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DIREITO CIVIL: TÉCNICO JUDICIÁRIO DO TJDFT PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 04 DOS BENS Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula 4. Bens. 4.1. Diferentes classes de bens. Subitens Bens: diferentes classes de bens. Conceito. Espécies. Classificação Geral: considerados em si mesmos; reciprocamente considerados; considerados em relação ao titular da propriedade; considerados quanto à possibilidade de comercialização. Bem de família legal e bem de família convencional. Legislação a ser consultada Código Civil: arts. 79 a 103. Lei n° 8.009/90: da impenhorabilidade do bem de família. ÍNDICE Introdução ............................................................................................ 01 Classificação Legal ................................................................................ 03 Bens considerados em si mesmos ...................................................... 04 Bens reciprocamente considerados ................................................... 14 Bens considerados em relação ao titular do domínio ......................... 18 Bens considerados em relação à possibilidade de negociação ........... 22 Bens de Família ................................................................................. 22 Bens gravados com cláusula de inalienabilidade ................................ 26 RESUMO DA AULA .................................................................................. 27 Bibliografia Básica ................................................................................. 32 EXERCÍCIOS COMENTADOS ................................................................... 32 INTRODUÇÃO Como já sabemos, uma relação jurídica envolve três elementos: as pessoas, os bens e o vínculo. Enquanto no tema “pessoas” nós estudamos os sujeitos de direito, ou seja, quem pode ser considerado sujeito de direitos e deveres na ordem civil, no tema de hoje analisaremos o quê pode ser objeto do Direito. Assim, a relação jurídica entre dois sujeitos tem por objeto os bens sobre os quais recaem direitos e obrigações.

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AULA 04

DOS BENS

���Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→ 4. Bens.

4.1. Diferentes classes de bens.

Subitens →→→ Bens: diferentes classes de bens. Conceito. Espécies. Classificação Geral: considerados em si mesmos; reciprocamente considerados; considerados em relação ao titular da propriedade; considerados quanto à possibilidade de comercialização. Bem de família legal e bem de família convencional.

���Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: arts. 79 a 103. Lei n°

8.009/90: da impenhorabilidade do bem de família.

ÍNDICE

Introdução ............................................................................................ 01

Classificação Legal ................................................................................ 03

Bens considerados em si mesmos ...................................................... 04

Bens reciprocamente considerados ................................................... 14

Bens considerados em relação ao titular do domínio ......................... 18

Bens considerados em relação à possibilidade de negociação ........... 22

Bens de Família ................................................................................. 22

Bens gravados com cláusula de inalienabilidade ................................ 26

RESUMO DA AULA .................................................................................. 27

Bibliografia Básica ................................................................................. 32

EXERCÍCIOS COMENTADOS ................................................................... 32

INTRODUÇÃO

Como já sabemos, uma relação jurídica envolve três elementos: as pessoas, os bens e o vínculo. Enquanto no tema “pessoas” nós estudamos os sujeitos de direito, ou seja, quem pode ser considerado sujeito de direitos e deveres na ordem civil, no tema de hoje analisaremos o quê pode ser objeto do Direito. Assim, a relação jurídica entre dois sujeitos tem por objeto os bens sobre os quais recaem direitos e obrigações.

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���Atenção ��� Há muita divergência doutrinária acerca da utilização das expressões coisa e bem. Alguns autores conceituam coisa como tudo o que existe objetivamente no Universo (com a exclusão da pessoa natural) e que pode satisfazer a uma necessidade humana. Já bem é designado para a conceituação de uma coisa útil ao homem, economicamente apreciável ou valorável e suscetível de apropriação. Desta forma coisa seria o gênero (tudo que existe na natureza) e bem a espécie (que proporciona ao homem uma utilidade, sendo apreciável economicamente e suscetível de apropriação). No entanto outros autores fornecem conceitos completamente inversos de bem e coisa. Para eles bem seria um gênero que se divide em bens imateriais e bens materiais, estes sim, considerados como coisa. Finalmente há os que entendem que entre bens e coisas há uma sinonímia. De fato, o próprio Código não é uniforme, pois utiliza a expressão “bem” na Parte Geral e passa a utilizar “coisa” na Parte Especial, quando trata da propriedade.

���Atenção! Isso já caiu em concurso ��� Apesar de toda essa discussão doutrinária, a ESAF, na prova para MDIC (Analista de Comércio Exterior), realizada em 2012, considerou como correta a seguinte afirmação: “Coisas e bens são conceitos que não se confundem, embora a coisa represente espécie da qual o bem é gênero. A honra, a liberdade, a vida, entre outros, representam bens sem, no entanto, serem considerados coisas”. Houve recurso, porém a questão foi mantida... No meu entendimento, questões como essas deveriam ser evitadas... caindo, deveriam ser anuladas. Mas como já caiu e não foi anulada, é prudente seguir o que as bancas estão pedindo: “bem é gênero; coisa é espécie de bem" (particularmente eu discordo... mas enfim...).

���Vamos então ficar com a expressão BENS, mais ampla e genérica, conceituando como sendo valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de direito.

CLASSIFICAÇÃO INICIAL

Definida a expressão que vamos usar e o seu conceito, vamos agora falar sobre sua classificação. A primeira delas não está prevista expressamente no Código Civil. Esta importante divisão é feita pela doutrina, classificando os bens em:

Corpóreos (sinônimos: materiais, tangíveis ou concretos): aqueles que possuem existência física ou material; podem ser tocados e são visíveis, percebidos pelos sentidos (ex.: terrenos, edificações, joias, veículos, dinheiro, livros, etc.).

Incorpóreos (sinônimos: imateriais, intangíveis ou abstratos): aqueles que não existem fisicamente, pois possuem uma existência abstrata. No entanto podem ser traduzidos em dinheiro, possuindo valor econômico e sendo objeto de direito. Ex.: no caso de um programa de computador (software), o importante não é o CD ou o meio que o contém, mas sim a produção intelectual de quem elaborou o programa. Outro exemplo:

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ainda que dois produtos sejam idênticos, um consumidor pode decidir comprar de acordo com a marca do produto, pois esta lhe transmite maior sensação de confiança no produto. Muitas vezes o importante não é a característica material ou física do produto, mas sim a própria marca. Por isso é que as empresas investem na criação e desenvolvimento de uma marca, que pode ajudá-la a conquistar o consumidor e aumentar seus lucros. O mesmo ocorre com o nome de uma empresa. Outros exemplos: propriedade literária e/ou científica, direitos autorais, propriedade industrial (marcas de propaganda, logotipos, patentes de fabricação), concessões obtidas para a exploração de serviços públicos, fundo de comércio (ponto comercial), etc.

Na prática os bens corpóreos são objetos de contrato de compra e venda, enquanto os bens incorpóreos são objetos de contratos de cessão (transferência a outrem). Mas ambos podem integrar o patrimônio de uma pessoa.

PATRIMÔNIO JURÍDICO

Anteriormente dizia-se que patrimônio era a representação econômica da pessoa. Atualmente afirma-se que é uma universalidade de direitos e obrigações (cada pessoa possui apenas um patrimônio). Trata-se, portanto, do conjunto das relações jurídicas ativas e passivas (abrange bens, direitos e obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), apreciável economicamente. Inclui-se a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes. O patrimônio é composto de elementos ativos ou positivos (bens e direitos) e passivos ou negativos (obrigações). Patrimônio positivo é aquele em que o ativo é maior que passivo (falamos em solvente). O patrimônio do devedor responde por suas dívidas e constitui garantia geral dos credores. Patrimônio negativo (insolvente) é aquele em que as dívidas superam os bens e direitos.

PATRIMÔNIO

Bens e Direitos (a receber) Obrigações (a serem pagas)

Só para completar o tema: alguns autores admitem a existência do chamado “patrimônio moral”, que seria o conjunto de direitos da personalidade. Outros se referem ao chamado “patrimônio mínimo”, que, em respeito ao princípio da dignidade, cada pessoa deve ter resguardado pela lei civil um mínimo de patrimônio.

CLASSIFICAÇÃO LEGAL DOS BENS

• Bens considerados em si mesmos: móveis ou imóveis; fungíveis ou infungíveis, consumíveis ou inconsumíveis, divisíveis ou indivisíveis; singulares ou coletivos.

• Bens reciprocamente considerados: principais ou acessórios (frutos, produtos, pertenças e benfeitorias).

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• Bens considerados em relação ao titular do domínio: públicos (uso comum do povo, uso especial e dominicais), particulares e res nullius.

• Bens considerados quanto à possibilidade de alienação: bens que estão fora do comércio.

Vejamos agora cada uma dessas espécies de forma minuciosa.

I. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

I.1 – BENS QUANTO À MOBILIDADE (arts. 79/84, CC)

A) BENS IMÓVEIS (arts. 79/81, CC) São aqueles que não podem ser removidos ou transportados de um lugar

para o outro sem a sua destruição ou alteração em sua substância. Ocorre que com avanço da engenharia e da ciência em geral esse conceito perdeu parte de sua força. Atualmente há modalidades de imóveis que não se amoldam perfeitamente a este conceito (ex.: edificações que, separadas do solo, conservam sua unidade, podendo ser removida para outro local – arts. 81, I e 83, CC). Os bens imóveis também são chamados de “bens de raiz” e podem ser divididos em:

1. Por Natureza (ou por essência): é o solo (terreno) e tudo quanto se lhe incorporar naturalmente (árvores, frutos pendentes, etc.), mais adjacências (espaço aéreo e subsolo). Alguns autores entendem que apenas o solo seria bem imóvel por natureza. Os acessórios e as adjacências seriam bens imóveis por acessão natural.

O art. 1.229, CC dispõe que a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e a do subsolo correspondente em altura e profundidade úteis ao seu exercício. Quem compra um sítio é o proprietário do subsolo? Resposta para o Direito Civil: SIM!! O proprietário do solo é também proprietário do subsolo (e do espaço aéreo), especialmente para construção de passagens, garagens subterrâneas, porões, adegas, etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas limitações. Pelo art. 176, CF/88, as jazidas, os recursos minerais e hídricos, embora sejam considerados como bens imóveis, constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio (propriedade) da União. Lógico que é difícil alguém comprar um terreno e nele “achar” uma mina de ouro ou de diamantes ou mesmo um lençol petrolífero. No entanto se isso ocorrer, esta pessoa não será o “dono” deste recurso mineral.

2. Por Acessão Física, industrial ou artificial (acessão quer dizer aumento, acréscimo ou aderência de uma coisa a outra): trata-se de tudo quanto o homem incorporar permanentemente (o que não significa eternamente) ao solo, não podendo removê-lo sem destruição, modificação ou dano. Abrange os bens móveis que, incorporados ao solo pelo trabalho do homem, passam a ser bens imóveis. Exemplos clássicos genéricos:

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construções e plantações. Ex.: um caminhão de tijolos, cimento, caibros, etc. são bens móveis; quando se realiza uma construção, sendo incorporados ao solo pela aderência física, passam a ser imóveis, pois não podem ser retirados sem causar dano à construção onde estão. Outros exemplos: sementes lançadas ao solo ou as plantações (café, cana, etc.), as construções de uma forma geral (edifícios, casas, pontes, viadutos, etc.) e seus acessórios (ex.: piscina, garagem). Nos termos do art. 81, CC, não perdem o caráter de imóvel (ou seja, continuam sendo imóveis):

a) edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local (ex.: “casa pré-fabricada” transportada de uma localidade para outra).

b) materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem (telhas retiradas de uma casa para reforma do telhado, sendo reempregadas posteriormente).

3. Por Acessão Intelectual (ou por destinação do proprietário): são os bens móveis que aderem a um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade ao imóvel (a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa). Trata-se de uma ficção jurídica. Ex.: um trator destinado a uma melhor exploração de propriedade agrícola, máquinas de uma fábrica têxtil, para aumentar a produtividade da empresa, veículos, animais e até objetos de decoração de uma residência. O Código Civil atual não acolhe mais essa classificação em relação a bens imóveis. Seguindo a doutrina moderna sobre o tema, o Código qualifica esses bens como pertenças, onde a coisa deve ser colocada a serviço do imóvel e não da pessoa, constituindo, portanto, a categoria de bens acessórios (que veremos mais adiante). Vejam que a imobilização não é definitiva neste caso; o bem poderá voltar a ser móvel, por mera declaração de vontade quando não for mais usá-lo para fim a que se destinava.

���Atenção��� Embora o atual Código não use mais o termo acessão intelectual (mas sim pertença) o aluno deve ficar “ligado” na forma como foi redigida a questão. Como alguns autores ainda a mencionam, é possível que em uma questão, estando todas as demais alternativas errada, por exclusão, a resposta certa seja “acessão intelectual”.

4. Por Disposição Legal: são bens que são considerados imóveis somente porque o legislador assim resolveu enquadrá-los (ficção jurídica), possibilitando, como regra, receber maior segurança e proteção jurídica nas relações que os envolve. São eles:

• Direito à sucessão aberta. Falecendo uma pessoa, mesmo que a herança seja formada apenas por bens móveis, o direito à sucessão será considerado como um bem imóvel. Ex.: uma pessoa faleceu e deixou um carro, uma joia e dez mil reais em uma conta-poupança. É aberto o processo de inventário. O conjunto dos bens deixados pelo falecido (de cujus) é chamado de espólio. E este tem a natureza de bem imóvel por força de lei. Assim, o que se considera imóvel não é o direito aos bens que compõe a herança, mas sim o direito à herança como uma unidade.

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Somente após a partilha é que os bens serão considerados de forma individual.

• Direitos reais sobre os imóveis (ex.: direito de propriedade, de usufruto, uso, superfície, habitação, servidão predial, enfiteuse, etc.). A lei, para dar maior segurança às relações jurídicas, trata os direitos reais sobre bens imóveis com se imóveis fossem. Encaixam aqui também as ações que asseguram os bens imóveis, como uma ação reivindicatória da propriedade, hipotecária, etc.

• Penhor agrícola e as ações que o asseguram.

• Jazidas e as quedas d’água com aproveitamento para energia hidráulica são consideradas bens distintos do solo onde se encontram (arts. 20, inciso IX e 176, CF/88).

B) BENS MÓVEIS (arts. 82/84, CC)

São aqueles que podem ser removidos, transportados, de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Podemos classificá-los em:

1) Móveis por Natureza: são os bens que podem ser transportados de um local para outro sem a sua destruição por força alheia ou que possuem movimento próprio. Força alheia: são os bens móveis propriamente ditos (carro, cadeira, livro, joias, etc.). Força própria (suscetíveis de movimento próprio): são os semoventes, ou seja, os animais de uma forma geral (bois, cavalos, carneiros, etc.).

���Observações ���

Os materiais destinados à construção enquanto não forem empregados nesta construção, ainda são considerados como bens móveis. Materiais provenientes de demolição e que não serão reempregados, perdem a qualidade de imóvel e passam a ser bens móveis (art. 84, CC). Ex.: comprei um “milheiro de tijolos”; enquanto eu não empregar estes tijolos na obra eles são bens móveis. Após a construção passam a ser imóveis. Caso ocorra uma demolição e eles não sejam reempregados em outra construção voltam a ser móveis. Se a intenção é reempregá-los a seguir em outra construção, não perdem o caráter de imóveis.

