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Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br Página1 Curso/Disciplina: Direito Eleitoral. Aula: Partidos Políticos Conceito e Natureza Jurídica. Criação e Registro. Características. Autonomia Partidária. Professor (a): Bruno Gaspar Monitor (a): Lívia Cardoso Leite Aula 03 Dando seguimento ao módulo de Direito Eleitoral do Master Juris, falar-se-á nesse bloco sobre Partidos Políticos e diversos aspectos deles. PARTIDOS POLÍTICOS - Legislação que trata sobre o tema : 1º: a Constituição Federal. Os partidos políticos são tratados em um único dispositivo. CF, art. 17 - É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos , resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional ; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes ; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral ; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei . §1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. §2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. §3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei. §4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. Esse art. traz diversas características e normas importantes que a legislação infraconstitucional tem de observar sobre os partidos políticos. Além da norma constitucional, qual é a principal legislação, lei, que trata dos partidos políticos? Lei nº 9096/95, conhecida como Lei dos Partidos Políticos.

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Curso/Disciplina: Direito Eleitoral.

Aula: Partidos Políticos – Conceito e Natureza Jurídica. Criação e Registro. Características.

Autonomia Partidária.

Professor (a): Bruno Gaspar

Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Aula 03

Dando seguimento ao módulo de Direito Eleitoral do Master Juris, falar-se-á nesse bloco sobre

Partidos Políticos e diversos aspectos deles.

PARTIDOS POLÍTICOS

- Legislação que trata sobre o tema:

1º: a Constituição Federal. Os partidos políticos são tratados em um único dispositivo.

CF, art. 17 - É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a

soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e

observados os seguintes preceitos:

I - caráter nacional;

II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de

subordinação a estes;

III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;

IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

§1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e

funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de

vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos

estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

§2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus

estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

§3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à

televisão, na forma da lei.

§4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

Esse art. traz diversas características e normas importantes que a legislação infraconstitucional

tem de observar sobre os partidos políticos.

Além da norma constitucional, qual é a principal legislação, lei, que trata dos partidos políticos?

Lei nº 9096/95, conhecida como Lei dos Partidos Políticos.

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Serão tratados vários aspectos dos partidos políticos nesse bloco e nos que se seguirem a esse.

Alguns temas ficarão um pouco mais para a frente, por exemplo, propaganda partidária, que é um tema

afeto aos partidos políticos. Será tratado à frente, junto com as propagandas políticas. Hoje serão falados os

principais aspectos dos partidos políticos.

Para começar a falar sobre eles, é importante que se tenha em mente que o sistema eleitoral

brasileiro foi concebido de forma que os partidos políticos são pilares essenciais ao funcionamento da

democracia. Tanto é que no sistema brasileiro não são admitidas candidaturas avulsas.

CF, art. 14, §3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I - a nacionalidade brasileira;

II - o pleno exercício dos direitos políticos;

III - o alistamento eleitoral;

IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;

V - a filiação partidária;

VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz

de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

A Constituição estabeleceu a filiação partidária como uma condição de elegibilidade. Para ser

votado, o brasileiro necessariamente deve estar filiado a um partido político.

Mudança recente com relação a esse tema: filiação a partido político para que se concorra a

um cargo eletivo: qual o prazo?

Antes esse prazo era de 1 ano da eleição. A Lei nº 13165/15, chamada Minirreforma Eleitoral,

há 2 anos alterou esse dispositivo e determinou que para que haja candidatura a qualquer cargo público

eletivo a pessoa tem de estar filiada ao partido político pelo prazo de 6 MESES.

Um ponto que alguns autores esquecem de falar é que esse prazo de 6 meses é o mínimo que a

pessoa deve estar filiada ao partido político. A lei estabelece esse prazo mínimo. Mas o estatuto do partido

pode fixar um prazo superior a esse de 6 meses.

Lei nº 9504/97 - Estabelece normas para as eleições. – Lei Geral das Eleições.

Art. 9º - Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva

circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito, e estar com a filiação deferida pelo partido no

mínimo seis meses antes da data da eleição. (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)

Parágrafo único. Havendo fusão ou incorporação de partidos após o prazo estipulado no caput, será

considerada, para efeito de filiação partidária, a data de filiação do candidato ao partido de origem.

Fazer remissão do art. acima ao art. 20 da Lei nº 9096/95.

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Lei nº 9096/95 - Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, §3º, inciso V, da

Constituição Federal.

Art. 20 - É facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos de filiação partidária

superiores aos previstos nesta Lei, com vistas à candidatura a cargos eletivos.

