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ATIVOS E PASSIVOS ATIVOS E PASSIVOS ATIVOS E PASSIVOS ATIVOS E PASSIVOS SÓCIO SÓCIO SÓCIO SÓCIO-AMBIENTAIS AMBIENTAIS AMBIENTAIS AMBIENTAIS SERRANO NEVES SERRANO NEVES SERRANO NEVES SERRANO NEVES Versão Versão Versão Versão 1.1 1.1 1.1 1.1 15/03/2006 15/03/2006 15/03/2006 15/03/2006

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SERRANO NEVESSERRANO NEVESSERRANO NEVESSERRANO NEVES

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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INSTITUTO SERRANO NEVESINSTITUTO SERRANO NEVESINSTITUTO SERRANO NEVESINSTITUTO SERRANO NEVES

Entidade dedicada à estimulação e articulação da Educação SócioEntidade dedicada à estimulação e articulação da Educação SócioEntidade dedicada à estimulação e articulação da Educação SócioEntidade dedicada à estimulação e articulação da Educação Sócio----ambiental para o desenvolvimento sustentável.ambiental para o desenvolvimento sustentável.ambiental para o desenvolvimento sustentável.ambiental para o desenvolvimento sustentável.

Diretor Institucional: Serrano NevesDiretor Institucional: Serrano NevesDiretor Institucional: Serrano NevesDiretor Institucional: Serrano Neves

Gestora Operacional: Cylene GamaGestora Operacional: Cylene GamaGestora Operacional: Cylene GamaGestora Operacional: Cylene Gama

Superintendente Administrativo: HumberSuperintendente Administrativo: HumberSuperintendente Administrativo: HumberSuperintendente Administrativo: Humberto Moreirato Moreirato Moreirato Moreira

DECLARAÇÃO DE CÓDIGO LIVREDECLARAÇÃO DE CÓDIGO LIVREDECLARAÇÃO DE CÓDIGO LIVREDECLARAÇÃO DE CÓDIGO LIVRE 1. Este trabalho é um esforço de estimulação à quebra de paradigmas e formatação de novos

modelos de desenvolvimento.

2. É um trabalho em “código livre”, que pode ser reproduzido na sua originalidade independente de licença do autor e repassado ao usuário pelo custo da reprodução.

3. O trabalho pode ser modificado, acrescido e aperfeiçoado independente de licença, desde que mantido o texto original, total ou parcial, na forma de anotação de claro e fácil acesso, para que o leitor conheça o processo de desenvolvimento, vedada a incorporação em material que tenha finalidade comercial.

4. Entende-se por “código livre” o texto redigido, as idéias, definições e conceitos que possam ser aferidos como inéditos na data do depósito na Biblioteca Nacional.

5. Não se aplica o item [3] quando o texto original, modificado, acrescido ou aperfeiçoado, servir de motivo para edição de norma governamental ou não-governamental.

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ÍNDICE

1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 5

1.1 - PREOCUPAÇÕES NO CENÁRIO ATUAL.......................................................................................... 6 1.2 - A PRESENÇA PRIVADA NO CENÁRIO ............................................................................................ 7 1.3 - CULPADOS E INOCENTES............................................................................................................... 10

2 - PANORAMA CONSTITUCIONAL .......................................................................................................... 12

2.1 - DOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA.......................................................................................... 13 2.1.1 - Tabela 1 – Matriz de relacionamento entre os fundamentos ...................................................... 13

2.2 - DOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA .................................................................. 14 2.2.1 - Tabela 2 – Matriz de relacionamento entre os objetivos fundamentais...................................... 14

2.3 - FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO. .......................................................................... 14 2.4 - DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS .................................................................. 15 2.5 - DOS DIREITOS SOCIAIS................................................................................................................... 15 2.6 - DO MINISTÉRIO PÚBLICO .............................................................................................................. 16 2.7 - DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA .......................................................... 17

2.7.1 - Tabela 3 – Matriz de relacionamento do princípios da ordem econômica: ............................... 18 2.8 - DA POLÍTICA URBANA.................................................................................................................... 19 2.9 - DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA...................................................................................... 20 2.10 - DA ASSISTÊNCIA SOCIAL............................................................................................................... 21 2.11 - DA EDUCAÇÃO ................................................................................................................................. 21 2.12 - DO MEIO AMBIENTE........................................................................................................................ 23

3 - DAS FUNÇÕES SOCIAIS DA PROPRIEDADE ..................................................................................... 25

3.1 - COMO UM DIREITO COLETIVO: .................................................................................................... 25 3.2 - COMO PRINCÍPIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA:....................................................................... 26 3.3 - COMO UMA FUNÇÃO DE RESULTADOS...................................................................................... 26

3.3.1 - TABELA 4 –Matriz de correlação entre atividade econômica e função social da propriedade: 27 3.4 - DA FUNÇÃO SOCIAL NÃO ECONÔMICA...................................................................................... 29

4 - RESPONSABILIDADE SOCIAL .............................................................................................................. 32

4.1.1 - TABELA XX ................................................................................................................................ 32

5 - RESPONSABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................................................... 33

5.1 - INDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTE................................................................................................... 34

6 - VISÃO DOS DOUTRINADORES ............................................................................................................. 35

6.1 - IMPACTOS.......................................................................................................................................... 35 6.2 - CONTABILIDADE E MEIO AMBIENTE.......................................................................................... 36 6.3 - ATIVOS AMBIENTAIS...................................................................................................................... 36 6.4 - PASSIVOS AMBIENTAIS.................................................................................................................. 37 6.5 - CONTABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................................................... 37 6.6 - RECEITA AMBIENTAL..................................................................................................................... 37 6.7 - CUSTOS E DESPESAS AMBIENTAIS.............................................................................................. 38 6.8 - BALANÇO SOCIAL ........................................................................................................................... 38

7 - PLATAFORMA SÓCIO-AMBIENTAL ................................................................................................... 39

7.1 - AFLUENTES E EFLUENTES............................................................................................................. 41 7.2 - VALORAÇÃO DOS AFLUENTES E EFLUENTES .......................................................................... 41

8 - VISÃO SÓCIO-AMBIENTAL ................................................................................................................... 43

8.1 - AFLUENTES....................................................................................................................................... 43 8.2 - EFLUENTES ....................................................................................................................................... 43 8.3 - PRODUTO PRINCIPAL ............................................................................................................................. 43

8.3.1 - Produto social............................................................................................................................. 44 8.3.2 - Bem estar .................................................................................................................................... 44

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8.4 - PASSIVO SÓCIO-AMBIENTAL........................................................................................................ 44 8.5 - ATIVOS SÓCIO-AMBIENTAIS......................................................................................................... 45 8.6 - BALANÇO SÓCIO-AMBIENTAL ..................................................................................................... 45

9 - O EQUILÍBRIO SÓCIO-AMBIENTAL ................................................................................................... 45

9.1 - AS VARIÁVEIS DO EQUILÍBRIO SÓCIO-AMBIENTAL ............................................................... 47

10 - BALANÇO SÓCIO-AMBIENTAL ....................................................................................................... 49

10.1 - ATIVO E PASSIVO NA CONTABILIDADE AMBIENTAL............................................................. 49 10.2 - BALANÇO AMBIENTAL E BALANÇO SOCIAL ............................................................................ 50

10.2.1 - IMPACTO ................................................................................................................................... 50 10.2.2 - CARGA ....................................................................................................................................... 50

11 - MERCADO SÓCIO-AMBIENTAL...................................................................................................... 51

12 - DOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO DE ATIVOS SÓCIO-AMBIENTAIS ....................................................................................................................................................... 52

13 - PRECEDENTES FAVORÁVEIS.......................................................................................................... 53

13.1 - ATIVOS COMUNITÁRIOS ........................................................................................................................ 53 13.2 - COTA DE RESERVA FLORESTAL ............................................................................................................ 53 13.3 - CRÉDITOS DE CARBONO........................................................................................................................ 54 13.4 - ATIVOS INTANGÍVEIS ............................................................................................................................ 54 13.5 - INCENTIVOS .......................................................................................................................................... 54

14 - CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 55

15 - DEMONSTRAÇÃO ANALÍTICA ........................................................................................................ 55

15.1 - DIMENSIONAMENTO E CUSTOS DE IMPACTO E CARGA CONTÍNUA:......................................................... 57 15.2 - EVOLUÇÃO DAS APLICAÇÕES POR 10 ANOS ........................................................................................... 58 15.3 - APROPRIAÇÃO DAS CONTAS .................................................................................................................. 59 15.4 - CONCLUSÕES ........................................................................................................................................ 59 15.5 - FONTES DOS PREÇOS E DA PRODUÇÃO ................................................................................................... 60

16 - VISUALIZAÇÕES GRÁFICAS............................................................................................................ 62

17 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÃO CITADAS DIRETAMENTE NO TEXTO: ............... 63

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1 1 1 1 ---- INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

A Constituição da República foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e desde então a função social da propriedade tem sido posta debaixo da visão limitada pela especificação das funções da propriedade rural.

O noticiário sobre reforma agrária, as invasões de terras dadas como improdutivas e a defesa dos movimentos sociais, vem estimulando outras práticas, como, por exemplo, o movimento dos sem teto que prenuncia uma "reforma imobiliária”, trazendo preocupação com a crescente violência na tomada e na recuperação das propriedades. Por outro lado, esses movimentos sociais mostram faces da função social da propriedade ainda não especificadas em textos legais, e somam-se aos esforços empresariais ordenados de responsabilidade social e outras práticas de repercussão externa à plataforma de produção.

O que existe no fundo é um movimento de exercício de direitos, um processo de conquista que amplia os horizontes democráticos.

Um conceito de função social da propriedade poderia ser construído a partir da realidade existente, bastando verificar se uma determinada propriedade está exercendo uma finalidade bastante próxima da máxima eficiência sistêmica: produção, produtividade, duração, bem estar para os trabalhadores e para a sociedade próxima e remota, eco-sustentação etc.

A avaliação da produtividade de uma propriedade rural não pode ser feita pelo enfoque dominante do seu aproveitamento econômico – como será visto mais adiante – dado que sempre constituirá um subsistema relacionado com outros no entorno próximo ou remoto, podendo ocorrer que a maximização ou minimização de um fluxo de energia produza desequilíbrio, vindo a acontecer que as perdas com os danos sejam maiores que os ganhos com a produção.

Macro-políticas poderão ser geradoras ou destruidoras do equilíbrio, conforme o governo queira atender as exigências da economia e do mercado, ou da sociedade.

Uma reflexão sobre esses aspectos leva à conclusão de que os desequilíbrios ambientais e os desequilíbrios sociais, além de necessariamente imbricados e tendo como causa alguns fatores naturais, estão sob a influência de visões e vontades. Visões e vontades de investidores privados e de políticas governamentais.

A história mostra que as tentativas de controle social e ambiental fracassaram, e provavelmente fracassaram porque se tentava exercer o controle pela padronização de condutas e de métodos. O fracasso - ou a baixa eficácia - acontece porque os principais atores no piso da plataforma social - as multidões – por não compartilharem da mesma visão aérea dos governantes não formavam as mesmas vontades.

Os aglomerados humanos de menor tamanho e dotados de controle difuso – comunidades ou tribos - tendem para práticas sociais e ambientais mais duradouras, com baixo ganho é certo, mas com perdas tão mínimas que o sistema pode ser classificado como sustentado pela própria natureza. Porém, nestes sistemas o progresso é lento, e a ruptura do equilíbrio pode ocorrer por simples competição do aglomerado vizinho, ocorrência que não tem solução prevista.

Outra conclusão que se pode tirar do exame da linha do tempo é que a

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inteligência humana imprime nos aglomerados humanos um ritmo de transformações mais acelerado do que os sistemas naturais podem suportar. Esse ritmo é chamado de progresso e é basicamente um refinamento de energia que gera enormes quantidades de energia degradada, levando a que passem a existir no cenário os excluídos (não participantes) sociais, ambientais, tecnológicos etc, já reconhecidos e assistidos nas suas necessidades, à vista que de exceção se transformaram em regra concorrente com os incluídos (participantes).

Grosso modo, ao lado dos resíduos materiais que demandam grandes investimentos para reacomodá-los no meio-ambiente, existem os resíduos sociais também demandando enormes investimentos para reacomodá-los no meio-social.

A prática da reacomodação, porém, vem acontecendo por via de ações setorizadas e segmentadas, como se o social e o ambiental existissem em planetas distintos: os humanos são expulsos do "meio-ambiente" que se quer recuperar ou conservar, e o meio-ambiente não é dado aos humanos para que constituam um meio-social sustentável.

O híbrido sócio-ambiental se apresenta não como solução, mas como uma prática de ações integradas que consideram o meio-ambiente como a plataforma sobre a qual os humanos devem operar, assim como o hardware suporta o processamento do software e precisa ser conservado para um bom desempenho, os orientadores das políticas e ações parecem não ter entendido que o software não funciona sem o hardware, e que o hardware sem o software não tem utilidade.

1.1 1.1 1.1 1.1 ---- PREOCUPAÇÕES NO CENÁRIO ATUALPREOCUPAÇÕES NO CENÁRIO ATUALPREOCUPAÇÕES NO CENÁRIO ATUALPREOCUPAÇÕES NO CENÁRIO ATUAL O endurecimento da legislação ambiental no sentido de conter a

degradação, e o crescimento dos esforços de educação ambiental voltados para a formação de uma geração que pelo menos conserve, são os principais reveladores das preocupações. Porém, as informações internas sobre o futuro ambiental do País não chegam ao grosso da população e as informações externas passam ao largo do conhecimento geral. Essa desinformação faz tardarem as ações corretivas, vez que o povo ainda não sentiu de perto - salvo exceções localizadas - os efeitos dos maus tratos ao ambiente.

O desconforto tem marcado algumas preocupações; poucos desastres ambientais têm chamado a atenção; muito se tem falado e pouco se tem agido. Os que falam não têm poder para agir e os que têm o poder não têm recursos ou não entendem o que é falado.

O desastre ambiental de Cataguases-MG (rompimento de uma barragem de acumulação de resíduos de processamento de celulose), que contaminou toda uma micro-bacia e prejudicou uma grande população, saiu da mídia tão rapidamente quanto entrou a reforma previdenciária.

A desastrosa intervenção no sistema alimentador do Mar de Aral (Ásia Central) em nome da política agrícola soviética, que provocou a diminuição do espelho d'água e a salinização que inviabilizou a pesca e o uso da água; o terrível impacto da represa das Três Gargantas na China (Yichang na província central de Hubei) alterando o fluxo do lendário Yang-Tse e movendo mais de um milhão de pessoas de seus lugares; somadas às previsões da grave escassez de água dentro de 50 anos [1] e o terrível anúncio de Nossa Hora Final (Our Final Hour, de Martim Rees) se contrapõe aos mananciais do território nacional, cuja grandeza e abundância não sugerem que o momento da tomada de consciência seja agora.

A simulação de uma carta escrita em 2050 mostra um dos quadros

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visualizados: [1] Quando minha filha me pede que lhe fale da minha juventude, descrevo a beleza dos

bosques, falo das chuvas de verão, das flores e do prazer que se desfrutava de se poder tomar banho sem medir a água, que se podia beber quanta água quisesse... e falo do aspecto saudável que as pessoas tinham. Ela me pergunta por que a água se acabou e, então, sinto um nó na garganta. Não posso deixar de sentir culpa. Pertenço à geração do desperdício - são decorridos apenas 25 anos desde quando éramos advertidos: "gota a gota a água se esgota". Não dávamos a devida importância. Agora nossos filhos pagam um alto preço pela nossa negligência.

(Mensagem original em espanhol, de DIALOG-AGUA-L- CES.FAU.EDU list serv – Tradução de Cylene Dantas da Gama)

Acostumados que estamos à seca nordestina, e mais acostumados ainda a ver povos que contam a água por gotas já por milhares de anos, a idéia de que o povo nordestino padece por vontade da natureza (ou vontade divina) impede que o solo árido daquela região seja visto como o retrato do futuro.

Torneiras que não secam, e calçadas e carros lavados com água tratada em todas as cidades, impedem que aqueles que desfrutam desse bem entendam que à sua volta outros não desfrutam, e constitui um enorme obstáculo à compreensão de que as fontes de água estão na natureza, ou seja, as companhias de tratamento não são fábricas de água.

A cultura de que os impostos são pagos para que as municipalidades cuidem da sanidade ambiental faz com que o ato de jogar lixo no meio da rua esteja ligado à geração de emprego: mais lixo no chão igual a mais pessoas trabalhando, e a idéia parece boa num cenário de desemprego, pouco importando que o lixo seja despejado nos cursos d’água e o custo do tratamento aumente, porque isto também gera mais empregos.

Soluções de curto prazo para maximizar a economia agrícola expandem fronteiras de contaminação e desertificação através do consumo descontrolado de água para a irrigação e perda de solo fértil.

Os impactos ambientais das atividades são sub-avaliados porque é preciso atender às demandas da economia, e os impactos sociais nem avaliados são porque considerados inerentes.

O preço da busca pela estabilidade econômica está sendo cobrado dos que menos tem e cada vez menos terão, na medida em que as políticas de desenvolvimento minimizam a participação humana e produzem legiões de não-participantes do processo produtivo, que são aquietados nas periferias urbanas à custa do assistencialismo.

O Brasil não gastou mais do que duas décadas para preparar o contingente a ser atendido pelo Fome Zero e existe o risco de em mais duas estarmos diante do Vida Próximo de Zero.

1.2 1.2 1.2 1.2 ---- A PRESENÇA PRIVADA NO CENÁRIOA PRESENÇA PRIVADA NO CENÁRIOA PRESENÇA PRIVADA NO CENÁRIOA PRESENÇA PRIVADA NO CENÁRIO Em outubro de 1988 sugeri a órgãos governamentais à introdução dos

Direitos Individuais e Coletivos no ensino fundamental e recebi a resposta simples de que crianças não têm cabeça para aprender Direito Constitucional. Talvez eu tenha feito a sugestão às pessoas erradas, mas fiquei com a impressão de que a Carta não era um bom indicador de mudanças.

Nascida como a Carta da ingovernabilidade por conta da estrutura administrativa que privilegiava o Município, rompendo com a dominância dos Estados e da União, foi pichada da primeira à quarta capa como utopia: uma Constituição muito avançada para o País. Por isto os direitos fundamentais caíram na vala comum do imprestável, ou pelo menos do inadequado.

As gerações que receberam a Constituição de 88 dividiam-se em dois segmentos: os que se formaram adultos sob a Carta de 46 e os que se formaram

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sob a Carta de 69 de origem militar. A geração mais antiga leu a Carta com a esperança de haver reavido e ampliado o espaço democrático já conhecido; a geração mais nova recebeu a carta como uma novidade e não entendeu a euforia dos mais velhos.

Poucos se deram ao trabalho de comparar o texto de 88 com o de 46 para perceberem sutis mudanças para melhor, como por exemplo, o exercício direto do poder pelo povo e a instituição de defensores da ordem jurídica e do regime democrático, e sem essa visão não encontraram na Carta o chamamento da participação de todos, simplesmente aglomerados ou organizados, para a construção da sociedade livre, justa e solidária.

Perdida no espaço indefinido da cultura da autoridade, na verticalidade do mando que dava a um chefete de repartição poder para despachar dizendo que a Constituição não podia ser aplicada contra o governo, e sem experiência de exercício direto do poder - como no caso do desatrelamento dos sindicados do Estado - a reação, que se prorroga até hoje, foi de ficar aguardando que a autoridade interprete o texto e diga o que pode e o que não pode ser feito.

À época pipocaram os seminários constitucionais e num deles, para acadêmicos de Direito, à pergunta de se as Constituições Estaduais poderiam dispor sobre Direitos Fundamentais foi dada à resposta não, sob o argumento de ser isto privativo da União. Tomei a palavra para dizer que o parágrafo segundo do artigo 5º dava aplicação para qualquer direito fundamental compatível com os princípios da Carta, estivesse escrito onde estivesse, ou mesmo que não estivesse escrito poderia ser reconhecido. Causei aos membros da mesa um enorme constrangimento, aferrados que eram ao princípio da autoridade: manda quem pode e obedece quem tem juízo.

Cerca de dez anos depois escrevi "Paralelo 666 - o reverso do apocalipse": A população brasileira vem enfrentando severa degradação na estrutura familiar e social, e as

causas são atribuídas como as mais diversas: da dívida externa à perda da moral individual, e tudo o que couber entre tais extremos, ou seja, conexo ou afim.

O Estado - e seus componentes políticos e de governo - vem apresentando sinais de impotência instrumental, e buscando força realizadora para relacionar-se com o complexo de causas degradantes e reverte-las.

Dentre os instrumentos possíveis para atuar na reversão está a transferência de parte da administração pública e do patrimônio ativo estatal para a iniciativa privada, caindo sobre essa política criticas ideológicas demolidoras que, embora calcadas no patriotismo do Brasil é nosso, só aparecem quando do encaminhamento de alguma solução, mas adormecidas ficam enquanto o problema cresce.

Nesse emaranhado de opiniões o próprio Estado se inclina, no sentido de curvar a espinha, para reconhecer a fonte do seu poder originário, um tanto quanto desdenhada, embora teoricamente homenageada: o povo.

O povo seja na plenitude de sua difusão pelo território geográfico e cultural, seja por suas organizações de interesses de construção, conservação ou produção está sendo convocado para exercer o poder diretamente.

Não, não é um lema, tal como o povo no poder, nem está o povo sendo chamado para assumir como síndico de uma massa falida.

O povo está sendo chamado para fazer o que o parágrafo único do art. 1º. da Constituição lhe assegura: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio dos seus representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição.

E é no particular do diretamente nos termos desta Constituição que se justifica a convergência de recursos para reverter a degradação.

O mesmo art. 1º. apresenta como fundamentos do Estado Democrático de Direito, dentre outros, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e a um passo, o art. 2º. estabelece como objetivos fundamentais da República a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, o desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, e a redução das desigualdades sociais e regionais, com a promoção do bem estar de

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todos.

