atuacao_gestor_escolar

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Como deve atuar um gestor!!

Citation preview

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    11.. AA aattuuaaoo ddoo ggeessttoorr eessccoollaarr ddiimmeennsseess ppoollttiiccaa ee

    ppeeddaaggggiiccaa..

    Na sala POLITICAS E GESTO DA EDUCAO voc tambm estar discutindo essa temtica, porm aqui procuraremos focalizar mais no trabalho propriamente dito do gestor escolar as formas de relao com a comunidade escolar, as dimenses conflitivas de seu trabalho e suas possibilidades de atuao.

    Discutiremos, neste texto, o trabalho do gestor ou diretor na escola,

    apontando as diversas dimenses que o constituem e, sobretudo, enfatizando o

    carter pedaggico da gesto escolar. Com isso, queremos dizer que o diretor

    primeiro um educador e que a gesto da escola

    um espao privilegiado de aprendizagem

    democrtica.

    Para bem discutir a perspectiva aqui

    adotada ou seja, a da gesto democrtica da

    escola, iniciaremos nossos estudos, retomando e

    aprofundando alguns conceitos que tambm esto

    sendo trabalhados na Sala de Poltica e Gesto da

    Educao, mais especificamente nos textos que

    tratam do Papel Poltico-pedaggico do Diretor e Concepes Terico-

    metodolgicas sobre Administrao Educacional: teorias e tendncias atuais.

    Deste ltimo texto, retomaremos as tendncias atuais, oriunda do mundo

    empresarial, que a transposio dos chamados mtodos da gesto flexvel para

    a gesto da escola.

    Voc deve estar se perguntando: qual a importncia dessa discusso? Se

    escola no empresa e, assim sendo, no h porque tomar as empresas como

    exemplos de modelos de gesto!! Ocorre, todavia, que a educao e, mais

    especificamente, o campo da gesto educacional vem sendo, cada vez mais,

    colonizado por conceitos e teorias, originados em diferentes campos de

    conhecimento (como administrao, engenharia, psicologia, para citar alguns),

    produzindo uma miscelnea de termos que, ao fim e ao cabo, parecem torn-los

    todos iguais e as posies polticas que os ancoram, muitas vezes, contraditrias

    ou diferentes, tendem a ser apresentadas como equivalentes. Assim, vemos, por

    1

    AdministradorUnderline

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    exemplo, termos como gesto

    participativa, participao da

    comunidade, gesto

    democrtica, entre outros, ser

    utilizados tanto nas empresas

    como nas escolas, porm, com

    sentidos muito diferentes daqueles

    que adotamos quando falamos em

    gesto democrtica da escola,

    numa perspectiva crtica,

    emancipatria, posio esta que balizada na compreenso da educao como

    direito que, assim sendo, por se tratar de coisa pblica, sua gesto tambm deve

    ser pblica.

    Qualidade? total? social?

    Colaborao? Partilhamento de poder??

    Gesto participativa? Democrtica?

    Escola? Empresa? Qual a diferena??

    eficincia? eficcia??

    1.1. O Gerencialismo na Educao: do que estamos falando?

    Desde a dcada de 1990, a gesto da escola, e em especial o trabalho do

    gestor escolar, vem sendo objeto de debates entre diferentes setores sociais

    (pesquisadores, governo, organismos internacionais). Esses debates, embora no

    partilhem da mesma perspectiva terica e poltica, convergem, contudo, na

    importncia atribuda gesto da escola como instrumento para a promoo da

    qualidade na educao.

    Relembramos que as anlises sobre a crise educacional tendem a enfatizar

    a gesto da escola, os professores e as culturas locais dos alunos como

    responsveis pelos fracassos educacionais: de acordo com o discurso liberal, a

    escola carece de eficcia para responder s novas necessidades do mercado de

    trabalho e do mundo das empresas, motivo pelo qual precisa ser inovada. Nessa

    anlise, a escola pblica, considerada ineficaz no que tange as necessidades do

    mercado, comparada com as empresas, estas ento, apresentadas como

    2

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    smbolos de eficincia, de inovao, capazes de responder a um mundo em

    permanente mutao. Esse o discurso que ouvimos diariamente sobre a escola.

