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Balanço energético e Armazenamento de Energia do Veículo de Transporte Urbano MagLev-Cobra
Sérgio Henrique Ferreira da Conceição
Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Eletrotécnica e Computadores
Orientador: Prof. Duarte de Mesquita e Sousa
Prof. Paulo José da Costa Branco
Júri
Presidente: Prof. Rui Manuel Gameiro de Castro
Orientador: Prof. Duarte de Mesquita e Sousa
Vogal: Prof. António Eusébio Velho Roque
Maio 2015
II
III
Agradecimentos
Aos meus pais e irmão pelo apoio incondicional que me têm dado ao longo da minha vida, aos meus
amigos, em particular os que conheci e partilhei a minha vida académica, pela entreajuda e
camaradagem, ao Prof Duarte Mesquita e Prof. Paulo Branco pela orientação e ajuda na realização
deste trabalho, ao Roberto Oliveira pela informação trocada relativo ao projecto MagLev-Cobra, ao
Projecto FST Novabase pela experiencia no mundo da engenharia.
Obrigado a todos!
IV
Resumo
O projeto do veículo de levitação Magnética Maglev-Cobra desenvolvido pelos laboratórios da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) tem como objetivo introduzir na cidade do Rio de
Janeiro um meio urbano alternativo ao metro ou ferrovia tradicional, mais eficaz e de menor custo.
Atualmente este projeto encontra-se na fase de finalização da construção da linha experimental de
200 metros, instalada no campus da URFJ, tendo em vista executar os primeiros testes operacionais
do veículo.
Esta dissertação surge no seguimento de trabalhos anteriores referentes à tração do veículo,
e tem como objetivo estudar o movimento e operação do veículo, visando a análise energética do
mesmo. A análise da energia consumida e regenerada pelo veículo formam a base para o estudo
comparativo entre os diferentes tipos de armazenamento de energia e a viabilidade de
implementação das diferentes soluções.
Para tal foi desenvolvido um cenário correspondente a uma hora de maior uso, na qual o
veículo terá consequentemente maior necessidade de energia. Os resultados obtidos apontam para
que 24,5% daenergia consumida pode ser regenerada. Desta forma dimensionou-se o sistema de
armazenamento capaz de autonomizar a operação do veículo, apenas sendo carregado na estação.
Das tecnologias analisadas para integrar o sistema de armazenamento, destacam-se as
baterias de lítio, supercondensadores e volantes de inércia, tendo sido esta última posta de parte pelo
seu custo e volume superiores às duas primeiras. As soluções de armazenamento estudadas
baseiam-senas baterias de lítio ferro fosfato ou soluções híbridas recorrendo a uma unidade de
baterias e outra de supercondensadores. A tipologia híbridaescolhida para realização deste trabalho
permite desacoplara unidade de supercondensadores por intermédio de um conversor bidirecional
DC/DC redutor-elevador.
Neste trabalho descrevem-se as especificações do sistema, bem como o sistema de decisão
no controlo de energia entre as duas unidades.Foi tambémrealizado uma simulação computacional
em Matlab/Simulink para demonstrar o funcionamento do sistema durante a operação do veículo.
Palavras-Chave: Sistema híbrido de armazenamento de energia; Travagem Regenerativa; Baterias
de iões lítio; Supercondensadores; Conversor bidirecional DC/DC redutor-Elevador; motor de indução
linear; Maglev-Cobra
V
Abstract
The MagLev-Cobra project aims the instruction of a cheapest and efficient alternative urban
transportation compared to the underground or even the urban railway system. The project actual
state is located on the installation of the 200 meter long experimental track, which aims to study of the
vehicle operation, in other to understand the viability of the superconducting urban vehicle.
Take into account the past works on the traction system of the vehicle, the objective of this
master thesis is studying the movement and operation of the vehicle on the experimental track, in
other to calculate the energy needed for the operation and the potential energy that be generated by
the regenerative braking system.
Therefore it was develop a scenario for a hypothetical peak utilization hour, and the results
obtained shows that the 24,5% of work needed to move the train, could be regenerated by braking.
This data was the basis for the selection of the energy storage system, proposed on this work.
For the energy storage system it was considered the tree main energy storage technology, the
battery, supercapacitor and flywheels, being the last one rejected by the higher cost, volume and
weight. The various typologies of ESS based on battery and/or supercapacitor were analyzed taking
into account the weight, cost and performance.
In this work is proposed a Hybrid semi active system of a supercapacitor separated from the
traction system and battery by a bidirectional buck-boost DC/DC converter, design to work on current
control, to avoid peak currents on the battery side, therefore to prevent safety issues and prolong life-
cycle of battery unit.
Key words: Energy Storage System; HESS; Regenerative Braking System; Bidirectional buck/boost
converter; Linear induction motor; MagLev-Cobra
VI
Nomenclatura
Lista de Variáveis
α Angulo de declive da rampa [º]
Relação de ciclo
Rendimento da bateria
Coeficiente de atrito estático
Coeficiente de atrito aerodinâmico
Passo polar [m]
Tensão exponencial [ ]
Capacidade exponencial [ ]
Valor máximo do campo B
Capacidade mínima da bateria [Ah]
Capacitância equivalente do banco de supercondensadores [F]
E Energia armazenada na bateria ou supercondensador [W]
Tensão da bateria constante [V]
Energia armazenada necessária para realizar a operação do veículo [W]
Energia consumida pelos sistemas elétricos auxiliares [W]
Resistência equivalente em série dos supercondensadores [Ω]
f(Q) Função efeito de extremidade
Força de atrito [N]
Força da gravidade
Força Normal
Frequência de comutação do conversor [Hz]
Força de tração [N]
Ripple da corrente na bobine [A]
Corrente dinâmica para baixas frequências [A]
Corrente de saída do paralelo da bateria e supercondensadores
Corrente da bateria
Corrente do banco de supercondensadores
Corrente do sistema de tração [A]
VII
Capacidade da bateria disponível [Ah]
Corrente dinâmica para baixas frequências [A]
g Aceleração gravitacional [m. ]
Factor de polarização constante
Indutância equivalente do secundário [H]
Indutânciamagnetização mutua [H]
Comprimento do primário [m]
M Massa do veículo [kg]
Potência da bateira [W]
Potência de perdas [W]
Potência mecânica [W]
Q Capacidade maxima da bateria [Ah]
Resistência equivalente do secundário [Ω]
Resistência interna da bateria
Período de comutação do conversor [s]
Tensão da bateria [V]
Sinal da portadora
Valor máximo da portadora
Tensão do supercondensador [V]
Velocidade linear do motor [ ]
Tensão de saída do paralelo da bateria e supercondensadores
Tensão do banco de supercondensadores
Velocidade síncrona [ ]
Tensão do equivalente de thevenin
Velocidade angular [ ]
W Trabalho mecânico [W]
Trabalho mecânico necessário para executar a descida [W]
Trabalho mecânico necessário para realizar a subida [W]
Trabalho mecânico necessário para travar em descida [W]
Trabalho mecânico necessário para travar em subida [W]
VIII
Impedância do equivalente de thevenin
Lista de Abreviaturas
COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e pesquisa de Engenharia
C-rate Corrente em relação à capacidade da capacidade da bateria
DOD Deep of discharge [%]
ESS Energy Storage System
URFJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
SOC Estado de carga [%]
IX
Lista de Figuras
Figura 1.1 - Configuração da linha para levitação electrodinâmica [2] ................................................... 2
Figura 1.2 - Configuração da linha para levitação electromagnética [2] ................................................. 2
Figura 2.1 - Analogia entre o motor rotacional e linear [5] ...................................................................... 5
Figura 2.2 - Representação do motor de indução linear [3] .................................................................... 6
Figura 2.3–Primário e secundário do MIL-EALP 1000/6 [6] .................................................................... 6
Figura 2.4 - Campo magnético viajante [3] ............................................................................................. 7
Figura 2.5 - Circuito equivalente de uma fase do Motor indução linear [7] ............................................. 8
Figura 2.6 - Força de tração desenvolvida pelo motor [4] ..................................................................... 10
Figura 2.7 – Queda de corrente aquando da passagem do primário pela descontinuidade de
secundários [3] ...................................................................................................................................... 11
Figura 2.8 - Casos do secundário usado para o ensaio [3] .................................................................. 11
Figura 2.9– Força de tração desenvolvida para os diferentes casos de secundário [3] ....................... 11
Figura 2.10 - Funcionamento em modo gerador variando ponto de funcionamento do controlo escalar
V/f [3] ..................................................................................................................................................... 12
Figura 2.11 - Curva de velocidade na operação do módulo experimental [3] ...................................... 13
Figura 2.12 - Evolução da corrente e tensão à entrada do inversor nas seguintes condições: Carga -
450 kg; Declive - 10%; Aceleração e desaceleração subida 0.37 ( ) ; aceleração descida - 0,98
( ) ; desaceleração descida - 1,72 ( ) [3] ................................................................................ 13
Figura 2.13 - Evolução da corrente e tensão à entrada do inversor nas seguintes condições: Carga -
1000 kg; Declive - 10%; Aceleração e desaceleração subida 1,22 ( ) ; aceleração descida – 2,15
( ) ; desaceleração descida – 13,64 ( ) [3] .............................................................................. 14
Figura 2.14 - Evolução da corrente e tensão à entrada do inversor nas seguintes condições: Carga -
1000 kg; Declive - 15%; Aceleração e desaceleração subida 0,49 ( ) ; aceleração descida – 11,23
( ) ; desaceleração descida – 22,47 ( ) [3] .............................................................................. 14
Figura 2.15– Tensão DC e a corrente eficaz para condições de velocidade nominal de 15 Km/h e
tempo de desaceleração de 12 segundos [22] ..................................................................................... 15
Figura 3.1 - Local onde irá ser instalado a linha experimental .............................................................. 17
Figura 3.2 - Mockup do Modulo do veículo ........................................................................................... 18
Figura 3.3 - Perfil de velocidade num trajeto ......................................................................................... 19
Figura 3.4 - Movimento uniformemente acelerado ............................................................................... 20
Figura 3.5 - Movimento uniformemente retardado ................................................................................ 21
X
Figura 3.6 - Diagrama de forças [3] ....................................................................................................... 21
Figura 3.7 - Diagrama do algoritmo de cálculo do trabalho mecânico para operação do veículo ........ 23
Figura 3.8 - Sistemas elétricos presentes no MagLev-Cobra ............................................................... 24
Figura 3.9 - Perfil de velocidade ............................................................................................................ 26
Figura 3.10 - Potência mecânicadesenvolvida pelo comboio em subida no percurso de 51.1 segundos
............................................................................................................................................................... 27
Figura 3.11 - Potência mecânicadesenvolvida em descida .................................................................. 27
Figura 4.1 - Distribuição da densidade e volume específico de energia das diferentes tecnologias de
armazenamento [11] .............................................................................................................................. 30
Figura 4.2 - Capacidade de carga e descarga [11] ............................................................................... 31
Figura 4.3 - Representação do fluxo de carga nos casos de descarga e carga de uma bateria ......... 32
Figura 4.4 - Conexão em Série ............................................................................................................. 32
Figura 4.5 - Ligação em Paralelo .......................................................................................................... 33
XI
Lista de Tabelas
Tabela 2-I - Características do motor MIL - EALP 1000/6 [3] e [8] ......................................................... 9
Tabela 2-II -Relação entre tensão e frequência realizada nos testes com o primário estático .............. 9
Tabela 3-I – Potência e consumo dos sistemas elétricos ..................................................................... 24
Tabela 3-II – Resultados da simulação ................................................................................................. 26
Tabela 3-III – Trabalho realizado pelo MagLev-Cobra .......................................................................... 28
Tabela 4-I - Comparação entre peso dos dois tipos de arquitetura semi acoplada.............................. 56
Tabela 4-II - Preço dos dois casos para tipologia semi acoplada ......................................................... 56
Tabela 4-III - Intervalo de tensão de trabalho da unidade de bateria ................................................... 58
Tabela 4-IV -Lista de baterias LifePO4 disponíveis no mercado .......................................................... 59
Tabela 4-V -Comparação entre ESS composto por diferentes modelos de bateria ............................. 59
Tabela 4-VI – Tabela de Supercondensadores ansalisados ................................................................ 61
Tabela 4-VII – Características do conversor Redutor-Elevador ............................................................ 62
Tabela 5-I – Características dos sistemas de armazenamento considerados, sendo que constituído
pelos seguintes modelos: * - A123System 2,5 Ah ; ** - Maxwell 2000 F ; *** - A123System 4,5 Ah ; ****
- Maxwell 350 F ..................................................................................................................................... 86
Tabela 5-II - Custos entre sistema de armazenamento de energia e a electrificação da linha ............ 87
XII
Índice
1 Introdução ........................................................................................................................................ 1
Motivação e objetivos .......................................................................................................................... 1
Estado da arte dos veículos Maglev .................................................................................................... 1
Organização da dissertação ................................................................................................................ 4
2 Motor de Indução Linear e sistema de acionamento ....................................................................... 5
2.1 Tipologia e características do motor ....................................................................................... 5
2.2 MIL - EALP 1000/6 e sistema de acionamento ....................................................................... 8
2.3 Travagem regenerativa ......................................................................................................... 12
3 Balanço energético do veículo ....................................................................................................... 17
3.1 Operação do veículo ............................................................................................................. 17
3.2 Caracterização do Movimento ............................................................................................... 19
3.2.1 Linha com declive nulo ...................................................................................................... 19
3.2.2 Linha com declive .............................................................................................................. 21
3.3 Caracterização dos sistemas elétricos .................................................................................. 23
3.4 Estimativa do consumo energético........................................................................................ 25
4 Sistemas de armazenamento ........................................................................................................ 29
4.1 Evolução em aplicações para tração elétrica ........................................................................ 29
4.2 Baterias .................................................................................................................................. 31
4.2.2 Lítio Ferro Fosfato (LiFeP ) ............................................................................................ 36
4.2.3 Lítio Oxido de magnésio (Li ) ................................................................................. 37
4.2.4 Lítio titanato (Li4 O12) .................................................................................................... 39
4.3 Supercondensadores ............................................................................................................ 40
4.3.1 Modelo dos Supercondensadores ..................................................................................... 40
4.4 Tipologias Propostas ............................................................................................................. 42
4.4.1 Arquitetura Híbrida acoplada ............................................................................................. 46
4.4.2 Arquiteturas Híbridas parcialmente desacopladas ............................................................ 52
4.4.3 ArquiteturasHibridasdesacopladas .................................................................................... 56
4.4.4 Sistema Híbrido de armazenamento ................................................................................. 57
4.5 Controlo e Gestão do sistema ............................................................................................... 66
XIII
4.5.1 Controlo do conversor ....................................................................................................... 68
4.5.2 Modelação da dinâmica do conversor ............................................................................... 69
4.5.3 Controlo de Corrente ......................................................................................................... 70
4.5.4 Decisão .............................................................................................................................. 71
4.6 Monotorização e gestão da carga ......................................................................................... 73
4.7 Simulação .............................................................................................................................. 76
5 Viabilidade económica ................................................................................................................... 85
Conclusões e trabalhos futuros ............................................................................................................. 89
Conclusões ........................................................................................................................................ 89
Trabalhos futuros ............................................................................................................................... 90
Referencias Bibliográficas ..................................................................................................................... 91
Anexos ................................................................................................................................................... 95
Anexo A.............................................................................................................................................. 95
Anexo B.............................................................................................................................................. 96
Anexo C ............................................................................................................................................. 97
Anexo D ............................................................................................................................................. 98
XIV
1
1 Introdução
Motivação e objetivos
Com o aumento da população mundial e uma maior concentração da mesma em centros
urbanos, desafios como a redução e eficiência no consumo de recursos, nomeadamente a energia
elétrica, como a mobilidade e transporte de pessoas de forma eficaz, e como redução de emissões de
poluentes estão inseridos no vasto conjunto de obstáculoscom que a planificação urbana se terá de
debater nos anos vindouros.
