível, a outra perante Vara de Família. Embora, por hipótese,estivesse prevento o juízo da Vara Cível (CPC, art. 106), a reunião dos

 processos dar-se-á perante a Vara de Família, cuja competência absoluta em razão da matéria será prorrogada para abranger também o conhecimen

to da outra causa5.Surgirá o conflito se os titulares dos juízos A e B divergirem, consi-

derando-se ambos competentes para o julgamento dos processos reunidos,ou considerando-se ambos incompetentes, ou um deles negando a proprianecessidade de reunião dos processos.

139. Conflito de competência suscitado por juiz não vinculado  

ao tribuna! que julgou questão de incompetênciaDeterminado tribunal, em apreciando questão de incompetência, vema declará-la procedente e determina a remessa ao juiz afirmadocompetente.

Este, todavia, sob o pressuposto de não ser jurisdicionalmente vinculado ao dito tribunal, suscita conflito perante o STJ, afirmando-se incompetente. Poderia fazê-lo?

Respondeu o STJ, por arestos relatados pelo Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, que sim , em se tratando de caso de competência absoluta;que não, em se cuidando de caso de competência relativa.

Conforme está na ementa do CC 4.404, ac. de 25-8-1993 (ver textodo acórdão na íntegra no site <www.saraivajur.com.br >). “Havendo acórdão em sede de agravo confirmando a declinatória, proferido por Tribunalao qual não esteja o juiz, ao qual foram encaminhados os autos, hierarquicamente vinculado, impende questionar da natureza da competência con

trovertida, haja vista que, sendo ela absoluta, lícito será ao magistradosuscitar o conflito. A incompetência relativa não pode ser declarada deofício (súmula STJ, enunciado n. 33)”.

5. Mas se as causas, com obediência às regras gerais de competência, foram propostas em diferentes comarcas, e são conexas, o critério da prevenção (CPC, art.219) determinará o “foro” competente; e, neste, as causas serão reunidas no “juízo”com competência prevalecente. Assim, a causa proposta em Porto Alegre perante Varade Família será remetida ao foro de Caxias do Sul, se neste ocorreu a primeira citaçãoem causa conexa tramitando em Vara Cível; todavia em Caxias ambas as causas serãoreunidas no juízo da Vara de Família, não no da Vara Cível.

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A respeito, igualmente o CC 5.192, ac. de 13-10-1993 (ementa noAnexo IV e texto na íntegra no site <www.saraivajur.com.br >).

140. Tribunal competente para o julgamento dos conflitos. Pro

cedimentoO conflito será promovido, por ofício, pelo juiz que primeiro o cons

tatar (“juiz suscitante”, passando o outro a ser o “juiz suscitado”); ou porqualquer das partes, mediante petição ao presidente do Tribunal; ou peloMinistério Público, quando lhe cabe intervir na causa (CPC, arts. 116, 81e 82). Mais comum, na prática forense, é a provocação por um dos magistrados.

 No Tribunal de Justiça ou no Tribunal Regional Federal (conforme acausa), o conflito será julgado pelo órgão competente (v. Lei de Organização Judiciária e Regimento Interno do Tribunal), observando-se o rito prescrito nos arts. 119 a 122 do Código de Processo Civil.

 Nos conflitos suscitados por juiz, considera-se procedente o conflito  positivo, quando julgado competente o juiz suscitante; porém, se negativo o conflito, será considerado procedente quando competente o juiz suscitado.

Podem igualmente ocorrer conflitos entre órgãos fracionários de ummesmo Tribunal (entre Câmaras separadas, entre Câmara e Grupo de Câmaras etc.). Observar-se-á, então, o que a respeito dispuserem o Códigode Organização Judiciária e o Regimento Interno do Tribunal.

O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça sãoconstitucionalmente competentes para decidir os conflitos de competênciaentre Tribunais, entre um Tribunal e juiz de primeira instância não subordinado ao mesmo Tribunal e entre juizes vinculados a Tribunais diversos

(CF, arts. 102,1, o, e 105,1, d)6.

6. O Sumo Pretório, todavia, declarou inadmissível o conflito entre Tribunal de  Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado-Membro.  Assim foi decidido nos CJ6.164 (RTJ 90:435), 6.168 (RTJ, 90:25), 6.184 e 6.238. Da mesma forma o SuperiorTribunal de Justiça, pela Súmula 22, verbis: “Não há conflito de competência entre oTribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado-Membro”. V. o verbeten. 136.

As divergências surgidas eram, pois, resolvidas pelo Tribunal de Justiça mediante “dúvida de competência”, nos termos dos Códigos de Organização Judiciária locais.A Súmula foi superada pela extinção dos Tribunais de Alçada, em decorrência da ECn. 45/2004.

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Assim, cabe ao Supremo Tribunal Federal, p. ex., julgar conflito entreo Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho, ou entreo Tribunal Superior Eleitoral e o Tribunal de Justiça de Pernambuco.

Já o Superior Tribunal de Justiça julgará os conflitos de competência

entre Tribunais estaduais, ou entre Tribunais Regionais Federais, ou quando em dissídio juizes vinculados a Tribunais diversos7.

Vale relembrar que nos casos de conflito de competência entre juiz dedireito, no exercício de jurisdição federal “delegada”, e juiz federal darespectiva região, “a competência para dirimir a controvérsia pertence aoTribunal Regional Federal e não ao STJ” (STJ, 1- Seção, CC 19.769, ac. de10-6-1998, rei. Min. Aldir Passarinho Jr.), nos termos da Súmula 3-STJ.

£141. Conflito do qual participe Juizado Especial

Com o advento dos Juizados Especiais, interessante questão foisuscitada, a saber, se o conflito de competência entre Juizado Especial eJuizado de Direito deve ser julgado e dirimido pelo Superior Tribunal deJustiça ou pelo Tribunal de Justiça do Estado. Tendo o Tribunal de Justiçado Amazonas se considerado incompetente, e mandado remeter o processo ao STJ, a 3~ Seção desta Corte (CC 30.137-AM, rei. Min. Felix Fischer)

não conheceu do conflito e teve por competente o Tribunal Estadual, assimdecidindo com remissão a arestos do Supremo Tribunal Federal, proferidos nos CC n. 7.096-G0 (rei. Min. Maurício Corrêa) e n. 7.095-GO (rei.Min. Ilmar Galvão), os quais declararam incompetentes tanto o STF comoo STJ.

7. O Supremo Tribunal Federal, ao tempo da Constituição pretérita, manteve a

Súmula 555, no sentido de ser competente “o Tribunal de Justiça para julgar conflitode jurisdição entre juiz de direito do Estado e a Justiça Militar local”, porém aditou-lhe,em face da superveniência da Emenda Constitucional n. 7, de 1977, a seguinte ressalva: “... salvo nos Estados que possuem Tribunal Militar de 2S grau, quando a competência será do Tribunal Federal de Recursos” ( RTJ , 89:31; 90:20; 90:26; 97:428).

Entretanto, no sistema constitucional atual, torna-se questionável a manutenção da aludida ressalva.  O Tribunal de Justiça mantém preeminência sobre o TribunalMilitar do Estado. Se não era admissível conflito de competência entre o Tribunal deJustiça e o de Alçada, pelos mesmos motivos prevalecerá o entendimento do Tribunalde Justiça em caso de “dúvida de competência” com a Corte militar local.

Assim, conflito entre Auditoria Militar estadual e a Justiça comum será dirimido, a nosso sentir, pelo Tribunal de Justiça do Estado-Membro e não pelo SuperiorTribunal de Justiça.

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Em suma: pela CF, art. 125, § 1-, a competência dos Tribunais locaisé definida na Constituição estadual, e as Constituições do Amazonas e deGoiás, como aliás deve ser regra em todos os Estados, afirmam a competência dos respectivos Tribunais de Justiça para processar e julgar, origi

nariamente, os conflitos de competência entre juizes. Mutatis mutandis, deveria ser considerado competente o Tribunal

Regional Federal em caso de conflito entre Juizado Especial Federal eJuízo de Vara Federal, ao mesmo submetido.

As coisas, no entanto, se complicam se o conflito surgir entre Juizado Cível Especial Estadual e Juizado de Vara Federal, ou entre JuizadosEspeciais de diferentes Estados, ou entre Juizado Especial Federal e Juizado Especial de Estado-Membro, casos em que não haverá solução outra,

dentro do sistema, do que atribuir a competência ao Superior Tribunal deJustiça.

Apreciando conflito entre o Juizado Especial Cível de Bento Gonçal-ves-RS e o Juizado Especial Cível de Tubarão-SC, a 2â Seção do STJafirmou competir a essa Corte “decidir conflito de competência entre Juizados Especiais vinculados a Tribunais diversos (CF, art. 105,1, ‘d’)” (CC30.692, rei. Min. Pádua Ribeiro, ac. de 27-11-2002, RSTJ, 168:295).

Eventuais conflitos de competência entre Juizados Especiais devem

ser julgados pela Turma Recursal respectiva, ou com aplicação analógicado disposto no art. 14 da Lei n. 10.259/2001, que instituiu as Turmas deUniformização.

Estavam as coisas nessa situação quando o Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, ao julgar o CC 7.081, alusivo a conflito negativoentre Turma de Juizado Especial de Belo Horizonte e o antigo Tribunal deAlçada de Minas Gerais, considerou competente para dirimi-lo o Superior  Tribunal de Justiça, sob o fundamento de que “as decisões de Turma Re

cursal de Juizado Especial, composta por Juizes de Ia grau, não estão su jeitas à jurisdição de Tribunais estaduais”; destarte, “havendo conflito decompetência, entre Turma Recursal de Juizado Especial e Tribunal deAlçada, deve ele ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termosdo art. 105,1, ‘d’, da CF, segundo o qual a incumbência lhe cabe quandoenvolva ‘tribunal e juizes a ele não vin cu la d o s(STF, Tribunal Pleno, rei.Min. Sydney Sanches, unânime, ac. de 19-8-2002).

Posteriormente, a 2- Seção do STJ veio a considerar, no julgamento

de Ag. Reg. na Recl. 1.500, que a CF “atribui competência ao STJ paradirimir conflitos entre Turma Recursal e o Tribunal local (STF - CC 7.081)”;e prossegue a ementa com a afirmação de que, “neste contexto, não reve-

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la usurpação de competência a decisão do Tribunal de Justiça de SantaCatarina quando decide conflito instaurado entre o  Juiz de Direito do 

 Juizado Especial Cível, e o Juiz de Direito da lâ Vara Cível, ambos dacomarca de Chapecó” (rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. 10-3-2004),

lendo-se do voto condutor que “o conflito se dá entre dois Juizes de Direito: um de vara cível e outro do Juizado Especial, decidindo — acertada-mente — o Tribunal de Justiça de Santa Catarina”.

 Nestes termos, concluiu-se que, sob esta orientação, os conflitosentre Turma Recursal e Tribunal de Justiça serão apreciados pelo STJ, masos conflitos entre o Juiz de Direito de Juizado Especial, e outro Juiz deDireito vinculado ao Tribunal de Justiça, serão apreciados pelo própriotribunal local. Coerentemente com nossa posição (exposta na nota de rodapé n. 7, verbete n. 140, infine), não poderá ocorrer conflito de compe- #tência entre Juiz de Direito de Juizado Especial e o Tribunal de Justiça domesmo Estado, ou entre Juiz Federal de Juizado Especial Federal e o res

 pectivo Tribunal Regional Federal, prevalecendo a decisão, no relativo àcompetência, adotada no Tribunal.

Rogando a devida vênia, parece-nos menos coerente a decisão doPretório Excelso de atribuir ao STJ a competência para o julgamento dosconflitos entre tribunais estaduais e Juizados Especiais mesmo quandointegrem, uns e outros, o Poder Judiciário do mesmo Estado da Federação.Embora a inexistência de vinculação jurisdicional, os Juizados Especiaise suas Turmas Recursais são integrados por juizes estaduais, e administrativa e financeiramente ligam-se ao Tribunal de Justiça. Muito mais razoável, dentro do sistema, atribuir aos Tribunais de Justiça a solução de taisconflitos, e assim também aos Tribunais Regionais Federais a solução deconflitos entre Turmas Recursais Federais ligadas a cada um dos TRFs.Apenas para os casos de conflitos entre Turmas Recursais vinculadas atribunais diversos, ou para conflitos entre Turma Recursal e órgão judiciário

vinculados a tribunais diversos, é que se impõe a competência do SuperiorTribunal de Justiça. Seria altamente conveniente que a questão fosse resolvida na via legislativa8.

8. Julgando conflito de competência entre Juiz de Direito de Juizado EspecialCível estadual e Juiz Federal de Juizado Especial Cível federal (ambos sediados emCriciúma/SC), a Ia Seção do STJ considerou essa Corte como competente para dirimir  o conflito, e afirmou a competência do juízo estadual, por cuidar-se de conflito entre

consumidores e empresa privada  concessionária de serviço público de telefonia, aBrasil Telecom, ponderando outrossim que a ANATEL fora excluída da relação processual (CC 46.985, lâ Seção, rei. Min. José Delgado, j. 13-4-2005).

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 Não obstante tais argumentos, o STJ, por sua 2a Seção, vem de aprovar (junho de 2008) a Súmula 348, com redação seguinte:

“348. Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os Conflitos de Competência entre juizado especial federal e juízo federal, ainda que da mesma seção judiciária”9.

Por coerência, será igualmente competente o STJ para o julgamentodos conflitos surgidos entre juizado especial estadual e juízo estadual,ainda que da mesma unidade da Federação.

A nosso sentir, e reiterando vênia, o Superior Tribunal de Justiçaassumiu aqui uma competência que naturalmente não lhe cabe. Mas, enquanto não cancelado tal enunciado sumular, cumpre observá-lo, a bem

da estabilidade e da segurança jurídicas.Devemos notar, neste passo, que o controle da competência  das

Turmas Recursais pode ser feito mediante a impetração de mandado desegurança ao respectivo tribunal (TJ ou TRF), embora mantida a vedaçãoa que, em outras matérias, a decisão da justiça especial possa ser revista

 pela justiça comum. Assim decidiu a Corte Especial do STJ, no RMS17.524 (rei. Min. Nancy Andrighi, j. 2-8-2006), aresto cuja ementa vem

reproduzida na presente obra, verbete n. 105-A, in fine.

142. Conflito interessando a Justiça do Trabalho

 No alusivo a conflitos entre Varas do Trabalho submetidas a TribunaisRegionais do Trabalho diversos, e não obstante o texto do art. 105,1, d , in 

 fine, da Constituição Federal, reiteradamente o Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela competência do Tribunal Superior do Trabalho paradeles conhecer e julgá-los. Assim, v. g., nos CC 1.513 (2â Seção, j. 12-6-1991, rei. Min. Sálvio de Figueiredo; 1.884 (2â Seção, j. 14-8-1991, rei.Min. Fontes de Alencar); 2.119 (2â Seção, j. 26-2-1992, rei. Min. Nilson

 Naves) e 2.645 (mesmo relator, j. 24-6-1992).

9.  Nos termos do enunciado sumular, a l- Seção julgou que os conflitos decompetência entre Juízo Federal e Juízo de Juizado Especial Federal devem ser conhecidos pelo STJ, sob o fundamento de que os Juizados Especiais Federais vinculam-

-se apenas administrativamente ao respectivo Tribunal Regional Federal, estando os provimentos jurisdicionais proferidos pelos órgãos julgadores do Juizado Especialsujeitos à revisão por parte da Turma Recursal (CC 103.084, rei. Min. Eliana Calmon,

 DJe,  11-5-2009).

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A mesma solução foi adotada em caso de conflito entre TribunaisRegionais do Trabalho (CC 3.571, j. 9-12-1992, rei. Min. Athos Carneiro).

A respeito do tema, editou o STJ a Súmula 180, com o seguinte teor:

“Na lide trabalhista, compete ao Tribunal Regional do Trabalho dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre Juiz Estadual e Junta de Conciliação e Julgamento ” (CorteEspecial, enunciado aprovado em sessão de 5-2-1997).

A respeito, vide ares to proferido pela 2â Seção do STJ no CC 20.958,ac. de 24-6-1998, rei. Min. Menezes Direito,  DJU,  31 ago. 1998, p. 6;aresto da mesma Seção no CC 20.868, ac. de 10-6-1998, rei. Min. Sálviode Figueiredo.

Trata-se, evidentemente, de casos em que o Juiz de Direito haja de~ ^cidido no exercício de jurisdição “residual” trabalhista, como decorre dasementas dos decisórios formadores do enunciado, verbis: “Compete aoTribunal Regional do Trabalho dirimir conflito de competência verificado,na respectiva Região, entre JCJ e Juiz de Direito investido de jurisdiçãotrabalhista” (CC 9.968, 3~  Seção, ac. de 27-3-1996, rei. Min. WilliamPatterson, RSTJ, 91:355).

Da mesma forma, se o conflito se estabelece entre Varas do Trabalho

vinculadas a Tribunais Regionais do Trabalho diversos, competente seráo Tribunal Superior do Trabalho, como decorre da Súmula 236 do STJ,verbis:

“Não compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflitos de competência entre juízos trabalhistas vinculados a Tribunais 

 Regionais do Trabalho diversos ”

Em um dos arestos que deram origem a esta Súmula, lê-se na ementa que “tratando-se de conflito de competência que se instaura entre Juntas

de Conciliação e Julgamento (hoje, Varas do Trabalho) vinculadas a distintos Tribunais Regionais do Trabalho, a competência para apreciá-lo,segundo decorre da interpretação da Lei n. 7.701/1988, é do TribunalSuperior do Trabalho” (CC 18.109, 2~ Seção, rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de 11-3-1998, RSTJ , 757:395).

