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Avaliação da Gestão Ambiental a Partir da Visão dos Stakeholders: um Estudo em Empresa de Construção Civil de Goiânia ROSANGELA SARMENTO SILVA Universidade Municipal de São Caetano do Sul [email protected] JOSÉ RIBAMAR TOMAZ DA SILVA FILHO Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS [email protected] MARCOS ANTONIO GASPAR Universidade Nove de Julho [email protected] DENIS DONAIRE Universidade Municipal de São Caetano do Sul [email protected]

AvaliaçãodaGestãoAmbientalaPartirdaVisãodos Stakeholders ... · A ABNT, por meio da NBR 10004/04, faz uma classificação dos resíduos em três classes de periculosidade, conforme

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Avaliação da Gestão Ambiental a Partir da Visão dosStakeholders: um Estudo em Empresa de Construção Civil deGoiânia

 

 

ROSANGELA SARMENTO SILVAUniversidade Municipal de São Caetano do [email protected] JOSÉ RIBAMAR TOMAZ DA SILVA FILHOUniversidade Municipal de São Caetano do Sul - [email protected] MARCOS ANTONIO GASPARUniversidade Nove de [email protected] DENIS DONAIREUniversidade Municipal de São Caetano do [email protected] 

 

Avaliação da Gestão Ambiental a Partir da Visão dos Stakeholders: um Estudo em Empresa de Construção Civil de Goiânia

Resumo Este artigo teve como objetivo identificar as práticas de gestão ambiental utilizadas pelos stakeholders de uma empresa da construção civil no município de Goiânia (GO). É uma pesquisa descritiva que utilizou o método de estudo de caso. Como instrumento de coleta de dados foi elaborado um questionário estruturado com escala do tipo Likert de sete pontos, contendo assertivas relacionadas à educação ambiental e à gestão de resíduos sólidos, baseadas nos estudos de Silva et al. (2013). O objeto de estudo foi uma empresa de construção civil e os sujeitos pesquisados foram 29 funcionários administrativos que compõem parte do quadro de stakeholders internos desta empresa. Como resultados, no que se refere à educação ambiental, a empresa vem criando algumas estratégias, mas ainda há dificuldade de percepção por parte de alguns funcionários quanto a essa iniciativa da empresa. Em relação à gestão de resíduos sólidos na parte administrativa, muito pouco é feito, exceção dado aos resíduos produzidos nas obras da empresa, mas não em sua área administrativa. Palavras-chave: Gestão ambiental. Resíduos sólidos. Construção civil.

Evaluation of Environmental Management from the Point of View of Stakeholders: a Study on Construction Company of Goiânia

Abstract This paper aimed to identify environmental management practices used by stakeholders of a construction company in the city of Goiânia. This descriptive survey uses the case study method. As data collection instrument, was prepared a structured questionnaire with Likert scale of seven points with assertives related to environmental education and solid waste management, according to the studies of Silva et al. (2013). The object of study was a construction company and the internal stakeholders surveyed were 29 employees of the administrative section. As a result, with regard to environmental education, the company has been creating some strategies, but there are still difficulties on the part of some employees to this setting. In relation to solid waste management in the administrative part is still very little, which was identified in this regard were in relation to the waste produced in the works. Keywords : Environmental management. Solid waste. Civil construction.

1. INTRODUÇÃO

As influências e pressões para o desenvolvimento de soluções ambientais advêm de fontes mais dispersas e relacionais à empresa, ou seja, seus stakeholders (BANSAL; ROTH, 2000; PORTER; KRAMER, 2006). Os stakeholders são todos os atores que estão envolvidos no processo da organização, tais como: clientes, governo, colaboradores, sociedade e gestores dentre outros. As respostas às demandas dos stakeholders são variadas, evolvendo posturas reativas e proativas que acabam por influenciar não só as práticas ambientais das empresas, bem como toda a estratégia destas (CLARKSON, 1995; BERARDI; BRITO, 2013).

A concorrência, as legislações ambientais e os consumidores com consciência ambientalmente responsável têm induzido as organizações a empenharem-se na busca de uma melhor gestão ambiental. Tal fenômeno se dá em virtude do interesse em acessar novos mercados, uma vez que a responsabilidade social e ambiental das empresas tem se tornado um diferencial competitivo (DEMAJOROVIC, 1995; GUIMARÃES; DEMAJOROVIC; OLIVEIRA, 1995; BARBIERI, 2007; BERARDI; BRITO, 2013).

Face ao contexto exposto, a degradação ambiental é uma demanda contemporânea das organizações para que estas consigam aumentar sua capacidade de relacionamento com a sociedade e desenvolvam soluções para as externalidades provocadas pelo processo produtivo. A esperança de uma melhor gestão ambiental visa não só menores impactos, mas melhores práticas, novas tecnologias e ganhos econômicos conferindo assim, mudanças até no modelo de negócios das empresas (BERARDI; BRITO, 2013).