A área dos transportes é, portanto, uma das áreas fulcrais para que os centros urbanos
consigam satisfazer as necessidades de mobilidade dos seus habitantes, garantindo-lhes assim
índices de qualidade de vida de acordo com padrões aceitáveis. Tendo em conta que cada cidade
deveria apresentar a sua oferta de transportes públicos consoante as suas necessidades, a resposta
das redes normalmente divide-se em serviços de autocarro, comboio urbano e metro, sendo que
estes meios de transporte tradicionais em cidades com grandes populações e em expansão
apresentam limitações e inconvenientes consideráveis. Tendo por base o Rio de Janeiro, cidade com
cerca de 6 milhões e 430 mil habitantes, e uma área metropolitana com cerca de 12 milhões de
habitantes, a maior parte dos serviços de transporte é garantido através de autocarros, que
contribuem ainda mais para os problemas crónicos de engarrafamento dotrânsitona cidade. Por outro
lado, as redes de metro e comboio requerem um grande investimento em infraestruturas para
satisfazerem as necessidades deste aglomerado populacional. É neste desafio para a mobilidade
urbana que a Universidade Federal do Rio de Janeiro propõe o MagLev-Cobra, como alternativa
economicamente viável aos meios de transporte tradicionais.
Esta dissertação tem como objetivo o estudo da operação do veículo na linha experimental de
200 metros instalada e apresentado em 01/10/2014 na conferência internacional MagLev’14, a fim de
estimar o consumo energético do veículo e a quantidade de energia que pode vir a ser recuperada
através de travagem regenerativa. Esta informação servirá de base para a proposta de um sistema
dearmazenamento de energia.
Estado da arte dos veículos Maglev
O conceito de transportes de levitação magnética, comumente designados de Maglev,
começou a ser proposto no início do século XX, coincidindo com o desenvolvimento dos primeiros
protótipos de motores lineares. O primeiro protótipo do veículo de levitação magnética foi
apresentado no final da década 30 pelo engenheiro alemão Herrman Kemper. Contudo, somente na
década de 80 é que o primeiro veículo comercial foi oficialmente apresentado, sendo instalado numa
linha de 600 metros no aeroporto de Birmingham (Reino Unido).
Das implementações atuais, existem dois tipos de tecnologias de levitação magnética [1]:
2
Levitação Eletrodinâmica (EDL) – A levitação é conseguida através da indução de correntes
por um campo magnético próximo a um condutor, produzindo correntes induzidas, que por
sua vez produzem um campo oposto ao campo magnético. A interação entre ambos produz
uma força oposta que sustenta o veículo.O projeto SCMaglev promovido pela companhia
central ferroviária do Japão implementa esta técnica de levitação.
Figura 1.1 - Configuração da linha para levitação electrodinâmica [2]
Levitação Electromagnética (EML) – A força de atração é conseguida através da interação
entre um eletroímane um material ferromagnético, sustentando a levitação do comboio. A fim
de alcançar a estabilidade do sistema, é necessário um controlo de malha fechada a atuar
sobre o eletroíman. O projeto Transrapid, desenvolvido pela indústria alemã e instalado
numa linha de 30 km na cidade chinesa de Xangai, usa esta técnica de levitação.
Figura 1.2 - Configuração da linha para levitação electromagnética [2]
O veículo levitante MagLev-Cobra, apresenta uma tecnologia de levitação diferente das já
existentes, descritas anteriormente. A levitação é conseguida, portanto, através do recurso à
propriedade diamagnética dos supercondutores,como a exclusão de campo magnético do interior dos
mesmos. O uso de materiais magnéticos como o NdFeB e o supercondutor com elevada temperatura
3
crítica YBCO origina uma força de levitação estável, dispensando o uso de controlo sofisticado. O uso
deste tipo de supercondutor de elevada temperatura críticapermite a obtenção da força de levitação
através do seu arrefecimento com nitrogénio líquido, com uma temperatura de ebulição de -196º C,
comparativamente com outro tipo de supercondutores que necessitam de ser arrefecidos por hélio
líquido, tendo uma temperatura de ebulição inferior de -269ºC, o que se traduz em custos
operacionais inferiores.
Esta solução, só possibilitada pelo advento deste tipo de supercondutores no final do século
XX, apenas está implementada em projetos em fase experimental, fazendo com que o veículo
MagLev-Cobra se torne o primeiro meio de transporte desta tecnologia em escala real,a nível
mundial.
A tração dos veículos de levitação magnética é conseguida fazendo uso de máquinas
elétricaslineares criadoras de uma força de tração linear, não necessitando de eixos ou rodas para
mover o veículo, como acontecenos motores rotacionais usados nos transportes ferroviários
tradicionais. Os motores lineares usados na tração são geralmente trifásicos, dividindo-se em motores
síncronos ou de indução.
Os motores síncronos só conseguem desenvolver força de tração trabalhando nas condições
síncronas. Os quatro tipos principaisde motores síncronos lineares [3] são:
Magnetos Permanentes no Indutor – Nesta configuração os magnetos permanentes
podem ser inseridos na superfície ou no interior do indutor, necessitando ambas as soluções
construtivas de um enrolamento de amortecimento, que garantirá a operação da máquina a
velocidades diferentes da velocidade síncrona. Esta solução construtiva necessita do indutor
fixo ao longo da linhaassociado aos magnetos permanentes, encarecendo a instalação do
veículo levitante comparativamente com outras tecnologias.
Magnetos Permanentes no Induzido – Os magnetos permanentes ao contrário da solução
anterior, são instalados na parte móvel do motor, resultando num menor uso de magnetos e
menor custo de implementação.
Excitação Eletromagnética – Análogo ao motor síncrono de pólos salientes tradicional,
podendo o circuito de excitação ser montado na parte móvel do motor, obtendo energia
através de um sistema de escovas.
Excitação Supercondutora – Esta solução é vulgarmente usada em aplicações de alta
potência, onde os pólos eletromagnéticos podem ser substituídos por pólos
supercondutores, obtendo-se um fluxo magnético superior à solução anterior.
4
As características do motor de indução linear, a tipologia usada na tração do veículo MagLev-
Cobra serão apresentadas no capítulo 2.
Organização da dissertação
O capítulo 2 corresponde ao resumo de trabalhos anteriores do projeto MagLev-Cobra nos
tópicos sobre o motor linear de indução usado no comboio, no seu acionamento e nos testes com
travagem regenerativa.
Apresentadas as características do sistema de tração do veículo, no capítulo 3, é focado o
estudo da operação do comboio na linha experimental de 200 metros, nomeadamente a definição e a
caracterização das diferentes fases do movimento do veículo, adefinição de um cenário
correspondente a uma hora de máxima utilização e, por fim, a estimativa do consumo do veículo
nesse cenário de operação.
No capítulo 4 são analisadas as várias opções de tecnologia para armazenamento energético,
nomeadamente baterias, supercondensadores e volante de inércia, em termos de peso, volume,
carregamento e descarga. É efetuada a escolha da bateria, selecionando-se aque melhor se adequa
à implementação do sistema de armazenamento, sendo também efetuada uma abordagem
semelhante para os supercondensadores. Após a escolha é efetuado uma revisão de vários tipos de
sistemas de armazenamento, tendo em conta soluções baseadas em baterias ou sistemas híbridos
de baterias/supercondensadores.
No capítulo 5 é efetuada a análise económica do sistema dimensionado, comparando diferentes
opções e estimando os ganhos em termos de investimento num sistema de armazenamento que
garanta a autonomia do veículo,dispensando a eletrificação da linha.
Finalmenteapresentam-se as conclusões e propostas para trabalhos futuros.
5
2 Motor de Indução Linear e sistema de acionamento
Este capítulobaseia-se no trabalho desenvolvido pelo COPPE1 [3], [4].
2.1 Tipologia e características do motor
O motor linear é constituído por um primário e por um secundário, dimensionados para criar uma
força de tração linear, pelo que é ideal para aplicações nos veículos de levitação magnética Maglev.
A terminologia usada por [3] define o primário e o secundário do motor linear de indução como:
Primário – Componente do motor que contém as bobinas.
Secundário – Parte do motor composto pelo ferro laminado e barras curto circuitadas entre
si ou pela fonte de excitação.
Figura 2.1 - Analogia entre o motor rotacional e linear [5]
Dentro das diferentes configurações, que o primário e secundário do motor (rotor e estator)
podem apresentar e alvo de análise em [3], o projeto MagLev-Cobra desenvolveu o motor MIL - EALP
1000/6, máquina de primário curto e secundário longo, representada na figura 2.2.
O primário está instalado no veículo, sendo que se desloca sobre o secundário que se
encontra instalado ao longo da linha, como representado na figura 2.3.
1 COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
6
Figura 2.2 - Representação do motor de indução linear [3]
Figura 2.3–Primário e secundário do MIL-EALP 1000/6 [6]
O princípio de funcionamento do motor linear de indução é similar a um motor de indução
convencional, pelo que as correntes injetadas no primário criam um campo magnético capaz de
induzir tensão no secundário, produzindo por sua vez um campo magnético. Da interação entre estes
dois campos resulta uma força longitudinal, responsável pela tração do veículo. Devido à construção
em forma de ‘C’ do motor, este também produz uma força com a mesma direção da normal do
Secundário
Primário
Linha
eletrificada
Carril
7
veículo,contribuindo assim para a levitação do veículo.Ao contrário do motor de indução
convencional, o campo magnético varia em relação à disposição dos pólos e à frequência.
Figura 2.4 - Campo magnético viajante [3]
A equação do campo magnético viajante é dada pela equação (2.1),a partir da qual se obtém
a velocidade. Quando o campo é máximo, a sua derivada é nula pelo que a velocidade pode ser
obtida pelasequações (2.2) e (3.2).
(2.1)
(2.2)
(2.3)
O motor de indução linear não produz força de tração quando a velocidade mecânica é igual
à velocidade de sincronismo. Analogamente ao motor de indução convencional,é definido o
escorregamento.
(2.4)
A fim de representar as perdas no ferro e no cobre do primário e secundário e a energia
magnética armazenada no entreferro e os efeitos de extremidade, Duncan [7] propôs o circuito
equivalente por fase da máquina de indução linear, representado na figura 2.5.
8
Figura 2.5 - Circuito equivalente por fase do Motor indução linear [7]
O circuito equivalente para motor linear representa as indutâncias do primário e a do
secundário em relação ao primário, respetivamente, e as resistências do primário e do
secundário em relação ao primário, respetivamente, bem como a indutância de magnetização,
. Contudo,este circuito representa o efeito de extremidade, que se traduz da descontinuidade do
circuito elétrico e magnético do secundário. Este efeito é caracterizado pelas equações (2.5) e (2.6).
(2.5)
(2.6)
Do circuito equivalente é possível retirar as equações de potência eletromagnética total,
mecânica e força longitudinal desenvolvida pelo motor, representadas respetivamente pelas
equações (2.7) e (2.8).
(2.7)
(2.8)
2.2 MIL - EALP 1000/6 e sistema de acionamento
O motor de indução lineardesenvolvido pela COPPE Elétrica apresenta um primário curto com
comprimento de 1270 mm constituído por 57 bobinas com 13 espiras cada, ou 6 pólos. O secundário
9
é constituído por um núcleo laminado e chapas laterias em curto-circuito, analogamente aos motores
assíncronos em gaiola de esquilo.
Tabela 2-I - Características do motor MIL - EALP 1000/6 [3] e [8]
Características
Força Longitudinal [N] 900
Frequência [Hz] 25
Velocidade [m/s] 7,8
Comprimento Primário [m] 1,270
Comprimento Secundário [m] 1,510
Polos 6
Passo polar [m] 0,156
Eficiencia média 50 – 64 %
O acionamento do motor é feito através do inversor CFW11-88A fabricado pela empresa WEG
2 e o controlo usado é o método escalar V/f, escolhido pela sua simplicidade e desempenho durante
os testes experimentais ao motor.
Dos testes realizados ao motor, pela equipa do projecto MagLev-Cobra, foi possível
caracterizar a força de tração desenvolvida pelo motor tendo o primário estático, fazendo variar a
relação tensão/frequência, presente na tabela 2-II, para diferentes valores do entreferro.
Tabela 2-II -Relação entre tensão e frequência realizada nos testes com o primário estático
Tensão [V] Frequência [Hz] V/f
85 5 17
165 10 16,5
245 15 16,3
320 20 16
380 25 15,7
Os valores do entreferro usado no ensaio foram 08, 12, 16, 20 mm, para os quais se obteve a
evolução da força de tração, encontram-se representados na figura 2.6.
2 Grupo empresarial Brasileiro Eletromecânico.
10
Figura 2.6 - Força de tração desenvolvida pelo motor [4]
Também foi possível verificar a perda da força de tração aquando da passagem do primário
na descontinuidade do circuito elétrico e magnético do secundário, ilustrado na figura 2.7. que se
traduz numa diminuição da corrente.
Para minimizar este efeito, foi testado uma solução que consiste em ligar eletricamente os
secundários com barras de alumínio, figura 2.8. A comparação entre a força de tração desenvolvida
pelo motor com esta solução e para os casos de descontinuidade e continuidade do secundário
podem ser observadas na figura 2.9.
11
Figura 2.7 – Queda de corrente aquando da passagem do primário pela descontinuidade de secundários [3]
Figura 2.8 - Casos do secundário usado para o ensaio [3]
Figura 2.9– Força de tração desenvolvida para os diferentes casos de secundário [3]
12
Analisando os resultados é possível verificar um aumento da força desenvolvida durante a
passagem pela descontinuidade de secundários com ligação elétrica
2.3 Travagem regenerativa
No decorrer do trabalho [3] foi possível estudar o comportamento do motor durante a travagem, a
fim de analisar a viabilidade de travagem regenerativa no veículo.
O motor entra em regime gerador quando o escorregamento da máquina é negativo. Tal é
conseguido alterando o ponto de funcionamento do controlo escalar V/f.
A figura 2.10 demonstra a alteração de funcionamento motor, ponto 1, para gerador, ponto 2,
conseguida através da diminuição do valor de frequência, tal que a velocidade de sincronismo seja
inferior à velocidade da máquina.