Adiante, o art. 5º. abre a sede dos direitos e garantias fundamentais com a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Seja que a soma dos artigos 1, 3 e 5 é 9.

Cuidando da célula mãe da sociedade, a Carta dispõe no art. 227: é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. No parágrafo primeiro desse artigo o Estado admite a participação das entidades não governamentais.

Deveras está o Estado, ao admitir, usando um verbo soberano, apenas. Não esta minimizando nem de qualquer forma excluindo que a família e a sociedade atuem diretamente nestes termos da Constituição. Quer o Estado - e de outro modo não poderia ser - que aconteça de forma organizada.

Seja que a soma de 227 com 9 é 236.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - vem dizendo o art. 225 do Magno Diploma, bem comum de uso do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Neste aspecto tem-se uma imposição de dever à coletividade, sendo de esperar que também se organize a sociedade para cumprimento de um dever, ao que não pode se recusar.

Seja que a soma de 236 com 225 é 461.

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida ou incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, é o teor do art. 205 da Regência Maior.

E de novo o povo, pelas famílias e pela sociedade é chamado para promoção e incentivo.

Não seria exagero denominar esse conjunto de chamamentos de plataforma democrática para o exercício do poder, diretamente, na forma da Constituição.

Ora, convenhamos! A impotência instrumental do Estado tem origem na falta de capital para investir nos itens que podem ser pinçados dentro dos artigos citados para formarem um rol único. Logo, estamos diante de uma solução de capital, ou seja, uma solução homeopática, não na dose, mas baseada no mesmo princípio de semelhança: a degradação da falta de capital curada com o aporte de capital, e sem arrepios nacionalistas ou patrióticos de escravização ao capital nacional ou estrangeiro, pois, se não soubermos aportar capital com dignidade para o bem comum, então seremos mesmo merecedores da escravidão.

Os ativos de inteligência do governo podem estar inibidos por algum fator estranho à vocação cidadã, mas não estão distanciados da necessidade de novos instrumentos para a promoção do bem comum e expressaram a inclinação através da Lei Federal N° 9.790, de 23 de março de 1999, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público.

Essa nova instrumentalização veio à luz sob fogo cerrado dos teóricos que não admitem o Estado dividindo com o povo organizado a gestão do bem comum. Essa posição contraria o texto da Constituição - segundo o que apontamos - pois, no mínimo, acena que o exercício direto do poder seria uma extremada limitação, e que o preço da democracia é esperar que um dia o governo possa fazer o que deve.

Esperar e sofrer, sofrer e esperar.

Não creio que o Estado Democrático de Direito esteja dizendo ao povo que o povo mesmo não pode dar encaminhamento às soluções que conduzam as comunidades a se estruturarem de modo a se tornarem mais propícias ao bem comum do que ao mal geral; ou que o povo mesmo não saiba o que é cidadania, vida, saúde e educação, e por não saber não pode promover.

A resistência a que o bem estar de todos gere lucro para alguns não se justifica diante da atual situação em que o mal geral gera lucro para outros “alguns”.

Assim seja com o dinheiro do próprio bolso, ou seja, com a inteligência de passar o dinheiro dos outros - ou do próprio governo - pelo crivo da dignidade, como conditio sine qua non de entrada na plataforma social, é preciso quebrar a rotina de esperar sentados enquanto a miséria grassa, e tentar novos e legítimos exercícios diretos do poder que atendam aos imperativos do regime democrático.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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Seja que a soma de 461 com 205 é 666.

666 é o número da Besta do Apocalipse, mas pode ser o número que, sustentando o exercício direto do poder pelo povo, reverta a degradação da plataforma social.

1.3 1.3 1.3 1.3 ---- CULPADOS E INOCENTESCULPADOS E INOCENTESCULPADOS E INOCENTESCULPADOS E INOCENTES Na medida em que a degradação ambiental e social se tornava mais visível

a impotência governamental se tornava proporcionalmente mais acentuada. Não que os governantes não quisessem fazer alguma coisa, mas, mesmo sendo certo que recursos para fazer se tornavam cada vez mais escassos, não se chegava a pensar que não soubessem o que fazer.

A educação, base do comportamento social, sujeita a décadas de queda na qualidade, já não se apresentava como formadora e as pessoas, com baixo nível de ação e reação, adotaram a idéia de que a prioridade era o ambiente.

Nascia o Direito Penal Ambiental, assim denominado por minha conta e risco. Um direito que leva para a prisão um pobre que tira a casca de uma árvore para fazer remédio e faz com que bater na própria mãe seja menos grave do que chutar um tatu (casos concretos de Goiânia-GO).

As atividades econômicas de porte foram eleitas como culpadas pela degradação, e eleitas foram pelo mesmo povo que joga lixo no meio da rua.

Mais do que isto as políticas de preservação ao invés de privilegiarem o convívio dos humanos com o ambiente os expulsam como predadores naturais.

O resultado disso tudo é que os empreendedores, de um lado facilitados pela necessidade institucional do progresso e de outro lado à larga de uma fiscalização eficaz, passaram a atender a demanda de produção dando pouca importância ao social e ao ambiental. Festejados pelo crescimento econômico (ou coisa parecida) tornam-se agora culpados porque os previsíveis desastres estão acontecendo.

Existe muita gente trabalhando bem e, com certeza, os empreendedores já perceberam que a plataforma sócio-ambiental em que operam precisa de manutenção.

Ilustração 1-1 (diagrama em revisão)

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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1. Sem tratamento, das 10 unidades oriundas da natureza 4 resultam em trabalho.

2. A totalidade das perdas retorna pela via lenta do processo natural.

3. Um aumento na quantidade de consumo pode saturar a via lenta do processo natural e produzir acumulação de energias degradadas.

O lucro tornou-se o vilão e o capital a senha para a vilania, levando à consideração, para efeitos didáticos, que o capital, chamado de selvagem, podia ser domesticado, e assim fiz, mais por perceber que os capitalistas voltados para a produção já se mostravam sensíveis a terem consumidores sustentados ao invés de simplesmente esgotarem o mercado, segmento por segmento.

A sociedade está dividida em vítimas e culpados. Como vítima a sociedade que sofre as conseqüências da degradação social e ambiental, como culpados os empreendedores que sustentam a economia dessa sociedade.

Lobos comem cordeiros, mas não têm nenhum interesse em acabar com o pasto que engorda as ovelhas ou interromper o ciclo de reprodução delas. Mal comparando: lobos precisam comer ovelhas e ovelhas precisam comer capim assim como um sistema que refina uma forma de energia necessita de consumir outra forma de energia.

Ilustração 1-2 (diagrama em revisão)

4. Com tratamento, das 10 unidades oriundas da natureza 7 resultam em trabalho.

5. Apenas 3 unidades de perdas retornam pela via lenta do processo natural.

6. Um aumento na quantidade de consumo pode ser controlado por aumento da intervenção.

A noção de cadeia ou ciclo - que é um modelo da natureza - permite ver que cada um ocupa a necessária posição no sistema e que a exploração (esgotamento) de uns sobre outros constitui desvio em relação ao que seria desejável.

O processo de refinamento deve gerar energia de reposição para o capital, para o trabalho e para a fonte.

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Não há culpados nem inocentes, não há exploradores nem explorados, há, sim, uma forma de inconsciência que estanca fluxos e cria pontos de acumulação.

Assim, não existem inocentes nem culpados, mas correções de desvio a serem feitas e que se não puderem ser feitas pelo governo devem ser feitas pela iniciativa privada.

A manutenção das cadeias de produção e do bem estar não implica em que o lobo se torne vegetariano (existe o risco de o capim virar a vítima da vez), mas talvez implique em que o lobo diminua seu apetite, forneça insumos para o pasto e não coma as borregas.

2 2 2 2 ---- PANORAMA CONSTITUCIONALPANORAMA CONSTITUCIONALPANORAMA CONSTITUCIONALPANORAMA CONSTITUCIONAL

A Constituição de 88 abriu caminhos para o exercício pleno das liberdades e direitos, mas, estranhamente, tais caminhos não têm sido terraplenados, pavimentados e sinalizados adequadamente, e os esforços nesse sentido parecem estar sendo inibidos pela tradição do culto à autoridade, dependência que se instalou com a descoberta em 1500.

Através dos séculos formou-se a consciência de que apenas a autoridade pode e somente a autoridade sabe o que a lei quer dizer.

A Constituição consiste a lei superior que rege a vida e existência de um Estado e cuja força valorativa subordina necessariamente toda legislação ordinária, ou melhor, toda legislação INFRACONSTITUCIONAL, às suas disposições. Quer dizer, as normas inferiores terão subsistência e eficácia apenas se não contrariarem as previsões da Lei Maior (entre os atos normativos infraconstitucionais encontram-se as leis, os atos administrativos, as sentenças, os contratos particulares, medidas provisórias, emendas, projetos de lei e etc., assim como as convenções e acordos coletivos de trabalho).

Conclui-se que a supremacia da Constituição pressupõe indubitavelmente a subordinação de todas as leis que lhe são posteriores, e também de todas que lhe são hierarquicamente inferiores (todas as obras legislativas passadas, atuais e futuras), ao teor de seus preceitos. [19]

[19] O que impede o exercício das Liberdades - Cristiane Rozicki - Revista Mensal - Ano II - Número 16 - Setembro de 2002 - ISSN: 1519.6186

A necessidade de construir a obra democrática apresentou-se neste último sete de setembro (2002) quando as Forças Armadas, na Capital da República, desfilaram sem viaturas e aviões por escassez de verba para o combustível, escassez essa que já havia atingido a alimentação nos quartéis.

A Pátria comemorou sua independência, mas não pode servir aos convidados o melhor de sua despensa.

A Pátria a pé mostrou-se alinhada com os milhões de brasileiros que sobrevivem o outro lado da “economia vai bem”, ou seja, o lado em que o povo vai mal.

A população brasileira vem enfrentando severa degradação na estrutura familiar e social, e as causas são atribuídas como as mais diversas: da dívida externa à perda da moral individual, e tudo o que couber entre tais extremos, ou seja, conexo ou afim.

O Estado - e seus componentes políticos e de governo - vem apresentando sinais de impotência instrumental, e buscando força realizadora para relacionar-se com o complexo de causas degradantes e revertê-las.

Dentre os instrumentos possíveis para atuar na reversão está a transferência de parte da administração pública e do patrimônio ativo estatal para a iniciativa privada, caindo sobre essa política criticas ideológicas demolidoras que, embora calcadas no patriotismo do Brasil é nosso, só aparecem quando do encaminhamento de alguma solução, mas adormecidas ficam enquanto o problema cresce.

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[2] [2] PARALELO 666, o reverso do apocalipse. Serrano Neves – http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social.

Salva que a Constituição, por força do seu próprio texto (artigo 7º, inciso XXXIII), já maior de 16 anos (5 de outubro de 2004) possa ter “emprego” pleno.

2.1 2.1 2.1 2.1 ---- DOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICADOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICADOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICADOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e

Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Não seria de estranhar, pela tradição, que os incisos deste artigo estivessem sendo interpretados de forma estanque.

Esse tradicional vício se apresenta como o “dividir para governar” que, além do sentido de poder, permite lidar com a impotência ideológica e instrumental: se não quero ou não sei fazer, ou se não disponho de recursos, posso dizer que não estou cuidando da dignidade da pessoa humana porque estou ocupado com a cidadania, por exemplo.

A forma direta de exercício do poder bate de frente com a cultura de perguntar se alguma coisa que não está permitida expressamente pode ser feita, vez que seria demasiada ousadia imaginar que o inciso II do artigo 5º (ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei) está debaixo da rasteira interpretação: ninguém poderá fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

O que a Constituição não proíbe não pode ser proibido na legislação inferior, logo, qualquer poder que derive do texto constitucional pode ser exercido diretamente pelo povo, mesmo na ausência de regulamentação, diga-se, para total desgosto dos que praticam a antidemocrática arte do Aqui Mando Eu.

2.1.1 2.1.1 2.1.1 2.1.1 ---- Tabela 1Tabela 1Tabela 1Tabela 1 –––– Matriz de relacionamento entre os fundamentos Matriz de relacionamento entre os fundamentos Matriz de relacionamento entre os fundamentos Matriz de relacionamento entre os fundamentos A escolha do inciso IV como determinante dos demais incisos tem por

fundamento que o trabalho e a livre iniciativa não podem ser cassados na sua totalidade:

IV IV IV IV ---- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

I I I I ---- a soberania; a soberania; a soberania; a soberania; Popularização do conceito de soberania com a introdução de elementos ideológicos de defesa e preservação dos recursos através dos diversos níveis de atividade.

II II II II ---- a cidadania; a cidadania; a cidadania; a cidadania; Abertura de espaços para o exercício dos direitos e a livre manifestação do pensamento

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III III III III ---- a dignidade da pessoa a dignidade da pessoa a dignidade da pessoa a dignidade da pessoa humana;humana;humana;humana;

Valorização da pessoa humana pela melhora das condições para usufruir os bens e serviços gerados pelo trabalho.

V V V V ---- o pluralismo polític o pluralismo polític o pluralismo polític o pluralismo político.o.o.o. Conscientização de que as diferenças são necessárias para a existência de um sistema político sustentável.

2.2 2.2 2.2 2.2 ---- DOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICADOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICADOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICADOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

República – no bom e velho latim - é “respublica”, que significa “de todos”. Desse bem público derivam a “publica utilitas” e a “communis utilitas”.

Federativa – no mesmo – designa a união política, e vem de “societas, atis” que tem o sentido também de pessoas associadas, comunidade, afinidade, participação.

Brasil, ora, Brasil vem do Pau Brasil, vermelho, cor de brasa, como me empurraram para dentro da cabeça no curso primário, e eu achei formidável porque vermelha é também a cor da vergonha na cara.

Vejo, mais uma vez, o bom senso apontar que a construção de uma sociedade livre, justa e solidária garante o desenvolvimento, erradica a pobreza e promove o bem estar de todos.

2.2.1 2.2.1 2.2.1 2.2.1 ---- Tabela 2 Tabela 2 Tabela 2 Tabela 2 –––– Matriz de relacionamento entre os objetiv Matriz de relacionamento entre os objetiv Matriz de relacionamento entre os objetiv Matriz de relacionamento entre os objetivos fundamentaisos fundamentaisos fundamentaisos fundamentais A escolha do inciso I como determinante dos demais incisos tem por

fundamento que a construção da sociedade objeta por dar-se até pela via da revolução armada:

I I I I ---- construir uma sociedade livre, construir uma sociedade livre, construir uma sociedade livre, construir uma sociedade livre,

justa e solidária;justa e solidária;justa e solidária;justa e solidária;

II II II II ---- garantir o desenvo garantir o desenvo garantir o desenvo garantir o desenvolvimento nacional;lvimento nacional;lvimento nacional;lvimento nacional; Fortalecimento da micro-economia, minimização da dependência ao assistencialismo;

III III III III ---- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionaisas desigualdades sociais e regionaisas desigualdades sociais e regionaisas desigualdades sociais e regionais

Dar suporte aos setores informais e não formais através da distribuição de tecnologia, engenharia e produção em descarte;

IV IV IV IV ---- promover o bem de todos, sem preconceitos de promover o bem de todos, sem preconceitos de promover o bem de todos, sem preconceitos de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.formas de discriminação.formas de discriminação.formas de discriminação.

Reconhecer os estratos sociais de qualquer natureza como inerentes à estrutura, reformatá-los do mal estar para o bem estar e repavimentar as vias de circulação das pessoas entre eles.

Mas, nada mau, temos uma Constituição bem "explicadinha" por desdobramento.

2.3 2.3 2.3 2.3 ---- FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO.FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO.FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO.FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO. Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,

com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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Criar filhos ou proporcionar um razoável fim de vida aos pais não é só uma questão de custos, vez que a população cresce à margem da relação custo/benefício.

Controlar a natalidade representa uma economia de custos tão sensível quanto eliminar aqueles que deixam de ser produtivos no sentido puramente econômico.

A realidade – que é brutal como no parágrafo anterior - está mostrando (estatísticas recentes) que é crescente o número de idosos com renda fixa de aposentadoria ou pensão que está sustentando seus filhos desempregados e seus netos filhos de desempregados.

Grosso modo, e os indicadores são visíveis, os pobres teriam menos filhos se fossem menos pobres e os velhos custariam menos se o “sistema” lhes desse segurança na autonomia de vida pós-trabalho.

A preocupação constitucional com a criança e com o idoso não seria necessária se a sociedade já fosse livre, justa e solidária. Então, devemos estar atentos a que o comando de construir essa sociedade (art. 3º, I da CF), deve começar a ser obedecido, pois o começo e o fim da vida não podem estar condicionados a deduções do imposto de renda e benefícios fiscais, simplesmente.

2.4 2.4 2.4 2.4 ---- DIREITDIREITDIREITDIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOSOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOSOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOSOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Muito tem os especialistas escritos sobre a função social da propriedade e prática hodierna de responsabilidade social, por isto apenas acrescento a visão de que função social é o mesmo que função federativa ou função comunitária, capaz de gerar o bem estar de todos, não me esquecendo de que “todos” é um continente no qual cabem também os capitalistas cujo bem estar inclui auferir lucro. Lucro que, falando de passagem, entendo necessário para a realimentação da cadeia de produção.

A garantia do direito de propriedade classifica sua função social como um dever do proprietário, ou seja, a função social não é conseqüência do direito de propriedade, devendo ser um efeito do uso.

Afeito a dar o maior alcance possível aos dispositivos constitucionais entendo que todos os direitos de propriedade atribuem aos seus titulares o dever de, pelo uso, dar-lhe função social, mesmo os chamados direitos imateriais.

Para vencer as dificuldades tradicionais aponto o “produto social” como solução, o que será examinado em tópico separado.

2.5 2.5 2.5 2.5 ---- DOS DIREITOS SOCIAISDOS DIREITOS SOCIAISDOS DIREITOS SOCIAISDOS DIREITOS SOCIAIS Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Seguindo a ótica os direitos sociais se encaixam naturalmente na função social da propriedade em razão de que o social é um só. Logo, não deveria causar espécie que da propriedade produtiva decorram elementos para a educação, saúde, moradia etc. o que acontece através da tributação. No entanto, existem sérias resistências justificadas pelo fato de que, da nascente (propriedade

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produtiva) até o mar (sociedade) os “rios” vão perdendo água pelos drenos do mau emprego do dinheiro, do desvio e da corrupção e o povo fica na foz, de canequinha na mão, recolhendo cestas básicas, vales-sobrevivência e bolsas-aquietantes.

Aos direitos sociais correspondem deveres governamentais, como visto no Paralelo 666, mas essa relação não é de partes em oposição, como num contrato, é, antes, um curioso sistema no qual os que têm deveres a cumprir são eleitos pelos que tem direitos a usufruir: os governantes são mandatários, o povo é o mandante e a procuração é a lei.

Sugiro que o leitor se imagine mandante e passe procuração para que o mandatário execute determinada atividade em seu nome, durante um tempo certo.

Imagine agora que tenha feito má escolha do mandatário e não possa revogar o mandato.

Imagine que o mandatário, por uma causa qualquer, não está cumprindo o que lhe foi determinado e escolha entre duas opções:

a - sofrer as conseqüências e ficar esperando chegar a hora de trocar o mandatário;

b - colaborar com o mandatário e diminuir as conseqüências a serem sofridas até o final do tempo de mandato.

A resposta “a” será dada por aqueles que tem como princípio pagar (ou não pagar) impostos e responsabilizar o governo em todo os níveis: de fixar a taxa de juros até recolher o lixo nas ruas. Estes não procuram alternativas para os seus negócios se sustentarem nem para os seus narizes que respiram fedor.

A resposta “b” será dada por aqueles que perceberam na Constituição as declarações de que existem o Estado Democrático de Direito, a ordem jurídica e o regime democrático.

Conclusão: não basta ter uma boa Constituição, é preciso preparar as pessoas para segui-la.

2.6 2.6 2.6 2.6 ---- DO MINISTÉRIO PÚBLICODO MINISTÉRIO PÚBLICODO MINISTÉRIO PÚBLICODO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do

Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

Essa incumbência de defesa nada mais é do que um mandato, uma procuração que o povo passou para o Ministério Público e, por isto, sempre que os interesses do povo estiverem em jogo o Ministério Público deverá agir.

Para agir, o Ministério Público deve possuir sólida compreensão do que sejam a ordem jurídica e o regime democrático, bem como estar afeiçoado a dar ao texto constitucional a interpretação que mais aumente o seu alcance.

Na realidade, o poder constitui o princípio de toda a vida política, enquanto que o regime político indica seu efeito, suas conseqüências, erigindo-se não apenas no quadro em que esta vida se desenvolve, mas esta própria vida. [20]

[20] Teoria Geral do Estado – Wilson Accioli, Forense, RJ, 1985,1ª ed., pág. 324.

Destacam-se na democracia os aspectos ideológicos e sócio-econômicos enquanto os aspectos normativos, institucionais e operacionais assumem papel na funcionalidade do poder. Democracia é poder aberto – ensina Wilson Accioli retro citado – no qual deve haver conciliação entre a soberania popular e as

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liberdades públicas, e a funcionalidade do poder, exigindo, para tal, o desenvolvimento de práticas ideológicas e sócio-econômicas compatíveis com o fim proposto de bem estar para todos – concluo eu.

A defesa para a qual o Ministério Púbico tem mandato é, então, bifronte, complexa, e por vezes tormentosa, pois lhe compete tanto assegurar a estabilidade das instituições através dos seus aspectos normativos e operacionais, quanto assegurar a soberania popular e as liberdades públicas..

Gozando da faculdade de formação da vontade, que o caracteriza como poder do Estado, o Ministério Público se ergue, então, como poder político, inserido na realidade da vida pública como garante de que os demais poderes respeitarão os direitos assegurados na Constituição.