Interessante questão foi apreciada pela 2- Seção do STJ, quando juizestadual cancelou registro imobiliário decorrente de carta de arremataçãoexpedida por Vara do Trabalho. Está na ementa que “compete com exclusividade à Justiça do Trabalho a revisão de seus próprios julgados, nãohavendo possibilidade de cancelamento pela Justiça comum de registro

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imobiliário devido a carta de arrematação expedida em execução trabalhista, independente de qual seja a alegação de irregularidade” (CC 45.308,rei. Min. Aldir Passarinho Jr., j. 24-11-2004).

143. Alcance do art. 117 do Código de Processo CivilCumpre, ao final, ponderar relativamente ao art. 117 do Código de

Processo Civil, pelo qual a parte que, em determinado processo, ofereceu“exceção de incompetência” não pode suscitar o conflito; outrossim, nostermos do parágrafo único, o conflito não obsta a que a parte que não osuscitou ofereça exceção declinatória de foro.

“Não há falar na incidência do art. 117 do CPC, se arguida a exceção de incompetência posteriormente à suscitação do conflito

, como na espécie. A nulidade dos atos decisórios praticados pelo juízo declarado absolutamente incompetente prescinde de determinação expressa, nos termosdo art. 113, § 2S, do CPC, sendo uma decorrência natural” (Emb. Decl. noCC 39.365, 2~ Seção, rei. Min. Fernando Gonçalves, ac. 26-5-2004, DJU ,14 jun. 2004, p. 154).

Essa norma tem provocado divergências quanto a seu exato alcance.Em primeiro lugar, parece que a lei minus dixit quam voluit;  onde está

escrito “exceção de incompetência”, pertinente apenas à incompetênciarelativa, deverá ler-se “alegação de incompetência”, abrangendo tambéma incompetência absoluta, alegável por simples petição e a qualquer tempo(art. 113).

Além disso, é razoável sustentar que o objetivo da lei foi o de im pedir que a parte use “simultaneamente” de ambos os meios de controleda competência. É que o uso “sucessivo” de tais meios pode tomar-senecessário. Suponhamos que o réu ofereça exceção de incompetência(relativa!) do juízo A, apontando como competente o juízo B (art. 307).O juiz A, em decisão, considera procedente a exceção e remete o processo ao juízo B (art. 311). Mas o juiz B pode perfeitamente considerar que,na hipótese, não se cuida de competência relativa, mas sim de competência absoluta, e que de conformidade com as regras de competênciaabsoluta é competente o juízo A, não o juízo B , para conhecer e julgar acausa. Mas, ao invés de suscitar o conflito, o juiz  B  manda retome o

 processo ao juízo A. Nada obsta, aqui, a que o réu, se omisso a juízo A, provoque o conflito negativo, buscando do Tribunal solução definitiva para a questão.

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Também a regra do parágrafo único merece interpretação cuidadosa. O conflito de competência entre os juizes  A  e  B,  suscitado porum dos juizes ou pelo Ministério Público, versará sobre tema de com

 petência absoluta, pois a matéria de competência relativa somente pode

ser alegada pela parte ré. A pendência do conflito não impedirá, segundo dita regra, que o réu alegue a incompetência relativa do juízo perante o qual a causa foi proposta (desde que o faça, por certo, em tempohábil)10.

 Não será possível, contudo, suscitar a exceção se o andamento do processo for sobrestado, conforme prevê o art. 120. Mas, após resolvido * pelo Tribunal o conflito, a circunstância de o Tribunal haver considerado

competente o juízo A não impedirá que o réu ofereça (se em tempo hábil) «a exceção declinatória, impugnando a competência deste juízo, dês quealegue fundamento não apreciado pelo Tribunal.

O tema é complexo, e muito dependerá das vicissitudes dos casosconcretos.

144. Conflito de atribuições

Ao passo que o conflito de competência se estabelece entre ju izes5nos termos do art. 115 do CPC, o conflito de atribuições ocorre entre autoridade judiciária e autoridade administrativa, como está no art. 124 domesmo diploma legal.

É pressuposto para a ocorrência do conflito de atribuições que tanto aautoridade administrativa como a autoridade judiciária estejam em divergência a respeito da prática de ato administrativo, discutindo-se a qual delascompete praticar determinado ato ou conjunto de atos de administração.

Em suma, o conflito de atribuições somente ocorre quando autoridades de Poderes distintos, que estejam no desempenho de atividadesadministrativas, se julgam competentes para edição de determinado atoadministrativo, “ou quando autoridades judiciárias e administrativasatribuem-se competência ou não para conhecimento e solução de matéria puramente administrativa. A prática de atos judiciais típicos  pelo

10. Assim, v. g., se o juiz de Vara Cível de São Paulo entende que a causa, em

razão da matéria, compete ao juízo privativo de Vara de Família da mesma comarca,tal não impede que o réu suscite a exceção e decline de competência para. o foro daComarca de Santos, alegando que mantém domicílio nesta cidade.

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Juiz, no exercício da jurisdição plena que lhe é conferida pela ordemconstitucional, não importa em invasão de atribuições específicas doórgão administrativo, apto a gerar o conflito; caso judicial, autoridadeadministrativa não julga”. Com base nestas considerações, contidas naementa, a 3â Seção do STJ, p. m. v, (um voto discordante), não conheceude conflito de atribuições entre a Fundação Nacional de Saúde e o Juízo Federal da 8â Vara do Rio de Janeiro (CA 83, rei. desig. Min. EdsonVidigal, ac. de 13-12-1999).

A lâ Seção do STJ, v. u., afirmou “impossível estabelecer-se conflito de atribuições entre ato judicial de magistrado, no exercício da jurisdição, com ato de autoridade administrativa. Entendimento consagrado nas1- e 2- Seções do STJ. Conflito de atribuições não conhecido”. Cuidava-sede dissídio entre o Ministro da Educação e do Desporto e o Juízo da 1IaVara Federal do Paraná (CA n. 77-PR, rel. Min. Peçanha Martins, ac. de24-10-2001).

Se o ato praticado, ou a ser praticado pela autoridade do Poder Judiciário, é ato jurisdicional, a autoridade administrativa é obrigada a res-

 peitá-lo, podendo apenas contra o mesmo interpor os recursos cabíveis.Com efeito,

“No sistema brasileiro de jurisdição una, não há conflito deatribuições entre entidade administrativa e autoridade judiciária,quando estiver esta no exercício pleno de sua função jurisdicional”(STJ, 2~  Seção, CAT 3, rel. Min. Barros Monteiro, j. 29-11-1989,

 RSTJ, 7:29).

“No sistema brasileiro de jurisdição una, inocorre conflito deatribuição entre órgão administrativo e autoridade judiciária, quandoesta limita-se, pura e simplesmente, a prestar tutela cautelar que lhe

fora proposta, no exercício pleno de sua autoridade jurisdicional”(STJ, 2- Seção, CAT 2, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 13-12-1989,

 RSTJ, 9:61).

“Sob a égide da ordem constitucional vigorante, pautada naadoção pelo constituinte do sistema de jurisdição única, não há lugar

 para conflito de atribuições entre autoridades administrativa e judiciária, quando no exercício de suas funções típicas” (STJ, 2~ Seção,CAT 8, rel. Min. Bueno de Souza, j. 16-6-1993, RSTJ, 55:25).

 No magistério de Cretella Júnior, “conflito de atribuições é a luta decompetência administrativa entre agentes ou órgãos que entendem ser,simultaneamente, aptos para o conhecimento e solução de determinado

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assunto, afastada, desde logo, qualquer ideia de jurisdição” (Do conflitode atribuição no direito brasileiro, in Estudos jurídicos em homenagem aHely Lopes Meirelles, 1985, p. 80).

Impende salientar que, se o conflito de atribuições se estabelece

entre autoridades administrativas apenas, o dissídio deverá ser resolvido pela autoridade administrativa hierarquicamente superior àquelas que estãoem conflito. A matéria será levada ao conhecimento do Poder Judiciário,em conflito de atribuições, quando uma das autoridades é juiz que tenha praticado algum dos atos tipicamente administrativos que lhes são cometidos, aos juizes, pela ordem legal: assim, v. g., se juiz da infância e ado-lescência e autoridade administrativa tutelar de menores consideram-se,ambos, dotados da atribuição de editar portaria a respeito de algum assun

to relativo a proteção aos menores. £Assim, decidiu a l~ Seção (CAT 163, rel. Min. Carlos Mathias, juiz

convocado, j. 14-5-2008) que ao STJ não assiste competência para julgarconflito de atribuições  entre Ministério Público Estadual e MinistérioPúblico Federal, pois o caso não se amolda a qualquer das hipóteses previstas no art. 105,1, g, da CF (v. g., CAT 173,1~ Seção, rel. Min. LuizFux;CAT 166,3- Seção, rel. Min. Quaglia Barbosa; esta orientação foi adotadaigualmente pelo STF na Pet. 3.528, rel. Min. Marco Aurélio, Pleno,  DJ 5

de 3-3-2006).Tendo em vista tais características, os conflitos de atribuições apre

sentam-se relativamente raros na prática judiciária.

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Anexo IA CIDADANIA DA PARTE COMO ELEMENTO DE 

FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA

(ESTUDO HISTÓRICO)

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A CIDADANIA DA PARTE COMOELEMENTO DE FIXAÇÃO

DA COMPETÊNCIA

SUMÁRIO:

I — A cidadania da parte e a determinação da competência.

II — O ju iz conservador  da Nação Britânica no Brasil — Tratado de 1810.

III — Os juizes conservadores em Portugal.

IV — A extinção do privilégio da conservatória.

V — As Convenções Consulares celebradas pelo Brasil com aFrança, Suíça, Itália, Espanha e Portugal, em 1860, 1861 e 1863.

VI — Divergências entre o Governo brasileiro e os cônsules, nainterpretação das Convenções.

VII — Troca de notas entre o Governo do Império e os agentesconsulares.VIII — Resumo da controvérsia.

IX  — Denúncia dos acordos, pelo Governo da República, em17 de abril de 1907.

 I — A cidadania da parte e a determinação da competência

A cidadania da parte, em nosso moderno direito processual, é ele

mento irrelevante à determinação da competência.Tal afirmativa é feita sem nos deslembrarmos do disposto no art. 151

do Código de Processo Civil de 1939:

“Não influirão na competência ao juízo as transformações  posteriores à propositura da demanda e relativas ao domicílio, ct  cidadania das partes, ao objeto da causa ou o seu valor”.

Esta norma, todavia, foi tomada ao Projeto Solmi, ait. 85, que dispunha: “Non influiscono sulla competenza dei giudice i mutamenti dello

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Príncipe Regente de Portugal”, representado pelo Conde de Linhares,Rodrigo de Sousa Coutinho, e “Sua Majestade El-Rei do Reino Unido daGrande-Bretanha e Manda”, representado por Percy Clinton Sydney, Lorde Visconde e Barão de Strangford.

Reproduzo em seu inteiro teor o mencionado art X:

“Artigo X

Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal, desejando proteger, e facilitar nos Seus Domínios o Comércio dos Vassalos da Grande-Bretanha, assim comoas Suas relações, e comunicações com os Seus próprios Vassalos, há por bemconceder-lhes o Privilégio de Nomearem, e terem Magistrados Especiais, para

obrarem em seu favor como Juizes Conservadores naqueles Portos e Cidades dosSeus Domínios em que houverem Tribunais de Justiça, ou possam ser estabelecidos para o futuro. Estes Juizes julgarão, e decidirão todas as Causas, que foremlevadas perante eles pelos Vassalos Britânicos, do mesmo modo que se praticaraantigamente, e a sua Autoridade, e Sentenças, serão respeitadas. E declara-se seremreconhecidas, e renovadas pelo presente Tratado as Leis, Decretos e Costumes dePortugal relativos à Jurisdição do Juiz Conservador. Eles serão escolhidos pela

 pluralidade de votos dos Vassalos Britânicos que residirem, ou comerciarem noPorto, ou Lugar, em que a Jurisdição do Juiz Conservador for estabelecida; e aEscolha assim feita será transmitida ao Embaixador, ou Ministro de Sua Majesta

de Britânica Residente na Corte de Portugal; para ser por ele apresentado a SuaAlteza Real o Príncipe Regente de Portugal, a fim de obter o Consentimento, eConfirmação de Sua Alteza Real; e no caso de não a obter, as Partes Interessadas

 procederão a uma nova Eleição, até que se obtenha a Real aprovação do PríncipeRegente. A remoção do Juiz Conservador, nos casos de falta de Dever, ou de Delito, será também efetuada por um Recurso a Sua Alteza Real o Príncipe Regentede Portugal por meio do Embaixador, ou Ministro Britânico Residente na Cortede Sua Alteza Real. Em compensação desta Concessão a favor dos Vassalos Britânicos, Sua Majestade Britânica Se obriga a fazer guardar a mais estrita e escru

 pulosa observância aquelas Leis, pelas quais as Pessoas, e a Propriedade dosVassalos Portugueses, residentes nos Seus Domínios, são asseguradas e protegidas;e das quais eles (em comum com todos os outros Estrangeiros) gozam do Benefício pela reconhecida Equidade da Jurisprudência Britânica, e pela Singular Excelência da Sua Constituição.

E demais estipulou-se, que, no caso de Sua Majestade Britânica concederaos Vassalos de algum outro Estado qualquer favor ou Privilégio que seja análogoou se assemelhe ao Privilégio de ter juizes Conservadores, concedido por esteArtigo aos Vassalos Britânicos residentes nos Domínios Portugueses, o mesmo

Favor ou Privilégio será considerado como igualmente concedido aos Vassalos dePortugal residentes nos Domínios Britânicos, do mesmo modo como se fosseexpressamente estipulado pelo Presente Tratado”.

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O juiz conservador, como bem refere Roberto Macedo (. História administrativa do Brasil, v. 7, Parte 8), representava uma estranha modalidade permitida de justiça privilegiada, “para obrarem em seu favor” (dosingleses):

“No Tratado de 1810 (art. X), ‘em compensação desta Concessão afavor dos Vassalos Britânicos’, comprometia-se Strangford, em nome deseu soberano, a ‘fazer guardar a mais estrita e escrupulosa observância’das leis protetoras de portugueses e estrangeiros em geral nos domínios britânicos. Era o mesmo que nada prometer: mencionava-se uma condiçãoimplícita, cuja inobservância constituiria desdouro para a Coroa britânica. ..O próprio Artigo 10 frisava que todos gozavam ‘do Benefício pela reconhecida Equidade da Jurisprudência Britânica, e pela Singular Excelência

da Sua Constituição’. Se todos gozavam do benefício, por que prometê-lo? *Se a equidade da jurisprudência era reconhecida, onde a ‘compensação’?

A verdadeira reciprocidade repousaria na criação do juiz conservadorda Nação Portuguesa, com sede na Inglaterra. Ou ainda na eliminação doJuiz inglês.

Ao que será lícito presumir, nem por sonhos acudiram tais hipótesesà mente dos negociadores. Permaneceram jugulados à tradição, um pornatural interesse de triunfo diplomático, outro por abdicação de prerroga

tivas extemporâneas na conjuntura” (Roberto Macedo,  História, cit., p.86-7).

 III — Os juizes conservadores em Portugal

O privilégio da conservatória fora adquirido pela Inglaterra pelomenos desde a Carta Régia de 29 de outubro de 1450, ao tempo de Afonso V — o Africano (12e rei de Portugal), e confirmado no “vexatóriocontrato assinado em 10 de julho de 1654, entre Portugal e Inglaterra,

então governada por Cromwell” (Tenório D’Albuquerque, A maçonaria e a grandeza do BrasiU  p- 441).

Pandiá Calógeras justificava a atitude britânica, empenhada na manutenção do status quo, pela consideração de que “a experiência quasequatro vezes secular, em Lisboa, revelara aos negociantes britânicos a

 pouca valia moral das justiças portuguesas” (.Política exterior do Império, p. 510).

Segundo Joaquim José Caetano Pereira e Souza (Esboço de hum diccionario jurídico, theoretico e practico, Lisboa, 1825), já haviam sidoaos ingleses concedidos, por Carta real de 10 de agosto de 1400, os privi-

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Iégios dos genoveses “e dos mais Mercadores Estrangeiros”2. Tais vantagensforam reiteradas nas Cartas de 29 de outubro de 1450, de 28 de março de1452, e Carta Régia de 6 de abril de 1633.

São de 19 de março de 1645 as “cédulas de privilégios” pelo ReiFelipe IV de Espanha concedidas em Saragoça, entre tais privilégios ocargo de juiz conservador da Nação Inglesa, cédulas estas confirmadas em26 de junho e 9 de novembro do mesmo ano. De 4 de novembro de 1647é a Carta de Privilégios e Foral dos ingleses, dada em Lisboa, e “composta de várias provisões, leis e alvarás concedidos por alguns dos Reis dePortugal em favor dos Ingleses e outros, exclusive os alvarás de 17 desetembro de 1665 e 3 de setembro de 1691 sobre o cargo de Juiz Conservador da Nação Inglesa” (apud Roberto Macedo, História, cit., p. 87).