    No h dvida tambm, entre os professores, estudiosos e pesquisadores

    da educao, que a escola precisa mudar. Contudo, vale ressaltar, se h

    convergncias entre diferentes grupos sociais com relao necessidade de

    mudanas na escola, h, todavia, muita divergncia com relao a direo a ser

    dada a esta mudana.

    Os novos discursos com relao escola e sua gesto tambm precisam ser

    compreendidos como condicionados pelas transformaes do capitalismo, em nvel

    mundial, e pelos processos de reestruturao dos estados nacionais. Com relao

    a este ltimo aspecto, relembramos que o Brasil nos anos de 1990, na

    implementao do chamado ajuste fiscal, que levou a cortes drsticos no

    oramento destinado a esfera social,

    includo aqui aquele destinado

    educao. Como no lembrar os

    intensos debates dessa poca sobre

    o FMI, pagamento da dvida externa,

    corte de gastos na sade, na

    educao? Ento, nessa lgica de

    poucos recursos para a educao, os

    discursos de cunho liberal passam a enfatizar a centralidade da gesto das escolas,

    como meio para se obter mais eficcia em seus resultados: fazer mais com

    menos, otimizando recursos, parece que se tornaria o lema que marcaria o

    potencial das escolas para responder a crise, criando assim seus diferenciais.

    O ideal de formao da escola passou a ser o trabalhador flexvel, o

    cidado pr-ativo, a formao por competncias, a gesto da informao; j

    o sistema educacional idealizado seria aquele que estabelecesse o ranking das

    escolas, dando visibilidade aos seus desempenhos, motivando os pais a

    escolherem aquelas melhor posicionadas. Na tica dos tericos liberais da

    educao, esses mecanismos estabeleceriam a competitividade nos sistemas de

    3

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    ensino, levando as escolas a se tornarem mais eficazes. A partir dessa perspectiva,

    muitos so aqueles que desejam a implementao, no campo da educao, dos

    princpios do mercado e no campo da gesto educacional, dos princpios e

    mtodos de gesto flexvel, adotado pelas empresas consideradas competitivas.

    No podemos esquecer que esses discursos de elogio s virtudes do

    mercado procuram difundir a crena de que a eficincia da gesto reside em seu

    carter tcnico. Tal posicionamento contraria os princpios que orientam a

    perspectiva da gesto democrtica da escola, posto que esta pressupe que todo

    trabalho tcnico tem uma dimenso poltica e pedaggica, no sendo, portanto,

    neutro.

    Relembramos ainda que as reformas educacionais implementadas desde a

    dcada de 1990, em vrios pases do mundo, pretenderam modernizar os

    sistemas educacionais: o objetivo visado era torn-los mais flexveis e, assim,

    mais eficazes. Em especial, as escolas pblicas foram consideradas burocrticas,

    rgidas, ineficientes, em contrastes com as organizaes do setor privado,

    consideradas mais performticas. O discurso da modernizao das escolas no

    colocava em questo apenas sua eficcia; questionava de fato, os princpios e

    finalidades da educao, em especial o seu carter pblico e democrtico. Como

    nos alerta Laval (2004), falar de modernizao na educao mais do que

    introduzir novas tecnologias:

    O termo modernizao no to neutro quanto os partidrios da reforma queriam fazer acreditar. Lembremos primeiro para registro que, no vocabulrio das cincias sociais conquistadoras dos anos 1960, modernizar significava converter as sociedades ou setores da sociedade ainda tradicionais modernidade, rompendo os costumes, eliminando maneiras de ser e de fazer que repugnavam a primazia da eficcia e da racionalidade. Mas, o verbo modernizar significa, igualmente, em um sentido mais restrito, procurar um aumento de eficcia nas organizaes e nas instituies para coloc-los no nvel de produtividade supondo que o termo tenha um sentido universal das empresas privadas mais performantes (LAVAL, 2004, p. 190)

