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Curso/Disciplina: Direito Eleitoral.
Aula: Partidos Políticos – Conceito e Natureza Jurídica. Criação e Registro. Características.
Autonomia Partidária.
Professor (a): Bruno Gaspar
Monitor (a): Lívia Cardoso Leite
Aula 03
Dando seguimento ao módulo de Direito Eleitoral do Master Juris, falar-se-á nesse bloco sobre
Partidos Políticos e diversos aspectos deles.
PARTIDOS POLÍTICOS
- Legislação que trata sobre o tema:
1º: a Constituição Federal. Os partidos políticos são tratados em um único dispositivo.
CF, art. 17 - É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a
soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos
estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
§2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus
estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
§3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei.
§4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.
Esse art. traz diversas características e normas importantes que a legislação infraconstitucional
tem de observar sobre os partidos políticos.
Além da norma constitucional, qual é a principal legislação, lei, que trata dos partidos políticos?
Lei nº 9096/95, conhecida como Lei dos Partidos Políticos.
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Serão tratados vários aspectos dos partidos políticos nesse bloco e nos que se seguirem a esse.
Alguns temas ficarão um pouco mais para a frente, por exemplo, propaganda partidária, que é um tema
afeto aos partidos políticos. Será tratado à frente, junto com as propagandas políticas. Hoje serão falados os
principais aspectos dos partidos políticos.
Para começar a falar sobre eles, é importante que se tenha em mente que o sistema eleitoral
brasileiro foi concebido de forma que os partidos políticos são pilares essenciais ao funcionamento da
democracia. Tanto é que no sistema brasileiro não são admitidas candidaturas avulsas.
CF, art. 14, §3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz
de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
A Constituição estabeleceu a filiação partidária como uma condição de elegibilidade. Para ser
votado, o brasileiro necessariamente deve estar filiado a um partido político.
Mudança recente com relação a esse tema: filiação a partido político para que se concorra a
um cargo eletivo: qual o prazo?
Antes esse prazo era de 1 ano da eleição. A Lei nº 13165/15, chamada Minirreforma Eleitoral,
há 2 anos alterou esse dispositivo e determinou que para que haja candidatura a qualquer cargo público
eletivo a pessoa tem de estar filiada ao partido político pelo prazo de 6 MESES.
Um ponto que alguns autores esquecem de falar é que esse prazo de 6 meses é o mínimo que a
pessoa deve estar filiada ao partido político. A lei estabelece esse prazo mínimo. Mas o estatuto do partido
pode fixar um prazo superior a esse de 6 meses.
Lei nº 9504/97 - Estabelece normas para as eleições. – Lei Geral das Eleições.
Art. 9º - Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva
circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito, e estar com a filiação deferida pelo partido no
mínimo seis meses antes da data da eleição. (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)
Parágrafo único. Havendo fusão ou incorporação de partidos após o prazo estipulado no caput, será
considerada, para efeito de filiação partidária, a data de filiação do candidato ao partido de origem.
Fazer remissão do art. acima ao art. 20 da Lei nº 9096/95.
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Lei nº 9096/95 - Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, §3º, inciso V, da
Constituição Federal.
Art. 20 - É facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos de filiação partidária
superiores aos previstos nesta Lei, com vistas à candidatura a cargos eletivos.
Parágrafo único. Os prazos de filiação partidária, fixados no estatuto do partido, com vistas à
candidatura a cargos eletivos, não podem ser alterados no ano da eleição.
Esse art. é justamente o que fala que o prazo é mínimo. O prazo de 6 meses previsto no art. 9º
da Lei nº 9504/97, em que a pessoa deve estar filiada ao partido político, é mínimo. O estatuto pode
estabelecer um prazo maior, conforme o art. 20 da Lei nº 9096/95.
As filiações são provadas à Justiça Eleitoral, em regra, através de uma lista que é remetida pelos
partidos políticos nos meses de ABRIL e OUTUBRO de cada ano.
Lei nº 9096/95, art. 19 - Na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada ano, o partido, por
seus órgãos de direção municipais, regionais ou nacional, deverá remeter, aos juízes eleitorais, para arquivamento,
publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de candidatura a cargos eletivos, a relação
dos nomes de todos os seus filiados, da qual constará a data de filiação, o número dos títulos eleitorais e das seções
em que estão inscritos.