Aos súditos britânicos foi permitido, pelo art. 1~ do Tratado de Pazde Westminster, de 10 de julho de 1654 (acordo entre o Rei D. João IV dePortugal e Oliver Cromwell, Protetor da Inglaterra), ter um juiz conservador para todas as suas causas; “e pela Lei de 20 de outubro de 1656 secumprio este Artigo creando-se o lugar de Juiz Conservador para o ditofim” (apud Pereira e Souza, Ingleses, in Esboço, cit.)-

Em comentando o Tratado de Comércio e Navegação de 1810, apre

senta Alan K. Manches ter (Pre eminência inglesa no Brasil, p. 87) as seguintes observações:

“O sublime propósito enunciado no preâmbulo, de ‘comércio liberale benefícios recíprocos’, foi extraordinariamente ilustrado no famoso artigodez. O príncipe-regente, por esta cláusula, garantiu à Inglaterra o privilégiode nomear magistrados especiais, para agirem como juízes-conservadoresnos portos e cidades dos seus domínios nos quais havia tribunais e cortes de

 justiça, ou deveria haver a partir de então. Os juizes deviam se encarregar

de todos os casos envolvendo súditos ingleses, de acordo com as leis esta belecidas em Portugal para esta jurisdição desde o Tratado de 1654. Ossúditos ingleses residentes no porto ou cidade onde o tribunal seria instalado poderiam escolher o magistrado por maioria de votos, sujeito à ratificaçãode D. João ou seus sucessores. A remoção dos juizes por Portugal era pos

2. Segundo Gama Barros (História da administração pública em Portugal, 2.ed., t. 10, p. 236), o privilégio de um juízo privativo dos mercadores e vassalos britâ

nicos foi inicialmente outorgado por Carta Régia de 29 de outubro de 1367, de Fernando I (9Srei de Portugal): “essa jurisdição pertencia sempre ao magistrado que tivesse a seu cargo os feitos da alfândega de Lisboa” (apud José Gomes B. Câmara,Subsídios, cit, p. 21-2).

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sível apenas por apelo através do embaixador ou ministro inglês. Em trocadessa concessão de Portugal, sua Majestade Britânica comprometeu-se agarantir £a mais estrita e escrupulosa observância das leis, pelas quais as pessoas e os bens dos súditos portugueses residentes dentro dos Seus Domínios são assegurados e protegidos, e dos quais eles (como todos os estrangeiros) gozam o benefício, através da reconhecida equidade da jurisprudência britânica e da singular excelência da constituição britânica’”3.

Ainda a respeito dos privilégios jurisdicionais britânicos no Brasil,devo citar a tese de Hans Klinghoffer — “British jurisdictional privilegesin Spain, Portugal and Brazü”, publicada na Revista Austríaca de Direito Estrangeiro {Osterr. Zeitschriftfur Ojfentliches Recht, 1953)., e comentada por Arnoldo Wald na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasilei

ro, v. 225.Faço notar que a lei aplicada pelo juiz conservador era a lei nacional

(Res. de Consulta da “Meza do Desembargo do Paço”, 14 de junho de1785). Eram, aliás, os juizes conservadores instituição comum à época,nomeados para julgar as causas de determinadas pessoas, entidades oucorporações, com apelação para os Tribunais de 2-  instância. Quando aCorte se transferiu para o Brasil, impelida pela invasão napoleônica, haviaem Lisboa doze juizes conservadores: dos hamburgueses, britânicos, fran

ceses (Alvará de 7 de abril de 1685), espanhóis, holandeses, da Ordem deMalta, da Universidade de Coimbra, da Misericórdia etc. (apud AméricoJ. Lacombe, Os ingleses e a transmigração da Corte, Histórica, v. 2).

 IV — A extinção do privilégio da conservatória

Com a Independência, porfiaram os brasileiros em extinguir tal situação, incompatível com a soberania nacional e com a Constituição do Im

 pério, cujo art. 179, inc. 17, dispunha: “À exceção das causas que por suanatureza pertencem a juízos particulares, na conformidade das leis, nãohaverá foro privilegiado, nem comissões especiais nas causas cíveis oucrimes”.

3. Essa ostentação sem tato da superioridade britânica que seguiu as razões im plícitas para o estabelecimento de magistrados especiais no Brasil foi amargamenteressentida pelos brasileiros. A frase da “reconhecida equidade...” tomou-se para os es

critores brasileiros um sinônimo das pretensões e da presunção britânicas. À frase éusualmente atribuída a Strangford, mas a ideia, e parte da frase, foram tiradas das instruções de Canning de 17 de abril de 1808 (F.O., 63/59, Canning a Strangford, n. 4).

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 No Tratado de Comércio assinado no Rio de Janeiro em 18 de outu bro de 1825 (art. VIII), viera expresso: “Fica suprimido o lugar de JuizConservador da Nação Ingleza, visto que a Constituição do Império aboliutodas as pessoas privilegiadas, e jurisdições particulares”. Mas Canning

(George) não concordou com a cláusula, senão (art. VI) com a seguinteredação: ‘Tendo a Constituição do Império abolido todas as Jurisdições particulares, convém-se em que o Lugar de Juiz Conservador da NaçãoIngleza subsistirá só até que se estabeleça algum Substituto satisfatório emlugar daquela Jurisdição, que possa assegurar igualmente proteção às

 pessoas e às propriedades dos Súbditos de Sua Magestade Britânica”.

Mesmo sancionado o Código de Processo Criminal, em 1832, a Inglaterra “tergiversou e adiou” (Calógeras, Política, cit., p. 511).

Diga-se que as próprias autoridades brasileiras para tanto contribuíram. Tendo o então Ministro da Justiça Honório Hermeto Carneiro Leão(futuro Marquês do Paraná) declarado extinto, pelo Aviso de 22 de novem

 bro de 1832, o lugar de juiz conservador, obtemperou-lhe o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Bento da Silva Lisboa (2- barão de Cairu), emofício de 28 do mesmo mês, que:

se bem me persuada que o Governo Inglez reconhecerá que com

a execução do mencionado Código deva cessar o dito lugar de Juiz Conservador; com tudo me parece que convém primeiramente ter-se a devida Inteligência com o referido Governo neste assumpto, que he em se assaz melindroso; pois que, no caso, que não há de esperar, que o Gabinete Britânico

 julgasse que não era satisfatória a substituição do Juiz Conservador, naforma determinada no Código, poder-se-hião seguir inconvenientes, que hede política do Govemo arredar, tanto mais que, não pode escapar ao ilustrado conhecimento de V. Ex. que enquanto não expirar o tempo estipulado no

Tratado, deve elle estar em vigor, e só poderá algum dos seus artigos deixarde ser observado quando houver mutuo accordo entre as Altas Partes con-tractantes. Neste sentido pois vou fazer a comunicação ao Govemo Inglez;e, logo que receber a conveniente resposta, a communicarei a V. Ex.” (sic).

Vemos, pois, que a decisão do então ministro da Justiça sofreu, noMinistério dos Estrangeiros, metamorfose em consulta ao Govemo daInglaterra...

Em 1834 o “Desembargador Juiz Conservador da Nação Britânica

na cidade da Bahia” consultava a Regência sobre se era competente para julgar um militar brasileiro acusado do homicídio de marinheiro de um

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Brigue de Gueixa inglês; respondeu o então ministro da Justiça, Aurelianode Souza e Oliveira Coutinho (futuro Visconde de Sepetiba), que:

não sendo o reo Inglez, mas sim Cidadão Brasileiro, não deve, nem

 pode ser privado do gozo de seus direitos políticos e civisye excluído dequalquer das garantias, que aos mesmos Cidadãos outorga a Constituiçãodo Império, fora dos casos, e por outros meios que não'sejam os marcadosna mesma Constituição, e nem sacrificar alguns desses direitos, e suas prerrogativas, a hum privilegio concedido a estrangeiros, para perder huma dasmais apreciáveis garantias Constitucionaes, da liberdade e segurança individual, qual a de ser julgado pelos jurados já estabelecidos para as causascrimes; que nestas circunstâncias cumpre a Vm. enviar o Processo em questão, ao Juiz da Cabeça do respectivo Termo, para ser em tempo competente

apresentado ao Jury; não podendo a Mesma Regência deixar de admirar-se,^que Vm. pudesse entrar em dúvida, sobre o regular andamento deste negócio”(Coleção das Leis do Império, v. 5, Parte 13).

Anota Dias da Mota, entretanto, que em 1839 o governo inglês teriaconseguido que seus súditos, residentes no Brasil, “que até então iamresponder ao júri, tivessem um privilégio para não serem julgados senão

 pelo seu tribunal especial e não pelo júri” (Atitudes inglesas na história 

do Brasil, 1941, Labor,p.

53).Ainda por Carta Imperial de l e de junho de 1839 foi nomeado Francisco de Paula Pereira Duarte (mais tarde Ministro e 4a presidente doSupremo Tribunal de Justiça do Império) para o cargo de juiz conservadorda Nação Britânica na Província do Maranhão.

A conservatória subsistiu até o fim da vigência do Tratado de 1827,o que ocorreu em 1844.

É de 9 de novembro de 1844 a nota do Cons. Ernesto Ferreira Fran

ça, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, declarando abolido ocargo de juiz conservador da Nação Britânica, por haver ficado sem efeitoo tratado de 17 de agosto de 1827, o que motivou protesto da Grã-Bretanha,

 por intermédio do então Min. Hamilton. Entretanto naquela época já oscidadãos ingleses “comunicavam ao ministro das Relações Exteriores daGrã-Bretanha, Lord Àberdeen, que poderiam confiar na justiça brasileiravisto que os comerciantes de outras nações não sofriam injustiça na administração da lei” (Amoldo Wald, artigo cit.).

Finalmente em 31 de dezembro do mesmo ano de 1844 o Imperador baixou Resolução, de acordo com a consulta do Conselho de Estado de 10

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de outubro, mandando remeter os processos pendentes aos respectivos juizes e cartórios da Corte e províncias (Roberto Macedo, História, cit., p.88; Lenine Nequete, O Poder Judiciário no Brasil a partir da Independên

cia,  t. 1, p. 29, nota 10).V — As Convenções Consulares celebradas pelo Brasil com a França, 

Suíça, Itália, Espanha e Portugal, em 1860, 1861 e 1863

 Nosso principal propósito, no entanto, no presente ensaio, é o derememorar os conflitos de competência  surgidos em conseqüência daaplicação das Convenções Consulares celebradas pelo Brasil, nos anos de1860, 1861 e 1863, com a França, Suíça, Itália, Espanha e Portugal, e que

inclusive regraram a atuação dos respectivos cônsules na arrecadação,administração e liquidação de herança de seus nacionais falecidos noterritório da outra parte contratante4.

De início, os textos legais.

Pelo Decreto n. 2.787, de 26 de abril de 1861, o Imperador promulgoua convenção celebrada em 10 de dezembro do ano anterior entre o Impériodo Brasü e a França, representado aquele pelo ministro dos NegóciosEstrangeiros, o Senador Cansansão de Sinimbu, e o Imperador dos Fran

ceses pelo enviado extraordinário e ministro plenipotenciário, o Comendador Joseph Leonce, convenção esta destinada a determinar e fixar, “deuma maneira clara e definitiva, os direitos, privilégios e imunidades recí

 procas dos cônsules, vice-cônsules e chanceleres, assim como as suasfunções e as obrigações a que ficarão respectivamente sujeitos nos dois países” (estava vigente, até então, o Tratado firmado em 1826).

Da mesma forma, pelo Decreto n. 2.955, de 24 de julho de 1862, foi promulgada a Convenção Consular celebrada em 26 de janeiro de 1861

entre o Brasil e a Confederação Suíça; pelo Decreto n. 3.085, de 28 de abrilde 1863, a Convenção celebrada em 4 de fevereiro daquele ano entre oBrasil e o Reino da Itália; pelo Decreto n. 3.136, de 31 de julho de 1863,a Convenção ajustada em 9 de fevereiro do mesmo ano entre o Brasil e oReino de Espanha; pelo Decreto n. 3.145, de 27 de agosto de 1863, aConvenção celebrada em 4 de abril do mesmo ano entre o Império doBrasil e o Reino de Portugal.

4. Os dados deste trabalho foram encontrados no Anexo ao Relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros, redigido pelo Min. Cons. João Pedro Dias Vieira ealusivo às Convenções Consulares (Rio de Janeiro, Typ. Laemmert, 1865).

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VI — Divergências entre o Governo brasileiro e os cônsules, na interpretação das Convenções

Em breve espaço de tempo manifestou-se, diante de casos concretos,funda divergência entre as autoridades brasileiras e os cônsules dos paísesmencionados, quanto à natureza do munus atribuído aos ditos cônsules eà extensão de seus poderes na gestão das heranças de seus nacionais.

Em resumo, a autoridade brasileira entendeu que o dever de o cônsularrecadar e liquidar os espólios de seus nacionais limitava-se aos casos em que eles falecessem sem deixar herdeiros ou executores testamentários, ou quando os ditos herdeiros fossem desconhecidos, ausentes ou legal-mente incapazes, sem que a tal entendimento fosse obstáculo a disposiçãodo último parágrafo do art. 7Q. £

De outra parte, os cônsules, conforme vieram a expor em nota coletiva de le de maio de 1864, consideraram-se competentes para “tomarconta” de todas as sucessões de seus nacionais, proceder à sua administração e liquidação e praticar , em suma, “todos os atos necessários, salvo os de natureza contenciosa, dos quais aos tribunais do país compete exclusivamente tomar conhecimento”.

Em última análise, em termos doutrinários o Governo brasileiro re

conhecia ao cônsul a posição de autoridade protetora apenas nos casos deinexistência de pessoa hábil a “entrar na posse como cabeça de casal”,equiparando-o, assim, a um inventariante dativo; já os agentes consularesatribuíam-se poderes de jurisdição graciosa em todos os casos de abertura de sucessão de súditos dos respectivos países5.

VII — Troca de notas entre o Governo do Império e os agentes consulares

Os conflitos oriundos da aplicação das Convenções consulares provocaram a Circular de 27 de janeiro de 1864 do Ministro dos NegóciosEstrangeiros aos presidentes das Províncias, expondo a doutrina esposada pelo Governo Imperial.

5. Nas edições de lâ a 4â desta obra são referidos numerosos casos concretos,em que divergiram cônsules estrangeiros (de Portugal, da França, da Espanha e da

Suíça) e autoridades judiciárias ou do governo do Império. São também referidos ecomentados o Decreto n. 855, de 8 de novembro de 1851, e a Lei n. 1.096, de 10 desetembro de 1860, bem como publicado na íntegra o aludido decreto.

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; n i

Em Nota Coletiva de le de maio do mesmo ano, os cônsules de Portugal, Espanha, Itália, França e Suíça informaram que os respectivos governos haviam assentado que “nas sucessões em geral, sejam testamentá-rias ou ab intestatu, cabe indeclinavelmente a intervenção do cônsul da

nação do falecido, sem que em caso algum sirva isso de embaraço a queos bens imóveis fiquem sujeitos às leis do país onde estão situados; ... ocônsul toma conta de todas as sucessões de seus nacionais, procede à suaadministração e liquidação, e pratica em suma todos os atos necessários,salvo os de natureza contenciosa, dos quais aos tribunais do país competeexclusivamente tomar conhecimento”.

 Respondeu o Governo do Império, aos 29 de julho de 1864, à NotaColetiva, reiterando os seguintes princípios'.

a) a doutrina exposta pelos cônsules importaria em privar o cidadão brasileiro, dentro de seu país, de direitos que lhe são próprios, quandofosse ele sucessor do de cujus;

b) as Convenções, especificando as hipóteses de cabimento da intervenção consular, tiveram em vista conferir jurisdição aos cônsules unicamente quando pelo direito brasileiro não houvesse quem entrasse na

 posse do espólio do estrangeiro falecido, para proceder ao inventário e

 partilha; ou seja, a jurisdição foi outorgada aos cônsules apenas nos “casosem que a sucessão se considera vacante”;

c) tal asserto não é contrariado pela declaração das Convenções deque o direito de administrar e liquidar as sucessões pertencerá aos cônsules “ainda quando os herdeiros sejam menores, filhos de estrangeiros,nascidos no Brasil”. Tal declaração, subordinada ao exposto no mesmoartigo em que está incorporada, é “simplesmente explicativa” do períodoem que se fala dos herdeiros incapazes, em cujo número encontram-se

incluídos aqueles menores, “tendo sido porém necessário fazer deles es pecificada menção para ficar bem entendido que, não obstante a nacionalidade do lugar de nascimento, durante a menoridade, seguem a condiçãodo pai falecido, como faculta a lei de 10 de setembro de 1860; visto que,a não ser essa faculdade, não se poderia no Império aplicar aos menores,filhos de estrangeiros aqui nascidos, outra lei que não fosse a brasileira”;

d) que, assim, a última parte do art. 72 da Convenção entre Brasil e

França (e os correspondentes artigos das outras idênticas Convenções) nãoencerra disposição nova ou distinta; a prevalecer outro entendimento, ficariam nulificadas as regras e disposições anteriores, que não teriam razão

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alguma de ser ao estipularem os casos em què os cônsules poderiam agirem caso de óbito de seus nacionais.

Os cônsules mantiveram sua oposição — Nota Coletiva de 17 deagosto de 1864.

Posteriormente, em 6 de fevereiro de 1865, o Ministério dos NegóciosEstrangeiros dirigiu nova Circular às presidências de província, e no azosalienta que os cônsules só podem intervir nas sucessões em que não houver cônjuge sobrevivente ou executor testcimentário,  ou quem pela lei

 brasileira caiba ficar na posse dos bens, “e havendo viúva não tenha esta !feito a declaração do artigo 2e da lei de 10 de Setembro de 1860”. Após xfrisar serem os cônsules “simples administradores das heranças de seus

nacionais”, pois qualquer incidente de ordem contenciosa impende ser ^apreciado pelo Poder Judiciário, concluiu que “a intervenção dos cônsulesnas heranças de seus nacionais é, pois, apenas graciosa ou voluntária”.Adianta, mais, a nota circular: “os cônsules, segundo fica dito, não têm emcaso algum o caráter de juizes, e por isso também não podem julgar o 

 processo divisório, o que é da competência do juiz do território”; em conseqüência, prescreve a Circular que as partilhas feitas perante os cônsulessó terão valor após apresentadas ao magistrado, e por este julgadas por

sentença:“Sem esta confirmação judicial o processo divisório feito pelos côn

sules não tem validade alguma no nosso país; e por conseguinte ninguémapresentará semelhantes cartas de partilhas como documento autêntico.Estão no mesmo caso das partilhas amigáveis, que carecem ser homologadas

 para poderem obrigar, firmar direitos e servir de documento. Os formais de partilhas feitos pelos cônsules, que não tiverem sido julgadas pelo juizcompetente, não servirão de título de domínio; e portanto as repartições

 públicas não transferirão propriedade alguma em virtude de tais títulos, ediante dos tribunais não produzirão efeito algum”.

