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AVANÇOS PARA O COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO NO MARANHÃO 2015-2016 Dayana Carvalho Coelho 1 RESUMO O presente artigo tem por finalidade identificar os avanços para o combate ao trabalho escravo no Maranhão entre os anos de 2015 e 2016 no âmbito do Executivo. A escolha do período diz respeito ao início de uma nova gestão no Estado, e o contexto de escravidão contemporânea no estado, que tem figurado como um local de bastante incidência da prática, e um dos principais estados de origem de mão-de-obra escrava. Nesse contexto, importante identificar os principais avanços da Política Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Escravo no estado, apontando experiências exitosas e desafios para a erradicação dessa prática repudiável. Palavras chave: avanços; combate ao trabalho escravo; Maranhão. ABSTRACT The purpose of this article is to identify the advances for the fight against slave labor in Maranhão between the years 2015 and 2016 within the Executive. The choice of period refers to the beginning of a new management in the State, and the context of contemporary slavery in the state, which has appeared as a place of considerable incidence of practice, and one of the main states of origin of slave labor. In this context, it is important to identify the main advances of the State Policy to Combat Slave Labor in the state, pointing out successful experiences and challenges for the eradication of this repudiating practice. Keywords: advances; Combat slave labor; Maranhão. 1 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Maranhão. Advogada e Coordenadora das Ações para o Combate ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho Escravo da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Paricipação Popular SEDIHPOP. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Cidadania, Direitos Humanos e Gestão de Segurança Pública da Universidade Federal do Maranhão em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública SENASP.

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AVANÇOS PARA O COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO NO MARANHÃO 2015-2016

Dayana Carvalho Coelho1

RESUMO O presente artigo tem por finalidade identificar os avanços para o combate ao trabalho escravo no Maranhão entre os anos de 2015 e 2016 no âmbito do Executivo. A escolha do período diz respeito ao início de uma nova gestão no Estado, e o contexto de escravidão contemporânea no estado, que tem figurado como um local de bastante incidência da prática, e um dos principais estados de origem de mão-de-obra escrava. Nesse contexto, importante identificar os principais avanços da Política Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Escravo no estado, apontando experiências exitosas e desafios para a erradicação dessa prática repudiável. Palavras chave: avanços; combate ao trabalho escravo; Maranhão. ABSTRACT The purpose of this article is to identify the advances for the fight against slave labor in Maranhão between the years 2015 and 2016 within the Executive. The choice of period refers to the beginning of a new management in the State, and the context of contemporary slavery in the state, which has appeared as a place of considerable incidence of practice, and one of the main states of origin of slave labor. In this context, it is important to identify the main advances of the State Policy to Combat Slave Labor in the state, pointing out successful experiences and challenges for the eradication of this repudiating practice. Keywords: advances; Combat slave labor; Maranhão.

1 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Maranhão. Advogada e Coordenadora das Ações

para o Combate ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho Escravo da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Paricipação Popular – SEDIHPOP. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Cidadania, Direitos Humanos e Gestão de Segurança Pública da Universidade Federal do Maranhão em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP.

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I. INTRODUÇÃO: Panorama do Trabalho Escravo no Brasil e no Maranhão

A questão agrária no Brasil tem um caráter extremamente exploratório, que tem

suas origens no período de colonização das terras brasileiras pelos europeus. A exploração

da terra pressupunha a exploração, inicialmente, dos indivíduos colonizados, ou seja, os

povos indígenas e, a posteriori, dos povos africanos, trazidos de diversas partes deste

continente para serem escravizados no Brasil.

Mesmo com abolição oficial da escravidão, a partir de 1988 e resultado de diversas

lutas abolicionistas que antecederam a Lei Áurea, a cultura de submissão dos trabalhadores

aos grandes proprietários de terra se manteve. Nesse sentido Martins (2010 [1979], p. 54),

demonstra como os fazendeiros tratavam imigrantes europeus e japoneses que vieram para

o Brasil substituir a mão-de-obra negra e escrava, nos cafezais:

