Upload
dyegu1
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 1/19
Capıtulo 9
Momento Angular
9.1 Potencial Central
Por um potencial central entende-se um potencial V (x) que so depende da distancia rda partıcula a origem (considerado como o centro de forca), ou seja,
V (x) = V (r), r =√
x · x. (9.1)
Nesse caso o hamiltoniano
H =
P
2m + V (r),
e obviamente invariante por uma rotacao do sistema de coordenadas, donde se conclui queo momento angular L = X × P e uma grandeza conservada. Em particular, segue dadiscussao do capıtulo anterior que os autovalores de L sao conservados pela dinamica. Nossoobjetivo nesse capıtulo e precisamente resolver o problema da algebra momento angular,como veremos adiante.
Comecemos nossa discussao lembrando que em mecanica classica temos
L = x × p,
logo L 2 = (x × p) · (x × p) = x 2 p 2 − (x · p)2 .
E fazendo x = rr, temos
L2 = r2 p 2 − r2 (r · p)2 = r2
p 2 − p2r
,
onde pr = r · p. Assim temos
p 2 = L 2
r + p2
r.
1
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 2/19
2 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
Em mecanica quantica, X e P nao comutam, logo devemos ter cuidado com as operacoes
acima. Pode-se mostrar que
L2 = ( X × P ) · ( X × P )
= X 2 P 2 + i X · P −
X · P 2
. (9.2)
Mas na base de coordenadas |x = |r,θ,φ, temos
X = rr, (9.3)
P =
i ∇, (9.4)
logo (9.2) torna-se
L 2 = r2 P 2 + 2r
∂
∂r +
2
r
∂
∂r
2
.
donde obtemos
P 2 = L2
r2 − 2
r2
r
∂
∂r
2
+ r ∂
∂r
=
L2
r2 − 2
r2
r ∂
∂r
r ∂
∂r
+ r ∂
∂r
= L2
r2 −
2
∂ 2
∂r2 +
2
r
∂
∂r
= L2
r2 −
2
1
r
∂
∂rr
2
, (9.5)
onde por ∂ ∂r
r entenda-se o operador tal que
∂
∂r
r f = ∂ (rf )
∂r
,
logo 1
r
∂
∂rr
2
f = 1
r
∂
∂r
∂ (rf )
∂r
=
∂ 2
∂r2 +
2
r
∂
∂r
f,
como usado em (9.5).
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 3/19
9.1. POTENCIAL CENTRAL 3
Definimos agora o operador P r como
P r =
i
1
r
∂
∂rr. (9.6)
Pode-se facilmente verificar que P r representa, de fato, a componente radial do operador P ,no sentido de que
[r, P r] = i . (9.7)
Usando (9.6), podemos reescrever (9.5) na forma
P 2
=
L2
r2 + P 2r (9.8)
donde segue que o hamiltoniano para um potencial central torna-se
H = L2
2mr2 +
P 2r2m
+ V (r). (9.9)
Vemos, portanto, que toda a ‘dependencia angular’ do hamiltoniano esta contida no termo L2.
Para resolver o problema do potencial central, devemos obter um conjunto completo deobservaveis que comutam (CCOC) entre si. Como H e invariante por rotacoes, segue que
H comuta com qualquer componente Ln = n · L do momento angular, que e o gerador dasrotacoes em torno da direcao n. Em outras palavras, H comuta com L. Em particular, H comuta com os operadores Li:
[H, Li] = 0, i = 1, 2, 3. (9.10)
Entretanto, os Li’s nao comutam entre si, vide (9.19). Sendo assim, so podemos escolher um(e apenas um) dos operadores Li, para nosso CCOC. Por convencao, escolhe-se Lz. Temos,portanto, o seguinte conjunto de operadores H, Lz que comutam entre si:
[H, Lz] = 0.
Entretanto esse conjunto nao e completo. Em outras palavras, se denotarmos por E e lz osautovalores de H e Lz, respectivamente, entao pode existir mais de um autovetor comum aH e Lz associado a um mesmo par de autovalores (E, lz), como veremos adiante.
