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AUTISMO E INCLUSÃO ESCOLAR: o sentir na pele. Eurides Bomfim de Melo¹, Ana Karina Barreto 1. [email protected] Resumo O presente estudo tem como objetivo ampliar as experiências vivenciadas, no âmbito escolar pelos educandos autista, inclusos em sala regular de ensino, tendo como foco o ensino e a aprendizagem. Buscamos refletir e promover o fomento da inclusão escolar e social para a constituição da cidadania. Para tal, foram escolhidos educandos de duas escolas, uma da Educação infantil e outra de Ensino Fundamental, do Município do Cabo de Santo Agostinho PE. As observações foram realizadas em sala de aula regular e em Sala de Recurso Multifuncional SRM, com o foco na promoção da acessibilidade a informações e a produção de materiais pedagógicos específicos para a promoção do ensino e aprendizagem dos educandos com o Transtorno do Espectro Autista - TEA. Sendo assim, promover o envolvimento de forma cooperativa e coletiva dos profissionais que trabalham em vários seguimentos das unidades escolares (docentes, coordenadores, administrativos, infraestrutura escolar, apoio escolar, merendeira, etc.), e comunidade escolar. Concluímos que os envolvidos no projeto demonstraram curiosidade e interesse em “conhecer” as especificidades dos sujeitos autistas. E também, as estratégias pedagógicas diversificadas, desenvolvidas no âmbito escolar, para dar suporte a gestão, o acompanhamento e a avaliação do ensino e aprendizagem dos educandos, contribuindo para a minimização de barreiras atitudinais e viabilização da inclusão escolar e social, por meio das reflexões acerca da contribuição social que a convivência com as diferenças ocasionam no fomento de uma Educação para Todos. Palavras-chaves: autismo, barreiras atitudinais , inclusão escolar e social. Abstrat This study aims to expand the experiences, in schools for autistic students, included in regular school room, focusing on teaching and learning. We seek to reflect and promote the development of educational and social inclusion for the constitution of citizenship. To this end, students were chosen from two schools, one child Education and another elementary school, the city of Cabo de Santo Agostinho - PE. The observations were made in a regular classroom and Multifunctional Resource Room - SRM, with the focus on promoting access to information and the production of specific teaching materials to promote the teaching and learning of students with Autism Spectrum Disorder - TEA. Therefore, promoting the involvement of

AUTISMO E INCLUSÃO ESCOLAR: o sentir na pele. · 2018-06-19 · Educação infantil e outra de Ensino Fundamental, ... é importânte o debate sobre o papel da educação infantil

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AUTISMO E INCLUSÃO ESCOLAR: o sentir na pele.

Eurides Bomfim de Melo¹, Ana Karina Barreto

1. [email protected]

Resumo

O presente estudo tem como objetivo ampliar as experiências vivenciadas, no âmbito escolar

pelos educandos autista, inclusos em sala regular de ensino, tendo como foco o ensino e a

aprendizagem. Buscamos refletir e promover o fomento da inclusão escolar e social para a

constituição da cidadania. Para tal, foram escolhidos educandos de duas escolas, uma da

Educação infantil e outra de Ensino Fundamental, do Município do Cabo de Santo Agostinho

– PE. As observações foram realizadas em sala de aula regular e em Sala de Recurso

Multifuncional – SRM, com o foco na promoção da acessibilidade a informações e a produção

de materiais pedagógicos específicos para a promoção do ensino e aprendizagem dos educandos

com o Transtorno do Espectro Autista - TEA. Sendo assim, promover o envolvimento de forma

cooperativa e coletiva dos profissionais que trabalham em vários seguimentos das unidades

escolares (docentes, coordenadores, administrativos, infraestrutura escolar, apoio escolar,

merendeira, etc.), e comunidade escolar. Concluímos que os envolvidos no projeto

demonstraram curiosidade e interesse em “conhecer” as especificidades dos sujeitos autistas. E

também, as estratégias pedagógicas diversificadas, desenvolvidas no âmbito escolar, para dar

suporte a gestão, o acompanhamento e a avaliação do ensino e aprendizagem dos educandos,

contribuindo para a minimização de barreiras atitudinais e viabilização da inclusão escolar e

social, por meio das reflexões acerca da contribuição social que a convivência com as diferenças

ocasionam no fomento de uma Educação para Todos.