O debate acerca da gestão ambiental explicita a interdependência de fatores sociais e econômicos no intuito de utilizar de maneira racional os recursos naturais (SILVA, et al. 2013). Ao se eleger como foco de investigação o tema da gestão ambiental na parte administrativa de uma empresa de construção civil situada no município de Goiânia (GO), fez-se necessário efetuar pesquisa junto aos gerentes e colaboradores de todos os setores administrativos da empresa no intuito de verificar se há uma gestão para a disposição ou tratamento de resíduos sólidos. Desta forma, foi possível identificar a questão da educação ambiental por parte dos colaboradores pesquisados.

Este trabalho se justifica na medida em que o volume de resíduos é bastante elevado em regiões urbanas, configurando-se em um sério problema de saúde pública, haja vista a contaminação que pode ocasionar e a falta de espaço para sua disposição e/ou tratamento. Assim, optou-se por estudar uma empresa de construção civil, por serem empreendimentos que geram elevado volume de resíduos sólidos.

Atualmente a preocupação com o descarte final de resíduos aumenta na medida em que se observam os elevados níveis de consumo e de descarte na sociedade contemporânea, considerando que dois terços da população do planeta vive em áreas urbanas (STERN, 2007; SILVA, et al. 2013). Em meio aos problemas causados pela concentração populacional nos grandes centros urbanos, encontra-se a questão sobre a educação ambiental por parte dos stakeholders a respeito do descarte e a destinação dos resíduos sólidos, motivo que gerou o seguinte problema de pesquisa: Que ações uma empresa de construção civil realiza no contexto da gestão ambiental? 2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Educação Ambiental

A crescente preocupação com o meio ambiente no mercado contemporâneo não é novidade para empresas ou consumidores em qualquer parte do mundo. Tal fato fez com que muitas organizações diminuíssem suas resistências quanto às modificações e conflitos com os ambientalistas, começando assim a observar as questões ambientais e como estas poderiam

fazer parte de suas estratégias de negócios (PAVONI et al, 2006; SILVA et al. 2013). Nesse contexto, Maimon (1996, p. 72) relata que a gestão ambiental seja “o conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma organização, de forma a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente”.

O termo meio ambiente tem tido um enorme destaque na sociedade como um todo, e vem sendo veiculado em âmbitos diversos, tais como: nos meios de comunicação, na comunidade científica e pedagógica, em instituições públicas, privadas e do terceiro setor e ainda nas discussões informais entre os cidadãos, considerando-se os danos aos quais o planeta seja submetido (GIESTA, 2008). Dessa forma, surgiu o papel da educação ambiental no intuito de desenvolver novos hábitos e valores no ser humano quanto aos recursos da natureza.

A busca do desenvolvimento da educação ambiental nas organizações volta-se à indução do conhecimento referente à questões como o consumo inteligente dos recursos naturais, condições mais seguras no aspecto ambiental para os colaboradores, diminuição de infrações ambientais, orientação e destino adequado aos rejeitos resultantes dos processos industriais e, consequentemente, uma produção mais limpa (PAVONI et al., 2006).

Além disso, a educação ambiental está fortemente ligada à educação para a cidadania, a qual objetiva estimular a transformação de comportamentos, atitudes e valores individuais e coletivos, principalmente em relação à forma de consumo da sociedade (JACOBI, 2005). O Quadro 1 expõe outras definições a respeito da educação ambiental.

Fontes Conceito Conferência Intergovernamental de

Tbilisi (1977) Nesta conferência foi estabelecida uma

sólida base conceitual e metodológica no campo da Educação Ambiental

A Educação Ambiental deve desempenhar a função capital no sentido de criar consciência dos problemas que afetam o meio ambiente e os desafios a ele associados, desenvolve as habilidades necessárias, para tratar os desafios e fomentar atitudes, motivações e comprometimentos e agir de forma responsável (UNESCO).

Art. 1º da Lei nº 9.795 de abril de 1999 Lei n° 9.795/99 estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental no

Brasil

Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Rio 1992 Agenda 21- plano de ação para ser

adotado global, nacional e localmente, organizações do sistema das Nações

Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana

impacta o meio ambiente

A Educação Ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões sócias econômica, política, cultural e histórica, devendo considerar as condições e estágios de cada país, região e comunidade, sob uma perspectiva histórica. Educação Ambiental deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que a formam, com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio ambiente na satisfação material e espiritual da sociedade, no presente e no futuro.

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

Um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência critica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.

Rio + 20 Conferência das Nações Unidas sobre o

Desenvolvimento Sustentável

A Educação ambiental deve permear todos os campos do conhecimento. A escola é um espaço privilegiado de reflexão e formação de pensamentos críticos. Por meio da escola é possível conscientizar os alunos sobre a questão ambiental, ou seja, o respeito ao meio ambiente.

Quadro 1: Fontes e conceitos sobre a Educação Ambiental Fonte: adaptado de Giesta (2009).

Observa-se no quadro anterior que a educação ambiental vem sendo debatida desde de

a década de 1970. Porém, a valorização do meio ambiente se tornou mais contundente no Brasil a partir da década de 1990, com o advento da globalização, a partir do qual a Constituição Federal de 1988 criou o capítulo VI, art. 255 que trata a educação ambiental como obrigatória, sugerindo elementos importantes ao desenvolvimento de uma política nacional de resíduos sólidos (GIESTA, 2009).