§1º Se a relação não é remetida nos prazos mencionados neste artigo, permanece inalterada a filiação
de todos os eleitores, constante da relação remetida anteriormente.
§2º Os prejudicados por desídia ou má-fé poderão requerer, diretamente à Justiça Eleitoral, a
observância do que prescreve o caput deste artigo.
§3º Os órgãos de direção nacional dos partidos políticos terão pleno acesso às informações de seus
filiados constantes do cadastro eleitoral.
Nos meses de ABRIL e OUTUBRO, na 2ª semana deles, o partido encaminha para a Justiça
Eleitoral o nome de seus filiados. Não remetida essa lista pelo partido, a Justiça Eleitoral considera inalterada
a lista anterior. Os partidos normalmente encaminham essa lista nos meses de ABRIL e OUTUBRO, a não ser
que não exista qualquer tipo de modificação.
Qual o conceito de partido político?
Conceito do professor José Jairo Gomes sobre a matéria: partido político é a entidade formada
pela livre associação de pessoas, cujas finalidades são assegurar, no interesse do regime democrático, a
autenticidade do sistema representativo, e defender os direitos humanos fundamentais.
Natureza jurídica do partido político. Qual seria?
O partido político ostenta natureza de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. O seu estatuto
deve ser registrado no REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS da Capital Federal.
Lei nº 9096/95, art. 8º - O requerimento do registro de partido político, dirigido ao cartório
competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em
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número nunca inferior a cento e um, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, e será
acompanhado de:
I - cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;
II - exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto;
III - relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral
com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência.
§1º O requerimento indicará o nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do
partido na Capital Federal.
§2º Satisfeitas as exigências deste artigo, o Oficial do Registro Civil efetua o registro no livro
correspondente, expedindo certidão de inteiro teor.
§3º Adquirida a personalidade jurídica na forma deste artigo, o partido promove a obtenção do
apoiamento mínimo de eleitores a que se refere o §1º do art. 7º e realiza os atos necessários para a constituição
definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu estatuto.
Natureza jurídica de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO.
Basta isso para que o partido funcione?
Não. Adquirida a personalidade jurídica na forma da lei civil, os fundadores devem registrar o
estatuto do partido no Tribunal Superior Eleitoral.
Lei nº 9096/95, art. 7º - O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil
(Registro no RCPJ da Capital Federal), registra seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral.
§1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-
se como tal aquele que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político,
correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a
Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos
Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles. (Redação
dada pela Lei nº 13.165, de 2015)
§2º Só o partido que tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral pode participar do
processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à televisão, nos termos
fixados nesta Lei.
§3º Somente o registro do estatuto do partido no Tribunal Superior Eleitoral assegura a exclusividade
da sua denominação, sigla e símbolos, vedada a utilização, por outros partidos, de variações que venham a induzir a
erro ou confusão.
Todo partido político deve ostentar CARÁTER NACIONAL. CF, art. 17, I – fala que o partido tem
de ter CARÁTER NACIONAL. O art. 7º, §1º, da Lei nº 9096/95, que fala sobre as listas de apoiamento, dá uma
ideia do que é o caráter nacional que o constituinte imaginou. São diversas exigências para a lista de
apoiamento.
O que é importante?
1º - Só é admitido o registro do estatuto do partido político que tenha CARÁTER NACIONAL.
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O que é o CARÁTER NACIONAL?
Significa que o partido tem de ter uma certa representatividade em todo o território nacional.
Tanto é que o dispositivo legal exige um determinado nº de eleitores não filiados a partidos políticos que
devem assinar a lista de apoiamento em 1/3 ou mais dos Estados da Federação, ou seja, em pelo menos 9
Estados. O caráter nacional é justamente isso. O partido político tem de ter uma certa representatividade
em todo o território nacional. Essas listas de apoiamento, para que o partido seja criado, têm de atingir o nº
exigido no dispositivo em pelo menos 9 Estados. Importante aqui é quem assina a lista de apoiamento.
Quando se assina uma lista de apoiamento está a se apoiar a criação do partido. Importante frisar que
apoiamento não significa filiação. Isso já caiu em prova de múltipla escolha. A pessoa que assina lista de
apoiamento para a criação de partido político não está automaticamente se filiando a ele. Importante
frisar esse ponto.
