Atuais Tendencias Em FP - Gonçalves

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    169SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    AtuaisTendnciasemFormaodePalavrasnoPortugus Brasileiro

    NEWTRENDSINWORD-FORMATIONINBRAZILIANPORTUGUESE

    Carlos Alexandre Victorio GONALVES*

    Resumo: Este artigo baseado no trabalho de Bogdan Szymanek, publicadonoHandbook of Word-Formation, de 2005, sobre os fenmenos envolvidos naformao de palavras em ingls que se tornaram rotineiros nos ltimos anos.

    Desse modo, seguindo a anlise de Szymanek (2005) para o ingls, procuramosmapear as estratgias utilizadas na criao de vocabulrio novo em portugus(variante brasileira), com vistas a abordar os fenmenos de ampliao lexicalque estejam sinalizando algum tipo de modificao na morfologia dessa lngua.Palavras-Chave: Morfologia. Formao de Palavras. Tendncias.

    Abstract: This paper is based on the Bogdan Szymaneks work, published inthe Handbook of Word-Formation (2005), on the phenomena involved in

    word-formation in English that become prominent nowadays. Thus,following the Szymanek (2005)s analysis for English, we map the strategiesused in the creation of new vocabulary in Portuguese (Brazilian variant), inorder to describe the phenomena that exhibit some kind of change inmorphology of this language.Key-Words: Morphology. Word-formation. Trends.

    Introduo

    Este artigo baseado no trabalho de Bogdan Szymanek, publicadonoHandbook of Word-Formation, de 2005, sobre os fenmenos envolvidos na

    * Doutor em Lingustica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). ProfessorAssociado do Setor de Lngua Portuguesa da Faculdade de Letras da UFRJ. Contato:

    [email protected].

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    formao de palavras em ingls que se tornaram rotineiros nos ltimos anos.Desse modo, seguindo a anlise de Szymanek (2005) para o ingls, procuramosmapear as estratgias utilizadas na criao de vocabulrio novo em portugus(variante brasileira), com vistas a abordar os fenmenos de ampliao lexicalque estejam sinalizando algum tipo de modificao na morfologia dessa lngua.

    Convm, em primeiro lugar, esclarecer o ttulo. A expresso atuaistendncias na formao de palavras no deve ser interpretada como inovaesdescritivas ou abordagens tericas recentes para a formao de palavras, mascomo orientaes diferentes na criao e na utilizao de palavras complexasno portugus brasileiro contemporneo. Seguindo Szymanek (2005),consideramos tendncias atuais, na esfera da inovao lexical, usos emecanismos no apontados por gramticas tradicionais ou manuais de

    morfologia do portugus publicados at a dcada de 1990.Algumas das foras que moldaram a formao de palavras emportugus, nos ltimos anos, so bastante salientes e, por isso mesmo, fceisde identificar, pois tendem a refletir vrias das inovaes por que vem passandoa morfologia do ingls, em funo de seu prestgio nos dias de hoje (BAUER,2005; DUNKS, 2003; FANDRYCH, 2008). Tal o caso das construescom os chamados xenoconstituintes, comocyber-,wiki-, -leaksee-, amplamenteanalisados em Gonalves & Almeida (2011). Outras, no entanto, so mais

    sutis, dbeis ou obscuras para que sejam reconhecidas como tendnciasgeneralizadas no atual estgio da lngua, como, por exemplo, novas acepesde formativos e o emprego de operaes no concatenativas. Como lembraSzymanek (2005, p. 430), o alcance real e a importncia dessas inovaes sse tornaro evidentes com o benefcio da retrospectiva.

    Nas sees a seguir, descrevemos, nessa ordem, as analogias, osmecanismos no concatenativos, a emergncia de afixos e/ou formascombinatrias e a utilizao de novas operaes morfolgicas, situaes que,

    para ns, sinalizam possveis tendncias na formao de palavras no portugusbrasileiro contemporneo. Nosso principal ponto de apoio, alm dasgramticas tradicionais (BECHARA, 1983; CUNHA; CINTRA, 1985;ROCHA LIMA, 1975) e dos manuais de morfologia (MONTEIRO, 1987;SANDMANN, 1989; CARONE, 1990; ALVES, 1990), o trabalho pioneirode Sandmann (1985), um importante estudo sobre produtivade e inovaolexicais realizado na dcada de 1980. Em sua grande maioria, nossos dadosprovm de pginas publicadas nainternet, que tem a vantagem de reunir tanto

    material impresso que reflete a escrita padro, comositesde jornais e revistas

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    de grande circulao nacional, quanto fontes escritas mais prximas daoralidade, como blogs, chatse postagens em redes sociais, como o Orkute o

    Facebook.

    1 Neologismos Derivacionais, Formaes Ex-Nihiloe HapaxLegomenon

    Como estamos interessados em descrever fenmenos em princpioinovadores na morfologia do portugus, so menos interessantes, masigualmente dignas de nota, (a) a emergncia de palavras complexas cunhadasde acordo com padres produtivos e bem estabelecidos na lngua, osneologismos derivacionais, e (b) a utilizao de formas criadasex-nihilo(do

    nada), sem ativao de qualquer processo morfolgico, as chamadas criaesde raiz. Exemplos do primeiro tipo so as recentes formaes em (01),instanciaes do esquema abstrato em (02)1, a seguir, que respondeprincipalmente pela nomeao de agentes (GONALVES, 1995;MARINHO, 2004; PIZZORNO, 2010):

    (01) blogueiro (que vivem emblogs);chapeiro (que trabalha na chapa de fazer hambrgueres)

    dogueiro (que comercia/ faz cachorro-quente)

    (02) [ [x]S jeiro]S i

    Formas criadas ex-nihiloso mais raras, pois extremamante difcilcunhar uma palavra sem qualquer tipo de motivao, seja ela morfolgica(algum processo regular) ou semntica (extenses metafricas ou metonmicas).Exemplos desse tipo so os adjetivos depreciativos catilanga, mocreia e

    baranga, utilizados em referncia a mulheres desprovidas de atributos fsicos,na seguinte postagem acerca dofunkMel da mulher feia, deMcMarlboro:

    1 Nesse esquema, baseado em Booij (2005), base e produto so indexados pelo smbolosubscrito

    S, que representa a classe dos substantivos. Os subscritos

    ie

    jindicam que

    tanto a base, representada pela varivel x, quanto o produto fazem parte do lxico.

