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15-10-2014 1 Fisioterapia, 3º ano CR-2 2014/2015 Zita Sousa (CSH) [email protected] Fibrose Cística (FC) Doença hereditária -------» Com severascomplicaçõesprogressivas -------» Pode levara morte prematura ESTSP-CSH Zita Sousa

Aula CR2 SR FibroseCistica 15-10-2014 · Suporte por parte de uma equipa transdisciplinar , desde o diagnóstico, permite melhorar a qualidade da saúde física e psicológica, bem

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15-10-2014

1

Fisioterapia, 3º ano

CR-2

2014/2015

Zita Sousa

(CSH)

[email protected]

Fibrose Cística (FC)

Doença hereditária

-------» Com severas complicações progressivas

-------» Pode levar a morte prematura

ESTSP-CSH Zita Sousa

15-10-2014

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Fibrose Cística (FC)

1. Enfrentar o diagnóstico

a. Choque

b. Dificuldade de aceitação

2. Lidar com o tratamento

3. Experienciar as dificuldades psicossociais associadas

a. Dinâmica psicossocial

b. Dinâmica familiar

c. Articular tratamento com escola/trabalho

4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

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https://www.youtube.com/watch?v=oiWJ8wogZgg

Fibrose Cística Reportagem SBT

(3 min)

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1. O diagnóstico

a. Choque

Pacientes referem…

…choque provocado pelo seu próprio diagnóstico (Bredemeier, Carvalho e

Gomes, 2011).

“Peso” do diagnóstico de uma doença incurável e com

expectativa de vida curta.

A par da reação de choque, são habituais reações de negação, tristeza ou raiva

(Gotz & Gotz, 2000).

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1. O diagnóstico

a. Choque (cont.)

O choque também é uma reação típica nos pais e familiares dos pacientes com

FC.

“O impacto inicial do diagnóstico gera nos pais a ansiedade e o medo.

Muitas vezes eles expressam a incredulidade com relação ao diagnóstico, o

receio da perda dos filhos de imediato. Essas fases enfrentadas pela família,

descritas como as reações iniciais dos pais (choque, incredulidade , confusão,

medo, raiva, conflito, tensão), apresentam duração variável e uma negação

prolongada tem reflexo em toda a família, impedindo uma adaptação bem

sucedida” (Furtado & Lima, 2003; cit. in Perfeito, 2007, p. 13).

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1. O diagnóstico

b. Dificuldade de aceitação

� Pacientes referem…

…que seria melhor se não soubessem sobre o diagnóstico (Bredemeier et al.,

2011).

A dificuldade em aceitar a FC relaciona-se com:

- sofrimento de enfrentar o tratamento diário,

- incerteza em relação à conciliação tratamento vs trabalho,

- medo do preconceito.

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1. O diagnóstico

b. Dificuldade de aceitação (cont.)

“não queria ficar pensando muito que eu tinha a doença,

pensava que se eu não pensasse a doença ia embora, sabia que ela não

iria, mas era um jeito de eu não lembrar da existência dela, mas a partir

dos meus 15 anos tenho seguido tudo certinho até porque sei que depende

de mim e não quero ficar mais internado” (relato de um paciente).

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1. O diagnóstico

b. Dificuldade de aceitação (cont.)

A FC é um experiência particular que implica múltiplas aceitações difíceis:

- Aceitar o diagnóstico

- Aceitar a experiência dos sintomas

- Aceitar a evolução da doença

- Aceitar os tratamentos

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2. Lidar com o tratamento

� Pacientes referem…

…dificuldades em aderir ao tratamento (Bredemeier et al., 2011).

Os tratamentos, numa dinâmica diária e sistemática, são exigentes e interferem

na rotina diária dos pacientes.

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3. Experienciar as dificuldades psicossociais associadas

a. Dinâmica psicossocial

� Crianças e adolescentes com diagnóstico de longo termo estão em risco para

problemas psicológicos e comportamentais (Gotz & Gotz, 2000).

- dificuldades em relação à sexualidade, processo de aquisição da autonomia e

independência (Pfeffer, Pfeffer & Hodson, 2003), relacionamento com os pares

(Rocha, Moreira & Oliveira, 2004), ou isolamento social e emocional

(Bredemeier et al., 2011; Perfeito, 2007).

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3. Experienciar as dificuldades psicossociais associadas

a. Dinâmica psicossocial (cont.)

� Associação entre o sistema imunológico e aspetos psicossociais como apoio

social, funcionamento familiar, stress, depressão, com potencial influência

na expectativa de vida dos pacientes (Antoni, 2003).

� Pacientes com FC têm maior probabilidade de desenvolver problemas

psicopatológicos, como depressão, e tendem a avaliar negativamente a sua

qualidade de vida (Pfeffer et al., 2003).

