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Por Rafael Soares direitoirs.blogspot.com Aula 2 primeira parte, Estrutura da Constituição. 1. Elementos da Constituição Federal A Constituição Federal de 1988 é uma constituição analítica, extensa, prolixa nos dizeres de Bonavides, e justamente por seu tamanho, e por alocar um número grande de normas de valores distintos, fez com que a doutrina agrupasse a Constituição em diversas normas de acordo com sua finalidade, tal ato denominou-se Elementos da Constituição. Para o nosso estudo utilizaremos do doutrinador que mais se aprofunda nesta classificação e também o mais cobrado em concursos públicos, José Afonso da Silva que divide a constituição em cinco elementos, sendo eles: Elementos Orgânicos; Elementos Limitativos; Elementos Socioideológicos; Elementos de estabilização Constitucional; Elementos Formais de Aplicabilidade. A. Elementos Orgânicos São normas que regulam a estrutura do Poder e do Estado: exemplos Título III (da organização do estado); Título IV (Da organização dos Poderes e do Sistema de Governo); Capítulos II e II do título V (Das forças armadas e da Segurança Pública); Título VI (Da Tributação e do Orçamento). B. Elementos Limitativos Aqueles que, basicamente, definem os direitos e garantias fundamentais. São limitativos porque objetivam restringir a atividade do estado, exige uma atividade negativa do estado, limitando a atuação dos poderes estatais. Exemplo: Título II (Dos Direito e Garantias Fundamentais), excetuando o Capítulo II do referido Título II (Dos direitos Sociais), estes últimos definidos como elementos socioideológicos 1 . C. Elementos Socioideológicos Revelam o compromisso da Constituição entre o Estado individualista e o Estado social, intervencionista. Exemplo: Capítulo II do Título II ( Dos Direitos Sociais); Título VII (Da ordem Econômica e Financeira; Título VIII (Da Ordem Social). D. Elementos de Estabilização Constitucional Aqueles que se destinam a garantir a solução de conflitos constitucionais e a defesa da Constituição. Exemplo: Ação de Inconstitucionalidade (art. 102, I, a); arts. 34 a 36 (Da intervenção nos Estados e Municípios); Estado de Defesa e de Sítio (Título V, capítulo I). E. Elementos Formais de aplicabilidade Encontram-se nas normas que estabelecem regras de aplicação das constituições. Preâmbulo; ADCT; Artigo 5º quando estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 2. Estrutura da Constituição Estruturalmente a Constituição Federal de 1988 contém um Preâmbulo, uma parte dogmática composta por nove títulos (corpo) e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). 2.1 Preâmbulo O ministro Celso de Mello, concluiu que ―o preâmbulo não se situa no âmbito do direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte, não contem o preâmbulo, portanto, relevância jurídica.‖ 2 1 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. ed. 14ª, 2010. P. 89. 2 Idem.

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Aula 2 primeira parte, Estrutura da Constituição.

1. Elementos da Constituição Federal

A Constituição Federal de 1988 é uma constituição analítica, extensa,

prolixa nos dizeres de Bonavides, e justamente por seu tamanho, e por alocar um

número grande de normas de valores distintos, fez com que a doutrina agrupasse a

Constituição em diversas normas de acordo com sua finalidade, tal ato denominou-se

Elementos da Constituição.

Para o nosso estudo utilizaremos do doutrinador que mais se aprofunda

nesta classificação e também o mais cobrado em concursos públicos, José Afonso da

Silva que divide a constituição em cinco elementos, sendo eles: Elementos Orgânicos;

Elementos Limitativos; Elementos Socioideológicos; Elementos de estabilização

Constitucional; Elementos Formais de Aplicabilidade.

A. Elementos Orgânicos

São normas que regulam a estrutura do Poder e do Estado: exemplos Título

III (da organização do estado); Título IV (Da organização dos Poderes e do Sistema de

Governo); Capítulos II e II do título V (Das forças armadas e da Segurança Pública);

Título VI (Da Tributação e do Orçamento).

B. Elementos Limitativos

Aqueles que, basicamente, definem os direitos e garantias fundamentais.

São limitativos porque objetivam restringir a atividade do estado, exige uma atividade

negativa do estado, limitando a atuação dos poderes estatais. Exemplo: Título II (Dos

Direito e Garantias Fundamentais), excetuando o Capítulo II do referido Título II (Dos

direitos Sociais), estes últimos definidos como elementos socioideológicos1.

C. Elementos Socioideológicos

Revelam o compromisso da Constituição entre o Estado individualista e o

Estado social, intervencionista. Exemplo: Capítulo II do Título II ( Dos Direitos

Sociais); Título VII (Da ordem Econômica e Financeira; Título VIII (Da Ordem Social).

