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Teorema de Tales M ´ ODULO 1 - AULA 8 Aula 8 – Teorema de Tales Objetivos Apresentar o Teorema de Tales. Preparar o estudo de semelhan¸ ca de triˆ angulos. Introdu¸ ao O objetivo central desta Aula 8 ´ e provar o Teorema de Tales. Pela primeira vez neste curso aparece uma id´ eia nova envolvida nos argumentos ecnicos que usaremos para a prova desse Teorema. ´ E a id´ eia de limite ou convergˆ encia de n´ umeros reais. Pela sua importˆ ancia na matem´ atica, e pelo papel fundamental que representam, estas id´ eias deveriam ser estudadas e maturadas desde o jardim de infˆ ancia. Pode-se dizer que grande parte da Matem´ atica trata de conjuntos, estruturas nos conjuntos e fun¸ oes entre conjuntos que preservam estas estruturas. A abordagem que expressa estes assuntos ´ e a convergˆ encia e o limite. Mas voltemos ao nosso ch˜ ao de f´ abrica, nossa pedreira, ap´ os estas di- vaga¸ oes. Nota: No texto, desta aula, estamos usando nota¸ oes do tipo AB = 2 para significar que a medida do segmento AB ´ e 2. Isto ´ e estamos substituindo a nota¸ ao mais pesada m(AB) = 2. Do mesmo modo escrevemos DM = MN para expressar que os segmentos tem a mesma medida. Como tudo em matem´ atica, para chegar ao nosso objetivo temos toda uma seq¨ encia de tijolinhos ou cap´ ıtulos a serem preenchidos, preparados, at´ e o ato final, que ´ e a prova do Teorema. Por isso, Matem´ atica n˜ ao ´ e como novelas de televis˜ ao: se vocˆ e perde um cap´ ıtulo, possivelmente perde a conex˜ ao com a trama e pode correr o risco de torcer pelo vil˜ ao! Vamos ao nosso primeiro tijolinho. Nesta proposi¸ ao e nas seguintes, as propriedades que conhecemos sobre paralelogramos ser˜ ao muito utilizadas. Proposi¸ ao 16 Sejam trˆ es retas paralelas m, n e r cortadas por retas transversais s e t. Sejam A, B, C e E, F, G os pontos de interse¸ ao de s e t, respectivamente, com as retas m, n e r. Se AB = BC ent˜ ao EF = FG (veja figura 141). t s A B C E F G m n r Fig. 141: 95 CEDERJ

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Teorema de TalesMODULO 1 - AULA 8

Aula 8 – Teorema de Tales

Objetivos

• Apresentar o Teorema de Tales.

• Preparar o estudo de semelhanca de triangulos.

Introducao

O objetivo central desta Aula 8 e provar o Teorema de Tales. Pela

primeira vez neste curso aparece uma ideia nova envolvida nos argumentos

tecnicos que usaremos para a prova desse Teorema. E a ideia de limite ou

convergencia de numeros reais. Pela sua importancia na matematica, e pelo

papel fundamental que representam, estas ideias deveriam ser estudadas e

maturadas desde o jardim de infancia. Pode-se dizer que grande parte da

Matematica trata de conjuntos, estruturas nos conjuntos e funcoes entre

conjuntos que preservam estas estruturas. A abordagem que expressa estes

assuntos e a convergencia e o limite.

Mas voltemos ao nosso chao de fabrica, nossa pedreira, apos estas di-

vagacoes.

Nota:

No texto, desta aula,

estamos usando notacoes do

tipo AB = 2 para significar

que a medida do segmento

AB e 2. Isto e estamos

substituindo a notacao mais

pesada m(AB) = 2. Do

mesmo modo escrevemos

DM = MN para expressar

que os segmentos tem a

mesma medida.

Como tudo em matematica, para chegar ao nosso objetivo temos toda

uma sequencia de tijolinhos ou capıtulos a serem preenchidos, preparados,

ate o ato final, que e a prova do Teorema. Por isso, Matematica nao e

como novelas de televisao: se voce perde um capıtulo, possivelmente perde a

conexao com a trama e pode correr o risco de torcer pelo vilao!