A forma do hamiltoniano (9.9) sugere que devemos incluir L2 em nosso CCOC. Emtermos das componentes cartesianas Li, temos
L2 =3
i=1
L2i = L2
x + L2y + L2
z. (9.11)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 4/19
4 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
Como H comuta com cada componente Li, e claro que H comuta com L2:
[H, L2] = 0. (9.12)
Alem disso, como L2 = L· L e um operador escalar, ele e invariante por rotacoes, logo comutacom L:
[ L2, Li] = 0. (9.13)
Temos assim um conjunto de tres operadores H, Lz, L2 que comutam entre si:
[H, Lz] = 0 (9.14)
[H, L2] = 0 (9.15)
[ L2, Lz] = 0 (9.16)
Veremos adiante que esse conjunto e de fato completo. Podemos, portanto, obter uma basede autovetores comuns a H , Lz e L2 com autovalores nao degenerados. Em resumo, aresolucao do problema de um potencial central consiste em obter os autovetores comuns aLz, L2 e H . Nesse capıtulo, vamos obter os autovetores comuns a Lz e L2, e no capıtuloseguinte discutiremos o problema de como calcular as autofuncoes de H .
9.2 Algebra do Momento Angular
As componentes Li, i =1,2 e 3, do momento angular L = X × P sao
Li = ǫijkX jP k, (9.17)
onde se subtende a soma sobre ındices repetidos e ǫijk e o tensor de Levi-Civitta:
ǫijk =
0, se ijk contiver ındices repetidos+1, se ijk for permutacao cıclica (ou par) de 123−1, se ijk for permutacao ımpar de 123
Das relacoes de comutacao fundamentais
[X i, X j] = 0, [P i, P j] = 0, [X i, P j] = i
δ ij, (9.18)pode-se mostrar que as componentes Li do momento angular satisfazem as seguinte relacoesde comutacao:
[Li, L j] = i ǫijkLk. (9.19)
As relacoes (9.19) definem a algebra Lx, Ly, Lz do momento angular. Veremos adiante
que para o calculo dos autovalores de L2 sera mais conveniente trabalharmos com umaalgebra alternativa envolvendo Lz e dois novos operadores L± obtidos atraves de combinacoesapropriadas de Lx e Ly. Antes, porem, vamos tratar dos autovetores e autovalores de Lz.
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 5/19
9.2. ´ ALGEBRA DO MOMENTO ANGULAR 5
9.2.1 Autovetores e Autovalores de Lz
Vamos considerar o problema de obter os autovetores |lz do operador Lz:
Lz|lz = lz|lz. (9.20)
E conveniente trabalharmos na base de coordenadas esferica |r,θ,φ. Nessa base a acao deLz e simplesmente
Lz =
i
∂
∂φ, (9.21)
visto que Lz e o gerador da “translacoes” em φ. (De fato, uma rotacao em torno do eixo z
pode ser vista como uma rotacao da variavel angular φ.) Entao projetando a equacao (9.20)na base de coordenadas, temos
r,θ,φ|Lz|lz = lzr,θ,φ|lz
i
∂
∂φψlz(r,θ,φ) = lzψlz(r,θ,φ),
que apos integracao nos da
ψlz(r,θ,φ) = f (r, θ)eilzφ/ . (9.22)
Como ψlz(r,θ,φ) deve ser periodica em φ, devemos exigir que
ψlz(r,θ,φ + 2π) = ψlz(r,θ,φ),
ou seja,
exp
ilz(φ + 2π)
= exp
ilzφ
exp
i2πlz
= 1,
donde concluımos quelz = m , m = 0,±1,±2, . . .
Ou seja, os possıveis autovalores de lz sao multiplos inteiros de . Do ponto de vista da caodo operador Lz, a funcao f (r, θ) que aparece em (9.22) pode ser tratada como uma meraconstante de integracao. Em outras palavras, as autofuncoes de Lz, denotadas por Φm(φ),sao
Φm(φ) = 1√
2πeimφ, (9.23)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 6/19
6 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
onde escolhemos a constante de normalizacao de modo que as autofuncoes Φm sejam orto-
normais: Φm|Φm′ = δ m,m′.