Palavras-chaves: autismo, barreiras atitudinais , inclusão escolar e social.

Abstrat

This study aims to expand the experiences, in schools for autistic students, included in regular

school room, focusing on teaching and learning. We seek to reflect and promote the

development of educational and social inclusion for the constitution of citizenship. To this end,

students were chosen from two schools, one child Education and another elementary school,

the city of Cabo de Santo Agostinho - PE. The observations were made in a regular classroom

and Multifunctional Resource Room - SRM, with the focus on promoting access to information

and the production of specific teaching materials to promote the teaching and learning of

students with Autism Spectrum Disorder - TEA. Therefore, promoting the involvement of

cooperative and collective of professionals working in various segments of school units

(teachers, engineers, administrative, school infrastructure, school support, lunch box, etc.), and

the school community. We concluded that those involved in the project showed curiosity and

interest in "knowing" the specificities of autistic subjects. Also, diversified teaching strategies,

developed in the school, to support management, monitoring and evaluation of teaching and

learning of the students, helping to minimize attitudinal barriers and facilitation of educational

and social inclusion, through reflections about the social contribution that living with

differences cause in promoting education for all.

Keywords: autism, attitudinal barriers , educational and social inclusion .

Introdução

A partir da percepção da necessidade de se levar em consideração as diversidades de habilidades

inerentes a cada indivíduo no contexto escolar, surgiram inquietações no transcorrer dos fazeres

pedagógicos na modalidade Ensino Fundamental, tanto na sala de aula regular, quanto nas

ações da SRM. E, na tentativa de encaminhar a prática pedagógica de forma eficaz e prazerosa,

configuramos esse projeto em relevância ao atendimento dos educandos 1 autistas2 inclusos em

duas unidades de ensino. Por buscarmos compreender a complexidade do processo de inclusão

escolar e contribuir efetivamente para a promoção do ensino e aprendizagem, levando em

consideração os diversos ritmos de aprendizagens e as habilidades diferenciadas dos educandos

com deficiência3 (autismo), tendo como premissa a promoção de um ambiente acolhedor,

acessível e educativo para todos. E em particular para os educandos autistas.

1 Optei por utilizar o termo “educando” ao invés de “aluno” tendo por base o pensamento freiriano que

compreende a continuidade do processo educativo no contexto do inacabamento ser humano.

2 Pessoa acometida por Transtorno Global do Desenvolvimento – Autismo, que compromete a capacidade de

comunicação, de socialização e de comportamento.

3 Pessoa com deficiência é a nomenclatura utilizada atualmente de acordo com Decreto n° 6.949 de 25 de agosto

de 2009, que promulga a Convenção das Pessoas com Deficiência e da Resolução n° 01 de 15 de outubro de 2010,

que altera os dispositivos da Resolução n° 35 de julho de 2005 da CONADE.

Nesse contexto, também percebemos que os familiares pouco ou “quase nada” conhecem a

respeito de como potencializar o processo de socialização e cognição de seus filhos autistas,

delegando à escola e, principalmente, os/as docentes a responsabilidade dessa árdua tarefa.

Mantoan 2009 preza por ações colaborativas e destaca a relevância de estabelecer redes de

saberes e de relações que se entrelaçam na reconstrução dos conhecimentos. E, em consonância

com a estudiosa, reforçamos a relevância dessas ações pedagógicas, no contexto dos educandos

com deficiência, para estabelecer um entendimento mais abrangente das habilidades e

limitações inerentes aos educandos autistas, estimulando-os a perceber e a conviver com cada

um e com todos.

Dessa forma, a problemática que nos instiga, é: como a unidade escolar pode garantir o efetivo

ensino e aprendizagem dos educandos autistas, no cumprimento de suas funções sociais e

pedagógicas?

Nesses termos, por compreendermos o processo de inclusão escolar como a base do ensino e

aprendizagem para a constituição da cidadania, elencamos como objetivo geral: ampliar as

experiências vivenciadas, no âmbito escolar pelos educandos autista, de forma cooperativa e

coletiva no fomento da inclusão escolar e social, tento como foco o ensino e aprendizagem.