Em suma, e sintetizando: os Governos de França, Espanha etc., firmesna prevalência do estatuto pessoal, interpretaram as Convenções comoatributivas a seus cônsules dos mais amplos poderes de jurisdição graciosa no processamento dos inventários de seus nacionais; o Governo do Império, sob a pressão dos conflitos surgidos, caso a caso, entre cônsules e

 juizes brasileiros, acolheu exegese que, ao final de contas, restringia afunção consular à de mero administrador dos espólios vacantes de seus nacionais.

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VIII — Resumo da controvérsia

Como vimos, a controvérsia teve por fulcro o parágrafo final do art.7a da Convenção com a França (e os correspondentes nas demais Conven

ções), repito: “Fica, além disso, entendido que o direito de administrar ede liquidar as sucessões dos franceses falecidos no Brasil pertencerá aocônsul de França, ainda quando os herdeiros sejam menores, filhos de 

 franceses, nascidos no Brasil, em reciprocidade da faculdade que têm oscônsules do Brasil em França, de administrar e liquidar as sucessões deseus nacionais em casos idênticos”.

Da locução “ainda quando ” depreenderam os cônsules a ampla faculdade de proceder ao inventário dos bens de todos os seus nacionais, 

mesmo em existindo filhos menores brasileiros; segundo os cônsules, osdispositivos anteriores contidos no mesmo artigo da Convenção apenasdispunham sobre os atos a serem praticados quando seus nacionais falecessem sem deixar herdeiros conhecidos, ou tais herdeiros fossem ausentes ou incapazes; não seriam, portanto, tais preceitos restritivos da normageral de competência, servindo, isto sim, para regrar o procedimento a serobservado nos casos de vacância ou de herdeiros incapazes.

Em contrário, o Governo do Império prendeu-se ao texto inicial doartigo, considerando cabível a intervenção do cônsul apenas nas hipótesesnele previstas, de falecimento do súdito estrangeiro “sem deixar herdeirosou designar testamenteiros, ou cujos herdeiros não sejão conhecidos, es-tejão ausentes ou sejão incapazes”. O parágrafo final foi, destarte, tidocomo meramente elucidativo da aplicação do estatuto pessoal paterno, nostermos da Lei n. 1.096, de 10 de setembro de 1860, aos menores brasileiros filhos do súdito estrangeiro falecido.

Já em 1868, pelo Decreto n. 4.075, de 18 de janeiro, o Govemo doImpério promulgou Declaração firmada entre o Brasil e o Conselho Federal da Confederação Suíça, com o objetivo de “fixar definitivamente ainterpretação” do art. 9~  (equivalente ao transcrito art. 7S da Convençãocom a França) da Convenção entre ambas as nações. A título de interpretar,os acordantes realmente fixaram em novas bases as atribuições consularesem matéria de inventários.

 IX — Denúncia dos acordos, pelo Governo da República, em 17 de abril de 1907 

Os acordos existentes foram, em 17 de abril de 1907, denunciados

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 pelo Governo da República, por Aviso do Ministério do Exterior comonoticia a Circular cujo texto reproduzimos:

“N. 43 — EM 17 DE ABRIL DE 1907 

Comunica terem sido denunciados os accordos existentes com diversos paizes da Europa sobre arrecadação e administração de heranças.

Ministério da Justiça e Negocios Interiores — Directoria do Interior — Secção — Circular  — Rio de Janeiro, 17 de abril de 1907.

Sr. Governador do Estado do Amazonas — Communico-vos, para os fins convenientes, que foram denunciados os accordos existentes entre o Brazil e a Allemanha, Bélgica, França, Hespanha, £Italia, Portugal e Suissa sobre arrecadação e administração de heranças nos termos do decreto n. 855, de 8 de novembro de 1851, devendo os ditos accordos cessar em todos os seus effeitos a 15 de julhodo corrente anno.

Saude e fraternidade. —  Augusto Tavares de Lyra.

 — Idênticos aos demais governadores e presidentes dos Estados,aos juizes federaes e de ausentes”.

A partir de então, o Supremo Tribunal Federal firmou a competênciada justiça brasileira, como se verifica pelo julgamento, em 11 de setembrode 1907, do CJ 182.

 Na atualidade, dispõe o art. 89 do vigente Código de ProcessoCivil:

“Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:

/ — .......................................................................................................11  — proceder a inventário e partilha de bens situados no Bra

sil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido  fora do território nacional

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COMPETÊNCIA INTERNACIONAL CONCORRENTE. 

ARTIGO 88 DO CPC E O FORO DE ELEIÇÃO

Anexo II

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COMPETÊNCIA INTERNACIONALCONCORRENTE. ARTIGO 88 DO CPC

E O FORO DE ELEIÇÃO

SUMÁRIO:

I — Sinopse dos fatos relevantes.

II — Jurisdição, competência e nacionalidade.III — Da jurisdição internacional concorrente.

IV — Da duplicidade de foros de eleição.

V — Da questão da “eficácia”da sentença.

7 — Sinopse dos fato s relevantes 

... (omissis)...

 II — Jurisdição, competência e nacionalidade

14. Tema central em discussão: cabe à Justiça brasileira conhecer e julgar a demanda proposta pela autora contra as emitentes do Per- 

 formance Bond ?

Como dissemos alhures {Jurisdição e competência, 11. ed., Saraiva,

n. 1), ao direito subjetivo de “ação”, pelo qual alguém pede ao Estado quese lhe faça justiça, corresponde a atividade estatal da Jurisdição, pela qualo Estado cumpre o dever constitucional de, mediante um devido processolegal, administrar justiça aos que lhe hajam solicitado. A Jurisdição é, coma Administração e a Legislação, forma de exercício da soberania estatal.

A Jurisdição tomou-se função estatal — como bem ensinou MoacyrAmaral Santos — desde o momento em que, proibida a defesa privada por

comprometer a paz do grupo social, “se reconheceu que nenhum outro poder se encontra em melhores condições de dirimir o conflito que o Estado, não só pela força de que dispõe, como por nele presumir-se interes

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se em assegurar a ordem jurídica estabelecida” (.Primeiras linhas de direito processual civil, Saraiva, v. 1, n. 44).

Como longa manus do legislador, pode-se dizer que o juiz transforma, pelo exercício da Jurisdição, em comando concreto  as normas gerais e

abstratas da lei*15. Saber qual a Justiça competente e, a seguir, qual o foro e o juízo

internamente competentes depende das circunstâncias de fato e de direitoadotadas pela Constituição e, sucessivamente, pela lei e por assentos regimentais, para definir e delimitar a medida em que cada juiz pode atuarcomo agente da soberania estatal (Jurisdição e competência, cit., n. 1).

Por certo, ante a multiplicidade e a variedade das demandas propo-níveis, tomou-se necessário encontrar critérios afim de que as causas sejamadequadamente distribuídas aos juizes, de conformidade não só com osuperior interesse em uma melhor aplicação do Direito, como também buscando, na medida do possível, atender aos interesses particulares, àcomodidade das partes litigantes.

Assim, todos os juizes exercem Jurisdição, mas a exercem numacerta medida,  dentro de certos limites.  São, pois, competentes  somente

 para processar e julgar determinadas causas.

A competência é, pois, a Jurisdição na medida em que pode e deveser exercida pelo juiz: “La competenza è la giurisdizione che da astratta sifa concreta; vale a dire, la giurisdizione avvisata in rapporto a ciascu- na causa ” (Aristides Manassero, Introduzione alio studio sistemático delia competenza funzionale in matéria penale, 1939, p. 43, apud José Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, 2. ed., Forense, v. 1, p. 344, nota 11).

16. A lei processual atribui competência aos juizes valendo-se, como

 já afirmado, de diferentes dados, relacionados principalmente com a próprialide ou com as pessoas dos litigantes. Assim, v. g.,o local de domicílio doréu é o “dado” mais comum para a determinação da competência interna;mas também o valor   atribuído à demanda, a matéria  sobre que versa, olugar  onde se encontra o imóvel ou o bem objeto da causa, a vinculação deuma demanda com outra que já se encontra pendente e muitos outros fatores são aproveitados pela lei (Lei Constitucional, leis federais e estaduais,assentos regimentais) para, isolada ou cumulativamente, dizer se uma de

terminada causa deve ser julgada pela Justiça do país A e não pela do paísB, ou, internamente, pelo juiz A e não pelo juiz B ou qualquer outro juiz.

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A busca do juiz competente apresenta-se, pois, como uma perquisiçãoque se processa por etapas, cumprindo verificar, em primeiro lugar, se écompetente a Justiça brasileira. Cuida-se, neste primeiro passo, da com

 petência internacional.  Somente se considerada competente a Justiça

nacional, iremos sucessivamente indagar da “Justiça” interna competente(Justiça federal, estadual, trabalhista), do foro  competente, do juízo com

 petente, do juiz competente nos órgãos colegiados etc.

17. Do ponto de vista da competência internacional, é geralmenteassente que a assunção pela Justiça de um país do poder de julgar determinada causa supõe, em princípio, a vinculação desta causa àquele país

 — teoria da “maior proximidade”de Wolff, e, ainda, a possibilidade de

tomar efetiva a sentença que venha a ser proferida, de molde a justificarcomo razoável o exercício da soberania estatal.

Para o direito nacional, cabe distinguir entre os casos de competência exclusiva da Justiça brasileira e os casos de competência concorrente.

 Nos casos de competência exclusiva, se proposta ação perante umtribunal estrangeiro, a sentença que nela venha a ser proferida não poderámerecer homologação para cumprimento em nosso país, e também cartasrogatórias não merecerão exequatur  (STF, Reg. Int., artigos 216, 217,1, e226, parágrafo 2).

As hipóteses estão previstas no artigo 89 do CPC, incluindo quaisquerações relativas a imóveis situados no Brasil (tanto fundadas, diga-se, emdireito real como em direito pessoal) e as ações de inventário e partilha de

 bens, móveis ou imóveis, situados no Brasil, e isso mesmo que o de cujus haja sido estrangeiro e em território estrangeiro residente e falecido. Comovemos, não se enquadra nesta norma de lei o caso exposto na consulta.

18. Já nos casos de competência concorrente, a Justiça brasileira éafirmada competente para processar e julgar uma demanda, mas a lei nacional não exclui a possibilidade de a causa ser validamente (do ponto devista do direito pátrio) processada e julgada em tribunal alienígena. Destarte, se a demanda tiver sido proposta fora do Brasil, a sentença do juizestrangeiro será válida e eficaz também em nosso país, evidentementedepois de homologada pelo Supremo Tribunal Federal (RISTF, artigos 215

a 224; CPC, artigo 483).‘Esses casos, de competência internacional competente, de conformidade com o artigo 88 do CPC, ocorrem:

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a) quando o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, tiver domicílio no Brasil, reputando-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui mantiver agência, filial ou sucursal;

 b) quando a obrigação deva ser cumprida no Brasil, não importando, pois, sejam os litigantes de nacionalidade estrangeira e/ou domiciliadosno exterior. Proposta a demanda no Brasil, o juiz brasileiro fará expedir,se o réu residir no exterior, carta rogatória citatória;

c) quando a ação se originar de fato ocorrido ou de fato praticado noBrasil. Assim, v. g., a demanda indenizatória por acidente de trânsitoocorrido em território nacional, vítimas e causador do evento cidadãosargentinos e na Argentina residentes e domiciliados, poderá ser proposta

no Brasil, onde aliás melhor poderão ser apresentadas e colhidas as provas;mas, sendo concorrente a competência, a Justiça brasileira cumprirá eventual carta rogatória citatória passiva e não negará validade à sentença

 proferida por tribunal argentino.

19. Vale sublinhar que nestes casos de competência internacionalconcorrente pode ser a ação proposta no Brasil mesmo que já esteja em andamento igual demanda (ou demanda conexa) perante a Justiça estrangeira:

“Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induzlitispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileiraconheça da mesma causa e das que lhe são conexas”.

A litispendência, normalmente impeditiva a que alguém renove amesma causa que já está em juízo (CPC, artigo 301, V e parágrafo 3),neste caso, excepcionalmente, não opera como exceção processual. Apenasse a demanda processada alhures já houver sido definitivamente julgada,

com a respectiva sentença homologada pela Presidência do STF, tornar-se-á defeso o posterior ajuizamento da pretensão perante a justiça nacional(sobre o tema, Barbosa Moreira, “Relações entre processos instaurados,sobre a mesma lide, no Brasil e em País estrangeiro”,  RePro, t. 7-8, p.51/58, item 7).

Vale anotar, portanto, e aliás é este um dos poucos temas incontro-vertidos, que a ação declaratória proposta perante a Justiça norte-americana pelas empresas signatárias do Performance Bond, em nada obsta ou

 prejudica a demanda indenizatória ajuizada pela consulente.20. Em algumas ocasiões, as Seguradoras atribuíram realce ao fato

de serem domiciliadas nos USA, e igualmente de a Consulente manter 

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domicílio legal nas Ilhas Cayman. Perante o direito brasileiro, no entanto,a cidadania da parte é elemento totalmente irrelevante à determinação dacompetência, quer internacional, como no âmbito interno. Em matéria decompetência, estrangeiros e brasileiros “recebem o mesmo tratamento naLei brasileira e podem ser julgados, tanto no Brasil como no estrangeiro,sem que se acorde privilégio de jurisdição à parte que tiver nacionalidade

 brasileira. Excluída a nacionalidade, a Lei brasileira retém diversos outroselementos de conexão para fundamentar a competência exclusiva e a concorrente da Justiça brasileira”(itePro, 73/85).

 No magistério de Barbosa Moreira: “Os arts. 88,1, e 89, II, declaramirrelevante, em termos expressos, a circunstância de ser estrangeiro o réu

ou o autor da herança, respectivamente, Poderia supor-se que, noutrashipóteses, o fator nacionalidade influísse de algum modo na determinaçãode semelhante competência. Não é assim: ao contrário do que tem ocorrido noutros sistemas jurídicos, o direito brasileiro, no particular, não esta belece distinções baseadas no fato de ser brasileira ou estrangeira qualquerdas partes” (“Problemas relativos a litígios internacionais”, in Temas de direito processual, Quinta Série, Saraiva, p. 140).

21. Tal afirmação é feita sem que olvidemos o disposto no revogado

artigo 151 do CPC de 1939, in verbis:“Não influirão na competência do juízo as transformações

 posteriores à propositura da demanda e relativas ao domicílio, à cidadania das partes, ao objeto da causa ou o seu valor”.

Esta norma fora tomada ao Projeto Solmi (alteração ao CPC italiano),que dispunha:

“Non influiscono sulla competenza dei giudice i mutamente

dello stato relativi al domicilio, alia citadinanza delle parti, ali obbie-to delia causa o al suo valore” (Arruda Alvim,  Direito processual civil — teoria geral do processo de conhecimento, RT, 1972, v. 2, p.208).

O vigente Codice di Procedura Civile da Itália omite, todavia, menção à cidadania:

“Art 5. La giurisdizione e la competenza si determinano conriguardo alio stato di fatto esistente al momento delia proposizionedelia domanda, e non hanno rilevanza rispetto ad esse i successivimutamenti dello stato medesimo”.

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É a orientação do código português (artigo 63), que igualmente su blinha a irrelevância das modificações de direito, salvante se suprimido oórgão judiciário ou se ele deixar de ser competente em razão da matériaou da hierarquia.

 No mesmo sentido o vigente diploma processual brasileiro, no regrara perpetuatio jurisdictionis, artigo 87.

22. Destarte, a circunstância de a Autora, embora empresa de capital brasileiro (subsidiária integral da BRASPETRO, e esta subsidiária integralda PETROBRÁS), ter seu domicílio legal nas Ilhas Cayman, e uma dasSeguradoras não manter domicílio no Brasil (a outra mantém filial noterritório nacional), tal fato revela-se de todo irrelevante no concernente àdefinição de qual a Justiça competente do ponto de vista do direito internacional processual.

 III — Da jurisdição internacional concorrente

23. Constituindo uma das manifestações da soberania estatal, a Jurisdição é exercida nos limites territoriais do respectivo país, para a decisãodaqueles litígios de alguma forma relacionados ao seu território.

 No Brasil, como mencionado, exerce-se a Jurisdição civil de nossos

 juizes e tribunais desde que o réu seja aqui domiciliado; ou no Brasil devaser cumprida a obrigação; ou a demanda se originar de fato ocorrido ou deato praticado no Brasil; ou quando aqui estiver situado o imóvel objeto dalide; ou em nosso país estiverem situados os bens a serem inventariados(CPC, artigos 88 e 89).

Já a Lei de Introdução ao Código Civil (Dlei 4.657, de 4 de setembrode 1942, revocatório da Introdução de 1916), dispunha que:

“Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida aobrigação”.

Ponto relevantíssimo, portanto, para a solução do principal quesitoda Consulente, o de saber onde deveria ser cumprida a obrigação assumida pelas Seguradoras.

