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Uma batalha entre razão e coração... Sir Robin volta da índia para a Inglaterra pouco antes da morle do pai decidido a fazer a irmã se casar com um milionário americano, magnata do petróleo. Mas o destino tem seus caprichos. Alena apaixona-se por Vincent, um artista pobre, que vive exclusivamente de sua arte. Disposta a lutar pelo grande amor de sua vida, Alena sabe que, além de ter de escolher entre o amor e o dinheiro, ainda terá de vencer a forte oposição do irmão, que não aceita sua união com um pobretão. O futuro, porém, guarda mistérios e surpresas que os dois amantes nem sequer imaginam... Disponibilização: Fernanda Digitalização/Revisão: Clarice Barbara Cartland

Barbara Cartland · 2015. 2. 11. · Barbara Cartland. POR AMOR OU DINHEIRO ROMANCES NOVA CULTURAL Querida leitora, A partir do próximo número uma edição inédita estará nas

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Uma batalha entre razão e coração...

Sir Robin volta da índia para a Inglaterra pouco antes da morle do pai decidido a fazer a irmã se casar com um milionário americano, magnata do petróleo. Mas o destino tem seus caprichos. Alena apaixona-se por Vincent, um artista pobre, que vive exclusivamente de sua arte. Disposta a lutar pelo grande amor de sua vida, Alena sabe que, além de ter de escolher entre o amor e o dinheiro, ainda terá de vencer a forte oposição do irmão, que não aceita sua união com um pobretão. O futuro, porém, guarda mistérios e surpresas que os dois amantes nem sequer imaginam...

Disponibilização: FernandaDigitalização/Revisão: Clarice

Barbara Cartland

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POR AMOR OU

DINHEIRO

ROMANCES NOVA CULTURAL

Querida leitora,

A partir do próximo número uma edição inédita estará nas bancas a cada duas semanas. São histórias selecionadas, que se passam nos países mais exóticos possíveis e onde acontecem grandes amores, espionagens, segredos de reinos. Você não pode perder!

Enquanto isso, se emocione com este romance mais do que apaixonante: Por Amor ou Dinheiro. Qual você escolheria?

Janice Florido Editora

NOTA DA AUTORA

Rafael Sanzio (1483-1520) foi um dos grandes pintores italianos da Renascença. A casa onde nasceu, em Urbino, ainda conserva um afresco, "Madona e o Menino", possivelmente uma das obras do pai do pintor, ou

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um dos primeiros trabalhos do próprio Rafael.Em 1509 Rafael foi nomeado pintor do palácio pontifício pelo papa

Júlio II. O papa reconheceu o talento do jovem pintor, colocando-o à altura de Michelangelo.

O artista decorou as salas do Vaticano, hoje conhecidas como stanze de Rafael. Provavelmente pelo magnífico trabalho realizado nas stanze, Rafael recebeu do papa uma sinecura papal.

Acometido por uma doença que durou apenas uma semana, Rafael faleceu aos 6 de abril de 1520, uma Sexta-Feira Santa, aos trinta e sete anos, idade em que a maioria dos grandes artistas atingem a maturidade.

Sepultado no Panteon de Roma, recebeu como epitáfio as palavras comovidas do amigo, cardeal Pietro Bembo.

Título original: Money or loveCopyright: © 1993 by Barbara Cartland

Tradução: Ercília Magalhães Costa

Copyright para língua portuguesa: 1994CÍRCULO DO LIVRO LTDA.

EDITORA NOVA CULTURALUma divisão do Círculo do Livro Ltda.

Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346CEP 01410-901 – São Paulo – SP – Brasil

Fotocomposição: Círculo do LivroImpressão e acabamento: Gráfica Círculo

CAPÍTULO I

1891

O advogado terminou a leitura do testamento e, com expressão pesarosa, disse ao jovem herdeiro:

— Lamento, sir Robin, mas isso é tudo. Posso imaginar que esteja chocado depois do que ouviu.

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— Mais do que chocado, sr. Lawson. Melhor seria dizer horrorizado ou estarrecido — corrigiu sir Robin Dunstead. — Na verdade não há termos capazes de expressar exatamente o que estou sentindo.

Sentada no sofá, junto de sir Robin, estava sua irmã, Alena, que apenas pousou a mão no braço no dele, indicando com o gesto que partilhava dos mesmos sentimentos.

— Não se preocupe, sir Robin. Ninguém mais, além de meus sócios, está a par de sua situação e jamais a revelaremos a quem quer que seja — acrescentou o advogado.

— Eu lhe agradeço por isso, sr. Lawson. Ao mesmo tempo, acho impossível não haver nas propriedades deixadas por meu pai alguma coisa que possa ser vendida.

O advogado, senhor idoso, de cabelos brancos, que havia trabalhado para o falecido sir Edward Dunstead durante mais de quarenta anos, conhecia melhor do que ninguém tudo o que se relacionava com a propriedade Dunstead. Compreendendo a ansiedade do herdeiro, esclareceu:

— Estou sendo absolutamente sincero, sir Robin. Afirmo que sir Edward vendeu tudo o que não se achava vinculado. Caso o senhor encontre alguns objetos que possa vender, pode ter certeza de que não se trata de nada valioso e irá apurar na venda bem poucas libras.

— E quanto às terras? — sir Robin indagou, esperançoso. — Sei que papai aumentou consideravelmente a fazenda com a compra de muitos acres vizinhos.

— De fato, ele comprou uma boa gleba anos atrás, mas vendeu-a logo no início da doença. — O advogado suspirou. — Além de não poder vender nada, o senhor vai precisar de dinheiro para os reparos mais urgentes nas casas, cocheiras e na pista de corridas.

Sir Robin, um belo cavalheiro de vinte e nove anos, ficou um instante em silêncio, pensativo.

Partira para a Índia havia seis anos e regressara à Inglaterra poucos meses atrás ao saber que o pai, sir Edward, oitavo baronete de Dunstead, se achava em estado de coma havia quase um ano, após uma doença que se prolongara por mais de dois anos.

Quando, na semana anterior, sir Edward falecera, os filhos, Alena e Robin, viram sua morte como um alívio, não só para o doente, como para a família, criados e enfermeiros que cuidavam dele.

Sir Edward sempre fora uma pessoa extremamente generosa, incapaz de negar ajuda a quem a ele recorresse, e vivera prodigamente. Os amigos costumavam dizer, não sem uma pontinha de ironia, que

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ele "vivia como um príncipe".De fato, o baronete comprava os melhores cavalos que encontrasse,

sempre tivera numerosos criados, tanto na casa de campo como na de Londres, a Dunstead House, na Park Lane.

Sir Edward gastara com a doença o que havia restado de sua fortuna e ainda vendera tudo o que não fosse legado inalienável.

A Dunstead Hall, suntuosa casa de campo, em Oxfordshire, construída no século XV, era um dos prédios históricos mais importantes da Inglaterra.

No decorrer de quatrocentos anos a Dunstead Hall sofrera várias reformas. A mais expressiva fora a realizada pelos irmãos Robert e James Adam.

Esses dois arquitetos, além de ampliarem a casa, construindo outras duas alas, modificaram a antiga fachada, tornando o prédio ainda mais portentoso.

Nos últimos anos sir Edward vivera sozinho na casa enorme, apenas com os criados, pois os filhos estavam fora do país: Robin na Índia e Alena em Florença.

Aos dezesseis anos Alena fora estudar no mais importante colégio de Florença, exclusivo para moças da aristocracia e da alta sociedade europeia, onde ficara durante dois anos.

Devido à grande distância, em vez de passar as férias na Inglaterra, Alena ia, a convite de colegas, para suas casas. Havia estado na França, na Alemanha e em outros países, aprimorando dessa forma a sua educação.

Terminado o curso, voltara para casa, encontrando o pai em estado de coma. Robin, felizmente, havia chegado da Índia.

Até então ela sempre vivera como rica e, por estar distante, não fazia ideia de que a situação financeira do pai era tão crítica.

Agora, depois de ouvir as revelações do advogado, sentia-se insegura e amedrontada.

— Se não posso vender a casa de Londres, ocorreu-me que posso alugá-la — expôs sir Robin, depois de algum tempo refletindo.

— Sim, claro, há essa possibilidade — o advogado concordou. — O único problema é que a mansão está fechada há anos e precisa de reparos.

— No momento não tenho condições de gastar nem mesmo poucas libras — tornou sir Robin, desalentado.

Notando o abatimento do irmão, Alena desejou fazer alguma coisa por ele. Olhou ao redor, admirou os quadros pendurados nas paredes, e lamentou que nenhum deles pudesse ser vendido.

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A coleção de pinturas herdadas por sir Robin, iniciada pelo segundo baronete de Dunstead e aumentada por seus sucessores, causava inveja a todo colecionador de arte.

Ali mesmo, naquele gabinete, havia uma tela de Rembrandt, outra de Frans Hals e a terceira, intitulada São Jorge e o dragão, era uma obra-prima de Rafael.

Este último era o quadro preferido de Alena. Agora, ao contemplá-lo, ela não pôde deixar de refletir que, se alguém podia combater o dragão, esse alguém era Robin.

O irmão, Alena pensou, tinha muito a ver com o garboso e valente são Jorge, montado naquele cavalo branco, levantado sobre as patas traseiras. O dragão voraz, de asas negras, era tão aterrador quanto a pobreza que os ameaçava.

Sir Robin levantou-se do sofá e foi até a janela. Olhou para o jardim, antes tão bem cuidado, e agora quase em completo abandono. A grama precisava ser aparada e os canteiros, embora floridos, estavam infestados de ervas daninhas.

Durante a doença de sir Edward os advogados tiveram de conter as despesas e reduziram consideravelmente o número de empregados. Ficaram na casa apenas os mais antigos, pois não conseguiriam encontrar outro emprego.

Com pesar, sir Robin refletiu que deveria ter regressado à Inglaterra logo no início da doença do pai. Se não conseguisse evitar de todo a ruína, pelo menos teria impedido a venda de tantas coisas valiosas que havia naquela casa.

Voltando-se, olhou para os espaços vazios nas paredes e lembrou-se de que de ambos os lados da lareira ficavam dois espelhos com molduras ricamente entalhadas, do período da rainha Anne.

No hall ele dera pela falta do enorme carrilhão, peça que sempre amara. Também haviam desaparecido do corredor que conduzia aos salões mais importantes da casa, os belíssimos armários entalhados, peças admiradas por todos os visitantes da Dunstead Hall.

O advogado apresentou ao herdeiro a relação de tudo o que fora vendido nos últimos anos. Indo até a mesa, sir Robin pegou o papel e mal correu os olhos pela lista.

“De que adianta verificar item por item?", pensou. "Tudo está perdido mesmo."

De agora em diante precisava pensar em conseguir dinheiro para ele e a irmã sobreviverem e para manter suas propriedades.

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Mas o que fazer? Herdara um dos mais importantes prédios históricos da Inglaterra, uma casa enorme na Park Lane, as duas propriedades cheias de tesouros, e estava praticamente na miséria.

— Deve haver alguma coisa que possamos fazer — disse Alena, manifestando-se pela primeira vez.

— A senhorita sabe que tenho profunda afeição por sua família e sempre admirei esta casa que abriga tesouros inestimáveis. Mas não sei em que posso ajudá-los.

— Estamos cercados de tesouros, sim, mas eles não nos livram da pobreza. Pelo contrário, teremos despesas para mantê-los limpos e bem conservados — Alena lamentou.

— Não desanime, senhorita Alena. Sir Robin encontrará uma forma de ganhar dinheiro. Um jovem inteligente, de família distinta e bem relacionado, por certo encontrará muitas companhias interessadas em tê-lo como diretor.

— Estive pensando nisso, mas não alimento grande esperança de conseguir emprego — disse sir Robin. — Nenhuma companhia terá interesse em contratar um aristocrata arruinado.

— Concordo com o senhor. Por esse motivo jamais fiz comentário algum sobre a situação financeira de sir Edward —considerou o sr. Lawson.

— Eu deveria ter sido informado do que se passava logo que meu pai começou a dilapidar nosso patrimônio — sir Robin queixou-se. — Mas não quero falar sobre isso agora. Meu pai está morto e como herdeiro do título e das propriedades tenho o dever preservar esta casa, a de Londres, bem como de sustentar-me e sustentar Alena.

— O senhor poderia emprestar as telas a um de nossos melhores museus — o sr. Lawson sugeriu. — Os curadores costumam pagar bem pelas obras de arte que lhes são cedidas para exibição.

— Nunca! — sir Robin exclamou. — Fazendo isso eu estaria expondo a todos nossa péssima situação financeira!

O advogado fez com as mãos um gesto de desânimo antes de dizer:— Bem, só lhes posso oferecer a minha solidariedade.— Alena e eu lhe agradecemos. Por favor, deixe conosco o

testamento e a lista de tudo o que foi vendido e do que está vinculado. Minha irmã e eu vamos conversar e voltaremos a entrar em contato com o senhor.

O sr. Lawson levantou-se e afastou-se da lindíssima escrivaninha de estilo Regência. Antes de deixar o gabinete disse a sir Robin com um ligeiro sorriso:

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— Meus sócios e eu estaremos à sua disposição. Como sabe que sou prático, sir Robin, já lhe adianto que não lhe mandaremos a conta de nossos serviços.

— Fico-lhes imensamente grato.Dizendo isso, sir Robin acompanhou o advogado até a porta da

frente. Ao voltar para o gabinete ficou de pé, junto da lareira, e perguntou à irmã:

— O que faremos, Alena?— Eu me perguntava a mesma coisa e pedia a Deus uma orientação

— Alena respondeu.— Suponho que de nada adiantará procurar pela casa alguma coisa

de que possamos dispor.— Depois das revelações do sr. Lawson, será perda de tempo.

Estive olhando a lista do que foi vendido. Restou bem pouco da prataria. A baixela de ouro, a de prata e o jogo de chá George III estão vinculados.

— Vamos esquecer essa lista. Olhar para ela já é o bastante para eu me sentir na miséria. Agora precisamos pensar em ganhar dinheiro. Pode ter certeza de que a metade dos homens deste país está no momento com essa mesma preocupação.

— Realmente, a situação financeira da maioria dos aristocratas é séria. Talvez você não saiba que vários homens solteiros, não apenas ingleses, mas de outros países da Europa, sobretudo aqueles com títulos importantes, estão partindo para a América à procura de uma herdeira rica.

— Uma herdeira rica?! — Robin repetiu, pasmado.— As famílias milionárias de Nova Iorque, ansiosas por associar o

dinheiro à nobreza, se empenham em arranjar para as jovens herdeiras seu casamento com um príncipe italiano ou um duc francês — Alena comentou.

— É revoltante pensar em casamento como uma transação comercial — Robin indignou-se.

— Você tem razão. Mas nem todos pensam assim. Poucos meses atrás, quando eu estava no internato, minhas colegas me contaram, cheias de entusiasmo, que haviam lido nos jornais de Florença a notícia do noivado do príncipe de Colonni com uma herdeira americana. Os jornais publicaram também uma lista de outras americanas que iriam se casar com nobres italianos.

— Eu, pelo menos, como simples baronete, não corro o risco de ver meu título cobiçado — Robin observou com uma ponta de humor.

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— Não tenha tanta certeza — a irmã contrapôs. — Além de beleza, você tem o título, uma linda mansão em Londres e esta casa histórica, ambas cheias de tesouros e telas extraordinárias. Pode ter certeza de que tudo isso vale muitos milhões de libras.

— A ideia de aceitar um casamento por dinheiro me horroriza. Entretanto, nem todo aristocrata se casa com uma americana rica visando melhorar sua situação financeira. Acredito que um exemplo do que estou dizendo seja o casamento de lorde Randolph Churchill, filho do sétimo duque de Marlborough, líder na Câmara dos Comuns, ex-secretário de Estado dos assuntos da Índia e ex-ministro da Fazenda, com Jennie Jerome, famosa beldade do Brooklyn, Nova Iorque.

— Mas lorde Craven se casou por interesse com uma herdeira americana — Alena argumentou.

— Bem, não sou um caça-dotes e não quero uma esposa interessada apenas em meu título e minha coleção de arte. Se você insistir no assunto, ficarei ofendido — Robin zangou-se.

Alena riu ao ver o irmão falar com tanta veemência. Ele acrescentou:— A propósito, se a ideia a atrai, que tal você se casar com um

milionário? Linda como é, você poderá receber numerosos pedidos de casamento. Então bastará escolher o candidato mais rico e generoso que concorde em restaurar nossas casas.

— Ora, que absurdo! Não tenho a menor intenção de me casar por dinheiro. Só me casarei por amor — Alena replicou.

— Concordamos em que não queremos nos casar por dinheiro. Ao mesmo tempo, não podemos pensar em amor.

— Também não podemos ficar sentados à espera de um milagre enquanto o teto desaba sobre nossa cabeça — Alena rematou.

— Que exagero. Nenhuma de nossas casas corre o perigo de desabar. A propósito, estou pensando em fazer os consertos mais urgentes na mansão de Londres. Grande e linda como é poderá ser alugada a bom preço.

— Oh, a mansão! Por que o destino é tão injusto? — Alena queixou-se. — Papai prometeu levar-me para Londres quando eu voltasse do colégio. Eu iria debutar, ficaríamos na mansão durante toda a temporada e ele ofereceria um baile maravilhoso para mim.

— Papai nunca poderia ter feito essa promessa. Dois anos atrás ele já devia saber que não teria condições de cumpri-la.

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— Pelos espaços vazios nas paredes e nos cômodos desta casa, posso avaliar que nosso pai tenha arrecadado com o que vendeu uma quantia suficiente para oferecer uma dúzia de bailes — Alena queixou-se.

Robin sentou-se na poltrona que se achava mais perto dele e censurou a irmã.

— Você não deve ficar reclamando por causa de um baile. Também lamento ter encontrado nossas cocheiras praticamente vazias. Quando eu estava na Índia sempre me lembrava dos nossos cavalos excelentes, de como eu amava cavalgar pela fazenda e saltar obstáculos em nossa pista de corridas. Fazia parte de meus planos voltar para casa e ajudar papai na administração de nossas propriedades, bem como comprar mais puros-sangues.

— Sei exatamente o que você está sentindo. Mas ficarmos aqui, chorando juntos, não nos ajudará em nada. Temos de ser práticos e pensar no que fazer. — Alena olhou novamente para a figura de São Jorge combatendo o dragão e murmurou como se falasse consigo mesma: — A pobreza é tão ameaçadora quanto um dragão.

Robin também olhou para a tela de Rafael e expôs seu pensamento:— Chegou a me ocorrer que poderíamos levar uma de nossas telas

para outro país e vendê-la a um colecionador de arte. No mesmo instante me convenci de que isso seria impossível. Os curadores nos apanhariam e seríamos presos por roubo.

— Sem dúvida. Os curadores nos farão visitas frequentes e descobrirão, imediatamente, se uma das telas tiver desaparecido. Imagine só o escândalo que seria se você fosse acusado de roubo!

— Morrer de fome também não é um destino glorioso — Robin retrucou, cáustico.

— Você está sendo desnecessariamente pessimista — Alena acusou o irmão. — Temos uma horta, o pomar e terras produzindo. Comida não nos faltará.

— Você está certa! Não morreremos de fome. Também não vou ficar aqui lamentando ou criticando papai por ter acabado com a sua fortuna. Afinal, não somos débeis mentais, incapazes de nos cuidar.

Robin falou com entusiasmo e a irmã o aplaudiu.— Muito bem! Confio em você. Sei que irá encontrar a solução para

os nossos problemas.Os dois ficaram um instante em silêncio, depois Robin exclamou:— Acabo de ter uma ideia! Só receio que você não a aprove.— Concordarei com tudo o que possa melhorar a situação em que

nos encontramos — disse Alena. — Que ideia é essa?

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— Estivemos falando há pouco sobre homens com títulos indo para os Estados Unidos à procura de uma noiva rica. Bem, a meu ver, é degradante um homem vender seu título de nobreza e mais degradante ainda é admitir que essa é a sua única saída.

— É verdade. Os italianos fizeram casamentos lucrativos e os ingleses seguiram-lhes o exemplo. Mas não sei aonde você quer chegar. Pretende visitar Nova Iorque?

— É lógico que não. Continuo achando esse recurso degradante. Até admito um casamento por interesse, mas na minha opinião os ingleses devem ficar na Inglaterra e esperar que as herdeiras americanas os procurem.

— Você quer ser mais claro? Não sei o que isso tem a ver conosco.— Acompanhe o meu raciocínio — Robin pediu. — Com a morte

de papai tornei-me o nono baronete de Dunstead, mas só impressionarei as mulheres se abrir minha casa magnífica em Londres e exibir meus tesouros, especialmente as telas, famosas no mundo todo.

— Você tem tudo isso — Alena interrompeu o irmão —, mas a casa está mal conservada. Caso você ofereça um jantar o cardápio será bem pobre e para beber só haverá água.

— As herdeiras que vierem à Inglaterra para me conhecer ou as que já estão aqui, serão recebidas na Dunstead House que estará magnífica. No hall haverá numerosos criados de libré, como tínhamos até bem pouco tempo. O jantar será soberbo, o champanhe borbulhante e eu, o anfitrião, estarei encantador. Meus convidados não se cansarão de elogiar a casa, as telas, outras obras de arte e o meu modo de viver! — Robin falou com entusiasmo.

— Ora! Está sonhando acordado! Quem vai pagar as consertos da casa, os criados, o excelente champanhe e o soberbo jantar?

— Aí está! Vamos ter de pensar num modo de resolver esse probleminha. Então você terá a sua temporada em Londres e eu lhe oferecerei um baile belíssimo.

— Há pouco eu disse que você estava sonhando, agora afirmo que enlouqueceu! — Alena bradou. — Como irá pagar uma orquestra, se não pode sequer comprar um vestido novo para mim? Ora, Robin, vamos falar seriamente!

— Estou falando sério — Robin redarguiu. — Vou fazer exatamente o que acabei de expor. Só me resta pensar em como levantar o capital de que preciso.

Alena encarou o irmão, perplexa.— Não é possível! Você deve estar brincando!

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— Já disse que estou falando sério. Pensei bem e decidi não me humilhar. Recuso-me a sair por aí, em farrapos e remendos, esmolando um emprego a pessoas ricas. Também cheguei à conclusão de que pobreza atrai pobreza. Vamos nos cercar de pessoas ricas, faremos um bom casamento e não permitiremos que sintam pena de nós.

— Vamos? Eu estou incluída nesse plano de... casamento?— Naturalmente! Entre os cavalheiros ricos e elegantes que

frequentarão nossa casa você encontrará seu futuro marido. Um aristocrata capaz de mantê-la e, é claro, que a ame e por quem você esteja apaixonada. Se não for como eu estou planejando você não receberá um pedido de casamento. — Robin respirou fundo e acrescentou com firmeza: — Vamos para Londres e abriremos a mansão. Os amigos nossos pais certamente nos convidarão para festas e você terá belos vestidos.

— Terei vestidos novos? Como poderei comprá-los?— Eu os pagarei. Em pouco tempo terei dinheiro para isso.— O que pretende fazer? — Havia preocupação no rosto de Alena.— Ainda estou refletindo sobre meu plano. Talvez eu consiga um

empréstimo por alguns meses.— Na minha opinião suas ideias são malucas. Veja lá o que vai fazer,

Robin! Se for alguma coisa ilegal podemos ir parar na cadeia ou então ficaremos desmoralizados e à margem da sociedade pelo resto da vida.

Ela falou com severidade e, para seu espanto, o irmão riu.— Deixe de se preocupar e faça apenas o que eu lhe disser.

Asseguro-lhe que tudo dará certo, basta não sermos idiotas. Não podemos deixar fugir a oportunidade que temos em mãos.

— Que oportunidade?Robin levantou-se da poltrona e, sentando-se no sofá, segurou a

mão da irmã.— Ouça, Alena. Somos pessoas práticas e sabemos que ninguém

vive sem dinheiro. Mas não vamos bajular as pessoas para conseguir o que precisamos. Pertencermos a uma boa família, temos ótima aparência, estamos cercados de tesouros e vamos tirar proveito disso. Mas as pessoas de nosso círculo social só nos aceitarão como seus iguais se pensarem que temos dinheiro.

— O que você está dizendo é plausível, mas impraticável.— É praticável. Recuso-me a aceitar a condição de homem pobre

que é atendido na porta dos fundos. Caso nosso plano falhe, cairemos numa nuvem de glória; não sairemos nos arrastando, humildemente, agradecendo pelas migalhas caídas das mesas dos ricos.

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— Você está falando com tanta segurança, mas até agora não entendi como terá meios para abrir a mansão da Park Lane.

— Sou o herdeiro de papai e vou oferecer-lhe o que ele lhe prometeu, querida irmã. Precisamos nos unir. Se corrermos juntos todos os riscos nosso empreendimento não será assustador.