    4

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    Segundo Casassus (2001), em fins de 1980, que se passa, na Amrica Latina, de uma concepo de administrao para gesto. O conceito de gesto considerado mais abrangente e sistmico do que o conceito de administrao, mostrando-se mais adequado para referir-se ao gerenciamento de sistemas descentralizados: o princpio que orientou esse processo foi que a gesto se tornaria mais flexvel se a unidade de gesto [estivesse] constituda por unidades menores do que o sistema mais amplo(p.61).

    O pensamento liberal foi intensamente questionado pelos educadores

    crticos no Brasil e na Amrica Latina: enfatizamos a funo social da escola

    pblica, reafirmando seu carter democrtico e a necessidade desta se balizar

    pelas finalidades intrnsecas ao ato educativo a formao de sujeitos humanos,

    desenvolvendo todas as suas potencialidades, ao mesmo tempo em que possibilita

    a apropriao do saber social e historicamente construdo. Contudo, como o campo

    da poltica educacional no homogneo, mas um campo de litgios onde se

    confrontam diferentes posies, as posies crticas podem ser incorporadas de

    modo parcial ou mesmo ignoradas pela poltica

    educacional, dependendo esses movimentos das

    condies histricas de cada pas.

    Exemplificamos o que estamos dizendo com os

    movimentos de reformas educacionais. De acordo com

    Casassus (2002), a primeira gerao de reformas, na

    regio da Amrica Latina e Caribe, ocorreu nos anos de

    1960 com a expanso quantitativa dos sistemas

    nacionais de educao. A segunda gerao, j nos anos

    de 1990, teve como foco questes como a gesto e a

    qualidade da educao.

    Tornar as escolas eficazes passa a ser, ento, a

    principal meta das reformas, o que por sua vez,

    implicaria, adotar tambm uma outra viso de gesto

    escolar, que sinalizasse para a emergncia de uma nova cultura na escola,

    ancorada em trs eixos: a descentralizao, a autonomia e a liderana escolar

    (FONSECA, 2004 et al., p. 53).

    Nesse contexto, um novo modelo de gesto passou a ser recomendado,

    em especial pelos organismos internacionais, sustentando-se a idia de que

    melhores indicadores de qualidade poderiam ser obtidos se a gesto das escolas

    fosse mais eficiente. Para isto, seria necessrio, dentre outros aspectos, combinar

    avaliao externa e responsabilizao pelos resultados, tanto pedaggicos como

    5

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    administrativo-financeiros. Observamos, desde ento, que o discurso da gesto por

    resultados passou a ser moeda corrente no campo da gesto educacional.

    Voc pode voltar a Sala de Poltica e Gesto Educacional, retomando o texto que trata dessas teorias.

    A transposio de modelos de administrao construdos nas empresas para

    a escola no novidade. De acordo com Dourado

    (2003), encontramos no campo educacional

    distintas teorias de gesto/administrao, quer se

    considere a escola e a empresa como diferentes ou

    assemelhadas. Como pressuposto comum a essas

    diferentes teorias, poderamos assinalar duas

    idias: a) administrao, com seus mtodos e tcnicas, pode ser aplicada a

    qualquer campo, quer seja este escola ou empresa, pois os processos

    administrativos em ambas tm a mesma natureza; b) os problemas encontrados

    nas escolas so decorrentes, sobretudo, de sua m administrao.

    Essa ltima idia que relaciona problemas da escola com sua m

    administrao ganha flego nas ltimas dcadas, com os defensores da aplicao

    dos mtodos e tcnicas da chamada gesto flexvel no mbito da escola. Esse

    movimento no interior da educao vem sendo designado por alguns estudiosos

    como gerencialismo.