De fato,
Φm|Φm′ = 1
2π
2π0
exp(−imφ)exp(im′φ)dφ
= 1
2π
2π0
exp(i(m′ − m)φ)dφ
= 1
2π
δ mm′ 2π
0
dφ
= δ mm′ ,
onde da segunda para terceira linha usamos o fato de que, se m = m′, a primitiva dointegrando e periodica em φ, logo a integral sobre um perıodo e zero. Uma vez obtidas asautofuncoes e autovalores de Lz, passaremos agora ao calculo dos autovetores comuns a Lz
e L2.
9.2.2 Autovetores de L2 e Lz
Vamos denotar por
|αm
os autovetores comuns a L2 e Lz:
L2|αm = 2α|αm, (9.24)
Lz |αm = m|αm, (9.25)
onde escrevemos a equacao de autovalor para L2 de modo que α > 0 seja uma quantidadeadimensional. (Lembre-se que L tem a mesma dimensao de , logo L2 tem dimensao de 2.) Vimos acima que m deve ser um inteiro. Resta-nos obter os valores para α, bem como
determinar os possıveis m para um dado α.Para isso, notemos primeiro que L2 em termos das componentes Li e
L2
= L2
x + L2
y + L2
z.
A forma quadratica em L2x e L2
y sugere que devemos ‘completar os quadrados’ de formaanaloga ao que fizemos para o oscilador harmonico. Vamos definir, portanto, os operadoresde levantamento e abaixamento
L± = Lx ± iLy, (9.26)
analogos aos operadores a± de levantamento e abaixamento do oscilador harmonico. Osoperadores L± possuem as seguintes propriedades:
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 7/19
9.2. ´ ALGEBRA DO MOMENTO ANGULAR 7
i) (L±)† = L∓,
ii) [Lz , L±] = ± L±,
iii) [L+, L−] = 2 Lz,
iv) [L2, L±] = 0.
A propriedade i) e evidente e a iv) e consequencia imediata do fato de que L2 comuta comLi. As propriedades ii) e iii) resultam das relacoes de comutacao (9.19), como verificadoabaixo:
ii) [Lz, L±] = [Lz, Lx]
±i[Lz, Ly] = i Ly
±i(
−iLx) =
± L±
iii) [L+, L−] = [Lx + iLy, Lx − iLy] = i[Ly , Lx] − i[Lx, Ly] = i(−i Lz) − i(i Lz) = 2 Lz
Em termos de L±, o operador L2 escreve-se
L2 = L−L+ + Lz + L2z (9.27)
= L+L− − Lz + L2z. (9.28)
como pode ser facilmente verificado:
L2 = L2x + L2
y + L2z
= [ 12
(L+ + L−)]2 + [ 12i
((L+ + L−))]2
= 1
4L2
+ + L+L− + L−L+ + L2− − L2
+ + L+L− + L−L+ − L2− + L2
+ + L2z
= 1
2L+L− + L−L+ + L2
z,
que combinada com a propriedade iii) resulta (9.27) e (9.28).As propriedades ii) e iv) acima implicam que L± levanta/abaixa o autovalor de Lz de
uma unidade de , sem alterar o autovalor de L2. De fato,
Lz(L±|αm) = (L±Lz ± L±)|αm= L±( m ± )|αm= (m ± 1)(L±|αm). (9.29)
Como L2 comuta com L± e claro que a acao de L± sobre um autovetor de L2 permanece umautovetor de L2 com mesmo autovalor:
L2(L±|αm) = L±L2|αm=
2α(L±|αm) (9.30)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 8/19
8 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
De (9.29) e (9.30) concluımos que
L±|αm = C ±(α, m)|α, m ± 1, (9.31)
onde as constantes C ±(α, m) serao determinadas posteriormente.Vemos que a partir de um dado m podemos gerar autovetores de Lz com autovalores
(m±1), (m±2), (m±3), . . . Claramente essa acao de ‘levantar’ e ‘abaixar’os autovaloresde Lz nao pode continuar indefinidamente ja que
|Lz|2 < |L2|,logo os autovalores de Lz tem que ser limitados, de alguma forma, por cima e por baixo,
pelos autovalores de L
2
. De fato, considere o operadorL2⊥ ≡ L2 − Lz 2 = L2
x + L2y.