— Riscos?! Que riscos? — Alena perguntou, alarmada.— Bem, ainda não estou convencido de que devo colocá-la a par

do meu plano.— Se você pretende me envolver nesse tal "empreendimento",

tenho de saber do que se trata. De antemão lhe asseguro que farei tudo ao meu alcance para ajudá-lo. Precisamos sair desta situação horrível e humilhante.

— Está bem! — Robin cedeu. — Mas, para não haver dúvidas, só quero lembrá-la de que, caso você não concorde com meu plano, teremos de viver nesta casa imensa, praticamente sem criados, comendo os produtos da nossa horta e as aves e os coelhos que eu possa caçar. Duvido que nossos vizinhos sequer nos visitem. Se visitarem sentirão pena de nós, mas pouco farão para nos ajudar. Caso nos mudemos para Londres aqueles que se diziam amigos nos riscarão de suas listas de convidados assim que ficarem a par da nossa situação. Você quer esse tipo de vida?

— Claro que não! — Alena replicou com um estremecimento. — Mas qual é a saída?

— Meu plano é o seguinte: vamos correr a casa à procura de uma tela que não seja tão importante...

— Todas as nossas telas são importantes! — Alena interrompeu o irmão. — Não podemos vendê-las, se é o que tem em mente!

— Podemos sim, desde que os curadores não fiquem sabendo disso.— Como é possível? Se eles notarem a falta de uma tela sequer

cairão sobre nós com uma tonelada de pedras.— Quer parar de argumentar e me ouvir? — Robin impacientou-se.

— Talvez por obra do destino, conheci no navio, ao voltar de Calcutá para a Inglaterra, um pintor italiano chamado Luigi que fixou residência em Londres. Durante a viagem esse artista fez alguns retratos de passageiros. Ao ver seu trabalho fiquei maravilhado e reconheci o talento do italiano. Luigi me disse que havia ido à Índia a convite do governo para fazer algumas réplicas dos retratos dos primeiros vice-reis. Essas telas, devido ao calor, à umidade e má conservação ficaram danificadas. O trabalho desse artista é perfeito. A réplica que eu vi era extraordinária.

— Você viu uma réplica? Elas não ficaram na Índia?

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— Uma delas estava com o pintor. Era o retrato do primeiro vice-rei, o conde de Mornington, que se tornou mais tarde marquês de Wellesley. A tela estava sendo trazida para a cá e destinava-se a decorar um dos gabinetes do ministério da guerra. Posso jurar que seria impossível alguém dizer que o retrato não havia sido pintado pelo artista original.

— Já entendi qual é seu plano. Você pretende vender uma de nossas pinturas autênticas e colocar a réplica em seu lugar — Alena concluiu.

— Exatamente. O que você acha?— É um plano arriscado e quase impossível de ser posto em prática

— Alena opinou, nervosa. — Vou apontar apenas duas dificuldades: a primeira é que uma pintura nova jamais terá o aspecto de uma antiga; a segunda é encontrar um comprador para o quadro autêntico, sem ninguém ter conhecimento disso.

— Quanto ao aspecto da pintura nova não precisamos nos preocupar. Luigi coleciona telas sem uso, antigas e fará a réplica em uma delas. Ele é também um estudioso, um pesquisador, grande conhecedor de tintas e técnicas de pintura usadas no passado. Outro cuidado que ele tem é o de usar forno e outros recursos para dar aspecto envelhecido à pintura nova. Depois de colocada na moldura original ninguém terá a menor ideia de que a obra é uma réplica e não a autêntica.

— Tenho minhas dúvidas... E quanto ao comprador?— Por acaso, talvez por saber instintivamente o que me aguardava

ao chegar em casa, perguntei a Luigi se ele já havia feito alguma réplica para substituir uma tela original, extremamente valiosa, que precisasse ser vendida sigilosamente, e se haveria compradores para a obra original.

— O que ele disse? — indagou Alena, não conseguindo conter a ansiedade.

— Mostrou-se evasivo. Minutos mais tarde, entretanto, revelou que conhecia muito bem o mercado de arte europeu e americano. Assegurou-me que não seria difícil vender um quadro de grande valor, secretamente, e com a maior segurança. — Robin fez uma pausa e ficou pensativo. Acrescentou pouco depois: — Se vendermos no Continente uma de nossas telas originais e deixarmos a cópia na parede, onde sempre esteve, e mantivermos a mesma moldura, será praticamente impossível alguém descobrir a troca.

— É um risco muito grande — Alena advertiu o irmão.— Na situação em que estamos vale a pena correr riscos.Quanto mais penso no assunto mais me convenço de que o destino

colocou aquele artista italiano no meu caminho para me ajudar. — Robin

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deu uma risada antes de acrescentar: — Luigi e eu nos tornamos amigos. Como ele ficou maravilhado quando lhe falei sobre nossas telas, convidei-o para vir vê-las na primeira oportunidade e ficar alguns dias conosco. Depois de ter feito o convite tive receio de que ele pudesse copiar um dos nossos quadros originais e nos deixar com uma réplica.

— Ora, ele não teria tempo nem condições para pintar um quadro — a irmã observou. — O que nos deve preocupar são as telas que estão em Londres. Temos lá, entre outras, duas obras de Van Dyck e uma de Rembrandt.

— Gosto muito do retrato de Charles I, pintado por Van Dyck. — Uma das minhas telas favoritas é Cupido e as Graças, de Boucher.— Você está certa ao dizer que aqueles quadros merecem maior

atenção. Acredito que nosso acervo não tem sido cuidado como merece. As telas devem estar sujas e algumas até ameaçadas devido a infiltração nas paredes.

— Voltando ao assunto da réplica, você acha que seu plano dará certo?

— Vai dar certo. Não podemos sequer pensar em fracasso.— Tenho tanto medo de sermos descobertos.— Se você raciocinar calmamente verá que não estamos

prejudicando ninguém. Sou o herdeiro da coleção e vou vender o que é meu. Devo, por minha vez, deixar tudo para quem me suceder. Um filho, certamente. Mas por que me preocupar com isso se meus filhos nem nasceram? Tudo indica que nem irão nascer se eu não encontrar para eles uma mãe bem rica — Robin falou com certa ironia.

— Esse não deixa de ser um modo de encarar a situação — Alena concordou.

— Pretendo ir a Londres, amanhã. Vou procurar um grande amigo e pedir-lhe algum dinheiro emprestado. Apenas o suficiente para abrir a casa de Londres e começar os preparativos para o seu début.

— Tudo isto parece um sonho — disse Alena fechando os olhos. — Tenho medo do que nos pode acontecer, caso o seu plano fracasse.

— Só nos vão acontecer coisas boas. Somos dois expedicionários das Cruzadas partindo para defender nossos direitos e esperando ter sucesso em nossa busca!

— Nossa busca... Uma esposa... riquíssima e... um marido... milionário — Alena murmurou.

— Além de ter milhões ambos devem ser fascinantes! — Robin completou. — Então, como nos contos de fadas eu me apaixonarei pela mulher dos meus sonhos e você por seu príncipe encantado. Poderia

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haver final mais feliz?

CAPÍTULO II

Na manhã seguinte, como havia planejado, Robin partiu bem cedo para Londres.

Alena deu uma volta pelo jardim e colheu algumas flores para enfeitar a sala de estar. Depois do almoço andou pelos cômodos principais da casa analisando as telas que havia neles.

Chegava a ser emocionante possuir obras admiráveis, de pintores tão famosos. O mau estado de algumas das telas era alarmante. Assim que fosse possível, ela decidiu, iria providenciar a restauração das mesmas, evitando, dessa forma, que se perdessem para sempre.

A ideia de ter um daqueles quadros copiados e o original vendido deixou-a muito apreensiva. Amava o irmão e não queria vê-lo com problemas perante os curadores.

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O barulho de uma carruagem se aproximando tirou-a de suas reflexões. Correu até a porta da frente, certa de que Robin estava de volta.

— Cheguei — Robin anunciou, desnecessariamente.— Estive contando as horas enquanto aguardava a sua volta. Vamos

até a sala de estar e você me conta como foi essa visita a Londres.— Minha intenção era recorrer ao banco ou a um amigo para

conseguir um empréstimo. Mas algo me dizia para eu ir, em primeiro lugar, ver Luigi. Foi a coisa mais certa que fiz. Ele me ofereceu um excelente almoço durante o qual lhe falei sobre meu plano.

— Falou? Ele... vai fazer o que... você pediu? — Alena indagou, aflita.

— Vai. Fomos juntos à mansão para ele ver as telas. Fiquei surpreso ao encontrar a casa fechada e no maior abandono. Imaginei que houvesse caseiros cuidando de tudo e mantendo a mansão pelo menos arejada.

— Que perigo! Alguma coisa foi roubada?— Não notei falta de uma peça sequer. Arranjei um caseiro de

confiança. Ele começará a trabalhar amanhã.— Já é tarde. Imagino que você esteja com fome. Não quer

sanduíches e limonada? — Alena ofereceu.Robin aceitou a limonada e voltou a falar sobre o que havia feito em

Londres.— Como eu estava dizendo, levei Luigi até a Park Lane. Encontrei a

casa coberta de poeira, mas não a achei tão arruinada como esperava. Em menos tempo do que imaginávamos e com pouco dinheiro ela voltará a ter o esplendor antigo.

— É um alívio saber disso! — Alena exclamou.— Luigi examinou os quadros, ficou maravilhado diante de todos

ele, mas impressionou-se com os de Boucher e Gainsborough.— Oh, não! Nenhum desses podem ser copiados! Nem os quadros

de Van Dyck ou os de Rembrandt! São conhecidos demais. Todos os que nos visitavam no passado elogiavam essas telas.

— Luigi é bastante esperto para saber disso — Robin tranquilizou a irmã. — Portanto, escolheu não uma, e sim duas obras bem antigas para copiar. Ele tem certeza de que não são muito conhecidas nem mesmo pelos entendidos em arte.

— Quais são elas?— Luigi já começou a fazer a réplica de Santa Maria Madalena com

a vela, óleo sobre tela, pintado por La Tour, entre 1630 e 1635.

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Por um momento Alena ficou em silêncio, pensando na obra mencionada. Lembrou que no século XVII os católicos tinham grande devoção a santa Maria Madalena.

Nessa tela de Georges de La Tour o rosto da Santa aparecia iluminado pela vela, enquanto seu corpo mantinha-se envolto em misteriosa penumbra. A vela também iluminava uma mesa sobre a qual estavam alguns livros, uma cruz e um açoite manchado de sangue.

Este último, Alena entendera mais tarde, era um instrumento de penitência da Santa. Maria Madalena golpeava-se com o açoite para reparar os pecados cometidos antes de sua conversão.

O fato de a tela ser sombria e sugerir flagelação sempre fizera com que Alena não a apreciasse.

— Sei que você nunca admirou essa tela — disse Robin como se adivinhasse o pensamento da irmã. — Luigi me contou uma curiosidade sobre o quadro. Na época em que foi pintado havia muitas ciganas em Lorraine e La Tour usou uma delas como modelo.

— Uma cigana?! Interessante. Bem, na minha opinião o quadro é sombrio e triste, mas reconheço que Georges de La Tour foi um grande pintor. Você acha que... seu amigo conseguirá reproduzir fielmente o quadro, a ponto de ninguém notar a substituição do... original?

— Vi hoje outras réplicas de Luigi e me convenci, de uma vez por todas, de que seu trabalho é perfeito. Quando a cópia de Santa Maria Madalena com a vela estiver no lugar da tela autêntica, afirmo, sem medo de errar, que ninguém terá a menor suspeita de não ter sido pintada por La Tour, há mais de três séculos.

— Qual foi a segunda escolha de Luigi?— Ele achou que conseguiria uma réplica perfeita com o Retrato de

um homem (Condottiere), pintado por Antonello da Messina em 1475.Alena franziu a testa.— Não me lembro dessa tela.— Não é uma tela. É um quadro grande pintado sobre choupo. Fica

na galeria de arte — Robin esclareceu.— Ah, sim, claro! Lembro-me desse painel, um óleo sobre madeira

que, aliás, não é um dos meus quadros favoritos. O condottiere retratado é muito feio, tem os maxilares cerrados e uma cicatriz no lábio superior. Quando eu era pequena tinha medo de olhar para aquele rosto.

— É esse quadro mesmo. Segundo Luigi, o artista quis expressar no condottiere o orgulho e o espírito de comando característico do início da Renascença.

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— O fato de ser um retrato pintado na madeira não dificulta o trabalho de Luigi? Refiro-me ao aspecto envelhecido da obra.

— Pelo contrário, ele disse que facilita. O fundo do quadro, a capa e outras peças do vestuário do condottiere já estão escurecidos pelo tempo, enquanto seu rosto sobressai de modo impressionante.

— Seu amigo fez duas ótimas escolhas — Alena aprovou.— Você nem imagina qual o valor de cada um desses quadros. Luigi

me assegurou que tem comprador certo, para as duas obras originais.— Eu me esqueci de que ele mesmo se encarregaria de vender os

quadros. Essa é a parte mais perigosa do plano. O comprador vai fazer perguntas sobre a procedência das obras.

— O cliente de Luigi é um duc francês, muito rico, possuidor de uma coleção magnífica de pinturas que ele prefere manter em segredo.

— Inacreditável! Como é possível um homem colecionar preciosidades e não desejar expô-las ou não se vangloriar de possuí-las?

— Um milionário pode dar-se ao luxo de ser excêntrico. O duc mantém seus tesouros trancados no château que possui no vale do Loire e seu maior prazer é sentar-se diante dos quadros para admirá-los longamente, esquecido do mundo lá fora.

— Excêntrico? Um homem assim deve ser maluco. Enfim, para nós é vantajoso ele preferir manter a coleção só para si.

— Muito vantajoso — Robin concordou. — Luigi está tão certo de vender os quadros por muitos milhares de libras que já me adiantou parte do dinheiro. Quanto você imagina que ele entregou a este seu querido irmão?

— Não sei... Quanto?— Duas mil libras por quadro! Receberei pelo menos o dobro

quando os originais forem vendidos.— Duas... mil... cada um? E isso representa... a metade do negócio?

Eu... não posso... acreditar! — Alena gaguejou.— O dinheiro já está no banco.— Ótimo. Seria um desastre se uma soma tão grande fosse

roubada.— Temos o suficiente para as primeiras despesas. Iremos para

Londres, amanhã, levando apenas o necessário. Ficaremos na mansão, mas só anunciaremos nossa chegada depois que a Dunstead House estiver em ordem.

— Há muito o que fazer na mansão?— Bem menos do que eu temia. As paredes e o teto estão intactos,

sem rachaduras. Com alguns consertos, pintura em alguns cômodos e

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uma boa limpeza, a mansão terá outra aparência. Deixo as cortinas e os estofados para você verificar o que precisa ser feito. Imagine a maravilha que será termos novamente aqueles lustres de cristal bem limpos, polidos e resplandecentes, os salões cheios de flores e o piso de mármore como um espelho! — Robin falou com entusiasmo.

— Tudo isso é mesmo verdade?— A mais pura verdade. O dinheiro está no banco e nós

descobrimos uma mina de ouro.— Por favor, Robin, nem pense em vender outros quadros! —Alena

pediu, ansiosa. — Você sabe que a ambição acaba levando ao desastre.— Não sou ambicioso. Só quero ter dinheiro suficiente para garantir

nossa sobrevivência e manter o padrão de vida que sempre tivemos. Nesse espaço de tempo espero encontrar uma esposa rica e arranjar para minha irmãzinha um marido milionário.

O modo como Robin falou provocou o riso da irmã.— Está sonhando alto demais, Robin.— Pelo contrário. Com sua beleza você merece não um milionário,

mas um multimilionário — Robin corrigiu. — Só receio que haja bem poucos disponíveis.

Alena abraçou o irmão e beijou-o no rosto.— Você é fantástico. Quando fiquei a par do seu plano tive tanto

medo de não dar certo. Mas agora estou mais confiante e reconheço que você é um gênio.

— As cópias precisam ser feitas e isso ainda leva alguns dias. Espero que os intrometidos curadores não visitem a Dunstead House tão cedo. Se isso acontecer, eles darão pela falta da tela de La Tour na qual Luigi está trabalhando.

— Você pode alegar que a mandou restaurar — Alena sugeriu.— Foi o que me ocorreu. Mas não devemos nos preocupar com isso.

Eles não vão nos aborrecer. — Robin olhou ao seu redor e suspirou. — Quem sabe teremos um dia meios para restaurar esta casa também.

— Calma, vamos pensar na casa da Park Lane enquanto — a irmã aconselhou-o.

— Não sou extravagante, você sabe disso. Mas quando a Dunstead House estiver pronta pretendo impressionar nossos convidados. Esta noite, depois que você arrumar a bagagem, faça uma lista de todas as pessoas que devem ser convidadas para seu baile.

— Vou consultar a caderneta de endereços de mamãe.

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— Eu também farei a lista dos amigos que eu tinha antes de ir para a Índia e dos poucos novos amigos. O importante é que todos saibam da nossa existência.

— Precisaremos de roupas.— Eu não preciso de nada. Na Índia eu frequentava a mais alta

sociedade. Compre para você o que julgar estritamente necessário. Faça questão de artigos finos, elegantes e que valorizem a sua figura. Você deve causar a impressão de uma pessoa importante que tem centenas de outros vestidos esperando para serem usados.

— Chegará esse dia — disse Alena, rindo. — Sempre tivemos as coisas melhores e mais luxuosas. Não se preocupe, querido Robin, não esbanjarei o seu dinheiro.

— Por favor, não faça economias tolas — o irmão recomendou. — Quero vê-la fantástica. Não esqueça que somos ricos como papai era antes de jogar sua fortuna pela janela, irracionalmente. Lembro-me das festas que nossos pais ofereciam e dos excelentes cavalos que enchiam nossas cocheiras.

— Cavalos! Podemos comprar alguns cavalos?— Teremos dois puros-sangues para cavalgar na Rotten Row e uma

parelha inigualável para puxar a mais bela carruagem que os londrinos já viram. Isto sem mencionar os cavalos de corrida que pretendo comprar no final da temporada. Não é o que todos esperam de um homem rico, irmãzinha?

— Só agora me lembrei dos cavalos que papai tinha em Newmarket. O que aconteceu com eles?

— Foram todos vendidos. Papai obteve uma grande quantia com a venda, mas o dinheiro durou pouco tempo — respondeu Robin com amargura na voz.

Alena já havia percebido que o irmão guardava profundo ressentimento pelo modo como a fortuna da família tinha sido dilapidada. Para mudar de assunto, disse depressa:

— Agora só precisamos decidir quantos criados serão necessários na Park Lane. Fui com mamãe a uma agência de empregos, em Londres, quando nossa governanta, a sra. Dawson faleceu.

— Ah, se tivéssemos uma pessoa como a sra. Dawson nossos problemas com os serviçais e a arrumação da casa seriam resolvidos rápida e facilmente. — Robin suspirou.

— Ela já estava velhinha quando morreu.

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— É verdade. As pessoas envelhecem. O mesmo acontecerá conosco. Portanto, não podemos ficar aqui parados, esperando o tempo passar. Há muito a fazer.

— Não estamos parados —Alena protestou. — Só hoje você fez muita coisa. Foi uma sorte você ter conhecido esse pintor italiano.

— Ao fazer amizade com Luigi nunca imaginei que ele nos seria tão útil. Hoje, quando lhe expus meu plano, sua primeira reação foi de espanto. Ele devia imaginar que eu nadava em dinheiro.

— O importante é que ele aceitou fazer as réplicas.— Não só aceitou como ficou exultante. Luigi trabalha para esse duc

há alguns anos. Restaura para ele obras de arte e arremata em leilões os quadros que sejam do interesse do cliente milionário. Luigi me segredou que tem feito réplicas, sigilosamente, para vender as telas originais ao duc, cujo propósito é ter a maior e mais fabulosa coleção de arte de toda a Europa.

Novamente Alena imaginou que esse duc devia ser mesmo maluco. Em voz alta perguntou:

— Se vamos nos mudar para a Dunstead House, o que faremos com esta casa?

— Os velhos criados que estão cuidando de nós tomarão conta de tudo. Vou entregar-lhes dinheiro suficiente para ficarem gordos e felizes. Também quero que contratem alguém para limpar o jardim. Como não podemos fazer tudo de uma vez, esta casa deve esperar um pouco até nos tornarmos milionários.

Ocorreu a Alena que provavelmente eles nunca seriam milionários. Afastou depressa o pensamento pessimista e disse a si mesma que devia acreditar no sucesso do plano do irmão.

Silenciosamente fez uma prece de agradecimento a Deus pelo que já haviam conseguido. Depois da breve oração sentiu que, de algum modo, iria acontecer um milagre.

Como Robin havia dito, eles iriam encontrar, respectivamente, a mulher e o homem dos seus sonhos, ambos milionários, por quem se apaixonariam.

Na manhã seguinte Robin e Alena partiram para Londres, no primeiro trem. O velho chefe dos cavalariços levou-os de carruagem até a estação.

Ao entrar na Dunstead House Alena ficou por um instante parada no hall, admirando as altas janelas, os nichos com estátuas de deuses gregos, a grande lareira com imponente frontão de mármore, o

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maravilhoso enorme lustre de cristal.Constatou que, realmente, a casa não estava em más condições.Robin segurou-a pelo braço e mostrou-lhe a sala de estar. No

passado a confortável sala costumava ser o lugar preferido da família. Os salões só eram usados para festas.

As cortinas azuis estavam desbotadas. Os móveis-vitrine, antes repletos de peças de porcelana, estavam quase vazios. Da famosa coleção de caixinhas de rapé, disposta sobre uma das prateleiras de cristal, restavam as peças mais simples. As mais ricas, cravejada de pedras preciosas, certamente haviam sido vendidas.

Até mesmo o relógio que ficava sobre a cornija da lareira, enfeitado com porcelana de Dresden, desaparecera.

Mas na parede, de um dos lados da lareira, ainda estavam os retratos da família, belíssimas miniaturas pintadas, que, felizmente, haviam sido preservadas.

Do outro lado, a parede era ornamentada com as condecorações das quais sir Edward tinha tanto orgulho.

Robin afastou as cortinas, abriu as janelas, e Alena passou a examinar cada uma das telas, a maioria pintada por artistas franceses. As duas obras de Boucher e duas de Nicolas Lancet, cada uma de valor inestimável, pareciam dar-lhes as boas-vindas.

Robin, que observava a irmã, perguntou-lhe:— Qual é seu veredicto?— Pensei que estivesse bem pior. Acredito que não gastarei muito

com cortinas e revestimentos novos.— Você verá que o salão de recepções também está bem

conservado. Mas o de bailes precisa de uma grande reforma.Os dois foram ver os cômodos em questão. O salão de bailes, na

opinião de Alena, não estava tão arruinado como o irmão havia dito. Precisava apenas de novos vidros nas janelas e portas que se abriam para o jardim; as paredes tinham alguns trincados e precisavam ser pintadas. A pintura e a moldura dourada do teto estavam perfeitas e o piso de mármore só requeria uma boa limpeza e polimento.

Feita a inspeção Robin disse à irmã:— Agora vamos examinar a cozinha. É muito importante que seja

limpa e impecável.— Tem toda razão.Ao entrar na cozinha Alena ficou horrorizada. Evidentemente os

criados que haviam trabalhado na casa durante a enfermidade de sir Edward não tinham o menor capricho.

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O piso e as paredes estavam encardidos, algumas cadeiras precisavam de conserto e o número de panelas, talheres e outros utensílios era bem reduzido.

— Certamente os últimos criados de papai, além de muito desleixados, não eram honestos — Alena concluiu. — Aqui, o problema é a falta de limpeza. Podemos trazer os utensílios necessários da Dunstead Hall para cá.

— Enquanto você dá uma olhada na sala de jantar vou até a empresa especializada em reformas e construções indicada por Luigi. Ele me assegurou que é a melhor de Londres — disse Robin. — Essa empresa cuidou da restauração da casa pertencente a um de seus amigos, um aristocrata importante.

Robin deixou a irmã na sala de jantar e saiu. A sala era enorme e majestosa e tinha capacidade para cinquenta ou sessenta pessoas. Só as mesas e cadeiras precisavam de nova mão de verniz. Depois de limpo o cômodo ficaria tão lindo como sempre fora até um passado não muito distante.

Sabendo que não teriam nada para comer Alena trouxera consigo um bom lanche. Voltou à copa, pôs a mesa para dois e enquanto esperava por Robin decidiu chegar até a adega.

Pegou uma vela e desceu os degraus de pedra. Ao abrir a pesada porta de madeira viu apenas garrafas e caixas vazias. Ao fundo da adega havia outra porta que se abria para um depósito especial onde sir Edward guardava as melhores bebidas.

