9
Balanço da EJA: o que mudou nos modos de vida dos jovens-adultos populares? Miguel Arroyo Resumo: Este artigo é uma reflexão acerca das especificidades da educação de jovens e adultos e de seus sujeitos, apresentada na comemoração dos nove anos do Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos. Trata-se de um balanço desse período, abordando o campo da formação, das políticas públicas e a própria história do Fórum Mineiro. Considerando que qualquer uma dessas abordagens, ainda que imprescindíveis, deixam escapar algumas marcas da EJA, essa reflexão nos convida a direcionar nosso olhar sobre quem são os sujeitos que vêm demandando a educação de jovens e adultos. Desenvolve o argumento de que a juventude, os adolescentes e os adultos populares estão, hoje, mais demarcados pela concretude de suas histórias de vida, de seus trabalhos, de suas maneiras de sobreviver em um presente que é mais importante que o futuro. Qualquer tentativa educacional que proponha enquadrar esses sujeitos em categorias muito amplas os desfigura, do mesmo modo que qualquer forma de educação generalista, os distancia. Logo, reconstruir essa trajetória nos leva a questionar em que medida foi possível partir da vida humana para pensar os currículos, os tempos, os saberes e, sobretudo, as imagens que vêm sendo construídas sobre o que é ser jovem e adulto da EJA. Educadores, educandos, pesquisadores e gestores devem buscar os caminhos que articulem a vida concreta dos sujeitos da EJA e suas especificidades, para a partir daí construir um currículo e uma escola que possam atender as suas necessidades. De Hamburgo a Bancoc: a V CONFINTEA revisitada Timothy D. Ireland Resumo: Neste artigo, traçamos uma breve retrospectiva da V Conferência Internacional de Educação de Adultos – CONFINTEA, realizada em Hamburgo (Alemanha) em julho de 1997, à luz da Reunião de Balanço Internacional da V CONFINTEA (CONFINTEA V Midterm Review Meeting), ocorrida em Bancoc (Tailândia) em setembro de 2003. Tentamos constatar se houve avanços em relação às metas e objetivos estabelecidos em Hamburgo já na iminência da próxima Confintea a ser realizada no Brasil em 2009. Caracterizamos as duas conferências (Hamburgo e Bancoc) como sendo, em parte, atos de resistência em defesa da educação de adultos. Sugerimos que a VI CONFINTEA, em 2009, representará uma oportunidade de renovar a agenda para a próxima década, imprimindo nela perspectivas e demandas atuais das nações em desenvolvimento. Educação de Jovens e Adultos e Juventude: o desafio de compreender os sentidos da presença dos jovens na escola da “segunda chance” Paulo Carrano Resumo: O artigo chama a atenção para a expressiva presença dos jovens na EJA e discute o desafio que os educadores enfrentam para a compreensão dos sentidos culturais da presença destes sujeitos na escola. E indaga sobre como podemos trabalhar para construir espaços escolares culturalmente significativos para jovens e adultos. Aponta para o estabelecimento de uma relação compreensiva como “porta de acesso” aos jovens, principalmente através da recuperação de trajetórias de vida. Parte do pressuposto de que muitos dos problemas que “explodem” na sala de aula têm origem em incompreensões sobre os espaços não escolares. Analisa a necessidade de compreender os processos mais amplos de socialização do jovem. Problematiza as representações da juventude na sociedade,

Balanço Da EJA

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Este artigo é uma reflexão acerca das especificidades da educação de jovens e adultos e de seus sujeitos, apresentada na comemoração dos nove anos do Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos.

Citation preview

  • Balano da EJA: o que mudou nos

    modos de vida dos jovens-adultos populares?

    Miguel Arroyo

    Resumo: Este artigo uma reflexo

    acerca das especificidades da educao de jovens e adultos e de seus sujeitos, apresentada na comemorao dos nove anos

    do Frum Mineiro de Educao de Jovens e Adultos.