24. Diga-se, inicialmente, que nas ações em que se exige do réu ocumprimento de obrigação contratual, bem como nas ações em que se

 pede indenização pelo inadimplemento ou mau adimplemento da obrigação contratualmente assumida, apresenta-se como foro competente o do

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J1 I

lugar onde a obrigação deveria ser satisfeita: forum obligationis, ou forum destinatae solutionis — CPC, artigo 100, IV, d.

Referiu Oscar Tenório que “o elemento essencial da obrigação, consoante a lição de Savigni, é o lugar da execução”. E, mais, que “a conclusão do contrato é um elemento acidental e transitório, que não tem qualquerrelação com a substância da obrigação” (Lei de Introdução ao Código Civil, 2. ed., Borsoi, n. 725).

Para Donaldo Armelin, cuida-se de uma “nova hipótese de fixaçãoda competência internacional independente da anterior, de tal sorte que,mesmo não domiciliadas no Brasil as partes litigantes, desde que a execução, da obrigação que as vincula tenha de se efetuar neste país, estará ademanda sob jurisdição nacional” (art. dout in RePro, n. 2, p. 131/157).

Como mencionamos em sede doutrinária, embora o Código de Processo Civil textualmente mencione apenas as ações destinadas a exigir o cumprimento da obrigação avençada, os motivos inspiradores da regra decompetência aplicar-se-ão igualmente às demandas pelas quais se pretende indenização como sucedâneo da prestação, seu equivalente em pecúnia.

 Neste sentido inclina-se a jurisprudência: “Tratando-se de demanda relativa à reparação de dano, o foro competente é o do lugar onde se dará ocumprimento das obrigações pactuadas. Inteligência do art. 100, IV, b e d, do CPC” (STJ, 3~ Turma, REsp 84.642, rei. Min. Waldemar Zveiter, DJU, 24-6-1996, p. 22757).

25. As empresas alienígenas emitentes do Performance Bond  sustentam que suas obrigações deveriam ser adimplidas nos USA, não no Brasil,desta premissa deduzindo a falta de competência da Justiça brasileira paraapreciar a pretensão indenizatória em que figuram como codemandadas,em litisconsórcio passivo com as empresas construtoras.

Partem as rés do asserto de que, “embora também atuem no ramo deseguros, firmaram o ‘Performance Bond’ enquanto ‘sureties’ (plural de‘surety’), melhor traduzível em português como garante (como no caso),devedor solidário ou fiador, dependendo do contexto....... (.........) ....., figuras que não correspondem à de segurador” (contraminuta do Agravo deInstrumento, item 70).

Após várias ponderações sobre as obrigações do garantidor peranteo dono da obra, e que “só serão exeqüíveis em caso de inadimplemento do

empreiteiro (‘defaulf) seguido da rescisão do contrato (‘termination’)”, prosseguem reiterando que o bond   foi emitido por elas garantidoras em Nova Iorque, “onde se obrigaram”; e aludem, ainda, a que “toda a nego-

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ciação em torno da garantia teve lugar nos Estados Unidos, e o prêmio foi pago também em New York” (item 86). Chegam à conclusão, ao fim, deque “o pedido na ação foi de pagamento em pecúnia do valor expresso nagarantia' e, por uma questão de lógica, esta obrigação de pagamento seria

exeqüível nos Estados Unidos» e não no Brasil” (,sic, item 90). Além domais, aduzem que, se ao invés de pagar a indenização, resolvessem terminar a obra às suas expensas, “poderiam fazê-lo em qualquer outro lugarque não o Brasil”, ou seja, transportando o navio para estaleiro situado noestrangeiro.

26. Cumpre todavia ponderar que, segundo a lei brasileira, para a ■*determinação da competência internacional é de todo irrelevante o país 

onde a obrigação haja sido assumida e o contrato assinado, bem comoindagar da nacionalidade ou do domicílio dos contratantes.

A norma legal expressamente dispõe:

“Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I —  ......................................................................................................

II — no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III — ...................................................................................*.....

Parágrafo único.................................................... ...................

27. Ora, a mais perfunctória leitura dos contratos mostra que a obrigação das garantidoras deveria ser cumprida, em princípio, no Brasil,não passando do nível de mera especulação a possibilidade de deslocamento, por reboque, do imenso navio petroleiro para um estaleiro sito forade nosso país.

 No contrato instrumentado pelo Performance Bond,  as emitentescomprometeram-se SOLIDARIAMENTE perante a Proprietária — mediante o pagamento, segundo a Consulente, de um prêmio de aproximadamente US$ 5.000.000,00, — pelo cumprimento do Contrato de Construção, “o qual passa a fazer parte integrante deste documento, por referência” (item 1. do Bond).

Quais foram, textualmente, as obrigações básicas assumidas pelasgarantes? Segundo o Bond , a elas cumpria:

“4.1. Providenciar para que a Contratada, com o consentimento da Proprietária, cumpra e termine o contrato de construção; ou

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4.2. Comprometer-se a cumprir e terminar o contrato de construção por si mesma ou através de seus representantes ou através deempreiteiras independentes; ou

4.3. Obter ofertas ou propostas negociadas de empreiteirasqualificadas e aceitas pela Proprietária para celebração de um contrato para o cumprimento e conclusão de um contrato de construção...................( .....)..................  e pagar à proprietária a soma de

 perdas e danos decorrente da inadimplência por parte da contratada,na forma descrita no parágrafo 6, superior ao saldo do preço do contrato”.

28. Em suma: as garantes, tendo em vista mesmo o objetivo primacial

do Bond, em caso de inadimplência das contratadas consorciadas deveriamterminar as obras de conversão do navio petroleiro em unidade flutuantede extração e armazenamento de óleo, quer atuando diretamente, queratravés de empreiteiras idôneas aceitas pela dona da obra; responsabilizaram-se, ainda, pelo ressarcimento à BRASOIL do montante das perdas e danos excedente ao saldo do preço do contrato.

As empreiteiras contratadas foram empresas brasileiras, duas delassediadas na cidade do Rio de Janeiro e uma na cidade de São Paulo, e asobras eram executadas em estaleiro na Baía de Guanabara.

O local de cumprimento da obrigação  era, à evidência, aquele emque a obrigação de fazer  deveria ter sido adequadamente cumprida pelascontratadas ou pelas garantes, estas como assuntoras solidárias das obrigações das empreiteiras consorciadas; não o local onde eventualmente

 poderia ser efetivado o pagamento das perdas e danos pelo descumprimen-to, pelo mau cumprimento ou pela demora no cumprimento da obrigação

original.A meu sentir razão assiste, destarte, à Consulente no afirmar que “oinadimplemento das Contratadas aconteceu e foi denunciado no Brasil.Após o inadimplemento, a própria conclusão da obra ocorreu no Brasil.Logo, incontestável o fato de que a obrigação das Seguradoras fo i criada no Brasil, estando, por mais este motivo, a disputa em questão sujeita à 

 jurisdição brasileira” (p. 23 da petição de réplica).

 IV — Da duplicidade de foros de eleição

29. O caso sob consulta apresenta circunstância peculiar: a duplicidade de foros de eleição, nos contratos coligados.

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 No contrato principal, o contrato de construção>as partes, comocontratante a BRASOIL e como contratadas as empresas VEROLME —ISHIBRÁS, SADE VIGESA e IESA INTERNACIONAL, avençaramcomo

 foro de eleição o da comarca do Rio de Janeiro:

“Cláusula 21.1 — Fica eleito o foro da comarca do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, para dirimir questões decorrentes documprimento deste Contrato, renunciando as partes, expressamente,a qualquer outro por mais privilegiado que seja”.

Já no contrato coligado ou dependente, o contrato de garantia, aven-çado entre as empresas acima mencionadas e as seguradoras UNITEDSTATES e AMERICAN HOME, escolheram as contratantes outro foro, 

verbis:“Seção 9 — Qualquer procedimento, de ordem legal ou equi-

tativa, decorrente desta obrigação poderá ser ajuizado na jurisdiçãoe no foro da Corte Distrital dos Estados Unidos, Distrito Sul de NovaYork, e deverá ser ajuizado dentro de dois anos depois da inadim plência por parte da contratada...” (grifamos).

30. Impende sublinhar a distinção: neste contrato a eleição de foro

consta em caráter facultativo: “... under this bond may be instituted in the jurisdiction.. ”; já a fixação contratual de um prazo decadencial consta no Bond  em caráter cogente: "... and shall be instituted within two years afterContractor Default...” (grifamos).

O Performance Bond integra-se ao Contrato de Construção como seu Anexo X , e neste Contrato consta cláusula remissiva com o seguinte teor:

“Cláusula 22.2 — As disposições constantes dos Anexos com plementam e/ou esclarecem o ajuste formalizado neste instrumento,

 porém não prevalecerão sobre cláusula expressa aqui estabelecida, devendo ser consideradas nulas todas as condições, estipulações> preços ou valores dos Anexos, quando contrariarem frontalmente o disposto neste Contrato” (grifamos).

31. Ante esta duplicidade de ajustes, devemos ponderar que:

a) a BRASOIL não firmou o contrato de garantia, não elegeu forooutro que não o da comarca do Rio de Janeiro e, destarte, não está vinculada ao foro de eleição constante do contrato coligado, avençado entre asContratadas e as Seguradoras. As empreiteiras, estas sim, estariam vinculadas, em termos, a tal eleição de foro;

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LU

 b) a eleição de foro, constante do contrato coligado, revela caráternitidamente facultativo — may be —: caso proposta a demanda perante aJustiça dos USA, então desde logo ficava escolhido, do ponto de vistaterritorial, o juízo da Corte do Distrito Sul da cidade de Nova Iorque;

c) a imposição de tribunal estrangeiro para dirimir lides relativas acontrato executado ou em execução no Brasil, é ofensiva ao direito constitucional de acesso à Justiça brasileira e, assim, ofensiva à própria So

 berania nacional. O direito de invocar a Jurisdição brasileira não pode ser previamente (antes do surgimento, era concreto, da lide) excluído ou renunciado;

d) as provas do inadimplemento das Contratadas são naturalmente

as mesmas no que diz respeito às responsabilidades indenizatórias dasditas empreiteiras, como também às responsabilidades das garantes solidárias (testemunhas domiciliadas no Brasil, perícias a serem aqui realiza-das, documentação aqui existente), de forma a tornar absolutamentedesaconselhável, para não dizer processualmente defeso, submeter a foros distintos a pretensão contra as contratadas e a pretensão contra as garan-tidoras solidárias.

32. O tema da vinculação entre a Soberania estatal brasileira e as

regras sobre a competência internacional é abordado em aresto do eg.Superior Tribunal de Justiça, no Ag. Reg. no AI n. 9.794, 3â Turma, j. 21-6-1991, de que foi relator o em. Min. Cláudio Santos.

Ante reclamo dos então agravantes de que, acionados no Brasil, não poderiam eles chamar ao processo os devedores solidários domiciliadosno exterior (tese esta, diga-se, altamente controvertível!), consta do votocondutor que tal argumento não devia prevalecer, tendo em vista o direito à Jurisdição invocado pelo autor da ação:

“Com efeito, obrigar o suposto lesado a demandar na Itália,quando o Estado brasileiro assegura seu poder de julgar todas ascausas contra o réu, brasileiro ou não, domiciliado no Brasil, é negar a própria soberania” (RT, 678/211-213).

33. A questão da eleição de foro estrangeiro é abordada, outrossim,em aresto da eg. Câmara Especial do TJSP, no julgamento do AI n. 8.275-

0, j. 16-8-1988, tendo o relator Des. Nobrega de Salles, com supedâneoem parecer do procurador da Justiça Dr. José Roberto Bedaque (RT, 632/82-84), feito constar do acórdão, verbis:

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“Mesmo que se aceite a possibilidade de eleição de foro, por setratar de competência concorrente (cf. Donaldo Armelin, ob. cit., pg.148), é inaceitável que tal cláusula afaste a jurisdição brasileira, porviolar princípio constitucional.

Válida a eleição de um foro estrangeiro, permanece a concorrência, isto é, a autoridade brasileira não estará impedida de apreciar  a matéria; terá competência (ou melhor, jurisdição).

Anota Armelin, na sua obra citada, pg. 146, que é possível a‘causa vir a ser conhecida por órgão judicante de outra jurisdiçãonaqueles casos especificados, sem que, entretanto, esta situação *

 possa tolher a atuação da jurisdição nacional’” (grifamos).

V — Da questão da “eficácia ” da sentença

34. As Seguradoras, em mais de uma oportunidade, vêm sustentando,inclusive com remissão a proposições contidas em obra do signatário, quecompetente internacionalmente não será a Justiça brasileira, porquantoesta não teria possibilidade, na prática, de tornar efetiva a sentença eventualmente proferida com condenação das 4®e 5- demandadas.

Sublinham, no azo, já existir ação em curso nos Estados Unidos,ajuizada anteriormente, e aduzem que, embora nosso diploma processualcivil não reconheça a litispendência internacional, “# reconhecimento da 

 jurisdição pela Justiça Norte-Americana tornará, no final das contas, qualquer decisão brasileira ineficaz, cm especial no exterior e nos próprios Estados Unidos, onde estão sediadas as agravadas” (contraminuta do AI,item 93).

Em sede doutrinária, dissemos com efeito que, em linha de princípios,“o exercício da jurisdição encontra limites no princípio da efetividade: o

 juiz brasileiro somente atua relativamente àquelas causas de alguma formavinculadas a país estrangeiro, se houver possibilidade de tomar efetiva, derealmente fazer cumprir sua sentença” (Jurisdição e competência, cit., 9.ed., n. 47, p. 52).

Todavia, o princípio da efetividade não significa simplesmente queo juiz seja incompetente para proferir sentença que não tenha a possibilidade de cumprir: “cremos que o juiz deve ter uma preocupação maior emfazer justiça, em dizer o direito, e o princípio da efetividade deve ser usado mais para justificar do que para excluir a competência. Quando nãotenha o juiz nenhuma outra razão para julgar a causa, deverá considerar 

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que, se não o fizer, talvez ninguém mais o poderá fazer com efetividade,e por isso, então, julgar. Assim também deverá proceder o legislador, aosubmeter a causa à jurisdição nacional (Wemer Goldschmidt, Sistema y 

 filosofia dei derecho internacional privado, Buenos Aires, 1952, apudAgustinho Fernandes Dias da Silva, A competência judiciária no direito internacional privado brasileiro, Freitas Bastos, 1965, p. 25).

35 .0  pressuposto da efetividade embasa doutrinariamente as normasde nosso CPC atributivas da competência internacional concorrente.

 No caso ora sob consulta, note-se aliás que uma das seguradoras, aAMERICAN HOME, mantém filial na cidade do Rio de Janeiro, onde foicitada: portanto, considera-se legalmente domiciliada no Brasil, a teor do

 parágrafo único do artigo 88 do CPC. Além disso, está registrada na SUSEPdesde 22 de maio de 1958 (Dec. n. 43.483).

A sentença a ser proferida na demanda indenizatória, se procedente o pedido de ressarcimento contra as Seguradoras, pedido este baseado nagarantia solidária decorrente do Performance Bond,  é susceptível de serexecutada em bens que a AMERICAN HOME possua no Brasil, tanto bensimobiliários e mobiliários, como igualmente a penhora poderá ter porobjeto direitos decorrentes dos contratos que a empresa seguradora mantém

era nosso país (CPC, artigo 655, X, e § Ia, IV).36. Além disso, a constrição poderá ser feita em bens das empresas

rés situados em outros países com os quais o Brasil mantenha acordos decooperação judiciária, e igualmente nos Estados Unidos, neste caso se aJustiça norte-americana se houver considerado “incompetente” para julgara ação declaratória lá pendente, ou se vier a julgar “improcedente” ditaação.

Aliás, se a Justiça norte-americana der por procedente a ação declaratória promovida em Nova Iorque pelas Seguradoras, essa decisão não

 poderá ser contraposta à decisão que, em sentido contrário, houver sido prolatada pelo tribunal brasileiro competente: não será a sentença estrangeira exeqüível no Brasil, pois o processo civil brasileiro, vale repetir, nãoreconhece a litispendência internacional.

Assim, somente se a demanda promovida no estrangeiro já houvessesido julgada, e a respectiva sentença já homologada pelo Pretório Excelso,

somente então não seria possível a posterior  propositura da demanda notribunal brasileiro (. Jurisdição e competência, cit., n. 48, infine).

37. Diga-se, mais, que a mera possível dificuldade em executar umasentença não é de molde a inibir o exercício da Jurisdição pelos tribunais

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 pátrios, como com precisão afirmou, em importante julgamento no Pretó-rio Excelso, o saudoso Ministro Pedro Soares Munoz, verbis: “... o juiznão deve fugir à função jurisdicional, em face de eventuais percalços que

 possam surgir na execução da sentença. O dever dos tribunais é dar a

 prestação jurisdicional e tomar as medidas adequadas no sentido de quesuas decisões sejam respeitadas e executadas” (voto proferido na ACO n.298, Pleno, RTJ  104/928).

Em conclusão, o argumento ad terrorem das rés, relativo a eventualineficácia da sentença da Justiça brasileira favorável à BRASOIL contraas Seguradoras, não encontra guarida em nosso sistema judiciário.

38. Postas estas premissas, poderia a pretensão condenatória daBRASOIL contra as empresas seguradoras ser submetida, como o foi, à

Justiça brasileira, ou deverá ser julgada pelo Tribunal do Distrito Sul de Nova Iorque-USA, indicado no Performance Bondl

Consideramos, salvo melhor juízo, que a demanda foi corretamenteajuizada perante a Justiça brasileira, pois incidente a competência concorrente prevista no artigo 88 do CPC ; não merece censura, destarte, o ares-to do TJ do Rio de Janeiro que considerou competente o foro estabelecidono contrato de construção.