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    (03) Como era de se esperar do autor, excelente o texto. Que venham asbarangas,mocrias,catilangase etc.(http:/ / vintemotivos.blogspot.com/ 2008/ 01/baranga.html)

    Neoogismos derivacionais e criaes ex-nihiloso diferentes doschamadoshapax legomenon(hapax, uma s vez, legomenon, dito, o que sediz), expresso grega utilizada em referncia a palavras das quais se conheceuma nica referncia. A noo dehapax legomenonvem ganhando destaque emestudos sobre produtividade morfolgica (BAUER, 2001, p. 115), pois onmero dehapaxesde um dado processo de formao de palavras pode ser

    visto como indicador de produtividade. Como mostra Szymanek (2005, p.430-431), todos os casos dehapax legomenonso genunos neologismos (alguns

    so simplesmente velhos ou mesmo palavras obsoletas, usadas apenas umavez e depois esquecidas). Excelente fonte para o estudo doshapax legomena a linguagem literria, na qual se utilizam, por questes estilsticas, inmerasconstrues morfologicamente complexas empregadas uma nica vez, aexemplo de chuvadeira, chuvinhenta e chuvil, que constam do poemaCaso pluvioso, de Carlos Drummond de Andrade:

    (04) Chuvadeira maria, chuvadonha,

    chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

    2 Formaes Analgias e Decomposies Sublexicais

    Alm da produtividade de determinado esquema de formao,palavras complexas so muitas vezes criadas por espelhamento em outras.Tal o caso das formaes analgicas, definidas por Bauer (1983, p. 96)como construes morfolgicas claramente modeladas por um lexema

    complexo j existente, no dando origem a uma srie produtiva. Formaesanalgicas podem se espelhar em compostos ou derivados. Exemplo doprimeiro tipo lista branca, antnimo logicamente cunhado a partir de listanegra, relao de alguma entidade ou pessoa fsica que nega algum privilgio,servio, participao ou mobilidade a algum ou a alguma entidade emdeterminada situao, perodo de tempo ou lugar (http:/ / pt.wikipedia.org/wiki/ Lista_negra). Exemplos do segundo tipo so lerdox, inspirado emvelox, nome de um provedor de banda larga, e aguaru, sem dvida alguma

    modelada a partir de fogaru, fogo muito alto:

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    (05) Quando o aguaruno deu mais chances e todos os transeuntessumiram, a fim de se salvarem, tudo ficou ainda mais fcil para ocachorro.(http:/ / cronopios.com.br/ site/ prosa.asp?id=4843)

    Oi Lerdoxconsolida sua liderana mais uma vez com o ttulo piorinternet do mundo com muitos e muitos e muitos clientes satisfeitosao redor da galxia 11 e dos seres humanos os famosos bobocas daLerdox.http:/ / www.reclameaqui.com.br/ 1400460/ oi-telefonia-velox/ oi-lerdox-a-pior-internet-do-mundo-por-apenas-39-90-aproveit/

    Muitos formaes analgicas so casos de hapax legemon, comoenxadachim, de Guimares Rosa, cunhada com base em espadachim(BASILIO, 1997), e bucetante, de Agamenon Mendes Pedreira (Jornal OGlobo), inspirada em picante (ASSUNO; GONALVES, 2009). Outras,no entanto, ganham fora lexical e so bastante usuais nos dias de hoje, comobebemorar, trbado e monocelha, que remetem, nessa ordem, acomemorar, bbado e sobrancelha:

    (06) Chegou a hora vamosbebemorarDe ambulncia, de jegue, de taxi, carro de colo, de bike, de bodeSe dane o transporteBebemorareu vouChegou a hora vamos bebemorar(Msica do compositor Latino, bebemorar)

    A tranquila Rua Artur Porchat de Assis n 42, Ed. Artur Assis, foi palco

    de cenas Dantescas na madrugada do 1 dia do ano. Jovenstrbados, homens/mulheres, se arrastando na portaria do prdio, uma

    jovem dormia no sof do saguo. Latas e copos de cervejas espalhadospelo cho.(http:/ / flitparalisante.wordpress.com/ 2012/ 01/ 02)

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    Plag (1999, p. 20) afirma que formaes analgicas devem serdistinguidas de instanciaes de regras produtivas. No entanto, uma formaoanalgica isolada pode dar origem a um novo afixo e, em decorrncia, a umesquema produtivo. Desse modo, como argumenta Szymanek (2005, p. 431),no parece possvel ou apropriado dissociar completamente ambos osconceitos, ou seja, analogia e (alta) produtividade. Evidncias de que a analogiapode explicar a criao de afixos (ou a reativao de afixos pr-existentes debaixa produtividade) em vrias lnguas so apresentadas em Joseph (1998),Bauer (2005) e Booij (2005). Em portugus, um caso particularmenteinteressante o do sufixo ete, em dados como paniquete (danarina doprogramaPnico na TV) e ronaldete (admiradora fantica do ex-jogadorRonaldo)2.

    Formas mais antigas em -etedatam do final do sculo XIX (CUNHA,1975) e so interpretadas como diminutivas pela maior parte dos autores (cf.,p. ex., COUTINHO, 1973; BECHARA, 1983; CUNHA; CINTRA, 1985).Nos dicionrios, analisa-se tal sufixo como formador de substantivosfemininos. Seu primeiro registro, no entanto, consta do sc. XVI, a palavracanivete (BUENO, 1988). De acordo com o Houaiss eletrnico (2007),formas terminadas em eteentram na lngua sobretudo no sc. XIX, pormeio de palavras oriundas de outras lnguas: so galicismos, como tablete(1924) e garonete (1975), anglicismos, como basquete (1923) e chiclete(1933), e italianismos, como confete (1910) e espaguete (1903). Para odicionarista, -etetambm empregado com sentido de exotismo em palavrascomo vedete (1920) e tiete (1960). No h qualquer meno ao sufixo emmanuais de morfologia do portugus, nem mesmo em Sandmann (1985), oque pode sinalizar a possvel improdutividade desse formativo.

    Monocelha: Aquele que tem as sobrancelhas emendadas.Pessoas normais tm sobrancelhas que so divididas aomeio; monocelha vem de mono, "uma s", o popular JooPestana.(http:/ / www.dicionarioinformal.com.br/ monocelha)

    2 Estamos abordando aqui o sufixo com vogal mdia aberta, [], que difere dohomgrafo [], com vogal fechada, encontrado em palavras como bracelete e

    banquete.