Parágrafo único. Os prazos de filiação partidária, fixados no estatuto do partido, com vistas à

candidatura a cargos eletivos, não podem ser alterados no ano da eleição.

Esse art. é justamente o que fala que o prazo é mínimo. O prazo de 6 meses previsto no art. 9º

da Lei nº 9504/97, em que a pessoa deve estar filiada ao partido político, é mínimo. O estatuto pode

estabelecer um prazo maior, conforme o art. 20 da Lei nº 9096/95.

As filiações são provadas à Justiça Eleitoral, em regra, através de uma lista que é remetida pelos

partidos políticos nos meses de ABRIL e OUTUBRO de cada ano.

Lei nº 9096/95, art. 19 - Na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada ano, o partido, por

seus órgãos de direção municipais, regionais ou nacional, deverá remeter, aos juízes eleitorais, para arquivamento,

publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação

dos nomes de todos os seus filiados, da qual constará a data de filiação, o número dos títulos eleitorais e das seções

em que estão inscritos.

§1º Se a relação não é remetida nos prazos mencionados neste artigo, permanece inalterada a filiação

de todos os eleitores, constante da relação remetida anteriormente.

§2º Os prejudicados por desídia ou má-fé poderão requerer, diretamente à Justiça Eleitoral, a

observância do que prescreve o caput deste artigo.

§3º Os órgãos de direção nacional dos partidos políticos terão pleno acesso às informações de seus

filiados constantes do cadastro eleitoral.

Nos meses de ABRIL e OUTUBRO, na 2ª semana deles, o partido encaminha para a Justiça

Eleitoral o nome de seus filiados. Não remetida essa lista pelo partido, a Justiça Eleitoral considera inalterada

a lista anterior. Os partidos normalmente encaminham essa lista nos meses de ABRIL e OUTUBRO, a não ser

que não exista qualquer tipo de modificação.

Qual o conceito de partido político?

Conceito do professor José Jairo Gomes sobre a matéria: partido político é a entidade formada

pela livre associação de pessoas, cujas finalidades são assegurar, no interesse do regime democrático, a

autenticidade do sistema representativo, e defender os direitos humanos fundamentais.

Natureza jurídica do partido político. Qual seria?

O partido político ostenta natureza de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. O seu estatuto

deve ser registrado no REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS da Capital Federal.

Lei nº 9096/95, art. 8º - O requerimento do registro de partido político, dirigido ao cartório

competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em

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número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, e será

acompanhado de:

I - cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;

II - exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto;

III - relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral

com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência.

§1º O requerimento indicará o nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do

partido na Capital Federal.

§2º Satisfeitas as exigências deste artigo, o Oficial do Registro Civil efetua o registro no livro

correspondente, expedindo certidão de inteiro teor.

§3º Adquirida a personalidade jurídica na forma deste artigo, o partido promove a obtenção do

apoiamento mínimo de eleitores a que se refere o §1º do art. 7º e realiza os atos necessários para a constituição

definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu estatuto.

Natureza jurídica de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO.

Basta isso para que o partido funcione?

Não. Adquirida a personalidade jurídica na forma da lei civil, os fundadores devem registrar o

estatuto do partido no Tribunal Superior Eleitoral.

Lei nº 9096/95, art. 7º - O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil

(Registro no RCPJ da Capital Federal), registra seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral.

§1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-

se como tal aquele que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político,

correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a

Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos

Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles. (Redação

dada pela Lei nº 13.165, de 2015)

§2º Só o partido que tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral pode participar do

processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à televisão, nos termos

fixados nesta Lei.

§3º Somente o registro do estatuto do partido no Tribunal Superior Eleitoral assegura a exclusividade

da sua denominação, sigla e símbolos, vedada a utilização, por outros partidos, de variações que venham a induzir a

erro ou confusão.

Todo partido político deve ostentar CARÁTER NACIONAL. CF, art. 17, I – fala que o partido tem

de ter CARÁTER NACIONAL. O art. 7º, §1º, da Lei nº 9096/95, que fala sobre as listas de apoiamento, dá uma

ideia do que é o caráter nacional que o constituinte imaginou. São diversas exigências para a lista de

apoiamento.

O que é importante?

1º - Só é admitido o registro do estatuto do partido político que tenha CARÁTER NACIONAL.

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O que é o CARÁTER NACIONAL?

Significa que o partido tem de ter uma certa representatividade em todo o território nacional.