    Na concepo do gerencialismo a meta da gesto educacional aumentar a

    eficincia e eficcia das escolas, fatores estes que se expressariam em indicadores

    de desempenho ou em resultados. Para a elevao desses indicadores o principal

    aspecto assinalado a mudana na cultura da escola (tratada aqui como uma

    organizao social e no como uma instituio social); difunde-se a idia da escola

    como organizao que aprende, sendo centrais que a atividade gestora se paute

    na inovao, na criatividade e na pr-atividade de todos os seus segmentos. Nessa

    perspectiva pouco se valoriza o processo e pouco se questiona o que um bom

    resultado.

    O diretor da escola tratado como um gerente, em cuja liderana repousa

    a maior ou menor capacidade de agregar valores, criar sinergias no grupo de

    trabalho, harmonizar, estabelecer parcerias com a comunidade do entorno escolar,

    6

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    com vistas obteno de metas previamente definidas. Gerenciar nesse caso,

    potencializar recursos, fazer da crise oportunidade, tal como se difunde nos

    discursos dos gurus da gesto moderna. Opondo-se ao discurso da

    administrao, o discurso da gesto flexvel prega a passagem de uma concepo

    de administradores para gerentes. Segundo Clarke e Newman (apud SHIROMA

    e CAMPOS, 2006) os gerentes so ativos na tomada de deciso enquanto os

    administradores implementam ou interpretam decises tomadas por outrem.

    Gerente da escola

    A perspectiva gerencialista de gesto escolar compromete os diretores de

    escola com outros valores que no aqueles oriundos da perspectiva democrtica.

    Diferentemente desta ltima, cabe aos diretores a principal responsabilidade pelos

    rumos da escola. Ainda que se fale de participao ou de gesto participativa o

    objetivo a adeso do coletivo da escola aos planos e objetivos traados ou

    apresentados nos Planos de Desenvolvimento Estratgico. Todos esses

    instrumentos podem funcionar para, a exemplo do que ocorre nas gestes

    participativas nas empresas, mobilizar os diferentes segmentos da comunidade

    escolar para a resoluo de problemas, para a colaborao na execuo do

    Liderana?

    Capacidade de resolver problemas?

    Agregar valor? Parceria?

    Sinergia?

    7

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    planejamento, nas tarefas em prol de objetivos, metas etc. Nesse caso, podemos

    falar de uma participao ou colaborao que no implica na presena de

    partilhamento de poder por meio dos espaos constitudos e legitimados por todos,

    como conselhos escolares, grmios estudantis.

    O discurso gerencial institui uma nova linguagem para promover a mudana na cultura da escola. Embasado na ideologia tcnico-bucrocrtica, incorpora o lxico da re-engenharia, o discurso participativo da transformao, do empreendedorismo, do cidado pr-ativo. Fala da mudana orientada pelo planejamento estratgico, pela misso e pelas metas. Busca transformar o servidor burocrtico num lder dinmico, tenta provocar transformaes na subjetividade dos educadores. Evoca imagens futuristas, tenta criar um gestor motivador, um visionrio. O gerencialismo tende a modificar a natureza da linguagem que os profissionais utilizam para discutir a mudana. Esse discurso influencia no s a linguagem, mas, fundamentalmente, a prtica. Afeta a forma de ser professor e diretor de escola (SHIROMA e CAMPOS, 2006).