2) Móveis por Antecipação: a vontade humana pode mobilizar bens imóveis em função da sua finalidade econômica. Ex.: uma árvore é um bem imóvel; no entanto ela pode ser plantada especialmente para corte futuro (fábrica de papel, transformação em lenha, etc.). Portanto, embora seja fisicamente um imóvel ela tem uma finalidade última como bem móvel; ainda que temporariamente imóvel isto não lhe retira o seu caráter de bem móvel, em razão de sua finalidade. Outros exemplos: os frutos de um pomar que ainda estão no pé, mas destinados à venda (safra futura); pedras e metais aderentes ao imóvel, etc.

3) Móveis por Determinação Legal: O art. 83, CC considera como bens móveis para efeitos legais:

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a) as energias que tenham valor econômico: a energia elétrica, embora não seja um bem corpóreo, é considerada pela lei como sendo um bem móvel. Observem que o art. 155, §3° do Código Penal também a equipara com um bem móvel, podendo ser objeto do crime de furto (ex.: desvio do medidor, quando a corrente passa do fornecedor ao consumidor – trata-se do famoso “gato” ou “gambiarra”). Notem que a lei menciona “energias”, pois não existe apenas a energia elétrica. Ex.: o sêmen de um touro reprodutor premiado é considerado energia biológica.

b) direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes (ex.: direito de propriedade e de usufruto sobre bens móveis, etc.).

c) direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações.

d) ainda incluem-se: direitos autorais (art. 3° da Lei n° 9.610/98), propriedade industrial (direitos oriundos do poder de criação e invenção da pessoa), quotas e ações de capital em sociedades, etc.

���Atenção ��� Os navios e aeronaves são bens móveis ou imóveis? A doutrina os classifica como bens móveis especiais ou sui generis. Apesar de pela sua natureza e essência serem fisicamente bens móveis (pois podem ser transportados de um local para outro), são tratados pela lei como se fossem imóveis, pois necessitam de registro especial e admitem hipoteca. O navio tem nome e o avião marca, possuindo identificação e individualização próprias. Ambos têm nacionalidade. Podem ter projeção territorial no mar e no ar (território ficto). Alguns autores os consideram como quase pessoa jurídica, no sentido de se constituírem num centro de relações e interesses, como se fossem sujeitos de direitos, embora não tenham personalidade jurídica. Portanto, cuidado com a forma como a questão foi elaborada.

Importância prática na distinção entre Imóveis X Móveis

Os bens imóveis se distinguem dos móveis pela: forma de aquisição da propriedade, necessidade ou não de outorga, prazos de usucapião e os direitos reais. Vejamos:

1) Formas de aquisição da propriedade

A principal forma de se adquirir a propriedade dos bens móveis é com a tradição. Ou seja, em uma compra e venda de bens móveis, somente com a entrega destes é que se adquire a sua propriedade. Já os bens imóveis são adquiridos com o Registro ou transcrição do título da escritura pública no Registro de Imóveis (art. 1.245, CC). Enquanto não houver o registro do título, o vendedor continua sendo o proprietário do imóvel.

2) Outorga

Os bens imóveis não podem ser vendidos, doados ou hipotecados por pessoa casada sem a outorga do outro cônjuge, exceto se o regime de bens escolhido pelo casal for o da separação absoluta de bens (art. 1.647, CC). Já os bens móveis não necessitam dessa outorga. A outorga pode ser:

• Marital: o marido concede à mulher, ou seja, o bem pertence à mulher e o marido assina também os documentos anuindo na venda do imóvel.

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• Uxória: a mulher concede ao homem, ou seja, a mulher assina a documentação para a venda do imóvel, que pertence ao marido (uxor – em latim quer dizer mulher casada).

���Concluindo. Um bem será vendido. Trata-se de um bem imóvel? –Sim! Trata-se de proprietário casado em regime de bens que não seja separação total de bens? –Sim! Logo essa pessoa irá necessitar da outorga (ou vênia) conjugal (uxória ou marital).

3) Usucapião

Tanto os bens imóveis quanto os móveis podem ser objeto de usucapião. O que vai diferenciar é o prazo para que isso ocorra. Os prazos para se adquirir a propriedade imóvel por usucapião são, em regra, maiores. Exemplificando:

A) Bens Imóveis 1) Usucapião Extraordinária

• 15 anos: sem justo título, sem boa-fé. • 10 anos: sem justo título, desde que resida no local ou tenha realizado obras produtivas.

2) Usucapião Ordinária • 10 anos: com título e boa-fé. • 05 anos: com título, boa-fé, adquirido onerosamente, desde que resida no local ou tenha realizado investimento de interesse social e econômico.

B) Bens Móveis

1) Usucapião Extraordinária: sem justo título →→→ 05 anos.

2) Usucapião Ordinária: com justo título e boa-fé →→→ 03 anos.

Lembrando que justo título é definido como sendo o ato jurídico destinado a habilitar uma pessoa a adquirir o domínio de uma coisa, mas que por algum motivo acabou não produzindo efeito. Na boa-fé o possuidor está convicto que a sua posse não prejudica ninguém e desconhece eventuais vícios que lhe impedem a aquisição do domínio. A Constituição Federal (e o próprio Código Civil) estabelecem outras formas de usucapião de bens imóveis. Confiram: arts. 183 e 191, CF/88.

���Cuidado ���Atualmente existe uma espécie de usucapião de bens imóveis, cujo prazo é de apenas 02 (dois) anos. Trata-se do art. 1240-A, CC: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.

4) Direitos Reais sobre coisa alheia • Bens imóveis. Regra →→→ hipoteca.

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• Bens móveis. Regra →→→ penhor.

I.2 – BENS QUANTO À FUNGIBILIDADE (art. 85, CC)

A) INFUNGÍVEIS São os bens que possuem alguma característica especial, que os tornam

distintos dos demais, não podendo ser substituídos por outros, mesmo que da mesma espécie, qualidade e quantidade. São bens considerados em sua específica individualidade, pois, de alguma forma, estão devidamente personalizados. Ex.: imóveis de uma forma geral, veículos, um quadro famoso, etc.

B) FUNGÍVEIS São os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma

espécie, qualidade e quantidade. São as coisas que se contam, se medem ou se pesam e não se consideram objetivamente como individualidades. Ex.: uma saca de arroz, uma resma de papel, gêneros alimentícios de uma forma geral, etc. Lembrando que o dinheiro é o bem fungível por excelência. Trata-se do mais constante objeto nas obrigações de dar.

���Atenção ���

- Os bens imóveis são infungíveis. - Os bens móveis podem ser fungíveis ou infungíveis.

Explicando. Os bens imóveis são personalizados (há uma escritura, possuem um registro, um número, etc.), daí serem eles infungíveis, pois estão individualizados. Excepcionalmente é possível que sejam tratados como fungíveis. Ex.: devedor se obriga a fazer o pagamento por meio de três lotes de terreno, sem que haja a precisa individualização deles; o imóvel nesse caso não integra o negócio pela sua essência, mas pelo seu valor econômico.

Já os bens móveis, como regra, são fungíveis, mas em alguns casos podem ser considerados como infungíveis. Ex.: um selo de carta, como regra é fungível. Mas um “selo raro” é infungível, pois se destina a colecionadores. Outros: uma moeda rara, o cavalo de corrida Furacão, um quadro pintado por Renoir, etc. Um veículo automotor é considerado como um bem infungível, pois possui número de chassis, número de motor, etc., personalizando e diferenciando dos demais.

A fungibilidade pode ser da própria natureza do bem ou da vontade manifestada pelas partes. Ex.: uma cesta de frutas é fungível, mas pode se tornar infungível se ela for emprestada apenas para ornamento de uma festa (chamamos esta hipótese de: comodatum ad pompam vel ostentationem) para ser devolvida posteriormente, intacta. Outro: como regra um livro pode ser um bem fungível. Mas se nele contiver uma dedicatória ou estiver autografado pelo autor, este fato faz com que ele se torne único.

Uma obrigação de fazer também pode ser infungível ou fungível. Ex.: contrato o famoso pintor “Z”, para pintar um quadro; percebam que a atuação de “Z”, neste caso, é personalíssima, pois ele foi contratado tendo-se em vista suas habilidades especiais. Portanto trata-se de uma obrigação infungível. Já a

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pintura de um muro que foi pichado, ou a troca da resistência de um chuveiro elétrico são exemplos de obrigações fungíveis, pois não requer uma habilidade excepcional para o seu cumprimento, podendo ser realizada por qualquer pessoa.

Consequências práticas da fungibilidade

• A diferença básica entre a locação, o comodato e o mútuo (que são espécies de contratos de empréstimo) está na sua fungibilidade. Enquanto o mútuo é um contrato que se refere ao empréstimo apenas de coisas fungíveis, ou seja, o devedor pode devolver outra coisa, desde que seja igual, o comodato é um contrato de empréstimo (gratuito) de coisas infungíveis. E a locação também é um empréstimo de bens infungíveis, só que oneroso. Nestes dois últimos contratos a pessoa deve devolver o mesmo bem.

• Outra consequência: o credor de coisa infungível não pode ser obrigado a receber outra coisa, mesmo que esta seja mais valiosa (art. 313, CC). Isto é o credor tem o direito de receber a coisa exata que foi pactuada.

• Outro efeito: a compensação legal (isto é, “A” deve para “B”, mas “B” também deve para “A”) efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis entre si. Ou seja, dinheiro se compensa com dinheiro; café se compensa com café; feijão se compensa com feijão, etc.

I.3 – BENS QUANTO À CONSUNTIBILIDADE (art. 86, CC)

A) CONSUMÍVEIS São bens móveis, cujo uso normal importa na destruição imediata da

própria coisa. Admitem um uso apenas. Ex.: gêneros alimentícios, bebidas, lenha, cigarro, giz, dinheiro, gasolina, etc.

���Observação. Há bens que são consumíveis, conforme a destinação que o homem lhes dá. Ex.: os livros, em princípio, são bens inconsumíveis, pois permitem usos reiterados. Mas expostos numa livraria são considerados como consumíveis, pois a destinação é a venda (e o vendedor não pode vender a mesma coisa para duas pessoas). Observem que o art. 86, CC possui a seguinte redação: são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação (consumíveis de direito).

B) INCONSUMÍVEIS São os que proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire

toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade. Ex.: roupas de uma forma geral, automóvel, casa, etc., ainda que haja possibilidade de sua destruição em decorrência do tempo.

Quando alguém empresta algo (ex.: frutas) para uma exibição, devendo restituir o objeto, o bem permanece inconsumível até a sua devolução (a doutrina chama isso de ad pompam vel ostentationem). A consuntibilidade não decorre propriamente da natureza do bem, mas sim da sua destinação econômico-jurídica. Assim, o usufruto somente pode recair sobre bens

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inconsumíveis. Se for instituído sobre bens fungíveis, é chamado pela doutrina de quase-usufruto ou usufruto impróprio.

Não confundir fungibilidade com consuntibilidade. Em geral um bem fungível é também consumível (ex.: gêneros alimentícios). No entanto um bem pode ser consumível e ao mesmo tempo infungível (ex.: partitura de um compositor famoso colocada à venda; uma garrafa de um vinho famoso e raro). Por outro lado, um bem pode ser também inconsumível e fungível (ex.: uma ferramenta ou um talher).

I.4 – BENS QUANTO À SUA DIVISIBILIDADE (arts. 87/88, CC)

A) DIVISÍVEIS São os bens que podem se fracionar em porções reais e distintas,

formando cada qual um todo perfeito, sem alteração em sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. Ex.: uma folha de papel, uma quantidade de arroz, milho, etc. Se repartirmos uma saca de arroz, cada metade conservará as mesmas qualidades do produto. Quanto à expressão “diminuição considerável de valor” é interessante notar o seguinte exemplo: 05 pessoas herdaram um diamante de 50 quilates. Esta pedra preciosa pode ser dividida em 05 partes iguais (05 diamantes de 10 quilates cada). No entanto esta divisão fará com que haja uma diminuição considerável no valor do bem, ou seja, o brilhante inteiro terá muito mais valor do que os cinco pedaços reunidos. Por isso esse bem é considerado indivisível (ao menos em tese).

B) INDIVISÍVEIS

São os bens que não podem ser fracionados em porções, pois deixariam de formar um todo perfeito. Ex.: uma joia, um anel, um par de sapatos, etc. No entanto a indivisibilidade pode ser subclassificada em:

• por natureza se o bem for dividido perde a característica do todo. Ex.: um cavalo, um relógio, um quadro, etc.

• por determinação legal alguns bens podem ser divididos fisicamente. No entanto a lei que os torna indivisíveis. O exemplo clássico é o da herança. Antes da partilha ela é indivisível por determinação legal. O art. 1.791, CC determina que a herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. E continua o parágrafo único: até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Outros exemplos: o módulo rural (art. 65 do Estatuto da Terra), os lotes urbanos, a hipoteca, etc.

• por vontade das partes (convencional) um bem fisicamente é divisível, mas pode se tornar indivisível por força de um contrato. Ex.: entregar 100 sacas de café. Em tese é uma obrigação divisível (eu poderia entregar 50 sacas hoje e 50 na semana que vem). Mas pode ser pactuado no contrato a indivisibilidade da prestação: ou seja, todas as 100 sacas devem ser entregues hoje.

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I.5 – BENS QUANTO À INDIVIDUALIDADE (arts. 89/91, CC)

A) BENS SINGULARES

São singulares (ou individuais) os bens que, embora possam estar reunidos, são considerados de modo individual, independentemente dos demais. Ex.: um cavalo, uma casa, um carro, uma joia, um livro, etc. Os bens singulares podem ser classificados em: a) singulares simples formam um todo homogêneo, cujas partes componentes estão unidas em virtude da própria natureza ou da ação humana, sem que seja necessária qualquer regulamentação (pedra, cavalo, árvore, folha de papel, etc.); b) singulares compostos são os que as partes heterogêneas estão ligadas artificialmente pelo engenho humano; na realidade são vários objetos independentes que se unem em um só todo, sem que desapareça a condição jurídica de cada uma das partes. Ex.: materiais de construção. Uma porta ou uma janela, embora estejam ligados à edificação de uma casa, continuarão assim a ser chamados. Quando vendemos a casa é obvio que está subentendido que a porta e a janela acompanharão a venda. Outros exemplos: navio ou avião, carro, relógio, etc.

B) BENS COLETIVOS OU UNIVERSAIS Universalidade é a pluralidade de bens singulares autônomos que,

embora ainda conservem sua identidade, são consideradas em seu conjunto, formando um todo único (universitas rerum), passando a ter individualidade própria, distinta da dos seus objetos componentes. Trata-se de um gênero e que tem como espécies:

a) Universalidade de Fato (art. 90, CC) é a pluralidade de bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade humana, para um determinado fim. Devem pertencer à mesma pessoa e ter destinação unitária (fim específico). Ex.: biblioteca (livros), pinacoteca (quadros), rebanho (bovino, ovino, suíno, caprino, etc.), hemeroteca (jornais e revistas), alcateia (lobos), cáfila (camelos), panapaná (borboletas), cambada (porção de objetos enfiados; por extensão passou a significar o coletivo de caranguejos), etc.