Figura 2.10 - Funcionamento em modo gerador variando ponto de funcionamento do controlo escalar V/f [3]
Os trabalhos [3] e [4] realizaram ensaios à dinâmica da máquina, para a situação de
aceleração, velocidade cruzeiro e desaceleração, figura 2.11. Estes testes foram realizados numa
linha experimental de 6 metros de comprimento variando o declive entre 10%, 12,5% e 15%, carga,
aceleração e desaceleração, sendo que os resultados da evolução da corrente e tensão da máquina
são apresentados pelas figuras 2.12, 2.13, 2.14, respetivamente
13
Figura 2.11 - Curva de velocidade na operação do módulo experimental [3]
Figura 2.12 - Evolução da corrente e tensão à entrada do inversor nas seguintes condições: Carga - 450 kg;
Declive - 10%; Aceleração e desaceleração subida 0.37 ( ) ; aceleração descida - 0,98 ( ) ; desaceleração descida - 1,72 ( ) [3]
14
Figura 2.13 - Evolução da corrente e tensão à entrada do inversor nas seguintes condições: Carga - 1000 kg;
Declive - 10%; Aceleração e desaceleração subida 1,22 ( ) ; aceleração descida – 2,15 ( ) ; desaceleração descida – 13,64 ( ) [3]
Figura 2.14 - Evolução da corrente e tensão à entrada do inversor nas seguintes condições: Carga - 1000 kg;
Declive - 15%; Aceleração e desaceleração subida 0,49 ( ) ; aceleração descida – 11,23 ( ) ; desaceleração descida – 22,47 ( ) [3]
Os ensaios realizados demonstram a possibilidade da máquina trabalhar como gerador,
sendo assim possível implementar a travagem regenerativa no veículo.Contudo os resultados
relativos à energia regenerada mostram que a mesma é uma pequena percentagem da energia
cinética do movimento.
15
O mesmo resultado foi obtido em ensaios realizados com dois primários e velocidades
superiores, para percursos entre 15 a 50 metros [9], como é possível observar na figura 2.15. Pelo
que o processo de travagem regenerativa efetuado nestes ensaios demonstra uma eficiência
extremamente reduzida, sendo um fator importante para o estudo realizado neste trabalho.
Figura 2.15– Tensão DC e a corrente eficaz para condições de velocidade nominal de 15 Km/h e tempo de desaceleração de 12 segundos [22]
16
17
3 Balanço energético do veículo
3.1 Operação do veículo
Tendo em vista o teste operacional do veículo de levitação magnética MagLev-Cobra, a
construção da linha experimental, concluída em meados de 2014, tem um comprimento de 200
metros e liga o edifício CT1 ao CT2 do Campus do Fundão da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). A localização da linha está sinalizada na figura 3.1.
Figura 3.1 - Local onde irá ser instalado a linha experimental
É esperado que a linha sirva como base de testes para a operação do veículo, introduzindo
ou modificando sistemas do veículo, como o sistema de armazenamento de energia proposto por
esta dissertação.
O veículo é constituído por 1 módulos, com capacidade máxima para 30 passageiros, sendo
que o peso máximo total (veículo e passageiros) não deverá ultrapassar os 6000 kg [1] o que o torna
num transporte relativamente leve. No veículo estão instalados dois primários do motor linear, ou
seja, terá dois motores responsáveis pelo movimento do veículo.
18
Figura 3.2 - Mockup do Modulo do veículo
Os trabalhos anteriormente realizados pela equipa da COPPE-Elétrica da UFRJ não
abordaram cenários de utilização do veículo na linha de teste, pelo que é crucial, para efeitos da
análise energética do veículo, que seja apresentado um cenário de utilização do veículo. Tomando
em contao objetivo desta análise que visa o dimensionamento de um sistema de armazenamento de
energia para reaproveitar a energia proveniente da travagem regenerativa, o cenário que faz sentido
propor coincide com uma hora de ponta, em que há maior número de trajetos efetuados com uma
carga próxima da máxima admissível.
Segundo dados3 mais recentes, a COPPE é constituída por um universo de 6300 pessoas,
entre docentes, alunos e funcionários. Considerando queestes são os potenciais utilizadores do
transporte,estimou-se que 20% desta população, cerca de 1260 pessoas, fará uso do MagLev-Cobra.
Outro aspeto deste cenário é a distribuição igual dos passageiros em viagem, estando o comboio
praticamente lotado, correspondendo assim à realização de 42 trajetos por hora.
Embora este cenário possa não corresponder à realidade de utilização, é fundamental para o
estudo do consumo energético do Maglev-Cobra, que pode ser dividido em três tipos:
Consumo dos sistemas de tração responsáveis pelo movimento do veículo;
Consumo dos sistemas elétricos auxiliares instalados no veículo;
Consumo dos sistemas de conforto para os passageiros, como iluminação, ar condicionado,
aquecimento ou controlo de humidade (estes três últimos equipamentos não estão previstos
instalação no MagLev-Cobra).
3 Retirado do site oficial COPPE http://www.coppe.ufrj.br/coppe/coppe_numeros.htm
19
3.2 Caracterização do Movimento
Definindo o perfil de utilização do veículo correspondente ao período commaior utilização,
importa caracterizar o movimento realizado pelo veículo durante um trajeto. Para tal considerou-se,
analogamente, à operação dos transportes ferroviários convencionais, três zonas de operação:
Movimento uniformemente acelerado – O veículo inicia o movimento com uma aceleração
constante até atingir a velocidade de ‘cruzeiro’ pretendida;
Movimento uniforme – Mantém a velocidade nominal até começar a desacelerar;
Movimento uniformemente retardado – Desaceleração constante até à sua paragem.
Figura 3.3 - Perfil de velocidade num trajeto
Definindo os valores de aceleração, desaceleração e velocidade nominal, importa caracterizar
a força de tração que o veículo necessita de desenvolver em cada zona de funcionamento.
Considerando que não existem rodas e que o veículo opera com velocidades reduzidas, os efeitos do
atrito aerodinâmico podem ser reduzido a uma constante semelhante ao atrito estático do veículo,
pelo que as equações da força necessárias para realizar as três componentes de operação nos casos
de linha com declive nulo, positivo ou negativo são as que se descreverão seguidamente.
3.2.1 Linha com declive nulo
A equação 3.1 que caracteriza o atrito para um veículo ferroviário normal pode ser
simplificada, resultando na equação 3.2.
(3.1)
Tempo [s]
Ve
loc
ida
de
[m
/s]
20
(3.2)
O coeficiente de atrito representa o atrito estático da máquina conjuntamente com o atrito
viscoso do veículo.
Movimento uniforme acelerado
Sendo a aceleração constante até atingir a velocidade de ‘cruzeiro’, o diagrama de forças para
esta fase de movimento é representado pela figura 3.4.
Figura 3.4 - Movimento uniformemente acelerado
De acordo com a 2ª lei de Newton, o somatório das forças de um movimento acelerado tem
que ser igual à massa do objeto vezes a sua aceleração, equação (3.3). O desenvolvimento da
equação (3.3) dá origem à expressão para a força de tração, equação (3.4).
(3.3)
(3.4)
Movimento uniforme
Corresponde à fase do movimento em que veículo mantem a velocidade cruzeiro, pelo que a
aceleração é nula, ou seja, a força de tração a ser desenvolvida tem que compensar apenas o atrito,
equação (3.5).
(3.5)
21
Movimento uniformemente retardado
Esta fase de movimento caracteriza-se por uma desaceleração constante até à paragem do
veículo. O diagrama de força para esta fase está representado na figura 3.5.
Figura 3.5 - Movimento uniformemente retardado
A força de tração para este caso é dado pela equação (3.6).
(3.6)
3.2.2 Linha com declive
Para uma linha com declive importa estudar as forças nas três fases do trajeto. Para subidas
ou descidas, as componentes que variam com o declive são representadas pelas equações (3.7) e
(3.8).
Figura 3.6 - Diagrama de forças [3]
(3.7)
(3.8)
22
No caso em que o veículo está subira rampa, as equações para as três fases de movimento
serão dadas pelas equações seguintes:
Movimento uniformemente acelerado
(3.9)
Movimento uniforme
(3.10)
Movimento uniformemente retardado
(3.11)
Quando se efetua uma descida, as equações para as três fases são as seguintes:
Movimento uniformemente acelerado
(3.12)
Movimento uniforme
(3.13)
Movimento uniformemente retardado
(3.14)
Com a caracterização da força de tração realizada para a situação de aceleração, a
velocidade de cruzeiro e a desaceleração, é possível calcular a potência mecânica.
(3.15)
O trabalho mecânico realizado é o integral da potência num intervalo de tempo.
(3.16)
Substituindo na equação (3.16), a potência pela equação (3.15), tendo em conta a equação
(3.17), que considera o carácter linear da velocidade, é possível obter a equação (3.20) na qual se
calcula o trabalho mecânico necessário para realizar o movimento do veículo.
23
(3.17)
(3.18)
(3.19)
(3.20)
Usando estas equações foi possível criar um algoritmo capaz de calcular a energia em forma
de trabalho mecânico do veículo, representado no diagrama da figura 3.7.
Figura 3.7 - Diagrama do algoritmo de cálculo do trabalho mecânico para operação do veículo
3.3 Caracterização dos sistemas elétricos
Com a análise ao movimento do veículo tendo em vista o cálculo do trabalho durante a sua
operação, convém também analisar os sistemas elétricos que compõem o veículo e caracterizar o
seu consumo. A informação dos sistemas elétricos constituintes foi solicitada à equipa responsável
pelo projeto MagLev-Cobra da COPPE-Elétrica, e encontra-se condensada na figura 3.8.
24
Figura 3.8 - Sistemas elétricos presentes no MagLev-Cobra
Assume-se que o fator de utilização dos sistemas durante uma hora é de 100% para a
iluminação e para os painéis de interação entre homem máquina (IHM), e que os motores das portas
e sistema hidráulico apenas são acionados quando pára numa das estações.
Tabela 3-I – Potência e consumo dos sistemas elétricos
Sistema Potência
[W]
Funcionamento durante uma
hora [%]
Energia total [Wh]
Iluminação 19,2 100 19,2
IHM 50 100 50
Motor Portas 184 3,3 6,336
Sistema Hidráulico
30 3,3 0,99
Para uma hora de utilização os sistemas terão consumido 76,53 W.
Não está previsto a introdução, por agora, de um sistema de ar condicionado. Ainda que
tendo em conta as temperaturas elevadas que se podem fazer sentir na cidade do Rio de Janeiro,
chegando a ultrapassar os 40ºC e com uma temperatura média de 24ºC 4, a introdução de um
sistema de ar condicionado conseguirá melhorar as condições de utilização para os passageiros.
Ainda assim, tal equipamento não será alvo da análise energética neste trabalho.
4 Dados recolhidos através no site Instituto Nacional de Meteorologia
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=rede_estacoes_auto_graf
25
3.4 Estimativa do consumo energético
Nos subcapítulos anteriores salientou-seo estudo dos fatores do consumo energético do
comboio, pelo que em conjunto com o modelo correspondente à utilização para uma hora de ponta do
transporte, é possível apresentar os valores de energia consumida e que pode ser regenerada
através da travagem.
Com base na figura 2.9, que representa a força que um motor linear pode desenvolver, e a
massa máxima admissível do veículo, o valor para aceleração foi estabelecido como:
Definiu-se também que o valor da desaceleração será o mesmo da aceleração, ou seja, os
tempos de travagem e de aceleração serão os mesmos.
Sendo o MagLev-Cobra um veículo de baixa velocidade, definiu-se como velocidade nominal:
Quanto ao perfil da linha, instalada entre os edifícios CT1 e CT2,esta apresenta o mesmo
declive em toda a sua extensão.
Sendo a massa do veículo a máxima admissível, admitiu-se o coeficiente de atrito de 0,19 em
conformidade com os ensaios realizados em [3].
Os resultados da simulação para este modelo estão apresentados na tabela 3-II.
26
Tabela 3-II – Resultados da simulação
Resultados
Tempo em aceleração e em travagem 15,1 [s]
Tempo velocidade nominal 20,8 [s]
Tempo total de um trajeto 51,1 [s]
Força tração aceleração em subida 4000 [N]
Força tração aceleração em descida 2174 [N]
Força tração velocidade nominal em subida 1795 [N]
Força de tração velocidade nominal em
descida
31 [N]
Força tração desaceleração em subida 410 [N]
Força de tração desaceleração em descida 2236 [N]
Figura 3.9 - Perfil de velocidade
27
Figura 3.10 - Potência mecânicadesenvolvida pelo comboio em subida no percurso de 51.1 segundos
Figura 3.11 - Potência mecânicadesenvolvida em descida
Dividiu-se o trabalho mecânico em três componentes, correspondentes às três fases do
movimento do veículo. Na subida a componente de consumo corresponde à aceleração e velocidade
nominal, equação (3.21), sendo que o trabalho possível de regenerar corresponde ao trabalho em
desaceleração, equação (3.22). Na descida,a componente de consumo corresponde somente à
aceleração, equação (3.23), enquanto a componente de trabalho regenerado é a soma do trabalho
em velocidade nominal e desaceleração, equação (3.24).
(3.21)
(3.22)
Po
tên
cia
[W
]
Tempo [s]
Po
tên
cia
[W
]
Tempo [s]
28
(3.23)
(3.24)
Os resultados do programa de simulação são resumidos na tabela 3-III.
Tabela 3-III – Trabalho realizado pelo MagLev-Cobra
Trabalho [Wh]
104,50
25,40
4,80
27,15
Supondo que um ciclo de funcionamento do veículo corresponde a um trajeto de ida e volta
entre duas estações, ou seja numa situação de subida e descida, o balanço energético será o
seguinte:
A relação entre o trabalho mecânico necessário para realizar o movimento e o que é
desenvolvido em situação de travagem ou mantendo a velocidade em situação de descida é
aproximadamente de 24,5 %.
De acordo com o proposto no subcapítulo 3.1, o cenário de utilização correspondente a uma
hora de maior fluxo de passageiros convenciona que o MagLev-Cobra irá realizar 42 trajetos.
Conclui-se que o trabalho total possível de regenerar, neste cenário, é superior à energia
consumida pelos circuitos elétricos auxiliares, restando ainda energia para auxiliar o movimento do
veículo. Contudo os dados experimentais relativos ao funcionam o sistema de tração apontam que
uma pequena parte da energia disponível na travagem apenas será regenerada durante a travagem.
Estes dados serão importantes para a definição do sistema de armazenamento de energia a
implementar.