[...] o parceiro era onerado com várias despesas, a principal das quais era o pagamento do transporte e gastos de viagem, dele e de toda a sua família, além da sua manutenção até os primeiros resultados do seu trabalho. Diversos procedimentos agravavam os débitos, como a manipulação das taxas cambiais, juros sobre adiantamentos, preços excessivos cobrados no armazém pelos bens de consumo do colono (em comparação com preços das cidades próximas), além de vários abusos e restrições. [...] Aos olhos de um dos colonos, tais fatos significavam que “o colono europeu só vale mais do que os negros africanos pelo fato de proporcionar lucros maiores e de custar menos dinheiro”. [...] tendo feito despesas na importação da mão de obra, o fazendeiro sentia-se impelido a desenvolver mecanismos de retenção dos trabalhadores em suas terras, como se fosse seu dono: os patrões [...] quase não dão dinheiro aos seus colonos, a fim de prendê-los ainda mais a si ou às fazendas”. Deste modo, o trabalhador não entrava no mercado de trabalho como proprietário da sua força de trabalho, como homem verdadeiramente livre. Quando não estava satisfeito com um patrão, querendo mudar de fazenda, só poderia fazê-lo procurando “para si próprio um novo comprador e proprietário”, isto é, alguém que saldasse seus débitos com o fazendeiro.

Desse trecho é possível extrair as principais características comuns do trabalho

nesse período do colonato e do que, mais tarde, vai ser denominado por trabalho escravo

contemporâneo: a submissão e o aprisionamento do trabalhador. A submissão se dá por meio

da dívida, da coação e da ameaça, as quais, também, contribuem para o cerceamento da

liberdade do trabalhador, de modo que este se vê impedido de deixar o local da exploração.

A falta de liberdade, inclusive, é um dos principais critérios utilizados pela

Organização Internacional do Trabalho (OIT) para conceituar trabalho escravo na atualidade:

No Brasil, há variadas formas e práticas de trabalho escravo. O conceito de trabalho escravo utilizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) é o seguinte: toda a forma de trabalho escravo é trabalho degradante, mas o recíproco nem sempre é verdadeiro. O que diferencia um conceito do outro é

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a liberdade. Quando falamos de trabalho escravo, estamos nos referindo a muito mais do que o descumprimento da lei trabalhista. Estamos falando de homens, mulheres e crianças que não têm garantia da sua liberdade. Ficam presos a fazendas durante meses ou anos por três principais razões: acreditam que têm que pagar uma dívida ilegalmente atribuída a eles e por vezes instrumentos de trabalho, alimentação, transporte estão distantes da via de acesso mais próxima, o que faz com que seja impossível qualquer fuga, ou são constantemente ameaçados por guardas que, no limite, lhes tiram a vida na tentativa de uma fuga. Comum é que sejam escravizados pela servidão por dívida, pelo isolamento geográfico e pela ameaça às suas vidas. Isso é trabalho escravo. (OIT, 2006, p.11)

.

A legislação brasileira, por seu turno, criminaliza a prática, tipificada no artigo 49

do Código Penal, assim:

Art. 49. Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.

Há outras previsões legais, no próprio Código Penal, que fazem referência a

criminalização do trabalho escravo, como o artigo 203 e o artigo 207. A Constituição Federal

do Brasil, a partir de recente emenda constitucional, (nº81/2014), prevê, em seu art. 243 a

expropriação de imóveis urbanos e rurais onde for constatada exploração de mão de obra

escrava, os quais deverão ser destinados para reforma agrária e programas de habitação

popular.

Apesar da amplitude da definição legislativa brasileira sobre trabalho escravo ser

referência internacional desde 2005, quando as ações brasileiras para o combate ao trabalho

escravo contemporâneo foram assim reconhecidas pelo Relatório Global da OIT “Uma Aliança

Global contra o Trabalho Escravo” (2005), muitas são as manifestações contrárias a esse

arcabouço protetivo, de modo que identificam-se muitas tentativas de flexibilização dessas

medidas. Dentre essas citam-se o Projeto de Lei do Senado nº 432/20132, que propõe a

alteração do conceito de trabalho escravo e a suspensão da divulgação da Lista Suja, desde

20143 até março de 2017.

Ressalte-se que o trabalho escravo contemporâneo só ganha uma “versão oficial”

(ALMEIDA, 1986) em 1985, com a criação do Ministério do Desenvolvimento e da Reforma

Agrária (MIRAD), que segundo MOURA (2009, p.18-19) “possibilita o aparecimento de uma

“versão oficial do trabalho escravo dentro do próprio Estado, indicando que ele começa a ser

2 A esse respeito a Câmara Criminal do Ministério Público Federal(2CCR/MPF) expediu uma nota técnica em que ressalta a inconvênia e inadequação da redução conceitual legislativa sobre trabalho escravo e como isso pode gerar retrocessos para a repressão às formas contemporâneas de trabalho escravo. Disponível em: http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/nota-tecnica-conceito-trabalho-escravo 3 Mai detalhes.