2.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos

A ABNT, por meio da NBR 10004/04, faz uma classificação dos resíduos em três classes de periculosidade, conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1: Classificação dos resíduos sólidos. Fonte: ABNT/NBR 10004:2004 (2004).

Os resíduos sólidos são conhecidos popularmente como lixo, provenientes das atividades humanas. Com o aumento da população mundial nos grandes centros urbanos, automaticamente tem aumentado a quantidade de resíduos, o que vem gerando problemas ambientais e de saúde pública (PHILIPPI JR., 2005; SILVA et al., 2013). Segundo a NBR 10004:2004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2004), os resíduos sólidos são:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível (ABNT, 2004, p. 1).

Além das classes dos resíduos apresentadas na Figura1, os resíduos sólidos também

podem ser classificados quanto ao tipo de resíduo e sua origem, de acordo com a Lei Estadual do Estado de Goiás nº 14.248/2002 (GOIÁS, 2002), consoante com a Lei Federal n.º 12.305/2010 (BRASIL, 2010), que estabelece que em cada Estado e Município, deve haver uma política de gestão de resíduos sólidos, conforme ilustrado no Quadro 2.

Tipos de Resíduos

Origem

Resíduos Urbanos

Provenientes de residências, estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, da varrição e da limpeza de vias, logradouros públicos e sistemas de drenagem urbana e os entulhos da construção civil e similar.

Resíduos Industriais

Provenientes de atividades de pesquisa e de transformação de matérias-primas e substâncias orgânicas ou inorgânicas em novos produtos, por processos específicos, bem como os provenientes das atividades de mineração e os mencionados no inciso anterior, quando gerados em grande quantidade, conforme especificado em regulamento.

Resíduos dos serviços de Transportes

Decorrentes da atividade de transporte de cargas e os provenientes de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários, postos de fronteira e estruturas similares.

Resíduos de serviços de saúde

Provenientes de atividades de natureza médico-assistencial, de centros de pesquisa, de desenvolvimento ou experimentação na área de saúde, que requerem condições especiais quanto o acondicionamento, coleta, transporte e disposição final, por apresentarem periculosidade real ou potencial à saúde humana, animal e ao meio ambiente.

Resíduos especiais

Provenientes do meio urbano e rural que, pelo seu volume ou por suas propriedades intrínsecas, exigem sistemas especiais para acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final, de forma a evitar danos ao meio ambiente.

Quadro 2: Tipos e origens de resíduos sólidos conforme Lei Estadual de Goiânia Fonte: adaptado da Lei nº 14.248/2002.

No entendimento de Cruseiro (2012), em relação aos serviços de coleta, conforme citado no Quadro 2, a classificação é realizada de acordo com a natureza física do resíduo, podendo ser divididas em quatro categorias:

1. Resíduos úmidos: restos de alimentos, aparas e podas de jardins e árvores, embalagens sujas, guardanapos e papel higiênico;

2. Resíduos secos: embalagens em geral, plásticos, metais, vidros e papéis. Em se tratando de empresas e serviços de reciclagem, a separação é feita de acordo com a composição química dos materiais.

3. Resíduos orgânicos: proveniente das atividades humanas, de origem animal ou vegetal, sendo facilmente degradados pela natureza, podendo ser reaproveitados por meio de compostagem;

4. Resíduos inorgânicos: resultam de produtos industrializados que, por serem de difícil decomposição pela natureza, alguns podem ser reciclados pelo homem e outros não, em função da natureza da destinação a que são submetidos.

2.3 Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

Segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CETESB (2009), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista apud Silva et al. (2013), o sistema de gerenciamento de resíduos sólidos é também conhecido como sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos. Os autores asseveram ainda que este sistema é dividido em três etapas, contando com a participação da sociedade civil, das organizações e dos coletores, para que funcione de maneira eficiente. Tem como premissa o princípio dos três ‘R’: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Swarbrooke (2000) deixa claro em sua teoria que as empresas:

Estão procurando, cada vez mais, tornar suas atividades ambientalmente sustentáveis mediante medidas de redução de poluição e de refugo; iniciativas de conservação de energia; uso de materiais recicláveis; e procedimentos aperfeiçoados de recrutamento e treinamento (SWARBROOKE, 2000, p. 10).

Silva et al. (2013, p. 257) ilustram na Figura 2 o fluxo de responsabilidades

ambientais em relação ao ciclo do sistema de gerenciamento de resíduos.

Figura 2: Ciclo do sistema de gerenciamento de resíduos sólidos Fonte: adaptado da Lei 12.305 da PNRS apud Silva et al (2013, p.257).

A Figura 2 deixa claro que o gerenciamento de resíduos sólidos depende dos agentes

envolvidos no processo (stakeholders). Dessa forma, cada um desses agentes tem suas responsabilidades em relação aos resíduos (SILVA et al., 2013). A NBR 10004/04 (ABNT, 2004) discorre que os resíduos perigosos, por suas características, podem causar danos à saúde humana e ao meio ambiente. Compreende-se então que este tipo de resíduo deve ser separado dos demais e ter destinação diferenciada, pois contém agentes químicos, físico-químicos e biológicos em sua composição. Silva et al (2013) afirma ainda que “os resíduos sólidos urbanos (separados ou não pelos stakeholders) são coletados pelo serviço público municipal ou empresas particulares, quando for o caso. Quando segregados, os resíduos podem ter dois destinos: a reciclagem ou destinação a aterro sanitário, ou ao processamento de incineração (SILVA et al., 2013, p. 257).