Como L2⊥ e obviamente um operador positivo definido (compare com o hamiltoniano do
oscilador harmonico), segue que seus autovalores sao nao negativos; mas como
L2⊥|α, m =
2(α − m2)|α, m,concluimos que
α − m2 ≥ 0,
ou seja|m| ≤ √ α.
Sejam agora mmax e mmin o maior e o menor valor de m, respectivamente, para um dadoα. Entao devemos ter
L+|αmmax = 0, (9.32)
L−|αmmin = 0. (9.33)
Aplicando L− a primeira identidade acima resulta
0 = L−L+|αmmax= (L2 − Lz − L2z)|αmmax=
2
α2 − mmax − (mmax)2
,
logo
α = mmax(mmax + 1). (9.34)
Da mesma forma, aplicando L+ a (9.33) obtemos
α = mmin(mmin − 1),
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 9/19
9.2. ´ ALGEBRA DO MOMENTO ANGULAR 9
que comparada com (9.34) resulta
mmin(mmin − 1) = mmax(mmax + 1)
dondemmin = −mmax
Vamos agora chamar de l o maior valor de m para um dado α, isto e,
mmax = l, mmin = −l,
Vimos, por outro lado, que pela aplicacao de L+ podemos aumentar m de uma unidade.Sendo assim, apos a aplicacao de L+ um certo numero k de vezes a mmin =
−l chegamos a
mmax = l, ou seja,−l + k = l ⇒ l =
k
2,
onde k = 0, 1, 2, · · · . Vemos assim que, em princıpio, os possıveis valores de l sao inteiros ousemi-inteiros
l = 0, 1/2, 1, 3/2, 2, 5/2, · · ·Note que esse resultado e bem geral, uma vez que para obte-lo usamos apenas as relacoes decomutacao da algebra do momento angular. Segue agora de (9.34) que
α = l(l + 1). (9.35)
Para o caso do momento angular orbital, vimos anteriormente que m deve ser um inteiro.Logo nesse caso l deve ser um inteiro l = 0, 1, 2, . . . (Por putro lado, no caso do momentoangular de spin, l pode assumir valores semi-inteiros, como veremos adiante.) No restantedeste capıtulo, vamo-nos restringir ao caso orbital. Em face do resultado acima, e convenientedenotar os autovetores comuns de Lz e L2 nao mais por |αm mas por |lm. Temos entaoque
L2|lm = 2l(l + 1)|lm, l = 0, 1, 2, . . . (9.36)
Lz|lm = m|lm, m = −l,−l + 1, . . . ,−1, 0, 1, . . . , l − 1, l (9.37)
Vamos agora determinar a constante C ±(α, m) definidas em (9.31), as quais passaremosa denotar C ±(l, m), de modo que
L±|lm = C ±(l, m)|l, m ± 1.Tomando o dual temos
lm|L∓ = C ∗±(l, m)l, m ± 1|.Contraindo as duas expressoes anteriores, obtemos
|C ±|2 = lm|L∓L±|lm,
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 10/19
10 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
onde consideramos que os vetores
|lm
sao ortonormais. Usando as identidades (9.27) e
(9.28), temos agora
|C ±|2 = lm|L2 ∓ Lz − L2z |lm
= 2l(l + 1) ∓
2m − 2m2
= 2[l(l + 1) − m(m ± 1)],
ou sejaC ±(l, m) =
l(l + 1) − m(m ± 1).
Temos entao que
L±|lm = l(l + 1)− m(m ± 1) |l, m ± 1, (9.38)
ou alternativamente
L±|lm =
(l ∓ m)(l ± m + 1) |l, m ± 1. (9.39)
9.2.3 Representacao Matricial
Na base |lm o operador L2 e diagonal, logo temos a seguinte representacao matricial
L2 =
0 0 0 0 0 · · ·0 2 0 0 0 · · ·0 0 2 0 0 · · ·0 0 0 2 0 · · ·0 0 0 0 6 · · ·...
... ...
... ...
. . .
J z e tambem uma matriz diagonal com elementos m .