Se o constituinte quisesse que as medidas necessárias para garantia do respeito aos direitos fossem apenas medidas judiciais teria escrito isto, mas não escreveu, e por não ter escrito – olha ai a necessidade do "explicadinho" atacando o Ministério Público – a legislação infraconstitucional não fez a previsão de que possa ser um agente direto da terraplenagem, pavimentação e sinalização dos caminhos democráticos. Destarte, a instituição se recolheu numa posição de corregedora dos poderes que ainda está muito próxima da dos antigos (e que deveriam estar todos desaparecidos) fiscais da lei, confinando o regime democrático nos limites da lei, o que tem conduzido para a interpretação restritiva dos direitos assegurados na Constituição.

Bom serviço tem prestado o Ministério Público, mas melhor serviço prestará quando as portas dos gabinetes se abrirem para que seus membros saiam para a realidade da vida e possam sentir o cheiro daqueles que ganham em um mês – é o suor que cheira – o que eles ganham num dia, das 13 às 17 horas (trazido à conta o teto).

Ora, como não! Devemos cobrar, sim, que o Ministério Público faça a defesa com suas armas legais em punho, presente na parte mais furiosa do campo de batalha pela dignidade real da pessoa humana.

O Ministério Público (publicus ministerium, ofício de servir a todos) pode retomar a figura do “pubes poplicus ministerium” e servir mais de perto a esse povo frente à Carta Magna ainda adolescente.

2.7 2.7 2.7 2.7 ---- DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICADOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICADOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICADOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,

tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Parágrafo único - É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

Nos casos previstos em lei estão as atividades que dependem de habilitação especial ou licença, e mesmo nestas, é preciso distinguir as

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atividades acessórias ou úteis que apenas orbitam na dependência. Essas atividades acessórias ou úteis necessitam ganhar um foro de reconhecimento que permita a participação na atividade econômica de modo informal ou não formal, através de políticas que privilegiem a participação nas cadeias de produção ou serviços.

O termo “excluídos” ganhou conotação de carência, pobreza, quando, na verdade, qualquer pessoa ou empresa, independente do seu porte e capacidade, pode estar excluída de alguma ou várias atividades em função de suas políticas de atuação ou de mercado, ou por falta de informações ou recursos que as incluam. Daí ser razoável empregar a expressão não-participante, para evitar que não-participantes conscientes sejam categorizados na vala comum da expulsão, rejeição ou descaso.

Não é possível que todos estejam incluídos em tudo, mas a função social da propriedade deve proporcionar que todos possam participar de tudo, para que a liberdade seja um exercício e não apenas uma oportunidade.

De um modo simples, quando surge uma nova geração de processadores para computadores, mais velozes e mais caros, a absorção das novas máquinas pelo mercado inferioriza os proprietários de máquinas menos velozes. Isto, em si, é normal, mas a exclusão acontece quando a tecnologia dos programas se reorienta para o novo e se torna inacessível para o velho.

Claro que eu sei tratar-se de políticas de mercado e não pretendo alterá-las em prejuízo do avanço tecnológico, mas estou atento a que a participação não está sendo mantida quando meu Explorer 3 não mais acessa alguma página na internet e meu computador não agüenta rodar a versão 6, e minha liberdade de exercício de alguma atividade econômica pode ficar afetada por isto.

O exercício da liberdade econômica de uns não pode afetar igual exercício de outros, mas pode, via de um “produto social” assegurar a continuidade do exercício dos outros.

Asseguro ter conhecimento da “selvageria” do mercado e que a “agressividade” é um componente da sustentabilidade, mas acredito que a geração do produto social possa, a partir de um ponto de sua escalabilidade, civilizar a agressividade.

2.7.1 2.7.1 2.7.1 2.7.1 ---- Tabela 3Tabela 3Tabela 3Tabela 3 –––– Matriz de relacionamento do princípios da ordem Matriz de relacionamento do princípios da ordem Matriz de relacionamento do princípios da ordem Matriz de relacionamento do princípios da ordem econômica:econômica:econômica:econômica:

A escolha do inciso III como determinante dos demais incisos tem por fundamento que num modelo mínimo sobrevivência em grupo as posses são socializadas para assegurar o máximo de sobrevida dos indivíduos:

III III III III ---- função social da propriedade; função social da propriedade; função social da propriedade; função social da propriedade;

I I I I ---- soberania nacional; soberania nacional; soberania nacional; soberania nacional;

Popularização do conceito de soberania com a introdução de elementos ideológicos de defesa e preservação dos recursos através dos diversos níveis de atividade.

II II II II ---- propriedade privada; propriedade privada; propriedade privada; propriedade privada; Estimular a participação privada nas políticas públicas sem perder de vista que o concorrente é um parceiro para o bem estar de todos

IV IV IV IV ---- livre concorrência; livre concorrência; livre concorrência; livre concorrência; Auto-regulamentação do uso do poder econômico tendente à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.

V V V V ---- defesa do consumidor; defesa do consumidor; defesa do consumidor; defesa do consumidor; Tecnologia compatível, garantia, assistência técnica.

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VI VI VI VI ---- defesa do meio ambiente; defesa do meio ambiente; defesa do meio ambiente; defesa do meio ambiente; Produtos menos agressivos e que gerem menos resíduos

VII VII VII VII ---- redução das desigualdades regionais e sociais; redução das desigualdades regionais e sociais; redução das desigualdades regionais e sociais; redução das desigualdades regionais e sociais; Política de preços, embalagens alternativas, enfoque nas commodities regionais.

VIII VIII VIII VIII ---- busca busca busca busca do pleno emprego;do pleno emprego;do pleno emprego;do pleno emprego; Entender o pleno emprego como o caminho entre a participação não formal e informal até o engajamento formal.

IX IX IX IX ---- tratamento favorecido para as empresas de tratamento favorecido para as empresas de tratamento favorecido para as empresas de tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e adminique tenham sua sede e adminique tenham sua sede e adminique tenham sua sede e administração no País.stração no País.stração no País.stração no País.

Entender algumas formas de participação não formal e informal como “terceirização” possível na cadeia de produção e serviços.

Tenho conhecimento, por certo, que para atingir o ponto ideal em que o sistema se torne estável, uma quantidade extraordinária de energia atrativa deverá ser despendida, com algum sacrifício de idéias e de recursos.

Trata-se, no entanto, de uma aposta no futuro: coloquem as fichas no pano verde.

2.8 2.8 2.8 2.8 ---- DA POLÍTICA URBANADA POLÍTICA URBANADA POLÍTICA URBANADA POLÍTICA URBANA Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,

conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana

Pouco foi realizado e pode ser realizado, em razão da “crise” que desloca do campo das prioridades aquilo que deveria permanecer no campo do cotidiano, tal como ter emprego, moradia, assistência etc.

Guerras fiscais entre municípios são travadas para viabilizar as prioridades deslocadas e um das armas é a lei, logo, as empresas que se envolverem com os benefícios, poderão, perfeitamente, cobrar dos legisladores as diretrizes sócio-ambientais adequadas.

O artigo em destaque, mais do que criar um dever para os municípios com mais de 20.000 habitantes (§ 1º) cria um direito para os de menor população, direito este que, em se tratando de funções sociais, pertence ao povo e por este poderá ser exercido através da colaboração, quebrando o paradigma do esperar sentado.

El presente documento pretende ésto, analizar cuáles son los mecanismos que permitan crear una gestión de comuna participativa, donde los ciudadanos no asuman el papel de usuarios de servicios que la municipalidad entrega, y por otra parte que la municipalidad no conciba la participación como la entrega de información para hacer "participada" las decisiones que ya se han tomado. La idea de este trabajo surge como una inquietud personal en el marco del Máster en Investigación, Gestión y Desarrollo Local de la Universidad Complutense de Madrid. Como profesional de una municipalidad chilena, creo que el rol de estas entidades públicas no puede supeditarse al "fomento" de la participación ciudadana con el sólo financiamiento de programas. Los municipios no pueden estar ajenos a los cambios y a las revoluciones que se están gestando dentro de los movimientos sociales.

Claudio Andrés Briceño Olivera - [email protected] - Participación y municipio - Estudio social – www.monografias.com

Atrair a participação do povo e de seus segmentos sociais e econômicos para o desenvolvimento sustentável e integrado é um desafio para os governantes municipais e constitui também a quebra do paradigma da dependência municipal.

As propostas enunciadas para cada um dos subtemas indicados pelo Ministério do Meio Ambiente, uma vez sistematizadas e selecionadas por meio da aplicação de matrizes analíticas desenvolvidas pelos consultores de integração temática, foram consolidadas e ordenadas em quatro

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estratégias de sustentabilidade urbana, identificadas como prioritárias para o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras.

1. Aperfeiçoar a regulamentação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção da eqüidade, a eficiência e a qualidade ambiental.

2. Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade.(grifo nosso)

3. Promover mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis.

4. Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos recursos naturais visando a sustentabilidade urbana.

Cidades Sustentáveis - Subsídios à Elaboração da Agenda 21 Brasileira - Consórcio Parceria 21 - Ministério do Meio Ambiente/Projeto 1-BRA/94/016 – Estratégias de Elaboração e Implementação da Agenda 21 Brasileira.

2.9 2.9 2.9 2.9 ---- DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUDA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUDA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUDA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIANDIÁRIANDIÁRIANDIÁRIA Art. 186 - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,

segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

A topologia desta definição de função social revela a preocupação do constituinte com a questão rural, mas pode perfeitamente ser aproveitada como proposição universal com mínima alteração, vez que, pela técnica, se a Constituição declara a função social da propriedade como um princípio geral, e define a função social de um tipo de propriedade, os atributos particulares da propriedade pertencem necessariamente ao princípio geral, se o próprio princípio geral não forem.

Para verificar a pertinência será suprimida do texto original (novo texto adiante) a palavra RURAL que especifica a propriedade, seguindo-se examinar se os incisos podem ser aplicados a outras espécies de propriedade. Alargar o campo de visão é importante para alcançar as relações da propriedade em exame – foi escolhida a propriedade intelectual como exercício – com as demais propriedades que promovem a expressão.

Seja examinada a proposição seguinte: Art. XXX - A função social é cumprida quando a propriedade [[[rural]]] atende,

simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado dos recursos de produção;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

A propriedade intelectual – salvo raríssimas exceções – é um bem destinado à circulação, seja por expressão verbal ou escrita, gravada em algum suporte (papel, meio magnético ou ótico etc), ou transmitida por algum tipo de sinal ou onda (telefone, rádio, televisão, satélite etc), permitindo concluir que a propriedade intelectual, para ter função, depende de algum tipo de produção sujeito a aproveitamento racional e adequado, e está satisfeito, por conexão, o inciso I.

Se uma modalidade de produção utiliza recursos naturais ou produz

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impacto neles, a utilização adequada é reclamada, e está satisfeito, por conseqüência, o inciso II.

Os meios de produção não devem exigir do trabalhador mais do que alguma lei exija, mesmo que o meio não esteja regulamentado as disposições favoráveis às relações de trabalho devem ser aplicadas por analogia, e está satisfeito, por conseqüência, o inciso III.

Proprietários intelectuais e trabalhadores da produção da expressão são igualmente titulares do direito ao bem estar, não fora o buscarem de modo natural, e está satisfeito, por conseqüência, o inciso IV.

O bom senso é um aliado importante, vez que a legislação não pode alcançar todos os casos.

SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA - Uma comunidade sustentável é geralmente definida como aquela capaz de satisfazer suas necessidades e aspirações sem reduzir as probabilidades afins para as próximas gerações. Esta é uma exortação moral importante. Nos lembra a responsabilidade de transmitirmos aos nossos filhos e netos um mundo com oportunidades iguais as que herdamos. Entretanto esta definição não nos diz nada a respeito de construirmos uma comunidade sustentável. O que nós precisamos é de uma definição operacional de sustentabilidade ecológica. A chave para tal definição operacional é a conscientização que não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas que podemos modelá-las seguindo os ecossistemas da natureza, que são as comunidades sustentáveis de plantas, animais e micro-organismos. Uma vez que a característica notável da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de forma que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida.

Fritjof Capra - AS CONEXÕES OCULTAS – IDESA São Paulo, 11 de Agosto de 2003 – Tradução de Cylene Dantas da Gama

2.10 2.10 2.10 2.10 ---- DA ADA ADA ADA ASSISTÊNCIA SOCIALSSISTÊNCIA SOCIALSSISTÊNCIA SOCIALSSISTÊNCIA SOCIAL Art. 204 - As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com

recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:

I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;

II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.

A inclusão deste tópico nem de longe sugere que as cadeias de produção e serviço sejam beneficentes ou que prestem assistência social, vez que o “produto social” visa exatamente reduzir ao mínimo mais mínimo a necessidade de beneficência e assistência.

A inclusão do tópico se dá para demonstrar que a pragmática constitucional quer a iniciativa privada participando. Esta participação vem acontecendo porque os sentimentos pessoais indicam que a impotência estatal deve ser suprida, mas, não só a participação deve mudar de ideologia substituindo o sentimento pessoal por sentimentos cívicos, como se orientar em função de que o governo não é todo poderoso, não deve ser todo poderoso, e nem queremos que seja todo poderoso.

2.11 2.11 2.11 2.11 ---- DA EDUCAÇÃODA EDUCAÇÃODA EDUCAÇÃODA EDUCAÇÃO Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

E de novo a sociedade é chamada para participar.

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Com certeza já foi dito que a melhor forma de ter um adulto educado amanhã é educando uma criança hoje.

Já se passam 20 anos de que, como Advogado, vislumbrei a degradação da plataforma social pelo desequilíbrio ocorrente no binômio ensino/educação, quando a necessidade de formação em massa começou a esvaziar a valoração do conteúdo da informação. Na busca de resultados imediatos os meios deixaram de ser escolhidos em função dos valores sociais porque os fins econômicos do desenvolvimento estavam a exigir que as coisas acontecessem.

Atualmente, o sentimento de o bom possuir não inclui que boas pessoas estejam realizando um bom trabalho. Produção e serviços tornaram-se meros suprimentos e as coisas desagradáveis ou que não funcionam em são problemas do governo, ou do sistema, como se o povo não elegesse o governo e o sistema fosse algo estranho a todos.

O esvaziamento dos valores tem como conseqüência o crescimento do egoísmo e o imediatismo, e a falência do sentido de precaução em relação a riscos que não possam ser avaliados no momento da tomada de decisão. Exemplo disto é a crescente criminalidade que tanta conta tomou da plataforma social que o povo caminha entre a polícia e o bandido, às vezes sem poder distinguir quem é quem.

A ausência de valores, ou a presença de falsos valores, fragiliza os indivíduos e propicia o desvio de conduta, em tal grau, que já imagino um lema para uma campanha de apreensão de valores: “Tente ser honesto por mais dez minutos”.

A propósito, sobre a criminalidade, que estudo do ponto de vista sócio-ambiental já apontado por Carrara quando disse que cada sociedade tem sua taxa própria de criminalidade:

Na opinião do advogado existem duas causas, do ponto de vista jurídico, para explicar a criminalidade. "Existem a causa legal, que surge quando o direito elege um bem à categoria de tutelável, podendo até eleger como crime uma coisa aparentemente sem sentido", explicou, citando como exemplo a proibição de passar por determinado local.

- A causa humana, aborda o aspecto individual e social. "Individual na própria conformação biológica do homem, que é um animal, racional, possuidor de uma agressividade natural e necessária para enfrentar a vida (responsável por seu equilíbrio) podendo, assim, reagir diante das circunstâncias, ora mais como animal, ora mais como racional", posicionou-se.

O modo como o indivíduo reagirá, dependerá dos elementos que lhes sejam oferecidos através da educação e dos movimentos sociais. "Em termos médicos", continuou Serrano Neves, corresponderia à capacidade do indivíduo de estabelecer censura sobre as emoções e instintos primitivos, exteriorizando uma conduta dentro dos padrões sociais. Esta capacidade seria adquirida pela educação e por convivência em meio adequado ““.

O advogado acredita que o fator econômico tem responsabilidade na formação do delinqüente, “na medida em que limita os meios ao alcance do indivíduo para se educar e conviver. Entretanto, o ponto inicial é a Educação, em todos os seus aspectos".

A forma de atingir os pontos máximos de educação, diminuindo a criminalidade, para Serrano Neves, começa com o "redimensionamento dos objetivos sociais e individuais, decaindo do egoísmo e procurando meios adequados, para a plena expressão do homem como pessoa. O primeiro passo já teria sido dado pela CNBB com a Campanha da Fraternidade, que nos incita a reconhecer a todos como irmãos", garantiu.

E assim, esclarece, “poderíamos nos aproximar mais uns dos outros abrindo mão de privilégios que nós mesmos elegemos, para dividir com os demais a capacidade já adquirida de harmonizar as coisas ao nosso redor, mantendo o respeito, a privacidade dos indivíduos sem, no entanto deixar de oferecer-lhes uma contribuição objetiva e sincera”.[3]

[3] A Educação contra o crime - Serrano Neves em entrevista à Tribuna de Minas de Juiz de Fora MG em 1982.

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2.12 2.12 2.12 2.12 ---- DO MEIO AMBIENTEDO MEIO AMBIENTEDO MEIO AMBIENTEDO MEIO AMBIENTE Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

O desenvolvimento do eco, do ambiental, do sustentável e de outras conexões e afinidades tanto tem aclarado quanto obscurecido o cenário. Os desenvolvedores se dividem e defendem suas concepções com bravura: das pegadas ecológicas à eMergia, da prevenção, da proteção, da conservação etc. o resultado é que as luzes sobre a questão ambiental não tem iluminado a presença e a convivência humanas. Meio ambiente transformou-se, grosso modo, num objeto a ser defendido do seu predador natural o ser humano.

Pessoas são retiradas das áreas de reserva como se a inteligência humana não fosse capaz de criar um modelo de convivência dos “civilizados” com a natureza e já chegaram a debater que o ambiente não podia ser meio e sim inteiro.

Meio é o suporte ou plataforma sobre a qual alguma coisa se desenvolve, como o papel no qual estas letras estão impressas. Para sorte nossa as letras e a leitura não consomem o papel, mas, se consumissem, a arte da inteligência humana deveria consistir em conseguir que o papel e as letras durassem o maior tempo possível.

A extensão e a diversidade de biomas do território nacional não permitem um tratamento uniforme, mas a lei – salvo atos típicos de bom senso de algumas autoridades – teima em transformar em criminoso o caboclo que tira uma “casca de pau” para fazer remédio, sem fazer nenhum esforço para reconhecer que esse caboclo irá preservar a árvore para ter remédio durante toda sua vida e legá-la íntegra para seus filhos.

Os burocratas do “dura lex sed lex” usam seus recursos para criminalizar o cidadão que, com um caniço de bambu, pescou dois ou três piaus de um palmo para alimentar os filhos durante a piracema, mas enquanto caça esse “predador”, os verdadeiros criminosos carregam toneladas de peixes capturados com rede. A desigualdade de tratamento é resultado da impotência: os recursos são suficientes para perseguir um cidadão que está a pé ou de bicicleta, mas não o são para perseguir caminhões ou camionetes.

A falta de imaginação dos burocratas concorre com a ignorância: peixes são vendidos “in natura” em peixarias e elaborados em restaurantes, mas a origem deles não é fiscalizada, e não o é pela mesma falta de recursos, ou talvez

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porque, por exemplo, o Lago da Serra da Mesa em Uruaçu é federal, a rodovia é estadual e o comércio é municipal, ou seja, parece que incêndio federal não pode ser apagado por um funcionário estadual com um extintor municipal sem o risco de os “bombeiros” serem processados por improbidade administrativa.

As questões ambientais devem ser resolvidas no local da ocorrência por quem esteja próximo, como já acontece em alguns municípios que elaboraram sua própria legislação e sairam em campo para não depender do Estado nem da União, e isto é um exemplo a ser conhecido e multiplicado, caso os burocratas os burocratas e os poderosde Brasília vislumbrem que o Brasil é maior do que seus gabinetes.

...

Descobri que fui um predador por inconsciência de que os bens materiais que a mim chegavam provinham de fontes que estavam, e estão, sendo esgotadas. Nada fiz porque, como muitos, talvez confiasse na inesgotabilidade.

Faz alguns anos que penso de modo diferente e me empenho em pelo menos deter a degradação ambiental, como penso, também, que a própria natureza, com o ciclo das águas, apresenta um interessante modelo para o "ciclo do dinheiro", qual seja: a fonte de onde sai o dinheiro precisa de "chuva" para se recompor e ser perenizada.

O interessante do livro do Simonsen é que, dos quinze capítulos, apenas os cincos últimos são dedicados ao Estado e à Economia. Os dez primeiros se dedicam a alargar o horizonte do pensamento para que o homem perceba que é mero usufrutuário da natureza.

A um economista e a um jurista importa tanto conhecer a estética diatônica (pág. 85, ob. cit.) quanto importa saber que não existe mundo econômico e mundo jurídico onde coisas aconteçam independentes das variáveis ambientais e das pessoas que zelam para que, na equação ambiental, nenhuma variável se torne um determinante zero e anule tudo.

Melhor, então, que nada seja feito para irritar a Mãe Natureza, pois ela é tanto rica, farta e desprendida quanto impiedosa.

Por um dólar: GOLD SAVE THE GREEN. [4] [4] UM CONSELHO POR UM DOLAR, Serrano Neves, em Plataforma Social. - O livro de Simonsen é o Ensaios Analíticos. http://www.serrano.neves.nom.br

Um dos corolários do princípio de "dar a cada um o que é seu" é não se poder tirar de alguém aquilo que ele não tem. Logo, será muito difícil, apesar das cláusulas penais, alterar a cultura dos causadores dos fatos ambientais negativos.

Ou de um modo mais popular: o grande predador ambiental continuará assim porquê imagina poder deixar para o seu neto dinheiro suficiente para que ele sobreviva num deserto criado.

Ora, essa insensibilidade não é fruto apenas da ignorância, eis que se desenvolveu à larga de qualquer interferente orientador, quando não com o beneplácito do poder dos "sábios oficiais".