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    Como explicar os recentes usos de -etese o sufixo no vernculo e agrande maioria das formaes mais antigas totalmente opaca em termosde estruturao morfolgica? Como justificar as acepes danarina doprograma (de) X e admiradora fantica de X, se as formaes mais antigasno remetem a esses significados?

    Ao que tudo indica, o gatilho para a criao de formas como hagazete(danarina do ProgramaH) chacrete, nome dado s bailarinas queatuavam no programa do animador de televiso Abelardo Barbosa, oChacrinha (1918-1988): E nos espelhos ela se despe, / Dana nos olhosumachacrete/ E o pessoal na pior: Repete! (Ivan Lins,Dinorah). Esse nome,no entanto, parece ter-se espelhado em vedete, termo usado em referncias atrizes que, no teatro de revista, sobressaam durante as apresentaes eque se constituam, muitas vezes, no grande atrativo destas

    (www.pt.wikipedia.org/ wiki/ Vedete) ou que apresentavam espetculo teatralcomposto de nmeros falados, musicais, coreogrficos e humorismo, exibindoa beleza do corpo com pouca roupa de forma exuberante(www.dicionarioinformal.com.br/ vedete).

    A forma tiete3, por sua vez, apesar de monomorfmica, parece terdesencadeado a produo de palavras como neymarzete (f do jogadorNeymar) e lulete (admiradora do ex-presidente Lula), j que significaadmirador ou admiradora fantica de algum, especialmente um artista,desportista ou poltico; pessoa que tem grande afeio ou demonstra grandeinteresse por (algum ou algo) (www.dicionarioinformal.com.br/ tiete). Em(07), a seguir, representa-se o possvel caminho para as formaes agorainstanciadas pelo esquema [ [x]S jete]S i.

    (07) vedete tiete

    chacrete ronaldete neymarzete lulete

    hagazete paniquete angeliquete

    3 De acordo com o Houaiss eletrnico (2007), a palavra tiete surgiu no final da dcadade 70 para designar as admiradoras (fs) do cantor Ney Matogrosso e mais tardetornou-se sinnimo de admirador fantico de qualquer artista, celebridade ou

    personalidade importante de determinada rea.

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    Como se v, formaes analgicas podem estar na base de novosusos para afixos antes improdutivos e, nesse sentido, no podem serinteiramente dissociadas das instanciaes por padres produtivos. Maisadiante, na seo 5, comentamos, com mais detalhamento, o papel da analogiana criao de splinters, partculas recorrentes oriundas de processos noconcatenativos. Antes, porm, vale a pena mencionar duas outras situaesde analogia encontradas em portugus.

    Um tipo de analogia envolvendo a estruturao interna de palavraspode ser chamada de decomposio sublexical (GONALVES;

    ANDRADE; ALMEIDA, 2010), na qual, por questes expressivas e combase unicamente na forma, recomhecem-se duas ou mais unidades lexicaisem itens lexicais no necessariamente complexos, como se v nos exemplos

    em (08), do Dicionrio Portugus-Purtugus, disponvel no seguinte endereo:http:/ / www.mail-archive.com/ [email protected]/msg00468.html.

    (08) pressupor - colocar preo em alguma coisa.homossexual - sabo em p para lavar as partes intimas.barraco - probe a entrada de caninos.detergente - ato de prender seres humanos.entreguei - estar cercado de homossexuais.barganhar - receber um botequim de herana.halognio - forma de cumprimentar pessoas muito inteligentes.contribuir - ir para algum lugar com vrios ndios.aspirado - carta de baralho completamente maluca.cerveja - e o sonho de toda revista.caador - indivduo que procura sentir dor.

    voltil - avisar ao tio que voc vai l.assaltante - um a que salta.pornogrfico - o mesmo que colocar no desenho.

    Constam do mesmo dicionrio itens lexicais em que uma de suaspartes remete, por questes estritamente fonolgicas, a um radical ou umafixo. Essa semelhana formal leva a interpretar tais formas como derivadas,

    isto , estruturadas conforme os esquemas [ X [Y] y ] y (prefixao) ou

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    [ [X] xY y]y(sufixao)4:

    (09) testculo - texto pequeno.estouro - boi que sofreu operao de mudana de sexo.expedidor - mendigo que mudou de classe social.diabetes - as danarinas do diabo.misso - culto religioso com mais de trs horas de durao.padro - padre muito alto.democracia - sistema de governo do inferno.ministrio - aparelho de som de dimenses muito reduzidas.bimestre - indivduo com dois ttulos de mestrado.

    3 Mudanas na Importncia Relativa dos Tipos de Processos deFormao de Palavras

    Como aponta Szymanek (2005, p. 231), difcil avaliar e comparar,em termos globais, a contribuio relativa de diferentes processos de formaode palavras para o estoque de novos vocbulos. No entanto, existemtendncias universais no emprego de recursos morfolgicos e o portugus secomporta como as demais lnguas nesse aspecto. Para Sapir (1921, p. 59),

    alguns processos gramaticais, como a afixao, so extremamente difundidos;outros, como a mudana voclica, so menos comuns; alm disso, dos trstipos de afixao o uso de prefixos, sufixos e infixos a sufixao muitomais comum (SAPIR, 1921, p. 67).

    As generalizaes apontadas em Sapir (1921) podem ser interpretadas,no contexto da discusso aqui encaminhada, como indcio de que a sufixaotem sido e ainda a principal fonte de novas palavras complexas em

    4 Nesses esquemas, encontrados em Booij (2005), as variveis X e Y representamsequncias fonolgicas e os subscritosxey, categorias lexicais. O esquema da prefixaoexpressa que essa operao morfolgica neutra categorialmente, sendo a classegramatical das palavras prefixadas idntica de sua base, que constitui a cabea. Nocaso da sufixao, no entanto, o elemento preso carrega informao sinttica e constituicabea lexical, por determinar tanto a categoria sinttica quanto o gnero do produto.Para Booij (2005), esquemas como esses fazem parte do lxico e representam o

    pareamento da estrutura formal com a semntica.