    Devemos estar atentos para as questes do gerencialismo, na medida em

    que sua difuso ocorre de forma significativa em espaos educacionais, em

    publicaes dirigidas a educadores, em cursos para gestores escolares, em

    orientaes produzidas pelos sistemas de ensino. Muitas vezes, fica-nos difcil

    diferenciar as proposies de cunho democrtico daquelas que orientam essa

    perspectiva gerencial, pois os termos e conceitos utilizados por esta ltima, muitas

    vezes, so tambm aqueles usados pelo campo crtico dos estudos sobre educao

    e gesto escolar. Porm, esses termos so re-significados, ou seja, ainda que em

    sua aparncia paream ser a mesma coisa, de fato, passam a difundir outros

    significados e sentidos, bastante distintos daqueles que lhe deram origem. Por

    exemplo, termos como gesto participativa, participao, autonomia, projeto de

    escola, para citar alguns tendem a ser apresentado como similares aos preceitos

    que baseiam a gesto democrtica na escola. A gesto por resultados, ou gesto

    eficaz, ainda que conte com a participao da comunidade escolar na sua

    8

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    realizao, tende a se sustentar na liderana do diretor e no na constituio de

    mecanismos institucionalizados de poder partilhado.

    Na perspectiva gerencial, as prticas de gesto tendem a se conformar,

    cada vez mais a uma perspectiva tcnica de atuao, subestimando-se, por esse

    ato, a dimenso poltica implicada no trabalho de gesto escolar. Promove-se,

    nessa tica, uma dissociao entre as finalidades e objetivos da educao e os

    meios usados para alcan-los: acredita-se se que a utilizao de ferramentas

    eficazes de gesto condio necessria e suficiente para que se alcance a

    qualidade na educao. Supe-se nesse caso, que as tcnicas so neutras, estando

    seu potencial relacionado ao modo com que so usadas. Veremos, na seo a

    seguir, que essa dissociao entre fins e meios uma falcia, e seus resultados no

    campo da educao culminaram na perspectiva tecnicista que orientou a diviso de

    tarefas no interior da escola.

    Em seus estudos da Sala de Poltica e Gesto Educacional e na Direito Educao, voc vem discutindo o carter pblico e democrtico da escola e da gesto escolar, estudos estes, que muito contribuem para a compreenso do trabalho do gestor escolar. Esta discusso ancora-se numa interrogao primeira sobre a funo social da educao e da escola. Cury (2001), discutindo esse aspecto, considera que sendo o conhecimento um bem pblico e cabendo escola a sua transmisso, a gesto da escola significa a gesto de um servio pblico. Essa especificidade se constitui tendo a democracia como princpio fundamental e a participao plena, como condio para que esta ltima se exera.

    1.2. Da perspectiva gerencial perspectiva poltico e pedaggica do

    trabalho do diretor escolar

    Tomando como referncia o que discutimos

    anteriormente, podemos indagar: qual a natureza da

    gesto escolar e do trabalho do diretor?

    Comecemos por discutir a natureza da gesto escolar.

    De acordo com Paro (2002a), a especificidade da gesto

    escolar deriva de um duplo processo:

    a) dos objetivos que se pretende alcanar

    com a escola;

    b) da natureza do processo que envolve essa

    busca.

    Ambos so indissociveis e assim, se a escola

    projeta e pretende a construo de sujeitos crticos, os

    9

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    mtodos que utiliza para concretizar esse objetivo devem estar estreitamente

    vinculados a eles. Compreende-se ento, que a transposio dos mtodos de

    gerenciamento das empresas, contrria a implementao da democracia na

    escola. Com isso queremos dizer, que no possvel fazer-se um discurso

    apologtico da gesto democrtica na escola adotar procedimentos, instrumentos

    ou ferramentas tcnicas da gesto empresarial.

    No possvel separar as dimenses poltica e tcnico-administrativo do

    trabalho do gestor escolar. Se considerarmos que a educao escolar uma prtica

    social de carter poltico, considerando ser esta a tarefa que lhe d origem

    constituindo-se, tambm, em sua principal atividade, possvel afirmarmos que a

    dimenso poltica tem precedncia sobre a dimenso tcnica quer no trabalho

    escolar, quer no trabalho do gestor escolar. Por isso que quando elaboramos o

    Plano Poltico-Pedaggico da escola iniciamos com a discusso e definio das

    finalidades da educao e da escola, ponto de partida para que se decida e se

    elabore os meios pelos quais sero alcanados os objetivos preconizados pelo

    coletivo da escola.