29
4 Sistemas de armazenamento
4.1 Evolução em aplicações para tração elétrica
O advento dos sistemas de tração elétrica, tornou-se realidade com a eletrificação ocorrida
nos finais do século XIX, no qual surgiram as primeiras locomotivas elétricas, bem como os primeiros
carros elétricos. Estes últimos usavam sistemas de armazenamento constituído por baterias,
tecnologia introduzida em 1800 por Volta, tendo posteriormente surgido as baterias recarregáveis de
ácido-chumbo, em 1859, e níquel cadmio, em1889. Embora a sua introdução seja anterior à dos
carros a combustão e por algum tempo tenham tido preferência, a autonomia reduzida face à
alternativa a combustão e o elevado peso e volume ocupado pelas baterias, levaram que a escolha
para a tração dos veículos motorizados fosse a combustão.
Contudo o desenvolvimento e aplicação de sistemas de armazenamento para tração elétrica
não foi abandonado de todo.Tentativas de implementação de linhas ferroviárias com locomotivas
alimentadas por baterias surgiram durante o início do século XX, como por exemplo, algumas das
locomotivas usadas nos sistemas de metro de Londres,colocadas em serviço em 1909. Noutros
casos, as baterias apenas entravam em serviço aquando da falha da rede de alimentação, garantido
o movimento da locomotiva. Devido à baixadensidade de energia das baterias, o que significa peso
excessivo do sistema, e por questões económicas, esta implementação no sistema ferroviário foi
circunscritae nunca foi amplamente difundida.
Somente a partir da década de 70, devido à crise petrolífera e ao elevado consumo de
petróleo pelo sector dos transportes e à introdução de baterias de iões de lítio, apresentando uma
densidade de energia superior às outras tecnologias, resultando em maior autonomia e menor peso e
volume, deu origem a um esforço no investimento na investigação e implementação de novas
tecnologias para a tração elétrica. Atualmentedestacam-se três tipos distintos de sistemas de
armazenamento energético [10].
Baterias – A introdução das baterias baseadas no lítio possibilitou sistemas com densidade
energética acima de 200 Wh/kg, dominando os sistemas de armazenamento para veículos
elétricos, com uso também na ferrovia como sistema de backup em caso de falha da rede.
Supercondensadores – Os supercondensadores ou condensadores de dupla camada são
uma tecnologia que apresenta excelentes características de densidade de potência podendo
satisfazer quase instantaneamente correntes de carga ou descarga fazendo com que tenha
aplicações a nível da tração elétrica, nomeadamente para sistemas de travagem
regenerativa da ferrovia ou start and stop nos carros.
30
Volante de inércia – Ao contrário das tecnologias anteriores que armazenam energia
através de processos eletroquímicos, os volantes de inércia usam a energia cinética de uma
massa em rotação para armazenar ou fornecer energia elétrica. Embora não seja uma
tecnologia muito usada em sistemas tração, são conhecidas as suas aplicações no sistema
KERS5, usado nos desportos motorizados.
Figura 4.1 - Distribuição da densidade e volume específico de energia das diferentes tecnologias de armazenamento [11]
5 Kinetic Recover Energy System
31
Figura 4.2 - Capacidade de carga e descarga [11]
De acordo com as figuras 4.1 e 4.2 onde é comparado a capacidade de carga e descarga,
bem como a densidade e volume específico de energia de cada tecnologia de armazenamento,é
possível concluir que a melhor opção de armazenamento energético são as baterias, devido ao seu
maior valor de densidade e volume específico de energia relativo aos volantes de inércia e
supercondensadores.
Contudo tanto os supercondensadores com as volantes de inércia apresentam excelentes
características como sistemas capazes de receber e entregar grandes quantidades de potência,
como o representado na figura 4.2. Estas duas tecnologias anteriormente referidos, são adequadas
para situações onde ocorram picos de potência, sendo que no caso dos transportes, estes casos
ocorrem em períodos de aceleração e travagem regenerativa. Embora os volantes de inércia tenham
boas características de densidade de potência, o fato de ter uma implementação mais cara e
complexa, decorrente do sistema de controlo da velocidade do volante de inércia, aliado a um maior
volume e peso específico, torna este sistema uma possibilidade menos atrativa. Assim, serão apenas
analisadas soluções baseadas em baterias ou supercondensadores para o dimensionamento do
sistema de armazenamento de energia do MagLev-Cobra.
4.2 Baterias
As baterias são dispositivos que armazenam energia elétrica em forma de energia
eletroquímica. Cada sistema de bateria pode ser constituído por um conjunto de células ligadas em
série ou em paralelo dependendo da tensão ou capacidade pretendida pelo sistema. Cada célula é
constituída por dois elétrodos, o cátodo e ânodo, separados pelo meio envolvente, o eletrólito. A
formação de carga dos iões deve-se a reações de oxidação e redução, e embora haja várias famílias
de baterias, o funcionamento pode ser simplificado como representado pela figura 4.3.
32
Figura 4.3 - Representação do fluxo de carga nos casos de descarga e carga de uma bateria
As baterias apresentam um gama de tensão de trabalho, correspondente ao intervalo entre a
tensão máxima e mínima, variando consoante o tipo de bateria. Caso estes limites sejam
ultrapassados podem causar degradação da bateria ou mesmo danos irreparáveis. A capacidade da
bateria é dada em Ah (1 Ah = 3600 Coulombs), ou seja, se uma bateria é capaz de fornecer 1 A de
corrente a uma carga durante 1 hora, a sua capacidade corresponde a 1 Ah.
A quantidade teórica de energia armazenada na bateria é dada pela equação (4.1)
(4.1)
Como referido anteriormente os sistemas de baterias podem ser integrados por células
ligadas em paralelo ou em série consoante os valores de capacidade ou tensão pretendidos.
4.2.1.1 Ligação em Série
Esta ligação efetua-se ligando o cátodo de uma célula ao ânodo de outra, representado na
figura 4.4.
Figura 4.4 - Conexão em Série
33
Consoante o número de células ligadas em série, a tensão total do sistema corresponde ao
somatório das tensões individuais das células. Um aumento da tensão do sistema, reduz o valor da
corrente para o mesmo valor de potência, o que reduz a secção dos condutores e as perdas por
efeito de joule.
(4.2)
Quanto maior de número de células em série, maior é a probabilidade que haja uma célula
que avarie. Um curto-circuito numa célula fará com que haja uma queda de tensão no conjunto ou
uma célula em aberto fará com que haja interrupção do circuito. O elevado número de células num
sistema também pode contribuir para um desequilíbrio de tensão entre células, devendo-se sobretudo
a diferenças entre resistências internas e o SOH6 das células. Este desequilíbrio forçará as células
com menor tensão a atingirem tensão mínima mais rapidamente que as restantes, impossibilitando o
uso do sistema, sobre o risco de danificar a(s) célula(s) com a tensão mínima. Normalmente em
sistemas com tensão elevada são concebidos sistemas de gestão de carga ou tensão para evitar
desequilíbrios entre células e prolongar a vida de utilização do sistema de armazenamento. Estes
sistemas serão analisados no sub Capítulo 4.6.
4.2.1.2 Ligação em paralelo
Ao ligar células em paralelo, ou seja realizar duas conexões a duas células, uma a ambos os
cátodos e outra a ambos os ânodos, é possível aumentar a capacidade total do sistema, sem que
haja alteração da tensão.
Figura 4.5 - Ligação em Paralelo
(4.3)
6 SOH – State of health
34
Para as ligações em paralelo, caso haja uma célula que possua uma resistência interna
elevada ou que esteja em circuito aberto é menos gravoso comparando com a ligação em série, dado
que só a capacidade total do sistema diminui. Contudo um curto-circuito pode dar origem a uma falha
geral do sistema, visto que a célula em CC irá drenar corrente de todo o sistema, originando uma
auto descarga ou no pior dos casos libertação de fumo ou combustão da célula, devido ao aumento
excessivo de temperatura.
Dentro das famílias de baterias existemdois tipos principais:
Primárias – A reação química de descarga acaba por destruir um dos elétrodos, pelo que a
bateria não pode ser recarregada. Estas baterias são utilizadasna eletrónica de consumo.
Secundárias – A bateria pode ser recarregável, visto que as reações químicas que ocorrem
nos elétrodos são reversíveis, restaurando o seu estado inicial. Este tipo de baterias são as
usadas nos sistemas de armazenamento dos sistemas de tração elétrica.
4.2.1.3 Modelo da bateria
Neste trabalho, o modelo elétrico usado para representar a bateria é baseado no modelo do
simulink, onde é considerado uma força eletromotriz, sendo representa pelas equações (4.4) e (4.5),
e uma resistência interna, representando as perdas sobre efeito de joule e resistência iónica.
Descarga:
(4.4)
Carga:
(4.5)
A eficiência da bateria pode ser aproximada pela equação (4.6)
(4.6)
35
Figura 4.6 - Densidade e volume especifico de energia das bateras recarregáveis [12]
Como é possível observar na figura 4.6, as baterias de lítio e níquel hidreto são as que
apresentam atualmente melhores densidades de energia comparativamente com outras tecnologias,
podendo chegar atualmente até aos 220 Wh/kg [13]. Estacaracterística faz com que sejam a escolha
no que se refere a aplicações para tração elétrica, significando maiores quantidades de energia ou
sistema de armazenamento mais leve.
Comparando entre os dois tipos de baterias:
Custo – Atualmente as baterias de níquel têm um custo inferior, em média 500-560 dolar/kWh,
comparando com o custo de 800-1000 dolar/kWh [13] das baterias de lítio. O mesmo estudo [13]
aponta, para uma massificação no uso das baterias de lítio até 2020, que fará baixar o preço das
mesmas, tornando-as mais competitivas em relação à bateria de níquel.
Peso – Em geral as baterias de lítio são menos pesadas e de menores dimensões,
comparativamente com níquel hidreto para a mesma quantidade de energia armazenada, sendo que
as de lítio podem, atualmente, apresentar densidades entre 90 – 220 Wh/kg, e as de níquel hidreto
ficam-se entre 60 – 120 Wh/kg. [13]
Potência – Ambas as baterias apresentam capacidades de potência semelhantes, sendo que as
baterias de lítio podem ser carregadas e descarregadas mais rapidamente, para além de estarem
menos sujeitas a ‘efeitos de memória’7.
Durabilidade – Ambas as baterias têm 5-10 anos de vida útil, apresentado até 5000 ciclos de
carga/descarga. Contudo as baterias de lítio têm alguns problemas de fiabilidade em ambientes a
temperaturas extremas.
7 Efeito pelo qual a bateria vai perdendo a sua capacidade nominal ao longo dos ciclos de carga e
descarga, diminuindo assim os seus anos de vida útil
36
Para o sistema de armazenamento do MagLev-Cobra, foi escolhido o uso de baterias de iões lítio,
pelo facto apresentarem melhores densidades de energia e volume específico, em relação à bateria
de níquel.
Dentro das baterias de iões de lítio existem vários tipos,sendo que cada tipo apresenta vantagens
e desvantagens na implementação de sistemas de armazenamento para tração elétrica.
4.2.2 Lítio Ferro Fosfato (LiFeP )
Introduzidas no final da década de 90 do século passado, as baterias de lítio ferro fosfato são
das baterias de lítio, com mais aplicação nos dos sistemas de tração.Apresentam boa capacidade de
potênciae estabilidade na reação química e térmica, o que se traduz numa menor probabilidade de
ignição ou explosão nos casos em que a bateria seja posta a situações de sobre tensão, curto-circuito
ou temperaturas elevadas, tornando-as assim a melhor escolha em termos de segurança em relação
às outras opções.
Figura 4.7 - Reacção química da LiFePO4 [14]
As principais características da bateria são:
Tensão Máxima: 3,6 V
Tensão Nominal: 3,3 V
Tensão Mínima: 2,5 V
Densidade energética especifica: 110 Wh/kg
Densidade potência específica: >300 W/kg
Ciclos de carga/descarga: 10000
Temperatura de operação: -20º C até 70º C
A tensão nominal inferior relativa a outros tipos de baterias de iões lítio, como por exemplo lítio
óxido de magnésio ou cobalto, tem como consequência uma menor densidade de energia específica.
Outra característica da bateria é o seu desempenho durante a descarga com corrente constante,
apresentando um menor declive na zona linear da curva de descarga, figura 4.8, relativamente às
restantes baterias de lítio. Esta característica reflete-se numa menor variação de tensão do sistema,
durante esta zona de funcionamento, o que é benéfico para sistemas de tração.
37
Figura 4.8 - Curva de tensão na descarga para várias temperaturas ambientes [15]
4.2.3 Lítio Oxido de magnésio (Li )
Presente no mercado desde meados da década de 90, tem vindo gradualmente a ser usada
em sistemas de armazenamento para veículos elétricos, como por exemplo o Tesla Roadster ou o
Nissan Leaf.
Devido à sua baixa resistência interna consegue fornecer correntes de carga e descarga
elevadas, para além de apresentar uma densidade de energia superior ao lítio ferro fosfato,
significando menor peso no sistema de armazenamento.
Contudo na sua reação química, o facto de resultar nos seus produtos oxigénio, torna-a algo
instável, principalmente sobre efeito de curto-circuito, sobretensão ou impacto mecânico, podendo dar
origem à libertação de fumos, dilatação da célula e, no pior dos casos, à combustão ou mesmo
originando explosões.
Ânodo: (4.7)
Cátodo: (4.8)
38
Figura 4.9 - Constituição da bateria LiMnO2 [16]
Tensão Máxima: 4,2 V
Tensão Nominal: 3,8 V
Tensão Mínima: 2,8 V
Densidade energética especifica: 135 Wh/kg
Corrente descarga: até 40 C-rate8
Ciclos de carga/descarga: 1000
Temperatura de operação: 0º C até 45º C
As curvas de descarga deste tipo de baterias apresentam o seguinte comportamento:
Figura 4.10 - Testes efectuados no modelo GP776285M284 da Gold Peak Industries North America [17]
Em contraste com as baterias de lítio ferro fosfato, as curvas de descarga das baterias de lítio
óxido de magnésio, apresentam uma zona linear com um declive mais acentuado e mais reduzido
com o aumento da corrente de descarga, como demonstrado pela figura 4.10. Esta característica faz
8 C-Rate corresponde ao valor de corrente de carga ou descarga, que se obtem multiplicando o valor
da capacitância, ou seja 1 C numa bateria de 10 Ah, corresponde 10 A.
39
que o ESS com este tipo de bateria, durante o seu funcionamento, tenha maiores flutuações de
tensão comparativamente com um ESS composto por baterias de lítio ferro fosfato.
4.2.4 Lítio titanato (Li4 O12)
Este tipo de baterias em vez de utilizar carbono como o material constituinte do ânodo,
substituí-o pelo composto Lítio Titanato. Sendo uma tecnologia ainda recente, não tem uma utilização
difundida nos sistemas de armazenamento de energia para aplicações de tração, devido ao seu,
ainda, elevado custo.
As baterias deste tipo têm características bastante interessantes no que toca às correntes de
descarga e principalmente decarga, conseguindo ser carregadas com correntes superiores a 6 C-rate
[18], face aos outros tipos de baterias que no máximo aguentam 2 C-Rate. Ou seja consegue-se
efetuar cargas rápidas da bateria, o que as tornam numa opção bastante interessante para travagem
regenerativa ou carregamento rápido.