    Trata-se de um balano desse perodo, abordando o campo da formao, das polticas pblicas e a prpria histria do

    Frum Mineiro. Considerando que qualquer uma dessas abordagens, ainda que

    imprescindveis, deixam escapar algumas marcas da EJA, essa reflexo nos convida a

    direcionar nosso olhar sobre quem so os sujeitos que vm demandando a educao de jovens e adultos. Desenvolve o argumento de

    que a juventude, os adolescentes e os adultos populares esto, hoje, mais

    demarcados pela concretude de suas histrias de vida, de seus trabalhos, de suas

    maneiras de sobreviver em um presente que mais importante que o futuro. Qualquer tentativa educacional que proponha

    enquadrar esses sujeitos em categorias muito amplas os desfigura, do mesmo modo que

    qualquer forma de educao generalista, os distancia. Logo, reconstruir essa trajetria

    nos leva a questionar em que medida foi possvel partir da vida humana para pensar os currculos, os tempos, os saberes e,

    sobretudo, as imagens que vm sendo construdas sobre o que ser jovem e adulto

    da EJA. Educadores, educandos, pesquisadores e gestores devem buscar os caminhos que articulem a vida concreta dos

    sujeitos da EJA e suas especificidades, para a partir da construir um currculo e uma escola

    que possam atender as suas necessidades.

    De Hamburgo a Bancoc: a V CONFINTEA revisitada

    Timothy D. Ireland

    Resumo: Neste artigo, traamos uma

    breve retrospectiva da V Conferncia Internacional de Educao de Adultos CONFINTEA, realizada em Hamburgo (Alemanha) em julho de 1997, luz da

    Reunio de Balano Internacional da V CONFINTEA (CONFINTEA V Midterm Review Meeting), ocorrida em Bancoc (Tailndia) em

    setembro de 2003. Tentamos constatar se houve avanos em relao s metas e

    objetivos estabelecidos em Hamburgo j na iminncia da prxima Confintea a ser

    realizada no Brasil em 2009. Caracterizamos as duas conferncias (Hamburgo e Bancoc) como sendo, em parte, atos de resistncia

    em defesa da educao de adultos.

    Sugerimos que a VI CONFINTEA, em

    2009, representar uma oportunidade de renovar a agenda para a prxima dcada,

    imprimindo nela perspectivas e demandas atuais das naes em desenvolvimento.

    Educao de Jovens e Adultos e

    Juventude: o desafio de compreender os sentidos da presena dos jovens na

    escola da segunda chance

    Paulo Carrano

    Resumo: O artigo chama a ateno

    para a expressiva presena dos jovens na EJA e discute o desafio que os educadores

    enfrentam para a compreenso dos sentidos culturais da presena destes sujeitos na escola. E indaga sobre como podemos

    trabalhar para construir espaos escolares culturalmente significativos para jovens e

    adultos. Aponta para o estabelecimento de uma relao compreensiva como porta de acesso aos jovens, principalmente atravs da recuperao de trajetrias de vida. Parte do pressuposto de que muitos dos problemas

    que explodem na sala de aula tm origem em incompreenses sobre os espaos no

    escolares. Analisa a necessidade de compreender os processos mais amplos de socializao do jovem. Problematiza as

    representaes da juventude na sociedade,

  • refletindo sobre as muitas maneiras de ser

    jovem na atualidade. Apresenta as questes de identidade pessoal e coletiva como

    processos de interao e conflito. Faz uma crtica aos currculos rgidos e uniformizados

    das escolas, pontuando que estas ainda no reconhecem as culturas juvenis como possibilidade de incluso e transformao.

    Educao de Jovens e Adultos:

    movimentos pela consolidao de direitos

    Jane Paiva

    Resumo: O presente artigo discute o papel fundamental da constituio dos

    Fruns de EJA em todo o pas, nos ltimos 11 anos, para o estabelecimento de uma grande rede de articulao na luta pelo direito

    educao de jovens e adultos. Tais Fruns tm como principal objetivo inverter o rumo

    histrico das agendas pblicas dos governos federal, estaduais e municipais, quando a EJA

    tinha lugar quase invisvel, defendendo a implantao e a consolidao de importantes conquistas legais. Reconhecer a educao

    como um direito para todos os segmentos populacionais (independente de classe, raa,

    gnero, idade) ainda faz parte da luta pela construo de uma sociedade cidad e plural.

    Nesse sentido, inserir a educao de jovens e adultos efetivamente no conjunto das polticas pblicas de direito se torna um

    desafio para diferentes governos e para a sociedade como um todo.