A reversão desse estado de insensibilidade é um processo lento e difícil, mas a interrupção do crescimento da insensibilidade parece ser mais fácil e pode ser mais rápido, mas depende de ações oficiais, principalmente ações que terraplenem o espaço para atuação das organizações sociais ou comunitárias.

Algo como um ambiente de desenvolvimento amigável, onde o ideal e o real possam se encontrar, e a especialização e a ignorância possam se confraternizar.

Esse ambiente de desenvolvimento amigável deverá ser criado pelos poderes públicos, na exemplaridade da causação de fatos ambientais positivos, no incentivo aos poderes privados do capital e do trabalho, e no respeito à cidadania.

Assim, criando fatos ambientais positivos, ao invés de simplesmente punir os fatos negativos, novos valores poderão ser agregados à cultura, promovendo avanços graduais - mas significativos - na interação de fatos e valores, com o que se espera sejam as normas "legais" mais sensíveis ao homem, e o homem mais sensível a fazer investimentos na causação de fatos ambientais positivos. Positivos como a beleza de uma flor, ou como a recuperação de uma floresta, na medida da capacidade de cada um.

Não escapa da minha percepção que quando se avança do plantar uma flor para recuperar uma floresta o limite entre a realidade da beleza e a realidade econômica é transposto e, certamente, é

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perceptível para todos que a grandeza econômica não é construída apenas pelo trabalho. O capital - ou dinheiro como se preferir nomear - tem o seu papel propulsor na razão direta da dimensão do que se deseja construir.

É fácil admitir que o lucro seria um atrativo de bom calibre para os produtores de fatos ambientais positivos, e de alguma forma isso tem acontecido. No entanto, existe um impulso para a construção de uma sociedade justa e solidária, na qual o bem estar seja para todos e a dignidade seja para cada um.

Essa sociedade precisa de uma plataforma para seu desenvolvimento, na qual as variáveis ambientais promovam o homem a Homem. Inegavelmente, essa promoção cria uma cadeia ascendente de produção e produtividade, fatores que podem ser tranqüilamente classificados como lucro social, e esse lucro social se apresentará desde o plantar de uma flor até a recuperação de uma floresta.

Numa visão mais operacional, pode ser dito que qualquer um tem condições de adquirir o domínio sobre um objeto ambiental, cujo manejo sustentável é gerador do lucro social e do lucro financeiro. Se as pessoas se agrupam, ou disseminam a sustentabilidade no seu entorno, já constroem a plataforma. Imagine-se, então, essas pessoas se organizando em sociedades civis ou comunidades operacionais!

Mas isto seria pouco, ou seria lento, ou esbarraria em limites estreitos, levando a pensar que o dinheiro precisa fazer parte dessa cadeia de crescimento, tanto para dinamizá-la quanto para inserir o mundo-capital no mundo-ambiental, vez que já se torna clara a preferência pelo capital-ambiental. [5]

[5] PROBLEMAS AMBIENTAIS: o conflito entre a norma e o fato - Serrano Neves et al, http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social - FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.

3 3 3 3 ---- DAS FUNÇÕES SOCIAIS DA PROPRIEDADEDAS FUNÇÕES SOCIAIS DA PROPRIEDADEDAS FUNÇÕES SOCIAIS DA PROPRIEDADEDAS FUNÇÕES SOCIAIS DA PROPRIEDADE

A Constituição trata da função social da propriedade sob três aspectos: direito, dever e resultado (integração entre direito e dever): como direito individual atribui ao seu titular a garantia de uso e abuso (direitos inerentes ao uso), e como direito coletivo, de modo reflexo, atribui a todos usufruir a função social; como dever atribui ao empreendedor de uma atividade econômica uma função social; como resultado aponta o que pretende advenha da propriedade, como no caso da propriedade rural que é tomado como paradigma para estudo.

3.1 3.1 3.1 3.1 ---- COMO UM DIREITO COLETIVO:COMO UM DIREITO COLETIVO:COMO UM DIREITO COLETIVO:COMO UM DIREITO COLETIVO: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

O direito de propriedade consiste no uso e abuso de um bem atribuído a uma pessoa (física ou jurídica), a um grupo de pessoas (empresa) ou à representação de todas as pessoas (Estado). Do ponto de vista prático não existe propriedade sem função: casas existem para serem habitadas, empresas existem para gerarem bens e trabalho, e ruas existem para a circulação das pessoas e veículos. Assim, o direito de propriedade se amplia do individual privado para o coletivo público enquanto as funções se tornam mais complexas.

Sabendo que as pessoas saem de casa e transitam pelas ruas para irem até o trabalho, seguindo o exemplo, não é exagero considerar que as casas, as ruas e os locais de trabalho devem estar submetidos a algum tipo de ordem em que as relações entre eles sejam facilitadoras da existência do sistema, e por este raciocínio encontraríamos que sendo o sistema a sociedade, e ampliando o

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universo amostral, cada tipo de propriedade, constituindo um facilitador da existência do sistema, esta seria a sua função social.

Numa visão ampla, da estética e do cuidado dos moradores com a conservação da casa, passando pelo cuidado no trânsito pelas ruas, e terminando na geração de produtos de utilidade prática, a função social dos três elementos do exemplo estaria exemplificada, grosso modo.

Neste nível de direito coletivo poderíamos ir ao extremo de afirmar que a propriedade intelectual, no sentido de acervo mental de conhecimentos, deve ter também sua função social como facilitadora da existência do sistema, desde o simples contador de histórias até o escritor de renome, remunerados ou não. Um exemplo de propriedade intelectual sem função social seria a do médico que não exerce a profissão.

3.2 3.2 3.2 3.2 ---- COMO COMO COMO COMO PRINCÍPIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA:PRINCÍPIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA:PRINCÍPIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA:PRINCÍPIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA: Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,

tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Parágrafo único - É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

A atividade econômica acontece por conta do capital e do trabalho, o primeiro buscando lucro e o segundo buscando salário ou renda.

Lucro e salário ou renda são inerentes ao capital e ao trabalho que são potencialidades que se realizam através de suas funções sociais de facilitadores da existência do sistema.

O artigo definidor ao alinhar ao lado do inciso III outras exigências parece isolar a função social da propriedade, mas a aparência torna-se enganadora quando examinado o terceiro nível.

3.3 3.3 3.3 3.3 ---- COMO UMA FUNÇÃO DE RESULTADOSCOMO UMA FUNÇÃO DE RESULTADOSCOMO UMA FUNÇÃO DE RESULTADOSCOMO UMA FUNÇÃO DE RESULTADOS Art. 186 - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,

segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Da comparação resulta uma ordem de semelhança mais próxima no topo, diminuindo, mas não desaparecendo, até o último item, com destaque para que todos os incisos da função social da propriedade rural corresponderem a um

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princípio da atividade econômica. O natural nessa disposição é o entendimento de que a semelhança não

determina que princípios e funções sejam a mesma coisa, mas determina que as funções sociais da propriedade rural são, no mínimo, decorrentes de princípios outros que não o princípio da função social da propriedade econômica.

3.3.1 3.3.1 3.3.1 3.3.1 ---- TABELA TABELA TABELA TABELA 4 4 4 4 ––––Matriz de correlação entre atividade econômica e função Matriz de correlação entre atividade econômica e função Matriz de correlação entre atividade econômica e função Matriz de correlação entre atividade econômica e função social da propriedade:social da propriedade:social da propriedade:social da propriedade:

PRINCÍPIO DA ATIVIDADE PRINCÍPIO DA ATIVIDADE PRINCÍPIO DA ATIVIDADE PRINCÍPIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA ECONÔMICA ECONÔMICA ECONÔMICA ---- Art. 170 Art. 170 Art. 170 Art. 170

FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL RURAL RURAL RURAL ---- Art. 186 Art. 186 Art. 186 Art. 186

VI - defesa do meio ambiente; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

VIII - busca do pleno emprego; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

I - aproveitamento racional e adequado;

A lógica nos diria, então, que alguns princípios dentre os quais não está a função social da propriedade econômica são orientadores de funções sociais da propriedade rural, e esta interpretação ampliativa atende a que o direito coletivo à função social da propriedade, de primeiro nível, alcance outros níveis de exercício de direito.

A conclusão seria, em primeira demão, que a função social da propriedade, como direito coletivo, não se esgota nos limites da dicção constitucional, antes, por essa mesma dicção, orienta que deve ser ampliada.

...

O modelo tradicional opera acima da plataforma social, na qual apenas induz movimentos de produção e serviços capazes de gerar o lucro. Inseridos na plataforma social, os trabalhadores acabam por acentuarem a exclusão na medida em que contribuem para os sistemas oficiais que, através da assistência cria a separação entre trabalhadores e assistidos (excluídos).

No tradicional esta separação é necessária e os excluídos aparecem como uma das justificativas, ou seja, é preciso gerar lucros para pagar impostos para que eles sejam assistidos, permanecendo excluídos.

O modelo ambiental não propõe uma economia-social, pretende apenas unificar a plataforma social de modo que os atuais assistidos (excluídos) sejam participantes do mercado em igualdade com os trabalhadores, mas isto não significa uma mudança de categoria, mas uma interação na própria plataforma social, mesmo que não-formal, de sorte que a renda gerada gere também uma transformação positiva na própria sociedade.

Um modelo ambiental em separado ou paralelo acabaria por ser induzido a se mover por pressão do modelo tradicional, assim como não teria inércia suficiente para se manter sem o auxilio do tradicional, de modo que a melhor proposta tende a ser a que transmute o tradicional em ambiental, o que pode e deve ocorrer sem destruição, pois as pessoas envolvidas no tradicional são limpas por natureza e pertencem à mesma plataforma social que se quer aplainar.

...

Uma simples semente lançada ao solo pode dar o exemplo do que seja integração, e não será necessário acreditar que ela saiba o momento em que deve germinar ou que tenha consciência de sua vizinhança a ponto de avaliar se as condições lhe são propicias.

A semente é portadora da forca da vida e é possível – sem exagero – dizer que todo planeta tem interesse em que a semente germine, cresça e frutifique. Neste interesse, toda a natureza se

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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realiza naquela única semente, e a germinação é a própria natureza em expressão.

É possível enganar a semente colocando-a em condições artificiais, mas não é possível enganar a natureza. A forca da vida se manifesta até no engano porque é uma forca superior, mas a natureza se desengana e o resultado não se completa.

A criação de condições artificiais próximas das ideais é pertinente a inteligência de que os seres humanos são dotados.

Em resumo, a humanidade existe para imprimir no planeta uma dinâmica de evolução. Essa dinâmica, porem, não pode ser constituída pôr simples alterações que tornem, de modo geral, mas confortável a existência das pessoas, como se o planeta fosse apenas uma estalagem que alimentasse e alojasse a humanidade, provisoriamente.

A inteligência do ser humano, que dirige o poder de criar e transformar indica também que é possível, ao invés de simplesmente os seres humanos estarem alojados e alimentados provisoriamente na face do planeta, estejam construindo a casa ampla, limpa, confortável e duradoura, de modo que, cessado o desfrute de cada um o seu sucessor ou continuador dela desfrute nas mesmas condições.

É essa mesma inteligência, ou forca da vida inteligente, no sentido cíclico do perene reproduzir que origina as artificialidades da economia e do direito.

Artificialidades no sentido estrito de dar as coisas aparências e expressões antes não sensíveis, assim como a substituição da habilidade da telepatia por telefones celulares.[*]

A existência dos telefones celulares dependeu de grandes movimentos da inteligência e da criação de novos e intricados processos de reunir elementos da natureza e sobre eles atuar ate a obtenção do resultado desejado.

O desengano da natureza em relação ao telefone celular é demonstrado quando ela reage pôr não ter como reintroduzir nos seus ciclos originais o telefone findo.

A telepatia não deixava resíduos.

A comparação pode parecer primaria, mas serve para reflexão: quando elementos da natureza são reunidos em arranjos artificiais com uma nova expressão de utilidade e simples uso, mas o arranjo não contempla o ciclo em que o uso, podendo ser renovado seja um constante desfrute, acontece o esgotamento dos recursos. [6]

[6] Estado da Arte: Commodities Ambientais - Serrano Neves et al

[*] Adendo: Uma comissão européia está desenvolvendo legislação quanto à responsabilidade do produtor no descarte de seus manufaturados (WEEE - waste of electric & electronic equipment), onde é configurada a responsabilidade extensiva do produtor (EPR) na coleta do seu produto descartado, visando gerenciamento EoL ( End of Life product) para aumentar o uso de produtos reciclados e induzir o componente de risco.

Ilustração 3-1

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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Os três aspectos da função sociais da propriedade se superpõem e circunscrevem.

A função social da propriedade e o conjunto dos princípios gerais da atividade econômica se interceptam e dentro dessa interseção se aloja a função da propriedade rural.

A hipótese de existirem funções sociais da propriedade que não pertencem à zona de interseção é verdadeira para as organizações sociais não lucrativas e pessoas que exercem o voluntariado.

3.4 3.4 3.4 3.4 ---- DA FUNÇÃO SOCIAL NÃO ECONÔMICADA FUNÇÃO SOCIAL NÃO ECONÔMICADA FUNÇÃO SOCIAL NÃO ECONÔMICADA FUNÇÃO SOCIAL NÃO ECONÔMICA Com a vigência do Novo Código Civil começou a ser discutida a alteração

da denominação de “não lucrativa” para “não econômica” no tocante à finalidade das associações.

O Código Civil que perdeu a vigência não cuidava dessa finalidade das associações.

O Código Civil é uma lei que está subordinada à Constituição.

Vejamos o que diz a Constituição: Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,

aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

Art. 199 - A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.

Art. 213 - Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:

I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação;

II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades.

Vejamos o que diz alguma legislação inferior: Lei 9790/99 – Lei das OSCIPs

Art. 1º. Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei.

§ 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica de direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social.

Lei 9.637, de 15.05.98

Art. 2º São requisitos específicos para que as entidades privadas referidas no artigo anterior habilitem-se à qualificação como organização social:

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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I - comprovar o registro de seu ato constitutivo, dispondo sobre:

b) finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes financeiros no desenvolvimento das próprias atividades;

Lei nº 9.532, de 10.12.97

Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea "c", da Constituição, considera-se imune a instituição de educação ou de assistência social que preste os serviços para os quais houver sido instituída e os coloque à disposição da população em geral, em caráter complementar às atividades do Estado, sem fins lucrativos.

§ 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este artigo, estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:

a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados;

b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos seus objetivos sociais;

g) assegurar a destinação de seu patrimônio a outra instituição que atenda às condições para gozo da imunidade, no caso de incorporação, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a órgão público.

§ 3° Considera-se entidade sem fins lucrativos a que não apresente superávit em suas contas ou, caso o apresente em determinado exercício, destine referido resultado, integralmente, à manutenção e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais.

Decreto nº 50.517, de 02.05.61

Art. 2º - O pedido de declaração de utilidade pública será dirigido ao Presidente da República, por intermédio do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, provados pelo requerente os seguintes requisitos:

d) que não são remunerados, por qualquer forma, os cargos de diretoria e que não distribui lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou associados, sob nenhuma forma ou pretextos;

Vejamos o que diz o Novo Código Civil:

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

A primeira conclusão tirada é que a finalidade não-lucrativa, por força da Constituição, continua a existir.

A segunda conclusão tirada é que, também por força da Constituição, as entidades não-lucrativas poderão gerar excedentes financeiros de reaplicação obrigatória nos objetivos.

A legislação inferior explicita outros requisitos que distinguem a associação sem fins lucrativos da associação com fins lucrativos.

O Novo Código Civil classificou as pessoas jurídicas de direito privado em três espécies:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

Parágrafo único. As disposições concernentes às associações aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.

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Para as sociedades o Código Civel se valeu do Livro II – Do Direito de Empresa:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Dentro do Direito de Empresa disciplinou: Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a

contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

A conclusão a ser tirada é que a atividade econômica – que inclui a partilha dos resultados – está vedada às associações e fundações, e que, das disposições das associações que se aplicam subsidiariamente às sociedade, uma, evidentemente, sob pena de descaracterizar a empresa, não se aplica: finalidade não-econômica.

Outra disposição relativa às associações e fundações que consta da legislação inferior anterior ao Novo Código Civil, também por óbvio não se aplica às sociedades, sob pena de descaracterizar a empresa, que é a não partilha dos resultados.

A conclusão final é que o Novo Código Civil proíbe a formação de associações civis que partilhem resultados entre seus associados, porque esse atributo pertence exclusivamente às sociedades.

Alguma confusão residual poderia resistir se o legislador não tivesse tido o cuidado de explicitar no artigo 981 retro citado que a sociedade tem dois fins: atividade econômica e partilha de resultados.

Se verificado com atenção que os membros de uma associação de caridade contribuem com bens e serviços para o exercício da atividade (doação e voluntariado), produzem bens (agasalhos, por exemplo) e serviços (cuidados corporais em deficientes), e colocam esses bens e serviços em circulação, e que essa atividade, pela natureza, não produz resultados econômicos para os associados, será visto, com clareza, que não é a contribuição, produção ou circulação que caracteriza a atividade como econômica ou não econômica, e sim a destinação da contribuição, produção ou circulação, visto que o Novo Código Civil não estaria querendo impedir que uma associação beneficente adquirisse gesso e tintas, produzisse estátuas artesanais, as vendesse em um bazar e aplicasse os recursos para comprar agasalhos para seus velhinhos protegidos.

Com mais rigor técnico é possível afirmar que o valor social do trabalho e da livre iniciativa e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, respectivamente fundamento e objetivo da República, não podem sofrer limitações.

O Novo Código Civil estabeleceu, então, que as associações para fins não-econômicos distinguem-se por exclusão à vista das características estabelecidas no texto das sociedades com fins econômicos.

O novo diploma civil não afeta as não-lucrativas que atendam o disposto na Constituição e nas leis especiais, exceto no tocante à justa causa ou motivo grave, aspectos que poderiam ser resolvidos independente de comando explícito.

Nem mesmo na questão do quorum para destituição dos administradores ou alteração do estatuto o sistema anterior foi afetado, vez que sendo uma associação um exercício legal de direito constitucional, está subordinado a que os poderes decorrentes sejam exercidos conforme a Constituição, ou seja, democraticamente, caso em que a omissão da maioria desinteressada não pode impedir que a minoria interessa mantenha o curso e destino previstos. Assim, a legitimidade do quorum inferior a um terço estará consagrada se, existindo as convocações e acessibilidade regulares, a maioria que poderia comparecer para votar contra a isso não se prestar.

Não se pode esquecer que a Constituição existe.

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4 4 4 4 ---- RRRRESPONSABILIDADE SOCIALESPONSABILIDADE SOCIALESPONSABILIDADE SOCIALESPONSABILIDADE SOCIAL

A entrada no terceiro milênio foi uma excelente oportunidade para a criação da CF-2001, Certificação Constitucional de Cidadania: a certidão do registro de nascimento do brasileiro seria o diploma para ornamentar a parede. Assim, quando os cidadãos empreendessem a construção da sociedade livre, justa e solidária através da produção de bens e serviços poderiam receber a ISO-BRASIL.

A tabela a seguir mostra em linhas gerais que a Constituição da República contém exigências superiores aos requisitos da Certificação de Responsabilidade Social AS-8000.

Alguma coisa me diz que a CEPAA andou lendo a Constituição brasileira de 88.

Lançada em outubro de 1997 pela CEPAA - Council on Economics Priorities Accreditation Agency, atualmente chamada SAI – Social Accountability International, organização não-governamental norte-americana, a Social Accountability 8000 (SA8000) é o primeiro padrão global de certificação de um aspecto da responsabilidade social de empresas. Tem como foco a garantia dos direitos dos trabalhadores envolvidos em processos produtivos, promovendo a padronização em todos os setores de negócios e em todos os países.

Atualmente a SAI possui o papel de promover e estimular a implementação da norma no mundo todo, além de credenciar organizações qualificadas para certificação.

4.1.1 4.1.1 4.1.1 4.1.1 ---- TABELA XXTABELA XXTABELA XXTABELA XX

Requisitos Requisitos Requisitos Requisitos SA8000SA8000SA8000SA8000

CONSTITUIÇÃOCONSTITUIÇÃOCONSTITUIÇÃOCONSTITUIÇÃO

Trabalho infantil

Art. 227. § 3º. I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; Art. 7º. XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

Trabalho forçado Art. 5º. XLVII - não haverá penas: c) de trabalhos forçados; Art. 7º. XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;

Saúde e segurança Art. 7º. XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

Liberdade de associação e negociação coletiva

Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

Discriminação Art. 7º. XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Práticas disciplinares Legislação Trabalhista

Horário de trabalho Art. 7º. XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

Remuneração

Art. 7º. IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Sistemas de gestão CAPÍTULO II - DOS DIREITOS SOCIAIS

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0BS: A coluna da direita contém apenas parte das prescrições

SA8000: Gestão da responsabilidade social empresarial interna - Informações gerais para a implementação da norma - Produzido por BSD Brasil.-Pode ser reproduzido desde que citada a fonte

Lida ou não a Carta Magna, o certo é que a tradicional segmentação em “vou cuidar do meu lado”, do “não é problema meu” e do “é problema do governo”, também segmenta o conhecimento, e o resultado foi que os da economia não perceberam que a Constituição, no que aponta como proteção dos indivíduos e da sociedade, é um repositório de princípios de desenvolvimento econômico.

O fundamento (art. 1º, III, CF) da dignidade da pessoa humana não precisa de regulamentação, mas, pesquisando no texto da BSD Brasil sobre gestão da responsabilidade social, não foram encontradas as seguintes palavras: dignidade, cidadania, bem estar, solidária, dentre outras que a Carta Magna contém. A conclusão que tiro dessa ausência não escapa do panorama cultural: constituição e negócios não se misturam, embora devessem se misturar.

O Brasil, sem dúvida, poderia ter construído sua própria Responsabilidade Social ao invés de importar a Social Accountability.

