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  • 7/30/2019 AvaliacaoDor

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    Avaliao do paciente com dor crnicaDra Marta Imamura, Dra Prola Grimberg Plapler, Dra Helena Hideko Seguti

    Kaziyama, Prof Dr Marcelo Riberto

    Desde 2003, a Comisso Conjunta de Acreditao das Organizaes de

    Cuidados de Sade reconhece a dor como o quinto sinal vital,

    juntamente com a temperatura, a respirao, o pulso e a presso

    arterial (Leo et al., 2003).A Associao Internacional para o Estudo da Dor (IASP) define a dor

    como uma experincia sensorial e emocional desagradvel que est

    associada ou descrita em termos de leses teciduais (Merskey,Bogbuk, 1994). Tanto a experincia sensorial como a emocional so

    desagradveis e representam a imagem simblica de uma leso tecidual

    que deve ser reparada.

    Quando a dor aguda, desempenha papel biolgico

    importante, como sinal de alerta para a defesa do indivduo, determinando

    respostas motoras que previnem a piora da leso ou favorecem a sua cura,

    como, por exemplo, a proteo de um membro machucado. H uma

    correlao direta entre o estmulo nociceptivo e a intensidade da queixa

    dolorosa, ou seja, quando removida a causa da leso, ocorre a reduo do

    sintoma.J a dor crnica definida como a que persiste alm do perodo

    habitual de resoluo da leso. Em virtude da prolongada durao, geramente

    incapacitante e pode gerar sofrimento acentuado. Pode estar relacionada a

    mudanas neurofisiolgicas do processamento do estmulo doloroso, a erros

    de diagnstico e a alguns comportamentos relacionados dor. Na dor crnica

    no h, necessariamente, proporcionalidade direta entre o estmulo

    nociceptivo que causou a leso e a intensidade da manifestao dolorosa.

    Nesta condio, o sistema nervoso perifrico e o central encontram-se em

    hiperatividade. Desde modo, alm do estmulo doloroso nociceptivo, h

    na dor crnica os aspectos do sofrimento e do comportamento doloroso,

    que se acentuam frente a problemas de relacionamento, emocionais ou sociais.

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    A determinao do tipo de dor muito importante, pois as estratgias

    teraputicas da dor aguda e da dor causada pelo cncer, por exemplo, so

    bastante diferentes da dor crnica originada por doenas benignas.Devemos determinar, portanto, se a dor aguda ou crnica, e quando

    crnica, se resultado de uma leso orgnica (por exemplo, cncer) ou por

    uma alterao funcional (por exemplo, dor musculoesqueltica).Existem quatro mecanismos fisiopatolgicos distintos para a dor

    crnica, independente dos fatores etiolgicos: Dor pelo aumento da nocicepo: traumatismos, infeco,necrose, infeco, tumores Dor por reduo da ao do sistema supressor da dor:qualquer leso na via aferente sensitiva dolorosa, desde o

    nociceptor at o crtex somato-sensitivo: amputaes, leso no

    nervo perifrico pelo traumatismo, leso na medula espinal,

    acidente vascular no tlamo Os dois mecanismos prvios ao mesmo tempo Nenhum dos dois mecanismos prvios: dor psicognica

    So exemplos de condies clnicas que podem evoluir com dor crnica

    do tipo neuroptico (dor iniciada ou causada por leso primria ou disfuno do

    sistema nervoso): amputados, doentes com seqela de acidente

    vascular enceflico (AVE), leso medular, leso nervosa perifrica. Doentes

    com hansenase podem ser tomados como exemplo. Eles podem apresentar

    hipoestesia (diminuio da sensibilidade aos estmulos especficos) ou

    anestesia (ausncia de todos os tipos de sensibilidade) e podem ter dor

    neuroptica crnica incapacitante. As principais caractersticas da dor

    neuroptica so o tipo de dor em queimor, choque, latejamento ou paroxismos

    de dor, que ocorrem em locais com alteraes da sensibilidade. As mais

    comuns so a alodnea (sensao de dor como resposta a estmulos que em

    princpio no deveriam ger-la.), a hiperalgesia (sensibilidade exagerada

    dor) e a hiperpatia (percepo exagerada a estmulos, especialmente os

    repetidos, que so sentidos como dolorosos ou desagradveis).

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    Na dor crnica incapacitante, a avaliao mdica deve incluir o exame

    fsico geral e os exames dos aparelhos neurolgico e musculoesqueltico.

    Inclui ainda os resultados laboratoriais, radiogrficos e os funcionais. A

    avaliao psicolgica dos doentes permite a deteco da depresso, da

    ansiedade e da hipocondrase. Essas tarefas so realizadas mais facilmente

    dentro de um programa multidisciplinar / interdisciplinar* de dor,

    particularmente para aqueles pacientes que j recorreram a todos os recursos

    de atendimento de sade.