Tanto é que o dispositivo legal exige um determinado nº de eleitores não filiados a partidos políticos que

devem assinar a lista de apoiamento em 1/3 ou mais dos Estados da Federação, ou seja, em pelo menos 9

Estados. O caráter nacional é justamente isso. O partido político tem de ter uma certa representatividade

em todo o território nacional. Essas listas de apoiamento, para que o partido seja criado, têm de atingir o nº

exigido no dispositivo em pelo menos 9 Estados. Importante aqui é quem assina a lista de apoiamento.

Quando se assina uma lista de apoiamento está a se apoiar a criação do partido. Importante frisar que

apoiamento não significa filiação. Isso já caiu em prova de múltipla escolha. A pessoa que assina lista de

apoiamento para a criação de partido político não está automaticamente se filiando a ele. Importante

frisar esse ponto.

Essas listas de apoiamento sempre foram um terreno muito propício para fraudes eleitorais,

mais precisamente para a prática do crime de falsidade ideológica eleitoral, previsto no art. 350 do Código

Eleitoral.

CE, art. 350 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele

inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:

Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão

até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é particular.

Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário público e comete o crime

prevalecendo-se do cargo ou se a falsificação ou alteração é de assentamentos de registro civil, a pena é agravada.

Recentemente, em 2015, o TSE editou a Resolução nº 23465, que disciplina a criação,

organização, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos. Esta tratou com muito cuidado das listas

de apoiamento, exigindo uma série de formalidades, justamente para dificultar a prática do crime de

falsidade ideológica eleitoral. É muito comum a existência de assinaturas falsificadas em listas de

apoiamento para a criação de partidos políticos. Justamente por isso a resolução foi muito rigorosa. Já são

inúmeras as condenações ocorridas na Justiça Eleitoral, confirmadas pelos Tribunais Regionais Eleitorais e

pelo próprio TSE, justamente por fraudes nas listas de apoiamento.

Resolução TSE nº 23465/15 - Disciplina a criação, organização, fusão, incorporação e extinção de

partidos políticos.

Art. 7º - O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registrará seu

estatuto no Tribunal Superior Eleitoral (Lei nº 9.096/95, art. 7º, caput).

§1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-

se como tal aquele que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político,

correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a

Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos

estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles (Lei nº

9.096/95, art. 7º, §1º).

§2º O apoiamento mínimo de que trata o §1º deste artigo é calculado de acordo com os votos dados,

na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, de acordo

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como os registros da Justiça Eleitoral constantes no último dia previsto para a diplomação dos candidatos eleitos no

respectivo pleito.

§3º O prazo de dois anos para obtenção do apoiamento de que trata o §1º deste artigo é contado a

partir da data da aquisição da personalidade jurídica do partido político em formação, na forma prevista no art. 10

desta resolução.

O art. estipulou a partir de quando o partido pode começar a colher as assinaturas para a lista

de apoiamento. A partir do momento em que o partido adquire personalidade jurídica, tem 2 anos para

obter o número de assinaturas necessárias para a lista de apoiamento, nos 9 Estados.

Depois, nos arts. 11 a 19 da Resolução TSE nº 23465/15, disciplinam-se exaustivamente todas as

formalidades necessárias para o preenchimento dessas listas de apoiamento. Essas assinaturas dos eleitores

nas listas de apoiamentos são levadas depois para conferência e certificação nos respectivos cartórios

eleitorais e depois são somadas no TRE para que se veja se foi atingido o nº de assinaturas que o art. 7º, §1º,

da Resolução exige. Esse procedimento tem de acontecer em 9 Estados. Só a partir daí, com esse

apoiamento popular, é que o partido político em formação pode apresentar o requerimento junto ao

Tribunal Superior Eleitoral. Com a obtenção desse apoiamento mínimo, o partido pode realizar o registro

do estatuto no TSE, também na forma da Resolução TSE nº 23465/15.

Questão importante sobre o apoiamento, sobre a necessidade de registro no Tribunal Superior

Eleitoral: isso não significa, e toda a doutrina concorda, uma interferência do Estado no partido político. Não

representa isso. Mas esse registro permite que o partido político, por exemplo, participe da propaganda

partidária, do processo eleitoral, receba recursos do fundo partidário. Sem o registro no TSE o partido não

pode sequer participar do processo eleitoral. Não teria nem razão de existir. A doutrina é uníssona no

sentido de que isso não é uma interferência direta do Estado nos partidos. É só uma forma de regular e

adequar a criação deles às normas da Justiça Eleitoral.

Dito isso, sobre as listas de apoiamento dos partidos políticos, falar-se-á sobre 2 características

muito importantes dos partidos políticos. Falou-se sobre listas de apoiamento e criação de novos partidos.