    Diante desse cenrio, o movimento dos Fruns ganha expresso, por meio da construo de uma agenda pela EJA, que

    vem sendo sustentada pela mobilizao de amplos setores da sociedade organizada,

    congregando movimentos sociais e sindicais, organizaes no-governamentais, entidades

    de pesquisa, universidades e setores tcnicos.

    As estatsticas da alfabetizao

    Vera Masago Ribeiro

    Resumo: O artigo analisa as diversas

    metodologias de medio das habilidades e prticas de leitura junto a populaes,

    abordando as estatsticas geradas pelo IBGE, pelas avaliaes dos sistemas educacionais e estudos amostrais realizados no Brasil e no

    exterior. Descreve com maior detalhe a metodologia e os resultados do INAF Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional, estudo empreendido pela Ong Ao Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro,

    que vem mensurando as habilidades e prticas de leitura e escrita da populao

    brasileira de 15 a 64 anos desde 2001. Mostra-se a evoluo dos nveis de habilidade

    da populao medidos por meio de suas escalas, uma relativa leitura e escrita e outra s habilidades matemticas. Descreve

    tambm as diferentes prticas de leitura e escrita no ambiente de trabalho e ainda a

    prtica de leitura de livros de diversos gneros.

    Com base nesses indicadores, critica a insistncia das polticas pblicas em campanhas de alfabetizao embaladas pelo

    af de baixar taxas de analfabetismo. Conclui afirmando que os estudos sobre a cultura

    escrita, tanto com vis quantitativo quanto qualitativo, principalmente as avaliaes

    independentes e criteriosas dos programas de alfabetizao e educao de adultos, so essenciais para que possamos estabelecer

    planos mais realistas e eficazes para elevar os nveis educacionais da populao.

    A Educao Continuada e as polticas

    pblicas no Brasil

    Srgio Haddad

    Resumo: O artigo discute o conceito de Educao Continuada frente s mudanas e demandas do mundo atual. Se,

    anteriormente, sob a influncia da UNESCO, tal conceito remetia principalmente idia de

    formao e aprimoramento profissional

  • visando adaptao do cidado frente a um

    mundo em mudanas, a Educao Continuada, em tempos atuais, abarca a

    formao cidad para a participao democrtica e o desenvolvimento humano.

    Neste ltimo sentido, na Amrica Latina, a Educao Continuada utiliza como campo de referncias idias produzidas pelo movimento

    de Educao Popular, alm das teorias ligadas ao Desenvolvimento Humano e aos

    Direitos Humanos. Tem, portanto, uma caracterstica menos de adaptao e mais de

    conflitividade frente a um mundo cada vez mais desigual e injusto. A Educao Continuada, no entanto, em qualquer sentido

    aqui pensado, no se dissocia da luta por uma boa escolarizao bsica que atinja a

    todos. Remete ainda a um modelo de sociedade educativa na qual a Educao

    Continuada parte integrante.

    Expediente

    REVEJ@ - Revista de Educao de Jovens e Adultos, v. 1, n. 0, p. 1-108, ago.

    2007

    NEJA-FaE-UFMG. Belo Horizonte. Agosto de 2007.

    A educao e formao ao longo da vida como via para a incluso: assimilao

    ou autonomia?

    Alberto Melo

    Resumo: O artigo inicia por anunciar

    a diferena entre o saber do povo e o saber da escola. Contudo, chama ateno que a escolarizao uma conquista recente. Registra que na Inglaterra do sculo XIX a educao do povo era vista como algo

    passvel de se transformar em subverso. Essa viso possui ecos em Portugal na poca

    salazarista. Se de um lado existiam aqueles que acreditavam que a educao de massa

    levaria a um caos, outros defendiam (mesmo na Inglaterra) que o acesso alargado educao evitaria uma revoluo social.

    Apesar da diferena de opinies, os

    defensores de uma educao para todos, inclusivamente em Portugal, terminaram por

    vencer a empreitada. Contudo, essa abertura a todos era, de certo modo, relativa

    e causava efeitos desiguais nas diferentes classes sociais. Ao longo de 150 anos de educao, tendencialmente universal,

    geraram duas grandes tendncias na educao: uma institucional e hegemnica e

    outra independente e marginal. A partir dessa reflexo fica a questo da real

    universalizao da educao, principalmente aos jovens e adultos e concernente educao ao longo da vida. Para se atingir

    realmente a propalada educao ao longo da vida, se faz necessrio repensar sua

    finalidade para melhor adequ-la s necessidades. Destacam-se condies

    necessrias para a insero de jovens e adultos de camadas menos favorecidas na educao. A natureza da educao nesse

    caso deve ser fruto de uma deciso coletiva, entre educadores e educandos, contribuindo

    para insero dos indivduos para alm da escolarizao e visando uma insero cidad.