Vamos ao nosso primeiro tijolinho. Nesta proposicao e nas seguintes, as

propriedades que conhecemos sobre paralelogramos serao muito utilizadas.

Proposicao 16

Sejam tres retas paralelas m,n e r cortadas por retas transversais s e t. Sejam

A, B, C e E, F, G os pontos de intersecao de s e t, respectivamente, com as

retas m,n e r. Se AB = BC entao EF = FG (veja figura 141).

ts

A

B

C

E

F

G

m

n

r

Fig. 141:

95 CEDERJ

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Teorema de Tales

Prova:

Se t e paralela a s nao precisamos provar nada, porque nesta situacao

ABFE e BCGF seriam paralelogramos (lados opostos paralelos). Isto ga-

rantiria que AB = EF e BC = FG. Como AB = BC, todos os segmentos

seriam iguais. Em particular BC = FG.

Vamos supor entao que t nao e paralela a s. Construimos pelos pontos

E e F as retas t1 e t2, respectivamente, ambas paralelas a s. Veja a figura

142.ts

A

B

C

E

F

G

m

n

r

H

IL

t1 t2

Fig. 142:

H, I e F,L sao os pontos de intersecao de t1 e t2 com n e r, respectiva-

mente.

A conclusao agora e consequencia direta da seguinte congruencia de

triangulos:

EHF ≡ FLG

Antes de continuar, interrompa a leitura, examine a figura 142 com

suas propriedades, pegue um papel para rascunho e tente antecipadamente

responder a duas questoes:

- Qual caso de congruencia garante EHF ≡ FLG?

- Por que a congruencia encerra a prova da proposicao?

Insista numa resposta sua... encontrou alguma pista... use propriedades

de paralelas e transversais... releia os argumentos ate aqui desenvolvidos...

lute um pouco com as duas questoes propostas... se passaram 15 minutos e

voce nao avancou venha conosco no caminho da resposta!

A congruencia EHF ≡ FLG e garantida pelo caso A.L.A.

De fato, ABHE e paralelogramo (lados paralelos) e entao AB = HE.

Tambem BCIH e HILF sao paralelogramos e entao BC = HI = FL.

Conclusao: O lado L que aparece no caso A.L.A. esta garantido, pois

EH = FL

CEDERJ 96

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Tambem, usando n e r como paralelas e t como transversal encontramos que

ˆFGL = ˆEFH (angulos correspondentes)

Tambem, usando t1 e t2 como paralelas e t como transversal encontramos

queˆLFG = ˆHEF (angulos correspondentes).

Ora, a soma dos angulos internos de um triangulo e 180◦. Com dois angulos

coincidindo em medidas, o terceiro tambem coincidira. Isto e,

EHF = FLG.

Portanto a congruencia vale pelo caso A.L.A.

Esta respondida a primeira questao.

Vamos a segunda questao: por que a congruencia EHF ≡ FLG encerra

a prova? Pedimos que voce leia o enunciado da proposicao de novo para ver

que a conclusao salta aos olhos!

Ora EHF ≡ FLG⇒ EF = FG, onde querıamos chegar.

Vamos agora explorar o resultado que acabamos de provar para tirarmos

uma importante consequencia.

- Voce sabe o que e um feixe de paralelas no plano?

Um feixe de paralelas e um conjunto de retas do plano onde quaisquer

duas delas sao paralelas. O conjunto de retas formando o feixe deve possuir

no mınimo duas retas, podendo ter um numero finito ou mesmo infinito de

retas.

Na figura 143 abaixo representamos um feixe de paralelas com 5 retas.

Fig. 143: .

Estamos em condicao de enunciar um resultado que e consequencia

direta da Proposicao 16.

97 CEDERJ

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Teorema de Tales

Corolario 1

Considere um feixe de paralelas no plano, contendo um numero finito de

retas e duas retas transversais s e t intersectando o feixe. Se a transversal s

determina segmentos consecutivos de mesmo comprimento, o mesmo ocorrera

com os segmentos consecutivos determinados no feixe pela reta transversal t.