    * Multidisciplinaridade: a multidisciplinaridade na medicina ocorre com a

    formao de equipes variadas para o tratamento do paciente. comum, inclusive, a

    insero de profissionais que no sejam mdicos, como nutricionistas, fisioterapeutas,

    psiclogos e fonoaudilogos. O trabalho em equipes multiprofissionais mais

    freqente no tratamento de doenas metablicas, como obesidade e diabetes,

    osteomusculares e imunolgicas, hipertenso arterial, cardiopatias em geral, cncer e

    disfagias. No entanto, ela deve ser considerada em qualquer tipo de doena.

    O procedimento interdisciplinar reflete uma preocupao maior com a sade

    integral do indivduo e resulta num tratamento mais eficaz. Por mais que um

    especialista entenda de outras reas, ele nunca ser eficiente em todas elas. Com o

    trabalho em equipe, cada um fica responsvel por uma parte do tratamento. Os

    cuidados com o paciente so mais intensivos e, conseqentemente, os resultados so

    mais rpidos. Em alguns casos, a legislao mdica exige, inclusive, a atuao

    multiprofissional, como ocorre na nutrio enteral e parenteral.Uma boa metfora seria a salada como multidisciplinaridade, em que todos

    participam para formar o todo, mas ocorre menos interao. A interdisciplinaridade

    seria um ensopado onde ocorre muita interao, influenciando as aes individuais em

    direo ao objetivo comum.

    Esta uma caracterstica muito marcante da especialidade Medicina Fsica e

    ReabllitaoA avaliao inicial em pacientes com dor crnica portanto complexa e

    deve incluir a quantificao da magnitude e da natureza da dor, repercusses

    presentes e pregressas e os resultados das suas implicaes. S assim

    podemos efetivamente tratar cada paciente de forma individualizada,

    valorizando todos os aspectos que o levaram a esta situao.A anamnese deve relacionar:

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    - os aspectos cronolgicos da dor (instalao e desenvolvimento)

    - o estado atual e pregresso da condio dolorosa

    - a intensidade

    - a natureza

    - a localizao

    - o ritmo

    - a periodicidade

    - as caractersticas sensitivas da dor ou sensaes associadas

    - os fatores predisponentes

    - os fatores desencadeantes de melhora e de piora

    - se existe correlao com fatores meteorolgicos

    - se existe correlao ciclos menstruais

    - se existe correlao com atividades fsicas

    - se existe correlao com o repouso e com os aspectos psicossociais.

    Os dados coletados que vo sugerir se a dor predominantemente orgnica

    ou funcional, nociceptiva ou por deaferentao.

    Reabilitao na dor crnica

    O reconhecimento do tipo fisiopatolgico da dor fundamental para a

    adequada reabilitao do doente, j que o tratamento da dor

    totalmente diferente em cada situao. O tratamento ideal sempre a

    remoo do fator causal. Entretanto, nos casos de dor crnica, muitas

    vezes, isto no possvel.

    Os objetivos da equipe interprofissional que atende os doentes com dor

    crnica so:- O controle dos sintomas- a modificao do valor simblico da dor

    - a normalizao ou restaurao dos componentes fsicos, psquicos e

    sociais dos doentes- a maximizao dos potenciais remanescentes- a preveno da deteriorao das condies fsicas e psquicas

    - o desenvolvimento da autoconfiana- o encorajamento para a execuo das atividades

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    - a eliminao do medo de que novas leses possam se instalar- a correo dos desajustamentos familiares, sociais e profissionais que

    contribuem para o sofrimento e incapacidade- o uso criterioso de medicamentos- a independncia dos doentes quanto ao sistema de sade

    A medicina fsica faz uso de procedimentos que modificam a biologia

    dos tecidos por mecanismos diretos ou reflexos, aceleram ou facilitam

    a administrao de frmacos por via parenteral, auxiliam a normalizar

    as funes, a perceber detalhes do esquema corporal e seu

    funcionamento, ou a adaptar o indivduo com incapacidades s novas

    realidades, ou a resgatar habilidades ou a possibilitar reintegrao

    profissional e social dos doentes. As intervenes fisitricas contribuem

    tambm para a restaurao e a melhora do desempenho funcional das

    estruturas comprometidas. Possibilitam a profilaxia das complicaes

    relacionadas ao aparelho locomotor, tegumentar e visceral.

    A reabilitao visa a melhora da qualidade de vida, da readaptao e a

    reabilitao social e profissional e no apenas o alvio da dor. O

    enfoque interdisciplinar fundamental para promover a reintegrao

    social dos doentes com dor crnica.

    Referncias bibliogrficas:Leo RJ, Pristach CA , Streltzer J. Incorporating pain management training into the

    psychiatry residency curriculum. Acad Psychiatry 2003,27(1):1-11.Merskey H, Bogduk N, editors. Classification of Chronic Pain.