Tensão Máxima: 2,8 V
Tensão Nominal: 2,5 V
Tensão Mínima: 1,5 V
Densidade energética especifica: 90 Wh/kg
Ciclos de carga/descarga: 10000
Temperatura de operação: -20º C até 70º C
Figura 4.11 -Baterias LTOda Enerdel [19]
Tendo em conta os pontos de dimensionamento apresentados, reduziu-se os tipos de bateria a
considerar, às de Lítio Ferro fosfato e às de lítio titanato, por terem reações químicas estáveis,
garantindo segurança durante a sua operação, e além disso conseguem dispor de boas densidades
de potência. Contudo, sendo as baterias de lítio titanato uma tecnologia recente no mercado, o seu
40
preço ainda é elevado em comparação com LFP9, já que são oferecidas poucas opções no mercado
e os dados de utilização deste tipo de baterias em aplicações de tração elétrica ainda são pouco
fiáveis, pelo que a escolha do tipo de bateria a ser usada no sistema de armazenamento será o Lítio
ferro fosfato.
4.3 Supercondensadores
Os supercondensadores ou ultracondensadores começaram a ser desenvolvidos para
aplicações em veículos elétricos na década de 90, focando-se sobretudo nos condensadores de
dupla camada usando estruturas porosas de carbono em ambos os elétrodos, tendo o mesmo
comportamento dos condensadores normais mas com capacidade para armazenar maior quantidade
de energia.
Um dos objetivos dos investigadores e fabricantes de supercondensadores, para competirem
com as baterias, foi atingirem densidade de energia específica de 5 Wh/kg para descargas de
elevada potência e apresentar um ciclo de vida com pelo menos 500 000 descargas completas.
Atualmente as aplicações existentes no mercado apresentam densidades energéticas na ordem dos
3.5 - 6 Wh/kg, chegando a 1000000 ciclos de carga/descarga e apresentando densidades de potência
na ordem 800 – 20000 W/kg [5], e capacidadesaté 5000 F.
Sendo uma tecnologia capaz de fornecer uma grande quantidade de potência, quase
instantaneamente, tem vinda a ser implementada nos sistemas de travagem regenerativa, tanto em
veículos elétricos como na ferrovia, como é exemplo o sistema SITRAS SES desenvolvido e
comercializado pela Siemens10
.
4.3.1 Modelo dos Supercondensadores
O modelo usado de supercondensadores para simulação está representado na figura 4.12,
em que é representado por uma fonte de tensão e uma resistência interna representando as perdas
por joule. A tensão do supercondensador é dada pelos modelos de Stern [20], também sendo
considerada a corrente de auto descarga características da maior parte dos supercondensadores.
9 LFP – Lithium ferrophosphate
10 Como se poderá verificar em
http://cn.siemens.com/cms/cn/English/TS/Mobility/media/Media%20pool%20content/Documents/chosen%20brochures/Sitras%20SES_en.pdf
41
Figura 4.12 - Modelo dos supercondesadores simulink [21]
A energia e a potência dos supercondensadores é calculada através das equações (4.9) e
(4.10), respectivamente.
(4.9)
[J] (4.10)
A curva de carga e descarga típica, para corrente constante, pode ser calculada linearmente,
como representado na figura 3.14.
Figura 4.13 - Comparação entre as curvas de carga e descarga de SC e Bateria para uma corrente constante [22]
SOC
42
Como no caso das baterias, os supercondensadores podem ser ligados em série ou em
paralelo. As ligações em série, fazem aumentar a tensão total do sistema, mas alterama sua
capacidade equivalente, resistência equivalente e corrente de auto-descarga.
Série:
(4.11)
Paralelo: (4.12)
4.4 Tipologias Propostas
Analisadasas tecnologias passíveis de serem implementadas no sistema de armazenamento a
desenvolver no MaLlev-Cobra e em conjunto com os dados sobre a energia necessária para
operação do veículo e a energia que pode vir a ser regenerada através da travagem regenerativa,
cabe agora apresentar as opções quanto à arquitetura do sistema.
Para tal é necessário definir o tipo de uso que o sistema terá. Dentro das opções e analisando
a quantidade de energia passível de ser regenerada,tem-se:
Alimentação dos sistemas elétricos auxiliares – Foi comprovado que o trabalho
desenvolvido pela travagem durante uma hora de funcionamento é suficiente para
alimentar os sistemas elétricos que constituem o veículo.
Auxílio ao movimento do MagLev-Cobra – A energia regenerada na travagem pode
ser usada para auxiliar o movimento, principalmente na aceleração que corresponde à
maior exigência de potência à rede, pelo que pode servir para mitigar as quedas de
tensão e poupança energética aquando da aceleração do veículo.
Autonomia do MagLev-Cobra – Dimensionar um sistema de armazenamento capaz
de armazenar a energia necessária para o movimento do veículo, tornando-o num
meio de transporte ferroviário autónomo.
Face à inovação tecnológica que o projeto MagLev-Cobra quer introduzir nos transportes
urbanos brasileiros e juntando o fato doveículo ter um peso máximo de 6000 kg, considerado um
transporte urbano leve, operando a baixas velocidades, pelo que o atrito aerodinâmico é bastante
reduzido e o atrito estático, que nos casos dos veículos ferroviários convencionais é provocado pela
43
fricção das rodas no carril, não existe. Deste modo, a energia necessária para realizar a operação do
MagLev-Cobra em comparação com um transporte ferroviário convencional com o mesmo peso e
potência, é inferior, tornando assim o sistema de armazenamento menos pesado e dispendioso em
comparação com os transportes ferroviários convencionais, pelo que a sustentabilidade de um
sistema de armazenamento que garanta a autonomia do veículo pode justificar o seu
desenvolvimento.
Feita análise às duas tecnologias de armazenamento de energia, as baterias de lítio e os
supercondensadores, concluiu-se que as baterias são o sistema ideal para o armazenamento de
energia. Enquanto os supercondensadores, devido à sua densidade de energia extremamente baixa,
embora tenha uma densidade de potência bastante elevada, devem ser usados para situações de
pico de potência, como a aceleração ou travagem regenerativa do veículo.
A energia necessária para a operação em hora de ponta é dada pela equação (4.13), em que é
considerado que o sistema de armazenamento alimenta o sistema de tração e circuitos auxiliares,
tendo em consideração as eficiências dos diversos sistemas [8], [23].
(4.13)
Sabendo que o intervalo de tensão de entrada do inversor CFW11-88 se situa entre 530 a 610
V [24], o sistema de armazenamento tem que ser capaz de satisfazer este intervalo de tensão.
Atendendo a que a tensão nominal de uma célula de lítio ferro fosfato é de 3,2 V, podendo variar
entre 3,6 e 2,5 V, ou seja o intervalo de tensão resultante de um sistema de baterias de Lítio ferro
fosfato será superior ao intervalo de tensão de trabalho do inversor,significando que nem todo o
intervalo de carga do sistema de bateria poderá ser usado, sendo limitado pelo intervalo da tensão de
trabalho do inversor.
Analisando a figura 4.8, é possível verificar que a curva de descarga típica de Lítio ferro fosfato
apresenta uma zona linear, caracterizada por um ligeiro declive. Pelo que se pode otimizar o intervalo
de tensão do sistema de baterias para obter o maior intervalo de carga passível de ser utilizada.
Desta forma, a tensão nominal da bateria é 610 V, o que corresponde a 188 células em série.
Nestas condições a tensão máxima, em média de cada célula, é de 3,25 V, e para a situação de
tensão mínima do sistema de baterias, a tensão média de cada célula é de 2,82 V.
A capacidade nominalpor sua vez é dada por:
44
(4.14)
Este valor de capacidade nominalgarante, teoricamente, que o comboio tenha uma operação
autónoma sem necessidade de fontes de alimentação externa durante uma hora de ponta. Contundo
o seu valor não se apropria ao funcionamento principalmente na aceleração em subida, em que a
potência mecânica máxima é de 25 kW, ou seja, considerando os mesmos valores de eficiência dos
componentes usado sem (4.13) e o fator de potência do sistema de tração unitário, resulta
numacorrente máxima de 80 A, injetada no sistema de armazenamento, que equivale a 13,5 C-rate,
um valor bastante levado para uma corrente de descarga. Pela análise da curva de descarga da
figura 4.8, para valores de maior C-rate da corrente de descarga, verifica-se um aumento do declive
da zona linear, bem como uma diminuição dos valores de tensão, tendo repercussões na diminuição
no intervalo de carga passível de ser usado pelo sistema de tração.
Para mitigar este problema a solução passa pelo sobredimensionamento da capacidade da
bateria,de modo a obter um aumento do valor da corrente que a bateria pode fornecer durante uma
hora. Desta forma as correntes de carga e descarga terão um menor valor de C-rate, resultando em
menores variações de tensão devido a variações de corrente. Tendo em conta o perfil de carga
realizaram-se simulações para diferentes tipos de capacidade, para encontrar o valor de capacidade
mínima, o qual garante que a tensão não desce abaixo da tensão mínima admissível pelo sistema de
tração.
Figura 4.14 - Representação da corrente durante a operação do Maglev-Cobra
Tempo [s]
Co
rre
nte
[A
]
45
Figura 4.15 - Variação da tensão da Bateria com 6 Ah
Figura 4.16 - Variação de tensão da bateria com 35 Ah
As simulações realizadas para a descarga de dois sistemas de baterias, um com capacidade
nominal calculada em (4.14) e outro com uma capacidade sobredimensionada, para uma corrente de
descarga semelhante à de subida do veículo, representado na figura 4.14, confirma que a bateria
com capacidade de 5,94 Ah desce abaixo do intervalo da tensão de trabalho do inversor, pelo que é
necessário sobredimensionar a capacidade da bateria. A partir dos 20 Ah existe garantia qua a
tensão não baixe do limite de 530 V, contudo para evitar picos de correntes durante a aceleração a
bateria deverá ser sobredimensionada para 35 Ah
Contudo o sobredimensionamento tem como principal desvantagem o aumento de peso e
custo, visto que a capacidade de armazenamento é superior à necessária. Considerando que a
46
densidade específica de energia da bateria é de cerca 100 Wh/kg, a diferença de peso das baterias
entre um sistema com a capacidade mínima e o com capacidade sobredimensionada é a seguinte:
(4.15)
(4.16)
(4.17)
Desta forma, o peso resultante do sistema somente devido às baterias é diretamente
proporcional ao aumento dacapacidade do sistema. O mesmo se aplica ao custo do sistema.
Outra opção na mitigação de correntes excessivas na situação de travagem regenerativa e
aceleração é a implementação de um sistema híbrido composto por uma unidade de bateria e outra
de supercondensador, combinando a maior capacidade de armazenar energia das baterias com a de
disponibilizar ou absorver grandes quantidades de potência dos supercondensadores.
As tipologias híbridas de baterias e supercondensadores têm sido alvo de estudo para
aplicações de tração elétrica ou de mitigação de picos de potência para aplicações na rede elétrica,
pelo que existe experiência a nível industrial neste tipo de aplicações como indicam os sistemas de
armazenamento híbrido SITRAS HES e SEPTA, disponibilizado pela Siemens e ABB respetivamente
para sistemas de transportes ferroviários ligeiros.
Nos próximos subcapítulos serão apresentados os diferentes tipos de armazenamento híbrido,
sendo analisados a nível de custo, peso, desempenho e volume, a fim de escolher o sistema a
implementar com o melhor compromisso entre estes quatro parâmetros.
4.4.1 Arquitetura Híbrida acoplada
Dentro das várias configurações que se podem escolher para um sistema híbrido de
armazenamento a arquitetura acoplada é a mais simples deimplementar.Trata-se de ligar diretamente
em paralelo as unidades de bateria e supercondensadores, como exemplificado na figura 4.17.
47
Figura 4.17 - Arquitetura acoplada
Ao contrário das restantes tipologias, não existem elementos ativos entre os sistemas de
armazenamento, pelo que não existe possibilidade de controlar os fluxos de potência entre asduas
unidades. Para demonstrar o efeito das diferentes características das duas unidades, como por
exemplo a capacidade e resistência interna, na divisão da potência entregue à carga, procedeu-se à
seguinte análise:
Considerando o modelos simplificado das duas tecnologias representado na figura 4.18 pode-
se desenvolver uma análise com base nos parâmetros de thevenin do paralelo entre as duas
unidades, baseado na análise feita por [25].
Figura 4.18 - Circuito equivalente da ligação paralela Bateria/SC
A dinâmica da corrente no condensador é dada pela equação (3.18).
(4.18)
A dinâmica da bateria pode ser descrita fazendo uso das leis de Kirchoff no circuito
equivalente, obtendo-se:
(4.19)
48
(4.20)
(4.21)
(4.22)
(4.23)
A fim de se obter o equivalente de Thevenin do paralelo entre a bateria e o banco de
supercondensadores, representado na figura 4.19, considerou-se que o circuito não está ligado a
qualquer fonte ou carga exterior, ou seja, a corrente que percorre a bateria e o banco de
supercondensadores é a mesma, . Pelo que é possível desenvolver a
expressão da tensão e resistência equivalente de Thevenin, dada pela equação (4.28) e pela
equação (4.29).
Figura 4.19 - Esquema Thevenin da tipologia hibrida acoplada
(4.24)
(4.25)
(4.26)
(4.27)
(4.28)
A impedância de Thevenin é obtida curto circuitando a fonte de tensão do paralelo, pelo que
se obtém:
49
(4.29)
Fazendo uso da transformada inversa de Laplace obtém-se a expressão da tensão e a
impedância de Thevenin:
(4.30)
Pelo que a tensão de saída do sistema é dado pela equação (4.31), e as componentes da
corrente da bateria e dos supercondensadores são dadas pela equação (4.32) e (4.33),
respetivamente.
(4.31)
(4.32)
(4.33)
Caracterizada a relação entre a corrente e tensão das duas unidades em paralelo,simulou-se
o modelo em regime permanente para diferentes valores de resistência interna da bateria e
supercondensadores, considerando a tensão inicial de ambas unidades igual e a corrente de carga
constante, a fim se ilustrar a interação entre as duas unidades.
Os valores usados nos parâmetros para a primeira simulação estão de acordo com os valores
dimensionados, como poderá ser verificado posteriormente no subcapítulo 3.4.4.1.
Figura 4.20 - Resposta de correntes da bateria e supercondensador com 1 F de capacidade (V = 600 V,
Tempo [s]
Co
rre
nte
[A
]
50
Analisando a resposta das duas unidade a um escalão de corrente de 1 A, é possível verificar
que maior parte da corrente é disponibilizada pela bateria. Nestas condições o banco de
condensadores demonstra ter pouca utilidade.
A fim de aumentar a corrente disponibilizada pelo banco de supercondensadores pode-se
aumentar a capacidade ou diminuir a resistência interna do mesmo. A figura 4.21 ilustra o aumento
de corrente fornecida pelo banco de supercondensador, alterando o valor da capacidade do banco
para 20 F.