    A educao alternativa hoje

    Aida Bezerra

    Resumo: O artigo tenta enfatizar uma

    prtica educativa vinculada ao dinamismo da sociedade, independentemente de estar atrelada aos sistemas oficiais de ensino ou s

    iniciativas da sociedade civil. Nessa direo, tende a dar relevo ao acontecimento

    educativo caracterizando-o como espao de socializao, valorizao e aperfeioamento do que a sociedade sente, produz e

    descobre. No mais a exclusividade do legitimado, da nica fonte, do pensamento

    nico. O sentido dado ao alternativo no , portanto, o de uma interveno paralela ao

    que predominante, e que permaneceria em estado de experimentao. Mas se trata da construo de um outro olhar, e outras

    prticas se impem hoje marcando a tendncia de uma outra qualidade do

  • educativo. Nessa perspectiva, o poder

    matria de aprendizado enquanto esforo de compreenso e superao das dissonncias

    nas quais fomos moldados. Nesse sentido, ns somos sujeitos e objetos de nossa

    prpria edificao. Os confrontos e conflitos esto previstos, e o papel do educador o de torn-los produtivos, fazendo valer o que foi

    coletivamente aprovado em termos de regras de convivncia. O consenso no um

    objetivo pedaggico a obter a qualquer custo. Em lugar disso, a transparncia na

    negociao de interesses, a elaborao de critrios, a aprendizagem cotidiana da justia. Enfim, o conflito desassombrado.

    A atualidade do pensamento de Paulo

    Freire e as polticas de Educao de Jovens e Adultos

    "o saber de experincia feito" Cames e Paulo Freire!!!

    Maria Margarida Machado

    Introduo

    Numa reflexo sobre a atualidade do

    pensamento de Paulo Freire e as polticas de EJA, oportuno enfatizar inicialmente de que perspectiva de educao falamos, falamos da

    Educao Libertadora e, portanto, falamos de uma pedagogia da libertao. Ou seja, o

    conceito nos informa os meios e os fins. No possvel tratar da educao libertadora,

    sem pensar que a pedagogia tambm precisa ser libertadora. Como Paulo Freire definia (...) aquela que tem que ser forjada com ele

    (oprimido) e no para ele, enquanto homens e povos, na luta incessante de recuperao

    de sua humanidade. Pedagogia que faa da opresso e de suas causas objeto de reflexo dos oprimidos, de que resultar o seu

    engajamento necessrio na luta por sua libertao, em que esta pedagogia se far e

    refar. O grande problema est em como podero os oprimidos, que hospedam o opressor em si, participar da elaborao, como seres duplos, inautnticos, da pedagogia de sua libertao. (FREIRE,1987

    p.32)

    Recuperando a origem desse conceito,

    to conhecido, mas que vale mais uma vez contextualizar, pode-se recuper-lo de

    Angelim (2006), quando trata do processo de constituio da pedagogia da libertao:

    Aps a segunda guerra mundial, foram os(as) educadores(as) identificados com a luta anticolonial e anti-hegemnica e, mais

    recentemente, anti-neoliberal, que propuseram a pedagogia da libertao,

    inspirada principalmente em Karl Marx, cuja expresso de maior relevncia e de impacto

    internacional a obra do educador brasileiro Paulo Freire (1921 Recife-Pernambuco 1997 So Paulo - So Paulo), destacando-se,

    principalmente, o livro Pedagogia do Oprimido, escrito em 1968 no exlio, em

    Santiago-Chile, publicado no Brasil somente em 1975, traduzido a partir de 1969 para o

    espanhol, ingls, francs, alemo, italiano, sueco, noruegus, finlands, dinamarqus, flamengo, grego, rabe, chins e outros

    idiomas. Pedagogia do Oprimido foi revisitada pelo autor no livro Pedagogia da Esperana,

    publicado em 1992. (Angelim, 2006).