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    portugus (assim como em muitas outras lnguas). De fato, alm do uso desufixos fartamente abordados tanto pela tradio gramatical quanto pormanuais de morfologia, como dor, vel, istae mente, o portugus atual vem secaracterizando pelo emprego de radicais neoclssicos que se transformaramem sufixos. Tal o caso, por exemplo, de logo, metro, latrae dromo(RONDININI, 2004; RONDININI; GONALVES, 2007; GONALVES,2011a), com instanciaes recentes exemplificadas em (10), a seguir:

    (10) beijlogo barriglogo cigarrlogobucetlogo boioldromo boddromofumdromo trepdromo desconfimetroolhmetro mancmetro boiolmetro

    orkutlatra cinemlatra cuzlatraOutros sufixos recm-incorporados lngua so e itcho ([]),

    referenciados em Gonalves (2005a). O primeiro, manifestando a noo deintensidade, cria substantivos a partir de substantivos (11). O segundo pareceter sido formado a partir do dimensivo -itopela substituio da oclusivaalveolar [t] pela africada palato-alveolar [t], o que confere maiorexpressividade construo. Utilizado em referncia a algo (ou algum)

    avaliado positivamente pelo emissor, -itchotambm se anexa a substantivospara formar novos substantivos (12):

    (11) miser, fumac, balanc, bagunc, mulher, fuzu (cf. GONALVES,2005a, p. 78)

    (12) corpitcho, roupitcha, cabelitcho, papitcho (cf. PAULA; SOUZA, 2011,p. 123)

    Bauer (2003) argumenta que, em ingls, a preferncia pela sufixao reforada pela tendncia crescente, nos dias de hoje, do uso de afixoidesem posio inicial, o que caracterizaria uma mudana tipolgica na morfologiadessa lngua. Sem querer diminuir o alcance da prefixao no portuguscontemporneo, j que continuamos a utilizar vrios prefixos para formarnovas palavras, como em destucanizao e redolarizar, tambm notvelem nossa lngua o crescente uso de afixoides em posio inicial, como eco-,

    foto-, tele, petro- e bio-, entre tantos outros. Dessa maneira, competem, na

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    borda esquerda da palavra, prefixos antigos, de uso consolidado na lngua,como re-, des- e pr-, e prefixoides, discutidos com mais vagar na seo 6,que aborda o fenmeno da recomposio.

    Muitos dos radicais gregos e latinos listados em gramticas tradicionaishoje se comportam como prefixos5, sendo reconhecidos como tais porautores de diferentes filiaes tericas, a exemplo de Gos (1937), Bueno(1988), Sandmann (1989) e Monteiro (1987):

    (13) bi- (bisav, bissexual); mini- (minissaia, minidicionrio); multi-(multissecular, multiangular);pluri- (pluricntrico, pluricelular);vice-(vice-presidente, vice-diretor); ambi- (ambivalncia, ambidestro); macro-(macrocosmo, macrobitica);micro- (microcomputador, microcosmo);

    poli- (poligamia, politesmo); mega- (megacomcio, megaevento).A composio tambm vem contribuindo com um sem-nmero de

    itens lexicais recentes em portugus, em particular nos compostos N-(de)-Ndo tipo endocntrico, como as construes com bolsa (bolsa-famlia, bolsa-escola), auxlio (auxlio-aluguel; auxlio-alimentao), vale (vale-refeio,vale-transporte) e seguro (seguro-sade, seguro-desemprego), analisadasprimeiramente em Almeida (2010) e posteriormente em Faria (2011). Tais

    formas so abundantes nas duas ttimas dcadas e, de acordo com Faria(2011, p. 115),

    alm da noo de ajuda de custo (benefcio social) que as formaesbolsa-famlia e bolsa-escola acionam, percebemos tambm a noocompensatria, advinda de uma poltica em que o governo oferecebenefcios aos cidados, de modo a suprir direitos bsicos (sade,educao, trabalho, alimentao, lazer, moradia), na tentativa de

    mascarar os fracassos sucessivos da administrao pblica ou, poderiamdizer alguns, de mascarar a corrupo to conhecida nossa, no cenriopoltico brasileiro.

    5 Uma evidncia em favor da anlise das formas em (13) como prefixos a natureza deseus significados. Os elementos em (13) atualizam significados compatveis aos deadvrbios, numerais e preposies, como outros prefixos da lngua, a exemplo dere-

    eintra-.

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    Compostos N-N expressivos so tambm muito comuns nos dias dehoje. A ttulo de exemplificao, analisemos dois padres: [ [x]S ibombaS]S je[mulherS i[x]S ]S j. No primeiro caso, a nova formao bueiro-bomba,empregada por conta dos vrios episdios envolvendo exploso de bueirosna cidade do Rio de Janeiro, reflete, em tom de ironia, a estruturao dehomem-bomba, carta-bomba e avio-bomba, entre outras. No segundocaso, vm sendo cada vez mais comuns nomes em que um aspecto especficodo corpo da mulher ressaltado em funo da fruta especificada na segundaposio de compostos em que mulher cabea lexical, como se v nosexemplos em (14). De acordo com o Wikipedia,

    mulher-fruta a designao dada a um fenmeno do funk carioca

    surgido na primeira dcada do sculo XXI, quando uma srie dedanarinas comeou a ganhar destaque no cenrio do funk brasileiro.O sucesso logo se espalhou para outras mdias, sendo citadas desde apgina da Academia Brasileira de Letras, msicas, participaes noCarnaval no Rio de Janeiro at a chamada mdia ertica, com inmerascapas de revistas publicadas num curto perodo.

    (14) mulher-melancia, mulher-melo, mulher-moranguinho, mulher-jaca,

    mulher-cereja, mulher-ma, mulher-pera, mulher fruta-po.

    Por extenso, formas como mulher-fil e mulher-siri comearam aaparecer na mdia, o que reflete a fixao do padro. De acordo com Szymanek(2005, p. 432), a facilidade com que falantes produzem compostos novospode ser atribuda ao fato de esse processo no ser limitado por restriesgramaticais (ao contrrio do uso de muitos afixos), salvo alguns requisitossemnticos gerais e fatores pragmticos (extra-grarnaticais), como, por

    exemplo, a exigncia de nomeabilidade. Para Bauer (1983, p. 86), um itemlexical deve denotar algo que seja nomevel ou, podemos acrescentar, algoque valha a pena nomear, do ponto de vista do emissor.

    O usurio da linguagem contempornea tambm recorre, muitas vezes,a outros padres de composio. Por exemplo, as ltimas dcadas tm sidomarcadas por um aumento considervel no uso dos chamados compostosneoclssicos, construes com bases presas de origem grega ou latina, aexemplo de sociopata, pedfilo e heterofbico, entre tantas outras. A

    ttulo de exemplificao, observe-se a srie de palavras a seguir, todas iniciando

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    com o radical preso eletro: eletro-domstico, eletro-eletrnico, eletro-choque, eletro-magnetismo, eletro-fita, eletro-nuclear, eletro-tcnica.