Para sua surpresa encontrou nesse depósito pelo menos duas dúzias de garrafas. Chegou perto e viu que continham champanhe, vinho do Porto e clarete. Pegou uma das garrafas de champanhe e voltou depressa para a cozinha.

Na falta de gelo, colocou a garrafa num balde de prata com água fria, e aguardou o irmão.

Eram quase duas horas, Alena estava com fome e impaciente, quando Robin chegou.

— Pensei que você estivesse perdido na cidade e não soubesse voltar — ela brincou.

— Tenho boas notícias — Robin anunciou, sorridente. —Enquanto comemos falo sobre elas. Estou faminto.

— O almoço está servido, milorde. Também tenho uma agradável surpresa para você.

— Já está tudo acertado com a construtora — Robin começou, sentando-se à mesa. — Os melhores operários da empresa estarão aqui

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logo ao amanhecer. O gerente me assegurou que o serviço será realizado em tempo recorde.

— Ótimo. E agora, como você tem sido um bom menino, vai receber um prêmio. Uma taça de champanhe.

— Champanhe! — Robin exclamou. — Onde você encontrou uma preciosidade dessas?

— Lembrei-me do depósito no fundo da adega, onde papai guardava as melhores bebidas, e fui até lá. Encontrei outras garrafas que o manterão feliz até o início do nosso espetáculo.

— O espetáculo vai ter início bem mais cedo do que imaginávamos. Esta tarde ou à noite você pode começar a sobrescritar os envelopes dos convites para o baile que será realizado dentro de quinze dias.

— Tem certeza de que tudo estará pronto em tão pouco tempo? — Alena indagou, surpresa.

— Certeza absoluta. Já mandei imprimir os convites. A empresa que contratei para os reparos conhece a mansão e até já fez algum trabalho para papai. Eu disse ao gerente que tinha pressa porque pretendia oferecer, até o fim de maio, um baile para a minha irmã.

— O que disse o gerente?— Nem titubeou. Prometeu arranjar-me uma equipe eficiente,

capaz de terminar as obras antes mesmo do que eu esperava. Expliquei que a mansão ficara em mau estado, não por falta de dinheiro, mas devido à doença de meu pai e porque eu estava no exterior.

— Fez bem. Mas... a restauração ficará muito cara?— Eu também disse ao gerente que pretendia restaurar a minha

casa de campo, muito maior do que a Dunstead House. Contudo, só confiaria tal reforma a eles se eu ficasse satisfeito com o trabalho realizado na mansão da Park Lane. Diante disso, o gerente prometeu que o serviço seria perfeito e cobrou-me um preço mais do que razoável.

—Você é muito esperto, Robin. Vou buscar o champanhe. Espero que tenha esfriado.

A caminho da cozinha Alena fez mentalmente uma breve oração:"Obrigada, meu Deus, por tudo estar correndo tão bem. Não

permita, Senhor, que Robin fracasse. Ele está se esforçando tanto!"Terminado o almoço Robin saiu para ver as cavalariças e Alena foi

ao gabinete levando consigo a caderneta de endereços da mãe. Encontrou numa das gavetas da escrivaninha algumas caixas de envelopes timbrados e passou a sobrescritá-los.

A lista dos amigos dos pais era grande. Ao fim da tarde Robin entrou no gabinete e a irmã quis saber:

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— Quantos convites para o baile você mandou imprimir?— Quinhentos. Sei que muitas pessoas não poderão vir e algumas

talvez estejam mortas.— Por falar nisso, sobrescritei os convites só para as pessoas

conhecidas. Preciso consultar a edição mais recente do Registro de Debrett para verificar quais os amigos de nossos pais que estão vivos e os que faleceram. A edição que temos é antiga.

— Trarei o livro à tarde — Robin prometeu. — Se mandarmos quinhentos convites e vier só a metade dos convidados já será muita gente. E os que não vierem ficarão, pelo menos, sabendo de nossa volta ao palco, por assim dizer.

— E em plena forma. — Alena sorriu para o irmão.— Não resta a menor dúvida. Mas nossa festa precisa ser original.— O que você tem em mente?— Por enquanto nada me ocorreu. Você é linda e muito diferente

da maioria das debutantes enfadonhas e tímidas. Quero oferecer-lhe um baile especial, como nunca houve em Londres. Será inesquecível.

— Está pedindo demais, Robin. Você pretende oferecer um baile ou um espetáculo?

— Um baile sensacional. É isso. Ajude-me a pensar em algo jamais visto antes. Um baile que seja um acontecimento social fantástico, que provoque comentários, que seja o assunto preferido de todos e que tenha repercussão em outros países, inclusive na América.

— Vejo que você está levando a sério essa história de conquistar uma herdeira americana. Mas eu não pretendo me casar com um americano. Tenho lido sobre a América, sobre Nova Iorque, e, sinceramente, prefiro o modo de vida britânico.

— Infelizmente, os britânicos, no momento, não são famosos por sua riqueza, enquanto os norte-americanos prosperam a cada ano que passa. — Robin fez um gesto com as mãos antes de acrescentar: — Li, poucos dias atrás, que foram abertos mais poços de petróleo em Dallas. Os ianques também estão milhas à nossa frente no que diz respeito à mecânica, a novas invenções, novos equipamentos e fotografia.

— Aceito seus argumentos e reconheço o valor e a tenacidade dos americanos — Alena aquiesceu após pequena pausa. — Isso não quer dizer que eu seja uma apaixonada do pragmatismo e do racionalismo daquele povo.

— Apesar de jovem a América já é uma grande nação.

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— Três vivas à América! — Alena exclamou. — Mas me perdoe, Robin, por eu preferir a Inglaterra aos Estados Unidos e um gentleman inglês a um cavalheiro americano.

— Faço votos que seu gentleman inglês tenha algum dinheiro no bolso. Você estará mal se ficar apaixonada por um caça-dotes, que a tome por uma herdeira milionária — disse Robin em tom zombeteiro.

Alena não teve argumentos para responder. O irmão estava certo. Se ela enganasse um inglês, fingindo ser rica, apesar de não ter um centavo, seu pretendente jamais a perdoaria.

Animou-a a esperança de apaixonar-se por um aristocrata que fosse diferente em todos os sentidos e que também a amasse por ela mesma, não se importando com o fato de ela ter ou não ter dinheiro.

Não encontrando esse homem especial, restavam-lhe duas alternativas. A primeira era desposar, como Robin desejava, um milionário e continuar a viver com luxo e riqueza. A segunda era acostumar-se a uma vida modesta.

Pela expressão melancólica da irmã Robin pôde imaginar em que ela pensava. Inclinando-se, deu-lhe um beijo e confortou-a:

— Que preocupação é essa, minha querida? A sorte está do nosso lado no momento e não vai nos abandonar. Você conhecerá muito em breve um enviado do próprio Apolo e ele lhe pedirá para ser sua esposa. Agora, vamos! Sorria para seu irmão!

CAPÍTULO III

Alena preparou o café da manhã e serviu-o na copa. Quando sentou-se à mesa com Robin lembrou-o da necessidade de contratarem os criados.

— Estou pensando em ir àquela agência de empregos sobre a qual já lhe falei — ela expôs.

— Tenho outra ideia sobre a contratação de criados. Vou sair agora para cuidar disso e se não der certo o que tenho em mente você irá à tal agência, na parte da tarde. A propósito, ordenei aos operários que chegaram para cuidar do salão de bailes em primeiro lugar.

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— Por favor, Robin, alguns dos homens devem ser escalados para pintar a cozinha e fazer nela uma ótima faxina.

— Tem razão. Vou falar com o mestre-de-obras. Se os novos criados encontrarem a cozinha no estado atual ficarão assustados — disse Robin, afastando-se em seguida, apressado.

Enquanto lavava a louça usada no café da manhã, Alena pensava na carta-modelo que pretendia redigir para mais tarde submetê-la à apreciação de Robin.

Na noite anterior o irmão lhe dissera:— Estive pensando que seria delicado de nossa parte mandarmos

uma cartinha para os melhores amigos de nossos pais, juntamente com o convite para o baile. Essa atenção os deixará sensibilizados e nós, certamente, contaremos com seu apoio e sua simpatia. O que você acha?

— É uma ótima ideia — Alena aprovara.Agora, terminado o trabalho na cozinha, ela foi para o gabinete.

Sentou-se à escrivaninha, refletiu por um momento sobre o teor da carta e, por fim, redigiu-a em nome do irmão.

Mencionou que sir Robin estava abrindo a Dunstead House aos amigos e contava com a presença deles no baile que oferecia para a irmã, Alena. Acrescentou que ele e a irmã sentir-se-iam honrados em merecer deles a mesma amizade e o mesmo carinho que haviam devotado aos pais, enquanto viveram.

"Receio que tenha ficado um tanto patética", Alena pensou, relendo o que escrevera. "Enfim, como Robin disse, precisamos de toda bondade, simpatia e todo apoio que pudermos obter."

Era quase uma hora quando Robin entrou em casa, radiante.— Consegui! Consegui! — foi dizendo à irmã. —Você vai ficar

maravilhada.— Conseguiu, o quê? Diga logo! — demandou Alena, ansiosa para

ouvir a boa notícia.— Consegui convencer Burley a vir trabalhar nesta casa, como

mordomo.— Burley? — Alena ficou pensativa por um instante.— Você não pode ter esquecido o nosso ex-mordomo. Joseph

Burley trabalhou aqui na Dunstead House durante anos, como lacaio, depois foi para a Dunstead Hall, como mordomo, substituindo o velho sr. Davidson. Por medida de economia os advogados despediram-no quando papai piorou.

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— Oh, sim, lembro-me dele! Por alguns segundos o sobrenome Burley fugiu-me da mente. Onde você encontrou Joseph?

— Fiquei sabendo que ele trabalhava no White's Club, como garçom. Fui ao clube esta manhã, encontrei Burley e ofereci-lhe o emprego de volta.

— Ele concordou em ser nosso mordomo?— Não pensou duas vezes. Na verdade, ficou encantado. Pedi-lhe

para contratar uma governanta, arrumadeiras, lacaios, um chef, ajudantes de cozinha e alguns criados. Recomendei-lhe que procurasse, em primeiro lugar, aqueles que, como ele, já trabalharam nesta casa.

— Será ótimo termos alguns dos antigos serviçais de volta.— Agora precisamos conversar sobre o seu baile. De acordo com

o mestre-de-obras a casa não ficará pronta tão cedo como esperávamos. O problema é que não pretendo oferecer o baile para você no final da temporada.

— Consertos costumam demorar sempre mais do que o previsto. Se o baile precisar ser adiado, por mim tudo bem. — Alena deu de ombros.

— É isso que eu quero evitar. O baile tem de ser realizado logo no início da temporada — Robin insistiu. — Só assim você receberá, em retribuição, inúmeros convites para outras festas.

— Seria o ideal, mas se a casa não ficar pronta em duas semanas, o que vamos fazer?

— Foi justamente esse atraso me fez ter uma ideia, a meu ver, brilhante.

— Que ideia é essa?— Convidaremos nossos amigos para um "Baile ao Luar". Alena

arregalou os olhos.— Um... baile no jardim?— Nada disso. Vamos usar, só nos principais salões, essa nova

iluminação com lâmpadas elétricas. Como o salão de bailes é enorme, tive a ideia de decorá-lo como se fosse um jardim enluarado. Com a iluminação elétrica e outros artifícios criaremos uma lua que lançará raios prateados no ambiente.

— A ideia é mesmo fantástica! — Alena entusiasmou-se.— Eu tinha certeza de que você iria aprová-la. Bem, continuando,

o salão será todo enfeitado com muitas flores, guirlandas e folhagens, de modo a esconder a falta de pintura. Quanto a você, a rainha da festa, terá um vestido que cintilará como se feito de estrelas — Robin concluiu.

— Nosso baile será um sucesso! Você é genial! — Alena levantou-se e beijou o irmão.

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Os dois foram para a copa e sentaram-se para almoçar. Sobre a mesa havia queijo, patê, pão, manteiga, frios, frutas e uma garrafa de clarete. Como a cozinha estava sendo pintada e o fogão não podia ser usado, Alena fizera uma lista do que precisava e pedira ao mestre-de-obras para mandar um dos operários comprar o que constava dessa lista no Shepherd's Market, situado bem perto da Dunstead House.

Durante a refeição Robin continuou a expor suas ideias. Falou com muito entusiasmo e pouca atenção prestou ao que comia ou ao vinho de excelente qualidade.

Após o almoço leu a carta que a irmã havia escrito, aprovou-a, e saiu novamente, dizendo que tinha muito o que fazer.

De volta ao gabinete, Alena sentia-se mais otimista do que nunca. Sentou-se à escrivaninha e começou a fazer as cópias da carta.

Na manhã seguinte Burley se apresentou na Dunstead House. Se a sua volta deixara Alena e Robin satisfeitos, o mordomo parecia ainda mais feliz.

— Senti muita saudade da casa de campo nestes quase dois anos — disse o mordomo. — Infelizmente, com a doença de sir Edward tudo mudou. A Dunstead Hall tornou-se cada vez mais triste, os criados foram sendo dispensados até chegar a minha vez. Sua Senhoria ficou aos cuidados dos serviçais mais antigos, de enfermeiros e enfermeiras.

— Foi mesmo uma sorte sir Robin ter conseguido localizá-lo, Burley. Estávamos precisando de um serviçal perfeito como você — Alena elogiou-o. — Bem, você ficou encarregado de contratar a criadagem necessária para manter esta mansão impecável. Portanto, peço-lhe que nos consiga serviçais eficientes. Depois de ter ficado fechada por tanto tempo a Dunstead House está uma lástima.

— Sir Robin e a senhorita não devem se preocupar. Cuidarei para que esta casa volte a ser magnífica, como sempre a conheci Burley prometeu.

O mordomo informou que havia ido a uma agência de empregos e também entrara em contato com amigos para conseguir o restante do pessoal necessário.

No momento ele contava com os quatro lacaios, já em seus postos, no hall, e o dois rapazes que limpavam a prataria, na copa.

A irmã de Burley, mais velha do que ele, ficara viúva e concordara em trabalhar como governanta. Sob sua direção estavam seis criadas.

Faltavam ser contratados: o chef, duas ajudantes de cozinha e um lavador de pratos.

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Alena constatou que havia no sótão librés e uniformes para todos.Nessa noite, quando subiram para dormir, Alena e Robin tiveram o

prazer de encontrar seus aposentos limpíssimos e a cama bem arrumada.Robin, naturalmente, ocupava a suíte principal e a irmã os

aposentos vizinhos. Em ambos os quartos havia água fria na jarra de porcelana, e sobre o mármore do lavatório estava uma grande caneca de latão, brasonada, com água quente.

Enquanto Robin não contratava um valete, Burley o ajudava a vestir-se e a cuidar de suas roupas.

— Se o senhor quiser, eu mesmo me encarregarei de arranjar-lhe um valete experiente e de confiança — Burley sugeriu ao ajudar sir Robin a trocar-se para dormir.

— Ótimo. Faça isso. Estou perfeitamente feliz com o seu serviço, mas é claro que a sua função não é a de valete. Dentro de alguns dias você estará ocupadíssimo. Esta casa voltará a ser tão movimentada como no tempo em que mamãe era viva.

— É muito bom ouvir isso, sir Robin. Cheguei a pensar que o senhor não pudesse reabrir esta mansão.

— Trouxe da Índia uma boa quantia e recebi um dinheiro com o qual eu não contava — Robin replicou, sabendo que o mordomo era muito curioso. — Vim para Londres com a srta. Alena para apresentá-la à sociedade. Vou oferecer-lhe um lindo baile de debutante.

— Compreendo, sir Robin, e estou feliz pela srta. Alena —tornou Burley.

— Lamento não ter vindo a tempo para o chá — Robin desculpou-se ao reunir-se à irmã, na sala de estar. — Fui até a embaixada americana.

— O que foi fazer lá? — Alena perguntou, surpresa.— Você sabe a resposta. Se queremos despertar a atenção dos

americanos sobre nós, devemos aparecer diante deles.— Oh, não! De novo essa história de noiva e noivo americanos!— É na América onde está o dinheiro e é de dinheiro queprecisamos — Robin retrucou. — E precisamos dele bem depressa.

O que recebi de Luigi não vai durar muito tempo.Alena respirou fundo.— Está bem. Conte-me como foi sua visita à embaixada. — Apresentei-me ao embaixador e lhe falei da minha grande

admiração pelos Estados Unidos, um país jovem que progride a passos de gigante. Discorri sobretudo sobre a indústria naval. Abordei o assunto só para dizer que eu estava pensando em ir à América para comprar um iate.

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— Um iate? — repetiu Alena, arregalando os olhos.— Exatamente. Acrescentei que os americanos fabricavam as

embarcações mais avançadas, mais possantes e com os melhores equipamentos. O embaixador ficou encantado, principalmente porque dei a entender que eu pretendia comprar o que houvesse de melhor, sem me preocupar com despesas.

— Oh, Robin! Nunca o imaginei capaz dessa ostentação absurda! — exclamou Alena, rindo.

— Ria quanto quiser. O importante é que aproveitei aoportunidade e convidei o embaixador e a esposa para o nosso

baile. — O que ele disse?— Prometeu vir, claro. Fiquei de mandar-lhe o convite amanhã.

Depois perguntei-lhe se havia em Londres, no momento, algumas moças americanas. Expliquei depressa que minha irmã provavelmente me acompanharia aos Estados Unidos e gostaria de fazer, desde já, amizade com jovens como ela.

Desta vez Alena não se conteve e riu à vontade.— Você é incrível!— Sei disso. Não precisa me dizer. — Robin riu também. —Veja a

lista que o embaixador me deu.Ele tirou do bolso duas folhas de papel e entregou-as à irmã. Alena

correu os olhos pelos nomes femininos e endereços.— Você não acha que estamos indo depressa demais? —perguntou

com cautela. — A pressa é inimiga da perfeição. Tenho medo de cometermos algum erro.

— Quanto mais depressa melhor — Robin contrapôs. —Vamos realizar esse baile para ver o que acontece. Nessa lista há o nome de uma garota que pertence a uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos.

— Quem é ela?— Mary-Lee Vanderhart. Li nos jornais que a fortuna deixada por

seu pai gira em torno de trezentos milhões e continua aumentando. Mary-Lee é a única herdeira.

— Bem, você não conseguirá gastar uma fortuna dessas facilmente — Alena brincou. — Ao mesmo tempo, é um erro contar com os ovos antes de a galinha os botar.

— É verdade. Mas há outro ditado que diz: "quem não arrisca, não petisca". De acordo com os jornais, Mary-Lee é muito bonita.

— Desconfie dos elogios feitos a pessoas ricas. Nem sempre são sinceros — Alena aconselhou.

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— Agora você está sendo cética. De uma coisa estou certo: nenhuma de nossas convidadas chegará aos seus pés. Você será a mais linda do baile e todos acreditarão que é também uma milionária.

— Eu queria ter essa certeza. Temo que seu devaneio assuma proporções assustadoras e fuja do seu controle.

— Por que esse pessimismo? — Robin indagou em tom de censura. — Devemos agarrar a nossa grande oportunidade e pensar o tempo todo que teremos sucesso.

Um forte barulho vindo do corredor fez com que Robin saísse apressado da sala para ver o que havia acontecido. Ficou sabendo que um dos operários deixara cair uma ferramenta do alto da escada. O mestre-de-obras também viera correndo até o local e estava repreendendo o homem descuidado.

Como Robin desapareceu, Alena foi ao gabinete e sobrescritou os envelopes com os nomes das pessoas que constavam da lista que o irmão lhe dera. Depois copiou as poucas cartas que faltavam. Até o momento cerca de quatrocentos convites haviam sido enviados.

Já era tarde e Alena ia subindo para tomar banho quando Robin encontrou-a na escada e avisou-a que iria ao White's Club.

— Jantarei com alguns amigos e os convidarei para o baile. Antes de ir ao clube passarei no quartel da Knightsbridge. Quem sabe encontrarei alguns oficiais, ex-colegas de regimento.

Burley vinha cuidando do preparo das refeições, pois o excelente chef por ele contratado só começaria a trabalhar na manhã seguinte.

Nessa noite, como Alena estava sozinha, Burley serviu-lhe o jantar em uma bandeja, no gabinete. Depois da excelente refeição ela continuou a trabalhar.

Quando o mordomo veio buscar a bandeja, perguntou a Alena se ainda iria precisar de seus serviços.

— Não, Burley. Pode se recolher — ela dispensou-o.— Já verifiquei se a porta da frente e as janelas estão fechadas, srta.

Alena. Também deixei um lampião aceso sobre uma das mesinhas do hall — Burley informou.

— Você não acha que seria conveniente contratar um lacaio para a noite? — Alena perguntou.

— Não creio que seja necessário — o mordomo opinou. — Sir Edward não costumava manter um lacaio de guarda a noite inteira.

— Considerando que a casa ficou fechada durante tanto tempo sem ter sido roubada, acredito que não devemos nos preocupar.

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— Dê-me algum tempo, srta. Alena, e deixarei esta casa um primor e funcionando na mais perfeita ordem.

— Sir Robin e eu estamos achando que você já fez maravilhas.— É bondade de ambos, srta. Alena. Estamos apenas no começo e

há muito o que fazer.Burley deu boa noite e Alena continuou seu trabalho. Era tão

grande a sua vontade de terminar a tarefa a ela imposta que se esqueceu das horas.

Quando depositou a caneta no berço do porta-tinteiro de prata, sentiu a mão doendo. Não era para menos; havia trabalhado horas a fio. Consultou o relógio antes de deixar o gabinete e viu que era quase meia-noite.

"Se eu não for logo para a cama, amanhã não me levantarei cedo", pensou, bocejando e estirando os braços.

Ao apagar as velas desejou que Robin instalasse iluminação elétrica na casa toda o mais depressa possível. As lâmpadas incandescentes, além de muito práticas, ofereciam uma claridade incomparavelmente maior do que a de lampiões e velas. Um barulho vindo de uma das janelas fez com que Alena se voltasse, apreensiva. Ela deixara as cortinas abertas e o gabinete estava iluminado pelo luar.

Aproximou-se da janela devagar e olhou, através da vidraça, para o jardim aos fundos da casa. Não pôde deixar de imaginá-lo lindo de novo, com o gramado, os canteiros e arbustos bem cuidados, e bancos sob as árvores.

A graciosa fonte havia anos deixara de funcionar e a bacia de pedra estava coberta de musgo.

Sobressaltada, Alena viu alguém perto da fonte. Acalmou-se e deduziu que Burley ou um dos lacaios talvez estivesse dando uma volta pelo jardim para inspecionar se o portão lateral e o que se comunicava com as cavalariças estavam bem trancados.

Para seu espanto, o homem aproximou-se da outra janela, abriu a vidraça e entrou no gabinete. Só então Alena percebeu que se tratava de um estranho. A primeira coisa que lhe ocorreu foi que o homem era um ladrão! Claro, ele estava ali para roubar!

— Quem... é o senhor... e o que... deseja? — perguntou com a voz trêmula de medo.

— Eu lhe faço as mesmas perguntas: Quem é você? O que faz aqui? — retrucou o homem, virando-se para Alena.

— Esta é a... minha casa. Por que o senhor veio até aqui... a esta hora? E... por que... pulou a janela... como um ladrão?

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— Sua casa?! — o estranho exclamou, atônito. — Há anos ninguém mora nesta casa.

— Como o senhor sabe... disso?— Venho a esta casa regularmente e até o momento nunca

encontrei aqui uma viva alma. — O estranho olhava para Alena e sorria. — Duvido que você seja a proprietária desta mansão.

— Mas eu sou, sim — Alena persistiu. — O senhor é um estranho e não tem o direito de entrar nesta casa... assim... furtivamente e... tão tarde.

O fato de estar falando com o estranho, praticamente no escuro, estava deixando Alena cada vez mais assustada. Foi até a escrivaninha, acendeu duas velas, ergueu-as deu alguns passos na direção do invasor.

Foi grande a sua surpresa ao ver que o homem à sua frente não parecia um ladrão nem um mendigo à procura de comida. Pelo contrário. O estranho era um belo jovem, vestia-se no rigor da moda e o corte de suas roupas era impecável. Na mão ele tinha um bloco de papel.

Por um momento os dois se olharam em silêncio. Alena não fazia ideia de que o cavalheiro estava maravilhado com sua beleza.

— Você é mesmo real, senhorita? — indagou o estranho, por fim. — Custo a acreditar que não tenho à minha frente uma figura saída de uma das suas telas.

— Telas! — Alena exclamou quase num grito. — O senhor... pretende... roubar... nossas... telas?