2 mais importantes características que o partido político deve ter:

- CARÁTER NACIONAL: já se falou um pouco.

- Liberdade de organização, chamada AUTONOMIA.

- Caráter nacional:

Já foi falado que o partido político tem de ter certa representatividade em todo o território

nacional. Por isso há a exigência do art. 7º, §1º, da Resolução TSE nº 23465/15, da lista de apoiamento em

diversos Estados.

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Outro ponto importante de se falar, onde fica claro o caráter nacional que o partido político

deve ostentar e que está previsto na Constituição, é o das convenções partidárias.

Lei nº 9504/97, art. 7º - As normas para a escolha e substituição dos candidatos e para a formação de

coligações serão estabelecidas no estatuto do partido, observadas as disposições desta Lei.

§1º Em caso de omissão do estatuto, caberá ao órgão de direção nacional do partido estabelecer as

normas a que se refere este artigo, publicando-as no Diário Oficial da União até cento e oitenta dias antes das

eleições.

§2º Se a convenção partidária de nível inferior se opuser, na deliberação sobre coligações, às diretrizes

legitimamente estabelecidas pelo órgão de direção nacional, nos termos do respectivo estatuto, poderá esse órgão

anular a deliberação e os atos dela decorrentes.

§3º As anulações de deliberações dos atos decorrentes de convenção partidária, na condição acima

estabelecida, deverão ser comunicadas à Justiça Eleitoral no prazo de 30 (trinta) dias após a data limite para o

registro de candidatos.

§4º Se, da anulação, decorrer a necessidade de escolha de novos candidatos, o pedido de registro

deverá ser apresentado à Justiça Eleitoral nos 10 (dez) dias seguintes à deliberação, observado o disposto no art. 13.

Diante do caráter nacional que os partidos devem ostentar, a convenção nacional apresenta

primazia, prioridade, em relação às convenções inferiores – estadual e municipal. Não respeitadas as

diretrizes do estatuto do partido político e também as diretrizes nacionalmente traçadas, poderá o órgão

de direção nacional invalidar as deliberações do órgão de direção regional do partido político. O órgão de

direção estadual pode anular as deliberações do diretório municipal caso esse órgão municipal não esteja

respeitando as diretrizes nacionalmente traçadas. O que importa são as diretrizes traçadas pelo órgão

nacional do partido político.

Obs: sugere-se fazer remissão do art. 17, I, da Constituição, ao art. 7º, §§1º e 2º, da Lei nº

9504/97, que trata das convenções partidárias. Essa possibilidade de intervenção da convenção nacional

nas inferiores é um exemplo do caráter nacional que os partidos políticos devem ostentar.

- Liberdade de organização – AUTONOMIA PARTIDÁRIA:

A Constituição adotou o princípio da liberdade de organização e funcionamento dos partidos

políticos. O partido tem AUTONOMIA para definir a sua estrutura, organização e modo de funcionar. A CF

prescreve a livre criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos.

Qual é o instrumento em que o partido se organiza?

Estatuto. Através dele que o partido se organiza e garante a sua AUTONOMIA PARTIDÁRIA.

Através do estatuto é que a agremiação estabelece as suas diretrizes, seu programa de governo. É sempre

através do estatuto.

Na lei, na legislação, existem 2 exemplos muito claros sobre a AUTONOMIA PARTIDÁRIA, sobre

a liberdade de organização.

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- 1º: exemplo muito interessante. Figura do CANDIDATO NATO.

Lei nº 9504/97, art. 8º - A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações

deverão ser feitas no período de 20 de julho a 5 de agosto do ano em que se realizarem as eleições, lavrando-se a

respectiva ata em livro aberto, rubricado pela Justiça Eleitoral, publicada em vinte e quatro horas em qualquer meio

de comunicação. (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)

§1º Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou de Vereador, e aos que

tenham exercido esses cargos em qualquer período da legislatura que estiver em curso, é assegurado o registro de

candidatura para o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados. (Vide ADIN - 2.530-9)

§2º Para a realização das convenções de escolha de candidatos, os partidos políticos poderão usar

gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por danos causados com a realização do evento.