���Observação. Os bens reunidos para a formação da universalidade de fato não perdem a sua autonomia e podem ser objeto de relações jurídicas próprias. Ou seja, cada bem pode ser objeto de relação jurídica individualizada ou, a critério do proprietário, ser negociado coletivamente. Ex.: pode-se vender uma vaca do rebanho ou o rebanho inteiro.

b) Universalidade de Direito (art. 91, CC) é a pluralidade de bens singulares, corpóreos e heterogêneos ou até incorpóreos, a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade; é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico. Exemplo: o patrimônio, que é o conjunto de relações ativas e passivas (bens, direitos, obrigações) de uma pessoa (natural ou jurídica), incluindo a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes. Outros exemplos: a herança (ou espólio) é uma universalidade de bens que passa do falecido aos seus sucessores no exato momento de sua morte, a massa falida, etc.

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Observações

01) Na universalidade de fato a destinação é dada pela vontade humana; na universalidade de direito a destinação é dada pela norma jurídica.

02) Nas coisas coletivas, se houver o desaparecimento de todos os indivíduos, menos um, ter-se-á a extinção da coletividade, mas não o direito sobre o que sobrou.

��� Atenção ��� ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Trata-se do conjunto de bens corpóreos e/ou incorpóreos organizados para exercício da atividade profissional, por empresário, ou por sociedade empresária, visando torná-la mais eficiente para a obtenção de lucros (art. 1.142, CC). Alguns autores também o chamam de fundo de comércio, azienda, negócio empresarial, fundo de empresa, etc. Possui valor patrimonial e pode ser realizado em dinheiro. Seus elementos podem ser vendidos em conjunto ou isoladamente. Possui as seguintes características: conjunto de bens; ligados por força da vontade humana; pertencentes à mesma pessoa; destinação unitária, que é o exercício da empresa (atividade empresarial).

A doutrina majoritária entende que:

A) Para fins de alienação, o estabelecimento é considerado um bem móvel. Isso já caiu em algumas provas (principalmente na FGV)!! Pode ser transferido por escritura pública ou particular, não se exigindo outorga conjugal (art. 978, CC). O estabelecimento não é sujeito de direitos e não tem personalidade jurídica.

B) O estabelecimento empresarial é exemplo de universalidade de fato (e não de direito), na medida em que sua unidade não decorre da lei (como ocorre na massa falida e na herança), mas da vontade do empresário para uma finalidade específica, que também teria liberdade para reduzir ou aumentar o estabelecimento, alterar o seu destino, etc., não se confundindo com o patrimônio pessoal do empresário. Recentemente a Fundação Carlos Chagas, em um concurso para o ISS/SP elaborou uma questão assim: “O estabelecimento é definido como o complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. A partir dessa definição, extrai-se que a natureza jurídica do estabelecimento é a de: (resposta dada como correta): (A) universalidade de fato, entendida como conjunto de bens pertencentes à mesma pessoa, com destinação unitária”. No entanto a professora Maria Helena Diniz, muito consultada para elaboração de questões concursos, entende que se trata de uma universalidade de direito, em face do art. 1.143, CC: “Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com sua natureza” (Curso de Direito Civil Brasileiro, Ed. Saraiva, 26ª edição, 2009, pág. 356).

II. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

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Esta forma de classificação é feita a partir de uma comparação entre os bens (arts. 92/97, CC). O que um bem é em relação a outro bem. Segundo esta classificação os bens podem ser principais ou acessórios.

A) PRINCIPAIS

São os que existem por si, abstrata ou concretamente, independentemente de outros; exercem função e finalidades autônomas. Ex.: o solo, um crédito, uma joia, etc.

B) ACESSÓRIOS

São aqueles cuja existência pressupõe a existência de outro bem; sua existência e finalidade dependem de um bem principal. Ex.: um fruto em relação à árvore, uma árvore em relação ao solo, um prédio em relação ao solo, os juros, etc.

Regra →→→ o bem acessório segue o principal (salvo disposição especial em contrário): acessorium sequitur suum principale.

Observações

01) Esta regra estava prevista no art. 59 do Código anterior e não foi reproduzida no atual. Trata-se de um princípio geral do Direito Civil, reconhecido de forma unânime pela doutrina, tendo aplicação direta em nosso ordenamento, retirada de forma presumida da análise de vários dispositivos da atual codificação (ex.: art. 92, CC). A regra é conhecida como princípio da gravitação jurídica (um bem atrai o outro para sua órbita, comunicando-lhe seu próprio regime jurídico: o principal atrai o acessório; o acessório segue o principal). Por essa razão, quem for o proprietário do principal, em regra, será também o do acessório. Outro efeito: a natureza do principal será também a do acessório. Ex.: se o solo é imóvel, a árvore nele plantada também o será.

02) Esta regra também se aplica aos contratos. Ex.: a fiança somente existe como forma de garantia se houver outro contrato principal, como a locação. Desta forma, se o contrato principal (locação) for considerado nulo, nula também será considerado acessório (fiança); já o inverso não é verdadeiro, ou seja, se a fiança for considerada nula, o contrato principal pode continuar a produzir efeitos. Outro exemplo: a multa contratual em relação ao contrato em si.

São Bens Acessórios:

1) Frutos são as utilidades que a coisa principal produz periodicamente; nascem e renascem da coisa e sua percepção mantém intacta a substância do bem que as gera. Os frutos podem ser classificados em:

a) Naturais: são os que se renovam periodicamente pela própria força orgânica da coisa (ex.: frutas, crias de animais, ovos, etc.).

b) Industriais: são os que surgem em razão da atividade humana (ex.: produção de uma fábrica). c) Civis: são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude sua utilização por outrem que não o proprietário; é a cessão remunerada da

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coisa (ex.: juros de caderneta de poupança, aluguéis, dividendos ou bonificações de ações, etc.).

Os frutos ainda podem ser classificados, quanto ao seu estado em: pendentes (ainda estão ligados fisicamente à coisa que os produziu, mas podem ser destacados, sem nenhum risco para a inteireza da coisa); percebidos ou colhidos (são os já destacados ou colhidos da coisa principal da qual se origina); estantes (colhidos e armazenados em depósitos; acondicionados para a venda); percipiendos (já deveriam ter sido colhidos ao tempo da safra, mas ainda não o foram) e consumidos (já colhidos e que não existem mais: utilizados ou alienados).

2) Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, alterando a sua substância, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento. E isto é assim porque eles não se reproduzem. Ex.: pedras de uma pedreira, minerais de uma jazida, carvão mineral, lençol petrolífero, etc.

���Atenção ��� Os frutos e os produtos, mesmo que não separados do bem principal, já podem ser objeto de negócio jurídico (art. 95, CC). Ex.: posso vender uma possível safra de laranjas que ainda estão ligadas ao principal, por ser prematura a sua colheita no momento do contrato.

Frutos X Produtos

Os frutos se renovam quando são utilizados ou separados da coisa, não alterando a substância da coisa principal. Ex.: colhendo as frutas de um pomar, as árvores não diminuem e continuam produzindo nas próximas safras. Já os produtos se exaurem com o uso, sendo que a extração do produto determina a progressiva diminuição da coisa principal. Ex.: a extração do minério de ferro de uma mina faz com que a mesma vá diminuindo a produção, até o seu esgotamento.

3) Rendimentos na verdade eles são os próprios frutos civis ou prestações periódicas em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e gozo de um bem (ex.: aluguel).

4) Produtos orgânicos da superfície da terra (ex.: vegetais, animais, etc.).

5) Obras de aderência obras que são realizadas acima ou abaixo da superfície da terra (ex.: uma casa, um prédio de apartamentos, o metrô, pontes, túneis, viadutos, etc.).

6) Pertenças segundo o art. 93, CC, são os bens que, não constituindo partes integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Exemplos que costumam cair nas provas: moldura de um quadro que ornamenta uma casa de eventos, máquinas agrícolas (trator), animais ou materiais destinados a melhor explorar o cultivo de uma propriedade agrícola, máquinas e instalações de uma fábrica, geradores de energia, escadas de emergência e outros equipamentos contra incêndio, ar-condicionado em um escritório, órgão de uma igreja, etc.

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���ATENÇÃO!! ���Esse tema é muito exigido em concursos, dada a sua peculiaridade. Vamos então aprofundá-lo.

Pertença vem do latim pertinere (pertencer, fazer parte de). Trata-se de um bem acessório, pois depende economicamente de outra coisa. Mas, apesar de ser acessório, conserva sua individualidade e autonomia, tendo com a principal apenas uma subordinação econômico-jurídica. É necessário, para caracterizá-la, o vínculo intencional duradouro (estável), estabelecido por quem faz uso da coisa e colocado a serviço da utilidade do principal. Segundo a regra do art. 94, CC os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei ou da vontade das partes. Assim, em relação às pertenças, nem sempre pode se usar o adágio de que “o acessório segue o principal”. Por isso, quando se tratar de negócio que envolva transferência de propriedade que contenha uma pertença é conveniente que as partes se manifestem expressamente sobre os acessórios (se eles acompanham ou não o bem principal), evitando situações dúbias posteriores. Ex.: quando se vende um carro deve o vendedor mencionar se o equipamento de som está incluso ou não no negócio; quando se vende uma casa, os bens móveis não acompanham, salvo disposição em contrário. Só são pertenças os bens que não forem partes integrantes, isto é, aqueles que, se forem retirados do principal não afetam a sua estrutura. Ex.: uma casa é composta por diversas partes integrantes. Uma porta ou uma janela são fundamentais para a existência desta casa, portanto são consideradas como partes integrantes. Já o ar-condicionado ou um quadro desta casa podem ser considerados como pertenças (eles pertencem a casa, mas não são partes integrantes). Quando se vende uma casa, as portas e as janelas (partes integrantes) acompanham a venda. Já o ar-condicionado e o quadro (pertenças) podem ser vendidos juntos ou podem ser retirados da casa pelo vendedor, não fazendo parte do negócio. Tudo vai depender do que for estabelecido no contrato. Da mesma forma os instrumentos agrícolas e os animais em relação a uma fazenda.

7) Acessões (de modo implícito) aumento do valor ou do volume da propriedade devido a forças externas (fatos fortuitos, como: formação de ilhas, aluvião, avulsão, abandono de álveo, construções e plantações). Em regra não são indenizáveis.

���ATENÇÃO ��� Outro tema muito exigido em concursos!!

8) BENFEITORIAS são obras ou despesas que se fazem em um bem móvel ou imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. As benfeitorias são bens acessórios, introduzidos no principal pelo homem. Se for realizado pela natureza não é considerado como benfeitoria. O art. 97, CC prevê que não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindo ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. Dividem-se as benfeitorias em (art. 96, CC):

a) Necessárias são as que têm por finalidade conservar ou evitar que o bem se deteriore (art. 96, §3°, CC); se não forem feitas a coisa pode

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perecer. Ex.: reforços em alicerces, reforma de telhados, substituição de vigamento podre, desinfecção de pomar, etc.

b) Úteis são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa (art. 96, §2°, CC); não são indispensáveis, mas se forem feitas darão um maior aproveitamento à coisa. Ex.: construção de uma garagem, de um lavabo dentro da casa, instalação de aparelho hidráulico moderno, etc.

c) Voluptuárias são as de mero embelezamento, recreio ou deleite, que não aumentam o uso habitual do bem, mas o torna mais agradável, aumentando o seu valor comercial (art. 96, §1°, CC). Ex.: construção de uma piscina, uma churrasqueira, uma pintura artística, um jardim com flores exóticas, etc.

���Atenção��� A classificação acima não é absoluta, pois uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou outra espécie, dependendo de uma circunstância concreta. Ex.: uma pintura pode ser necessária em uma casa de praia para evitar uma infiltração ou voluptuária se for apenas para embelezá-la.

Relevância jurídica da distinção das benfeitorias

Se o possuidor estiver de boa-fé (isto é, desconhecia eventuais vícios que esta posse tinha) ele tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis. Caso elas não sejam indenizadas, o possuidor tem o direito de retenção pelo valor das mesmas. Isto é, ele pode reter o bem até que seja indenizado pelas benfeitorias feitas. Já as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas, mas elas poderão ser levantadas (isto é, retiradas do bem – a doutrina chama isso de jus tollendi), desde que não haja danificação da coisa. Tais direitos estão previstos no art. 1.219, CC.

Por outro lado, se o possuidor estiver de má-fé (ele sabia que aquele bem não era seu; conhecia os defeitos de sua posse) serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias. Este possuidor não será indenizado pelas benfeitorias úteis e nem pelas voluptuárias. Além disso, não poderá levantar nenhuma das benfeitorias realizadas e também não terá direito de retenção sobre nenhuma delas. Nem mesmo sobre as necessárias. Isto está previsto no art. 1.220, CC. É o preço que se paga por estar de má-fé. Vejam o quadrinho abaixo que retrata bem o que foi dito agora sobre as indenizações das benfeitorias.

Benfeitorias Posse de Boa-fé Posse de Má-fé

Necessárias Indeniza Indeniza

Úteis Indeniza Não indeniza

Voluptuárias Não indeniza, mas podem ser levantadas

Não indeniza

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É interessante acrescentar que a Lei do Inquilinato (Lei n° 8.245/91), dispõe de forma um pouco diferente, pois permite disposições contratuais em contrário. Vejamos:

Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.

Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel.

Acessão artificial X Benfeitoria

• Acessão artificial: obra que cria uma coisa nova, como as construções e plantações (ex.: edificação de uma casa em um terreno).

• Benfeitoria: obra ou despesa realizada em bem já existente, sem modificar a sua substância. É apenas uma reforma levada a efeito pelo homem (artificial) na coisa e que não aumenta o volume.

Benfeitoria X Pertença

• Benfeitorias: obras realizadas diretamente no bem para conservá-lo (necessária), melhorá-lo (útil) ou embelezá-lo (voluptuária). Assim que realizadas, estas obras se tornam parte do próprio bem; elas se incorporam ao principal. Por isso, como regra, elas não possuem autonomia e existência própria. Quando se vende uma casa e o contrato nada fala, a piscina e a garagem (benfeitorias) acompanham o negócio.

• Pertenças: bens que se destinam de modo duradouro ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro bem, sem perder a sua autonomia. O bem está a serviço da finalidade econômica de outro bem, não havendo incorporação. Quando se vende uma fazenda e o contrato nada fala, o trator (pertença) não acompanha o negócio.

���Atenção��� Alguns bens deixam de ser acessórios e passam a ser principais. Estas exceções se justificam para valorizar um trabalho artístico, daí a inversão. Ex.: a pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria-prima, a escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, etc.

III. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO TITULAR DO DOMÍNIO

Na realidade esta classificação é feita não sob o ponto de vista dos proprietários, mas sim pelo modo como se exerce o domínio sobre os bens. Neste sentido eles podem ser divididos em particulares, públicos ou coisas de ninguém. Vejamos:

A) BENS PARTICULARES (ou privados)

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São os que pertencem às pessoas naturais (físicas) ou às pessoas jurídicas de direito privado. Não vemos necessidade de aprofundar o tema.

B) RES NULLIUS

São as chamadas “coisas de ninguém”. Existem no Universo, mas não são públicas nem particulares, pois não têm dono. Ex.: animais selvagens em liberdade, pérolas de ostras que estão no fundo do mar, peixes no mar, conchas na praia, etc. As coisas abandonadas (também chamadas de res derelictae) são espécies do gênero ‘coisas de ninguém’; já pertenceram a alguém, mas foram abandonadas.

C) BENS PÚBLICOS (res publicae)

Estabelece o art. 98, CC que são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados, Distrito Federal, Territórios, Municípios, Autarquias e Fundações de Direito Público). Os demais bens são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. No entanto é interessante ressaltar o Enunciado 287 da IV Jornada de Direito Civil do STJ: “O critério da classificação de bens indicado no art. 98, CC não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem pertencente à pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos”. Os bens públicos, por sua vez, possuem uma classificação legal quanto à sua destinação. Vejamos.

Classificação dos Bens Públicos (art. 99, CC)

1. Uso Comum (ou Geral) do Povo: são os destinados à utilização do público em geral; podem ser usados sem restrições por todos, sem necessidade de permissão especial. Também são chamados de bens de domínio público. O Código Civil fornece uma enumeração exemplificativa (art. 99, I, CC): praças, jardins, ruas, estradas, mares, rios navegáveis, praias, etc. Não perdem a característica de uso comum se o Estado regulamentar seu uso, restringi-lo (ex.: fechamento de uma praça à noite por questão de segurança) ou exigir uma contraprestação (ex.: pedágio nas rodovias). É franqueado o uso e não a propriedade, pois esta pertence à entidade de Direito Público, estando presente o poder de polícia do Estado, enquanto o povo é o usuário do bem.

2. Uso Especial: são bens destinados ao funcionamento e aprimoramento dos serviços realizados pelo Estado; em regra são os edifícios ou terrenos utilizados pelo próprio poder público para a execução de serviço público (federal, estadual, territorial ou municipal). Ex.: Prefeituras, Secretarias, Ministérios, prédios onde funcionam Tribunais, Assembleias Legislativas, Escolas Públicas, Hospitais Públicos, etc. Incluem-se, também, os bens das Autarquias. O Direito Administrativo se refere a todos estes bens públicos como sendo afetados. Afetação quer dizer que há a imposição de um encargo, um ônus a um bem público. Isto é, indica ou determina que um bem está sendo utilizado para uma determinada finalidade pública.

3. Dominicais (ou dominiais – do latim: dominus relativo ao domínio, senhorio): são os bens que constituem o patrimônio disponível da pessoa jurídica de direito público. Abrange os bens imóveis e também os móveis. Na

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verdade são os demais bens públicos, por exclusão (ou residual), pois eles não são de uso comum do povo e nem têm uma destinação pública especial definida; não possuem afetação. São eles (apenas exemplificativamente):

• terrenos de marinha (e acrescidos): terrenos banhados por mar, lagoas e rios (públicos) onde se faça sentir a influência das marés. Estão compreendidos na faixa de 33 metros para dentro da terra medidos à linha de preamar média (mediação realizada em 1831 e até hoje válida). Pertencem à União, por questão de segurança nacional (art. 20, VII, CF/88). • mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas marítimas de largura, de propriedade da União. Além disso, há a zona econômica exclusiva (de 12 a 200 milhas), onde o Brasil tem direitos de soberania exclusivos, para fins de exploração econômica, preservação ambiental e investigação científica. • terras devolutas: são terras que, embora não destinadas a um uso público específico, ainda se encontram sob o domínio público. São terras não aproveitadas. As terras devolutas se forem indispensáveis à segurança nacional (fronteiras, fortificações militares, preservação ambiental) são consideradas da União (art. 20, II, CF/88). As demais pertencem aos Estados-membros (art. 26, IV, CF/88), sendo que podem ser transferidas aos Municípios. • outros bens considerados (pela doutrina) como dominicais: prédios públicos desativados, móveis inservíveis, estradas de ferro (se forem públicas, pois algumas são privadas); títulos da dívida pública; quedas d’água, jazidas e minérios; sítios arqueológicos, etc. Quanto às ilhas, há uma divisão: em regra as marítimas pertencem à União. Já as fluviais e lacustres pertencem aos Estados-membros, exceto se localizadas na fronteira com outro País ou em rios que banham mais de um Estado. Quanto às terras indígenas (arts. 231, §1° e 20, XI, CF/88), há quem diga que são bens de uso especial e outros que são dominicais.

Questão interessante Meio Ambiente. Para alguns autores o art. 225, CF/88 criou uma nova espécie de bem, que foge da tradicional classificação público/particular: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

O bem ambiental, assim, seria um bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida. No entanto tal bem não é classificado como público, propriamente dito e muito menos como particular, posto que não se refere a uma pessoa (física ou jurídica, de direito público ou privado), mas sim a toda uma coletividade de pessoas. Portanto é chamado de bem coletivo. Este direito ganhou definição legal infraconstitucional com o advento da Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que estabeleceu em seu art. 81, parágrafo único, inciso I que são interesses difusos os direitos transindividuais (isto é, que transcendem, ultrapassam a figura do indivíduo), de natureza indivisível, pertencendo a toda uma coletividade simultaneamente

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(pessoas indeterminadas) e não a esta ou aquela pessoa ou um grupo específico de pessoas.

Características dos Bens Públicos

• Inalienabilidade os bens públicos não podem ser vendidos, doados ou trocados, desde que destinados ao uso comum do povo e uso especial, ou seja, enquanto tiverem afetação pública (art. 100, CC). Já os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências legais previstas para a alienação de bens da administração (art. 101, CC).

• Impenhorabilidade penhora é um instituto de Direito Processual Civil; trata-se de um ato judicial pelo qual se apreendem os bens de um devedor para saldar uma dívida que não foi paga. Geralmente o bem penhorado é vendido judicialmente e com o produto da venda paga-se o credor, satisfazendo seu crédito. No entanto isso não é possível em relação aos bens públicos, posto que estes não se sujeitam ao regime da penhora. Impede-se, assim, que um bem público passe do devedor ao credor, ou seja, vendido, mesmo que por força de uma execução judicial. A doutrina costuma citar apenas uma exceção prevista na Constituição Federal (art. 100, §6°), uma vez que nesta hipótese admite-se o sequestro (ou seja, a apreensão) do dinheiro para assegurar o pagamento do precatório em caso de ser preterido o seu direito.

• Imprescritibilidade trata-se da impossibilidade de aquisição da propriedade dos bens públicos por usucapião (também chamada de prescrição aquisitiva). A Constituição Federal proíbe a aquisição da propriedade, por usucapião de bens públicos (confiram os arts. 183, §3° e 191, parágrafo único da CF/88 – neste sentido também o próprio art. 102, CC). Prevê a Súmula 340 do Supremo Tribunal Federal: “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”. A Constituição somente menciona os bens imóveis, mas há unanimidade no sentido de que o dispositivo também se aplica aos bens móveis. Até porque o art. 102, CC foi genérico.

••• Não-onerabilidade os bens públicos não podem ser objeto de direitos reais de garantia como o penhor e a hipoteca em favor de terceiros.

• Conversão os bens públicos dominicais podem ser convertidos em bens de uso comum ou de uso especial. Por meio da afetação o bem passa da categoria de bem do domínio privado do Estado para a categoria de bem do domínio público. Já a desafetação permite que um bem de uso comum do povo ou de uso especial seja reclassificado como sendo um bem dominical; retira-se do bem a função pública à qual ele se liga. Esta classificação afetação/desafetação tem vital importância para se possibilitar a alienação do bem. Os bens afetados, enquanto permanecerem nesta situação, não podem ser alienados.

IV. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO À NEGOCIAÇÃO

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Este item não consta mais no Código Civil. Não que esta categoria de bens não exista mais. Ela continua existindo e a doutrina ainda continua se referindo a ela. Ela é relativa à possibilidade de comercialização dos bens. Comércio (em sentido técnico) = possibilidade de compra e venda, doação, ou seja, liberdade de circulação e transferência. Vejamos:

1. Bens que integram o comércio são os negociáveis, disponíveis; podem ser adquiridos e alienados. Estão livres de quaisquer restrições que impossibilitem sua apropriação ou transferência, podendo passar, gratuita ou onerosamente de um patrimônio para outro.

2. Bens que estão fora do comércio são os que não podem ser transferidos de um acervo patrimonial a outro. Espécies:

a) insuscetíveis de apropriação (inalienáveis por natureza): são bens de uso inexaurível (ex.: ar, luz solar, água do alto-mar, etc.); como não são raros, não despertam interesse econômico. São também chamados de “coisas comuns a todos” (res communes omnium). No entanto, se atender a determinadas finalidades, pode ser objeto de comércio (captação do ar ou da água do mar para a extração de determinados elementos).

b) personalíssimos: são os preservados em respeito à dignidade humana (ex.: vida, honra, liberdade, nome, órgãos do corpo humano, cuja comercialização é expressamente proibida pela lei, etc.).

c) legalmente inalienáveis: apesar de suscetíveis de apropriação, têm sua comercialidade excluída pela lei para atender a interesses econômicos-sociais, defesa social e proteção de certas pessoas. Só excepcionalmente podem ser alienados, exigindo uma lei específica ou uma decisão judicial (alvará). Alguns exemplos:

• bens públicos (uso comum do povo e uso especial: art. 100, CC). • bens das fundações (arts. 62 a 69, CC). • terras ocupadas pelos índios (art. 231, §4°, CF). • bens de menores (art. 1.691, CC). • terreno onde foi construído edifício de condomínio por andares, enquanto

persistir o regime condominial (art.1.331, §2°, CC). • bens de família (veremos melhor adiante). • bens gravados com cláusula de inalienabilidade (veremos melhor

adiante).

BEM DE FAMÍLIA

arts. 1.711 a 1.722, CC

CONCEITO

No Brasil a regra é que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens, presentes ou futuros (art. 391, CC). Uma das exceções é o bem de família, que teve origem nos EUA. O governo da

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então República do Texas promulgou um ato em 1839, garantindo a cada cidadão determinada área de terra, isentas de penhora (Homestead Exemption Act). O objetivo era incentivar o povoamento do vasto oeste americano, concedendo o benefício e lá fixando as famílias, sob a condição de nela residir, cultivar o solo ou usá-la como um meio de se sustentar.

No Brasil é o instituto pelo qual se vincula o destino de um prédio para ser domicílio ou residência de sua família, sendo mais uma forma de se proteger a família (em sentido amplo) reforçando o art. 6°, CF/88, que determina: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Como veremos, há duas espécies de bem de família: voluntária (Código Civil) e legal (Lei n° 8.009/90).

���No concurso, se o examinador não se referir expressamente a uma das modalidades, o candidato deve optar pela voluntária, pois foi essa a estabelecida pelo Código Civil. Vejamos.

VOLUNTÁRIA

Nos termos do art. 1.711, CC podem os cônjuges (entidade familiar) ou terceiros, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio (desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido) para instituir o bem de família. Completa o art. 1.712, CC prevendo que o bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se a domicílio familiar. No entanto o próprio dispositivo prevê que pode abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família. Lógico que só pode instituir o bem de família voluntário quem for solvente.

Como a lei fala em “entidade familiar”, é interessante aprofundar um pouco mais o tema. A doutrina a conceitua como “toda e qualquer espécie de união capaz de servir de acolhedouro das emoções e das afeições dos seres humanos”, estando expressamente prevista no art. 226, §3° e §4°, CF/88. Portanto, entende-se como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, bem como a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (familia monoparental). E recentemente o Supremo Tribunal Federal estendeu a expressão também para as uniões homoafetivas.

Vale acrescentar que terceiros também podem ser instituidores do bem de família, por doação ou testamento, contanto que esse ato seja devidamente aceito pela entidade familiar beneficiada (art. 1.711, parágrafo único, CC).

Consequências. Com a instituição do bem de família, surgem, basicamente, dois efeitos:

a) Impenhorabilidade limitada. Isso porque o bem se torna isento de dívidas futuras à instituição, salvo as tributárias referentes ao bem (ex.: IPTU) e despesas de condomínio (se for prédio de apartamento), nos termos do art. 1.715, CC. Portanto, impostos como o Imposto de Renda, ISS, etc., não autorizam a Fazenda Pública solicitar a penhora do bem de família.

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b) Inalienabilidade relativa. Isso porque uma vez instituído só poderá ser alienado com a autorização de todos os interessados, cabendo ao Ministério Público intervir quando houver a participação de incapaz (art. 1.717, CC).

Para se constituir um bem de família, é necessária a escritura pública ou testamento (art. 1.711, CC) e o seu respectivo registro no Registro de Imóveis (art. 1.714, CC), além de publicação na imprensa local, para ciência de terceiros. A condição para que se faça esta instituição é que inexistam ônus (dívidas) sobre o imóvel bem como dívidas anteriores. Não terá validade a instituição se for feita com fraude contra credores (trata-se de um vício do negócio jurídico que veremos em aula mais adiante).

A duração da instituição é até que ambos os cônjuges faleçam, sendo que, se restarem filhos menores de 18 anos, mesmo falecendo os pais, a instituição perdura até que todos os filhos atinjam a maioridade. Falecendo um dos consortes o imóvel não entrará em inventário e nem será partilhado enquanto viver o outro. Se este também falecer, deve-se esperar a maioridade de todos os filhos. O prédio entrará em inventário para ser partilhado somente quando a cláusula for eliminada. Desta forma, a dissolução da sociedade conjugal (separação judicial ou divórcio), por si só, não extingue o bem de família. No entanto o art. 1.721, CC faz a ressalva de que dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.

Somente haverá a alienação (venda, doação, etc.) do bem de família instituído quando houver anuência dos dois consortes e de seus filhos, quando houver. Havendo a participação de incapazes o Juiz irá designar um curador especial e irá consultar o Ministério Público. A cláusula somente poderá ser levantada por mandado judicial (também chamado de mandado de liberação), justificado o motivo relevante. Se foi solenemente instituído pela família como domicílio desta, não pode ter outro destino.

Se houver menores impúberes (menores de 16 anos) a situação ainda fica mais complicada: a cláusula não poderá ser eliminada, salvo se houver sub-rogação (substituição da coisa por outra; transferência das qualidades de uma coisa para outra) em outro imóvel para a moradia da família.