    Partindo desta perspectiva da educao libertadora, aquela que entende a

    educao de jovens e adultos como um direito, no consuetudinrio, mas

    conquistado na luta diria dos que atuam no campo da EJA, h muito o que dizer sobre a

    atualidade do pensamento de Paulo Freire e as polticas de EJA.

    Educao de Jovens e Adultos:

    preparando a VI CONFINTEA e pensando o Brasil

    Lencio Soares

    Fernanda Rodrigues Silva

    Resumo: Pela primeira vez na

    histria, um pas localizado no hemisfrio sul sediar o mais importante evento mundial sobre a educao de adultos. Desde os anos

    40 do sculo passado que a UNESCO vem realizando, a cada dcada, uma Conferncia

    Internacional. Neste artigo abordamos o que

  • foram as CONFINTEAs trilhando, paralelamente, a histria da EJA no Brasil, no intuito de perceber que relaes podemos

    estabelecer entre a trajetria dessas Conferncias Internacionais e o que se

    passou no Brasil ao longo dos ltimos sessenta anos, apontando elementos que revestem de significado o fato da prxima

    Conferncia se realizar em nosso pas.

    Educao de Jovens e Adultos em situao de privao de liberdade:

    desafios para a poltica de reinsero social

    Elionaldo Fernandes Julio

    Resumo: A Educao para jovens e adultos privados de liberdade nos ltimos

    anos, principalmente no sistema penitencirio, vem conseguindo, em mbito internacional, uma maior visibilidade. O

    poder pblico no Brasil, por exemplo, passa a considerar como estratgico para a poltica

    de execuo penal a implementao de aes educativas, assim como laborativas, dentro

    de uma proposta de tratamento penitencirio. Neste sentido, este artigo tem como proposta provocar a discusso

    (reflexo), levando em considerao: as questes polticas, econmicas, sociais e

    jurdicas que envolvem a educao no sistema penitencirio; o papel dos Ministrios

    da Educao e da Justia e das Secretarias Estaduais de Educao e de Justia (e ou de Segurana Pblica e Administrao

    Penitenciria) na implementao de programas educativos para o sistema

    penitencirio; e, entre outros, a educao como direito humano e ao longo da vida.

    A formao dos professores: saberes e

    prticas de letramento na educao de jovens e adultos

    Ioneli da Silva Bessa Ferreira

    Resumo: Este artigo resultado da pesquisa de Mestrado em Educao, na linha

    de formao de professores da Universidade

    do Estado do Par- UEPA, ocasio em que analisamos quais saberes de letramento

    apresentam os professores da Educao de Jovens e Adultos- EJA e como desenvolvem

    prticas letradas. Averiguamos tambm as competncias e habilidades que estes professores so portadores, tendo em vista a

    formao de um professor letrador.

    Este artigo visa divulgar o resultado da

    pesquisa que realizamos acerca dos saberes que os professores atuantes na Educao de

    Jovens e Adultos - EJA tm sobre as prticas de letramento3, bem como problematizar se os processos formativos, aos quais estes se

    submeteram, contriburam para a (re)construo de tais saberes.

    A motivao para este estudo decorreu a partir da nossa trajetria como

    professoras de disciplinas da rea da linguagem, nos Cursos de Licenciatura em Matemtica, Educao Fsica, Educao

    Artstica Habilitao em Msica, Cincias Naturais e no Curso de Formao de

    Professores para Pr-Escolar e 1 a 4 srie do Ensino Fundamental (tanto na capital como em vrios municpios do Estado do

    Par), desenvolvidos no Centro de Cincias Sociais e Educao - CCSE, da Universidade

    do Estado do Par UEPA. Trabalhamos tambm com as disciplinas Fundamentos

    Tericos e Metodolgicos do Ensino do Portugus, para os alunos do Curso de Pedagogia e de Metodologia do Ensino de

    Portugus e Prtica de Ensino com os alunos do Curso de Letras, ambos na Universidade

    Federal do Par.