O §1º fala do CANDIDATO NATO. Trata diretamente do PRINCÍPIO DA AUTONOMIA

PARTIDÁRIA. Pense-se no Deputado Federal Caio. Este é do partido Amarelo. Pelo dispositivo da Lei nº

9504/97, é assegurado ao Caio o registro de candidatura ao cargo de Deputado Federal, pelo partido

Amarelo, sempre, independente da escolha pelo partido, das convenções partidárias dele. O art. fala que o

Caio, como é Deputado Federal escolhido pelo partido Amarelo, tem assegurada sua vaga para concorrer

pelo partido. De cara, o que esse dispositivo fere? A autonomia partidária. Pode chegar um momento em

que o partido Amarelo não queira mais lançar o Deputado Federal Caio como candidato, não queira que ele

concorra mais pelo partido. O dispositivo dá essa segurança a Caio, falando que ele sempre vai poder se

candidatar pelo partido, mesmo este não querendo.

Não por acaso o dispositivo foi alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº

2530/DF.

STF, ADI 2530 MC / DF – Tribunal Pleno – Min. Sydney Sanches – Julgamento em 24.04.2002.

EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL: CANDIDATURA NATA. PRINCÍPIO DA ISONOMIA

ENTRE OS PRÉ-CANDIDATOS. AUTONOMIA DOS PARTIDOS POLÍTICOS. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

DO PARÁGRAFO 1º DO ARTIGO 8º DA LEI Nº 9.504, DE 30 DE SETEMBRO DE 1997, SEGUNDO O QUAL: "§1º - AOS

DETENTORES DE MANDATO DE DEPUTADO FEDERAL, ESTADUAL OU DISTRITAL, OU DE VEREADOR, E AOS QUE

TENHAM EXERCIDO ESSES CARGOS EM QUALQUER PERÍODO DA LEGISLATURA QUE ESTIVER EM CURSO, É

ASSEGURADO O REGISTRO DE CANDIDATURA PARA O MESMO CARGO PELO PARTIDO A QUE ESTEJAM FILIADOS".

ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTIGOS 5º, "CAPUT", E 17 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR

DE SUSPENSÃO DA NORMA IMPUGNADA. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DA AÇÃO, RECONHECIDA, POR MAIORIA (8

VOTOS X 1), SENDO 3, COM BASE EM AMBOS OS PRINCÍPIOS (DA ISONOMIA ART. 5º, "CAPUT" E DA AUTONOMIA

PARTIDÁRIA ART. 17) E 5, APENAS, COM APOIO NESTA ÚLTIMA. "PERICULUM IN MORA" TAMBÉM PRESENTE.

CAUTELAR DEFERIDA.

O STF deferiu medida cautelar e suspendeu a eficácia do art. 8º, §1º, da Lei nº 9504/97. A figura

do candidato nato está suspensa por medida cautelar na mencionada Ação Direta de Inconstitucionalidade,

desde 2002. Hoje a figura do candidato nato não está mais em vigor, não está na lei, por conta dessa

suspensão feita pelo Supremo Tribunal Federal. A ADI suspendeu a eficácia do dispositivo. Na maioria dos

códigos já consta essa observação na parte imediatamente abaixo do art.

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- 2º exemplo de AUTONOMIA PARTIDÁRIA: VERTICALIZAÇÃO DAS COLIGAÇÕES. No passado, o

TSE determinou a verticalização das coligações, ou seja, deveria haver uma simetria, uma coerência, entre as

coligações firmadas em âmbito federal e as em âmbito regional. No entanto, a Emenda Constitucional nº

52/2006 modificou o art. 17, §1º, da Constituição Federal, e revogou a questão da verticalização das

coligações, de forma que o partido tem plena AUTONOMIA para fixar as suas coligações. Não é necessária

verticalização entre as coligações celebradas em âmbito nacional, regional ou municipal. Não há

necessidade de simetria e de coerência, desde que se sigam as normas fixadas internamente nos estatutos

dos partidos políticos. A verticalização das coligações sempre foi uma forma de violar a autonomia

partidária. O que disse o próprio legislador? A Emenda Constitucional nº 52/2006 deu AUTONOMIA aos

partidos políticos para fixarem as suas coligações da forma que constar do estatuto, e não seguindo a

Resolução do TSE que anteriormente tinha determinado a verticalização das coligações.

Obs: a autonomia partidária não é ilimitada. Existem 2 restrições na Constituição Federal a

respeito da autonomia partidária.

- CF, art. 17, II - 1ª limitação à autonomia partidária;

- O partido não pode utilizar organização paramilitar. CF, art. 17, §4º.

O partido tem AUTONOMIA para o funcionamento, para a sua organização, para a formação

de suas coligações, para a escolha de quem serão os seus candidatos, mas não pode receber recursos

financeiros do exterior, de entidade ou governo do estrangeiro, e não pode utilizar organização

paramilitar.

Encerrada a 1ª parte do tema “Partidos Políticos”. No próximo bloco será falado um dos mais

tormentosos assuntos: fidelidade partidária.