E específicos: a) Conhecer e conviver com os educandos com deficiência – autismo, respeitando

as diversas habilidades e ritmos de aprendizagens; b) Estabelecer redes de saberes para

viabilizar o trabalho coletivo entre os diversos grupos de profissionais que atuam nas unidades

escolares; c) Promover a inclusão escolar por meio do respeito e da aceitação das diferenças

inerentes aos sujeitos, bem como ao acesso a informações e a legislação específica.

Dessa forma, reforçamos a crença de que o respeito às diferenças é princípio fundamental para

a superação de barreiras atitudinais4 que possam vir a “mascarar”atitudes inclusivas, na

construção de uma escola inclusiva que se mostre sensível e preze pelo respeito as diferenças,

4 De acordo com Tavares e Lima (2007), o termo “barreiras atitudinais” configura a atitude de alguém que

resulta no impedimento do outro.

ao ritmo de aprendizagem, as peculiaridades do sujeito individual e coletivo, as adaptações

curriculares, ao trabalho em equipe, etc. Sendo assim, vislumbrar um contributo social em prol

da garantia dos direito da Educação para Todos.

Fundamentação

A perspectiva de inclusão voltada para as pessoas com deficiência, inicia de forma significativa,

por volta da década de 80 com a Declaração de Cuenca, cujo tema foi o direito à educação; à

participação e à plena igualdade de oportunidades para a pessoa com deficiência, bem como, a

necessidade de relacionar o atendimento educacional adequado com as características

individuais de aprendizagem (CARVALHO, 2000).

Na década de 90 com a realização da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada

na Tailândia, em 1990, foi elaborada as diretrizes nessa linha de educação, expandindo o ideal

de Educação para Todos, e na Espanha em 1994, outro documento surge nesta mesma linha, a

Declaração Salamanca. Este último defende a promoção de uma pedagogia equilibrada,

apontando para a inclusão e vislumbrando um modelo capaz de garantir uma educação de

“qualidade” para todas as pessoas, independente de serem diferentes, como observamos:

As escolas devem acolher todas as crianças, independente de suas condições físicas,

intelectuais, emocionais, sociais, linguísticas ou outros. Devem acolher crianças com

deficiências, e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham;

crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias lingüísticas,

étnicas ou ‘culturais, e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou

marginalizadas. (Declaração de Salamanca,1994: 09).

A Declaração de Salamanca é um marco no processo de inclusão. Pois, preza pelo atendimento

de muitos grupos, anteriormente segregados. E por meio da conscientização da necessidade de

estabelecimento do um olhar mais aguçado, também requer um ambiente escolar diversificado

que se mostre favorecedor de múltiplas aprendizagens, onde o educando possa aprender a

conquistar o seu lugar social de direito. Sendo assim, a cidadania se efetiva quando se permite

instaurar uma educação pautada no respeito às peculiaridades de cada sujeito, por meio de

práticas de acessibilidade que configurem um repensar das estratégias de ensino e

aprendizagem.

A partir do reconhecimento de que é necessário conhecer para poder intervir de forma efetiva,

buscamos em nossa prática pedagógica disseminar o conhecimento a respeito do autismo, em

prol da construção de co-participações que direcione a dinamizem os fazeres pedagógicos para

a inclusão dos educandos autistas.

Conforme a OMS o autismo é considerado como uma inadequacidade no desenvolvimento e se

manifesta de maneira grave, e por toda a vida. Ou seja, é um quadro irreversível. E, acomete

um em cada 110 sujeitos, tendo maior incidência em crianças do sexo masculino.

Esse desenvolvimento inadequado é conceituado pelo Código Internacional de Doenças – CID

como Transtorno Global de Desenvolvimento5, que é um grupo de transtorno caracterizado por

alterações qualitativas no comprometimento de três grandes áreas do desenvolvimento: a

habilidade de interação social recíproca; de comunicação; e de presença de comportamentos,

interesses e atividades esteriotipadas. (Bosa e Hoher 2009).

Nesses termos, caracteriza um quadro de dificuldade de interação social, de imitação, de

brincadeiras simbólicas e recíprocas, afetando o desenvolvimento de amizades.