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reconhecido como categoria adequada à classificação de relações de exploração existentes,

reconhecendo serem essas relações amplamente difundidas e utilizadas nos mais diversos

setores da economia rural brasileira.

As denúncias desse tipo de prática, no entanto, datam das décadas de 60 e 70 e

coincidem com o processo de crescimento econômico do país, com o processo de ocupação

e exploração da região amazônica e os investimentos do Governo Militar nas indústrias

através das isenções de impostos e subsídios. (SUTON, 1994). Esse processo de

modernização da Amazônica tem como consequência um fenômeno descrito por Costa (2000)

como “anulação do campesinato” e faz parte do contexto descrito por Martins (1981) como

“formação da fazenda”, que dissemina um modo de subordinação que passará a ser

conhecido como escravidão contemporânea (ESTERCI, 1987, p.139).

Nesse sentido ressalta Moura (2009, p.24):

Nesse universo de formação da fazenda e de todas as atividades que giram em torno dos novos empreendimentos na fronteira agrícola é que se cria a complexa rede de relações sociais que reproduz o cativeiro do peão e que transforma a super-exploração em escravidão.

Se em 1985 surge a versão oficial do Estado para trabalho escravo (Moura, 2009,

p.18), apenas 10 anos depois o Brasil reconhece, diante da comunidade internacional, a

existência de trabalho escravo em seu território e cria as estruturas governamentais para

combater essa prática criminosa, conforme ressalta a OIT (2006):

Em 27 de junho daquele ano, foi editado o decreto número 1538, criando estruturas governamentais para o combate a esse crime, com destaque para o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf) e o Grupo Móvel de Fiscalização, coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Em março de 2003, o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou o Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo e instituiu, em agosto do mesmo ano, a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae).

As fiscalizações promovidas pelo Grupo Móvel de Fiscalização passam a

constituir, ao lado dos dados colhidos pela Comissão Pastoral da Terra, uma das principais

fontes para mensuração do trabalho escravo no Brasil. De modo que, anualmente, o Ministério

do Trabalho (MT), antes denominado Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), divulga

relatório das fiscalizações realizadas a partir de denúncias recebidas pelo MT, que até 2014

compunham um Cadastro publicizado pelo Ministério conhecido por Lista Suja do Trabalho

Escravo. Girard, Mello-Théry, Théry e Hato (2014) sintetizam o trabalho do Grupo Móvel:

O Grupo Móvel, com o auxílio da Polícia Federal, realiza inspeções em locais onde há denúncia de trabalho escravo. Nesse caso, os trabalhadores são libertados, são aplicadas multas ao empregador e é efetuado o pagamento dos salários e encargos, o que permite ao trabalhador o recebimento do seguro desemprego. Em seguida os trabalhadores são assistidos e

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encaminhados aos seus locais de origem, sendo de responsabilidade do empregador os recursos destinados ao transporte.

Entre 1995 e 2015, o Ministério do Trabalho, aponta que 49.816 pessoas foram

resgatadas (gráfico 1) e 4303 estabelecimentos inspecionados. Em 2016, no entanto, verifica-

se uma queda brusca no número de fiscalizações, 108 ao total, e de trabalhadores resgatados,

apenas 667. Ou seja, são os menores números registrados desde 2001.

Gráfico1. Operações de Fiscalização no Brasil 1995-2015. Fonte: Dados do Ministério do Trabalho

Nesse mesmo período a CPT registrou um número total de trabalhadores

envolvidos em trabalho escravo superior àquele efetivamente libertados pelas operações de

fiscalização, demonstrando um descompasso entre o número real de trabalhadores

escravizados e aqueles efetivamente libertados pelo Grupo Móvel. Girard, Mello-Théry, Théry

e Hato (2014), ressaltam que

o número real de trabalhadores escravizados é sem dúvida maior, visto que não é possível verificar todas as denúncias e, em alguns casos, as operações fracassam, pois ocorre o vazamento de informações, de forma que "de posse da ordem de serviço, muitas vezes os fiscais e policiais são surpreendidos por proprietários que, sabendo da vistoria, tiveram tempo para preparar o ambiente". (GUIMARÃES; BELLATO, 1999, p.72).