— Roubá-las? — O estranho riu. — Oh, não! Fique tranquila. Só pretendo admirá-las. Não é a primeira vez que venho até aqui com esse propósito. Devo dizer-lhe que é uma loucura deixar telas valiosíssimas numa casa vazia, sem a menor segurança. Esses tesouros poderiam ter sido roubados!

— Meu irmão e eu imaginávamos que a mansão estivesse sob os cuidados de nossos caseiros.

— Caseiros! Se eu tivesse preciosidades como as suas as manteria vigiadas por uma dezena de seguranças, dia e noite!

Sei que havia aqui um casal de velhos criados e mesmo assim entrei nesta mansão dezenas de vezes. Eu vinha pelo jardim e pulava pela mesma janela por onde acabei de entrar, minutos atrás. Não a arrombei, claro. Encontrei a fechadura quebrada e ela continua assim até agora. Os velhos caseiros nunca se deram ao trabalho inspecionar as janelas ou mandar pôr um trinco que fosse.

— Meu irmão e eu não sabíamos do que se passava aqui —Alena falou, como a desculpar-se.

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O cavalheiro olhou para a Madona e o Menino, tela pintada por Rafael que estava do lado da lareira e perguntou:

— Você tem ideia do valor dessa obra maravilhosa?— Além de ser uma das telas de minha predileção, sei que seu valor

é inestimável — tornou Alena.— Então você deve saber que uma obra dessas e tantas outras que

existem nesta casa precisam ser muito bem guardadas. — De repente o cavalheiro riu e acrescentou: — Estamos conversando há alguns minutos e não nos apresentamos. Sou Vincent Thurston, pintor. Eu daria de bom grado um braço ou uma perna para desenhar e pintar como o grande Rafael Sanzio.

— Meu nome é Alena Dunstead. — Alena aproximou-se de Vincent. — Talvez o senhor conheça meu irmão, sir Robin Dunstead, dono desta casa.

— Não o conheço pessoalmente, senhorita. Por que sir Robin não tem dado aos seus tesouros a atenção e cuidados que merecem?

— A casa pertencia a meu pai que ficou doente durante anos. Robin estava na Índia nessa ocasião, a serviço do vice-rei. Voltou para a Inglaterra recentemente. Eu estava em Florença, estudando.

— Isso explica o abandono em que ficou esta mansão.— O senhor deve ter notado que já estamos fazendo os reparos

necessários na casa.— Sim, notei. Bem, suponho que poderíamos conversar mais à

vontade se nos sentássemos — Vincent propôs.— Em primeiro lugar, eu gostaria de saber porque o senhor está

aqui e o que o tem levado a entrar nesta casa, tantas vezes, furtivamente, como disse há pouco — Alena pediu, sentando-se no sofá.

Vincent Thurston sentou-se à sua frente, numa das poltronas.— Estudei pintura e venho tentando, há anos, ser um artista. Os

críticos reconhecem o meu talento, mas quando vejo obras-primas dos mestres, sinto-me insignificante.

— Por que o senhor tem vindo justamente a esta casa? Como ficou sabendo sobre nossos quadros? — Alena inquiriu.

— Cerca de um ano atrás ouvi alguém falando sobre a coleção de arte Dunstead. Essa pessoa mencionou que parte do acervo ficava na Dunstead Hall, no campo, e a outra parte na Dunstead House, na Park Lane. Fiquei curioso, naturalmente — Vincent admitiu. — Naquela mesma noite passei por aqui. Vi todas as janelas da frente fechadas, nenhuma luz acesa e deduzi que os donos não moravam na casa. Voltei outras vezes e notei que um casal de velhos ocupava dois cômodos do porão.

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— Eram os nossos caseiros.— Imaginei exatamente isso. Procurei alguns amigos que conheciam

o dono da Dunstead House e obtive as informações do meu interesse. A principal delas era que sir Edward Dunstead morava no campo e a mansão da Park Lane ultimamente vivia fechada. Não foi difícil eu entrar no jardim, pela rua de trás, onde ficam as cavalariças, as quais, verifiquei, estavam vazias.

— É fácil imaginar o resto. O senhor descobriu a janela com a fechadura quebrada e entrou neste gabinete que se abre para o jardim, aos fundos da mansão — Alena completou. — Suponho que o senhor tenha ido até a galeria de quadros!

— Sim, srta. Dunstead. Minha curiosidade levou-me a essa intromissão — Vincent Thurston confessou. — Na verdade, andei por quase toda a casa.

— Arriscou-se muito, sr. Thurston. Se os caseiros o descobrissem poderiam chamar a polícia.

— Tive sempre o cuidado de entrar na casa depois de os velhos se recolherem. De mais a mais, aqueles dois só iam do porão para a cozinha. Também posso assegurar que o casal de velhos desapareceu há meses. Se eu quisesse, poderia sair daqui levando comigo, tranquilamente, uma obra de Van Dyck ou de Frans Hals.

— O senhor não faria isso. Vejo que é um cavalheiro. — Até mesmo os cavalheiros roubam e trapaceiam, srta. Dunstead.

Não se pode facilitar. Mas tenho vindo até aqui para copiar seus quadros.— Copiar?! Com que finalidade?— Para simples estudo. Já copiei alguns de seus únicos,

maravilhosos e insubstituíveis tesouros. Minhas cópias são elogiadas, mas quando as comparo com a obra original, fico desapontado. No momento, estou muito interessado na Praça de São Marcos, obra de Francesco Guardi. A meu ver é a mais difícil de todas as outras nas quais trabalhei.

— Sem dúvida, é uma obra magnífica. Mas, por maior que sejao seu interesse pela arte, sr. Thurston, não é uma atitude louvável

entrar furtivamente numa casa para admirar ou copiar telas. — Havia uma nota de censura na voz de Alena.

— Foi o modo que encontrei de entrar nesta mansão. A quem eu iria pedir licença?

Era uma resposta lógica e Alena sorriu.— Vejo que o senhor veio até aqui disposto, a trabalhar. Refiro-me

a esse bloco em sua mão.

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— Minha intenção era dar uma última olhada no quadro de Francesco Guardi e fazer algumas anotações. Estou vindo de uma festa e como a Dunstead House fica no caminho de casa, decidi entrar.

— E espera que eu, gentilmente, o convide a ir até a galeria de quadros — Alena complementou.

— Agora que a conheci contento-me em ficar admirando-a, srta. Dunstead. Confesso que ainda não me convenci de que você seja real. Chego a pensar que estou sonhando e tenho diante de mim uma das Graças ou uma Deusa saída da tela de Boucher.

— Agradeço-lhe pelas palavras gentis, embora as considere exageradas — disse Alena modestamente.

— Pelo contrário. As palavras são pobres para descrever a sua beleza — protestou Vincent Thurston.

Enquanto falava com o elegante cavalheiro Alena também dizia a si mesma que jamais vira um homem tão belo e tão agradável. Em voz alta perguntou:

— O que o levou a estudar artes e ser um pintor?— É uma longa história. Depois que terminei a universidade de

Oxford meu pai insistiu para eu servir no regimento da família. É claro que me rebelei. Sempre gostei de desenhar e pintar, portanto, escolhi dedicar-me à minha arte. Eu sonhava em viajar pelo mundo e conhecer os mais famosos museus e galerias. Foi o que fiz. Quando voltei da longa viagem meu pai foi severo comigo. Disse que se eu queria ser pintor devia tornar-me um profissional. Montei um ateliê e posso viver confortavelmente do meu trabalho. Já vendi inúmeros quadros, embora não me considere um grande artista.

— O que você prefere pintar?— O maior interesse de meus clientes é por retratos. Graças ao

grande número de amigos da família recebo muitas encomendas. Tenho pintado crianças, adultos, cavalos e cães. Eu, pessoalmente, gosto muito de paisagens.

— É por isso que você está interessado no quadro de Francesco Guardi? A meu ver é uma linda tela, mas muito complicada.

— Concordo com você. É justamente por Guardi ser um dos mais notáveis pintores de paisagens do período Rococó que desejo copiar seu quadro. Minhas cópias, como já disse, são para estudo.

— O que você acha das telas de Gainsborough? Sempre as admirei por serem românticas. As cenas idílicas do artista conferem grande beleza, mesmo a um cômodo sem graça.

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— É verdade. Seus quadros têm poesia. Thomas Gainsborough sempre se mostrou disposto a experimentar novas ideias e técnicas, sem se prender à tradição acadêmica. Em seus retratos ele também dispensou séria atenção à paisagem. Pretendo copiar a tela Mãe com o bebê e o camponês reclinado.

— Uma boa escolha. Que tal a paisagem Gado no bebedouro?— Oh, não. — Vincent Thurston torceu o nariz. — Nada de bois e

vacas. Cavalos, sim. Seria para mim o maior orgulho tornar-me um outro Stubbs. Eu gostaria de fazer para você uma cópia da tela Menina com o cão e o cântaro. Conhece essa obra?

— Não só conheço como tenho a tela original. Está em meu quarto.— Em seu quarto? Por isso não a vi. É verdade que andei pela casa,

mas não fui tão ousado a ponto de entrar nos dormitórios. Seria intrusão demasiada.

— Quando você quiser fazer a cópia da Menina com o cão e o cântaro, para si mesmo, claro, mando tirá-lo do meu quarto e levá-lo aonde você sentir-se mais à vontade para trabalhar sem ninguém perturbá-lo.

— Agradeço-lhe do fundo do coração. Espero também que você me perdoe, por tê-la assustado quando entrei nesta casa de modo nada recomendável.

— Você se arriscou. Se meu irmão estivesse aqui e não eu, ele poderia tomá-lo por um ladrão e quem sabe o golpearia. Vou pedir a Robin que mande consertar a janela amanhã mesmo.

— Da próxima vez tocarei a campainha e entrarei pela porta da frente, como todo visitante convencional.

— Bem, em primeiro lugar você precisa conhecer meu irmão.— Você está dizendo que não posso dizer a sir Robin que já nos

conhecemos?— Por favor, ele não pode saber desse nosso encontro em hora e

circunstâncias tão... impróprias.— Muito bem. Serei um estranho. Posso dizer a seu irmão que meu

pai era amigo de sir Edward — Vincent Thurston sugeriu.— É uma ótima ideia. Procure Robin e peça-lhe para vernossos quadros. Diga que ouviu falar sobre a coleção Dunstead e

quis conhecê-la, o que é verdade. Fale do seu interesse, sobretudo pelas telas de Rafael e de Francesco Guardi — Alena recomendou. — Talvez você não saiba, mas na Dunstead Hall temos outra tela de Rafael, São Jorge e o dragão.

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— Vocês têm essa tela? Espero vê-la na primeira oportunidade. — Vincent Thurston ficou de pé. — Já é tarde. Não fosse pela minha intromissão você já estaria dormindo.

— Estive trabalhando até há pouco e me esqueci das horas. Eu sobrescritava convites para o meu baile.

— Haverá um baile aqui? Nesse caso o salão precisa de uma boa reforma.

— Meu irmão já está cuidando da restauração de toda a casa.— Espero ser convidado para o seu baile.— Devo-lhe essa gentileza. Afinal, você tem estado nesta casa e

nunca levou consigo uma das telas — Alena brincou. — Meu irmão o convidará. Por favor, deixe-me seu endereço... para receber o convite.

Vincent Thurston tirou do bolso um cartão e entregou-o a Alena.— Bem, Robin e eu aguardamos sua visita. — Alena sorriu e

completou: — Será atendido... na porta da frente.— Oh, sim, claro. — Vincent Thurston sorriu também. —Então você

me autoriza a vir outras vezes copiar suas telas? Isso, para mim, é muito importante.

— Venha sempre que quiser. Meu irmão dirá a mesma coisa, amanhã, quando ambos se conhecerem.

— Obrigado por tudo. Graças à sua ajuda copiarei a Praça São Marcos tranquilamente. Já morei na Itália, mas meu sonho é passar algum tempo em Roma, Veneza e Florença.

— Tenho certeza de que realizará esse sonho. Já percebi que você é um homem decidido. Não seguiu o conselho do pai, preferindo dedicar-se à sua arte, e tem sido bastante ousado para entrar nesta casa com o propósito de admirar uma coleção de quadros. Certamente está fadado ao sucesso, sr. Vincent Thurston.

— Espero que suas palavras sejam proféticas. Mais uma vez, obrigado. Você é um anjo que apareceu em minha vida. Bem, acho melhor eu sair pelos fundos, como entrei. Não quero arriscar-me a ser visto.

— Não convém corrermos riscos.— Claro, o que eu menos desejo é comprometê-la. Vincent segurou a mão de Alena e levou-a aos lábios. Esse contato

fez com que ela estremecesse.Sem dizer mais nada ele saltou agilmente a janela e desapareceu

nas sombras projetadas pelas árvores e arbustos do jardim."Amanhã mesmo a janela será consertada", Alena pensou. "Que

perigo corremos durante todo esse tempo."

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Subindo para seu quarto ela sentia-se muito feliz. Graças à fechadura quebrada da janela conhecera um homem simpático, bonito e grande apreciador de artes.

"Não vejo a hora de rever Vincent Thurston", disse a si mesma.

CAPÍTULO IV

Vincent Thurston não deu sinal de vida no dia seguinte.Alena esperou que a campainha tocasse, o que não aconteceu,

deixando-a desapontada. Havia simpatizado com o jovem artista, achara sua conversa agradável e desejava muito voltar a vê-lo.

A todo instante ela pensava em Vincent e no modo curioso como se conheceram. Imagine! Tomara-o por um ladrão!

No entanto, o que poderia pensar ao vê-lo entrando na mansão pela janela dos fundos, altas horas da noite?

Naturalmente, ela nada dissera a Robin sobre o estranho pintor que há tempos visitava a casa para admirar sua coleção e copiar alguns dos quadros.

Para Alena o dia pareceu arrastar-se. Os últimos convites para o baile foram postos no correio e ela passou a cuidar da decoração da casa.

À tarde, à hora do chá, Robin falou com entusiasmo sobre a iluminação elétrica.

— Tudo foi providenciado. Amanhã o técnico começará a trabalhar com os fios elétricos nos salões e no jardim. Mais tarde estenderei a fiação e teremos esse conforto em toda a casa.

— Espero que essa inovação não fique muito cara — a irmã observou.

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Robin ignorou a observação. Isso deu a Alena a certeza de que ele iria gastar muito, sim, mas o serviço seria feito.

O importante era que a mansão tornava-se, a cada dia que passava, mais limpa e mais linda.

Burley contratara novos criados, o chef já começara a trabalhar e vinha mostrando seu talento nas refeições que preparava.

Na manhã seguinte Alena acordou pensando em Vincent. Sua intuição lhe dizia que ele viria visitá-los à tarde.

Robin teve um dia tão atarefado que mal falou com a irmã.Pela primeira vez, desde que eles tinham mudado para amansão, Burley serviu o chá no salão de recepções, agora reluzente

e enfeitado com flores. As arrumadeiras haviam feito nele uma faxina completa.

Fora ideia de Robin tomar o chá no salão. Dessa forma, ele e a irmã poderiam observar, calmamente, o cômodo mais importante da casa, depois do salão de bailes.

Enquanto tomavam chá e serviam-se da grande variedade de sanduíches, bolos, pães e bolinhos, ambos decidiam o que precisava ser feito no salão.

— As paredes precisam de pintura — Robin opinou —, porém os frisos a ouro e o teto estão perfeitos.

— Apenas o revestimento de dois sofás estão em mau estado. Tudo mais ficou muito bonito depois de limpo — Alena deu seu parecer. — Posso fazer, com a ajuda da governanta, algumas almofadas para as poltronas e os sofás.

— Também aqui podemos ter uma decoração semelhante à do salão de bailes e empregarmos o "efeito luar". Esse recurso tornará a pintura das paredes desnecessária.

Nesse momento Burley abriu a porta e anunciou:— O sr. Vincent Thurston deseja vê-lo, sir Robin. Enquanto Robin mostrava-se surpreso, Alena vibrava de

contentamento. Ele viera!Foi difícil para ela esconder seu entusiasmo ao ver Vincent entrando

no salão, ainda mais belo e mais elegante do que na noite em que se conheceram.

Olhou para o irmão discretamente, querendo observar se ele estava bem impressionado com o visitante.

— Certamente o senhor não me conhece, sir Robin, mas seu pai e o meu foram amigos e colegas de colégio. Ontem fui ao campo visitar papai

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e ele lembrou os velhos tempos. Falou-me sobre sir Edward e mencionou que era um cavaleiro sem igual.

— É verdade. Possuíamos cavalos magníficos. Espero voltar a ter nas cocheiras animais tão bons como no passado.

— Vejo que seu sonho é possuir puros-sangues invejáveis. Entretanto, eu, como pintor, invejo sua coleção de quadros, tida como uma das mais completas e mais valiosas da Inglaterra.

— Meus quadros?! — Robin repetiu, admirado.— Sim. Vim pedir-lhe um grande favor.— De que se trata? — Robin lembrou-se de Alena e disse em outro

tom: — Antes de falarmos sobre isso, quero apresentar-lhe minha irmã, Alena.

Vincent Thurston deu um passo à frente e apertou a mão de Alena.— Estou encantado em conhecê-la, srta. Dunstead.Ela sorriu para Vincent e notou que os olhos dele brilhavam.— Você mencionou meus quadros — Robin retomou o assunto. —

Está interessado neles?— Muito mais interessado do que posso expressar com palavras.

Admiro os pintores antigos e se me permitir fazer cópias de algumas de suas telas, para estudo, eu lhe ficarei muito grato, sir Robin.

— Naturalmente. Se nossos pais eram amigos, como eu poderia deixar de atender ao seu pedido? — Robin sorriu para o visitante com simpatia. — Quais as telas de sua predileção?

— Só posso responder a essa pergunta depois de conhecer sua coleção de arte.

Ouvindo isso Alena respirou aliviada. Se Vincent mencionasse as telas nas quais tinha maior interesse, Robin poderia querer saber como era possível um estranho estar bem informado sobre as obras de sua coleção.

— Antes de ir com meu irmão à galeria, sr. Thurston, tome chá conosco — Alena convidou o visitante.

Burley acabava de deixar na mesa de chá outra xícara, pires, pratinho e talheres.

Vincent Thurston sentou-se. Aceitou o chá e serviu-se de um sanduíche de patê.

— O senhor mora em Londres? — Robin indagou cortesmente.— Tenho um apartamento a pouca distância desta casa. Meu pai

mora no campo, no condado de Essex, onde há caça em abundância. O orgulho de papai são os seus excelentes cavalos de raça.

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— É o que pretendo ter — disse Robin. — Mas antes de pensar em cavalos preciso cuidar da restauração das duas casas que acabo de herdar. Elas ficaram praticamente no abandono durante a longa doença de meu pai.

— Lamento saber disso. Com certeza meu pai não ficou sabendo do falecimento de sir Edward. Ele era relativamente moço.

— Sempre achamos que é cedo para uma pessoa querida nos deixar. Um derrame cerebral manteve meu pai preso ao leito durante anos.

— Não me lembro de papai ter falado sobre seu amigo e colega Thurston — disse Alena. — Imagino que nossos pais ficaram vários anos sem ver um ao outro.

— Meu pai era diplomata e passou muito tempo fora do país. Moramos na Itália durante anos — Vincent esclareceu. — Quando papai retornou à Inglaterra passou a fazer parte da Câmara dos Lordes.

Vincent Thurston terminou o chá e Robin levantou-se.— Preciso falar com o mestre-de-obras e os restauradores antes

que eles saiam. Alena o acompanhará à galeria de quadros, sr. Thurston. Mais tarde irei encontrá-los.

— Obrigado. É muita bondade sua permitir que eu veja suas obras primas e copie algumas delas. Só lamento ser pouco talentoso para reproduzi-las satisfatoriamente.

— Tenho certeza de que o senhor é um artista muito melhor do que diz ser — afirmou Robin. — Espero ver seu trabalho quando estiver terminado.

— Sim, claro, terei o maior prazer de lhe mostrar as cópias. Robin deixou o salão e quando a porta se fechou atrás dele

Alena disse a Vincent:— Você foi muito cauteloso. Meu irmão não desconfiou de nada.— Bem, eu não menti, propriamente. De fato, meu pai e sir

Edward foram contemporâneos em Eton e, depois, em Oxford. Eu soube disso porque fui ontem à fazenda ver papai. Por esse motivo não pude fazer-lhes a visita prometida. Algo me dizia que sir Edward e meu pai se conheceram. Não me enganei. Ele falou-me longamente sobre sir Edward. Sua memória é admirável.

— Você mencionou que morou na Itália. Sua vocação para a pintura foi despertada lá?

— Como já lhe disse, gosto de desenhar e pintar desde criança. Mas o fato de eu ter conhecido tantas obras de arte me fez decidir estudar com grandes mestres e ter a pintura como profissão.

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— Vamos até a galeria ver os quadros, mesmo que você já os tenha visto inúmeras vezes.

— Nunca me cansarei de admirá-los e fazer isso na sua companhia será prazer redobrado. Só receio ficar tão embevecido com a acompanhante a ponto de não prestar a devida atenção às obras de arte.

— Seus elogios me envaidecem. Mas devemos ir ver a Praça São Marcos enquanto está claro.

— Tem razão. Até o momento só vi o quadro à noite, à luz de velas.A galeria de artes era um cômodo, comprido que ocupava todo o

lado oeste da casa. Abaixo dela, no andar térreo, ficava o salão de bailes.Enquanto seguiam pelo corredor, depois de terem subido a escada,

Alena falou a Vincent sobre o "Baile ao Luar".— Deve ser um baile bem original — Vincent observou.— Robin deseja mesmo que seja algo diferente. Espero que você

venha.— Virei, é claro, e dançarei com você. Minha dúvida é que você,

sendo uma deusa, prefira voar.— São as fadas, não as deusas, que voam — Alena corrigiu-o.— Todas as deusas também voam, mesmo não tendo asas como as

fadas ou os anjos. Não fosse assim, como poderiam descer do Olimpo? — Vincent argumentou.

Alena riu. — Seu raciocínio é correto.— Tenho muita vontade de pintá-la, Alena. Todo artista sonha em

perpetuar numa tela uma beleza pura e radiosa como a sua. Você já foi retratada alguma vez?

— Nunca. Mas não é de surpreender. Estive no colégio em Florença e lá eles cultuam suas obras de arte e têm nas telas as belíssimas madonas, deusas e santas para admirar. Não precisam voltar os olhos para mulheres reais, de carne e osso.

O tom brincalhão de Alena provocou o riso de Vincent. — Acho mais fácil acreditar que você tenha ficado escondida nesse

colégio interno, não dando a nenhum pintor o privilégio de conhecer uma deusa vivendo entre os mortais. Mas eu vou pintá-la tão logo tenhamos decidido que estilo de arte combina com você.

— Eu gostaria de ficar parecida com a deusa Diana. Boucher pintou-a magnificamente na tela Diana repousando após o banho.

— Na minha opinião você é mais bela do que Diana — disse Vincent, fixando o olhar em Alena.

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O tom sincero e o modo como ele a fitou fizeram com que Alena abaixasse os olhos, recatada.

Até o momento não havia levado seriamente nenhum dos elogios do rapaz. Na verdade, achava que Vincent pretendia, com lisonjas, cair nas suas boas graças e assim continuar a fazer, sem problemas, as cópias do seu interesse.

Mas agora ele havia falado de maneira quase solene."Esse deve ser seu modo de flertar com uma garota", Alena

pensou. "Nada sei sobre o namoro e preciso ter cuidado. A primeira coisa a aprender é não acreditar nos elogios de rapazes."

Uma vez na galeria Alena fez comentários sobre os quadros pelos quais iam passando e também ouviu atentamente as explicações abalizadas de Vincent.

Quando ela indicou para o pintor um Van Dyck e um Jacques-Louis David, duas obras-primas que maravilhavam os que visitavam a galeria, Vincent falou sobre a influência de Rubens sobre Van Dyck.

Sobre Jacques-Louis David mencionou que o considerava o maior nome do neoclassicismo.

Terminada a visita, quando eles dirigiam-se para a escada Vincent disse:

— Vim aqui tantas e tantas noites e nunca imaginei que iria encontrar alguém como você.

— Teve muita sorte, sr. Vincent Thurston, de eu não gritar por socorro e pedir aos criados que chamassem a polícia.

— Duvido que alguém a ouvisse nesta casa tão grande. Enfim, você não gritou, Agora, com o consentimento de seu irmão, posso voltar aqui sem problema. Estou muito grato a sir Robin principalmente por ter a oportunidade de vê-la com frequência, Alena.