    International Association for the Study of Pain (IASP). Seattle : IASP press, 1994.

    Teixiera MJ - Dor crnica. In: Nitrini R (ed), Condutas em Neurologia 1989-1990. So

    Paulo, Clnica Neurolgica do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo, 1989, pp.143-148.Woolf CJ, Salter MW. Neural plasticity: increasing the gain in pain.

    Science 2000;288(5472):1765-9.

    Woolf CJ. Pain: Moving from Symptom Control toward Mechanism Specific

    Pharmacologic Management. Ann Intern Med 2004;140: 441-51.

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    Questes Dor crnica Incapacitante

    Nome:

    1) Assinale a alternativa correta com relao dor aguda e crnica:

    a. Dor aguda crise de artrite de um paciente com artrite reumatide.

    b. Dor crnica epicondilite lateral instalada aps uma partida de tnis

    c. A dor aguda causada por fratura de estresse do 5 metatarso s causa

    sofrimento e no tem funo de proteo

    d. As pessoas com sintomas mais intensos de dor no joelho associados a

    osteoartrose tm alteraes anatmicas mais graves

    e. Na dor aguda o sintoma persiste aps a cura da leso tecidual.

    2) Um rapaz de 24 anos, canhoto, frentista, sofreu fratura do mero esquerdo

    aps uma queda ao andar de skate. Ele tambm teve leso do nervo radial,

    caracterizada por insuficincia dos msculos extensores do punho e dedos

    (mo cada). A fratura foi estabilizada por osteossntese, mas desde ento o

    paciente evoluiu com dor no territrio do nervo radial, em queimor,

    formigamento e choques, associada dormncia e frio:

    a. O exame fsico que revela dificuldade na extenso de punho e dedos,

    reduo da sensibilidade ao toque leve ou estmulo doloroso com

    agulha no territrio o nervo radial, e resposta exagerada ao estmulo

    ttil e doloroso repetido sugere componente de dor neuroptica

    b. As articulaes e msculos do membro superior nem precisam ser

    examinados, pois a dor neuroptica

    c. Dor se tratar de um caso de fratura, este caso no evoluir como dor

    crnica.

    d. O tratamento sintomtico da dor deve restringir-se apenas ao

    tratamento da fratura do umero.

    e. No h necessidade da avaliao interdisciplinar neste caso.

    3. Uma senhora de 72 anos de idade, dextra tem histria de fratura do rdio

    direito, traumtica h 3 meses. Retirou o gesso aps consolidao da fratura e

    foi encaminhada para a fisioterapia. Apesar do tratamento da fratura, a dor

    persiste limitando a movimentao do punho e dos dedos da mo direita. A dor

    de forte intensidade, espontnea e piora ao toque local. Tem edema,

    sudorese e alterao na colorao da mo. A dor em queimor, latejamento,

    ou peso e paroxismos de choque, constante e de forte intensidade que aimpede de dormir. Antecedente pessoal tem diabete insulina dependente ,

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    hipotireoidismo. Faz acompanhamento mdico e est sob controle. Queixa-se

    tambm de formigamento e diminuio da sensibilidade tctil e dolorosa na

    ponta dos trs primeiros dedos das mos e piora noite.

    a. A dor da paciente da seqela de fratura do punho.

    b. A dor em queimor, formigamento, aumento da sensibilidade tctil e

    dolorosa nos trs dedos da mo bilateral e acompanhada de amiotrofia dos

    msculos regio tenar da mo. uma dor crnica neuroptica.

    c. O edema, sudorese e alteraes na colorao na mo e no punho

    indicam acometimento vascular do punho.

    d. A limitao nos movimentos de flexo e extenso do punho e dos

    dedos da mo direita no vai interferir nas atividades de vida diria.

    e. A dor psicognica j que a fratura est consolidada e tende a

    melhorar espontaneamente

    4. Na leso da medula espinal, a dor predominantemente do tipo:

    a. Desaferentao

    b. Psicognica

    c. Visceral

    d. Muscular

    e. Mista

    5. Faa a correlao mais adequada

    a. Dor crnica epicondilite lateral instalada aps uma partida de tnis

    b. A dor aguda causada por fratura de estresse do 5 metatarso s

    causa sofrimento e no tem funo de proteo

    c. As pessoas com sintomas mais intensos de dor no joelho associados

    a osteoartrose tm alteraes anatmicas mais graves

    d. Na dor aguda o sintoma persiste aps a cura da leso tecidual.e. nenhuma das anteriores

    6. Assinale a alternativa correta: A dor do tipo neuroptica pode estar presente

    nos casos de:

    a. Acidente vascular cerebral

    b. Diabetes mellitus

    c. Hansenase

    d. Amputadose. Todas as anteriores