D. Elementos de Estabilização Constitucional

Aqueles que se destinam a garantir a solução de conflitos constitucionais e a

defesa da Constituição. Exemplo: Ação de Inconstitucionalidade (art. 102, I, a); arts. 34

a 36 (Da intervenção nos Estados e Municípios); Estado de Defesa e de Sítio (Título V,

capítulo I).

E. Elementos Formais de aplicabilidade

Encontram-se nas normas que estabelecem regras de aplicação das

constituições. Preâmbulo; ADCT; Artigo 5º quando estabelece que as normas

definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

2. Estrutura da Constituição

Estruturalmente a Constituição Federal de 1988 contém um Preâmbulo, uma

parte dogmática composta por nove títulos (corpo) e o Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias (ADCT).

2.1 Preâmbulo

O ministro Celso de Mello, concluiu que ―o preâmbulo não se situa no

âmbito do direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do

constituinte, não contem o preâmbulo, portanto, relevância jurídica.‖2

1 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. ed. 14ª, 2010. P. 89.

2 Idem.

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Vicente de Paulo e Marcelo alexandrino de forma mais sucinta conclui que

o Preâmbulo ―Não se situa no âmbito do Direito constitucional; Não tem força

normativa; não é norma de observância obrigatória pelos estados-membros, Distrito

federal e municípios; Não serve de parâmetro para a declaração da inconstitucionalidade

das leis; não constitui limitação a atuação do poder constituinte derivado, ao modificar o

texto constitucional.‖ 3

Ainda em outro julgado MS 24.645-DF o Ministro Celso de Mello nos

ensina: Como se sabe, há aqueles que vislumbram, no preâmbulo das Constituições,

valor normativo e força cogente, ao lado dos que apenas reconhecem, no

texto preambular, o caráter de simples proclamação, que, embora revestida

de significado doutrinário e impregnada de índole político-ideológica,

apresenta-se, no entanto, destituída de normatividade e cogência,

configurando, em função dos elementos que compõem o seu conteúdo, mero

vetor interpretativo do que se acha inscrito no “corpus” da Lei

Fundamental.

Dessa forma percebemos que, já consolidado em nossa doutrina e

jurisprudência, o Preâmbulo não possui forma normativa, simboliza apenas o momento

político vivenciado, caracterizado pela ruptura com o antigo período e identifica os

princípios e os valores primordiais que o constituinte originário consagrou na

elaboração da Constituição4.

2.2. Parte Dogmática ou Corpo. É composto por nove títulos, que definem a Estrutura do Estado sua organização e

funcionamento, trata de normas relativas aos direitos e garantias fundamentais, ao Estado

federal e suas competências, à organização dos poderes e da Administração Pública, à repartição

de rendas, aos princípios fundamentais da ordem econômica e da ordem social.

Apresenta ainda normas programáticas, caracterizando como Constituição

dirigente. Ainda apresenta diversas normas que são tidas como formalmente

constitucional, que nenhuma relação guarda com a estruturação do estado.

2.3. Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)

Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino5 classificam o ADCT em dois

Grupos

A) os que contem regras necessária para assegura um harmoniosa

transição do regime constitucional anterior para o novo regime

B) os que estabelecem regras que, embora não sejam relacionadas à

transição de regime constitucional, tem caráter meramente transitório, tem sua eficácia

jurídica exaurida tão-logo ocorra a situação nela prevista.

Importante notar que a ADCT tem eficácia jurídica, e suas normas são

formalmente constitucionais, tem o mesmo status das normas inseridas na parte

dogmática, podem ser alteradas somente por meio de Emenda constitucional, assim as

eventuais normas que entrarem em confronto com o a ADCT são passíveis de controle

de constitucionalidade.

A diferença é que algumas normas da ADCT perdem a eficácia depois de

exaurido o prazo previsto para sua ocorrência. Exemplo artigo 27 § 1º - Até que se

instale o Superior Tribunal de Justiça, o Supremo Tribunal Federal exercerá as

3 Direito Constitucional Descomplicado, ed. 3ª, 2008. P. 35.

4 Idem.

5 Idem.

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atribuições e competências definidas na ordem constitucional precedente. Após a

instalação do STJ tal artigo perdeu por completo sua eficácia.

Questões de Concursos.