    Ocasionalmente, surgem novas formas presas utilizadas na primeiraposio de compostos, como, por exemplo,nano-, partcula oriunda do gregonanns, ano, usada atualmente com o significado de extremamaentepequeno, e as unidades de medida tera-, do grego tras, que significamonstro, e giga-, do grego gigas, gigante:

    (15) nano-partculas, nano-tecnologia, nano-cincia, nano-cristalizao;tera-byte, tera-grama, tera-hertz, tera-volt, tera-unidade;-gigabyte, giga-desconto, giga-eltron, giga-pixel, giga-fton.

    No podemos deixar de destacar a derivao regressiva, a parassntese,osblendse outros processos de formao de palavras considerados menores,especiais ou marginais, que tambm contribuem substancialmente paraa criao de palavras muito recentes. A produtividade da derivao regressiva,considerada um tipo de derivao muito raro ultimamente, mas que jfoi mais comum (MARONEZE; BARAZIM, 2008, p. 18), pode serconstatada com dados como rala, fico e chego, palavras informais utilizadasna nominalizao dos verbos ralar (no sentido de namorar mais

    intimamente), ficar (namorar por curto perodo de tempo) e chegar(vir). A ttulo de exemplificao, observe-se o seguinte exemplo de fico,extrado de Maronezi & Barazim (2008, p. 18):

    (16) Em meio ao esforo de transformar wannabesem celebridades, estocentenas de agentes e assessores de imprensa. So eles que alardeiampequenos casos ou mesmo ficos como namoros srios, para colocara imagem de seus clientes na mdia. (poca, 12/ 5/2005)

    Padres de parassntese responsveis pela formao de verbos nosdias de hoje (cf. CASTRO DA SILVA, 2012) so [a [x]N jar]V i, que formapalavras como atucanar (passar para o PSDB, partido poltico representadopor um tucano), [en [x]N jar]V i, que cria formas como embuacar (ficarbruaca), e [en [x]N jecer]V i, que instancia, por exemplo, enerdecer (virarnerd). Investigando a produtividade e o comportamento morfossemnticode construes parassintticas no portugus brasileiro, Castro da Silva (2012,

    p. 180) destaca que o entrincheiramento de construes contribui para sua

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    maior produtividade, ao passo que o entrincheiramento de palavras impedesua reanlise pela fora paradigmtica. Em funo disso, justifica aimprodutivade do esquema [a [x]N jecer]V ino portugus atual.

    Blends, clippingse acrnimos constituem outra rea da formao depalavras do portugus contemporneo em que os neologismos so abundantes,

    razo pela qual no podemos deixar de destacar, na prxima seo, a vitalidadedos chamados processos no concatenativos de formao de palavras.

    4 Os Processos No Concatenativos de Formao de Palavras

    Em linhas gerais, os processos chamados de no concatenativos (ouno lineares) se diferenciam dos aglutinativos pela ausncia de encadeamento.Nas operaes aglutinativas, como a composio, a prefixao e a sufixao,

    um formativo se inicia exatamente no ponto em que outro termina, comoem bolsa-ditadura (benefcio pago pelo governo para reparar danosimpostos a cidados brasileiros durante o regime militar), pr-sal (porodo subsolo que se encontra sob uma camada de sal situada abaixo do leitodo mar) e psdista (adepto do PSD, novo partido poltico brasileiro).Nos processos no concatenativos, a sucesso linear dos elementosmorfolgicos pode ser rompida por redues, fuses, intercalaes ourepeties, de modo que uma informao morfolgica no necessariamentese inicia no ponto em que outra termina.

    No descritos de forma sistemtica em nossa lngua e interpretadoscomo irregulares pela maior parte dos estudiosos que lhes dedicaram algumaateno, os processos no concatenativos so sempre referenciados comoimprevisveis (SANDMANN, 1990), no-suscetveis de formalizao(LAROCA, 1994), marginais (ALVES, 1990) e at mesmo limitados(CARONE, 1990). Gonalves, que vem analisando essas operaes h algumtempo (GONALVES, 2003, 2004, 2005b, 2006), mostra que sua regularidadeprovm da integrao de primitivos morfolgicos com primitivosprosdicos e, por isso, uma abordagem mais compreensiva de tais fenmenosrequer enfoque a partir da interface Morfologia-Fonologia (GONALVES,2004, p. 26). Em Gonalves (2006), prope-se que essas operaesmorfofonolgicas sejam distribudas em trs grandes grupos: (a) processosde afixao no linear (reduplicao); (b) processos de encurtamento(truncamento e hipocorizao); e (c) processos de fuso (cruzamento

    vocabular e siglagem). Abordamos, a seguir, cada um desses mecanismos,focalizando, em especial, osblendse osclippings.

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    183SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    Um padro de reduplicao em uso no portugus contemporneo aformao de nomes a partir da repetio de formas verbais na 3. pessoa dosingular (Vialli, 2008). Manifestando iteratividade, formaes como esfrega-esfrega, roa-roa e rala-rala so bastante comuns emblogs,chatseposts. Sotambm usuais na mdia impressa, como na seguinte manchete do JornalMeia-Hora, usada em referncia s j alulidas exploses de bueiros na cidadedo Rio de Janeiro: Mais um na onda do estoura-estoura.

    Hipocorsticos, como Lena (de Marilena) e Rafa (de Rafael),derivam de nomes prprios e so adotados com o propsito de demonstrarintimidade ou afetividade (THAMI DA SILVA, 2008; LIMA, 2008). De ummodo geral, so reservados ao tratamento por parte de familiares, amigosntimos ou pessoas com quem haja relao afetiva. Por isso, so bastante

    frequentes nas redes sociais e pouco usuais na escrita formal. Na mdiaimpressa, so muitas vezes empregados em tom de ironia, como no seguintecomentrio de leitor, no Jornal Extra de 19/ 05/ 2011: Se ela demitisse, dementirinha, o Toninho Palocci, quem sabe no convenceria os inocentesteis de que o PT no rouba?.

    Siglas (alfabetismos e acrnimos6) so amplamente criadas no portugusatual. Considere os seguintes exemplos, todos bastante recentes: UPP (Unidadede Polcia Pacificadora), UPA (Unidade de Proteo Ambiental), PNE (Plano

    Nacional de Educao) e ENEM (Exame Nacional do Ensino Mdio). Umacaracterstica que define as siglas, diferentemente das demais palavras formadaspor outros processos tambm considerados no morfmicos, o fato deserem maciamente formadas na modalidade escrita, embora algumas poucassejam utilizadas, na fala, como eufemismos, a exemplo de FDP (filho daputa).