    A atividade de gesto considerada, nessa perspectiva, como uma atividade

    de mediao. Sendo assim, no se esgota em si mesma, no um fim em si. Pelo

    contrrio, intrnseca ao seu carter mediador a possibilidade de mltiplas

    articulaes com objetivos que rompam com prticas burocratizadas e

    conservadoras em termos de educao. Assim, na prtica da gesto escolar

    encontramos tanto possibilidades de transformao e mudana como tambm

    prticas que fortalecem o paternalismo ou atitudes antidemocrticas.

    Desse carter mediador da gesto escolar, Paro (2002a) destaca duas

    conseqncias: a) possibilita identificar como no administrativas todas as

    atividades que perdem de vista a finalidade a que se destinam, tornando-se um fim

    em si mesma; isso que d origem s prticas burocratizadas, a papelada, s

    prticas consideradas como inteis na escola; b) no sendo um fim em si mesma, a

    gesto da escola pode articular-se com uma diversidade de objetivos, incluindo

    10

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    aqueles que rompem com as prticas de dominao e antidemocrticas vigentes.

    Por isso o autor destaca:

    importante antes de mais nada levar em conta os objetivos que se pretende com a educao. Ento, na escola bsica, esse carter mediador da administrao deve dar-se de forma a que todas as atividades-meio (direo, servios de secretaria, assistncia ao escolar e atividades complementares[...] ), quanto a prpria atividade-fim, representada pela relao ensino-aprendizagem que se d predominantemente (mas no s) em sala de aula, estejam permanentemente impregnadas dos fins da educao (PARO, 2002a, 303).

    no carter educativo da gesto escolar democrtica que encontramos as

    possibilidades de mudana. Ao se constituir como um espao coletivo de

    partilhamento de poder torna-se um espao pedaggico rico em possibilidades de

    aprendizagens para o exerccio da cidadania. A realizao do carter pedaggico

    da gesto escolar supe ainda como condio para sua efetivao, no apenas a

    partilha de poder com o coletivo da escola, mas tambm a co-responsabilizao

    pela gesto da escola. Embora indissociveis, a primeira condio para que a

    segunda possa emergir, ou seja, a participao efetiva, plena, coletiva e

    democrtica, condio para que a co-responsabilizao possa ocorrer no como

    imposio, mas como engajamento e cooperao solidria.

    nesse sentido, que a co-responsabilidade coletivamente construda, pode

    contrapor-se idia de accountability, ou responsabilizao individualizada pelos

    resultados da aprendizagem dos alunos e do desempenho da escola, conforme

    ocorre na perspectiva gerencial. Na perspectiva gerencial, os resultados inscrevem-

    se na tica da prestao de servios para clientes e publicizar resultados

    disputar posies em ranking nacionais ou internacionais de desempenho.

    Considerando ento, que a gesto escolar uma atividade mediadora,

    orientada por um carter pedaggico que lhe intrnseco, como podemos definir o trabalho do gestor escolar na perspectiva

    democrtica?

    11

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    De acordo com o que vimos anteriormente, podemos dizer que o trabalho do

    gestor inscreve-se na dialtica individual/coletivo, j que seu principal papel ser

    um mediador entre o projeto coletivo de escola e os sujeitos sociais que se

    constituem em seus principais destinatrios.

    Ao ancorar seu trabalho no coletivo da escola, o diretor pode prescindir de

    decises centralizadas, muitas vezes, desprovidas de sentido e de interesse para a

    comunidade escolar. Criar, fomentar, facilitar condies para a participao da

    comunidade escolar depende, em grande medida, do compromisso assumido pelo

    diretor com uma perspectiva democrtica de educao. Trata-se assim de des-

    privatizar a gesto da res publicae (SPOSITO, 2005, p. 48).