Corolario: E uma proposicao

obtida como consequencia

direta de outra proposicao

Prova:

Na figura 144, representamos um feixe com 4 retas. Vamos provar o

resultado neste caso.

ts

E

F

G

m

n

rA

B

C

pD H

Fig. 144: .

O enunciado garante que AB = BC = CD e pede para provar que

EF = FG = GH.

E evidente que o resultado e verdadeiro, basta usar a proposicao 16

duas vezes. Primeiro, considerando as retas r,m e n para concluir que

AB = BC ⇒ EF = FG;

e em seguida usar as retas m,n e p, para concluir que e verdadeira a seguinte

implicacao:

BC = CD ⇒ FG = GH.

- Voce ja percebeu que chegamos, nao?

A partir de agora talvez estejamos malhando em ferro frio, tudo esta

dito e mais nada se acrescenta. Mas vamos la!

As duas conclusoes acima reunidas mostram que

AB = BC = CD ⇒ EF = FG = GH.

Apesar da prova ter sido feita para um feixe com 4 retas, e evidente

que vale para 52 ou 52 milhoes de retas, ou um numero qualquer n ∈ N de

retas.

CEDERJ 98

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Mais uma vez, recordamos que nosso objetivo central nesta aula e pro-

var o Teorema de Tales (se tiver curiosidade leia o enunciado no texto adi-

ante). E um resultado muito importante, ferramenta de primeira linha, que

abre muita portas. No entanto quero convidar voce a refletir sobre um argu-

mento crucial que aparecera na prova do Teorema de Tales.

Em primeiro lugar considere on numeros naturais N = {0, 1, 2, ...}, os

quais podem ser representados sobre a parte positiva da reta real R. A reta

R e onde representamos todos os numeros reais. veja figura 145 .

0 1 2 n n+1

x

RFig. 145:

Na parte positiva da reta real R, estao localizados todos os numeros

reais positivos.

Temos a seguinte propriedade: “dado um numero real x > 0, existe um

numero natural n, tal que n > x ”.

Esta propriedade e chamada de “Princıpio Arquimediano” em home-

nagem ao grande matematico e engenheiro grego Arquimedes (sec IV a.C.)

Usando o Princıpio Arquimediano como base, peco para voce pensar

sobre a seguinte pergunta.

Considere um numero real B que possui duas propriedades:

• B ≥ 0

• B <1

n, para todo numero natural n > 0.

- Quem e o numero B?

Reflita um pouco sobre as propriedades de B. Sao duas camisas de

forca obrigando B a revelar sua identidade, seu lugar na reta real R, figura

145. Releia a pergunta e insista numa resposta sua...

Voce respondeu corretamente se cravou B = 0.

De fato, e a unica alternativa para o DNA de B. Por que?

Em primeiro lugar B ≥ 0. Vamos provar que a suposicao B > 0

e absurda e nos leva a contradicoes, deixando-nos como unica alternativa

B = 0.

De fato, se B > 0 entao1

B> 0 e pelo Princıpio Arquimediano existe um

numero natural n > 0, tal que n >1

B. Como tratamos com numeros positi-

vos, podemos inverter as posicoes dos numeros para concluir que

B >1

n.

99 CEDERJ

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Teorema de Tales

Este resultado diz que existe um numero natural n, para o qual a se-

gunda propriedade de B nao e satisfeita. Esta contradicao mostra que B > 0

nao e possıvel. Logo B = 0.

Vamos, sem mais delongas ao numero principal de nosso espetaculo,

aquele pelo qual pagamos o ingresso:

Teorema de Tales

Sejam tres retas paralelas r,m e n cortadas pelas retas transversais s

e t. Suponha que A,B,C e E,F,G sejam os pontos de intersecao das

retas s e t com r,m e n, respectivamente (veja figura 146). Nestas

condicoesAB

BC=EF

FG.

Voce sabia que...