E isso por mais de um motivo suficiente:

a) os contratos, o de construção e o de garantia, são nitidamente“coligados”, mesmo porque as empresas estrangeiras obrigaram-se solidariamente com as empreiteiras, perante a dona da obra;

 b) as obrigações de fazer  previstas no contrato originário — conversão de um navio petroleiro em plataforma flutuante de extração de petróleo

 — estavam sendo cumpridas em estaleiro da baía de Guanabara, sendo portanto competente o foro do Rio de Janeiro, quer em termos de competência interna como em termos de competência internacional;

c) é juridicamente irrelevante a circunstância de a Autora e as seguradoras terem sede em território estrangeiro, notando-se que uma destas,a AMERICAN HOME, é igualmente domiciliada no Brasil — artigo 88,

 parágrafo único, do CPC;d) a eleição de foro constante do Performance Bond  revela caráter

apenas facultativo — may be instituted , e este pacto de garantia teve por partes signatárias as garantidoras e as empreiteiras, mas não a dona daobra, ora Autora;

e) as normas definidoras da competência concorrente da Justiça brasileira, previstas no diploma processual civil, são de direito público e

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delas não podem os interessados previamente abdicar , pois a disponibilidade da Jurisdição constitui manifestação inerente à Soberania estatal;

f) o princípio da efetividade  não é fator impeditivo da Jurisdição brasileira, porquanto a sentença a ser proferida poderá ser executada em

 bens e direitos das recorrentes situados no Brasil e, mesmo, conformeexposto no texto, em outros países e nos Estados Unidos.

 Nota final — A 4a Turma do Superior Tribunal de Justiça, apreciando esse caso

concreto, não conheceu do recurso especial interposto pela American Home Assuran-ce Company e Outro — REsp 251.438, ac. de 8-8-2000, sendo relator o Min. Raphaelde Barros Monteiro. V. ementa do acórdão no Anexo IV. V. o mesmo acórdão, na íntegra, na RSTJ, 146:36 8.

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SÚMULAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE 

JUSTIÇA SOBRE COMPETÊNCIA

Anexo III

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SÚMULAS DO SUPREMO TRIBUNALFEDERAL SOBRE COMPETÊNCIA

248. É competente, originalmente, o Supremo Tribunal Federal, paramandado de segurança contra ato do Tribunal de Contas da União.

249. É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou

havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federalcontrovertida. (Ver Súmula 515.) Ref   — CF de 1969, art. 101,1, Reg. Interno do STF, arts. 194,1, b,  e 193.

250. A intervenção da União desloca o processo do Juízo cível comum para o fazendário. Ref.  CF de 1969, art. 201, § l9.

251. Responde a Rede Ferroviária Federal S.A. perante o foro comum

e não perante o Juízo especial da Fazenda Nacional, a menos que a Uniãointervenha na causa. Ref    — CF de 1969, art. 201, § l9. Lei n. 3.115, de 16-3-1957, arts. Ia e 3a.

330. O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecerde mandado de segurança contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados.

335. É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do contrato.

 Ref.   — CC, art. 42. CPC, art. 133. Dec. n. 4.857, de 9-11-1939, art. 259, § l s.

363. A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada nodomicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato.

 Ref.   — CC, art. 35, § 39. CPC, arts. 133,1, e 134.

433. É competente o Tribunal Regional do Trabalho para julgarmandado de segurança contra ato de seu presidente em execução de sentença trabalhista.

501. Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento,em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que

 promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.

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503. A dúvida, suscitada por particular, sobre o direito de tributar,manifestado por dois Estados, não configura litígio da competência originária do Supremo Tribunal Federal.

504. Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, o processo

e o julgamento das causas fundadas em Contrato de Seguro Marítimo.508. Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias, processar

e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.510. Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência

delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial. Ref.  — CF de 1967, art. 83, parágrafo único. Lei n. 1.533 (Mandado de Segu- >

rança), de 31-12-1951, art. le, § ls. Dec.-lei n. 200, de 25-2-1967 (Ref.Adm.), arts. 11 e 12. CF de 1969, art 81, parágrafo único.

£511. Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e ’ julgar as causas entre autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive mandados de segurança, ressalvada a ação fiscal, nos termos daConstituição Federal de 1967, art. 119, § 3~.

 Ref    _ CF de 1946, art. 104, II, a. CF de 1967, arts. 117, II, e 119,1 e § 3fi CF de1969, arts. 122, II, 125 e 126.

515. A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário

ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedidorescisório. Ref.  — Súmula 249.

516. O Serviço Social da Indústria — SESI — está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual.

517. As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federalquando a União intervém como assistente ou opoente.

 R ef   — CF de 1967, art. 119,1. Dec.-lei n. 200, de 25-2-1967 (Ref. Adm.), arts.

59, II, e 25. CF de 1969, art. 125,1.518. A intervenção da União, era feito já julgado pela segunda ins

tância e pendente de embargos, não desloca o processo para o TribunalFederal de Recursos.

 Ref   — CJ 3.931, de 17-4-1968 (RTJ, 47:13; DJ, 28 jun. 1968).

522. Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, acompetência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o

 processo e o julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.555. É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre Juiz de Direito do Estado e a Justiça Militar local.

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 — Esta súmula foi alterada pelo STF,  acrescentando-se ao verbete: “salvonos Estados que possuem Tribunal Militar de 2-  Grau, quando competente será o Tribunal Federal de Recursos” (CJ 6.155 — RTJ *90:20). Anosso sentir, esta súmula não prevalece no sistema constitucional vigente — v. nota de rodapé n. 7, verbete n. 140.1.

556. É competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista.

557. É competente a Justiça Federàl para julgar as causas em que são partes a COBAL e a CIBRAZEM.

623. Não gera por si só a competência originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer do mandado de segurança com base no art. 102,I, «, da Constituição, dirigir-se o pedido contra deliberação administrativa

do tribunal de origem, da qual haja participado a maioria ou a totalidadede seus membros.

624. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer origina-riamente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais.

634. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medidacautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda nãofoi objeto de juízo de admissibilidade na origem.

635. Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de

medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo deadmissibilidade.

689.0 segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capitaldo Estado-Membro.

690. Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados es

 peciais criminais.691. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas 

corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.

702. A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demaiscasos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundograu.

721. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalecesobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pelaConstituição estadual.

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722. São da competência legislativa da União a definição dos crimesde responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

727. Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tri

 bunal Federal o agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa instaurada noâmbito dos juizados especiais.

731. Para fim da competência originária do Supremo Tribunal Federal, é de interesse geral da magistratura a questão de saber se, em face daLOMAN, os juizes têm direito à licença-prêmio.

734. Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgadoo ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribu- #

nal Federal.736. Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como

causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.

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SÚMULAS DO SUPERIOR TRIBUNALDE JUSTIÇA SOBRE COMPETÊNCIA

1. O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o com petente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada coma de alimentos.

 Ref.   — CPC, art. 100, II.

 — 2~ Seção, em 25-4-1990.3. Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de

competência verificado, na respectiva Região, entre Juiz Federal e JuizEsta-dual investido de jurisdição federal.

 Ref    — CF, a rt 108,1, e.

 — l â Seção, em 8-5-1990.

4. Compete ã Justiça Estadual julgar causa decorrente do pro

cesso eleitoral sindical. Ref  —   CF, art. 82. l â Seção, em 8-5-1990. V. EC n. 45, de 8-12-2004.

6. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delitodecorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar,salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade.

 R ef ~~  CF, art. 125, § 4S. CP, art. 9a, II, a e c.

 — 3a Seção, em 7-6-1990.

10. Instalada a Junta de Conciliação e Julgamento, cessa a competência do Juiz de Direito em matéria trabalhista, inclusive para a execuçãodas sentenças por ele proferidas.

 Ref.   — CPC, art. 87. CLT, art. 769.

 — 2ã Seção, em 26-9-1990.

11. A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação deusucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel.

 R ef   — CF, art. 109, § 3a. Lei n. 6.969, de 10-12-1981, art. 42, § l e.

 — 2â Seção, em 26-9-1990.

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15. Compete à Justiça Estadual processar e julgai' os litígios decorrentes de acidente do trabalho. Ref.   — CF de 1988, art. 109,1.

 — Corte Especial, em 8-11-1990.22. Não há conflito de competência entre o Tribunal de Justiça e 

Tribunal de Alçada do mesmo Estado-Membro.

 Ref.   — CF, art. 105,1, d.

 — Corte Especial, em 13-12-1990.

Esta súmula foi  superada   pela extinção dos Tribunais de Alçada, pela:-EC 45/2004.

32. Compete à Justiça Federal processar justificações judiciai^destinadas a instruir pedidos perante entidades que nela têm exclusividadede foro, ressalvada a aplicação do art. 15, II, da Lei n. 5.010/66.

 Ref.  —   CF, art. 109,1 e §§ 3e e 4e. CPC, art. 109. Lei n. 5.010, de 30-5-1966,art. 15.

 — Corte Especial, em 24-10-1991.

33. A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício. Ref.   — CPC, art. 112.

 — Corte Especial, em 24-10-1991.

34. Compete à Justiça Estadual processar e julgar causa relativa amensalidade escolar, cobrada por estabelecimento particular de ensino,

V., nesta obra, o verbete n. 100-C.

38. Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituiçãode 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades.

 Ref.   — CF, art. 109, IV. ADCT, art. 27, § 10. Lei n. 4.771, de 15-9-1965, art. 26.

41. O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de outrostribunais ou dos respectivos órgãos.

 Ref.   — CF, art. 105,1, b. LC n. 35, de 14-3-1979, art. 21, VI. — Corte Especial, em 14-5-1992.

42. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causascíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticadosem seu detrimento.

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 Ref.  — CF, art. 109 ,IeIV .

 — Corte Especial, em 14-5-1992.

46. Na execução por carta, os embargos do devedor serão decididos

no juízo deprecante, salvo se versarem unicamente vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação dos bens. Ref   — CPC, arts. 658 e 747. Lei n. 6.830, de 22-9-1980, art. 20, parágrafo único.

 — Corte Especial, em 13-8-1992 (DJ, 24 ago. 1992, p. 13010).

47. Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido pormilitar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço.

 Ref   — CPM, art. 9~,f   II.

 — 3â Seção, em 20-8-1992 (DJ,  25 ago. 1992, p. 13103).

48. Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação decheque. Ref   — CP, art. 171.

 — 3â Seção, em 20-8-1992 ( DJ , 25 ago. 1992, p. 13103).

53. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civilacusado de prática de crime contra instituições militares estaduais. R ef   — CF, art. 125, § 49.

 — 3â Seção, em 17-9-1992 (DJ,  24 set 1992, p. 16070).

55. Tribunal Regional Federal não é competente para julgar recursode decisão proferida por juiz estadual não investido de jurisdição federal.

 Ref.  — CF, art. 108, II.

 — Corte Especial, em 24-9-1992 (DJ, lã   out. 1992, p. 16801).

57. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julg ar ação de cumprimento fun da da em acordo ou convenção coletiva não homologados  

 pela Justiça do Trabalho.

 — lâ Seção, em 29-9-1992.

C A N C E L A D A , tendo em vista a Lei n. 8.984/95. V. o verbete n. 113.

58. Proposta a execução fiscal, a posterior mudança de domicíliodo executado não desloca a competência já fixada.

 Ref —  CPC, arts. 87 e 578.

 — lâ Seção, em 29-9-1992 (DJ, 6 out. 1992, p. 17215).

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59. Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por um dos juízos conflitantes.

 Ref.   — CPC, arts. 113, § 2a, e 118. CPP, arts. 114 e 115.

 — Corte Especial, em 8-10-1992 (£>/, 14 out. 1992, p. 17850).

62. Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsaanotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.

 Ref    — CF, art. 109, IV.

 — 3- Seção, em 19-11-1992 (DJ, 26 nov. 1992, p. 22212).

66. Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal

 promovida por Conselho de fiscalização profissional. I Ref.  — CF, art. 109,1.

 — lâ Seção, em 15-12-1992.

75. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policialmilitar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

 — 3- Seção, em 15-4-1993.

78. Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidadefederativa.

 Ref.  —   CF, art. 125, § 4*. CPM, art. 99.

 — 3~ Seção, em 3-6-1993.

82. Compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os feitos relativos a movimentação do FGTS.

 Ref.   — CF, art. 109,1. Lei n. 8.036, de 11-5-1990. — Corte Especial, em 18-6-1993.

90. Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policialmilitar pela prática do crime militar, e à Comum pela prática do crimecomum simultâneo àquele.

 Ref  —   CF, art. 125, § 4fi. CPP, art. 79 ,1.

 — 3â Seção, em 21-10-1993.

91. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos contra a fauna.

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.11.1

 — Esta Súmula foi aprovada pela 3â Seção em 21-10-1993, com base nasLeis n. 5.197/67 e 7.653/88, e CANCELADA pela mesma 3â Seção em 8-11-2000,ante o advento da Lei n. 9.605/98, arts. 29 a 37 ( DJU , 27 nov. 2000, p. 195).

97. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação

de servidor público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores àinstituição do regime jurídico único.

 Ref.  — CF, arts. 39 e 114.

 — 3a Seção, em 3-3-1994.

104. Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimesde falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

 Ref.  — CF, art. 109, IV. — 3â Seção, em 19-5-1994.

107. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime deestelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento dascontribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquiafederal.

 R ef   — CP, art. 171.

 — 3ã Seção, em 16-6-1994.108. A aplicação de medidas socioeducativas ao adolescente, pela

 prática de ato infracional, é da competência exclusiva do juiz. Ref   _ Arts. 112, 126, 127, 146, 148, 180 e 182 do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

 — 3a Seção, em 16-6-1994.

122. Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos

crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regrado art. 78, II, a, do Código de Processo Penal. (DJU, 7 dez. 1995, p. 33968.) — 3â Seção, em 1M2-1994.

137. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação deservidor público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário.

 — Corte Especial, em 11-5-1995 (DJU, 18 maio 1995, p. 13861.)

V., nesta obra, o verbete 113.2.140. Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime

em que o indígena figure como autor ou vítima. (DJU, 24 maio 1995.)

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 — 3â Seção, em 18-5-1995.

147. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exer

cício da função. (. DJU , 18 dez. 1995, p. 44864.) — 3â Seção, em 7-12-1995.

150. Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquiasou empresas públicas. {DJU, 13 fev. 1996, p. 2608.)

 — Corte Especial, em 7-2-1996. ^

151. A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal dolugar da apreensão dos bens.

 — 3- Seção, em 14-2-1996. {DJU, 26 fev. 1996, p. 4192.)

161. É da competência da Justiça Estadual autorizar o levantamentodos valores relativos ao PIS/Pasep e FGTS, em decorrência do falecimento do titular da conta.

 — lâ Seção, em 12-6-1996. {DJU, 19 jun. 1996, p. 21940.)

165. Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falsotestemunho no processo trabalhista.

 — 3â Seção, em 14-8-1996.

170. Compete ao juízo onde primeiro for intentada a ação envolvendo cumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites desua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de nova causa, com o pedidoremanescente, no juízo próprio.

 — 3- Seção, em 23-10-1996.

172. Compete à Justiça comum processar e julgar militar por crimede abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.

 — 3a Seção, em 23-10-1996.

173. Compete à Justiça Federal processar e julgar pedido de reintegração em cargo público federal, ainda que o servidor tenha sido dispensado antes da instituição do Regime Jurídico Único.

 — 3â Seção, em 23-10-1996.

177. O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão cole-giado presidido por ministro de Estado.

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 — 1* Seção, em 27-11-1996.

180. Na lide trabalhista, compete ao Tribunal Regional do Trabalhodirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre Juiz

Estadual e Junta de Conciliação e Julgamento. — Corte Especial, em 5-2-1997.

183. Compete ao Juiz Estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo.

 — Esta Súm ula foi aprovada pela lâ Seção em 12-3-1997, e CANCELADA pela mesma l â Seção no julgamento dos Emb. Decl. no CC 27.676, rei. Min.

José Delgado, j. 8-11-2000, inclinando-se o colegiado pela competência daJustiça Federal em ação civil pública proposta pelo IBAMA por danos ao meioambiente, com aplicação do art. 93 da Lei n. 8.078/90 — CDC. V., nesta obra,o verbe te n. 106.

192. Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execuçãodas penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral,quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.

 —~ 3- Seção, em 25-6-1997.200. O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de

crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.

 — 3” Seção, em 22-10-1997.

203. Não cabe recurso especial contra decisão proferida, por órgãode segundo grau dos Juizados Especiais.

 — Corte Especial, em 4-2-1998; redação ALTERADA em 23-5-2002.

206. A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, nãoaltera a competência territorial resultante das leis de processo.

 — Corte Especial, em 1--4-1998.

208. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

 — 3- Seção, em 27-5-1998.

209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

 — 3- Seção, em 27-5-1998.

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218. Compete à Justiça dos Estados processar e julgar ação de servidor estadual decorrente de direitos e vantagens estatutárias no exercíciode cargo em comissão.

 — 3~ Seção, em 10-2-1999.

222. Compete à Justiça Comum processar e julgar as ações relativas à contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT 

V. o verbete n. 113.

V.  art. 114, III, da CF, na redação da EC n. 45/2004.

 — 2- Seção, em 23-6-1999.

224. Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o JuizEstadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos £e não suscitar conflito.

 — Corte Especial, em 2-8-1999.