LEI Nº 8.009/90

Atualmente a Lei n° 8.009/90 dispõe sobre a impenhorabilidade (observem que a lei não fala em inalienabilidade) do bem de família, que passou a ser o imóvel residencial (rural ou urbano) próprio do casal ou da entidade familiar, independentemente de inscrição no Registro de Imóveis. A impenhorabilidade compreende, além do imóvel em si, as construções, plantações, benfeitorias de qualquer natureza, equipamentos de uso profissional, mas também os bens móveis que guarnecem a casa. Não só aqueles indispensáveis à habitabilidade de uma residência, mas também aqueles usualmente mantidos em um lar comum (necessários para uma vida sem luxos, porém digna). Ressalvam-se os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Essa lei não revogou as regras do bem de família voluntário e vice-versa. Ou seja, Código Civil e Lei n° 8.009/90 coexistem.

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Observação. O STJ tem admitido, para efeito de bem de família, que a renda proveniente de imóvel locado também seja considerada impenhorável. Exemplo clássico: um casal possui uma casa muito grande. No entanto, devido às altas despesas que esta casa exige, resolve alugá-la, sendo que com o dinheiro alugam um apartamento pequeno. Como ainda sobra um “dinheirinho”, para a jurisprudência esta importância é impenhorável, pois mesmo não morando na casa, ela é impenhorável, uma vez que se trata do único bem residencial de propriedade familiar.

No caso da pessoa não ter imóvel próprio (ex.: locação, usufruto), a impenhorabilidade recai sobre os bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam da propriedade do locatário (geladeira, fogão, televisão, etc.). Se o casal ou entidade familiar for possuidor de vários imóveis, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor (salvo se outro tiver sido registrado).

EXCEÇÕES

Vimos que o bem de família do Código Civil (voluntário) só pode ser penhorado em duas hipóteses: tributos devidos em relação ao próprio bem imóvel ou condomínio. Já os bens de que trata a Lei n° 8.009/90 tem um número maior de exceções, ou seja, de hipóteses em que o bem será vendido para pagar a dívida. Assim esses bens (apontados na lei especial), não responderão por dívidas civis, mercantis, fiscais trabalhistas, etc., salvo se o processo de execução for movido em razão de (art. 3°):

• crédito de trabalhadores da própria residência (ex.: empregada doméstica, cozinheira, “babá”, jardineiro, etc.).

• execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia. • crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à

aquisição do imóvel. • cobrança de impostos (ex.: IPTU ou ITR) taxas e contribuições devidas

em função do imóvel. • dívidas de condomínio também referente ao próprio imóvel. • credor de pensão alimentícia. • bem adquirido com produto de crime. • obrigação decorrente de fiança nos contratos de locação.

���Cuidado com o último exemplo ��� Fiança nos contratos de locação. Atualmente, tanto a lei, como a jurisprudência assim dispõem: se uma pessoa é proprietário de um imóvel e quiser alugá-lo vai desejar que o locatário (inquilino) apresente um fiador. Este fiador precisa ser proprietário de um bem imóvel, para garantir a fiança. Ou seja, se o locatário (inquilino) não pagar o aluguel o proprietário (locador) irá acioná-lo. E se ele não conseguir pagar a dívida, o locador acionará o fiador, ficando este responsável pela dívida. Pergunto: pode o fiador alegar que aquele é o único bem de que dispõe e alegar a escusa do “bem de família” para não pagar a dívida? Resposta: atualmente não (depois de várias idas e vindas de nossos Tribunais). Ou seja, se uma pessoa se dispuser a ser fiador, neste momento está abrindo mão do

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chamado bem de família. Não poderá invocar esse benefício para deixar de pagar a dívida do inquilino. Nos últimos anos essa posição já foi alterada diversas vezes. Atualmente é essa a posição que está vigorando, inclusive com decisão do Supremo Tribunal Federal (o direito social à moradia incluído na EC 26/2000, não se confunde necessariamente com o direito de propriedade imobiliária). Devemos estar bem conscientes de que ao assumirmos o risco de sermos fiador de alguém, estaremos abrindo mão do bem de família da Lei n° 8.009/90. Mas é evidente que esta situação não se aplica àquele bem de família previsto no Código Civil, pois neste caso o bem foi registrado e se tornou, além de impenhorável, também inalienável.

Súmulas do STJ sobre Bem de Família 01. Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família

abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas (isso porque o STJ entende que na realidade a base da proteção do bem de família, apesar do nome, não é a família, mas a proteção constitucional da dignidade humana, que se traduz no direito à moradia).

02. Súmula 449: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.

03. É interessante mencionar que quando se tratar de pessoas casadas, a fiança deve ser prestada por ambos, sob pena de anulação. Neste sentido é a Súmula 332 (nova redação): A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

Quadro Comparativo

CÓDIGO CIVIL – VOLUNTÁRIO LEI ESPECIAL – LEGAL

1. Arts. 1.711 a 1.722, CC. 1. Lei n° 8.009/90.

2. Ato voluntário. Necessita de registro. Máximo 1/3 do patrimônio líquido.

2. Instituído por lei. Não depende de qualquer ato. Efeitos automáticos e imediatos. Único imóvel para residência da família.

3. Acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade.

3. Acarreta somente a impenhorabilidade.

4. Exceções: dívidas decorrentes do condomínio e dívidas tributárias que recaem sobre o próprio imóvel.

4. Exceções previstas no art. 3°. Ex.: trabalhistas (empregados do imóvel), hipoteca, financiamento, impostos, condomínio, pensão alimentícia, produto de crime e fiança nos contratos de locação.

BENS GRAVADOS COM CLÁUSULA DE INALIENABILIDADE

São aqueles que se tornam inalienáveis pela vontade humana, por meio de uma cláusula temporária ou vitalícia, nos casos previstos em lei, por ato inter vivos (ex.: doação) ou causa mortis (ex.: testamento). Ex.: um pai,

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percebendo que seu filho irá dilapidar o patrimônio, faz um testamento, com essa cláusula especial, a fim de que os bens não saiam do patrimônio do filho, protegendo esses bens do próprio filho, impedindo que os atos de irresponsabilidade ou má administração possam levar o filho à insolvência - dívidas superiores aos créditos. O art. 1.911, CC determina que “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade”. Atualmente essa cláusula tem valor um pouco mais restrito, pois o testador deve apontar expressamente a justa causa para essa sua decisão de tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC), ou seja, deverá justificar o porquê desta medida. Um caso justificável, como vimos, é a prodigalidade do filho.

RESUMO DA AULA

I. CONCEITO. Bens são valores materiais ou imateriais, que satisfazem uma necessidade

humana (úteis), economicamente valoráveis e suscetíveis de apropriação, que podem ser objeto de uma relação de direito. Toda relação jurídica entre dois sujeitos tem por objeto um bem sobre o qual recaem direitos e obrigações. Obs.: há divergência acerca da utilização das expressões “coisa” e “bem”.

II. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

1. Corpóreos (materiais, tangíveis ou concretos): são os que têm existência física (ex.: terreno, casa, carro, livro, joia).

2. Incorpóreos (imateriais, intangíveis ou abstratos): são os que não podem ser percebidos pelos sentidos, mas podem ser objeto de direito (ex.: direitos autorais, propriedade industrial).

III. CLASSIFICAÇÃO LEGAL • Bens considerados em si mesmos: móveis ou imóveis; fungíveis ou

infungíveis, consumíveis ou inconsumíveis, divisíveis ou indivisíveis; singulares ou coletivos.

• Bens reciprocamente considerados: principais ou acessórios (frutos, produtos, pertenças e benfeitorias).

• Bens considerados em relação ao titular do domínio: públicos (uso comum do povo, uso especial e dominicais), particulares e res nullius.

• Bens considerados quanto à possibilidade de alienação: bens que estão fora do comércio.

A) BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS – arts. 79/91, CC

1. Quanto à Mobilidade

1.1. Imóveis: são os que não podem ser removidos ou transportados de um lugar para o outro sem a sua destruição e os assim considerados pela lei (arts. 79 e 80, CC). Subdividem-se em: a) imóveis por natureza (ex.: solo, subsolo e espaço aéreo); b) acessão física ou artificial (ex.: plantações e construções); c) acessão intelectual (expressão não acolhida pelo atual código que prefere chamá-la de pertença) d) disposição legal (ex.: direito à sucessão aberta, ainda que a herança seja formada apenas por bens

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móveis). Não perdem o caráter de imóvel: as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem.

1.2. Móveis: são os que podem ser transportados de um lugar para outro, por força própria ou estranha, sem alteração da sua substância ou da destinação econômico-social. Subdividem-se em: a) móveis por natureza: são os que podem ser transportados por força alheia (carro, joia) ou que possuem movimento próprio (semoventes – animais de uma forma geral); b) móveis por antecipação (árvore plantada para corte ou frutos de um pomar que ainda estão no pé, mas destinados à venda - safra futura); c) móveis por determinação legal (energias que tenham valor econômico, direitos autorais).

1.3. Observações: a) os materiais de construção enquanto não forem empregados nesta construção, ainda são considerados como bens móveis; b) as árvores, enquanto ligadas ao solo, são bens imóveis por natureza, exceto se se destinam ao corte. Quando isso ocorre, elas se convertem em móveis por antecipação.

1.4. Importância prática na distinção entre Imóveis e Móveis: forma de aquisição da propriedade (tradição para móveis e registro para os imóveis), necessidade de outorga uxória ou marital em casos de bens imóveis (sendo dispensada tal providência se for bem móvel), prazos de usucapião (geralmente maiores para os bens imóveis) e os direitos reais (como regra hipoteca para imóveis e penhor para os móveis).

1.5. Navios e Aeronaves: fisicamente são bens móveis, mas possuem uma disciplina jurídica como se imóveis fossem.

2. Quanto à Fungibilidade

2.1. Infungíveis: não podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade (ex.: um apartamento, um veículo, um quadro famoso). Os imóveis só podem ser infungíveis.

2.2. Fungíveis: podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade (ex.: gêneros alimentícios, dinheiro, etc.).

3. Quanto à Consuntibilidade

3.1. Inconsumíveis: proporcionam reiterados usos, permitindo que se retire toda a sua utilidade, sem atingir sua integridade (ex.: imóveis, veículos, roupas, livros, etc.).

3.2. Consumíveis: são bens móveis, cujo uso importa na destruição imediata da própria coisa. Admitem apenas um uso (gêneros alimentícios, bebidas, dinheiro, etc.).

3.3. Há bens que são consumíveis, conforme a destinação que o homem lhe dá. Ex.: os livros, em princípio, são bens inconsumíveis, pois permitem usos reiterados. Mas expostos numa livraria são considerados como consumíveis, pois a destinação é a venda (consumíveis de direito).

4. Quanto à divisibilidade

4.1. Divisíveis: podem ser fracionados em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito, sem alteração de sua substância, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destinam.

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4.2. Indivisíveis: não podem ser fracionados em porções, pois deixariam de formar um todo perfeito. A indivisibilidade pode ser: por natureza (um cavalo), por determinação legal (herança, hipoteca, módulo rural, lotes urbanos) ou pela vontade das partes (contrato).

5. Quanto à Individualidade

5.1. Singulares: são os que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais.

5.2. Coletivos (ou universais): são as coisas que se encerram agregadas em um todo. a) Universalidade de Fato: pluralidade de bens singulares, corpóreos e homogêneos, que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária pela vontade humana (biblioteca, pinacoteca, rebanho, etc.). b) Universalidade de Direito: pluralidade de bens singulares, corpóreos, dotadas de valor econômico, ligadas pela norma jurídica (patrimônio, herança, massa falida, etc.).

B) BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS – arts. 92/97, CC

1. Principais: existem por si mesmos, exercendo função e finalidade independentemente de qualquer outro bem (terrenos, joias, etc.).

2. Acessórios: sua existência depende da existência de outro. Regras → o bem acessório segue o destino do principal, salvo disposição em contrário; a natureza do acessório é a mesma do principal; proprietário do principal também é proprietário do acessório.

2.1. Frutos: são as utilidades que a coisa principal produz periodicamente; nascem e renascem da coisa e sua percepção mantém intacta a substância do bem que as gera (frutas, aluguéis, etc.).

2.2. Produtos: são as utilidades que se retiram da coisa, alterando a substância da coisa, com a diminuição da quantidade até o seu esgotamento.

2.3. Pertenças: são os bens que, não constituindo partes integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Ex.: acessórios de um veículo, ornamentos de uma residência, máquinas (trator) para exploração da propriedade agrícola, etc. Apesar de serem acessórios, mantém sua individualidade (não se aplica a regra de que segue o principal).

2.4. Benfeitorias: são acréscimos, melhoramentos ou despesas que são feitas em um bem já existente (móvel ou imóvel), para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. Espécies: a) necessárias (realizada para a conservação do bem: alicerce da casa), úteis (são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa: garagem) e voluptuárias (mero embelezamento, recreio ou deleite: piscina, troca de piso com mármore).

2.5. Indenização das Benfeitorias: a) possuidor de boa-fé: direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis. Caso elas não sejam indenizadas, o possuidor tem o direito de retenção pelo valor das mesmas. Já as benfeitorias voluptuárias não serão indenizadas, mas elas poderão ser levantadas (art. 1.219, CC). b) possuidor de má-fé: são ressarcidas somente as benfeitorias necessárias. Não há indenização pelas benfeitorias úteis e voluptuárias. Não pode levantar nenhuma das benfeitorias realizadas e não tem direito de retenção sobre nenhuma delas (art. 1.220, CC).

2.6. Deixam de ser bens acessórios e passam a ser principais: a pintura em relação à tela, a escultura em relação à matéria-prima, a

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escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, qualquer trabalho gráfico em relação ao papel utilizado.

C) BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AO TITULAR DO DOMÍNIO – arts. 98/103, CC

1. Particulares: são os que pertencem às pessoas naturais (físicas) ou às pessoas jurídicas de direito privado.

2. Res Nullius: são as coisas de ninguém (ex.: um peixe no fundo do mar; as coisas abandonadas – estas são conhecidas como res derelictae). Não confundir coisa abandonada, onde há um ato voluntário, o abandono, com a coisa perdida, em que o ato foi involuntário e a coisa continua a pertencer (ao menos em tese) ao patrimônio do titular.

3. Públicos: são os bens de domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno.

3.1. Uso comum do povo: destinados à utilização do público em geral (rios, mares, estradas, ruas, etc.).

3.2. Uso especial: imóveis utilizados pelo próprio poder público para a execução de serviço público (hospitais e escolas públicas, secretarias, ministérios, etc.).

3.3. Dominicais: constituem o patrimônio disponível das pessoas de direito público: terras devolutas e terrenos de marinha. Não estão afetados a qualquer finalidade pública.

3.4. Característica dos bens públicos: inalienáveis (como regra não podem ser vendidos; os bens dominicais e os desafetados podem ser alienados, observadas as exigências legais), impenhoráveis (não recai execução judicial ou penhora), imprescritíveis (não podem ser objeto de usucapião, qualquer que seja a sua natureza: art. 191, parágrafo único, CC e Súmula 340 STF).

3.5. Observação: Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.

3.6. Conversão: os bens públicos dominicais podem ser convertidos em bens de uso comum ou de uso especial (afetação). Já pela desafetação permite-se que um bem de uso comum do povo ou de uso especial seja reclassificado como sendo um bem dominical.

D) BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO À NEGOCIAÇÃO

1. Bens que integram o comércio: são os negociáveis, disponíveis; podem ser apropriados e transferidos, passando, gratuita ou onerosamente, de um patrimônio para outro.

2. Bens que estão fora do comércio: são os que não podem ser transferidos de um acervo patrimonial para outro

2.1. insuscetíveis de apropriação: coisas de uso inexaurível (ar, luz solar, água do alto-mar, etc.).

2.2. personalíssimos: são os preservados em respeito à dignidade humana (ex.: vida, honra, liberdade, nome, bens como os órgãos do corpo humano, cuja comercialização é expressamente proibida pela lei, etc.).

2.3. legalmente inalienáveis: apesar de suscetíveis de apropriação, têm sua comercialidade excluída pela lei para atender a interesses

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econômicos-sociais, defesa social e proteção de certas pessoas. Estes bens somente podem ser alienados de forma excepcional. Ex.: bens públicos (uso comum do povo e especial – art. 100, CC), bens das fundações (arts. 62 a 69, CC), terras ocupadas pelos índios (art. 231, §4°, CF), bens de menores (art. 1.691, CC), bens gravados com cláusula de inalienabilidade (art. 1.911, CC), bens de família.

2.4. Bens gravados com cláusula de inalienabilidade (art. 1.911, CC): tornam-se inalienáveis por vontade humana inter vivos (ex.: doação) ou causa mortis (testamento), de forma vitalícia ou temporária. A pessoa deve apontar a “justa causa” para tornar o bem inalienável (art. 1.848, CC).

2.5. Bem de Família (arts. 1.711 a 1.722, CC): cônjuges ou entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinam parte de seu patrimônio (desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido). Consiste em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se a domicílio familiar. Pode recair sobre valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

2.6. Não confundir: Código Civil X Lei n° 8.009/90. Diferenças. Bem de Família Voluntário (arts. 1.711 a 1.722, CC): a) ato voluntário (deve ser registrado); b) deve representar no máximo um terço do patrimônio líquido da pessoa que está registrando; c) acarreta inalienabilidade e impenhorabilidade do bem; d) admitem-se apenas duas exceções: dívidas decorrentes de condomínio e as dívidas tributárias que recaem sobre o bem. Bem de Família Legal (Lei n° 8.009/90): a) na realidade não torna a coisa propriamente em “bem de família”; esta coisa fica apenas impenhorável, ou seja, não pode recair penhora sobre ele; b) aplica-se a famílias que possuem apenas um único imóvel para sua residência (este bem, de forma automática, é considerado bem de família; decorre da lei); c) acarreta somente a impenhorabilidade (e não a inalienabilidade, ou seja, o bem não pode ser penhorado por terceiros, mas se o proprietário quiser, poderá vendê-lo); d) possui um número maior de exceções (art. 3° da lei especial). Ex.: trabalhista, hipoteca financiamento, impostos, condomínio, pensão alimentícia, produto de crime. Cuidado com a fiança nos contratos de locação trata-se de exceção que se aplica somente em relação à Lei n° 8.009/90.

BIBLIOGRAFIA-BASE

Para a elaboração desta aula foram consultadas as seguintes obras:

DINIZ, Maria Helena – Curso de Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva.

DINIZ, Maria Helena – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Interpretada. Ed. Saraiva.

GOMES, Orlando – Direito Civil. Ed Forense.

GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva.

MAXIMILIANO, Carlos – Hermenêutica e Aplicação do Direito. Ed. Freitas Bastos.

MONTEIRO, Washington de Barros – Curso de Direito Civil. Ed. Saraiva.

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NERY, Nelson Jr. e Rosa Maria de Andrade – Código Civil Comentado. Ed. Revista dos Tribunais.

PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil. Ed. Forense.

RODRIGUES, Silvio – Direito Civil. Ed. Saraiva.

SERPA LOPES, Miguel Maria de – Curso de Direito Civil. Ed. Freitas Bastos.

SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico. Ed. Forense.

VENOSA, Silvio de Salvo – Direito Civil. Ed Atlas.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

As questões adiante seguem o padrão que a CESPE/UnB costuma usar, julgando as assertivas e colocando CERTO ou ERRADO.

QUESTÃO 01 (CESPE/UnB – Ministério Público do Estado do Piauí – Analista Processual – 2012) No que tange à disciplina do Direito Civil referente aos bens, julgue o item a seguir.

a) De acordo com a sistemática adotada pelo direito civil, constitui objeto da relação jurídica todo bem que puder ser submetido ao poder dos sujeitos de direito.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Doutrinariamente falando bens são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de direito. O objeto da relação jurídica é todo bem que possa ser submetido ao poder das pessoas naturais ou jurídicas, que são os sujeitos de direito. Aliás, estabelece expressamente o Código Civil Português que “diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas.”

QUESTÃO 02 (CESPE/UnB – Defensor Público/PI – 2009) Ao realizar uma reforma de seu imóvel, o proprietário demoliu algumas paredes de sua casa e conservou as portas e janelas que estavam ali instaladas, pensando em revendê-las, já que eram muito antigas e bastante valiosas. Nesse caso, as referidas portas e janelas são consideradas bens imóveis por força de ficção legal, em função do seu alto valor em relação ao bem principal.

COMENTÁRIOS

a) Errado. O art. 84 do Código Civil dispõe que os materiais destinados a construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis. E readquirem essa qualidade (móveis) os provenientes da demolição do prédio. No entanto se as janelas e portas fossem reempregadas na própria reforma, não perderiam a condição de imóvel, nos termos do art. 81, II, CC.

QUESTÃO 03 (CESPE/UnB – Defensor Público/ES – 2009) Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram, bem como o direito à

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sucessão aberta, são considerados bens imóveis para os efeitos legais, de acordo com o Código Civil.

COMENTÁRIOS

a) Certo. É o que e dispõe o art. 80, I e II, CC. Mesmo que na abertura da sucessão só tenha bens móveis, o direito à sucessão aberta é considerado um bem imóvel.

QUESTÃO 04 (CESPE/UnB – TRE/MA – Analista Judiciário – 2009) Os direitos autorais de um escritor são considerados como móveis para os efeitos legais.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Os direitos autorais são considerados direitos pessoais de caráter patrimonial, sendo considerados bens móveis (art. 83, III, CC e art. 3° da Lei n° 9.610/98).

QUESTÃO 05 (CESPE/UnB – TRE/MA – Analista Judiciário – 2009) Garrafas de um vinho raro emprestadas por um colecionador para exposição em uma feira de vinhos são consideradas, no caso, bens fungíveis.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Em regra, uma garrafa de vinho em geral é um bem fungível. No caso concreto, tratando-se de vinho raro e para exposição, caracteriza a infungibilidade, uma vez que a garrafa será devolvida posteriormente. A isso damos o nome de comodatum ad pompam vel ostentationem.

QUESTÃO 06 (CESPE/UnB – Defensor Público/ES – 2009 e também Ministério Público/AM – 2005) A respeito dos bens, julgue os itens seguintes.

a) As pertenças não seguem necessariamente a lei geral de gravitação jurídica, por meio da qual o acessório sempre seguirá a sorte do principal. Por isso, se uma propriedade rural for vendida, desde que não haja cláusula que aponte em sentido contrário, o vendedor não estará obrigado a entregar máquinas, tratores e equipamentos agrícolas nela utilizados.

b) No negócio jurídico de alienação de um bem imóvel, incluem-se os bens acessórios, ainda que não constem expressamente do contrato, pois, em regra, a coisa acessória segue a principal e pertence ao titular da principal.

COMENTÁRIOS

a) Certo. A mesma questão caiu em dois concursos. Ver arts. 93 e 94, CC. Segundo o art. 93, CC, pertenças são bens que, não constituindo partes integrantes (como os frutos, produtos e benfeitorias), se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro (ex.: um trator destinado a uma melhor exploração de propriedade agrícola). São bens acessórios, pois dependem economicamente de outra coisa, mas apesar disso, conservam sua individualidade e autonomia. Segundo o art. 94, CC os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as

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pertenças, salvo se o contrário resultar da lei ou da vontade das partes. Portanto, nem sempre se pode aplicar a elas o brocardo “o acessório segue o principal”.

b) Certo. A regra em relação aos bens é que o acessório segue o principal. Isto fica mais claro com a análise do art. 233, CC: a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

QUESTÃO 07 (CESPE/UnB – DPE/AL – Delegado de Polícia – 2012) Em relação aos bens, julgue os itens a seguir

a) O princípio da gravitação jurídica é o princípio norteador dos bens reciprocamente considerados.

b) Pode-se classificar as uvas colhidas na época da safra da uva vermelha como frutos percipiendos e aquelas que ainda estão na videira, como frutos pendentes.

c) Uma garrafa de vinho do ano de 1830 da reserva especial, clausulada com inalienabilidade por testamento é um bem classificado como consumível fático e, ao mesmo tempo, como bem inconsumível do ponto de vista jurídico.

COMENTÁRIOS

a) Certo. O princípio da gravitação jurídica é aquele segundo o qual um bem atrai o outro para sua órbita, comunicando-lhe seu próprio regime jurídico (o principal atrai o acessório; o acessório segue o principal), salvo disposição especial em contrário. Aplica-se aos bens reciprocamente considerados, pois é nesta classificação que temos a relação principal-acessório. Esta regra não se aplica às pertenças.

b) Errado. Na afirmação, como as uvas foram colhidas na época da safra, são chamadas de frutos percebidos. Se deveriam ter sido colhidas na época, mas não o foram e ainda estão na videira, aí sim, chamam-se frutos percipiendos. Os frutos pendentes são os que estão ligados à coisa principal e que não foram colhidos, pois ainda não é época para tanto.

c) Certo. Sob o ponto de vista fático esse bem é consumível, pois se trata de um bem móvel, cujo uso normal importa na destruição imediata da coisa. No entanto, como foi declarado inalienável por testamento, tornou-se inconsumível sob o ponto de vista jurídico, pois aqui o que se leva em consideração é a possibilidade de alienação do bem. No caso o bem (por incrível que pareça) é ao mesmo tempo consumível e inconsumível.

QUESTÃO 08 (CESPE/UnB – TJ/CE – Juiz de Direito – 2012) Julgue o item a seguir

a) Caso uma pessoa adquira um trator para melhor explorar sua propriedade rural, esse bem, de acordo com o Código Civil Brasileiro caracteriza-se como pertença.

COMENTÁRIOS

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a) Certo. O trator no caso concreto se destina ao serviço de outro bem (a propriedade rural) de modo duradouro, sendo, portanto, considerado como pertença, nos termos do art. 93, CC.

QUESTÃO 09 (CESPE/UnB – ANAC – Agência Nacional da Aviação Civil – Especialista em Regulação – 2012) Com base no Código Civil, julgue os itens a seguir, relativos às benfeitorias.

a) Caso tenha sido feito melhoramento a um bem, sem a intervenção do proprietário, do possuidor ou do detentor, não se considerará esse melhoramento como uma benfeitoria.

b) Consideram-se como benfeitorias úteis os reparos feitos em um imóvel com a finalidade de conservá-lo.

c) A construção de uma piscina na área externa de um imóvel residencial caracteriza-se como uma benfeitoria voluptuária.

COMENTÁRIOS

a) Certo. O art. 97, CC, estabelece que não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.

b) Errado. O art. 96, §2°, CC prevê que as benfeitorias úteis são a que aumentam ou facilitam o uso do bem. Os reparos feitos em um imóvel com a finalidade de conservá-lo são consideradas benfeitorias necessárias (art. 96, §3°, CC).

c) Certo. O art. 96, §1° estabelece que são benfeitorias voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. A construção de uma piscina é o exemplo clássico.

QUESTÃO 10 (CESPE/UnB – TRE/RJ – Analista Judiciário – 2010) Julgue o item subsequente, relativos aos bens públicos.

a) Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determina; os bens públicos dominicais podem ser alienados, se forem observadas as exigências da lei.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Trata-se do texto literal dos arts. 100 e 101, CC. Esta questão já caiu de forma idêntica nos concursos para Assessor Jurídico do TCE/RN em 2009 e para Advogado da Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento – S/A) em 2010.

QUESTÃO 11 (CESPE/UnB – Analista do Seguro Social/INSS – 2009) Relativamente ao tema bens, julgue os itens subsequentes.

a) As terras devolutas podem ser alienadas pela Administração Pública.

b) Os bens de uso comum do povo são somente aqueles que se destinam à execução dos serviços públicos e não podem ser alienados.

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COMENTÁRIOS

a) Certo. Terras devolutas (terras não aproveitadas pela Administração Pública), assim como os imóveis desafetados (transformação de um bem público de uso comum ou de uso especial em bem dominical), são exemplos clássicos de bens dominicais, que são aqueles que representam o patrimônio da Administração Pública que está disponível por serem destituídos de qualquer finalidade pública (sem afetação). Segundo o art. 101, CC, os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei, tais como: interesse público, pesquisa prévia de preços, licitação (concorrência ou leilão), autorização legislativa, etc.

b) Errado. Os bens públicos de uso comum do povo são os que se destinam à utilização geral da coletividade (art. 99, I, CC), como os mares, rios, estradas, ruas, praças, etc. Eles não podem ser alienados, pois são afetados (possuem destinação para uma finalidade pública específica).

QUESTÃO 12 (CESPE/UnB – AGU – Advogado – 2009) A praça, exemplo típico de bem de uso comum do povo, perderá tal característica se o poder público tornar seu uso oneroso, instituindo uma taxa de uso, por exemplo.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Segundo o art. 103, CC, o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. E não perdem a natureza de bens públicos de uso comum, se leis ou regulamentos administrativos condicionarem ou restringirem o seu uso a certos requisitos ou mesmo se instituírem pagamento de retribuição. Os exemplos clássicos são os pedágios nas rodovias e a venda de ingressos em museus, para contribuir para sua conservação ou custeio.

QUESTÃO 13 (CESPE/UnB – TJ/AC – Auxiliar Judiciário – 2012) No que concerne aos bens públicos, julgue o item abaixo.

a) Os bens públicos podem ser alienáveis ou não. Assim, os bens dominicais podem ser alienados, desde que observadas as exigências legais. Já os bens de uso especial e de uso comum do povo são inalienáveis.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Segundo o art. 101, CC os bens públicos dominicais (desafetados) podem ser alienados, observadas as exigências legais. Já o art. 100, CC estabelece que os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.

QUESTÃO 14 (CESPE/UnB – TRE/BA – Analista Judiciário – 2010) Tendo em vista a classificação dos bens prevista no Código Civil, julgue os itens que se seguem.

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a) O uso comum dos bens públicos deve ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.

b) Ao contrário dos bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial, os bens públicos dominicais podem ser alienados, desde que observadas as exigências legais.

c) Os bens públicos dominicais estão sujeitos à prescrição aquisitiva.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Nos termos do art. 103, CC. Retribuído, no caso significa “pago”. O pedágio é o exemplo clássico. b) Certo. Nos termos dos arts. 100 e 101, CC. c) Errado. Prescrição aquisitiva é outro nome que a doutrina dá à prescrição. E o art. 102, CC prevê que os bens públicos não estão sujeitos à usucapião.