1. (MP/GO 2010) O preâmbulo é o pórtico da Constituição e revela a síntese do

pensamento do legislador constituinte. Acerca de sua natureza jurídica, marque a

resposta correta:

a) Para o STF o preâmbulo constitucional deve ser contado como norma constitucional,

integrando o articulado constitucional, possuindo eficácia jurídica plena.

b) O preâmbulo na CF/88 é dotado de força normativa cogente, fazendo parte da

declaração de direitos e, por isso, tomado como cláusula pétrea.

c) O preâmbulo, por expressa disposição constitucional, tem como finalidade a

resolução das chamadas lacunas ocultas, que são aquelas decorrentes de erro do Poder

Constituinte ou de desatualização da Constituição.

d) Para o STF o preâmbulo constitucional situa-se no domínio da política e reflete a

posição ideológica do constituinte. Logo, não contém relevância jurídica, não tem força

normativa, sendo mero vetor interpretativo das normas constitucionais, não servindo

como parâmetro para o controle de constitucionalidade.

2. (AGU - Procurador Federal) O preâmbulo constitucional possui destacada relevância

jurídica, situando-se no âmbito do direito e não simplesmente no domínio da política.

3. (IFB direito) Entre as normas constitucionais de eficácia exaurida, incluem- se

dispositivos constantes das disposições constitucionais transitórias.

4. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vem adotando, quanto ao valor

jurídico do preâmbulo constitucional, a teoria da:

a) relevância jurídica;

b) relevância jurídica direta;

c) irrelevância jurídica;

d) relevância jurídica indireta.

5. (Cespe/Unb IPAJM-Advogado) Para o STF, o preâmbulo da CF não se situa na

esfera do direito, mas na da política — refletindo a posição ideológica do constituinte.

Não possui, portanto, relevância jurídica, e não constitui norma central da CF, apesar de

ser de reprodução obrigatória pelas constituições estaduais.

6. (cespe ipajm) Embora de natureza transitória, os dispositivos dos Atos das

Disposições Constitucionais Transitórias são materialmente constitucionais, ou seja, são

hierarquicamente iguais às demais normas inseridas na CF.

Gabarito Comentado.

1.

D - A doutrina reconhece no texto preambular, o caráter de simples

proclamação, que, embora revestida de significado doutrinário e impregnada de índole

político-ideológica, apresenta-se, no entanto, destituída de normatividade e cogência,

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configurando, em função dos elementos que compõem o seu conteúdo, mero vetor

interpretativo do que se acha inscrito no “corpus” da Lei Fundamental.

2.

Errado, embora revestida de significado doutrinário e impregnada de índole

político-ideológica, apresenta-se, no entanto, destituída de normatividade e cogência,

sendo irrelevante para o mundo jurídico.

3.

Correto, Importante notar que a ADCT tem eficácia jurídica, e suas normas

são formalmente constitucionais, a diferença reside no fato de que algumas normas da

ADCT perdem a eficácia depois de exaurido o prazo previsto para sua ocorrência.

4.

C - Conforme os julgados já explicitados no estudo em questão,o Preâmbulo

Não se situa no âmbito do Direito constitucional; Não tem força normativa; não é norma

de observância obrigatória pelos estados-membros, Distrito federal e municípios; Não

serve de parâmetro para a declaração da inconstitucionalidade das leis; não constitui

limitação a atuação do poder constituinte derivado, ao modificar o texto constitucional.

5.

Errado. Aquestão esta correta em vários aspctos mas o erro reside no fato

em que a afirmativa confirma que o Premabulo é de Reprodução obrigatória nas

constituições do Estado e com o julgamento da ADI 2076 o STF pôs fim a essa

discussão:

CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO:

PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre.

I. - Normas centrais da Constituição Federal: essas

normas são de reprodução obrigatória na Constituição do

Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão

sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ

147/404).

II. - Preâmbulo da Constituição: não constitui

norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata

de norma de reprodução obrigatória na Constituição

estadual, não tendo força normativa.

III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada

improcedente.

6.

Errado, A questão está errada pelo simples detalhe ao tema Materialmente

constitucional, pois o ADCT é Formalmente Constitucional, como explica: importante

notar que a ADCT tem eficácia jurídica, e suas normas são formalmente constitucionais,

tem o mesmo status das normas inseridas na parte dogmática, podem ser alteradas

somente por meio de Emenda constitucional, assim as eventuais normas que entrarem

em confronto com o a ADCT são passíveis de controle de constitucionalidade.

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Sugestões, dúvidas e Reclamações.

Bibliografia:

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª. São Paulo:

Saraiva, 2010.

CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 14ª. Belo

Horizonte: Del Rey, 2008.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24ª. São Paulo:

Malheiros, 2009.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de Direito Constitucional.

35ª. São Paulo: Saraiva.

PAULA, Vicente de e ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional

Descomplicado. 3º, São Paulo: Método.

<http://www.questõesdeconcurso.com.br> Acesso em: 15 de maio 2011.

<http://www.stf.jus.br> Acesso em: 16 de maio de 2011.