    O currculo no cotidiano de uma escola de educao de jovens e adultos

    Benedito G. Eugenio

    Resumo: Neste texto apresentamos

    os dados referentes a uma pesquisa realizada numa escola pblica de ensino fundamental que oferece educao de jovens e adultos. O

    objetivo tecer consideraes acerca do

  • currculo posto em prtica cotidianamente na

    sala de aula e a relao de docentes e discentes com o conhecimento expresso e

    corporificado no currculo.

    Introduo

    A educao de jovens e adultos, modalidade de ensino integrante da educao bsica, possui caractersticas

    especficas reconhecidas pela LDB 9394/96. Sendo parte da educao bsica e seguindo a

    proposta governamental que estabeleceu parmetros curriculares para nortear o

    trabalho pedaggico das escolas, tambm possui um documento especfico editado pelo MEC e constitudo por 3 volumes, em que so

    apresentados os princpios para sua organizao curricular e os contedos,

    objetivos e competncias a serem trabalhados com os alunos.

    Expediente

    REVEJ@ - Revista de Educao de

    Jovens e Adultos, v. 2, n. 1, p. 1-116, abr. 2008

    NEJA-FaE-UFMG. Belo Horizonte. Abril de 2008.

    Leitura crtica e propositiva sobre a

    alfabetizao na Amrica Latina

    Jos Rivero

    I. Por que tantos programas e campanhas de alfabetizao tm

    fracassado?

    As inmeras iniciativas de programas e

    campanhas de alfabetizao desenvolvidas na Amrica Latina no lograram xito maior do que as expectativas que geraram. Pode-se

    afirmar que, se na Europa o grande impulso alfabetizador esteve ligado difuso da Bblia

    como principal material de leitura, na Amrica Latina, mais que os prprios

    programas de alfabetizao, tem sido a

    escola fundamental pblica a grande

    alfabetizadora.

    A. Quais os fatores que poderiam

    ter diminudo a possibilidade de xito de inmeras campanhas e programas

    de alfabetizao desenvolvidas na Amrica Latina?

    A. Relao de vontade poltica com xito poltico

    Com freqncia a convocao de uma

    campanha de alfabetizao acontece como parte de ofertas eleitoreiras e de promessas

    de governo pensando nos excludos. Promessas estas nas quais se omite o significado da alfabetizao como processo,

    as dificuldades de se apresentar resultados visveis em curto prazo e seus mecanismos

    de acompanhamento. Nelas, tambm, prima-se por falsas premissas, tais como: ser fcil convocar os analfabetos ou qualquer um pode alfabetizar. A urgncia em apresentar resultados polticos faz com que, muitas vezes, seja confundido o nmero de inscritos com o de alfabetizados. No existe, ademais,

    correspondncia entre o discurso de lanamento dos programas e os pressupostos ou recursos pra sua execuo.

    Do MOVA-So Paulo ao MOVA-Brasil: uma trajetria de luta e de esperana

    Moacir Gadotti

    Dia 1 de janeiro de 1989, um partido popular assumia, pela primeira vez na

    histria brasileira, a mais importante cidade do pas: So Paulo. A eleio de uma mulher

    das classes populares, Luiza Erundina, para governar a maior metrpole da Amrica do Sul, com uma proposta clara de inverso de prioridades, possibilitou melhores perspectivas de implantao de instrumentos

    da participao popular e de mudana social, tendo Paulo Freire como Secretrio de

    Educao.

    Fazendo parte deste esforo, e valorizando a educao de jovens e adultos,

  • o Municpio de So Paulo introduziu o ensino

    noturno em todas as escolas de ensino fundamental e transferiu o Programa de

    Educao de Adultos (EDA) da Secretaria de Bem-Estar Social para a Secretaria de

    Educao. O EDA era um programa de alfabetizao e psalfabetizao em nvel de suplncia criado em So Paulo no incio da

    dcada de setenta, em convnio com a Fundao Mobral. Luiza Erundina havia sido

    uma das fundadoras do EDA como assistente social da Secretaria de Bem-Estar Social. A

    partir de 1984, com o encerramento do convnio com o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetizao) e com a autorizao do

    Conselho Estadual de Educao, o programa passou a denominar-se Programa de

    Educao de Adultos (EDA).