    Um novo fenmeno, identificado na literatura recente (Fandrich, 2008), o aumento das chamadas siglas reversas, nas quais os criadores partem de

    uma sigla de uso geral que querem reinterpretar e, a partir das letras,encontram palavras que representem a ideia que pretendem veicular

    6Acrnimos so siglas cuja combinao de letras possibilita pronunciar a nova formacomo uma palavra da lngua, a exemplo da recente UPA (Unidade de ProntoAtendimento), realizada [], em que a sequncia de letras segue os padresfonotticos do portugus. Alfabetismos, ao contrrio, so siglas produzidas de forma

    soletrada, como UPP (Unidade de Polcia Pacificadora), realizada [].

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    184 SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    (SZYMANEK, 2005, p. 435). Intenes irnicas so a fora-motriz por trsdas seguintes reinterpretaes jocosas:

    (17) MMA Monte de Machos se AgarrandoSUS Sistema nico de Sacanagem

    CCE Compra, Conserta e EstragaFIAT - Fui Inganado, Agora TardeUVA Unio dos Vagabundos AposentadosUPP Unio de Policiais PervertidosCPMF Contribuio Provisria para Mineiros Fodidos

    De todos os processos no concatenativos de formao de palavras,os mais importantes, em funo do papel que vm desempenhando namorfologia do portugus, so o cruzamento vocabular (blend) e o truncamento(clipping).

    De acordo com Fandrich (2008), o termo blend metafrico, j quevem a ser utilizado em referncia mistura de partes aleatrias de lexemasexistentes. Nesse sentido, as formas resultantes refletem, iconicamente, aspalavras-matrizes. Em portugus, os blends(tambm chamados de palavras-

    valise (ALVES, 1990)) consistem de dois elementos, uma caracterstica que ostorna semelhantes a compostos. No entanto, ao contrrio da composio,seus constituintes no so morfemas plenos, mas partes de lexemas, comoem crentino (crente + cretino = religioso falso), lixeratura (lixo +literatura = literatura de m qualidade) e aborrescente (adolescente +aborrece = adolescente que aborrece).

    Blendsso menos transparentes que compostos e tendem a ser utilizadospara chamar a ateno em textos publicitios, jornalsiticos e literrios, tendo,por isso mesmo, curta durao, em decorrncia de sua efemeridade (ADAMS,2001, p. 141). So bastante populares por causa de sua criatividade(FANDRICH, 2008). De acordo com Stockwell & Minkova (2001, p. 7),blendsconstituem uma rea da formao de palavras, em que a intelignciapode ser recompensada pela popularidade instantnea. Crystal (1995, p. 130)concorda que esse tipo de formao parece ter aumentado em popularidadena dcada de 1980, sendo cada vez mais utilizado em contextos comerciais ede publicidade; no entanto, permanece uma questo em aberto se sousados por mais de uma dcada (SZYMANEK, 2005, p. 434). Algunsexemplos bastante recentes so listados em (18), a seguir, todos extrados de

    Andrade (2008):

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    185SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    (18) Celebutante (celebrao + debutante)Pilantropia (pilantra + filantropia)Presidengue (presidente + dengue)Ronalducho (Ronaldo + gorducho)Rouberto (roubo + Roberto (Jefferson))Urubuservar (urubu + observar)Craqutico (craque + caqutico)Daslucro (Daslu + lucro)Escragirio (escravo + estagirio)

    Jeguerino (jegue + Severino (Cavalcanti))Nepetismo (nepotismo + pet (PT))Petelho (pet (PT) + pentelho)

    O processo declipping(ou truncamento) est por trs de outra grandeparcela de noelogismos no portugus contemporneo. De acordo com Plag(2003, p. 116), clipping o processo em que a relao entre uma palavraderivada e sua base expressa pela falta de material fontico na palavraderivada. Para Gonalves (2011c),clipping processo pelo qual uma palavra-matriz encurtada sem distanciamento de significado, mas com frequentemudana no valor estilstico da palavra (BAUER, 1988, p. 33). Segundo

    Gonalves (2011c), truncamentos, em portugus, podem ou no ser efetuadosem constituintes morfolgicos. Nos compostos neoclssicos, os elementosde primeira posio podem, pelo processo declipping, ser utilizados sozinhosem referncia a todo o composto de onde foram extrados, adquirindo, comisso, estatuto de palavra. o que se v nos dados em (19), a seguir, utilizadostanto na fala quanto na escrita:

    (19) Tive que fazer doiseletros. Meu filho passou paraodonto.

    Comprei dois micros. Meusoftalmosso excelentes.Fiz duasultrasontem. A faculdade s tem quatro retros.Estou fazendopsico/ scio. Tenho que me consultar com umneuro.Meus filhos sohteros. Tenho um irmohomo.

    A casa dispe de duashidros. Preciso urgentemente de umpneumo.Hoje vou aozoo. Minha prima fono.O gastrode l pssimo. J fiz doiscardios.

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    186 SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    Truncamentos, no entanto, podem incidir em elementos nomorfmicos, a exemplo de profe (< professor), refri (< refrigerante) evisu (visual). Bauer (1988, p. 33) duvida do estatuto morfolgico desse tipodeclipping: uma vez que as partes excludas [...] no so claramente morfesem qualquer sentido, no necessariamente o caso de oclippingfazer parte damorfologia, embora seja uma maneira de formar novos lexemas. ParaFandrich (2008, p. 116), no entanto, o clipping certamente um processo deformao de palavras, pois, em muitos casos, testemunhamos disassociaosemntica, j que o encurtamento muda registros ou estilos em comparaoaos seus equivalentes completos. Sem dvida alguma, isso o que acontececom os exemplos em (20), a seguir, extrados de Gonalves (2011c):

    (20) portugus portuga delegado delegabaterista batera salafrrio salafraproletrio proleta comunista comuna

    vestibular vestiba cocana cocaMaracan Maraca cerveja cerva

    vagabunda vagaba gr-fino granfaSo Paulo Sampa free-lancer frila

    Na prxima seo, mostramos que tanto o cruzamento vocabularquanto o truncamento devem ser tratados no mbito da formao de palavraspelo simples fato de, apesar de no morfmicos, estarem na base da criaode novos morfemas. Esse um argumento forte para abordar tais processosno mbito da formao de palavras, ao contrrio do que sugerem, entreoutros, tekauer (1998) e Haspelmath (2002), j que podem projetar sequnciasfnicas condio de formas combinatrias iniciais ou finais.