QUESTÃO 15 (CESPE/UnB – TJ/DFT – Serviços Notariais e Registro – 2008) Os bens públicos são inalienáveis, mesmo quando desafetados.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Os bens públicos inalienáveis (uso comum do povo e uso especial) quando desafetados são classificados como dominicais e, nos termos do art. 101 do CC, podem ser alienados desde que observadas as exigências de lei.

QUESTÃO 16 (CESPE/UnB – TJ/RR – Agente de Proteção – 2012) Considerando o interesse econômico ou jurídico dos bens, julgue o item abaixo.

a) Por constituir bem de uso comum do povo, o jardim de uma praça pública pode servir ao lazer da população em geral, sem necessidade de permissão especial de uso.

COMENTÁRIOS

a) Certo. O jardim de uma praça pública é considerado como bem comum de uso comum do povo (art. 99, I, CC), não havendo necessidade de permissão especial de uso; podem ser usado livremente por todos.

QUESTÃO 17 (CESPE/UnB – Auditor de Controle Externo do Tribunal de Contas do Distrito Federal – 2012) Julgue o item que se segue, relativo à disciplina dos bens públicos.

a) Os bens públicos de uso especial, integrados no patrimônio do ente político e afetos à execução de um serviço público, são inalienáveis e imprescritíveis.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Segundo o art. 100, CC, os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação. Além disso, prevê o art. 102, CC, que os bens públicos (todos) não estão sujeitos a usucapião, portanto, são imprescritíveis.

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QUESTÃO 18 (CESPE/UnB – Juiz Federal – TRF/1ª Região – 2011) Os bens públicos de uso comum não podem ser utilizados por particulares.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Essa categoria de bens (art. 99, I, CC) é de uso comum do povo, ou pode ser usado normalmente pelos particulares (ex.: ruas, praças, estradas, etc.).

QUESTÃO 19 (CESPE/UnB – TJ/AC – Analista Judiciário – 2012) No que se refere ao bem da família, julgue o item subsequente.

a) O bem de família voluntário constitui-se de escritura pública e é inscrito no registro de títulos e documentos.

COMENTÁRIOS

a) Errado. O bem de família voluntário é o estabelecido pelo Código Civil, em seus arts. 1.711 a 1.722. Ele se constitui de escritura pública ou testamento (art. 1.711, CC), que deve ser registrada no Registro de Imóveis (art. 1.714, CC).

QUESTÃO 20 (CESPE/UnB – TJ/AC – Juiz de Direito – 2012) No que se refere ao enfrentamento jurisprudencial do bem de família, julgue os itens abaixo.

a) a vaga de garagem com matrícula própria no registro de imóveis constitui bem de família para efeito de penhora. b) o terreno não edificado não caracteriza bem de família, pois não serve à moradia familiar. c) é inconstitucional a penhora de bem de família do fiador em contrato de locação.

COMENTÁRIOS.

a) Errado. Segundo a Súmula 449 do STF, “A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora”.

b) Certo. O art. 5°° da Lei n. 8.009/90 dispõe que “para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente”. Ora, se o terreno não foi edificado não serve para moradia da família. Não tendo esta serventia não se caracteriza com bem de família, podendo ser penhorado. É assim que vem decidindo reiteradamente o STJ.

c) Errado. Nossos Tribunais (inclusive o STF) vêm decidindo no sentido de se considerar legítima a penhora do bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, ao entendimento de que o art. 3°°,, VII, da Lei n°° 8.009/90 não viola o disposto no art. 6°° da CF/88.

QUESTÃO 21 (CESPE/UnB – TJ/AC – Juiz de Direito – 2012) Com base no que dispõem o Código Civil e a jurisprudência, julgue o item abaixo.

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a) Se o proprietário de fazenda de plantação de árvores de corte for um menor impúbere, então será obrigatória a prévia autorização judicial para que os pais do menor vendam o produto do corte das árvores.

COMENTÁRIOS.

a) Errado. Menor impúbere é o menor de 16 anos. Nos termos do art. 3°, I, CC ele é absolutamente incapaz e deve ser representado nos atos da vida civil, por seus pais ou tutores. Se o mesmo for proprietário de um bem imóvel, a alienação deste somente é possível mediante prévia autorização do juiz (art. 1.691, CC). Assim, quem pretende vender um imóvel que esteja registrado no Cartório de Registro de Imóveis em nome do filho menor de idade, deverá requerer judicialmente a autorização (alvará judicial) antecedida de parecer do representante do Ministério Público. No entanto, sendo bens móveis, basta a representação de seus pais. As árvores, enquanto ligadas ao solo, são bens imóveis por natureza. Entretanto, se se destinam ao corte, convertem-se em móveis (por antecipação). Sendo um bem móvel, desnecessária a autorização judicial. No entanto a matéria não é pacífica, pois já vi exigência da autorização judicial para a venda de veículo (bem móvel) que um menor recebeu de herança.

QUESTÃO 22 (CESPE/UnB – TJ/AL – Analista Judiciário – 2012) Assinale a opção CORRETA em relação ao tema bens.

a) o direito à sucessão aberta é considerado, por disposição legal, um bem imóvel.

b) a universalidade de fato refere-se ao conjunto de bens singulares corpóreos ou incorpóreos, aos quais a norma jurídica confere unidade.

c) bens infungíveis são aqueles suscetíveis de substituição por outro da mesma espécie.

d) a indivisibilidade dos bens somente ocorre por sua natureza ou por determinação legal.

e) aquilo que poderia ser mantido intencionalmente no imóvel, para sua exploração, aformoseamento ou comodidade, como, por exemplo, o trator, é considerado pelo Código Civil bem imóvel por acessão intelectual.

COMENTÁRIOS

Embora esta questão seja do CESPE, não foi do tipo certo ou errado. A letra “a” está certa nos termos do art. 80, II, CC. A letra “b” está errada: a universalidade de fato (art. 90, CC) é o conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade humana, para a consecução de um fim (rebanho, biblioteca); a universalidade de direito compõe-se de bens singulares corpóreos heterogêneos ou incorpóreos, a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade (patrimônio, herança). A letra “c” está errada, pois bens infungíveis são aqueles insuscetíveis de substituição por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85, CC). A letra “d” está errada, pois a indivisibilidade dos bens ocorre por sua natureza, por determinação legal ou por vontade das partes (art. 88, CC). A

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letra “e” está errada, pois o exemplo trata das pertenças (art. 93, CC). Gabarito: “A”.

QUESTÃO 23 (CESPE/UnB – TJ/CE – Juiz de Direito – 2012) Caso uma pessoa adquira um trator para melhor explorar sua propriedade rural, esse bem, de acordo com o Código Civil, caracteriza-se como

a) bem fungível. b) bem imóvel por determinação legal. c) bem imóvel por acessão industrial. d) benfeitoria. e) pertença.

COMENTÁRIOS

Bem infungível é o que não pode ser substituído por outro igual. Não é isso o que o examinador deseja. Imóvel por determinação é os que a lei assim determinar (arts. 80 e 81, CC). Imóvel por acessão industrial (também chamada de artificial ou física) é tudo o que o homem incorporar artificialmente ao solo, como as plantações e construções. Já as benfeitorias são obras realizadas no bem (o trator não é uma obra realizada no bem) com o objetivo de embelezar melhorar e conservar a coisa principal. Segundo o art. 93, CC, são pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. O trator é um exemplo clássico de pertença em relação à fazenda. O art. 94, CC estabelece que os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. O examinador poderia ter complicado a questão e colocado a expressão “acessão intelectual”. Nesse caso também estaria errado. Embora haja quem entenda que elas ainda existam, a questão foi clara: “de acordo com o Código Civil”. Ora, o atual Código não trata mais dessa espécie de acessão. Gabarito: “E”.

QUESTÕES CESPE/UnB MAIS ANTIGAS

ANTIGAS 01 (CESPE/UnB – Defensoria Pública/AL – 2006) Em relação ao Direito Civil, julgue o item a seguir. a) Define-se o patrimônio como o complexo de relações jurídicas, apreciáveis economicamente de uma pessoa, nele incluindo-se os créditos e excluindo-se os débitos, que forma o seu passivo.

COMENTÁRIOS

a) Errado. O patrimônio do devedor responde por suas dívidas e constitui garantia geral dos credores. Seu conceito jurídico abrange tanto os bens e direitos (ativo), como as obrigações (passivo) de uma pessoa (natural ou jurídica). Portanto, está errado afirmar que se excluem os débitos. Acrescente-se: o patrimônio pode ser positivo (ativo maior que passivo) ou negativo (passivo maior que ativo – trata-se da insolvência).

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ANTIGAS 02 (CESPE/UnB – TJ/PI – Juiz de Direito – 2007) São bens imóveis por natureza o solo e tudo aquilo que é a ele aderente em estado de natureza, isto é, o que não é resultante do trabalho da cultura do homem. São bens imóveis por acessão física as árvores destinadas ao corte, os arbustos, as sementes lançadas à terra ou qualquer planta fixada ao solo pelas raízes, cuja existência resulta da ação do homem.

COMENTÁRIOS

a) Errado. A primeira parte da afirmação está correta, pois o solo e tudo que é a ele aderente em estado de natureza (sem ação humana) são bens imóveis por natureza. No entanto, as árvores destinadas ao corte são consideradas bens móveis por antecipação. Já as sementes lançadas à terra ou qualquer planta fixada ao solo pelas raízes, cuja existência resulta da ação do homem são bens imóveis por acessão física.

ANTIGAS 03 (CESPE/UnB – Delegado/ES – 2006) Ana Célia construiu uma casa de campo de madeira, em Campos de Jordão - SP. Alguns anos depois, adquiriu um terreno na Bahia e decidiu contratar empresa especializada para transportar a referida casa para o terreno na Bahia. Nessa situação, por ter sido separada do solo, a casa de Ana Célia perde sua característica de bem imóvel.

COMENTÁRIOS

a) Errado. A casa de Ana Célia, ainda que transportada de um local para outro sem a sua destruição, conserva a característica de bem imóvel, nos termos do art. 81, I, CC: edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local.

ANTIGAS 04 (CESPE/UnB – Defensor Público/CE – 2008) São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, e também os bens que podem ser removidos sem alteração de sua substância econômica. Os materiais destinados a uma construção mantêm a qualidade de móveis enquanto não forem imobilizados com a sua utilização. Assim, não perde a característica de imóvel o telhado provisoriamente separado da casa.

COMENTÁRIOS

a) Certo. De acordo com o art. 82, CC são móveis os bens suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis (art. 84, CC). Finalmente, segundo o art. 81, II, CC, os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem não perdem a característica de imóveis.

ANTIGAS 05 (CESPE – Oficial de Registro Civil – TJ/BA – 2008) Considere que uma pessoa faleceu, deixando para seu único herdeiro um carro. Nessa situação, o direito que o herdeiro tem sobre a herança é considerado imóvel por determinação da lei.

COMENTÁRIOS

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a) Certo. Ainda que o único bem seja móvel, a herança (direito à sucessão aberta) é considerada como um bem imóvel (art. 80, II, CC).

ANTIGAS 06 (CESPE/UnB – Servidor nível IV/Direito – MC – 2008) Supondo-se que a porta de uma casa foi provisoriamente retirada para realizar um conserto e, logo após, foi recolocada no mesmo imóvel, é correto afirmar que, quando esteve fora da casa, a porta não perdeu o caráter de imóvel.

COMENTÁRIOS:

a) Certo. Não perdem o caráter de imóveis os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. (art. 81, II, CC).

ANTIGAS 07 (CESPE/UnB - Ministério das Comunicações – Direito – 2008) Nas diferentes classes estabelecidas no Código Civil para bens, a herança é uma universalidade de fato, pois corresponde a um conjunto de bens singulares que pertenceu a mesma pessoa, constituindo-se como um complexo de relações jurídicas, de uma ou mais pessoas, dotadas de valor econômico e que se consideram de per si, independentemente dos demais.

COMENTÁRIOS

a) Errado. A herança, além de ser um bem imóvel, é também uma universalidade de direito.

ANTIGAS 08 (CESPE – Servidor Nível IV – Direito – MC/2008) Embora as pertenças sejam classificadas como bens acessórios, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Nos termos do art. 94, CC, as pertenças constituem exceção ao princípio da gravitação jurídica, em que os bens acessórios seguem a sorte do principal.

ANTIGAS 09 (CESPE/UnB – TJ/SE – Juiz de Direito – 2007) Considerando o direito civil dos bens, julgue os itens a seguir.

a) Os armários embutidos instalados em um imóvel residencial são considerados bens imóveis por acessão.

b) A cota de capital e as ações que o indivíduo possua em uma sociedade empresária constituem exemplos de bens imóveis por determinação legal.

c) Não perdem o caráter de imóvel os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.

d) Os materiais de construção, enquanto não forem empregados para tal finalidade continuam sendo bem móveis.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Acessão significa acréscimo. Assim, os bens móveis que forem incorporados a um imóvel, passam também a ter esta natureza.

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b) Errado. Embora não haja previsão expressa do Código Civil neste sentido, a doutrina entende que “estão na classe dos móveis incorpóreos a quotas de capital ou ações que possua o indivíduo em uma sociedade empresária” (Caio Mário da Silva Pereira – Instituições de Direito Civil).

c) Certo. Ver art. 81, inciso II, CC.

d) Certo. Ver art. 84, CC.

ANTIGAS 10 (UnB/CESPE – Juiz de Direito/SE – 2007) Quanto ao bem de família, julgue os itens subsequentes.

a) O bem de família, quer seja voluntário ou legal, institui-se com o registro da escritura pública no registro imobiliário competente. Esse bem permanece vinculado enquanto viver um dos cônjuges ou enquanto existirem filhos menores ou incapazes.

b) O imóvel, urbano ou rural, destinado à moradia da família é impenhorável (Lei n° 8.009/90). Por essa característica, não responde por dívida civil ou bancária, mesmo quando se tratar de obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Somente o chamado bem de família voluntário (previsto no Código Civil) exige o registro da escritura pública no registro imobiliário. O bem de família legal (Lei n° 8.009/90) além de não exigir o registro, não determina a vinculação. Ou seja, neste caso o bem é impenhorável, mas pode ser vendido (não é inalienável).

b) Errado. Depois de muitas idas e vindas, a jurisprudência dominante é de que se uma pessoa se dispuser a ser fiador, estará abrindo mão do chamado bem de família legal (Lei n° 8.009/90), não podendo invocar esse benefício para deixar de pagar eventual dívida de inquilino. Portanto o imóvel, mesmo destinado à moradia da família, pode ser penhorado para pagamento de obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

ANTIGAS 11 (CESPE/UnB – Procurador Federal – 2007) No Código Civil de 2002, no capítulo da parte geral dedicado aos bens reciprocamente considerados, introduziu-se a figura das pertenças, verdadeira novidade legislativa no âmbito do direito privado brasileiro. A respeito dos bens reciprocamente considerados, julgue os itens a seguir.

a) Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente.

b) De acordo com o direito das obrigações, em regra, a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dessa coisa, ainda que não mencionados.

c) São pertenças os bens que, constituindo partes integrantes, destinam-se, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

d) As pertenças são bens acessórios.

e) Em regra, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças.