— Eu não pretendo interrompê-lo quando você estiver trabalhando.— Vou começar seu retrato quanto antes para estarmos sempre

juntos. Quando estará livre para posar?Alena ergueu as mãos.— Oh, por enquanto, não! Só depois do baile. Devo estar

ocupadíssima até lá.— Talvez eu possa ajudá-la em alguma coisa. Nas compras, quem

sabe. Você não deve conhecer Londres tão bem quanto eu, uma vez que esteve fora da Inglaterra durante muito tempo e acaba de se mudar para Londres. Posso levá-la a lojas onde conseguirá o que precisar e com preço bem mais acessível do que em Mayfair.

Antes que Alena objetasse Vincent acrescentou depressa:

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— Não que isso para você tenha importância. Ouvi dizer que seu irmão é muito rico e pode comprar o que há de melhor, ainda que por um preço exorbitante.

Por um instante Alena não soube o que dizer. Por fim murcmurou:— É uma grande tolice atirar dinheiro pela janela.— Sou da mesma opinião. Eu só podia esperar que você fosse

sensata. Se quiser, amanhã a levarei às lojas de que lhe falei.— Obrigada pela ajuda. Farei a lista do que preciso.— Bem, agora devo ir. Não posso abusar da bondade de seu irmão.— Robin está tão ocupado com a casa que talvez nem se lembre

de nós. Quanto a você, imagino que tenha algum compromisso para esta noite.

— Vou a um jantar. Recebo muitos convites, mas estou na lista de convidados das anfitriãs por deferência a meu pai. Na verdade, acho essas recepções e bailes muito aborrecidos.

Percebendo que suas palavras poderiam magoar Alena ele contornou a situação, dizendo:

— Por favor, não me interprete mal. Seu caso é diferente. Tenho certeza de que seu baile será maravilhoso. Você está debutando e deve aproveitar sua temporada e ir a todas as festas e bailes para os quais for convidada.

— Estou ansiosa para ter meu primeiro baile e quero ir a festas, claro. Mas também gosto da vida sossegada do campo e de cavalgar livremente pelas campinas ou pelas trilhas do bosque.

— É exatamente o que faço quando não estou pintando. Talvez um dia possamos cavalgar juntos.

— Sei perfeitamente qual é a sua intenção. — Alena sorriu para Vincent. — Você quer ir à nossa casa de campo para ver os outros quadros da coleção de Robin.

— Bem, isso me passou pela mente — Vincent admitiu. — Mas eu quero ver os quadros com você. Na primeira oportunidade a levarei à Dunstead Hall na carruagem de meu pai, puxada por cavalos excelentes.

— Será ótimo — Alena falou sem muito entusiasmo. Estava pensando que o verdadeiro interesse de Vincent era pelos quadros e o convite de levá-la à casa de campo só fora feito por ser o modo mais fácil de ele conseguir o que desejava. Eles chegaram ao hall e encontraram Robin que acabava de sair do salão de bailes.

— Já vai, Thurston? Perdoe-me por não lhe dar mais atenção. Como pode ver, estou muito ocupado com a restauração da casa. Foi um prazer conhecê-lo. Venha copiar as telas quando quiser.

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— Obrigado. Você e a srta. Dunstead foram muito gentis. Vincent apertou a mão de Robin, depois a de Alena e deixou a mansão.

Querendo conversar com a irmã Robin levou-a para o gabinete.— O rapaz me pareceu simpático — ele comentou. — Não vejo mal

algum em deixá-lo copiar os quadros do seu interesse. Vincent Thurston, certamente, não pretende deixar uma de suas cópias no lugar de uma tela original.

— Que ideia horrível! — Alena exclamou.— Horrível para ele. Seria uma pena vê-lo preso.Só em pensar que eles haviam vendido duas obras originais e

tinham replicas em seu lugar, Alena sentiu um calafrio. Notando a reação da irmã Robin tranquilizou-a.

— Não se preocupe. O trabalho de meu amigo italiano ficou perfeito. Tive ocasião de comparar as obras originais com as réplicas e asseguro que são idênticas. Desafio até mesmo o mais astuto conhecedor de arte a dizer que os dois quadros que estão na galeria não foram pintados séculos atrás.

— Bem... pelo menos você vendeu obras que eram... suas — Alena murmurou.

Após um momento Robin disse:— A propósito, hoje conheci uma americana milionária.— Refere-se àquela cujo sobrenome é Vanderhart?— Sim, Mary-Lee.— Onde a conheceu?— Na embaixada americana. Fui até lá com um amigo que alugou

sua casa para um dos funcionários e precisava falar com esse inquilino.— Como é a fabulosa Mary-Lee Vanderhart?— Muito bonita. Ela está interessada em obras de arte e quis ver a

minha coleção. Convidei-a para almoçar conosco, amanhã.Alena arregalou os olhos.— Amanhã? Mas... a casa ainda não está pronta.— Expliquei a Mary-Lee que voltei para a Inglaterra recentemente e

comecei a restaurar a casa que havia ficado fechada durante alguns anos. Ela foi muito simpática e disse que aconteceu a mesma coisa com ela, na América, quando o pai morreu.

— Suponho que Mary-Lee já esteja de posse dos milhões deixados pelo pai.

— Naturalmente. E quer investir grande parte do seu dinheiro em obras de arte. Ela está sabendo que não posso vender nenhum dos meus quadros e mesmo assim quis vê-los. Percebi que Mary-Lee está

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interessada em mim. É claro que vou agarrar a chance que a sorte me oferece.

— Não deve perdê-la. Vou pedir ao chef que prepare um almoço especial. A srta. Vanderhart virá sozinha?

— Não. Ela está sempre com uma amiga, também americana. Uma espécie de dama de companhia.

— Então você também conheceu essa amiga ou... dama de companhia da srta. Vanderhart?

— Conheci. Ela deve ter a mesma idade de Mary-Lee e também é muito bonita. Na verdade, a garota nem parece dama de companhia. Se Mary-Lee fosse inglesa teria uma chaperon de meia-idade, ultraconservadora e preocupada com detalhezinhos. Enfim, uma pessoa aborrecida.

— As americanas devem ser diferentes.— São muito diferentes.— Bem, se teremos duas moças para o almoço de amanhã, nãoseria melhor você convidar dois de seus amigos? — Alena sugeriu.

— Ficará um grupo mais interessante.— Posso convidar apenas um rapaz. Esta noite irei ao White's Club

falar com o amigo que me levou à embaixada.— Por que você não convida também o sr. Thurston?— Bem lembrado. Thurston tem ótima aparência e veste-se com

elegância, embora seja um pintor. A maioria dos artistas têm cabelos compridos e usam um casaco de veludo surrado —observou Robin com humor.

— Vincent Thurston é, de fato, muito elegante e nem parece artista — disse Alena, sorrindo. — Vou mandar-lhe por um mensageiro uma cartinha convidando-o para o almoço, juntamente com o convite para o baile. Ele deu-me o endereço.

— Faça isso. Todos devem apresentar o convite na noite do baile. Não acredito que haja penetras, mas seria loucura corrermos riscos. Temos na casa quadros de valor inestimável. Vou pedir a Burley que providencie seguranças para vigiarem a galeria de arte, os corredores e os cômodos onde estão as telas mais valiosas. Manteremos fechadas as alas onde ficam os dormitórios.

O irmão afastou-se e Alena ainda ficou no gabinete. Não pôde deixar de refletir que possuir tesouros por vezes representava mais aborrecimento e preocupação do que alegria.

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Sentando-se à escrivaninha sobrescritou o envelope com convite de Vincent Thurston e redigiu a cartinha convidando-o para o almoço do dia seguinte.

No hall Robin falou com Burley. Este achou muito sensata a ideia de contratar seguranças.

— Já trabalhei em uma casa que foi assaltada quando os donos ofereciam uma festa. Todas as jóias foram roubadas, exceto as que a dona da casa usava na ocasião — o mordomo argumentou.

— Pois bem, para a noite do baile você vai contratar guardas de inteira confiança, Burley —Robin orientou o mordomo. — Também fique atento a tudo que se passar na casa.

O dia amanheceu lindo e Alena saiu logo cedo para comprar seu enxoval de debutante, coisa que ainda não tivera tempo de fazer.

Passou duas horas na Bond Street e gastou com roupas, sapatos, chapéus e outros complementos uma quantia que considerou astronômica, mas Robin lhe havia dito para comprar o que houvesse de melhor.

Na elegante loja de trajes femininos escolheu vestidos para várias ocasiões. Quando a vendedora soube que para seu baile a cliente desejava um traje incomum e deslumbrante, o estilista foi chamado para atendê-la.

Inteirando-se do tipo de baile que seria realizado, ele desenhou um modelo exclusivo e explicou:

— O vestido será de tule todo bordado com pedrinhas que brilham como diamantes; o forro de cetim prateado fará com que a senhorita pareça estar vestida de luar.

Alena aprovou o modelo e a vendedora prometeu entregar os vestidos de baile e os outros escolhidos pela cliente na tarde seguinte.

Ela saiu da loja levando apenas um gracioso traje de musselina, azul, da cor de seus olhos, que iria usar no almoço.

Em casa uma das criadas ajudou-a a vestir-se e fez nela um lindo penteado.

Antes de descer Alena olhou-se no espelho e achou que se transformara. O vestido vaporoso, de saia rodada, tornava sua cintura ainda mais pequenina.

Robin esperava pelos convidados no salão de recepções e ao ver a irmã exclamou:

— Você está sensacional! Esta é a primeira das dezenas de reuniões e festas que vamos oferecer nesta casa. Todos ficarão encantados com os anfitriões.

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Passou pela mente de Alena que se eles continuassem gastando como vinham fazendo, o dinheiro não iria durar muito. Nada disse, porém.

Vincent Thurston foi o primeiro a chegar. O amigo de Robin apareceu quase em seguida. Eles tomavam champanhe quando Burley anunciou:

— Senhorita Mary-Lee Vanderhart e senhorita Blaise Miltom.Duas moças elegantes entraram no salão.A diferença entre elas era marcante. Ambas eram muito bonitas,

mas Mary-Lee era loira de olhos azuis e chamava a atenção por ser alta, extrovertida, vistosa e consciente da própria beleza e importância.

Alena achou sua voz aguda e não de todo agradável. Os cavalheiros, entretanto, reuniram-se ao seu redor e não se cansaram de lisonjeá-la.

Blaise Milton era delicada, tinha cabelos e olhos castanho-claros e uma expressão meiga que lembrava a de uma criança.

Para surpresa de Alena ela não tinha sotaque americano e sua voz era muito suave.

À mesa Robin sentou-se à cabeceira e a irmã à outra extremidade. Mary-Lee e Blaise ficaram, respectivamente, à esquerda e à direita do anfitrião. Vincent e o amigo de Robin sentaram-se um de cada lado de Alena.

Foi Mary-Lee quem animou a refeição e encantou os cavalheiros. Ela falou, riu e disse coisas engraçadas o tempo todo.

Após a refeição também foi Mary-Lee quem decidiu o que devia ser feito.

— Agora vamos ver os quadros. Vim aqui especialmente para isso. — Ela voltou-se para Vincent e acrescentou: — Quero ouvir seu parecer sobre cada um deles.

— Só posso fazer elogios à coleção Dunstead, uma das mais famosas do país. Nesta casa está apenas uma parte dela — Vincent declarou.

— Em Nova Iorque não há coleções particulares como as que vocês, aristocratas, têm aqui na Inglaterra — Mary-Lee apontou. — Posso ser a primeira a possuir uma invejável coleção de obras-primas.

— É uma excelente ideia — Robin aquiesceu. — Mas você sabe que nenhum dos quadros está à venda.

Mary-Lee dirigiu-lhe um olhar sedutor.— Nesse caso você pode dar-me um deles de presente. Todos riram.— Isso também é impossível — tornou Robin. — Mas temos aqui

o nosso amigo Vincent Thurston, pintor talentoso, que poderá retratá-

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la, Mary-Lee. Será, por certo, uma linda tela e deixará os nova-iorquinos pasmados.

— A sugestão me agrada. Prometo pensar no assunto. Mas, em primeiro lugar, quero ver os quadros.

Robin conduziu o grupo à galeria de arte. Ficando mais para trás com Vincent, Alena falou em voz baixa:— A srta. Vanderhart é muito bonita. Faça o possível para pintar o

seu retrato antes que ela mude de ideia.— Vou pintar você — Vincent falou com firmeza.— O meu retrato pode ficar para mais tarde. Pinte primeiro o da

srta. Vanderhart. Ela lhe pagará um bom preço e seu trabalho ficará conhecido em outro país.

— Vivo da minha arte mas não ponho o dinheiro acima de tudo. Vou retratar você e não cobrarei nada por isso, claro. Será um presente meu. Só quero sentir o prazer de perpetuar na tela a sua extraordinária beleza.

— Por favor, não me leve a mal. Eu quis dizer que se você pintar uma pessoa da importância de Mary-Lee terá muito prestígio — Alena justificou-se.

— Entendi o que você quis dizer. Mas para mim ninguém é mais bela ou mais importante do que você. É você quem eu vou pintar.

— Suas palavras me envaidecem. Na verdade, eu também não ponho o dinheiro em primeiro lugar. Robin é mais prático. Ele costuma dizer: "Dinheiro é dinheiro e nunca se deve desprezar a oportunidade de consegui-lo".

Vincent não respondeu. Eles estavam entrando na galeria e uma das telas de Boucher chamou-lhe a atenção. Era Cupido e as Graças, uma das preferidas de Alena.

— Quando a conheci eu lhe disse que você era mais linda do que qualquer uma das Graças ou Deusas de Boucher. Estou constatando que não me enganei — Vincent segredou, fitando Alena intensamente.

Por um momento ambos ficaram imóveis, como se magnetizados. Acabaram se distanciando bastante dos outros quatro que andavam mais depressa.

Blaise Milton manteve-se o tempo todo do lado de Robin, enquanto o amigo deste e Mary-Lee pareciam dar-se muito bem e, sem dúvida, se divertiam.

Ocasionalmente os quatro riam devido a uma observação bem humorada de Mary-Lee ou de algo que era dito sobre ela.

Quando eles saíram da galeria, Blaise disse a Robin:

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— Nunca vi uma coleção particular tão completa nem tão maravilhosa, sir Robin.

— Alegra-me ouvi-la dizer isso, srta. Milton. Orgulho-me de possuir o que considero preciosidades. Só lamento ter encontrado, ao voltar para a Inglaterra, a coleção e as duas casas tão negligenciadas. Ainda vai levar algum tempo para tudo ficar como eu quero. Mas, como se diz, Roma não se fez num dia.

Blaise sorriu para ele.— É verdade. Fiquei impressionada com as obras que vão da

Renascença a mestres contemporâneos. Os seus antepassados que adquiriram os quadros, no decorrer dos séculos, foram muito criteriosos.

— É o que costumo dizer a mim mesmo. Se você gosta de arte e entende de pintura, certamente irá apreciar as telas que tenho na Dunstead Hall, no campo. Posso assegurar que, em certos aspectos, são ainda mais extraordinárias do que as desta casa.

— Vou adorar vê-las. No entanto, acho difícil acreditar que possa haver obras mais admiráveis do que essas que acabei de ver.

— Prometo levá-las à Dunstead Hall, mas acredito que isso não será possível antes do baile de Alena. Embora a propriedade não fique a muita distância de Londres, será cansativo para vocês voltarem no mesmo dia. Só receio não proporcionar-lhes muito conforto, pois a casa está fechada há bastante tempo — Robin explicou.

— Para ver obras de arte ainda mais extraordinárias do que as que você tem aqui, pouco me importo com desconforto — asseverou Blaise.

— Nesse caso, precisamos decidir apenas qual o dia mais conveniente para esse passeio ao campo.

Acabando de falar, Robin refletiu que talvez estivesse sendo imprudente. Por certo Mary-Lee ficaria mal impressionada com o estado em que se achava a casa de campo.

Ao mesmo tempo, era importante ele não deixar passar uma oportunidade sequer de ter as duas americanas interessadas nele.

— Mary-Lee decidirá. Ela sempre tem muitos compromissos — disse Blaise, interrompendo os pensamentos de Robin.

— Está bem. Iremos quando a srta. Vanderhart quiser — ele concordou. Em outro tom observou: — Notei que você não fala como uma americana; não tem sotaque.

— Muitas pessoas já me disseram a mesma coisa. Mamãe era inglesa e morei algum tempo na Inglaterra com meus avós.

— Seus pais estão vivos?— Não. Ambos morreram.

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— O que seu pai fazia?— Ele investiu seu dinheiro em terras supostamente ricas em

petróleo, mas alguns poços logo se esgotaram, outros nada produziram. — Blaise Milton riu antes de concluir: — Herdei as terras de papai, mas sou uma americana pobre e, posso dizer, uma exceção na sociedade que frequento em Nova Iorque.

— Uma exceção?— Meu pai foi muito rico, portanto, recebi excelente educação e

convivi com milionários. Agora, graças a Mary-Lee, de quem sou muito amiga, posso manter o padrão de vida antigo, mesmo sendo pobre. Esta viagem, por exemplo, está sendo uma gentileza de minha amiga. Mas, naturalmente, é ela quem recebe todas as atenções.

Ambos olharam para Mary-Lee e seu acompanhante. Este mostrava-se fascinado pela bela americana, a quem fazia inúmeros elogios. Ela, por sua vez, ria e demonstrava estar adorando toda aquela adulação.

Subitamente Robin sentiu pena da graciosa e suave americana que estava do seu lado. Disse num impulso:

— Voltando àquele assunto do passeio ao campo, prometo que a levarei para ver os quadros, mesmo que Mary-Lee prefira ficar em Londres.

Os olhos de Blaise se iluminaram.— Você é muito gentil. Adoro obras de arte e fiquei maravilhada

com seus quadros. Considere-se afortunado por possuí-los. — Abaixando a voz Blaise acrescentou: — Não deixe que americanos comprem uma tela que seja de sua magnífica coleção.

— Nada pode ser vendido por ser herança inalienável. O que herdei devo legar a meu filho, este para seu herdeiro, e assim sucessivamente.

— Sei que isso acontece muito na Inglaterra. Acho mais do que certo esse modo de preservar bens que vão passando aos descendentes de geração em geração.

— Estou admirado de saber que você, sendo tão jovem e americana, pensa dessa forma — disse Robin com sinceridade.

— Os americanos só pensam em acumular bens e são imediatistas. Na Inglaterra é diferente porque vocês têm um longo passado, o que os leva a pensar no futuro de seus filhos e netos. Um dia os americanos seguirão o exemplo dos ingleses.

— Espero que sim. Parece que na América está havendo uma onda de "volta ao passado" e maior valorização do que é antigo. Os americanos têm comprado obras de arte na Europa. O salões das casas mais ricas da

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Quinta Avenida são decorados com valiosas telas, belíssimos móveis Luís XIV e outras antiguidades.

Blaise deu uma risadinha e disse, abaixando a voz: — Mamãe achava ridículo ver tantos novos-ricos comprando

antiguidades sem entender nada de arte e distribuindo-as pela casa sem critério ou bom gosto. Ela dizia que algumas salas das mansões da Quinta Avenida mais pareciam uma loja de trastes velhos.

Robin achou graça. No mesmo instante considerou que talvez estivesse sendo rude e falou em tom amável:

— Seus compatriotas aprenderão a apreciar as obras de arte corretamente, da mesma forma que nós aprendemos. É só uma questão de tempo.

— Acredito que sim. Talvez vocês, ingleses, não tenham consciência de que são afortunados nem saibam que os outros países admiram e invejam a Inglaterra.

— E nós, da Inglaterra, em contrapartida, invejamos o dinheiro dos americanos — disse Robin sem pensar.

— Sei disso — Blaise concordou, rindo. — Mas mamãe era inglesa e não dava ao dinheiro a importância que a maioria das pessoas dá. Ela achava que a nossa riqueza devia ser usada, não apenas para o próprio bem-estar, mas em benefício de todos os que dependiam de nós.

— Sua mãe era uma pessoa sábia. Qual era seu nome de solteira?Antes de Blaise responder Mary-Lee chamou-a.— Vamos, Blaise. Lady Carson convidou-nos para o chá e não

podemos nos atrasar.Blaise foi depressa para junto da amiga. No hall as duas se

despediram de todos e Robin acompanhou-as até a carruagem.Ao voltar ele foi com o amigo para o gabinete. Ficando a sós com

Alena, Vincent desabafou:— Terminou a tagarelice e o barulho. Nós poderíamos voltar à

galeria para ver a obras tranquilamente.— Por que não? Não me canso de admirar aqueles quadros e

sempre descubro neles algo novo.— É o que acontece comigo em relação a você. Não me canso de

admirá-la. Sou o homem mais feliz do mundo por tê-la encontrado.Alena prendeu a respiração. Disse a si mesma que não devia levar a

sério as palavras de um rapaz que mal conhecia.Refletiu também que Vincent, como pintor, se interessava por ela

por causa dos quadros. Ou ainda, quem sabe, ele até estivesse pensando em conquistá-la por considerá-la muito rica.

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O bom senso aconselhou-a a ter cautela.O coração, porém, lhe pedia para ver e estar com Vincent Thurston

todos os dias.

CAPÍTULO V

Alena acabou de arrumar as novas almofadas de cetim azul no salão de recepções.

Sobre os sofás havia coloçado xales chineses ricamente bordados que comprara em uma loja de tapeçaria aonde fora com Vincent.

Ficou mais do que satisfeita com o resultado. Na verdade, achou que o salão ganhara mais vida e um toque elegante.

Ela havia convidado Vincent para almoçar mas ele recusara o convite dizendo que esperava um amigo para almoçar em seu apartamento.

— Você tem criados? — Alena perguntara.— A esposa do zelador limpa o apartamento e cozinha para mim

quando é preciso. Tenho também um valete que cuida das minhas roupas.— Agora entendo porque você está sempre muito elegante.— Não pareço um pintor, não é mesmo? A maioria das pessoas

imagina um artista de cabelos compridos, usando boné e vestido de modo extravagante e até descuidado — dissera Vincent, rindo.

— Foi o que Robin disse um dias desses — Alena observara. Antes de se despedir Vincent lhe perguntara se poderia

começar a pintá-la, caso ela tivesse algum tempo livre.Não tanto por desejar ter o seu retrato, mas por querer estar perto

de Vincent, Alena acabara concordando em posar para ele na parte da tarde.

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Embora tivessem se encontrado poucas vezes, os dois já se sentiam muito atraídos um pelo outro. Além de ser grande conhecedor de artes, Vincent era observador, perspicaz e possuía um humor sutil que provocava com frequência o riso de Alena.

Robin chegou atrasado para o almoço e ao sentar-se à mesa com a Alena desculpou-se pelo atraso. Disse que fora à embaixada americana e tinha uma notícia importante para dar à irmã.

Ao final da refeição ele terminou seu clarete, levantou-se e pediu a Burley:

— Sirva-nos o café no gabinete.No corredor Robin deu o braço à irmã e falou-lhe com entusiasmo:— A notícia que lhe vou dar é muito boa e você, com certeza, vai

dizer que sou bem esperto.— Eu sempre o considerei inteligente e cheio de ideias brilhantes. Ambos entraram no gabinete e Robin fechou a porta.— Esta manhã passei na embaixada para dizer ao embaixador que

você e eu nos sentíamos muito honrados em aceitar seu convite para jantar — disse ele sentando-se com Alena no sofá.

— Jantar com o embaixador? Você não me falou que havia sido convidado para nenhum jantar. Quando será?

— Esqueci-me de lhe dizer. Será esta noite.— Gostarei muito de conhecer a embaixada.— Acredito que você irá conhecer não só a embaixada, mas,

provavelmente, seu futuro marido.Alena ficou tensa.— O quê?! Está falando sério, Robin?— Muito sério. O embaixador falou-me que iria oferecer um jantar

a um amigo, sr. Finberg. Então me disse que também nos receberia com prazer caso não tivéssemos outro compromisso. Fiquei sabendo que o sr. Finberg é americano naturalizado e arquimilionário.

— Você não pode sequer estar pensando que eu concordarei em casar com um... completo estranho.

— Só quero que você o conheça. O sr. Finberg, ou Chuck, como é chamado, além de riquíssimo, é muito importante. O embaixador o admira demais e prevê para ele um futuro brilhante na política. Chuck Finberg pretende tornar sua casa, na Quinta Avenida, a mais portentosa de Nova Iorque.

— Se ele tem tanto dinheiro isso não será problema! — Alena exclamou com uma nota irônica na voz.

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— Nós sabemos que não é tão simples assim. O embaixador já falou a Chuck Finberg sobre a nossa coleção de quadros e é por isso que ele está ansioso para nos conhecer. E nem com todo o seu dinheiro ele pode adquirir uma só de nossas obras-primas.

— Ele está a par disso?Robin deu de ombros.— Deve estar. Mas todos os milionários acreditam que conseguem

até o impossível colocando uma fortuna sobre a mesa. Em todo caso, podemos dizer-lhe que se ele quiser algumas cópias o pintor Vincent Thurston poderá fazê-las para ele. Aqui entre nós, duvido que os nova-iorquinos vão se preocupar em saber se as telas são ou não originais.