Recentemente a Lei nº 12.764/2012 pontua modificações quanto a nomenclatura utilizada e

apresenta o termo Transtorno do Espectro Autista, por se entender que existem variações do

autismo. Por tanto, dissociando-o do grupo de TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento.

Condição essa caracterizado pela Lei 12.764/20012, como

I - deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação

sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal

usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver

e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; II - padrões

restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por

comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais

5 De acordo com a Organização Mundial de Saúde – (OMS), o código de classificação do Autismo é CID 10

F84 – autismo infantil.

incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados;

interesses restritos e fixos. (Art. 1º, Incisos I e II).

Tendo em vista as limitações supracitadas, o sistema educacional, necessita estar atento ao

cumprimento de suas funções sociais e pedagógicas, no que diz respeito à gestão, o

acompanhamento e a avaliação do ensino e aprendizagem.

Conforme Vasconcelos e Vasconcelos 2010, o âmbito escolar, depois da família, se configura

como o primeiro espaço promotor de cultura e de convivência com a diversidade, configurando

um eixo central no processo de aprendizagem, levando em consideração o contexto social e

cultural ao qual o educando se encontra imerso.

Sendo assim, a convivência ocupa um espaço primordial no desenvolvimento pleno dos

educandos. E, diante dessa constatação, a realização de um trabalho de esclarecimento e

conscientização acerca do estabelecimento de um “olhar mais sensível” sobre o sujeito autista

se mostra relevante, “... é importânte o debate sobre o papel da educação infantil na

identificação precoce das características do autismo e na mobilização da família para o início

do processo diagnóstico”. (BOSA e HOHER, 2009. p.194).

Dessa forma, ratificamos a relevância de se manter redes de saberes que perpassem pelas etapas

de ensino, como possibilidade de ampliação de conhecimentos acerca do transtorno do espectro

autista e da continuidade do processo de ensino e aprendizagem dos educandos.

Porque é na primeira infância e na educação infantil que se pode, tanto identificar alguns

sinais/sintomas do autismo, quanto, estabelecer uma estimulação precoce com o uso de práticas

pedagógicas específicas que respeitem as diversidades de habilidades focando na superação das

dificuldades apresentadas pelo educando.

Dessa forma, mesmo que o sujeito autista não busque, mas também não evite essa interação

interpessoal e social, é importante a unidade escolar promover momentos de exploração de

atividades coletivas para que os demais educandos aprendam a conviver e a respeitar as

especificidades de cada pessoa. Ou seja, o “jeito de ser de cada um”.

Contudo, é papel desempenhado pela escola, promover momentos de debates e reflexões entre

os familiares e responsáveis dos educandos em prol da construção de pensamentos e atitudes

inclusivas, que levem em consideração a minimização de barreiras atitudinais que possam a vir

estigmatizar os educandos autistas.

Nesse contexto, a unidade escolar exerce uma função primordial no favorecimento de atitudes

e saberes, que dinamizem as aprendizagens vivenciadas, tornando-a um espaço privilegiado de

inclusão por ser reconhecida como uma organização social e um lócus educativo do saber.

Desempenhando um papel relevante na construção de relações sociais e interpessoais dos

sujeitos – conforme, afirma Borges (2001). E favorecer trocas de experiências riquíssimas na

construção da identidade do sujeito.

Tal importância é reforçada quando reconhece e faz valer a normatização criada pela

Organização das Nações Unidas – ONU, quando institui o dia 2 de Abril como o Dia Mundial

da Conscientização sobre o Autismo, visando esclarecer, informa e chamar atenção da

sociedade, em geral, sobre as possíveis causas do autismo. E da importância de ampliar o

conhecimento para o melhor entendimento a respeito da minimização das barreiras atitudinais

para a inclusão dos educandos autistas.

É função da escola, promover a superação dos desafios e obstáculos no contexto escolar, e

também fora dele, no que diz respeito a ampliação do aprendizado dos educandos. Em

atendimento as dificuldades e as inquietações sentidas, a princípio pelas docentes e ampliadas

ao corpo de profissionais das unidades escolares aqui representadas, possibilitamos momentos

de reflexão cerca do que trata a Lei nº 12.764 de 27 de dezembro de 2012, em seu Artigo 2º,

Inciso VI, delega “ a responsabilidade do poder público quanto à informação pública relativa

ao transtorno e suas implicações” , abrindo espaço para ações incentivadoras e promotoras de

amplo debate. O mesmo artigo, no Inciso VII, pontua a relevância do “incentivo à formação e

à capacitação de profissionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do

espectro autista, bem como a pais e responsáveis”. Ratificando ações que visem estabelecer

redes de saberes.