O Gráfico 2 mostra a diferença entre o número de trabalhadores envolvidos em

denúncias encaminhadas à CPT e os libertados pelo MTE por, ano, durante o mesmo período

estudado acima. Verifica-se que os dados da CPT são sempre superiores àqueles do MTE,

entre os principais motivos desse descompasso está o fato de que nem todas as denúncias

recebidas pela CPT são fiscalizadas pelo MTE. A não ocorrência das fiscalizações ainda são

84425 394 159

725 5161305

2285

5223

2887

4348

3417

5999

5016

3754

2559249126862758

16741111

77 219 95 47 56 88 149 85 188 276 189 209 206 301 350 310 344 258 300 283 273

Operações de Fiscalização no Brasil 1995-2015

Trabalhadores Libertados Nº de Estabelecimentos Fiscalizados

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atribuídas ao medo das equipes e à situação econômica (FIGUEIRA, 2004), que, por vezes,

inviabiliza as operações. Existe, ainda, o dado relativo a diminuição do número de

fiscalizações devido, sobretudo, a diminuição do número de profissionais habilitados para

compor o Grupo Móvel, em especial os auditores4.

Gráfico 2: Diferença entre os Trabalhadores Resgatados e aqueles envolvidos em denúncias. Fontes: Dados MT de Fiscalização e da publicação anual Conflitos no Campo Brasil, da CPT

No Maranhão as atividades que frequentemente utilizam trabalho escravo estão

ligadas a questão agrária. Nesse aspecto o estado sempre se destacou negativamente.

Assim, pelo menos 49 municípios maranhenses já foram alvo de fiscalizações, com

libertações de 3.095 pessoas escravizadas, desses 52% localizam-se na região oeste do

Maranhão. Já em 2007, na ocasião que foi instituído o I Plano de Erradicação do Trabalho

Escravo, essa área já demonstrava maior incidência dessa prática criminosa5.

Segundo a incidência, região de origem dos trabalhadores resgatados e as

características dessa prática, Santos, Silva e Nascimento (2015, p.75) ressaltam:

Os casos de trabalho escravo no Maranhão começaram a aparecer com mais incidência a partir de 2003, com destaque para o município de Açailândia. A maioria dos trabalhadores é oriunda do próprio Maranhão (...) As atividades realizadas pelos trabalhadores estão ligadas a pecuária (roço da juquira, construção de cerca, bater veneno e etc.) à lavoura (catação de raiz), e a produção de carvão (carvoarias), sendo que a pecuária se destaca com maior numero de denuncias neste período.” (SANTOS, SILVA e NASCIMENTO, 2015, p. 75)

4 Segundo a OIT a média de auditores fiscais no Brasil deveria ser de 5.000. Quando se costuma ter

3.500. No momento atual não passam de 2.000 auditores. Nesse sentido, ainda, ver http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/05/acoes-contra-trabalho-escravo-resgatam-50-mil 5 Conforme pontos 2.1 e 2.2 do II Plano Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Escravo.

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

Trabalhadores Resgatados e Trabalhadores Envolvidos em Denúncias

Trabalhadores Libertados Nº de Trabalhadores Envolvidos - CPT

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Por muitos anos o Maranhão esteve entre os estados onde se verificava o maior

número de pessoas encontradas em situação de escravidão. Por outro lado, também, tem se

destacado no ranking de naturalidade dos trabalhadores resgatados. De modo que resta

patente a urgência na adoção de políticas de prevenção, repressão e reinserção para o

combate ao trabalho escravo no estado.

II. POLÍTICA ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO AO TRABALHO ESCRAVO NO

MARANHÃO

Diante desse panorama, no ano de 2007, o Governador Jackson Lago instituiu a

Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo – COETRAE-MA6, através do

Decreto nº 22.996/07, posteriormente Lei nº 9.705/12, a qual elabora, naquele mesmo ano o

I Plano Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo (2007), para prevenção e

enfrentamento ao trabalho escravo no estado.