— Eu não teria tanta certeza assim — Alena observou. — A propósito, que idade tem esse homem fabuloso?

— Não sei. Pelo que ele já fez na vida, acredito que tenha uns quarenta anos.

— Quarenta! É claro que não me casarei com um homem tão velho!— Pode ser que Chuck Finberg seja mais novo. Não o conheço.

Porém, a idade não interessa e sim o que ele vale.Alena respirou fundo.— Não estou interessada apenas na fortuna que meu marido possa

ter. Para mim o amor vem em primeiro lugar.— Que alternativa você tem?Sem poder responder à pergunta, Alena pediu ao irmão:— Por favor, Robin, não faça planos precipitadamente. Sei que o

nosso dinheiro não vai durar para sempre, mas sejamos sensatos! Esqueça essa ideia de casar por interesse.

— Sei o que você está sentindo, querida. É claro que eu prefiro aliar o amor ao dinheiro. Mas nem sempre isso é possível. Agora que embarcamos nesta louca aventura, não há como voltar atrás. — Robin passou o braço pelos ombros da irmã.

Por um instante ambos ficaram em silêncio. Depois de um suspiro Alena observou, esperançosa:

— Talvez estejamos nos preocupando à toa. Se o sr. Chuck Finberg é tão rico e tão importante como dizem, deve haver centenas de mulheres ansiosas para cair nos seus braços. Acredito que esta noite ele nem vai notar a minha presença.

— Vai notar, sim. Ele está muito mais ansioso para nos conhecer do que nós a ele. Por causa dos quadros, naturalmente.

— Quadros que ele pode perder as esperanças de comprar. Só o que lhe posso prometer é ser atenciosa e cortês com o sr. Finberg.

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Desde já, deixo bem claro que não pretendo me casar com ele — Alena enfatizou.

— Está bem. Não a forçarei a fazer o que lhe desagrada. Mas estamos gastando com a restauração desta casa muito mais do que eu imaginava. — Havia na testa de Robin uma ruga de preocupação.

— Não é de surpreender. Essa ideia de instalar iluminação elétrica e outras coisas extras estão pesando muito no orçamento e atrasando o serviço.

— Estou fazendo o que precisava ser feito, você sabe disso tão bem quanto eu! — Robin impacientou-se, — E, para falar a verdade, ainda vai ficar muita coisa por fazer. Isto sem mencionar a Dunstead Hall.

— Temos muito dinheiro para receber de Luigi. E como vai o seu plano de se casar com Mary-Lee? Esse casamento, sim, resolveria seus problemas.

Robin levantou-se e foi até uma das janelas, ficando de costas para a irmã, em silêncio. Por fim, voltou-se e respondeu:

— Mary-Lee é uma mulher sedutora e admito que estou gostando dela. Exceto, claro, de seu forte sotaque americano. Mas no momento há um duque e um marquês cortejando-a.

— Oh, ela está interessada em um título de nobreza tão elevado? — Alena riu. — Pois eu não acredito que esses cavalheiros queiram desposá-la. Já esqueceu, Robin, que neste país as famílias aristocráticas unem-se com os seus iguais? Por mais rica que Mary-Lee seja, duvido que seus antepassados estejam à altura da árvore genealógica de um duque.

— É verdade. Portanto, quem sabe terei alguma chance. Se isso acontecer, creio que não será difícil me acostumar com aquela voz e aquele forte sotaque. — Robin deu um meio-sorriso. — Seja lá como for, é melhor deixarmos tudo nas mãos do destino. De nada adianta ficarmos fazendo conjeturas sobre o que pode ou não acontecer. Vamos despreocupados ao jantar do embaixador.

— Você tem razão. Esta noite conheceremos o sr. Finberg, falaremos com ele sobre nossos quadros e o deixaremos cheio de cobiça. Nem com todos os seus milhões, nem procurando pelo mundo inteiro, ele conseguirá uma coleção à altura da nossa.

— Certamente Chuck Finberg já se informou sobre os tesouros que temos. Será divertido deixá-lo, como você diz, cheio de cobiça. Vamos ensiná-lo que nem tudo o dinheiro compra. — Robin veio para junto da irmã e beijou-a. — Você tem sido maravilhosa. Só quero que me acompanhe de boa vontade a esse jantar e peço-lhe para não se predispor contra quem você não conhece.

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— Farei o que me pede — Alena prometeu. Robin deixou-a e foi ver o trabalho dos operários.

Alena ainda estava no gabinete quando Burley veio avisá-la que o sr. Thurston a aguardava na galeria de arte.

Ela subiu e encontrou Vincent de avental, perto de uma das janelas, com toda a parafernália de pincéis, tintas, o cavalete e a tela de que precisaria.

— Burley me informou que você estava no gabinete com sir Robin e não quis perturbá-los — disse Vincent ao ver Alena.

— Está mesmo disposto a começar o retrato?— Muito disposto. Isto é, se não for aborrecê-la.— Ora, você nunca me aborrece. — Alena sorriu para ele. —

Gostei imensamente da sua companhia quando saímos pela manhã. Conversamos sobre assuntos muito agradáveis.

— Nunca encontrei uma jovem com um cérebro tão brilhante. Você também sabe argumentar e sempre faz perguntas pertinentes. As mulheres, em sua maioria, gostam de falar sobre si mesmas e costumam dirigir a conversa para o assunto do seu interesse. Isso quando não insinuam, com seus meneios, seus olhares e o tremular dos cílios, que esperam elogios do acompanhante.

— Ora, não acredito que a maioria das mulheres seja assim —Alena replicou, sorrindo. — Minha mãe era diferente.

— E você deve ser como ela.— Pois bem. Continue a falar sobre as suas viagens enquanto

trabalha. Gostei muito de ouvi-lo discorrer esta manhã sobre a Rússia e quando nos separamos você prometeu expor suas impressões sobre o Egito.

— Prefiro falar sobre você.— Sobre mim? Você não acabou de dizer que acha extremamente

aborrecido falar sobre uma mulher?— Não foi bem o que eu disse. Quero falar sobre você porque não

consigo tirá-la da mente. Até em meus sonhos a vejo, linda como uma deusa. Só me sinto feliz do seu lado.

— Belas palavras, mas não acredito nela — Alena retrucou.— Pode acreditar. Nunca fui tão sincero. Você terá provas do que

estou dizendo.— Está bem. Devo sentar-me nesta cadeira? — Alena indicou a

cadeira baixa que estava perto da janela.

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—Antes de começar o retrato seria bom vermos as telas de Gainsborough para decidirmos como você prefere a paisagem ao fundo — Vincent opinou.

— A paisagem pode ficar para depois de você terminar o retrato. Tenho apenas duas horas disponíveis esta tarde e amanhã talvez nem seja possível eu posar.

— Bem, estou tão feliz por você ter, afinal, concordado em ser minha modelo que aceito as suas condições sem reclamar.

— Instantes atrás Robin falou-me a respeito do sr. Chuck Finberg, recém-chegado à Inglaterra. Ele quer adquirir obras de arte para sua casa em Nova Iorque. Você deve ter ouvido falar sobre ele.

— Sim, quando estive com meu pai ele falou-me sobre esse americano milionário.

— Multimilionário — Alena corrigiu. — O sr. Finberg está muito interessado em nossa coleção, mesmo sabendo que nenhuma das obras-primas pode ser vendida. Robin disse, ainda há pouco, que Chuck Finberg quer muito nos conhecer e, por certo, "nos comprar", pois homens com grandes fortunas acreditam que o dinheiro compra tudo.

— Quando o sr. Finberg conhecê-la pode ficar interessado em você, que é mais linda do que qualquer uma das telas da coleção Dunstead e muitíssimo mais preciosa.

— Claro que isso não acontecerá — Alena disse depressa. Ao mesmo tempo, lembrando-se do que Robin havia dito, ela sentiu

o rubor queimar-lhe o rosto.Vincent notou essa reação, mas nada disse. Arranjou no cavalete a

tela que havia trazido e pediu amavelmente:— Sente-se na cadeira. — Ele esperou que ela se acomodasse edeu-lhe alguma orientação. Subitamente exclamou: — Assim! A

curva dos ombros está perfeita. Não se mexa!Enquanto o pintor fazia um esboço, atento ao trabalho, Alena

ficou analisando-o. Gostava do modo como Vincent penteava os cabelos castanhos, puxando-os para trás, revelando assim a testa alta.

E os dedos! Eram os de um artista: longos, finos e bem feitos. Ocorreu-lhe que aquelas mãos eram dignas de ser pintadas por John Singer Sargent, cujo brilhante talento em pintar mãos tornara-se a sua marca registrada.

O tempo passou rapidamente. Vincent falou pouco por estar compenetrado no trabalho.

Foi com surpresa que ele e Alena viram Burley aparecer à porta da galeria para avisar:

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— Sir Robin a aguarda para servir o chá, srta. Alena.— Já é hora do chá? — Alena surpreendeu-se. — São quase quinze para as cinco, senhorita.— Vamos descer imediatamente — ela prometeu. Vincent, porém, pediu-lhe:— Não se mova ainda. Dê-me alguns segundos para observá-la. É

importante que amanhã você fique nesta mesma posição. — Os olhos do pintor correram sobre a modelo. Então ele sorriu. — Está liberada. Juro que este foi o dia de trabalho mais gratificante de toda a minha vida.

Alena levantou-se e fez menção de ver a tela mas Vincent a proibiu.— Nada disso. Espere até que o retrato esteja terminado. Detesto

quando as pessoas acham que podem me ajudar fazendo críticas ou sugestões.

— Prometo não fazer nada disso. Vamos tomar o chá. Robin deve estar cansado de esperar por nós.

Vincent tirou o avental, vestiu o casaco e apressou-se em seguir Alena que já estava no corredor.

— Nem sei como lhe agradecer pela tarde tão agradável — ele disse ao alcançá-la.

— Também adorei cada minuto em que estivemos juntos. Eles iam descer a escada e Vincent parou. Alena dirigiu-lhe um olhar

questionador.— É verdade? Está sendo sincera? — ele perguntou.— Sim. Adorei posar para você e... a sua companhia —Alena

reiterou.Vincent apenas fitou-a em silêncio. Os olhos de ambos se

encontraram. Por algum motivo que Alena não compreendeu, seu coração deu um salto no peito.

Ao chegar à embaixada americana Alena admirou o prédio grande e imponente. Refletiu com ironia que já à entrada observava-se o poder dos dólares americanos.

O embaixador e a esposa, ambos simpáticos, receberam-nos à porta do imenso salão de recepções, onde inúmeras pessoas conversavam animadamente.

— É um prazer recebê-los, sir Robin. Minha esposa desejava muito conhecer sua irmã — disse o embaixador, gentilmente.

Após os apertos de mãos Robin e Alena juntaram-se aos convidados. Assim que os viu um cavalheiro foi ao encontro deles.

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— Fui informado que você viria também a este jantar, sir Robin Dunstead — o estranho foi dizendo. — Eu queria muito conhecê-lo.

Antes de o cavalheiro dizer seu nome Alena já adivinhou que estavam diante de Chuck Finberg. Ele era alto, mas não tanto como Robin; tinha boa aparência, compleição robusta, voz possante, com forte sotaque americano, e devia estar com quarenta anos.

Chuck Finberg falou sobre os quadros da coleção Dunstead e acrescentou que gostaria muito de vê-los. Deixou claro que estava disposto a comprar toda a coleção pela qual pagaria ainda mais do que o valor de mercado.

Foi com orgulho que Robin disse ao multimilionário que seus quadros não estavam à venda. Eram herança inalienável e passariam a seus sucessores ad infinitum.

— Isto quer dizer que não tenho a menor chance de comprar nem mesmo um de seus quadros, sir Robin? — o americano surpreendeu-se.

— Não, sr. Finberg. Se eu fizer isso acabarei na prisão. E não aprecio lugares desconfortáveis — tornou Robin.

— Há sempre um jeito para tudo. Costumo citar o ditado: "Querer é poder". Quero muito os seus quadros — Chuck Finberg insistiu.

— Lamento dizer que no caso da minha coleção, particularmente, não há esperança. Nada pode ser feito. Mas você pode conhecer a parte da coleção que está em Londres. A outra metade do que herdei encontra-se na minha casa, no campo.

— Sim, claro, vou ver toda a coleção — asseverou Chuck Finberg.Nesse instante ele deu pela presença de Alena. Olhou-a de modo

tão penetrante e possessivo, como se ela também fizesse parte da coleção que tanto despertava sua cobiça.

Ele passou a falar com ela, mostrando-se muito simpático e extrovertido. Contou-lhe que havia subido na vida pelo próprio esforço. Começara de baixo e, graças à sua boa estrela, a muito bom senso e determinação, chegara aonde estava.

— Ainda não me considero no topo da escada — ele acrescentou. — Devo continuar a ascensão até conseguir exatamente o que desejo.

— O que ainda não conseguiu? — Alena perguntou.— É difícil explicar. Mas quero ver meu nome conhecido e

reverenciado antes de eu deixar este mundo.— O senhor está pensando em usar sua fortuna na realização de

boas obras ou grandes feitos? Como deve saber, ninguém pode levar consigo os tesouros que acumulou.

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— Nunca me ocorreu ser enterrado com meus tesouros, como acontecia com os antigos faraós. — Chuck Finberg riu. — Ficarei contente se merecer um epitáfio com os dizeres: "Ele foi um vencedor". Bem, eu gostaria de falar sobre os quadros da coleção Dunstead. Se eles são famosos na Inglaterra, na América farão um sucesso extraordinário.

— Caso o senhor esteja pensando em comprar, tomar emprestados ou roubar os quadros, a resposta é "não" — disse Alena depressa.

— Raramente recebo uma resposta dessas. E quando a recebo, ignoro-a. Srta. Dunstead, quero possuir os quadros. Sendo assim, vou pensar em um meio de consegui-los.

— Detesto desapontá-lo, sr. Finberg, mas está desejando o impossível.

— Tal palavra não existe no meu dicionário, senhorita.— Vai precisar incluí-la e acostumar-se a ela devagar e, talvez,

desconfortavelmente. Da mesma forma que a lua, a coleção de Robin está fora do seu alcance, sr. Finberg.

— Não me impressiono com as suas palavras. Vou concentrar-me até encontrar um modo de ter a coleção Dunstead transferida para a minha casa, na Quinta Avenida.

— Concentre-se à vontade. Mas desta vez, sr. Finberg, de nada adiantará seu esforço, sua determinação, tampouco seu dinheiro.

— Quer fazer uma aposta? — Chuck Finberg desafiou Alena.— Perderá o seu dinheiro.— Corro o risco. Aposto mil dólares contra um guinéu de ouro que

vou conseguir o que desejo.— Aceito a aposta.

Após o jantar outras pessoas apareceram no salão, tendo sido convidadas apenas para o baile.

Alena dançou com alguns rapazes e várias vezes com o multimilionário Chuck Finberg. Admirou-se ao constatar que ele era excelente bailarino.

Mas sua grande alegria foi ver, quase uma hora depois de o baile ter começado, Vincent à entrada do salão.

Ambos dançaram uma valsa romântica e em seguida foram para o jardim iluminado com lanternas chinesas.

— Está se divertindo? — ele perguntou.— Muito mais do que eu esperava. Este é meu primeiro baile e

receei ficar sentada o tempo todo. Mas, ao contrário, não perdi uma contradança.

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— Você deve ter conquistado inúmeros admiradores. Receio que de amanhã em diante você tenha pouco tempo para mim.

— Se está se referindo ao retrato, farei o possível para posar todos os dias.

— É bom ouvi-la dizer isso. Esse retrato será o meu trabalho mais lindo e mais perfeito.

— Sinto-me honrada.Eles voltaram para o salão e o embaixador convidou Alena para uma

contradança.— É uma honra dançar com Vossa Excelência — disse ela ao ser

habilmente conduzida pelo salão.— E eu me sinto vaidoso de estar dançando com a mais linda jovem

aqui presente.— Obrigada.— Seu irmão me disse que esta é a primeira festa à qual a senhorita

comparece em Londres. Talvez não saiba, srta. Dunstead, mas é a mais encantadora do baile e está despertando a inveja de outras beldades.

— A meu ver os americanos gostam de fazer elogios exagerados — objetou Alena, sorrindo.

— Estou sendo sincero — o embaixador protestou. — Chuck Finberg e outros cavalheiros certamente concordarão com o que eu disse.

Em sua natural modéstia Alena disse a si mesma que recebia tantos elogios por estar muito bem vestida. O traje de baile que usava nessa noite, rosa-pálido, um dos que havia comprado na Bond Street, era realmente fantástico, sem pecar pelo exagero ou mau gosto.

De fato, ela sentia incidir sobre si os olhares dos convidados. Notava a admiração dos cavalheiros e a inveja das mulheres.

Estava fazendo, sim, sucesso entre aquelas pessoas tão elegantes. Mas isso, lembrou, era uma das táticas de Robin para ela arranjar um marido milionário.

Olhando para o sr. Finberg, que conversava alto, com sua voz nasalada, Alena estremeceu.

Uma coisa era considerá-lo um homem interessante e admirá-lo por seu espírito empreendedor. Mas daí a imaginá-lo tocando-a e beijando-a, ia uma grande diferença. Uma instintiva repulsa a fez contrair-se.

Subitamente, ela desejou ir para casa. A dança terminou e o embaixador deixou-a na companhia de Robin que no momento conversava com Vincent.

— Poderíamos ir para casa, Robin — ela disse ao irmão.— Ótimo. Tenho muito o que fazer amanhã.

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— Também estou pronto para ir. Quero estar alerta para trabalhar no retrato — Vincent declarou.

Robin ofereceu-se para levar Vincent em sua carruagem.Na Dunstead House Robin desceu, ordenou ao cocheiro que

deixasse o sr. Thurston em casa e subiu os degraus da mansão, parecendo estar com o pensamento longe dali. Alena ficou para trás, despedindo-se de Vincent.

— Boa noite, minha inspiração, minha deusa — ele disse suavemente, agasalhando a mão de Alena nas suas. — A que horas você estará livre para posar, amanhã?

— Dez e meia é um horário bom para você?— Excelente. Durma bem e não se esqueça de mim quando sonhar

com dólares.— Eu?! Está enganado. Robin, sim, poderá sonhar com dólares e

uma certa americana.Alena entrou em casa correndo e encontrou o irmão no hall à sua

espera. Ambos subiram a escada juntos.— Adorei o jantar e o baile — ela falou.— O que achou de Chuck Finberg?— Ele é, sem dúvida, um homem diferente. Tem uma conversa

agradável, mas é egocêntrico, convencido e determinado. Cuidado com seus quadros! O sr. Finberg pode muito bem, por alguma mágica, tirá-los desta e da outra casa — Alena advertiu o irmão.

— Ele está disposto a pagar o que eu quiser pelos quadros.— Por favor, Robin! — a irmã gritou. —Você não pode estar

pensando em... réplicas. Jamais faça isso!Robin suspirou.— Tem razão. É loucura. Mas a montanha de dólares que ele me

ofereceu chega a ofuscar meus olhos.— O importante é não ofuscar o seu cérebro.— Você está certa. Boa noite, querida. Todos me disseram que você

estava linda esta noite.— É bom ouvir isso. Obrigada por tudo.

Alena deitou-se mas não conseguiu dormir. Ficou por muito tempo pensando no baile, em Chuck Finberg e em Vincent.

Esses dois tinham em comum a paixão pelos quadros de Robin.Mais uma vez ela se questionou se Vincent não vinha se mostrando

tão insistente em ficar perto dela e não decidira fazer o retrato apenas para ter acesso à galeria de arte, já que não podia adquirir os quadros.

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A reflexão deixou-a desapontada. Esperava de Vincent muito mais do que seu interesse pela arte.

Quanto ao sr. Finberg, ela já se decidira terminantemente a não desposá-lo. No mesmo instante disse a si mesma que estava sendo absurda.

Um multimilionário jamais iria propor-lhe casamento, nem mesmo para conseguir, de algum modo, a coleção pela qual estava obcecado.

Alena sempre havia pensado no amor como algo perfeito, precioso e espiritual. Jamais lhe ocorrera a possibilidade de unir-se a um homem, pelo resto da vida, simplesmente porque ele era um milionário.

Mais do que nunca ela teve a certeza de que não poderia abrir mão do amor ideal com o qual sempre sonhara. Se amasse verdadeiramente um homem, o fato de ele ser rico ou pobre, não teria importância.

Virando-se no travesseiro pediu a proteção do Senhor.Não podia deixar morrer seus sonhos.Não podia desistir do amor, sentimento que tinha a centelha do

Divino, e escolher algo tão mundano como o dinheiro.

CAPÍTULO VI

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Alena virou-se na cama e abriu os olhos. Pela claridade dos lados das cortinas deduziu que devia ser quase dez horas.

Era natural, refletiu, que tendo deitado tarde e levado muito tempo a conciliar o sono, perdesse a hora.

Virou a cabeça e consultou o relógio sobre a mesa-de-cabeceira. Dez e cinco!

Se não se apressasse, deixaria Vincent à sua espera. Ergueu o braço e ia puxar o cordão da campainha para chamar a criada quando, para seu espanto, Robin apareceu à porta.

— Dormi demais — ela falou em tom de desculpa. — Você quer falar comigo?

— Tenho algo importante a lhe dizer. — Ele atravessou o quarto e afastou as cortinas. — Recebi a visita de Chuck Finberg.

— Tão cedo? — Alena fechou os olhos, ofuscada pela intensa luz do sol.

— O homem é um madrugador. Finberg me disse que não dá conta de tudo o que tem a fazer, caso não se levante antes das sete. Estive mostrando nossos quadros a ele até agora.

— Mesmo aqui na Inglaterra ele tem tanto o que fazer? — Bem, hoje, pelo menos, ele saiu daqui para ir a Birmingham. Está

interessado nas novas máquinas que são fabricadas lá. — Robin sentou-se na beirada da cama.

— Você mostrou a Chuck Finberg os quadros de outros cômodos da casa ou só os da galeria de arte?

— Levei-o apenas ao salão de recepções e à galeria.— Qual a opinião dele sobre os quadros?— Ele ficou maravilhado com tantas obras-primas e, naturalmente,

ofereceu uma quantia astronômica pela coleção, masmo sem ver toda ela.— Imagino que o multimilionário tenha levado um choque ao

constatar que, pela primeira vez na vida, seu dinheiro não comprava algo que ele muito desejava.

— Não foi bem assim — Robin disse devagar. — Chuck Finberg é um homem determinado e insistente. Ele fez-me uma proposta e, por fim, chegamos a um acordo.

Alena prendeu a respiração.— Você não vai fazer nenhuma outra réplica, não é mesmo, Robin?

Agora isso é mais perigoso do que nunca, pois será impossível manter a venda de uma das telas em segredo.

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— É claro que eu jamais me arriscaria a esse ponto. Concordei em alugar para ele dez quadros por uma grande quantia.

— Isso é legal? Quero dizer, as telas podem sair do país?— Lembra-se de que o sr. Lawson sugeriu que poderíamos alugar as

telas? Vou falar com os curadores, claro. Mas sei que teremos autorização para alugá-las ao sr. Finberg. Se eu perceber que os curadores estão dispostos a dificultar as coisas, só lhes falo sobre o que fiz depois que os quadros estiverem no Atlântico, a caminho da América. Também posso argumentar que se eu não tiver recursos para manter as peças e restaurar as mais danificadas, elas se perderão de vez.

— Acredito que você terá a autorização — Alena murmurou. — Meu maior receio é que os quadros não voltem. Para não

corrermos esse risco, impus uma condição a Chuck Finberg, com a qual ele concordou de bom grado.

Robin fez uma pausa e olhou para a irmã de um modo que a deixou alarmada.

— Uma... condição? — ela repetiu.— Para garantir o retorno dos quadros propus que ele se case com

você.Alena não conteve um grito.— Casar comigo!? Você teve coragem de impor uma... condições

dessas... àquele homem?— Por que esse espanto? Você não acha a ideia excelente e muito

prática?— Não acho nada... disso! Jamais me casarei... com o sr. Finberg!

Ele só quer... os quadros. Não quer... uma esposa. E se tivesse de escolher uma esposa... não me escolheria.

— Pelo contrário. Chuck Finberg me disse que você é a garota mais linda que ele já conheceu e será uma honra tê-la por esposa. Mesmo que ele não esteja apaixonado no momento, o que é natural, pois a viu apenas uma vez, você saberá conquistá-lo.

— Se ele me considera linda... com certeza também quer me exibir em Nova Iorque... como fará com os quadros! Recuso-me! Recuso-me a casar com esse homem!