... o Balanço Patrimonial, que reflete a situação econômico-financeira das empresas, ou mais

precisamente seus bens, direitos e obrigações, poderia discriminar entre os bens e direitos (Ativo) as aplicações de recursos cujo objetivo básico esteja relacionado à proteção, recuperação e restauração ambiental, como os investimentos em estoques de insumos preventivos aos efeitos poluentes; e em bens de longa duração, que serão utilizados no processo de contenção/eliminação da poluição. Estas informações traduziriam o empenho prático da organização no sentido de melhorar a qualidade ambiental do planeta e, por conseguinte, demonstrar sua responsabilidade social, além de servir de parâmetro para a melhoria de suas congêneres. [13]

[13] BALANÇO SOCIAL, autores: MAISA DE SOUZA RIBEIRO e LÁZARO PLÁCIDO LISBOA

5 5 5 5 ---- RESPONSABILIDADE AMBIENTALRESPONSABILIDADE AMBIENTALRESPONSABILIDADE AMBIENTALRESPONSABILIDADE AMBIENTAL

O tema é bem trabalhado por vários autores, de modo que os comentários a serem acrescidos são localizados nos reflexos das práticas da responsabilidade ambiental na externalidade da produção, aumentando a extensão do item “c” do texto [8], e antecipando a visão do Prof. Lopes de Sá citado no texto [15].

Tomando a idéia simples de que a pessoa que toma um banho se sente melhor e prefere vestir roupas limpas, e que essa externalidade, além de pedir outras coisas limpas ao redor (environmental) traz um ganho de qualidade no relacionamento com outras pessoas e coisas.

Essa cadeia de limpeza e ganho pode servir de modelo para a empresa, principalmente para as minúsculas formais e informais para as quais não existe teoria desenvolvida como existe para as pequenas, médias e, principalmente para as grandes.

Falar em responsabilidade ambiental com um monte de dinheiro nos costados ou esperando que o governo o proveja é fácil, mas não creio seja difícil – com metodologia e instrumentos adequados – conduzir a que o vendedor de pastéis na esquina seja ambientalmente responsável (seus clientes também) e deixe o chão limpo ao final do dia.

Vale à pena apostar no somatório dessas práticas minúsculas como uma das políticas de responsabilidade ambiental, vez que sem elas teríamos ilhas de bem estar para humanos especiais cercadas de um mar de mal estar para todos.

O conceito de LCA (Life, Cycle Approach), é abordado pelo Professor James Fava et al, no seu

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artigo “Conceito, Metodologia ou Estratégia?" *, onde basicamente apresenta duas visões a respeito:

Conceitual - processo pertinente à seleção de opções para planejamento e melhorias.

Metodológica - onde uma forma de constituir o inventario ambiental quanti-qualitativo da carga incidente e das liberações, avalia o impacto destas e identifica as alternativas para melhorar o desempenho ambiental.

Nos EEUU a opinião dos envolvidos tende para a visão conceitual, mas sabemos que tais abordagens não são exclusivas, pois o impacto vital de um produto (do berço ao tumulo) considera desde a aquisição de matéria prima, passa pela fase de produção/manufatura, até descarte ou recuperação.

As perguntas críticas que levantamos são:

a) A organização dispõe de estratégia ambiental explícita?

b) Prevê para ambiente, saúde, segurança e tópicos de apoio?

c) Inclui o reconhecimento das atividades organizacionais extrapolando a área de manufatura?

d) Seus tópicos ambientais são correlacionados com sua estratégia de negócios e planejamento?

e) Foram determinados os elos de ligação de seus tópicos ambientais com seu produto e com o processo de planejamento e de desenvolvimento? [8]

[8] Journal of Industrial Ecology - vol. 1 number 2 - School of Forestry and Environment Studies - Yale University - MIT press

5.1 5.1 5.1 5.1 ---- INDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTEINDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTEINDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTEINDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTE O Prof. Lopes de Sá demonstrou a preocupação social da Escola Neopatrimonialista na sua

magnífica obra Teoria Geral do Conhecimento Contábil onde diz em sua grande síntese filosófica: "Quando a soma da eficácia de todos os patrimônios implicar na soma da eficácia de todas as células sociais, em regime de harmônica interação, isto implicará, logicamente, na eficácia social, o que equivalerá à anulação das necessidades materiais da humanidade".

O patrimônio quando aumenta sua dinâmica por influência ambiental exógena ou endógena, com eficácia e prosperidade, adquire capacidade para auxiliar a outras células de finalidade ideal, como, por exemplo, as instituições filantrópicas, pagar melhores salários ao seu pessoal, contribuir com mais taxas e impostos ao governo, ampliar seus negócios, aumentar a expansão com filiais na comunidade onde está inserida como em outras cidades, auxiliando seu pessoal na capacitação intelectual por meio de cursos e até aperfeiçoamento no exterior. Poderá, também, em decorrência, dar mais estabilidade ao pessoal interno, as famílias destes e a terceiros que em seu ambiente se beneficiam da prosperidade patrimonial. [15]

[15] Patrimônio: sua função social e ambiental - Werno Herckert - Membro da Academia Brasileira de Ciências Contábeis - Membro da Associação Científica Internacional Neopatrimonialista

Dentre as atividades da necessária administração ambiental podemos sugerir que as empresas tentem: minimizar o impacto dos resíduos da produção no ambiente; reciclar e reutilizar produtos, bem como elaborar sua contabilidade ambiental colocando no ativo o imobilizado referente aos equipamentos adquiridos visando à eliminação ou redução de agentes poluidores com vida útil de um ano; os gastos com pesquisas e desenvolvimento de tecnologias a médio e longo prazos; os estoques relacionados com o processo de eliminação dos níveis de poluição; creches, empregos gerados, áreas verdes etc. e no passivo toda agressão que se pratica ou praticou contra o Meio Ambiente; o valor dos investimentos para reabilitá-lo; as multas; indenização; gastos com projetos e licenças ambientais; restrições a empréstimos, entre outros, conforme normas da Ibracon- Instituto Brasileiro de Contabilidade (NP 11 ).

Precisar com exatidão um preço para um benefício ambiental, ou de outra forma, avaliar o benefício da implantação de um projeto que vise melhorar o bem-estar social através da qualidade do meio-ambiente é uma tarefa difícil, considerando a não existência de um mercado para esses bens, em geral. Torna-se necessário formular um método que forneça condições de associar valores monetários, caso existisse um mercado competitivo, para tais bens ou serviços.

...

Trata-se, sobretudo, de uma tentativa de incorporação de variáveis ambientais à análise de projetos, discutindo-se as suas aplicações. Serão esclarecidas, inicialmente, algumas noções básicas

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de Economia do Bem Estar que dá sustentação teórica a avaliação social de projetos.

...

A metodologia dos custos de reconstrução é uma técnica que pode ser aplicada aos mercados ditos convencionais para se obter uma estimativa do valor da agregação ambiental. A idéia central é a de que se um bem ou um recurso ambiental for danificado ou destruído, o seu valor será calculado com base nos custos de reconstrução desse mesmo recurso. Isto é, se no futuro verificar-se que é necessário a reimplantação deste bem destruído por um equivalente que produza os mesmos serviços do anterior. O fundamento teórico é que os benefícios proporcionados pelos recursos ambientais devem ter pelo menos, o mesmo valor que os custos incorridos na sua reimplantação. Essa metodologia tem sido aplicada na avaliação de recursos nas Filipinas, através da determinação dos custos do desenvolvimento alternativo para recursos hídricos.

...

A qualidade ambiental e os bens negociados no mercado têm uma complementaridade indiscutível, seja em que grau for, no entanto, a teoria não consegue ainda orientar e determinar com precisão as variações na função demanda como resposta à mudança na qualidade do meio ambiente. [17]

[17] METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE ATIVOS AMBIENTAIS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS MEDIDAS - José Artur Vieira Eustáchio - [email protected] - José Lamartine Távora Junior [email protected]

As políticas monetaristas do FMI e do Banco Mundial só têm aumentado a destruição, anunciando sua própria falência como instituições pretensamente transnacionais. É preciso, então, que se estabeleçam regras não-especulativas para os fluxos de capital no Planeta, em consonância com os tratados da ONU e seus critérios sobre desenvolvimento humano (sustentável).

Deste modo, poderá ser criada uma maior estabilidade mundial, por meio da cooperação internacional no Século 21. Dito isto, as mudanças administrativas, jurídicas e políticas mais urgentes são aquelas relativas às recomendações logo a seguir.

“Entre os bens públicos internacionais básicos que compete a governança econômica global proporcionar figuram:” “estabilidade financeira sistêmica”: um sistema monetário estável com capacidade de lidar crises e choques sistêmicos, e regulamentação prudente dos mercados financeiros internacionais; “infra-estrutura e instituições”: padrões comuns para pesos e medidas, “tempo e outras especificações técnicas”, além de sistemas consensuais; “meio ambiente”: mediante a proteção dos bens comuns globais e a adoção de políticas conducentes ao desenvolvimento sustentável, e; “equidade e coesão social”: mediante a cooperação econômica em seu sentido mais amplo.Desenvolvimento dos conceitos.

...

Eis algumas propostas de transição ao novo padrão:

...

• Bolsas de mercadorias e de futuros deverão referenciar-se em classificações de eco-eficiência e não em taxas de juros. Grande importância como indutor desta mudança terão os “Fundos Verdes” já existentes.

Os Fundos de Pensão podem converter-se num tipo de seguro ecológico, para estimular a confiança no novo sistema, pois não há maior segurança previdenciária para o futuro do que garantir a sua vida e a de seus descendentes na Terra. [18]

[18] Da necessidade de um novo Padrão Monetário Ecológico - Marcus Azaziel - Revista de Ecologia do Século 21

6 6 6 6 ---- VISÃO DOS DOUTRINADORESVISÃO DOS DOUTRINADORESVISÃO DOS DOUTRINADORESVISÃO DOS DOUTRINADORES

6.1 6.1 6.1 6.1 ---- IMPACIMPACIMPACIMPACTOSTOSTOSTOS El objetivo de este ensayo es establecer los efectos de la problemática social que se ha venido

desarrollando en América Latina durante la última década, por todo un conjunto de factores que han llevado a la mayoría de los países a implementar diferentes políticas y estrategias para la consecución de sus metas, a nivel micro y macro, que han afectado de una manera significativa los procesos de

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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relación que se presentan en la colectividad de cada uno de ellos, entre estos podemos denotar un elevado aumento en la polarización del ingreso, aumento de la pobreza, una explosión demográfica creciente, un deterioro del medio ambiente y muchas otras que en la actualidad son de vital importancia para el desarrollo y crecimiento de una comunidad.

También se debe tener en cuenta la metodología de evaluar y revelar las formas en las que se miden los impactos de cada uno de los actores principales de la problemática, ya que al tratar de solucionar estos impactos frente a la sociedad y al entorno que lo circunda, por ser estos parte de una colectividad y que de una u otra manera interfieren en los procesos de su consolidación como tal, estarán en la obligación de responder frente a esta por los actos que contra ella cometan.

Después de haber establecido esta relación, se pretende establecer el impacto que han tenido las políticas sobre el medio que nos rodea, y si este crecimiento que se pretende obtener con tales reformas son "sostenibles" por la sociedad, tomando como base para esto los diferentes instrumentos y estrategias para el control y protección ambiental, así como la medición de estos.

http://www.gestiopolis.com/educacion/ - CONTABILIDAD SOCIOECONÓMICA Y PROBLEMÁTICA AMBIENTAL

As organizações de modo geral e as empresas de modo especial são instituições complexas e experimentam constantes transformações.Elas vêm adotando novas propostas de gestão que estão sendo idealizadas e divulgadas de forma cada vez mais rápida.

Independentemente do tipo jurídico e de seus objetivos, sejam com fins lucrativos ou fins puramente sociais, as organizações não são ilhas isoladas que não se relacionam com outras organizações, com a comunidade ou ainda com o meio ambiente onde se localizam. Ou seja, não são sistemas organizacionais fechados.Pelo contrário, são sistemas abertos.

Sob o ponto de vista sistêmico, as organizações são tipificadas como sistemas abertos, pois, de acordo com BIO (1991), compreendem um conjunto de partes em constante interação, constituindo um todo orientado para determinados fins e em permanente relação de interdependência com o ambiente externo.

Mudanças de fatores externos à organização implicam alterações no ambiente interno das mesmas. Quanto aos fatores externos, o autor supra mencionado, refere alterações nas reservas de recursos naturais, modificações nas leis e regulamentos, condições de competições, inovações tecnológicas, mudanças das condições sócio-políticas, além de novas tecnologias de gestão empresarial. Aspectos diversos contribuem para tais mudanças.

...

A utilização racional dos recursos naturais, redução drástica de produtos poluidores, poluição das águas, crescimento populacional e planejamento familiar, preservação e recuperação do meio ambiente são expressões que deixaram de ser “chavões retóricos”.Ações para minimizar tais aspectos já estão sendo praticadas. Talvez não no nível desejado e necessário, mas há um movimento crescente de conscientização, inclusive nas empresas uma vez que tais aspectos, mesmo nas atividades industriais e comerciais com fins lucrativos, devem ser observados com vistas a um desenvolvimento sustentável.

A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE E PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE http://www.icteba.org.br/upload/Trabalho_download/Trab.151.doc

6.2 6.2 6.2 6.2 ---- CONTABILIDADE E MEIO AMBIENTECONTABILIDADE E MEIO AMBIENTECONTABILIDADE E MEIO AMBIENTECONTABILIDADE E MEIO AMBIENTE O aumento em nível mundial dos danos ambientais causados pelo desenvolvimento

principalmente nos países do primeiro mundo, bem como a crescente conscientização planetária da necessidade de se encontrar barreiras às ações agressivas ao ambiente, surgiu a preocupação de se tentar diminuir o impacto ambiental direto produzido pelos frutos desse desenvolvimento, que são os seus produtos. Conseqüentemente as indústrias foram forçadas por esta nova conscientização a adaptarem-se a uma nova realidade mais condizente com os anseios de preservação, sob pena de perda de competitividade. [14]

[14] INDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTE - ©Copyright 1999/2001 by Antônio Silveira R. dos Santos (Programa Ambiental: A Última Arca de Noé).

6.3 6.3 6.3 6.3 ---- ATIVOS AMBIENTAISATIVOS AMBIENTAISATIVOS AMBIENTAISATIVOS AMBIENTAIS

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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As características dos ativos ambientais são diferentes de uma organização para outra, pois a diferença entre os vários processos operacionais das distintas atividades econômicas devem compreender todos os bens utilizados no processo de proteção, controle, conservação e preservação do meio ambiente.

Maria Elisabeth Pereira Kraemer - [email protected]. - www.monografias.com

É considerado ativo ambiental todos os bens e direitos destinados ou provenientes da atividade de gerenciamento ambiental, podendo estar na forma de capital circulante ou capital fixo.

O capital circulante (capital de giro) é o montante aplicado para a realização da atividade econômica da empresa, sendo composto pelas disponibilidades e pelos ativos realizáveis a curto e longo prazo.

Contabilidade Ambiental: Um Estudo sobre sua Aplicabilidade em Empresas Brasileiras.º Seminário USP de Contabilidade - Autores: Adalto de Oliveira Santos, Fernando Benedito da Silva, Synval de Souza, Prof. MS Marcos Francisco Rodrigues de Sousa

6.4 6.4 6.4 6.4 ---- PASSIVOS AMBIENTAISPASSIVOS AMBIENTAISPASSIVOS AMBIENTAISPASSIVOS AMBIENTAIS Quanto ao Passivo Ambiental, conceitua-se como toda a agressão que se pratica ou praticou

contra o Meio Ambiente, que podem ser entre outros: - o valor dos investimentos para reabilitá-lo, - as multas, indenização, - os gastos com projetos e licenças ambientais, - as restrições a empréstimos. [16]

[17] METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE ATIVOS AMBIENTAIS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS MEDIDAS - José Artur Vieira Eustáchio [email protected] - José Lamartine Távora Junior [email protected]

Passivo ambiental é toda obrigação contraída voluntária ou involuntariamente, destinada à aplicação em ações de controle, preservação e recuperação do meio ambiente, originando, como contrapartida, um ativo ou custo ambiental.

Na opinião do IBRACON (1996, p.5), “O passivo ambiental pode ser conceituado como toda agressão que se praticou/pratica contra o meio ambiente e consiste no valor de investimentos necessários para reabilitá-lo, bem como multas e indenizações em potencial”.

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6.5 6.5 6.5 6.5 ---- CONTABILIDADE AMBIENTALCONTABILIDADE AMBIENTALCONTABILIDADE AMBIENTALCONTABILIDADE AMBIENTAL Na avaliação de Martins e De Luca (1994, p.25), “As informações a serem divulgadas pela

contabilidade vão desde os investimentos realizados, seja em nível de aquisição de bens permanentes de proteção a danos ecológicos, de despesas de manutenção ou correção de efeitos ambientais do exercício em curso, de obrigações contraídas em prol do meio ambiente, e até de medidas físicas, quantitativas e qualitativas empreendidas para sua recuperação e preservação”.

Teoricamente, parece ser fácil seu entendimento e sua aplicação, mas, na prática são encontradas várias dificuldades que impedem o seu uso. A principal delas é a segregação das informações de natureza ambiental das demais informações gerais da empresa, bem como sua correta classificação e avaliação contábil.

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6.6 6.6 6.6 6.6 ---- RECEITA AMBIENTALRECEITA AMBIENTALRECEITA AMBIENTALRECEITA AMBIENTAL Segundo o IASC (apud IUDÍCIBUS & MARION, 2000, p.173), a receita pode ser definida como:

“(...) o acréscimo de benefícios econômicos durante o período contábil na forma de entrada de ativos ou decréscimo de exigibilidade que redunda num acréscimo do patrimônio líquido outro que não o relacionado a ajustes de capital (...)”.

O objetivo principal da implantação da gestão ambiental não é gerar receita para a empresa, e sim desenvolver uma política responsável acerca dos problemas ambientais. Mas isto não impede que a empresa tire algum proveito econômico deste processo

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6.7 6.7 6.7 6.7 ---- CUSTOS E DESPESAS AMBIENTAISCUSTOS E DESPESAS AMBIENTAISCUSTOS E DESPESAS AMBIENTAISCUSTOS E DESPESAS AMBIENTAIS Custos e despesas ambientais são gastos (consumo de ativos) em aplicação direta ou indireta

no sistema de gerenciamento ambiental do processo produtivo e nas atividades ecológicas da empresa. Aplicados diretamente na produção, estes gastos são classificados como custo; de forma indireta, como despesa.

Na visão de Ribeiro (1992, p.80), “O valor dos insumos, mão-de-obra, amortização de equipamentos e instalações do processo de preservação, proteção e recuperação do meio ambiente, bem como serviços externos e os gastos para realização de estudos técnicos sobre a metodologia e procedimentos adequados podem constituir-se em exemplos de custos e despesas ambientais”.

É importante ressaltar, também, que os custos ambientais podem ser classificados em custos internos (privados) e custos externos (sociais).

Custos internos são aqueles tradicionais, contabilizados ao longo do processo produtivo, os quais servem de base para a determinação do preço de venda dos produtos. Exemplo: matéria prima, mão-de-obra, depreciação de equipamentos, etc. Geralmente, as empresas não encontram maiores dificuldades em identificá-los e controlá-los.

Custos externos, de acordo com a U.S. EPA (1995, p.34), são aqueles gerados pelo impacto da atividade da empresa no meio ambiente e na sociedade, pelos quais a companhia não se responsabiliza financeiramente, por exemplo: o custo com tratamento de doenças respiratórias ocasionadas pela poluição do ar.

Segundo Martins e Ribeiro (1995, p.31), “Nunca se imputou, e ainda não se imputa à mercadoria produzida, todos os custos necessários à sua elaboração, pois a empresa agrega ao seu custo de produção somente o valor de insumos que representam desembolso financeiro por parte da empresa, ou seja, aqueles pelos quais efetivamente ela paga. Não são computados gastos futuros que a sociedade terá para repor esses bens, menos ainda o quanto a sociedade futura sofrerá para não tê-los à disposição, quando não renováveis”.

Porque a identificação e mensuração dos custos sociais são consideradas um dos principais desafios, atualmente, para a Ciência Contábil, devem ser objeto de estudos mais aprofundados.

Contabilidade Ambiental: Um Estudo sobre sua Aplicabilidade em Empresas brasileiras.º Seminário USP de Contabilidade - Autores: Adalto de Oliveira Santos, Fernando Benedito da Silva, Synval de Souza, Prof. MS Marcos Francisco Rodrigues de Sousa.

....

Os seres humanos são parte integrante da natureza e, portanto, não são capazes de criá-la. Porém, alterações que a transformem, modificando a sua estrutura, provocará impacto ambiental, constituindo-se das reações do meio ambiente, em decorrência das agressões sofridas nos ecossistemas preexistentes por agentes estranhos e modificadores e que poderão afetar a qualidade de vida, tornando-a prejudicial aos seres vivos.

...

A identificação dos custos ambientais ainda é tarefa difícil, já que não temos como mensurar muito de seus componentes, tidos até hoje como intangíveis. Ocorre na verdade, mais uma identificação e mensuração dos custos referentes as externalidades, ocasionadas pelos impactos decorrentes da má utilização do meio ambiente, ou a apuração dos custos envolvidos na preservação do meio ambiente. Esses poderão ser incorporados ao custo total, à medida que vão ocorrendo, para as empresas que realmente adotam uma gestão ambiental eficiente.

A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO PARA MELHORIA DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS http://www.icteba.org.br/upload/Trabalho_download/Trab.134.doc

6.8 6.8 6.8 6.8 ---- BALANÇO SOCIALBALANÇO SOCIALBALANÇO SOCIALBALANÇO SOCIAL Balanço Social é o nome dado à publicação de um conjunto de informações e de indicadores

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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dos investimentos e das ações realizadas pelas empresas no cumprimento de sua função social junto aos seus funcionários, ao governo e às comunidades com que interagem, direta e indiretamente.