O nome de Tales esta

associado com um numero

de teoremas em Geometria:

1. Um cırculo e bissectado

por um diametro

2. Os angulos da base de um

triangulo isosceles sao iguais

3. Angulos opostos pelo

vertice sao iguais

4. Caso L.A.A. de

congruencia

5. Dado um triangulo ABC,

inscrito em um semicırculo,

o angulo oposto ao lado que

esta sobre o diametro e reto.

6. A soma dos angulos

internos de um triangulo e

180o.

Todos esses teoremas eram

conhecidos pelos egıpcios e

babilonios. A razao pela

qual eles estao associados a

Tales e porque ele foi o

primeiro a oferecer provas

para esses teoremas.

ts

A

B

C

E

F

G

m

n

r

Fig. 146:

Prova:

Vamos provar uma forma equivalente da igualdade enunciada. Note

queAB

BC=EF

FG⇔ BC

AB=FG

EF⇔ BC

AB+ 1 =

FG

EF+ 1

⇔ BC + AB

AB=FG+ EF

EF

⇔ AC

AB=EG

EF.

Entao para efeito da prova do teorema e suficiente mostrar que

AC

AB=EG

EF.

Para prosseguir fixe um numero natural n > 0 qualquer (n pode ser

5 trilhoes por exemplo). Posicione, consecutivamente, pontos igualmente

espacados no interior do segmento AB, de modo a dividi-lo em n partes

iguais. Seja U o comprimento de cada um desses segmentos. Com esta

medida U e a partir do ponto B, continuamos a marcar pontos consecutivos

agora sobre o segmento BC, de modo que o comprimento de cada segmento

formado por pontos consecutivos tenham comprimento U . (Veja a figura

147).

CEDERJ 100

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Agora vamos soltar uma frase que merece atencao:

“Suponha que este processo permitiu que colocassemos n pontos sobre

AB e ate m pontos sobre AC, com m > n”.

Epa, a frase acima guarda misterios! O que queremos dizer? Vamos

com calma.

Voce sabia que...

Por volta do ano 600 a.C., o

sabio grego Tales de Mileto

fez uma viagem ao Egito. O

farao ja conhecia sua fama

de grande matematico.

Ouvira dizer ate que Tales

era capaz de uma incrıvel

facanha: podia calcular a

altura de uma construcao,

por maior que fosse, sem

precisar subir nela.

Por ordem do monarca,

alguns matematicos egıpcios

foram ao encontro do

visitante e pediram-lhe que

calculasse a altura de uma

das piramides. Tales

ouviu-os com atencao e se

dispos a atende-los

imediatamente. Ja no

deserto, proximo a piramide,

o sabio fincou no chao uma

vara, na vertical.

Observando a posicao da

sombra, Tales deitou a vara

no chao, a partir do ponto

em que foi fincada,

marcando na areia o

tamanho do seu

comprimento. Depois, voltou

a vara a posicao vertical. -

Vamos esperar alguns

instantes, disse ele. Daqui a

pouco poderei dar a

resposta. Ficaram todos ali,

observando a sombra que a

vara projetava. Num

determinado momento, a

sombra ficou exatamente do

comprimento da vara. Tales

disse entao aos egıpcios: -

Vao depressa ate a piramide,

mecam sua sombra e

acrescentem ao resultado a

medida da metade do lado

da base. Essa soma e a

altura exata da piramide.

Como Tales descobriu isso?

Tales usou semelhanca de

triangulos. Esse assunto

estudaremos mais tarde.

Primeiro a frase quer dizer que se damos nome aos pontos consecuti-

vos, por exemplo P1, P2, ..., Pn sobre AB, quer dizer que AP1 e o primeiro

segmento de AB e Pn−1Pn e o ultimo segmento de AB. Neste caso Pn = B.

A coisa foi construıda para se ajustar perfeitamente sobre AB. No en-

tanto, prosseguindo com os pontos agora Pn+1, Pn+2, ... em BC, ocorre um

fenomeno. Ou o ultimo ponto, que estamos chamando Pm, coincide com C,

ou ele esta antes de C. Qualquer que seja o caso o proximo ponto Pm+1

estaria fora de AC (veja a figura 147).