Em grande parte resultado dos Seminários Regionais de Erradicação do Trabalho

Escravo, realizados pelo FOREM e da II Conferência Interparticipativa sobre Trabalho

Escravo, as ações do Plano pretendem combater

as causas principais da problemática, quais sejam, a impunidade, a pobreza e o modelo econômico excludente, sem a pretensão de esgotar as possibilidades de enfrentamento à questão, mas traçar um caminho com propostas mínimas de superação dessa chaga que tanto envergonha o Maranhão. (MARANHÃO, 2007)

O plano prevê ações intersetoriais, a fim de compartilhar responsabilidades com

as organizações envolvidas diretamente na sua execução do Plano, no limite de suas

prerrogativas. Dessa forma

as ações estão, didaticamente, classificadas em quatro blocos: ações gerais, englobando providências não específicas, ações de repressão, que visam a eficácia da Lei que reconhecem como crime a conduta de reduzir alguém à condição análoga de escravo, atacando principalmente a impunidade como uma das causas principais; ações de prevenção, voltadas para o conhecimento da realidade, sensibilização, capacitação e medidas estruturantes ou produtoras de alternativas econômicas e ações de assistência às vítimas do crime de trabalho escravo ou de aliciamento, focado no atendimento emergencial nas dimensões sociais, econômicas e jurídica. (MARANHÃO, 2012)

6 A COETRAE/MA foi instituída no Maranhão em 26 de março de 2007, por meio do Decreto nº

22996/2007, formada por órgãos públicos e organizações da sociedade civil e tem como objetivo principal garantir a intersetorialidade da elaboração e da execução de ações que visem ao combate do trabalho escravo. (MARANHÃO, 2012, p.06)

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Entre as funções da COETRAE está o monitoramento do cumprimento desse

plano e a atualização do mesmo, razão pela qual, em 2012, é lançado o II Plano Estadual

para a Erradicação do Trabalho Escravo (2012), produzido pelo Grupo de Trabalho formado

por membros da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Cidadania – SEDIHC e da

Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo – COETRAE , “(...) esta versão surge

com a necessidade de enfrentar, com maior enfoque, os desafios que persistem como fatores

determinantes da manutenção de maranhenses em condições de escravidão

contemporânea.” (MARANHÂO, 2012) . Entre as diretrizes para consecução do Plano estão:

o enfrentamento às causas, a transversalidade e a participação popular.

Esses instrumentos compõe, portanto, a Política Estadual de Enfrentamento ao

Trabalho Escravo, a qual também alberga outras ações que, ainda que não previstas no

Plano, ou de iniciativa da COETRAE, objetivam atuar em um dos eixos de combate ao trabalho

escravo (prevenção, repressão e reinserção). Nos estados do Céara, Mato Grosso e Bahia,

essa política é desenvolvida por meio do Projeto de Ação Integrada (PAI).

III. AVANÇOS PARA O COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO NO MARANHÃO 2015 -

2016

Em vigor desde 2012, a execução do II Plano Estadual para a Erradicação do

Trabalho Escravo é adotada como uma das prioridades da gestão que se inicia em 2015,

conforme aponta o Relatório SEDIHPOP:

O Governo do Maranhão promoveu no ano de 2015 uma ampla reforma institucional no Estado do Maranhão, inserindo as pautas dos direitos humanos na centralidade das ações governamentais e políticas públicas. No que diz respeito ao enfrentamento ao trabalho escravo contemporâneo, o governo entende que precisa superar os entraves relacionados às causas (impunidade, pobreza, concentração de renda e exclusão social); fazer do enfrentamento ao trabalho escravo premissa na definição das políticas (transversalidade); garantir a participação democrática, valorizando o protagonismo da sociedade, com foco na execução do II Plano Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo.

A execução do Plano, no entanto, pressupõe a reorganização e fortalecimento da

COETRAE, como premissa para o combate ao trabalho escravo no Estado. Dessa forma,

foram garantidas as reuniões bimestrais da Comissão durantes os anos de 2015 e 2016,

embora com uma participação da sociedade civil ainda muito aquém do necessário,

principalmente porque, na Comissão as ações são articuladas conjuntamente com os órgãos

e entidades membros.

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A rearticulação operacional da COETRAE/MA culminou no monitoramento e

reestruturação do II Plano Estadual. Reconhecendo que a atualização do Plano é premissa

para a definição de políticas a SEDIHPOP iniciou estratégia de monitoramento visando à

repactuação do II Plano Estadual no conjunto da reorganização da Comissão. O

balanço/monitoramento do Plano Estadual, é importante para que se consiga perceber até

que ponto o interesse em erradicar o trabalho escravo, tanto por parte do estado, como da

sociedade civil, tem refletido efetivamente a execução e adensamento de ações tanto na linha

da prevenção, repressão do trabalho escravo, como para reinserção de trabalhadores

resgatados.