— Está bem. — Robin suspirou. — Eu já disse que não iria obrigá-la a fazer o que não quisesse. Só lamento que você esteja deixando escapar por entre os dedos um casamento mais do que vantajoso.

Reinou no quarto um silêncio desconfortável. Alena não sabia o que dizer. Por mais que amasse o irmão e não desejasse magoá-lo, jamais iria concordar com o que ele acabava de lhe propor.

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Por fim, perguntou timidamente:— E... você? Não pretende... se casar... com Mary-Lee?— Estou pensando em fazer-lhe o pedido ainda hoje. Vamos fazer

um passeio de carruagem.— Você acha que... ela o aceitará?— Tenho muitas chances. Mary-Lee vem demonstrando que gosta

da minha companhia e, como Chuck Finberg, está determinada a ter a minha coleção de quadros.

— Faço votos que a srta. Vanderhart aceite seu pedido de casamento. Então você não precisará... preocupar-se comigo. Não faço questão de ter dinheiro e recuso-me a me casar... sem amor.

— Pense bem, cara irmã. Chuck Finberg acabará se apaixonando por você. Você é adorável. Ele será um bom marido e lhe dará tudo o que sonhar.

— Nem quero pensar nisso. Por favor, Robin, não insista. Chego a sentir náuseas.

— Náuseas você irá sentir quando voltar para o campo e precisar viver modestamente. Já lhe disse que nos resta pouco dinheiro.

— Tão pouco... mesmo?— Não será suficiente para restaurar a Dunstead Hall. Para manter

uma casa como esta, com tantos criados, e para termos o padrão de vida que sempre tivemos, o dinheiro vai como água.

Cenas deprimentes passaram pela mente de Alena. Imaginou-se morando com o irmão numa das casas da fazenda porque a Dunstead Hall ameaçava ruir.

Percebendo que ela refletia sobre a situação, Robin ficou de pé. Era melhor deixar que a irmã tomasse sua decisão sozinha. Antes de sair, avisou:

— O sr. Finberg virá tomar chá conosco, caso volte de Birmingham antes das quatro. Ele também nos convidou para jantar em sua suíte, esta noite. Enquanto isso, vou fazer um passeio com Mary-Lee.

Mal o irmão saiu Alena levou as mãos ao rosto. Não sabia o que decidir.

Ainda estava sentada na cama, refletindo quando a criada entrou no quarto carregando uma bandeja.

— Vim chamá-la há alguns minutos, srta. Alena, e trazer-lhe o café da manhã, mas vi que sir Robin conversava com a senhorita, então esperei que ele saísse — a moça justificou-se. — O sr. Burley pediu-me para avisá-la que o sr. Thurston chegou e a aguarda na galeria de arte.

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O primeiro impulso de Alena foi apressar-se para não deixar Vincent esperando durante muito tempo. Então lhe ocorreu uma ideia.

Empurrou as cobertas, saltou da cama e foi até a sécretaire francesa que ficava a um canto do quarto. Escreveu rapidamente um bilhete a Vincent, dizendo:

Quero mostrar-lhe os quadros que temos na Dunstead Hall, no campo.

Como o dia está lindo, pensei em fazermos um piquenique.Caso concorde com a ideia, você poderia providenciar uma

carruagem para nos levar até lá?Aguardo a resposta para pedir ao chef que nos prepare um bom

lanche.Alena.

Alena colocou o bilhete num envelope e pediu à criada:— Entregue isto ao sr. Thurston e espere pela resposta. Diga-lhe

que acordei tarde, por isso me atrasei.— Está bem, senhorita — assentiu a criada pegando o envelope e

saindo depressa do quarto.Apreensiva e com tanta coisa na cabeça, o que menos Alena sentia

era fome. Tomou apenas o suco de laranja e uma xícara de café.Enquanto aguardava, ansiosa, pela volta da criada, começou a

trocar-se. Estava refletindo que, se Vincent aceitasse a sugestão, eles iriam passar praticamente o dia fora e quando Chuck Finberg viesse pedi-la em casamento, não a encontraria em casa.

"Talvez de nada adiante fugir. Robin já prometeu minha mão ao sr. Finberg. Como irmão mais velho e responsável por mim ele tem esse direito", Alena pensou, desalentada.

Depois do que pareceu um longo tempo a criada voltou com a resposta de Vincent. Alena estava quase pronta.

— O sr. Thurston disse que está tudo bem. Ele saiu para providenciar o que a senhorita pediu e deve estar de volta dentro de meia hora — a moça transmitiu o recado.

Ao vestir um lindo conjunto, novo e muito elegante, formado de saia e casaco azul-marinho e blusa branca enfeitada com rendas, Alena desejou que Vincent a admirasse.

Durante a tarde, se estivesse muito quente, ela poderia tirar o casaquinho.

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A criada penteou-lhe os cabelos e desceu. A pedido de Alena foi dizer a Burley que avisasse o chef para preparar uma cesta de piquenique com lanche para duas pessoas, inclusive com vinho e café.

Alena colocou o chapéu novo que combinava com o conjunto, pegou a bolsa e foi para o gabinete.

A ideia de fazer um passeio com Vincent a estava deixando radiante. De repente lembrou que nunca mais teria a chance de ficar a sós com ele se ficasse noiva de Chuck Finberg.

Provavelmente seu retrato ficaria sem terminar.Ela passou a abrir a correspondência enquanto esperava. Todas

as cartas eram respostas aos convites sobre o baile. Havia muitas confirmações e também várias recusas.

Nem dez minutos se passaram e Burley veio avisá-la:— O sr. Thurston chegou e a aguarda na carruagem, srta. Alena. Ele

não pode deixar os cavalos.— Estou indo — disse Alena, pondo-se de pé, muito animada.Chegando à porta da frente arregalou os olhos ao ver uma

elegantíssima carruagem aberta, puxada por quatro cavalos de raça, e Vincent segurando as rédeas.

Ao subir no veículo Alena viu com satisfação que não havia cavalariço algum.

— Já coloquei as cestas com o lanche na parte de trás, srta. Alena — Burley avisou. — Desejo que tenham um dia feliz no campo.

— Obrigada, Burley.Assim que eles partiram Alena perguntou a Vincent:— Onde conseguiu esta bela carruagem e cavalos tão magníficos?

Nunca imaginei que você fosse tão eficiente.Vincent sorriu.— Bom dia, minha linda deusa. Para você eu só poderia oferecer o

que há de melhor.— Mas onde conseguiu tudo isso? — Alena insistiu.— Nas cavalariças, perto do meu apartamento. A carruagem e

os cavalos são de meu pai. Ele chegou ontem do campo. Precisou vir a Londres porque o primeiro-ministro desejava vê-lo. Como hoje ele não ia usar a carruagem, tomei-a emprestada. Se nosso passeio fosse num outro dia não teríamos tanta sorte.

— Se algum dia eu conhecer seu pai devo dar-lhe os parabéns pelos excelentes cavalos.

— Papai tem orgulho dos seus puros-sangues e eu adoro conduzi-los. Como não conheço o caminho até a Dunstead Hall, preciso da sua

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orientação. Estou ansioso para ver os quadros que, segundo seu irmão, são ainda mais extraordinários do que os que estão em Londres.

— Espere para vê-los, então dará seu parecer. Quanto ao caminho, assim que alcançarmos a estrada explicarei por onde você deve seguir.

— Muito mais importante do que admirar a coleção é poder estar com você o dia todo. Tenho sonhado com esta oportunidade e agora mal posso acreditar que estou tendo tanta sorte.

Por um momento Alena ficou em silêncio, refletindo.O que Vincent diria se soubesse que ela estava fugindo do homem

que pretendia desposá-la?Será que ele gostava dela e lamentaria perdê-la para outro? Ou será

que o interesse dele era apenas pelos quadros e não por ela própria?— Ora, vamos! Deixe de se preocupar com o que quer que seja. Este

deve ser um dia muito feliz — Vincent animou-a, vendo-a tão calada.— Como sabe que estou preocupada?— Sei tudo a seu respeito. Você deve saber que um pintor tem

muita sensibilidade. Consigo captar o que se passa em sua mente e os seus sentimentos.

— Oh, não pode fazer isso — Alena reclamou. — Meus pensamentos e sentimentos só a mim interessam.

— Mais tarde falaremos sobre isso. Agora vamos apreciar o sol, a paisagem e o desempenho destes cavalos fantásticos.

Eles estavam deixando os subúrbios da cidade e quando alcançaram a estrada Vincent soltou as rédeas dos animais.

Devido à velocidade Alena viu-se obrigada a tirar o chapéu e deixá-lo no fundo da carruagem.

Subitamente viu-se invadida por deliciosa sensação de liberdade. Deixava para trás a cidade com seus problemas e preocupações.

Era quase uma hora quando Alena apontou para um bosquea certa distância.— Vamos parar naquele bosque — disse. — Por ele corre um riacho

onde os cavalos podem beber. Conheço bem o lugar e sei que há nele uma cabana de lenhadores onde poderemos fazer nosso piquenique.

— Você é muito prática, organizada e atenta a cada detalhe. Admiro isso numa mulher.

— Aprendi a ser assim com minha nanny e com mamãe, o que me ajudou quando estive estudando em outro país e está ajudando agora... depois da morte de papai.

— Sei disso.

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Ouvindo essa resposta Alena ficou imaginando o que ele quisera dizer.

Os cavalos diminuíram a marcha e ela indicou o caminho que devia ser tomado. Era uma trilha acidentada e a carruagem, apesar de confortável, deu muitos solavancos.

Ao fim da trilha eles encontraram a cabana e o riacho. Vincent levou a cesta de piquenique e outras duas cestas menores para perto da cabana. Alena ocupou-se em estender no chão coberto de folhas uma toalha sobre a qual colocou o lanche preparado pelo chef.

— Temos uma garrafa de champanhe — ela anunciou. — Não é melhor a deixarmos refrescando um pouco no riacho?

— Não é preciso — Vincent respondeu, pegando a garrafa. — Estou com sede.

— Eu também. E faminta. Levantei tarde e só tomei um suco e café.— Espero que tenha dormido bem.— Não muito. Fiquei acordada durante horas.— Desde que a conheci passo noites maldormidas — Vincent

observou.— Por minha causa não deve ser. Com certeza você fica deitado,

pensando nos seus quadros — Alena provocou-o.— Estou falando sério. Depois daquela noite em que a vi no

gabinete acho difícil pensar em outra coisa, exceto você.— Gostaria de acreditar no que está dizendo. Porém, tenho a

impressão de que você costuma elogiar todas as suas modelos.— Para mim você é a única modelo que tem importância. Eles sentaram-se para comer. Vincent teve o cuidado de forrar com

um lenço o lugar de cada um.— O que a fez decidir, tão de repente, convidar-me para vir à

Dunstead Hall? — Vincent quis saber. — É claro que aguardava esta oportunidade com impaciência e confesso que tive receio de você esquecer de fazer-me o convite.

— Foi a ideia que me ocorreu para sair de casa.— Posso imaginar de quem você está fugindo. Alena encarou-o com firmeza.— Por que está dizendo isso?— Sei exatamente quais são os planos de Robin e estou pedindo a

Deus que você tenha coragem suficiente para recusar-se a fazer o que ele quer.

— Recusar? O quê? A que... se refere? — perguntou Alena, agitada.

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— Sei que Robin está insistindo para você se casar com Chuck Finberg porque ele é muito rico. Pelo mesmo motivo seu irmão está determinado a desposar Mary-Lee Vanderhart — Vincent revelou.

— Como pode saber disso? — Alena desviou o olhar ao fazer a pergunta.

— Um amigo de meu pai foi também muito amigo de sir Dunstead. Certa vez, em Paris, sir Dunstead pediu a esse amigo cem libras emprestadas para voltar à Inglaterra. Segredou-lhe que não estava bem de finanças e vinha vendendo o que podia para sobreviver. Depois dessa viagem sir Dunstead ficou doente e nunca mais se recuperou.

— Então... você sabia... desde o... início que... éramos pobres? — A voz de Alena era quase inaudível.

— Sabia. Fiquei atônito quando soube que sir Robin reabrira a casa da Park Lane e começava a restaurá-la.

— Robin trouxe da Índia... suas economias e conseguiu levantar algum dinheiro... para oferecer-me... um baile — Alena explicou timidamente.

Estava rezando para Vincent jamais suspeitar como o irmão conseguira tanto dinheiro.

— Imaginei mesmo que toda essa riqueza de Robin fosse fictícia e logo iria desaparecer como "ouro de fadas". Ao saber que seu irmão se fazia passar por rico e estava conquistando a amizade de americanos, não foi difícil entender aonde ele pretendia chegar.

— Mais do que nunca você está demonstrando que é... perspicaz. Robin e eu... estávamos tão seguros de que ninguém... havia desconfiado de nada. Imaginávamos estar fazendo tudo em... segredo.

— Ainda é segredo. Ninguém mais, além de mim, sabe da situação de Robin. E nunca farei alguma coisa que possa magoá-la.

— Confio... em você.— Só desejo saber se você vai fazer a vontade de seu irmão e

aceitará casar-se com os milhões de Chuck Finberg.— Não sei... o que fazer — Alena murmurou com lágrimas nos

olhos.— Mas sabe o que eu quero — Vincent falou ternamente. —Tem

sido para mim um esforço sobre-humano não revelar que a amo!— É mesmo... verdade?— Amo você desde que a vi. Para me casar com você eu daria meu

braço direito e a esperança de ganhar o céu.— Oh... Vincent... também o amo.

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— O que tenho para lhe oferecer é tão pouco, comparado ao que você terá casando-se com Chuck Finberg! Mas meu amor é infinito e sincero — Vincent declarou.

— Eu... não faço questão de... riqueza.— É maravilhoso ouvir isso! Meu pai é rico, generoso, e me concede

uma boa mesada, mas faço questão de viver da minha arte. Dificilmente recorro ao que ele me dá. Prefiro investir esse dinheiro. Na fazenda de papai há uma linda casa onde poderemos morar. Não é tão imensa como a sua, mas é confortável e muito bem mobiliada. Duas pessoas que se amam viverão muito felizes ali.

Eles estavam sentados bem perto um do outro e Vincent passou o braço sobre os ombros de Alena.

— O que posso fazer? Diga-me... o que posso fazer? — ela indagou, encostando a cabeça no peito dele.

Delicadamente, ele ergueu-lhe o queixo e ambos se fitaram. — Você já sabe a resposta a essa pergunta. O amor é mais

importante do que tudo mais. O sentimento que nutrimos um pelo outro é grande e verdadeiro, portanto, não importa o lugar onde moramos. Se estivermos juntos será como viver no paraíso.

Inclinando a cabeça Vincent beijou Alena, a princípio suavemente, depois, com toda a paixão que guardava no peito.

— É melhor continuarmos a viagem. Estamos bem perto da Dunstead Hall e quero mostrar-lhe nossos quadros — Alena falou depois de ter arrumado na cesta maior os pratos, copos e a toalha do piquenique.

— Tem razão, amor. Vamos. Quero ver os quadros com a luz do dia.A caminho da casa de campo Alena lembrou que naquele instante

o irmão devia estar passeando com Mary-Lee. Desejou com todas as forças do coração que, por um golpe de sorte ela aceitasse o pedido de casamento feito por Robin.

Se isso acontecesse ele não precisaria alugar seus quadros a Chuck Finberg.

E ela estaria livre.

Robin foi ao encontro de Mary-Lee na luxuosa carruagem comprada poucos dias atrás. Para puxar o lindo veículo ele arrematara quatro cavalos soberbos num leilão do mercado de Tattersall.

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Ele havia planejado levar Mary-Lee à Dunstead Hall para deixá-la ainda mais impressionada com as telas da sua invejável coleção e com a casa majestosa, um dos mais importantes prédios históricos da Inglaterra.

Aproveitaria o entusiasmo da milionária para pedi-la em casamento.O duque e o marquês que cortejavam Mary-Lee podiam ter cada

um deles elevado título de nobreza, mas não possuíam uma casa imensa nem tão antiga e tão magnífica como a Dunstead Hall.

Tampouco possuíam uma coleção de obras de arte que sequer pudesse chegar aos pés da coleção Dunstead e que era mencionada com reverência pelos entendidos em pintura.

"Isto sem levar em conta que todas as mulheres com quem me envolvi me acharam atraente", Robin pensou.

De fato, ele havia tido inúmeros casos amorosos desde os tempos de Oxford.

Na Índia, em suas visitas a Simla, com o vice-rei, deixara algumas mulheres apaixonadas.

Ele compreendia, claro, que a americana milionária tinha consciência do seu valor. Em compensação, Mary-Lee vinha demonstrando que ele a atraía.

Na véspera Robin havia combinado com ela de partirem para o campo às dez e meia. Cinco minutos antes da hora marcada ele chegava à casa que Mary-Lee havia alugado, na Belgrave Square.

Deixou o cavalariço tomando conta da carruagem e entrou na casa. O mordomo conduziu-o a uma sala confortável que se abria para o hall. Não era Mary-Lee e sim Blaise quem o aguardava.

— Bom dia, Blaise — ele cumprimentou-a. — Espero que Mary-Lee esteja pronta. Temos um longo caminho pela frente.

Blaise aproximou-se, tomou a mão dele na sua e fitou-o com meiguice nos grandes olhos castanhos antes de dizer:

— Lamento, Robin, mas você ficará desapontado ao ouvir a notícia que tenho para lhe dar.

— Desapontado? O que aconteceu? — Robin sobressaltou-se.— Mary-Lee saiu com o marquês. Ele ia jogar pólo e insistiu para ela

assistir ao jogo. Robin comprimiu os lábios.— Nós tínhamos combinado um passeio ao campo.—Sinto muito. Eu sabia que você ficaria desapontado. Mary-Lee

faz muito disso. Falta a compromissos sem dar satisfações, causando problemas aos envolvidos e aos que têm de contornar a situação.

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— Se é assim... o passeio ao campo fica para um outro dia. Isto é... se Mary-Lee tiver mesmo interesse em ver os quadros e conhecer a Dunstead Hall — Robin murmurou.

— Ela é imprevisível. Se você não se importar... com a troca de companhia... terei muito prazer em conhecer sua casa. Confesso que eu estava ansiosa para admirar as outras peças da sua incomparável coleção e receava partir para a América sem ter a oportunidade de vê-las.

— Vou adorar a sua companhia, claro — volveu Robin, gentilmente. — Para dizer a verdade, Blaise, tenho o pressentimento de que você apreciará muito mais os quadros do que a sua amiga "imprevisível".

Os dois riram.— Mary-Lee não é apreciadora de obras de arte. Mas eu sou.

Aprendi com mamãe muita coisa sobre os grandes mestres.— Então vamos. Você verá obras-primas dos maiores mestres da

pintura desde a Renascença até contemporâneos.— Espere um instante. Só vou pôr o chapéu.Em poucos minutos Blaise estava de volta e os dois subiram na

carruagem.Durante a viagem Blaise elogiou a perícia de Robin e as duas

excelentes parelhas atreladas à carruagem.— Gosto muito de cavalos. Assim que reformar as minhas cocheiras

pretendo comprar alguns puros-sangues. Quando eu estava na Índia tive a sorte de montar cavalos de raça escolhidos especialmente para o vice-rei — Robin falou com orgulho.

— Meu pai me levava para ver as corridas desde que eu era pequena. Quando morei na Inglaterra fui com vovô ao hipódromo de Ascot algumas vezes.

— Você costuma montar?— Sim, monto desde criança. Já tivemos bons e maus cavalos. É

uma pena que Mary-Lee esteja planejando voltar para a América em breve. Eu queria muito ver as corridas da Royal Ascot, onde poderei ver os melhores cavalos da Inglaterra.

— Não acredito que Mary-Lee queira ir embora tão cedo. Se vocês ficarem posso levá-las ao hipódromo.

Dizendo isso Robin pensou que se casasse com Mary-Lee poderia ter puros-sangues correndo em Ascot.

Inesperadamente Blaise observou, distraída:— Deve ser muito difícil para você manter duas casas tão grandes e

não ter muito dinheiro.Voltando-se para ela, Robin perguntou, pasmado:

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— Quem lhe disse isso?Blaise enrubesceu.— Eu... devia... ter ficado... calada — murmurou, constrangida. — Mas já disse e eu quero saber a quem você andou dando ouvidos

— Robin exigiu.— Vamos esquecer... esse assunto. Acho melhor eu... não dizer

nada.— Se não me disser ficarei aborrecido.— Está bem. Ouvi, inadvertidamente, uma conversa entre... o

embaixador americano e... um outro cavalheiro.— Como foi isso? — Eu estava sentada numa sala da embaixada, esperando por

Mary-Lee, quando o embaixador apareceu à porta com um cavalheiro. Pensei que eles iam entrar, mas ambos ficaram conversando ali mesmo e não me viram. Ouvi o cavalheiro dizer que ficara sabendo que sir Robin Dunstead abrira a casa na Park Lane e ia oferecer um baile para a irmã.

— Quem era esse cavalheiro? — Robin perguntou.— Não vi seu rosto e seu nome não foi mencionado na conversa.

O embaixador disse apenas: "O rapaz jogou a isca e pretende fisgar um peixão. Ele está interessado em Mary-Lee Vanderhart". O cavalheiro comentou que, segundo lhe haviam dito, o falecido sir Edward gastara tudo o que tinha com a doença e deixara as duas belas e imensas casas precisando de reparos. O embaixador comentou rindo: "Alguns milhares de dólares americanos irão ajudar o herdeiro a restaurá-las". Foi só o que ouvi porque os dois se afastaram — Blaise concluiu.

— Então você soube que eu não era rico e sim um impostor? Pois eu julguei estar representando o meu papel com perfeição — Robin falou com uma nota de amargura na voz.

— Oh, por favor, não fique assim. Ninguém sabe de nada. Pode confiar em mim. Guardarei segredo.

Depois de um instante em silêncio Robin perguntou:— Não tenho chance, não é mesmo?— Acredito que não. O marquês propôs casamento a Mary-Lee e

ela prometeu dar-lhe uma resposta dentro de dois dias. — Blaise colocou a mão sobre o joelho de Robin. — Sinto muito se o magoei. Em todo caso, talvez tenha sido melhor você ficar sabendo a verdade.

— Agradeço-lhe por ter-me contado. Compreenda, estou gastando mais do que tenho na restauração da casa da Park Lane. Embora eu possua milhões de libras em obras de arte, sou pobre. Um casamento milionário resolveria a minha situação e, ao mesmo tempo, eu teria

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orgulho de oferecer à minha esposa tesouros sem preço.— Casamentos por interesse ocorrem no mundo inteiro. Mas eu me

pergunto constantemente se os cônjuges são felizes.— Acredito que nem todas as pessoas sonham com um grande

amor. Há quem se contente em ter conforto e uma vida despreocupada.— Discordo. Todos buscam o amor verdadeiro. Meus pais se

amaram verdadeiramente. Apesar de meus avós maternos não aceitarem, de início, que a filha se casasse com um americano, mamãe seguiu seu coração e sempre viveu muito feliz com papai.

Robin ficou pensativo. Disse, pouco depois:— Alena e eu também tivemos em nossos pais um exemplo de amor

conjugal verdadeiro. Crescemos num ambiente feliz.— Só o amor traz a felicidade. Você encontrará ambos —Blaise

augurou.— Obrigado, Blaise — Robin agradeceu brandamente.

CAPÍTULO VII

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A carruagem parou na frente dos altos e imponentes portões de ferro da Dunstead Hall. Nas guaritas mal conservadas não havia guardas e Vincent desmontou para abrir o portão maior.

Quando subiu novamente na carruagem Alena orientou-o:— Siga pela alameda de carvalhos e pare onde começa o jardim.

Dali você terá excelente visão da casa. Observe como os irmãos Adam deixaram-na realmente magnífica.

— Vejo que você ama demais a Dunstead Hall — Vincent observou sorrindo.

— Naturalmente. Para mim é a mais bela casa histórica da Inglaterra. Lamento vê-la tão abandonada e precisando de reparos.

— Quem sabe um dia o prédio voltará a ter a magnificência do passado — disse Vincent em tom consolador.

Ele conduziu os cavalos vagarosamente e refreou-os quando chegou à última árvore. O que viu a distância deixou-o maravilhado. Compreendeu o que Alena quis dizer ao sugerir-lhe que visse a casa daquele ângulo.

Construída na parte mais elevada do terreno e cercada de árvores, a Dunstead Hall impressionava por seu aspecto majestoso. O sol da tarde refletia-se nas dezenas de janelas tornando a casa semelhante a uma jóia refulgindo sobre um tecido de veludo intensamente verde.

O corpo central da construção, mais antigo e austero, alteava-se sobre as duas alas, construídas pelos irmãos Adam, magníficos exemplos da arquitetura neoclássica.

O jardim, apesar das ervas daninhas, estava lindamente matizado pelo colorido das flores que enchiam os canteiros.