Tracamos agora retas paralelas a r,m e n e passando pelos pontos que

definimos sobre o segmento AC. Estas retas formam com r,m e n um feixe

de paralelas e determinam sobre EF e EG segmentos de reta de mesmo

comprimento.

Denomine por U o comprimento de cada um desses segmentos.

O fato que o comprimento dos segmentos determinados pelas paralelas

sobre o segmento EG sao de mesmo comprimento U decorre do corolario da

Proposicao 16.s

Pn=B

Pm

Pm+1

CG

n

m

t

rEA

F=Qn

Fig. 147:

101 CEDERJ

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Teorema de Tales

Entao podemos escrever que

• AB = nU, EF = nU

• mU ≤ AC < (m+ 1)U, mU ≤ EG < (m+ 1)U

Dividindo e cancelando os termos U e U , encontramos que,

m

n≤ AC

AB<m+ 1

ne

m

n≤ EG

EF<m+ 1

n(1)

Represente na reta real R, os numerosm

nem+ 1

n. e os numeros

AC

AB

eEG

EF.

m

n

m+1

n

AB

AC

EF

EG

R

Fig. 148:

A figura 148 e tambem as desigualdades mostram queAC

ABeEG

EFsao

numeros que pertencem ao intervalo

[m

n,m+ 1

n

)⊂ R. Isto significa que a

distancia entreAC

ABeEG

EFe menor que a amplitude do intervalo.

Em outras palavras

∣∣∣∣AC

AB− EG

EF

∣∣∣∣ <m+ 1

n− m

n=

1

n.

Note que a desigualdade acima poderia ter sido deduzida diretamente

de (1).

Preferimos a explicacao acima de natureza mais geometrica.

Ora a desigualdade acima dizAC

AB− EG

EF= 0

LogoAC

AB=EG

EF, como almejamos provar.

Vamos provar mais dois resultados, muito uteis para resolver problemas.

CEDERJ 102

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Proposicao 17

O segmento que une os pontos medios de dois lados de um triangulo e paralelo

ao terceiro lado e tem medade de seu comprimento.

Prova:

Seja ABC um triangulo e sejam M e N os pontos medios dos lados AB

e AC respectivamente. Trace o segmento MN , como na figura 149.

N

CB

A

M

Fig. 149: Proposicao 17.

Queremos provar que as retas←−→MN e

←→BC sao paralelas, e que m(MN) =

m(BC)2

. Para isso, vamos construir um quadrilatero da seguinte forma: na reta←−→MN marcamos um ponto D tal que M esteja entre D e N , e DM ≡ MN ,

e ligamos D a B (veja figura 150). Vamos mostrar que DNCB e um para-

lelogramo.

A

M N

B C

D

Fig. 150: Prova da proposicao 17.

Como os angulos DMB e NMA sao congruentes (por serem opostos

pelo vertice), segue de L.A.L. que AMN ≡ BMD. Como consequencia,

temos ANM ≡ BDM e AN ≡ BD, como indicado na figura 151.

A

M N

B C

D

Fig. 151: A bNM ≡ B bDM e AN ≡ BD.

103 CEDERJ

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Teorema de Tales

A reta←→DN e transversal as retas

←→DB e

←→NC, formando um par de

angulos alternos internos congruentes, que sao AND e BDN . Segue da

proposicao 9, da aula 5, que as retas←→DB e

←→NC sao paralelas. O qua-

drilatero DNCB possui assim um par de lados opostos paralelos e congru-

entes: DB e NC.

Pela proposicao 12, da aula 6, podemos concluir que DNCB e um

paralelogramo. Por esse fato, DN e BC tambem sao paralelos e, segundo

a proposicao 11, da aula 6, congruentes. Finalmente, podemos concluir daı

que MN e paralelo a BC e tem metade de seu comprimento.

Q.E.D.

Resumo

Nesta aula voce aprendeu...

• A proporcao entre segmentos determinados por transversais cortando

feixes de paralelas, so depende do feixe de paralelas e nao da posicao

da transversal.