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3. Experienciar as dificuldades psicossociais associadas

b. Dinâmica familiar

� A FC não afeta só os pacientes, mas também a família e acarreta muitas vezes

a presença de stressores biopsicossociais;

� Não causa necessariamente disfunção familiar a longo termo, mas muda a

estrutura e dinâmica familiar (Gotz & Gotz, 2000).

� Sobreproteção / Hiperexigência por parte dos familiares

� Interferência na coesão familiar

� Mudança de residência para melhor acesso

aos tratamentos diário (Bredemeier et al., 2011).

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3. Experienciar as dificuldades psicossociais associadas

c. Articular tratamento com escola/trabalho

A FC interfere com as funções normais de desenvolvimento.

� Pacientes referem…

…dificuldades em conciliar as exigências dos tratamento s com os estudos e

trabalho (Bredemeier et al., 2011).

� Os adolescentes, em particular, podem apresentar dificuldades de adesão ao

tratamento (Rocha et al.,2004).

� Na vida adulta, encontrar uma ocupação adaptada ao tratamento é uma das

grandes dificuldades dos pacientes.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

� Pacientes referem como importante…

No paciente…

a) ser persistente,

b) pedir explicações sempre que possível,

c) aderir ao tratamento, a fim de ter uma vida normal,

d) não esconder a doença,

e) cuidar da saúde (porque é importante para atingir objetivos pessoais).

(Bredemeier et al., 2011).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

� Pacientes referem como importante…

Na família…

a) ser paciente,

b) entender que a motivação para aderir ao tratamento é variável,

c) falar muito e abertamente,

d) evitar exigências excessivas mas ser diligente (por ex., não deixar que a

criança tome decisões sozinha sobre aderir ou não ao tratamento),

e) não tratar a criança como uma “coitadinha”.

(Bredemeier et al., 2011).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

O fenómeno de lidar com a doença FC implica aspetos como…

1) a compreensão da doença;

2) a dinâmica de aceitação;

3) a importância do diagnóstico precoce , atendimento especializado e

assistência humanizada;

4) a relação com o tratamento;

5) a divulgação do diagnóstico;

6) os relacionamentos;

7) o trabalho e os estudos;

8) o enfrentar a doença;

9) o significado da doença para cada um.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

1) Compreensão da doença

Há casos em que o diagnóstico é conhecido:

- Na infância

- Na idade adulta

Crescem com a percepção de que têm uma

doença crónica. Entendimento gradual.

Levam vários meses para compreender o que

estava a acontecer consigo. Choque.

Compreensão

da FC

Infância

Idade Adulta

1ª Admissão hospitalar

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

1) Compreensão da doença (cont.)

A compreensão da FC é importante em qualquer faixa etária porque permite:

� Entendimento do motivo da sintomatologia e recaídas prévias,

� Abandono da culpa,

� Início do tratamento adequado / Sentimento de um relativo controlo sobre a

saúde.

Importância da educação para a doença.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

2) Dinâmica da aceitação

… compreensão da doença

… compreensão da importância da adesão aos tratamentos

+ busca de alternativas (e.g., Perfeito, 2007; Bredemeier et al., 2011).

Aceitar…

O diagnóstico

A experiência dos sintomas

Os tratamentos

A evolução da doença

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

3) Diagnóstico precoce, atendimento especializado e assistência

humanizada

� A falta de conhecimento sobre a FC por parte dos profissionais de saúde

torna mais provável a incapacidade de deteção e diagnóstico durante a

infância, o agravamento da condição de doença dos pacientes e à

consequente busca de tratamento dos sintomas em diferentes lugares.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

3) Diagnóstico precoce, atendimento especializado e assistência

humanizada (cont.)

Para uma melhor resposta às necessidades dos pacientes com PC:

Centros /

Serviços de

excelência

Diagnóstico precoce

Profissionais de saúde com formação/conhecimento

Tratamento com atendimento especializado

Assistência humanizada Vínculo

Compreensão

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

3) Diagnóstico precoce, atendimento especializado e assistência

humanizada (cont.)

Adolescentes tratados por umas equipa transdisciplinar estável aderem mais

facilmente ao tratamento (Brumfied & Lansbury, 2004).

Suporte por parte de uma equipa transdisciplinar , desde o diagnóstico, permite

melhorar a qualidade da saúde física e psicológica, bem como o funcionamento

social, quer nos pacientes, quer na família (Gotz & Gotz, 2000; Perfeito, 2007).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

4) Relação com o tratamento

Constrangimento e desconforto

em realizar tratamentos frente a

outro

Importância da

participação/acompanhamento

de familiares nos tratamentos

Descrença nos resultados

terapêuticos

Importante encorajar e promover

esperança e uma relação

tranquila com o tratamento

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

5) Divulgação do diagnóstico a outros

É difícil para os pacientes revelar a sua doença.