Em consonância ao regime de colaboração entre os entes federativos União, Estado e

Município, o município do Cabo de Santo Agostinho cria a Lei Orgânica nº 2.942, de 10 de

Julho de 2013. E institui a Semana Municipal de Conscientização sobre o Autismo. Tendo

como finalidade promover campanhas publicitárias, institucionais, seminários, palestras e

cursos para esclarecimentos sobre o transtorno de espectro autista.

Dessa forma, visa ampliar, debater, refletir e esclarecer a sociedade por meio da ampliação dos

conhecimentos para além dos muros da escola.

Nessa perspectiva, e almejando favorecer um contributo social, compreendemos a relevância

das trocas de experiências no contexto da sala de aula, e também fora dela, que valorizam a

diversidade de saberes e de habilidades dos educandos autistas.

De forma fomentar a formação de redes de saberes, o seio das unidades escolares. E, também

fora delas. Com o estabelecimento de parcerias com a comunidade escolar, com adaptações

curriculares para a minimização e possíveis eliminação das barreiras atitudinais e

procedimentais, respeitando e valorizando do conhecimento do sujeito individual e coletivo,

para a estimulação de suas dimensões sociais, afetivas, cognitivas, na constituição do cidadão

de direitos. E da garantia de uma Educação para Todos.

Instrumentos metodológicos

Esta pesquisa, de acordo com Marli André (1995) é de caráter qualitativo do tipo etnográfico

participativo. Em que as pesquisadoras interagem com o objeto de estudo e compreende a

descrição, a formulação de conceitos, hipóteses e a aplicabilidade delas.

- Público alvo - Educandos oriundos de duas escolas públicas municipais, CEI Charneca II

(A) de Educação Infantil e EJAL (B), de Ensino Fundamental; comunidade escolar, cujo as

atividades do projeto foram desenvolvidas.

- Duração - o estudo teve a duração de 12 meses, tendo início no segundo semestre do ano

letivo de 2014 e ampliado até o primeiro semestre de do ano letivo de 2015. Optamos por

fragmentar o ano letivo por compreendermos que, a promoção dos educandos para a série/ano

seguinte nos favoreceu subsídios para a investigação da continuidade da rede de saberes

estabelecida no semestre anterior.

- Situações Didáticas – As escolas A e B realizaram atividades informativas e pedagógicas que

envolveram a comunidade escolar, educandos e profissionais e vários seguimentos (docentes,

coordenadores, administrativos, infraestrutura escolar, apoio escolar, merendeira, pais e

responsáveis, etc.), por meio de palestras; debates e depoimentos de ex-educandos; produção e

adaptação de materiais didáticos para uso coletivo e cooperativo em sala de aula regular que

tenham educandos autistas inclusos ou não; exibição de vídeos; produção de murais; estudos

literários; uso de músicas; artes cênicas com montagem de uma breve teatralização; atividades

de leitura, escrita e consciência fonêmica com produção de diversos gêneros textuais; estudo de

legislações sobre o autismo e do Atendimento Educacional Especializado – AEE, com a

comunidade escolar e os profissionais da escola; passeatas/caminhadas com a comunidade

escolar, educandos e profissionais da escola; culminância com exposição das produções,

enfocando a construção de espaços educativos que levem em conta a diversidade de ritmos e

habilidades dos educandos autistas na promoção do ensino e aprendizagem, e no esclarecimento

a cerca da relevância do respeito as diferenças.

- Metodologia

1º momento – intervenções realizadas em salas de aula regular e de SRM, com o objetivo de

valorizar a convivência com a diversidade, respeitando as limitações e habilidades

diferenciadas inerentes aos educandos autistas. E, também, a produção e utilização de materiais

didáticos adaptados para uso coletivo e colaborativo. Por meio da realização de dinâmicas e

jogos didáticos pedagógicos.