Desta forma, o Balanço Social é um instrumento de demonstração das atividades das empresas, que tem por finalidade conferir maior transparência e visibilidade às informações que interessam não apenas aos sócios e acionistas das companhias (shareholders), mas também a um número maior de atores: empregados, fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade (stakeholders).

Aos agentes externos às empresas, o Balanço Social visa dar conhecimento daquelas ações empresariais que tem impactos não apenas no desempenho financeiro, mas também na relação capital-trabalho e na geração ou não de riqueza e bem-estar para a sociedade.

O Balanço Social, como instrumento de divulgação deste tipo de informação, pode contribuir para reforçar a imagem institucional de corporações ou das marcas e produtos a elas associados, na medida em que se apresente não apenas como mais um atributo de marketing, mas como um demonstrativo da efetiva responsabilidade social assumida e praticada pela empresa e, como tal, entendida e reconhecida pela sociedade.

BALANÇO SOCIAL E OUTROS ASPECTOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA - RELATO SETORIAL Nº 2 - AS/GESET

7 7 7 7 ---- PLATAFORMA SÓCIOPLATAFORMA SÓCIOPLATAFORMA SÓCIOPLATAFORMA SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL

Ilustração 7-1

Espaço geo-político que sofre a influência das atividades humanas, da qual

afluem as energias a serem refinadas e para qual efluem os resíduos ou energia degradada.

O diagrama a seguir mostra um ciclo de produção, mas sua estrutura representa qualquer forma de energia, como por exemplo, a informação.

A árvore representa a fonte ou depósito de energia afluente da produção e, no curso de afluência deve gerar algum bem estar (renda, conservação).

A produção (processo de refinamento que incorpora trabalho e gera renda

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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e lucro) possui componentes internos que constituem um subsistema de mesma estrutura, e gera um efluente, ou produto principal, mas deve gerar algum bem estar adicional (satisfação pessoal).

O afluente principal, ou produto principal é transferido para a plataforma social onde se insere no rol das utilidades a serem desfrutadas pela comunidade.

A comunidade desfrutará das utilidades através da capacidade e da razoabilidade (produtos da educação que é um outro subsistema) de modo a proporcionar o bem estar para todos.

O sistema apresentado gera muitas formas de resíduos, ou energias degradadas, que devem ser submetidos a tratamento para serem reincorporados na fonte ou depósito.

Ilustração 7-2

Em linguagem eMergética, conforme Enrique Ortega (Laboratório de Engenharia Ecológica - FEA/Unicamp), seria assim:

Ortega explica: Análise Emergética: É o processo de representar um ecossistema em forma de um diagrama

de redes no qual as linhas correspondem a fluxos de energia e as conexões representam os processos de interação e os componentes do sistema. Todas as entradas no sistema são convertidas em fluxos de emergia, considerando a energia que foi necessária para produzi-los. Os sistemas são avaliados usando índices emergéticos.

A análise eMergética se apresenta para mostrar os fluxos e suas intercessões e para resolver as equações de avaliação dos ativos e passivos ambientais, como por exemplo, estimar a perda de recursos não renováveis numa cultura de soja (perda de solo, nutrientes, biodiversidade etc) em US$ 249,50; US$ 173,30; e US$ 9,70 por hectare/ano nas formas química, herbicida e orgânica, respectivamente.

(AVALIAÇÃO ECOSSISTÊMICA - EMERGÉTICA DE PROCESSOS AGRÍCOLAS E AGROINDUSTRIAIS. ESTUDO DE CASO: A PRODUÇÃO DE SOJA. Enrique Ortega, Mariana Miller. FEA-Unicamp, CP 6121 - 13083-970 Campinas, SP, Brasil.)

A visão completa do que é eMergia está em:

http://www.unicamp.br/fea/ortega/homepage.htm

O autor obteve certificação no curso de Análise Emergética de Projetos

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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para Desenvolvimento Sustentável ministrado pelo Prof. Ortega.

7.1 7.1 7.1 7.1 ---- AFLUENTES E EFLUENTESAFLUENTES E EFLUENTESAFLUENTES E EFLUENTESAFLUENTES E EFLUENTES A proposta tem como centro o balanço de sustentabilidade de uma

atividade, com enfoque no impacto do fluxo de afluentes/efluentes na plataforma sócio-ambiental, convindo firmar que o sócio-ambiental – ou simplesmente meio-ambiente – significa, no desenvolvimento do conceito, o entorno da pessoa humana, e os intervalos de interesse dimensionados numa escala do mínimo entorno do corpo (a pele limpa vestida com roupa limpa) da pessoa humana (mente limpa) até o entorno universal do corpo (o planeta Terra como limite, até o momento, da influência humana ambientalmente significativa).

Sem a pretensão de estabelecer um modelo, a proposta é dirigida para melhorar as relações de produção e da produção com o sócio-ambiental, numa economia de mercado na qual a demanda pelo bem estar está a exigir uma oferta que a satisfaça.

Assim, a pessoa humana é colocada como usufrutuária dessa nova economia, num modelo condominial no qual as frações comuns devem ser dimensionadas para sustentabilidade do complexo de frações privativas, todas assentadas na mesma plataforma.

Num modelo artificial de afluência e efluência o meio-ambiente cede energia e recebe energia com sacrifício de recursos na medida em que os efluentes não realimentam os afluentes. O sacrifício de recursos tem sido tem acontecido na inconsciência da esgotabilidade, a par da existência de um modelo natural, o ciclo da água, cuja fonte de energia externa, o Sol, além de ser um elemento do sistema, tem inesgotabilidade inestimável em relação à Terra.

7.2 7.2 7.2 7.2 ---- VALORAÇÃO DOS AFLUENTES E EFLUENTESVALORAÇÃO DOS AFLUENTES E EFLUENTESVALORAÇÃO DOS AFLUENTES E EFLUENTESVALORAÇÃO DOS AFLUENTES E EFLUENTES É proposta a avaliação dos afluentes e efluentes em seus impactos de

drenagem de recursos e dispersão de resíduos. (fig. 5) “Então, há um sobreuso de recursos muito além da capacidade de recomposição da biosfera

que estamos fazendo em nossa sociedade de consumo – por um lado, esgotando recursos e, por outro, dispersando-os e criando o terrível problema que é saber o que fazer com os resíduos” [7]

[7] Washington Novaes, falando na Associação Goiana do Ministério Público. Revista da AGMP Ano I, nº . 4

A metodologia para avaliação constitui um desafio de grande proporção e deverá ser enfrentado pelos especialistas que já se orientam pelos custos de reconstrução ambiental, mas existem recursos que não podem ser gerados pela construção humana, tais como o ciclo das águas e a luz solar.

Alguns cuidados devem ser acrescidos às políticas e às ações de reconstrução através de modificações no panorama legal para evitar que o empreendedor, por exemplo, adquira reserva florestal na Amazônia e desmate totalmente suas terras de cerrado, produzindo um desequilíbrio nestas sob o argumento de estar conservando a outra. De um modo geral, resulta mais consistente que a conservação aconteça no mesmo sistema da exploração.

O social, no entanto, acrescenta novas e complexas variáveis na equação: 1. do lado da exploração a drenagem de recursos e da deposição de

resíduos diminui a capacidade da plataforma sustentar a sociedade, afetando o bem estar (qualidade de vida), e isto acontece de modo quase criminoso, pois os danos só se tornam visíveis (ou sensíveis), em regra, em longo prazo, quando já são irreversíveis ou de altíssimo custo de reversão;

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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Ilustração 7-3

2. do lado da conservação (ou da recuperação) o volume de ações de educação ambiental realizadas em favor da qualidade de vida tende a fazer com que os custos futuros sejam minimizados. Uma empresa que ministre educação ambiental ao seu corpo de trabalho para recuperar ou conservar ou melhorar o seu espaço interno de produção, sabe que está formando capital humano que renderá várias qualidades valoráveis. A formação desse capital no espaço externo renderá uma uniformidade espacial favorável à produção (minimização dos custos internos) e consumo (maximização da busca pela qualidade de vida), numa boa relação para a economia.

Os pessimistas radicais poderiam dizer que a proposta aumenta a exploração do ser humano, já que coloca a sociedade a serviço dos ganhos empresariais. No entanto, basta observar que as relações na sociedade são relações de direitos e deveres: a cada direito corresponde um dever e uma ação para fazê-lo valer. Isto não vale apenas para o campo jurídico ou judicial, vale, por exemplo, quando se senta à mesa para uma refeição em família: a pessoa encarregada de prepará-la tem um dever em relação aos que tem o direito de comer; os que têm o direito de comer tem o dever de não sobrecarregar o preparador, e assim por diante. Mesmo os que se acham com o direito de fazer o que bem entenderem sucumbem ao dever de pagar para que os outros cuidem dos seus malfeitos.

Já foram vistos alguns casos em que a qualidade interna da empresa produz efeitos negativos quando não acompanhada de uma qualidade externa próxima ou equivalente. Não foram pesquisados de forma científica, de modo que são tratados apenas como sinais: a alimentação que o empregado recebe da empresa é mais farta e de melhor qualidade que a da sua família; um caso verificado de empregado que foi demitido por ter escondido no bolso o seu bife para levar para o filho; a assistência proporcionada ao empregado comprometendo sua posição no grupo ao qual pertence, frase ouvida: “esse não é mais dos nossos, trata dos dentes e tem médico de graça”.

No senso comum da força de trabalho, com uma cultura ainda rala (apenas 500 anos de desenvolvimento), as empresas que praticam ações de

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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responsabilidade social ou ambiental acabam ocupando o segundo lugar na hierarquia. O primeiro lugar é de “Deus”.

O valor da pessoa humana é inestimável, mas o potencial das pessoas capacitadas para produzirem o bem estar já é avaliável como capital humano desde o tempo em que foi inventado o valor do “passe” dos jogadores de futebol que produzem vitórias e alegria para as torcidas e, sejamos claros, de outros profissionais qualificados que produzem ganhos para a empresa e satisfação para os consumidores dos produtos.

8 8 8 8 ---- VISÃO SÓCIOVISÃO SÓCIOVISÃO SÓCIOVISÃO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL

8.1 8.1 8.1 8.1 ---- AFLUENTESAFLUENTESAFLUENTESAFLUENTES

Ilustração 8-1

Elementos oriundos das matrizes ambientais (água, energia, madeira, minério etc.), na forma bruta ou refinada, destinados primariamente para formação do produto principal ou, secundariamente, destinados para formação do produto social. Considera-se pela sua origem elementar e não pela forma atual de ingresso.

8.2 8.2 8.2 8.2 ---- EFLUENTESEFLUENTESEFLUENTESEFLUENTES

Ilustração 8-2

Elementos oriundos da plataforma de produção que retornam para a plataforma sócio-ambiental sob a energia degradada.

8.3 8.3 8.3 8.3 ---- Produto principalProduto principalProduto principalProduto principal

Ilustração 8-3

Bens ou serviços destinados ao comércio, produzidos ou prestados com o fim auferir lucro, e que são distribuídos nos círculos das pessoas, contribuindo de forma difusa para a sustentação e bem estar.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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8.3.1 8.3.1 8.3.1 8.3.1 ---- Produto socialProduto socialProduto socialProduto social

Ilustração 8-4

Bens ou serviços não destinados ao comércio, produzidos ou prestados com o fim de proporcionar o bem estar das pessoas próximas ou remotas e que são alocados ou tem incidência nos círculos de entorno.

8.3.2 8.3.2 8.3.2 8.3.2 ---- Bem estarBem estarBem estarBem estar

Ilustração 8-5

Estado de satisfação das pessoas como conseqüência do usufruto de bens

e serviços, e pela livre circulação na plataforma sócio-ambiental.

8.4 8.4 8.4 8.4 ---- PASSIVO SÓCIOPASSIVO SÓCIOPASSIVO SÓCIOPASSIVO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL Valores desagregados da plataforma sócio-ambiental pela drenagem de

recursos ou seus efeitos, e custos deferidos pelo não tratamento e pela deposição ofensiva de resíduos.

Constituído pela avaliação do impacto cumulativo que a atividade cause no ambiente e na sociedade, sejam impactos de natureza material como degradação, acumulação de resíduos, drenagem de recursos etc.ou de natureza imaterial como alterações sensíveis na dinâmica social representadas principalmente pela geração de novas necessidades sociais.

Ilustração 8-6

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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8.5 8.5 8.5 8.5 ---- ATIVOS SÓCIOATIVOS SÓCIOATIVOS SÓCIOATIVOS SÓCIO----AMBIENTAISAMBIENTAISAMBIENTAISAMBIENTAIS Valores agregados à plataforma sócio-ambiental pela comunidade,

impactante e impactada, para diminuir a drenagem de recursos ou seus efeitos, para minimizar a geração e maximizar o tratamento e depósito inofensivo dos resíduos, e para formação das cadeias de realimentação.

Constituído pela avaliação do impacto cumulativo que a atividade cause no ambiente e na sociedade, sejam impactos de natureza material como preservação, conservação, recuperação, inofensivação, reciclagem, realimentação etc. ou de natureza imaterial como suprimento sensível de recursos para satisfação das novas necessidades sociais geradas pelo passivo, e formação da cultura para a fixação dos resultados positivos do balanço.

O conceito alinhavado traz à conta que os empreendimentos acontecem na plataforma social e, considerado o ponto de vista do autor sobre o bem estar para todos como interesse comum, a produção é um agente da comunidade.

Do ponto de vista da contabilidade existem alguns senões a serem resolvidos nos casos em que a natureza do bem ou serviço se apresenta dominante como operacional e apenas subsidiariamente como ambiental ou social, e os complicadores contábeis poderão aumentar quando da consideração dos ativos sociais constituídos, por exemplo, pela educação, Nada, porém, que não esteja ao alcance dos especialistas.

Ilustração 8-7

8.6 8.6 8.6 8.6 ---- BALANÇO SÓCIOBALANÇO SÓCIOBALANÇO SÓCIOBALANÇO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL Conjunto de informações capaz de mostrar a eficiência social e ambiental

da atividade econômica. A eficiência sócio-ambiental é mais representativa do que os critérios de eco-eficiência, uma vez que o sócio-ambiental contempla a indissociabilidade entre a humanidade e o planeta, enquanto a eco-eficiência possui evidentes limitações conceituais na formação do produto social a ser distribuído nos agrupamentos humanos, e tendente a transformá-los em comunidades.

9 9 9 9 ---- O EQUILÍO EQUILÍO EQUILÍO EQUILÍBRIO SÓCIOBRIO SÓCIOBRIO SÓCIOBRIO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL

A contabilidade social, a contabilidade ambiental, e os ativos\passivos e patrimônios correspondentes já são uma realidade na técnica contábil.

Técnicas de contabilidade gerencial são aplicadas pelas empresas que buscam formar ativos de qualidade e de imagem.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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Falta pouco, então, para ser admitida a existência de um panorama sócio-ambiental, à vista de que as aplicações no social revertem em melhoria do ambiental na razão direta em que a dinâmica cultural passa a exigir melhores espaços, e as aplicações no ambiental revertem em melhoria social na razão direta em que melhores espaços passam a exigir mais cultura para desfrute pleno.

Passivos ambientais oriundos do impacto da implantação e desenvolvimento da atividade serão avaliados para fins de exigência das compensações e estas nem sempre são sistêmicas, vez que não obedecem rigorosamente à correspondência com o bem que sofreu impacto, ou seja, quando se admite repor com educação ambiental a perda de solo fértil por inundação da bacia de acumulação de uma hidrelétrica, o resultado da operação é simples matemática para zerar a conta.

Veja-se que a educação ambiental forma pessoas que, no futuro, irão interagir melhor com a circunvizinhança promovendo no mínimo a conservação e, com isto, eliminarão custos diferidos pelo tempo de suas vidas. Essa economia de custos diferidos, sendo maior – e o bom senso indica que o será – do que o investimento inicial representa uma valorização, sendo possível, como já é corrente nas aplicações em saneamento, segurança pública etc. ser avaliada, embora seja de natureza imaterial.

Capital humano e capital intelectual já são expressões do jargão econômico.

O capital humano tem sua expressão comum no “passe” do jogador de futebol, mas não é menos evidente – do ponto de vista teórico – quando a dançarina faz seguro de suas pernas ou o pianista garante renda pela perda acidental da habilidade.

Comprar o “passe” de executivos com benefícios é corrente e, mesmo na advocacia de risco está presente o capital intelectual garantidor de resultados favoráveis.

Ativos imaterias são uma realidade teórica que apontam para a existência dos passivos correspondentes, como no caso do progresso atravancado pela queda na qualidade do ensino, queda essa que, por diminuir a capacidade das pessoas para lidarem com as circunvizinhanças implica em custos não recuperáveis.

Cálculos à parte, é possível identificar os qualitativos: fluxos de energia material ou imaterial e seus impactos imediatos e mediatos, e isto é feito no cotidiano, como, por exemplo, a afluência regular de informação que mantenha a efluência regular do desempenho profissional; ou a afluência periódica de dinheiro na manutenção de um veículo para assegurar a efluência total da sua utilidade.

Essas micro-noções de que o profissional deve atualizar-se e de que o veículo deve receber manutenção, são também macro-noções da economia das quais as formas de gestão especializada cuidam, mas cuidam em nome próprio e segmentado, como no caso das práticas empresariais da responsabilidade social que geram certificados que por sua vez geram uma imagem que pode maximizar vendas ou atrair investimentos e benefícios.

Claro que as práticas referidas refletem na plataforma social na forma de bem estar, mas refletem como conseqüência e não como fim, ou seja, entre fazer para vender mais e vendendo mais aumentar o bem estar e fazer para aumentar o bem estar e aumentando o bem estar vender mais está a diferença a ser encontrada.

No primeiro caso existe um estímulo externo de drenagem de recursos e no segundo um estímulo interno de adução. Como se fora um sistema de

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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bombeamento, no primeiro caso a bomba está do lado do vendedor e no segundo está do lado do comprador.

Os dois casos atendem ao mercado, e o primeiro não precisa auto-extinguir-se em nome da boa vontade, podendo ser substituído – na medida do tempo e das condições – pelo segundo, sem prejuízo para a produção.

9.1 9.1 9.1 9.1 ---- AS VARIÁVEIS DO EQUILÍBRIO SÓCIOAS VARIÁVEIS DO EQUILÍBRIO SÓCIOAS VARIÁVEIS DO EQUILÍBRIO SÓCIOAS VARIÁVEIS DO EQUILÍBRIO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL Seja o espaço de implantação de uma determinada atividade econômica e

poderão ser observados como principais impactos e carga:

IMPACTOS DURANTE A IMPLANTAÇÃO

1. Perturbação do entorno durante o processo de implantação: ruído, poeira, descarga de materiais etc.

2. Alteração do entorno por eliminação dos próprios naturais ou existentes, com sobrecarga nos elementos existentes do entorno e área de influência.

3. Transporte e deposição de resíduos, com sobrecarga no sistema viário e depósitos;

CARGA DURANTE O FUNCIONAMENTO

1. Perturbação do entorno;

2. Aumento da circulação de veículos e pessoas;

3. Maior demanda por serviços públicos (água, esgoto, energia, transporte etc);

4. Drenagem de recursos naturais (afluência);

5. Descarga de resíduos (efluência);

É ideal que seja realizado o controle do impacto e da carga através de recomposição e compensação, conforme o caso, o que normalmente acontece com a precedência dos estudos e estabelecimento de obrigações. No entanto, as obrigações estabelecidas ainda não abandonaram o padrão do risco inerente à atividade, fazendo com que a administração pública e o sócio-ambiental atingidos suportem parte do impacto e da carga em prol dos resultados econômicos da atividade, o que representa, sem dúvida, um consumo de recursos cuja reposição vem ocorrendo através do aumento da carga tributária enquanto o sócio-ambiental é deixado no prejuízo.

Na verdade não é possível eliminar algumas perdas de energia, mas os esforços para minimizá-las devem ser feitos.

Por exemplo: uma escola cria, nos horários de entrada e saída, uma zona de sobrecarga de circulação de veículos e pessoas, exigindo cautelas extraordinárias e serviços de controle, e a “empresa” não paga por isto porque já paga impostos. Neste exemplo a sobrecarga é tipicamente sócio-ambiental e caberia à “empresa” prover a compensação, quer pagando pela atividade estatal extraordinária, quer provendo por outros meios e custos seus. O importante é que não descarregue a responsabilidade de forma difusa.

O caso da escola é clássico em relação à perversa relação entre o “pago impostos” e “o resto é problema do governo”. Acontece que se os tributos estiverem sendo cobrados com base em eventos futuros estamos sendo espoliados, e se estiverem sendo cobrados bom base em eventos correntes estamos sendo igualmente espoliados, porque cobrados são por alíquotas vinculadas ao faturamento e não ao impacto e carga.

Seja visto que uma empresa de lapidação de pedras preciosas poderá estar pagando mais impostos do que uma escola, mas não causará tanto impacto ou carga. Logo, a compensação difusa não é um instrumento justo, antes, é uma

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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ficção aplicável quando o conjunto de atividades estiver de tal modo disperso que não seja possível o controle. Deve ser visto que a atividade estatal hoje se preocupa tanto com a sonegação da grande empresa quanto com a do “sacoleiro” do Paraguai, tornando a compensação difusa inaceitável diante da capacidade de gestão dos interesses públicos.

Ilustração 9-1

(To Otavio Cavalett and Oscar Sarcinelli, post-grade students of Laboratory of Ecological Engineering -FEA-UNICAMP, for their kind help with figures drawing and editing.)

Em algum tempo passado essa compensação pode ter apresentado resultados razoáveis, mas o crescimento do volume pluralidade de atividades está a exigir que a tributação incorpore, caso a caso, os custos das atividades.

Assim, surge como razoável que a atividade pague pela carga sócio-ambiental corrente, e decorre como razoável que a atividade, na medida do possível, se esforce para impor uma carga menor e ter menor custo.