• Que o segmento que une os pontos medios de dois lados de um triangulo

e paralelo ao terceiro lado e tem metade do seu comprimento.

Exercıcios

1. (Construcao da paralela.) Sejam r uma reta e P um ponto nao

pertencente a r. Sabemos que existe uma unica reta s passando por

P e que e paralela a r. O objetivo deste exercıcio e provar como se

pode obter a reta s usando-se apenas regua (sem marcacao de medida)

e compasso. Para isso, trace tres cırculos, sempre com o mesmo raio:

o primeiro com centro em P , determinando um ponto A na reta r; o

segundo com centro em A, determinando um ponto B na mesma reta, e

o terceiro com centro em B, determinando um ponto C sobre o primeiro

cırculo (veja figura 152).

r

s P

A B

C

Fig. 152: Exercıcio 1.CEDERJ 104

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Teorema de TalesMODULO 1 - AULA 8

2. Divisao de segmentos em partes iguais. O objetivo deste exercıcio e

indicar um metodo para que voce possa permite dividir, usando apenas

regua (sem marcacao) e compasso, um dado segmento em um numero

qualquer de segmentos congruentes.

Construcao:

Suponha que desejemos dividir o segmento AB da figura 153 em sete

partes iguais.

A B

Fig. 153: Segmento AB.

Para isso, vamos tracar uma semi-reta−→AC de forma que o angulo CAB

seja agudo (essa condicao nao e decisiva, mas torna o desenho mais

facil). Sobre a semi-reta−→AC, tracamos os pontos D1, D2, . . ., D7 de

modo que AD1 ≡ D1D2 ≡ . . . ≡ D6D7. Isso pode ser feito marcando-se

um ponto D1 e usando o compasso para transportar o segmento AD1

para a semi-reta←−→D1C, e assim sucessivamente, como na figura 154. O

tamanho de AD1 nao e importante.

A E1 2E E3 E5E4 E B6

D1

DD

2

3

D4

D5

DD C

6

7

Fig. 154: Divisao de AB em 7 partes iguais.

3. Prove que os pontos medios dos lados de um quadrilatero qualquer

formam um paralelogramo.

4. Na figura 155 temos: m(AB) = 4 cm, m(BC) = 6 cm, m(AC) = 8 cm,

m(DC) = 3 cm, FD//BC e DE//AB. Determine as medidas dos

lados de FDEB.A

D

C

F

B

E

Fig. 155: Exercıcio 4.

105 CEDERJ

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Teorema de Tales

5. Na figura 156, ABC e isosceles de base BC, M e o ponto medio de BC,

MP//AC e MQ//AB. Prove que APMQ e um losango.

A

QP

B CMFig. 156: Exercıcio 5.

6. Na figura 157, BM ≡ MC, AF ≡ FB e FD//BC. Prove que E e o

ponto medio de FD.

A

B C

D E

F

M

Fig. 157: Exercıcio 6.

7. Determine x e y na figura 158, sabendo que r, s, t e u sao paralelas.

2

3

3

x

r

s

yu

t

7

Fig. 158: Exercıcio 7.

CEDERJ 106

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8. Na figura 159, EAD ≡ DAC.

A

B C D

2 3

4 x

E

Fig. 159: Exercıcio 8.

Usando apenas o teorema de Tales, determine x.

9. (ITA-1989) Considere um quadrilatero ABCD cujas diagonais AC e

BD medem, respectivamente, 5 cm e 6 cm. Se R, S, T e U sao os

pontos medios dos lados do quadrilatero dado, determine o perımetro

do quadrilatero RSTU .

10. (U.C. Salvador, 1992)

Sejam

P : o conjunto dos retangulos

Q: o conjunto dos quadrados

L: o conjunto dos losangos

A figura que melhor representa as relacoes existentes entre eles e:

L P Q

(a)

L P

Q

(b)

L P

Q

(c)

L

P Q

(d)

L Q

P

(e)

Fig. 160: Exercıcio 9. 107 CEDERJ