Por outro lado:
J (x/y) =
1−i
1
2[L+ ± L−]
l′m′|J (x/y)|lm =
1−i
1
2l′m′|L+ ± L−|lm (9.40)
=
1−i
2
l(l + 1) − m(m + 1)l′m′|l(m + 1) (9.41)
±
l(l + 1) − m(m − 1)l′m′|l(m − 1)
(9.42)
=
2
1−i
δ ll′
δ m′(m+1)
l(l + 1) − m(m + 1) (9.43)
±δ m′(m−1)
l(l + 1) − m(m − 1)
(9.44)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 11/19
9.3. AUTOFUNC ˜ OES DE L2 E LZ NA BASE DE COORDENADAS 11
Logo
J x =
0 0 0 0 0 · · ·0 0 1/
√ 2 0 0 · · ·
0 1/√
2 0 1/√
2 0 · · ·0 0 1/
√ 2 0 0 · · ·
... ...
... ...
... . . .
J x = i
0 0 0 0 0 · · ·0 0 −1/
√ 2 0 0 · · ·
0 1/√
2 0 −1/√
2 0 · · ·0 0 1/
√ 2 0 0 · · ·
... ... ... ... ... . . .
9.3 Autofuncoes de L2 e Lz na base de Coordenadas
Nosso objetivo aqui e obter as autofuncoes ψlm(θ, φ) de L2 e Lz, correspondendo aosautovetores |lm projetados na base de coordenadas angulares |θφ:
ψlm(θ, φ) = θφ|lm. (9.45)
Como veremos adiante, as funcoes ψlm(θ, φ) correspondem aos chamados harmonicos esfericos
Y lm(θ, φ). Vamos, portanto, desde ja adotar a notacao Y lm para denotar as autofuncoes deL2 e Lz em coordenadas angulares:
Y lm(θ, φ) = θφ|lm. (9.46)
Vimos ainda que as autofuncoes de Lz sao da forma
Φm(φ) = 1√
2πeimφ, (9.47)
entao podemos escrever:
Y lm(θ, φ) = Θl(θ)Φm(φ). (9.48)
A normalizacao de Y lm exige que |Y lm|2dΩ =
π0
2π0
|Y lm|2 sin θdθdφ = 1,
ou seja, π0
|Θl(θ)|2 sin θdθ =
1−1
|Θl(θ)|2d(cos θ) = 1, (9.49)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 12/19
12 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
onde ja usamos o fato de Φm e normalizada.
De modo analogo ao que foi feito no caso do oscilador harmonico, vamos obter as au-tofuncoes Y lm a partir de um estado ‘extremal’, isto e, com autovalor mınimo ou maximode Lz, pela sucessiva aplicacao dos operadores L±. Por exemplo, para o estado ‘maximal’|ψ = |ll, temos
L+|ll = 0, (9.50)
que projetada na base |θφ torna-se
L+Y ll(θ, φ) ≡ θφ|L+|ll = 0
que em vista de (9.48) torna-seL+
Θl(θ)eilφ
= 0. (9.51)
Para resolver essa equacao precisamos obter o operador L+ na base angular |θφ.Para isso, lembremos que em coordenadas esfericas o gradiente escreve-se
∇ = er∂
∂r + eθ
1
r +
∂
∂θ + eφ
1
r sin θ
∂
∂φ,
logo o momento angular le-se
L =
i x × ∇ =
i r er × ∇ (9.52)
=
ir er ×
eθ
1
r
∂
∂θ + eφ
1
r sin θ
∂
∂φ
(9.53)
=
i
(er × eθ)
∂
∂θ + (er × eφ)
1
sin θ
∂
∂φ
=
i
eφ
∂
∂θ − eθ
1
sin θ
∂
∂φ
(9.54)
Usando agora o fato de que
eθ = cos θ(cos φ x + sin φ y) + sin θz (9.55)eφ = − sin φ x + cos φ y, (9.56)
pode-se mostrar que
Lx =
i
y
∂
∂z − z
∂
∂y
=
i
− sin φ
∂
∂θ − cos φ cot θ
∂
∂φ
(9.57)
Ly =
i
z
∂
∂x − x
∂
∂z
=
i
cos φ
∂
∂θ − sin φ cot θ
∂
∂φ
, (9.58)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 13/19
9.3. AUTOFUNC ˜ OES DE L2 E LZ NA BASE DE COORDENADAS 13
donde segue que
L± = Lx ± iLy = e±iφ
± ∂
∂θ + i cot θ
∂
∂φ
. (9.59)
Inserindo (9.59) em (9.51) resulta
eiφ
∂
∂θ + i cot θ
∂
∂φ
Θl(θ)eilφ
= 0,
donde obtem-sedΘl
dθ − l cot θ Θl = 0
ou seja
Θ′l
Θl
= l cot θ
= lcos θ
sin θ
= l 1
sin θ
d(sin θ)
dθ ,
que pode ser facilmente integrada
dΘ
Θ = ld sin θ
dθ ⇒ ln Θ = l ln(sin θ) + C,
donde finalmente temosΘl(θ) = C l(sin θ)l.