    Cabe assim aos diretores procurar mecanismos que possibilitem a superao

    dos obstculos, muitos deles decorrentes da prpria estrutura e organizao dos

    sistemas de ensino e das unidades escolares. Ainda, preciso articular e garantir a

    participao e no apenas a integrao da comunidade escolar em instncias

    colegiadas de deciso. Conforme ressalta Dourado (acesse:

    www.tvebrasil.com.br/salto)

    [...] fundamental garantir, no processo de democratizao, a construo coletiva do projeto pedaggico, a consolidao dos conselhos escolares e grmios estudantis, entre outros mecanismos. Nessa direo, fundamental a compreenso de que a construo de uma gesto escolar democrtica sempre processual e, portanto, em se tratando de uma luta poltica de construo, eminentemente pedaggica.

    O diretor, na perspectiva democrtica, no o lder que conduz seus

    liderados numa relao sempre de concesso e de subordinao; mas, ao

    contrrio, promove suas aes, exercita sua funo na direo da construo de

    instncias democrticas de deliberao (como conselhos escolares, grmios

    estudantis e outras), garantindo assim, que o exerccio do partilhamento do poder

    no dependa da sua pessoa, mas da organizao e mobilizao da comunidade

    escolar.

    12

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    Assumindo esse papel de articulador da democracia da/na escola, o diretor

    escolar contribui para a construo e efetivao de uma escola pblica de fato

    democrtica. Relembramos que a gesto colegiada democrtica realiza-se

    efetivamente, quando se torna um compromisso de toda a comunidade escolar.

    Conforme nos lembra Sposito (2005, p. 55)

    A gesto democrtica deve ser um instrumento de transformao das prticas escolares, no a sua reiterao. Este o seu maior desafio, pois envolver, necessariamente, a formulao de um novo projeto pedaggico. A abertura dos portes e muros escolares deve estar acompanhada da nova proposta pedaggica que a exija. Se as escolas no estiverem predispostas a essa mudana, a gesto e a melhoria da qualidade sero expresses esvaziadas de qualquer contedo substantivo.

    Para finalizar....

    Nesse texto pretendemos chamar a ateno para duas perspectivas de

    gesto educacional que, muitas vezes parecem bastante semelhantes, pelos termos

    que usam, apelos que fazem, idias que defendem. No entanto, um olhar mais

    atento para os pressupostos do gerencialismo nos informam diferenas

    substanciais com relao a orientao democrtica na gesto das escolas e dos

    sistemas educacionais. O mesmo pode ser dito com relao ao trabalho do gestor

    escolar diferentemente da perspectiva democrtica que enfatizar o

    partilhamento de poder e a gesto colegiada da escola, no gerencialismo a nfase

    recai sobre a pessoa do diretor, apostando em sua liderana para mobilizar a

    escola para a resoluo de problemas.

    Certamente que todos concordamos que as escolas precisam mudar,

    tornarem-se mais produtivas e efetivas na funo social que historicamente lhe foi

    atribuda. Todavia, os valores que devem balizar essas mudanas no se

    encontram no estabelecimento de competitividade entre escolas, ou na busca de

    indicadores performticos dos alunos. Como diz Severino, o compromisso do

    professor e, por extenso da escola, com a aprendizagem dos alunos, intrnseco

    prpria natureza social da educao, pois esta na condio de prtica voltada

    para sujeitos humanos em construo, desenvolvendo uma ao de interveno

    13

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    nesses sujeitos, tem como compromisso fundamental o respeito radical a

    dignidade humana desses sujeitos. Com efeito, a legitimidade da educao

    pressupe necessariamente sua eticidade (SEVERINO, 2002, p. 13).