É interessante reiterar que a Cetesb (2009) apud Silva et al. (2013), relata que a incineração diminui o lixo 70% em volume e 80% em massa, aproximadamente; como também destrói materiais orgânicos e, consequentemente, gera o gás carbônico (CO2) e água; reduzindo ainda os resíduos perigosos, tais como metais pesados que poderão, posteriormente, ter a destinação adequada; produz poucos resíduos, que podem ser alocados em aterros e podem ainda gerar energia, por meio do calor liberado na queima.

No que se refere à recuperação de resíduos, destacam-se a reciclagem e a compostagem. Em relação à reciclagem dos materiais, antecipadamente separados, é possível serem divididos conforme a matéria-prima de fabricação. Além de reduzir o volume de resíduos, a reciclagem tende a reprocessar a matéria-prima utilizada, diminuindo assim a necessidade de exploração de recursos naturais e acarretando outros benefícios como a redução da poluição, economia de energia e de água (CUNHA; CAIXETA FILHO, 2002; SILVA et al., 2013).

Na compostagem, método que utiliza a decomposição de resíduos orgânicos, forma-se uma mistura com terra e outros componentes para que se obtenha um composto orgânico denominado húmus, utilizado na agricultura para a fertilização do solo (SILVA et al., 2013). Outro fato interessante, que corrobora com o contexto descrito, diz respeito aos conceitos e classificação quanto aos tipos de aterros apresentados pela política nacional de resíduos sólidos (PNRS), conforme citado por Silva et al. (2013). Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, em sua Lei 12.305/2010, a destinação final dos resíduos, sejam eles reciclados ou processados, pode ser feita de diversas formas, conforme evidenciado no Quadro 3.

Tipo de Aterro Conceito

Aterro controlado

É o local onde o resíduo, depois de depositado, recebe uma cobertura de solo ou material inerte, de acordo com a norma NBR 8849/85. Mesmo que haja a preocupação em compactá-lo, a destinação acaba sendo similar a do aterro comum, acarretando na poluição do solo, do ar e da água.

Aterro sanitário

Neste local os resíduos são depositados e compactados, sendo posteriormente cobertos com argila e materiais inertes. São resultado de projetos de engenharia, que obedecem aos critérios constantes das NBR 8419/92 e NBR 13896/97, apresentando monitoramento e controle dos resíduos depositados, com impermeabilização do fundo do terreno, sistema de drenagem de chorume e gases, além do controle dos corpos d’água do entorno.

Aterro industrial

É destinado ao depósito dos resíduos industriais, principalmente os resíduos perigosos, Classe I, de acordo com as NBR 8418/83 e NBR 10157/87, consistindo na técnica de confinar os resíduos industriais na menor área e volume possíveis, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho ou intervalos menores.

Quadro 3: Destinação final dos resíduos conforme (PNRS). Fonte: adaptado de Silva et al. (2013) a partir da Lei 12.305/2010 PNRS.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Segundo Gil (2008), a metodologia da pesquisa pode ser compreendida como a maneira com que o estudo é realizado, acompanhado da descrição dos fundamentos metodológicos que a embasaram. Levando-se em conta a natureza metodológica do presente estudo, esta pesquisa é caracterizada como descritiva, por buscar descrever um fenômeno específico.

A empresa foco desse estudo é do segmento de construção civil situada no município de Goiânia (GO). O nome da empresa não foi divulgado em virtude de sua diretoria ter informado que seria uma das condições para se aplicar a pesquisa de campo, até porque o pesquisador faz parte do corpo funcional da empresa. Por este motivo, utilizou-se como delineamento o método de estudo de caso. O delineamento de estudo de caso se mostrou mais adequado aos propósitos da pesquisa por analisar uma empresa dentro de seu contexto de responsabilidade ambiental.

Desta forma, o estudo de caso, tal como foi proposto permitiu, conforme indica Yin (2001), a preservação das características significativas dos eventos da vida real, tais como processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas e a maturação de setores.

O questionário estruturado foi composto por 35 questões que se dividem em três seções. A primeira seção retrata a caracterização dos respondentes, com as seguintes abordagens: cargo atual do funcionário; tempo no cargo; tempo na empresa; gênero e grau de instrução. A segunda seção trata das questões referentes às políticas de gestão de resíduos sólidos, enquanto que a terceira seção contém perguntas acerca da educação ambiental.

O Quadro 4 mostra as assertivas do questionário segregadas em gestão de resíduos sólidos e educação ambiental, tendo sido embasadas na pesquisa efetuada por Silva et al., (2013). Ressalta-se que para os respondentes, as assertivas foram misturadas e estavam acompanhadas de escala do tipo Likert de sete pontos: DT (Descordo totalmente); DM (Discordo muito); DP (Discordo pouco); NCD (Nem concordo nem disco); CP (Concordo pouco); CM (Concordo muito); CT (Concordo totalmente).

Quadro 4: Perguntas do questionário de pesquisa Fonte: adaptado de Silva, et al (2013).