    5 Surgimento de Novos Formativos

    A criao de constituintes morfolgicos pode ser definida como umcaso em que novo afixo estabeleceu-se por si s porque falantes comearama perceb-lo em um grupo de palavras emprestadas ou porquereinterpretaram determinada palavra existente (que pode ser nativa ouestrangeira) (SZYMANEK, 2005, P. 435). No primeiro caso, tem-se o usodos chamados xenoconstituintes (GONALVES; ALMEIDA, 2011), comocyber, wiki e e, que, combinados com bases nativas, formam palavras como

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    187SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    cyber-av (av moderna, antenada com as novas tecnologias digitais),wiki-aves (enciclopdia digital sobre aves) e e-professor (professor

    virtual). No segundo caso, de acordo com Rundblad & Kronenfeld (2000,p. 28), o fenmeno pode ser visto como um espcie de etimologia popular(folk etymology): palavras opacas so, curiosamente, na medida em que suasformas permitem, muitas vezes reinterpretadas como compostos ou afixaesque consistem de duas partes, a exemplo de madrasta e patrocnio,analisadas como m-drasta e pa(i)-trocnio, o que licencia as formas em(21).

    (21) sogradrasta, irmdrasta, tiadrasta, avdrasta, paidrasto, primadratatiotrocnio, metrocnio, avtrocnio, irmotrocnio, autotrocnio

    Gonalves & Almeida (2011) observam que vem sendo cada vez maisfrequente, especialmente em reas como a informtica e o comrcio eletrnico,o emprego de elementos morfolgicos recm-criados em ingls a partir deprocessos como o truncamento e a abreviao, a exemplo, nessa ordem, decyber- (encurtamento de cybernetics) ee- (abreviao de eletronic). Para os autores,essa situao que pode parecer banal primeira vista, j que so bastantecomuns emprstimos do ingls nessas reas vem favorecendo a acentuada

    proliferao de elementos no nativos nas estruturas morfolgicas doportugus (GONALVES; ALMEIDA, 2011, p. 105). De fato, formativoscomo esses tambm se adjungem a bases vernculas e, por isso mesmo,criam esquemas de formao de palavras que acabam se conformando aospadres construcionais existentes na lngua (GONALVES; ALMEIDA,2011, p. 106). No quadro a seguir, enumeram-se e exemplificam-se osxenoconstituintes em uso no portugus contemporneo:

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    (22)

    ElementoForma deorigem

    Significado Exemplos

    cyber- Cybernetics digital

    cibe -ataque, cibe-

    caf, ciber-crime,ciber-cultura, ciber-espio , ciber-guerra

    wiki- Wikipediaenciclopdia

    sobre

    wiki-novela, wiki-aves,wiki-flora, wiki-juris,wiki-mapia, wiki-imagem

    e- Eletronic eletrnico

    -comunidade, -vendas, e-negociao, e-chantagem,e-mediador, e-professo

    i- I-pod pessoai-Phone, i-Mac, i-Tablet, i-namoro, i-amigo

    pit- Pitbull agressivopi -bab, pi -pai, pi -bicha, pit-beb, pit-

    sogra, pit-namorado

    -leaks Wikileaksvazamento

    deinformao

    Amaznia-leaks,Nikiti-leaks, planalto-leaks, Lula-leaks , pt-leaks, orkut-leaks

    -gate Watergate escndalo

    banheiro-gate, Pique-gate, panetone Gate,maleta-gate, Mnica-

    gate

    -burguer Hamburger sanduche

    X-brguer,franbrguer, Bobs-brguer, fishbrguer,eggbrguer

    Na segunda situao acima apontada, reinterpretao de palavra pr-existente, o uso do formativo recm-criado pode, inicialmente, ser atribudo ao da analogia, tal como definida na seo 2. Nesse caso, no entanto, no

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    189SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    temos formaes isoladas, caractersticas de relaes entre pares de palavras.Aqui, uma sequncia fnica reinterpretada pode tornar-se recorrente e criarsries de palavras. Os constituintes em (23), a seguir, analisados em Gonalves& Andrade (2012), so usualmente combinados com pedaos de palavras oucom palavras inteiras:

    (23)

    Forma ExemplosPalavra-modelo

    Significado nasnovas formaes

    -drastasogradrasta;paidrasto

    madrastaparente poremprstimo

    -lsacol; sucol;

    wiskylpicol picol de

    -nejopagonejo;quintaneja

    sertanejo sertanejo

    -nesemacarronese;

    ovonesemaionese

    salada de maionesecom

    -ranhasecretaranha;professoranha

    piranha prostituta

    -tonesorvetone;

    chocotone

    panetone panetone de

    -trocniotiotrocnio;

    autotrocniiopatrocnio financiamento por

    -lndiacracolndia;macacolndia

    disneylndialugar em queconcentra

    caipi-caipifruta;caipiwodka

    caipirinha caipirinha

    fran-franbrguer;

    franfil

    frango frango

    choco-chocotone;chocomania

    chocolate chocolate

    euro-euro-dlar;euro-tnel

    E ropa,europeu

    Europa; europeu

    info-info-peas;

    info-professorinformtica;informao

    informtica;informao

    narco-narco-trfico;narco-dlar

    narctico droga

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    190 SIGNUM: Estud. Ling., Londrina, n. 15/1, p. 169-199, jun. 2012

    As dez primeiras partculas de (23) provm de fenmenos de blend.Por exemplo, a sequncia -nese, que no corresponde a nenhum constituintemorfolgico em maionese, foi isolada a partir do cruzamento vocabularmacarronese (maionese de macarro), que favoreceu a criao de palavrasem srie por meio da substituio, esquerda, do ingrediente contido, em

    abundncia, na salada feita com maionese: ovonese (salada de maionesecom ovo), camaronese (salada de maionese com camaro), bacalhonese(salada de maionese com bacalhau). Os trs ltimos elementos so formasrecorrentes oriundas declippingsque no incidem em elementos morfmicos.De fato, info, euro-,narco- echoco- no tm qualquer estatuto morfolgico nasformas que lhes deram origem: informtica/ informao, Europa,narctico e chocolate.