Figura 4.21 - Resposta de correntes da bateria e supercondensador com 20 F de capacitância (V = 600 V,
Considerando as mesmas condições usadas na simulação, representada pela figura 4.21,
alterou-se o valor da resistência interna do banco de supercondensadores para 0,9 Ω, resultando
numa diminuição da corrente disponibilizada pelo banco de SC, como se mostra na figura 4.22.
Figura 4.22 - Resposta de correntes da bateria e supercondensador com 20 F de capacitância (V = 600 V,
Tempo [s]
Tempo [s]
Co
rre
nte
[A
] C
orr
en
te [
A]
51
As simulações realizadas ao modelo demonstram a influência que as características internas
do supercondensador têm sobre a corrente de descarga da unidade de baterias e
supercondensadores.
Além do modelo teórico criado, foi também concebido um modelo com a bateria em paralelo
com o supercondensador em simulink, que pode ser consultado no anexo B, com o objetivo de
simular a dinâmica entre as duas unidades para o perfil de corrente do MagLev-Cobra em subida,
fazendo uso da figura 3.10. Os parâmetros usados para a simulação foram os calculados no
dimensionamento das duas unidades no subcapítulo 3.4.4.1.
Figura 4.24 - Evolução da corrente da unidade de bateria
Figura 4.25 - Curva de corrente da unidade de supercondensador
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-10
0
10
20
30
40
50
60
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-40
-30
-20
-10
0
10
20
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
52
Figura 4.26 - Evolução da tensão da unidade de Bateria e Supercondensador
Das simulações realizadas verificou-se a evolução da corrente e a tensão da unidade de
bateria e supercondensador, representada nas figuras 4.24, 4.25, 4.26. Analisando os resultados é de
salientar os valores da corrente de descarga da bateria, tomando valores superiores em relação à
capacidade de 20 Ah. Este esforço sobre a bateria, no que toca a correntes superiores a 2 C-rate,
tem como efeito uma queda acentuada da tensão, como verificado na figura 4.26. Este tipo de
utilização tem efeitos em relação ao processo de degradação da bateria, acelerando-o.
Para atenuar estes dois problemas, o sobredimensionamento de uma ou ambas unidades é a
solução, como o modelo teórico anteriormente desenvolvido indicou. Contudo esta solução tem
consequências no aumento do peso, volume e custo do sistema de armazenamento.
Como já foi referido, a tensão da unidade de supercondensadores é a mesma que a da
bateria e ao funcionar no intervalo de tensão de 530-610 V, significando que somente 13% da carga
armazenada poderá ser usada, tornando esta tipologia pouco eficiente no que toca à utilização no
que se refere à unidade de supercondensadores.
Conclui-se que esta tipologia, de fácil implementação, conduz a um nível de
sobredimensionamento dos seus componentes, acrescentando peso, volume e custo.
4.4.2 Arquiteturas Híbridas parcialmente desacopladas
As unidades de armazenamento estão ligadas através de um conversor DC/DC bidirecional
como demonstrado na figura 4.27.
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50570
575
580
585
590
595
600
605
610
615
Tempo [s]
Voltage [V
]
53
Figura 4.27 - Arquitetura semi-desacoplada
Para o caso 4.27 a),a bateria está ligada diretamente aos terminais do inversor enquanto os
supercondensadores estão separados pelo conversor de potência. Esta solução permite o controlo e
gestão de energia entre o banco SC e a bateria/carga, pelo que o dimensionamento do banco pode
ser feito otimizando a energia armazenada, significando, assim, menos peso e custo para este
componente.
A bateria, por outro lado, continua a estar sujeita aos picos de corrente proveniente da carga.
No entanto, comparando com a tipologia acoplada, o condensador pode ser controlado para atuar
nos casos dos picos de corrente, e assim compensar o esforço feito pela bateria, o que significa uma
melhor otimização da capacidade da bateria, garantido apenas que a tensão da bateria não diminua
para um valor inferior à tensão mínima de funcionamento do inversor.
Na solução 4.27 b), as baterias são imunes aos picos de potência, que dependendo da
estratégia de controlo, possibilita implementar um controlo em que a bateria só opera nos períodos de
velocidade nominal do veículo, sendo o supercondensador responsável pela aceleração, ou em toda
a operação do veículo a bateria apenas descarrega com uma corrente constante, sendo que toda a
energia proveniente da travagem regenerativa irá para o supercondensador. Tomando o primeiro
caso como referência, é possível notar que a bateria operando apenas na zona de velocidade
nominal irá precisar de menos energia armazenada para garantir a operação do veículo, pelo que a
capacidade mínima requerida é:
(4.34)
54
Contudo tendo em conta a corrente nominal máxima do cenário considerado, a capacidade
da bateria deverá ser pelo menos de 18 Ah.
Ou seja, tendo em conta o valor de referência da densidade de energia da bateria de lítio
ferro fosfato anteriormente usada, 100 Wh/kg, obtém-se uma redução de peso da unidade de bateria
comparando com a solução a).
(4.35)
O problema inerente à implementação desta solução está relacionado com as variações de
tensão bruscas que os supercondensadores podem produzir à entrada do inversor. Estas variações
podem baixar a eficiência do sistema de tração e mesmo atingir valores inferiores à tensão mínima de
funcionamento do inversor. Fazendo uso do cálculo do número de condensadores em série, equação
(4.11), onde é otimizada a capacidade do supercondensador em termos da energia necessária para
afetar a aceleração do comboio em subida, obtém-se a variação de tensão aos terminais do
supercondensador, das figuras 4.29 e 4.30.
Figura 4.28 - Evolução da corrente durante aceleração em subida no banco SC com 0,98 F
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 110
20
40
60
80
100
120
140
160
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
55
Figura 4.29 - Evolução da tensão no banco de condensadores com 0,98 F
Figura 4.30 - Evolução da tensão no banco de condensador com 8 F
Assim, no mínimo o banco de condensadores para fazer face à aceleração necessita de ser
sobredimensionado pelo menos para 8 F, o que corresponde à energia armazenada de:
(4.36)
Comparado com a capacidade do caso a), a energia armazenada é 8 vezes superior, e tendo
em conta o valor de referência de densidade energia, 5 Wh/kg, obtém-se um peso do banco de
condensadores de:
(4.37)
0 2 4 6 8 10 120
100
200
300
400
500
600
700
Tempo [s]
Tensão [V
]
0 5 10 15540
550
560
570
580
590
600
610
620
Tempo [s]
Tensão [V
]
56
(4.38)
O peso total do sistema para os dois casos de tipologia semi acoplada, encontra-se referido
na tabela 4-I.
Tabela 4-I - Comparação entre peso dos dois tipos de arquitetura semi acoplada
Bateria Supercondensador Total
Peso tipologia semi
acoplada a) [kg] 36,6 9,8 46,4
Peso tipologia semi
acoplada b) [kg] 16,7 80 96,7
De acordo com [26] o preço médio da bateria lítio ferro fosfato é de 1500 dolar/kWh, ou seja
1,5 dolar/Wh, enquanto o custo médio dos supercondensadores ainda é extremamente elevado
podendo alcançar10000 dolar/kWh, ou 10 dolar/Wh [27]. O preço médio dos dois casosé apresentado
na tabela 4-II.
Tabela 4-II - Preço dos dois casos para tipologia semi acoplada
Bateria Supercondensador Total
Preço tipologia semi
acoplada a) [dolar]
5490 490 5980
Preçp tipologia semi
acoplada b) [dolar]
2507 4000 6507
Em conclusão e fazendo a comparação entre os dois casos para o sistema de
armazenamento híbrido semi acoplado é possível afirmar que em termos de peso e custo, a tipologia
com os supercondensadores desacoplados da bateria é a melhor escolha para implementar no
sistema de armazenamento do MagLev-Cobra.
4.4.3 ArquiteturasHibridasdesacopladas
Neste tipo de arquitetura ambas as unidades estão separadas do inversor através de
conversores DC/DC bidirecionais, podendo ser divididas na arquitetura em cascata, exemplo (a) da
figura 4.31, e em paralelo, exemplo (b) figura 4.31.
57
Figura 4.31 - Arquiteturas desacopladas: a) arquitetura em cascada, b) arquitetura em paralelo
Ambas as configurações possibilitam um controlo e gestão das duas unidades, ou seja torna
possível controlar por completo a operação dos SC e baterias durante os picos de correntes, e pelo
que, a otimização do sistema a nível de energia e potência entregue à carga é muito mais eficaz que
nas configurações anteriores.
Contudo, ao incorporar dois conversores na mesma tipologia torna o controlo bastante
complexo, já que é necessário ter mais variáveis de controlo no sistema e o risco de instabilidade na
operação do sistema é maior. Outra desvantagem são as perdas na eficiência com a introdução de
dois conversores, aumentando tambémo custo.
4.4.4 Sistema Híbrido de armazenamento
Com a exposição das diferentes tipologias possíveis de serem implementadas num sistema de
armazenamento híbrido, procedeu-se à escolha de uma tipologia, tendo em vista, o seu estudo e
dimensionamento de acordo com as necessidades do MagLev-Cobra. Tendo em conta os fatores de
decisão para o dimensionamento, escolheu-se como tipologia híbrida a ser implementada no sistema
de armazenamento a unidade de supercondensador desacoplada da bateria, representada pela figura
4.27 a).
Para além do sistema de armazenamento também é instalado um conversor dc/dc isolado,
capaz de converter a tensão da bateria para 24 Vdc alimentando os sistemas elétricos instalados no
comboio, e um banco de resistências caso seja necessário, por razões de segurança, executar
travagem dissipativa, nos casos em que o estado de carga das baterias e do supercondensadores
esteja acima do valor limite estipulado.
58
Figura 4.32 - Arquitetura proposta para o Sistema de armazenamento
4.4.4.1 Unidades de armazenamento
Como calculado anteriormente, o número de células em série que constituem a bateria é de
188, pelo que a bateria tem o intervalo de tensão para o funcionamento, com os valores da tabela 4 -
III.
Tabela 4-III - Intervalo de tensão de trabalho da unidade de bateria
[V]
Tensão Máxima 610
Tensão Nominal 600
Tensão Mínima 530
Como calculado anteriormente, pela equação (4.14), a capacidade mínima da bateria é de 6
Ah, contudo devido às correntes elevadas pedidas pelo sistema de tração o sistema deverá ter pelo
menos 18 Ah. Na tabela abaixo apresentam-se algumas das células de baterias que podem ser
usadas no sistema de armazenamento do veículo MagLev-Cobra.
59
Tabela 4-IV -Lista de baterias LifePO4 disponíveis no mercado
Modelo da célula Capacidade
[Ah]
Densidade de energia
[Wh/kg]
Preço [dolar]
Peso [gr]
Corrente máxima de
descarga [A]
Resistência interna
[mΩ]
EIG Model F007 HP 7 95 - 237 140 < 3
Saft VL10Fe 10 54 - - 1000 -
Headway 38120HP 8 85,33 19,50 300 200 <5
Headway 38120L 10 106,67 19,50 300 100 <4
A123Sytems AHR32113M1Ultra-
B 4,4 85,85 10,6 205 160 -
A123 Systems ANR26650M1-B
2,5 105,26 5 76 120 <6
A123 Systems AMP20M1HD-A
20 131 34,35 496 375 -
Bestgo Power BP-HK-10F
8 125 - 225 60 -
Dos modelos analisados, destacam-se os modelos de bateria da EIG, Headway e A123
Systems, pelo que a comparação entre as quatro soluções para aplicação no sistema de
armazenamento do Maglev Cobra resultouna tabela 4-V.
Tabela 4-V -Comparação entre ESS composto por diferentes modelos de bateria
Modelo da célula Capacidade
[Ah] Peso em
Células [gr] Descarga Maxima
Energia armazenada
[Wh]
Resistência interna [mΩ]
EIG Model F007 HP 14 89112 280 8540 <282
Headway 38120HP 16 112800 400 9760 <750
Headway 38120L 20 112800 200 12200 <600
A123 Systems ANR26650M1-B
20 114304
960 12200 <564
A123 Systems AMP20M1DH-A
20 87232 374 12200 -
Os quatro modelos de bateria dispõem de potência suficiente para alimentar o veículo,
armazenando mais energia do que necessário, visto que a sua capacidade é maior que a capacidade
mínima calculada para alimentar o veículo durante uma hora de ponta. Em termos de eficiência global
do sistema a bateria EIG contendo uma resistência interna inferior, terá menos perdas por efeito de
joule que as restantes.Na subida do MagLev-Cobra durante a fase em velocidade cruzeiro, a corrente
média é correspondente a 18 A. Nestas condições calcularam-se as perdas nos sistemas de baterias.
;
(4.39)
Fazendo uso da equação (4.6) a eficiência dos diferentes sistemas de baterias será:
60
(4.40)
O modelo de bateria escolhido para integrar o sistema de acordo com a otimização do
sistema em termos de energia armazenada, parâmetro que influencia o peso, custo e volume, foi o
modelo A123System AMP20M1DH-A, o qual será constituído 188 células em série. A informação
técnica deste produto pode ser consultada no anexo C.
Figura 4.33 - A123 Systems AMP20M1DH-A
Para a escolha do tipo de supercondensador a ser usado, primeiro definiu-se a potência
máxima e a energia a armazenar.
A potência máxima ocorre quando o veículo acelera na situação de subida, sendo
aproximadamente 22,3 kW. Para a energia armazenada necessária usou-se como referência o caso
com maior necessidade energética dentro das quatro situações de aceleração e desaceleração em
subida ou descida, sendo que a aceleração em subida tem o maior custo energético com 46,73 Wh.
A tensão máxima escolhida para a unidade de supercondensadores foi 600 V, sendo a tensão
mínima 25% da tensão máxima, 150 V, significando assim que os limites do fator de ciclo para modo
redutor e elevador serão:
Modo
Redutor
(4.41)
Modo
Elevador
(4.42)
Os supercondensadores apresentam uma tensão nominal de 2,7 V,o que corresponde ao
seguinte número em série:
61
(4.43)
Ou seja, para 222 condensadores em série a capacidade equivalente da unidade de
armazenamento é dada pela equação (4.44).
(4.44)
Cada condensador deve ter uma capacidademínima de:
(4.45)
Tabela 4-VI – Tabela de Supercondensadores ansalisados
Modelo SC Capacitância
[F]
Densidade de energia
[Wh/kg]
Densidade de
Potencia [W/kg]
Peso [gr]
Corrente nominal [A]
Corrente máxima de descarga
[A]
[mΩ]
Maxwell BCAP0310
310 5,2 6600 60 31 250 2.2
Maxwell BCAP0350
350 5,9 4600 60 35 170 3.2
Maxwell BCAP0650
650 4,1 6800 160 65 680 0,8
Ioxus Multi Pin 350 5,4 10000 66 24 243 2,7
Nesscap ELDC Medium
360 5,4 4080 67 37 225 3,2
Nesscap ELDC Medium
325 5,1 7080 64 49 271 1,9
NessCap ELDC Large Cilindrical
650 3,2 7100 205 68 630 0,6
Dos modelos disponíveis no mercado analisados, destaca-se Maxwell BCAP0350 pela maior
de densidade energia e uma densidade de potência suficiente para alimentar o sistema de tração.