A constante C l deve ser determinada de modo a satisfazer a condicao de normalizacao (9.49).Fazendo a mudanca de coordenadas u = cos θ, temos
|Θl|2 = |C l|2
1 − u2l/2
,
de modo que a condicao (9.49) implica
1 = 1
−1
|Θl|2du (9.60)
= |C l|2 1−1
1 − u2
l/2du. (9.61)
Resolvendo a integral acima obtemos |C ll|:
|C ll| =
(2l + 1)!
2
1/2 1
2ll! (9.62)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 14/19
14 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
Determinamos assim a constante
|C ll
|a menos de uma fase. Por convencao, escolhe-se a fase
igual a (−1)l. Em resumo, obtemos que
Y ll = 1√
2πΘl(θ)eilφ = (−1)l
(2l + 1)!
4π
1
2ll! eilφ (sin θ)l (9.63)
Agora para obter Y lm a partir de Y ll devemos aplicar L− sucessivamente (l − m) vezes.Em outras palavras, devemos aplicar (L−)l−m a Y ll. Usando (9.39) recursivamente obtemosque
(L−)l−m|ll = ( )l−m
(2l)(1)× (2l + 1)(2) × . . .× (l + m + 1)(l − m) |lm, (9.64)
ou seja
|lm =
(l + m)!
(2l)!(l − m)!
L−
l−m
|ll, (9.65)
ou alternativamente
Y lm(θ, φ) =
(l + m)!
(2l)!(l − m)!
L−
l−m
Y ll(θ, φ), (9.66)
Note agora que o operador L± dado em (9.59) aplicado a uma funcao da forma einφ
F (θ)pode ser escrito como
L±[einφF (θ)] = ∓ ei(n±1)φ(sin θ)1±n d
d(cos θ)
(sin θ)∓nF (θ)
. (9.67)
E mais geralmente,L±
p[einφF (θ)] = (∓1) pei(n± p)φ(sin θ) p±n d p
d(cos θ) p
(sin θ)∓nF (θ)
. (9.68)
Aplicando (L−)
l−m
a (9.63) obtemos
Y lm(θ, φ) = (−1)l
2ll!
(2l + 1)!
4π(2l)!
(l + m)!
(l − m)!eimφ(sin θ)−m dl−m
d(cos θ)l−m(sin θ)2l,
que apos simplificacao torna-se
Y lm(θ, φ) = (−1)l
2ll!
(2l + 1)
4π
(l + m)!
(l − m)!eimφ(sin θ)−m dl−m
d(cos θ)l−m(sin θ)2l. (9.69)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 15/19
9.3. AUTOFUNC ˜ OES DE L2 E LZ NA BASE DE COORDENADAS 15
Alternativamente, poderıamos ter partido do estado de mınimo m para um dado l, ou
seja, Y l(−l). Nesse caso temos
L−
Y l(−l)(θ, φ)
= 0. (9.70)
Repetindo o procedimento que levou a (9.63), obtemos
Y l(−l) =
(2l + 1)!