    Comparando o gerencialismo e a gesto democrtica da educao:

    Gerencialismo Gesto democrtica nfase a dimenso tcnica da gesto: supe que a eficincia da mesma sustenta-se no bom uso de recursos tcnicos, tais como controles estatsticos, padronizaes, ranqueamento etc

    Gesto centrada na pessoa do diretor; nfase em sua liderana para mobilizar sinergias da comunidade escolar; Gesto participativa significa a comunidade escolar colaborando com a escola, no necessariamente deliberando sobre seus rumos; a participao fica associada a resoluo de problemas, ocorrendo de modo pontual e assistemtico; Pressupe autonomia e responsabilizao individualizada, com conseqncias para professores e diretores, pelos resultados do desempenho dos alunos e da escola; Procura atingir metas de eficincia e eficcia previamente definidas em planos estratgicos, acordos etc Considera a competitividade entre as escolas como o principal fator para alavancar a qualidade das mesmas; estimulam o ranqueamento das escolas, prmios por desempenhos etc.

    nfase a dimenso poltico-pedaggica da gesto: baseia-se na indissociabilidade dos meios/finalidades; nesse sentido, pressupe que as tcnicas subordinam-se as dimenses poltico-pedaggica da gesto; Gesto centrada nos colegiados da escola: conselho de pais, grmios estudantis e outras formas de organizao; Gesto participativa significa, aqui, a comunidade escolar participando efetivamente da escola, discutindo e decidindo coletivamente seus rumos; a participao ocorre de forma sistemtica, por meios dos rgos colegiados ou via direta; Pressupe autonomia e co-responsabilizao pelos resultados da aprendizagem dos alunos e da unidade escolar; Procura atingir a qualidade socialmente referenciada da educao; suas metas e objetivos devem expressar no apenas resultados quantitativos, mas, sobretudo, qualitativos. Considera que a qualidade da educao se conquista com medidas efetivas em prol da autonomia, gesto democrtica, financiamento pblico e formao de professores.

    14

  • Escola de Gestores da Educao Bsica

    Bibliografia

    CASASSUS, Juan. A Reforma Educacional na Amrica Latina no Contexto de Globalizao. Cadernos de Pesquisa. So Paulo: FCC. n 114, de novembro de 2001.

    CURY, Carlos R. J. O Conselho Nacional de Educao e a gesto democrtica. In: OLIVEIRA, Dalila A. (org.) Gesto democrtica da educao. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001 (3 edio).

    DOURADO, L. Gesto escolar democrtica a perspectiva dos dirigentes escolares da rede municipal de Goinia. Goinia: Editora Alternativa, 2003.

    _____. A gesto democrtica, eleio de diretores e a construo de processos de participao e deciso na escola. Acesse: www.tvebrasil.com.br/salto

    FONSECA, M.; OLIVEIRA, J.F.; TOSCHI, M. S. As tendncias da esto na atual poltica educacional brasileira: autonomia ou controle? In: BITTAR, M.; OLIVEIRA, J. F. Gesto e polticas da educao. Rio de Janeiro: DPA Editores, 2004.

    LAVAL, Christian. A escola no uma empresa: o neo-liberalismo em ataque ao ensino pblico. Londrina: Planta, 2004. PARO, Vitor. A gesto democrtica da escola pblica. So Paulo: Editora tica, 2002a. SHIROMA, E. O. ; CAMPOS, R. F. . La resignificacin de la democracia escolar mediante el discurso gerencial: liderazgo, gestin democrtica y gestin participativa. In: Myriam Feldfeber; Dalila Andrade Oliveira. (Org.). Polticas educativas y trabajo docente: Nuevas regulaciones, Nuevos sujetos?. 1 ed. Buenos Aires: Ediciones Novedades Educativas, 2006, v. , p. 221-237. SPSITO, Marlia P. Educao, gesto democrtica e participao popular. In: BASTOS, J. B. (org.) Gesto democrtica. Rio de Janeiro: DPA Editora, 2005.

    SEVERINO, A. J. Competncia tcnica e sensibilidade tico-poltico: o desafio da formao dos professores. Cadernos FEDEP, So Paulo, n 1, p. 7-20, 2002.

    15