Estas características fazem com que este modelo seja o escolhido para integrar a unidade de
supercondensadores. A informação técnica deste modelo pode ser consultada no Anexo D.
62
Figura 4.34 – Maxwell BCAP0350
4.4.4.2 Conversor
O conversor DC/DC reversível em corrente apresentado na figura 4.35 tem as características
referidas na tabela 4-VII
Tabela 4-VII – Características do conversor Redutor-Elevador
Tensão ligação à bateria 610 – 530 [V]
Tensão ligação ao banco de supercondensadores 600 – 150 [V]
Potência nominal 25000 [W]
Frequência de comutação 20 KHz
Ripple de tensão maximo admissível na Bateria
0,05 %
Figura 4.35 - Conversor DC/DC Redutor-Elevador
63
Sendo um conversor reversível em corrente, pode carregar ou descarregar o banco de
supercondensadores, pelo que apresenta dois modos de funcionamento: Redutor e Elevador.
4.4.4.2.1 Redutor
Este modo corresponde ao carregamento do supercondensador pela corrente proveniente da
bateria ou da travagem regenerativa.
Considerando os estados dos semicondutores S1 e S2, representado na figura 4.36.
Figura 4.36 – Representação do fluxo da corrente para os dois intervalos do período de funcionamento do conversor em modo redutor
Desprezando a Resistência R e sabendo que a tensão média na bobine é nula, obtém-se a
seguinte relação entre a tensão da bateria e do banco de supercondensadores.
(4.46)
(4.47)
(4.48)
Considerando a equação diferencial que descreve o comportamento da corrente na bobine é
possível dimensionar o coeficiente de indução mínimo, através da equação (4.51).
(4.49)
64
(4.50)
(4.51)
Fazendo uso da equação (4.48):
(4.52)
Considerando que a variação máxima da corrente da bobina seja 1 A e que o valor máximo
da tensão da bateria é de 610 V e o valor de correspondente ao valor máximo de é 0,5 [28],
para uma frequência de 20 kHz:
(4.53)
4.4.4.2.2 Elevador
O modo elevador do conversor corresponde à situação em que os supercondensadores estão
a fornecer corrente à bateria ou à carga. Considerando a forma de funcionamento do sistema em
modo elevador:
No modo elevador, a relação entre a tensão da bateria e condensadores é dado pela equação
(3.56).
(4.54)
(4.55)
(4.56)
Voltando a seguir o raciocínio feito no modo redutor,o cálculodo coeficiente de indução da
bobina é:
65
(4.57)
(4.58)
Fazendo uso da equação (3.56), obtém-se:
(4.59)
(4.60)
A bobina é maximizada para o caso em que a tensão do banco de supercondensadores
corresponde a metade da tensão máxima da bateria, obtendo-se
(4.61)
(4.62)
O coeficiente mínimo de indução da bobina é o mesmo que no modo redutor.
Durante o funcionamento do conversor em modo elevador, altura em que a unidade de
condensador estará a injetar corrente para a carga/bateria, o fato de ter uma frequência de
comutação elevada, produz tremor na tensão e corrente que pode danificar a bateria, pelo que é
requerido o dimensionamento de um filtro passa baixo LC.
Sabendo que a frequência própria de um filtro LC é dada pela equação (3.63), esta tem que
ser inferior à frequência de comutação do conversor:
(4.63)
(4.64)
(4.65)
Fazendo uso da equação diferencial do condensador:
66
(4.66)
(4.67)
O cálculoda capacidade do condensadorfez-se, considerando a corrente máxima que o
sistema de tração pode requerer.Nesta situação, a resistência equivalente, , vista pelo conversor
em relação ao sistema de tração, corresponde a 1,008 Ω. Considerou-se o pior caso possível,
correspondendo à tensão mínima que o banco de supercondensadores pode alcançar, pelo que a
capacidade do condensador de filtragem é calculada pela equação (4.68).
(4.68)
Usando a equação (4.65), obtém-se o coeficiente de indução mínimo para a bobina.
(4.69)
4.5 Controlo e Gestão do sistema
A análise efetuada à operação do conversor nos modos redutor e elevador, atuando assim no
fluxo de potência entre o banco de supercondensadores e unidade bateria/tração, tornapossível a
formulação de um sistema de gestão tendo por base a operação do veículo.
Como estudado, o conversor apresenta dois modos de funcionamento:
Redutor – A corrente proveniente da travagem regenerativa ou da bateria carrega os
supercondensadores
Elevador – Aquando da aceleração os supercondensadores fornecem corrente à carga,
evitando que a bateria fique sujeita a picos de corrente
Para o dimensionamento do sistema híbrido de armazenamento de energia, para evitar os
picos de corrente provenientes da travagem e aceleração do veículo, é possível definir os valores de
corrente pelo do conversor.
Para efeitos de controlo convencionou-se o sentido da corrente, respeitando o sentido do
fluxo de energia do sistema de armazenamento, como representado na figura 4.37.
67
Figura 4.37– Sentido do fluxo de energia entre sistema de tração e o armazenamento de energia.
Nas figuras 3.10 e 3.11, ilustra-se a evolução da potência mecânica desenvolvido pelo
comboio para as situações de subida e descida da linha de 200 metros. Simplificando o raciocínio, no
cálculo da corrente média pedida pelo sistema de tração, considerou-se o fator de potência unitário,
pelo que a corrente pode ser calculada pela equação (4.70).
(4.70)
Para que a descarga da bateria tenha um comportamento constante, de acordo com a figura
3.10, definiu-se que o conversor deverá operar para correntes superiores a 40 A, para não expor a
bateria a correntes superiores ao dobro da sua capacidade. Para o limite inferior de corrente e
considerando a característica de carga das baterias de , por razões de segurança, estipulou-
se o limite de corrente de carga 1 C-rate, pelo que para uma capacidade de 20 Ah, o limite de
corrente de carga,no qual, o conversor começará a funcionar em modo redutor é 20 A.
68
Figura 4.38 - Intervalos de operação do conversor de acordo com o valor de corrente de carga
4.5.1 Controlo do conversor
A relação entre as tensões de entrada e saída do conversor é dada pelos tempos de
comutação dos semicondutores, pelo que o controlo mais comum usado neste tipo de potência é a
modelação por largura de impulso, dando origem ao fator de ciclo de comutação dos semicondutores.
A técnica de controlo aqui desenvolvida baseia-se nos trabalhos [25] e [29].
Como exemplificado na figura 4.39, o fator de ciclo é obtido através da comparação entre dois
sinais, a portadora e a modulante. A portadora neste caso é uma onda triangular com valor máximo
e com o mesmo período de comutação dos semicondutores, T.
(4.71)
A modulante pode tomar valores entre . Para o período em que a modulante
é superior à portadora, é gerado à saída do comparador um sinal com valor igual a 1. No caso em
que a modulante é inferior à portadora, o sinal gerado à saída do comparador é 0. Desta forma, o
fator de ciclo está diretamente relacionado com a relação do valor da modulante e o valor máximo da
portadora, como representado na equação (4.72).
(4.72)
69
Figura 4.39 - Exemplo de Modulação PWM
4.5.2 Modelação da dinâmica do conversor
Sendo um conversor comutado, o fator de ciclo é definido a cada período, sendo só modificado
no período seguinte. Este fato pode conduzir a um atraso que pode tomar valores entre .
Atendendo que a frequência de comutação do conversor tem associada uma constante de tempo
muito inferior aos componentes reativos dos conversores, em regime de pequenas perturbações
pode-se considerar a variável de atraso , um valor médio corresponde a metade do período de
comutação.
(4.73)
O conversor foi dimensionado para evitar que entre em regime lacunar, pelo que a sua
modulação da relação no domínio do tempo entre tensão de saída o sinal modulante é dado por:
(4.74)
70
4.5.3 Controlo de Corrente
Para dimensionar o controlo de corrente do conversor, é necessário analisar a carga à saída do
conversor, como representado na figura 4.40.
Figura 4.40 - Diagrama de controlo do conversor com uma RLE
A força eletromotriz corresponde à tensão do banco de supercondensadores, pelo que
função de transferência de Laplace da corrente de saída, é:
(4.74)
Figura 4.41 - Malha de controlo de corrente do conversor com carga RLE
O Bloco C(s) corresponde ao compensador PI que atua sobre o sistema de segunda ordem
sem pólos na origem e dois pólos reais. Utilizando estritamente ganho proporcional,o erro estático
não é anulado e para ganhos elevados há possibilidade de instabilidades no sistema, pelo que se
adiciona ganho integral calculado para garantir erro estático de posição nulo e insensível às
perturbações da tensão dos supercondensadores.
71
Um compensador PID pode ser necessário no caso de existirem pólos de alta frequência. A
função de transferência do controlador PI é dada por:
(4.75)
Sendo que a equação do sistema em malha aberta é dada por:
(4.76)
(4.77)
Fazendo uso do teorema do valor final é possível verificar que o PI não é capaz de
compensar os pólos complexos da carga, pelo que é feita a seguinte aproximação usando a
frequência natural:
(4.78)
(4.79)
Sabendo que a coeficiente de amortecimento ζ tem valor de na situação ótima, obtém-se
assim a equação para o cálculo de :
(4.80)
4.5.4 Decisão
A figura 4.42 representa o diagrama da decisão da operação do conversor.
72
Figura 4.42 - Diagrama de decisão do sistema
Quando a corrente ultrapassa o limite de corrente, representado na figura 4.42. O cálculo da
corrente de referência que irá definir a relação de comutação dos semiconductores é feito seguindo a
lógica já referida de manter a corrente da bateria constante. Para o cálculo da corrente de referência
recorre-se à equação (3.81).
(4.81)
Sendo que corresponde ao coeficiente que está diretamente correlacionado com os
limites de tensão nos casos de descarga e carga do banco de supercondensadores.
(4.82)
Além do controlo do conversor, o sistema de decisão deve considerar o estado de carga das
unidades bateria e supercondensadores para decidir se a travagem é regenerativa ou
dissipativa,usando o banco de resistências instalado no veículo. Este tipo de decisão deve garantir a
segurança do sistema, já que o carregamento dos sistemas de armazenamento com um estado de
carga elevado, pode levar à ocorrência de sobrecargasacelerando o processo de degradação do
sistema. A decisão do sistema entre travagem resistiva ou regenerativa é representada pela equação
(4.83).
(4.83)
73
4.6 Monotorização e gestão da carga
O facto de nem todas as células apresentarem as mesmas características, dá origem a
problemas de equalização do estado de carga, sendo que no caso do sistema dimensionado para o
MagLev-Cobra não é exceção.
As situações de desequilíbrio de SOC11
entre células são originadas durante a carga e
descarga, tendo como causa o envelhecimento individual de cada célula, como representado pela
figura 4.43, em operaçãocom temperaturas elevadas ou em ciclos de carga e descarga diferentes.
Figura 4.43 - Evolução do SOC nominal do modelo A123 Systems ANR26650M1-B ao longo da sua utilização [15]
A diferença entre o SOC de cada célula, num sistema de armazenamento, figura 4.43,
aumenta o esforço sujeito pela bateria com menor carga durante a operação do veículo, contribuindo
paraa aceleração do processo de envelhecimento. O desequilíbrio do estado de carga pode também
originar problemas durante o processo de carregamento da bateria, como exemplificado na figura
4.43 caso A e B, em que o sistema de armazenamento não está carregado a 100%, embora possa
haver células que já tenham atingido 100% do SOC. Pelo que, se o carregamento continuar, estas
células ficarão em sobrecarga, pondo em causa a segurança do sistema.
11
SOC refere-se a state of charge, ou seja, ao estado de carga da bateria.
74
Figura 4.44 - Diferentes exemplos demonstrado o valor aparente de SOC do conjunto de baterias face a desequilíbrios de estado de carga entre as células do conjunto
Os sistemas de armazenamento de energia constituído por baterias ou supercondensadores,
devem ter um sistema auxiliar de monotorização e gestão de estado de carga, designado na literatura
por battery management system (BMS).
Existem duas principais técnicas de balanceamento12
:
Passiva – As células com maior estado de carga em relação a um valor ponderado pelo
sistema, dissipam essa energia em resistências. Este sistema é bastante fácil de implementar
e mais barato, em comparação com balanceamento ativo, embora demore mais tempo a
balancear.
Figura 4.45 - Exemplo de balanceamento passivo [30]
12
Designação da equalização de estado de carga das células de bateria/supercondensadores
75
Ativa – Ao contrário do balanceamento passivo, a energia armazenada nas baterias com
mais carga, não é desperdiçada na dissipação resistiva, mas sim transferida para as baterias
com menos carga, a fim de equalizar a carga. Existem várias técnicas de equalização ativa
passando pelo balanceamento capacitivo, indutivo e com recurso a conversores de potência.
Este tipo de balanceamento tem como vantagens ser mais rápido que o passivo e obter uma
melhor eficiência do processo, já que se procede à transferência de energia. Contudo o nível
de complexidade aumenta com o número de células do sistema e tem custos superiores.
Figura 4.46 - Exemplo de balanceamento capacitivo e indutivo [31]
O custo característico por célula do sistema passivo é de 1 dolar, enquanto os sistemas ativos
têm o custo por célula de 10 dolar [32].
No âmbito do desenvolvimento do sistema de armazenamento de energia, propõe-se o sistema
de balanceamento representado na figura 4.47. Optou-se por uma tipologia Master-Slave13
, uma
tipologia mais flexível de implementar, descentralizada por módulos e que se adequa perfeitamente à
existência de dois sistemas de armazenamento de energia.
O Master para além de receber os dados de tensões, corrente e temperatura dos slaves para
identificar as células a serem balanceadas, tem que ser capaz de evitar situações de sobrecarga ou
diminuição da tensão abaixo do admissível pelo sistema.Assim, tem que ter a capacidade de
transmitir esses dados para o sistema de gestão de energia, já apresentados nos subcapítulos
anteriores.
13
Mater-slave designa a arquitetura do BMS por módulos. O Master refere ao módulo responsável pela computação do estado de carga total do sistema e individual de cada célula, enviado os sinais de balanceamento aos Slaves, módulos onde se efetua o balanceamento e que mede os valores de tensão, corrente e temperatura de cada célula.
76
Figura 4.47 - Esquema do BMS a ser implementado no sistema de armazenamento híbrido
4.7 Simulação
Para efeitos de simulação do sistema usou-se o modelo do sistema híbrido de
armazenamento desenvolvido em Matlab/Simulink e que pode ser consultado no Anexo A.
Tendo em conta o perfil de velocidades e potência do comboio durante a subida e descida e
considerando o fator de potência unitário, obtém-se a corrente média de carga, como poderá ser
observado pelas figuras 4.48 e 4.56.