As ciências estão ai exatamente para fazer o dimensionamento da razoabilidade dessas relações.

É visualisado que a minimização dos efeitos do impacto e carga tendem pelo menos a manter o estado de bem estar vigente, e conta-se com a cessação da degradação do bem estar como um facilitador natural para melhorar o seu estado, à vista de que as pessoas parecem já estarem acostumadas com as pioras e com as reclamações ao poder público.

Interessa que as responsabilidades sejam atribuídas aos geradores dos fatos na proporção em que a intervenção estatal direta não seja necessária.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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10 10 10 10 ---- BALANÇO SÓCIOBALANÇO SÓCIOBALANÇO SÓCIOBALANÇO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL

A parte dos impactos é resolvida com a recomposição ou com a compensação, imediatas ou diferidas, e constituem obrigações do licenciamento, precisando apenas ser dividido em duas partes: a primeira cuidará do impacto imediato, sua recomposição e compensação; a segunda cuidará do impacto continuado e da carga corrente da atividade. Assim, tais estudos não devem sofrer alterações significativas, mas deverão especializar-se.

A parte de impacto imediato, sua recomposição e compensação, é um processo de restituição das coisas ao estado anterior ou equivalente, logo, independente do tempo de efetivação, não apresenta déficit nem superávit, salvo por omissão dos responsáveis, o que pode ser contornado através da criação da obrigação contábil correspondente, ou melhor, de um desestímulo à postergação dos resultados, vez que a final do prazo estabelecido no licenciamento o passivo gerado pela omissão estaria consolidado e a empresa seria punida no seu próprio balanço.

A parte do impacto continuado e da carga corrente da atividade haverão de ter sua recomposição ou compensação realizadas em períodos o mais próximo possível do tempo real de suas ocorrências, constituindo também obrigações contábeis, com igual repercussão.

Assim, o mando de campo é transferido para a atividade: ou o empresário (capital monetário) e seus colaboradores (capital humano) trabalham bem ou a empresa demonstrará, a cada resultado contábil apresentado, que quem não tem competência não deveria estabelecer-se.

Os indicadores do balanço, oriundos dos estudos de impactos e cargas, orientarão a titulação das contas e os valores e prazos envolvidos, e terão como contrapartida obrigatória para o licenciamento o plano de gestão empresarial sócio-ambiental que contemplará as orientações e fará as adequações à vocação da empresa, com o que se evita seja a empresa conduzida à posição de substituta estatal.

Um bom trabalho para os técnicos e organizações governamentais e não governamentais.

10.1 10.1 10.1 10.1 ---- ATIVO E PASSIVO NA CONTABILIDADE AMBIENTALATIVO E PASSIVO NA CONTABILIDADE AMBIENTALATIVO E PASSIVO NA CONTABILIDADE AMBIENTALATIVO E PASSIVO NA CONTABILIDADE AMBIENTAL Assim estão postos os conceitos correntes baseados na contabilidade: Passivo ambiental é toda obrigação contraída voluntária ou involuntariamente, destinada à

aplicação em ações de controle, preservação e recuperação do meio ambiente, originando, como contrapartida, um ativo ou custo ambiental.

São considerados como ativo ambiental todos os bens e direitos destinados ou provenientes da atividade de gerenciamento ambiental, podendo estar na forma de capital circulante ou capital fixo.

Contabilidade Ambiental: Um Estudo sobre sua Aplicabilidade em Empresas brasileiras.º Seminário USP de Contabilidade - Autores: Adalto de Oliveira Santos, Fernando Benedito da Silva, Synval de Souza, Prof. MS Marcos Francisco Rodrigues de Sousa

Tais conceitos precisarão ser revistos dado que passivo sócio-ambiental será sempre a diminuição de um patrimônio originalmente existente, e ativo sócio-ambiental será sempre o aumento desse mesmo patrimônio, observado que o título IMPACTO deve apresentar resultado igual a zero e que o título CARGA não deve apresentar resultado negativo.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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10.2 10.2 10.2 10.2 ---- BALANÇO AMBIENTAL E BALANÇO SOCIALBALANÇO AMBIENTAL E BALANÇO SOCIALBALANÇO AMBIENTAL E BALANÇO SOCIALBALANÇO AMBIENTAL E BALANÇO SOCIAL Seja o espaço de implantação de uma determinada atividade econômica e

poderão ser observados como principais impactos e carga:

10.2.1 10.2.1 10.2.1 10.2.1 ---- IMPACTO IMPACTO IMPACTO IMPACTO

PASSIVOPASSIVOPASSIVOPASSIVO ATIVOATIVOATIVOATIVO

IMPACTOS DURANTE A IMPLANTAÇÃO

Perturbação do entorno durante o processo de implantação: ruído, poeira, descarga de materiais etc.

Sinalização e proteção do trânsito de veículos. Minimização das emissões.

Alteração por eliminação dos próprios naturais ou existentes, com sobrecarga nos elementos existentes do entorno e área de influência.

Recomposição ao estado anterior. Compensação da sobrecarga para evitar danos permanentes.

Transporte e deposição de resíduos, com sobrecarga no sistema viário e depósitos;

Minimização de riscos através de sinalização e limpeza. Recomposição Correta deposição dos resíduos.

10.2.2 10.2.2 10.2.2 10.2.2 ---- CARGACARGACARGACARGA

PASSIVOPASSIVOPASSIVOPASSIVO ATIVOATIVOATIVOATIVO

CARGA DURANTE O FUNCIONAMENTO

Perturbação do entorno; Redução da perturbação a limites toleráveis.

Aumento da circulação de veículos e pessoas; Otimização e manutenção das vias de circulação.

Maior demanda por serviços públicos (educação, água, esgoto, energia, transporte etc);

Disponibilização de recursos para atendimento da demanda extraordinária.

Drenagem de recursos naturais (afluência); Recomposição ou compensação da drenagem.

Descarga de resíduos (efluência); Tratamento dos efluentes;

Assim, de modo simples, para efeito de demonstração, considerado um período de apuração.

Existem situações diversas a observar: - no caso dos impactos pode não ser possível a recomposição, devendo

acontecer a compensação dentro do ecossistema; ou

- podem prescindir de adequação, o que desloca a compensação para o plano de carga sócio-ambiental.

- os serviços públicos têm capacidade para absorver a carga sócio-ambiental, derivando os investimentos para otimização de setores escolhidos ou plataforma mais remota.

As avaliações do ativo são complexas e variam em função da escolha, sendo necessário desenvolver metodologias de avaliação, ainda que, inicialmente, pela inversão da economia, como no caso do saneamento básico que para cada real investido economiza cinco reais em X anos.

O Estado, com certeza, ficará aliviado em relação à fiscalização – que exerce mal por impotência instrumental – à vista de que o empresário desejará fazer valer o seu investimento para obter a valorização. Nada, porém, que as ciências da computação não resolvam através da tabulação de séries históricas.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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As avaliações são complexas e dependem da formulação de muitos conceitos, definições e fórmulas. No entanto, existe bom senso em utilizar a metodologia dos custos de recomposição, dada a prática já em curso de avaliação dos danos ambientais.

A modelagem reduziria o princípio do poluidor-pagador aos casos de impotência instrumental, consolidaria o princípio da conservação, e abriria caminho para o princípio da precaução, alocando as contas no patrimonial, de modo que os descompromissados com o sócio-ambiental só terão a perder com seus balanços sócio-ambientais negativos, enquanto que os compromissados ficarão a cavaleiro de balanços positivos.

Como patrimônio sócio-ambiental tem natureza difusa e condominial e sua maior representação se encontra “fora” da empresa, de modo que os resultados positivos não se perdem com a perda da empresa, Assumindo ares de garantia real, compondo a azienda, e remanescendo como fundo de comércio em caso de quebra total.

11 11 11 11 ---- MERCADO SÓCIOMERCADO SÓCIOMERCADO SÓCIOMERCADO SÓCIO----AMBIENTALAMBIENTALAMBIENTALAMBIENTAL

Ideais, sonhos, e utopias à parte, o mercado continuará sendo o grande patrão das relações, pois as pessoas necessitam, cada vez mais, de bens e serviços que não podem produzir por si mesmas.

O Capital “selvagem” erigido como predador vem sendo caçado pelo Trabalho que quer assumir o patronato.

Nem tico, nem teco. O Capital necessita ser domado (ou sócio-ambientalizado) e, em o sendo, o Trabalho pode aposentar a espingarda, conquanto, pela história do bicho capital, deva ser mantido à mão um chicotinho.

Foi com essa visão simples que passei a ver o mercado tradicional como plataforma para o desenvolvimento de um novo mercado e pude contribuir para a elaboração do “Estado da Arte: Commodities Ambientais”. No entanto, preocupava-me a possibilidade de a prática tradicional, sendo muito forte, inibir o desenvolvimento pela resistência dos setores virtuais (financeiros) afeitos a produzirem movimentos artificiais.

Assim, para além de um novo mercado, esbocei – e agora desenho – um mecanismo que possa integrar as cadeias de produção e serviços, pela realimentação em todos os circuitos.

O modelo não é de minha criação, pois está na natureza, na forma de seus ciclos e na forma de seus produtos, a exemplo dos quais trago o cristal como uma simples, bela e econômica estrutura.

Sem a pretensão de comprometer compulsoriamente (não seria democrático) os resultados da atividade econômica, sobrou apelar para o “devagar, gente, senão isso tudo um dia acaba”.

Esforços estão sendo feitos em prol da sustentabilidade, mas eu os vejo, de algum modo dirigidos para a sustentabilidade do modelo tradicional, ou seja, encontrar meios de continuar fazendo as essas mesmas coisas por mais tempo. A minha proposta simples é a de fazer outras coisas mais agradáveis que por si sejam mais duráveis.

Esse fazer outras coisas inclui fazer outras coisas também com o capital, num conceito mais amplo de que inteligência é capital, bem estar é capital e assim por diante, mas, como é o dinheiro que está no mando de campo seja colocado para jogar.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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12 12 12 12 ---- DOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO DDOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO DDOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO DDOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO DE E E E ATIVOS SÓCIOATIVOS SÓCIOATIVOS SÓCIOATIVOS SÓCIO----AMBIENTAISAMBIENTAISAMBIENTAISAMBIENTAIS

1) Investimentos sociais e ambientais são valoráveis e já contabilizáveis no Balanço Social, mercê de incentivos e certificações de Responsabilidade Social externos.

2) Danos ambientais são valoráveis e já contabilizáveis como reparação e multa, pelos órgãos fiscalizadores.

3) Danos sociais são valoráveis e já contabilizáveis como reparação e multa, pelos órgãos judiciais.

A alquimia é:

a) expandir (1) para os incentivos e certificações sociais e ambientais endógenas, ampliando a responsabilidade social para Compromisso Social, com um resultado sócio-ambiental;

b) expandir (2) para alcançar a degradação por não-atuação na conservação, e expandir (3) para alcançar a degradação por não atuação na conservação e evolução;

c) juntar (2) e (3) para obter um resultado sócio-ambiental.

(a), (b) e (c) precisam de dinheiro para funcionar e quem o tem talvez não tenha tanto que possa dispender, mas se os encargos forem distribuídos muitos poderão fazer o que um só não é capaz.

A idéia, em síntese – os especialistas desenvolverão a modelagem – é a de evoluir o Balanço Social para Balanço Sócio-Ambiental de modo que todos os investimentos nos círculos de entorno da pessoa humana possam ser contabilizados, bem como toda a efluência da produção e serviços sofra apropriação, mesmo em se tratando de efluência inerente à atividade, como no caso da descarga dos automóveis.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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Reobservando a figura XX é perceptível que a metodologia deve

contemplar os círculos de entorno, permitindo partir de uma menor para uma maior complexidade, além de dimensionar as ligações e interferências entre os círculos, e os circuitos de realimentação, e aqui o dividir para governar tem o sentido positivo de grupamentos menores que se relacionam em rede.

A necessidade de legislação para cobrir todo o espectro é evidente, mas o espaço democrático permite o voluntariado não cooptado pelos incentivos.

Os dificultadores são pré-existentes e considero o mais evidente o viver em condomínio, que é uma experiência ainda não consolidada porque depende da cultura, e dessa cultura depende aprender a usar o espaço privado sem conspurcar o espaço comum.

À mesma estrutura superpõe-se o diagrama de fluxo do fundo, integrando outros elementos como ONGs [operadores da comunidade], OSCIPs [operadores dos governos] e os governos.

Anote-se, por repetição, que os Ativos Sócio-ambientais estão dispersos ou

difusos na plataforma social, espaço externo à empresa. Tais ativos compõe o patrimônio da empresa, mas não são liquidáveis com a massa em caso de falência ou extinção, e desta forma, conferem solidez, mas não constituem garantia para operações correntes.

Os Ativos estão sujeitos à transferência de titular, por aquisição em caso de falência ou extinção, ou por incorporação caso a empresa-mãe perca a capacidade de gestão.

Nesse alinhamento se apresenta como de maior segurança e confiabilidade o modelo de FUNDAÇÃO, que é universal, perene e fiscalizado diretamente pelo Ministério Público [detentor de funções sócio-ambientais].

Que digam os especialistas sobre a configuração legal e contábil do fundo.

13 13 13 13 ---- Precedentes favoráveisPrecedentes favoráveisPrecedentes favoráveisPrecedentes favoráveis

13.1 13.1 13.1 13.1 ---- Ativos ComunitáriosAtivos ComunitáriosAtivos ComunitáriosAtivos Comunitários ... Souto será o primeiro a falar no dia reservado para a apresentação de projetos considerados

vitoriosos na redução da pobreza em todo o mundo.

...

No mesmo período, foram investidos R$ 63 milhões em infra-estrutura comunitária, permitindo a construção de moradias, abastecimento de água, energia elétrica e solar, bem como ativos comunitários produtivos (animais melhorados, tratores agrícolas, pequenas unidades de beneficiamento de produtos agropecuários, entre outros).

...

Paulo Souto abre apresentação de projetos de redução da pobreza na China - 19/05/2004 – BahiaInvest - http://www.bahiainvest.com.br/port/noticias/ultimas.asp?cd_noticia=577

13.2 13.2 13.2 13.2 ---- Cota de Reserva FlorestalCota de Reserva FlorestalCota de Reserva FlorestalCota de Reserva Florestal ...

Neste aspecto, uma das formas que vislumbramos potencialmente é a averbação da reserva legal e até mesmo das áreas de preservação permanente conforme descritas no código florestal em vigor. Para tanto, especial atenção mantemos sobre o instituto da reserva legal e a cota de reserva legal para áreas averbadas em regime de servidão florestal.

...

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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"Art. 44-B. Fica instituída a Cota de Reserva Florestal - CRF, título representativo de vegetação nativa sob regime de servidão florestal, de Reserva Particular do Patrimônio Natural ou reserva legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder os percentuais estabelecidos no art. 16 deste Código.

...

Desta forma, entendemos que o proprietário pode negociar a CRF (Cota de Reserva Florestal) para terceiros, por um determinado preço, não sendo isto entendido como cessão da terra (transmissão de propriedade), e sim cessão dos direitos adquiridos pelo atendimento dos artigos acima citados, bastando que sejam regulamentados.

Reserva legal florestal e seqüestro de carbono - http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=6508 - Julis Orácio Felipe advogado em Rio Negrinho (SC)

13.3 13.3 13.3 13.3 ---- Créditos de CarbonoCréditos de CarbonoCréditos de CarbonoCréditos de Carbono ...

O mercado de carbono já existe e há instituições internacionais que já estão negociando estes créditos (mesmo que no atual momento seja somente expectativa de direito do recebimento destes créditos). De acordo com o Banco Mundial, o valor estimado de mercado das reduções certificadas de emissão (CER) de gases de efeito estufa está entre US$ 5 e US$ 15 por tonelada de carbono reduzido.

...

Os projetos que visem o desenvolvimento sustentável, e também o incipiente mercado de carbono com a obtenção de parte do financiamento através da venda de CRE, já estão ocorrendo, e com muitas vantagens para seus precursores.

Letícia Cardoso - Advogada, integrante do Departamento Internacional/Ambiental do escritório Vanzin & Penteado - Advogados Associados S/C - http://www.herbario.com.br/dataherb16/16mercadcarbn.htm

13.4 13.4 13.4 13.4 ---- Ativos IntangAtivos IntangAtivos IntangAtivos Intangííííveisveisveisveis ...

Os ativos intangíveis no Brasil são, geralmente, considerados como ativos diferidos que, no inciso V do artigo 179 da lei societária, são definidos como "as aplicações de recursos que contribuirão para a formação do resultado de mais de um exercício social, (...)". O pronunciamento NPC nº VII do Ibracon estabelece a condição para a ativação desses gastos, geralmente direitos vinculados ao destino da entidade, e a sua recuperabilidade, ou seja, o seu vínculo com receitas a serem obtidas em períodos futuros. Caso isso não seja possível, o referido pronunciamento (no item b do parágrafo 2) determina que "os montantes ativados deverão ser imediatamente amortizados na sua totalidade".

O pronunciamento internacional IAS 38 define um ativo intangível como "um ativo não monetário identificável sem substância física, mantido para uso na produção do fornecimento de bens ou serviços, para ser alugado a terceiros, ou para fins administrativos". Condiciona essa definição à definição geral de ativos, ou seja, (a) um ativo é controlado por uma empresa como resultado de eventos passados e, (b) do qual espera-se que sejam gerados benefícios econômicos futuros para a entidade.

...

ATIVOS INTANGÍVEIS - Fonte: OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2005 - Tratamento contábil dos ativos intangíveis no Brasil- http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/ativosintangiveis

13.5 13.5 13.5 13.5 ---- IncentivosIncentivosIncentivosIncentivos Tratamento fiscal diferenciado, diferimento dos impostos em prazos

longos, isenção de tributos e cessão patrimonial têm sido utilizados regulamente por governos para atrair investimentos. Tais práticas tem seu lado saudável quando realmente promovem a economia, mas apresentam um lado malético que consiste em, principalmente em pequenos municípios que não a planejam

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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adequadamente, desperdício de recursos públicos, dada a prática de predatória que criou até a figura da empresa nômade, que se desloca para outro lugar quando o incentivo chega ao fim.

É comum serem vistos edificações abandonadas, fruto de um equivocado senso de desenvolvimento que cria uma bolha pouco durável e deixa para trás a frustração daqueles que acreditaram no empreendimento e até se estruturaram para serem parceiros.

Olhos fechados para a extensão dos impactos e cargas sócio-ambientais gerados a população local acaba por arcar com os custos da vocação desenvolvimentista e o balanço resulta em benefícios de curto prazo e malefícios duradouros.

Não se prenuncia que a prática deva ser abandonada, mas se afigura razoável que os incentivos não resultem em lucros extraordinários custeados pelos contribuintes, resultando adequado que ao longo da operação a empresa beneficiada construa ativos sócio-ambientais que remanesçam ao abandono da atividade, liquidando com o locupletamento.

A formação de ativos sócio-ambientais é adequada para aliviar o contribuinte de pagar pelo funcionamento da empresa incentivada e para manter o caráter incentivador, proporcionando à empresa gozar do incentivo ao mesmo tempo em que, onerada por obrigações, em as cumprindo promove seu crescimento patrimonial.

14 14 14 14 ---- CONCLUSÃOCONCLUSÃOCONCLUSÃOCONCLUSÃO

O patrimônio sócio-ambiental estabelece vínculos com a plataforma mediata e imediata de atuação da empresa, facilita o deságüe das vocações pessoais-empresariais, atende aos princípios constitucionais da função social da propriedade, de forma ampla, e é um instrumento de construção da sociedade livre, justa e solidária.

O balanço patrimonial sócio-ambiental é um instrumento auxiliar de fiscalização do cumprimento das obrigações decorrentes de impacto e carga contínua, ao tempo em que estimula as empresas cumprirem tais obrigações tendo em vista os resultados contábeis orientadores das relações de mercado e finanças.

O sistema de ativos e passivos sócio-ambientais, como criador do bem estar, projeta para a empresa um retorno de satisfação com significativa importância nas relações internas.

O sistema é tendende a diminuir a carga tributária na medida em que reforça os sistemas públicos adequando-os aos grupamentos humanos, além de ser um reforçador das solicitações de diminuição dessa carga enquanto apresenta resultados quantificados e melhor relação administração/operação.

O sistema é agregador e tendente à formação do sentido comunitário quando solicitador da participação de agentes e operadores sociais.

O sistema, conforme proposta inicial, está aberto ao interagir interessados, governamentais ou privados.

15 15 15 15 ---- DEMONSTRAÇÃO ANALÍTICADEMONSTRAÇÃO ANALÍTICADEMONSTRAÇÃO ANALÍTICADEMONSTRAÇÃO ANALÍTICA

Seja considerado um empreendimento próximo de um núcleo urbano, com tal magnitude que provoque sensíveis alterações sócio-ambientais no seu espaço

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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físico e entorno relativo, decorrentes da implantação, e submeta os serviços sociais disponíveis no núcleo urbano a algum tipo de carga continua durante o funcionamento.

Seja considerado possível realizar restaurações e compensações sócio-ambientais no local, mas que estas não esgotem o espectro do impacto e carga contínua, tornando necessário que outras soluções sejam buscadas para equilibrar o balanço sócio ambiental.

No modelo tradicional do balanço sócio-ambiental ocorre, de forma estática, a restituição mais próxima possível do estado anterior das coisas, contemplada alguma dinâmica por conta de ajustes e responsabilidade do empreendedor, mais por conta da imagem e das certificações que possa colecionar.

A proposta de formação de Ativos Sócio-ambientais pretende introduzir uma dinâmica no processo, que assegure a preservação do que foi restituído ou compensado, e a mitigação da carga contínua imposta, de forma que, a cada instante, possa ser aferido o equilíbrio do balanço sócio-ambiental, acabando de vez com a incorporação do adimplemento das obrigações sócio-ambientais ao processo natural de degradação.