225. Compete ao Tribunal Regional do Trabalho apreciar recursocontra sentença proferida por órgão de primeiro grau da Justiça Trabalhista, ainda que para declarar-lhe a.nulidade em virtude de incompetência.

 — Corte Especial, em 2-8-1999.

230. Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação movida por  trabalhador avulso portuário, em que se impugna ato do órgão gestor de mão de obra de que resulte óbice ao exercício de sua profissão.

 — Aprovada pela 2- Seção, em 8-9-1999.

 — Julgando os CC 30.513, 30.500 e 30.504, na sessão de 11-10-2000 a 2âSeção do STJ deliberou pelo CAN CELAMENTO DESTA SÚMULA 230.

235. A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

 — Corte Especial, em l fi-2-2000.

236. Não compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflitosde competência entre juízos trabalhistas vinculados a Tribunais Regionaisdo Trabalho diversos.

 — 2a Seção, em 22-3-2000.

238. A avaliação da indenização devida ao proprietário do solo, emrazão de alvará de pesquisa mineral, é processada no Juízo Estadual da

situação do imóvel. — l â Seção, em 10-4-2000.

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244. Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crimede estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.

 — 3a Seção, em 13-12-2000.

253. O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso,alcança o reexame necessário.

 — Corte Especial, em 20-6-2001.

254. A decisão do Juízo Federal, que exclui da relação processualente federal, não pode ser reexaminada no Juízo Estadual.

 — Corte Especial, em l fi-8-2001.

270. O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente

federal em execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a com petência para a Justiça Federal.

 — Corte Especial, em l 2-8-2002.

324. Compete à Justiça Federal processar e julgar ações de que participa a Fundação Habitacional do Exército, equiparada a entidade autárquica federal, supervisionada pelo Ministério do Exército.

 — Corte Especial, em 3-5-2006.

329. O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público.

 — Corte Especial, em 2-8-2006.

333. Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

 — lâ Seção, em 13-12-2006.

348. Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os Conflitosde Competência entre juizado especial federal e juízo federal, ainda queda mesma seção judiciária.

 — 2- Seção,  DJ, 9-6-2008.

349. Compete à Justiça Federal ou aos juizes com competência delegada o julgamento das execuções fiscais de contribuições devidas peloempregador ao FGTS.

 — 1- Seção, em 11-6-2008.363. Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobran

ça ajuizada por profissional liberal contra cliente.

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 — Corte Especial, em 15-10-2008.

365. A intervenção da União como sucessora da Rede FerroviáriaFederal (RFFS A) desloca a competência para a Justiça Federal ainda que

a sentença tenha sido proferida por Juízo Estadual. — Corte Especial, em 19-11-2008.

366. Compete à Justiça estadual processar e julgar ação indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de trabalho.

 — Corte Especial, em 19-11-2008. Esta súmula foi CANCELADA pela K Corte Especial em 16-9-2009, no julgamento do CC 101.977, rei. Min. TeoriZavascki, a fim de acompanhar a jurisprudência do STF no sentido da competên-

 jü

cia da Justiça do Trabalho. ^

367. A competência estabelecida pela EC n. 45/2004 não alcança os processos já sentenciados.

 — Corte Especial, em 19-11-2008.

368. Compete à Justiça comum estadual processar e julgar os pedidosde retificação de dados cadastrais da Justiça Eleitoral.

 — Ia Seção, em 26-11-2008.374. Compete à Justiça Eleitoral processar e julgar a ação para anu

lar débito decorrente de multa eleitoral.

 —  \ - Seção, em 11-3-2009.

376. Compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado desegurança contra ato de Juizado Especial.

 — Corte Especial, em 18-3-2009.383. A competência para processar e julgar as ações conexas de in

teresse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de suaguarda.

 — 2â Seção, em 27-5-2009.

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ACÓRDÃOS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE COMPETÊNCIA

(Ementas)

Anexo IV

O s acórdãos estão na íntegra no  site da S ara iva (www. 

saraivajur.com.br)

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RELAÇÃODOS ACÓRDÃOS

1. AC 02 — Imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro. Limitações (verbete 50).

2. CC 175 — Usucapião. Imóvel situado na “Faixa de Fronteira”(verbete 101).

3. CC 660 — Justificação judicial. Aplicação da regra do art. 15,II, da Lei n. 5.010/66 (verbete 91).

4. Agi 757 — Imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro. Limitações (verbete 50).

5. CC 1.452 — Competência do juízo deprecado. Limitação (ver bete 121).

6. CC 1.474 — Competência do juízo deprecado. Limitação (ver bete 121).

7. CC 2.312 — Nenhum tribunal pode rever atos de juizes que nãolhe são vinculados, salvo em casos de jurisdição “delegada” (verbete 109).

8. CC 2.779 — Ação entre particulares sobre pesquisa de lavra.Código da Mineração. Competência da Justiça Estadual (verbete 109).

9. CC 2.933 — Execução de alimentos. Domicílio do alimentando(nota 91).

10. CC 4.404 — Conflito suscitado por juiz não vinculado ao tribunal que julgou a exceção de incompetência (verbete 139).

11. CC 5.192 — Conflito suscitado por juiz não vinculado ao tribunal que julgou a exceção de incompetência (verbete 139).

12. CC 21.540 — Foro de eleição. Possibilidade de o juiz declinar, de

ofício, de sua competência para o juízo do domicílio do réu (verbete 65).13. Agi 11.771 — Representação do Estado estrangeiro por seuEmbaixador, não pelo cônsul (verbete 51).

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14. REsp 13.125 -— Não aplicação do forum rei sitae nas ações derescisão de promessa de compra e venda cumulada com reintegração de

 posse (verbete 76).

15. REsp 17.794 — O foro excepcional do art. 100, parágrafo único,do CPC, não beneficia a seguradora sub-rogada (verbete 83).

16. REsp 27.122 — Cláusula de eleição de foro. Não aplicação aoscontratos tipicamente de adesão (verbete 64).

17. REsp 251.438 — Competência internacional concorrente. CPC,arts. 88, II, e 90 (verbete 48).

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APELAÇÃO CÍVEL N. 02-DF

EMENTA:  Imunidade de jurisdição. Reclamação trabalhista intentada contra Estado estrangeiro.

Sofrendo o princípio da imunidade absoluta de jurisdiçãocertos temperamentos em face da evolução do direito consuetudi-nário internacional, não é ele aplicável a determinados litígios decorrentes de relações rotineiras entre o Estado estrangeiro e os

súditos do país em que o mesmo atua, de que é exemplo a reclamação trabalhista.

Precedentes do STF e do STJ.

Apelo a que se nega provimento.

(Rei Min. Barros Monteiro, ac. de 7-8-1990)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 175-RS

EMENTA: Conflito de competência. Usucapião. Faixa de fronteira. Terra devo luta.

A só circunstância de área rural não registrada estar localizadana “Faixa de Fronteira” não a torna devoluta, nem autoriza inclusãoentre os bens de domínio da União (CF, art. 20, II) e, portanto, nãousucapíveis.

Incomprovado o domínio da União, compete à Justiça Estadu

al processar e julgar a ação de usucapião.Conflito suscitado pelo Juiz Federal, e julgado procedente.

(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 14-6-1989)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 660-DF

EMENTA: Conflito de competência. Justificação de união de 

 fato, para fazer prova perante o Ministério do Exército. Competência da Justiça Federal.

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A expressão causa, que está no artigo 109,1, da ConstituiçãoFederal, abrange os processos de jurisdição voluntária.

 Nas justificações procede-se à angularização processual, sendoessencial a citação dos interessados (CPC, art. 862), no caso a União

Federal.Artigo 15, II, da Lei n~ 5.010/66, atribuindo aos juizes estaduais,

nas comarcas do interior onde não funcione vara da Justiça Federal,a competência para processar e julgar as justificações destinadas afazer prova perante a Administração federal. Norma confirmada peloartigo 109, § 32, infine, e § 4-, da vigente Constituição da República.

A Súmula 53, do extinto Tribunal Federal de Recursos, encon

tra aplicação apenas nos casos em que o requerente visa de modo ê imediato questões atinentes ao Direito de Família, com repercussãoapenas mediata na eventual obtenção de vantagem previdenciária.

Quando o objetivo da justificação for diretamente o benefício previdenciário ou estatutário, perante a Administração federal, devendo ser citada a União ou autarquia federal, a competência é daJustiça Federal.

Decisão unânime.

(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 14-12-1990)

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 757-DF

EMENTA: Estado estrangeiro. Imunidade de jurisdição. Inocor- rência. Precedentes. Competência da Justiça brasileira.  Recurso desprovido.

 — O Direito Internacional Público atual não tem prestigiadocomo absoluto o princípio da imunidade de jurisdição de Estadoestrangeiro, impondo-se à confirmação a erudita decisão que deu pelacompetência da Justiça brasileira.

(Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de 21-8-1990)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 1.452-SP

EMENTA: Carta precatória. Arguição de incompetência.1. Não é lícito ao juiz deprecado recusar cumprimento à precatória, à consideração de incompetência do juiz deprecante.

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2. Cabe ao juiz deprecante apreciar a exceção de incompetência.

3. Conflito conhecido e declarado competente o juiz deprecado, para determinar o cumprimento da carta, simplesmente.

(Rei. Min. Nilson Naves, ac. de 13-3-1991)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 1.474-MA

EMENTA: Conflito de competência. Cumprimento de carta  precatória de reintegração de posse e citatória. Poderes do juiz de precado.

O juiz deprecado somente pode recusar cumprimento à preca

tória e mandar devolvê-la nos casos do artigo 209 do Código deProcesso Civil, ou quando entender que absolutamente competenteé o próprio juízo deprecado. Fora disso, a defesa oposta ao cumprimento da diligência deprecada deve ser apreciada, em sua oportunidade e merecimento, pelo juízo deprecante, que é o juiz da causa.

Conflito suscitado pela parte autora (CPC, art. 116), julgado procedente a fim de que o juiz deprecado se abstenha de apreciarquestão de mérito da demanda e simplesmente cumpra a carta pre

catória.(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 29-5-1991)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.312-RS

EMENTA: Conflito negativo de competência. Apelação inter posta de sentença de ju iz estadual.

Se o Tribunal de Justiça considera a Justiça do Estado comoincompetente, “ratione personae”, para processar e julgar causaajuizada contra a Caixa Econômica Federal, cabe-lhe anular o atodecisório e determinar a remessa do feito ao juízo federal que entender competente, não devendo remeter o processo ao Tribunal Regional Federal. Nenhum tribunal, salvante em casos de jurisdição delegada, pode rever atos de juizes que lhe não são vinculados.

Conflito conhecido, declarado competente para conhecer do

recurso o Tribunal de Justiça de Santa Catarina.(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 29-4-1992)

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.779-MG

EMENTA: Conflito de competência. Mineração. Ação visando  prioridade na pesquisa de lavra. Dlei n~ 227/67.

A competência da Justiça Federal é a fixada taxativamente naConstituição da República, não podendo ser restringida nem ampliada por lei infraconstitucional.

A disputa sobre direitos de mineração não está incluída na competência “ratione materiae” da Justiça Federal. Não participando da relação , processual a União, autarquia ou empresa pública federal, o juiz de di-;<rei to da comarca da situação da jazida (Dlei 227/67, art. 27, inc. VI) nãoage por “delegação”, mas no exercício de sua própria jurisdição.

£Conflito de competência entre juiz de direito e juiz federal.’Competência do STJ para dirimi-lo. Declaração da competência domagistrado estadual.

(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. 28-10-1992)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.933-DF

EMENTA: Processual civil — Conflito de competência  — Ação de execução de Alimentos — Competência do foro do domicílio do alimentando —  Art. 100, II, do CPC.

I — Hipótese em que não se configura infringência ao princípioda perpetuado jurisdictionis, eis que não está em curso a Ação deAlimentos, mas, sim, a execução da sentença naquela proferida. Tem-se como a melhor orientação doutrinária aquela que admite que o

 processo executivo não constitui fase da ação de conhecimento.

II — Se a parte, calcada em título judicial, pleiteia alimentos,a competência para processar a Execução é do foro do domicílio doalimentando. Incidência do disposto no art. 100, II, do CPC.

III — Conflito conhecido para declarar-se competente o Juízode Direito da Vara de Família do Rio de Janeiro, suscitado.

(Rei. Min. Waldemar Zveiter, ac. de 28-10-1992)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 4.404-PREMENTA: Competência. Conflito. Cautelar preparatória.

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 Ações inversas à pretensão executiva. Foro competente. Declinatória confirmada em agravo. Tribunal ao qual não se vincula o juiz susci- tante. Distinção determinada em face da natureza da competência controvertida. Incidência do enunciado nr 33 da súmula/STJ.

I — Para a execução fundada em título extrajudicial, a preferência para fixação do foro competente observa a seguinte ordem: a)foro de eleição; b) lugar do pagamento; e c) domicílio do réu.

IX— O foro do lugar do pagamento é também competente paraas ações inversas à pretensão executiva do título (v. g. consignatóriae anulatória).

XII — Havendo acórdão em sede de agravo confirmando a declinatória, proferido por Tribunal ao qual não esteja o juiz, ao qualforam encaminhados os autos, hierarquicamente vinculado, impendequestionar da natureza da competência controvertida, haja vista que,sendo ela absoluta, lícito será ao magistrado suscitar o conflito.

IV — A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício(súmula/STJ, enunciado n- 33).

(Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de 25-8-1993)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.192-SP

EMENTA: Competência. Conflito. Execução de título extrajudicial promovida por empresa pública federal contra particular. Competência absoluta. Art . 109,1, da Constituição. Inaplicábilidade do § 3° deste artigo. Declinatória pendente de recurso. Tribunal ao qual não se vincula o juiz suscitante. Distinção determinada em face  da natureza da competência controvertida.

I — Compete à Justiça Federal processar e julgar as ações pro postas por empresa pública federal contra particular, nos termos doart. 109,1, da Constituição, não se aplicando no caso o § 3e desseartigo.

II — Havendo recurso pendente contra a decisão declinatória, perante tribunal ao qual não esteja vinculado o juiz ao qual foramencaminhados os autos, impende questionar da natureza da compe

tência controvertida, haja vista que, sendo ela absoluta, lícito será aomagistrado suscitar o conflito.

(Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de 13-10-1993)

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 21.540-MS

EMENTA: Conflito de competência. Competência territorial. Foro de eleição. Cláusula abusiva.

O juiz do foro escolhido em contrato de adesão pode declararde ofício a nulidade da cláusula e declinar da sua competência parao Juízo do foro do domicílio do réu.

Prevalência da norma de ordem pública que define o consumidor como hipossuficiente e garante sua defesa em juízo.

Conflito conhecido e declarada a competência do suscitante.

(Rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar, ac. de 27-5-1998)

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 11.771-RS

EMENTA: Estado estrangeiro. Representação em juízo. Atribuições dos cônsules. Convenções de Viena. Caso do art. 105, //, c,da Constituição Federal.

 Nos termos da Convenção de Viena de 1961, sobre relaçõesdiplomáticas, cabe ao Embaixador representar o Estado acreditante

 perante o Estado acreditado; não ao cônsul, cujas atribuições limitam-

-se, de regra, aos planos administrativo, comercial e notarial. Não pode o cônsul, pois, outorgar mandato judicial em repre

sentação do Estado estrangeiro, visando ajuizar demanda perante aJustiça brasileira.

Falta de legitimação para o processo. Aplicação do art. 13 doCPC.

Agravo provido.

(Rei. desig. Min. Athos Carneiro, ac. de 20-4-1993)

RECURSO ESPECIAL N. 13.125-SP

EMENTA: Competência. Ação de rescisão de promessa de compra e venda cumulada com pedido de reintegração de posse. Não incidência do art. 95 do CPC.

Se o pedido possessório apresenta-se como mera decorrência do pedido principal fundado em inadimplemento contratual, não incidea norma de competência absoluta constante do artigo 95 do CPC.

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Apreciação dos precedentes do Supremo Tribunal Federal edeste Superior Tribunal de Justiça.

Recurso especial conhecido em parte, pela divergência, mas não provido.

(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 22-9-1992)

RECURSO ESPECIAL N. 17.794-0-RS

EMENTA: Competência  — Acidente de veículos  — Sub- rogação.

O foro excepcional, assegurado à vítima do acidente (CPC, art.

100, parágrafo único), em homenagem a sua situação pessoal, constitui prerrogativa processual que não se transmite ao que se sub-rogano direito de receber indenização.

(Rei. Min. Eduardo Ribeiro, ac. de 31-8-1992)

RECURSO ESPECIAL N. 27.122-1-MG

EMENTA: Competência. Arrendamento mercantil. Contrato de 

adesão. Cláusula de eleição de foro. Limitações à sua aplicação.Em se tratando de contratos de adesão, relativos a negócios

 pactuados nos mais diversos pontos do território nacional por grandeempresa que se dedica ao arrendamento mercantil (“leasing”), sobrea cláusula impressa e praticamente imposta ao pretendente ao arrendamento, devem prevalecer as regras de competências alusivas aolocal do negócio e do pagamento das prestações.

Caso em que, além disso, no lugar da avença, Belo Horizonte,

ações cautelares de natureza jurisdicional, propostas pelo arrendatário,tramitaram normalmente sem discussão quanto ao foro competente.

Recurso especial conhecido, pelo dissídio mas ao qual se nega provimento.

(Rei. Min. Athos Carneiro, ac. de 17-11-1992)

RECURSO ESPECIAL N. 251.438-RJ

EMENTA: Competência internacional — Contrato de conversão

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de navio petroleiro em unidade flutuante — Garantia representada por performance bond  emitido por empresas estrangeiras — Caráteracessório deste último — Jurisdição do Tribunal brasileiro em faceda denominada competência concorrente (art. 88, inc. II, do CPC).