Vincent não conteve uma exclamação:— É uma construção magnífica! Absolutamente magnífica!— Imaginei que você iria gostar da casa. — disse Alena. O barulho de uma carruagem se aproximando fez com que os dois

olhassem para trás. Viram Robin e Blaise chegando.— Eu não esperava encontrá-los aqui — disse Robin, depois de

refrear os cavalos.— Acabamos de chegar — expôs Vincent.— Vamos até a casa — Robin convidou-os.Eles seguiram em frente e quando se aproximaram do pátio de

entrada Alena deu um grito.— Veja, Robin! Há uma carroça de carga entre aqueles arbustos!Os três olharam para a direção indicada e viram um carroção

coberto, puxado por dois cavalos.

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Nem bem se refizeram da surpresa viraram-se ao ouvir nova exclamação de Alena:

— Ladrões! São ladrões! Estão roubando nossas telas! Dois homens vinham descendo os degraus de mármore de entrada

da casa, carregando, juntos, uma tela muito grande com larga moldura dourada.

Ligeiro, Vincent tateou o bolso que havia do lado do assento à procura de uma pistola. Felizmente encontrou-a. O pai mantinha uma arma na carruagem, receando encontrar nas estradas, sempre que viajava, algum salteador.

Robin também pegou o revólver que mantinha sob o banco e gritou para o cavalariço:

— Desça e tome conta dos cavalos.O homem saltou do banquinho traseiro enquanto Robin e Vincent,

tendo verificado se as armas estavam carregadas, foram depressa para a casa, mantendo-se sempre protegidos pela vegetação.

— É melhor irmos atrás deles — Alena convidou Blaise. — Quem sabe poderemos ajudar em alguma coisa.

— Vamos, sim — Blaise assentiu, aflita.As duas seguiram os rapazes e viram que ambos já se haviam

aproximado do carroção, mas mantinham-se escondidos atrás de uma grande moita de rododendros.

Tendo colocado a tela roubada no carroção, os ladrões desceram do veículo pela parte traseira, mas foram surpreendidos por Robin e Vincent.

— O que estão fazendo? — Robin indagou, zangado. Atônitos, os homens olharam para os dois, emudecidos. Um dos

ladrões, por fim, conseguiu dizer:— Mandaram nós dois pegar alguns quadros nesta casa. Batemos e

ninguém atendeu.— Em outras palavras, vocês arrombaram alguma porta ou janela e

entraram na casa — Robin concluiu.O outro ladrão puxou o revólver que trazia na cintura, oculto pelo

casaco, mas não teve tempo de atirar. Robin foi mais rápido e atingiu-o no braço com um tiro.

Aproveitando a momentânea confusão o homem com quem Robin havia falado puxou da carroça um pedaço de madeira e tentou agredir Vincent, mas recebeu deste um tiro na perna.

Estando os dois ladrões caídos no chão, sangrando e gemendo, Vincent subiu depressa na carroça e encontrou, encostada na lateral do veículo a tela que os ladrões acabavam de tirar da casa.

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Era a famosa pintura de Rafael, Santa Catarina de Alexandria.—Venha ajudar-me a retirar a tela daqui — ele gritou para Robin.Os dois não notaram que um terceiro homem saía da casa

carregando uma tela pequena sob o braço e tendo um pesado martelo na outra mão.

Mas o homem percebeu que haviam sido descobertos. Deu alguns passos e quando se aproximou da carroça ergueu o martelo, rodou-o pelo cabo para atirá-lo em Robin, pois Vincent estava dentro da carroça.

Alena e Blaise viram aquilo e imaginaram com horror que um golpe daqueles mataria Robin.

Abaixando-se, Blaise pegou uma pedra e atirou-a com toda a força que o desespero lhe emprestou, acertando o terceiro ladrão acima do olho esquerdo.

Ele gritou de dor e deixou cair na grama a tela e o martelo. Robin virou-se e, ligeiro, disparou um tiro que atingiu o ladrão no ombro.

Sem perda de tempo, Alena saiu correndo e pegou a tela. Era uma obra de Roger Van der Weyden, Retrato de São José, do século XIV, valiosíssima.

Só então Robin ajudou Vincent com a tela pintada por Rafael. Os dois carregaram-na até a casa, deixaram-na no hall e voltaram para a carroça para inspecioná-la.

Surpresos, encontraram o cocheiro encolhido no assoalho do veículo, com a cabeça abaixada, as mãos nos ouvidos, evidentemente apavorado depois de ter ouvido tiros.

Agarrando-o pelo colarinho Robin obrigou-o a encará-lo. — Você está com esses ladrões? — indagou rispidamente.— Não, sir! Não! Eles alugaram a minha carroça, mas eu nada tenho

a ver com eles, sir.— Pois então leve-os para o mesmo lugar de onde vieram. Se um

de vocês aparecer aqui novamente mando chamar a polícia.— Eles... estão... vivos? — A voz do cocheiro tremia.— Só estão feridos. Pode ser que eles lhe peçam para levá-los a

algum médico. Eu não quero mais vê-los na minha frente. Saiam já da minha propriedade!

— Perfeitamente, sir. Eu não sabia que os três eram ladrões, sir. Se soubesse não alugaria minha carroça para eles.

— Bem, leve-os daqui, depressa! Meu amigo e eu vamos carregá-los para a carroça.

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O ladrão que recebera o primeiro tiro já conseguira subir na carroça e estava gemendo, encolhido num canto, cobrindo o ferimento com a mão.

Vincent e Robin cuidaram de carregar o homem atingido na perna e por fim carregaram o último, ferido no ombro e na testa.

— Estou morrendo — gemeu o ladrão.— Duvido — Robin replicou. — Mas era isso que você e seus

companheiros mereciam. Sumam daqui e digam a quem os contratou para roubar meus quadros que se um ladrão aparecer por aqui, morre. Não duvidem do que estou dizendo.

Vincent ergueu a parte traseira da carroça e fechou-a com os pinos de ferro. A um grito de Robin o cocheiro partiu.

Ninguém saiu do lugar enquanto a carroça não desapareceu de vista.

— Vamos até a galeria de arte verificar se as telas estão em ordem — Alena sugeriu.

Todos entraram na casa. A galeria ficava no primeiro andar, na ala oeste. Alena subiu na frente com Vincent e, chegando ao alto da escada, ela olhou para trás.

Viu, surpresa, Blaise e Robin no hall, abraçados, se beijando.Propositadamente Robin ficou para trás com Blaise e agradeceu-lhe:— Muito obrigado, Blaise, por salvar-me a vida. Eu não fazia ideia

de que o homem estava atrás mim, pronto para atirar aquele martelo na minha cabeça.

— Percebi a tempo que... ele... ia matá-lo — Blaise murmurou com a voz embargada.

— Você teve uma presença de espírito extraordinária. Não fosse isso, bem como sua agilidade e excelente pontaria, a esta hora eu talvez estivesse mesmo morto.

Notando que Blaise tinha os olhos úmidos de lágrimas e demonstrava preocupar-se verdadeiramente com ele, Robin tomou-a nos braços e beijou-a, movido pela gratidão e não por qualquer outro impulso.

Porém, depois de se apossar daqueles lábios doces e de sentir Blaise trêmula junto a seu corpo, tomada de súbito enlevo, Robin percebeu que ela era diferente.

Já havia beijado tantas mulheres e nenhuma delas o fizera conhecer emoção semelhante.

Ter nos braços uma garota tão inocente e meiga fazia-o experimentar um prazer inesperado, novo e extraordinário, ao qual se entregou.

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Estreitou-a mais nos braços e os beijos tornaram-se mais insistentes.

Por quanto tempo ficaram se beijando, não saberiam dizer. Por fim Robin levantou a cabeça e declarou com a voz alterada, que soou estranha até para si mesmo:

— Amo você, Blaise. Nunca me senti tão apaixonado.— Também o amo. Amei-o... desde que o conheci. Ainda há

pouco... tive tanto medo de vê-lo morto! O amor me inspirou a fazer... o que fiz.

— Estou vivo graças a você, minha querida — tornou Robin. Voltou a beijá-la apaixonada e possessivamente até ambos sentirem que seus corpos de fundiam como se eles fossem apenas uma pessoa.

No andar superior Vincent vibrava de contentamento, fascinado com as obras expostas na galeria de arte. A todo instante expressava seu assombro com exclamações e termos elogiosos.

Alena observava-o com um sorriso.Diante da Festa galante, obra de Nicolas Lancret, ele se deteve por

mais tempo, maravilhado com as cores e as nuanças da tela do século XVIII, representando homens e mulheres entre árvores participando de uma festa.

A tela seguinte, era a Madona com o Menino, de Nicolas Foligno. Nela, a Virgem flutuava no céu, tendo o menino Jesus nos braços. Abaixo estavam São João Batista, São Francisco e um pequeno querubim.

Chegando ao lugar, agora vazio, onde sempre havia estado a obra de Rafael, Santa Catarina de Alexandria, os dois viram um buraco na parede.

Deduziram que os ladrões teriam usado martelo e alicate para tirar da parede a tela, muito grande e pesada, bem presa com arames a um prego enorme.

Felizmente, eles haviam conferido, a tela que ficara no hall, estava em perfeitas condições.

— Por pouco as telas não foram roubadas — Vincent comentou.— É verdade — Alena assentiu. — Se chegássemos alguns minutos

mais tarde os ladrões teriam ido embora com obras de valor incalculável.— Acredito que eles não vieram aqui para levar apenas duas telas.

Pode ter certeza de que eles iriam carregar o que pudessem se não aparecêssemos para frustrar-lhes os planos. Não há ninguém tomando conta da casa?

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— Temos alguns criados, todos idosos. Com certeza os ladrões verificaram que eles estavam nos fundos da casa ou mesmo fora dela, no pomar ou na vila.

— Possivelmente os velhos se esconderam, aterrorizados, quando perceberam que havia ladrões na casa — Vincent supôs. — De agora em diante seu irmão manterá estes tesouros bem vigiados.

Nesse instante chamou-lhe a atenção um móvel medieval que estava a um canto.

— O que é aquilo? — ele perguntou. — Parece uma papeleira ou uma escrivaninha.

— Esse móvel tem uma história interessante. Um dos meus ancestrais, a quem devemos as telas de Rafael, viajou para Roma em 1520. Sua intenção era adquirir mais alguns trabalhos de Rafael, considerado por ele o maior gênio da pintura. Infelizmente, ele chegou tarde a Roma. O pintor havia falecido.

— Rafael morreu em 1520, aos trinta e sete anos — Vincent lembrou.

— Exato. Não conseguindo comprar tela alguma, meu ancestral contentou-se em trazer consigo essa escrivaninha que pertencera a Rafael.

Vincent chegou perto do móvel para analisá-lo.— É uma peça muito sólida e pesada, como todo móvel medieval.

Certamente tem muito valor.— Sempre achei essa escrivaninha muito feia.— O que vocês guardam nela?— Há muito tempo não abro uma dessas gavetas. Aí havia cartas,

papéis e documentos antigos. Velharias. Nada importante, acredito.— Esses móveis antigos costumam ter esconderijos, fundos falsos e

coisas semelhantes. Posso abrir as gavetas? — Sim, claro.— Estas cartas devem ser interessantes — disse Vincent pegando

dois maços de papéis velhíssimos, amarrados com fitas cuja cor não era possível distinguir.

— Duvido que você as consiga ler. Estão escritas em italiano antigo ou algum dialeto e a letra é difícil de entender.

— Posso tentar decifrá-las. Quem sabe há entre estes papéis algumas cartas de amor — disse Vincent, rindo. Em outro tom acrescentou: — Falando sério, estes papéis devem ser mostrados a um especialista. Podem ter muito valor. Aliás, tenho o pressentimento que encontraremos aqui alguma raridade.

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— Pode procurar à vontade — Alena autorizou-o.Ela afastou-se e foi até uma das janelas. Minutos depois virou-se

depressa ao ouvir um grito de Vincent.— O que foi?— Parece que encontrei verdadeiras raridades! Venha ver! Alena

correu até ele.— Olhe aqui! Nesta gaveta há alguns desenhos! — Vincent respirou

fundo. — Se é o que estou pensando...Cuidadosamente, ele tirou algumas folhas de papel e uma pasta

de papelão de uma gaveta bem larga e de pouca altura que ficava sob o tampo da escrivaninha.

— Veja! São desenhos feitos a lápis. Estas são figuras de homens em combate. Há outros estudos, esboços — Vincent foi mostrando as folhas com o maior cuidado.

— Como ninguém descobriu esses desenhos? — Alena perguntou, perplexa.

— Quem sabe ninguém se interessou em examinar a escrivaninha atentamente. Os desenhos estavam nesta gaveta sob o tampo. Note que não há puxadores. Eu mesmo pensei que os entalhes fossem simples arremate do móvel quando, na verdade, era uma gaveta. Já vi móveis assim e puxei com força pelas bordas do entalhe. O resultado aí está.

— Será que esses papéis velhos valem alguma coisa? — Havia um vislumbre de esperança no olhar de Alena.

— Valem uma fortuna. São estudos feitos por Rafael Sanzio. A escrivaninha também é um móvel valiosíssimo — Vincent afirmou.

— Oh, isso é maravilhoso! Robin ficará exultante e... eu também estou muito feliz. Deus ouviu as minhas preces.

Deixando os papéis sobre a escrivaninha Vincent ficou bem perto de Alena. Fitou-a, sabendo pelo brilho de seus olhos o que ela quisera dizer.

— Então você aceita o meu amor? Quer ser minha esposa?— Se Robin conseguir o suficiente para restaurar esta casa e algum

capital para investir nas terras, eu estarei livre para aceitar seu pedido.Uma exclamação de autêntica felicidade saiu do peito de Vincent.

Envolvendo Alena nos braços ele a beijou com ardor, sofreguidão e loucura, só a liberando quando ambos estavam sem fôlego.

— Vou falar com Robin sobre a nossa descoberta — Alena falou entusiasmada.

— Espere um momento — Vincent pediu-lhe. — Antes de você descer para dar-lhe a notícia, quero examinar pelo menos parte destes desenhos.

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Havia uma cadeira de cada lado da escrivaninha e ele puxou uma delas para sentar-se. Cuidadosa e atentamente foi olhando os desenhos um por um.

De pé, do lado dele, Alena seguiu o exame. Ambos viram um "Estudo para um querubim", esboços de "Homem nu" e diversos estudos para a "Virgem e o Menino".

Quando Vincent deparou com dois outros estudos: "Vênus e Psique" e "Cristo confia seu rebanho a Pedro", disse a Alena, com assombro na voz, que eles tinham preciosidades diante dos olhos.

— Você tem certeza de que esses desenhos são mesmo valiosos? — ela tornou a perguntar, receando ser otimista e acabar sofrendo uma desilusão.

— Valem uma fortuna. — Vincent declarou com convicção. — Pode descer e chamar Robin. Enquanto isso disponho os desenhos sobre aquela mesa.

Era o que Alena desejava fazer. Saiu depressa da galeria e em poucos minutos chegou ao hall. Não vendo sinal do irmão nem de Blaise, chamou alto:

— Robin! Robin!Ele surgiu à porta do salão de recepções com inequívoca expressão

de felicidade.— O que aconteceu? — Robin perguntou.— Você nem imagina o que encontramos! — Alena exclamou,

querendo fazer suspense.— O que vocês encontraram não sei, mas eu encontrei uma esposa.

A mulher da minha vida! Dê-me os parabéns! Blaise aceitou meu pedido de casamento! — Robin anunciou.

— Oh, Robin, estou tão contente! Blaise é um encanto. Vocês serão muito felizes.

— Compreendi a tempo que o amor vale muito mais do que o dinheiro. Por pouco não cometemos um erro irreparável, Alena. Com Blaise do meu lado cuidarei desta propriedade e a tornarei lucrativa — Robin falou com entusiasmo. — Se estivermos com dificuldades financeiras posso alugar a casa de Londres e até emprestar nossas telas para serem exibidas em um museu como o sr. Lawson sugeriu.

— Acredito que você não terá mais dificuldades financeiras. Venha comigo à galeria de arte — Alena chamou-o. — Vincent quer mostrar-lhe algo.

— O que é? Diga logo! — Robin impacientou-se. — Não vou dizer para não estragar a surpresa.

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Nesse instante Blaise reuniu-se a eles. Robin segurou-lhe a mão.— Ouvi Robin contando que... vamos nos casar — disse Blaise

ligeiramente tímida e ruborizada. Alena beijou a futura cunhada.— Fiquei radiante com a notícia. Agora vamos subir. Vincent e eu

temos uma coisa fantástica para lhes mostrar.— Mal posso acreditar que teremos mais surpresas! — Robin

exclamou.Como Alena já ia correndo à frente deles, Robin e Blaise seguiram-

na apressados, de mãos dadas.Entrando na galeria Alena correu para os braços de Vincent e

anunciou, eufórica:— Tenho uma notícia maravilhosa! Robin e Blaise vão se casar.— Não só eles. Você também prometeu ser minha esposa —

Vincent lembrou-a.— Todos nós seremos felizes. Robin não terá problemas financeiros

e eu só quero estar perto de você, querido, mesmo sendo pobres — volveu Alena.

— Pobres, pobres, não seremos — Vincent corrigiu-a. —Posso não ser milionário, mas...

— O que está acontecendo por aqui, Vincent? — Robin interrompeu-o. — Parece que as surpresas ainda não terminaram por hoje.

— Estão apenas começando. — Vincent riu. — O que lhes vou mostrar é o clímax dos acontecimentos emocionantes do dia. Aproximem-se.

— Que papelada é essa? — Robin chegou mais perto da mesa e olhou para os desenhos. — Que desenhos antigos são esses?

— São, nada mais, nada menos, do que desenhos e esboços feitos por Rafael. Afirmo, sem medo de errar, que você tem à sua frente uma fortuna. Como nada disto está vinculado, tudo pode ser vendido. Você terá o suficiente para restaurar esta casa e cuidar das terras.

— É inacreditável! — Robin estava pasmado. — Onde vocês encontraram os desenhos?

— Na escrivaninha de Rafael. Ao que tudo indica ninguém teve o trabalho de revistar o móvel ou então não deu importância ao que havia dentro dele.

— Meu pai pelo menos dizia que essa escrivaninha era um depósito de papéis velhos — Robin observou!

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— Papéis velhos que valem milhares e milhares de libras. Agora precisamos reunir esse valioso material e levar para Londres onde um perito fará o devido exame e a avaliação.

— Você não me poderia dar presente de casamento mais extraordinário do que esse. Obrigado, Vincent.

— A propósito de casamento, quero a sua permissão para desposar Alena. Para mim isso é mais importante do que toda a coleção de arte Dunstead — Vincent declarou.

— Concedo-lhe a mão de minha irmã, Alena Dunstead, sr. Vincent Thurston — Robin declarou solenemente. — Um dia feliz como o de hoje merece ser comemorado. Deve haver um excelente champanhe na adega.

— Pois vamos comemorar! — Vincent alegrou-se. — Mas antes, pelo amor de Deus, guarde estes papéis em lugar seguro, Robin.

— O lugar mais seguro deve ser a gaveta onde estiveram durante séculos. Certamente eles não desaparecerão até amanhã — volveu Robin.

— Amanhã? — Alena repetiu, admirada. — Não voltaremos hoje para Londres?

— Convém passarmos a noite aqui. Está ficando tarde. Já pedi aos velhos criados que nos preparem um jantar. Não será um banquete, mas há legumes na horta e frutas no pomar. Vou mandar o cavalariço à vila comprar o que for necessário.

— Posso ajudar em alguma coisa — Blaise ofereceu-se.— Vamos arrumar as camas — Alena convidou-a. — Depois

podemos ajudar o velho casal Bateson na cozinha.Blaise e Robin fitavam-se, enamorados. Não querendo separá-los,

Vincent deu a mão a Alena e fez outra sugestão:— É melhor vocês ficarem sozinhos. Guardem os desenhos, depois

arrumem as camas. Alena e eu vamos à vila fazer compras. Se vamos comemorar, merecemos nada menos do que um banquete.

— Com bom champanhe — Alena completou.— Então vamos — Vincent passou o braço pela cintura de Alena. —

E você, Robin, guarde devidamente seus milhões recém-descobertos.— Esperem um pouco. Será que esses rascunhos valem mesmo

muito dinheiro? — Robin duvidou.— Pode ter certeza de que não estou exagerando ao afirmar que

valem uma fortuna. Depois de avaliados, se você os vender na América terá um lucro ainda maior.

— América! — Os olhos de Robin brilharam. — Chuck Finberg certamente estará disposto a comprá-los.

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— Não tenha dúvida. Com essa coleção de estudos de Rafael o vaidoso sr. Finberg causará sensação em Nova Iorque — Vincent assegurou. — Não é o que ele deseja?

Todos riram.Foi decidido a seguir que após o baile de Alena, a ser realizado

dentro de poucos dias, eles se casariam na capela da Dunstead Hall, numa cerimônia simples.

Blaise, que se mantivera calada, falou timidamente:— Também tenho uma... revelação a fazer. Ontem recebi uma

carta do advogado que sempre cuidou dos negócios de papai. Ele me escreveu dizendo que nas terras deixadas por meu pai... em Dallas... foi encontrado... petróleo. Um poço já está produzindo e há outro sendo perfurado e que parece... promissor. Por enquanto, segundo o advogado, só estamos tendo despesas... mas... o lucro virá, certamente.

— É inacreditável! Tanta coisa boa não pode estar acontecendo em um só dia! — Robin maravilhou-se. — A sorte nos sorri.

— Acredito que devemos essas graças às orações de Alena —assinalou Vincent. — Nós acabamos conseguindo o que desejávamos: eu tenho o amor de Alena que, para mim é tudo o que pedi aos céus; Robin tem em mãos alguns milhões em desenhos e, ao que parece, os poços, de petróleo de Blaise.

— Não pode ser verdade. — Robin ergueu os braços num gesto exagerado. — Devo estar sonhando.

— Quando você acordar nós lhe serviremos um banquete regado a champanhe — disse Vincent afastando-se em seguida com Alena.

Uma vez fora da galeria Alena observou: — Vim para cá fugindo de Chuck Finberg e... todas estas coisas

maravilhosa aconteceram.— Estávamos destinados um ao outro e nada poderia nos separar.

O mesmo aconteceu com seu irmão e Blaise.Sem esperar que Alena dissesse alguma coisa Vincent abraçou-a e

beijou-a mais apaixonadamente do que nunca. Ambos experimentaram uma ventura indizível, só conhecida dos que se amam verdadeiramente.

Naquele momento de enlevo eles se sentiram como se transportados para o céu onde brilhavam entre os astros.

— Amo você querido Vincent. Amo-o muito — Alena murmurou, ofegante, pouco depois.

— Eu a adoro e não me cansarei de venerá-la. Seremos gloriosamente felizes, minha deusa perfeita.

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Graças ao esforço conjunto da sra. Bateson, de Alena e Blaise, pratos deliciosos foram preparados para o jantar.

O sr. Bateson pôs com esmero a mesa na sala de jantar e, muito feliz, serviu os quatro como se estivesse de volta aos velhos tempos.

Do alto das paredes as admiráveis telas de Robin testemunhavam a alegria dos jovens enamorados.

Robin propôs um brinde:— Brindemos à nossa felicidade e aos extraordinários

acontecimentos que nos uniram!Cada um ergueu seu copo.— Um brinde ao bem mais precioso e que nós, afortunados,

encontramos — Vincent propôs por sua vez. — Ao amor!

FIMBARBARA CARTLAND é, sem dúvida, a mais famosa escritora

romântica do mundo. Entre suas inúmeras qualidades, podemos citar algumas: é historiadora, geógrafa, poetisa e especialista em dietas naturais. Atuante personalidade política, sempre lutou pelos direitos dos grupos menos favorecidos da sociedade inglesa, especialmente os ciganos, viúvas pobres e crianças abandonadas. Supercriativa e culta, já escreveu mais de 550 livros, editados em todo o mundo em dezenas de idiomas e dialetos, tendo alcançado com essas obras a incrível marca de 600 milhões de exemplares vendidos.

Algumas datas da vida de Barbara Cartland:1901 - Nascimento1923 - Publica seu primeiro livro1927 - Casa-se com Alexandre McCorquodale1933 - O primeiro casamento é desfeito1936 - Casa-se em segundas núpcias com Hugh McCorquodale,

primo de seu primeiro marido 1963 - Publica seu centésimo livro 1976 - Sua filha Raine casa-se com o Conde Spencer, pai da princesa

Diana 1981 - A princesa Diana, enteada de sua filha, casa-se com Charles,

príncipe-herdeiro da Inglaterra 1983 - Entra no livro de recordes Guinness 1991 - Recebe o título de "Dame" do Império Britânico