Com certeza a proposta impõe aos empreendedores obrigações extraordinárias ao empreendimento e um aumento de despesas, tecnicamente não próprias e nem comportáveis na sua operação econômica, razão pela qual é sugerido que – mantido intocado o lucro como princípio – o empreendedor possa obter ganhos pela exploração de alguns ativos materiais e pelo acréscimo de qualidade sócio-ambiental na construção de ativos imateriais difusos, bem como incorporando ao patrimônio do Fundo alguns ativos formados que não sejam difusos.

A segurança do Fundo decorre da sua blindagem – negociável mas não liquidável – e será isto que garantirá a continuidade mesmo no caso de extinção da empresa.

Seja, então, definidas por valores, as obrigações e as operações, considerado que tenham sido cumpridas todas as etapas técnicas de análise e dimensionamento, conforme planilhas a seguir.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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15.1 15.1 15.1 15.1 ---- Dimensionamento Dimensionamento Dimensionamento Dimensionamento dos valoresdos valoresdos valoresdos valores de impacto e car de impacto e car de impacto e car de impacto e carga contínua:ga contínua:ga contínua:ga contínua: N

OT

AS

HISTÓRICO

QU

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PR

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RG

A

AN

UA

L

1. Vegetação

1 1.1 - Implantação de floresta 300 2,00 600

2 Seqüestro de carbono 300 8,00 12 70% 3 Corte de madeira 300 35,00 200 12% 4 Geração de água infiltrada 300 0,02 18000 50% 5 Redução da erosão 300 25,00 10 40% 6 Ganho ambiental difuso 300 2,00 10 95% Manutenção 15%

7 1.2 - Abrigo de fauna 24 5,00 120 2 Seqüestro de carbono 24 8,00 12 75% 3 Corte de madeira 24 35,00 304 6% 4 Geração de água infiltrada 24 0,02 18000 50% 5 Redução da erosão 24 25,00 10 40% 6 Ganho ambiental difuso 24 2,00 50 95% Manutenção 10% 2. Recursos hídricos

1 2.1 Recomp. Vegetação 50 2,0 100

2 Seqüestro de carbono 50 8,00 8 75% 3 Geração de água infiltrada 50 0,02 18000 50% 4 Redução da erosão 50 25,00 10 40% 5 Ganho ambiental difuso 50 2,00 50 95% 6 Manutenção 10% 1 2.2 - Expansão 5 2,0 10 2 Seqüestro de carbono 8,00 8 75% 3 Geração de água infiltrada 0,02 18000 50% 4 Redução da erosão 25,00 10 40% 5 Ganho ambiental difuso 2,00 50 95%

3. Vias de tráfego e praças

3.1 Adequação 100

Manutenção 10% 10 Ganho ambiental difuso 1%

4. – Serviços (EduSócio-amb

4.1 – Água e esgoto 20 Ganho ambiental difuso 1 2,00 10 95% 4.2 – Serviços educacionais 50 Ganho ambiental difuso 50 2,00 10 95% 4.3 – Outros serviços sociais 10 Ganho sócio-ambiental 10 2,00 10 95% ADMINISTRAÇÃO DO FUNDO 2% CAPITAL PRÓPRIO 920 100

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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15.2 15.2 15.2 15.2 ---- Evolução das aplicações por Evolução das aplicações por Evolução das aplicações por Evolução das aplicações por 10101010 anos anos anos anos N

OT

AS

HISTÓRICO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

AT

IVO

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A

1. Vegetação

1 1.1 - Implantação de floresta 200 200 200 600 600 2 Seqüestro de carbono 20 40 60 60 60 60 60 60 60 60 544 3 Corte de madeira 252 252 252 756 4 Geração de água infiltrada 18 27 54 54 54 54 54 54 54 54 477 5 Redução da erosão 10 15 30 30 30 30 30 30 30 30 265 6 Ganho ambiental difuso 2 3 6 6 6 6 6 6 6 6 50 Manutenção 30 60 90 90 90 90 90 90 90 90 810

7 1.2 - Abrigo de fauna 60 60 120 120 2 Seqüestro de carbono 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 16 3 Corte de madeira 15 15 15 46 4 Geração de água infiltrada 2 4 4 4 4 4 4 4 4 4 41 5 Redução da erosão 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 23 6 Ganho ambiental difuso 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 21 Manutenção 6 12 12 12 12 12 12 12 12 12 114 2. Recursos hídricos -

1 2.1 Recomp. Vegetação 50 50 100 100 2 Seqüestro de carbono 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 23 3 Geração de água infiltrada 5 9 9 9 9 9 9 9 9 9 86 4 Redução da erosão 3 5 5 5 5 5 5 5 5 5 48 5 Ganho ambiental difuso 2 5 5 5 5 5 5 5 5 5 45 6 Manutenção 5 10 10 10 10 10 10 10 10 10 95 1 2.2 - Expansão 10 10 10 10 10 10 10 10 80 80 2 Seqüestro de carbono 0 0 1 1 1 1 2 2 9 3 Geração de água infiltrada 2 4 5 7 9 11 13 14 65 4 Redução da erosão 1 2 3 4 5 6 7 8 36 5 Ganho ambiental difuso 1 2 3 4 5 6 7 8 34

3. Vias de tráfego e praças

3.1 Adequação 100 100 Manutenção 10 10 10 10 10 10 10 10 10 90 90 Ganho ambiental difuso 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9

4. – Serviços (EduSócio-amb 4.1 – Água e esgoto 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 200 Ganho ambiental difuso 0 1 1 2 2 2 3 3 3 4 21 4.2 – Serviços educacionais 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 500 Ganho ambiental difuso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 52 4.3 – Outros serviços sociais 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 100 Ganho sócio-ambiental 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 52

ADMINISTRAÇÃO DO FUNDO 46 46 46 46 46 46 46 46 46 46 456

CAPITAL PRÓPRIO 650 480 400 200 200 180 170 2.280 490 400 300 100 100 100 100 100 100 100 720 1.594 3.674 3.365

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

59

15.3 15.3 15.3 15.3 ---- Apropriação das contasApropriação das contasApropriação das contasApropriação das contas RECEITA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTAL

Seqüestro de carbono 22 44 65 65 65 66 66 66 66 67 592

CAPITAL PRÓPRIO 650 480 400 200 200 180 170 - - - 2.280

Corte de madeira - - - - - - - 267 267 267 802

672 524 465 265 265 246 236 333 334 334 3.674

ACUM 672 1.197 1.662 1.927 2.192 2.438 2.673 3.007 3.340 3.674

ATIVO IMATERIAL 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTAL

Geração de água infiltrada 25 40 69 71 73 75 76 78 80 82 668

Redução da erosão 14 22 38 39 40 41 42 43 44 45 371

Mata ciliar 50 60 20 20 20 20 20 20 20 20 270

Ganho ambiental difuso 7 12 19 21 23 26 28 30 32 35 232

Ganho sócio-ambiental 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 52

96 137 149 155 161 167 173 179 185 191 1.594

ACUM 96 233 382 537 698 865 1.039 1.218 1.403 1.594

DESPESAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTAL

Obrigações 490 400 300 100 100 100 100 100 100 100 1.890

Manutenção 41 92 122 122 122 122 122 122 122 122 1.109

Administração 46 46 46 46 46 46 46 46 46 46 456

577 538 468 268 268 268 268 268 268 268 3.455

ACUM 577 1.114 1.582 1.849 2.117 2.385 2.652 2.920 3.187 3.455

ATIVO MATERIAL 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTAL

Vegetação 260 260 200 - - - - - - - 720

260 260 200 - - - - - - - 720

ACUM 260 520 720 720 720 720 720 720 720 720

FLUXO DE CAIXA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Despesas 577 538 468 268 268 268 268 268 268 268

Receita 22 44 65 65 65 66 66 333 334 334

Aporte de Capital 650 480 400 200 200 180 170 - - -

Saldo do mês 96 (13) (3) (3) (2) (22) (32) 66 66 66

Saldo acumulado 96 82 80 77 75 53 21 87 153 219

15.4 15.4 15.4 15.4 ---- ConclusõesConclusõesConclusõesConclusões Obrigações ambientais do período: R$ 1.890,00

Despesas totais no período: R$ 3.455,00

Ativo material no período: R$ 720,00

Ativo imaterial no período: R$ 1.594,00.

Ativo total acumulado: R$ 2.314,00

Saldo de caixa ao final do período: R$ 219,00

Excesso de desembolso em relação ao modelo clássico: R$ 1.565,00

A demonstração foi realizada com preços de implantação e rendimento de exploração encontrados no mercado, restando discutíveis os percentuais de ganhos difusos nas diferentes aplicações, principalmente nas mitigações de carga contínua.

Os índices de geração de serviços ambientais foram tomados abaixo da média encontrada e ajustados para a razoabilidade corrigível.

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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Na gestão do período demonstrado cada R$ 1,00 de excesso de despesa “comprou” R$ 1,48 de ativo.

A hipótese crítica é avaliada como sendo a de que o patrimônio sócio-ambiental acumulado no Fundo seja igual ao do excesso de despesas em relação ao modelo clássico.

A discussão sobre os índices de geração de serviços ambientais e ganhos difusos será ampla– como previsto e necessário – e a hipótese de formação de ativos sócio-ambientais menores terá seu limite mínimo no interesse empresarial ou, pelo menos, na relação custo/benefício entre esforço de gestão e resultados.

Em paralelo, é estimada a criação de um mercado de prestação de serviços que irão desde a formatação até a gestão dos fundos, passando pela captação dos recursos junto àqueles que, pela proporção menor das obrigações ambientais, os custos de gestão sejam irrazoáveis.

15.5 15.5 15.5 15.5 ---- Fontes dos preços e da produçãoFontes dos preços e da produçãoFontes dos preços e da produçãoFontes dos preços e da produção [1] [3] Solo de menor produtividade - Nesse solo obteve-se 210 m³ e 304 m³ de madeira aos

seis anos de idade para os tratamentos sem e com adubação respectivamente. O aumento de produção foi de 94 m³, ou seja, o tratamento com adubação foi 45% superior ao sem adubação. Hoje o custo da adubação é de R$ 700,00/ha (35% do custo de implantação) e calculando-se o valor durante o período de seis anos com juros compostos (juros sobre juros), a uma taxa de 12% ao ano, obtém-se o valor de R$ 1.390,00. Para os 94 m³ produzidos a mais se obtêm uma receita de R$ 3.290,00, vendendo a madeira em pé pelo valor de R$ 35,00 o metro cúbico. Nesse solo, a economia na adubação resultou em perda de R$ 1.900,00/ha, já considerada a taxa de juros de 12 % ao ano. A importância da adubação no plantio florestal - Paulo Henrique Müller da Silva - Engenheiro Florestal – IPEF Atualizado em 25/08/2005 - http://www.ipef.br/silvicultura/importancia_adubacao.asp 03/03/06 16:12

[2] EV - Qual é o retorno do investimento para quem está disposto em seqüestro de carbono? Rocha - São 4 dólares por toneladas de CO2. No projeto da Peugeot eles acham que por ano eles vão seqüestrar 12 toneladas por hectare por ano. Mas não é todo ano que você tem toneladas. A partir do momento que as árvores vão crescendo a absorção de carbono vai diminuindo. O preço é baixo e desestimula um pouco porque as pessoas imaginavam que com o crédito de carbono não iria precisar fazer mais nada. E não é verdade. O carbono é a cereja em cima do bolo. Você tem que ter uma outra atividade na sua área para viabilizar o projeto. O carbono vem como um adicional que você está recebendo. Ninguém vai ganhar dinheiro só com o seqüestro de carbono. Seu projeto tem que ser viável por um outro motivo, energia renovável por exemplo. Associações de pequenos produtores podem lucrar com seqüestro de carbono - http://www.arvore.com.br/entrevista/en2003_3107_1.htm - 03/03/06015:41

[4] Estima-se que o custo de manutenção e operação da vazão garantida para consumo humano e urbano, de 26m³/s de água bruta, seja de R$0,20/m³. Não vamos aqui questionar tal valor, até porque a composição desses custos não está publicamente acessível. Esse valor deve ser pago pelos Estados à CHESF-Água, o que corresponderá, anualmente, a cerca de R$165 milhões. - O Projeto de Integração de Bacias do Rio São Francisco (Transposição) e o Projeto de Lei das Diretrizes e Política Nacionais para o Saneamento Básico (PL5296/2005) Por: Patricia - 24/10/2005 15:16 – ABES-SP - http://abes-sp.org.br/noticias1/index.php?id=63 05/03/06 07:27

[4] O governo do Estado já tem em mãos um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre o impacto do preço da água da transposição sobre oito culturas produzidas no Vale do São Francisco. O estudo foi encomendado, no ano passado, para averiguar a reclamação dos produtores de frutas de que a água da transposição seria cara. Segundo o Ministério da INTEGRAÇÃO NACIONAL, responsável pelo projeto, o custo do metro cúbico da água bruta ficaria em torno de R$ 0,11. Pelos resultados do estudo, mesmo com uma margem de lucro de 20%, os produtores de banana, por exemplo, podem pagar até R$ 0,15 pela água e obter lucro. Jornal do Commercio – Pernambuco - Custo da água da transposição é viável, diz FGV –

http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/midia/corpo.asp?id=27996 05/03/06 07:27

[4] Para irrigação, é cobrada, desde 1999, uma tarifa de R$ 20,00/1000 m³ (vinte reais por mil

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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metros cúbicos) consumidos pelos irrigantes no Canal do Trabalhador e R$ 4,00/1000 m³ (quatro reais por mil metros cúbicos) consumidos pelos irrigantes do Vale do Acarape. Cobrança pelo Uso da Água Bruta – COGERH - http://www.cogerh.com.br/versao3/public-gestao.asp?page=gestao4 – 05/03/06 07:27

[5] Numa bacia hidrográfica, com 23% da área ocupadas por florestas e o restante por pastagens, o escoamento superficial atinge 90% e as perdas do solo são 61 toneladas/hectare/ano. Após 20 anos, estando toda a bacia reflorestada, o escoamento superficial será reduzido para 18% e as perdas do solo por erosão serão reduzidas para 1,2 tonelada/hectare/ano. - Erosão e escoamento superficial - http://www.ecolnews.com.br/agua/erosao-12.htm 05/03/06 07:31

[5] 2.1.2 - Fator K – Erodibilidade dos Solos - A erodibilidade do solo é a propriedade do solo que representa a sua susceptibilidade á erosão , podendo ser definida como a quantidade de material que é removido por unidade de área quando os demais fatores determinantes da erosão permanecem constantes (Freire et al.,1992). De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (1993), as diferenças relacionadas ás propriedades do solo permitem que alguns solos sejam mais erodidos que outros ainda que variáveis como chuva, declividade, cobertura vegetal e práticas de manejo sejam as mesmas . Ainda de acordo com esses autores as propriedades do solo que influenciam na erodibilidade são aqueles que afetam a infiltração, a permeabilidade, a capacidade total de armazenamento de água e aquelas que resistem às forças de dispersão , salpico, abrasão e transporte pelo escoamento. A erodibilidade do solo tem seu valor quantitativo determinado experimentalmente em parcelas e é expresso como a perda de solo por unidade de índice de erosão da chuva (EI) Bertoni e Lombardi Neto (1993). ESTIMATIVA DA PERDA DE SOLO POR EROSÃO LAMINAR NA BACIA DO RIO SÃO BARTOLOMEU-DF USANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO

- http://www.dpi.inpe.br/cursos/ser300/trabalhos/mariza.pdf 07/03/06/11:27

[5] É rico em cursos d'água e tem uma hidrografia formada por dois rios e vários córregos pertencentes à Bacia Amazônica. O Rio das Almas constitui o principal recurso hídrico que banha o município. A temperatura média anual é de 26º C e a precipitação pluviométrica anual é em torno de 1.800 mm3. Campos, cerrados e matas são encontrados e existem ainda 15% de matas nativas no município. O solo é fértil e assemelha-se à terra roxa. http://www.ceresnet.pop.com.br/pag/geral.htm - 14/03/06 04:36

[5] Os adubos verdes e o milho foram semeados transversalmente ao declive, no sistema plantio direto. As principais avaliações foram a cobertura do solo nos sistemas de produção, as taxas de erosão e, após 1,5 ano da implantação dos sistemas, algumas características químicas, físicas e biológicas do solo. A cobertura do solo manteve-se elevada nos sistemas de produção de milho, especialmente nos sistemas aveia + ervilhaca/milho, milho + mucuna e milho + feijão-de-porco, proporcionando um controle efetivo sobre a erosão hídrica, com redução superior a 98% nas perdas de solo e 85% nas de água .- SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO - Títulos e resumos dos artigos publicados na sbcs - V.21 N.3 de 1997 - "Desenvolvimento de Sistemas de Produção de Milho no Sul do Brasil com Características de Sustentabilidade"

http://sbcs.solos.ufv.br/SBCS/por/revistaartigos.jsp?REVISTACOD=51

[5] Causa: Falhas no manejo do solo e perda da cobertura vegetal original;

Valor da Perda de nutrientes e matéria orgânica no Reino Unido (Pretty, 2000): US$ 13,8 /ha/ano - http://www.unicamp.br/fea/ortega/extensao/08-Externalidades-Marcos.pps. 14/03/06 05:05

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

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16 16 16 16 ---- VISUALIZAÇÕES VISUALIZAÇÕES VISUALIZAÇÕES VISUALIZAÇÕES GGGGRÁFICASRÁFICASRÁFICASRÁFICAS

R E C E IT A x D E S P E S A S (A C U M U L A D O )

-

5 0 0

1 .0 0 0

1 .5 0 0

2 .0 0 0

2 .5 0 0

3 .0 0 0

3 .5 0 0

4 .0 0 0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0

A N O S

$ x

1.00

0

O B R IGA Ç Õ ES

A T IV O S A C U M U L A D O S

-

2 0 0

4 0 0

6 0 0

8 0 0

1 .0 0 0

1 .2 0 0

1 .4 0 0

1 .6 0 0

1 .8 0 0

2 .0 0 0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0

A N O S

$ x

1.00

0

T A N G I V E I S I N T A N G Í V E I S

O B R IG A Ç Õ E S

F L U X O D E C A IX A

( 8 0 0 )

( 6 0 0 )

( 4 0 0 )

( 2 0 0 )

-

2 0 0

4 0 0

6 0 0

8 0 0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0

A N O S

$ x

1.00

0

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Ativos e Passivos Sócio-ambientais

63

17 17 17 17 ---- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÃO CITADAS DIRETAMENTE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÃO CITADAS DIRETAMENTE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÃO CITADAS DIRETAMENTE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NÃO CITADAS DIRETAMENTE NO TEXTO:NO TEXTO:NO TEXTO:NO TEXTO:

[1] Paulo Affonso Leme Machado, falando na Associação Goiana do Ministério Público. Revista da AGMP Ano I, nº. 4

[2] PARALELO 666, o reverso do apocalipse. Serrano Neves – http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social.

[3] A Educação contra o crime - Serrano Neves em entrevista à Tribuna de Minas de Juiz de Fora MG em 1982. - http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social

[4] UM CONSELHO POR UM DÓLAR, Serrano Neves, http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social. - O livro de Simonsen é o Ensaios Analíticos.

[5] PROBLEMAS AMBIENTAIS: o conflito entre a norma e o fato - Serrano Neves et al, http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social

[6] Estado da Arte: Commodities Ambientais - Serrano Neves et al – http://www.serrano.neves.nom.br, em Plataforma Social

[7] Washington Novaes, falando na Associação Goiana do Ministério Público. Revista da AGMP Ano I, nº . 4

[8] Journal of Industrial Ecology - vol. 1 number 2 - School of Forestry and Environment Studies - Yale University - MIT press

[9] Patrimônio: sua função social e ambiental - Werno Herckert - Membro da Academia Brasileira de Ciências Contábeis - Membro da Associação Científica Internacional Neopatrimonialista

[10] CONTABILIDADE AMBIENTAL: O PAPEL DA CONTABILIDADE NA EVIDENCIAÇÃO DE INVESTIMENTOS, CUSTOS E PASSIVOS AMBIENTAIS - Carla Mara Machado

[11] CONTABILIDADE AMBIENTAL - A BUSCA DA ECO-EFICIÊNCIA - http://www.redecontabil.com.br/artigos/ambiental.pdf.[]

[12] CONTABILIDADE AMBIENTAL: O PAPEL DA CONTABILIDADE NA EVIDENCIAÇÃO DE INVESTIMENTOS, CUSTOS E PASSIVOS AMBIENTAIS - Carla Mara Machado

[13] BALANÇO SOCIAL, autores: MAISA DE SOUZA RIBEIRO e LÁZARO PLÁCIDO LISBOA

[14] INDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTE - ©Copyright 1999/2001 by Antônio Silveira R. dos Santos (Programa Ambiental: A Última Arca de Noé).

[15] Patrimônio: sua função social e ambiental - Werno Herckert - Membro da Academia Brasileira de Ciências Contábeis - Membro da Associação Científica Internacional Neopatrimonialista

[16] INDÚSTRIAS E MEIO AMBIENTE - ©Copyright 1999/2001 by Antônio Silveira R. dos Santos (Programa Ambiental: A Última Arca de Noé).

[17] METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE ATIVOS AMBIENTAIS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS MEDIDAS - José Artur Vieira Eustáchio - [email protected] - José Lamartine Távora Junior [email protected]

[18] Da necessidade de um novo Padrão Monetário Ecológico - Marcus Azaziel - Revista de Ecologia do Século 21

[19] O que impede o exercício das Liberdades - Cristiane Rozicki - Revista Mensal - Ano II - Número 16 - Setembro de 2002 - ISSN: 1519.6186

[20] Teoria Geral do Estado – Wilson Accioli, Forense, RJ, 1985,1ª ed., pág. 324.

Site: http://www.serrano.neves.nom.br

Serrano Neves [ [email protected] ]

Cylene Gama [ [email protected] ]

Humberto Moreira [ [email protected] ]