Essas listas de apoiamento sempre foram um terreno muito propício para fraudes eleitorais,
mais precisamente para a prática do crime de falsidade ideológica eleitoral, previsto no art. 350 do Código
Eleitoral.
CE, art. 350 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena - reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão
até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário público e comete o crime
prevalecendo-se do cargo ou se a falsificação ou alteração é de assentamentos de registro civil, a pena é agravada.
Recentemente, em 2015, o TSE editou a Resolução nº 23465, que disciplina a criação,
organização, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos. Esta tratou com muito cuidado das listas
de apoiamento, exigindo uma série de formalidades, justamente para dificultar a prática do crime de
falsidade ideológica eleitoral. É muito comum a existência de assinaturas falsificadas em listas de
apoiamento para a criação de partidos políticos. Justamente por isso a resolução foi muito rigorosa. Já são
inúmeras as condenações ocorridas na Justiça Eleitoral, confirmadas pelos Tribunais Regionais Eleitorais e
pelo próprio TSE, justamente por fraudes nas listas de apoiamento.
Resolução TSE nº 23465/15 - Disciplina a criação, organização, fusão, incorporação e extinção de
partidos políticos.
Art. 7º - O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registrará seu
estatuto no Tribunal Superior Eleitoral (Lei nº 9.096/95, art. 7º, caput).
§1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-
se como tal aquele que comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político,
correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a
Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos
estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles (Lei nº
9.096/95, art. 7º, §1º).
§2º O apoiamento mínimo de que trata o §1º deste artigo é calculado de acordo com os votos dados,
na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, de acordo
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como os registros da Justiça Eleitoral constantes no último dia previsto para a diplomação dos candidatos eleitos no
respectivo pleito.
§3º O prazo de dois anos para obtenção do apoiamento de que trata o §1º deste artigo é contado a
partir da data da aquisição da personalidade jurídica do partido político em formação, na forma prevista no art. 10
desta resolução.
O art. estipulou a partir de quando o partido pode começar a colher as assinaturas para a lista
de apoiamento. A partir do momento em que o partido adquire personalidade jurídica, tem 2 anos para
obter o número de assinaturas necessárias para a lista de apoiamento, nos 9 Estados.
Depois, nos arts. 11 a 19 da Resolução TSE nº 23465/15, disciplinam-se exaustivamente todas as
formalidades necessárias para o preenchimento dessas listas de apoiamento. Essas assinaturas dos eleitores
nas listas de apoiamentos são levadas depois para conferência e certificação nos respectivos cartórios
eleitorais e depois são somadas no TRE para que se veja se foi atingido o nº de assinaturas que o art. 7º, §1º,
da Resolução exige. Esse procedimento tem de acontecer em 9 Estados. Só a partir daí, com esse
apoiamento popular, é que o partido político em formação pode apresentar o requerimento junto ao
Tribunal Superior Eleitoral. Com a obtenção desse apoiamento mínimo, o partido pode realizar o registro
do estatuto no TSE, também na forma da Resolução TSE nº 23465/15.
Questão importante sobre o apoiamento, sobre a necessidade de registro no Tribunal Superior
Eleitoral: isso não significa, e toda a doutrina concorda, uma interferência do Estado no partido político. Não
representa isso. Mas esse registro permite que o partido político, por exemplo, participe da propaganda
partidária, do processo eleitoral, receba recursos do fundo partidário. Sem o registro no TSE o partido não
pode sequer participar do processo eleitoral. Não teria nem razão de existir. A doutrina é uníssona no
sentido de que isso não é uma interferência direta do Estado nos partidos. É só uma forma de regular e
adequar a criação deles às normas da Justiça Eleitoral.
Dito isso, sobre as listas de apoiamento dos partidos políticos, falar-se-á sobre 2 características
muito importantes dos partidos políticos. Falou-se sobre listas de apoiamento e criação de novos partidos.
2 mais importantes características que o partido político deve ter:
- CARÁTER NACIONAL: já se falou um pouco.
- Liberdade de organização, chamada AUTONOMIA.
- Caráter nacional:
Já foi falado que o partido político tem de ter certa representatividade em todo o território
nacional. Por isso há a exigência do art. 7º, §1º, da Resolução TSE nº 23465/15, da lista de apoiamento em
diversos Estados.
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Outro ponto importante de se falar, onde fica claro o caráter nacional que o partido político
deve ostentar e que está previsto na Constituição, é o das convenções partidárias.