    Na literatura atual, tais partculas recebem o nome desplinters: elementos

    que, como os afixos, ocorrem numa borda especfica da palavra, mas, emfuno de seus significados, correspondem a lexemas. Splinters, portanto,formam uma classe parte, situada entre radicais e afixos (BAUER, 1988;WARREN, 1990; LEHRER, 1998). Dessa maneira, clippingse blendsdesempenham importante papel na morfologia do portugus, j que podemformarsplinters, deixando, com isso, de ser interpretados como exclusivamenteno morfmicos. De acordo com Booij (2005, 2007), splintersparticipam deesquemas de formao de palavras semelhantes aos da derivao e composio.Resta falar de um ltimo recurso que parece ter proliferado nos dias de hoje:a recomposio.

    6 Recomposio

    Em portugus, assim como em ingls, h formativos que se situamentre a classe dos radicais e a classe dos afixos: so os chamados afixoides(GONALVES; ANDRADE, 2012), elementos que participam do processode recomposio (MONTEIRO, 1987; CANO, 1998). Referimo-nos apartculas comobio-,petro-,eco-,homo- etele-, entre tantas outras. Isolados, taiselementos so sempre refenciados como caractersticos de uma linguagemmais tcnica, erudita, devendo ser tratados como formalmente aprendidos,uma vez que no so produtos da evoluo natural; tm sido recuperadosdas lnguas clssicas, principalmente nos ltimos dois sculos (RALLI, 2010,p. 2). No entanto, as novas formaes distanciam-se dos eruditismos maisantigos e experimentam usos at bastante populares, como comprovam osexemplos em (24), a seguir:

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    (24) cybercondria verborragia frangorexiaespermoteca eco-turismo homo-afetivobio-combustvel tele-sexo aero-Lulaauto-peas tecno-macumba petro-dlar

    Sem dvida alguma, as formaes em (24) apresentam elementosmorfolgicos que de fato parecem afixos: alm de recorrentes e com altaaplicabilidade a itens lexicais nativos, tais formativos se fixam numa posioespecfica na estrutura da palavra, podendo, por isso, ser descritos por meiode esquemas de formao (BOOIJ, 2005) bastante parecidos com osprojetados por afixos.

    De acordo com Gonalves (2011a, p. 13), tem-se recomposio quando

    parte de uma palavra complexa encurtada e adquire novo significadoespecializado ao se adjungir sistematicamente a formas com livre-curso nalngua. As formaes recompostas caracterizam o que pode ser denominadode compactao (zipagem), termo que corresponde, em ingls, a secretion(JERPERSEN, 1925; WARREN, 1990)7: um arqueoconstituinte, isto , umradical neoclssico, adquire, numa relao de metonmia formal, o significadodo composto de que era constituinte e atualiza esse contedo especializadona combinao com novas palavras (GONALVES, 2011b, p. 19).

    Na recomposio, os elementos neoclssicos veiculam significadodiferente do etimolgico. Por exemplo, auto-socorro nomeia um tipoassistncia tcnica (socorro) para carros, eco-via, uma rodovia cercadapor reas verdes e aero-Lula, o o avio do ex-presidente Lula. Emresumo, a recomposio faz uso de elementos morfmicos (radicais gregos elatinos) que se especializam semanticamente e adquirem novos usos. No quadroa seguir, listamos alguns afixoides ora utilizados em portugus. A lista, semdvida alguma, no exaustiva; arrolamos apenas os mais comuns:

    7 Em ingls, o termosecretionremete ao ato ou ao processo de separao, elaborao eenvio de substncia que preencha adequadamente alguma funo, motivo pelo qual

    traduzimossecretionpor compactao.

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    (25)

    Afixoide ExemplosPalavra-modelo

    Significado nasnovas formaes

    aero-

    aero-lula;

    aero-modelismo aeronave avio

    agro-agro-negcio;agro-comrcio

    agronomia agrcola

    auto-auto-peas;auto-escola

    automvel carro

    bio-bio-combustvel;

    bio-dieselBiologia;biolgico

    biologia;biolgico

    eco-eco-taxa;

    eco-via

    ecologia;

    ecolgico

    ecologia;

    ecolgicofoto-

    foto-montagem;foto-estdio

    fotografia fotografia

    homo-homo-afetivo;homofbico

    homossexual gay

    moto-moto-escola;moto-ladro

    motocicleta motocicleta

    petro-petro-qumica;

    petro-dlarpetrleo petrleo

    tecno-tecno-funk;

    tecno-macumbatecnologia;tecnolgico

    digital (refernciaa ritmo

    eletrnico)

    tele-tele-pizza;tele-sexo

    telefone;televiso

    a distncia

    -nautainternauta;cosmonauta

    astronauta que navega por

    -rria pentelhorria;piolhorria seborria infestao de

    -rragiaverborragia;cabelorragia

    hemorragiaqueda/ descarga

    profunda de

    -rexiaortorexia;

    frangorexiaanorexia

    falta dealimentao por

    -tecamaridoteca;esmateca

    bibliotecalugar em que se

    reunem

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    7 Lexicalizao de Afixos

    Por lexilcalizao de afixos, entende-se o processo pelo qual afixos(ou formas combinatrias) adquirem o estatuto de item lexical independente,isto , comeam a funcionar como formas livres (SZYMANEK, 2005, p.436). Um caso bem conhecido o dos chamados prefixos composicionais(SCHWINDT, 2000), que, de acordo com Belchor (2009), podem, peloprocesso declipping, ser utilizados sozinhos em referncia a uma palavra derivadade que so constituintes:

    (26) micro-computador > micro micro-empresa > microex-marido > ex tricampeo > tri

    ps-graduao > ps pr-vestibular > prvice-campeo > vice sub-chefe > subbissexual > bi extraordinrio > extra

    Palavras Finais

    Esperamos ter dado provas, com este pequeno ensaio, de que aformao de palavras em portugus tambm se mostra inovadora e, como

    defende Szymanek (2005, p. 446), em quem nos inspiramos, mantm muitaspessoas ocupadas: em primeiro lugar, o usurio comum, o jornalista ouhomem da mdia, o escritor e o copywriter, e todos as outras pessoas quegostam de testar, de tempos em tempos, os limites da criatividademorfolgica. Em funo da diversidade de usos, a formao de palavrasobviamente mantm ocupados principalmente os morflogos, que precisamestar atentos s constantes criaes e descrever, com o devido rigor, os recmdispositivos de que o usurio lana mo, conscientemente ou no, para nomear

    novas atividades ou para expressar pontos de vista.

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