Realizaram-se duas simulações, correspondente à subida e descida do veículo, sendo que os
resultados obtidos, em relação à corrente, tensão e potência das duas unidades, estão representados
nas figuras 4.48 a 4.55, para a subida, e nas figuras 4.56 a 4.63, para a descida, respetivamente
77
Figura 4.48 - Corrente do sistema de tração em subida
Figura 4.49 - Evolução da corrente na bateria
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-20
-10
0
10
20
30
40
50
60
Tempo [s]l
Corr
ente
[A
]
78
Figura 4.50 - Evolução da corrente no banco de supercondensadores
De acordo com as figuras 4.48, 4.49 e 4.50 que mostram a evolução da corrente média do
sistema de tração e das unidades de supercondensadores e baterias, o conversor atua quando a
corrente chega aos 20 A. Como é de esperar, a corrente de descarga da bateria mantem-se
constante, enquanto a corrente na unidade de supercondensadores compensa a descida de tensão
de alimentação do inversor ao longo da operação do veículo.
Figura 4.51 - Tensãoda bateria
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50560
570
580
590
600
610
620
630
640
Tempo [s]
Tensão [V
]
79
Figura 4.52 – Tensão [V] supercondensadores
As figuras 4.51 e 4.52 permitem verificar que neste modo de operação a evolução da tensão
da bateria encontra-se dentro do intervalo de tensão de trabalho do inversor, como pretendido.
Figura 4.53 – Potência do sistema de tração
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50480
490
500
510
520
530
540
550
560
570
580
Tempo [s]
Tensão [V
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5x 10
4
Tempo [s]
Potê
ncia
[W
]
80
Figura 4.54 – Potência da bateria na subida
Figura 4.55 - Potência do banco de supercondensadores na subida
As figuras 4.54 e 4.55 representam a potência entregue ao sistema de tração. A potência da
bateria mantem-se constante no valor pretendido, sendo que a unidade de supercondensadores
compensa o restante valor da potência, evitando um esforço na operação da bateria.
A simulação do sistema de armazenamento para a descida realizou-se tendo em conta a pior
situação de funcionamento, em que não existe carregamento na estação, pelo que a tensão de início
da operação das unidades correspondem à tensão dos sistemas no final da operação do veículo na
subida da linha experimental.
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3x 10
4
Tempo [s]
Potê
ncia
[W
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5x 10
4
Tempo [s]
Potê
ncia
[W
]
81
Figura 4.56 - Corrente do sistema de tração em descida
Figura 4.57 - Corrente da bateria durante a descida
Figura 4.58 - Corrente da unidade de supercondensadores em descida
No caso de descida, e tendo em conta as características da operação, apresentadas no
capítulo 4.2, nomeadamente na potência superior de desaceleração, é expectável que o conversor
entre em ação, ao contrário da operação em subida, tal pode ser observado nas figuras 4.57 e 4.58 a
partir dos 36 segundos, sendo que a corrente de carga da bateria não ultrapassa os 20 A como
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-30
-20
-10
0
10
20
30
40
50
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-50
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
50
Tempo [s]
Corr
ente
[A
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
6
Time [s]
Curr
ent [A
]
82
pretendido. No início do funcionamento em modo redutor denota-se um pico da tensão e corrente,
decorrente da instabilidade causada pela mudança brusca de corrente.
Figura 4.59 – Potência do sistema de tração em descida
Figura 4.60 - Potência da bateria em descida
Figura 4.61 - Potência da unidade de supercondensadores em descida
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5x 10
4
Tempo [s]
Potê
ncia
[W
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-3
-2
-1
0
1
2
3x 10
4
Tempo [s]
Potê
ncia
[W
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-1500
-1000
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
Tempo [s]
Potê
ncia
[W
]
83
Figura 4.62 - Tensão da bateria em descida
Figura 4.63 – Tensão da unidade supercondensadores em descida
Durante a operação do veículo em descida,na situação em que o carregamento não é
efetuado, verifica-se que o sistema de armazenamento cumpre os requisitos da tensão em ambas as
unidades de armazenamento.
Após o final da descida a tensão do sistema de supercondensadores é de 480 V,
correspondendo a 78% da carga do banco de SC. De acordo com a simulação na subida, a energia
consumida é cerca de 15% da carga total do banco de SC. Concluindo-se que para estas condições,
após 4 trajeto de subida e descida, é necessário um carregamento do banco de supercondensadores,
podendo ser efetuado pela rede, quando o veículo se encontra parado na estação ou através de uma
transferência de energia entre a bateria e os supercondensadores.
Conclui-se através das simulações feitas à operação em subida e descida que o sistema de
armazenamento satisfaz os critérios de operação pré-estabelecidos. Reconhece-se que durante
mudanças bruscas de corrente, o conversor tem uma resposta lenta, originando picos de corrente e
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50530
540
550
560
570
580
590
600
610
Tempo [s]
Tensão [V
]
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50479
479.2
479.4
479.6
479.8
480
480.2
480.4
480.6
480.8
Tempo [s]
Tensão [V
]
84
tensão sobre a bateria, figuras 4.49, 4.51, 4.57 e 4.62. Esta situação pode ser resolvida com
otimização do sistema de controlo de corrente.
85
5 Viabilidade económica
Nestecapítulo será analisado a viabilidade económica da instalação do sistema de
armazenamento proposto por este trabalho, comparando com a solução de armazenamento de
baterias e comparando com o custo ponderado da instalação elétrica da linha experimental e a
extrapolação para a futura ampliação e disseminação do transporte pela cidade do Rio de Janeiro.
O custo dos principais componentes do sistema de armazenamento é apresentado na tabela 5-I.
Tendo em conta a revisão feita aos diferentes tipos de tipologia passível de ser implementada no
sistema de armazenamento do Maglev Cobra, desenvolvido no subcapítulo 4.4, considera-se que:
A123Sytems AHR32113M1Ultra-B – 10,6 dolar/célula 4,5 Ah
A123SystemsAMP20M1HD-A– 34,35 dolar/célula 20 Ah
Maxwell – 6,79 dolar/célula 350 F
Maxwell – 36 dolar/célula 2000 F
BMS – 10 dolar/célula
ESS Bateria – A capacidade mínima calculada é de 35 Ah, a qual garante a operação no
intervalo de tensão de trabalho e suporta a corrente proveniente da travagem, pelo que a
configuração da bateria com menos custo é com 2 grupos de 188 células em série em paralelo,
perfazendo 376 células de 20 Ah.
HESS Acoplado – Considerou-se que a unidade de bateria deverá ter uma capacidade de 20 Ah
e a unidade de supercondensadores deverá ter a sua capacidade sobredimensionada, para ter uma
maior capacidade de garantir a entrega de potência nas variações de corrente de carga.
HESS Semi desacoplado bateria – Neste caso a capacidade da bateria está otimizada,
enquanto os supercondensadores têm a capacidade sobredimensionada para 8 F. Correspondendo a
uma capacidade individual dos supercondensadores de 2000 F. O conversor de potência terá uma
potência nominal inferior, tendo um custo inferior, comparativamento à tipologia HESS semi
desacoplada supercondensador.
HESS Semi desacoplado Supercondensador – De acordo com estudo efetuado a esta
tipologia, a capacidade da bateria e do supercondensador corresponde à dimensionada no
subcapítulo 4.4.4.1.
86
Tabela 5-I – Características dos sistemas de armazenamento considerados, sendo que constituído pelos seguintes modelos: * - A123System 2,5 Ah ; ** - Maxwell 2000 F ; *** - A123System 4,5 Ah ; **** - Maxwell 350 F
Componentes ESS
Bateria HESS Acoplado
HESS Semi
desacoplado
Bateria
HESS Semi
desacoplado
Supercondensador
Número de condensador - 444 ** 222** 222****
Número de células de
bateria 376* 188 * 846*** 188*
Numero ciclos Bateria <1000 >1000 >2000 >1000
Numero ciclos
Supercondensador - 1 000 000 1 000 000 500 000
Preço Unidade Bateria [$] 12916 6478 6967 6478
Preço Unidade
Supercondensador [$] - 3015 7992 1507,38
Custo de conversor [$] - - 750 1500
Custo de BMS [$] 3760 6320 10680 4100
Custo total [$] 16676 15813 26419 13585
Na tabela 5-I é possível verificar que dentro das tipologias híbridas, a que apresenta menor
custo é a tipologia com o banco de supercondensadores desacoplado da bateria/sistema de tração,
que foi previamente estudada. Contudo tem um custo superior a um sistema de armazenamento só
composto por baterias, o que era expectável devido à instalação de uma unidade de
supercondensadores, associado ao aumento do custo do sistema de gestão de carga e a aquisição
de um conversor.
Contudo, segundo [33] o fato de a bateria estar menos sujeita apicos de corrente, os
condensadores funcionam como unidade fornecedora de potência, o que faz com que a vida útil das
baterias seja prolongada em comparação com o sistema de armazenamento constituído só com
baterias, ou seja, em termos de longo prazo o sistema híbrido pode apresentar um custo menor, já
que o intervalo de tempo entre substituições da bateria é superior.
O fato de se desenvolver um sistema de armazenamento no qual o veículo Maglev-Cobra se
torna um veículo autónomo, sem necessitar de fonte externa para realizar a sua operação, apenas
precisando de carregar o sistema de armazenamento quando para na estação, faz com que não seja
necessária a construção de catenárias e instalação elétrica em toda a extensão da linha.
Teoricamente o custo estimado de construção e implementação da linha do Maglev Cobra situa-se
entre 13,336 milhões de dólares por km [1] e comparando com a relação entre o custo total e o que
corresponde à eletrificação da linha apresentado em [34], cerca de 10% o que corresponde a 1,333
87
milhões dólares por km, sendo o custo da instalação do ‘carril eletrificado’ correspondente a 40%
desse valor, cerca de 533 mil dólares por km.
Fazendo uma transposição dos valores anteriores para a linha de 200 metros experimental, e
considerando que o preço de eletrificação de 100 metros de linha é de 53,3 kdolar por km, este custo
ponderado deverá ser de 106,6 kdolar.
Assim, fazendo uma análisecomparativa entre o sistema de armazenamento e a instalação do
carril eletrificado num espaço temporal de dez anos, tendo sido considerado as seguintes premissas:
taxas de manutenção do carril anuais equivalentes a 1% do investimento na sua instalação e 5%
anuais no caso do sistema de armazenamento,estimando-se que a unidade da bateria tenha que ser
trocada de três em três anos e a unidade de supercondensadores de dez em dez anos, a taxa de
atualização indexada à inflação considerou-se nula para comparação.
Tabela 5-II - Custos entre sistema de armazenamento de energia e a electrificação da linha
Ano MagLev-Cobra com ESS [dolar] MagLev-Cobra sem ESS [dolar]
0 13585 106 500
1 679 1056
2 679 1056
3 7157 1056
4 679 1056
5 679 1056
6 7157 1056
7 679 1056
8 679 1056
9 7157 1056
10 2007 1056
Total 41137 117 060
Os custos ponderados da instalação de um sistema de armazenamento capaz de tornar o
veículo autónomo consegue gerar poupanças, ao substituir a infraestrutura eletrificada para alimentar
o veículo ao longo da linha experimental.
Tendo em conta as intenções de expansão do transporte pela cidade do Rio de Janeiro,
começando com a construção da linha operacional, onde o veículo operará a velocidades mais
elevadas, requisitando mais potência em trajetos mais longos, pelo que o sistema de armazenamento
terá invariavelmente de ter uma capacidade muito superior à atual, garantindo a autonomia do
veículo.Sendo que a nível financeiro terá um custo superior. Contudo espera-se que aplicando uma
88
escala ao modelo da linha experimental, as mesmas poupanças de investimento, obtidas pela
substituição da eletrificação da linha por um sistema de armazenamento, possam ser realizadas. A
quantidade de energia necessária para armazenar pode no entanto significar um aumento do peso e
volume do sistema, o que a nível técnico possa não ser praticável, deixando-se esse estudo para
trabalho futuro.
89
Conclusões e trabalhos futuros
Conclusões
Com a realização deste trabalho foi possível desenvolver um estudo sobre a operação do
veículo MagLev-Cobra na linha experimental de 200 metros instalada no campus da universidade do
Rio de Janeiro. Este estudo baseou-se num modelo de utilização do veículo durante uma hora de
ponta. Aplicando a análise ao movimento do transporte, obteve-se o trabalho mecânico necessário a
realizar pelo veículo, durante o cenário de operação considerado. Conclui-se que a relação entre o
trabalho mecânico necessário para travar o veículo e o necessário para realizar o movimento durante
a hora de ponta, corresponde a 24,5%, sendo que o trabalho regenerado é suficiente para alimentar
os circuitos auxiliares elétricos instalados no interior do veículo
No capítulo 4, realizou-se uma comparação entre as três principais tecnologias de
armazenamento de energia usada em sistemas de tração elétrica, comparando principalmente em
termos de densidade e volume específico de energia, preço e desempenho. Sendo analisadas as
opções em termos de baterias, supercondensadores e volantes de inércia, foi posta de parte esta
última opção. Após uma revisão das características das bateiras e supercondensadores, e escolha do
tipode baterias a utilizar nesta aplicação, é feita uma revisão às diferentes tipologias de ESS,
chegando-se à conclusão que um sistema híbrido composto por uma unidade de
supercondensadores desacoplada da unidade de bateria e a carga por um conversor DC/DC redutor-
elevador bidirecional é a melhor solução em termos de peso e desempenho, possibilitando o controlo
dos picos de potência incidentes na bateria, para que esta funcione em condições de descarga e
carga constantes, fazendo uso do controlo de corrente do conversor e transferindo esses picos para o
banco de supercondensadores.
No capítulo 5 é desenvolvida a análise dos custos dos vários sistemas de armazenamento
estudados, chegando-se à conclusão queos sistemas com menos custos são o sistema composto só
por baterias e o sistema híbrido estudado no capítulo 3. Também se estimou o custo de eletrificar a
linha de 200 metros, comparando o custo de implementar o sistema de armazenamento, concluindo-
se que a implementação do ESS pode gerar poupanças, ao prescindir-se da eletrificação da linha.
90
Trabalhos futuros
Propõe-se para trabalhos futuros o desenvolvimento e aperfeiçoamento do sistema proposto,
principalmente no controlo de corrente, que neste trabalho não está totalmente otimizado. Outro
assunto que não foi alvo de detalhe foi o carregamento do sistema. Propõem-seque o carregamento
seja feito na estação, enquanto o veículo está parado, através de técnicas de carregamento rápido.
Também será interessante que se equacione a implementação de uma fonte interna de energia,como
a solar por exemplo.
A abordagem dos anteriores tópicos abrem espaço para o desenvolvimento de um protótipo
para ensaios laboratoriais, preparando assim a sua implementação no veículo.
91
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[35] S. McCluer e J.-F. Christin, “Comparing Data Center Batteries, Flywheels, and Ultracapacitors,”
Schneider Electric, 2011.
95
Anexos
Anexo A
Modelo geral do sistema hibrido semi activo
Conversor DC/DC
96
Sistema Decisão e Controlo
Anexo B
97
Anexo C
Datasheet A123System
98
Anexo D
Datasheet Maxwell BC series
99