O Plano também prevê ações de combate ao tráfico de pessoa e, nessa seara

verificam-se importante avanços, com a assinatura do Dec. Estadual nº 31.124/15 que institui

o Programa Estadual de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que prevê um

Núcleo de Atendimento e um Comitê Estadual de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas. Em 2016 foi realizada, também, uma chamada pública para entidades da sociedade

civil comporem o Comitê, no entanto, até o momento o não houve adesão desse setor a

inciativa.

No campo da prevenção a nova Gestão do Executivo maranhense realizou

atividades importantes durante os anos de 2015 e 2016. Dentre essas, destaca-se a execução

do Projeto “Escravo Nem Pensar”7 nas Unidades Regionais de Ensino, a realização das

Caravanas da Liberdade, nos municípios de Codó e Peritoró, com painéis e oficinas sobre a

temática, além de parcerias para pesquisas e discussões em escolas sobre o tema.

No Maranhão o projeto é executado por meio da Secretaria de Educação

(SEDUC), e conta com o apoio da COETRAE e SEDIHPOP. Até o mês de julho de 2016

apontava, os resultados parciais demonstravam que foram 71 municípios alcançados, 234

escolas, 2.012 educadores, 37.533 alunos, e 8.374 pessoas da comunidade extraescolar,

além de 418 outros profissionais (zeladores, merendeiras, vigilantes)8 em 7 Unidades

7 O Projeto “Escravo Nem Pensar”, é uma iniciativa da ONG Repórter Brasil, em parceria com a

Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tem como metas diminuir, por meio da educação, o número de trabalhadores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste aliciados para o trabalho escravo na Amazônia e no Cerrado brasileiros; e difundir o conhecimento a respeito de tráfico de pessoas e trabalho escravo contemporâneo como forma de combater essa violação dos direitos humanos. Tem como metas no Maranhão alcançar a implantação de uma rede de mobilização e formação de educadores na rede estadual de ensino do Maranhão sobre a temática do trabalho escravo; institucionalização de forma transversal da temática do trabalho escravo nos documentos que referenciam o currículo do Sistema Estadual de Ensino; e o desenvolvimento e o fomento, nas escolas, dos projetos pedagógicos e das atividades educativas de prevenção ao trabalho escravo no Maranhão. Fonte: http://escravonempensar.org.br/2016/06/escravo-nem-pensar-faz-acao-de-prevencao-ao-trabalho-escravo-em-71-municipios-do-maranhao/ 8 Dados parciais, posto que ainda não foi apresentado formalmente o Relatório Final do Projeto. O relatório final está previsto para ser apresentado em abril de 2016.”Fonte:

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regionais de educação (Açailândia, Balsas, Codó, Imperatriz, Santa Inês, São João dos Patos

e São Luís), que concentram cerca de 86% dos casos de trabalhadores resgatados entre 2003

e 2014.

Outras iniciativas nesse campo que merecem destaque foram as Caravanas da

Liberdade realizada em Codó e Peritoró, em 2015, contou com uma passeata, com a

participação de aproximadamente (1.200 pessoas) e atendimento ao público através dos

projetos estaduais ESTAÇÃO SAÚDE (682 atendimentos) e VIVA CIDADÃO (5.605

atendimentos); e a parceria entre a SEDIHPOP e o município Paço Lumiar para a formação

de estudantes em cinco escolas da rede de educação de jovens e adultos (EJA) sobre o tema,

posto que foi nesse município onde ocorreu o resgate de 58 trabalhadores do trabalho escravo

em 2015.

Ainda no campo da prevenção, e também no âmbito do apoio a projetos

internacionais que tratam da temática, foi assinado termo de cooperação entre a OIT e

Governo Federal para a realização de pesquisa sobre estimativa de vítimas do trabalho

escravo no Brasil. Pesquisa realizada em 10 países, no Brasil teremos uma experiência piloto,

no Maranhão, com vistas a realizar um diagnóstico amplo sobre as condições de trabalho no

Estado para além dos resgates tendo em vista as áreas onde o Estado direcionará

investimentos.