4π
1
2ll! e−ilφ (sin θ)l. (9.71)
Podemos agora obter Y lm pela aplicacao (l + m) vezes de L+ a Y l(−l). A equacao correspon-dente a (9.66) e
Y lm(θ, φ) =
(l − m)!(2l)!(l + m)!
L+
l+m
Y l(−l)(θ, φ), (9.72)
Usando (9.68) com p = l + m em (9.71), obtemos entao
Y lm(θ, φ) = (−1)l+m
2ll!
(2l + 1)
4π
(l − m)!
(l + m)!eimφ(sin θ)m
dl+m
d(cos θ)l|m(sin θ)2l. (9.73)
As expressoes (9.69) e (9.73) sao duas formas completamente equivalentes de gerar osharmonicos esfericos. Da comparacao dessas duas formulas, vemos ainda que
Y l(−m) = (−1)mY ∗lm(θ, φ). (9.74)
Em termos das funcoes associadas de Legendre P ml (x), os harmonicos esfericos podem serescritos como
Y lm(θ, φ) =
2l + 1
4π
(l − m)!
(l + m)!(−1)meimφP ml (cos θ), m ≥ 0,
onde
P ml (x) = 1
2ll! 1 − x2
−m/2 dl−m
dxl−m
1 − x2
l
.
Em resumo, vimos queL2Y lm(θ, φ) =
2l(l + 1)Y lm(θ, φ) (9.75)
LzY lm(θ, φ) = mY lm(θ, φ) (9.76)
O conjunto de harmonicos esf[ericos Y lm(θ, φ) forma uma base do espaco de funcoesperiodicas em φ e com 0 < θ < π. Assim, dado qualquer funcao ψ(θ, φ), temos
ψ(θ, φ) =∞l=0
lm=−l
C lmY lm(θ, φ)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 16/19
16 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
onde
C lm =
Y ∗lm(θ, φ)ψ(θ, φ)dΩ
A forma explıcita de alguns harmonicos esfericos e dada abaixo:
l = 0 Y 00 = 1√
4π(9.77)
l = 1 :
Y 11 = −
38π
sin θeiφ
Y 10 =
34π
cos θ(9.78)
l = 2 :
Y 22 = 14
152π
sin2 θei2φ
Y 21 =
158π sin θ cos θeiφ
Y 20 =
54π
32 cos2 θ − 1
2
(9.79)
9.4 Equacao Diferencial de Autovalor para L2
Os harmonicos esfericos Y lm podem ser obtidos por um caminho direto, resolvendo o problemade autovalor para L2 e Lz. Ja vimos que as autofuncoes de Lz = −i
∂ ∂φ
sao
LzΦm(φ) = mΦm(φ),
Φm(φ) = 1√ 2π
eimφ,
logo podemos escreverY lm(θ, φ) = Θl(θ)Φm(φ).
Resta agora resolver o problema de autovalores para L2:
L2[Y ml(θ, φ)] = 2α Y lm(θ, φ). (9.80)
De (9.54) segue que
L2 =
− 2eφ
∂
∂θ −eθ
1
sin θ
∂
∂φ ·eφ
∂
∂θ −eθ
1
sin θ
∂
∂φ (9.81)
= − 2
eφ
∂
∂θ
eφ
∂
∂θ − eθ
1
sin θ
∂
∂φ
− 1
sin θeθ
eφ
∂
∂θ − eθ
1
sin θ
∂
∂φ
(9.82)
Usando agora as relacoes
∂
∂θeφ = 0, eφ · ∂eφ
∂φ = 0, (9.83)
eθ · ∂eφ∂φ
= − cos θ, eφ · ∂eθ∂θ
= 0, (9.84)
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 17/19
9.5. EXERC ICIOS 17
obtemos
L2 = − 2
∂ 2
∂θ2 − 1
sin θ(− cos θ)2
∂
∂θ +
1
sin2 θ
∂ 2
∂φ2
(9.85)
= − 2
∂ 2
∂θ2 +
cos θ
sin θ
∂
∂θ +
1
sin2 θ
∂ 2
∂φ2
(9.86)
ou
L2 = − 2
1
sin θ
∂
∂θ
sin θ
∂
∂θ
+
1
sin2 θ
∂ 2
∂φ2
Assim, a equacao (9.80) torna-se
− 1
sin θ
∂
∂θ
sin θ
∂
∂θ
+
1
sin2 θ
∂ 2
∂φ2
Y lm(θ, φ) = αY lm(θ, φ)
ou seja,
− 1
sin θ
d
dθ
sin θ
d
dθ
− m2
sin2 θ
Θl(θ) = αΘl(θ)
Pode-se mostrar que essa equacao resulta, apos uma mudanca apropriada de variaveis, naequacao associada de Legendre, cujas solucoes sao as funcoes associadas de Legendre P ml (x).