Dificuldade de

autorevelação

Importante incentivar a

divulgação da doença…

…como estratégia de promoção

da rede de apoio aos pacientes.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

5) Divulgação do diagnóstico a outros (cont.)

As crianças e os adolescentes com FC querem uma “vida normal” e lutam por

minimizar as diferenças relativamente aos outros da mesma faixa etária

(Christian & D’Auria, 1999).

Importante ajudar estes

pacientes a lidarem com o

desconforto e incentivá-los a

falarem da sua doença (Oliveira

& Gaperin, 2004).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

6) Relacionamentos

� O apoio psicossocial (família e amigos) é preditor de adaptação psicológica

da criança ou adolescente com FC (Anderson, Flume & Hardy, 2000; Buss,

2000).

� A não adesão ao tratamento é maior em crianças ou adolescentes quando os

pais manifestam um comportamento preferencial do filho doente em

detrimento de irmãos saudáveis (Foster, 2001).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

6) Relacionamentos (cont.)

� Quando os pacientes não têm relações estáveis, tendem a considerar que são

incapazes de construírem uma.

� Quando os pacientes têm relações estáveis, estas são consideradas fonte de

apoio.

Pacientes de género feminino

são desencorajadas a

engravidar.

Importante ter sensibilidade às

vontades + necessidades e

cuidados.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

7) Trabalho e estudos

Pacientes referem…

dificuldades em conciliar as exigências dos tratamento s com os estudos e

trabalho. Mas também que…

a educação e o trabalho fazem parte dos seus planos mais importantes

(Bredemeier et al., 2011).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

7) Trabalho e estudos (cont.)

Importante apoiar a gestão

equilibrada entre estudos/trabalho e

compromisso com os tratamentos.

Paciente controla a

doença…

em vez da doença

controlar a sua vida.

Respeitar as limitações

físicas e necessidade de tratamentos.

Manter um sentido de vida

/ utilidade.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

8) Enfrentar a doença

Meios

eficazes

Desejo de alcançar objetivos através de mérito próprio

Otimismo / Expectativas + em relação à evolução e tratamento

Aceitação para depois ter atividades prazerosas

Regulação emocional

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

9) Significado da doença para cada um

� Apesar do sofrimento Mais maturidade e controlo sobre a doença

(Bredemeier et al., 2011).

� Mudanças psicossociais Melhor qualidade de vida (Perfeito, 2007).

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

9) Significado da doença para cada um

� Deterioração do estado clínico e proximidade da morte

Tendência para abandonar os tratamentos

Comunicação paciente + família + profissionais de saúde muito importante

(Perfeito, 2007).

� Importância do “Eu” e não só da “Doença” Construir e reforçar

objetivos e projetos

de vida.

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4. Desenvolver estratégias de gestão da doença

9) Significado da doença para cada um (cont.)

“Sei que depende de mim (referindo-se ao tratamento) e não

quero ficar mais internado” (relato de um paciente).

“O tratamento é chato, mas faço certinho porque sei que dependo

disso para sobreviver, já vira rotina” (relato de um paciente).

“Resolvi viver os 6 anos que me faltavam com muita intensidade,

e é isso que estou fazendo desde aquela época até hoje” (relato de um

paciente).

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https://www.youtube.com/watch?v=qV30ZynAJfw

65 Roses: A Cystic Fibrosis Story

(5min)

https://www.youtube.com/watch?v=4MaEFDjhgz8#

I've Got Cystic Fibrosis - Charles Barrington

(2min)

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Bibliografia

Anderson, D.L., Flume, P.A. & Hardy, K.K (2001). Psychological Functioning of AdultsWith Cystic Fibrosis. CHEST, 119(4), 1079-1084.Antoni, M. (2003). Stress management and psychoneuroinmulogy. Stectrum, 8(1), 40-51.

Bredemeier, J., Carvalho, C.F., & Gomes, W.B. (2011). A experiência de crescer com fibrose cística. Psico, 42(3), 319-327.

Buss, P.M. (2000). Promoção da saúde e qualidade de vida. Viencia & Saúde Colectiva, 5(1), 163-177.

Christian, B.J. & D’Auria (1999). Playinf for time: Adolescent perspectives of lungtransplantation for cystic fibrosis. Journal of Pediatric Health Care, 13, 120-125.

Foster, C. (2001). Treatment demands and differential treatment for patients with cysticfibrosis and their siblings: Patient, parent, and sibling accounts. Child Care HealthDevelopment, 27(4), 349-364.

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Rocha, K.B., Moreira, M.C. & Oliveira, V.Z. (2004). Adolescência em pacientes portadores de fibrose cística. Aletheia, 20, 27-36.

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Perfeito, P.B. (2007). Aspectos psicossociais do paciente adulto portador de fibrose cística. Tese de Bacharel em Psicologia. Universidade do Vale de Itajaí. Brasil.

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