Com os cruzamentos de dados dessa pesquisa, com os de resgates, ação

integrada, e demais fontes, a Secretaria de Direitos Humanos pretende construir um mapa

com o perfil, a origem e o destino dos trabalhadores. Um diferencial do perfil da pesquisa no

estado é que, no Maranhão, será utilizado o conceito de trabalho escravo, conforme definido

no Código Penal, que inclui nesse tipo de crime as características de jornada exaustiva e

condições degradantes, o que não ocorre na legislação de outros países, mais restritas.

No campo da repressão, articulações entre os parceiros da COETRAE resultaram

na ação de diálogo com a Assembleia Legislativa do Maranhão para a reinclusão na pauta da

Casa o PL 169/13, que resultou na promulgação da Lei Estadual nº 10.355/15, que pune

empresas que façam uso direto ou indireto de regime de trabalho escravo – a legislação prevê

a cassação do registro das empresas do cadastro de contribuintes do ICMS (Imposto sobre

Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de

Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação).

Outras iniciativas, no campo dos direitos humanos, também contribuem para a

Política Estadual de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, como a Comissão Estadual de

http://escravonempensar.org.br/2016/06/escravo-nem-pensar-faz-acao-de-prevencao-ao-trabalho-escravo-em-71-municipios-do-maranhao/

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Prevenção à Violência no Campo e na Cidade – COECV, com o objetivo de mediar os conflitos

fundiários no campo e na cidade nos moldes da Convenção 169 da OIT; a execução do

Programa Estadual de Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos no Maranhão,

garantida por pelo menos 5 anos; e a manutenção do Programa de Proteção de vítimas e

testemunhas ameaçadas (Provita-MA). Ressalte-se que esses programas constam do II

Plano Estadual para a erradicação do trabalho escravo como tarefas do governo.

No campo do atendimento e reinserção a trabalhadores, o Executivo, por meio da

SEDIHPOP firmou dois convênios com o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos

“Carmen Bascarán” (CDVDH/CB) (Projeto Construindo Cidadania), para o atendimento de

trabalhadores em Açailândia-MA, o principal município de incidência de trabalho escravo no

estado.

O Centro tem uma destacada atuação no atendimento as vítimas de trabalho

escravo, conforme atestado pelo II Plano:

A ação do Centro vai desde o recebimento da denúncia, acolhimento, encaminhamentos aos programas e serviços públicos para acesso aos direitos básicos, mesmo enfrentando muitas dificuldades para a garantia do acesso dos trabalhadores a esses serviços, prestação de assistência jurídica e mobilização social, através da conscientização e articulação.

A partir dessa iniciativa a COETRAE discute o melhor modelo de Ação Integrada

para o Estado, com discussões de propostas de outros estados, como Mato Grosso e Bahia,

a fim de garantir um fluxograma de atendimento conforme previsto no II Plano Estadual, que

prevê a articulação de serviços com vistas a inserção social dos trabalhadores.

IV. CONCLUSÃO

Verifica-se, portanto, uma consolidação da Política de Enfrentamento ao Trabalho

Escravo no Maranhão, principalmente a partir da rearticulação operacional da COETRAE/MA

e do monitoramento e atualização do II Plano Estadual, através da Comissão.

Identificam-se avanços quanto as ações de prevenção, repressão e reinserção,

que colocam o desafio de consolidar essa Política, principalmente com a instituição dos

Centros de Referência e consolidação da Política de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Nesse aspecto é onde se verifica o principal desafio da Política Estadual de

Combate ao Trabalho Escravo, principalmente no que diz respeito a implantação e

estruturação de outros Centros de Referência no atendimento aos trabalhadores

denunciantes e ou resgatados do trabalho escravo, conforme previsto no Plano Estadual, que

tenham como referência o trabalho desenvolvido pelo Centro de Defesa da Vida de

Açailândia. O funcionamento desses Centros requer uma rede de apoio composta por

diversos atores, institucionais, estaduais e municipais, representantes da sociedade civil, que

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se articulam em torno do recebimento de denúncias, encaminhando e acompanhando os

casos, considerando as diversas dimensões que compõem o ciclo do trabalho escravo. O

funcionamento da COETRAE e as iniciativas a nível do Executivo apontam experiências

importantes que podem progredir para a estruturação desses Centros em um período bem

próximo.

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