9.5 Exercıcios1. Mostre a equacao (9.2).
2. Verifique todos os passos que levam a (9.5).
3. Mostre a relacao de comutacao (9.7).
4. Verifique as relacoes de comutacao (9.19) e (9.13).
5. Considere que Ω e Λ sao operadores vetoriais no sentido definido no Cap. 8,
[Li, Ω j] = i ǫijkΩk,
e idem para Λ. Mostre entao que
[ Ω · Λ, Li] = 0.
6. Verifique as identidades (9.57) e (9.58).
7. Resolva a integral em (9.61) e mostre que |C l| e como mostrado em (9.62).
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 18/19
18 CAP ITULO 9. MOMENTO ANGULAR
8. Mostre (9.68).
9. Verifique todos os passos que levaram a (9.73).
10. Considere o rotor rıgido quantico, cujo hamiltoniano e
H = L2
2I ,
onde I = µr2e e o momento de inercia do rotor, sendo µ a sua massa efetiva e re o seu
raio de giracao.a) Obtenha o espectro de energia E l do sistema e os respectivas autoestados. Expresse
sua resposta para E l em termos da ‘constante rotacional’ B = /4πI . Qual a degene-rescencia dos nıveis E l?b) Verifique que a separacao entre os nıveis E l cresce linearmente com l (ao contrariodo oscilador harmonico em que os nıveis sao igualmente espacados). Em particular,obtenha o espectro de frequencias
ν l,l−1 = E l − E l−1
h
do sistema e mostre que as linhas espectrais sao equidistantes.c) Mostre que os elementos de matriz do operador Z sao
l′m′|Z |lm = reδ mm′
δ l′,l−1
l2 − m2
4l2 − 1 + δ l′,l+1
(l + 1)2 − m2
4(l + 1)2 − 1
.
Obtenha a respectiva representacao matricial de Z .d) Considere que o sistema foi colocado em um estado |ψ arbitrario (que obviamentepode ser expandindo na base |lm). Mostre que o valor medio Z (t) vai oscilar notempo com frequencias de Bohr dada por ν l,l−1 calculadas acima. Logo, Z (t) podeevoluir apenas com uma serie bem definida de frequencia (equidistantes entre si), aocontrario do caso classico em que a frequencia de rotacao do rotor pode ser qualquer
valor (contınuo): ω =
2E/I .11. O rotor quantico do problema anterior descreve aproximadamente o espectro rotacio-
nal de moleculas diatomicas. Entretanto, as linhas espectrais observadas experimen-talmente nao sao exatamente equidistantes. Uma modelo mais adequado incorporaefeitos centrıfugos, de modo que a distancia entre os atomos varia com a velocidade derotacao, ou seja, o rotor nao e exatamente rıgido. Nesse caso, o hamiltoniano propostoe da forma
H = L2
2I − 1
2µ2kr6e
( L2)2,
7/24/2019 Aula. 11 - Cap9 Momento Angular
http://slidepdf.com/reader/full/aula-11-cap9-momento-angular 19/19
9.5. EXERC ICIOS 19
onde k e a ‘constante de mola’ da ligacao entre os atomos.
a) Obtenha o novo espectro de frequencias ν l,l−1 e mostre que o mesmo pode ser escritoda forma
ν l,l−1 = 2Bl − 4dl3,
onde d e uma constante.b) Faca um diagrama mostrando esquematicamente as posicoes das linhas espectraisnos dois casos, isto e, com e sem a correcao acima. (Represente ambos os casos nomesmo diagrama.) Considere que d e muito menor que B.