Para que se pudesse identificar a quantidade de funcionários da empresa objeto da pesquisa, foi efetuado levantamento de dados secundários junto à seção de Recursos Humanos da empresa foco do estudo, identificando-se 29 funcionários atuantes na esfera administrativa da empresa analisada. A pesquisa incluiu também observações feitas no momento de aplicação do instrumento de pesquisa, que ocorreu entre os meses de março e abril de 2014.

A pesquisa de campo buscou analisar as variáveis indicadas sobre gestão de resíduos sólidos e educação ambiental por parte dos funcionários da parte administrativa dessa empresa, no intuito de verificar se a sustentabilidade está inserida na estratégia corporativa e as ações praticadas na empresa quanto a essas duas temáticas de pesquisa. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a coleta, os dados foram digitados e tabulados em planilha MSExcel. Posteriormente realizou-se a análise dos dados por meio do SPSS for Windows (Statistic Package for Social Science). Com o auxílio das ferramentas desse aplicativo foi possível usar somente análises de estatística descritiva em virtude da totalidade de respondentes ser de somente 29 funcionários atuantes nas áreas administrativas da empresa enfocada no estudo.

4.1 Caracterização dos Respondentes

A estrutura organizacional da empresa foco desse estudo, em sua filial Goiânia, se divide em vinte cargos, que vai desde cargos mais estratégicos, aos cargos menos elevados. Dentre esses cargos, dois foram mais evidenciados, o auxiliar de repasse, com cinco funcionários alocados, e o cargo de atendimento ao cliente, com quatro funcionários alocados. Posteriormente os cargos de comprador técnico e auxiliar de marketing contam com dois funcionários. Os demais cargos têm somente um funcionário.

Em relação ao tempo no cargo e na empresa, observa-se na Tabela 1 que a média de tempo no cargo ficou em 29,5 meses (em torno de dois anos e cinco meses). Já quanto à média do tempo na empresa, obteve-se 36,5 meses, ou seja, em torno de três anos e quatro meses de atuação na empresa analisada.

Tabela 1: Caracterização dos respondentes. Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa (2014).

A Tabela 1 também demonstra que o funcionário com mais tempo de empresa tem 221 meses, totalizando dezoito anos e meio, seguido de 147 meses (12 anos e dois meses), e 163 meses (13 anos e meio). O que ficou evidente nessa caracterização, é que não há um planejamento de carreira, pois todos os funcionários estão o mesmo tempo no cargo quanto na empresa com exceção do gerente de produtos, gerente de filial e coordenador de compras. Quanto ao gênero, 52% são do sexo feminino e 48% do sexo masculino.

4.2 Gestão de Resíduos Sólidos

O Quadro 5 expõe as assertivas no que se refere à gestão de resíduos sólidos. Dessa forma, relativamente aos dados ambientais, uma das assertivas propunha que os respondentes

Funcionário Cargo na Empresa Tempo No cargo em mese s Tempo na empresa em meses Gênero Grau de Instrução

1 Comprador Técnico 16 16 M Superior

2 Comprador Técnico 16 16 M Superior

3 Advogado 27 27 F Pós graduação

4 Coordenador Administrativo 55 55 F Superior

5 Auxiliar Administrativo 13 13 M Ensino médio

6 Arquiteto 40 40 F Superior

7 Auxiliar de compras 30 30 F Ensino médio

8 Comprador Junior 6 6 M Ensino médio

9 Atendimento ao cliente 13 13 F Ensino médio

10 Atendimento ao cliente 13 13 F Ensino médio

11 Atendimento ao cliente 13 13 F Superior

12 Atendimento ao cliente 13 13 F Superior

13 Auxiliar de repasse 28 28 F Superior

14 Auxiliar de repasse 20 20 M Superior

15 Auxiliar de repasse 20 20 M Superior

16 Auxiliar de repasse 20 20 M Superior

17 Auxiliar de repasse 7 7 F Superior

18 Auxiliar de repasse 7 7 F Superior

19 Coordenador de repasse 20 20 M Superior

20 Ofiice Boy 45 45 M Fundamental

21 Engenheiro 4 4 M Superior

22 Coordenador de engenharia 60 60 M Pós graduação

23 Coordenador de compras 84 163 F Superior

24 Recepcionista 2 2 F Superior

25 Auxiliar de marketing 14 14 F Pós graduação

26 Auxiliar de marketing 20 20 M Superior

27 Auxiliar Contábil 5 5 M Superior

28 Gerente de Filial 84 147 M Superior

29 Gerente de produtos 156 221 M Superior

29,49 36,5

informassem se a empresa se beneficia com a reciclagem do lixo. Assim, 20% informaram que concordam muito e 40% disseram que concordam totalmente. Não obstante, 40% dos funcionários não souberam informar se a empresa se beneficia da reciclagem do lixo, deixando claro que esse benefício não é conhecido por parte significativa dos funcionários.