Lei nº 9504/97, art. 7º - As normas para a escolha e substituição dos candidatos e para a formação de
coligações serão estabelecidas no estatuto do partido, observadas as disposições desta Lei.
§1º Em caso de omissão do estatuto, caberá ao órgão de direção nacional do partido estabelecer as
normas a que se refere este artigo, publicando-as no Diário Oficial da União até cento e oitenta dias antes das
eleições.
§2º Se a convenção partidária de nível inferior se opuser, na deliberação sobre coligações, às diretrizes
legitimamente estabelecidas pelo órgão de direção nacional, nos termos do respectivo estatuto, poderá esse órgão
anular a deliberação e os atos dela decorrentes.
§3º As anulações de deliberações dos atos decorrentes de convenção partidária, na condição acima
estabelecida, deverão ser comunicadas à Justiça Eleitoral no prazo de 30 (trinta) dias após a data limite para o
registro de candidatos.
§4º Se, da anulação, decorrer a necessidade de escolha de novos candidatos, o pedido de registro
deverá ser apresentado à Justiça Eleitoral nos 10 (dez) dias seguintes à deliberação, observado o disposto no art. 13.
Diante do caráter nacional que os partidos devem ostentar, a convenção nacional apresenta
primazia, prioridade, em relação às convenções inferiores – estadual e municipal. Não respeitadas as
diretrizes do estatuto do partido político e também as diretrizes nacionalmente traçadas, poderá o órgão
de direção nacional invalidar as deliberações do órgão de direção regional do partido político. O órgão de
direção estadual pode anular as deliberações do diretório municipal caso esse órgão municipal não esteja
respeitando as diretrizes nacionalmente traçadas. O que importa são as diretrizes traçadas pelo órgão
nacional do partido político.
Obs: sugere-se fazer remissão do art. 17, I, da Constituição, ao art. 7º, §§1º e 2º, da Lei nº
9504/97, que trata das convenções partidárias. Essa possibilidade de intervenção da convenção nacional
nas inferiores é um exemplo do caráter nacional que os partidos políticos devem ostentar.
- Liberdade de organização – AUTONOMIA PARTIDÁRIA:
A Constituição adotou o princípio da liberdade de organização e funcionamento dos partidos
políticos. O partido tem AUTONOMIA para definir a sua estrutura, organização e modo de funcionar. A CF
prescreve a livre criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos.
Qual é o instrumento em que o partido se organiza?
Estatuto. Através dele que o partido se organiza e garante a sua AUTONOMIA PARTIDÁRIA.
Através do estatuto é que a agremiação estabelece as suas diretrizes, seu programa de governo. É sempre
através do estatuto.
Na lei, na legislação, existem 2 exemplos muito claros sobre a AUTONOMIA PARTIDÁRIA, sobre
a liberdade de organização.
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- 1º: exemplo muito interessante. Figura do CANDIDATO NATO.
Lei nº 9504/97, art. 8º - A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações
deverão ser feitas no período de 20 de julho a 5 de agosto do ano em que se realizarem as eleições, lavrando-se a
respectiva ata em livro aberto, rubricado pela Justiça Eleitoral, publicada em vinte e quatro horas em qualquer meio
de comunicação. (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)
§1º Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou de Vereador, e aos que
tenham exercido esses cargos em qualquer período da legislatura que estiver em curso, é assegurado o registro de
candidatura para o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados. (Vide ADIN - 2.530-9)
§2º Para a realização das convenções de escolha de candidatos, os partidos políticos poderão usar
gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por danos causados com a realização do evento.
O §1º fala do CANDIDATO NATO. Trata diretamente do PRINCÍPIO DA AUTONOMIA
PARTIDÁRIA. Pense-se no Deputado Federal Caio. Este é do partido Amarelo. Pelo dispositivo da Lei nº
9504/97, é assegurado ao Caio o registro de candidatura ao cargo de Deputado Federal, pelo partido
Amarelo, sempre, independente da escolha pelo partido, das convenções partidárias dele. O art. fala que o
Caio, como é Deputado Federal escolhido pelo partido Amarelo, tem assegurada sua vaga para concorrer
pelo partido. De cara, o que esse dispositivo fere? A autonomia partidária. Pode chegar um momento em
que o partido Amarelo não queira mais lançar o Deputado Federal Caio como candidato, não queira que ele
concorra mais pelo partido. O dispositivo dá essa segurança a Caio, falando que ele sempre vai poder se
candidatar pelo partido, mesmo este não querendo.