    Paulo Freire e a Conscientizao: entre a modernidade e a ps-

    modernidade progressista

    Afonso Celso Scocuglia

    Resumo: O conceito de

    conscientizao se destaca quando estudamos a obra e as prticas em torno da

    educao de jovens e adultos pensada por Paulo Freire. O prprio autor j enfatizou o

    desgaste do conceito, criticou sua utilizao mecnica e, muitas vezes, equivocada. No entanto, muitas prticas educativas

    continuam a us-lo e a repeti-lo. Torna-se necessrio fazer um acompanhamento do

    conceito ao longo dos escritos do autor para verificar sua elaborao e, tambm, suas modificaes. Podemos notar quatro

    conceitos: conscincia da realidade nacional, estgios da conscincia (da ingenuidade criticidade) conscincia de classe e conscincia das mltiplas subjetividades. Esses conceitos fazem parte da construo do pensamento polticopedaggico de Freire ao longo da sua

    trajetria intelectual marcada entre 1959 e

    1997. Neste trabalho, vamos acompanh-los,

    analisando-os na transio entre a modernidade e a ps-modernidade.

    EJA: lutas e conquistas! - a luta continua: formao de professoras em

    EJA

    Laura Souza Fonseca

    No presente artigo abordo a Educao

    de Jovens e Adultos na histria brasileira, desde invaso colonizadora, passando pela Educao Popular como Alfabetizao e

    Educao de Adultos, at as disputas atuais, no escopo do Encontro Nacional Preparatrio

    a VI CONFINTEA29; historicidade marcada pela constituio da EJA como campo de

    conhecimento e, conseqente, especificidade na formao de professoras30 e educadoras.

    Constituo a argumentao vincando ao

    processo de acumulao do capital s imposies para a relao trabalho-educao

    que, na radicalizao do contraditrio, produziram a resistncia poltica e

    epistemolgica, trazidas pela educao popular entre as dcadas de 1950 e 1980; passo seguinte, a luta promove a

    institucionalizao da rea na educao bsica e superior, a partir do final da dcada

    de 1980; e, na atualidade, as polticas de Estado e de governo que constituem o

    universo de conquistas, rupturas e apontam continuidade da luta no campo da Educao de Jovens e Adultos.

    A formao de professores no Programa

    de Educao de Jovens e Adultos - PEJA

    Luciana Santana Nbia Vergett Sandra Jardim

    Resumo: Este trabalho um relato

    de uma experincia de formao continuada de professores e est vinculado ao Programa de Educao de Jovens e Adultos da

    Secretaria Municipal de Educao do Rio de Janeiro SME/RJ. Seu objetivo relacionar a

  • prtica cotidiana dos professores de

    Matemtica da SME/RJ, do Programa de Educao de Jovens e Adultos PEJA - com os pilares que aliceram a pedagogia etnomatemtica, por acreditarmos que esta

    oferece um caminho para a construo do conhecimento matemtico na educao de jovens e adultos.

    Conferncia Regional da Amrica Latina e do Caribe sobre Alfabetizao e

    Preparatria para a CONFINTEA VI Da alfabetizao aprendizagem ao longo

    da vida: desafios do sculo XXI

    Cidade do Mxico (Mxico), 10-13 de setembro de 2008

    Documento Final:

    COMPROMISSO RENOVADO PARA

    A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

    Proposta da Amrica Latina e do Caribe

    I. CONSIDERAES GERAIS

    Da alfabetizao aprendizagem ao longo da vida o grande desafio ao qual nos convoca esta Conferncia Regional.

    Em outras palavras, o desafio de

    passar de uma alfabetizao inicial que como continua a ser entendida a alfabetizao de pessoas jovens e adult as em muitos pases da regio a uma viso e uma oferta educativa ampla que inclua o ensino, ao mesmo tempo em que reconhea e valide as aprendizagens realizadas pelas

    pessoas, no some nte na idade adulta, mas ao longo da vida1: na famlia, na

    comunidade, no trabalho, pelos meios de comunicao de massa, na participao

    social, no exerccio da prpria cidadania.

    A educao um direito fundamental, uma chave que permite o acesso aos direitos

    humanos bsicos, tais como sade, habitao, trabalho e par ticipao, entre

    outros, possibilitando assim o cumprimento das agendas globais, regionais e locais de

    desenvolvimento. Isto implica em reconhecer

    que estamos diante de um paradigma que concebe o ser humano como sujeito da

    educao, portador de saberes singulares e fundamentais, criador de cultura,

    protagonista da histria, capaz de produzir as mudanas urgentes e necessrias para a construo de uma sociedade mais justa.