 — O performance bond  emitido pelas empresas garantidoras éacessório em relação ao contrato de execução de serviços para aadaptação de navio petroleiro em unidade flutuante de tratamento,armazenamento e escoamento de óleo e gás.

 — Caso em que as empresas-garantes se sujeitam à jurisdição - brasileira, nos termos do disposto no art. 88, inc. II, do CPC, pois no •>Brasil é que deveria ser cumprida a obrigação principal. Competên

cia internacional concorrente da autoridade judiciária brasileira, que ^não é suscetível de ser arredada pela vontade das partes.

 — À Justiça brasileira é indiferente que se tenha ajuizado açãoem país estrangeiro, que seja idêntica a outra que aqui tramite. Incidência na espécie do art. 90 do CPC.

Recurso especial não conhecido, prejudicada a medida caute-lar.

(Rei. Min. Barros Monteiro, ac. de 8-8-2000)

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índice alfabético-remissivo(Os números referem-se aos verbetes)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA — foro competente: 106 — improbidade administrativa: 106-B — proposta por consumidor: 100-B

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO — empregado, condições insalubres: 113.3 — empregado, doença profissional: 113.3

AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE EDE INCONSTITUCIONALIDADE: 10

AÇÃO POPULAR  — foro competente: 107

AÇÃO POSSESSÓRIA

 — relação de trabalho: 113AÇÃO RESCISÓRIA — tribunal competente: 105

ACIDENTE DO TRABALHO — ação: 92 — ação revisional: 93

ACIDENTES DE TRÂNSITO: 85AÇÕES ACESSÓRIAS, art. 108: 87

AÇÕES CAUTELARES, art. 800: 88 — ajuizadas pendente recurso — art. 800, parágrafo único: 89

AÇÕES DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL: 90-AAÇÕES DE GARANTIA, art. 109: 87AÇÕES POSSESSÓRIAS: 113AÇÕES RESCISÓRIAS: 105, 110ADMINISTRAÇÃO E JURISDIÇÃO: 12

 — distinções entre o ato jurisdicional e o administrativo: 13 — magistério de Mauro Cappelletti: 14ADMINISTRADOR DE NEGÓCIOS ALHEIOS, art. 100, V, b:  84.2

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ADVOGADOS: 113ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: 65ALIMENTOS, art. 100, II: SI e 90ALVARÁ — FGTS, PIS, PASEP, pedidos de: 91-A

 AMÍCUS CURIAE:  108ANULAÇÃO DE TÍTULOS, art. 100, III: 87ARBITRAGEM: 41 a 44-A e 90

-— sociedade de economia mista: 42AUSENTE

 — ações contra: 84.3AUTARQUIA ESTADUAL

 — ações em que for parte: 86

AUTARQUIAS E EMPRESAS PÚBLICAS FEDERAIS: 112BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO: 93 e 111.2BNDES: 111.3

 — ação revisional: 93CADE — CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA

ECONÔMICA: 32CAIXA ECONÔMICA FEDERAL: 111.3

CAIXA DE ASSISTÊNCIA AOS ADVOGADOS: 111.3CARTA PRECATÓRIA — recusa de cumprimento: 121 — embargos do devedor: 120

CARTAS ROGATÓRIAS — exequatur: 52

CASAMENTO — ação de anulação: 80

 — ações relativas: 80 — Vide também Separação JudicialCÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: 100-BCOISA JULGADA: 7COMARCAS

 — desmembramento: 58COMPETÊNCIA

 — absoluta: 59

 — absoluta e relativa — esquemas didáticos: 60, 61 e 62 — classificação de Chiovenda: 70

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 — comum: 68 — conceito: 45 — concorrente: 68 — conexão: 63 e 63.1

 — conflito de atribuições: 133 e 144 — conflito de competência: 133 e 135 — continência: 63.1 — controle da competência: 133 — cumulação de pedidos: 114 — da Justiça brasileira: 48 — da Justiça do Trabalho: 113 e 114 —- do Tribunal Regional do Trabalho, Súmula 225: 110

 —- do Tribunal Regional Federal» Súmula 55: 110 — dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, Súmula 203: 118-1 — dos Juizados Especiais Cíveis Federais: 118-2 — em razão da matéria: 55, 115 — em razão da pessoa: 55, 116 — em razão do valor: 117 — exclusiva: 68 — execução por carta, art. 747: 120 e 121

 — fontes das normas de competência: 46 — foro competente, busca: 54 — foros privilegiados: 117 — funcional, execução de sentença: 90 — funcional, no plano “horizontal” e recursal: 56, 61 e 119 — funcional, pela vinculação do juiz, art. 132: 123 a 132 — interna nos órgãos judiciários: 56 — juízo competente, busca: 55

 — jurisdicional prevalece sobre a administrativa: 122 — justiça competente, busca: 53 — na via jurisdicional prevalece sobre a administrativa: 122 — originária: 69 —~pela cidadania da parte: Anexo I — perpetuação da competência, art. 87: 57 — plena: 66 — prevenção: 55, 63.2

 — privativa: 67 — prorrogação: 63.3 — recursal: 69

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 — relativa: 59 — Súmulas do STF e do STJ: Anexo III — Superior Tribunal de Justiça, acórdãos: Anexo IV . — tribunal competente para julgar o conflito: 140

COMPETÊNCIA INTERNACIONAL: Cap. XI — cartas rogatórias, exequatur : 52 — concorrente, art. 88: 48 — Convenção de Montevidéu: 44 — Convenção de Nova Iorque: 42 — Convenção do Panamá: 42 — Estado estrangeiro, imunidade à jurisdição, limitações: 50 — Estado estrangeiro, representação em juízo: 51

 — exclusiva da Justiça brasileira, art. 89: 49 — princípio da efetividade: .47 — procedimento no conflito de competência: 140.1 — Protocolo de Las Lenas: 52 — Protocolo de Ouro Preto: 52 — tribunais de hierarquia diversa, Súmula 22: 136

CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÜBLICO: 112CONCESSIONÁRIA DE VENDA DE VEÍCULOS: 100-ACONCURSO DE CREDORES: 112CONCURSO DE PREFERÊNCIA: 112CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES: 144CONFLITO DE COMPETÊNCIA: 135 a 140

 — art. 117 do CPC, exegese: 143 — em caso de processos conexos: 138 — do qual participe Juizado Especial: 141

 — exceção de incompetência, Súmula 33: 134 — juiz vinculado a outro tribunal: 137 e 139 — procedimento no conflito de competência: 140 — sociedade de economia mista, empregado: 113.2 — tribunais de hierarquia diversa, Súmula 22: 136 — tribunal competente para julgar o conflito: 140

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL: 23CONSELHO DE ESTADO NO BRASIL IMPÉRIO: 30

CONSELHO DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL: 112-ACONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA: 24CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL, Súmula 66: 112-A

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CONSUMIDOR  — ações de responsabilidade civil: 100-B

CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO: 29 a 32- — no Brasil Império: 30 — no Brasil República: 31-A — o art. 205 da CF de 1969: 32 — unidade e dualidade de jurisdição: 29

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL: 113.1CONVENÇÃO INTERAMERICANA: 44COOPERATIVA

 — liquidação: 113.7CORRETOR DE IMÓVEIS: 100-ACORTE DA EUROPA: 43CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: 90DANOS MORAIS

 — competência da Justiça do Trabalho: 113.3DECLARATÓRIAINCIDENTAL, art. 109: 87DESAPROPRIAÇÃO: 95DISTRIBUIÇÃO: 63

DIVÓRCIO — ação de divórcio: 80 — por escritura pública: 80-A

DOENÇA DO TRABALHO: 92DOENÇA PROFISSIONAL: 92DOMICÍLIO DO DE CUJUS : 79DOMICÍLIO DO RÉU: 71DUPLICATA

 — cobrança: 96ELEIÇÃO DE FORO

 — Vide Foro de EleiçãoEMBARGOS DE TERCEIRO

 — execução por carta: 120EMPREITADA: 113EMPRESAS PÚBLICAS FEDERAIS: 112

ESTABELECIMENTO DE ENSINO: 100-CESTADO — ações em que for parte: 86

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ESTADO ESTRANGEIRO — imunidade à jurisdição nacional, limitações: 50 — representação em juízo: 51 — sentença estrangeira: 43

EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA: 65-A, 134EXECUÇÃO DE SENTENÇA

 — estrangeira: 90 — penal condenatória: 90 — arbitrai: 90 — de alimentos: 90

EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL: 90-AEXECUÇÃO FISCAL: 98, 111.3

 — e Conselho de Fiscalização Profissional: 112-A — e falência: 9B-A

EXECUÇÃO POR CARTA: 120 e 121FALÊNCIA

 — da empresa reclamada, Justiça do Trabalho: 113.7 — execução de créditos trabalhistas, vara falimentar: 113.7 — execução fiscal: 98-A

FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL: 97FORO DA SITUAÇÃO DA COISA, art. 95: 73, 74, 75 e 78 — imóvel situado em mais de uma comarca, art. 107: 77 —-promessas de compra e venda de imóveis: 76

FORO DE ELEIÇÃO: 64 a 65-A — competência relativa: 59 — em contratos de adesão: 64 — em contratos de adesão, nulidade absoluta: 65

 — contrato de franquia: 65 — contrato de “software”: 65 — contrato de alienação fiduciária: 65 — contratos do SFH: 65 — contratos de microempresa: 65

FOROS REGIONAIS — competência: 72

FRANQUIA: 65

FUNDAÇÕES FEDERAIS: 112FUNDO DE GARANTIA — competência: 91-A, 94

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 — movimentação: 94GESTOR DE NEGÓCIOS, art. 100, V, b: 84.2GREVE

 — ação de interdito proibitório: 113

 HABE AS DATA:  116HERANÇA

 — ações relativas, art. 96: 79HONORÁRIOS DE ADVOGADO: 113IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ

 — Vide Princípio1MPEACHMENT : 8.1IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: 106-B

 — Vide Ação Civil PúblicaINCAPAZ

 — ações contra: 84.4INCOMPETÊNCIA

 — exceção de: 134, 65-AINPI: 100, 111.3INSOLVÊNCIA CIVIL: 87-A

INSS — PREVIDÊNCIA SOCIAL: 111.2INTERDITO PROIBITÓRIO — direito de greve: 113

INVENTÁRIO E PARTILHA — ações relativas à herança: 79 — por escritura pública: 7 9-A

JUIZ — convocado ao Tribunal: 56

 — Identidade física: vide PrincípioJUIZ CONSERVADOR DA NAÇÃO BRITÂNICA: Anexo IJUIZ NATURAL: 6JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS, Súmula 203: 103, 105, 118, 118.1 e140.2

 — conflito de competência: 140.2 — mandado de segurança: 105-A

JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS: 103, 105-A, 118, 118.2 e 140.2JUÍZO ARBITRAL

 — e imperium: 43

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 — natureza jurídica: 42 — noções gerais: 43

JUÍZO COMPETENTE, busca: 55JUÍZO DEPRECADO

 — embargos do devedor, competência: 120 — recusa ao cumprimento da precatória: 121

JURISDIÇÃO — anômala: 8 — classificações: 15 a 23 — coisa julgada como atributo específico da jurisdição: 7 — como “atividade indeclinável” : 6 — como “atividade provocada”: 4 — como “atividade pública” : 4 — como “atividade substitutiva”: 5 — comum e especial: 17 e 22 — conceito: 2, 3 — e administração: 12 — e arbitragem: 42 — eclesiástica: 4 e 6 — e composição da lide: 3 — e impeachment : 8.1 — e “juiz natural”: 6 — e legislação: 9 — eleitoral: 20 — “equivalentes jurisdicionais”: 41 — federal: 18 — limites espaciais da jurisdição civil brasileira: 39 — limites subjetivos da jurisdição brasileira: 40 — militar: 20 — noções gerais: 1 — primeira e segunda instâncias: 22 — “senhorial”: 4 e 6 — “substitutivos”: 41 — trabalhista: 19 — Tribunal de Contas: 8.2

 — Tribunal Marítimo: 8.3 — unidade e dualidade de jurisdição: 29 — voluntária: 33 e 38

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JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA — administração direta pelo Poder Judiciário: 36 — administração por órgãos estatais: 35 — administração por órgãos sob controle judiciário: 35

 — administração pública de interesses privados: 34 a 36 — distinções relativamente à jurisdição contenciosa: 37 — foro competente: 102 — noções gerais: 33

JURISPRUDÊNCIA — fonte do Direito: 1

JUSTIÇA DESPORTIVA — previsão constitucional: 6

JUSTIÇA DO TRABALHO: 113 — competência em lides de direito civil: 113.3 — conflito de competência: 142 — contribuições sociais e execução de ofício: 113.4 — convenções ou acordos coletivos de trabalho: 113.1 — cumulação de pedidos sob jurisdições diversas, Súmula

170: 114 — falência da empresa reclamada: 113.7 — indenização por danos morais ao trabalhador: 113.3 — Lei n. 8.984/95 sobre acordos coletivos: 113.1 — contrato de empreitada: 113 — meio ambiente e condições de trabalho: 113.5 — mandado de segurança: 113.8 — novas competências, normas processuais aplicáveis: 113 — perpetuatio jurisdictionis: 113.9 — possessórias: 113

 — servidores públicos celetistas: 113.2 — servidores públicos estatutários: 113 — trabalhadores portuários e OGMO: 113.6

JUSTIÇA FEDERAL — afastamento do ente federal da relação processual: 111.5 — competência: 109 — competência em razão da matéria: 111.1 — delegação a juiz estadual, art. 109, § 3-, infine, da CF: 111.3

 — instituição de previdência social federal: 111.2 — seguro desemprego: 111.2 — servidores públicos: 111.4

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 — Súmulas 150 e 224: 109JUSTIFICAÇÕES JUDICIAIS: 91LEGISLAÇÃO E JURISDIÇÃO, distinções: 9LEI FERRARI:  100-A

LIDE: 2, 3LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA: 90MANDADO DE SEGURANÇA: 103

 — cargo ocupado pela autoridade coatora: 116 — coletivo: 104 — contra ato judicial: 105 — Juizados Especiais: 103, 105-A e 118 — na Justiça do Trabalho: 113.8

 — tribunal competente: 105MATÉRIA, competência: 55, 115MERCOSUL

 — Acidentes de trânsito. Protocolo de São Luiz: 85 — Protocolo de Brasília: 43

MINERAÇÃO — direitos de: 111.3

 NORMAS REGIMENTAIS: 11OBRIGAÇÕES, art. 100, IV, d: 82ORDEM DOS ADVOGADOS: 111.4

 — Caixa de Assistência: 111.4PERPETUATIO JURISDICTIONIS : 57

 — desmembramento de comarcas: 58 — Justiça do Trabalho: 113.9

PESSOA, competência: 55, 116

PESSOA JURÍDICA — ações contra, art. 100, IV, a e b: 84.1PIS-PASEP: 91-APODER JUDICIÁRIO

 — organograma geral: 25PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO

 — organograma: 26PODER JUDICIÁRIO DOS ESTADOS

 — organograma: 27PREVENÇÃO: 55, 63.2

400

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PREVIDÊNCIA SOCIAL — INSS: 111.2 — Justiça e foro competente: 111.2

PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ: 123 a 132

 — casos de não ocorrência de vinculação: 132 — competência do juiz transferido: 125 a 127 — juiz “auxiliar” ou em “regime de exceção”, não vinculado: 131 — no CPC de 1939: 123 — no CPC de 1973, art. 132: 124 — orientação do Supremo Tribunal Federal: 126 — remoção dentro da mesma comarca: 128 — sistemática da Lei n. 8.637/93: 130

 — tendências jurisprudenciais: 129PROCESSO DE IMPEACHMENT: 8.1PROMESSAS DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS: 76PROPRIEDADE INDUSTRIAL: 100PRORROGAÇÃO: 63.3PROTOCOLO DE LAS LENAS 52-APROTOCOLO DE OLIVOS: 43

PROTOCOLO DE OURO PRETO: 52-APROTOCOLO DE SÃO LUIZ: 85QUESTÕES AGRÁRIAS: 99, 115RECONVENÇÃO, art. 109: 87REGISTROS PÚBLICOS

 — cancelamento: 102 — retificação: 102

REPARAÇÃO DE DANOS

 — ação, art. 100, V, a: 83REPRESENTAÇÃO COMERCIAL: 100-A, 113-3RESCISÓRIA: vide AçõesSEGURADORAS, como autoras de demanda regressiva: 84SEGURO DESEMPREGO: 111.2SENTENÇA, CUMPRIMENTO: 90SENTENÇA ESTRANGEIRA: 41 a 44-A

 — cartas rogatórias, exequatur : 52 — Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial: 44-A — homologação: 44

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 — sentença arbitrai estrangeira: 43SEPARAÇÃO JUDICIAL, art. 100,1: 80

 — conversão em divórcio: 80 — divórcio direto: 80 — por escritura pública: 80-A

SERVIDORES PÚBLICOS — aposentadoria, complementação: 113.2 — celetistas: 113.2 — contratado para necessidades temporárias: 113.2 — estagiário: 113.2 — estatutários: 113

 — federais: 111.4 — ofícios judiciais não estatizados: 113.2 — regime jurídico único CLT: 113.2

SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO — SFH: 65; 111.3SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA, Súmula 42: 106, 111.3 e 112

 — arbitragem: 42SÚMULAS DO STF E DO STJ: Anexo IIISUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

 — competência: 23 — organograma: 28 — Súmulas: Anexo III

SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR: 23SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

 — competência: 23 — Súmulas: Anexo III

TERRENOS DE MARINHA: 109