O benefício da reciclagem está relacionado aos resíduos das obras, e não da parte administrativa da empresa. Neste caso, a empresa necessita estar em conformidade com a PNRS 12.205/2010, pois no setor de construção civil quando não é dada a destinação final adequada aos resíduos (também chamados de entulho), eles acabam por causar impactos ambientais. A Tabela 2 expõe os principais resultados auferidos acerca da gestão de resíduos sólidos na área administrativa da empresa foco da pesquisa. Assunto Questões Abordadas 1

DT 2

DM 3

DP 4

NCD 5

CP 6

CM 7

CT

Gestão de

Resíduos Sólidos

A empresa se beneficia com a reciclagem do lixo 0% 10% 15% 5% 10% 20% 40%

A empresa dá algum destino para equipamentos eletrônicos quebrados

100% 0 0 0 0 0 0

A empresa possui sistema de separação de lixo (coleta seletiva) nos corredores

10% 10% 10% 30% 40% 0 0

Na rua em que está localizada a empresa há coleta seletiva de lixo pela prefeitura

100% 0 0 0 0 0 0

A empresa possui sistema de separação de lixo (coleta seletiva) nos departamentos

20% 10% 15% 55% 0 0 0

A empresa utiliza algum tipo de material reciclado 0 0 0 0 0 0 100%

A empresa tem parceria com associações de reciclagem

0 0 0 0 0 0 100%

A empresa faz transporte do lixo reciclável para outro local

100% 0 0 0 0 0 0

A empresa reutiliza o papel usado para rascunho 5% 10% 12% 13% 15% 25% 20%

A empresa possui sensor de presença nas áreas comuns e departamentos

100% 0 0 0 0 0 0

A coleta seletiva é realizada por meio de cestos informativos (vidros – verdes papéis - azul, plásticos - vermelho e metais – amarelo)

7% 3% 20% 20% 25% 15% 10%

A empresa dá algum destino para as lâmpadas fluorescentes queimadas

100% 0 0 0 0 0 0

Nos departamentos da empresa há informativo para os funcionários em reutilizar o verso do papel

100% 0 0 0 0 0 0

A empresa dá algum destino para as pilhas e baterias usadas

100% 0 0 0 0 0 0

Nos departamentos da empresa há informativo para os funcionários utilizarem seu próprio copo para tomar água e não usar o descartável

100% 0 0 0 0 0 0

Tabela 2: Resultados das assertivas sobre gestão de resíduos sólidos Legenda: DT (Descordo totalmente); DM (Discordo muito); DP (Discordo pouco); NCD (Nem concordo nem disco); CP (Concordo pouco); CM (Concordo muito); CT (Concordo totalmente). Fonte: elaborado pelos autores.

No que se refere ao destino dos equipamentos eletrônicos quebrados na empresa, não

há destinação para os mesmos, pois 100% dos respondentes informaram que discordam totalmente. Já quanto à separação do lixo (coleta seletiva) na empresa, 30% não souberam informar corretamente (nem concordo, nem discordo) e 40% concordam pouco. Como foi realizada também a observação por parte do pesquisador, verificou-se que os corredores que dão acesso à diretoria e à recepção têm coleta seletiva, não obstante a baixa percepção dos pesquisados a respeito. Talvez esse deve ter sido um dos motivos das respostas se concentrarem no meio termo.

Em relação à coleta seletiva na rua em que está instalada a parte administrativa da empresa, 100% dos respondentes não souberam informar se há coleta seletiva por parte da Prefeitura Municipal de Goiânia. Por este motivo, verificou-se junto à Prefeitura tal fato, obtendo-se como resposta que não há este tipo de serviço no bairro em que a empresa está instalada.

Quanto à assertiva sobre coleta seletiva nos departamentos, 55% dos respondentes informaram nem concordo e nem discordo. Este resultado condiz com a assertiva da coleta seletiva nos corredores da empresa, haja vista que os pesquisadores fizeram observação in loco e somente há coleta seletiva nos departamentos da diretoria e recepção, o que pode ter influenciado o resultado de 55%.

Foi argumentado também se a empresa utiliza algum tipo de material reciclado, sendo que 100% dos respondentes informaram que concordam totalmente. Esse resultado refere-se ao papel de impressão, pois a empresa utiliza somente papel reciclável. Também foi argumentado a respeito das parcerias com associações de reciclagem, e 100% dos entrevistados concordou totalmente.

Essas parcerias estão relacionadas às associações de reciclagem da construção civil, haja vista que a empresa necessita seguir a PNRS 12.205/2010, bem como a Lei nº 14.248/2002 do Estado de Goiás, que argumenta que os resíduos industriais provenientes de atividades de pesquisa e de transformação de matérias-primas e substâncias orgânicas ou inorgânicas em novos produtos devem ser adequadamente depositados, conforme a combinação dessa duas legislações.

Sobre o transporte do lixo reciclável para outro local, 100% dos respondentes informaram que discordam totalmente. Quanto ao resíduo gerado na administração da empresa, esta não faz nenhum transporte. Porém, os resíduos gerados nas obras tem destinação adequada, pois a empresa tem que seguir a PNRS 12.205/2010 e a lei estadual nº 14.248/2002.

Sobre a reutilização de papel usado como rascunho, houve diversidade de respostas, pois 5% (discordam totalmente), 10% (discordam muito), 12% (discordam pouco), 13% (nem concordam e nem discordam) 15% (concordam pouco), 25% (concordam muito) e 20% (concordam totalmente). Este resultado é bem interessante, pois a empresa não cobra dos funcionários a reutilização de papel, sendo esse ato individual vai da conscientização de cada funcionário.