2º momento – intervenções realizadas com os funcionários das unidades escolares e pais e/ou

responsáveis com o objetivo de informar e esclarecer, por meio de palestras, exibição de vídeos

e estudos de legislação específica da Educação Inclusiva e do AEE; esclarecimento acerca dos

direitos e deveres dos educandos e dos pais e/ou responsáveis; divulgação de materiais

didáticos pedagógicos adaptados para os educandos com transtorno do espectro autista. E, das

possíveis ações para instaurar um olhar mais sensível, no que diz respeito a estimulação e

valorização das habilidades diferenciadas inerentes aos educandos.

3º momento – culminância com exposição de produções (atividades escritas, pinturas,

desenhos, fotos, dramatização, etc.), aberta a comunidade escolar, e caminhada/passeata no

entorno das unidades escolares com a participação de todos os envolvidos no projeto. E analise

de dados e do projeto como um todo.

Avaliação

Ao longo do processo foram analisados aspectos conceituais, atitudinais e procedimentais dos

envolvidos no projeto; gestando, acompanhando e avaliando o processo de ensino e

aprendizagem dos educandos e demais participantes. Observamos, também, a assiduidade, a

participação e o interesse de todos os envolvidos em situações didáticas promovidas no espaço

escolar e fora dele.

Produto Final

O estudo teve inicio no segundo semestre do ano letivo de 2014 e termino no primeiro semestre

do ano decorrente. E teve como finalidade ampliar as experiências vivenciadas, no âmbito

escolar pelos educandos autista, de forma cooperativa e coletiva no fomento da inclusão escolar

e social, tento como foco o ensino e aprendizagem.

Tendo em vista a minimização das barreiras atitudinais e procedimentais com relação aos

educandos com deficiência, transtorno do especto autista. Com a premissa de instaurar

momentos de reflexão e ampliação de redes de saberes a respito do sujeito autista e levando em

consideração a pluralidade de vivencias no contexto escolar, e também fora dele. Prezamos pela

valorização das diversas habilidades e ritmos de aprendizagem dos educandos, no que diz

respeito as multilinguagens contempladas no currículo escolar para a modalidade de Educação

Infantil e de Ensino Fundamental. Encerrando com a culminância através da exposição de

materiais (jogos didáticos pedagógicos) produzidos e utilizados pelos educandos durante o

estudo; a realização da passeata/caminhada no entorno das unidades escolares pelo grande

grupo, instaurando um chamamento da sociedade em geral, levando a instauração de reflexões

e debates para encaminhamentos que nos direcionem a minimização de barreiras atitudinais

para possíveis superações de mitos e estigmas6 referentes aos educandos com transtorno do

espectro autista.

Considerações

A realização do estudo nos possibilitou a compreensão acerca dos desafios e obstáculos

enfrentados e a serem superados em prol de um ambiente e sociedade mais inclusiva.

Ratificando e compreendendo a relevância que a convivência entre as diferenças ocasionam na

constituição do cidadão de direitos, e de uma Educação para Todos, incentivando a tornarem-

se capazes de serem protagonista na construção de sua história.

Sendo assim, concluímos que a realização do projeto mostrou-se relevante para os participantes.

Uma vez que, ampliou os conhecimentos sobre o autismo e auxiliou a desconstrução de “mitos”,

ajudando-os a instaurar um olhar mais sensível com relação ao processo de inclusão escolar

6 Uso de rótulos negativos que “marca” e desqualifica a pessoa.

dos educandos autistas. Como também, levou-os a perceber que a inclusão escolar não se efetiva

do dia para a noite. E, nem tão pouco, com ações isoladas, mas por meio de ações cooperativas

e colaborativas, por meio da instalação de redes de saberes para o fomento de pensamentos e

atitudes inclusivas.

Nesse contexto, temos a crença quanto a minimização das barreiras comunicacionais e

atitudinais na viabilização da inclusão escolar e social. Por meio da informação, compreensão

e reflexão acerca da contribuição social que a convivência entre as diferenças ocasionam no

fomento de uma Educação para Todos e na constituição do “sujeito integral” descrito na Lei nº

9.293/96 de Diretrizes e Base da Educação.

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