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f) Frutos e produtos, por serem bens acessórios, não podem ser objeto de contrato, enquanto não forem separados do bem principal.

COMENTÁRIOS

a) Certo. É o que prevê o art. 92, CC.

b) Certo. Confiram, mais uma vez, o art. 233, CC.

c) Errado. As pertenças não se constituem partes integrantes de outro bem (art. 93, CC).

d) Certo. As pertenças são bens acessórios.

e) Certo. Observem o raciocínio desenvolvido na questão. Pertença é um bem acessório. O acessório segue o principal... Porém os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso (art. 94, CC).

f) Errado. Nos termos do art. 95, CC, apesar de ainda não separados do bem principal, frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.

ANTIGAS 12 (CESPE/UnB – Procurador Municipal de Natal/RN – 2008) Ainda que não estejam separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.

COMENTÁRIOS:

a) Certo. Correto. De acordo com o art. 95, CC, apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.

ANTIGAS 13 (CESPE/UnB – Defensor Público/AM – 2004) À luz do Código Civil, julgue os itens a seguir, com relação ao bem de família.

a) Sendo o patrimônio do casal constituído tão-somente por um imóvel residencial, os cônjuges poderão instituí-lo por escritura pública como bem de família, sem quaisquer outros requisitos a não ser a concordância de ambos.

b) Com a nova regulamentação no Código Civil a respeito do bem de família, revogou-se a Lei n° 8.009/1990, que instituiu esse tipo de bem.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Há uma série de outros requisitos previstos no Código Civil para se instituir o chamado bem de família voluntário (ver art. 1.711 e seguintes, CC).

b) Errado. Tanto o Código Civil (lei geral), como a Lei n° 8.009/90 (lei especial) coexistem, sendo aplicadas nas situações por elas previstas; ambas vigoram normalmente, sem que tenha havido qualquer revogação quer de uma ou de outra legislação (vide art. 2°, §2°, LINDB).

ANTIGAS 14 (CESP/UnB – Advocacia Geral da União) Julgue os itens que se seguem, acerca da classificação de bens públicos.

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a) Um prédio adquirido pela União para que nele funcione repartição da Secretaria de Receita Federal, em um estado da Federação, pode ser classificado como bem público federal dominial.

b) A Praça dos Três Poderes, situada no Distrito Federal, é classificada como bem público distrital de uso comum.

c) A natureza jurídica do rio Tietê, cujo percurso, desde sua nascente, limita-se ao estado de São Paulo, é de bem público de uso comum federal.

d) Prédio em que funciona repartição da Advocacia-Geral da União pode ser vendido sem nenhuma operação preliminar à venda.

e) O uso comum dos bens públicos só pode ser gratuito, pois são destinados à utilização pela sociedade que já paga os impostos, sendo vedado o uso oneroso dessa classe de bens.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Trata-se de um bem público federal especial.

b) Certo. Uma praça é considerada como sendo bem público de uso comum do povo (art. 99, I, CC); como a praça mencionada na questão está situada no Distrito Federal é chamada de distrital.

c) Errado. Os rios são bens públicos de uso comum do povo (art. 99, I, CC). Como o Tietê possui um percurso somente no Estado de São Paulo, que não possuiu fronteiras com outro País, trata-se de bem estadual.

d) Errado. Este prédio é um bem público de uso especial (art. 99, II, CC). Ele até pode ser alienado. Mas antes deve ser desafetado, pois os bens públicos de uso especial são inalienáveis (art. 100, CC). Sendo desafetado se torna um bem público dominical e neste caso o prédio pode ser alienado (art. 101, CC), observadas uma série de exigências legais.

e) Errado. O fato do Estado exigir uma contraprestação pelo uso dos bens públicos, isso não os desnatura, mesmo que sejam de uso comum do povo. O exemplo clássico é a cobrança de pedágios nas rodovias.

ANTIGAS 15 (CESPE/UnB – Polícia Rodoviária Federal – 2008) Considere que a União seja proprietária de um prédio no qual esteja instalada a PRF. A respeito desse bem, conforme o Código Civil, é correto afirmar que se trata de um bem público de uso comum, haja vista que é acessível os que necessitarem dos serviços lá prestados.

COMENTÁRIOS

a) Errado. No caso trata-se de um bem público de uso especial (art. 99, II, CC), por ser destinado a estabelecimento da administração federal (PRF). Os bens públicos de uso comum do povo (art. 99, I, CC) são as praias, ruas, praças, etc.

ANTIGAS 16 (CESPE/UnB – Analista de Trânsito/DETRAN/DF – 2008) Os bens públicos dominicais são alienáveis, uma vez que não há qualquer afetação deles a uma finalidade pública específica.

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COMENTÁRIOS

a) Certo. Segundo o art. 101, CC os bens públicos dominicais (desafetados) podem ser alienados, observadas as exigências legais.

LISTA DE EXERCÍCIOS SEM COMENTÁRIOS

Somente Questões CESPE/UnB Mais Atuais

QUESTÃO 01 (CESPE/UnB – Analista Processual – Ministério Público do Estado do Piauí – 2012) No que tange à disciplina do Direito Civil referente aos bens, julgue o item a seguir.

a) De acordo com a sistemática adotada pelo direito civil, constitui objeto da relação jurídica todo bem que puder ser submetido ao poder dos sujeitos de direito.

QUESTÃO 02 (CESPE/UnB – Defensor Público/PI – 2009) Ao realizar uma reforma de seu imóvel, o proprietário demoliu algumas paredes de sua casa e conservou as portas e janelas que estavam ali instaladas, pensando em revendê-las, já que eram muito antigas e bastante valiosas. Nesse caso, as referidas portas e janelas são consideradas bens imóveis por força de ficção legal, em função do seu alto valor em relação ao bem principal.

QUESTÃO 03 (CESPE/UnB – Defensor Público/ES – 2009) Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram, bem como o direito à sucessão aberta, são considerados bens imóveis para os efeitos legais, de acordo com o Código Civil.

QUESTÃO 04 (CESPE/UnB – TRE/MA – Analista Judiciário – 2009) Os direitos autorais de um escritor são considerados como móveis para os efeitos legais.

QUESTÃO 05 (CESPE/UnB – TRE/MA – Analista judiciário – 2009) Garrafas de um vinho raro emprestadas por um colecionador para exposição em uma feira de vinhos são consideradas, no caso, bens fungíveis.

QUESTÃO 06 (CESPE/UnB – Defensor Público/ES – 2009 e também Ministério Público/AM - 2005) A respeito dos bens, julgue os itens seguintes.

a) As pertenças não seguem necessariamente a lei geral de gravitação jurídica, por meio da qual o acessório sempre seguirá a sorte do principal. Por isso, se uma propriedade rural for vendida, desde que não haja cláusula que aponte em sentido contrário, o vendedor não estará obrigado a entregar máquinas, tratores e equipamentos agrícolas nela utilizados.

b) No negócio jurídico de alienação de um bem imóvel, incluem-se os bens acessórios, ainda que não constem expressamente do contrato, pois, em regra, a coisa acessória segue a principal e pertence ao titular da principal.

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QUESTÃO 07 (CESPE/UnB – Delegado de Polícia do Estado de Alagoas – 2012) Em relação aos bens, julgue os itens a seguir a) O princípio da gravitação jurídica é o princípio norteador dos bens reciprocamente considerados.

b) Pode-se classificar as uvas colhidas na época da safra da uva vermelha como frutos percipiendos e aquelas que ainda estão na videira, como frutos pendentes.

c) Uma garrafa de vinho do ano de 1830 da reserva especial, clausulada com inalienabilidade por testamento é um bem classificado como consumível fático e, ao mesmo tempo, como bem inconsumível do ponto de vista jurídico.

QUESTÃO 08 (CESPE/UnB – TJ/CE – Juiz de Direito – 2012) Julgue o item a seguir

a) Caso uma pessoa adquira um trator para melhor explorar sua propriedade rural, esse bem, de acordo com o Código Civil Brasileiro caracteriza-se como pertença.

QUESTÃO 09 (CESPE/UnB – ANAC – Agência Nacional da Aviação Civil – Especialista em Regulação – 2012) Com base no Código Civil, julgue os itens a seguir, relativos às benfeitorias.

a) Caso tenha sido feito melhoramento a um bem, sem a intervenção do proprietário, do possuidor ou do detentor, não se considerará esse melhoramento como uma benfeitoria.

b) Consideram-se como benfeitorias úteis os reparos feitos em um imóvel com a finalidade de conservá-lo.

c) A construção de uma piscina na área externa de um imóvel residencial caracteriza-se como uma

QUESTÃO 10 (CESPE/UnB – TCE/RN – Assessor Jurídico – 2009) Julgue o item subsequente, relativos ao direito civil brasileiro.

a) Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determina; os bens públicos dominicais podem ser alienados, se forem observadas as exigências da lei.

QUESTÃO 11 (CESPE/UnB – Analista do Seguro Social/INSS – 2008) Relativamente ao tema bens, julgue os itens subsequentes.

a) As terras devolutas podem ser alienadas pela Administração Pública.

b) Os bens de uso comum do povo são somente aqueles que se destinam à execução dos serviços públicos e não podem ser alienados.

QUESTÃO 12 (CESPE/UnB – AGU – Advogado – 2009) A praça, exemplo típico de bem de uso comum do povo, perderá tal característica se o poder público tornar seu uso oneroso, instituindo uma taxa de uso, por exemplo.

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QUESTÃO 13 (CESPE/UnB – Analista de Trânsito/DETRAN/DF – 2008) Os bens públicos dominicais são alienáveis, uma vez que não há qualquer afetação deles a uma finalidade pública específica.

QUESTÃO 14 (CESPE/UnB – TRE/BA - Analista Judiciário – 2010) Tendo em vista a classificação dos bens prevista no Código Civil, julgue os itens que se seguem.

a) O uso comum dos bens públicos deve ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.

b) Ao contrário dos bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial, os bens públicos dominicais podem ser alienados, desde que observadas as exigências legais.

c) Os bens públicos dominicais estão sujeitos à prescrição aquisitiva.

QUESTÃO 15 (CESPE/UnB – TJ/DFT – Serviços Notariais e Registro – 2008) Os bens públicos são inalienáveis, mesmo quando desafetados.

QUESTÃO 16 (CESPE/UnB – TJ/RR – Agente de Proteção – 2012) Considerando o interesse econômico ou jurídico dos bens, julgue o item abaixo.

a) Por constituir bem de uso comum do povo, o jardim de uma praça pública pode servir ao lazer da população em geral, sem necessidade de permissão especial de uso.

QUESTÃO 17 (CESPE/UnB – Auditor de Controle Externo do Tribunal de Contas do Distrito Federal – 2012) Julgue o item que se segue, relativo à disciplina dos bens públicos.

a) Os bens públicos de uso especial, integrados no patrimônio do ente político e afetos à execução de um serviço público, são inalienáveis e imprescritíveis.

QUESTÃO 18 (CESPE/UnB – Juiz Federal – TRF/1ª Região – 2011) Os bens públicos de uso comum não podem ser utilizados por particulares.

QUESTÃO 19 (CESPE/UnB – TJ/AC – Analista Judiciário – 2012) No que se refere ao bem da família, julgue o item subsequente. a) O bem de família voluntário constitui-se de escritura pública e é inscrito no registro de títulos e documentos. QUESTÃO 20 (CESPE/UNB – TJ/AC – Juiz de Direito – 2012) No que se refere ao enfrentamento jurisprudencial do bem de família, julgue os itens abaixo. a) a vaga de garagem com matrícula própria no registro de imóveis constitui bem de família para efeito de penhora. b) o terreno não edificado não caracteriza bem de família, pois não serve à moradia familiar. c) é inconstitucional a penhora de bem de família do fiador em contrato de locação.

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QUESTÃO 21 (CESPE/UnB – TJ/AC – Juiz de Direito – 2012) Com base no que dispõem o Código Civil e a jurisprudência, julgue o item abaixo.

a) Se o proprietário de fazenda de plantação de árvores de corte for um menor impúbere, então será obrigatória a prévia autorização judicial para que os pais do menor vendam o produto do corte das árvores.

QUESTÃO 22 (CESPE/UNB – TJ/AL – Analista Judiciário – 2012) Assinale a opção correta em relação a bens.

a) o direito à sucessão aberta é considerado, por disposição legal, um bem imóvel. b) a universalidade de fato refere-se ao conjunto de bens singulares corpóreos ou incorpóreos, aos quais a norma jurídica confere unidade. c) bens infungíveis são aqueles suscetíveis de substituição por outro da mesma espécie. d) a indivisibilidade dos bens somente ocorre por sua natureza ou por determinação legal. e) aquilo que poderia ser mantido intencionalmente no imóvel, para sua exploração, aformoseamento ou comodidade, como, por exemplo, o trator, é considerado pelo Código Civil bem imóvel por acessão intelectual.

QUESTÃO 23 (CESPE/UnB – TJ/CE – Juiz de Direito – 2012) Caso uma pessoa adquira um trator para melhor explorar sua propriedade rural, esse bem, de acordo com o Código Civil, caracteriza-se como

a) bem fungível. b) bem imóvel por determinação legal. c) bem imóvel por acessão industrial. d) benfeitoria. e) pertença.

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GABARITO “SECO” (Mais Atuais)

Questão 01 a) Certo

Questão 02 a) Errado

Questão 03 a) Certo

Questão 04 a) Certo

Questão 05 a) Errado

Questão 06 a) Certo b) Certo

Questão 07 a) Certo b) Errado c) Certo

Questão 08 a) Certo

Questão 09 a) Certo b) Errado c) Certo

Questão 10 a) Certo

Questão 11 a) Certo b) Errado

Questão 12 a) Errado

Questão 13 a) Certo

Questão 14 a) Certo b) Certo c) Errado

Questão 15 a) Errado

Questão 16

a) Certo

Questão 17 a) Certo

Questão 18 a) Errado

Questão 19 a) Errado

Questão 20 a) Errado b) Certo c) Certo

Questão 21 a) Errado

Questão 22 Letra “A”

Questão 23 Letra “E”

GABARITO “SECO” (Mais Antigas)

Questão 01 a) Errado

Questão 02 a) Errado

Questão 03 a) Errado

Questão 04 a) Certo

Questão 05 a) Certo

Questão 06 a) Certo

Questão 07 a) Errado

Questão 08 a) Certo

Questão 09 a) Certo b) Errado c) Certo d) Certo

Questão 10 a) Errado b) Errado

Questão 11 a) Certo b) Certo c) Errado d) Certo e) Certo f) Errado

Questão 12 a) Certo

Questão 13 a) Errado b) Errado

Questão 14 a) Errado b) Certo c) Errado d) Errado e) Errado

Questão 15 a) Errado

Questão 16 a) Certo