Quanto ao sensor de presença nas áreas comuns e departamentos, 100% dos sujeitos questionados informaram que não há tal prática na empresa. Já a coleta seletiva por meio de cestos informativos apresentou um meio termo, pois 20% (discordam pouco), 20% (nem concordam e nem discordam) e 25% (concordam pouco). Tal resultado condiz com as assertivas anteriores acerca da coleta seletiva nos corredores, pois nem todos os departamentos contam com esses informativos. Nas assertivas destino para as lâmpadas fluorescentes queimadas, informativos para reutilização do verso do papel, destino para as pilhas e baterias usadas e utilização de seu próprio copo e não utilização de descartável, observou-se que 100% dos respondentes (discordam totalmente). 4.3 Educação Ambiental

A Tabela 3 ilustrada os resultados acerca da educação ambiental abordada neste estudo na empresa enfocada na pesquisa de campo. Foi argumentada a importância da sustentabilidade, sendo que 55% dos funcionários dão certa importância, pois disseram que discordam totalmente. Ou seja, apesar de ser 55% que discorda, há certa representatividade da noção de sustentabilidade comungada pelos funcionários administrativos da empresa analisada.

Assunto Questões Abordadas 1 DT

2 DM 3 DP 4 NCD

5 CP 6 CM 7 CT

Educa-ção

Ambien-tal

Você não se importa com a questão da sustentabilidade

55% 20% 15% 5% 0 0 0

Na empresa pouco valor é dado pela administração superior à sustentabilidade

70% 20% 10% 0 0 0 0

Tenho todo apoio dos meus superiores na implantação das práticas de sustentabilidade

0 0 0 10% 15% 20% 55%

A sustentabilidade ambiental é uma jogada de marketing

5% 8% 12% 25% 10% 30% 10%

Os funcionários não colaboram com a gestão ambiental da empresa

15% 10% 12% 50% 13% 0 0

A empresa deu curso ou palestra de sustentabilidade para os funcionários

0 0 0 0 0 0 100%

É preciso criar consciência de sustentabilidade entre os funcionários

0 0 0 0 0 0 100%

A empresa realiza conscientização dos funcionários para a sustentabilidade

0 0 0 0 0 0 100%

Há alguma dificuldade dos funcionários para separar o lixo

0 0 0 0 0 0 100%

Quando se separa o lixo na empresa, no final acaba se juntando tudo para jogar fora

0 0 0 0 0 0 100%

Em termos sustentabilidade, a teoria na prática é outra, ou seja, a prática não se segue o discurso

0 0 0 0 0 20% 80%

A sustentabilidade é ferramenta para atrair mais clientes e ter mais lucro

0 0 0 0 10% 15% 75%

O maior empecilho à implantação de política de sustentabilidade é a falta de educação formal das pessoas (gestores e funcionários)

0 0 0 0 0 0 100%

A empresa realiza treinamento dos funcionários para a sustentabilidade

0 0 0 0 0 20% 80%

A empresa possui uma política definida de sustentabilidade

0 10% 20% 70% 0 0 0

Tabela 3: Resultados das assertivas sobre educação ambiental Legenda: DT (Descordo totalmente); DM (Discordo muito); DP (Discordo pouco); NCD (Nem concordo nem disco); CP (Concordo pouco); CM (Concordo muito); CT (Concordo totalmente). Forte: elaborado pelos autores.

Quanto ao valor dado por parte da Alta Administração à sustentabilidade, 70% dos respondentes discordam totalmente. Este resultado corrobora com os resultados anteriores a respeito da coleta seletiva nos corredores e em alguns departamentos, como também quanto à utilização de papel reciclável, ou seja, que a empresa faz ações voltadas para a sustentabilidade.

Foi argumentado se há apoio da Alta Administração quanto às práticas de sustentabilidade, sendo que 55% disseram que concordam totalmente e 20% concordam muito. Esses resultados confirmam a teoria formulada por Pavoni et al. (2006), ao afirmarem que a educação ambiental nas organizações deve ser induzida nos funcionários pela Administração quanto ao conhecimento do consumo inteligente dos recursos naturais e condições mais seguras no aspecto ambiental, diminuição de infrações ambientais, orientação e destino adequado aos rejeitos resultantes dos processos industriais e, consequentemente, uma produção mais limpa.

Referente ao fato de a sustentabilidade ser uma jogada de marketing da empresa, houve uma heterogeneidade nas respostas: 5% (discordam totalmente), 8% (discordam muito), 12% (discordam pouco), 25% (nem concordam e nem discordam) 10%, (concordam

pouco), 30% (concordam muito) e 10% (concordam totalmente). Estes resultados difusos contrapõem-se à teoria proposta por Maimon, (1996), ao relatar que a gestão ambiental seja um conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma organização, de forma a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente.