    1 Nota do tradutor: o original utiliza a expresso ao longo e ao largo da vida, para designar aprendizagens que se realizam ao longo do tempo e em todos os

    mbitos da vida social. Optou-se por empregar a expresso ao longo da vida porque a traduo literal ao portugus no

    agrega o significado pretendido.

    2 Os Objetivos do Desenvolvimento do

    Milnio (ODM) e da Educao para Todos (EPT), a Quinta Conferncia Internacional de

    Educao de Adultos (C ONFINTEA V), a Dcada das Naes Unidas da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel (DEDS), o

    Projeto Regional de Educao para a Amrica Latina e o Caribe (PRELAC), o Plano Ibero-

    americano de Alfabetizao e Educao Bsica de Pessoas Jovens a Adultas (PIA), entre outros.

    Desejos e desafios de pessoas da terceira idade no processo de

    escolarizao

    Isamara Grazielle Martins Coura

    Resumo: O artigo um recorte feito

    em relao aos resultados de uma pesquisa de mestrado realizada no Programa de Ps-

    graduao da Faculdade de Educao da UFMG, objetivando investigar que expectativas e motivaes que levam as

    pessoas da terceira idade a retornar s salas de aula. Atravs dos relatos dos educandos

    percebeu-se que estudar, na maioria das vezes, fazia parte de um sonho, mas que

    concretizar este desejo, exigia contornar desafios. Percebeu-se ainda que o ato de escolarizar-se promove melhorias na

    qualidade de vida destes sujeitos.

  • Formao de Educadores de Jovens

    e Adultos: saberes na proposio curricular

    Rosa Aparecida Pinheiro

    Resumo: Este trabalho apresenta

    a investigao realizada em nossa tese de doutoramento, em que nos reportamos aos elementos constituintes de uma

    proposta curricular para formao de educadores de jovens e adultos, no que

    concerne relao entre os saberes acadmicos e os saberes da experincia. Nossa atuao como formadores

    educacionais se deu junto a um grupo de alfabetizadores egressos das

    comunidades perifricas da cidade do Natal RN, onde se concentram migrantes que se estabelecem na zona urbana em busca de trabalho.

    Um olhar sobre a postura do educador da Educao de Jovens e

    Adultos numa perspectiva freiriana

    Maria Teresinha Kaefer e Silva

    No posso ser professor se no

    percebo cada vez melhor que, por no poder ser neutra, minha prtica exige de

    mim uma definio.

    Uma tomada de posio. Deciso.

    Ruptura. [...] no posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de no importa o qu.

    [...] Sou professor a favor da decncia contra o despudor, a favor da

    liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da

    democracia contra a ditadura da direita ou da esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de

    discriminao, contra a dominao econmica dos indivduos ou das classes

    sociais.

    [...] Sou professor a favor da esperana que me anima apesar de tudo.

    [...]

    (Freire1996, pg.115).

    Resumo: Este artigo refere-se

    postura do educador da Educao de Jovens e Adultos, do medo e da ousadia

    que permeia suas aes. Traz para a reflexo possibilidades tericas e

    concretas para mudanas da prtica educativa, a luz do legado de Paulo Freire. parte da sistematizao de

    minha experincia como educadora popular da EJA no RS.

    Educao de Jovens e Adultos

    um desafio...

    Ao longo da histria da EJA, pode-se considerar a idia de movimento desta

    modalidade, articulado entre o saber acadmico e o construdo em sala de aula

    de forma criativa, corajosa, cheia de ressignificaes. Assim, ao tecer ligaes

    de coragem e destemor, relacionando os atos pedaggicos com a poltica, no s percebendo as relaes escola -

    comunidade, mas tambm estabelecendo relaes entre o que se ensina e o

    contedo ideolgico do que se ensina, os sujeitos educadores e educandos da EJA contemplam possibilidades diferentes de

    aprender e ensinar, respeitando a diversidade e a pluralidade de idias.

    Expediente

    REVEJ@ - Revista de Educao de Jovens e Adultos, v. 2, n. 3, p. 1-100, dez. 2008

    NEJA-FaE-UFMG. Belo Horizonte. Dezembro de 2008.