Não por acaso o dispositivo foi alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº
2530/DF.
STF, ADI 2530 MC / DF – Tribunal Pleno – Min. Sydney Sanches – Julgamento em 24.04.2002.
EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL: CANDIDATURA NATA. PRINCÍPIO DA ISONOMIA
ENTRE OS PRÉ-CANDIDATOS. AUTONOMIA DOS PARTIDOS POLÍTICOS. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
DO PARÁGRAFO 1º DO ARTIGO 8º DA LEI Nº 9.504, DE 30 DE SETEMBRO DE 1997, SEGUNDO O QUAL: "§1º - AOS
DETENTORES DE MANDATO DE DEPUTADO FEDERAL, ESTADUAL OU DISTRITAL, OU DE VEREADOR, E AOS QUE
TENHAM EXERCIDO ESSES CARGOS EM QUALQUER PERÍODO DA LEGISLATURA QUE ESTIVER EM CURSO, É
ASSEGURADO O REGISTRO DE CANDIDATURA PARA O MESMO CARGO PELO PARTIDO A QUE ESTEJAM FILIADOS".
ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTIGOS 5º, "CAPUT", E 17 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR
DE SUSPENSÃO DA NORMA IMPUGNADA. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DA AÇÃO, RECONHECIDA, POR MAIORIA (8
VOTOS X 1), SENDO 3, COM BASE EM AMBOS OS PRINCÍPIOS (DA ISONOMIA ART. 5º, "CAPUT" E DA AUTONOMIA
PARTIDÁRIA ART. 17) E 5, APENAS, COM APOIO NESTA ÚLTIMA. "PERICULUM IN MORA" TAMBÉM PRESENTE.
CAUTELAR DEFERIDA.
O STF deferiu medida cautelar e suspendeu a eficácia do art. 8º, §1º, da Lei nº 9504/97. A figura
do candidato nato está suspensa por medida cautelar na mencionada Ação Direta de Inconstitucionalidade,
desde 2002. Hoje a figura do candidato nato não está mais em vigor, não está na lei, por conta dessa
suspensão feita pelo Supremo Tribunal Federal. A ADI suspendeu a eficácia do dispositivo. Na maioria dos
códigos já consta essa observação na parte imediatamente abaixo do art.
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- 2º exemplo de AUTONOMIA PARTIDÁRIA: VERTICALIZAÇÃO DAS COLIGAÇÕES. No passado, o
TSE determinou a verticalização das coligações, ou seja, deveria haver uma simetria, uma coerência, entre as
coligações firmadas em âmbito federal e as em âmbito regional. No entanto, a Emenda Constitucional nº
52/2006 modificou o art. 17, §1º, da Constituição Federal, e revogou a questão da verticalização das
coligações, de forma que o partido tem plena AUTONOMIA para fixar as suas coligações. Não é necessária
verticalização entre as coligações celebradas em âmbito nacional, regional ou municipal. Não há
necessidade de simetria e de coerência, desde que se sigam as normas fixadas internamente nos estatutos
dos partidos políticos. A verticalização das coligações sempre foi uma forma de violar a autonomia
partidária. O que disse o próprio legislador? A Emenda Constitucional nº 52/2006 deu AUTONOMIA aos
partidos políticos para fixarem as suas coligações da forma que constar do estatuto, e não seguindo a
Resolução do TSE que anteriormente tinha determinado a verticalização das coligações.
Obs: a autonomia partidária não é ilimitada. Existem 2 restrições na Constituição Federal a
respeito da autonomia partidária.
- CF, art. 17, II - 1ª limitação à autonomia partidária;
- O partido não pode utilizar organização paramilitar. CF, art. 17, §4º.
O partido tem AUTONOMIA para o funcionamento, para a sua organização, para a formação
de suas coligações, para a escolha de quem serão os seus candidatos, mas não pode receber recursos
financeiros do exterior, de entidade ou governo do estrangeiro, e não pode utilizar organização
paramilitar.
Encerrada a 1ª parte do tema “Partidos Políticos”. No próximo bloco será falado um dos mais
tormentosos assuntos: fidelidade partidária.