Em relação à colaboração por parte dos funcionários sobre a gestão ambiental da empresa, houve um meio termo, pois 50% informaram que nem concordam e nem discordam. Por outro lado, ao perguntar se a empresa disponibiliza cursos e palestras sobre sustentabilidade para os funcionários, se é necessário criar uma conscientização de sustentabilidade e se a empresa conscientiza os funcionários no que se refere à sustentabilidade, 100% dos respondentes concordaram totalmente.

Tais resultados confirmam a teoria proposta por Jacobi (2005), ao discorrer que a educação ambiental está inteiramente ligada à educação para a cidadania, a qual objetiva estimular a transformação de comportamentos, atitudes e valores individuais e coletivos, principalmente em relação à forma de consumo da sociedade.

Mesmo a empresa conscientizando seus funcionários sobre a importância da sustentabilidade, ainda há certa dificuldade por parte destes em separar o lixo, pois 100% concordam totalmente. Este resultado acaba confirmando os 80% de concordância ao relatar se a teoria da sustentabilidade propagada pela empresa na prática é outra, ou seja, a prática não se segue o discurso corporativo.

Ao relatar para os funcionários se a sustentabilidade é uma ferramenta para atrair mais clientes e obter mais lucro, 75% concordaram totalmente, o que vai ao encontro das ideias de Pavoni et al. (2006) e Silva et al. (2013), que asseveram que muitas as organizações, ao diminuírem suas resistências às modificações em relação ao meio ambiente, acabam se incorporando à estratégia de negócios da empresa.

No que se refere ao fato da ocorrência de empecilhos à implantação da política de sustentabilidade é a falta de educação formal das pessoas (gestores e funcionários), 100% dos pesquisados concordaram totalmente. Estes resultados corroboram a teoria dos stakeholders quanto às posturas reativas e proativas dos atores envolvidos no processo organizacional acabarem por influenciar não só as práticas ambientais das empresas, como a estratégia desta (CLARKSON, 1995; BERARDI; BRITO, 2013).

Quanto ao treinamento dos funcionários sobre questões ligadas à sustentabilidade, 80% deles concordaram totalmente. Já em relação ao fato de a empresa possuir uma política definida de sustentabilidade, 70% dos respondentes nem concordam e nem discordam. Apesar de a política de sustentabilidade não estar bem definida na organização, a empresa tem criado estratégias voltadas a essa configuração, tais como treinamentos e palestras.

Segundo Silva et al. (2013), os resultados das estratégias ambientais somente são reconhecidos por parte dos stakeholders quando identificam redução de custos. Os autores argumentam ainda que estes resultados muita das vezes não são imediatistas, somente com o passar do tempo acabam por ser melhor assimilados pelos envolvidos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da questão problema “Que ações uma empresa de construção civil realiza no contexto da gestão ambiental?”, bem como do objetivo traçados para respondê-la, procedeu-se a pesquisa teórico-empírica apresentada. A afirmação de Swarbrooke (2000, p. 10), de que as empresas “estão procurando, cada vez mais, tornar suas atividades mais sustentáveis mediante medidas de redução de poluição e de refugo; iniciativas de conservação de energia; uso de materiais recicláveis; e procedimentos aperfeiçoados de recrutamento e treinamento”, em parte foi identificada neste estudo de caso, notadamente quanto a ações voltadas à educação ambiental e ao uso de materiais recicláveis.

Os resultados desta pesquisa também corroboram a pesquisa de Silva et al. (2013), pois se observou-se que há ações de gestão ambiental na empresa foco desse estudo. Dentre essas ações, é possível citar palestras, uso de papel reciclável, como também a adequação da empresa às diretrizes da PNRS 12.205/2010 e da lei estadual nº 14.248/2002.

Mesmo a empresa contando com inciativas de educação ambiental, ainda há certa dificuldade por parte dos funcionários a respeito da conscientização ambiental. Porém, com base na análise dos dados, observou-se que, de modo geral, há preocupação com o tratamento dos resíduos sólidos na empresa pesquisada, uma vez que foram observados recipientes para a coleta seletiva em alguns departamentos da área administrativa.

Em relação às lâmpadas fluorescentes usadas, pilhas e demais equipamentos eletrônicos, a empresa ainda não faz armazenagem adequada, estando em desacordo com a PNRS 12.205/2010 e a lei estadual nº 14.248/2002, pois essas duas legislações informam que ao se obter um volume adequado destes produtos, faz-se necessário enviá-los à empresa específica de reciclagem. A empresa segue essas duas legislações relativamente aos resíduos das obras construídas, mas não em relação às suas dependências administrativas.

Como limitadores desta pesquisa, pode-se mencionar o estudo de caso único efetuado, que não permite generalizações dos resultados auferidos na pesquisa de campo, bem como o recorte transversal no tempo da coleta de dados na pesquisa de campo, o que capturou uma situação específica em determinando momento.

Como sugestão de pesquisas futuras, indicam-se estudos voltados à empresas de construção civil de diferentes portes, locadas em diferentes localidades de modo a capturar as práticas desenvolvidas por elas quanto ao atendimento da PNRS 12.205/2010 e de leis estaduais específicas, de acordo com a localização da empresa. Outros fatores que não foram pesquisados neste estudo voltam-se ao consumo de energia e água, o que poderia ser prospectado por pesquisas futuras, uma vez que estes dois elementos fazem parte da gestão ambiental.

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